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Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Informática
Graduação em Ciência da Computação
Uma análise sobre o surgimento de startups a partir de instituições que suportam
ecossistemas de empreendedorismo e inovação
Vinícius Marques Lira
Trabalho de Graduação
Recife
Dezembro 2019
Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Informática
Vinícius Marques Lira
Uma análise sobre o surgimento de startups a partir de instituições que suportam
ecossistemas de empreendedorismo e inovação
Trabalho apresentado ao Programa de
Graduação em Ciência da Computação do
Centro de Informática da Universidade
Federal de Pernambuco como requisito parcial
para a obtenção do grau de Bacharel em
Ciência da Computação.
Orientador: Prof. Dr. Carlos Andre
Guimaraes Ferraz
Recife
Dezembro 2019
Agradecimentos
Primeiramente gostaria de agradecer aos professores e funcionários do Centro de
Informática que construíram e mantêm este centro de excelência em Recife. Sem essas pessoas
não formaríamos tantos alunos, professores e funcionários como verdadeiros cidadãos, em
busca de uma sociedade mais justa e próspera.
Preciso agradecer também àquelas pessoas que me apoiaram incondicionalmente:
minha mãe, Maria Cristina Marques Barbosa; meu pai, Renato Lira Barbosa; e minha irmã
Bárbara Marques Lira. Todos eles me ensinaram, cada um à sua maneira, o caminho e os valores
do estudo e de uma boa educação. Vocês me trouxeram até aqui e sou grato de todo o coração
por todos os sacrifícios feitos para que este momento chegasse. As noites e torcidas e orações
de todos vocês não foram em vão.
Na graduação, fiz amigos que me deram suporte a toda essa jornada e, muito além do
CIn, mudaram minha visão de mundo e me fizeram ser, acredito, uma pessoa melhor. Um
agradecimento especial aos amigos da turma e a todos os membros do “kwai”, amigos do
Partner e à Rádio Pirata. Agradeço também aos amigos e a oportunidade que tive dentro do
CITi. Lá tive experiências incríveis durante a graduação, que revelaram um futuro profissional
no qual realmente me identifico e acredito que posso gerar um impacto positivo no mundo.
Tive muito amigos que me apoiaram também fora da graduação, desde a infância,
ensino fundamental e médio. Sei que vou levá-los para vida. Amigos do colégio Atual e do
colégio Marista terão sempre um espaço especial na minha vida, andarão sempre do meu Lado
Esquerdo.
Gostaria de agradecer principalmente aos professores Ruy de Queiroz, Cléber
Zanchetin, Verônica Teichbert, Adriano Sarmento, Cristiano Araujo, por toda inspiração e
amadurecimento proporcionado na graduação e especialmente ao professor Carlos Ferraz, que
me orientou nesta dissertação e permitiu que este projeto fosse feito da melhor forma.
Não poderia finalizar todos esses agradecimentos sem uma dedicatória especial a Túlio
Paulo Lages da Silva. Muitas pessoas me ajudaram de várias formas e me ensinaram bastante,
mas sem Túlio nada do que foi construído até aqui teria sido possível. Obrigado por me ensinar
resiliência, foco, humildade e por nunca ter desistido de mim. Obrigado.
01010100 01110101 01100100 01101111 00100000 01110110 01100001 01101100
01100101 00100000 01100001 00100000 01110000 01100101 01101110 01100001
Resumo
Neste trabalho vamos entender as conexões existentes entre universidade, empresas, governos
e como isso afeta diretamente a sociedade civil e ambiente sócio ecológico. Os empreendedores
são o motor da mudança que ocorre na sociedade, pois são os responsáveis por mobilizar o
conhecimento e canalizar num problema, transformando-o em oportunidade. Com o passar do
tempo, começamos a entender que, assim como qualquer profissional, o empreendedor de
tecnologia deveria se preparar, amadurecer e estar conectado com problemas reais da sociedade.
