acromegalia: uma doença rara, grave, insidiosa, crônica, porém

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Realização III SIMPÓSIO DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA Local: Centro Universitário São Camilo Data: 21 a 23 de maio de 2015. ACROMEGALIA: UMA DOENÇA RARA, GRAVE, INSIDIOSA, CRÔNICA, PORÉM TRATÁVEL KRUSE, Marianne 1 ; SOUZA, Patrícia 2 ; ANDRADE, Laura 2 ; VIDAL, Maurilo 2 ; CROZARA, Marisa 3 1 Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, São Paulo, SP. [email protected] 2 Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, São Paulo, SP. 3 Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, São Paulo, SP. Palavras-chave: Sistema endócrino. Hipófise. Acromegalia. INTRODUÇÃO Há muito tempo, a elucidação da fisiopatologia pituitária tem sido um grande desafio para os médicos. Devido ao desconhecimento do sistema endócrino, a acromegalia e o gigantismo, a desordem pituitária mais surpreendente, foram geralmente considerados como uma doença óssea intrínseca. Muitos foram os estudiosos que observaram, analisaram, investigaram e registraram casos, descrevendo-os e dando seus pareceres. Embora longe de fornecer uma interpretação correta patogênica da doença, abriram o caminho para futuras observações e descobertas. A primeira descrição médica completa do quadro clínico da acromegalia e do gigantismo foi feita pelo neurologista francês Pierre Marie, em 1886, diferenciando-a de outros males como o Hipotireoidismo, Doença de Paget ou da Leontiasis Ossea de Virchow. Atualmente, não se discute que Acromegalia e Gigantismo são duas doenças provocadas pela mesma causa, conforme o momento da vida em que se manifestam: se for na infância ou adolescência, antes de terminar o crescimento dos ossos longos, ocorre o Gigantismo. Se ocorrer na idade adulta, quando as placas de crescimento dos ossos longos já estão fechadas, o crescimento acontece nas extremidades do corpo, como mãos, pés e queixo e esse quadro se chama Acromegalia. O termo acromegalia é um neologismo formado por duas palavras gregas: akron (extremidade) + megalo (grande), referindo-se a uma doença crônica, grave, rara e insidiosa que afeta adultos (na faixa entre 30 e 50 anos), de ambos os sexos, quando o hormônio do crescimento (GH) é produzido em excesso e, consequentemente, produz outro hormônio. Quando o hormônio do crescimento é liberado no sangue, estimula o fígado a produzir o IGF-1 (Insulin Growth Factor), semelhante à insulina tipo 1 que faz crescer músculos, ossos e cartilagens em todo corpo. Este processo é essencial para o crescimento e reparação dos tecidos do corpo humano. Entretanto, conforme já foi dito, quando isso ocorre na fase adulta, as cartilagens de crescimento já estão fechadas e acabam por deformar os ossos ao invés de alongá-los. A incidência de acromegalia é de, aproximadamente, 3 casos em um milhão de pessoas por ano. A hipófise ou pituitária é uma glândula pequena do tamanho de uma ervilha, localizada na base do cérebro e que se divide nos lobos anterior (adeno-hipófise) e posterior (neuro-hipófise), constituindo o lobo anterior cerca de 80% da mesma. Em cerca de 98% dos casos de acromegalia, a produção exagerada de GH está associada à presença de tumores benignos na hipófise, provenientes das células somatrotróficas do lobo anterior que, devido a um defeito intrínseco, resulta na ativação de um fator de crescimento celular ou a inativação de um fator inibidor, levando ao surgimento de um adenoma. O restante (2%) pode estar relacionado a mutações genéticas e causas desconhecidas. Por ser uma doença de desenvolvimento lento e silencioso. É comum que a acromegalia seja diagnosticada muitos anos após a primeira manifestação dos sintomas que pode ocorrer em qualquer idade, mas só ser notada bem mais tarde. Além disso, os sintomas também não são muito específicos, o que pode fazer com que a condição não seja diagnosticada nos primeiros anos. As características mais notáveis da acromegalia geralmente envolvem o supercrescimento acral, como face, as mãos e os pés, suspeitando-se do diagnóstico devido a alterações no aspecto

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Page 1: acromegalia: uma doença rara, grave, insidiosa, crônica, porém

Realização

III SIMPÓSIO DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

Local: Centro Universitário São Camilo

Data: 21 a 23 de maio de 2015.

ACROMEGALIA: UMA DOENÇA RARA, GRAVE, INSIDIOSA, CRÔNICA, PORÉM TRATÁVEL

KRUSE, Marianne

1; SOUZA, Patrícia

2; ANDRADE, Laura

2; VIDAL, Maurilo

2; CROZARA, Marisa

3

1 Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, São Paulo, SP.

[email protected] 2 Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, São Paulo, SP.

3 Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, São Paulo, SP.

