no porão que queremos - coletivo contraponto

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¡No Porão que queremos! Atualmente o Porão enfrenta graves desafios que têm, nos últimos anos, afastado parcela significativa das e dos estudantes desse importante espaço de integração e convivência universitária. Questões como a violência contra as mulheres, o debate em torno do contrato do bar, o fumo e a ausência de festas têm sido levantadas frequentemente como desafios a serem superados para o Porão se tornar um espaço cada vez mais acolhedor a todas e todos, estudantes ou não, cumprindo um papel fundamental na nossa graduação e no nosso dia a dia. O Coletivo Contraponto toma partido nessa discussão, e propõe um debate amplo sobre o Porão que queremos. ¡NÃO CABE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER! O Porão precisa ser um espaço de integração, seja entre estudantes da São Francisco ou entre pessoas de fora. E, mais do que isso: precisa ser um espaço sem opressões, tanto para os frequentadores quanto para as trabalhadoras. Recentemente, frise-se, uma aluna sofreu violência de um homem em situação de rua e, ao queixar-se com a atual gestão do XI, nada foi feito – na verdade, ela foi orientada a aguentar a situação devido às “contradições sociais” apontadas por um integrante do Centro Acadêmico. Acreditamos que nenhuma violência pode ser tolerada no espaço do Porão, seja ela praticada por estudantes ou por pessoas de fora, especialmente contra mulheres. Nesse sentido, é importante ressaltar que o caso referido veio à tona porque foi praticado contra uma aluna, que o publicizou. No entanto, é sabido que as trabalhadoras do Porão queixam-se (inclusive para membros da gestão) a respeito das violências a que são submetidas todos os dias – desde ameaças de homens conhecidos no local, até perseguições e medo de estupros nas idas ao banheiro, principalmente nos horários de menor fluxo no espaço. Infelizmente, nada é feito. Pouco disso é conhecido da maioria da comunidade discente, o que evidencia o nível de invisibilização das trabalhadoras do Porão. No mais, é fato notório que na gestão do Canto Geral a salinha nunca está aberta. Muitas vezes, inclusive, membros da gestão estão lá dentro, com a porta trancada, obstruindo a presença de estudantes. Isso, além de impossibilitar o uso do local, não permite que frequentadores – em especial mulheres – recebam auxílio e o compromisso dos membros da gestão de que abusadores machistas não passarão ali. Enquanto coletivo de esquerda na Faculdade, propomos um debate de opressões bastante diferente deste que está colocado. Na nossa perspectiva, violências, xingamentos, abusos e assédios contra mulheres no Porão têm tolerância zero. Aliás, quanto a isso, a despeito do que é afirmado pelo Canto Geral, a responsabilidade pelo que acontece no Porão é sim dos membros da chapa eleita. O discurso de que não se pode proteger mulheres da Faculdade pois seus agressores são pessoas oprimidas pela sociedade e de fato muitos são, particularmente homens negros em situação de rua – serve para legitimar quaisquer tipos de agressões. Nenhuma opressão deve ser tolerada, pelo simples fato de que ninguém Nenhuma violência pode ser tolerada no espaço do Porão. Somos favoráveis à entrada de qualquer pessoa no espaço do Porão, desde que respeitados os limites da convivência e da integração. Qualquer um, estudante ou não, que cometer ato de violência deve ser retirado do Porão.

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Nota do Coletivo Contraponto sobre o uso do espaço do porão.

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Page 1: No Porão Que Queremos - Coletivo Contraponto

¡No Porão que queremos!

Atualmente o Porão enfrenta graves desafios que têm, nos últimos anos, afastado parcela significativa das e dos

estudantes desse importante espaço de integração e convivência universitária. Questões como a violência contra as

mulheres, o debate em torno do contrato do bar, o fumo e a ausência de festas têm sido levantadas frequentemente como

desafios a serem superados para o Porão se tornar um espaço cada vez mais acolhedor a todas e todos, estudantes ou não,

cumprindo um papel fundamental na nossa graduação e no nosso dia a dia. O Coletivo Contraponto toma partido nessa

discussão, e propõe um debate amplo sobre o Porão que queremos.

¡NÃO CABE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER!

O Porão precisa ser um espaço de integração,

seja entre estudantes da São Francisco ou entre pessoas de

fora. E, mais do que isso: precisa ser um espaço sem

opressões, tanto para os frequentadores quanto para as

trabalhadoras. Recentemente, frise-se, uma aluna sofreu

violência de um homem em situação de rua e, ao queixar-se

com a atual gestão do XI, nada foi feito – na verdade, ela foi

orientada a aguentar a situação devido às “contradições

sociais” apontadas por um integrante do Centro Acadêmico.