Nos últimos anos, vimos países dar saltos nos índices sociais e econômicos ao aumentarem seus
investimentos na educação, ao mesmo tempo que deram condições e ferramentas para a
formação de novos empreendedores. Ao acreditar que a formação acadêmica, junto ao incentivo
do governo, forma melhores pessoas e melhores empresas, gera-se um retorno direto para essas
instituições, além de provocar um impacto positivo para o meio externo.
palavras-chave: startups, empreendedorismo, impacto, inovação, quintupla-hélice
Abstract
In this work we will understand the connections between universities, companies, governments
and how this directly affects civil society and ecological partner environment. Entrepreneurs
are the engine of change that occurs in society, as they are responsible for mobilizing knowledge
and channeling into a problem, transforming it into opportunity. Over time, we begin to
understand that just like any professional, the technology entrepreneur should prepare, mature,
and be connected with real problems of society. In recent years, we have seen countries jump
in social and economic indices by increasing their investment in education, while providing
conditions and tools for the training of new entrepreneurs. By believing that academic training,
along with the government's incentive, forms better people and better companies, a direct return
to these institutions is generated, as well as having a positive impact on the external
environment.
keywords: startups, entrepreneurship, impact, innovation, quintuple helix
Sumário
1. Introdução
1. Objetivos
2. Estrutura do Trabalho
2. Conceitos fundamentais
1. Empreendedorismo e startups
1. Origem
2. Explosão e consolidação
3. Status quo brasileiro
2. Quintupla-hélice
1. Evolução
2. Cenário Brasil
3. Recife e o Porto Digital como ecossistemas de empreendedorismo e inovação
brasileiros
1. O que já construímos?
2. Aportando as empresas e pessoas de amanhã
3. Pilares de avaliação
1. Acesso a capital
2. Ambiente regulatório
3. Mercado
4. Capital Humano
5. Infraestrutura
6. Inovação
7. Cultura Empreendedora
4. Para onde vamos? Para onde podemos ir?
4. Referências globais
1. Uma alternativa ao Vale do Silício e Tel’Aviv
2. Casos de sucesso
1. Acesso a capital - Bangalore (Índia)
2. Ambiente regulatório - Fortaleza (Brasil)
3. Mercado - Kuala Lumpur (Malásia)
4. Capital Humano e Infraestrutura - Santiago (Chile)
5. Inovação e Cultura Empreendedora - Nairóbi (Quênia)
5. Importando conhecimento num mundo globalizado
6. Conclusão
7. Referências bibliográficas
8
1. Introdução
Para se adaptar e sobreviver, a humanidade passou por diversas revoluções. Nossas
sociedades, à medida que evoluíram, dominaram o fogo, a pedra, construíram máquinas e
indústrias. Demos vários saltos ao dominar novas tecnologias. E, apesar das noções de
“computar” estarem presentes nas civilizações há vários séculos, está cada vez mais claro a
importância de entender, aplicar e viver em meio a computação e seus diversos dispositivos
portáteis, nossa última grande revolução [1].
Agora, no início do século XXI, começamos a ver o que vem pela frente: os
computadores não estão engolindo tudo, eles já engoliram. Nosso transporte [2] virou software,
nosso entretenimento [3], nossa saúde [4], nosso consumo [5]. Ou seja, apesar de percebermos
ou não, tudo hoje é software. Esses softwares servem ao propósito de resolver nossos
problemas, melhorando nossa comunicação, nosso lazer e aspectos fundamentais do nosso dia
a dia como locomoção, saúde e educação. É possível fazer software com diferentes finalidades,
porém extraímos seu valor real quando eles são direcionados a nossas necessidades. Com um
mundo repleto de problemas e desafios, são os empreendedores que conseguem enxergar
oportunidades de melhoria possíveis através de softwares.
Mas, então, surgem algumas dúvidas: de onde vêm exatamente os empreendedores?
Apesar de existirem escolas de negócios e formação de executivos, empreender algo do zero é
uma missão completamente diferente. Segundo Peter Thiel, no seu livro De Zero a Um [6], o
ato de criar é singular, pois necessita de condições especiais do mercado, de ter um
empreendedor capaz não só de criar o negócio, mas de evoluir junto ao negócio. Porém os
fatores externos ainda são cruciais para a sobrevivência (ou morte) de um novo
empreendimento. Durante este trabalho vamos mergulhar nos pilares essenciais para criar,
manter um ecossistema que facilita e incentiva o surgimento de novos negócios, que vão gerar
impacto para a sociedade, seja através de impostos, propósito da empresa ou geração de
empregos.
