sociolinguistica alkimin

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SOCIOL/NGUISTICA PARTE l Tânia Maria Alkmim « INICIAIS igem e sociedade estão ligadas entre si de modo inquestionável. Mais ; BHKX podemos afirmar que essa relação é a base da constituição do ser história da humanidade é a história de seres organizados em socie- ?s de um sistema de comunicação oral, ou seja, de uma língua. . a relação entre linguagem e sociedade não é posta em dúvida por : •_ ;everia estar ausente, portanto, das reflexões sobre o fenómeno Por que se fala, então, em Sociolinguística? Ou melhor, por que área. dentro da Linguística, para tratar, especificamente, das rela- insuagem e sociedade — a Sociolinguística? A linguagem não seria, e. um fenómeno de natureza social? As respostas a questões como rmo ião tão óbvias. Para respondê-las, é preciso considerar razões de natu- . mais precisamente, o contexto social mais amplo em que se situam : se dedicam a pensar o fenómeno linguístico. Assim, inicialmente, é i levar em conta que os estudiosos do fenómeno linguístico, como íác seo tempo, assumiram posturas teóricas em consonância com o fazer

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Tânia Alkmim

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Page 1: Sociolinguistica alkimin

SOCIOL/NGUISTICA

PARTE l

Tânia Maria Alkmim

« INICIAIS

igem e sociedade estão ligadas entre si de modo inquestionável. Mais; BHKX podemos afirmar que essa relação é a base da constituição do ser

história da humanidade é a história de seres organizados em socie-?s de um sistema de comunicação oral, ou seja, de uma língua.

. a relação entre linguagem e sociedade não é posta em dúvida por: • _ ;everia estar ausente, portanto, das reflexões sobre o fenómeno

Por que se fala, então, em Sociolinguística? Ou melhor, por que• área. dentro da Linguística, para tratar, especificamente, das rela-

insuagem e sociedade — a Sociolinguística? A linguagem não seria,e. um fenómeno de natureza social? As respostas a questões como

rmo ião tão óbvias. Para respondê-las, é preciso considerar razões de natu-. mais precisamente, o contexto social mais amplo em que se situam

: se dedicam a pensar o fenómeno linguístico. Assim, inicialmente, éi levar em conta que os estudiosos do fenómeno linguístico, como

íác seo tempo, assumiram posturas teóricas em consonância com o fazer

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22 INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA

científico da tradição cultural em que estavam inseridos. Nesse sentido, as teo-rias de linguagem, do passado ou atuais, sempre refletem concepções particula-res de fenómeno linguístico e compreensões distintas do papel deste na vidasocial. Mais concretamente, em cada época, as teorias linguísticas definem, aseu modo, a natureza e as características relevantes do fenómeno linguístico. E,evidentemente, a maneira de descrevê-lo e de analisá-lo.

Alguns manuais de história da Linguística nos oferecem um panorama dediversas abordagens no estudo do fenómeno linguístico1. Observemos, a títuloilustrativo, alguns comentários de Câmara Jr., em História da Linguística, arespeito do linguista alemão Augusto Schleicher, cujos trabalhos tiveram forteimpacto no século XIX:

Schleicher não era apenas um linguista mas também um estudioso das ciênciasnaturais dedicando-se à botânica. Este fato dera-lhe uma orientação a favor dasciências da natureza. Ademais, de acordo com a filosofia de Hegel, que dominouo pensamento alemão dessa época, as ciências humanas, incluindo a história, sãoo produto do livre pensamento do homem e não podem ser colocadas sob a influ-ência de leis imutáveis e gerais tais como o fenómeno da natureza.Ora, Schleicher, como todos os linguistas anteriores a ele, tinha a ambição deelevar o estudo da linguagem ao status de uma ciência rigorosa com rigorosas leisde desenvolvimento2.

É assim que Schleicher se propõe a colocar a Linguística no campo dasciências naturais, dissociando-a da tradição filológica, vista por ele como umramo da História, ciência humana. Para o referido linguista alemão, o desenvol-vimento da linguagem era comparável ao de uma planta que nasce, cresce emorre segundo leis físicas. A linguagem é vista como um organismo natural aoqual se aplica, portanto, o conceito de evolução, desenvolvido por Darwin. Aesse respeito Câmara Jr. relata o que se segue:

De acordo com Schleicher, cada língua é o produto da ação de um complexo desubstâncias naturais no cérebro e no aparelho fonador. Estudar uma língua é, por-tanto, uma abordagem indireta a este complexo de matérias. Desta maneira, foiele levado a adiantar que a diversidade das línguas depende da diversidade doscérebros e órgãos fonadores dos homens, de acordo com as suas raças. E associou

1. Ver Câmara Jr., J. M. História da Linguística. Rio de Janeiro, Vozes, 1975; Malmberg, B. llixioircde Ia Linguistique. De Summer a Saussure. Paris, PUF, 1991; Wartburg, W. von & Ulmann, S. Priihlrnmse métodos da Linguística. São Paulo, Difel, 1975. (título original, 1943)

2. Câmara Jr., J. M. Op. cit., p. 50.

• H M i l A ,.<»!<.• l 23

i I M I T I U ;\a de maneira indissolúvel. Advogou que a língua é o critério maisi n.n Io para se proceder à classificação racial da humanidade3.

i ir i ilação biologizante que Schleicher imprimiu à Linguística da sua• ' i i i ' « u , evidentemente, toda consideração de ordem social e cultural no• i- i « tiomeno linguístico.

LU, .10 entre linguagem e sociedade, reconhecida, mas nem sempre as-M. i H i determinante, encontra-se diretamente ligada à questão da deter-

• lo objeto de estudo da Linguística. Isto é, embora admita-se que a' nj'iiagem-sociedade seja evidente por si só, é possível privilegiar uma

» l . i oplica, e esta decisão repercute na visão que se tem do fenómeno11 < l c sua natureza e caracterização. Nesse sentido, a Linguística do\ c vi- um papel decisivo na questão da consideração da relação lin-• «i ii-dade: é esta que se encarrega de excluir toda consideração de na-i . M histórica e cultural na observação, descrição, análise e interpreta-nomeiio linguístico. Referimo-nos, aqui, à constituição da tradição

l i .u. iniciada por Saussure em seu Curso de Linguística geral, em 1916.11 n-1 n define a língua, por oposição à fala, como o objeto central da

.1 Na visão do autor, a língua é o sistema subjacente à atividade da' '" " • "iicTclamente, é o sistema invariante que pode ser abstraído dasi t > i ' i i \s observáveis da fala. Da fala, se ocupará a Estilística, ou,

i i i i | ' l . i i i i r n i i - , a Linguística Externa. A Linguística, propriamente dita, terái i descrever o sistema formal, a língua. Inaugura-se, assim, a chama-

> < i i i imanente da língua, que, em termos saussureanos, significa afas-• ' i |ne lhe seja estranho ao organismo, ao seu sistema"4.

i ..mlemcnte, para Saussure, a língua é um fato social, no sentido dei . i rmã convencional adquirido pelos indivíduos no convívio social.

i i ine i i lc , ele aponta a linguagem com a faculdade natural que permi-l i n I N const i tuir uma língua. Em consequência, a língua se caracteriza"m |>iodulo social da faculdade da linguagem"5.

M M privilegia o caráter formal e estrutural do fenómeno linguístico,nl icca a importância de considerações de natureza etnológica, his-

• i ' 1 ' l n u .1 Sej-undo ele, "o estudo dos fenómenos linguísticos externos éIII l 1 1 M I i i > MI. mas é falso dizer que sem estes não seria possível conhecer o

.. . l i . l- M. Op. dl., p. 51.mi l , l , < Vii .so ,/( Linguística geral. 3. ed. São Paulo, Cultrix, 1981. (título orginal, 1916b)

III l i lr Op. dl., p.17.

