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AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB “Se os filhos dos governantes aqui estudassem, seriam tão lentos a tratar do caso?” VICE-MINISTRO CHINÊS Cooperação com Angola deve passar pela cultura CHINA PÁGINA 10 PUB KA HÓ PÁGINA 6 PUB Os advogados portugueses voltarão a poder exercer em Macau, foi ontem decidido pela associação de causídicos local. Contudo, novas regras se imporão como, por exemplo, um numerus clausus anual. POLÍTICA PÁGINA 5 ADVOGADOS Associação aprova retoma de protocolo com Portugal HOJE MACAU PAUL CHAN WAI CHI ENTREVISTA PÁGINAS 2 E 3 DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 SEXTA-FEIRA 4 DE ABRIL DE 2014 ANO XIII Nº 3065 hojemacau SUFRÁGIO UNIVERSAL FAZ BEM À SOCIEDADE

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Hoje Macau N.º3065 de 4 de Abril de 2014

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Page 1: Hoje Macau 4 ABR 2014 #3065

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

“Se os filhosdos governantes aqui estudassem, seriam tão lentos a tratar do caso?”

VICE-MINISTRO CHINÊS

Cooperaçãocom Angola deve passar pela cultura

CHINA PÁGINA 10

PUB

KA HÓ PÁGINA 6

PUB

Os advogados portugueses voltarão a poder exercer em Macau, foi ontem decidido pela associação de causídicos local. Contudo, novas regras se imporão como, por exemplo, um numerus clausus anual.

POLÍTICA PÁGINA 5

ADVOGADOSAssociação aprova retoma de protocolo com Portugal

HOJE

MAC

AU

PAUL CHAN WAI CHI ENTREVISTA PÁGINAS 2 E 3

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 S E X TA - F E I R A 4 D E A B R I L D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 0 6 5

hojemacau

SUFRÁGIOUNIVERSALFAZ BEMÀ SOCIEDADE

Page 2: Hoje Macau 4 ABR 2014 #3065

HOJE

MAC

AU

2 hoje macau sexta-feira 4.4.2014ENTREVISTA

CECÍLIA L [email protected]

Deixou de ser deputado. Como avalia a actual composição do hemiciclo?Não gostaria de comentar o com-portamento particular de deputados, mas espero que alguns se possam preparar mais sobre os assuntos da ordem do dia antes de darem as suas opiniões na Assembleia Legislativa. Agora, os cidadãos podem ver as transmissões do plenário em directo na televisão, mas o nível dos depu-tados não aumenta só porque estas transmissões são possíveis. São as próprias pessoas que devem melhorar a forma de se expressarem, de falar e de pensar. Caso contrário, a transmis-são directa só vem fazer com que os comportamentos sejam exagerados e dramáticos. O que posso dizer é, agora, enquanto telespectador, não tenho interesse em ver os plenários da AL na televisão. Não precisamos de ver demonstrações dos deputa-dos, não precisamos de ver os seus comportamentos. Concluindo numa frase: ainda há espaço para que o nível dos deputados seja melhorado.

Que recomendações daria para que isso acontecesse?Por exemplo, agora as reuniões das comissões ainda são feitas à porta fechada. Tenho uma reco-mendação: os deputados têm que ter uma opinião mais profunda de si próprios e da comissão para a discussão de leis da qual fazem parte. Não podem apenas depender dos assessores jurídicos. Os asses-sores jurídicos estão lá para dar opiniões legais, não para participar directamente na elaboração das leis. A responsabilidade de fazer leis é dos deputados.

O novo presidente da AL, Ho Iat Seng, também trouxe algumas mudanças à AL. Como vê estas mudanças?Concordo com as novas regras. Por

PAUL CHAN WAI CHI, EX-DEPUTADO DA AL,ANALISA O MEIO POLÍTICO E SOCIAL DE MACAU

“Os deputados nomeadosservem para aprovaras decisões do Chefedo Executivo”

Mesmo saindo da Assembleia Legislativa, o ex-deputado não desiste de dar atenção aos assuntos políticos. Paul Chan Wai Chi avalia a nova composição da AL, comenta o trabalho do Chefe do Executivo e fala sobre a sua área forte, a educação

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3 entrevistahoje macau sexta-feira 4.4.2014

exemplo, deixar as interpelações com o assunto no site da AL para que os cidadãos as possam consultar, pôr os nomes dos deputados em cartões nas mesas das comissões, para que se saiba se estão ou não presentes... As comissões de acompanhamento realizam mais reuniões do que as sessões em que participei. Antes, estas comissões apenas realizavam reuniões uma vez por ano, mas agora, a frequência das reuniões aumentou bastante e os assuntos são realmente discutidos pelos de-putados da comissão. Elogio estas mudanças.

Há deputados que criticam as no-vas regras, por exemplo devido ao absentismo. Como avalia isso? Acho que ser deputado é uma res-ponsabilidade. Não posso comen-tar o comportamento dos outros, porque às vezes se um deputado se ausenta tem uma justificação, que terá, claro, de dar à AL e aos cida-dãos, que são contribuintes. Para os deputados que frequentemente faltam às reuniões, os cidadãos têm que fazer exercer o seu direito enquanto supervisores. Antes de entrarem na AL, os candidatos a deputado já têm que pensar que se vão ‘sacrificar’ e que vão ter res-ponsabilidades. Ser deputado não significa ter uma posição mais alta na sociedade. É o contrário: têm que trabalhar mais para a sociedade.

A Associação Novo Macau (ANM) sempre defendeu o su-frágio universal, tanto para o Chefe do Executivo, como para os deputados. Mas também há vozes a dizer que a população de Macau ainda não está preparada para isto. Qual é a sua opinião?Por um lado, a população não está muito preparada. Por exemplo, nas eleições do ano passado, houve pessoas que votaram tendo como base os seus desejos pessoais, mas também houve pessoas a votar por outras razões. Por outro lado, os grupos de candidatos também pre-cisam de incentivar mais cidadãos a participar na votação. Ouço sempre acusações de que os cidadãos não votam, mas acho que isso não é ape-nas culpa dos cidadãos. Estamos numa sociedade cívica, temos de promover a cultura da consciência civil, para mais pessoas poderem até vir a ser candidatos. E temos de incentivar os mais jovens a participar na política. Só assim se pode promover o desenvolvimento democrático. Se não, tudo é vazio. Mesmo que haja pessoas a votar, os candidatos são os mesmos e volta tudo ao mesmo.

Como olha para a corrupção nas eleições?Não se pode deixar que esta má cultura nas eleições se sobreponha a uma cultura democrática. Os candidatos têm que ter ambição, ética política. Os motivos de se ser deputado não se podem gerar

na base do interesse pessoal, ou da honra pessoal de participar em eleições, mas com base em trazer benefícios a todos os residentes. Ser deputado, ou mesmo ser Chefe do Executivo, não é ser uma pessoa mais elevada do que os outros, mas é suportar um cruz pesada, para conseguir ser responsável perante e para a sociedade. É mesmo muito pesada. Só assim, a política pode ser mais limpa, em vez de ser suja, como agora muita a gente considera que é. Para se ser político, é preciso sacrificar-se e dedicar-se. Os que dão vantagens aos eleitores, depois vão sempre tirar-lhes alguma coisa.

Este ano são as eleições para o Chefe do Executivo. Como avalia o trabalho de Chui Sai On?Basicamente está a continuar a

gestão do ex-Chefe do Executivo, Edmund Ho. Os secretários são iguais, os directores de serviços são os mesmos. Apesar de se manter a mesma organização, os problemas antigos também se mantêm: a ques-tão da habitação, dos transportes e o aumento dos funcionários pú-blicos. É fácil ser-se uma pessoa simpática, mas é difícil ser um bom Chefe do Executivo. Por mim, o Chefe do Executivo actual ainda tem espaço para melhorar o seu trabalho. Chui tem direito a ser novamente candidato mas, para se ser líder do Governo, tem que se ser por capacidade, não pode ser líder porque é amigo de alguém. No Governo, é preciso inovar.

Como olha para a possibilidade de haver sufrágio universal do

Chefe do Executivo no futuro? O Chefe do Executivo deve ter uma representação ampla. Seguindo as regras da eleição actuais, apenas 400 pessoas podem escolher o Chefe do Executivo. Espero que estas pessoas saibam a responsabilidade que têm e não façam asneiras, se não vai ser difícil ao Chefe executar o seu tra-balho no futuro. O que quero dizer é que a política das associações tem que ser mudada, porque a política pertence à população, não é apenas para associações particulares.

Esta situação também existe nas eleições dos deputados?Sim. As associações tradicionais têm que entender que um sufrágio universal faz bem à sociedade. Os deputados indirectos, bem como os candidatos a Chefe do Executivo, precisam de ter confiança em si pró-

prios e candidatar-se mesmo com a existência de um sufrágio universal. Ter deputados nomeados é uma das regras exigidas na Declaração Conjunta Luso-Chinesa, de forma a garantir o direito de representação de descendentes portugueses. Mas, desde a segunda legislatura da AL da RAEM, já não existe esta ne-cessidade. Os deputados nomeados agora servem para que as decisões do Chefe do Executivo possam ser aprovadas sucessivamente. Só os grupos vulneráveis precisam de ser protegidos. O Governo e os no-meados são os grupos vulneráveis? Acho que isto não faz sentido. Seja como for, temos de respeitar a histó-ria e respeitar o espírito do tratado.

Além do seu papel político, é também professor. Como ava-

lia as questões da educação em Macau? Por exemplo, o Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, disse na última semana que o Governo tem que acabar com os cheques pecuniários e focar mais recursos na educação e saúde.Isso mesmo. Na minha opinião, o mais importante para melhorar a educação aqui em Macau é me-lhorar a capacidade de pensamento e crítica dos alunos. Para isso, ainda não vi nenhuma política deste Governo. Precisamos de uma revolução na educação, não quero ver os alunos a ser ensina-dos da mesma forma, a pensar a mesma coisa, tal e qual como os professores ensinam nas escolas. A opinião de Joseph Stiglitz é a base para um desenvolvimento estratégico. Agora, o Governo da RAEM apenas utiliza dados, nú-

meros, para avaliar a capacidade dos alunos, como aconteceu agora com os resultados do PISA. Mas, o ser humano não pode ser avaliado através de dados. Precisamos de criatividade, de criar algo. O que é o talento? Não acho que seja o produto de um ensino uniforme. Os estudos são muito pesados aqui, deveriam ser reduzidos.

E sobre a política da habitação, o que está a faltar?Como todos os outros deputados di-zem, a Lei da Habitação Económica tem de ser revista. As situações de candidatura este ano, por exemplo, não são nada normais. O Governo pode ter candidatos em lista de es-pera, para que, na próxima vez, não tenha tanta gente à espera de uma casa. O Governo, especialmente a

“Os nomeados agora servem para que as decisões do Chefe do Executivo possam ser aprovadas sucessivamente. Só os grupos vulneráveis precisam de ser protegidos. O Governo e os nomeados são os grupos vulneráveis?”

nova sessão do Governo, tem que decidir se quer defender o direito dos empresários ou dos residentes. Contudo, acho que agora quem faz a política dá tendência aos empre-sários, digo eu. Porém, considero que Macau ainda tem tempo e oportunidade para mudar esta situação, antes do desastre chegar. Edmund Ho ainda fez uma política para aumentar o nível da qualidade de vida dos residentes, mas Chui cancelou esta política. O Governo deve garantir habitação aos residen-tes. Isso não é um benefício, mas uma responsabilidade.

Como olha para o futuro da As-sociação Novo Macau, da qual faz parte?As novas gerações da associação, por exemplo o presidente da ANM, Jason Chao, causaram alguma po-lémica na sociedade. Mas acho que não se pode acusá-lo a ele sozinho. Temos reuniões da direcção todas as semanas e todas as acções dele são uma decisão da associação. Se houver dúvidas ou problemas, a responsabilidade é da ANM. Por mim, nos últimos anos, eles não fizeram coisas más. Espero que o desenvolvimento da ANM não volta atrás, mas avance com o que temos agora, com novo sangue e mais participação dos jovens. Isso é o que eu desejo. Isso também é uma tendência de toda a sociedade.

Que leis acha que ainda faltam em Macau e que são mais urgen-tes para a sociedade?Tenho pena que, enquanto depu-tado, não consegui ver aprovada a Lei do Erro Médico, que era da comissão onde estava inserido. Agora, este ano, ouvi dizer que a lei também não vai passar. Espero que esta lei possa realmente, no futuro, resolver os conflitos entre médicos e pacientes. Para mim, não há lei mais urgente a ser estabelecida, mas há sempre leis que precisam de ser revistas. Por exemplo, como o que já falei, a Lei da Habitação Económica, também a Lei de Controlo do Tabagismo - estamos já numa fase urgente para rever estas leis. Não tenho esperança em fazer leis novas, mas temos de corrigir o que já está atrasado ao nível da legislação. Além disso, temos de aumentar a qualidade das leis. Por exemplo, a Lei do Alojamento Ilegal que, durante os últimos anos impediu a possi-bilidade da AL em supervisionar o Governo na execução da lei. Uma lei sobre o ambiente. Agora, apesar de criar leis, a AL também precisa de melhorar a supervisão ao trabalho do Governo.

Vai recandidatar-se como depu-tado à AL?Ainda é demasiado cedo para falar disso. Vai depender do desenvol-vimento social, da minha situação familiar e da minha própria quali-dade enquanto deputado.

“O mais importante para melhorar a educação aqui em Macau é melhorar a capacidade de pensamento e crítica dos alunos. Para isso, ainda não vi nenhuma política deste Governo”

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4 hoje macau sexta-feira 4.4.201425 DE ABRIL

O 25 de Abril apanhou Macau “de surpresa”, com o Governo local, a mais de dez mil qui-

lómetros de Lisboa, a reconhecer a nova situação política em Portugal apenas quatro dias depois do golpe.

Hoje coronel na reserva, Ma-nuel Geraldes era, aos 23 anos, um jovem alferes, quando na madrugada de 25 de Abril de 1974 participou na tomada dos estúdios da RTP, em Lisboa, sob o comando do capitão Teófilo da Silva Bento. “É quase como se nos saísse a ta-luda: uma pessoa ter o privilégio de participar num acontecimento desses”, disse Manuel Geraldes à agência Lusa em Macau, onde reside desde o final dos anos 1980.

Aquela que “foi uma noite es-pecial” para Manuel Geraldes terá sido um dia normal para António Dias Azedo, então “um jovem estudante, no quinto ou sexto ano do Liceu Nacional Infante D. Hen-rique” de Macau. “Deve ter sido o meu pai - ele era polícia - que nos disse quando voltou do serviço”, recordou António Dias Azedo, sem conseguir precisar o momento da notícia da revolução.

Mas a sua primeira reacção foi de receio: “Falavam num golpe, numa revolução, depois é viemos

MACAU A REVOLUÇÃO A DEZ MIL QUILÓMETROS DE DISTÂNCIA

Não há outra mais real

“Os rapazes começaram a fumar mais e as meninas subiram um bocado as saias. As festas duravam até à meia-noite. O pessoal e os professores começaram a ter mais barba, mais bigode, mais cabelo, não é?”ANTÓNIO DIAS AZEDO Advogado

a saber que era a revolução dos cravos, com poucas mortes.”

Advogado em Macau, António Dias Azedo estava em Abril de 1974, “na fase do cabelo comprido, calças largas e rock & roll”.

Já Manuel Geraldes “andava no reviralho” desde os tempos da Academia Militar. E meses depois de ingressar na Escola Prática de Administração Militar juntou-se ao movimento dos Capitães. Foi aí que o então alferes tirocinante se estreou na distribuição de panfle-tos e fez de “correio” no comboio de Lisboa ao Porto, mais de uma

dezena de vezes, até que as acções na clandestinidade culminaram no golpe.

A nova situação política de Por-tugal é reconhecida pelo Governo de Macau a 29 de Abril de 1974, o mesmo dia em que, segundo relata a Gazeta Macaense, o arquitecto José Maneiras declamou a “liberdade” de Manuel Alegre na Assembleia Legislativa onde era vogal.

“No meu país há uma palavra proibida/ Mil vezes a prenderam mil vezes cresceu/ E pulsa em nós como o pulsar da própria vida”, bradou José Maneiras, jubiloso

por o poema conter já “verdades do passado”.

Em “Macau nos Anos da Re-volução Portuguesa 1974-1979”, Garcia Leandro escreve que a Revolução dos Cravos apanha Macau de surpresa e deixa uma população portuguesa - europeia e macaense - dividida.

“Os mais velhos, com maiores responsabilidades e interesses lo-cais, sentiram-se quase perdidos, levantando muitas interrogações quanto ao futuro. Os mais novos aderiram rapidamente à revolu-ção”, sustenta aquele que viria a ser o primeiro governador de Macau no pós-revolução, sucedendo a Nobre de Carvalho.

No seu livro, Garcia Leandro recorda a nova realidade de Macau com o fim da censura nos jornais em língua portuguesa - a chinesa nunca terá estado sob o lápis azul, segundo o autor - e a formação de movimentos associativos ligados a partidos políticos em Portugal.

Mas para estudantes como An-tónio Dias Azedo, a Revolução dos Cravos trouxe o fim das “paradas enfadonhas” da Mocidade Portu-guesa e mais alunos de Portugal para os bancos das escolas de Macau, com mais liberdade “no vestir, no estar e no pensar”.

