hoje macau 10 abr 2014 #3068

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PUB HOJE MACAU SONG PEK KEI, A NEO-DEPUTADA ENTREVISTA PÁGINAS 2 E 3 AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB WINDOWS XP FECHOU. CONSEQUÊNCIAS EM MACAU? MUITAS... SOCIEDADE PÁGINA 7 ÍNDIA . NEOLIBERALISMO E FUNDAMENTALISMO DE MÃOS DADAS ELEIÇÕES CENTRAIS Escola Portuguesa fica exactamente onde está POLÍTICA PÁGINA 5 NUNO CRATO VS. CHUI SAI ON hojemacau DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 QUINTA-FEIRA 10 DE ABRIL DE 2014 ANO XIII Nº 3068 NÃO SOU XENÓFOBA

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Hoje Macau N.º3068 de 10 de Abril de 2014

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Page 1: Hoje Macau 10 ABR 2014 #3068

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HOJE

MAC

AU

SONG PEK KEI, A NEO-DEPUTADA

ENTREVISTA PÁGINAS 2 E 3

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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WINDOWS XP FECHOU. CONSEQUÊNCIASEM MACAU? MUITAS...

SOCIEDADE PÁGINA 7

ÍNDIA . NEOLIBERALISMO E FUNDAMENTALISMO DE MÃOS DADAS

ELEIÇÕES CENTRAIS

Escola Portuguesa fica exactamente onde está

POLÍTICA PÁGINA 5

NUNO CRATO VS. CHUI SAI ON

hojemacau

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 Q U I N TA - F E I R A 1 0 D E A B R I L D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 0 6 8

NÃO SOU XENÓFOBA“

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HOJE

MAC

AU

2 hoje macau quinta-feira 10.4.2014ENTREVISTA

CECÍLIA L [email protected]

Conseguiu um lugar no hemiciclo. A quantidade de trabalho aumen-tou muito depois de ser deputada?Não sinto muita diferença, é apenas uma diferença de posição. Sempre fiz trabalhos ao serviço dos cidadãos, porque antes fazia trabalho com a comunidade. Agora, estou mais tempo na Assembleia Legislativa. É só isso, mas os assuntos são iguais e com o mesmo objectivo: melhorar a vida dos residentes.

Têm aumentado as frequências das reuniões das comissões. Isso pesa mais no trabalho de depu-tado?Isso é uma tendência da AL, não é uma decisão do presidente, nem algo que os próprios membros das comissões decidiram criar. Consi-dero que a AL está a fortalecer a função de supervisão ao Governo. Agora, muitos regulamentos e leis, bem como projectos sobre assuntos sociais estão atrasados e temos de recuperar o processo. As comissões de acompanhamento, por exemplo, permitem que todos os deputados assistam. Eu, por exemplo, faço isso. Vou assistir às reuniões de outras comissões sobre os assuntos sociais, a questão da Lei do Erro Médico... É uma questão de saber atender aos requisitos dos cidadãos.

Considera que o processo de legis-lação é muito complicado e que é por isso que as leis precisam de tanto tempo para sair?O processo da legislação actual é ainda muito curto. Temos de fazer as leis cautelosamente e ter em conta o equilíbrio entre o interesse e as relações de todos os lados, de forma a sermos justos para toda a gente. Os deputados também precisam de tempo para ouvir as opiniões dos cidadãos e do Governo e para ab-sorver e analisar todas informações que estes têm.

A AL tem tempo para fazer novas leis ou há ainda muitas leis que precisam de ser alteradas?Penso que, agora, os recursos hu-manos da AL ainda são limitados.

Quebrou a tradição no ano passado, quando conseguiu entrar na Assembleia Legislativa como a terceira candidata da lista de Chan Meng Kam. Song Pek Kei, segunda geração de um família de imigrantes de Fujian, fala sobre a polémica em torno da sua opinião sobre os TNR e dá uma visão diferente do que disse anteriormente

SONG PEK KEI, DEPUTADA, SOBRE O MEIO SOCIAL E POLÍTICO DE MACAU

“A diferença de tratamento dos casinos e das PMEs tem de mudar”

O presidente da AL já teve isto em consideração e, de facto, já esta-mos a recrutar mais pessoas para fazerem o trabalho da AL. Mas a Lei de Habitação Económica, por exemplo, acho que é a mais urgente para ser revista, até porque a lista de espera actual não está a funcionar e nem é racional, como vimos nos últimos dias. Além disso, temos apenas uma política dedicada à habitação pública, mas falta um plano geral o mercado imobiliário. Como já mencionei uma vez na AL, poderíamos lançar uma política para ajudar os jovens recém-casados a comprar uma casa nova. Da forma como está agora o mercado imobi-liário, os jovens acabam por perder a vontade [de adquirir] uma casa. Têm que pagar o empréstimo toda a vida. O Governo tem de considerar seriamente um plano a longo prazo sobre o mercado imobiliário e até mesmo um a curto prazo.

Tem vindo a falar da criação de um ambiente mais justo para o desenvolvimento dos jovens. Quais são as suas sugestões? Uma certificação profissional é necessária para criar um ambiente justo para os jovens. Agora, os graduados têm uma posição muito baixa quando entram no mercado de emprego, tendo apenas duas grandes opções: uma é ir para os casinos, outra para o Governo. Mas há muita gente que não quer trabalhar nestas

áreas, porque tem uma profissão mais específica, como os médicos, e têm de escolher entre ir para um casino ou o Governo, só porque não há mais saídas para a sua profissão. Sinceramente, não é saudável para o desenvolvimento social que os jovens tenham que escolher entre o seu sonho ao nível da carreira e a realidade [oferecida cá]. Agora, o Governo diz que precisa de talentos, mas não há uma definição para o tipo de talentos que procura, nem um estudo de mercado ao emprego de Macau. Afinal, que tipo de talentos precisamos e nos faltam?

Como avalia esta ideia do Go-verno, em angariar talentos para Macau?Não há um plano a longo prazo. Os talentos, presumo, precisam de formação particular. Nas faculdades de Macau não há faculdades de me-dicina e isso já é um problema, por exemplo. Por outro lado, quando os alunos acabarem o curso de medicina lá fora e regressarem a Macau, não conseguem ter uma certificação profissional para a qualificação que têm e acabam por ter de escolher uma profissão que lhes dê dinheiro para sobreviver. Então, assim, perdemos um talento, quanto estamos a dizer que precisamos dele.

Na comunidade chinesa acontece o fenómeno de que os pais é que decidem o emprego dos filhos. Isso preocupa-a, a mudança da decisão dos jovens quando escolhem a pro-fissão, além da realidade social? Isso já acontece desde a abertura do mercado do jogo. Os jovens que acabaram a escola secundária já desistiram e preferem não continuar o estudo e ir trabalhar nos casinos. Alguns têm dificuldades financeiras, mas o que a família pensa também é importante para eles.

Como avalia a educação básica aqui no território?Penso que faltam os valores morais na educação básica. Estudei numa escola primária no continente, onde tínhamos educação ideológica e moral. Considero que a consciência moral tem que ser formada desde criança. Na escola secundária, o

que se pretende é descobrir o in-teresse e talento dos alunos e no ensino superior é para confirmar a sua capacidade. Só assim, podemos formar residentes educados e cultos e também só assim temos motivação para planear a nossa carreira. Acho que os pais e os filhos têm que co-municar bem sobre o futuro de uma carreira profissional, não é apenas decidir ir para um emprego que só dê para ganhar dinheiro ou estudar uma determinada área só porque vai dar mais dinheiro.

Mas, com a falta de diversidade das indústrias em Macau, os jo-vens têm que escolher participar em sectores nos quais não têm interesse.Por isso é que o Governo deve mudar a política. Agora, todos os recursos, tanto os humanos como os restantes do território, são a favor do sector do jogo e os outros sectores são, claro, reduzidos. Para o sector do jogo, a procura de recursos humanos é tanta, que toda a população activa de Macau não é suficiente, o que causa um desequilíbrio na política de hoje em dia: as operadoras do

jogo podem ter imensas quotas de trabalhadores não-residentes, mas as pequenas e médias empresas (PME) não conseguem obter nem sequer um, quando não conseguem recrutar residentes locais. O Governo tem que deixar as operadoras de jogo serem mais dependentes, não pode auxiliar sempre o actor e a diferença de tra-tamento entre os casinos e as PMEs tem de mudar. Se os outros sectores, por exemplo o da construção, conse-guir desenvolver-se – claro porque as empresas conseguem recrutar profissionais locais com salários mais altos – os talentos não vão todos para os casinos. As empresas de jogo têm que ter responsabilidade social. Se absorvermos todos os recursos no sector do jogo, bem como os graduados, é obvio que perdemos talentos.

É uma das coisas que mais defende na AL. Como analisa aquilo que considera um conflito entre os TNR e os residentes?Temos ver dialecticamente esse problema. Os recursos humanos são o maior desafio ao desenvol-vimento social da RAEM. Temos

O processo da legislação actual é ainda muito curto. Temos de fazer as leis cautelosamente e ter em conta o equilíbrio entre o interesse e as relações de todos os lados, de forma a sermos justos para toda a gente

Não se podem usar as máquinas em vez de recrutar mais pessoas? Sabemos que há mesas electrónicas de jogo.

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3 entrevistahoje macau quinta-feira 10.4.2014

SONG PEK KEI, DEPUTADA, SOBRE O MEIO SOCIAL E POLÍTICO DE MACAU

“A diferença de tratamento dos casinos e das PMEs tem de mudar”

terrenos limitados e temos de ter um mecanismo para os TNR, bem como geri-los. Falei sobre esse assunto, que foi polémico na AL e causou muita discussão no seio da comunidade portuguesa, onde disse que os TNR estão a ocupar os lugares dos residentes locais e queria que eles saíssem. Não sou xenófoba, mas agora realmente Macau tem um buraco na legislação, que causa a existência de trabalhadores ilegais.

Por exemplo, quando as empregadas domésticas acabam o contrato com o patrão, não há um mecanismo para supervisionar a sua saída do território. Algumas continuam a usar o visto de turismo para procurar emprego em Macau, isso não é justo para outros trabalhadores.

Mas alguns dos TNR que temos aqui são chineses...Acho que os conflitos resultam da falta de políticas. Por exemplo, re-cebi queixas de trabalhadores locais que me dizem que os patrões apenas promovem os TNR de Hong Kong e do continente, mas não os locais. A questão não é a xenofobia, é a diferenciação de que os locais são alvo. As empresas, por exemplo, podiam dar alojamento aos TNR,

de forma a que não haja aumentos nas rendas. O Governo também precisa de lançar políticas e regras--guia para a gestão das empresas. Os TNR também contribuem para o desenvolvimento de Macau, mas, como agora causam tanta polémica, tanto o Governo como as empresas

precisam de procurar uma solução para resolver este conflito. Podemos, por exemplo, fazer actividades de intercâmbio, para as comunidades se conhecerem melhor umas às outras e resolvam os mal-entendidos, para que haja uma integração social.

Os residentes locais estão a concen-trar-se num cargo mais básico do jogo, o lugar de croupier. Porque é que não tentam ser promovidos ou entrar noutros sectores, em vez de ter tanto medo dos TNR e insistirem entrar no cargo mais baixo do casino?O que entendo dos croupiers é que eles não olham para a possibilidade de ser promovidos, sendo que alguns também não conseguem entrar nou-tros sectores. Por exemplo, um casal de croupiers: o salário do marido tem que pagar o empréstimo à habitação e os custos da família. Se tiver filhos, ainda tem de os criar. Então, no final, fica apenas o salário da mulher para cuidar do resto. Sinceramente, não me parece que a situação financeira desta família não é tão boa como os outros pensam. Por isso, em primeiro lugar, estas pessoas têm que garan-

tir o seu cargo para conseguirem sobreviver. Na minha opinião, as operadoras do jogo têm que pensar como usar menos recursos humanos para o jogo. Ou seja, serão mesmo precisas tantas mesas de jogo? Não se podem usar as máquinas em vez de recrutar mais pessoas? Sabemos que há mesas electrónicas de jogo. Se os casinos funcionarem assim, os funcionários podem ter mais tempo para estudar, por exemplo, e melhorar a sua capacidade e ser promovidos. Agora, os croupiers não têm condições de auto-promocão, por isso, não têm esperança de vir a ser promovidos no emprego. Se ainda se tirar a oportunidade no em-prego, por exemplo, para importar croupier TNR, claro que vai causar grande conflitos no público.

Mas um ambiente justo não é importante para garantir a con-corrência?Entendo que o cargo deve ser dado a quem tem capacidade. Contudo, Macau tem falta de um mecanismo de avaliação. Se for criado, podemos seleccionar os melhores, e nem pre-cisam ver se é ou não de Macau para ser o candidato ideal a um emprego. Como falta esse mecanismo, temos de garantir o direito aos residentes.

As licenças de jogo vão ser revistas em 2015. O que pode ser melho-rado a este nível?O Governo pode incluir no contrato as responsabilidades e obrigações das operadoras de jogo. Sim, o jogo traz muitas receitas para o Governo e para a sociedade, mas ao mesmo tempo também traz muitos lucros. Já é tempo de o Governo pedir às ope-radoras mais responsabilidade social.

No futuro vai apresentar algum projecto de lei com os seus par-ceiros políticos? Estamos a pensar apresentar o nosso projecto de lei sobre o arrendamento ainda este ano.

Pode revelar um pouco mais a sua posição sobre os temas em debate esta semana?

Não posso dizer agora porque, se calhar, vou ter depois outras ideias durante o debate. Digo sempre isto: a verdade pode ficar mais clara depois do debate. Temos sim de ver qual a melhor politica para o desenvolvi-mento de Macau.

Os deputados dizem servir a popu-lação, mas não podemos ignorar que os seus eleitores são de Fujian. Como avalia esta comunidade? (Sorrisos). Esta comunidade já está integrada na sociedade de Macau. Os cidadãos de Fujian casam-se com cidadãos de Guangdong. Por exem-plo, o meu marido é de Guangdong. Também desenvolvemos as nossas capacidades de concorrência e cada vez temos mais condições nas áreas da economia ou educação. Os resi-dentes de Fujian têm o espírito de luta e isso é uma herança das nossas gerações mais antigas. Para mim, se uma pessoa conseguir sobreviver em sociedade, toda a comunidade vai ficar beneficiada, e depois toda a sociedade. O maior exemplo disso é o deputado Chan Meng Kam: com a sua luta individual avançou para a comunidade e conseguiu servir toda a sociedade.

Qual a sua posição sobre a política de cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa? Há vozes que dizem que Macau não é, de facto, uma plataforma a esse nível.Macau é uma ponte entre dois lados. Temos de considerar melhor essa política. É uma oportunidade para Macau poder participar nas activi-dades comerciais entre a China e os países de língua portuguesa.

E o que acha do ensino do portu-guês? Uns defendem que pode ser uma disciplina obrigatória, outros dizem que só quem necessita do idioma para trabalhar pode es-colher aprender. Penso que não deve haver conflito entre os dois lados. Sendo uma disciplina obrigatória, quem tem uma base de português já pode usar o idioma na profissão, como por exemplo nas negociações com países de língua portuguesa. Mas para quem quer ser tradutor ou in-térprete, pode fazer a sua formação no ensino superior.

Uma vez disse que tem muitos planos para a sua vida. Tem planos para a próxima fase, ao nível da carreira, ou na vida pessoal, depois do casamento?(Risos) Casei-me este ano mas não fiz nenhuma cerimónia. Sou uma pessoa discreta e não queria que o meu casamento fosse uma possibi-lidade de encontro para políticos e empresários. Muitas pessoas dizem que os deputados têm de se concen-trar apenas nos assuntos das leis, mas para mim deve haver um equilíbrio entre carreira e vida pessoal. Não vou negar a possibilidade de ter um bebé enquanto for deputada.