Acreditamos que nenhuma violência pode ser

tolerada no espaço do Porão, seja ela praticada por

estudantes ou por pessoas de fora, especialmente contra

mulheres. Nesse sentido, é importante ressaltar que o caso

referido veio à tona porque foi praticado contra uma aluna,

que o publicizou. No entanto, é sabido que as

trabalhadoras do Porão queixam-se (inclusive para

membros da gestão) a respeito das violências a que são

submetidas todos os dias – desde ameaças de homens

conhecidos no local, até perseguições e medo de estupros

nas idas ao banheiro, principalmente nos horários de

menor fluxo no espaço. Infelizmente, nada é feito. Pouco disso

é conhecido da maioria da comunidade discente, o que

evidencia o nível de invisibilização das

trabalhadoras do Porão.

No mais, é fato notório que na gestão

do Canto Geral a salinha nunca está aberta.

Muitas vezes, inclusive, membros da gestão estão

lá dentro, com a porta trancada, obstruindo a

presença de estudantes. Isso, além de

impossibilitar o uso do local, não permite que

frequentadores – em especial mulheres –

recebam auxílio e o compromisso dos membros

da gestão de que abusadores machistas não passarão ali.

Enquanto coletivo de esquerda na Faculdade,

propomos um debate de opressões bastante diferente

deste que está colocado. Na nossa perspectiva, violências,

xingamentos, abusos e assédios contra mulheres no

Porão têm tolerância zero. Aliás, quanto a isso, a despeito

do que é afirmado pelo Canto Geral, a responsabilidade pelo

que acontece no Porão é sim dos membros da chapa eleita.

O discurso de que não se pode proteger

mulheres da Faculdade pois seus agressores são pessoas

oprimidas pela sociedade – e de fato muitos são,

particularmente homens negros em situação de rua – serve

para legitimar quaisquer tipos de agressões. Nenhuma

opressão deve ser tolerada, pelo simples fato de que ninguém

Nenhuma violência pode ser tolerada no espaço do

Porão.

Somos favoráveis à entrada de qualquer pessoa no

espaço do Porão, desde que respeitados os limites da

convivência e da integração.

Qualquer um, estudante ou não, que cometer ato

de violência deve ser retirado do Porão.

Page 2: No Porão Que Queremos - Coletivo Contraponto

pode agredir mulheres, negros e LGBTs no Porão.

Nessa conjuntura, percebemos com bastante

infelicidade que cada vez menos mulheres ocupam o

Porão, seja por medo ou insegurança, e rechaçamos o

Porão como um espaço masculino. Desejamos que cada vez

mais mulheres possam ocupá-lo, com a certeza de que não

serão submetidas a nenhum tipo de violência.

¡AS/OS ESTUDANTES DECIDEM SOBRE O CONTRATO DO BAR!

A questão do contrato do bar do Porão vem

sendo tema constante no debate público da Faculdade ao

longo do ano. Isto porque, no primeiro semestre, vencia o

contrato de locação celebrado há cinco anos entre o XI de

Agosto e o "Bar do Chico", responsável pela venda de

salgados e bebidas no ambiente do Porão. Apesar disso,

pouca transparência tem sido dada pela atual gestão do

nosso centro acadêmico a essa

pauta, de maneira a torná-la pouco

aberta à intervenção das e dos

estudantes.

Num primeiro momento, a

proposta formulada pelo Canto Geral

consistia em autogerir a

comercialização de bebidas alcoólicas e

locar a venda de salgados a uma

cooperativa. No que diz respeito à

autoadministração do bar, não há dúvida de que se trata de

uma ideia que caminha no sentido de burocratizar ainda

mais o XI de Agosto, na medida em que suas gestões seriam

responsáveis – além dos já grandes compromissos – por

assumir a complexidade da administração de um bar no

centro de São Paulo. Além disso, tal medida tenderia a

tornar o caixa da entidade ainda mais instável, uma vez

que parte das receitas flutuaria de acordo com a

comercialização das bebidas.

Em seguida, o Canto Geral recuou da

autoadministração do bar e propôs a locação da venda de

bebidas a um terceiro. No entanto, o instrumento de

deliberação escolhido a princípio pelo coletivo foi o das

reuniões abertas convocadas periodicamente, com pouca

divulgação, pela gestão. Tais reuniões têm se caracterizado

ao longo de 2015 pelo esvaziamento, consequência de

uma construção meramente protocolar que visa mais a

legitimar, artificialmente, as propostas do Canto Geral do

que a efetivamente empoderar a comunidade discente

nas tomadas de decisão da entidade.

A última dessas reuniões ocorreu na quinta-feira

(17/09), junto com a discussão sobre o saque do Fundo do XI.

