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1 A DIPOMACIA 2.0 RESUMO: Grandes transformações ocorreram na política internacional no decorrer do século XX, menos na diplomacia. Por sua natureza e vinculação com os Estados ela possui uma natureza conservadora. Desde o inicio da fase westfaliana à chegada nos anos 90 da diplomacia digital, ou diplomacia 2.0, poucas foram as mudanças em suas práticas e instrumentos. Ainda predominam as estratégias criadas num mundo bipolar pouco eficazes num mundo multipolar. A diplomacia digital é uma realidade. Acadêmicos, jornalistas e cidadãos a utilizam com diversos objetivos. O serviço exterior da maioria dos países, entretanto, avança muito lentamente em sua utilização na atividade diplomática o que origina desvantagens no acesso à informação e no poder de ação. Somente definindo uma estratégia de longo prazo de diplomacia digital, poderão aproveitar as oportunidades abertas por ela, aumentando seu poder de influência internacional. ABSTRACT: Major changes had occurred in the international politics scenario during the twentieth century, but the same did not happened in diplomacy. By its nature and linkage with the states it has a conservative essence. Since de beginning of the Westphalian stage, in the early 90s, with the start of digital diplomacy, or diplomacy 2.0, few were the changes in their practices and tools. Still predominates strategies created in a bipolar world, which are not very efficient in a multipolar world. The digital diplomacy is a reality. Academics, journalists and citizens make use of it for different goals. The foreign services of most countries, however, progresses very slowly on its use of diplomatic activity which creates disadvantages in the access of information and power of action. Only by setting a long-term strategy of digital diplomacy we could use the opportunities opened by it, increasing its power in international influence PALAVRAS CHAVE: diplomacia, diplomacia digital, diplomacia 2.0 KEYWORDS: diplomacy, digital diplomacy, diplomacy 2.0 Chama particular atenção que os estudiosos das Relações Internacionais dediquem limitada importância aos estudos sobre a Diplomacia. Raros são os artigos produzidos sobre esse tema e as transformações pelas quais ela vem passando como consequência das transformações tecnológicas ocorridas nos meios de informação e de comunicação. Sua a evolução, desde a época das cartas e malas diplomáticas, os telegramas e os cabos diplomáticos, logo ao telefone e os meios de comunicação de

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La utilización de herramientas de internet en las relaciones internacionales

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Page 1: Diplomacia 2 0 revisado

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A DIPOMACIA 2.0

RESUMO: Grandes transformações ocorreram na política internacional no decorrer do

século XX, menos na diplomacia. Por sua natureza e vinculação com os Estados ela

possui uma natureza conservadora. Desde o inicio da fase westfaliana à chegada nos

anos 90 da diplomacia digital, ou diplomacia 2.0, poucas foram as mudanças em suas

práticas e instrumentos. Ainda predominam as estratégias criadas num mundo bipolar

pouco eficazes num mundo multipolar. A diplomacia digital é uma realidade.

Acadêmicos, jornalistas e cidadãos a utilizam com diversos objetivos. O serviço

exterior da maioria dos países, entretanto, avança muito lentamente em sua utilização

na atividade diplomática o que origina desvantagens no acesso à informação e no poder

de ação. Somente definindo uma estratégia de longo prazo de diplomacia digital,

poderão aproveitar as oportunidades abertas por ela, aumentando seu poder de

influência internacional.

