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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE NUTRIÇÃO PREVALÊNCIA DE DESNUTRIÇÃO ENTRE PACIENTES CRÍTICOS IDOSOS E NÃO IDOSOS ANIELLY FLORENCE DE MACEDO Cuiabá-MT, fevereiro de 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE NUTRIÇÃO

PREVALÊNCIA DE DESNUTRIÇÃO ENTRE PACIENTES

CRÍTICOS IDOSOS E NÃO IDOSOS

ANIELLY FLORENCE DE MACEDO

Cuiabá-MT, fevereiro de 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE NUTRIÇÃO

PREVALÊNCIA DE DESNUTRIÇÃO ENTRE PACIENTES

CRÍTICOS IDOSOS E NÃO IDOSOS

ANIELLY FLORENCE DE MACEDO

Trabalho de Graduação apresentado ao Curso de

Nutrição da Universidade Federal de Mato

Grosso como parte dos requisitos exigidos para

obtenção do título de Bacharel em Nutrição, sob

orientação da professora Drª Diana Borges Dock

Nascimento.

Cuiabá-MT, fevereiro de 2018

6

6

6

AGRADECIMENTOS

À Deus por ter me dado e forças para superar as dificuldades.

À minha mãe Josiane e ao meu marido Luiz Bruno, pelo amor, incentivo e apoio

incondicional.

À minha orientadora Diana Dock, pelo suporte, correções, incentivos e auxílio em

todo decorrer dessa caminhada.

E à professora Géssica Fraga, que sem ela nada disso seria possível.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 6

2 OBJETIVOS.................................................................................................................... 10

2.1 OBJETIVO GERAL................................................................................................... 10

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................................... 10

3 MÉTODO......................................................................................................................... 11

4 RESULTADOS................................................................................................................ 14

5 DISCUSSÃO.................................................................................................................... 19

6 CONCLUSÃO.................................................................................................................. 22

7 REFERÊNCIAS............................................................................................................... 23

6

RESUMO

Nas unidades de terapia intensiva a taxa de desnutrição pode atingir cerca de 80% dos pacientes (em grupos

heterogêneos). Essa desnutrição hospitalar não modificou nos últimos 20 anos e muitos pacientes não são

avaliados nutricionalmente. O objetivo do estudo foi avaliar a prevalência de desnutrição de pacientes críticos

idosos e não idosos. Estudo retrospectivo clínico transversal com 333 pacientes idosos e não idosos de ambos os

sexos. Os dados foram coletados de base secundaria de prontuários de evoluções nutricionais de pacientes

internados em um hospital particular na cidade de Cuiabá-MT. O estado nutricional desses pacientes foi avaliado

pela Avaliação Subjetiva Global (ASG) e por exames bioquímicos. Os resultados mostraram que os pacientes

idosos são significativamente mais desnutridos que os não idosos, apresentam aumento do risco para

desnutrição, mortalidade e para a presença de duas ou mais DCNT. Pacientes críticos idosos internam mais

desnutridos que os não idosos. Esses pacientes também apresentam risco aumentado para desnutrição, ocorrência

de óbito e para a presença de duas ou mais doenças crônicas não transmissíveis.

PALAVRAS-CHAVE: idoso; desnutrição; cuidados críticos; estado nutricional.

ABSTRACT

In intensive care units the malnutrition rate can reach about 80% of patients. This hospital malnutrition has

not changed in the last 20 years and many patients are not nutritionally evaluated. The objective of the study

was to evaluate the prevalence of malnutrition in critically ill elderly and non-elderly patients. Retrospective

clinical study with 333 elderly and non-elderly patients of both sexes. Data were collected from a secondary

database of nutritional evolution charts of patients admitted to a private hospital in the city of Cuiabá-MT. The

nutritional status of these patients was evaluated by the Global Subjective Assessment (SGA). The results

showed that the elderly patients are significantly more malnourished than the non-elderly, presenting an

increased risk for malnutrition, mortality and the presence of two or more CNCDs. Older critically ill patients

are more malnourished than non-elderly. These patients are also at increased risk for malnutrition, death and

for the presence of two or more chronic non-communicable diseases.