“Os rapazes começaram a fu-mar mais e as meninas subiram um bocado as saias. As festas duravam até à meia-noite. O pessoal e os professores começaram a ter mais barba, mais bigode, mais cabelo, não é?”, atirou, entre risos.

No 25 de Abril, António Dias Azedo tinha 16 anos, os mesmos com que Manuel Geraldes assistiu, pela televisão, a comemorações do Estado Novo, realizadas em Braga, sem saber que viria a participar na viragem do regime quase uma década depois.

“Eram umas comemorações de uma formalidade tremenda, e de pessoas velhas, mas hoje, ver a juventude participar espontane-amente nas celebrações do 25 de Abril? De facto, não pode haver melhor para nos sentirmos felizes e compensados por algum risco da nossa participação na revolução”, afirmou Manuel Geraldes.

“Valeu a pena, sem dúvida”, rematou. - Lusa

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hoje macau sexta-feira 4.4.2014 5POLÍTICA

Requerimento para emissão do certificado dos titulares dos órgãos sociais para efeitos das eleições do Chefe do Executivo- 2014”.

Tendo em atenção as eleições dos membros da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo- 2014, a DSI vem pelo presente informar do seguinte:

1. As associações ou organizações devem formalizar atempadamente, junto da Direcção dos Serviços de Identificação, o requerimento para emissão do certificado dos titulares dos órgãos sociais para efeitos das eleições do Chefe do Executivo- 2014”.

Aos requerimentos apresentados já com todos os documentos necessários no dia 22 de Abril de 2014 ou antes desta data, será garantida a emissão do respectivo certificado antes do dia 5 de Maio de 2014, data em que termina o prazo de entrega do referido certificado aos SAFP para declarar o representante designado para assinar o boletim de propositura.

2. Caso queiram solicitar o referido certificado para ser entregue nos SAFP, para fim da “apresentação da relação dos votantes das pessoas colectivas eleitoras”, as associações ou organizações devem dirigir-se, quanto antes, à DSI para formalizar o requerimento da emissão do certificado.

Aos requerimentos apresentados devidamente instruídos antes de 8 de Maio de 2014 ou antes desta data, será garantida a emissão do certificado solicitado antes do dia 20 de Maio de 2014, data em que termina o prazo de entrega do referido certificado aos SAFP para efeitos da apresentação da relação dos votantes das pessoas colectivas eleitoras.

3. O certificado dos titulares dos órgãos sociais poderá ser usado simultaneamente para fins indicados nos pontos 1 e 2, isto é, caso as associações ou organizações tenham requerido o respectivo certificado para declarar o representante designado para assinar o boletim de propositura, não é necessário tornar a requerer outro certificado para efeitos da apresentação da relação dos votantes das pessoas colectivas eleitoras.

4. Para os requerimentos formalizados depois das datas acima indicadas ou com documentação incompleta, a DSI vai acompanhá-los com o maior esforço.

5. Do certificado a emitir constará somente a relação dos titulares dos órgãos sociais em efectividade de funções a 17 de Março de 2014. Caso a acta da reunião apresentada no requerimento do certificado demonstre que os actuais corpos gerentes da associação ou organização iniciaram as suas funções depois de 17 de Março de 2014, a respectiva acta será considerada inaplicável.

6. O pedido para emissão do certificado sobredito faz-se mediante:• O preenchimento do impresso próprio para “Pedido de Certificado de Associação” fornecido pela DSI (pode

descarregá-lo a partir do website da DSI : http://www.dsi.gov.mo);• O pedido é assinado pelo presidente da assembleia geral ou da direcção da associação ou organização

requerente ou pelo seu procurador, e aposto o carimbo da associação ou organização; • O pedido deve ser acompanhado dos seguintes documentos:

- Acta da reunião da assembleia geral para eleições dos titulares dos órgãos sociais;- Fotocópias dos documentos de identificação dos titulares dos órgãos sociais;- Procuração, quando o pedido for assinado pelo representante designado pelo presidente da assembleia geral ou da direcção da associação ou organização requerente.

Não é necessário a entrega dos documentos acima referidos se tenham já efectuado a actualização do registo dos mesmos na DSI, entretanto podem as associações ou organismos requerentes juntá-los novamente ao requerimento para evitar morosidade, caso hajam erros nos documentos anteriormente apresentados.

Para mais informações sobre o requerimento do certificado de associação destinado às eleições dos membros da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo, podem ligar para o número 83940579.

Direcção dos Serviços de Identificação, aos 1 de Abril de 2014.

O Director,Lai Ieng Kit

ANDREIA SOFIA [email protected]

O S membros da Associação dos Advogados de Macau (AAM)

votaram ontem por uma larga maioria o restabelecimento do protocolo entre a insti-tuição e a Ordem dos Advo-gados (OA), sobre a vinda destes profissionais para Macau. Segundo explicou Paulino Comandante, mem-

Chefe vai a HainãoO Chefe do Executivo, Chui Sai On, chefia uma delegação da RAEM que se irá deslocar, no próximo dia 9 de Abril, à Província de Hainão para participar na cerimónia de abertura da reunião anual do Fórum Boao da Ásia 2014. O Comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China em Macau, Hu Zhengyue, foi novamente convidado a participar como assessor da Delegação de Macau ao Fórum Boao. O tema principal do Fórum Boao deste ano é “Asia’s New Future: Identifying New Growth Drivers”. Chui Sai On, irá ainda ter encontros com dirigentes do Governo da Província de Hainão.

Comércio com o continente cai 16,5% O comércio entre a China continental e Macau contraiu-se 16,5% em termos homólogos para 480 milhões de dólares em Janeiro/Fevereiro, anunciou quarta-feira em Pequim o Ministério do Comércio. No período de dois meses as exportações da China continental para Macau caíram 5,7% para 440 milhões de dólares, enquanto as importações se cifraram em 40 milhões de dólares, montante que representa uma quebra homóloga de 63,8%. Em Fevereiro o comércio entre a China continental e Macau caiu 34,4% em termos homólogos para 190 milhões de dólares, com a China a ter exportado bens no valor de 170 milhões de dólares (menos 33,5% relativamente a Janeiro) e a ter importado mercadorias cujo valor ascendeu a 20 milhões de patacas (menos 43,5% em termos mensais).

OS 400 membros que escolhem o novo Chefe do Executivo vão ser conhecidos a

10 de Julho. De acordo com notícia avançada pela Rádio Macau, a Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo (CAECE) confirmou, na passada quarta-feira, 10 de Julho como data para dar a conhecer os 400 membros da Comissão Eleitoral que vão eleger o novo Chefe do Executivo.

Na reunião da CAECE foram discutidos outros assuntos como o aperfeiçoamento do processo eleitoral, ou os meios para a

contagem dos votos nas eleições, previstas para 29 de Junho. A juíza Song Man Lei quer assegurar que o processo decorre de forma normal, uma vez que os membros da Co-missão Eleitoral passaram de 300 para 400.

Sobre o anterior modelo de contagem de votos, Song disse à rádio que “implicaria muito mais pessoal e outros recursos para execução das tarefas necessárias”. Assim, a comissão eleitoral pretende atingir “um andamento mais célere”, de modo a ser possível “ponderar uma optimização da forma de apuramento de votos”.

ADVOCACIA RESTABELECIMENTO DO PROTOCOLO COM PORTUGAL APROVADO

Vêm aí os togas!

bro da direcção da AAM, o actual modelo de protocolo vai sofrer alterações com a introdução de mais “res-trições”. As propostas da direcção serão votadas numa segunda assembleia-geral, a decorrer no próximo dia 10.

O tempo de estágio, bem como de acompanha-mento do estagiário por parte do patrono poderá ser encurtado, para um prazo de três a seis meses. Para além disso, “vamos ter

mais requisitos em relação à experiência profissional. Segundo a proposta da direcção (os advogados) terão de ter entre três a cinco anos de experiência. Depois do estágio, o ad-vogado será sujeito a uma avaliação final, com um exame”, disse ao HM no final da assembleia-geral.

NÚMERO CONTROLADOPaulino Comandante disse ainda que vão voltar os nu-

meros clausus, que determi-nam o número de advogados que podem vir para Macau por ano. Mas não só. “Há também uma proposta para que os residentes permanen-tes, que tenham estudado Direito em Portugal, possam vir trabalhar para cá sem ter uma experiência profissio-nal mínima, e serão ainda dispensados dos numeros claususus. Podem ainda inscrever-se na OA.”

Pedro Leal, um dos

advogados presentes na assembleia-geral, votou a favor do restabelecimento do protocolo por considerar uma iniciativa “importante”, tendo referido que a “maio-ria larga e qualificada” dos presentes votou a favor.

“MANTER A QUALIDADE”Questionado sobre a mu-dança de decisão por parte da AAM, que já tinha suspendido o protocolo, Paulino Comandante fri-

sou apenas que ocorreram “situações de jovens que vinham para cá e andavam à margem e não conheciam a realidade”.

“Quando suspendemos o protocolo foi por causa da preocupação de haver um grande número de advoga-dos e jovens que vinham para cá fazer vida. Mas esse fenómeno iria prejudicar os profissionais de Macau, porque temos um mercado pequeno”, considerou.

O membro da direcção da AAM “não consegue prever qual o número de advogados que querem vir para cá”, caso as alterações sejam votadas. “Fundamen-talmente pretendemos fazer restrições no sentido de me-lhor proteger os advogados e manter a qualidade.”

Em Outubro do ano pas-sado, aquando de uma visita a Macau, o então bastonário da OA, António Marinho e Pinto, disse “respeitar” a decisão da AAM, por esta ser “soberana para decidir as regras da admissão dos advogados. Discordando da decisão tomada, respeita-mo-la”. Actualmente a OA é dirigida por Eliana Fraga.

A assembleia-geral, decorrida ontem na Associação dos Advogados de Macau, resultou na aprovação “por uma larga maioria” do restabelecimento do protocolo com a Ordem dos Advogados em Portugal. A direcção apresentou mudanças no actual modelo, que será decidido dia 10

Membros da Comissão para a Eleição do CE conhecidos em Julho

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6 hoje macau sexta-feira 4.4.2014SOCIEDADEKA HÓ POLUIÇÃO CHEGOU A NÍVEL “INACEITÁVEL”. GOVERNO ACUSADO DE IGNORAR RESIDENTES

Dinheiro para uns, veneno para os outros

chegou a uma fase inaceitável. Se os filhos dos dirigentes do Governo estudassem aqui, seriam assim tão lentos a tratar do caso?”

“SOMOS ASPIRADORES DE PÓ”Um aluno da Escola Dom Luís Versiglia contou aos jornalistas que o campo de basquetebol está sempre cheio da areia. “O campo é para nós jogarmos basquetebol, não para ser um armazém de areia. Vivemos aqui, mas não somos aspiradores de pó.”

“Todos os dias temos de fechar a janela para evitar que as cinzas entrem. Professores e alunos não podem respirar ar fresco. A nossa vida está a ser ignorada e a poluição chegou a uma fase inaceitável. Se os filhos dos dirigentes do Governo estudassem aqui, seriam assim tão lentos a tratar do caso?” PROFESSOR DE UMA ESCOLADE KÁ HÓ

Quase duas dezenas de componentes de metal foram encontrados no ar de Ká Hó, mas o Governo nada fez ainda para proteger a população do local. Pais, alunos e professores juntaram-se na vila e convidaram representantes do Governo a ver a realidade: não há melhorias na poluição. O director da DSPA não foi ao local

CECÍLIA L [email protected]

O Chefe do Executivo convocou recente-mente uma reunião com os serviços go-

vernamentais para abordar pos-síveis medidas de melhoramento da situação de poluição do ar na zona de Ká Hó, mas as escolas do local, em Coloane, acusam o Governo de falar muito e fazer pouco. “Ouvi sempre falar nessas reuniões com os serviços inter-departamentais, mas nunca soube quais os assuntos das reuniões, nem nunca fui convidado para participar nelas”, acusou Savio Young, director da Escola Dom Luís Versiglia, aos jornalistas.

O responsável da escola, que fica em Ká Hó, juntou-se à Escola de São José de Ká Hó, ao jardim-de-infância Dom Versiglia e ao Centro de

Formação Juvenil Dom Bosco numa espécie de manifestação

pacífica. A ideia foi convidar os representantes do Governo a irem ao local, falar com os alunos, os pais dos alunos e os professores das escolas sobre a poluição.

O principal problema do ar de Ká Hó é a poluição proveniente

do aterro de cinzas volantes e, mais recentemente, o

transporte dessas cinzas em ca-

miões sem

coberturas. O caso arrasta-se há, pelo menos, quatro anos, mas o Governo ainda nada melhorou na zona. “Os jornalistas sabem que, desde o caso das cinzas, em 2010, já estamos a tentar que o Governo resolva o problema. Mas, até hoje, depois de tantas reuniões, ainda está a tratar do caso. O problema é que é impossível que a poluição seja resolvida de imediato. Isso é muito decepcionante.”

COMPONENTES DE METAL NO ARRecentemente, de acordo com Sa-vio Young, o Executivo autorizou o estabelecimento de um armazém cheio de areia ao ar livre, algo que se vai juntar ao início das obras da construção do túnel de Ká Hó. O Governo, diz, não consultou, nem avisou a população. As es-colas acreditam que a decisão do Executivo só mostra que, “mais uma vez”, os padrões normais de operação do aterro de cinzas são ignorados, bem como a saúde e a vida dos professores e alunos que estudam no local. “Quem permitiu as obras? Se toda a gente é igual e respeitada, porque é que não fomos informados ou, pelo menos, consultados sobre as obras?”

De acordo com um dos parti-cipantes envolvidos no encontro, dados da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) sobre exames à qualidade do ar en-tregues às escolas, no ano passado, mostram que foram encontrados 18 tipos de componentes de metal no ar – mais do que em 2010. “O di-rector da DSPA disse em Fevereiro que a poluição de Ká Hó estava a melhorar. Queria perguntar ao di-rector, que padrões está a usar para analisar esta situação? Convido o director a visitar Ká Hó outra vez para ver a situação actual.”

SITUAÇÃO PODE FICAR FORA DE CONTROLO?Os professores das escolas do local temem que a situação vá ficar fora de controlo, porque além dos aterros de cinzas, as instituições são cer-cadas por uma fábrica de cimento, armazéns de areia, armazém de gás, terminais de contentores e centrais de energia. “Todos os dias temos de fechar a janela para evitar que as cinzas entrem. Professores e alunos não podem respirar ar fresco. A nossa vida está a ser ignorada e a poluição

Os funcionários da DSPA, dos Serviços de Educação e Juventude, do Gabinete para o Desenvolvimen-to de Infra-estruturas e do Instituto para os Assuntos Cívicos e Muni-cipais participaram na atividade de quarta-feira, onde, contudo, o direc-tor da DSPA não esteve presente.

Planear a legislação foi a pro-messa deixada por Cheong Sio Kei, que disse que iria publicar o relató-rio da Elaboração das Normas que Regulam os Níveis de Emissão das Principais Fontes Fixas de Poluição do Ar e Melhoria do Seu Regime de Fiscalização e planear leis. “Prote-ger a segurança dos cidadãos é uma obrigação do Governo e do país,” sublinhou Savio Young.

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7 sociedadehoje macau sexta-feira 4.4.2014

JOANA [email protected]

A Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DCIJ) tem decretado a expulsão de jogadores

dos casinos, de forma a defender os croupiers que dizem ser vítimas de clientes. Só de 2011 ao ano passado, foram instaurados 47 processos contra jogadores, devido a crimes que vão desde a ofensa simples à in-tegridade física, à injúria e à ameaça.

Os dados foram avançados ontem, através de uma resposta de Manuel Joaquim das Neves a José Pereira Coutinho. O director da DCIJ assegura que, quando o comportamento dos jogadores é inconveniente, o organismo toma medidas quer seja “por iniciativa própria, quer seja por requerimento das concessionárias de jogo”. Sem precisar números, o responsável fala de um “número significativo de expulsões de jogadores dos casinos”, mas não só. “[Temos] condenado os mesmos através de multas administrativas, acrescidas de medidas de interdição, medidas preventivas e sanções acessórias.”

Manuel Joaquim das Neves evoca mais do que uma lei para referir que as condutas impróprias de quem joga nos casinos são ob-jecto de fiscalização e de punição. É o caso, por exemplo, da lei que define o condicionamento de entra-da, trabalho e de jogo nos casinos, que decreta a expulsão de quem incomoda os funcionários. Dos 47 processos instaurados “todos” foram remetidos ao Ministério Público, mas os números apontam que 28 deles – por ofensa simples à integridade física – foram arquiva-dos por desistência dos ofendidos.

CASINOS COM CULPAAs operadoras têm também um papel fundamental no que diz respeito a proteger os seus tra-balhadores. “A acrescer a estas previsões legais, os contratos de concessão/subconcessão assinados pelas operadoras de jogo determina que sejam obrigadas a instalar nos casinos e demais zonas de jogo, equipamento electrónico de vigi-lância e controlo.”

