campos de atuação em psico-oncologia

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Campos de atuação em Psico-Oncologia

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  • Unidade2

    CursodePsGraduao

    LatoSensuDistncia

    CamposdeAtuaoemPsicoOncologia

    SumrioIntroduo..........................................................................................2

    Repercussesdocncernavida.........................................................2

    Binmiopacientefamliacomounidadedecuidado.........................6

    Opsicooncologistaeotrabalhoemequipes....................................8

    Osdiferentessettingsteraputicos....................................................9

    BibliografiaBsica.............................................................................11

  • IntroduoComo vimos na unidade anterior, o tratamento de cncer vmobtendoresultadoscadavezmaisfavorveis.Ograndeinvestimentoem pesquisas e a descoberta de novas tecnologias na rea daoncologia tm permitido o desenvolvimento de drogas cada vezmaiseficazesecommenosefeitoscolaterais.Aspesquisasgenticaseimunolgicas,bemcomonovastcnicasdediagnstico,muitotmcontribudoparaa identificaoprecocedocncer. Isso fazcomqueocncer,antesconsideradoumadoenaterminal, tenha hoje o status de doena crnica e at mesmocurvel. No caso de crianas, algumas neoplasias apresentamchancesdecurasuperiora80%,desdequediagnosticadasnoincio.

    RepercussesdocncernavidaVamosfalarumpoucosobreasrepercussesdocncernavidadaspessoas.Noexisteum sujeitoeumadoena separados,mas simum ser que adoece. Este adoecer vivido como uma experincianica, uma experincia de desordem, que adquire um sentidoespecfico,nomomentoespecfico.Sendoalgonovo,trazmudanaseexigeumaadaptaodapessoaqueadoeceedosqueestonoseuentorno.Estasmudanas so concretaseobjetivase tambmsubjetivas uma vez que a pessoa se depara com seus limitespessoais,assensaesdeimpotncia,dependncia,fragilidade.No artigoPsicoOncolia:Histria,CaractersticaseDesafios,Magui(CARVALHO,2002),apresentaum levantamentodostermosusadosnos artigos de revistas de PsicoOncologia e nos trabalhos

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    apresentados em congressos nacionais e internacionais. Estestermos dizem respeito s problemticas intrapsquica, social erelacionadaaocncer:

    1. Problemtica intrapsquica: ansiedade, depresso, medo,raiva,revolta, insegurana,perdas,desespero,mudanasdehumoreesperana.

    2. Problemtica social: isolamento, estigma, mudanas depapis,perdadecontrole,perdadeautonomia.

    3. Problemtica relacionada ao cncer: processo da doena,mutilaes, tratamentos, dor, efeitos colaterais, relaoproblemticacomomdico.

    Estes temos nos do a ideia de como estar com cncer.Maguiacrescenta:Emmaioroumenornmero,emdiferentesmomentosdo processo da enfermidade, o paciente apresenta um ou vriosdestes aspectos. E todos eles evidenciam a importncia do apoiopsicolgico(CARVALHO,2002).Os profissionais que atuam na PsicoOncologia podem seguirdiferentes linhastericaspsicanlise,anlise,gestltica,cognitiva,comportamental, sistmica, transpessoal tendo como ponto deunio o atendimento aos aspectos citados. Ou seja, o ponto deunioreaopacientedecncer.Suasdificuldades,necessidadeseproblemasprecisamseratendidos,seja facilitandoummelhorenfrentamentodadoenaepermitindouma convivncia melhor com ela, seja melhorando o estadopsicolgico e este levando a um melhor estado geral orgnico,auxiliando na recuperao e na cura, se possvel.O que estamosfalando que precisamos buscar a qualidade de vida daqueles