“Os TNR também contribuem para o desenvolvimento de Macau, mas, como agora causam tanta polémica, tanto o Governo como as empresas precisam de procurar uma solução para resolver este conflito

Não sou xenófoba, mas agora realmente Macau tem um buraco na legislação, que causa a existência de trabalhadores ilegais

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hoje macau quinta-feira 10.4.20144 POLÍTICA

ANDREIA SOFIA [email protected]

“O Governo não vai alterar a sua polí-tica sobre os táxis amarelos, apenas

vamos fazer alguns ajustamentos.” A frase, da autoria de Wong Wan, director dos Serviços para os As-suntos de Tráfego (DSAT), foi dita ontem em mais um debate da As-sembleia Legislativa (AL) sobre o contrato provisório de nove meses assinado com a empresa Vang Iek.

Os objectivos iniciais do Executivo vão, assim, manter-se, no sentido de criar um serviço exclusivo à marcação por chama-das telefónicas. Contudo, não foi avançado nenhum calendário.

“No contrato de nove meses só passaram dois. É ainda preco-ce tomar uma decisão, mas em tempo oportuno vamos divulgar. Qualquer que seja o rumo a ser seguido temos de colocar táxis suficientes a circular em Macau”, garantiu Lau Si Io, secretário para os Transportes e Obras Públicas.

“Vemos que não vai ser fácil conseguirmos isto (100% de táxis por chamadas telefónicas), porque segundo a renovação do contrato e a análise dos dados vemos que precisamos de mais tempo para analisar o papel

PLANO PARA TÁXIS AMARELOS AINDA EM FASE EXPERIMENTAL

“Não vamos mudar a nossa política”

NOVO REGULAMENTO DOS TÁXIS QUASE PRONTOHá muito que o Governo garante que está a preparar um novo regulamento administrativo sobre o funcionamento dos táxis. Wong Wan disse que “o texto está concluído e que vai ser colocado a consulta com a operadora”, mas não adiantou qualquer calendário para a entrada em vigor. A nova legislação “vai rever as normas mais desactualizadas para elevar a eficiência, evitar situações de recusa de passageiros e outras irregularidades. Queremos introduzir agentes disfarçados e estamos a pensar se vamos ou não adoptar medidas mais severas”

que os rádio táxis assumem no mercado. Se fizermos 100% do serviço por marcação temos de ver se conseguimos uma comple-mentaridade entre os dois tipos de táxis”, disse ainda.

Sem datas definidas, o Governo garante que tem vindo a fiscalizar as operações da Vang Iek e que, até ao momento, não há queixas, sendo que os trâmites do contrato estarão a ser cumpridos pela concessio-nária em relação às percentagens definidas, com 60% dos táxis a funcionar apenas por marcação. Segundo Wong Wan, este é um tempo de experimentação e de análise de dados que vão servir para definir futuras políticas.

“Trata-se de uma solução ex-perimental nesta fase. Temos de analisar esta situação e pedimos as táxis para preparar o seu fun-cionamento rumo a este objectivo. Esperamos que estes táxis possam prestar um serviço aos deficientes como em Hong Kong, utilizando veículos sem barreiras. Queremos, com a política geral do trânsito, servir essas pessoas. Por isso é que esperamos, com a marcação tele-fónica, servir esses moradores.”

E A SOBREVIVÊNCIA DA VANG IEK?No debate, proposto pelos de-putados José Pereira Coutinho e Leong Veng Chai, muitos colegas

do hemiciclo referiram que o con-trato experimental assinado com a Vang Iek foi feito para garantir a sobrevivência da empresa. Posição que o Governo não quis assumir.

“Temos de criar condições para a operação destes táxis, e se conseguem ou não sobreviver tem a ver com a forma de gestão das próprias operadoras. Não estamos aqui a cuidar das operadoras, mas da população”, disse Lau Si Io.

Já Wong Wan disse que “se os táxis amarelos tiverem de prestar serviço só por chamadas não conseguem ter a taxa de serviço que os táxis pretos conseguem atingir. 90% dos táxis amarelos estão cheios de passageiros por isso o serviço por marcação é enfraquecido e não é fácil apanhar um táxi. Temos de tomar medidas para resolver essa situação. Nunca pensámos na sobrevivência da

companhia para resolver os nossos trabalhos”.

Alguns deputados, como Au Kam San, frisaram que o modelo proposto pelo Governo não vai fun-cionar. Melinda Chan disse mesmo que “o Governo fez muito por esta companhia, parece, porque pensou em vários modelos para garantir a sua sobrevivência”.

“As operadoras já pensaram em como vão manter o seu negócio, mas o Governo continua a agir de forma burocrática. A sociedade pode pensar que o Governo está a ajudar e que há um conluio com as operadoras”, acusou Kwan Tsui Hang. “Temos ainda alguns meses pela frente, como é que o Governo vai monitorizar o modelo de fun-cionamento? Tem outras medidas?”

O pedido de liberalização do mercado acabou por surgir. “A operadora tem de ter condições

para continuar a operar. Como é que é possível criar condições para essa operadora, ou ter novas ope-radoras com concurso público?”, questionou Dominic Sio.

“Não há uma política geral para os táxis nem para os transportes públicos. As questões vão manter--se. O problema tem a ver com a liberalização do mercado e tem que nos dizer qual a sua política”, acu-sou Pereira Coutinho. Cheung Lup Kwan frisou que “se (o Governo) continuar assim vai ser um fracas-so. Se não funciona porque não se abre um concurso público? Quem pretender explorar, que explore. Se achar que tem prejuízos, então que deixe de explorar”.

Wong Wan apenas disse que, a acontecer, a liberalização do mercado será feita “com base em dados científicos”.

Lau Si Io disse apenas que ne-cessitam de definir um rumo para os táxis amarelos porque é algo que “pode influenciar o desenvolvi-mento do trânsito”. Mas frisou que “se houver táxis só por marcação telefónica, isso poderá não resolver todos os problemas. Esta política está sempre em movimento e os táxis fazem parte. Pretendemos com este debate saber o que a população quer dos táxis amarelos e quais os problemas decorrentes da exploração”.

Wong Wan admitiu no hemiciclo que as intenções para os táxis amarelos se vão manter: findo o contrato experimental de nove meses, o caminho será de criar um serviço só com chamadas telefónicas. Deputados falaram da sobrevivência da Vang Iek e pedem liberalização

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hoje macau quinta-feira 10.4.2014 5 política

O ministro da Edu-cação de Portu-gal, Nuno Crato, estará na RAEM

dias 13 e 14 de Abril, con-firmou o HM junto de fonte bem informada. O objectivo principal da visita será dizer claramente – e de uma vez por todas – ao Chefe do Executivo Chui Sai On que a Escola Portuguesa de Macau (EPM) fica onde está, ou seja, não existe qualquer intenção de mudar o estabelecimento de ensino para o lugar onde actualmente se encontra o degradado Hotel Estoril, no Tap Seac.

A vinda do ministro português a Macau encer-rará um longo processo que tinha por fim a mudança de instalações da EPM, que foi, praticamente, iniciado quando da inauguração do estabelecimento de ensino nas instalações da antiga Escola Pedro Nolasco da Silva, também conhecida por Escola Comercial.

Na altura, a Associação Promotora da Instrução

CECÍLIA L IN*[email protected]

N O dia em que se ficou a saber que há 30 projectos de investimento para o

novo Parque Industrial na Ilha da Montanha, Francis Tam disse ainda estar a analisar a recente proposta do vizinho em recrutar uma pessoa de Macau para assumir o cargo de subdirector da Direcção de Servi-ços para Assuntos da Nova Zona de Macau em Hengqin.

O secretário para a Economia e Finanças disse só ter recebido a notificação autoridades da Ilha da Montanha sobre o assunto na semana passada, pelo que ainda

será analisada a melhor forma de alguém ser escolhido para o cargo.

“A parte de Hengqin quer que sejamos nós a apresentar um indi-víduo, mas se for um funcionário público, isso é contra as regras. Por isso, nesta fase, estamos a estudar como participar no as-sunto.” Tam realça que a direcção está a cargo da função pública do continente, não da RAEM, mas que o Governo tem vontade em participar. Contudo, refere o secretário, a melhor maneira não será nomear um funcionário do Governo.

O problema ainda em torno desta direcção é também outro. Tam diz que não percebe a intenção

do continente em criar esta nova função. “Sinceramente, não sei porque é que Zhuhai quer criar esta direcção. A comunicação tem andado bem entre Hengqin e Macau e acho que já temos meios suficientes para promover a coo-peração.”

O Governo comprometeu-se a apresentar a lista de 30 projectos na próxima semana. Projectos que, se tiverem sucesso, entrarão no Parque Industrial da Ilha da Montanha, que tem uma área total 4,5 quilómetros quadrados, distri-buídos em indústrias criativas e culturais, turismo, serviços, entre outras áreas de investigação ciên-cia e tecnologia. - *com Joana Freitas

A S dúvidas sobre a análise do regime jurídico de tratamento de litígios

decorrentes de erro médico mantêm-se. Ontem, a Terceira Comissão Permanente da As-sembleia Legislativa confirmou a existência de erros de redacção em mais dois artigos, desta vez relacionados com os prestadores de serviços médicos.

Segundo o presidente da comissão, os deputados ques-tionaram-se sobre os casos de pessoal destacado para escolas e lares, mas também sobre como levar a cabo a responsabilização destes profissionais em caso de erro médico.

Cheang Chi Keong adian-tou, ainda, que os deputados pretendem saber se os presta-dores de serviços estão devida-mente licenciados, uma vez que

FRANCIS Tam revelou ontem, à margem de

uma cerimónia sobre a Ilha da Montanha, que o Governo está a rever a estrutura legal da protec-ção ao consumidor, sendo que os Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ) estão a cargo do estudo sobre as mudanças a ser feitas.

O Conselho de Consu-midores (CC) tem vindo a ser criticado por apenas fazer comparações dos pre-ços dos produtos e receber queixas, mas não poder ter acção legal. O secretário para a Economia e Finanças disse aos jornalistas que considera que o que mais importante, para já, é definir o papel do CC. “O CC faz

mais trabalho do que com-parar preços, por exemplo, também promove as lojas aderentes [ao selo de garan-tia].” Tam relembra que o CC é um departamento ad-ministrativo liderado pelo Governo e que é diferente dos departamentos do con-tinente e de Hong Kong. O responsável diz mesmo que os cidadãos devem dar mais

opiniões sobre como é que o CC deve desempenhar a sua função.

O presidente do CC, Vong Kok Seng, disse que agora está a ter como referência o departamento homólogo de Portugal e disse estar a considerar requerer a arbitragem, algo que depende contudo da lei de Macau. - C.L.

NUNO CRATO EM MACAU PARA FALAR COM CHUI SAI ON

A escola inamovível

HENQIN CHINA QUER “MACAENSE” PARA SUBDIRECTOR DE SERVIÇOS

Funcionário público não dá

dos Macaenses (APIM), que liderou o processou de formação da EPM, preteriu o antigo Liceu, onde hoje se encontra o Instituto Po-litécnico, a favor da Escola Comercial, circulando o rumor que haveria uma ven-da posterior à Sociedade de Jogos de Macau (SJM), de Stanley Ho, na medida em que o estabelecimento de ensino é contíguo ao casino Grand Lisboa.

O magnata do jogo mostrou-se sempre aberto a negociar, mas a verdade é que o terreno em questão tem como finalidade especi-ficada na lei objectivos edu-cativos. Portanto, a alteração da finalidade do terreno seria mais um obstáculo à reali-zação de um negócio que permitiria à EPM encaixar

o dinheiro suficiente para a constituição de um fundo.

P’RA PIOR JÁ BASTA ASSIMMas o tempo foi passando e não se chegou a nenhuma so-lução, o que leva o presidente da Fundação Escola Portu-guesa de Macau (FEPM), José Luís Sales Marques, a dizer ao HM que, depois de tanto tempo, mais vale ficar onde está. “Acho que tanto uma solução, como outra tem convenientes e inconvenien-tes. Depois de tanto tempo de espera, talvez a melhor solução seja ficar onde está. E penso que esta será a melhor decisão, na medida em que o edifício existe, a escola funciona. Não se tem que inventar nada. É uma solução de perfeita continuidade”, explica Sales Marques.

Contudo, existem pro-blemas concretos no esta-belecimento de ensino que urge resolver. “As insta-lações da escola, tal como estão actualmente, já são um pouco insuficientes para o próprio projecto escolar.

Precisam de ser ligeiramente reformuladas e isso vai ser inevitável, o facto de ter que haver obras nas instalações. Eventualmente, um aumento das instalações”, revela o presidente da FEPM.

QUAL A POSIÇÃO DA SJM?Perante esta necessidade de investimento, resta agora saber qual vai ser a posição da SJM perante o novo de-senvolvimento: a decisão do governo português de não mudar a escola e, portanto, o desejado terreno não ir parar às mãos da SJM. Stanley Ho tem sido um dos mais generosos patronos da EPM e, se bem que o Governo se tenha sempre comprometido em auxiliar a escola, há quem se interrogue sobre o que vai fazer o magnata do jogo - ou os que o representam na SJM. Ontem, até à hora de fecho desta edição, não foi possível obter nenhum comentário da parte dos responsáveis da operadora, no sentido de com-preender a sua posição face à nova situação. - Hoje Macau

Conselho de Consumidores com funções revistas

ERRO MÉDICO DÚVIDAS CONTINUAM

Lei imperfeita e artigos indefinidos

alguns membros do hemiciclo partilharam incidentes de diag-nósticos errados em lares e em escolas de Macau.

Outras das questões levanta-das na reunião tem que ver com o artigo referente à morte do doente e eventual requerimento de um exame ou processo clíni-co. A dúvida prevalece, no que toca à questão de quem pode, ou não, requerer estes documen-tos – de entre cônjuges, irmãos, descendentes ou ascendentes –, levantando-se a questão da pri-vacidade, pois se todos puderem fazê-lo, o processo poderá vir a tornar-se abusivo.

E a este problema acresce, ainda, um outro: é que existem incompatibilidade no diploma do erro médico com o Código Civil, tendo em conta que o úl-timo define que, se o conjugue não quiser os exames ou os pro-cessos clínicos, mais nenhum familiar poderá fazê-lo.

Não é a primeira vez que são detectados erros no di-ploma do erro médico, mas a discussão da especialidade

deverá continuar na pró-xima terça-feira.

A vinda do ministro encerrará um longo processo que tinha por fim a mudança de instalações da EPM, que foi, praticamente, iniciado quando da inauguração do estabelecimento de ensino

Page 6: Hoje Macau 10 ABR 2014 #3068

hoje macau quinta-feira 10.4.20146 SOCIEDADEOs enfermeiros formados que se queixam de não conseguir entrar no quadro dos Serviços de Saúde podem estar descansados: se cumprirem os requisitos legais poderão vir a integrar um concurso público para a profissão em dois anos. Seja como for, diz o Governo, os SS não são obrigados a contratá-los

JOANA [email protected]

O S pós-gradua-dos do curso de enfermagem não têm, “ne-

cessariamente”, que entrar no quadro dos Serviços de

A concessionária que ga-rante o fornecimento de

gás natural acusa do Governo de ser o responsável por per-das financeiras da empresa em mais de 27 milhões de patacas o ano passado, sendo que, desde 2006, as perdas acumuladas foram superio-res a 147 milhões de patacas. No relatório e contas da empresa, divulgado ontem, a empresa frisa que “o Go-verno não verificou o preço a cada três anos em conformi-dade com as disposições do contrato de concessão, nem ajustou atempadamente o preço do gás natural de acor-do com as leis do mercado de gás natural da RAEM”. “A companhia tomou uma série de medidas para con-trolar a despesa, reduzindo

CECÍLIA L [email protected]

U M grupo dos funcio-nários de serviços funerários lançou on-

tem uma carta aberta, acu-sando a empresa que gere a casa funerária do Kiang Wu de estar a aumentar os custos dos funerais. As acusações não são novas e continuam desde 2012, quando as agências fune-rárias de Macau exigiram que o Governo criasse um serviço público para o sec-

tor e criticaram o facto de o mercado estar dependente de uma empresa de Hong Kong, privada, e que presta serviços à associação de beneficência do hospital Kiang Wu. As agências falam em “monopólio” e afirmam que não conse-guem manter o negócio.