Palavras-chave: Sistema endócrino. Hipófise. Acromegalia. INTRODUÇÃO

Há muito tempo, a elucidação da fisiopatologia pituitária tem sido um grande desafio para os médicos. Devido ao desconhecimento do sistema endócrino, a acromegalia e o gigantismo, a desordem pituitária mais surpreendente, foram geralmente considerados como uma doença óssea intrínseca. Muitos foram os estudiosos que observaram, analisaram, investigaram e registraram casos, descrevendo-os e dando seus pareceres. Embora longe de fornecer uma interpretação correta patogênica da doença, abriram o caminho para futuras observações e descobertas.

A primeira descrição médica completa do quadro clínico da acromegalia e do gigantismo foi feita pelo neurologista francês Pierre Marie, em 1886, diferenciando-a de outros males como o Hipotireoidismo, Doença de Paget ou da Leontiasis Ossea de Virchow.

Atualmente, não se discute que Acromegalia e Gigantismo são duas doenças provocadas pela mesma causa, conforme o momento da vida em que se manifestam: se for na infância ou adolescência, antes de terminar o crescimento dos ossos longos, ocorre o Gigantismo. Se ocorrer na idade adulta, quando as placas de crescimento dos ossos longos já estão fechadas, o crescimento acontece nas extremidades do corpo, como mãos, pés e queixo e esse quadro se chama Acromegalia.

O termo acromegalia é um neologismo formado por duas palavras gregas: akron (extremidade) + megalo (grande), referindo-se a uma doença crônica, grave, rara e insidiosa que afeta adultos (na faixa entre 30 e 50 anos), de ambos os sexos, quando o hormônio do crescimento (GH) é produzido em excesso e, consequentemente, produz outro hormônio. Quando o hormônio do crescimento é liberado no sangue, estimula o fígado a produzir o IGF-1 (Insulin Growth Factor), semelhante à insulina tipo 1 que faz crescer músculos, ossos e cartilagens em todo corpo. Este processo é essencial para o crescimento e reparação dos tecidos do corpo humano. Entretanto, conforme já foi dito, quando isso ocorre na fase adulta, as cartilagens de crescimento já estão fechadas e acabam por deformar os ossos ao invés de alongá-los.

A incidência de acromegalia é de, aproximadamente, 3 casos em um milhão de pessoas por ano.

A hipófise ou pituitária é uma glândula pequena do tamanho de uma ervilha, localizada na base do cérebro e que se divide nos lobos anterior (adeno-hipófise) e posterior (neuro-hipófise), constituindo o lobo anterior cerca de 80% da mesma.

Em cerca de 98% dos casos de acromegalia, a produção exagerada de GH está associada à presença de tumores benignos na hipófise, provenientes das células somatrotróficas do lobo anterior que, devido a um defeito intrínseco, resulta na ativação de um fator de crescimento celular ou a inativação de um fator inibidor, levando ao surgimento de um adenoma. O restante (2%) pode estar relacionado a mutações genéticas e causas desconhecidas.

Por ser uma doença de desenvolvimento lento e silencioso. É comum que a acromegalia seja diagnosticada muitos anos após a primeira manifestação dos sintomas que pode ocorrer em qualquer idade, mas só ser notada bem mais tarde. Além disso, os sintomas também não são muito específicos, o que pode fazer com que a condição não seja diagnosticada nos primeiros anos.

As características mais notáveis da acromegalia geralmente envolvem o supercrescimento acral, como face, as mãos e os pés, suspeitando-se do diagnóstico devido a alterações no aspecto

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Local: Centro Universitário São Camilo

Data: 21 a 23 de maio de 2015.

facial que consistem no aumento da mandíbula (prognatismo), do nariz e dos lábios. As alterações da cavidade oral incluindo má oclusão, aumento entre os espaços dos dentes e macroglossia, podem levar o reconhecimento do distúrbio pelo dentista.

Também nota-se aumento do tecido sinovial e das cartilagens, podendo ocasionar atropatia nos joelhos, tornozelos, quadril, vértebras e outras articulações, além de dores articulares ocasionadas por osteoporose, decorrente do excesso de GH; aumento da densidade óssea, espessamento da pele que se torna oleosa e propensa à acne; sudorese abundante e mau odor corporal; alterações respiratórias (apnéia do sono e voz grossa devido ao aumento das paranasais e das cordas vocais); cardiovasculares, como hipertensão arterial, hipertrofia dos ventrículos e miocardiopatia, levando a quadros de insuficiencia cardíaca; disfunções gastrintestinais; metabólico-endócrinas como fadiga, menstruação anormal, falta de libido e impotência sexual, pois nas mulheres, os macroadenomas podem causar diminuição da secreção de outros hormônios hipofisários, mais comumente da gonadotrofina; além de hiperfosfatemia em cerca de 70% dos pacientes; disfunções neurológicas (cefaléias, síndrome do túnel do carpo) e oftálmicas. Alguns desses sintomas são os resultados da compressão do tumor nos tecidos próximos como, por exemplo, as dores de cabeça e os problemas de visão podem surgir se o tumor comprimir os nervos envolventes.