KEY WORDS: Elderly, malnutrition; critical care; nutritional status.

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1. INTRODUÇÃO

A condição nutricional do paciente na internação e durante o tempo de permanência

na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) influencia diretamente na sua evolução clínica e nos

desfechos. A atenção deve ser ainda maior em paciente críticos ou gravemente enfermos, que

evoluem rapidamente com perda de massa magra devido a resposta aguda ao trauma (GINER

et al., 1996).

Esse paciente crítico geralmente apresenta diversas alterações metabólicas provocadas

pela doença grave que os tornam pacientes em risco nutricional ou desnutridos graves. Essa

evolução rápida para a desnutrição contribui para o aumento no tempo de internação, aumento

de complicações infecciosas e não infecciosas, aumento na taxa de mortalidade e nos custos

hospitalares (BRASIL, 2011; SANTOS et al., 2016).

Entre os pacientes que internam na UTI a atenção maior deve ser dada aos idosos, uma

vez que cerca de 50 a 60% dos pacientes internados, é composta por indivíduos com idade de

60 anos ou mais. O envelhecimento é um processo biológico natural que envolve o declínio

das funções fisiológicas e funcionais. Todavia as alterações diferem entre os indivíduos e os

sistemas orgânicos. Sendo assim, fatores socioeconômicos, genéticos, presença de doenças e

o estilo de vida determinam como ocorrerá o processo de envelhecimento de um indivíduo

(MAHAN, 1998).

As alterações fisiológicas, sociais, psicológicas e econômicas, assim como a perda da

capacidade funcional e da autonomia, são responsáveis pelos distúrbios nutricionais

6

observados em indivíduos nessa faixa etária (UNICOVSKY, 2004). É importante ter atenção

à população idosa, uma vez que a estimativa é de aumentar cerca de 11 a 22% em 2050. No

Brasil estima-se que a expectativa de vida para 2025 seja de 80 anos (FIEDLER e PERES,

2008).

Os idosos apresentam além do aumento de gordura e declínio da massa muscular

esquelética, uma redução do teor de água, bem como do seu desempenho físico, conferindo a

eles maior probabilidade de quedas, fraturas, incapacidade, dependência, hospitalizações

recorrentes e aumento da mortalidade (GRAAFMANS et al., 1996; SILVA et.al, 2006;

JENSEN e HSIAO, 2010).

A redução da massa magra faz parte do processo do envelhecimento que piora a

capacidade física e a performance dos pacientes idosos. A sarcopenia é o termo utilizado para

descrever essa perda muscular e as suas implicações na saúde da população de idosos (CRUZ-

JENTOFT, 2010).

A sarcopenia é definida como uma síndrome que envolve a perda progressiva e

generalizada da massa muscular esquelética, da força muscular e ou da performance. Esta

pode ser classificada de acordo com a gravidade, sendo a pré-sarcopenia o estágio onde é

considerada somente a perda da massa muscular, sem impacto sobre a função, ou seja, na

força e desempenho físico. Já a sarcopenia é caracterizada pela perda da massa muscular

além da diminuição da força muscular ou baixo desempenho físico. Já a sarcopenia grave é

identificada quando os três critérios acima estão abaixo do padrão desejável, ou seja, existe

perda da massa muscular, da força e da performance (CRUZ-JENTOFT, 2010).

Por outro lado, os pacientes críticos não idosos também podem internar desnutridos ou

desnutrirem ao longo da internação hospitalar. Entretanto do ponto de vista nutricional,

metabólico e clínico os pacientes idosos podem apresentar pior evolução durante a internação

na UTI que os pacientes mais jovens (LEROLLE et al., 2010).

7

6

Estudos mostraram que o envelhecimento é preditor independente de mortalidade para

pacientes idosos (YANG et al., 2010; PALOMBA et al., 2015). Outros estudos encontraram

que a idade foi associada ao aumento significativo do risco de óbito em pacientes idosos

(MARTIN et al., 2006; BLOT et al., 2009).