ABSTRACT: Major changes had occurred in the international politics scenario during

the twentieth century, but the same did not happened in diplomacy. By its nature and

linkage with the states it has a conservative essence. Since de beginning of the

Westphalian stage, in the early 90s, with the start of digital diplomacy, or diplomacy

2.0, few were the changes in their practices and tools. Still predominates strategies

created in a bipolar world, which are not very efficient in a multipolar world. The digital

diplomacy is a reality. Academics, journalists and citizens make use of it for different

goals. The foreign services of most countries, however, progresses very slowly on its

use of diplomatic activity which creates disadvantages in the access of information and

power of action. Only by setting a long-term strategy of digital diplomacy we could use

the opportunities opened by it, increasing its power in international influence

PALAVRAS CHAVE: diplomacia, diplomacia digital, diplomacia 2.0

KEYWORDS: diplomacy, digital diplomacy, diplomacy 2.0

Chama particular atenção que os estudiosos das Relações Internacionais

dediquem limitada importância aos estudos sobre a Diplomacia. Raros são os artigos

produzidos sobre esse tema e as transformações pelas quais ela vem passando como

consequência das transformações tecnológicas ocorridas nos meios de informação e de

comunicação. Sua a evolução, desde a época das cartas e malas diplomáticas, os

telegramas e os cabos diplomáticos, logo ao telefone e os meios de comunicação de

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massas clássicos – televisão, radio e imprensa- , levou-a à Diplomacia 2.0 de nossos

dias.

Ela vem de uma época na qual a comunicação diplomática desenvolvia-se entre

“um e muitos”- palavra impressa; de “um a um”- telefone e telégrafo- a uma época de

“muitos a muitos”, a Internet.

É frequente ouvir a opinião de especialistas em relações internacionais de que

está próxima a “morte da diplomacia” ,e para os mais pessimistas, “a diplomacia está

morta” Para os primeiros, a diplomacia esta preste a morrer face às transformações

tecnológicas, políticas e sociais resultantes do processo de globalização, que alteraram

profundamente as relações entre os Estados, à dispersão da política exterior, à

emergência de novos atores internacionais e ao despreparo dos diplomatas para atuar

num cenário internacional cada vez mais complexo e num ritmo de mudanças nunca

antes visto.A diplomacia esta morta, segundo Roger Cohen, pois, soluções eficazes

requerem paciência, discrição e vontade de falar com o inimigo, tudo o que não temos

hoje em dia (Cohen,2013). A violência,do tipo que um dia a diplomacia resolvia,

mudou. Ela ocorre menos entre Estados e mais no trato com terroristas (Idem).

Para o segundo grupo de autores, a diplomacia conforme entendida ao longo dos

séculos –negociações entre estados hierárquicos, com fronteiras definidas, que levaram

a grandes acordos e tratados que mudaram o rumo da historia- certamente já morreu.

A razão principal desta mudança é consequência de mais de 5

bilhões de telefones no mundo, comparados com 907 milhões

em 2000. No mesmo período, o número de usuários da internet

aumentou de 361 milhões para mais de 2 bilhões. Hoje, há mais

de 100 milhões de usuários de telefones celulares apenas no

Paquistão, contra 300 mil uma década atrás.

O impacto dessa conectividade irrefreável é, nas palavras de

Cohen, "completamente perturbadora para cada Estado".

Telegramas diplomáticos são superados por redes que não

respeitam fronteiras ou hierarquias. Adeus a Potsdam, Yalta,

Xangai, Dayton e tudo isso. A distinção entre os mundos real e

virtual -que as pessoas com mais de 40 anos insistem em traçar-

é simplesmente inexistente para os 52% das pessoas do mundo

que têm menos de 30 anos. Elas transitam sem dificuldades

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entre os dois mundos. Qualquer tentativa de separar uma coisa

da outra parece simplesmente pitoresca e antiga (Cohen,2011).

A diminuição da importância da diplomacia tradicional, resultante da crescente

a interdependência entre os estados, o poder de organizações internacionais e

supranacionais, sub-regionais cuja atuação independe dos Ministérios de Relações

Exteriores dos países e as novas ferramentas de informação e de comunicação, levaram

a diplomacia a perder importância e o prestígio que possuiu ate meados do século XX.