Page 3: Sociolinguistica alkimin

24 INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA

organismo linguístico interno"6. Saussure institucionaliza a distinção entre umaLingiiística Interna oposta a uma Linguística Externa. É essa dicotomia quedividirá, de maneira permanente, o campo dos estudos linguísticos contemporâ-neos, em que orientações formais se opõem a orientações contextuais, sendoque estas últimas se encontram fragmentadas sob o rótulo das muitasinterdisciplinas: Sociolingiiística, Etnolingiiística, Psicolingiiística etc.

A tradição de relacionar linguagem e sociedade, ou, mais precisamente,língua, cultura e sociedade, está inscrita fta reflexão de vários autores do séculoXX. Integrados ou não à grande corrente estruturalista, que ocupou o centro dacena teórica, particularmente, a partir dos anos 1930, encontramos linguistascujas obras são referências obrigatórias, quando se trata de pensar a questão dosocial no campo dos estudos linguísticos. Não caberia, aqui, enumerar todosesses estudiosos, mas uma breve referência a alguns nomes, ligados ao contextoeuropeu, impõe-se: Antoine Meillet, Mikhail Bakhtin, Mareei Cohen, ÉmileBenveniste e Roman Jakobson.

Meillet, aluno de Saussure, filia-se à orientação diacrônica dos estudoslinguísticos, mas, para ele, a história das línguas é inseparável da história dacultura e da sociedade: é essa abordagem que podemos ver em sua obra, sobre ahistória do latim, Esquisse d'une histoire de Ia langue latine. A propósito desselinguista francês, cabe destacar sua visão do fenómeno linguístico, bem ilustra-da por um trecho de sua aula inaugural no Colège de France, em 1906:

Ora, a linguagem é, eminentemente, um fato social. Tem-se, frequentemente, re-petido que as línguas não existem fora dos sujeitos que as falam, e, em consequên-cia disto, não há razões para lhes atribuir uma existência autónoma, um ser pá ri icular. Esta é uma constatação óbvia, mas sem força, como a maior parte das próposições evidentes. Pois, se a realidade de uma língua não é algo de substancial,isto não significa que não seja real. Esta realidade é, ao mesmo tempo, linguísticae social7.

Bakhtin (1929), com sua crítica radical à postura saussureana, traz paia ocentro da cena dos estudos linguísticos a noção de comunicação social:

6. Saussure, F. de. Op. cit., p. 31.7. O texto original de MEILLET é o que se segue: "Or, lê langage est éminement un fait social. ( )n M

souvent repete que lês langues n'existent pás en dehors dês sujeis que lês parlem, et que par suite ou n , ipás fondé à leur attribuer une existence autonome, un être propre. Cest une constatation évidenu-, milsans portée, comme Ia plupart dês propositions evidentes. Car si Ia réalité d'une langue n'est pás qm-lqucchose de substantiel, elle n'en existe pás moins. Cette réalité est à Ia fois linguistique et sociiilr I nMeillet, A. Esquisse d'une histoire de Ia langue latine. Paris, Klincksiek, 1977, p. 16. (título < i n p n . i l1928)

25

liidc i rii substância da língua não é constituída por um sistema abstraio de1 1 u r I M .liças, nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato

i n > ! • >)'ico de sua produção, mas pelo fenómeno social da interação verbal.ivcs da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui

n 11 idade fundamental da língua8.

mu perspectiva diferente da de Bakhtin, Jakobson, outro linguistai • i . . 1 1 . i • , 11; i v i são sobre a relação entre linguagem e contexto social, em

i i i < | < . ninunicação tem também um papel central. Para Jakobson, o1 1 homogeneidade do código linguístico, postulado por Saussurei. . i . » I . > pela Linguística, "não passa de uma ficção desconcertante"9,

i n d i v í d u o participa de diferentes comunidades linguísticas e todo, , , (- "multiforme e compreende uma hierarquia de subcódigos

• n . -nu- escolhidos pelo sujeito falante"10, segundo a função damen-l ,» uior ao qual se dirige e da relação existente entre os falantes

i i .nnação comunicativa.

i .1 . . i r . . i i i (1960), o ponto de partida é o processo comunicativo am-n l . -va a ultrapassar a óptica estreita de uma análise do fenómeno

M.la apenas em suas características estruturais. Ao privilegiar omui . alivo, o referido autor privilegia também os aspectos funcio-

, i u (i o que podemos ver com clareza em seu célebre artigo!'<><-tic(i, cm que Jakobson identifica os fatores constitutivos de.mimu-ação verbal: o remetente, a mensagem, o destinatário, o>,,il<• o código. Cada um desses fatores determina uma diferenten.iirm, scguindo-se, então, que "a estrutura verbal de uma men-

i ..i-.u-amente da função predominante"11. Assim é que, por exem-i i . n u ia do fator remetente configura a função emotiva ou expres-

i K - 'a atitude de quem fala em relação àquilo de que está falan-id. IK ia, entre outros procedimentos, pelo uso de interjeições, pela

, i m i,, . u > de vogais (por exemplo, em português, graande).

i M,,, uwm. /• filosofia da linguagem. 5. ed. São Paulo, Hucitec, 1990, p. 123. (título

'.,,,, v.v nitre a ciência da linguagem e as outras ciências. Lisboa, Bertrand, 1973,

!• i Mi i -n i s l i ca c poética. In: Linguística e comunicação. São Paulo, Cultrix, 1970,, i | . ) ( , (Hr / inKiiíxtii .1 •• comunicação. Sêo Paulo, Cultrix. p.124

Page 4: Sociolinguistica alkimin

INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICApari» l 27

Em 1956, o francês Mareei Cohen publicou Pour une sociologie du langage— republicado, em 1971, com o novo título de Matériaux pour une sociologie

du langage — em que advoga a necessidade de um diálogo entre as ciênciashumanas, afirmando que "os fenómenos linguísticos se realizam no contextovariável dos acontecimentos sociais"13. Mas, ao assumir o postulado saussureanode que é preciso separar aspectos internos e aspectos externos no estudo daslínguas, Cohen assume a questão das relações entre linguagem e sociedade apartir da consideração de fatores externos. Nesse sentido, o referido autor esta-belece um repertório de tópicos de interesse para um estudo sociológico dalinguagem, como, por exemplo, o estudo das relações entre as divisões sociais eas variedades de linguagem, que permite abordar temas como: a distinção entrevariedades rurais, urbanas e de classes sociais, os estilos de linguagem (varieda-des formais e informais), as formas de tratamento, a linguagem de grupos segre-gados (jargão de estudantes, de marginais, de profissionais etc.).

Finalmente, alguns rápidos comentários sobre Benveniste, linguista francês, cuja reflexão marcou profundamente a Linguística francesa contemporánea em geral e, particularmente, o campo da Análise do Discurso14. Exporemosaqui apenas alguns comentários que tematizam a questão das relações entrelinguagem e sociedade. Para Benveniste (1963), "é dentro da, e pela língua, queindivíduo e sociedade se determinam mutuamente"15, dado que ambos só g;inham existência pela língua. É que a língua é a manifestação concreta da f açu ldade humana da linguagem, isto é, da faculdade humana de simbolizar. Sendoassim, é pelo exercício da linguagem, pela utilização da língua, que o honu-mconstrói sua relação com a natureza e com os outros homens. Em outros ternu > > . ."a linguagem sempre se realiza dentro de uma língua, de uma estrutura lingiiística definida e particular, inseparável de uma sociedade definida e particular"1

Logo, língua e sociedade não podem ser concebidas uma sem a outra.