Na carta de ontem, que foi enviada também à Asso-ciação de Beneficência do Kiang Wu, no dia 2 de Abril, as agências queixam-se de aumentos das tarifas dos serviços, quando anterior-

mente a empresa gestora admitiu que ia baixar os preços em 20%. Além dis-so, também não há novas tabelas de preço nem guias para o arrendamento da sala funerária.

O grupo ainda não obteve nenhuma resposta da Associação do Kiang Wu, à semelhança do HM, que tentou ligar para o presidente da direcção, Fong Chi Keong, mas o secretário do também deputado disse não haver qualquer resposta.

SAÚDE ENFERMEIROS ESPECIALISTAS NÃO TÊM QUE INTEGRAR QUADRO DO GOVERNO. NOVO CONCURSO ABRE EM DOIS ANOS

Braço de ferro no hospital

AGÊNCIAS FUNERÁRIAS VOLTAM A ATACAR KIANG WU

Os mesmos problemas, para zero soluções

viços.” No total o organismo prevê que haja 117 lugares no concurso público para a promoção “nos próximos dois anos”. Só nessa altura, os enfermeiros que terminaram o curso de formação e “sa-tisfizerem a exigência legal” podem participar no concurso para ter acesso ao cargo de enfermeiros-especialistas.

Em 2012, mais de 400 enfermeiros contratados além de quadro foram inte-grados no quadro pelos SS, mas o organismo diz que não basta acabar o curso. “Logo que estes enfermei-ros satisfizerem a condição de tempo de serviço exigida para a promoção prevista na sua carreira, podem ter acesso gradualmente à categoria de enfermeiros-

-especialistas, o que corresponde também ao grau de desenvol-vimento das especia-lidades, adicionando adequadamente os

recursos humanos de quadro.” Os serviços

garantem que os 64 for-mandos dos dois primeiros cursos de formação foram “todos” nomeados enfer-meiros-especialistas, mas admite que 76 formandos do terceiro e quarto cursos ainda estão a aguardar pelo concurso público para a promoção. Parte desses, dizem os SS, podem vir a entrar o exame de acesso a enfermeiros-especialistas “quando satisfizer a con-dição para promoção de prestação de três anos de serviço, no ano 2015”.

Saúde (SS). É essa a resposta do organismo à recente carta enviada aos jornalistas e ao próprio Governo, que refere que os formados em enfermagem não conseguem acesso à prática da profissão em Macau, depois do curso tirado.

Na carta é referido que, em 2006, o secretário para os Assuntos Sociais e Cul-tura tinha prometido a for-mação de 150 enfermeiros, tendo sido assinados inclu-sive acordos de cooperação com o Instituto Politécnico de Macau (IPM) e Hong Kong para a organização do curso profissional de enfermagem. Esse curso teria parte das propinas pagas pelo Governo e da-ria acesso ao diploma de pós-graduação. “Contudo, alguns enfermeiros que concluíram o curso ain-da não foram recrutados, mesmo tendo o certificado de reconhecimento dos SS. As pessoas em questão consultaram os SS, que responderam apenas que o processo iria ser concluído em tempo oportuno. Mas não foi dada uma explicação para a ausência do recruta-mento, nem foi prevista uma data para a contratação.” O documento – que terá sido

escrito por uma enfermeira dos SS – explica que não perceber se o Governo fez um plano errado de forma-ção ou se usou dinheiros públicos para formar pro-fissionais desnecessários. Questinado é ainda se há alguma razão para não ter acontecido o recrutamento, até porque o Governo se queixa da falta de recursos humanos na área da saúde.

Em comunicado lançado pelos SS na madrugada de ontem, o organismo dirigido por Lei Chin Ion explica que os “pós-graduados do curso [de enfermeiro-especialista] não são directa e necessa-riamente providos como enfermeiros-especialistas do quadro dos SS”. O or-ganismo não deixa de dizer que têm dispensado muito atenção aos trabalhos de formação de enfermeiros de Macauu e que espera que estes formados consti-tuam os recursos humanos necessários em reserva para o desenvolvimento de futura assistência médica de Macau, mas deixa um escla-recimento. “De acordo com a lei referente ao Regime da Carreira de Enfermagem, existem dois meios para ser enfermeiro-especialista do quadro dos SS: mediante o

Gás natural Sinosky acusa Governo por perdasminimamente os custos operacionais. Com vista a manter o funcionamento básico e cumprir com a res-ponsabilidade e o dever do fornecimento de gás, os ac-

cionistas aumentaram cons-tantemente o capital, duas vezes, para dar suporte”, pode ler-se. “A 17 de Abril a Sinosky Energia entregou formalmente às autoridades o contrato de compra do gás natural de 2014-2021 a longo prazo. (...) No entanto, até agora, o contrato de compra de gás natural a longo pra-zo ainda não foi aprovado pelo Governo, e o trabalho de verificação e revisão do preço do gás têm um longo caminho a percorrer. (...) Até ao dia do relatório, a Energia Sinosky ainda solicitava ao Governo para realizar o mais rapidamente possível o trabalho de aprovação do contrato e a revisão do preço do gás natural”, lê-se ainda no relatório e contas.

acesso ou candidatura no concurso de ingresso.”

CONCURSO EM DOIS ANOSMas, nem tudo podem ser más notícias. Os SS revelam ainda que estão a preparar a abertura de um concurso para recrutar estes profissionais, ainda que este vá demorar. “Actualmen-

te, face ao desenvolvi-

mento futuro do serviço na área de

saúde e à necessidade real das especialidades dos SS, estes serviços estão a preparar os trabalhos para abrir o con-curso público de promoção a enfermeiro especialista destinado ao preenchimento das vagas visíveis por causa de aposentação de pessoal, promoção ou da saída dos ser-

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VENCEDORES

hoje macau quinta-feira 10.4.2014 7 sociedade

JOANA [email protected]

A Direcção dos Serviços de Regulação das Tele-comunicações (DSRT), em declarações ao HM,

afirmou ter estado atenta à extinção do Windows XP, mas descarta responsabilidades sobre o uso dos sistemas pelas empresas locais. “Cabe às próprias empresas em Macau avaliar os riscos de conti-nuar a usar o Windows XP nas suas operações diárias. Há que ter em conta que iss inclui muitos factores, como orçamentos, conectividade à rede e padrões de trabalho.”

De acordo com a empresa – citada pela imprensa norte--americana -, estima-se que ¼ dos utilizadores de Windows ainda utilizem o sistema XP, mesmo depois dos avisos de que este dia iria chegar. Para a DSRT, contudo, a notícia não é surpresa. “Essa notícia de que a Microsoft não vai mais fazer updates de segurança ou prestar apoio aos clientes do Windows XP foi já anunciada há anos. Foi algo que preocupou a comunida-de das informações tecnológicas

Moradores de Sin Fong vão deitar-se em caixões

ELES prometeram e vão cumprir. O porta-voz dos moradores do Sin Fong Garden, Chao Ka Cheong,

garantiu ao HM que, neste sábado, os moradores vão levar a cabo mais acções de manifestação junto ao pré-dio na Rua do Patane. Os moradores prometem limpar a porta do edifício, como forma de se prepararem para se deitar na rua... dentro de caixões. Escrito, as urnas vão ter “não há calendário para regressar a casa”, “o Governo é incapaz” e “a justiça morreu”.

Os manifestantes prometem ainda levar um altar onde vão queimar incensos e velas como forma de homenagear a justiça de Macau. A actividade vai ser às três à tarde e o porta-voz está a convidar os moradores e os seus familiares a participar, a fim de ajudar os moradores a regressar a casa o mais cedo possível. Entretanto, e ontem, o Governo anunciou que vai tornar público hoje o relatório final do Sin Fong Garden, dia em que se vai encontrar com os moradores do prédio. - C.L.

LEONOR SÁ [email protected]

F ORAM 16 os hotéis de Macau que venceram o Prémio Hotel Verde

Macau 2013, distribuídos pelas categorias de ouro e bronze, havendo mais sete vencedores do que em 2012. Hotéis como o Sheraton, a Pousada de Mong-Há e o Conrad venceram a medalha de ouro, enquanto estabelecimentos hoteleiros como o Mandarin, o Grand Lapa ou Hotel Emperor se ficaram pela medalha de prata. Aos hotéis Banyan Tree, Hotel Metrópole ou Hotel Royal foi atribuído o prémio de bronze.

Esta iniciativa que tem vindo a ser organizada pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental

CASO WINDOWS XP DSRT ACONSELHA EMPRESAS A TER ATENÇÃO À EXTINÇÃO

Janelas cada vez mais discretasAcabou. O Windows XP deixou ontem de ter suporte técnico, 12 anos depois da Microsoft ter criado o sistema. A empresa não vai ajudar os clientes que ainda utilizam este software, se eventuais erros ocorrerem e deixa mesmo o alerta de que “os computadores que ainda funcionarem com este sistema não podem ser considerados como estando verdadeiramente protegidos”

PRÉMIO HOTEL VERDE MACAU FOI ATRIBUÍDO A 16 HOTÉIS

Há e são verdes CATEGORIA DE OURO:

• Hotel Sheraton Macau, Cotai Central

• Holiday Inn Macau, Cotai Central

• Pousada de Mong-Há

• Conrad Macau, Cotai Central

CATEGORIA DE PRATA:

• Mandarin Oriental Macau

• Hotel Guia

• Hotel Grand Lapa

• Hotel Animação Imperial

• Emperor Hotel

• The Westin Resort Macau

CATEGORIA DE BRONZE:

• Hotel Metrópole

• Hotel Royal

• Banyan Tree Macau

• Hotel Sofitel at Ponte 16

• Hotel Holiday Inn

• Hotel Lan Kwai Fong, Macau

e, por isso mesmo, a DSRT está ciente desse problema.”

Seja como for, não é este departamento o responsável pela alteração a eventuais sistemas noutros organismos do Governo. O HM quis saber, por exemplo, se ainda há departamentos da Admi-nistração que utilizam o Windows XP, mas não foi possível perceber, uma vez que a DSRT não é a res-ponsável por isto.

“De acordo com o regulamento da Organização e Funcionamento da Direcção dos Serviços de Ad-

ministração e Função Pública, os Serviços para a Administração e Função Pública é que estão envolvidos na coordenação dos sistemas e infra-estruturas IT uti-lizados dentro dos departamentos do Governo”, foi a resposta oficial.

O HM tentou contactar os SAFP, mas não foi possível dado o adiantado da hora. Para já, as soluções passam por actualizar o sistema Windows XP, por exem-plo para o Windows 7, algo que o HM sabe que a Universidade de Macau já fez.

(DSPA) desde 2007, e premeia os espaços que apresentem melhores con-dições relativas à protecção ambiental, tais como a conservação de energia eléctrica e de água ou a redução de resíduos.

No total, foram 20 os hotéis que se candidataram ao galardão. Embora nem todos tenham sido premia-dos, a grande maioria já está a adoptar medidas em prol do ambiente, funcionando a um nível mais ecológico.

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8 hoje macau quinta-feira 10.4.2014CHINANão se pode dizer que andem aos beijinhos. Mas, no mundo global, Rússia e China defrontam, por vezes, os mesmos adversários

O ministro dos Negó-cios Estrangeiros da Rússia, Serguei La-vrov, vai realizar uma

visita oficial à China na próxima terça-feira para, previsivelmente, tentar o apoio de Pequim sobre a situação na Ucrânia.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Hong Lei, confirmou ontem que Lavrov vai reunir-se com o homó-logo chinês, Wang Yi, no dia 15, em Pequim.

Segundo a EFE, que refere fontes russas, os responsáveis pelas duas diplomacias já falaram por telefone várias vezes sobre a situação na Ucrânia e “existe uma

ANTÓNIO CAEIRO*

I SOLADOS ou em grupo, nos trans-portes públicos e na rua, nos bares e restaurantes, muitos chineses

passam boa parte do tempo fixados no ecrã dos seus smartphones, trocando mensagens ou a procurar informa-ções, a ver filmes ou a fazer compras.

“Já estive em muitos sítios e nunca vi nada assim!”, exclamou o roman-cista português João Tordo no final de uma “residência literária” de dois meses em Xangai, no Outono passado. “Parece que é difícil estar com outras pessoas sem ser através do telemóvel”, acrescentou. O comentário do escritor não é ficção.

Em média, os milhões de chineses ligados à internet através de dispo-sitivos móveis passam seis horas e meia por a dia a olhar para o ecrã dos seus smartphones ou do computador portátil e apenas uma hora e meia frente à televisão, indica um estudo britânico divulgado na semana passada na imprensa oficial chinesa.

No primeiro caso, estão uma hora acima da média global e no segundo são dos que vêem menos televisão no mundo, concluiu a empresa Millward Brown, após uma sondagem entre 12.000 utilizadores de smartphones

A Organização Mun-dial de Saúde (OMS) apelou à China para

que use imagens de alerta, explícitos, nos maços de tabaco, para encorajar as pessoas a deixarem de fumar. Segundo um relatório con-junto divulgado esta terça--feira em Pequim pela OMS e pelo Projecto Internacional de Avaliação da Política do Controlo de Tabaco, a frase de “Fumar prejudica a saú-de”, colocada actualmente em maços de tabacos no país, é pouco eficiente.

O inquiridor principal e co-autor do relatório, Ge-offrey Fong, indicou que há mais de 300 milhões de fumadores na China. Para o

autor, a modificação do alerta actual pode ajudar a fomentar a consciência das pessoas sobre os perigos relacionados com o tabagismo.

Hoje em dia, na China ainda existe o costume de oferecer cigarros como presente. O vice-director do Centro de Controlo e Preven-ção de Doenças da China, Liang Xiaofeng, advertiu que consciencializar o público sobre os riscos de fumar, através de imagens, será uma das maneiras mais efectivas e directas para diminuir o consumo.

Estima-se que mais de um milhão de chineses morrem anualmente devido ao con-sumo de cigarros tabaco.

MNE RUSSO EM PEQUIM PARA DISCUTIR UCRÂNIA

A grande convergência

O MNE chinês reiterou que no caso da Crimeia existe uma “complexidade histórica e factores práticos” que devem ser tomados em consideração

INTERNET POPULAÇÃO ONLINE CADA VEZ MAIS MÓVEL E MAIS FIXADA NOS SEUS SMARTPHONES

Ligados ao ecrãOMS PEDE QUE SE USE ALERTAS EXPLÍCITOS NOS MAÇOS DE TABACO

A necessidade de consciencializar

grande convergência” de pontos de vista sobre o referendo e posterior anexação da península da Crimeia por parte da Rússia.

Até ao momento, a Rússia conseguiu que os chamados países BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China, e África do Sul) se afastassem das sanções internacionais contra Mos-covo e que a China, na qualidade de país membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, se abstivesse durante a votação sobre a resolução que apoiava a integridade territorial da Ucrânia.

A China tem mostrado posições ambíguas nas declarações oficiais sobre a crise ucraniana e sobretudo pela questão da anexação da Cri-meia pela Rússia porque afasta-se sempre de soluções secessionistas, devido à existência de movimen-tos independentistas em território chinês, mas, por outro lado, é um aliado tradicional da Rússia.