A diplomacia tradicional cujas relações Estado - Estado, Governo-Governo já

não é suficiente para fazer face às novas realidades originadas pela emergência de novos

atores, à importância da opinião pública nacional face aos problemas internacionais e à

influência da Opinião Pública Internacional resultado do fator CNN. Nos últimos anos

os novos problemas, as novas tecnologias e os novos atores reduziram a influência

política das embaixadas( Riordan, 2005). Além disso, ao não valorizar a opinião publica

do país na definição de seus projetos e iniciativas, decididas a portas fechadas pelos que

ocupam as posições de mais alta hierarquia do Ministério de Relações Internacionais,

estabelecem um fosso entre a população e os diplomatas de maior status.

A imprensa escrita e as agencias de noticias, o telégrafo, o radio e a televisão

foram as ferramentas utilizadas para fazer chegar ao conhecimento público as ações do

Estado no âmbito internacional, mas ao mesmo tempo diminuíram a liberdade dos

embaixadores, que passaram a ser obrigados a prestar conta de suas ações às autoridades

nacionais (Tigau, 2009).

A decadência gradual da diplomacia tradicional resultou de cinco razões:

a) a passagem da democracia fechada para a aberta o que deu ao povo poder no

âmbito internacional;

b) a importância da opinião pública promovida por uma sociedade mais

participativa, melhor informada e com melhores níveis de vida;

c) o desenvolvimento dos meios de comunicação e de transporte, que

diminuíram a autonomia do diplomático;

d) a globalização dos problemas e das relações, na medida em que o mundo

tornava-se menor e interdependente;

e) o aumento do clima de violência na linguagem utilizada nas negociações e

nas incitações à revolta de certos governos, estratégia adotada pelos EUA

através da Voz da América no período da Guerra Fria (Pino,2001).

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Tais fatos tiveram três consequências importantes no trabalho dos diplomatas: a)

restringiu-se sua autonomia; b) em situações importantes eles foram substituídos pelos

políticos, e c ) a diplomacia desenvolve-se no terreno da técnica, onde atuam os

especialistas,e não os diplomatas ( Pino,2001).

Nos Estados as organizações não governamentais, empresas e inclusive

cidadãos exercem pressão para intervir nos assuntos internacionais. “O

reconhecimento da influência de algumas ONGs levou alguns Ministérios como o

Foreign Office britânico a integrar especialistas de Anistia Internacional em sua seção

de direitos humanos.Multinacionais petrolíferas, por sua parte, dedicam um pequeno

capítulo de seu esforço e seu dinheiro a projetos de promoção dos direitos humanos em

países como a Nigéria.Pessoas como o Professor da Universidade de Harvard Herbert

Kelman, promovem iniciativas para resolver conflitos de Oriente Médio ou Siri Lanka,

enquanto o escritor Gabriel García Márquez tenta intermediar o conflito colombiano

(Marin, 2000)

A diplomacia, também denominada clássica, como consequência das

transformações apontadas, com a revolução provocada pela Internet nos anos 80,tem

sido obrigada a adaptar-se às novas tecnologias trazidas pela e-Diplomacia, diplomacia

on line ou diplomacia em rede que levou à diminuição da mobilidade dos embaixadores

e à diminuição do numero de reuniões e viagens ao exterior.

As alterações ocorridas no campo da Diplomacia, como na atuação dos

diplomatas, desencadearam debates acalorados. Para os que consideram que ela já não

é um instrumento capaz para resolver os conflitos contemporâneos, permanecendo

como responsável pela coordenação de um conjunto de ações protocolares nas relações

entre os Estados, mas sem o poder que anteriormente possuía por delegação do Chefe de

Estado, a Diplomacia perdeu sua funções tradicionais.

Outro é o argumento daqueles que, apesar de considerarem a perda de prestígio e

de poder da Diplomacia, ainda a consideram importante, na medida em que ela passe

por mudanças profundas e que surja o “novo diplomata” preparado para atuar num

mundo globalizado e interdependente, que passe a conhecer e utilizar em suas

atividades as “ novas tecnologias”.