No debate sobre o bar, que iniciou por volta das 22h, o que se

viu foi, por parte da gestão, mais o objetivo de

simplesmente anunciar o encaminhamento de sua

proposta do que efetivamente discuti-la com os

presentes. Num espaço com pouquíssima legitimidade em

razão do baixo quórum, o Canto Geral insistia em definir os

rumos do Porão com o despejo do Bar do Chico e a celebração

de novos contratos.

Ao ser questionada sobre a situação do atual

locatário e a possibilidade de renovação de seu contrato, a

gestão reagiu de maneira irresponsável e autoritária.

Inicialmente fez acusações graves ao administrador do Bar do

Chico, chegando a especular sobre seus rendimentos de

maneira tendenciosa e pouco honesta, para deslegitimá-lo e

concluir que não existe a hipótese de renovação. Ou seja,

mesmo que exista uma proposta vantajosa ao centro

acadêmico, a gestão não pretende apresentá-la à

faculdade e submetê-la à votação. O que se percebe, na

verdade, é a existência de um grande desgaste pessoal entre o

locatário e integrantes do Canto Geral; no entanto, é

evidente que isso não pode influenciar a decisão sobre o

contrato, uma vez que se trata de interesse de todas e

todos os estudantes.

Por fim, frente a seu isolamento e ao adiantado

da hora, o Canto Geral aceitou convocar nova reunião para a

manhã do dia 30/09, em que se discutirá a forma de

O Porão é de todas e todos os estudantes, portanto a

decisão sobre o futuro do bar deve ser de todas e todos.

As trabalhadoras e os trabalhadores do bar devem ser

respeitados pelas gestões do Centro Acadêmico.

O futuro do bar do Porão deve ser definido em Assembleia

com a participação do maior número de pessoas,

apresentando-se todas as propostas.

Page 3: No Porão Que Queremos - Coletivo Contraponto

deliberação sobre o contrato do bar; até lá, comprometeram-

se a não mover ação de despejo contra o atual locatário.

Vale criticar a falta de sensibilidade com que o

Canto Geral trata a questão do bar do Porão,

principalmente perante os trabalhadores e as

trabalhadoras. Desde o começo do ano, a gestão vem

reafirmando que o locatário será simplesmente despejado e

todas as pessoas que ali trabalham perderão seus

empregos – isso num momento grave da conjuntura

nacional, em que vagas de trabalho se tornam mais raras.

Além disso, em algumas festas a gestão tem vendido cervejas

a preços menores buscando competir com o Bar do Chico – o

que viola o contrato de locação e pode expor o XI de

Agosto a futuras ações judiciais.

O Coletivo Contraponto defende que o Porão

não pertence a uma gestão ou a um coletivo - mas, sim, a

todas e todos os estudantes. Dessa maneira, toda a

comunidade discente deve ter voz na tomada de decisão

sobre o futuro do bar, para que não repitamos um

conhecido filme franciscano de "contrato de gaveta". A

Assembleia Geral das/dos Estudantes com a votação da

melhor proposta de contrato – desde que organizada com o

efetivo compromisso de agregar o maior número de pessoas

– mostra-se como a alternativa mais democrática para definir

o futuro do nosso Porão.

¡NÃO SE FUMA NO PORÃO!

O debate acerca do fumo do Porão é antigo e,

mesmo assim, continua atual. Recentemente, tornou-se de

conhecimento público o caso de uma trabalhadora do

Porão cujo filho nasceu com um problema respiratório

congênito, provavelmente relacionado com as

condições insalubres de seu ambiente de trabalho, em

especial pela contínua exposição ao fumo passivo durante a

gestação.

Este é um caso extremamente lamentável

que só vem reforçar a necessidade de imediata mudança

dessa realidade. Não é possível continuar permitindo a

prática do fumo no Porão na medida em que esta

prejudica a saúde de trabalhadoras e trabalhadores,

além de afastar uma imensa maioria de estudantes

incomodados com o cheiro de fumaça extremamente

concentrado no local.

Diferentemente do que pensa a atual gestão do

Centro Acadêmico XI de Agosto – que chegou a se

posicionar, de maneira informal, com o argumento

liberal de que as trabalhadoras “escolheram se

submeter a isso” – é seu dever tomar o partido dos que ali

trabalham e se posicionar contra o fumo no Porão.

A gestão deve zelar pelas boas condições de

trabalho das pessoas as quais emprega, além de se

preocupar com os riscos aos quais os estudantes estão

submetidos na situação de fumantes passivos. Muitas

pessoas chegam a deixar de ir ao Porão devido ao incômodo

causado pela fumaça – boa parte porque sofrem de alergias.

Esse não é o caso de quem trabalha nesse ambiente

insalubre, pois para essas pessoas não existe a opção de

não frequentar o Porão, já que é nele que elas ganham o

seu sustento – trata-se do seu ambiente de trabalho.