Particularmente, em "Estrutura da língua e estrutura da sociedade".Benveniste (1968) discute a questão que nos interessa aqui. Segundo ele, "iideia de procurar entre estas duas entidades relações unívocas que fariam

13. O texto original de Cohen (1956) é o que se segue: "Lês phénomènes linguistiques se ivali/rdans lê cadre changeant dês événements sociaux". In: Cohen, M. Matériaux pour une sociologie du IIIIIKHKParis, Maspero, 1956, v. 2, p. 30.

14. Cf. particularmente o famoso artigo de Benveniste, "O aparelho formal da enuncia i , . i<>Benveniste, E., Problemas de linguística geral II, São Paulo, Cia. Editora Nacional/EDUSP, 19X") ( l l l uoriginal, 1974).

15. Benveniste, E. Problemas de Linguística Geral. São Paulo, Cia. Editora Nacional/EDUSP l ' » /p. 27.

16. Ibidem, p. 31.

i i ' i l a l estrutura social a tal estrutura linguística parece trair uma vi-mi" mi|)lista das coisas"17. Isto porque sociedade e língua são grandezasi' M I i h - . i m i a , ou melhor, têm organizações estruturais diversas. Assim éi m i i i . i se organiza em unidades distintas, que são em número finito,

c hierarquizadas — o que não se observa na organização social.ID o autor, algumas propriedades aproximam língua e sociedade:

• i " i " l i inconscientes, representam a natureza, são sempre herdadas e• i . i l x > l i das pela vontade dos homens. Há, no entanto, uma dimen-' ' l . i língua, que a coloca num plano especial: seu poder coercitivo,

III i i. 1 1 1 1 1 1 agregado de indivíduos em uma comunidade, criando a pos-i • i i 1 1 n < xlncuo e da subsistência coletiva. Para Benveniste, a questão da

n) 11 l íngua e sociedade se resolve pela consideração da língua comoli .malise da sociedade. Ele afirma que a língua contém a socieda-

• > micrpretante da sociedade. Esse papel de interpretante é garan-1 l' < |ur a língua é "o instrumento de comunicação que é e deve ser

i - - ' . <»s membros da sociedade", possibilitando, assim, "a produção" i • • ! < mensagens em variedades ilimitadas"18. Mais exatamente: "a lín-

i i i . i i i u - i i l e o instrumento próprio para descrever, para conceitualizar,i n i.mlo a natureza quanto a experiência"19. Além disso, a línguaI M iciladc ao exibir o semantismo social, que consiste, principal-

1 i l i irn.i^oi-s, de fatos de vocabulário. Particularmente, o vocabulárioi 'mo uma fonte importante para os estudiosos da sociedade e da

n i. I N informações sobre as formas e as fases da organização social,l i i u políticos etc. Essa linha de reflexão é exemplarmente repre-i •! . 1 1 Ir Henveniste (1969/1970) Vocabulário das instituições Indo-

1111 • a l H- ass i nalar uma outra consideração relevante de Benveniste.• I M I | ' I I . I |in milc que o homem se situe na natureza e na sociedade; o

1 1 ' 1 1 1 1 1 1 i-ssai iamente em uma classe, seja uma classe de autoridade• » l i n . . i«>"•'". Em consequência, a língua, sendo uma prática huma-

i i • • i -.u i K-ular que grupos ou classes de homens fazem [dela] (...) ei |iic daí resultam no interior de uma língua comum"21. Vemos,

ll i fii'l>l,'mn.\e Linguística Geral II. São Paulo, Cia. Editora Nacional/EDUSP,mil !')(.«)

11)1

HU

Page 5: Sociolinguistica alkimin

28 INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA

assim, que Benveniste articula a questão da relação língua e sociedade no planogeral da construção do humano e, particularmente, no plano das relações con-cretas e contingentes estabelecidas na vida social.

O esboço feito até aqui pode ser reduzido a uma afirmação muito simples:a questão da relação é óbvia e complexa ao mesmo tempo. Sabemos que é ine-gável, mas também que a passagem do social ao linguístico — e do linguísticoao social — não é feita com tranquilidade. Não há consenso sobre o modo detratar e de explicitar a questão da relação entre linguagem e sociedade: o fato éque o lugar reservado a essa consideração constitui um dos grandes "divisoresde águas" no campo da reflexão da Linguística contemporânea.

2. A SOCiOLINGÚÍSTICA: FIXAÇÃO DE UM CAMPO DE ESTUDOS

O termo Sociolingiiística, relativo a uma área da Linguística, fixou-se em1964. Mais precisamente, surgiu em um congresso, organizado por WilliamBright, na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), do qual partici-param vários estudiosos, que se constituíram, posteriormente, em referênciasclássicas na tradição dos estudos voltados para a questão da relação entre lin-guagem e sociedade: John Gumperz, Einar Haugen, William Labov, Dell Hymcs,John Fisher, José Pedro Rona. Ao organizar e publicar, em 1966, os trabalhosapresentados no referido congresso sob o título Sociolinguistics, Bright escreveo texto introdutório "As dimensões da Sociolingiiística"22, em que define e <. ;iracteriza a nova área de estudo. A proposta de Bright para a Sociolingiiística é ade que ela deve "demonstrar a covariação sistemática das variações linguísíu .1e social. Ou seja, relacionar as variações linguísticas observáveis em uma o>munidade às diferenciações existentes na estrutura social desta mesma socicdade"23. Segundo o referido autor, o objeto de estudo da Sociolingiiística é a < l iversidade linguística. E, como que estabelecendo um roteiro para atividadcs depesquisa a serem desenvolvidas na área da Sociolingiiística, Bright, na mesmaobra, identifica um conjunto de fatores socialmente definidos, com os quais srsupõe que a diversidade linguística esteja relacionada, como:

a) identidade social do emissor ou falante — relevante, por exemplo, nuestudo dos dialetos de classes sociais e das diferenças entre falas f unininas e masculinas;

22. Ver Bright, W. As dimensões da Sociolingiiística. In: Fonseca, M. S. & Neves, M. F.Sociolingiiística. Rio de Janeiro, Eldorado, 1974.

23. Ibidem, p. 34.

'.IN A ,,,,,1,, | 29

i n! - ni idade social do receptor ou ouvinte — relevante, por exemplo, noi H. Io das formas de tratamento, da baby talk (fala utilizada por adul-

i ' n .1 se dirigirem aos bebés);

< • < • mirxlo social — relevante, por exemplo, no estudo das diferenças<• 11 forma e a função dos estilos formal e informal, existentes na

mi l i - maioria das línguas;

n i i i l jMinen to social distinto que os falantes fazem do próprio compor-1 i" linguístico e sobre o dos outros, isto é, as atitudes linguísticas.