O novo diplomata deve estar preparado para o uso das TIC, com o objetivo de

facilitar,comunicar e tornar transparente suas atividades.A necessidade da transferência

rápida das informações obriga ao técnico-diplomáticos “modernos a estarem preparados

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para realizar e enviar informações precisas e urgentes para seus governos (Coutigno,

2012) .

DA DIPLOMACIA TELEGRÁFICA À CIBERDIPLOMACIA

O telégrafo, inventado por Samuel Morse em 1832,separou as

comunicações dos transportes e, por primeira vez, deixou de ser necessário enviar

mensagens ou “cabos”aos governantes estrangeiros através de mensageiros.Encurtaram-

se as distancias e, principalmente, o tempo; e as representações dos países no exterior

passaram a estar conectadas entre si e à sua capital. Mas foi a partir dos anos 80, com o

surgimento da Internet, que ocorreu a revolução tecnológica que transformou os meios

de comunicação que interconectaram todos os países, povos e culturas do planeta.

Esta nova tecnologia rapidamente avançou níveis mais elevados de

desenvolvimento da informação e da comunicação, alterando as atividades econômicas,

culturais, políticas e a vida cotidiana das pessoas

A diplomacia tradicional dos países está sendo obrigada, gradualmente, a

incorporar novos instrumentos digitais para suas comunicações. Essas transformações

deram origem à denominada diplomacia publica que passou a desenvolver algumas de

suas ações on line, e outros instrumentos da ciberdiplomacia ou DP 2.0 (Terrés,2011).

Os principais países que já aderiram a ela são os Estados Unidos, o Reino Unido, a

China e a Índia, tendo já constituído equipes de diplomatas e de técnicos em TIC para

acelerar o oficio diplomático e fazer chagar ao cidadão médio de seu país e dos demais

países informações sobre processos e fatos que ocorrem em diversos pontos do mundo.

A diplomacia tradicional caracteriza-se pelo sigilo de suas decisões, ao

segredo que cercam muitas informações e à reduzida importância atribuída à opinião

pública nacional e internacional; dela somente participam diplomatas com formação

especializada adquirida em Academias Diplomáticas.

A diplomacia pública de um país desenvolve regularmente contatos com

governos estrangeiros e populações de outros Estados. Sua função é estabelecer e

assegurar relações de confiança e de cooperação que criem um clima favorável ao

desenvolvimento de ações conjuntas com outros Estados. Seus membros são indivíduos

responsáveis de conduzir a diplomacia pública, segundo um conjunto de estratégias

através das quais governos, grupos privados e indivíduos influenciam as atitudes e

opiniões de outros governos e indivíduos para incidir em suas decisões de política

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exterior. Gifford Malones considera a diplomacia pública “ uma comunicação direta

com estrangeiros com o propósito de influenciar sua forma de pensar e seus governos”

(Terrés,2011).

A diplomacia pública, à diferença da tradicional, esta voltada à promoção de

relações, não apenas com os governos, mas também com os cidadão de outros estados

e ONGs dedicadas a múltiplos problemas enfrentados pelas populações de outros

países. Na diplomacia pública: a) os atores internacionais são cada vez menos

tradicionais e as organizações não- governamentais adquirem crescente proeminência;

b) esses atores comunicam-se com públicos mundiais, cada vez com maior frequência,

através de novas tecnologias ( particularmente a Internet); c) estas novas tecnologias

apagaram as linhas rígidas que separavam as esferas das noticias nacionais e as

internacionais; d) a diplomacia pública utiliza cada vez com maior frequência conceitos

que, por um lado são de natureza mercadológica e, por outro, de conceitos da teoria da

comunicação em redes; e) o mais importante tal vez seja que a nova diplomacia

pública fala de um distanciamento do ator e uma aproximação da população na

comunicação da época da Guerra Fria, e da chegada de uma nova ênfase no contacto

de pessoa a pessoa para o esclarecimento mutuo, no qual o ator internacional

desempenha o papel de facilitador, e g) neste modelo, a antiga insistência na

transmissão hierárquica das mensagens de cima para baixo fica eclipsada e passa a ser

primordial para nova diplomacia pública a “construção de relações (Cull, s/d).