De acordo com Pereira Couti-nho, que questionou a DCIJ sobre o caso, assegura que tem recebido

Aumenta recompensa para encontrar autorde incêndio em terreno da Jade HotelA recompensa paga pela empresa proprietária de um lote de terreno ao lado do hotel Grand Emperor, a Jade Hotel, ao autor do incêndio deflagrado na zona aumentou de milhão para 2,5 milhões de dólares de Hong Kong. O novo anúncio foi publicado na edição de ontem do jornal Macau Daily Times, e explica que o aumento do valor tem como objectivo “capturar o autor do crime com a maior brevidade”, e será pago “aquele que forneça pista essencial que resulte na captura do autor do crime”. O anúncio de uma primeira recompensa já tinha sido publicada anteriormente no jornal Ponto Final, mas a empresa resolveu subir agora o montante.

Da China para o doutorFOI publicada ontem, dia 3, a lista definitiva de pedidos de importação de

trabalhadoras domésticas provenientes da China. Segundo o Gabinete de Comunicação Social (GCS), foram aprovados 267 pedidos – 225 da província de Guangdong e 42 de Fujian – de entre um total de 312 requerimentos. No caso de Guangdong, o número total de pedidos excedeu o limite inicialmente previsto pelo Gabinete para os Recursos Humanos (GRH), tendo acontecido o contrário com a província de Fujian. Por esta razão, todos os pedidos que preencham os requisitos do GRH passarão a ser aprovados, sem limite de número. A lista de pedidos aceites está, desde ontem, disponível para consulta pública, nas instalações do Gabinete para os Recursos Humanos.

O alerta já foi deixado por associações e agora Pereira Coutinho questionou directamente a DCIJ sobre violência contra croupiers. O director do organismo admite que tem havido muitos jogadores expulsos dos casinos por causa deste problema, mas garante que a lei para proteger os trabalhadores existe

JOGO QUASE 50 PROCESSOS CONTRA JOGADORES POR MAUS-TRATOS A CROUPIERS

A insustentável rudeza do ser

muitas queixas de croupiers e quis saber que medidas tem o Governo para proteger estes trabalhadores. Mas, o deputado aponta não só o dedo aos jogadores, como às pró-prias empresas de jogo. “Curiosa-mente, algumas preferem encobrir os crimes com medo de perderem clientes que apostam elevadas so-

mas nas salas VIP. Os trabalhadores ‘desobedientes’, que persistem na apresentação das queixas, para além de sofrerem retaliações dos empregadores, em muitos casos, ainda são despedidos.” Pereira Coutinho fala em agressões com garrafas plásticas, maços e pontas de cigarros e copos de plástico e até

“fumo expelido” propositadamen-te para a cara dos trabalhadores.

Manuel Joaquim das Neves afirma que, no caso de precisarem, os croupiers conseguem facilmente apresentar queixas, como juntos das autoridades nos próprios ca-sinos ou nas sedes, mas, aqui, em horários normais de expediente.

O responsável frisa mesmo que a violência contra os croupiers é uma “matéria de particular relevância para o Governo”. Já não é a primei-ra vez que o assunto é motivo de polémica na sociedade, sendo que as associações dos funcionários de jogo têm vindo a manifestar-se contra este tipo de abusos.

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TIAG

O AL

CÂNT

ARA

ANDREIA SOFIA [email protected]

F ALA-SE em progresso e melhoria desde 2009, mas a verdade é que os alunos de Macau continuam a registar

níveis mais baixos na leitura, tanto na área escrita como no computador, por comparação com a matemática, ciências ou resolução de problemas. A 11ª posição de Macau ao nível da leitura em computador registada no Programme for International Student Assesement (PISA) de

O ESSENCIAL

OS FACTOSMacau ficou em 11º lugar no PISA, no que concerne o nível de leitura, o que não desanima os responsáveis do sector educativo. Mas, para eles, a responsabilidade não pode ser só do Governo. Famílias e comunidade também têm um papel importante a desempenhar.

O CONTEXTOO nível de leitura dos alunos de Macau é muito baixo, sobretudo quando comparado com cidades asiáticas como Xangai, Hong Kong ou Singapura. Faltam estímulos e mesmo espaços de leitura e fomento do livro, como livrarias e bibliotecas.

Criar uma biblioteca na zona norte e apostar numa maior interacção entre professores, pais e alunos. São estas as formas defendidas por Agnes Lam e dois directores de escolas para melhorar os níveis de leitura dos alunos, depois de conhecidos os resultados obtidos no PISA 2012

PISA 2012 EPM FICOU À FRENTE DA OCDE E MACAU NA LEITURA

O vício de não ler“Os jovens gastam o tempo ao computador e nos chats a falar com os amigos, por isso percebo que os níveis tenham sido mais baixos. Só usam o computador para falar com os amigos, não o usam numa lógica académica ou de leitura.”PAUL PUN Director da Escola São João de Brito

2012 não é, contudo, mau sinal para dois directores de escolas e uma académica ouvidos pelo HM, que destacam o esforço que o Governo tem vindo a fazer. Mas defendem que os estímulos devem vir da co-munidade e dos professores.

Zélia Mieiro, vice-directora da Escola Portuguesa de Macau (EPM), disse que a instituição, na área da leitura, ficou “acima da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e de Macau”.

“A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), atra-vés do Fundo de Desenvolvimento Educativo, envia um técnico a cada escola. Se esse técnico fizer o seu trabalho, isso será muito proveitoso e útil para o futuro”, disse ao HM.

“Penso que os jovens de Macau lêem mais revistas, vemos isso nos autocarros e restaurantes. Também devem ter autores obrigatórios para ler e devem ter o mesmo problema”, disse Zélia Mieiro, que garante que quando os alunos escolhem os seus livros sentem mais vontade de ler.

“Aquela ideia que os alunos não lêem não é exactamente correcta, esse problema prende-se mais com os livros obrigatórios. Na nossa escola os alunos lêem mais livros em inglês, e esse é talvez o maior problema. Os mais velhos lêem e alguns são mesmo devoradores de livros”, conclui a vice-directora da EPM.

Paul Pun, director da escola São João de Brito, também afasta a generalização dessa ideia. “Não significa que todos os alunos de Macau sejam assim, porque o PISA só analisou estudantes de 15 anos. Os jovens gastam o tempo ao computador e nos chats a falar com os amigos, por isso percebo que os níveis tenham sido mais baixos. Só

usam o computador para falar com os amigos, não o usam numa lógica académica ou de leitura.”

“Os valores já melhoraram no PISA, mas não podemos ficar sa-tisfeitos com os resultados. Temos de encorajar os jovens a ler livros e a compreendê-los, em vez de memorizarem as histórias.”

Do lado da DSEJ, “tem vindo a

enviar pessoal às escolas. Desde há sete anos para cá já houve algum progresso. Mas devíamos fazer mais, os professores nas salas de aula têm de trabalhar de forma individual com os alunos. Primeiro têm de ler, depois de discutir”, diz Paul Pun.

NEM UMA LIVRARIA NA ZONA NORTEAgnes Lam, académica da Uni-versidade de Macau (UM), cita um estudo que realizou em 2006 que mostrava que em Macau se lê uma média inferior a um livro por ano, um valor bastante inferior se comparado com Hong Kong (2), Xangai (10) ou Singapura (6).

Agnes Lam considera que não cabe apenas ao Governo promover a leitura. “É um problema que começa na escola e é uma questão de edu-cação: temos de fazer um trabalho mais comunitário. Em Xangai os estudantes têm muitos recursos junto das comunidades, o que lhes permite ler. Em Macau na zona norte não há uma livraria e quem quiser ler tem de se deslocar ao centro para ter espaços de leitura. Temos de construir uma boa biblioteca na zona norte.”

Philip Lai é responsável pelos assuntos do PISA da escola São Paulo, a única da Ásia que só usa tabletes e computadores como ma-teriais de estudo. A escola não só promove a “semana chinesa” como há dois programas de leitura fora da sala de aula. “Na escola primária os alunos têm de ler o mínimo de 6 a 8 mil palavras, e isso funciona. A DSEJ tem um bom planeamento e considera que a leitura é impor-tante, mas até agora os resultados não são muito visíveis.”

8 sociedade hoje macau sexta-feira 4.4.2014

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9 sociedadehoje macau sexta-feira 4.4.2014

LEONOR SÁ [email protected]

A Associação de Im-prensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) vai conti-

nuar com as acções de formação lançadas no ano passado e vão focar-se em diferentes sectores da profissão. Já estão previstas quatro, só para este ano.

A primeira acção vai focar--se no fotojornalismo, pois de acordo com João Francisco Pinto, Presidente da AIPIM, afirma que “é importante” que os jornalistas do território possam “tirar partido das situações”, no que toca à imagem e à fotografia.

Outra das acções vai centrar-se em questões europeias e deverá começar em breve. O Presidente da AIPIM adiantou, ainda, que está a ser organizada - em parceria com o Gabinete de Comunicação Social – uma terceira acção de for-mação, direccionada aos jovens jornalistas de Macau. Esta terá a China como principal tema e vai servir para contextualizar os mais jovens sobre os panoramas social, económico e político da República Popular da China.

Esta acção estará disponível para cerca de 12 jornalistas da RAEM e terá a duração de uma semana numa escola em Pequim, com peritos chineses em língua inglesa. “Vamos tentar, ainda, fazer uma acção de formação de jornalismo económico”, que se destina a explicar conceitos e contextos específicos da área.

CARTEIRA NO LIMBOEm relação à questão da carteira profissional de jornalista, João Francisco Pinto disse que se deve-rá “criar uma instituição que possa gerir essa questão”, pois não exis-te. É uma matéria que “faz parte do actual caderno de encargos da

S EGUNDO dados avançados por uma organização de defesa do consumidor, os

constituintes químicos contidos nos sapatos de plástico podem ser prejudiciais para a saúde. Taiwan e Hong Kong divulgaram, entre 2012 e 2014, que o calçado de plástico – muito utilizado por crianças – contém substâncias químicas que, podem ser nocivas para a saúde. A análise confirmou que os sapatos destes dois terri-tórios continham um valor mais elevado de substâncias químicas do que o permitido por lei.

Fugitivo detido esta quarta-feira em Shenzen

CHANG Baoli, um homem suspeito de ser o autor do crime de roubo e

que fugiu do encalço das autoridades há cerca de um mês, foi detido esta quarta-feira na cidade de Shenzen, no continente, confirmou a Polícia Judici-ária (PJ). O aviso chegou da parte das autoridades de Shenzen sobre a deten-ção do homem de 33 anos, tendo a PJ enviado seis polícias para averiguar o caso e interrogar o suspeito. De acordo com a PJ, e tendo em conta o regime em vigor, as autoridades do continente não podem, para já, transferir o suspeito para Macau, mas o processo já foi iniciado, com a PJ a prometer acompanhar o processo judicial em causa. O suspeito fugiu de Macau numa altura em que estava a ser escoltado pela polícia a caminho das instalações do Ministério Público (MP).

Infiltrações de água resolvidas só com processo litigioso

O Instituto da Habitação (IH) con-sidera que a resolução dos casos

de infiltrações de água em edifícios, descargas de esgotos ou falta de manu-tenção nos prédios devem ser situações resolvidas através de um processo litigioso, porque não estão envolvidas questões técnicas. A resposta à interpe-lação escrita do deputado Si Ka Lon, feita pela actual presidente do IH, Kuok Vai Han, inclui ainda explicações sobre possíveis impactos a terceiras pessoas ou entidades desses casos. Aí os Ser-viços de Saúde (SS) farão a respectiva análise e tratamento dos casos em conjunto com outros departamentos do Governo, garantiu o IH. - C.L.

Plano de leite em pó não precisa de ser expandido

OS Serviços de Saúde (SS) garantem que não será necessário expandir o

fornecimento de leite em pó a crianças com menos de três anos, no âmbito do plano provisório criado pelo Governo. Em resposta à interpelação escrita do deputado Ho Ion Sang, Lei Chi Ion considera que os bebés com seis me-ses, para além de consumirem o leite materno, já podem consumir produtos semi-líquidos e alimentos sólidos como suplemento. Aqueles que têm mais do que um ano de idade podem beber leite de vaca ou outros alimentos sólidos, disse ainda o director dos SS. Os servi-ços consideram ainda que a importação e a venda de leite vão continuar a ser fiscalizadas pelo Governo, por forma a garantir a oferta e lei em pó em lojas e farmácias. Caso sejam encontradas violações à lei, os suspeitos vão, segundo Lei Chi Ion, encaminhados para os serviços competentes para o acompanhamento do caso. - C.L.

ASSOCIAÇÃO DE IMPRENSA (AIPIM) VAI CONTINUAR COM AS ACÇÕES DE FORMAÇÃO

A importância de ser (in)formado

COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE CALÇADO PODE SER NOCIVA

Efeito CinderelaO material nocivo dá pelo

nome de ftalato, que é absorvido pelo organismo humano sob a forma de hormona, podendo transmitir “sinais químicos fal-sos”, o que pode afectar “o sis-tema endócrino” , a “capacidade de reprodução, causar a femini-zação dos homens e aumentar a probabilidade das mulheres

virem a ter cancro da mama”. Os hidrocarbonetos (HAP) – outra das substâncias prejudiciais que está presente em produtos como plástico, borracha ou lubrificante – pode causar irritação cutânea e é apontada como potencial causadora de cancro.

Os Estados Unidos e alguns países da Europa já restringi-

ram os níveis de plastificante permitidos por lei, como forma de prevenir problemas de saúde causados pelo calçado e outros produtos feitos de plástico ou borracha. - L.S.M.

direcção”, bem como a aprova-ção do código deontológico e de um organismo de regulação da actividade jornalística.

O código deontológico con-tinua em discussão, mas será

feita uma convocatória para a reunião geral de jornalistas, na qual todos os profissionais vão poder participar, independente-mente de pertencerem, ou não, à associação organizadora.

De acordo com a AIPIM, a carteira de jornalista “é funda-mental para dignificar a profissão de jornalista é que os jornalistas sejam identificados com um documento próprio”.

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hoje macau sexta-feira 4.4.201410 CHINA

A China vai aco-lher chefes de governo de sete países na próxi-

ma semana, entre os quais o timorense Xanana Gusmão, numa nova manifestação da sua crescente projecção internacional.

A invulgar afluência de primeiros-ministros à China está relacionada com a conferência anual do Forum Boao para a Ásia, que decorrerá de 08 a 10 de Abril na ilha de Hainan, no sul do país, sob o tema “Novo Futuro da Ásia: Iden-tificando novos motores de crescimento”.

Além de Xanana Gus-mão, que é esperado em Pequim no domingo, estarão presentes os primeiros-mi-nistros da Austrália, Coreia do Sul, Cazaquistão, Laos, Namíbia e Paquistão.

A lista inclui ainda dois vice-primeiros-ministros, da Rússia e do Vietname, e segundo adiantaram os or-ganizadores, o primeiro-mi-nistro chinês, Li Keqiang,

O vice-ministro dos Negó-cios Estrangeiros da Re-pública Popular da China,

Zhang Ming, disse nesta terça--feira, em Luanda, existirem fortes possibilidades de alargamento da cooperação entre Angola e China em várias áreas, principalmente na política e cultural.

No final de uma audiência com a secretária de Estado das Relações Exteriores, Ângela Bragança, Zhang Ming, disse ser vantajoso o desenvolvimento das relações com Angola, razão pela qual deve ser aprofundada a confiança mútua e alargado o intercâmbio de alto nível entre os dois países. “Vamos fortalecer a troca de visitas de alto nível entre os dois países.”

O presidente da China, Xi Jinping, disse que o país está a passar por grandes

mudanças e que as suas reformas entraram numa “fase profunda”, segundo a agência de notícias estatal Xinhua. “Sabemos que as reformas e a abertura são um processo em andamento que nunca vai parar. As reformas na China entraram numa fase profunda, onde os problemas que pedem para ser resolvidos são todos difíceis”, disse o presidente, acrescentando que é preciso coragem para seguir adiante com as reformas.

“Devemos preparar-nos para entrar na montanha, totalmente conscientes de que poderemos nos deparar com tigres”, disse Xi, citando um ditado chinês.

O presidente disse ainda acreditar que os esforços para

aprofundar as reformas de for-ma abrangente vão não apenas garantir um forte impulso para a modernização da China, como também trazer novas oportuni-dades de desenvolvimento para o mundo.

Para observar e entender a China apropriadamente, comen-tou Xi, é necessário ter em mente tanto o passado quanto o presente do gigante asiático e buscar refe-rências nas conquistas e formas de pensar do país.

Xi comentou também que a China não pode copiar o sistema político ou o modelo de desen-volvimento de outros países “porque não serviriam para nós e poderiam ter consequências catastróficas”. “O fruto pode ter a mesma aparência, mas com sabor bem diferente”, comentou.

FORUM BOAO PEQUIM RECEBE SETE CHEFES DE GOVERNO

Gigante não pára de crescer

ANGOLA VICE-MINISTRO CHINÊS PROCURA DIVERSIFICAR COOPERAÇÃO

É a cultura, meus senhores!

A conferência anual decorre a partir da próxima semana em Hainan, para se vai debater o futuro da Ásia. Austrália, Coreia do Sul, e Paquistão enviam primeiros-ministros ao Forum onde se aguarda um “um importante discurso” de Li Keqiang

proferirá “um importante discurso” na abertura da conferência.