De acordo com a agência EFE, o Ministério dos Negócios Estran-geiros chinês reiterou o “respeito pela soberania e integridade de todos os países” mas acrescenta que no caso da Crimeia existe uma “complexidade histórica e factores práticos” que devem ser tomados em consideração.

de 26 países. Mesmo quando estão a ver televisão, os chineses dividem a atenção por diferentes ecrãs, refere o estudo. Enquanto esperam por algum programa, provavelmente navegam no Weixin, uma rede social concebida para smartphones pela empresa chinesa Tencent, que em três anos cativou quase 300 milhões de utilizadores.

O Weixin (ou WeChat em inglês) é uma aplicação parecida com o What-sApp, dos EUA, que permite partilhar mensagens de voz, textos, fotografias e vídeos. A Televisão Central da China (CCTV) já tem um telejornal diário em inglês no “Weixin”.

“Um número crescente de pessoas está afastar-se da televisão tradicio-nal e, cada vez mais, prefere ver TV online”, afirmou um especialista da Millward Brown citado pela agência noticiosa oficial Xinhua.

O acesso ao Facebook, Youtube e Twitter está bloqueado no continente chinês (não em Macau ou Hong Kong, Regiões Administrativas Especiais que se regem pelo princípio “um país, dois sistemas”).

Segundo dados oficiais, no final de 2103, cerca de 500 milhões de chineses acediam à Internet através de disposi-tivos móveis, representando 81% da população online do país.

A China é também o maior merca-do mundial de smartphones, um negó-cio liderado pela Samsung, seguida dos chineses Lenovo, Coolpad e Huawei.

A Apple disputa o 5.º lugar com a Xiaomi, marca emergente cujo presiden-te, Lei Jun, é apresentado na imprensa local como “o Steve Jobs da China”.

Em Agosto passado, venderam-se no país 30 milhões de smartphones, número apontado então como novo recorde mensal, mas analistas do sec-tor prevêem que em 2014 as vendas cheguem às 440 milhões de unidades - uma média diária de 1,2 milhões.

No e-commerce, o ‘boom’ é idênti-co. Pelas contas do governo chinês, em 2013, as compras online excederam cer-ca de 12 biliões de patacas, um aumento de 25% em relação ao ano anterior. Há produtos, aliás, que se compram apenas na Internet, como é o caso dos smartpho-nes Xiaomi Mi3, que custam menos de metade do preço dos aparelhos da mesma gama vendidos pela concorrência: cerca de 2.400 patacas.

Um iPhone 5C, o “smartphone barato” da Apple, que também é “Made in China”, custa cerca de 5.300 patacas. - *Lusa

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9 chinahoje macau quinta-feira 10.4.2014

REGIÃO

ANÚNCIOFaz-se saber que em relação ao concurso público n.o 4/P/14 para «Prestação de Serviços de Vigilância

ao Centro Hospitalar Conde de S. Januário», publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 12, II Série, de 19 de Março de 2014, o conteúdo do “Programa de Concurso” anexado ao processo do concurso está inexacto. As respectivas rectificações encontram-se disponíveis para consulta durante o horário de expediente na Divisão de Aprovisionamento e Economato dos Serviços de Saúde, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, 1.o andar, e também estão disponíveis no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo).

O prazo para entrega das propostas no âmbito deste concurso público, foi alterado das 17,45 horas do dia 17 de Abril de 2014 para as 17,45 horas do dia 24 de Abril de 2014.

A data de abertura das propostas foi alterada para o dia 25 de Abril de 2014, pelas 10,00 horas, na sala de «Reuniões» do Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, sita na Rua Nova à Guia, n.o 335, 3.o andar.

Serviços de Saúde, aos 9 de Abril de 2014.

O Director dos ServiçosLei Chin Ion

O governador de Hiroshima, Hi-dehiko Yuzaki, disse ter pedido à embaixadora dos EUA no Japão,

Caroline Kennedy, para visitar a cidade, com o Presidente norte-americano, Barack Obama, aquando da sua visita ao Japão no final do mês.

Depois de se reunir com Caroline Kennedy em Tóquio, o governador de Hiroshima afirmou à imprensa local que a diplomata norte-americana prometeu tentar tornar essa visita possível.

“Disse que gostaria de vir à cidade e que transmitiria o pedido ao Presidente Obama”, explicou Yuzaki, em declarações citadas pela agência Kyodo.

As autoridades de Hiroshima consi-deram que a visita que o Presidente dos Estados Unidos fará ao Japão, entre os dias 24 e 25 deste mês, figura como uma exce-lente oportunidade para visitar a cidade.

O próprio Presidente dos Estados Unidos

disse, em Novembro de 2009, aquando da sua anterior visita oficial ao Japão, que gostaria de visitar Hiroshima e Nagasaki, as duas cidades destruídas por bombas atómicas nor-te-americanas no final da II Guerra Mundial.

Já a embaixadora norte-americana no Japão visitou Naga-saki em Dezembro, apenas um mês depois de ter tomado posse no cargo.

Kennedy foi a segunda represen-tante do Governo dos Estados Unidos a deslocar-se à cidade, depois de o seu antecessor, John Roos, ter feito história, em 2010, ao participar, pela primeira vez, em cerimónias de homenagem às vítimas em Nagasaki e também em Hiroshima.

Kim Jong-Un foi ontem “reeleito” líder da Coreia do Norte, informou a imprensa estatal, no dia em que o novo Parlamento reuniu pela primeira vez. Kim foi confirmado primeiro presidente da Comissão de Defesa Nacional pelo parlamento, numa demonstração de “absoluto apoio e confiança de todos os funcionários e do povo”, informou a agência oficial de notícias norte-

coreana (KCNA). Após a reeleição de Kim Jong-Un, todos os deputados e participantes na sessão aplaudiram e saudaram o líder, acrescentou a KCNA. A Assembleia Nacional Suprema, órgão máximo legislativo do país, tem como função referendar as decisões tomadas pela cúpula do Partido dos Trabalhadores, encabeçada por Kim Jong-un.

Ministério do Comércio aprova negócio entre Nokia e Microsoft

O Ministério do Comércio da China anunciou esta terça-

-feira a aprovação da aquisição por parte da Microsoft, da divisão de instrumentos e serviços da Nokia. No entanto, o país impôs algumas condições anti-monopólio sobre o negócio. Nokia e Microsoft selaram em Março as suas nego-ciações finais. O Ministério do Comércio da China considerou que os documentos podem reduzir as ameaças potenciais à competição no mercado do país,

acrescentando que tomou a decisão depois de analisar as “re-lações verticais” entre os negócios de smartphone e as patentes da Microsoft para os sistemas de operação de terminais inteligentes e terminais inteligentes móveis.

FÓRUM BOAO NOBEL DA ECONOMIA RECUSA TER CASA PRÓPRIA

Na insegurança é que está o ganho

HIROSHIMA ESPERA QUE OBAMA SE DESLOQUE À CIDADE DURANTE A VISITA AO JAPÃO

Muito bem vindo senhor Presidente

A OS 80 anos de idade, o Nobel de Econo-mia Edmund Phelps continua a viver num

apartamento alugado, não por falta de dinheiro ou de crédito, mas por acreditar que “o culto da propriedade de uma casa” prejudica a inovação.

“Queremos pessoas prontas a partir no dia seguinte para ingres-sar numa indústria ou encontrar algures um novo emprego”,

pode ser indesejável para dar forma a uma sociedade altamente inovadora”.

Edmund Phelps, nascido em 1933, é professor de Economia Política na Universidade de Co-lumbia, onde dirige um “Centro sobre Capitalismo e Sociedade”.

O Prémio Nobel da Economia foi-lhe atribuído em 2006.

De visita à China, para participar no Fórum Boao, Edmund Phelps defende uma sociedade que não privilegie o culto da propriedade. O economista vê na China um grande potencial para a inovação desde que se dê espaço ao individualismo e à experimentação

Ter casa própria “entrava a mobilidade laboral” e, além disso, “o sentir-se seguro pode ser indesejável para dar forma a uma sociedade altamente inovadora”EDMUND PHELPS

disse Edmund Phelps à agência noticiosa oficial chinesa Xinhua, numa entrevista difundida na terça-feira.

Segundo o economista, que está a participar no Forum Boao para a Ásia, o culto da propriedade de uma casa tende a “congelar as pessoas em posições fixas e irreversíveis”, o que “não favorece a inovação”.

Na China, mais do que “um culto”, a propriedade de uma casa é um requisito essencial para um ho-

mem encontrar uma noiva e casar. E como há mais vinte milhões de homens do que mulheres, os pais dão sempre uma preciosa ajuda.

Edmund Phelps encontra-se na China para participar no Forum Boao para a Ásia, que decorre até esta quinta-feira na ilha de Hainan, no sul do país, com chefes de gover-no de oito países (Austrália, China, Coreia do Sul, Kazaquistao, Laos, Namíbia, Paquistão e Timor-Leste).

Na entrevista à Xinhua, Ed-mund Phelps disse que a China “tem grande potencial para se tornar um país inovador”, mas salientou que “a inovação requer também valorizar o individualis-mo, a vitalidade, a curiosidade e a experimentação”.

Em muitas sociedades, in-cluindo a China e Estados Unidos da América, ter casa própria é considerado uma garantia de se-gurança, refere a Xinhua.

Para Phelps, no entanto, isso “entrava a mobilidade laboral” e, além disso, “o sentir-se seguro

Coreia do Norte Kim Jong-Un reeleito com “absoluto apoio”

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10 hoje macau quinta-feira 10.4.2014ÍNDIA

O S números das eleições gerais na Índia, que iniciam nesta segunda e terminam somente

a 12 de Maio, impressionam. 814 milhões de pessoas – 100 milhões a mais do que há cinco anos – poderão votar em 930 mil colégios eleitorais, equipados com 1,4 milhão de urnas electrónicas, que serão levadas até as regiões mais remotas, por trans-portes aéreo, marítimo-fluvial e até mesmo mulas.

No total, 11 milhões de indianos trabalharão no processo eleitoral, que ocorre em um cenário de de-saceleração da economia, desem-prego, escândalos de corrupção e graves problemas sociais.

O principal embate será entre os nacionalistas hindus do Partido do Povo Indiano, representado pelo candidato Narendra Modi, e o partido

AS RELAÇÕES DE ‘AMOR E ÓDIO’ COM PAQUISTÃO E CHINA

Entre escândalos de corrupção e desaceleração económica, 814 milhões de pessoas participam na eleição histórica e escolhem novo primeiro ministro; o multifacetado candidato da oposição, Narendra Modi, desponta como favorito num país necessitado de mudanças

ELEIÇÕES

Neo-liberalismo. Fundamentalismo hindu. O que muda com a vitória da oposição?

do Congresso, da tradicional família Gandhi, representado por Rahul Gandhi. Pesquisas apontam para a vitória do Partido do Povo Indiano, já que grande parte dos jovens está insatisfeita com o desemprego e a corrupção, e busca, portanto, uma mudança depois de uma década com a esquerda no poder.

UM GOVERNADOR REFORMISTA...Narendra Modi, filho de um ven-dedor de chá, já governou o estado de Gujarat três vezes e promete realizar reformas para recuperar a economia – que cresceu ‘apenas’ 5% em 2013 –, criar empregos e combater a corrupção, que explodiu no mandato do governo do Partido do Congresso.

O seu maior rival, Rahul Gandhi, de 43 anos, herdeiro da dinastia que governou o país desde a inde-pendência, não tem nada que pese a seu favor. Muito pelo contrário. Gandhi, que foi escolhido pela sua mãe – dirigente do Partido do Con-gresso – para representar o grupo, tem pouca experiência, e os casos de corrupção do partido do governo,

do qual é vice-presidente desde 2013, e a desaceleração da

economia, minam comple-

tamente uma remota possibilidade de vitória.

Na visão do professor de Rela-ções Internacionais, Oliver Stuenkel, o governo actual parece não ter de-terminação para enfrentar os maiores desafios do país, e a maior parte da Índia não acredita que tenha capaci-dade para gerir e fortalecer a econo-mia. Nesse sentido, Modi mostra-se uma figura mais promissora, que promete implementar medidas que farão a economia crescer.

... NEO-LIBERAL E NEO-FASCISTA?“Ele (Modi) apresenta-se como alguém dinâmico, que entende o sector privado e que entende que os interesses das empresas são um fac-tor essencial para fazer a economia crescer”, diz Stuenkel.

Mas, segundo o professor, a cor-rupção dos últimos quatro anos não é necessariamente um problema do Partido do Congresso, mas também de outros partidos que fazem parte do governo.

A mesma opinião é compartilha-da por Shobhan Saxena, correspon-dente do jornal The Times of India, e parceiro de Glenn Greenwald na produção de uma série de reporta-gens sobre a actuação da agência de espionagem americana NSA na Índia.

Saxena conta que todos os parti-dos da Índia têm problemas de cor-rupção, e que o governo não foi per-meado por tanta ineficiência quanto fazem parecer as recentes acusações. Segundo afirma, o governo actual teve os seus momentos positivos. “O actual governo promoveu programas de bem-estar social que beneficiaram os mais po-bres com leis que garantem o direito à educação, o direito

à comida, entre outros”, conta o jornalista. Segundo ele, esses progra-mas sociais provocaram um imenso desagrado das grandes corporações, que passaram, por esse motivo, a apoiar Narendra Modi.

“Em 2010, os principais bilio-nários indianos reuniram-se num evento em Ahmedabad e declararam que Modi deveria ser o primeiro--ministro. Agora, com o apoio de grandes corporações, ele controla os medias e promove uma onda de neo-liberalismo e neo-fascismo. As pessoas vão votar contra o Congresso porque o partido perdeu a batalha da percepção”, explica Saxena.

COMO RECUPERAR O VERTIGINOSO CRESCIMENTO ECONÓMICO?Saxena lembra que quando a econo-mia global se estava a afundar, de 2008 a 2010, a Índia crescia quase 10% ao ano, mas que, naquele ano, as coisas mudaram de forma drástica.

“Sob a supervisão do Supremo Tribunal do país e da Auditoria--geral da Índia, vieram à tona al-guns escândalos que aconteceram em sectores que alimentavam a economia indiana: telecomunica-ções, carvão, mineração, sector imobiliário e gás. Em todos eles, as grandes corporações fizeram grandes lucros e causaram imensas perdas - de biliões de dólares - para o Estado. Como o Supremo Tribunal

A Índia tem um passado de conflitos de fronteira com a China e de guerras com o Paquistão. Desde que iniciou sua campanha, Narendra Modi tem alertado a China sobre suas políticas expansionistas, sugerindo que os dois países poderão travar novas disputas sobre a fronteira. Por outro lado, China e Índia têm mísseis nucleares e são grandes parceiros comerciais, o que, talvez, possa indicar que ambos não travarão disputas agressivas. “Embora seja possível que haja momentos de tensões, Modi sabe muito bem que para crescer economicamente, a Índia precisa fazer negócios com a China; o governo tem que ser muito estúpido para arriscar esse comércio por causa de disputa de fronteira”, explicam Stuenkel e Saxena.Contudo, o jornalista indiano alerta para uma provável união da Índia com os Estados Unidos, o que poderia contrabalançar o poder da China e provocar “tensões com consequências imprevisíveis”.Se a Índia não será dura com a China, o mesmo não

se pode dizer da relação que o país manterá com o Paquistão, com o qual a Índia travou três guerras, e que tem sido amplamente criticado pelo candidato favorito, Narendra Modi, por causa dos ataques de militantes muçulmanos em território indiano.Shobhan acredita que Modi assumirá uma postura severa em relação ao país. Ele lembra que, em 2011, depois de o Parlamento indiano ser atacado por terroristas, o governo, então liderado pelo partido de Modi (BJP), mobilizou o Exército para lançar um ataque contra o Paquistão, que só não foi realizado porque houve uma intervenção do então presidente americano Bill Clinton. Um ano após chegar ao poder, em 1999, o partido financiou uma guerra da Índia com o Paquistão nas montanhas da Caxemira, que acabou com 500 soldados indianos mortos.“Modi é um fanático religioso que se auto-denomina um nacionalista hindu. Ele ataca o Paquistão abertamente nos seus discursos e se se tornar primeiro-ministro, nós poderemos ver uma postura

mais agressiva contra o Paquistão e mais ataques a muçulmanos na Índia, como aconteceu em 2002, quando o BJP controlava o governo central”, diz Saxena. Segundo o jornalista, o Paquistão tem estado com os olhos voltados para a Índia: “Enquanto os paquistaneses liberais estão apreensivos com relação a uma possível vitória de Modi, porque os fundamentalistas islâmicos querem que ele vença para usá-lo como desculpa para aumentar as suas bases no Paquistão”.Se o Paquistão está com os olhos voltados para a Índia, esta tem focado a sua atenção no Afeganistão. Stuenkel explica que a Índia tem um histórico de sofrer com ameaças terroristas vindas deste país, e teme uma maior presença do Paquistão e especialmente dos talibãs no Afeganistão: “Uma guerra civil no Afeganistão pode desestabilizar a Índia e comprometer toda a estabilidade regional, existe uma grande preocupação indiana que o Paquistão possa novamente virar um país que protege terroristas”.

ordenou que o Gabinete Central de Investigação analisasse todos os escândalos, todas as actividades económicas nesses sectores foram paralisadas e a economia começou a declinar”, conta.