Sem tratamento, portadores de acromegalia podem evoluir para uma forma grave da doença, em que surgem complicações e as taxas de mortalidade são altas. Presença de diabetes em 10 a 15% dos casos, de doença cardiovascular, hipertensão, artrite (como resultado do crescimento excessivo dos ossos e cartilagens) e pólipos intestinais, que se podem transformar em câncer de intestino, se não tratados, são fatores agravantes do quadro.

O diagnóstico primeiramente é clínico. A confirmação é feita através de exames de sangue,

que apontam um aumento de GH e IGF-I, todavia, a normalidade deste não descarta a possibilidade

da doença por ser um hormônio que é secretado de forma pulsátil. Também devem ser feitos exames de imagem como ressonância magnética, radiografias e tomografias computadorizadas do crânio, mãos e pés.

O tratamento da acromegalia tem por objetivo: reduzir o excesso de hormônio do crescimento para níveis normais, aliviar a pressão que o tumor está exercendo sobre as estruturas em redor, tratar quaisquer deficiências hormonais e melhorar os sintomas da acromegalia.

A terapia farmacológica implica na prescrição de substâncias como primeira terapêutica, antes da cirurgia ou como terapêutica complementar nos casos de ser impossível a realização da cirurgia ou o insucesso da mesma. O tratamento clínico, normalmente é feito com agonistas dopaminérgicos (cabergolina e bromocriptina), antagonista do receptor do GH (pegvisomant, análogo biossintético do GH que impede a ligação do hormônio ao seu receptor) e análogos da somatostatina. A aplicação de octeotrida por via intramuscular tem sido a forma mais prescrita no tratamento da doença.

O Tratamento Cirúrgico dos Tumores da Hipófise é geralmente bem sucedido, desde que o tumor não seja muito grande. Se os níveis hormonais não voltarem ao normal depois da cirurgia, é necessário manter tratamento complementar com medicamentos, porque a lesão irreversível no tecido hipofisiário pode exigir reposição hormonal por toda a vida.

A radioterapia é indicada apenas quando os tumores não podem ser removidos cirurgicamente, ou quando a cirurgia e o tratamento clínico não apresentam os resultados desejados. Se não tratada, a acromegalia pode causar doenças graves e até mesmo a morte, isto porque os sintomas vão piorar e o risco de hipertensão, diabetes e doença cardiovascular aumenta com a evolução da doença. OBJETIVO

Revisar estudos teóricos e descrever a fisiopatologia e o tratamento adequado.

METODOLOGIA Para o trabalho foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados Scielo,

PubMed e alguns livros de farmacologia. O período de pesquisa foi de março a abril de 2015,

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Local: Centro Universitário São Camilo

Data: 21 a 23 de maio de 2015.

utilizando os descritores gerais: “sistema endócrino, acromegalia, gigantismo, difícil diagnóstico e hipófise”. Quanto ao critério de seleção foram utilizados artigos em português e livros em inglês.

CONCLUSÃO

A acromegalia é uma doença rara, mas que cursa com aumento de morbidade e mortalidade. Dessa forma, é fundamental que o diagnóstico seja precoce porque existem várias opções terapêuticas e a maioria das pessoas com a doença podem ser tratadas com sucesso desde que jamais interrompa o tratamento sem falar com o médico e se lembre que mesmo após o tratamento irá necessitar de acompanhamento regular e especializado para o resto da vida.

Assim, recomenda-se a todos procurar assistência médica imediatamente se observar, em si próprio ou em outra pessoa, alterações físicas como crescimento exagerado da estatura, das mãos e dos pés, ou aumento de volume do tórax, do nariz, dos genitais e dos lábios.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDREOLI, Thomas E.. Medicina Interna Básica. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. BAEHR, Mathias; FROTSCHER, Michael. Diagnóstico topográfico em neurologia: anatomia, fisiologia, sinais, sintomas. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. CAMBIER, Jean; MASSON, Maurice; DEHEN, Henri. Neurologia. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. COSTA, Mônica P. da et al. Acromegalia com Níveis Séricos Basais do Hormônio do Crescimento Dentro dos Limites da Normalidade. 2000. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo /acromegalia com niveis sericos basais do hormonio do crescimento dentro dos limites da normalidade - Cópia.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2015. DONANGELO, Ines; UNE, Karina; GADELHA, Mônica. Diagnóstico e Tratamento da Acromegalia no Brasil. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/abem/v47n4/a06v47n4.pdf>. Acesso em: 1 abr. 2015. FEDRIZZI, Daniela; CZEPIELEWSKI, Mauro Antonio. Distúrbios cardiovasculares na acromegalia. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302008000900004>. Acesso em: 1 mar. 2015. GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis. Cecil Medicina. 23. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. HELMAN, Cecil G.. Cultura, saúde & doença.4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003. MILLNER, Tatiana Hotimsky; DIAMANT, Lea Lederer. Atualização no tratamento da acromegalia. 2004. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo /Atualizacao no tratamento da acromegalia_02.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2015. ROELFSEMA, Ferdinand; BIERMASZ, Nienke R.. Acromegaly: diagnosis and treatment. 2. ed. Oxford: Bloomsbury Publishing Plc, 2001.