A reunião de Hainan ocorre menos de uma se-mana depois de o Presidente chinês, Xi Jinping, ter con-cluído uma visita a quatro países da União Europeia

o intercâmbio económico, coordenação e cooperação dentro de Ásia e entre a Ásia e outras partes do mundo”.

A conferência inaugural realizou-se em 2001 na ilha de Hainan, onde o Forum Boao estabeleceu entretanto a sua sede.

Segunda economia mun-dial, a seguir aos Estados Unidos da América, a China é também o maior expor-tador do planeta e um dos motores do crescimento global.

Nos últimos dois anos, a economia chinesa cresceu 7,7% e para 2014 a meta preconizada pelo governo é de “cerca de 7,5%”.

A China mantém um aceso conflito territorial com alguns países vizinhos, nomeadamente Japão, Fili-pinas e Vietname, e o seu orçamento de Defesa tem crescido anualmente acima dos dois dígitos, mas Pe-quim insiste que o governo chinês está “empenhado numa via de desenvolvi-mento pacífico”.

(Holanda, França, Alema-nha e Bélgica).

Proposto no final da década de 1990 por vários estadistas asiáticos, o Fo-rum Boao define-se como “uma organização não--governamental empenhada em promover e aprofundar

XI JINPING REFORMAS EM “FASE PROFUNDA”

O sabor da fruta

O ministro chinês precisou que Angola e China vão manter apoio mútuo na cena internacional e bilateral. No âmbito económico e comercial, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da China considera existir uma coopera-ção pragmática com resultados abundantes e recíprocos para os dois países, que também deve ser aprofundada e alargada.

No futuro, adiantou, Angola e China vão promover ainda mais o desenvolvimento e as relações de cooperação amistosas, com o fim de apoiar o desenvolvimento socioeconómico dos dois países.

COOPERAÇÃO CULTURAL NA FORJAZhang Ming disse que pode ser desenvolvida a cooperação nas

áreas cultural e humanística, com vista a aumentar o conhecimento mútuo e o desenvolvimento sus-tentável entre os dois países.

Para o vice-ministro dos Negó-cios Estrangeiros da China, Ango-la é um país africano importante que tem um papel fundamental na paz, construção e desenvolvi-mento do continente. “No futuro, podemos reforçar a cooperação sobre a situação africana, que também foi abordada durante o encontro”, acrescentou.

O nível de cooperação entre Angola e o gigante asiático tem vindo a atingir rapidamente um nível considerado “excelente” e que se estende aos mais variados ramos, como a agro-pecuária, piscicultura e fruticultura e servi-ços financeiros, mas é sobretudo na construção e recuperação de infra-estruturas, sobretudo na construção e recuperação dos caminhos de ferro e construção de habitações.

A cidade do Kilamba, em Luanda, projectada para receber cerca de meio milhão de habi-tantes e outras centralidades em construção nas diferentes cidades angolanas contam com a colabo-ração de empresas chinesas. Em 2013, as trocas comerciais entre os dois países atingiram mais de 37 mil milhões de dólares.

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hoje macau sexta-feira 4.4.2014 11 china

P ELA quarta vez em menos de três anos, a projectada construção de uma fábrica de paraxileno (PX) está a

suscitar protestos de rua na China, renovando o confronto entre as au-toridades e a crescente consciência ambiental da população.

A última vaga de protestos co-meçou no domingo em Maoming, na província de Guangdong, sul da China, e alastrou nos dias seguintes a Cantão, a capital provincial, mas é cedo para antecipar se o projecto acabará por ser cancelado, como já aconteceu em Dalian, no verão de 2011, e depois em Ningbo e Kunming.

Segundo a imprensa oficial, mais de mil pessoas participaram nos protestos em Maoming, para onde está projectada a fábrica de PX, um agente químico usado na produção de plásticos, nomeada-mente garrafas, e de poliéster.

Alguns manifestantes partiram vidros de edifícios, destruíram pai-néis publicitários e lançaram ovos e garrafas de água contra agentes da polícia, sendo acusados pelas autoridades locais de “desordei-ros”, disse o jornal Global Times, de Pequim.

A China é o maior consumi-dor mundial de paraxileno e em 2013 importou mais de metade das 16 milhões de toneladas que consumiu, disse um investigador industrial, Chang Yizhi, citado

A Província de Hai-não anunciou a descoberta de

plantações ilegais de milho e algodão genetica-mente modificados (GM), o que causou preocupa-ções na população sobre canais de divulgação das informações relaciona-das com alimentos GM, reportou na quarta-feira o China Daily.

Nove entre as 107 amostras de milho e al-godão foram identificadas como modificadas gene-ticamente e destruídas imediatamente no final de Dezembro, informou

A China poderá isentar os compradores de carros eléctricos do pagamen-

to de impostos que incidem sobre as aquisições como parte de um conjunto de medidas estatais para reforçar as vendas desses veículos visto que os últimos incentivos não foram suficientes para estimular a demanda, disse o vice-primeiro ministro Ma Kai.

O governo poderá reduzir ou suprimir o imposto de 10 por cen-to sobre a compra de automóveis no caso de “veículos de novas energias” e abrandar a redução de subsídios do governo além de 2015, segundo referiu Ma Kai.

O governante também exor-tou os governos regionais a ajudar as empresas a desen-volverem serviços de aluguer de carros eléctricos.

“Os veículos de novas energias são importantes no contexto da dependência ener-gética da China, por isso o go-verno destinará mais recursos a promovê-los”, disse Harry Chen, analista da Guotai Junan Securities Co. em Shenzhen. “Reduzir ou isentar o imposto sobre compras certamente dará aos compradores mais motivos para comprar esses carros, porque trata-se de bastante dinheiro”.

PROTESTOS AMBIENTAIS VOLTAM ÀS RUAS

Dinheiro não se respira

HAINÃO DESCOBERTOS ALIMENTOS GENETICAMENTE MODIFICADOS

Diz-me o que comes...GOVERNO ESTUDA MAIS INCENTIVOS PARA CARROS ELÉCTRICOS

Vou ali, já venho

“Como cidadão comum, a minha única preocupação é o ambiente. Se o ambiente ficar arruinado, que é que as receitas fiscais trarão de bom?”RESIDENTE DE MAOMING

pela agência noticiosa oficial Xinha.

Uma brochura distribuída à po-pulação de Maoming pelo governo local indica que a projectada fábrica de PX criará cerca de 10.000 postos de trabalho e uma receita fiscal anual de 674 milhões de yuan.

A fábrica insere-se num “com-plexo petroquímico de classe mundial” com capacidade de produção de 600.000 toneladas e está inscrito no 12.º Plano Quinquenal da China (2011-15), definido pelo governo central.

“Para um país populoso, a

elevada dependência das im-portações num sector como a indústria química pesada pode colocar a longo prazo riscos es-tratégicos”, alertou um jornal do Partido Comunista Chinês num editorial acerca dos protestos em Maoming.

Ao contrário do que procla-mam os defensores do empreen-dimento, o PX é visto por muita gente como um químico tóxico e perigoso para a saúde se for ina-lado ou absorvido através da pele.

“Como cidadão comum, a mi-nha única preocupação é o ambien-te. Se o ambiente ficar arruinado, que é que as receitas fiscais trarão de bom?”, disse um residente de Maoming citado pela Xinhua.

Em Dalian, Ningbo e em Kunming, após dias consecutivos de manifestações, algumas das quais com dezenas de milhares de pessoas, os governos locais desistiram de fabricar paraxileno nos seus municípios.

“Para um governo que procure um equilíbrio entre desenvolvi-mento e estabilidade isto é um dilema sem fim”, disse a Xinhua.

o departamento agrícola provincial de Hainão. Ou-tras seis amostras suspei-tas estão a ser analisadas.

O departamento dis-se que as amostras são provenientes de quintas experimentais, assina-lando que qualquer ex-

periência de colheitas GM não autorizada pelo governo é proibida, e os que a conduzirem serão punidos segundo a lei.

As autoridades de Hainão foram criticadas por demorar tanto tempo em divulgar a detenção de plantas GM ilegais. “Não se trata de um caso particular de GM ilegais, mas da transparência de alimentos GM”, disse Shi Baozhong, advogado na Província de Anhui.

O ministro da Agri-cultura Han Changfu disse em 6 de Março que o ministério não tolerará

nenhuma plantação ilegal de safras GM. A China concedeu certificados de biosegurança a alguns grupos de algodão, arroz, milho e papaia, disse Han, acrescentando que apenas o algodão e a papaia po-dem ser plantados para fins comerciais.

O país também emitiu certificados de importa-ção de alimentos GM à soja, milho, semente de colza, algodão e beter-raba, permitindo o uso dessas matérias-primas em processamento no país, de acordo com o ministério.

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hoje macau sexta-feira 4.4.2014

É uma história “rocambolesca”, digna do cinema e parece mais próxima da lógica desajeitada de um qualquer golpe de “Vigaristas de Bairro”, de Woody Allen, do que da sofisticação de “O Caso Thomas Crown”

A polícia italiana anunciou esta quarta-feira a inespe-rada descoberta de dois quadros desaparecidos

dos pintores franceses Paul Gauguin (1848-1903) e Pierre Bonnard (1867-1947), que tinham sido roubados em Londres, em 1970, de casa de uma rica família britânica.

QUADROS ROUBADOS DE GAUGUIN E BONNARD HÁ 40 ANOS NA COZINHA DE TRABALHADOR DA FIAT

Os quadros, os ladrões, o operário e a cozinha deleNuma conferência de imprensa

em Roma, e na presença do ministro dos Bens Culturais, Dario Frances-chini, foi revelada a recuperação de “Fruits sur une table ou nature au petit chien” (“Fruta sobre uma mesa ou natureza com cão pequeno”), que Gauguin pintou em 1889, dedicado à condessa N(imal), e de “La femme aux deux fauteuils” (“Mulher com dois sofás”), de Bonnard, sem data.

A primeira pintura foi avaliada, segundo o general Mariano Mossa, responsável pela unidade da polícia italiana que tutela o património cultural – citado pela AFP –, entre 150 e 350 milhões de patacas. Para a segunda, o jornal La Reppublica avança uma verba próxima de 6 milhões de patacas.

As duas telas foram recuperadas há cerca de dois meses, na Sicília, na cozinha de um operário reformado da Fiat. Segunda a descrição desta história, que a polícia italiana clas-sificou como “rocambolesca”, este trabalhador, um “apaixonado por arte”, comprou os dois quadros num leilão anónimo em Turim, quando aí ainda viva, em 1975, tendo pago por ambos a quantia ridícula de 45 mil liras (o correspondente, no câmbio actual, a… cerca de 230 patacas).

Naturalmente desconhecendo o valor (e a identidade dos autores) das obras.

“O operário pendurou-os na parede da sua cozinha, primeiro em Turim, depois na Sicília, quando se reformou, e onde estiveram durante 40 anos até terem sido recuperados”, descreveu ontem Mariano Mossa.

O percurso que a polícia italiana conseguiu reconstituir das obras diz que elas foram abandonadas, após o roubo em Londres, numa viagem de comboio Paris-Turim, tendo depois ido parar à secção “Perdidos & Achados” da estação de caminhos--de-ferro desta cidade italiana. Foi daí que chegaram depois, anonima-mente, ao leilão de 1975.

O trabalho da polícia italiana sobre este caso não está ainda concluído, foi ontem referido em Roma. Contudo, sabe-se já que os quadros de Gauguin e Bonnard eram propriedade da família londrina Mark-Kennedy. E “os herdeiros po-derão, a partir de agora, reivindicar a propriedade das obras”, anunciou Mariano Mossa.

Também a forma como a polícia italiana chegou à identificação das obras tem contornos “extraordiná-

rios”. A partir da informação sobre o desaparecimento dos quadros, e tendo também recorrido a artigos publicados, na época, no The New York Times e num diário de Singa-pura, o departamento romano espe-cializado em património roubado iniciou um demorado inquérito, que foi dirigido pelo procurador-adjunto Giancarlo Capaldo.

Segundo a reconstituição citada pela AFP, os investigadores procu-raram em catálogos de museus e de leiloeiras, e também na Internet, e foram descobrindo pormenores estranhos, como, por exemplo, que a pintura de Gauguin surgia recenseada num catálogo de 1964, mas já não numa sua actualização de 2001.

De forma que não foi explicita-da, a polícia italiana teve acesso a fotografias dos quadros em posse do operário reformado da Fiat. E, com recurso a advogados e especialistas, acabou por fazer a ligação entre essas telas e a notícia do seu roubo na capital inglesa em 1970.

“É uma história verdadeiramente fascinante e incrível, é o símbolo do trabalho extraordinário, mesmo que pouco visível, concluído passados

tantos anos” pelos agentes dedicados ao património cultural, felicitou-se o ministro Dario Franceschini.

Mas a investigação não está ter-minada, assinalou o general Mariano Mossa, fazendo notar que é preciso ainda reconstituir “as várias etapas do percurso dos quadros” desde o roubo em Londres até ao guichet dos “Perdidos & Achados” da estação de caminho-de- ferro de Turim.

Um dos pormenores ainda a explicar é a redução do tamanho original da tela de Gauguin, de 49x54 cm, para os actuais 46,5x53 cm…

A recuperação dos quadros dos dois pintores franceses foi, no en-tanto, apresentada como uma vitória para este departamento da polícia italiana, criado há quase meio século para se ocupar especificamente de arte roubada e desaparecida, e que gere o maior banco de dados do mundo neste domínio, ascendendo a mais de cinco milhões de objectos.

Entre Janeiro e Março passados, o Museu do Quirinal, em Roma, apresentou uma exposição com uma centena de obras recuperadas por estes serviços. Aquando da inauguração da mostra, intitulada A Memória Reencontrada – Tesouros

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eventos 13hoje macau sexta-feira 4.4.2014

O projecto de investigação sobre portugueses subme-tidos ao trabalho forçado

na Alemanha nazi foi entregue esta quarta-feira a uma fundação alemã para obter financiamento, disse o historiador Fernando Rosas, promotor do projecto.

“Entregamos hoje a documen-tação e aguardamos resultados nos próximos dias”, disse à Lusa o his-toriador Fernando Rosas que lidera a equipa do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa sobre o trabalho forçado na Alemanha nazi tendo referenciado até agora mais de 300 portugueses submetidos ao regime de escravatura durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Os historiadores viram rejei-tado o apoio do Estado português na investigação que entretanto já detectou também, pelo menos, 70 portugueses nos campos de exter-mínio de Auschwitz e Birkenau.

Para conseguir o financiamento, os historiadores foram obrigados a ampliar o âmbito da investigação - que começou originalmente pelos portugueses que morreram nos cam-pos de extermínio - à temática do trabalho forçado na Alemanha nazi.

“A Fundação para a Ciência e Tecnologia não financiou este projecto” mas “uma fundação alemã especializada sobre a inves-

U M manuscrito de 1.2 mil páginas que narra o percurso épico de um

rei hindu foi reunido pela Bi-blioteca Britânica. A peça foi agora digitalizada e pode ser vista, integralmente, online.

A reunião do documento, que tinha sido dividido entre o Reino Unido e a Índia, há 150 anos, resulta de uma im-portante colaboração entre a Biblioteca Britânica e o museu indiano Chhatrapati Shivaji Maharaj Vastu Sangrahalaya.

Em comunicado de im-prensa, a Biblioteca Britânica descreve o documento como “um dos mais bonitos manus-critos do mundo”. “O ‘Mewar Ramayana’ consiste em 370 pinturas espantosas do século

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QUADROS ROUBADOS DE GAUGUIN E BONNARD HÁ 40 ANOS NA COZINHA DE TRABALHADOR DA FIAT

Os quadros, os ladrões, o operário e a cozinha dele

PROJECTO SOBRE ESCRAVOS PORTUGUESES DOS NAZIS PROCURA VERBAS NA ALEMANHA

Investigação inédita

MANUSCRITO ÉPICO HINDU RECONSTITUÍDO E DIGITALIZADO

As aventuras de Rama

recuperados pela polícia, Mariano Mossa revelou que “o volume de negócios gerado pelo comércio ilegal de obras de arte está em quarto lugar no ranking mundial, logo a seguir ao das armas, da droga e dos produtos financeiros.”

tigação acerca do trabalho forçado na Alemanha (durante a Segunda Guerra Mundial), quando soube do nosso trabalho sobre os portu-gueses - assunto que eles também desconhecem - pediu para nós concorrermos”, explicou à Lusa

o historiador Fernando Rosas na quinta-feira passada.

Para o historiador, a descoberta inédita sobre a presença de prisio-neiros portugueses nos campos de extermínio deve fazer com que o Estado português assinale a circuns-

tância de forma oficial, tal como os restantes países.

“Em todos os campos há peque-nos monumentos de Estado aos seus nacionais que foram lá mortos e na contabilidade que já fizemos sobre portugueses há pelo menos uns 70 portugueses e nem se sabe que eles lá morreram. Essa justiça memorial devia fazer-se”, disse Fernando Ro-sas sobre a descoberta que precisa de ser investigada.

“Há portugueses que se encon-tram nos campos nazis, mas que estão nos campos por razões que se desconhecem”, referiu Fernando Rosas.

“Nós detectamos, por exemplo, um português de Cascais que é preso em Marselha e enviado para Auschwitz. Porque é que está em Auschwitz? Não é por ser emi-grante, porque, quanto muito, era obrigado ao trabalho forçado. Ou era resistente ou fazia parte daquelas categorias de associais e que eram mandados para os campos”, expli-cou Fernando Rosas.