Segundo o jornalista, a forma mais eficiente da Índia retomar o crescimento económico é aumen-tar a capacidade dos sectores que dirigem a economia indiana, como a agricultura, da qual dependem 70% da população.

No ponto de vista de Stuenkel, “o mais importante para a Índia é reduzir os aspectos burocráticos, que impossibilitam a atractividade da Índia como país que recebe in-vestimentos de fora”. O professor acredita que, se o candidato da opo-sição Narendra Modi realmente as-sumir o cargo de primeiro-ministro, tentará facilitar o comércio da Índia com outros países.

“Modi vai, com certeza, partici-par das reuniões de Davos e viajar muito com grandes comitivas de executivos para apresentar a Índia como potência mercantil. Ele vai ver a cimeira do Brics, no dia 15 de Julho em Fortaleza, como uma oportunidade para mostrar a Índia grande, a Índia que não sofre com dificuldades”, prevê o professor da FGV.

Ainda segundo Stuenkel, além de tentar fortalecer laços econó-micos com a União Europeia, os Estados Unidos e a África, Modi vai tentar aproveitar-se do enfra-quecimento das relações da Rússia com a Europa - que não quer mais depender da energia de Moscovo - para fortalecer as relações co-merciais com o país liderado por Vladimir Putin.

O COMBATE À POBREZA E À MISÉRIA“Mais de 800 milhões de indianos vivem com menos de US$ 2 por dia. Mais de 75% das pessoas não têm acesso a casas de banho e sistema sanitário. Mais de 70% não têm acesso á água potável e mais de

“Em 2010, os principais bilionários indianos reuniram--se num evento em Ahmedabad e declararam que Modi deveria ser o primeiro-ministro.”

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11 índiahoje macau quinta-feira 10.4.2014

814milhões de eleitores

930mil colégios eleitorais

1,4milhão de urnas eletrônicas

ELEIÇÕES

Neo-liberalismo. Fundamentalismo hindu. O que muda com a vitória da oposição?

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

NÃO EXISTES • Gonçalo Lobo Pinheiro“Não Existes”, preconiza, não uma forma de olhar a relação amorosa, que cessou, e que se torna necessário tornar o objecto amado em algo próximo do imaginário, mas uma forma de ver, de interpretar a própria vida, superan-do cada instante, cada pormenor porque urge seguir a própria viagem.

ORIENTE DISTANTE • Joaquim Magalhães de CastroViajante habitual, o autor percorre o trilho dos vestígios da cultura e presença portuguesa pelo Oriente. Neste livro, é embaixador itine-rante por Macau, Japão, Mongólia, Camboja, Xinjiang e Vietname onde Portugal permanece teimosamente presente - apesar da perda do protagonismo. Presença essa bem viva, não só nos vocábulos da língua-mãe de inúmeros povos, mas também nas suas tradições, cultos religiosos ou nas recordações dos mais velhos.

60% das crianças estão subnutridas. O equilíbrio de géneros na Índia é um dos piores do mundo”, conta o jornalista Shobhan Saxena.

Os problemas que existem em países de todo o mundo tomam na Índia imensas proporções por conta de sua população, a segunda maior do planeta. Contudo, na opinião de Saxena, ainda que o Congresso esteja há décadas no governo, o partido não pode ser o único culpado pelos baixos índices sociais da Índia. Devem-se também aos governos estaduais, principais responsáveis por planos de bem-estar social, que

ignoraram completamente suas atribuições nessa área.

A centralização do sistema eco-nómico também se revela um grande obstáculo. Na visão de Saxena, os governos do Congresso falharam ao priorizarem, “erradamente, determi-nados sectores”. “Enquanto a Índia estabelecia grandes instituições de educação superior, a educação primária foi ignorada. A Índia criou instituições de pesquisas nuclear e espacial, mas ignorou o sistema de saúde e questões prioritárias.

Assim, o país tem bombas nucleares e satélites, mas não tem

água potável, escolas, casas de banho, empregos e estradas. Hoje, a Índia gasta US$ 100 mil milhões comprando armas de outros países, mas investe apenas 1% de seu PIB em saúde pública. Mas nenhum partido político fala dessas questões na campanha”.

O que parece ser mesmo o maior desafio do novo governo indiano é fazer com que o crescimento econó-mico beneficie também as camadas mais pobres da sociedade. “Ainda hoje, há mais pessoas pobres na Índia do que na África inteira. A Índia é um país extremamente desigual. O milagre económico dos últimos anos continua a beneficiar poucos. Cerca de 400 milhões de pessoas ainda vivem na pobreza”, ressalta o professor de Relações Internacionais Oliver Stuenkel.

FUNDAMENTALISTA HINDUE ANTI-MUÇULMANOA vitória de Modi, que é hindu, preocupa as minorias muçulmanas pela sua frequente hostilidade para com os muçulmanos.

Os distúrbios religiosos, que ocorreram em 2002, no estado que governa, serviram de alerta para a co-munidade, que não vê a candidatura e a vitória de Modi com bons olhos. Pouco após assumir o seu mandato, activistas hindus mataram mais de mil muçulmanos em Gujarat, após 59 peregrinos hindus terem morrido quando o comboio em que viajavam

se ter incendiado. A reponsabili-dade de Modi no massacre nunca foi provada, mas uma secretária do seu governo foi condenada a prisão perpétua pelo envolvimento no atentado.

Diante das acusações de que Modi tenha participado ou feito “vis-ta grossa” no atentado de Gujarat, as minorias religiosas temem que Modi não seja capaz de administrar um país com tantas diferenças culturais e religiosas. Para Saxena, a questão não é se Modi irá falhar, mas quando irá falhar.

“A Índia é um país multireligio-so, multilinguístico, multicultural e multiétnico, com milhares de castas. A Índia conseguiu se manter todos esses anos como uma democracia com todas essas diferenças. No momento em que a democracia está sob ameaça, os problemas de religião, castas e classe vão aflorar e ameaçar a ideia de Índia. A Índia não tem apetite para um líder ditato-rial. Em Gujarat, Modi é conhecido pela sua política e estilo de trabalho ditatorial. Ele não gosta de oposição ou de desafios”.

Stuenkel também aponta para os problemas que Modi provavelmente terá com líderes de países muçulma-nos e europeus, “onde a questão dos direitos humanos é importante”, e dentro do próprio governo formado por partidos com diferentes visões. “(...) ele não poderá implementar políticas muito radicais porque vai depender de partidos da coligação que não defendem os ideais dele”, relata o professor.

De acordo com Saxena, “muitas pessoas já começam a ver a ascensão de Modi como uma falha da ideia de uma Índia moderna, secular e demo-crática”. Agora só resta esperar até o dia 16 de Maio para saber como os indianos terão se posicionado diante de um candidato que promete revo-lucionar a Índia, como diz Saxena, para o bem ou para o mal.

“Muitas pessoas já começam a ver a ascensão de Modi como uma falha da ideia de uma Índia moderna, secular e democrática”

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12 hoje macau quinta-feira 10.4.2014

hARTE

S, L

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IDEI

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AlexAndrA lucAs coelho

Q UERO agradecer em primei-ro lugar à equipa da Tinta da China, minha casa, Bárbara Bulhosa, Inês Hugon, Vera Tavares, Madalena Alfaia, Rute

Dias, Pedro Serpa.Agradeço em seguida ao júri que atri-

buiu este prémio: Manuel Gusmão, Luís Mourão, Clara Rocha, Ana Marques Gas-tão e Isabel Cristina Rodrigues, a quem coube hoje ser porta-voz, com uma apre-sentação cuidada e surpreendente de  E a Noite Roda. Não conheço pessoalmente a maioria dos jurados. Ter-me-ei cruzado um par de vezes com Ana Marques Gas-tão e entrevistei há uns 13 anos Manuel Gusmão. Sendo uma honra a decisão deste júri, a presença nele de um poeta que tan-to admiro, e trago comigo, é uma alegria. Isto, para usar a palavra que mais associo a Manuel Gusmão, num daqueles versos que se tornam língua geral, lugar-comum a todos, contra todas as evidências em con-trário.

Não chega dizer que foi uma surpre-sa a atribuição do prémio. Começou por ser uma grande surpresa a nomeação, que aconteceu pouco depois de outra: para o prémio do PEN. E a Noite Roda não tinha sido dos meus livros mais bem recebidos pela crítica, nem mais vendidos. Passara um ano e meio sobre a publicação, já nem se encontrava nas livrarias. Eu estava ocu-pada com a saída de um novo livro,  Vai Brasil, e a organizar-me para retomar a es-crita de um novo romance, situado no Rio de Janeiro. Se a nomeação para o PEN já me espantara, a do APE pareceu-me quase inverosímil. Para mais,  o naipe de finalis-tas era não menos que excelente: um dos grandes prosadores da língua portuguesa, Mário de Carvalho; dois autores próximos da minha geração que sigo com respeito, Patrícia Portela e Afonso Cruz; e um poe-ta, dramaturgo e novelista que é dos meus mais queridos amigos, Jaime Rocha. Fico muito contente por ele estar aqui hoje. Fos-se eu a decidir, o prémio seria dele, e da sua novela A Rapariga sem Carne. Foi isso que senti ao saber da nomeação.

Semanas depois, estava eu sentada no carro da minha editora, Bárbara Bulho-sa, quando me ligam da APE a anunciar a decisão do júri. Pânico, seguido de alerta: está a brincar comigo, certo?, perguntei ao cavalheiro do outro lado da linha, que se apresentara como José Correia Tavares, presidente do júri sem direito a voto. Ele assegurava que não e dava detalhes, que o júri se reunira três vezes, que a decisão fora por unanimidade, e por aí fora até que eu já não estava a ouvir, porque só pensa-va que aquilo não podia ser a sério. E nos momentos em que acreditava que era, vol-tava o pânico: aquilo não me podia estar

Alexandra Lucas Coelho recebeu nesta segunda-feira o prémio APE pelo romance E a Noite Roda. Este é o texto do discurso que fez, no qual critica o actual poder político

O MEU PAÍS NÃO É DESTE PRESIDENTE, NEM DESTE GOVERNO

a acontecer. Como assim o prémio APE para este romance: um primeiro romance e este romance?

Antes que eu começasse a explicar ao interlocutor que estava enganado, a Bár-bara decidiu intervir, dando-me ordens em surdina: que aceitasse, que agradecesse, muito obrigada. E subimos para um con-sultório, que era ao que íamos, acabando com a paz da recepcionista, porta-dentro, porta-fora, mal começaram os telefonemas.

Recentemente, a Tinta da China fez uma edição de bolso de  E a Noite Roda, de que gosto mais do que a primeira, como objecto. Gosto do tamanho, dos cantos redondos, da capa mole. É maneira, como dizem os brasileiros. Mas nem a folheei, custa-me olhar para o texto. Na Tinta da China, a Inês Hugon e a Madalena Alfaia, que com uma paciência oriental asseguram as revisões, sabem como por mim ficava a cortar provas até à décima, porque mal en-trego o livro já não o posso ver, tudo me parece mal, as bengalas, os tiques, o exces-so.

Sendo a minha primeira experiência de romance, sinto essa distância de hoje em relação ao texto de  E a Noite Roda  mais do que em relação a qualquer outro livro meu, talvez porque nos outros a linguagem esteja mais estabilizada num território com regras.

O que me interessa no romance não é o género, mas a ausência de género. Não é poesia e pode ser poesia, não é reportagem e pode ser reportagem, não é viagem e pode ser viagem, não é teatro, cinema, música, arquitectura, agricultura, cosmogonia, cor-respondência, folhetim, banda desenhada, arquivo, e pode ser tudo isso. Um romance é a liberdade em extensão. Um território de experimentação com um fôlego consi-derável, que ninguém conseguiu ainda cir-cunscrever além disto: prosa, criativa, de extensão longa, escrita para ser lida.

Uso a palavra romance, não uso a pala-vra ficção. Tenho dito e repetido — porque a um jornalista que escreva romances per-gunta-se isso continuamente — que o que distingue o jornalismo e a literatura não é um ser real e a outra ficção, mas sim um ser um campo sujeito a regras estabelecidas e a outra, idealmente, inventar as suas próprias regras.

Por isso, interessa-me pouco o debate sobre o que neste romance ainda é jornalis-mo ou já é romance, ainda é real ou já é fic-

ção, como se houvesse uma espécie de grau de pureza, que é sempre o princípio de um pensamento autoritário. Ninguém ainda se tornou dono do que é, ou não chega a ser, um romance, e é por isso que continua a ser interessante fazer romances, e que cada um faça o seu. Na verdade, neste campo, quanto à criação, não há outro lema em que me reconheça tanto: que cada um faça a sua coisa. Faça o que tem a fazer, contra tudo, contra todos: crime e castigo, doença e cura, transmigração da alma ou biografia derradeira.

O que me levou a fazer este romance? O que o distinguia dos livros anteriores? A possibilidade de um território sem regras para o qual eu transportasse vários mate-riais biográficos: amorosos, políticos, so-ciais, profissionais. O texto agora entregue a si mesmo, inventando as suas regras, é que estabeleceria a transição para o roman-ce. Um não-género fazendo uso de vários géneros, incluindo a reportagem.

Jerusalém era uma coisa minha, Gaza era uma coisa minha, a experiência de cobrir o conflito israelo-palestiniano era uma coisa minha, eu queria transportá-los para o campo literário porque me interessa transportar para o campo literário tudo o que a experiência tenha tornado coisa mi-nha. Dito de outra forma, aquilo que é a identidade em movimento.

Não é diferente do que fará um médico que escreva romances (ou um arquitecto, um historiador de arte, um diplomata, um advogado, um professor, um burocrata), sempre com menos explicações do que as que são cobradas a um jornalista.  Nunca começarei a entender porque se estranha que alguém cujo trabalho é escrever decida escrever outras coisas.

E a Noite Roda não é sequer o melhor romance que eu podia ter escrito entre 2010 e 2011, os meus últimos meses em Portugal e o meu primeiro ano no Brasil. Não foi, certamente, o que muita gente achava que eu devia ter feito. É apenas o que eu precisava de fazer naquele mo-mento para sair do ponto em que estava. O importante não será fazer o melhor que sabemos, mas o que precisamos de fazer, mesmo não sabendo, para sair do nosso limite. Aquilo que nos desloca se estamos fixos, que nos fixa se estamos deslocados.

Recentemente, numa entrevista, per-guntaram-me quem gostaria eu que escre-

vesse a minha biografia. É uma daquelas perguntas a que só podemos responder desabridamente. Respondi que esperava que as personagens tratassem do assunto e não sobrasse nada. Penso nisso como uma espécie de teia de Penélope em que o au-tor se vai construindo nos livros, ao mesmo tempo que desaparece na vida.