Não há dúvida de que o Canto Geral toma uma

posição a favor do fumo e contra o direito à saúde das

trabalhadoras e dos trabalhadores ao não enfrentar esse

problema – segundo o coletivo, a proibição de fumo no

Porão seguiria uma lógica “proibicionista”. O que se

presenciou ao longo do ano foi uma clara e negligente opção

da gestão por ignorar os problemas

concretos referentes ao fumo passivo sob

um discurso idílico e romantizado do

espaço.

Preferiram uma visão

idealista do local à preocupação com as

consequências danosas para as

trabalhadoras, o que reforça as

contradições entre prática e discurso

Proibir o fumo no Porão é respeitar o justo direito à saúde, e

não mera criminalização do ato de fumar.

Para coibir o fumo, deve-se investir em (i) campanhas de

conscientização, inclusive com fixação (exigida por lei) de

placas de “proibido fumar”; (ii) instalação de “bituqueiras”

fixas fora do Porão; (iii) constante e encarecido pedido de

cumprimento à regra.

Page 4: No Porão Que Queremos - Coletivo Contraponto

da atual gestão do Centro Acadêmico – sustentando uma

posição de privilégio e incoerência da entidade, já que em

qualquer outro espaço fechado de todo o Estado o fumo é

proibido. Acreditamos que o fato de se localizar na USP não

diferencia o espaço do Porão dos demais estabelecimentos,

devendo assim ser cumprida a vedação, visto que o porão

não pode continuar sendo um espaço onde uns poucos

privilegiados exercem seu “direito” individual de

fumar, enquanto trabalhadores adoecem e estudantes

se ausentam do espaço.

¡A SALINHA É ABERTA!

Ao tratarmos do Porão e do que

queremos em relação a este importante espaço

estudantil, não poderíamos deixar de lado a

questão da “Salinha do CA”, sede da entidade

representativa das e dos estudantes. Neste

espaço, assim como em tantos outros, as práticas

da atual gestão entraram em contradição com o

discurso propagado no período eleitoral. Se antes

bradavam por maior participação estudantil e

maior abertura dos espaços a todas e todos, hoje promovem

o fechamento da salinha como nunca antes visto.

Ao promover o fechamento do ambiente físico da

sede do XI de Agosto, a atual gestão opta, indiretamente, pelo

fechamento ao diálogo e ao debate – o isolamento aqui

tratado tanto reflete como é reflexo da atuação política

do Canto Geral em relação à Faculdade.

Esse fechamento ocorre tanto no sentido físico

como também no sentido de acesso, fruição do espaço e do

próprio contato com as e os diretores do Centro Acadêmico. A

atual gestão não só inibe a entrada das e dos estudantes ao

manter fechada a janela e a porta do recinto por grande

parte do dia (o que não era feito pelas gestões anteriores),

como vêm proibindo expressamente o acesso à salinha pelas

e pelos estudantes que precisam guardar seus pertences

durante festas e eventos.

¡TEM MAIS FESTAS E MAIS INTEGRAÇÃO!

Para além de ser um espaço de convivência

diária entre os estudantes, o Porão se apresenta enquanto

palco de integração, eventos e festas que ocorrem na

Faculdade. Atualmente, é comum ver veteranos de diversos

anos se recordarem saudosamente sobre o quanto aquele

espaço outrora esteve cheio e como essa realidade mudou.

É fato inegável que, ao longo deste ano, o

Porão está mais esvaziado do que nunca. Enquanto que,

até recentemente, eram realizados eventos semanais – como

os “forrós às terças”, as festas constantes nas quintas-feiras,

transmissão de debates e jogos esportivos – hoje o que se tem

é a realização de pouquíssimas festas ao longo do ano e

somente em algumas quintas-feiras.

Esse esvaziamento traz como consequência a

ausência de integração e diálogo estudantil, o que

prejudica não só a vivência da faculdade como um

todo, mas também a disseminação de ideias e a

organização de novos grupos e entidades. Quem

acaba perdendo nesse debate são os próprios

estudantes, que se sentem afastados da comunidade

acadêmica e do próprio Centro Acadêmico o qual não

mais supre as expectativas políticas e culturais do

corpo estudantil.

O espaço da salinha do Centro Acadêmico deve ser

o mais aberto, acolhedor e democrático possível.

Que possam usufruir dele todas e todos que

necessitarem.

Salinha aberta é sinônimo de gestão mais

democrática e participativa.

É dever do Centro Acadêmico XI de Agosto

revitalizar o porão enquanto espaço integrativo.

Isso ocorre por meio de festas, shows de

diversos estilos musicais, transmissão de eventos

esportivos e de outras atividades que reaproximem

as e os estudantes.

Page 5: No Porão Que Queremos - Coletivo Contraponto