A chegada da nova diplomacia pública no inicio do novo milênio provocou a

grande revolução nas comunicações com a web 2.0, inventada por Alec Ross no ano

2009, com a missão de modificar a imagem americana no mundo muçulmano.

Com a chegada ao poder de Barack Obama a diplomacia digital passou a ter

uma importância estratégica nas s relações exteriores dos EUA; as redes sociais

passaram a ocupar uma posição central na política externa norte- americana e uma

estratégia de influência internacional.

Na origem desta nova “diplomacia digital”- também denominada “Twitter

diplomacy” ou “on line diplomacy”- , Alec Ross, Assessor da Secretária de Estado

Hillary Clinton, coordenou o programa numérico da campanha de Obama.No

Departamento de Estado, este jovem revolucionou os métodos da diplomacia utilizando

novas tecnologias como o Twiter, o Facebokk, My Life e os blogs. A Oficina sob sua

responsabilidade contava, quando foi adotada, com 150 profissionais in situ e,

aproximadamente, 900 distribuídos pelo mundo.

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No dia 4 de junho de 2009, Barack Obama começou seu discurso na

Universidade do Cairo e suas palavras alastraram-se pelo mundo muçulmano. Pela

primeira vez, a administração Obama testava na cena internacional sua ultima criação:a

diplomacia digital.Através da estratégia diplomática das redes sociais o Presidente

pretendia conectar-se com os jovens muçulmanos de todo o mundo.

O surgimento no inicio do ano 2000 da segunda geração da internet, a

denominada Web 2.0, que excede a comunicação unidirecional (Web 1.0) e possibilita a

interação através de múltiplas plataformas (Facebook, Spotify, aplicações móveis, etc),

redobrou sua presença na vida diária dos cidadãos. Os 70 milhões de blogs ou os 200

milhões de usuários do Twiter – aproxima-se do número similar de seu análogo chinês,

Weibo.

A diplomacia digital consiste numa espécie de Open Govemment aplicado à

esfera internacional, devidamente filtrado pela linguagem diplomática.A ideia-força é

que se cada cidadão tem o potencial de ser um informante, um jornalista ou um

analista –via web-, os diplomáticos, cooperantes e funcionários, também podem sê-lo,

fazendo uso de ferramentas como Twitter, You tube, Flickr ou criando blogs e nós

especializados de trabalho, servido assim os interesses de seu país (Andreu, 2013).

A Presidente Dilma Roussef utiliza constantemente o Twitter para dar público

conhecimento de suas atividades e iniciativas, e o Presidente Hugo Chávez chegou a ter

três milhões de seguidores, um número significativo, mas muito menor que os 20

milhões de pessoas que seguem o Presidente Barack Obama em sua rede social.

O Departamento de Estado norte-americano tem, aproximadamente, 300 contas

no Twiter, incluindo as embaixadas e os embaixadores; 400 páginas de Facebook e 180

canais no YouTube, utilizados para em sua atividade diplomática.

O atual Chanceler brasileiro, poucos dias após sua posse ocorrida 28 de agosto

de 2013, deixou claro que pretendia reforçar a proposta de lançamento de consultas

públicas sobre assuntos de interesse nacional e que envolvam diretamente o Itamaraty.

Para o ministro, é fundamental ampliar o espaço de discussões nas redes sociais Twitter

e Facebook, assim como no blog do Itamaraty. Em conversas com assessores, ele

costuma dizer que esses são os canais de contato com a sociedade civil, o que define

como diplomacia pública. (O GLOBO, 04/04/2014).