• no do nascimento da Sociolingiiística, Bachmann et ai. (1981)ors interessantes. Segundo estes autores, o novo campo é o

n. ontrar os herdeiros de tradições antigas como a da antropologia«•uso de Hymes — ou da dialectologia social — como Labov — e de

• • ! • i i < l . i < xperimentação ou da intervenção social: psicólogos, sociólogos,l > l . n i i l i < adores24.

iiiiores observam, também, que a Sociolinguística se consti-fiito em que o formalismo, representado pela gramática de

i i > M L , .1 enorme repercussão, em rota para o seu percurso vitorioso.l"' . < l i - 1 1 m lado, a preocupação com as relações entre linguagem

• i m i i . i i . i i /x - s históricas no contexto académico norte-americano, e• i •< - ' .K, ;io entre uma abordagem imanente da língua versas a con-

s in social é posta com grande vitalidade no campo dos estu-i > < i ,HO, a constituição da Sociolinguística se fez, claramente,

" l . i i l r de vários estudiosos e pesquisadores que deram continui-' i.mjMirada no começo do século XX por F. Boas (1911) e seus

ih. vidos — Edward Sapir (1921) e Benjamin L. Whorf (1941):i •< >lo£iii Linguística. Nessa vertente, em que linguagem, cultu-

nuMilc-iados fenómenos inseparáveis, linguistas e antropó-i M !"l" •! l.ido c, mesmo, de modo integrado. Nesse sentido, o que

l (IftCInicilo de uma área explicitamente voltada para o tratamentoi i r .h ro no contexto social no interior da Linguística, animada

II di i i n r i i i s t u s e, particularmente, de estudiosos formados em cam-I M I .HS . A Sociolinguística nasce marcada por uma origem

i .1 /ii/i.i:/iiii;c ri Communications sociales. Paris, Hatier, 1974, p.17.< . i | i i i i i l i > <l r "Sinlaxc" neste mesmo volume.

Page 6: Sociolinguistica alkimin

30 INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA

interdisciplinar. É oportuno assinalar que o estabelecimento da Sociolingiiística,em 1964, é precedido pela atuação de vários pesquisadores, que buscavam arti-cular a linguagem com aspectos de ordem social e cultural. Destacaremos, aqui,dois desses pesquisadores. Em 1962, Hymes publica um artigo em que propõeum novo domínio de pesquisa, a Etnografia da Fala, rebatizada mais tarde come»Etnografia da Comunicação26. De caráter interdisciplinar, buscando a contnbuição de áreas como a Etnologia, a Psicologia e a Linguística, o novo domíniopretende descrever e interpretar o comportamento linguístico no contexto eu l tural e, deslocando o enfoque tradicional sobre o código linguístico, procura delinir as funções da linguagem a partir da observação da fala e das regras sociaispróprias a cada comunidade. Questões como Qual o comportamento linguísticaadequado para homens, mulheres e crianças na comunidade X? ou Que m<>mentos são adequados para o exercício da fala na comunidade Y? podem sntomadas como ponto de partida para pesquisas em Etnografia da Comunicara» >Mais tarde, Hymes (1972) publicou um artigo de grande impacto — "Model.s < >lthe interaction of language and social life" — no qual estabelece os princípio:,teóricos e metodológicos da Etnografia da Comunicação.

Em 1963, Labov publica seu célebre trabalho sobre a comunidade da i l l ude Martha's Vineyard, no litoral de Massachusetts, em que sublinha o papeldecisivo dos fatores sociais na explicação da variação linguística, isto é, d.idiversidade linguística observada. Nesse texto, o autor relaciona fatores comoidade, sexo, ocupação, origem étnica e atitude ao comportamento linguísticomanifesto dos vineyardenses, mais concretamente, à pronúncia de determm.idos fones do inglês. Logo em 1964, Labov finaliza sua pesquisa sobn .1estratificação social do inglês em New York, em que fixa um modelo de dest 1 1cão e interpretação do fenómeno linguístico no contexto social de comunicladt .urbanas — conhecido como Sociolingiiística Variacionista ou Teoria da V;n 1.1cão, de grande impacto na Linguística contemporânea27. A segunda parte di •capítulo tratará especificamente dessa vertente da Sociolingiiística.

Assim, o rótulo "Sociolingiiística", como foi possível observar, reuniu .agregou, no seu início, pesquisadores marcados pela formação académica enidiferentes campos do saber e marcados também pela preocupação com as implicações teóricas e práticas do fenómeno linguístico na sociedade norte-amei K i

31

26. Hymes, D. The ethnography of speaking. In: Gladwin, T. & Stutervant, W.C. (orgs.) AnthrojioliMand human behavior. Washington, D.C., The Anthropological Society of Washington, 1964. (límlo oilglnal, 1962)

27. Labov, W. The stratificatlon ofEnglish in New York city. Washington, D.C., Centci loi A i r i i . .1Linguistics, 1966.

' ' ' ivsiin, pesquisas voltadas para as minorias linguísticas (imigrantesn* n l i . • poloneses, italianos etc.)28, e para aquestão do insucesso esco-."• IN 01 nindas de grupos sociais desfavorecidos (negros e imigrantes,

"u. i M e ) , lim suma, a realidade diversificada, tanto linguística como• i" l -.lados Unidos, torna-se um ponto de reflexão básico para um

• m l icativo de estudiosos. A propósito, vale lembrar que, também, houve mu congresso em Bloomington, Indiana, em que linguistas e

. " i . i i s debateram questões relativas às relações interdisciplinares, ao' • i i i i ' > (ologia social, à escolarização de crianças provenientes de meio

• l i < n igem estrangeira. Três obras referenciais foram organizadasi ' i l m l h o N apresentados nesse congresso: Ferguson (1965) Directions

in v rcport on a interdisciplinary seminar, Lieberson (1966) (ed.)in Sociolinguistics, e Schuy (1964) (ed.) Social dialects and<"'•:

11". .DÍSTICA: OBJETO, CONCEITOS, PRESSUPOSTOS

111 .11 u-i rã simples e direta, podemos dizer que o objeto da Sociolin-indo da língua falada, observada, descrita e analisada em seu

• i i io c, em situações reais de uso. Seu ponto de partida é a comu-tifti. 11 in conjunto de pessoas que interagem verbalmente e que

I L n 11 i in i j unto de normas com respeito aos usos linguísticos. Emum.i comunidade de fala se caracteriza não pelo fato de se cons-

i < pie falam do mesmo modo, mas por indivíduos que se relacio-i i de i rdcs comunicativas diversas, e que orientam seu comporta-

l l i ' i i > i mesmo conjunto de regras. Tomemos, como exemplo, o« i ipe ia l ivo em português. Para os falantes do português, o impera-< i < m. exortação, conselho, solicitação, segundo o significado do. . l i v < > / ulili/.ado, como em: "Vai-te embora"; "Ouve este conse-

. ' l >esce daí!". Consideremos, agora, as seguintes observaçõesliiha

i . i l e moral, geralmente evitamos ferir a suscetibilidade de nosso' i nu .1 nide/a de uma ordem. Entre os numerosos meios de que nos

i . il l ,nif:iui/fe loyalty in the United States. Mouton, The Hague, 1966. Veri .1 lliliiit;inilixtn in the Barria: the measurement and description of language

w<i ' , l u i i )> . t i i n . R.C., Dept. of Hcallh, liducation and Welfare, 1968.

Page 7: Sociolinguistica alkimin

32 INTRODUÇÃO À LINGÚÍS1K * 33

servimos para enfraquecer a noção de comando, devemos ressaltar (além dos jrtestudados), pela sua eficiência, o emprego de fórmulas de polidez ou de civilúhide, tais como: por favor, por gentileza, digne-se de, tenha a bondade etc.:— Fale mais alto, porfavorl (F. Botelho, X, 177).

— Entrem, por favor, que não ocupam lugar — exclamou Seu Pio. (A. F. Schn i i < 11 .GB, 165)— Tenham a bondade de sentar e esperar um momento. [= Sentem-se e esperemum momento.] (R. Braga, CCE, 272)É claro que também aqui o tom de voz é de uma suma importância. Qualqu. idessas frases pode, não obstante as fórmulas de cortesia empregadas, tornai •..rude e seca, ou mesmo insolente, com a simples mudança de entoação29.