Devido ao quadro clínico destes pacientes, é necessário que eles recebam um suporte

nutricional e terapêutico adequado durante todo período de internação para melhora clínica e

nutricional bem como dos desfechos (DOMICIANO, 2011). A partir do momento que os

pacientes críticos melhoram e não possuem mais risco iminente de morte eles podem receber

alta da unidade (JAPIASSÚ et al., 2009; RODRIGUES et al., 2016).

Nesse contexto desnutrição, é válido lembrar que há vários fatores que interferem

diretamente na oferta da dieta e na aceitabilidade da dieta oral. Alguns destes fatores são:

inapetência, sintomas gastrointestinais, anorexia, má digestão ou má-absorção dos alimentos,

entre outros.

Além do mais, a doença grave tem como ponto em comum a inflamação sistêmica,

que promove alterações metabólicas como: hipermetabolismo, hiperglicemia com resistência

à insulina, lipólise acentuada e aumento do catabolismo protéico, as quais interferem em todo

o suporte nutricional, tornando os pacientes críticos mais suscetíveis à desnutrição e

complicações (AMB, 2011; DUARTE et al., 2016; SANTOS et al., 2016). Como

consequência, eles apresentam redução da imunidade, aumento do risco de infecções,

hipoproteinemia e edema, bem como a redução de cicatrização de feridas, aumento da chance

de readmissões e tempo de permanência (DUARTE et al., 2016).

Assim como os pacientes idosos já internam com uma importante alteração na sua

composição nutricional ou em desnutrição a equipe deve identificar nas primeiras 12 a 24

horas da internação os pacientes em risco nutricional ou desnutridos (LIGUORI et al.; 2018).

A introdução do suporte nutricional deve ocorrer de forma cautelosa, pois ocorre um

aumento das necessidades nutricionais ao mesmo tempo em que há dificuldade em suprir

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esses requerimentos (MAICÁ e SCHWEIGERT, 2008). A correção de distúrbios

metabólicos, como hiperglicemia, e a oferta de nutrientes específicos podem reduzir a

morbimortalidade dos pacientes críticos. Além disso, a equipe de nutrição deve assegurar a

esses pacientes idosos uma avaliação nutricional rápida e eficaz que seja capaz de identificar

as alterações nutricionais para condutas terapêuticas que possam contribuir para a redução da

desnutrição, das complicações e da mortalidade na UTI (LIGUORI et al.; 2018).

Portanto a hipótese desta investigação é de que pacientes idosos críticos são mais

desnutridos que os pacientes não idosos.

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2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

• Avaliar a prevalência de desnutrição de pacientes críticos idosos e não idosos.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Caracterizar a amostra;

• Avaliar o estado nutricional dos pacientes internados,

• Determinar o tipo de tratamento dos pacientes estudados,

• Avaliar os pacientes com terapia nutricional,

• Identificar a necessidade calórico proteica dos pacientes estudados,

• Averiguar os exames bioquímicos dos pacientes estudados,

• Verificar a prevalência de DCNT dos pacientes estudados,

• Quantificar o tempo de internação dos pacientes estudados,

• Avaliar a frequência de óbito dos pacientes estudados,

• Comparar a presença da desnutrição com as varáveis estudadas.

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3. MÉTODOS

Trata-se de um estudo retrospectivo, de corte transversal realizado com 333 pacientes

idosos e não idosos de ambos os sexos, internados em duas unidades de terapia intensiva

(UTI) do hospital Santa Rosa em Cuiabá-MT no período de janeiro a maio de 2016.

3.1 INSTRUMENTOS, MEIO PARA COLETAS E DADOS

Os dados foram coletados de base secundaria através do levantamento de dados

disponíveis em prontuários de evolução nutricionais de pacientes que foram submetidos à

internação na UTI do hospital.