Tudo o que faço é biografia, idealmen-te cada vez mais real, independentemente de as personagens tomarem as minhas cir-cunstâncias, como acontece em  E a Noi-te Roda, ou não tomarem de todo, como acontece no romance que estou a escrever. Ninguém pergunta a um poeta se o que está no poema é real ou ficção. Aquilo é o que é, é dentro da cabeça dele.

O que cada um vive é seu património inalienável, seu único real património, e é seu direito fazer disso o que quiser, na in-tersecção com os outros e o mundo, tendo como único limite, para mim, não devassar o património de um outro, de forma reco-nhecível publicamente.

De resto, o criador não deve conhecer limites e quanto mais escuro, mais difícil e mais indevassado melhor. Aquilo que não se pode escrever é o que há a escrever, é o que falta. Não estamos cá para nos repetir-mos nem para nos pouparmos. Pouparmo--nos para quê? Não acredito na vida além da vida.

Sempre quis escrever, desde que me lembro. Os livros tinham todas as vidas. Passei a adolescência a ler romances. Lia os portugueses, os franceses, os ingleses, os russos, os alemães, mais tarde os america-nos, os japoneses, os levantinos. O mun-do não acabava, eu lia e queria sair pelo mundo. O jornalismo era a possibilidade disso, uma bela possibilidade quando eu ti-nha 17 anos e as rádios piratas explodiam, ainda nem havia TSF, nem PÚBLICO, nem telemóveis, nem computadores pessoais. A minha geração viveu essa promessa de aventura no trabalho, que hoje parece ar-queológica.

Só fui ler poesia compulsivamente de-pois dos 20. E a poesia, como a rádio, mu-dou, moldou a minha relação com a escrita. Questão de som, de ritmo, mas também de montagem, de elipse. Não que escrever po-emas fosse a minha coisa, tentei, não era. Ler poemas, sim, seria parte do que eu ti-nha para escrever.

Sempre achei que seria uma questão de tempo começar a fazer livros, e acabei por publicar o primeiro aos 39 anos. Como se-ria uma questão de tempo o romance che-gar. Não há abandono de uma coisa por outra, não deixei de ter na cabeça livros de viagem, reportagem ou crónica, entre os vários romances que quero fazer.  É o jardim dos caminhos que se bifurcam, para citar um daqueles autores que sempre ad-

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13 artes, letras e ideiashoje macau quinta-feira 10.4.2014

mirei à distância, porque Borges é de ou-tra galáxia, de um mundo, digamos, não--carnal. Sou mais do lado Moby Dick, até ao trespassar da última carne, a do caçador. Moby Dick agora sem género, ou trans-género. Moby Dick-Orlando, homem e mulher, humano e animal, deus e demónio. Um Moby Dick antropofágico, depois de ter morado no Brasil.

Não me interessa a fuga, interessa-me o confronto, o embate, o arpão no corpo que sempre fugirá. Chamemos-lhe Moby Dick – ou amor – ou real. A vida verdadei-ra que é estar aqui a desejar além. A pulsão da guerra, qualquer espécie de guerra, é a sobrevida: vida conquistada à morte.

Nenhuma arte é panfleto, se é panfleto, não era arte. Ao mesmo tempo, toda a arte é política, no sentido em que não existe sem um outro, que pode ser apenas um. O determinante não é que sejam muitos, mas que exista uma relação. Que algo actue en-tre um e outro.

Este livro é político, como todos os que fiz, como tudo o que faço, pelo sim-ples facto de me pôr em relação com ou-tros. Estar aqui hoje é político, falar em público é político. Onde há um colectivo há política.

O meu feitio seria mais não estar, mas encaro isto como parte de um trabalho que aceitei fazer desde que comecei a publicar, por acreditar que podia, devia, contribuir para os livros chegarem a mais alguém, res-peitando eu tanto quem se recusa a fazer isso como quem o faz, por razões que são de cada um e de mais ninguém.

A minha opção é política, digamos. Uma forma de participação, de agir além da militância partidária. A militância não é a minha coisa, ainda bem que é a coisa de pessoas que admiro, entre as quais conto amigos. A minha coisa é escrever, falar dos livros, conseguir fazer disso uma acção.

Estou a voltar de três anos e meio a mo-rar no Brasil. Um dia, a meio dessa estadia brasileira, pediram-me que gravasse um excerto de um conto de Clarice Lispector para o site do Instituto Moreira Salles. Era um conto em que a protagonista era por-tuguesa, daí o pedido, que a voz coincidis-se com o sotaque. Como detestei aquela portuguesa do conto da Clarice. Tudo na boca dela era inho e ito. Era o Portugal dos Pequenitos com a nostalgia das gran-dezas. Aquele que diz “cá vamos andando com a cabeça entre as orelhas”, mas sofre de ressentimento. O Portugal que durante 40 anos Salazar achou que era seu, pobre mas honesto-limpo-obediente, como agora o Governo no poder quer Portugal, porque acha que Portugal é seu.

Estou a voltar a Portugal 40 anos depois do 25 de Abril, do fim da guerra infame, do ridículo império. Já é mau um governo achar que o país é seu, quanto mais que os países dos outros são seus. Todos os impé-rios são ridículos na medida em que a ilusão de dominar outro é sempre ridícula, antes de se tornar progressivamente criminosa.

Entre as razões por que quis morar no Brasil houve isso: querer experimentar a he-rança do colonialismo português depois de

ter passado tantos anos a cobrir as heranças do colonialismo dos outros, otomanos, in-gleses, franceses, espanhóis ou russos.

E volto para morar no Alentejo, com a alegria de daqui a nada serem os 40 anos da mais bela revolução do meu século XX, e de o Alentejo ter sido uma espécie de terra em transe dessa revolução, impossível como todas.

Este prémio é tradicionalmente entre-gue pelo Presidente da República, cargo agora ocupado por um político, Cavaco Silva, que há 30 anos representa tudo o que associo mais ao salazarismo do que ao 25 de Abril, a começar por essa vil tristeza dos obedientes que dentro de si recalcam um império perdido.

E fogem ao cara-cara, mantêm-se pela calada. Nada estranho, pois, que este Presi-dente se faça representar na entrega de um

prémio literário. Este mundo não é do seu reino. Estamos no mesmo país, mas o meu país não é o seu país. No país que tenho na cabeça não se anda com a cabeça entre as orelhas, “e cá vamos indo, se deus quiser”.

Não sou crente, portanto acho que de-pende de nós mais do que irmos indo, sem-pre acima das nossas possibilidades para o tecto ficar mais alto em vez de mais baixo. Para claustrofobia já nos basta estarmos vi-vos, sermos seres para a morte, que somos, que somos.

Partimos então do zero, sabendo que chegaremos a zero, e pelo meio tudo é ga-nho, porque só a perda é certa.

O meu país não é do orgulhosamente só. Não sei o que seja amar a pátria. Sei que amar Portugal é voltar do mundo e descer ao Alentejo, com o prazer de poder estar ali porque se quer. Amar Portugal é estar

em Portugal porque se quer. Poder estar em Portugal apesar de o Governo nos mandar embora. Contrariar quem nos manda em-bora como se fosse senhor da casa.

Eu gostava de dizer ao actual Presidente da República, aqui representado hoje, que este país não é seu, nem do Governo do seu partido.  É do arquitecto Álvaro Siza, do cientista Sobrinho Simões, do ensaísta Eugénio Lisboa, de todas as vozes que me foram chegando, ao longo destes anos no Brasil, dando conta do pesadelo que o Go-verno de Portugal se tornou: Siza dizendo que há a sensação de viver de novo em di-tadura, Sobrinho Simões dizendo que este Governo rebentou com tudo o que fora construído na investigação, Eugénio Lis-boa, aos 82 anos, falando da “total aneste-sia das antenas sociais ou simplesmente hu-manas, que caracterizam aqueles grandes

políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página”.

Este país é dos bolseiros da FCT que vi-ram tudo interrompido; dos milhões de de-sempregados ou trabalhadores precários; dos novos emigrantes que vi chegarem ao Brasil, a mais bem formada geração de sempre, para darem tudo a outro país; dos muitos leitores que me foram escrevendo nestes três anos e meio de Brasil a pergun-tar que conselhos podia eu dar ao filho, à filha, ao amigo, que pensavam emigrar.

Eu estava no Brasil, para onde ninguém me tinha mandado, quando um membro do seu Governo disse aquela coisa escandalo-sa, pois que os professores emigrassem. Ir para o mundo por nossa vontade é tão es-sencial como não ir para o mundo porque não temos alternativa.

Este país é de todos esses, os que par-

tem porque querem, os que partem porque aqui se sentem a morrer, e levam um país melhor com eles, forte, bonito, inventivo. Conheci-os, estão lá no Rio de Janeiro, a fazerem mais pela imagem de Portugal, mais pela relação Portugal-Brasil do que qualquer discurso oco dos políticos que neste momento nos  governam. Contra o cliché do português, o português do inho e do ito, o Portugal do apoucamento. Estão lá, revirando a história do avesso, contra todo o mal que ela deixou, desde a coloni-zação, da escravatura.

Este país é do Changuito, que em 2008 fundou uma livraria de poesia em Lisboa, e depois a levou para o Rio de Janeiro sem qualquer ajuda pública, e acartou 7000 li-vros, uma tonelada, para um 11.º andar, que era o que dava para pagar de aluguer, e depois os acartou de volta para casa, por tudo ter ficado demasiado caro. Este país é dele, que nunca se sentaria na mesma sala que o actual Presidente da República.

E é de quem faz arte apesar do mer-cado, de quem luta para que haja cinema, de quem não cruzou os braços quando o Governo no poder estava a acabar com o cinema em Portugal. Eu ouvi realizadores e produtores portugueses numa conferência de imprensa no Festival do Rio de Janeiro contarem aos jornalistas presentes como 2012 ia ser o ano sem cinema em Portugal. Eu fui vendo, à distância, autores, escrito-res, artistas sem dinheiro para pagarem dí-vidas à Segurança Social, luz, água, renda de casa. E tanta gente esquecida. E, ainda assim, de cada vez que eu chegava, Lisboa parecia-me pujante, as pessoas juntavam--se, inventavam, aos altos e baixos.

Não devo nada ao Governo português no poder. Mas devo muito aos poetas, aos agricultores, ao Rui Horta, que levou o mundo para Montemor-o-Novo, à Bárba-ra Bulhosa, que fez a editora em que todos nós, seus autores, queremos estar, em cum-plicidade e entrega, num mercado cada vez mais hostil, com margens canibais.

Os actuais governantes podem achar que o trabalho deles não é ouvir isto, mas o trabalho deles não é outro se não ouvir isto. Foi para ouvir isto, o que as pessoas têm a dizer, que foram eleitos, embora não por mim. Cargo público não é prémio, é compromisso.

Portugal talvez não viva 100 anos, tal-vez o planeta não viva 100 anos, tudo cor-re para acabar, sabemos. Mas enquanto isso estamos vivos, não somos sobreviventes.

Este romance também é sobre Gaza. Quando me falam no terrorismo pales-tiniano confundindo tudo, Al-Qaeda e Resistência pela nossa casa, pela terra dos nossos antepassados, pelo direito a estar-mos vivos, eu pergunto o que faria se ti-vesse filhos e vivesse em 40km por seis a dez de largura, e antes de mim os meus antecedentes, e depois mim os meus filhos, sem fim à vista. Partilhei com os meus ami-gos em Gaza bombardeamentos, faltas de água, de luz, de provisões, os pesadelos das meninas à noite. Depois de eu partir a vida deles continuou. E continua enquanto aqui estamos. Mais um dia roubado à morte.

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14 hoje macau quinta-feira 10.4.2014h

HUAI NAN ZI 淮南子 O LIVRO DOS MESTRES DE HUAINAN

Da Paz – 79

O espírito é a fonte do conhecimento, quando o espírito é puro, o conhecimento é claro. O conhecimento é o capital do coração; quando o conhecimento é objectivo e imparcial, o coração está em paz.

* * *

O espírito pode deter-se na ponta de um cabelo, no entanto, é mais vasto do que a totalidade do universo.

* * *

Se quiseres permanecer sempre no vazio, então não poderás ser vazio. Ser vazio sem tentar ser vazio é algo que se pode procurar, mas não se pode alcançar.

* * *

Não se podem pôr os surdos a afinar instrumentos musicais; não se podem por pessoas a formular leis se estas forem igno-rantes a respeito das fontes da ordem e do caos. Do mesmo modo, é essencial ter a claridade de uma percepção indepen-dente antes de se poder caminhar livremente na Via.

* * *

Se apenas olharmos para um ponto na pele de um boi, nunca saberemos se é maior do que uma cabra; só conhecendo todo o corpo saberemos quão diferentes são.

* * *

Os recalcitrantes podem parecer conhecedores sem serem conhecedores. Os tolos podem parecer humanos sem serem humanos. Os impetuosos podem parecer corajosos sem serem corajosos.

* * *

Se te concentrares nos aspectos negativos das pessoas e te es-

queceres dos seus pontos fortes, ser-te-á difícil encontrar gen-te de valor no mundo inteiro.

Da Paz – 80

As coisas dependem umas das outras em termos de comple-tude. Quando duas pessoas se estão ambas a afogar, não se podem entre ajudar; mas quando uma está em terra firme, é possível fazer algo. É por isso que aqueles que são idênticos não podem governar-se uns aos outros; tal só pode ocorrer quando há diferenças.

* * *

Ostentação e engano nascem do orgulho. Quem for verdadei-ro interiormente é feliz e tranquilo, fazendo o que tem de ser feito tão naturalmente como uma ave que canta ou um urso que se espreguiça. De que orgulhar-se então?

* * *

Os sábios dos tempos mais recentes não conhecem a unidade da Via ou a soma da virtude: apanham vestígios de eventos que já ocorreram e sentam-se juntos a discuti-los. Assim, ainda que sejam educados e eruditos, não terão ainda escapado à confusão.

* * *

Uma via de que se possa falar não é uma via eterna; um nome que possa ser nomeado não é um nome permanente. Aquilo que pode ser escrito ou passado a outros não passa de borras.

* * *Põe de lado o vinho e cala a música e a mente sente-se, de sú-bito, como se tivesse sofrido uma perda; fica perturbada, como se lhe tivessem roubado algo. Porque é que isto se passa? Por-que se usam coisas exteriores para ocupar o interior, em vez de usar o interior de tal modo a que se torne agradável o exterior.

Tradução de Rui CascaisIlustração de Rui Rasquinho

Huai Nan Zi (淮南子), O Livro dos Mestres de Huainan foi composto por um conjunto de sábios taoistas na corte de Huainan (actual Província de Anhui), no século II a.C., no decorrer da Dinastia Han do Oeste (206 a.C. a 9 d.C.). Conhecidos como “Os Oito Imortais”, estes sábios destilaram e refinaram o corpo de ensinamentos taoistas já existente (ou seja, o Tao Te Qing e o Chuang Tzu) num só volume, sob o patrocínio e coordenação do lendário Príncipe Liu An de Huainan. A versão portuguesa que aqui se apresenta segue uma selecção de extractos fundamentais, efectuada a partir do texto canónico completo pelo Professor Thomas Cleary e por si traduzida em Taoist Classics, Volume I, Shambhala: Boston, 2003. Estes extractos encontram-se organizados em quatro grupos: “Da Sociedade e do Estado”; “Da Guerra”; “Da Paz” e “Da Sabedoria”. O texto original chinês pode ser consultado na íntegra em www.ctext.org, na secção intitulada “Miscellaneous Schools”.

Page 15: Hoje Macau 10 ABR 2014 #3068

15 artes, letras e ideiashoje macau quinta-feira 10.4.2014

O espírito pode deter-se na ponta de um cabelo, no entanto, é mais vasto do que a totalidade do universo.