A existência de portugueses nos campos de concentração nazis é um assunto até ao momento inédito e nunca estudado, assim como a pre-sença de trabalhadores portugueses usados como escravos em fábricas na Alemanha, tendo sido referido pela primeira vez pela revista “Vi-são” na edição de 27 de Março.

XVII e está agora, pela primeira vez em 150 anos, reunido e disponível online”, diz ainda a instituição.

Este é um dos épicos mais antigos da Índia e relata as aventuras do príncipe Rama para salvar a sua mulher, Sita, raptada pelo demónio de 10 cabeças Ravana.

“Agora, qualquer pessoa pode visualizar online as pági-nas do manuscrito Mewar Ra-mayana, que foi encomendado pelo rei Rana Jagat Singh em 1649”, lê-se ainda no comunica-do. O projecto de digitalização demorou três anos a concluir. A viagem de Rama foi descrita pela primeira vez num poema épico em sânscrito há cerca de 250 anos. Desde aí, tem

sido recuperado, na Índia, em diferentes documentos e em muitas línguas. A história ilustra a ideia de ‘dharma’ – o dever que cada um tem de ser compor-tar correctamente e de acordo com o seu papel na sociedade. O manuscrito Mewar Ramaya-na foi criado por vários artistas e as suas pinturas representam complexas imagens de deuses, batalhas e paisagens. As ilus-trações são acompanhadas por cerca de 800 páginas de texto em sânscrito que foram manus-critas por um único escrivão. Na versão agora disponível online os utilizadores podem ‘virar’ as páginas do documento num movimento idêntico ao que seria utilizado no manuscri-to original. A experiência vem acompanhada de texto e áudio (em inglês).

Sobre este projecto, Roly Keating, director executivo da Biblioteca Britânica, afirma que “o Mewar Ramayana é um dos manuscritos mais prodi-giosos e bonitos do mundo e agora, graças a versão digital, as suas páginas podem ser estudadas e apreciadas, online, por qualquer pessoa”.

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Thomas Lim*

FAZER UM FILME EM MACAU: DO GUIÃO ÀS FILMAGENS

Capítulo IV: A equipa

Confiança e credibilidade é importante nas pes-soas que contrata para a sua equipa e, para encontrá-los, tem que seguir o seu instinto

O número de pessoas que consegue contratar-se para uma equipa de filmagens depende, e muito, de quan-

to dinheiro tem para gastar com o seu fil-me. Depois de tudo o que falámos nos ca-pítulos anteriores, chega a vez de um dos pontos importantes para fazer um filme: a equipa, ou ‘crew’. Já vi pessoas fazerem longas-metragens com uma equipa peque-na, de duas ou três pessoas – ou seja, não é impossível fazê-lo.

Contudo, na minha opinião, quan-do escolhe a sua equipa deveria ter, pelo menos, um bom director de foto-grafia, um bom capataz e um bom edi-tor. Pode fazê-lo sozinho, se for bom nessas áreas, mas isso vai distraí-lo da sua principal tarefa: a de dirigir o filme.

Em Macau, conseguir uma equipa com experiência é muito complicado. Não houve suficientes filmes feitos no território, para que se conseguisse que pessoas com vontade de fazerem parte de uma ‘crew’ pudessem aperfeiçoar as suas capacidades. Seja como for, haverá sempre pessoas interessadas em ajudar, apenas porque fazer um filme é algo bastante entusiasmante. Mas, lembre--se, as pessoas que conseguir que tra-balhem consigo gratuitamente ou por baixos custos são mais inexperientes e podem deixá-lo, assim que o trabalho ficar mais difícil ou houver complica-ções – e, acredite, pode sempre contar

* actor, guionista e director do filme“Roulette City”, em exibição nos cinemas

com o facto de que fazer um filme é muito, muito difícil.

Se for novo nisto, penso que é boa ideia ter um director assistente, um director de fotografia ou, mesmo, sim-plesmente alguém que esteja sempre no local das cenas consigo. Alguém que tenha mais experiência, alguém que fi-que, de certeza, sempre na sua equipa. Esta será a pessoa que vai saber de to-dos os possíveis problemas que poderá encontrar no caminho e que, por isso, pode salvá-lo de muitas dores de cabe-ça não só durante, mas também depois da produção do filme. Daí, deverá ser alguém em quem confie e alguém com que consiga trabalhar bem. Não há sentimento pior que ser um membro mais experiente de uma equipa a ten-tar dar conselhos a um novo director, apenas para descobrir que esse direc-tor não confia em si, ignorou os seus conselhos e encontrou precisamente os problemas de que ele o avisou. Se não confiar num dos membros da sua

equipa, não o contrate – tem de confiar nele e, sobretudo, deixá-lo fazer o tra-balho dele.

Nesse sentido, para ajudá-lo a con-seguir perceber com quem pode ou não contar – mesmo estando a pagar -, eu diria para trabalhar com alguém que tenha mais tempo, que conheça me-lhor, que esteja mais disposto a abra-çar o projecto – ou, melhor ainda, que acredite no seu projecto. No meu caso, escolhi pessoas com mais experiência, mas também calculistas. Estas pessoas têm tendência em ficar consigo, tanto nos bons, como nos maus momentos. Confiança e credibilidade é importan-te nas pessoas que contrata para a sua equipa e, para encontrá-los, tem que seguir o seu instinto. O seu instinto – todos o temos – é uma parte extrema-mente importante do seu talento como cineasta.

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15 artes, letras e ideias

José simões morais

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P RÓXIMO de Macau, em 19 de Março de 1685 apareceu um barco japonês que vinha desarvorado. Segundo os Ar-

quivos do Senado, “o Procurador des-ta Nobre Cidade, Sebastião de Vargas Lima tanto que lhe foi dada a tal nova, com muito zelo aparelhou um Balão e foi em demanda do dito barco, levan-do em sua companhia o Reverendo Pa-dre João de Abreu Lima, seu Irmão, e Frutuoso Gomes Leite, Cavalheiro de hábito de Cristo; e a mim, Escrivão da Câmara; e passando a Ilha do Bogio, se descobriu muito avante o dito Barco.” Logo os portugueses foram levados a acreditar que, com o envio dessa tri-pulação de regresso ao seu país, como retorno, poderiam reatar o comércio no Japão, totalmente proibido pelo shogun desde 1639.

Neste artigo são as palavras de Luís Gonzaga Gomes que nos acompanham para fazer o fio desta história.

Em 4 de Abril de 1685, “a conselho do Capitão-Geral, Belchior de Amaral de Meneses e do Governador do Bispa-do, António de Morais Sarmento, o Se-nado convocou os homens bons para discutir sobre a forma como haveria de fazer regressar ao Japão os doze tripu-lantes japoneses dum barco que chega-ra desarvorado; a escolha do indivíduo que deveria fazer a sua entrega; e a forma como se conseguiria o dinhei-ro para as despesas, assentando todos em que existia toda a conveniência em repatriá-los num barco português, por existir a possibilidade de o Imperador do Japão, por reconhecimento, tornar a permitir que os barcos desta cidade voltassem a negociar naquele país. O macaense Manuel de Aguiar Pereira, cidadão categorizado, ofereceu-se para levar os japoneses, não obstante a sua avançada idade e os seus achaques.”

Três dias depois “reuniu-se, nova-mente, o Senado, para deliberar sobre a forma de conseguir dinheiro para ad-quirir um barco destinado a repatriar os doze náufragos japoneses, mas não conseguiu coisa alguma, pois o barco custaria 6.500 pardaus. Porém, o pa-dre Filipe Fieschi, Procurador da Pro-víncia do Japão, escreveu, oferecendo um barco que seria comprado por ele, pelo embaixador Pedro Vaz de Sequei-ra, José Pinheiro de Faria e Bernardo da Silva. Como existisse a possibili-dade de os chineses e os holandeses chegarem ao Japão primeiro que os portugueses, podendo assim com as suas maquinações indispor o ânimo do

O RETORNO DOS 12 JAPONESES

Imperador contra os nossos, o Senado pediu ao Embaixador que dispensasse a sua fragata São Paulo, que já não ia a tempo de seguir para Manila, para onde se destinava, por ter já passado a época própria, pedido este que foi sa-tisfeito.”

Os chineses, interessados no ne-gócio do Japão, tentaram subornar os mandarins do governo de navegação oferecendo-lhes 6000 taéis para impe-direm a viagem de repatriamento num barco português. Providencialmente chegou a Cantão o padre Filipe Gri-maldi que, a mando do imperador vi-nha buscar o célebre matemático padre António Tomás. Conferenciando com as autoridades provinciais de Cantão, Grimaldi só conseguiu a licença do envio do barco português para o Japão quando argumentou poder dar ele a or-dem e depois “pagar com a sua cabeça, se o Imperador julgar que ele proce-dera mal. Assim, em 13 de Junho de 1685, pôde a fragata São Paulo fazer-se de vela para o Japão, sob o comando de João Baptista Pereira, natural de Se-túbal, que exigira o posto de Capitão--de-Mar-e-Guerra e de Capitão-mór da Viagem do Japão, levando como enviado da cidade Manuel de Aguiar Pereira.”

Era tão grande a necessidade de Macau reabrir o comércio com o Japão que em 14 de Junho “o Senado escre-veu ao Governador do Bispado, Antó-nio de Morais Sarmento, pedindo-lhe que encomendasse a Deus a viagem da fragata São Paulo, em todas as fregue-sias e que fosse feita uma solene nove-na a São João Baptista com a assistên-cia do Senado. No Colégio de S. Paulo fez-se uma novena a Santo Ignácio. O prior de Sto. Agostinho, Fr. João das Chagas convidou todos os fiéis e prin-cipalmente todos os pobres mendigos que subissem à Penha para rogarem a Deus e noutros colégios e igrejas se fi-zeram também orações, para impetrar pelo bom sucesso da viagem da men-cionada fragata.” Dez dias depois, “os oficiais da Câmara da Cidade de Macau prestaram solenemente o voto público de, por si e por todos os seus sucessores que vierem a servir na câmara, fazerem todos os anos a novena em honra de S João Baptista, glorioso padroeiro e pro-tector desta nobre e sempre leal cidade com a mesma pompa e assistência do Senado, que se fez nesse ano de 1685.”

A fragata São Paulo chegou a Na-gasáqui a 3 de Julho e foi obrigada a regressar no dia 30 de Agosto, “sem ter conseguido nada dos japoneses, que

se recusaram a reatar relações com os portugueses, com o receio de estes re-gressarem, para tornarem a ensinar a doutrina de Cristo.”

OS ANTECEDENTESComo se pode perceber, os shoguns, governantes japoneses, ainda tinham na memória os problemas causados pe-los padres católicos que, desde 1614, permaneceram clandestinamente no Japão para evangelizar o povo na dou-trina de Cristo. Fora com medidas drásticas, primeiro deportando-os e por fim martirizando-os, que acabaram as incursões dos missionários ao Im-pério do Sol Nascente, tendo também terminado em 1639 as relações com os comerciantes portugueses. No entanto, a comunidade japonesa cristã de dou-trina católica, escondendo a sua cren-ça, sobreviveu e quando em 1860 os portugueses reataram as relações com o Japão, para espanto de todos, foram encontrados ainda aí alguns milhares de católicos descendentes dos iniciais convertidos.

O conhecimento pelos portugueses das ilhas Léquias (Riu-Kiu), que faziam

(Continua na página seguinte)

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16 hoje macau sexta-feira 4.4.2014h

parte do arquipélago do Japão, ocorreu em 1511, quando Afonso de Albuquer-que conquistou Malaca.

Em 1517, a esquadra portuguesa co-mandada por Fernão Peres de Andrade negociou no Oceano Pacífico com os japoneses, que andavam à procura de adquirir mercadorias da China como a seda, já que os chineses se encontra-vam arredados do mar. As muito de-sejadas sedas chinesas, deslumbrantes no Japão, permitiram aos portugueses, como intermediários, os fabulosos lu-cros da troca deste produto por prata.

Nos anos trinta do século XVI, os portugueses chegaram em barcos chi-neses às ilhas Léquias e em 1542, alcan-çaram Tanegashima. No ano de 1543, apareceu um barco português no porto de Bungo. Estas informações de C. R. Boxer têm outras datas para Gonzaga Gomes, que diz: “Em 23 de Setembro de 1543, três portugueses, António Mota, Francisco Zeimoto e António Peixoto foram os primeiros europeus a chegar ao Japão.”

Em 15 de Agosto de 1549, S. Fran-cisco Xavier S.J. foi o primeiro missio-nário a chegar ao Japão e logo conver-teu ao cristianismo mil japoneses.

Desde 1550, o comércio com o Japão tornou-se monopólio régio, realizando-se para aí a viagem da Nau do Trato a partir de Goa, via Malaca e Macau, onde eram embar-cados os tecidos de seda adquiridos na feira de Cantão.

O shogun Ota Nobunaga (?-1580) começou a tentar unificar o Japão, numa altura em que já existiam 150 mil cristãos japoneses. Percebe-se assim que nos barcos portugueses não iam apenas comerciantes, mas muitos pa-dres para missionar e que, pelo édito do Shogun Hideyoshi de 24 de Julho de 1587, passaram no Japão a ser pes-soas não desejadas. Tal levou à perda do controlo de Nagasáqui (cidade cria-da em 1569 por japoneses e portugue-ses como centro comercial) e à expul-são dos missionários, que tiveram vinte dias para deixar o país. No entanto, tal decreto nos primeiros tempos pareceu ser apenas uma chamada de atenção e não foi vigorosamente executado, sen-do mesmo erecta a diocese de Funai em 1588. Mas, ainda no reinado do Shogun Hideyoshi (1582-1598), a 14 de Novembro de 1596, foram cortadas as orelhas a cerca de 20 japoneses con-vertidos, levados depois pelas ruas de Kyoto, Sakai e Osaka. Em 5 de Feve-reiro de 1597 ocorreu o grande martí-rio de Nagasáqui em que, seis francis-canos vindos como embaixadores de Manila, três jesuítas japoneses e dezas-sete cristãos foram crucificados. A per-

seguição, em vez de levar à diminuição de conversões, provocou o oposto e o crescimento do número de cristãos foi tal que terá provavelmente atingido o milhão, segundo Montalto de Jesus.

NÃO MAIS PADRESNOS BARCOS DE COMÉRCIO!Em 1614, o shogun Yeyasu decretou a perseguição geral contra o cristianis-mo, contava já o Japão com 300 000 católicos e 143 missionários e por isso, 155 missionários católicos estrangei-ros e japoneses partiram expulsos para Macau e Manila. Nesse ano, morreu o segundo Bispo do Japão, D. Luís de Cerqueira, o último que aí pode per-manecer.

Os padres passaram a disfarçar-se de comerciantes para penetrar no Ja-pão. O Capitão-mor Jerónimo de Car-valho, em 1621, foi detido e acusado de os ajudar a entrar clandestina e de tentar libertar dois missionários es-

panhóis presos em Hirado. Os frades foram martirizados e Jerónimo, detido em Omura, morreu em 1632.

Entre 1622 e 1625, devido às in-trigas holandesas, forjando cartas que falavam da intenção dos portugueses em invadir o Japão, ocorreu o corte comercial, que tanto prejuízo trouxe a Macau e levou a uma intensificação na perseguição religiosa. Havia prémios para quem denunciasse padres e cris-tãos japoneses.

Os missionários católicos estrangei-ros foram expulsos do Japão e os que se esconderam, quando foram capturados, após confessarem o seu credo, já que nenhum apostatou, foram torturados e chacinados. Assim, 55 padres e leigos foram decapitados ou queimados com uma assistência de 30 mil espectadores. Quanto aos comerciantes, os ingleses retiraram-se do Japão em 1623 e no ano seguinte foram os espanhóis pro-venientes das Filipinas proibidos de aí

entrarem, mas tal decreto não atingiu os portugueses, os holandeses e os chi-neses. Os comerciantes portugueses a partir de 1625 não puderam mais residir no Japão, sendo-lhes apenas permitido irem aí negociar. Os que eram casados com japonesas podiam levar os filhos, mas não as esposas, nem as filhas.

Em 1628, cinco galeotas e um junco portugueses são embargados em Naga-sáqui e os dos holandeses, em Hirado. Dois anos depois é levantado o embar-go aos navios portugueses no Japão.

O Senado convocou em 4 de Ju-nho de 1630 “o povo de Macau, para consultar sobre a forma como poderia conseguir dinheiro, para o envio de dois cidadãos principais ao Japão com presentes para o Rei e Governador des-te país, a fim de poderem ali negociar, respondendo o povo que era notória a falta de prata na terra, devido à inver-nada do Japão, há dois anos, e a falta de navios da Índia, sendo impossível fazer-se qualquer empréstimo com os moradores, por só existirem quatro homens que poderiam emprestar al-guma prata lavrada que tivessem em casa. Foi, então, proposto o envio dum barco a Manila, em Setembro, a fim de, com o rendimento da venda da sua carga, satisfazer a despesa da viagem para o Japão.” O Senado enviou em 8 de Julho de 1631 “novamente ao Japão, Simão Vaz de Paiva, que para ali tinha ido em 1620, como embaixador, para ultimar os negócios começados com o rei desse país.”