3.2 VARIÁVEIS INVESTIGADAS

Condição nutricional na internação,

Idade e sexo,

Peso corporal estimado,

Tipo de tratamento (clínico, cirúrgico e oncológico),

Presença de duas ou mais DCNT,

Tempo de internação,

11

6

Necessidade de terapia nutricional,

Necessidade calórica e proteica,

Exames bioquímicos,

Mortalidade na UTI.

Para a avaliação do estado nutricional o serviço utilizou à avaliação subjetiva global

(ASG). Essa avaliação classifica o paciente como nutrido (ASG=A), em risco nutricional ou

moderadamente desnutrido (ASG=B) e desnutrido grave (ASG=C).

Os exames bioquímicos investigados foram a média de três resultados da albumina

sérica (g/dL), proteína C reativa (PCR mg/L), lactato (mmol/L), glicemia sérica (mg/dL) e

razão PCR/albumina coletados na primeira semana.

3.3 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Foram excluídos da amostra, pacientes que não possuíam no prontuário o estado

nutricional inicial, ou o desfecho do paciente.

3.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS

Para as análises estatísticas, foi utilizado o teste do Qui-quadrado ou de Fisher para

análise das variáveis categóricas. Todas as variáveis contínuas foram, inicialmente, analisadas

pelo teste de Levene para averiguar a homogeneidade, seguida do teste de Kolmogorov-

Smirnov para determinar a normalidade. Os dados homogêneos e com distribuição normal

foram analisados estatisticamente pelo teste t de Student para amostras independentes. Os não

homogêneos foram avaliados pelo teste não paramétrico de Mann Whitney. Os resultados

foram expressos média e desvio padrão (DP) ou mediana e variação. Estabeleceu-se um limite

de significância estatística de 5% (p< 0,05). Os dados serão tabulados e analisados utilizando

o programa SPSS 20.0 (Statistical Package for the Social Sciences).

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3.6 ASPECTOS ÉTICOS

Para realização dessa pesquisa inicialmente foi solicitada a autorização para o

desenvolvimento da pesquisa à Coordenadoria da unidade de terapia intensiva do hospital

particular de Cuiabá-MT e posterior encaminhamento do projeto para aprovação no Comitê

de Ética e Pesquisa. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HUJM

através do protocolo n° 895/ CEP – HUJM/ 2010 e atendeu a Resolução 196/96 – Conselho

Nacional de Saúde. Vale destacar que este estudo teve dispensa do termo de consentimento

livre e esclarecido (TCLE).

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4. RESULTADOS

Foram estudados retrospectivamente 333 pacientes idosos e não idosos críticos, com

idade média de 65±17,7 (18-97) anos. Os dados relacionados as variáveis contínuas

investigadas encontram-se na Tabela 1. Em relação ao sexo, 163 (48,9%) pacientes eram do

sexo masculino e 170 (51,1%) do feminino. A terapia nutricional foi prescrita para 93,4%

(n=311) dos pacientes.

Tabela 1 - Idade, dados nutricionais, exames bioquímicos e tempo de internação dos

pacientes críticos estudados. Valores expressos em média e desvio padrão mediana e

variação.

Variável M ± DP Medina e Variação

Idade (anos) 65 ± 17,7 68 (18-97)

Peso corporal (kg) 70,8 ± 17,5 70 (18-150)

NC (kcal) 1755 ± 319 1750 (630-2800)

NP(g/ptn) 93,5 ± 23,6 90 (27-172)

PCR 123,5 ± 98,6 97,9 (38-484)

Albumina 2,87 ± 0,56 2,8 (1,2-4,2)

PCR/Albumina 46,8 ± 42,6 32,6 (1,09-225,5)

Lactato 20,5 ± 9,9 18,3 (6,7-76,5)

Glicemia mg/dL 172,4 ± 64,3 157 (14,3-542)

Tempo internação

(dias)

18,1 ± 16,4 14 (3 – 136)

NC: necessidade calórica; NP: necessidade proteico; PCR: Proteína C Reativa

14

6

Entre os pacientes estudados cerca de 56,3% (n=129) apresentavam duas ou mais

DCNT (Figura 1).