A depender do alcance e dos objetos de um trabalho de natureza socinlmgiiística, podemos selecionar e descrever comunidades de fala como a cidade d.New York ou a cidade do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Belém. Ou o p< > \ . .ianomâmi, que vive no Estado do Amapá. Ou, ainda, as comunidades dos p.-- .cadores do litoral do Estado do Rio de Janeiro, da ilha de Marajó, dos estudan-tes de Direito, dos rappers etc.

Ao estudar qualquer comunidade linguística, a constatação mais imcdiulné a existência de diversidade ou da variação. Isto é, toda comunidade se caracte-riza pelo emprego de diferentes modos de falar. A essas diferentes maneira .1falar, a Sociolinguística reserva o nome de variedades linguísticas. O conjuntode variedades linguísticas utilizado por uma comunidade é chamado reperióritlverbal. Assim é que, a propósito da cidade de Bruxelas, na Bélgica - p.n •caracterizado pelo bilingiiismo francês-flamengo (variedade do holandês»Fishman aponta:

Os funcionários administrativos do Governo, em Bruxelas, que são de 01flamenga, nem sempre falam holandês entre si, mesmo quando todos sanem Iwlandes muito bem e igualmente bem. Não só há ocasiões em que falam l i . m .entre si, em vez de holandês, como também há algumas ocasiões em que liilnillentre si o holandês standard enquanto em outras usam esta ou aquela v;u i . , i ,.|.regional do holandês. De fato, alguns da mesma forma usam diferentes vai i < • < l... ide francês: uma variedade particularmente carregada de termos administrutlviioficiais, outra correspondendo ao francês não técnico falado nos círculos de cilucação superior e refinados da Bélgica, e, ainda outra, que não é apenas um ' i . ...cês mais coloquial" mas o francês coloquial dos que são flamengos. Km

29. Cunha, C. & Cintra, L. F. L. Nova gramática do português contemporâneo. Rio (Ic- J i im i iFronteira, 1985.

i SIIN variedades de holandês e de francês constituem o repertório linguís-l« • « 1 1 os complexos sociais flamengos em Bruxelas30.

li .uleremos uma comunidade como a de Salvador, observaremosl i i • • i ioi K) linguístico se constitui de variedades linguísticas distintas,• i > i lHian tes da cidade falam de modo diferente em função, por exem-

irem regional, de sua classe social, de suas ocupações, de suai . 11111 >é m da situação em que se encontram. Assim é que um f alan-

" i M i i , 1 . 1 . 1 palavra "doido" como ['dojcbiu] revela sua proveniência dai i 1.1. assim como a pronúncia da palavra "cozinha" como [kúrj 'z~re]

i i i d.i ungem social, a sua pouca escolaridade. Um mesmo habitanteK Io a situação em que se encontrar, poderá optar entre usar as

l n | i i . i ictado" ou "Fiquei aborrecido", assim como entre "João' l "João o convidou".

' 11 Hf, n a, falada por qualquer comunidade, exibe sempre varia-• 1 1 1 1 1 1 1 . 1 1 mesmo que nenhuma língua se apresenta como uma enti-

i Isso significa dizer que qualquer língua é representada por uml.ides. Concretamente: o que chamamos de "língua portugue-

d i l e i en t e s modos de falar utilizado pelo conjunto de seus falan-n i I N « i l ugal, em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Timor etc.

» . u i.ieao são inseparáveis: a Sociolinguística encara a diversida-" i iu ) um problema, mas como uma qualidade constitutiva do

Dl n. « i Nesse sentido, qualquer tentativa de buscar apreender• ' ' l . < i si slema subjacente — se valer de oposições como "língua

• . i » i . MI ia i- performance — significa uma redução na compreen-i i i l inguís t ico . O aspecto formal e estruturado do fenómeno

i| M- i i i i | L 111 e do fenómeno total.

• i.- linguistica: um recorte

1 1 n. • 11. r. < U > 11 ui ndo são sempre continuações históricas. Em outrasiu i-ssivas de indivíduos legam a seus descendentes o

'n i i i n r i i . i particular. As mudanças temporais são parte da histórianplos de mudança histórica no português são ilustrativos:

\u i n l i i f i . 1 i h i l inp . i i i iKum. In: Fonseca, M. S. V. & Neves, M. F. (orgs.)Ill Iro H.loi.id.,, l')74, p. 2X.

Page 8: Sociolinguistica alkimin

34 INTRODUÇÃO À LINGÚÍS1K A , i 35

a) no português arcaico (entre os séculos XII e XVI), ocorriam constmcoes impessoais em que a indeterminação do sujeito era indicada pelovocábulo "homem", com o mesmo sentido que, atualmente, usamos opronome "se". Por exemplo: "E pode homem hyr de Santarém a Bciii[Beja] em quatro dias"31, que corresponde, modernamente, a "E pode-se ir de Santarém a Beja em quatro dias";

b) a forma de tratamento "Vossa Senhoria" é atestada nos meados do século XV como expressão reservada ao rei. Já no final do século X V I ,esta perde seu estatuto de realeza, sendo empregada no trato com ai c >bispos, bispos, duques, marqueses, condes, além de uma gama de a l i» .funcionários (como, por exemplo, vice-rei ou governador da índia)1

No plano sincrônico, as variações observadas nas línguas são relaciona\ ia fatores diversos: dentro de uma mesma comunidade de fala, pessoas de origemgeográfica, de idade, de sexo diferentes falam distintamente. E bom frisar que nfloexiste nenhuma relação de causalidade entre o fato de nascer em uma determiiwda região, ser de uma classe social determinada etc., e falar de uma certa maneini,

Os falantes adquirem as variedades linguísticas próprias a sua regia'. .sua classe social etc. De uma perspectiva geral, podemos descrever as vario bi-dés linguísticas a partir de dois parâmetros básicos: a variação geográfica (mldiatópica) e a variação social (ou diastrática).

A variação geográfica ou diatópica está relacionada às diferenças l i n r mticas distribuídas no espaço físico, observáveis entre falantes de origens geogrtificas distintas. Alguns exemplos:

a) brasileiros e portugueses se distinguem em vários aspectos de sua l a l uNo plano lexical, apenas um exemplo: "comboio" em Portugal, "liem"no Brasil. No plano fonético: a pronúncia aberta da vogal antei i<dia como em "prémio" ['premju], em contraste com a pronúncia Io 1 1 1 . 1 .no Brasil, "prémio" ['premju]. No plano gramatical: derivações d. • <sãs de uma raiz comum, como em ficheiro, paragem, bolseiro, (|Brasil correspondem a fichário, parada e bolsista; a colocação dr . i . lvérbios como em "Lá não vou" (Portugal) e "Não vou lá" (Bras i l ) . ' '

31. Dias, A. E. S. Sintaxe histórica portuguesa. 4. ed. Lisboa, Clássica, 1959, p. 22. (Ulu lo uil|jll1884)

32. Cintra, L. F. L. Origens do sistema de formas de tratamento do português actual In Ml"formas de tratamento" na língua portuguesa. Lisboa, Horizonte, 1972. (título original, l ')(>'< >

33. Ver Câmara Jr., J. M. Línguas europeias de ultramar: o português do Brasil. In: / ) / .v /«- ; . \« \Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1975. (título original, 1963). Ver também Boléo, M. l1 I t i . i i iBrasília, v. 3, pp. 3-42, 1943.

l . i l an i c s brasileiros originários das regiões nordeste (incluída an ' sudeste, percebemos diferenças fonéticas, como, por exem-

1 l níncia de vogais médias pretônicas — como ocorre na pala-i i M- l ado" - pronunciadas como vogais abertas no nordeste

i i. In 11- fechadas no sudeste [me'ladu]. Percebemos também dife-i mal içais, como, por exemplo, a preferência pela posposição

il « I n nej-.ação, como em "sei não" (nordeste) e "não sei" (ou, "não". no sudeste); o uso do artigo definido antes de nomes pró-

" i i i « ) em "Falei com Joana" (nordeste) e "Falei com a Joana"li li i , i

1 i n !•• da Bahia, por exemplo, a origem urbana ou rural pode ser• id.i pelo uso da expressão "de primeiro" [di primero], em lu-iniij-amente", "anteriormente".