  • afetados pelo cncer.Afirmo sempre que possvel adoecer comqualidade,construindoumpactocomasade.No momento do diagnstico a reao de choque, tristeza,sofrimento, dor, choro. Mesmo que no expresso na linguagemverbal,estemomentosentidoevivenciadocomomuitopenosos.Os questionamentos,muitas vezes, so no sentido de estabelecerpossveis relaes causais, conseguir descobrir alguma coisa quefaasentido.Aodiagnsticodecncer,frequentemente,segueseadepresso.Aspessoasnoconseguemnegarsuadoenaumavezqueossintomasso muitos claros. No conseguem tambm aceitar, ainda. Estesestadosdepressivospodemsurgirdurantetodooadoecimentoumavezqueapessoasevobrigadaaconstantes readaptaes.Nestemomento, a conscincia de que a vida est ameaada por umadoena, j conscientiza, tambm da possibilidade de sua possvelmorte. muito importante comunicar ao paciente que ele no vai serabando nado, que uma batalha que todos vo travar juntos doentes,famlia,equipemdicanoimportandooresultadofinal.Esta aproximao muito reconfortante e todos dependem doconfortoqueestavinculaopodeproporcionar(KOVCS,2008).Associados s adaptaes e ao prprio adoecimento, surgem ostemoreseasperdas.Osmedossoosmaisdiversos:medoqueasclulascancerosassemultipliquem,medodasmutilaes,medoda

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    dor,medodeprocedimentosinvasivos,perdadosideaisdoego,dosobjetivosdavida,dospapissociais,daautonomia1,entreoutros.A internao o motivo de grande apreenso e sofrimento. Apessoasepercebeafastadadetudoquelhefamiliareconhecido.Trs vivncias de isolamento, abandono, do rompimento de laosafetivos.Homedodadespersonificao.Noamaisapessoa,mas o doente, a doena. A pessoa se sente limitada em seusrecursospara lidarcomasituao.Estdespojadadeseupoderdedecisoeafastadadesuapossibilidadedeao.Entretanto, o cncer, hoje, considerado uma doena crnica.Portanto, depois do impacto do diagnstico, avida do pacientecontinuaeeleprecisaaprenderaconvivercomadoena.Elizabethdo Valle, conhecida Psicooncologista Peditrica, pesquisadora daUSPdeRibeiroPretodizqueapessoa,agoraumsernomundocomumadoenagrave. Ela continua: a doena2, agora, umaformadeviver,decomunicarse(VALLE,2001).

    1Autonomia: Com a perda da autonomia surgem sentimentos de impotncia,vulnerabilidadeefragilidadefrenteaosprocedimentosteraputicos,srotinasecondutashospitalares.A internaoprovocauma rupturanahistriadevidadapessoa,aseparadoseumundosocial.A facticidadepassaa fazerpartedavida,cada dia um acontecimento novo, diferente do previsto. O doente se vmergulhadonummundoquenoescolheu:omundodosremdios,dosexames,das internaes, do afastamento da famlia e dos amigos, dos medos, dapossibilidadedemorte.2Doena:Adoenafsicagravefrequentementeacompanhadaeexacerbadapelaansiedade,depresso,principalmenteempessoasquenocontamcomoapoiosocial.Nador,porexemplo,umdosmaiorestemoresqueosercomcncerpossui,fatoresemocionaispodemaumentaroudiminuirsuaexperincia.Omedocausaumacontrao,tantofsicaquantopsquicaqueaumentaasensaodolorosa.Sentimentoscomofaltadecontrole,desamparo,sentirseabandonado,isoladoenocompreendidopodemfazerdoermais.Umadorintensae

  • So muitos os fatores psicossociais vinculados a um episdio decnceraindanosuficientementecompreendoporpesquisadoreseprofissionais da rea. A adaptao comportamental e o ajusteemocional do paciente ao tratamento, estratgias deenfrentamento, indicadores de qualidade de vida, efeitospsicossociaisdotratamentodocnceralongoprazoemodalidadesde intervenopsicolgica juntoaopacientee familiaressoalvosconstantesdeestudoscientficoseassuntofrequentedediscusso.Simonton et al (1987) falam que a durao da vida aps odiagnstico apenas um dos aspectos da doena. Falam tambmquetalvez,oquetenhamaiorimportnciasejaaqualidadedevida.

    BinmiopacientefamliacomounidadedecuidadoConsideramosqueesteconceitopacientefamliacomounidadedecuidadoumdosmais importantesemPsicooncologia.Qualqueradoecimentoquevenhalevarmorteafetanosomenteopacientemaistambmosmaisprximosaele,nocaso,afamlia.Afinaltodostero sua vida afetada de uma maneira mais sutil ou maissignificativa.Eesteenvolvimentoprecedeodiagnsticoecontinuaatodesfechodadoena(FRANCO,2008).Oconhecimentoda influnciaqueosfatorespsicossociaisexercemsobreopacienteum fator facilitadorao suportedeque tantoointolerveldesorganizaoaparelhopsquico,ameaandoasuaintegridade,afetandoacapacidadededesejareopensamento.Dornosedivide.Elaocupatodooespao.