Figura 1 - Presença de duas ou mais doenças crônicas não transmissíveis nos pacientes

críticos estudados.

Em relação ao estado nutricional da população estudada 9 (2,7%) pacientes estavam

eutróficos, 169 (72,1%) estavam em risco nutricional ou desnutrido moderado e 84 (25,2%) já

internaram desnutridos graves (Figura 2).

Figura 2- Estado nutricional na internação dos pacientes críticos estudados.

56,3%

43,7%

Sim

Não

Eutrófico 2,7%

Risco nutriconal ou Desnutrido

moderado72,1%

Desnutrido grave 25,2%

15

6

Quarenta e nove pacientes (14,8%) internaram para tratamento oncológico, 72

(21,7%) para intervenção cirúrgica e 211 (63,6%) para tratamento clínico. Esses dados estão

descritos na Figura 3.

Figura 3 - Tipo de tratamento dos pacientes críticos estudados.

A comparação de médias entre os pacientes idosos e não idosos mostrou que os idosos

tem peso corporal menor (p=0,01), necessitaram de menos calorias (p=0,02), menos proteínas

(p<0,001) e apresentaram aumento do lactato sérico (p<0,001) e da glicemia (p=0,001). Os

idosos também mostraram uma tendência a maior valores de PCR (p=0,06). Esses dados estão

descritos na Tabela 2.

De acordo com a Tabela 3 os dados mostraram que houve uma frequência maior de

pacientes idosos do sexo feminino (p=0,02), desnutridos (p=0,03), com duas ou mais DCNT

(p=0,001), com diagnóstico clínico de tratamento (p<0,001) e com maior taxa de óbito

(p=0,008).

63,6%

21,7%

14,8%

0 10 20 30 40 50 60 70

Clínico

Cirúrgico

Oncológico

16

6

Tabela 2 - Comparação de média (DP) das variáveis estudadas em relação a faixa etária

dos pacientes críticos investigados.

Variáveis Não idoso Idoso p

Peso corporal (Kg) 73,7 ±20 69,5 ± 15,7 0,01 MW

Necessidade calórica (Kcal) 1818 ± 35 1729 ± 261 0,02 MW

Necessidade proteicas (g) 101,5 ± 27,1 90,0 ± 20,7 <0,001MW

PCR (mg/L) 138,6 ± 105,9 116,5 ± 94,7 0,06

Albumina (g/dL) 2,83 ± 0,58 2,88 ± 0,55 0,51

Razão PCR/Albumina 53,9 ± 49,6 44,1 ± 40,6 0,11

Lactato sérico (mmol/L) 17,7 ± 7,0 21,7 ± 10,8 0,13

Glicemia (mg/dL) 154,2 ± 56,7 180,7 ± 66,1 <0,001MW

Tempo de internação (dias) 17,0 ± 14,3 18,7 ± 17,2 0,38

PCR: proteína C reativa

Tabela 3 - Distribuição de diversas variáveis estudadas em relação a faixa etária dos

pacientes críticos investigados.

Variáveis Não idoso Idoso p

Sexo Masculino 101/163 (62,0%) 61/163 (38%) 0,02

Desnutrido 40/154(26,0%) 114/154 (74%) 0,039

Desnutrido grave 21/83 (25,3%) 62/83 (74,7%) 0,15

Diagnóstico clínico 50/210 (23,8%) 160/210 (76,2%) <0,001

Diagnóstico cirúrgico 38/72 (52,3%) 34/72 (47,7%) <0,001

Neoplasia 17/49 (34,7%) 32/49 (65,3%) 0,62

DCNT≥2 15/129 (11,6%) 114/129 (88,4%) 0,001

Terapia nutricional 96/310 (31,0%) 214/310 (69%) 0,33

Óbito 20/123 (16,3%) 95/123 (83,7%) 0,008

DCNT: doença crônica não transmissível

A mortalidade ocorreu em 123 (37,2%) pacientes críticos. O risco de óbito para os

pacientes idosos foi 1,97 vezes maior quando comparado aos não idosos (OR1,97 IC95%

1,19-3,28; p=0,008). Os idosos também tem mais risco de desnutrição (OR 1,63 IC95% 1,02-

2,62; p=0,03) e de apresentaram duas ou mais doenças crônicas não transmissíveis (OR 3,1

IC95% 1,56- 6,2; p=0,001). Esses dados estão descritos na Tabela 4.