.1 comunidade de fala de língua portuguesa como um todo,• rrlrrli .is variedades brasileira, portuguesa, baiana, curitibana, ru-

ii|>na) cie.

oi i .d ou diastrática, por sua vez, relaciona-se a um conjunto' • " i a ver com a identidade dos falantes e também com a organi-

- < i i i m . i l d.1roíiiiinidade de fala. Neste sentido, podemos apontar os" l .n i»mados às variações de natureza social: a) classe social;

l ) situação ou contexto social. Em relação aos três primeiros1 ' '"-mós a fornecer exemplos, remetendo, para um tratamento"'" ' es cm questão, à segunda parte deste capítulo. No que diz

i i n . i t , ao ou contexto social, faremos uma exposição um pouco, i ,

i . i l observemos alguns exemplos indicativos de pertencenteH|>OS situados abaixo na escala social:

• ' iu | , | . i negação, como em "ninguém não viu", "eu nem num

d<- 1 1 1 , em lugar de [1], em grupos consonantais, como em• 11 ' In ..i) e "grobo" (globo);

i t M I as easlas brâmane (superior), não brâmane (média) elv»l l H i l t - i io i ) , <|uc correspondem à hierarquia social vigente. Na

• ! • n u i r . i l o i e , a língua Kannada apresenta dados relativos a esta••' • < " a i : a palavra "nome" tem as formas /hesru/, "hesru",

Indi t olo(|uial dos brâmanes, e /yesru/, "yesru", na variedade" > • .1 c \|)iess;u) "com licença" é realizada como /ksamisu/,

Page 9: Sociolinguistica alkimin

36 INTRODUÇÃO À LINGUISTICA

"ksamisu", na variedade coloquial dos brâmanes e /cemsu/, "cemsu".na variedade coloquial dos não brâmanes (Bright, 1960).

b) Idade:

— o uso de léxico particular, como presente em certas gírias ("manein •"esperto", com o sentido de avaliação positiva sobre coisas, pessouN •situações), denota faixa etária jovem;

— uso de pronome tu em situações de interação entre iguais no Rio > l <Janeiro, como em "Tu viu só?", também sugere que os falanUjovens;

— a pronúncia fechada da vogal tónica posterior da palavra "senhoril"[se'jiofB], em lugar de [se'jiore], é característica de alguns falantes m.ir.velhos.

c) Sexo:

- a duração de vogais como recurso expressivo, como em "maaravilh> INI <costuma ocorrer na fala de mulheres (Camacho, 1978), assim com» Ouso frequente de diminutivos, como "bonitinho", "gostosinho", "vá m.Ihinho";

- na língua Zuni, falada por um grupo indígena da América do Noi i < ufones [ty] e [c] falados por pessoas do sexo feminino correspondi[ky] na fala masculina;

— no japonês, para o pronome de primeira pessoa eu, além de um;i iutilizável por todos os falantes, existem as formas "atashi",clusivamente por mulheres, e "boku", própria aos homens.

d) Situação ou contexto social: é um fato muito conhecido que q u . i l < | i upessoa muda sua fala, de acordo com o(s) seu(s) interlocutoras)este é mais velho ou hierarquicamente superior, por exemplogundo o lugar em que se encontra — em um bar, em uma conln- n. .

— e até mesmo segundo o tema da conversa — fofoca, assunli > 'fico. Ou seja, todo falante varia sua fala segundo a situação mi i|iencontra.

Fishman (1972) assim se pronuncia: "uma situação é definida |» l . i .ocorrência de dois (ou mais) interlocutores mutuamente relacionados « l < UMmaneira determinada, comunicando sobre um determinado tópico, n inn < « m i r

, Ml. l 37

1 U ma definição desse tipo possibilita descrever os padrões de• ...... . n l . i sociedade com respeito ao uso das variedades linguísticas.

"mpnrlamento linguístico adequado às situações em que se en-i mies. Consideremos, por exemplo, a situação de uma defesa de" i»i .irão que se segue à aprovação desta tese, que envolve as mes-

^ • li (crenças existentes entre as duas situações — tema das con-••I (Mi - podem fazer com que uma sociedade considere adequado

l i ngiiísticas diferentes ou a mesma. Segue-se, então, que cadai . i l M - U v e um contínuo de situações cujos pólos extremos e opos-n i . u lo s pc\a formalidade e informalidade. Em nossa sociedade,ni i c v islãs para obtenção de emprego, solicitação de informação

" l < > . contato entre vendedores e clientes são, em geral, vistos1 1 > i mais. Já situações como passeatas, mesas redondas sobre

P. 1 1 >n rm bar, festas de Natal nas empresas são definidas comoMi.-dades linguísticas utilizadas pelos participantes das situa-

lionder às expectativas sociais convencionais: o falante que..... vriirões pode receber algum tipo de "punição", representada,• n um franzir de sobrancelhas.

Ipo de iniciação social particular em que um falante decide mudar"i ' . l i ra sem que tenha ocorrido mudança de situação: é o que

' ' i • h. una de mudança metafórica. Um bom exemplo é uma con-i i i > . u i i i l rnoga a filha nos seguintes termos: "Aonde a senhora

i- n i que o uso da forma de tratamento "senhora" está obvia-I" 'Ir ..... lia.

i f . i lar nu convivência. Mas, mais do que isso, aprendemosi . i l . i i t U- um certo modo e quando devemos falar de outro. Os

">" r i .mi n i n a comunidade precisam saber quando devem mudari- i - . n . i outra. Segundo Fishman (1972), os membros de qual-

. i i l i | i i i i vm lenta e inconscientemente as competências comu-i''iiin-in.\ti<-ti, com respeito ao uso apropriado da língua"35. Em

. possível afirmar que os falantes aprendem quando podemni l HTinancccr em silêncio, se podem utilizar a forma impe-

iia i n i l c in ou se devem se valer de uma expressão modalizada,. 1 . n | i i i , já" ou "por favor, dirijam-se à saída"; se é oportuno

1 "nli

X M U i i > l i > n i a ila linguagem. In: Fonseca, M. S. V. & Neves, M. F. (orgs.)l • I . I . H . u l o , 1974, p. 29. (título original, 1972)

Page 10: Sociolinguistica alkimin

38 INTRODUÇÃO À LINGÚISIH 39

dizer "to fora" ou "não vai ser possível"; ou, ainda, "a gente não sabia" ou "nsabíamos", ou ainda "desconhecíamos".