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    pacientequantoasuafamlianecessitam.Aequiperesponsvelpelopaciente deve compreender a dinmica envolvida nesse binmiofamliapaciente. A pessoa no vive sozinha, sem ser influenciadapelas circunstncias e acontecimentos do presente, num contextoreal e dinmico. A falha do reconhecimento dessa influncia e,consequentemente,oprejuzoprovocadonosuportepsicossocialfamlia, iro privar os pacientes do conforto, amor, suporte ecompanheirismo de que eles precisaro durante o curso da suadoena.Osmdicos devem ser capazes de identificar e estimularcircunstnciasque facilitemoprocessodeadaptaodasunidadesdecuidado.Aformaodeumbomvnculoentreequipeeunidadedecuidado,apoiada em quesitos tcnicos e ticos, dentro do conceito detratamento humanizado e integral, essencial na adeso aotratamentoeaosregimesdemedicao(JCOMOEAGUIAR,2013).Afinal compreender que o cncer provoca um impactotransformador na vida dos afetados e trabalhar junto a estes nosentidodedesenvolvermaneiradelidarcomasadversidadesqueotratamentodesseadoecimentoacarreta,entendendoqueaspectospsicossociaisinterferemnoriscoenasobrevidadospacientes,umdos pilares da Psicooncologia. No nos esqueamos queaprendemosissonaunidadeanterior.Leia,nabibliotecadadisciplina,otextoAtuaoemPsicooncologia,antesdeprosseguircomseusestudos.

  • OpsicooncologistaeotrabalhoemequipesA assistncia ao binmio pacientefamlia deve comear desde omomentodachegadaaohospital,mesmoantesdodiagnstico.Estaunidade de cuidado est vivendo um verdadeiro turbilhoemocional. Uma vez que os profissionais tm a preocupao emmanteradignidadedapessoa, fundamentalaexistnciadeumaequipemultiprofissionalquedumsuporteintegral.Aequipemultiprofissionalumgrupodeprofissionaisdediversasespecialidadeseformaesquerealizamumtrabalhocoesocomoobjetivo de garantir o bemestar do paciente. Cada rea faz seudiagnstico e elabora um plano de cuidados, levando sempre emcontaaspeculiaridadesdecadacaso(BIFULCO,FALEIROS,2014).Neste contexto imprescindvel a formao em PsicoOncologia.Esteolhargaranteaqualidadetcnica,ocuidadoticoeadequado,respeitandoa interdisciplinaridade.Umaboacomunicaoentreosprofissionais facilita a atuao de todos e garante um tratamentomaishumanizado,maisafetivosemperderdevistaaafetividade.importanteaclarezadopapeldecadaumdeumaequipe3.Todosdevemcaminharcomobjetivoscomuns.

    3Equipe:MesmoaPsicoOncologiajtendoalcanadoimportantesconquistascomoaparticipaoemreuniesdocorpoclnicoquedecidemotratamentoparacadapessoa,porexemplo,asdificuldadesexistem.Nemsemprenossotrabalhotemodevidoreconhecimentodetodososmembrosdaequipe,almdeenfrentarmosresistnciasaotrabalhoemconjunto.Muitasvezesapsicologiaschamadaparaaquelepacientedifcil,paraaquelafamliadescontrolada.Acriatividade,ahabilidadeemlidarcomsituaesadversas,assimcomoahumanidadeemperceberquenosomosenopodemosseronipotentesdevemsempreestarpresentenonossotrabalho.Reforando,opsicooncologistadeveresistirtentaoderesolvertodososproblemasdapessoacomcncer.

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    Terminamos com as palavras de LeShan (1992): Quando maisconhecemosabiologiaeapsicologiahumanas,maisaprendemosamodificaremelhoraraqualidadeeaessnciadavida,tantointeriorquantoexteriormente,ecadavezmaisessesegundoresultadopodesetornarcomum.