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Tabela 4 – Razão das chances e intervalo de confiança 95% para faixa etária de idosos

(idade ≥ 60 anos) de acordo com a ocorrência de óbito, presença de desnutrição e de

duas ou mais doenças crônicas não transmissíveis.

Variáveis Frequência Odds Ratio IC 95% p

Óbito 95/123 vs 28/123 1,97 1,19 – 3,28 0,008

Desnutrição 114/154 vs 40/154 1,63 1,02 – 2,62 0,039

DCNT≥2 114/129 vs 15/129 3,10 1,56 – 6,20 0,001

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9

6

5. DISCUSSÃO

Os resultados do presente estudo mostraram que os pacientes idosos são

significativamente mais desnutridos que os não idosos, apresentam aumento do risco para

desnutrição, mortalidade e para a presença de duas ou mais DCNT.

A literatura atual sustenta que a desnutrição hospitalar, em um grupo de pacientes

críticos, pode atingir cerca de 80% (LEW et al., 2016). Recentemente um artigo de revisão

mostrou que as taxas de desnutrição não se alteraram ao longo dos últimos 20 anos e que

tanto o diagnóstico do estado nutricional como o tratamento da desnutrição são

negligenciados nas unidades hospitalares (LOGAN et al., 2003; WAITZBERG et al., 2017).

Foi visto que pacientes críticos idosos apresentam maior taxa de desnutrição que

pacientes críticos não idosos. A desnutrição e as carências nutricionais específicas ocasionam

a redução da imunidade, aumentando portanto o risco de infecções, hipo proteinemia e edema,

bem como a redução de cicatrização de feridas aumento do tempo de permanência com

consequente aumento dos custos hospitalares, entre outras consequências (OLIVEIRA e

PUCCI., 2002).

O envelhecimento, apesar de ser um processo natural, por si já pode piorar o estado

nutricional dos pacientes críticos idosos. O processo de envelhecimento submete o organismo

a diversas alterações anatômicas e funcionais, com repercussões nas condições de saúde e

nutrição do idoso (PFRIMER e FERRIOLI et al, 2008). Além dos condicionantes específicos

18

9

6

do próprio envelhecimento, existem outros fatores que podem afetar o estado nutricional

dessa população, tais como: situação social (pobreza, isolamento social), alterações

psicológicas (demência, depressão), condição de saúde (doenças crônicas, disfagia,

polifarmácia, alterações na mastigação, perda da capacidade funcional e autonomia), entre

outros (BOSTROM et al., 2011).

As consequências dos fatores de risco acima mencionados estão muitas vezes

associadas ao menor consumo alimentar, tornando os idosos vulneráveis do ponto de vista

nutricional. O desequilíbrio nutricional no idoso está relacionado positivamente ao aumento

da morbimortalidade, à susceptibilidade a infecções e à redução da qualidade de vida. Nesse

estudo foi encontrado que os idosos demandam de menor necessidade quando comparados ao

não idosos. Esse dado é diferente do encontrado por CIAMPONE et al. (2006), que afirma

que quando em ambiente hospitalar, os pacientes idosos e não idosos demandam de iguais

necessidades.

Em nosso trabalho verificamos que os pacientes idosos além de serem mais

desnutridos apresentam uma chance maior de óbito e de terem duas ou mais DCNT. Um

paciente idoso pode internar na UTI por uma agudização da doença crônica, por um processo

infecioso ou trauma. Para esses pacientes a evolução clínica pode ser mais lenta e com

aumento das taxas de complicações bem como piora nutricional (SANTOS et al., 2016). Na

amostra deste estudo, quase 80% dos idosos internaram para tratamento clínico o que pode

confirmar a agudização da doença crônica.