No Brasil as mídias sociais ainda são pouco utilizadas pela Diplomacia. O

Facebook “ItamaratyGovBr”, em 2014, tinha somente 30,1 mil seguidores e 108

postos localizados em diversos países ( Embaixadas e Consulados). O Twitter oficial

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“@itamaratyGovBr” tinha 99,1 mil seguidores e 10,9 mil tweets e 20 Postos, com perfil

no twitter ( Embaixadas e Consulados), localizados em alguns países.

Para aprofundar o diálogo entre governo e sociedade sobre o papel do

Brasil no mundo, o Ministério das Relações Exteriores organizou, entre os

dias 26 de fevereiro e 2 de abril de 2014, no Palácio Itamaraty, em Brasília, a

série de debates sobre a política externa brasileira intitulados "Diálogos sobre

Política Externa".

Os eventos contaram com a participação de jornalistas, parlamentares,

acadêmicos, empresários, sindicalistas e representantes de movimentos

sociais.

Os eixos de debate incluíram temas culturais e educacionais, promoção

comercial, Oriente Médio, África, América do Sul e a integração regional, as

relações do Brasil com países desenvolvidos, governança internacional,

brasileiros no exterior, cooperação, a política comercial brasileira, Ásia,

BRICS e IBAS, mudança do clima, desenvolvimento sustentável, ciência,

tecnologia e energia.

Os Diálogos inscrevem-se também no processo de elaboração pelo

Itamaraty de um Livro Branco da Política Externa Brasileira, que terá como

objetivo registrar e divulgar princípios, prioridades e linhas de ação da

política externa, bem como estimular o debate público sobre o trabalho

realizado pelo Itamaraty.

Tanto os Diálogos quanto o Livro Branco são parte do esforço permanente

do Itamaraty de dar maior transparência às suas atividades e de fortalecer os

canais de interação com a sociedade, sempre tendo em vista o propósito mais

amplo de ampliar a atuação internacional do Brasil (MRE,2014).

Em países que já possuem uma diplomacia digital mais desenvolvida, utilizam-

se, também, outros instrumentos como páginas web,blogs,bases de dados,plataformas

de crowdsourcing, foros de ideias e intranets.A página web dos ministérios de relações

exteriores é o principal meio de acesso às informações disponíveis on line assim como

nas embaixadas dos países. Os diplomatas, cada vez mais, têm criado seus próprios

blogs e os hospedam nos sites de seus ministérios de relações exteriores ou embaixadas

correspondentes. Os blogs aproximam os diplomatas da população do país onde prestam

serviço, exercendo uma influencia na sociedade civil e aprofundando seus

conhecimentos sobre as características culturais, sociais e políticas da sociedade na qual

está representando seu país.

A segurança dos novos recursos de comunicação resultantes da revolução

provocada pela Internet, todavia, não é absoluta. Com o surgimento e a expansão da

ciberespionagem, a privacidade e o sigilo das mensagens correm sempre o risco de

serem violadas por hackers a serviço de empresas, governos ou por motivos comerciais.

A espionagem é um método de guerrilha utilizada há séculos por

praticamente todos os povos que um dia guerrearam. Contudo, a capacidade

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atual de coleta e análise de informações sobre inimigos declarados, supostos

oponentes e até aliados político-econômicos, por algumas nações é

extremamente alta. Como é o caso confesso dos Estados Unidos, no qual o

presidente Barack Obama assumiu as responsabilidades dos programas de

ciberespionagem da NSA (Rodrigo, 2014).

As revelações de mais de 250 mil documentos secretos pelo site WikiLeaks

abriu um intenso debate na comunidade internacional, no campo da diplomacia, do

jornalismo e, particularmente, nos Estados. Na opinião do analista e ex-diplomata

britânico, Carne Ross, o impacto no discurso e na prática diplomática será profundo,

pois “ demasiada diplomacia é mantida em segredo”.