Como os japoneses tinham pago adiantadamente em prata a mercadoria que os comerciantes portugueses fica-ram de lhes comprar na China, foi re-solvido em 1632 remeter para o Japão esses indivíduos que “o não fizeram, a fim de lá pagarem tudo o que deviam, para evitar a quebra do comércio com esse país, incluindo os que não tiveram com que pagar, para fazerem as contas com os seus credores, na esperança de ser quitada parte das suas dívidas ou, de lhe serem concedidas moras para seu pagamento.” No ano seguinte dá-se o grande colapso financeiro dos mer-cadores portugueses de Nagasáqui. Os missionários continuavam nas suas ac-tividades clandestinas para catequizar os japoneses.

O governador, por ordem do sho-gun, em 1636, após anos de espera, aproveitou a chegada dos barcos de Macau, cujo capitão-mor era Gonçalo da Silveira e após uma minuciosa revis-ta, apoderou-se “de todo o cabedal que foi dos navios para o Japão, para rea-ver a prata que fora confiada aos nego-ciantes” de Macau. Às quatro galeotas, não lhes foi permitida aportarem em

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17 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 4.4.2014

Nagasáqui, tendo ancorado no porto de Dejima, uma ilha artificial próximo do porto de Nagasáqui. Quando par-tiram para Macau, os barcos levaram 287 pessoas expulsas, das famílias por-tuguesas residentes em Nagasáqui.

UMA EMBAIXADA MÁRTIRSegundo Montalto de Jesus, “o shogun Yeye Mitsou ordenara, em 1635, que levassem uma cruz a cada casa para que fosse pisada. Milhares e milhares prefe-riram a morte. Rebentou uma rebelião. Quarenta mil cristãos tomaram a Forta-leza de Simabara, onde foram cercados” em 1637. Um navio holandês durante 15 dias bombardeou-os, ajudando assim os japoneses a reprimir a revolta, que levou ao massacre de todos os ocupan-tes. Em 1638, altura em que ocorreu a última viagem dos comerciantes portu-gueses que rendeu 1259 caixas de prata, terminou a rebelião de Shimabara e os portugueses de Macau, assim como os missionários, foram acusados de a fo-

mentarem. Por isso, em 4 de Agosto de 1639 foi publicado o édito da definitiva expulsão dos portugueses. Os Capitães--mor, D. Francisco de Castelo Branco e D. João Pereira, presos no Japão, fo-ram levados ao palácio do Governador e ouviram a sentença do comissário ja-ponês encarregue da aplicação das leis anticristãs aos prisioneiros portugueses: “Merecem a morte mas, por benevo-lência, vão ser deixados partir para não mais voltar” e assim regressaram a Ma-cau a 17 de Outubro. Já os holandeses negociavam entre a China e Hirado, no Japão.

A cidade de Macau percebeu que desta vez era muito séria a situação pois, dos negócios com o Japão lhe vinha toda a riqueza. A 13 de Março de 1640, “em vista da cidade se encon-trar empenhada em perto de 400.000 taéis, dos quais 200.000 de dívidas ao Japão, perto de 100.000 que tinha de pagar pelos moradores que faltaram ao pagamento e 40.000 que a cidade

devia aos moradores, ficou resolvido que a fazenda real deveria entrar com parte do dinheiro para as despesas do envio dum representante ao Japão.” Para isso foram eleitos em 18 de Maio “para seguirem para o Japão como em-baixadores, Luís Pais Pacheco, que foi Capitão-Mor da Viagem do Japão, e os feitores desta cidade no Japão, Rodrigo Sanches de Paredes, Gonçalo Montei-ro de Carvalho e Simão Vaz Pavia, para tratarem acerca do reatamento do co-mércio com esse país. Ficou resolvido que os embaixadores só levariam 6.000 taéis para seus gastos, os quais seriam pedidos aos moradores da cidade sobre penhores e créditos desta cidade, onde existia escassez de dinheiro. Em caso de necessidade, os embaixadores pode-riam contrair empréstimos, no Japão, sob o crédito da cidade.”

A 6 de Junho de 1640 chegou a Na-gasáqui a embaixada de Macau com 74 membros e a 3 de Agosto, 61 deles fo-ram decapitados e o navio queimado; o

piloto e uns quantos mais foram envia-dos de volta, para relatar o que viram.

Em 1643 foram vítimas de martírio mais quatro sacerdotes em Nagasáqui e dois anos depois, o Capitão-geral Luís de Carvalho e Sousa convocou o povo no Senado, para o informar da neces-sidade de o mesmo concorrer com quarenta mil patacas para as despesas da embaixada de Gonçalo de Siqueira de Sousa ao Japão, pedido este que foi aceite unanimemente. Aportou a nova embaixada em Nagasáqui em 1647 e os governantes japoneses, atónicos com tal coragem, ainda escutaram de Siqueira as novas da independência de Portugal, mas reafirmaram a proibição da entrada dos portugueses no Japão. Por isso, a viagem, com os últimos alentos de esperança dos portugueses para reatar relações comerciais e cujo pretexto fora levar os 12 tripulantes ja-poneses do barco que chegara desarvo-rado a Macau, não deu nenhum fruto, pois estava já condenada à partida.

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18 DESPORTO hoje macau sexta-feira 4.4.2014

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COMISSÃO DE REGISTO DOS AUDITORES E DOS CONTABILISTASAviso

Torna-se público que já se encontra finalizada a correcção da segunda prestação das provas para a inscrição inicial e revalidação de registo como auditor de contas, contabilistas registado e técnico de contas, realizadas no ano de 2013 nos termos do disposto na alínea c) do artigo 1º do Regulamento da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, pela referida Comissão. Os respectivos resultados serão notificados aos interessados até ao dia 4 de Abril solicitando-se aos mesmos que contactem com a Sra. Wong, através do nº 85995343 ou 85995344 caso não recebam a mencionada notificação.

Direcção dos Serviços de Finanças, aos 18 de Março de 2014

O Presidente do Júri,Iong Kong Leong

SÉRGIO [email protected]

O circuito urbano de Pequim que acolherá a pri-meira prova do

recém-nascido Campeonato FIA de Fórmula E, para car-ros eléctricos, foi apresenta-do no final de Março e tem a particularidade de estar a cargo da equipa liderada pelo arquitecto português, Rodrigo Nunes.

O traçado nascido em redor do Estádio Olímpico de Pequim, que ainda está pendente da homologação da Federação Internacio-nal do Automóvel (FIA), terá um perímetro de 3,44 quilómetros e vinte curvas, e é fruto da cooperação do gabinete de projectos por-tuguês, da FIA, Formula E Malásia, da Federação de Desportos Motorizados da República Popular da China (FASC), do Comité do Parque Olímpico, do Team China Racing e das autoridades governamentais de Pequim.

A oportunidade de traba-lhar neste projecto surgiu no final de 2012 e tudo começou com o Circuito da Boavista, circuito que nos anos ímpa-res tem recebido a corrida portuguesa do Campeonato do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCC). “Somos os projectistas do Circuito da Boavista desde o seu ressurgimento em 2005.

Nesse ano, foi idealizado um circuito que permitisse a realização de provas na-cionais de automobilismo. Após o sucesso do evento em 2005 foi-nos pedido para propor-mos as adaptações necessárias, tanto ao nível do traçado como ao nível dos sistemas de segurança, de modo a possibilitar a

ARQUITECTO PORTUGUÊS DESENHOU CIRCUITO EM REDOR DO “NINHO DO PÁSSARO”

As rectas e as curvas assinaladas...

realização de uma prova do Campeonato do Mundo.

Essas propostas foram feitas, aceites, e o Circuito

Pugilismo Regresso de Manny Pacquiaoem directo no VenetianDepois de ter lutado no ringue da Arena do Cotai, Manny ‘Pacman’ Pacquiao regressa ao Venetian, mas através do grande ecrã. O resort apresenta, em directo e no grande ecrã, o combate de Pacquiao contra Timothy Bradley, já a 12 de Abril. Os dois lutadores estão novamente frente-a-frente para a desforra pelo título da World Boxing Organization. De Las Vegas para Macau, o Venetian oferece dois locais diferentes para assistir ao combate: o Loulan Junior no Sands Cotai Central e o Bellini Lounge no Venetian. O combate começa às 9h do dia 13 de Abril – noite de 12 nos EUA. Os preços dos bilhetes ronda as 100 e as 180 patacas. Estão à venda a partir de hoje.

da Boavista tem uma prova do WTCC desde 2007“, explicou o arquitecto luso ao HM. O contacto com a

Fórmula E ocorreu em 2012: “um elemento da Fórmula E contactou-me referindo que sabia que o meu gabinete era responsável pelo projec-to do Circuito da Boavista, que conhecia muito bem a sua evolução técnica des-de 2005 e que pretendiam concretizar um campeonato do mundo realizado única e exclusivamente em meio urbano”.

O “know-how” adquiri-do na construção do circuito citadino portuense tem sido valorizado, para além de per-mitir “desenvolver soluções técnicas pioneiras que nos são hoje solicitadas para serem adoptadas noutros circuitos urbanos.”

CARACTERÍSTICASEM AMBIENTE ÚNICOO traçado em redor do “Ninho do Pássaro” tem,

segundo o nosso interlocu-tor, características naturais “de um circuito automóvel urbano puro que se podem resumir a curvas pronuncia-das e espaço livre limitado”.

Claro que as condicio-nantes dos circuitos urbanos, como o Circuito da Guia em Macau é o melhor exemplo, “são sempre um desafio para quem pretende a realização de um evento desta nature-za e serão trabalhadas de modo a potenciar o grau de segurança e do próprio espectáculo”.

Nas largas ruas da capi-tal chinesa, os monolugares da Fórmula E serão capazes de atingir uma velocidade de ponta de 225 km/h, como tal, “as longas rectas serão pontualmente interrompi-das, através da criação de chicanes, potenciando a segurança nas zonas do cir-cuito com mais limitações, tanto físicas - existência de construções, edifícios, jardins, árvores, etc. - como da própria configuração existente”, esclareceu o arquitecto. Para o brasileiro Lucas di Grassi, vencedor do Grande Prémio de Ma-cau Fórmula 3 de 2004, ex-piloto de F1 e piloto da Audi Sport ABT Formula E Team: “para os pilotos, será um desafio tremendo conhecer os limites da pista com rapidez, assim como

compreender os pontos de ultrapassagem.

Os lugares mais óbvios são a primeira e a última curva. O circuito também vai requerer bastante tracção e estabilidade na travagem, enquanto as zonas de recupe-ração de energia, nos pontos de travagem, irão ajudar a estabilizar o carro.”

PITLANE ORIGINALA maior particularidade do circuito de Pequim está no seu pitlane, em forma de “U”, que para Di Grassi “é único e requer alguma prática espe-cial para o fazer certo, isto porque os pilotos terão que trocar de carros nas boxes.“

Esta foi a solução en-contrada pelo arquitecto Nunes para a falta de espaço existente, mas que ao mesmo tempo “irá permitir uma situação de interacção única entre o público, pilotos e a própria corrida”. A corridas das Fórmula E serão reali-zadas num só dia, de forma a minimizar a interrupção que causam nas cidades que acolhem os eventos. Uma sessão de treinos-livres, uma qualificação e uma corrida de 60 minutos fazem parte de um programa que encerra com concertos e animação de rua. A corrida de Pequim e de início de temporada está marcada para o dia 13 de Setembro.

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hoje macau sexta-feira 4.4.2014 FUTILIDADES 19

Indiano é viciado em comer pedras, rochas e lama • Pakkirappa Hunagundi, um indiano de 30 anos está viciado em comer tijolos, pedras e lama, chegando a comer pelo menos três quilos diários. Desde os 10 anos que desenvolveu o gosto por estes objectos aparentemente não ingeríveis e, a partir dessa altura, os seus lanches passam por bocados das paredes e ruas da aldeia onde habita. O mais estranho é que, segundo ele, esta alimentação não tem qualquer efeito negativo na sua saúde. Este distúrbio alimentar pode ser uma forma de Pica, uma doença que dá aos doentes um apetite por substâncias sem qualquer valor nutritivo. Hunagundi afirma que consegue “saltar refeições”, mas não “tijolos ou lama”. O homem defende este hábito concluindo que, passados vinte anos, não sofreu “qualquer efeito secun-dário” e que “os dentes estão perfeitos”, já que consegue “morder a pedra mais dura sem qualquer problema”.

‘Darth Vader’ quer serpresidente da Ucrânia • Na Ucrânia, há um candidato às eleições presidenciais que está a dar que falar: o líder do Partido da Internet assumiu a identidade de ‘Darth Vader’, o vilão da saga ‘Star Wars’. O candidato aguarda agora por luz verde para saber se pode mesmo avançar no acto eleitoral de maio.

Pu YiPOR MIM FALO

João Corvofonte da inveja

C I N E M ACineteatro

SALA 1CAPTAIN AMERICA:THE WINTER SOLDIER [3D] [B]Um filme de: Anthony e Joe RussoCom: Chris Evans, Scarlett Johansson, Samuel L. Jackson14.15, 16.45, 21.45

CAPTAIN AMERICA:THE WINTER SOLDIER [B]Um filme de: Anthony e Joe RussoCom: Chris Evans, Scarlett Johansson, Samuel L. Jackson19.15

SALA 2 NOAH [C]Um filme de: Darren AronofskyCom: Russell Crowe, Anthony Hopkins, Jennifer Connelly14.15, 21.45

NOAH [3D] [C]Um filme de: Darren AronofskyCom: Russell Crowe, Anthony Hopkins, Jennifer Connelly16.45, 19.15

SALA 3HORSEPLAY [B](FALADO EM CANTONÊS LEGENDADOEM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Lee Chi NgaiCom: Tony Leung, Ekin Cheng, Kelly Chen, Eric Tang14.15, 21.00

KANO [B](FALADO EM JAPONÊS, HOKKIEN E HAKKAE LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Chih-HsiangCom: Masatoshi Nagase, Oosawa Takao, Togo Igawa17.30, 19.15

CAPTAIN AMERICA: THE WINTER SOLDIER

Ouvi dizer que o governo anda à procura de talentos por Macau. Questiono-me se posso participar. Tenho é algumas dúvidas. Será que posso cantar e fazer malabarismo ao mesmo tempo, ou só me é permitido dançar? Tenho uma amiga que gostava de fazer um dueto comigo, mas acho que isso não está previsto no regulamento. E trabalhar fora de Macau depois de me inscrever no programa, será que posso? Vontades à parte, parece-me que, à luz daquilo que tenho ouvido, tem sido um bocado difícil perceber quais as melhores formas de captar e formar talentos em Macau. Na verdade, eu cá tenho as minhas ideias, mas no fundo, quem sou eu senão um gato preto? Querem mesmo que as exponha? Então vou tentar. Acho que os responsáveis pela descoberta de talentos deviam começar a procurar nos sítios mais óbvios: bares, discotecas, salas de espectáculos... Se isto não resultar (o que acho pouco provável, porque raramente tenho más ideias), talvez possam, então, promover a formação de quadros jovens nas mais variadas áreas do conhecimento, nomeadamente de hotelaria – mas só porque acho que os hotéis e casinos têm falta de pessoal –, tal como se tinha previsto inicialmente. Bem, vou contar-vos um segredo. O que eu queria mesmo era ser estrela da Broadway, mas como isto de ser gato é tramado, vou tentar a minha sorte no programa de talentos, que é a minha última hipótese.Ou se calhar tendo só infiltrar-me num dos espectáculos do Festival de Artes de Macau e mostro o meu Power, como a Cat fez na Cotai Arena, há uns dias atrás.

Os romanos tinham um excelente Ovídio.

TEMPO MUITO NUBLADO MIN 18 MAX 22 HUM 70-90% • EURO 10.9 BAHT 0 .2 YUAN 1.3

E o talento sou eu?

Que voz é esta que trespassa? De onde vem este timbre, as inflexões na melodia, o meio tom que desafinado se afina com o bater irregular do nosso coração e a ascensão da angústia? Humana, demasiado humana, para além de qualquer humanidade relativa... Quando o jaz marcava o ritmo das noites e das cidades,

Billie Holiday emergia dos seus próprios infernos para nos levar a um céu por conceber. E não se trata de um paraíso de delícias mas da vontade indomável de viver, sobretudo quando essa vida se encontra prenhe de dor e sofrimento. Don’t explain... Sim, não me expliques nada, abraça-me somente. Sobraremos pelo chão como os restos dessa voz que, enquanto uns estranhos seres a quem chamam de humanos existirem, tem a sua eternidade garantida. - Carlos Morais José

U M D I S C O H O J ELADY DAY: THE COMPLETE BILLIE HOLIDAY

ON COLUMBIA 1933–1944

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20 OPINIÃO hoje macau sexta-feira 4.4.2014

E XISTE um ditado chinês chamado “novo nome”, que significa que se mudou a água mas a medicação continua a ser mesma. A doença conti-nua sem cura.

Este é ano da mudança do mandato do Governo da RAEM. O Chefe do Executi-vo, Chui Sai On, candidatou-

-se à reeleição. Uma vez avançada a notícia, todo o campo pró-governo expressou imediatamente o seu apoio, citando várias realizações deste mandato de Chui Sai On, no entanto, essa não era a opinião do Gabinete de Ligação. O presidente da Assembleia Le-gislativa emitiu também uma declaração de neutralidade. À superfície é tudo optimismo, mas na verdade a situação é cheia de vari-áveis, porque as chamadas realizações do Governo da RAEM, apesar da liberalização do jogo, se não existir a política da livre entrada e não vierem dezenas de milhões de turistas nacionais todos os anos, a situação económica não é suficientemente positiva .