Page 16: Hoje Macau 10 ABR 2014 #3068

16 DESPORTO hoje macau quinta-feira 10.4.2014

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ANÚNCIOANÚNCIOHM-1ª VEZ-10-4-14

EXECUÇÃO SUMÁRIA DE SENTENÇA Proc. nº. CV3-08-0031-CAO-B 3.º Juízo Cível

EXEQUENTE: CHEONG MENG SENG, residente em Macau, na Rua da Tribuna, nº 21, Edifício Yi Nam, r/c “L”. ----------------------------------------------------------------------------------------------------EXECUTADOS: LEONG SEK MENG e HONG LAI CHON, ausentes em parte incerta, e com último domicilio conhecido em Macau, Avenida da República, Fu Keng, nº 40, 2 andar A, ou Alameda Dr. Carlos de Assumpção, nº 18, Centro Comercial Tong Nam Ah, 20º andar E e F. ----------------------

***** FAZ-SE SABER que, no próximo dia 26 de Maio de 2014, pelas 10:00 horas, neste Juízo, nos autos acima identificados, vai ser vendido, por meio de propostas em carta fechada, o seguinte bem: -

IMÓVEL A VENDER: Denominação: Fracção autónoma denominada pela letra “A2” do 2.º andar.--------------------- Fim: Para habitação.----------------------------------------------------------------------------------------- Siuação: em Macau, na Avenida da República nº 40.-------------------------------------------------- Número de matriz: 022938------------------------------------------------------------------------------- Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: 13511, a fls. 83 v do Livro B36.- O valor base da venda do imóvel é de MOP$5.040.000,00, cinco milhões e quarenta mil patacas (correspondentes a 70% do valor da avaliação de MOP$7.200.000,00, em conformidade com o vertido no artº. 785º. Do CPCM).------------------------------------------------------------------------------- São convidados todos os interessados na compra daquele bem a entregar na Secretaria deste Tribunal, as suas propostas, até ao dia 23 de Maio de 2014, antes das 17:30 horas, sendo que, o preço das propostas deve ser superior ao valor acima indicado devendo, o envelope da proposta conter a indicação de “PROPOSTA EM CARTA FECHADA”, bem como o “NÚMERO DO PROCESSO CV3-08-0031-CAO-B”.-------------------------------------------------------------------------- No dia dia 26 de Maio de 2014, pelas 10:00 horas, no Tribunal Judicial de Base da RAEM, proceder-se-á à abertura das propostas de preço superiores ao valor base de venda, a cujo o acto podem os proponentes assistir.------------------------------------------------------------------------------------------------ O depositário é o Senhor Cheong Hong Seng, com domicílio profissional em Macau, na Rua da Pérola Oriental, nº. 203, Edf. “The Residência Macau”, Bloco 3, 35º. andar “B”, durante o prazo dos editais e anúncios, é obrigado a mostrar o bem a quem pretenda examiná-lo, mas pode fixar as horas que, durante o dia, faculta a inspecção.------------------------------------------------------------------------

***** Quaisquer titulares de direito de preferência na alienação do imóvel supra referido, podem, querendo, exercer o seu direito no próprio acto da abertura das propostas, se alguma proposta for aceite.-

Macau, 21/03/2014*****

HM-1ª VEZ-10-4-14

Proc. Ordinário de Execução CV3-13-0044-CEO 3º Juízo Cível

EXEQUENTE: MELCO CROWN JOGOS (MACAU), S.A., com sede em Macau, na Avenida Dr. Mário Soares, n.º 25, Edifício Montepio, 1.º andar, Comp. 13, Macau.EXECUTADAS: 1.CLUBE DE VIP INTERNACIONAL WAN TONG SOCIEDADE UNIPESSOAL LIMITADA, ausente em parte incerta, e com última sede conhecida em Macau, na Avenida do Governador Jaime Silvério Marques nº 438, Edifício Magnificiente Court, Rés-do-chão A;2. LEONG WAI MAN, casada, ausente em parte incerta, e com última residência conhecida em Macau, na Rua de Malaca, Centro Internacional de Macau, Bloco 10, 8º andar F.

*** FAZ-SE SABER que, pelo Tribunal, Juízo e processo acima referidos, correm éditos de trinta (30) dias, a contar da segunda e última publicação do anúncio, citandos as executadas CLUBE DE VIP INTERNACIONAL WAN TONG SOCIEDADE UNIPESSOAL LIMITADA e LEONG WAI MAN, acima identificadas, para no prazo de vinte (20) dias, decorrido que seja o dos éditos, pagarem ao exequente a quantia de MOP$7.853.637,29 (Sete Milhões, Oitocentas e Cinquenta e Três Mil, Seiscentas e Trinta e Sete Patacas e Vinte e Nove) e legais acréscimos, ou no mesmo prazo, deduzirem oposição por embargos ou nomearem bens à penhora, sob pena de, não o fazendo, ser devolvido ao exequente o direito de nomeação de bens à penhora, seguindo o processo os ulteriores termos até final à sua revelia. Tudo conforme melhor consta do duplicado da petição inicial que neste 3º Juízo Cível se encontra à sua disposição e que poderá ser levantado nesta Secretaria Judicial nas horas normais de expediente. E ainda que é obrigatória a constituição de advogado caso sejam opostos embargos ou tenha lugar a qualquer outro procedimento que siga os termos do processo declarativo. Macau, 24 de Março de 2014.

O piloto português André Couto par-tiu ontem para

Itália para participar na primeira prova do cam-peonato europeu de GT3 (Blancpain endurance GT series) aos comandos de um Audi R8 LMS ultra, da equipa chinesa BRT.

Em declarações à agên-cia Lusa, André Couto manifestou-se «satisfeito» por esta nova etapa na sua carreira, depois de 10 anos na Toyota, a correr no campeonato de Super GT no Japão.

«Depois do segundo lugar aos comandos de um Audi R8 no troféu daquela marca no Grande Prémio de Macau, que em 2013 as-sinalou o 60.º aniversário, esta é uma oportunidade que não podia desperdiçar e, por isso, decidi rumar

ANDRÉ COUTO RUMA À EUROPA

Nova etapacom as coresde MacauSÉRGIO FONSECA

[email protected]

N A passada sexta--feira, a Associação Geral Automóvel de Macau-China

(AAMC) e o campeonato GT Asia Series confirmaram o prolongamento por mais um ano da parceria que permite a existência de um campeonato de Macau de viaturas de Gran-de Turismo: a AAMC Taça GT Macau (ou AAMC Macau GT Cup na designação inglesa).

Em 2014, a AAMC Taça GT Macau, será composta por três eventos em três diferentes países - Japão (circuito de Fuji), Malásia (circuito de Sepang) e China (circuito de Zhuhai ou Xangai, por confirmar) - e voltará a juntar carros dos mais prestigiados construtores automóveis, como Ferrari, Lamborghini, Porsche, Aston Martin, entre outros.

AUTOMOBILISMO CAMPEONATO DE GT DE MACAU PARA FICAR

Guia de marcha

O acordo entre ambas as partes foi assinado recente-mente na RAEM. “Estamos muito satisfeitos com a con-tinuação da cooperação entre a AAMC e o campeonato GT Asia Series. Nós temos uma associação longa e cheia de sucessos e estamos muito satisfeitos pelo facto do nos-so campeonato e a AAMC Taça GT Macau estar em

progressivo crescimento”, disse Paul Yao, o presidente do Supercar Club de Hong Kong, co-organizador do campeonato GT Asia Series, em parceria com a empresa malaia Motorsport Asia.

O título de campeão da AAMC Taça GT Macau será atribuído na cerimónia de entrega de prémios do 61º Grande Prémio de Macau,

prova que é pontuável para o campeonato GT Asia Series, mas não para a competição do território.

As últimas duas edições da AAMC Taça GT Macau foram vencidas pelo jovem chinês de Cantão, Li Zhi Cong, cujo dominador Pors-che 911 GT3 R foi preparado pela Asia Racing Team, equipa com sede na Avenida Rodrigo Rodrigues.

Apesar de estar sob a tutela da associação nacional de desportos motorizados do território, a AAMC Taça GT Macau nunca foi capaz de cativar a presença de pilotos da RAEM, tendo Keith Vong, que reside na Austrália, sido o único piloto até hoje a participar, em ocasiões esporádicas, neste campeonato com a bandeira da nossa região especial.

Tal como em anos an-teriores, os pilotos interna-cionais que participarem nas três rondas da AAMC Taça GT Macau serão premiados com convites para no final do ano participarem na ape-tecível corrida Taça Macau GT do Grande Prémio de Macau.

ao campeonato europeu», declarou.

André Couto vai esta temporada dividir esfor-ços nas cinco provas do europeu de GT3 «onde estão inscritos 44 carros», que vão correr em pistas da Bélgica, Itália, Inglaterra, França e Alemanha.

O piloto português, que corre com as cores de Macau, vai ainda disputar as seis provas do troféu asiático da Audi em pistas na Coreia do Sul, Japão, Malásia e China.

Na China, André Couto irá correr duas vezes em Xangai e par-ticipará na estreia na prova citadina de Can-tão, capital da província de Guangdong, que faz fronteira com Macau e Hong Kong.

Além disso, André Couto estará ainda aos comandos de um Pors-che em cinco provas do campeonato japonês de Super GT.

«Os testes que fiz em Zhuhai (cidade conti-nental chinesa fronteira a Macau) correram bem e consegui fazer os me-lhores tempos, mas para uma prova as condições e a realidade serão bem diferentes e por isso vamos trabalhar, vamos lutar e vamos dar tudo por tudo para conseguir sempre os melhores resultados possíveis», acrescentou o piloto.

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hoje macau quinta-feira 10.4.2014 FUTILIDADES 17

Pu YiPOR MIM FALO

João Corvofonte da inveja

C I N E M ACineteatro

SALA 1CAPTAIN AMERICA:THE WINTER SOLDIER [B]Um filme de: Anthony e Joe RussoCom: Chris Evans, Scarlett Johansson, Samuel L. Jackson14.15, 16.45, 21.45

CAPTAIN AMERICA:THE WINTER SOLDIER [3D] [B]Um filme de: Anthony e Joe RussoCom: Chris Evans, Scarlett Johansson, Samuel L. Jackson19.15

SALA 2 WHERE ARE YOUGOING, DAD? [A](FALADO EM CANTONÊS LEGENDADOEM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Xie DikuiCom: Jimmy Lin, Guo Tao, Tian Liang14.30, 16.30, 19.30

NOAH [C]Um filme de: Darren AronofskyCom: Russell Crowe, Anthony Hopkins, Jennifer Connelly21.30

SALA 3TWELVE NIGHTS [B](FALADO EM MANDARIM LEGENDADOEM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Raye14.30, 16.30, 19.00

KANO [B](FALADO EM JAPONÊS, HOKKIEN E HAKKAE LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Chih-HsiangCom: Masatoshi Nagase, Oosawa Takao, Togo Igawa21.00

CAPTAIN AMERICA: THE WINTER SOLDIER

A morte não anunciadaPasso a vida a ouvir que tenho sete vidas e que posso cair de um 37º andar e ficar impecável, mas eu cá não costumo ir nessas conversas fiadas. Hoje, enquanto conduzia o meu Catmobile, liguei a Rádio Macau. Qual não é o meu espanto quando oiço a notícia de que o homem mais velho do Mundo tem – vejam só – 170 anos de idade. Pus-me a pensar e apercebi-me que Mahashta Mûrasi, de nacionalidade indiana, deve ter uma maravilhosa noção de uma série de acontecimentos modernos desde o século XIX até aos nossos dias. Isto inclui, portanto, todos os tumultos que originaram a Primeira Grande Guerra, o início e o fim da Segunda, as insurgências dos herdeiros Bush ao Médio Oriente, a ascensão de personalidades como Adolf Hitler, Vladimir Lenin ou Mao Tsé-Tung, entre um outro sem número de peripécias.Aparentemente, Mûrasi é o homem mais velho de que existe memória, de acordo com o recorde do Guiness. Todos os documentos de identificação confirmou a idade do ex-sapateiro, mas ainda nenhum profissional de saúde conseguiu corroborar esta informação. Bem, de qualquer maneira é uma notícia fascinante e quase bati com o Catmobile no carro de um persa todo pimpão e antipático. Mûrasi disse à imprensa nacional que acha que a morte se esqueceu dele e que não tem esperança de que algum dia se vá lembrar. Deve ser um pouco triste ser tão velho, não acham? Afinal, a música “I wanna live forever” do filme Fame já não faz assim tanto sentido.

TEMPO MUITO NUBLADO MIN 19 MAX 24 HUM 70-98% • EURO 11.0 BAHT 0 .2 YUAN 1.3

Assumiu a identidade de Chet Faker em homenagem ao artista de jazz, Chet Baker. Este artista, responsável por uma construção sonora e instrumental inovadora e uma voz inconfundível, foi considerado Artista do Ano pelos Australian Independent Record Awards. A música de Faker é inspirada em ritmos de jazz e de

soul, talvez um pouco por culpa dos seus pais, verdadeiros amantes da música das décadas de 60 e 70. Bob Dylan e os Motown são apenas dois dos artistas que fazem parte do repertório de Faker. Actualmente, Faker faz música como poucos conseguem. Ao contrário da nova leva de artistas indie e folk que enchem conhecidos festivais de música, o intérprete alia sons de jazz e electrónica à sua voz rouca e inconfundível, construindo músicas que obrigam ao vício e à paixão. Depois do lançamento do seu álbum de estreia, em 2012 – Thinking in Textures –, o artista vai estrear o seu novo disco, Built On Glass, já no dia 11 deste mês, onde vai ser possível ouvir o conhecido single Talk Is Cheap. - Leonor Sá Machado

U M D I S C O H O J ECHET FAKER

THINKING IN TEXTURES

Se queres ser um fora da lei, tens de ser honesto.(Bob Dylan)

10 de Abril, o Titanic parte de Southampton com destino a Nova Iorque• Corria o dia 10 de Abril de 1912, quando o navio Titanic deixa o porto inglês de Southampton, na partida de uma viagem que tinha como destino a cidade norte-americana de Nova Iorque, com o Capitão Edward J. Smith no coman-do. O gigante dos mares, o inafundável Titanic – o maior navio de passageiros de então –, embateu num iceberg, o que determinou o naufrágio e a morte de 1523 pessoas, de um total de 2240 que seguiam a bordo. Na noite de 14 de Abril de 1912, na viagem inaugural, afunda-se no Oceano Atlântico 2h40 depois da partida, na madrugada do dia 15 de Abril de 1912. A 10 de Abril assinala-se a única viagem de partida do Titanic, sendo que em 2012 completou-se o primeiro centenário do naufrágio (cinco dias depois da partida). Outros factos se assinalam, no dia em que o Titanic viria a partir de Southampton. Mais de mil anos antes, em 847, é eleito o Papa Leão IV e em 1808, Napoleão oferece a coroa espanhola ao seu irmão, José. Já no ano de 1815, neste dia, dá-se a maior erupção vulcânica registada até a actualidade, no Monte Tambora, na indonésia. Mais de 100 mil pessoas morrem, neste desastre natural.

ACONTECEU HOJE

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hoje macau quinta-feira 10.4.201418 publicidade

Request for Proposal - Duty Free Services Subconcession at Macau International Airport

1. Company: Macau International Airport Company Limited (CAM).2. Tendering method: Open tender.3. Tender objective: To select TWO bidders to operate the Duty Free Services

Subconcession at Macau International Airport. 4. Location and size: Approximately 1,122 m2 (Option A) and 1,130m2 (Option B) at

the airside of the departure level of Macau International Airport.5. Validity of the Bidders’ tenders: The validity period of the Bidders’ tenders shall be

180 days counting from the deadline for submission of proposals.6. Minimum qualification:

For details, please refer to Page 11 of the RFP.7. Location and time to request tender documents:

Macau International Airport Company Limited (CAM)4th Floor, CAM Office Building, Avenida Wai Long, Taipa, Macau S.A.R.Monday to Friday (except holidays) 9:00a.m-1:00p.m and 2:30p.m to 5:30p.m until the deadline for submission of Bidders’ tenders, or to download through www.macau-airport.com and www.camacau.com

8. Location and deadline for submission of Bidders’ tenders:Macau International Airport Company Limited (CAM)4th Floor, CAM Office Building, Avenida Wai Long, Taipa, Macau S.A.R.12:00 noon of 3 June 2014.