Às variações linguísticas relacionadas ao contexto chamamos decoes estilísticas ou registros. Nesse sentido, os falantes diversificam sua falaisto é, usam estilos ou registros distintos — em função das circunstanciaique ocorrem suas interações verbais. Segundo Camacho, os falantes adeqiwinsuas formas de expressão às finalidades específicas de seu ato enunciativo, sendo que tal adequação "decorre de uma seleção dentre o conjunto de formas i|iii*constitui o saber linguístico individual, de um modo mais ou menos conseii'il« ite"36. A seleção de formas envolve, naturalmente, um grau maior ou menoi .1.reflexão, por parte do falante: o uso do estilo formal, em relação ao inlbníml,requer uma atuação mais consciente. Assim é que observamos estilos dis l i i i lu»quando um falante conversa com um amigo ou com vizinhos recém-coiihri ldos, ou com um médico, durante uma consulta, bem como ao escrever u n 1 1 > 1 1 i \te a um colega de faculdade, uma carta à seção de leitores de um jornal m. nelaborar um relatório dirigido a um superior no trabalho. A terminologia |>.n > -referir aos diferentes estilos de fala não é nada precisa. Utilizamos, muito gonoMcamente, expressões como estilos formal, informal, coloquial, familiar, /V.YACII/

A noção de situação — tal como foi definida — tem um alcance i « s i i i l nreduzindo-se, praticamente, à consideração da cena em que ocorrem as i n u - iverbais. É útil e produtivo entender situação de uma perspectiva mais abra n)a saber, como o contexto social global de uma comunidade, com suas m . M . ,históricas e culturais próprias. Pensamos aqui, particularmente, nos comritualísticos e religiosos que, tomados como ponto de partida, sugerende variedades e usos linguísticos especiais. Assim, por exemplo, o conie MM < l < i «tradições religiosas sugere o estudo das linguagens esotéricas, das l o u n u l .invocações propiciatórias às práticas da relação com o mundo do sagrado, (contexto da ordenação jurídica, por sua vez, sugere o estudo das vai u < l n llinguísticas particulares utilizadas pelos tabeliães, advogados, juí/.es c ptores nos julgamentos.

No campo dos usos religiosos, cabe citar o fascinante trabalho de Mi hLeiris (1948), La langue secrète dês Dogon de Sanga, que se ocupa d.i I m r iiniciática do povo Dogon que habita uma região do atual Mali ( an i i p .Francês). Sobre a comunidade brasileira, há um interessante esludo < l i - i

i l l i . i es (1985), The rezas and benzeções: healing speech activitiesl < » ;ilí/,a a prática linguística de benzedores, a partir de dados

> nl.ides-satélites de Brasília.

M < > |l •»'!' & J. F. O'Barr (1976) organizaram um volume, de extremo/ .inyjiiiffe andpolitics — em que analisam a questão das relações

M I e o funcionamento do sistema de ordenações legais na índia e•i»r ; países que compartilham algumas características marcantes:

~ mj'lesas, sociedades plurilíngues e precisam pensar a questãoIn i herança histórica tradicional e a recente, produzida pelo

l i .

nu nos da variação linguística são diversos, como se pode inferiri i i . i .ile aqui. Para efeito de apresentação, isolamos os fatores a• l i i i j ' M i s i i c a , como um todo, está relacionada. Não podemos dei-

• i i» > enlanto, que, na realidade das relações sociais, os fatores den . M M imbricados. No ato de interagir verbalmente, um falante

• i f - l . n l e linguística relativa a sua região de origem, classe social,i . i . n l r . sexo etc. e segundo a situação em que se encontrar. Por

I n . i . i l e i r o , nascido em Recife, apresentará, sempre, vogais. i i . - M I M O em [reau] "real", mas ainda a depender de sua escola-

ai ou urbana, utilizará o verbo "assuntar" ou "prestar aten-n i l i i . 1 . 1 siluação, dirá "Fui nada" ou "Fui não".

dedal linguísticas e a estrutura social

• i i h i o . em qualquer comunidade de fala, podemos observar amu i MH|un lo de variedades linguísticas. Essa coexistência, en-

• 1 1 MI i vaeuo, mas no contexto das relações sociais estabelecidasl» i l í l ica de cada comunidade. Na realidade objetiva da vida

i ia ordenação valorativa das variedades linguísticas em uso,• i n ' i n i | i i i . i dos grupos sociais. Isto é, em todas as comunidades

1 1 ' !• i |ne são consideradas superiores e outras inferiores. Em ou-"iii" . i h i i n a Gnerre, "uma variedade linguística 'vale' oque 'va-

i' o;, seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e dacli i U m nas relações económicas e sociais"37. Constata-se, de

36. Camacho, R. A variação linguística. In: Subsídios à proposta curricular ilc Iniy.iiu !••"'"para o segundo grau. São Paulo, CENP, Secretaria do Estado da Educação, v. IV, l '»7K, p l /

K ,n- , m. , . v , nin ,• iiinlcr. São Paulo, Marlins Pontes, 1985, p. 4. (capítulo 1: Lin-M. i. |o)

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40 INTRODUÇÃO À LINGIIIMii

modo muito evidente, a existência de variedades de prestígio e de varied<i<l<não prestigiadas nas sociedades em geral. As sociedades de tradição ocidrmoferecem um caso particular de variedade prestigiada: a variedade padnn >variedade padrão é a variedade linguística socialmente mais valorizada, dr nconhecido prestígio dentro de uma comunidade, cujo uso é, normalmente, n•« | n <rido em situações de interação determinadas, definidas pela comunidade compróprias, em função da formalidade da situação, do assunto tratado, da rei. n <entre os interlocutores etc. A questão da língua padrão tem uma enorme i n i | > < > itância em sociedades como a nossa. Algumas considerações a seu respcii»impõem.

A variedade padrão de uma comunidade — também chamada norma culuou língua culta — não é, como o senso comum faz crer, a língua por excclêiiflla língua original, posta em circulação, dá qual os falantes se apropriam coiiiipodem ou são capazes. O que chamamos de variedade padrão é o r e s u l l a < l < > > luma atitude social ante a língua, que se traduz, de um lado, pela seleção i l < mdos modos de falar entre os vários existentes na comunidade e, de oulro, pclestabelecimento de um conjunto de normas que definem o modo "com-i< > • !falar. Tradicionalmente, o melhor modo de falar e as regras do bom ilttcorrespondem aos hábitos linguísticos dos grupos socialmente dominantes hnossas sociedades de tradição ocidental, a variedade padrão, históricacoincide com a variedade falada pelas classes sociais altas, de determinmlflregiões geográficas. Ou melhor, coincide com a variedade linguística l . i i n ipela nobreza, pela burguesia, pelo habitante de núcleos urbanos, que- são i mtros do poder económico e do sistema cultural predominante.

Fishman (1970) define a padronização, isto é, o estabelecimento da vui l ldade padrão, como um tratamento social característico da língua, que se- vc i l f lca quando há diversidade social suficiente e necessidade de elaboração . i m i . .liça. Em outras palavras, a definição de uma variedade padrão represenla 11 i i lcnda homogeneidade em meio à realidade concreta da variação lingiiísl içaque, por estar acima do corpo social, representa o conjunto de suas d iwi M. l » l >e contradições. A variedade alçada à condição de padrão não detém piopm i l udês intrínsecas que garantem uma qualidade "naturalmente" superior . 1 . • ivariedades. Na verdade, a padronização é sempre historicamente de l m u l a IN!é, cada época determina o que considera como forma padrão: delci mm. i i l . i pnnúncias, construções gramaticais e expressões lexicais. Segue-se, cni . icertas formas podem ser consideradas como pertencentes à variedade iem uma época e deixar de sê-lo em outra. As línguas mudam iiiccssanirina definição do "certo", do "agradável" e do "adequado" lambem. N.i |"podemos concordar com Fishman, o que é padrão pode tornai se- não |>a< l i f l i i |

»>" - , i 41

i i .u Io não padrão pode ser estabelecido como padrão. A históriaM uc sã, como a de tantas outras, oferece-nos inumeráveis exem-