A prosperidade económica de Macau é apenas superficial. Os preços dos produtos e as rendas já começaram a provocar o descontentamento público. A distribuição anual de dinheiro, o aumento dos salários dos funcionários públicos e o acréscimo da variedade dos benefícios da vida civil e social fazem que o povo de Macau se sinta bem. Para além deste sentimento, de que mais se pode gabar Macau?

Os problemas da sociedade de Macau estão a aumentar enquanto o nível de fun-cionamento das autoridades governamentais baixa; a Casa de Vidro na Praça de Tap Seac leva anos de desuso, o problema da água do estádio de Tap Seac nunca resolvido até hoje, e o relatório final atrasado sem se esclarecer quem foram os responsáveis mais de um ano depois da corrosão dos pilares principais do edifício Jardim Sin Fung. A competência e eficiência do governo não é muito fraca? Temos ainda o exemplo da transmissão de canais de televisão. O Governo teve muitos meses para lidar com o assunto, mas no final resolveu mais uma vez escolher uma socie-dade totalmente detida pelo Governo sob o pretexto de não ter conseguido encontrar um novo modelo de negócios por falta de tempo. Se incluirmos os serviços da Reolian e a construção das 19.000 habitações sociais, qual é o trabalho satisfatório do Governo? E qual será a sua contribuição significativa para além da distribuição do dinheiro?

O povo de Macau conhece bem as habi-lidades das autoridades governamentais. O dinheiro de Macau vem do jogo. Imaginem que o continente tem uma mudança de políti-ca e aperta o exercício governamental, imple-mentando uma política de macro-controlo, e retirando os fundos da especulação em Hong

Mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma

Kong em Macau. Certamente que ocorreria uma recessão económica nesta região admi-nistrativa especial. Quem pagaria a enorme despesa dos funcionários públicos?

Chui Sai On tem o direito de tentar a reeleição, mas se esta for apenas simbólica, e não houver quaisquer mudanças de pessoal e de objectivos políticos, nem substituição de funcionários irresponsáveis e não quali-ficados, é apenas a água que muda e não a medicação. Macau não beneficia em nada.

O estudioso chinês Zhou Yongkun disse: “Os cidadãos e os direitos estão intimamente ligados, sem direitos não há cidadãos; da mesma forma, a sociedade moderna é uma conjunta de cidadãos, não existindo estado moderno quando não há cidadãos. Os verdadeiros benefícios da soberania são os seus cidadãos. O poder nacional, em última análise, é um poder

de governar e o poder de governar é res-ponsável perante os cidadãos.” O maior problema actual de Macau é que o Governo da RAEM criou, ao longo dos anos, uma sociedade deliberadamente manipulada pelos grupos de interesses, e, em seguida, distribui dinheiro para criar uma atmosfera de uma sociedade populista de bem-estar, afim de gradualmente paralisar os cidadãos na luta pelos seus direitos civis.

Esta maneira calorosa de cozinhar em “banho-maria” em que a população perde a consciência faz também com que o Governo perca toda a atenção. É normal ter eleições para um novo governo, mas em Macau, as substituições são mais importantes do que as reeleições.

Chui Sai On tem o direito de tentar a reeleição, mas se esta for apenas simbólica, e não houver quaisquer mudanças de pessoal e de objectivos políticos, nem substituição de funcionários irresponsáveis e não qualificados, é apenas a água que muda e não a medicação

LUCH

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*Ex-deputado e membroda Associação Novo Macau Democrático

um gr i to no desertoPAUL CHAN WAI CHI*

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21 opiniãohoje macau sexta-feira 4.4.2014

A captura e armazenamento de dióxido de carbono“The calculations along the whole process chain show that CCS technologies emit per kWh more than generally assumed in clean-coal concepts and considerable more if compared with renewable electricity. Nevertheless, CCS could lead to a significant absolute reduction of GHG-emissions within the electricity supply system.”

Carbon Capture and StorageRonald E. Hester and Roy M. Harrison

A Europa investiu em energias renováveis tanto como a China, Estados Unidos e Índia em con-junto nos últimos cinco anos e continua a liderar a participação mundial de capacidade de ener-gia solar fotovoltaica. A Alemanha duplicou a sua

produção em 2012, representando quase um por cento da procura total de energia.

A Itália teve a maior proporção do total de electricidade proveniente da produção de energia solar fotovoltaica em 2012, quase 6 por cento, comparado com os 5 por cento da Alemanha, contribuindo para que União Europeia (UE) atingisse a maior redução de intensidade de carbono. No entanto, apesar dos níveis de investimento, a participação da energia renovável permanece inferior aos 10 por cento do modelo energético total da UE.

A maioria dos países do G20 mostraram sinais de acréscimo do emprego de energias renováveis, desde a Turquia até à Coreia do Sul, tendo aumentado a participação das energias renováveis no consumo de energia. Não obstante, persiste a dependência da produção de energia com base em combus-tíveis fósseis.

A intensidade de carbono decresceu em alguns países a ritmo mais lento nos últimos anos, dada a crescente procura de energia local que foi coberta principalmente com o aumento da produção de energia nas centrais térmicas. As energias renováveis em termos gerais, continuam a representar uma parte reduzida do modelo energético, atingindo nove por cento em 2013, quando no início do século era de sete por cento, apesar do crescimento de dois dígitos registado em muitos países.

Estabelecer um preço ao carbono ajudará o país que mais emite a nível mundial? A China criou o Regime de Comércio de Di-reitos de Emissão de Shenzhen (ETS na sigla inglesa), em Junho de 2013, consistindo no primeiro de sete programas experimentais de comércio de direitos de emissão (outros projectos incluirão outras capitais de pro-víncia). O ETS inclui cerca de seiscentas empresas industriais de vinte e cinco tipos de indústria, sendo um indício decisivo de que a China estabelecerá um preço às emis-sões de carbono, quando tradicionalmente

perspect ivasJORGE RODRIGUES SIMÃO

se apoiou mais em medidas administrativas que em incentivos de mercado.

O desastre de Fukushima no Japão levou ao encerramento de todos os seus reactores atómicos e o retorno à geração da elec-tricidade com combustíveis fósseis, mais intensiva em emissões. Tal situação colocou o Japão na posição mais baixa da tabela de descarbonização. A Alemanha também perdeu confiança na energia nuclear para produção de electricidade e nos finais de 2011 tinha encerrado oito das suas dezassete centrais nucleares e reduziu drasticamente a proporção de produção de energia nuclear na produção de electricidade, tendo aumen-tado a produção a partir de carvão (lignite e antracite).

O plano das políticas actuais para o encerramento progressivo das restantes centrais nucleares será completado em 2022. A experiência de Shenzhen concederá aos participantes uma quota de emissões até 2016, mas o máximo foi fixado com base na intensidade de carbono mais que em termos absolutos, devendo o governo chinês proce-der a uma correcção e ajustamento anuais. Se as empresas se limitarem à atribuição actual, equivaleria a uma redução de trinta por cento na intensidade das emissões.

A experiência de Shenzhen mostra sinais promissores de actividade. O preço de um crédito de carbono aumentou de cerca de cinco dólares por tonelada, em Junho de 2013 para mais de onze dólares por tonelada, em Outubro do mesmo ano. As alterações no outro extremo do espectro, mostram que a França continua a liderar os países do G20 em termos de intensidade de carbono absoluto, devido ao sucesso do seu programa nuclear que proporciona mais do 75 por cento da sua produção de electricidade.

A escolha pela energia eléctrica a partir de energia nuclear como fez a França cer-tamente não será uma opção realista para muitos outros países. A captura e armaze-namento de dióxido de carbono (Carbon capture and storage - CCS na língua inglesa) não conseguiu aprisionar a imaginação dos investidores. O avanço na implementação da tecnologia de CCS foi insignificante.

O número de projectos de CCS opera-cionais não sofreu qualquer alteração nos últimos três anos, pois continuam a existir as mesmas sete centrais que capturam dió-xido de carbono. Não obstante, a quantidade de centrais em construção aumentaram nos últimos dois anos e quando estiverem operacionais podem aumentar a capacidade mundial de captura em mais de 50 por cento.

A questão fulcral é a falta de progresso em projectos integrados de CCS com a pro-dução de energia. A maioria dos projectos de CCS existentes estão associados com o processamento de gás natural, produção de hidrogénio e fertilizantes. A maioria dos

projectos operacionais ou em construção de CCS estão localizados nos Estados Unidos e Canadá. Tais projectos incluem as duas primeiras centrais de CCS e produção de energia em grande escala em construção nos Estados Unidos, que devem iniciar a sua actividade este ano.

A contribuição da UE para o desenvol-vimento da tecnologia de CCS foi mais lenta que o esperado. O mecanismo de incentivo NER300 tem por fim estimular o investimento dos Estados-membros da UE e do sector privado em tecnologias com baixo teor de carbono e ocorreu no âmbito da Directiva n.º 2009/29/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de Abril, com o objectivo de aperfeiçoar e ampliar, para o período de 2013 a 2020, o regime comunitário de comércio de licenças de emissão de gases com efeito de estufa denominado por Comércio Europeu de Licenças de Emissão ou CELE.

A Decisão da Comissão n.º 2010/670/UE, de 3 de Novembro (Decisão NER300) estabelece critérios e medidas para o finan-ciamento de projectos de demonstração de CCS e de projectos de demonstração FER inovadoras no âmbito do regime do CELE. A NER300 da Comissão Europeia estava destinada a financiar vários projectos de CCS, mas nenhum teve sucesso na primeira fase por falta de apoio dos Estados-membros envolvidos ou em lacunas de financiamento.

O Departamento de Energia e Mudança Climática do Reino Unido irá dar o seu apoio a dois projectos de captura de quase cinco milhões de toneladas anuais de dió-xido de carbono das centrais eléctricas. O progresso tão limitado no desenvolvimento de projectos de CCS é motivo de apreensão e presentemente representa a escolha mais prometedora para permitir que os combus-tíveis fósseis continuem a ser usados como fonte de energia sem libertar emissões de carbono para a atmosfera.

Sem uma rápida implementação desta tecnologia, e sem sinais de diminuição no uso de combustíveis fósseis, o volume de emissões de carbono a reduzir a curto prazo terá um limite. Os riscos climáticos são riscos de negócios e os executivos das sociedades globais não se concentram usualmente nalgum cenário climático do IPCC, sendo as suas principais preocupa-ções o crescimento, custos, resiliência e reputação. As mudanças climáticas afectam todas essas áreas.

Os últimos relatórios referentes ao Car-bon Disclosure Project (CDP) demonstram que algumas empresas têm uma solução preparada e a longo prazo para o risco cli-mático e estão a avaliar o impacto potencial das mudanças climáticas nas suas activi-dades, clientes e cadeia de fornecimentos. A gestão activa das mudanças climáticas é

presentemente um componente necessário da viabilidade contínua e do sucesso, e a modificação empresarial é uma ideia central.

O processo de transformação que supor-tam as empresas com gestão das mudanças climáticas vai além de metas estratégicas e de investimento para reduzir as emissões. A organização, adaptabilidade e velocidade operacional são características de uma es-trutura resiliente que marcam a adaptação de modelos de negócios desenhados com vista a obter uma vantagem competitiva e a proteger as infra-estruturas, os clientes e as cadeias de fornecimentos.

As empresas a fim de administrar diaria-mente o risco devem identificar as ameaças ao modelo existente e referentes ao clima, implementar soluções para aliviar o risco imediato e criar estratégias adaptativas de riscos futuros e desconhecidos. Os executi-vos devem observar as mudanças climáticas com uma atitude mental competitiva, testan-do oportunidades que permitam criar valor tanto dentro da empresa como no exterior.

O esforço por produzir informação útil para a tomada de decisões permite que as empresas compreendam e comuniquem me-lhor o impacto, a probabilidade, o horizonte temporal e as implicações financeiras das acções face às mudanças climáticas.

Será demasiado tarde para que a econo-mia mundial tente limitar o aquecimento global a 2°C? A taxa de descarbonização que a economia mundial precisava de atingir não tinha precedentes desde a segunda metade do século passado, quando começaram os registos pormenorizados de energia e PIB. Os novos dados do IPCC referentes ao or-çamento de carbono mundial, pelo quinto ano consecutivo, levam à conclusão de que a taxa de descarbonização exigida é a mais alta de sempre, ou seja de 6 por cento anuais até 2100. As mudanças tecnológicas que se deviam ter realizado não se concretizaram. O tempo para agir reduziu-se, e a dimensão do desafio é maior.

Os dados não são animadores, mas vários exemplos demonstram que é possível uma rápida descarbonização e uma economia com baixos níveis de carbono e se transportarmos à escala mundial esses assomos de progres-sos a nível nacional, será possível avaliar a possibilidade de atingir a meta global de 6 por cento de descarbonização.

Os últimos relatórios do IPCC demons-tram que é possível com acções coordena-das e sustentadas por parte dos países que lideram a eficiência energética e as energias renováveis. Todavia, existe a necessidade de ponderar a crescente procura de energia. A experiência com o apogeu do gás de xisto contribuiu para a queda do carvão, o que de-monstra que o benéfico para uma economia e seu meio ambiente não o é necessariamente se transportado para a escala mundial.

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carta ao director

22 opinião hoje macau sexta-feira 4.4.2014

Exmo Senhor Director do Hoje Macau,

O Tribunal de Segunda Instância (TSI) negou provimento aos recursos dos aposentados que impugnaram, contenciosamente, o despacho do Excelentíssimo Secretário para a Economia e Finanças, autoridade que concordou com a proposta da Exma. Directora dos Serviços de Finanças, quem havia indeferido os respec-tivos pedidos de concessão de subsídios de residência.

Porém, o Tribunal alega que “a partir do momento em que entrou em vigor a lei que dita que os funcionários públicos que, antes do retorno de Macau à pátria, já se tinham aposen-tado e já tinham transferido a responsabilidade das suas pensões de aposentação para a Caixa Geral de Aposentações de Portugal (CGA), estes trabalhadores deixam de poder receber o dinheiro”. Mas qual dinheiro? Referir-se-á, porventura e tão-só, ao subsídio de residência, requerido pelos mesmos, nos termos e ao abrigo do artigo 10º - no. 1 da nova Lei no. 2-2011? Mas, qual teria sido essa outra lei, que seria in-vocada a favor do Executivo e que contrariava, frontalmente, a Declaração Conjunta e a Lei Básica?! Diz o Tribunal que “os requerentes deste subsídio receberam passagens de avião e subsídios para regressarem a Portugal e lá fixarem residência”; como tal, não deviam ter direito ao subsídio de residência. Mas, então, indique-nos, por favor, essa disposição legal de carácter condicional e explique-nos do mesmo modo qual teria sido a razão pela qual veio a ser criada a disposição do artigo 203º do ETAPM, aprovado pelo Dec-Lei no. 87-89-M, de 21 de Dezembro, que concedia o subsídio de residência a todos os funcionários aposenta-dos, que regressassem, futuramente a Macau, tendo durante o regime da RAEM continuado a ser-lhes concedidos esses subsídios! Só que a sua vigência seria interrompida(!!), porque o Chefe do Executivo tinha em mente poupar esses gastos orçamentais, pelo que na pressa de assinar o projecto da lei, mal se lembrou dos princípios estabelecidos pelo artigo 25 da Lei Básica. Assim, seria esquecida a necessidade dos restantes aposentados, que haviam inscrito na CGA. Por outro lado, deverá o Tribunal fazer ainda uma detida leitura ao Decreto-lei no. 96-99-M, para procurar explicar-nos as razões pelas quais considerou que o seu regime “contraria evidentemente os respectivos pre-ceitos da Declaração Conjunta Luso-Chinesa e da Lei Básica, de que a RAEM não responde pelo pagamento das pensões de aposentação ou de sobrevivência, nem dos que tenham sido aposentados antes do estabelecimento da RAEM”. Saibamos que o citado decreto não estabelecia qualquer tipo de condição nem de restrição “a posteriori”. Se isso correspondesse à verdade, era mais do que provável que ne-nhum dos ditos funcionários, com dois dedos de testa, utilizaria esse direito, que os levaria a perder as suas “pensões de aposentação e de sobrevivência, e de outros benefícios sociais dos funcionários públicos” consoante justi-ficava o Acórdão. Tudo isso, além do mais, contrariava a finalidade da Declaração Conjunta