9. Tender evaluation criteria: Experience and Qualifications 150 pointsCustomer Service 200 pointsFinancial 340 pointsMarketing and Operation Plans 160 pointsDesign and Proposed Capital Investment 150 points-----------------------------------------------------------------------------------Total 1,000 points

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hoje macau quinta-feira 10.4.2014

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Redacção Joana Freitas (Coordenadora); Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; José C. Mendes; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

Fume, pela sua saúde

19OPINIÃO

The sun’s not yellow – it’s chickenBob Dylan, Tombstone Blues

S E está a começar a ler este artigo no momento em que sai de casa, do emprego, do restaurante, da sauna ou de qualquer outro ambiente onde exista ar artificial, purificado e recirculado, pare! Agora inspire, com todas as suas for-ças. Isso mesmo, encha essas duas sanfonas a que chama de

pulmões desse O2 de faz-de-conta. Muito bem. Agora espere. Resista à tentação de expirar, e depois inspirar. Não se iluda com essa conversa do “ar livre” que lhe impingiram. É falso. Aprenda a duvidar de tudo o que lhe ensinaram e dá como garantido. Foi enganado, lamento. Octanas o tanas. Mas nunca é tarde para se ter uma infância feliz; mantenha nos pulmões o ar que adquiriu gratuitamente no ambiente esterelizado e inócuo de onde acabou de sair. Por tudo o que é mais sagrado, pelas alminhas todas que há no céu, não se atreva a respirar. Está a ir muito bem, sim senhor. Olhe como lhe fica a matar o peito inchado, as bochechas insufladas, os olhos a sair das órbitas – devia-lhe tirar uma fotografia, para mais tarde recordar. Mas que ar aflito é esse? É tudo pela sua saúde, caro amigo ou amiga, conforme o caso. Pois, o melhor é não dizer nada. Nem um pio. Isso, vê como é fácil?

Por enquanto o melhor é não arriscar, não respirar o ar. O ar que nos oferecem é sujo, é nocivo, não presta. Basta pum basta! Morra o ar, morra! Pim! Este ar serve para tudo menos para se respirar, que é a única coisa para que ele serve. Sopra leve leve-mente, como quem chama por mim. Será chuva ácida? Será gente doente? Gente não é certamente e a chuva não polui assim. Fui ver. A cinza caía, com o ar insalubre do céu. Ah! Que me deu um enfisema. E uma bronquite crónica, Deus meu! Basta pum basta! O que foi amigo? Quer dizer alguma coisa? Está roxo...qualquer coisa que comeu? Beterraba, se calhar? Porque é que gesticula assim tanto com as mãos? Está com calor? Deixe-se de gemidos, e preserve esse arzinho que trouxe de lá do ambiente fechado de onde saíu, que é melhor que a brisa da montanha. Olhe que é para o seu bem, acredite.

E por falar em montanha, o nosso CE está atento. Sim, de Santa Sancha, do palácio altaneiro rodeado pelas frondosas matas da Penha, zela por nós, aqui, em Ká--Hó e em toda a parte, qual Odin do alto do Valhala olhando pelos seus guerreiros.

Toca todos a fumar, e já, de preferência três maços por dia. Só assim conseguimos adquirir a imunidade necessária para sobreviver com este ar que se respira em Macau

“A poluição é um problema sério” – diz. “Na China também estão preocupados, e qualquer problema da China, é um pro-blema nosso” – diz outra vez. “Mas na China a poluição é causada pelas indústrias pesadas, como a do carvão, por exem-plo...” – atira um espertalhão qualquer lá atrás, com a mania que sabe tudo. “É preciso acabar com a indústria do carvão em Macau!” – ordena o chefe, determinado a deixar-nos finalmente respirar em paz. Seja feita a vossa vontade! Que acabem com essas malditas indústrias poluentes que envenenam o ar em Macau. Basta de

bairro do or ienteLEOCARDO

Exmo Senhor Director do Hoje Macau.

Para os fins devidos, venho solicitar a V. Exa que seja dado conhecimento do lapso havido no meu artigo intitulado “uma estranha interpretação da lei...”, publicado na edição de 4 do corrente mês, devendo ser o Tribunal de Última Instância (TUI), quem julgará as impug-nações dos aposentados, as quais serão movidas contra o acórdão do Tribunal de Segunda Instância (TSI) . Aceite V. Exa os meus sinceros cumprimentos.

Manuel de Senna Fernandes.

ESCLARECIMENTO

carvão! Pim! Ó homem o que está a fazer aí deitado no chão a contorcer-se feito um maluco? Sabe a quantidade de ar nocivo que está a deixar agarrado à roupa? Quer levar isso para casa, é? E que urros de aflição são esses? Componha-se, homem de Deus. Querem ver...

É preciso voltar aos hábitos antigos, rejeitar tudo o que os nossos pais nos ensi-naram, e copiar os nossos avós. Toca todos a fumar, e já, de preferência três maços por dia. Só assim conseguimos adquirir a imunidade necessária para sobreviver com este ar que se respira em Macau. Adaptem--se à nova realidade, ao mundo novo, ao “smog”. Morte aos higienistas, pum! O tabaco adverte que o Governo é prejudicial à saúde. Dorme bem? Faz exercício? Evita o álcool e as gorduras? Sim, sim e sim? Eu também...sou um grande mentiroso. E as vacinas estão em dia? Tétano, difteria, gripe, hepatite, não se irrite? Tudo em dia, é? E tem fumado? Não??? Olhe que com a saúde não se brinca! Vou-lhe passar uma receita, vinte unidades por dia, 8 mg de alcatrão cada, e isto é só para começar. Quando voltar para a próxima consulta que-ro vê-lo a acender cada cigarro com a ponta do último que acabou de fumar. E por falar

nisso, tinha-me esquecido de si. Olhe que essa tez azulada e esses livores cadavéricos não auguram nada de bom. Andou a respirar o ar não foi? Pois é, não me deu ouvidos e agora fica aí a olhar para mim com esse ar funesto, sem pestanejar. Sabe o que é que pode fazer? Fume um cigarrinho, que vai ver que fica como novo. Pim!

Page 20: Hoje Macau 10 ABR 2014 #3068

hoje macau quinta-feira 10.4.2014

EUA 20 esfaqueados em escolaPelo menos 20 pessoas foram hoje esfaqueadas numa escola secundária de Franklin Regional Senior, perto de Pittsburgh, na Pensilvânia, avançou a CNN. Os feridos, quatro dos quais ficarm em estado grave, são adolescentes e adultos entre os 15 e os 60 anos. A maior parte dos ferimentos foi perpetrada nas extremidades. As autoridades adiantaram que foi detido um suspeito, que era um estudante, mas desconhece-se os motivos do ataque.

Só um em cada seis americanos sabeonde fica UcrâniaUma pesquisa conduzida nos Estados Unidos concluiu que apenas um em cada seis americanos sabe encontrar a Ucrânia num mapa. O estudo, realizado pelo instituto Survey Sampling International, ouviu 2.066 americanos entre os dias 28 e 31 de Março para saber que tipo de acção os Estados Unidos devem tomar face à crise política no país da Europa Oriental. Como parte do estudo, os investigadores pediram aos entrevistados que apontassem a Ucrânia no mapa para investigar o seu conhecimento sobre política externa. «Queríamos saber onde os americanos acham que a Ucrânia fica e investigar se este conhecimento (ou a falta dele) está relacionada com as suas visões de política externa», afirmaram os autores da pesquisa, num artigo publicado no The Washington Post. O estudo mostrou que apenas um em cada seis dos entrevistados conseguiu apontar correctamente onde fica a Ucrânia. E concluiu que os que erraram foram os mesmos que defenderam que os Estados Unidos deveriam fazer uma intervenção militar no país.

Reunida obrade Jorge Sousa BragaA Assírio & Alvim publica, a 17 de Abril, a nova edição de «O Poeta Nu», um volume que reúne toda a poesia de Jorge Sousa Braga e inclui já o seu último livro, «O Novíssimo Testamento e Outros Poemas». «“Nestas trezentas e tantas páginas desvenda-se uma visão do mundo que poetiza todas as coisas. […] O poeta, ao jeito dos grandes mestres asiáticos, enumera e combina estorninhos e nuvens, cisnes e macieiras, tentando que a transparência mas também a densidade misteriosa da natureza revelem a sua especial sabedoria. [...] É uma súmula da poesia de Jorge Sousa Braga, que vê sempre o lírio que há em todo o delírio”, Pedro Mexia, Público»

JOANA [email protected]

A Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) garante que é apenas uma empresa contratada pelo Governo para

transferir sinais de televisão e assegura não ter qualquer relação com a nova empresa de canais básicos do Governo ou sequer com os anteneiros. De acordo com o que disse ontem aos jornalsitas Vandy Poon, director-executivo da empresa, à margem de um almoço com os jornalistas, a empresa é “basicamente sub-contratada” para fazer a ligação a 34 pontos de distribuição que enviam, posteriormente, os sinais a casa das pessoas, mas através das companhias de antenas comuns. O Governo vai pagar à empresa sete milhões de patacas pelo serviço, mas será apenas esse o envolvimento da CTM no processo. “A CTM não está a construir uma rede para a CTM, mas a construir um sistema de distribuição para o Governo. O sinal continuará a ser distribuído como sempre, pelos anteneiros.”

UM PACOTE PARA TUDOVandy Poon não descarta que a empresa esteja interessada em criar um serviço integrado de in-ternet, telefone e televisão, mas não para já, uma vez que a prioridade, diz o director-executivo da empresa, é cooperar com o Governo para garantir que os residentes continuem a ver televisão como sempre viram, após 21 de Abril.

De acordo com Gloria Silva, do departamento de Recursos Humanos, a CTM tem, neste momento, mais de mil funcionários e pretende contratar mais

Kwan Tsui Hang fala sobre a inflação com os residentes

ACORDO COM ANTENEIROS NÃO VAI SER ESTENDIDOOs acordo que permite que os anteneiros possam continuar a transmitir sinais televisivos vai expirar e o Governo não tem intenções de o estender. Isso mesmo foi confirmado ao HM pela Direcção dos Serviços de Regulação das Telecomunicações (DSRT), que não responde, contudo, sobre a legalidade da actividade das companhias de antenas comuns. O HM tentou saber isto, uma vez que uma decisão do tribunal deu conta que a transmissão de sinais televisivos por estas empresas era ilegal. Um acordo com a TV Cabo foi feito para que pudessem continuar a operar, mas esse acaba em 21 de Abril. – J.F.

TELEVISÃO EMPRESA SUBCONTRATADA PELO GOVERNO

CTM promete “Macau digital”

A deputada Kwan Tsui Hang participou ontem num pro-

grama do canal chinês da Rádio Macau, intitulado Call in Macau, onde respondeu a questões so-bre assuntos sociais e políticos por parte dos residentes. Um residente levantou o problema da inflação, afirmando que um emprego não ajuda a resolver as pressões do dia-a-dia.

Kwan Tsui Hang disse que o Governo poderia expandir as fontes de importação de alimen-tos, algo que poderia quebrar os muitos monopólios.

“Porque é que os preços dos alimentos são tão elevados? Porque há muitas importações exclusivas de carne de porco ou de legumes. Não percebo porque é assim. O Governo tem de acompanhar isso.” Kwan Tsui Hang prometeu abor-dar o assunto na próxima reunião plenária da Assembleia Legislativa (AL), a decorrer dia 22.

Em relação aos preços no mercado imobiliário, a deputada considera que, indirectamente, acaba por influenciar os preços dos produtos. Kwan Tsui Hang frisou que a média salarial de 15

mil patacas é “estranha”, uma vez que o aumento dos salários no sector do jogo aumenta a média salarial, mas nos outros sectores recebe-se muito menos. Por isso, a deputada considera que nem todos conseguem acompanhar os preços das casas e dos alimentos.

Kwan Tsui Hang defendeu ain-da que vai lutar pelo estabelecimen-to de um sistema de indemnizações para os funcionários das empresas privadas, por forma a garantir que os empregados podem receber compensações quando estiverem no desemprego. - C.L.

mil até ao fim do ano. Nos planos da empresa para este ano está ainda a criação de um novo centro de dados, com mais de 400 balcões. O orçamento do investimento da CTM está cifrado em mais de 400 milhões de patacas e a empresa teve mais 4% de lucros do que no ano passado, num valor que chegou aos mil milhões de patacas.

A melhoria dos serviços prestados à população é outras das promessas deixadas pela empresa, que continua à espera de uma resposta do Governo em relação ao 4G, uma vez que a operadora garante que tem a tecnologia pronta para avançar para uma nova geração. A empresa quer garantir que, até ao final do ano, a fibra óptica chega a todo o território e quer ainda expandir a capacidade do cabo submarino para aumentar a potência da rede e compromete-se a tornar Macau numa cidade digital.

Lucros do BCP em Macau sobem 16%Os lucros da sucursal de Macau do Banco Comercial Português aumentaram no ano passado 15,76% para 204,9 milhões de patacas, disse ontem à agência Lusa o director geral da sucursal, José Pãosinho. De acordo com o mesmo responsável, o aumento dos lucros ficou “essencialmente a dever-se a comissões cobradas pelo banco em negócios da plataforma China/Macau/África e à melhoria significativa da margem financeira”. José Pãosinho explicou que, no final de 2013, os depósitos de clientes no banco em Macau eram de 12.035 milhões de patacas “um valor idêntico ao apurado no final de 2012”. Já o crédito concedido pelo banco “caiu 10% para 9.747 milhões de patacas”. O BCP em Macau opera desde 1993 como sucursal offshore e desde 2010 possui licença plena de operação, tendo apenas um balcão na cidade.

Reclusa tentasuicidar-se com champô Uma reclusa chinesa tentou suicidar-se por ingestão de champô na prisão de Macau, pouco tempo depois de ter dado entrada na instituição prisional. A mulher, de 24 anos, chamou a atenção dos guardas quando foi vista a tossir. Mais tarde, a sua colega de cela informou as autoridades de que a tampa do champô estava aberta, suspeitando-se de tentativa de suicídio por ingestão deste produto nocivo. A cidadã chinesa, acusada de furto qualificado, extorsão e abuso de confiança, foi então encaminhada para a ala de cuidados de saúde. Depois do tratamento, a reclusa encontrava-se consciente, tendo voltado para a sua cela, contudo, foi submetida a avaliação psiquiátrica e vai continuar sob supervisão. O caso vai ser investigado pelas autoridades, como forma de averiguar a causa da tentativa de suicídio.

China e Timor-Leste assinam acordosChina e Timor-Leste assinaram ontem acordos de cooperação no domínio da economia, tecnologia e turismo, fortalecendo as relações bilaterais, anunciou a Xinhua. Os acordos foram assinados pelos primeiros-ministros Li Keqiang e Xanana Gusmão. “Sendo ambos países em vias de desenvolvimento, China e Timor-Leste estão confrontados com a tarefa de desenvolver as suas economias, melhorar o nível de vida da população e combater a pobreza”, disse Li Keqiang, citado pela Xinhua. No encontro com o homólogo timorense, o primeiro-ministro chinês afirmou também que “a China sempre defendeu que os países, grandes ou pequenos, fortes ou fracos, ricos ou pobres, devem promover a cooperação e procurar o desenvolvimento na base do respeito mútuo e da igualdade”.