    OsdiferentessettingsteraputicosQuando falamos em atendimento s pessoas com cncer e seusfamiliares podemos, e devemos, considerar qualquer local comoadequado a este atendimento. Uma vez atendi a uma moa queestavacomumcncerdereto.ElameprocuroudepoisdevermeunomenositedaSBPO.Comeamosotrabalhopsicoteraputiconomeu consultrio particular. Em consequncia de complicaes dadoena, precisou ser internada. A acompanhei durante estasinternaes, indo aohospital.Depois,quando foipara casa, aindaestavamuitofracaparase locomover.Aatendianasuacasa,ondetinhaumcontatobem interessantecom suame.Depoisvoltouaseratendidanomeuconsultrio.Masnaltimasemana,quandoelachegouoselevadoresdoprdioondeselocalizaminhasalaestavamcomdefeito.Elanopoderiasubirdeescadaoscincoandares,poisj estava muito fraca. Ento fomos caminhando at uma praaprximaondeaconteceuasesso.E nos atendimentos em hospitais, quando o profissional doservio?Bem seus settings tambm sovariados.Normalmente,opsiclogo,mesmo dispondo de uma sala, no costuma fazer seusatendimentos todosneste local. Ele acompanhaomdicoquandododiagnsticonasaladomdico.Quandodainternao,nosleitos.Seapessoanoestiveremquartoparticular,aprivacidadepodese

  • tornar um problema real. Uma boa dose de criatividade podeminoraroproblema.Emserviosdeoncologiapodemosaindaatuaremsalasdeesperaenas de quimioterapia. Podemos fazer grupos abertos constitudospor pacientes e /ou familiares ou acompanhantes que estoaguardando a radioterapia ou a quimioterapia. So muitos oscolegasqueatuamnestesetting.Podemosatuarenquantoestessesubmetemquimioterapia,enquantoestotomandoamedicao.svezes,umbatepaponestesmomentosbastantetilnosentidode minorar as dores e os temores. Os grupos de convivnciatambmpodemacontecernosmaisdiversos locais.Noporquenotemosumasalaadequada,quenopodemosrealizarosgrupos.Como pudemos ver, o setting tradicional para os psiclogos oconsultrio muitas vezesomenosutilizado. Isso repercutedasmaisdiferentesmaneiras,nasdiferentespessoas.Oprocessopodesermaislentoedifcil.Quem trabalha com Psicooncologia Peditrica tambm atua nasbrinquedotecas.Soespaosdebrincarqueexistemnoshospitaisetambmnas casasdeapoio.Nestes casos,oprofissional temumaoportunidadempardeentraremcontatocomomundointernodacrianacomcncer.Acompanhar uma pessoa com cncer dentre de sua casa outrosettingmuito peculiar. A casa de algum costuma ser o lugar deintimidademxima,seulugarsagrado.invadiresteespaorequeralgumas consideraes. Em primeiro lugar fundamental aconcordnciaporparteda famlia.Muitasvezes,duranteavisitadesenvolvidoum trabalhodeapoioaos familiares,atmesmoaos

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    amigos.Portanto,muitasvezesnodpra irdehoramarcada.Aflexibilidadedehorriossefaznecessria.Enfim,necessriamuitadisposio,criatividadeedisponibilidadeparasetrabalharnestemomentodeadoecimento.Aflexibilidadedoprofissionalfundamentalnestaespecificidadequeo lidarcomapessoa que est com cncer, independente do momento dainterveno.

    BibliografiaBsicaBIFULCO,VAEFALEIROS,DAM.Psicooncologia. In:BIFULCO,VAEFERNANDESJNIOR,HJ.(orgs)Cncer,umavisomultiprofissional.Baruei,SP:MinhaEditora,2014,p.443466.CARVALHO,MM.Psicooncologia:histria,caractersticasedesafios.Psicol. USP, So Paulo, v.13, n. 1, 2002. Disponvel em Acessadoem06Feb.2015.http://dx.doi.org/10.1590/S010365642002000100008.CARVALHO,MM. IntroduoaPsicooncologia.Campinas:EditorialPsyII,1994.FRANCO,MHO.A famliaempsicooncologia. In:CARVALHO,VAECOLS (orgs.)TemasemPsicooncologia.SoPaulo.Summus,2008,p.358361.JCOMO,RCEAGUIAR,MAF.Amorpenosoxdireitodeviver:dosdesafios para o tratamento oncolgico humanizao pela psicooncologia. In CARBONARI, K E DEABRA, CR. (org) Psicooncologia:assistnciahumanizadaequalidadedevida.SoPaulo:Comenius,2013.

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