1 m de fatos. Consideremos, a propósito, os seguintes exemplos

mus "dereito", "despois", "frecha", "frito", "premeiramente", hojei ' i .n l . i s , são encontradas no texto da carta de Pêro Vaz de Cami-

i . l SOO;

nu . "liauta", "escuitar", "intonce", assim como as construçõesdo l i pó "deseja de comprar" (com a presença da preposiçãoesta gente, cuja valia e obra tanto amaste/não queres que

M H vilupério" (concordância do sujeito gente com o verboIo no plural) — hoje consideradas incorretas — são encontra-

• MI ' '\ de Camões (1572).

n picsentações de pronúncias e construções gramaticais ates-iimiados não são mais consideradas como "bom uso". Como

• P H - ocorrências equivalentes, tão vivas em variedades não pa-< orno por exemplo "Framengo", "ele deve de sair, ago-

I O I I K > • ; l .i", sejam consideradas como "erradas", "fruto de ignorân-s altas mudou e a de outros grupos sociais reteve esses

iro"

01 u l das variedades linguísticas é um fato observável emi . i < l r t i a laia. Frequentemente, ouvimos falar em línguas "sim-

pi imilivas". Para a Linguística, esse tipo de afirmação ca-i l.imcnto científico. Toda língua é adequada à comunidade

"•M i icma completo que permite a um povo exprimir o mundoMI i |iic vive. É absolutamente impróprio dizer que há línguas

• i M i l . u M » Não existem também sistemas gramaticais imperfeitos.n-, aginar seres humanos com uma "meia língua". A falta

• p .na descrever, por exemplo, a astronomia na língua de umn i (li-smieresse por este assunto: a sociedade não tem neces-

i i - ilado do real. Caso a sociedade necessite, basta fazerI I I licos o contato cultural com outros povos, o conhecimento

•u .1 descoberta de realidades até então desconhecidas são o• i ir 110vos conceitos e da produção de novas palavras. Quanto

l o csi udo das mais distintas línguas tem revelado que elei i i omo mu sistema organizado e coerente de regras. As lín-

i i m numerosos aspectos, e essas diferenças correspondemivo i la humanidade.

Page 12: Sociolinguistica alkimin

42 INTRODUÇÃO À LINGUlS!

Assim como não existem línguas "inferiores", não existem variedades l MIgiiísticas "inferiores". Como vimos, as línguas não são homogéneas e a v.mcão observável em todas elas é produto de sua história e do seu presente l ique se baseiam, então, as avaliações sociais? Podemos afirmar, com tod;i d .mqiiilidade, que os julgamentos sociais ante a língua — ou melhor as a l i i m i <sociais — se baseiam em critérios não linguísticos: são julgamentos de mil m r/política e social. Não é casual, portanto, que se julgue "feia" a variedaclr . 1 . .falantes de origem rural, de classe social baixa, com pouca escolaridadi < iregiões culturalmente desvalorizadas. Por que se considera "desagradável ..retroflexo, o chamado r caipira, presente em realizações como ['po.rti?| "|>n|ta"? Afinal, a mesma articulação retroflexa ocorre em palavras do inglês eoiil[kaqj "car" (carro), que ninguém sente como "feia". Em resumo: julgai! na fala, mas o falante, e o fazemos em função de sua inserção na estrutura soe m

Para a Sociolingíiística, a natureza variável da língua é um pressuponlfundamental, que orienta e sustenta a observação, a descrição e a interpivt.H. < ido comportamento linguístico. As diferenças linguísticas, observáveis nmunidades em geral, são vistas como um dado inerente ao fenómeno lin^m 1 i - >A não aceitação da diferença é responsável por numerosos e nefastos piei nuceitos sociais e, neste aspecto, o preconceito linguístico tem um efeito pari u nliilmente negativo. A sociedade reage de maneira particularmente consensn;il > |iundo se trata de questões linguísticas: ficamos unanimemente chocados d i .mh . 1palavra inadequada, da concordância verbal não realizada, do estilo i m p i « > |situação de fala. A intolerância linguística é um dos comportamentosmais facilmente observáveis, seja na mídia, nas relações sociais cotidian.iespaços institucionais etc. A rejeição a certas variedades linguísticas, eom iHIzada na desqualificação de pronúncias, de construções gramaticais t- < l < \< •vocabulares, é compartilhada sem maiores conflitos pelos não especialislim <linguagem. O senso comum opera com a ideia de que existe uma I Í I I J M Ubem social à disposição de todos — que é adquirida distintamente, cm l m n . i ide condições diversas, pelos falantes. Na realidade, existe sempre un i < < > n M m ide variedades linguísticas em circulação no meio social. Aprende-se a viirlMde a que se é exposto, e não há nada de errado com essas variedades. < )s yi iipnsociais dão continuidade à herança linguística recebida. Nesse sentido, e piffsó ter claro que os grupos situados embaixo na escala social não ; u l < | m i . . . .língua de modo imperfeito, não deturpam a língua "comum". A homojyn.linguística é um mito, que pode ter consequências graves na vida soda l l ' • «que a diferença linguística é um mal a ser erradicado justifica a prálk a « lsão e do bloqueio ao acesso a bens sociais. Trata-se sempre de impoi .1 •dos grupos detentores do poder (ou a eles ligados) aos outros

„,„„ i 43

! • > ( omponentes do sistema cultural. A existência de uma varieda-i. .loca todas as outras variedades linguísticas e cria um contex-

IINNÍmétricas entre falantes de uma comunidade, é um exemplo• < | i i ' " , iao. Cabe aos usuários das variedades não-padrões adotar ai . i lmenie aceitável — pelo menos, em certas circunstâncias, como

i i . i l a pública ou durante uma entrevista em uma agência de em-. 11 > i c i ider um outro modo de falar? Onde adquirir este outro modo

• i n .11. .10 para falar um outro modo de falar é sempre social, e issoi ' i K Io pela escola, ou pela experiência social. De qualquer manei-

i l . i l . n de um modo distinto daquele que aprendemos não se con-n i i l ia sempre um longo caminho a percorrer, tanto mais longo

1 1 i mie se encontra o falante dos padrões linguísticos e culturais

OU FINAIS

• i > i - . i n ina heterogeneidade original, a Sociolinguística dos anos|| i i . i ( i >mo o ponto de partida de novas correntes e orientações de

III l n i . r . no trato do fenómeno linguístico relacionado ao contexto> i i « " '! i |ne se distinguem, de forma mais evidente, pela vinculação

* < .impo das ciências humanas. De uma perspectiva bem geral,n ,i Antropologia e a Sociologia como áreas relevantes. Dentre

i i . » .iremos apenas algumas:

> i * - r i . i da l .inguagem, representada por J. Fishman;

i i i ) M i r , i i r a Interacional, ligada ao nome de J. Gumperz;

i " l < . ; ' i a Soeial, associada ao trabalho de estudiosos como R.l ' l Ml , l - , l

i h . i « I a ('omimicação, inseparável do nome de D. Hymes, refe-icnte. Caberia, também, uma referência, nesta vertente,

' M i » , de U. Bauman e J. Sherzer, voltados, particularmente,MI. LU. i la arte verbal e da poética dos géneros de fala.

ilnh idas, haslunte citadas, oferecem uma visão da produção noi M M i r . i h a c permitem observar a diversidade de temas estuda-

i n ai u adas, como, por exemplo: Pride, J. B. & Holms, J.n t«liiif;ni.\li<-s; Giglioli, P. P. (1974) (org.), Language andso-i ' l . n i . 1 N X .laworski, A. (1997) (orgs.), Sociolinguistics. Duas

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Page 13: Sociolinguistica alkimin

44 INTRODUÇÃO À LINGÚIltHM 45

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