No estudo de CIAMPONE et al. (2006), verificou-se que 84,0% eram portadores de

doença crônica pré-existente, dos quais 97,6% apresentavam 2 ou mais doenças crônicas,

assemelhando-se com o resultado encontrado nesse estudo (88,4% dos idosos internados

apresentaram 2 ou mais DCNT). Além disso, o autor também afirmou que 78,0% das

internações em seu estudo foi por motivos clínicos, também condizendo com o resultado

encontrado nesse estudo.

19

6

Os resultados encontrados no presente estudo têm importantes implicações clínicas

devido à existência de um aumento na demanda de internações na UTI de pacientes idosos, o

que é frequentemente associado com alto custo e disponibilidade global limitada de leitos na

UTI (SALDANHA et al, 2004).

Torna-se fundamental o reconhecimento das particularidades dos idosos durante o

período de internação hospitalar, objetivando a identificação do estado nutricional com a

proposição de formas de atendimento diferenciadas, com dietas específicas para essa

população de pacientes. Isso pode proporcionar uma melhor qualidade no atendimento

nutricional de forma precoce eficaz com o objetivo de reduzir as complicações, a mortalidade

e conseguir alta precoce (SALDANHA et al, 2004).

20

6

6. CONCLUSÃO

Os dados permitem concluir que os pacientes críticos idosos internam mais

desnutridos que os não idosos. Esses pacientes também apresentam risco aumentado para

desnutrição, ocorrência de óbito e para a presença de duas ou mais doenças crônicas não

transmissíveis.

21

6

7. REFERÊNCIAS

AMB - Associação Médica Brasileira (AMB) e Conselho Federal de Medicina. Projeto

Diretrizes: Terapia Nutricional no paciente grave. Brasília, 2011. Disponível em:

<http://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_no_paciente_grave.pdf>.

Acesso em: 10 de fevereiro de 2018.

BLOT, S. et al. Epidemiology and outcome of nosocomial bloodstream infection in elderly

critically ill patients: a comparison between middle-aged, old, and very old patients. Critical

Care Medicine, [s.l.], v. 37, n 5, p. 1634-1641, 2009. Disponível em: <

https://biblio.ugent.be/publication/694722>. Acesso em 13 de fevereiro de 2018.

BOSTRÕM A. M. et al. Nutrition status among residents living in a veterans' long-term care

facility in Western Canada: a pilot study. J Am Med Dir Assoc., [s. L.], v.12, n. 3, p. 217-

225, 2011. Disponível em: <https://www.medscape.com/medline/abstract/21333925>. Acesso

em: 13 de fevereiro de 2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 2.338, de 3 de outubro de

2011. Estabelece diretrizes e cria mecanismos para a implantação do componente Sala de

Estabilização (SE) da Rede de Atenção às Urgências. Diário Oficial da União, Brasília, DF,

3 out. 2011. Disponível:

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2338_03_10_2011.html>. Acesso em:

11 de fevereiro de 2017.

CIAMPONE, J. T. et al. Necessidades de cuidados de enfermagem e intervenções terapêuticas

em Unidade de Terapia Intensiva: estudo comparativo entre pacientes idosos e não idosos.

Acta Paul Enferm, v. 19, n. 1, p. 28-35, 2006. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/ape/v19n1/a05v19n1>. Acesso em: 13 de fevereiro de 2018.

22

6

CRUZ-JENTOFT, A. J. et al. Sarcopenia: European consensus on definition and diagnosis.

Age and Ageing, v.39, n.4, p.412-423, 2010. Disponível em: <

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20392703>. Acesso em: 13 de fevereiro de 2017.

DOMICIANO, F. A. Avaliação nutricional e metabólica em UTI. 2011. Especialização em

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