WikiLeaks possibilitou a aproximação a um mundo desconhecido.O dilema é se

essa janela desencadeará mudanças profundas e necessárias no funcionamento da

diplomacia,ou se voltara a fechar-se ainda mais hermeticamente (Soukiassian,2013)

A espionagem pode levar a retrocesso na “liberdade” da web. Estados, empresas

e pessoas estão perdendo a confiança na internet e nos meios de comunicações digitais

com transações feitas via web, principalmente após as revelações de Edward Snowden.

Mas, apesar de todos os riscos que se corre, já não é mais possível dispensar o uso dos

recursos digitais em todos os campos de atividades. O que é urgente é que os países

tomem iniciativas para impedir a invasão da privacidade dos usuários das redes virtuais

de comunicação. Normas claras de comportamento dos Estados na área da informação e

telecomunicações devem ser estabelecidas para assegurar a segurança cibernética que

proteja os direitos dos cidadãos e preserve a soberania dos países.

Quanto à diplomacia afirma Juan Luis Manfred, é necessário hackear

que consiste en la modificación, la reconfiguración y la reprogramación de

las actividades profesionales para pensar y ejecutar una estrategia acorde al

nuevo entorno estratégico. Hay que intervenir y transformar la forma de

organizar el servicio exterior, de establecer las relaciones exteriores con los

ciudadanos y, en síntesis, de hacer diplomacia. El nuevo ecosistema no se va

a conformar con un subproducto de la actividad, sino que reclama un cambio

en las competencias y habilidades profesionales, que se sumen a las

tradicionales. Se trata, pues, de pensar dónde se genera ahora el valor añadido

y orientar la misión hacia la nueva encomienda (Manfredi,2013).

A diplomacia digital é uma realidade. Acadêmicos, jornalistas e cidadãos a

utilizam com os mais diversos objetivos. O serviço exterior da maioria dos países,

entretanto, avança muito lentamente em sua utilização nas atividades diplomáticas o

que origina desvantagens no acesso à informação e no poder de ação. Somente

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definindo uma estratégia de longo prazo de diplomacia digital poderão aproveitar as

oportunidades abertas por ela e aumentando seu poder de influência internacional

CONCLUSÕES

Grandes transformações ocorreram na política internacional no decorrer do

século XX, menos na diplomacia.Por sua natureza e estreita vinculação com o Estado

ela possui uma natureza conservadora. Desde o inicio da fase westfaliana à chegada nos

anos 90 da diplomacia digital, ou diplomacia 2.0, poucas foram as mudanças em suas

práticas e instrumentos. Ainda predominam as estratégias criadas num mundo bipolar

pouco eficazes para um mundo multipolar.

Na etapa westfaliana, os estados nacionais eram os atores centrais da

sociedade internacional e as relações entre eles eram de responsabilidade de seus

representantes no exterior vinculados aos ministérios de relações exteriores de seus

países.

Nas últimas décadas do primeiro Milênio, a crescente interdependência da

sociedade internacional e à aceleração do processo de globalização, o Estado

westfaliano entrou em crise e novos atores internacionais emergiram no cenário

internacional. O mundo interconectado trouxe consigo a configuração da sociedade da

informação e do conhecimento e a emergência de novos atores de grande importância e

poder: a opinião pública mundial, as empresas multinacionais, as ONGs , os blocos

econômicos e grupos terroristas.

As redes sociais transformaram-se em ferramentas poderosas, e estão

diminuindo o poder dos porta-vozes e meios de comunicação tradicionais, mas

principalmente, o poder da diplomacia tradicional.

O mundo transforma-se velozmente. A revolução das comunicações colocou a

internet no centro do campo da batalha internacional, principalmente quando os

conflitos atuais ocorrem mais nos âmbitos cultural, econômicos e das ideias do que no

militar. Vive-se uma época, na qual os atores internacionais proliferaram, assim como o

número de interlocutores dos Estados expostos a novos desafios.

Novas competências profissionais passaram a ser exigidas à diplomacia, que sem

abandonar as práticas convencionais adequadas, integrem a inovação, os novos meios e

as redes em suas atividades diárias.

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