e bem assim a do artigo 25º da L.B. Tomou ainda o Tribunal, no seu acórdão, a liberdade de acrescentar que “o Executivo não responde pelo pagamento das pensões de aposentação ou de sobrevivência, nem de outros benefícios sociais dos funcionários públicos, que tenham sido aposentados antes do estabelecimento da RAEM”! Parece-nos contrariar o objectivo da Declaração Conjunta, que, celebrada entre Portugal e a República Popular da China, defende que os interesses desses funcionários que tivessem aposentado antes da entrega de Macau à soberania da República Popular da China, deveriam ser salvaguardados! Estranha conclusão a que o Tribunal havia chegado! Leia-se para o efeito, a seguinte referência do Anexo VI da Declaração Conjunta: “Os indivíduos acima mencionados que forem aposentados depois do estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau terão direito, em conformidade com as regras vigentes, a pensões de aposentação e sobrevi-vência em condições não menos favoráveis do que as anteriores, independentemente da sua nacionalidade e do seu local de residência”. Respeita-se aqui o artigo 25 da Lei Básica. Mas, não omitamos a leitura do parágrafo V do Anexo I, que tem o seguinte teor: “A Região Administrativa Especial de Macau assegurará, em conformidade com a lei, todos os direitos e liberdades dos habitantes e outros indivíduos em Macau, estipulados pelas leis previamente vigentes em Macau.” O carregado é nosso. Caiem, finalmente, por terra as conclusões chegadas pelo TSI, depois de lermos melhor o seguinte preâmbulo da Declaração Conjunta: “0s actuais sistemas social e económico em Macau permanecerão inalterados, bem como a respectiva maneira de viver; as leis vigentes manter-se-ão basicamente inalteradas”. “A Região Administrativa Especial de Macau assegurará, em conformidade com a lei, todos os direitos e liberdades dos habitantes e outros indivíduos em Macau”. Isso quererá dizer que as suas pensões concedidas, anteriormente, terão de ser intocáveis. Por outro lado, o arti-go 203º do ETAPM, relativo ao subsídios de renda de casa, o qual havia sido criado para dar continuidade à sua aplicação a casos futuros, não podia nunca ter sido revogado pelo artigo 24º, que faz parte integrante da lei no. 2-2011, que era inconstitucional por violar (o artigo 5l conjugado com o artigo 25). Vide anotações: 1 e 2 ambas da Lei Básica. O facto de os fun-cionários terem optado por serem pagos pela CGA, era porque temiam que, com a mudança da soberania sobre Macau, pudesse afectar-lhes os vencimentos. Assim, bem concluimos com estanheza que por uma simples inscrição na CGA, instituição, que, afinal, só lhes efectua os pagamentos mensais, mas à custa do dinheiro, que lhe havia sido enviado de Macau, hoje, RAEM, pudesse implicar a perda dos seus di-reitos, embora tivesse a Declaração Conjunta esclarecido que “as leis vigentes manter-se-ão basicamente [necessariamente] inalteradas”. Devemos, entretanto, transcrever o preâmbulo da Declaração Conjunta que estabelece: “a Região Administrativa Especial de Macau as-

segurará, em conformidade com a lei, todos os direitos e liberdades, e continuará a promover o desenvolvimento económico e a preservar a estabilidade social de Macau e o Governo da República Popular da China dará a sua cooperação nesse sentido”. Por essa razão e pelo exposto, seria estultícia quiçá malvadez concluir que esses aposentados estão desligados da RAEM (!), - o que não é verdade - e passam a não ter direito aos seus vencimentos e subsí-dios de sobrevivência, tendo em atenção a que o Tribunal no seu Acórdão, fez seus os argu-mentos expendidos pela digníssima secretária para Administração e Justiça, Florinda Chan, que deu a seguinte mas impensada resposta à uma interpelação, colocada na Assembleia Legislativa, pela deputada Melinda Chan: “só quem mantêm vínculos com o regime da função pública da RAEM é que tem direito à pensão e que estes aposentados não se podem incluir nesta situação, por terem escolhido, precisa-mente, mudar para CGA”. Mas, o Tribunal mais concluiria que “o Executivo não responde pelo pagamento das pensões de aposentação ou de sobrevivência, nem de outros benefícios sociais dos funcionários públicos que tenham sido aposentados antes do estabelecimento da RAEM”!!! As letras carregadas são da nossa responsabilidade. Esse raciocínio ia contra o princípio estabelecido pelo artigo 25º da LB! Assim, agradeciamos, uma vez mais, que nos fosse indicada a lei, ao abrigo da qual a Exma Secretária para Administração e Justiça havia chegado a tal conclusão! Voltemos a repitir que aquilo a que o Tribunal chegou no Acórdão, foi fazer seus os argumentos expendidos pela Florinda Chan, digníssima Secretária para Ad-ministração e Justiça, quando na sua citada res-posta à dita interpelaçâo, concluiu que deviam perder as suas aposentações e outros benefícios sociais!!! Mas através de qual suporte legal é que se permitiu chegar a essas conclusões! Da Declaração Conjunta, certamente que Não. NEM da Lei Básica.

Com a devida vénia, o acórdão do TSI, vem enfermado de vícios de violação de leis, designadamente, de inconstitucionalidade, por violar a Declaração Conjunta e a Lei Básica, devendo estes vícios ser impugnados ao Su-premo Tribunal de Justiça.

Manuel de Senna Fernandes

1 - Ser igual perante a lei significa ser igual tanto na aplicação da lei como na observação da lei. A lei aplica-se a todos os residentes como padrão único das suas condutas ou seja, perante a lei nenhum residente tem privilégios ou pode ser discriminado. 2. – Se o Chefe do Executivo da RAEM considerar que um projecto de lei aprovado pela A.L, não está de acordo com o interesse geral da RAEM pode devolvê-lo à Assembleia Legislativa, no prazo de 90 dias.

Uma estranha interpretação da lei...

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23 opiniãohoje macau sexta-feira 4.4.2014

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Redacção Joana Freitas (Coordenadora); Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; José C. Mendes; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

N ASCEMOS programados para esquecer uma boa parte das coisas que nos acontecem. Nascemos programados para conse-guirmos esquecer grande parte da dor, para não nos lembramos constante-mente da desilusão, num mecanismo da natureza

que nos permite sobreviver sem o peso constante do que é melhor não recordar-mos. Não nos lembramos da dor do nasci-mento, talvez para termos menos medo da morte, ou então das dores do crescimento, que também se esquecem quando outras dores chegam e se sobrepõem. Mas a dose de esquecimento da nossa programação inicial é bem menor do que os níveis de ignorância do passado em que vivemos. Falta-nos muita memória.

Os peixes vermelhoscontramãoISABEL CASTRO

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Já ninguém se lembra das últimas promessas eleitorais porque a memória apaga o que não existe, já ninguém se lembra do que se prometeu ontem porque hoje o dia é igual, uma sexta que se colou à segunda e aqui vamos nós, encarneirados para mais uma semana em que o tempo não nos dá tempo para sermos

A culpa é desta mania colectiva de arranjarmos sempre uma preocupação maior, que nos faz esquecer o que ontem nos inquietava. Vivemos com um mundo que nos entra pelos olhos à velocidade dos telejornais, à velocidade do esquecimento das notícias. Inventaram-se as efemérides para que se saiba que em Abril há um dia 25, que em Setembro há um dia 11, que na

China o Junho não tem dia 4 e que em Macau Dezembro sempre teve dia 20. Nas efemé-rides lembram-nos aquilo que esquecemos no dia seguinte.

A culpa é também do tempo que, aqui, passa mais depressa, como se sexta e segunda fossem dois dias num só, como se entre as 9 da noite e as 8 da manhã as horas tivessem deixado de existir. Os

miúdos crescem sem tempo, os adultos envelhecem sem se olharem ao espelho para verem as rugas, os velhos morrem e caem no esquecimento. As pessoas vão e vêm e delas fica quase nenhuma memória, que os que vêm a seguir não podem recordar quem não conheceram. Escrevem-se pou-cos livros sobre as pessoas, escrevem-se poucas notícias sobre as pessoas, escreve--se pouco sobre as ideias das pessoas e as pessoas, bem como as ideias, é como se nunca tivessem existido, porque chegaram e partiram antes de nós. O tempo que se vive a correr, o tempo que faz com que este texto tenha de estar pronto a tempo, não nos deixa pensar – pensamos pouco e, quando pensamos, achamos que a roda é nossa, que nós é que a inventámos, porque não temos memória de quem a inventou. Saímos à rua emproados com a nossa invenção e só os mais velhos, aqueles de quem ninguém conhece o passado, sabem das rodas que foram feitas antes de nós.

A culpa é também da rapidez com que tudo se constrói e se destrói. O apartamento de cima está sempre em obras. O apartamento do lado também. Naquelas paredes não há tinta velha escondida a contar as histórias de quem lá viveu. Os móveis velhos vão para o lixo e já não há antiquários, os armários já não são antigos, já não trazem o cheiro dos anos, a memória dos anos. Mais depressa se constrói um pacote de bolachas para turista comer; mais depressa se destrói um pacote de bolachas que o turista comeu. A rapidez com que os prédios nascem faz-nos esquecer que antes de o Cotai existir já havia Cotai, mas tímido, estreito, sossegado. A rapidez com que se limita o horizonte faz-nos es-quecer aquilo que não se construiu a bem da memória, da memória futura.

A falta de memória limita-nos a inteli-gência, mina-nos a exigência, acaba com a nossa paciência, faz-nos perder tempo – o tempo que não temos – em batalhas inúteis, em patéticas esperanças. Já ninguém se lembra das últimas promessas eleitorais porque a memória apaga o que não existe, já ninguém se lembra do que se prometeu ontem porque hoje o dia é igual, uma sexta que se colou à segunda e aqui vamos nós, encarneirados para mais uma semana em que o tempo não nos dá tempo para sermos.

Mas se conseguirmos fugir ao tempo, cuidado, há que ter muito cuidado: não podemos ser inquietos, não podemos ser insatisfeitos, não podemos ser atrevidos, não podemos saltar do aquário por entendermos que as migalhas que nos atiram não bastam. No mundo dos peixes vermelhos, é suposto andarmos à roda, que também a memória anda à roda até se diluir.

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hoje macau sexta-feira 4.4.2014

Cabo Verde Um quarto da população de «ainda é pobreO primeiro-ministro de Cabo Verde reconheceu ontem que um quarto da população é pobre, que o desemprego é elevado (16,7%) e afecta sobretudo mulheres e jovens e que há muitas desigualdades sociais. “Já fizemos muito na redução da pobreza, baixámo-la de cerca de 50% para 25%, mas um quarto da população ainda é pobre, o desemprego é elevado e há índices elevados de desigualdades sociais”, salientou o chefe do executivo cabo-verdiano. “Agora que falamos em mais oportunidades, igualdades e equidade, temos de continuar a trabalhar com muita energia para enfrentar com sucesso esses desafios e construirmos uma sociedade mais justa, mais igual, mais inclusiva, com oportunidades para todas as mulheres e para todos os homens”, pediu.

Opel sairá do mercado chinês em 2015Depois de anunciar o fim das operações em países como Japão e Austrália, a Opel confirmou que deixará de actuar na China a partir do dia 1 de Janeiro de 2015. Os relatórios sugerem que a marca alemã não conseguiu ganhar espaço no mercado desde que começou a operar na China, há mais de duas décadas. Segundo os dados divulgados pela Opel, durante o ano passado a fabricante vendeu no mercado chinês apenas 4365 veículos. Com 22 concessionárias, o que é muito pouco para os padrões da Opel e para um mercado tão grande como o da China, a fabricante oferece cinco carros por lá: Astra GTC, Insignia, Antara, Meriva e Zafira.

Paquistão Musharraf sobrevive a atentado O antigo Presidente do Paquistão Pervez Musharraf, que está a ser julgado por traição, sobreviveu ontem a uma tentativa de assassínio depois de uma bomba ter explodido pouco antes da viatura em que seguia passar, informou a polícia. A bomba foi colocada no seu trajecto de um hospital militar – onde tem permanecido desde Janeiro -- para a sua casa, nos subúrbios de Islamabad. «Quatro quilogramas de explosivos foram colocados num aqueduto, debaixo de uma ponte, rebentando cerca de 20 minutos antes da passagem da caravana do antigo Presidente paquistanês, que seguia para a sua residência, indicou a polícia.

Coreias China apoia unificação “autónoma”O porta-voz do MNE chinês, Hong Lei, afirmou, esta quinta-feira, que a parte chinesa apoia o melhoramento das relações bilaterais entre a Coreia do Sul e a RPDC por via do diálogo, a fim de promover a reconciliação e concretizar uma unificação autónoma e pacífica. As declarações do porta-voz chinês surgem depois da presidente sul-coreana, Park Geun-hye, ter apresentado três propostas à RPDC, com vista a uma melhoria nas relações entre os dois países. Hong Lei acrescentou que, como país vizinho, a China espera que todas as partes envolvidas e a China se dediquem à estabilidade regional para promover o processo das negociações do sexteto e contribuir para concretizar a desnuclearização na Península Coreana e salvaguardar a paz e estabilidade regional.

Chelsea acusado de manipular campeonato holandêsO Chelsea, que sustenta economicamente o clube holandês Vitesse Arnhem, foi acusado por ex-dirigentes da equipa de manipular o campeonato da Holanda, informa a imprensa. Merab Jordania, ex-presidente do Vitesse, afirmou ao jornal De Telegraaf que a direcção do Chelsea proibiu o clube de disputar o título do campeonato holandês. De acordo com o dirigente, de nacionalidade georgiana, a razão era que se o Vitesse conquistasse o título da Holanda a equipa estaria classificada para a Liga dos Campeões, assim como o Chelsea habitualmente, e a UEFA proíbe que dois clubes que mantêm uma relação económica disputem a mesma competição. No comando do clube está o russo Alexander Tsjigirinski (empresário associado a Roman Abramovitch, presidente do Chelsea), que chamou às declarações de Merab Jordania de «mentiras provocadas por inveja».

PRESENTE DE MERKEL A XI JINPING CAUSOU MAL-ESTAR

Não mapa mas móiA chanceler alemã An-

gela Merkel tentou ser simpática com o presidente chinês Xi

Jinping e acabou por criar uma tremenda confusão. Em encon-tro na última sexta-feira (28) a chanceler deu um presente a Xi: um mapa da China de 1735 do cartógrafo francês Jean-Baptiste Bourguignon D’Anville - que foi originalmente impresso numa gráfica alemã. Um presente ma-ravilhoso, um mapa da primeira metade do século. Mas o mapa tem um problema: identifica a “Sinae Propriae”, ou China Histórica ou a China mesmo, que era o terri-tório central da dinastia Qing. Só que este território está separado de áreas como Tibete, Xinjiang, Taiwan, Manchúria e até a ilha de Hainão, todas separadas da China Histórica, com cores diferentes. O

problema é que a narrativa oficial da China afirma que seu territó-rio está definido milenarmente, sua justificativa para possuir os territórios acima e outros é exacta-mente o facto de, supostamente, a China “ser” estes territórios desde tempos imemoriais.

A imprensa chinesa tentou re-solver o problema: não publicou em um primeiro momento o mapa de D’Anville, mas publicou outro mapa como tendo sido aquele que Merkel deu para Xi - mapa este do inglês John Dower, e feito em 1844. Este mapa não só contém todos os territórios acima citados mas até mesmo a Mongólia, a Coreia e boa parte da Sibéria que hoje é parte da Rússia.

Contudo, o que causou con-fusão é que o mapa realmente oferecido por Merkel acabou por ser publicado nalguns órgãos de

imprensa chineses. E aí nasceu uma enorme discussão no cibe-respaço chinês, com a maioria a dizer que Merkel tinha segundas intenções com o presente, ou seja, implicando que aquilo sig-nificava uma deslegitimação das actuais fronteiras chinesas e um recado para a últimas disputas territoriais - como o Mar do Sul da China e as suas ilhas.

Em termos estritamente políticos, os dois mapas estão certos. O de 1735 é o ano em que Qianlong, um dos mais im-portantes imperadores da dinastia Qing, iniciou o seu reinado de 60 anos. Foi ele quem sufocou as rebeliões de muçulmanos em Xinjiang, venceu tribos mon-góis e dominou os tibetanos. O mapa de 1844 retrata a China no seu maior avanço territorial histórico.

O governo chinês emitiu na terça-feira uma directriz para melhorar a transparência em diversas áreas-chave, entre as quais a

protecção do meio ambiente e o uso de terra.A China reforçará os seus esforços de acompa-

nhamento e divulgação de informações relacionada com a protecção do meio ambiente, indicou o Conselho de Estado, num documento publicado no site oficial do governo central.

De acordo com o documento, o governo infor-mará melhor o público sobre a qualidade do ar e os detalhes de avaliações de impacto ambiental de grandes projectos. Do mesmo modo, favorecerá a di-vulgação de informação relacionada com a segurança nuclear e pressionará os grandes poluentes a publicar informação sobre os seus despejos poluentes.

A directriz foi emitida depois do primeiro--ministro chinês, Li Keqiang, ter feito um discurso

na sessão anual da Assembleia Popular Nacional em Março, em que “declarou a guerra” à poluição. Além da poluição, a directriz também cobre outras áreas como a administração de terra pública, que tem causado numerosas disputas e protestos nos últimos anos. Agora, os governos locais melhora-rão a difusão de informação sobre a requisição de terra pública e permitirá aos cidadãos verificar e investigar a requisição de terras.

As informações relacionadas com aprovações administrativas, orçamento e contabilidade final, gastos governamentais, viagens ao exterior e veí-culos também são indicadas no documento.

Além disso, o governo central exige mais acções concertadas entre os departamentos governamen-tais para evitar “rumores oficiais” em relação a informação inexacta e contraditória difundida por diversos departamentos.

TRANSPARÊNCIA GOVERNO EMITE DIRECTRIZ INOVADORA

A clareza perdida da água