Neste trabalho vamos abordar um ramo de empresas mais específico, as conhecidas
startups, que são negócios nascentes com grande potencial de crescimento. Mais à frente
aprofundaremos na definição termo, suas variações e referências sobre o seu surgimento e
evolução. É importante entender que, assim como qualquer entidade que é formada por pessoas,
startups dialogam e interferem diretamente na sociedade, nos governos, nas instituições de
ensino e no meio ambiente. É através desse complexo que analisaremos como cada entidade
9
dessas se relaciona uma com a outra, para impulsionar o crescimento das cidades e melhoria de
qualidade de vida das pessoas.
1.1 Objetivos
Os objetivos deste trabalho de graduação são:
Colaborar com o ecossistema empreendedor local, incluindo o Porto Digital, na
formalização de metodologias, políticas e processos que foram responsáveis para a
formação de novas empresas em diferentes geografias;
Contribuir para o Centro de Informática, como instituição formadora de
empreendedores, na aproximação entre o conhecimento de ponta produzido na
academia e grandes problemas relevantes no mercado;
Conseguir trazer uma visão mais detalhada de como fatores externos e culturais afetam
os principais meios de construir negócios e que combinação desses fatores tende a
alcançar sucesso para cada um dos cenários propostos, apresentando alternativas ao
Vale do Silício ou Tel’Aviv.
Em outros palavras, a proposta é construir uma análise de ecossistemas empreendedores
e compará-los a Recife, entendendo quais agentes e aspectos semelhantes existem entre eles e
o que pode ser intercambiado.
Assim, acredita-se ser possível posicionar Recife de forma mais concreta, enquanto
ecossistema local, entendendo o que pode funcionar e o que vai nos fazer dar novos passos
significativos para o desenvolvimento do nosso ambiente.
10
1.2 Estrutura do Trabalho
O trabalho é composto por 5 capítulos principais, incluindo este capítulo introdutório.
O capítulo seguinte deve discorrer acerca de noções básicas e introdutórias sobre
empreendedorismo, startups e o modelo de quíntupla-hélice [7] proposto por Carayannis,
Barten e Campbell, em 2012, e o para o entendimento das argumentos que virão na sequência
dos próximos capítulos.
A partir do terceiro capítulo, vamos começar a entender Recife como uma cidade situada
no meio de um mundo globalizado. Neste ponto serão apresentados vários critérios de avaliação
sobre o potencial da cidade enquanto ambiente formador de startups.
O Capítulo 4 pretende trazer uma visão externa. Dado que temos uma avaliação de
Recife, enquanto ecossistema empreendedor, vamos começar a entender um contexto mais
global de cidades emergente que passaram ou passam pelo momento de amadurecimento. Com
uma visão global mais clara de como Recife está posicionada no mundo, entraremos no capítulo
seguinte, que é a parte mais importante do trabalho.
No Capítulo 5, por fim, faremos uma análise comparativa, trazendo um benchmarking
entre Recife e as demais cidades propostas. Com isso, tem-se a expectativa de destacar tanto as
melhores práticas, quanto qualquer tipo de possível “armadilha” que deve ser evitada, por não
ser possível adequar ao cenário local ou por ter sido demonstrado como um insucesso em outras
tentativas.
Por fim, no capítulo 6, temos uma breve exposição das conclusões do trabalho. Vamos
rever um resumo das propostas, as conclusões finais e um recorte das contribuições fornecidas
por ele. Além disso, são mostrados os desafios encontrados, considerações sobre o cenário atual
e sugestões de trabalhos futuros para pesquisadores interessados.
11
2. Conceitos fundamentais
Para analisar de forma mais objetiva um ecossistema favorável à criação de empresas
(startups), vamos, antes de tudo, definir bem os conceitos do termo startup e quíntupla-hélice.
A partir destas definições, teremos uma visão mais clara do que está sendo avaliado e quais
serão os critérios usados para definir o sucesso destes modelos propostos. Algumas definições
de conceitos de negócios serão omitidas desta seção, mas você poderá consultar o glossário no
final do trabalho.
2.1 Empreendedorismo e startups
O primeiro passo do debate é o estabelecimento de uma definição ampla, porém
relativamente precisa, dos elementos que compõem o empreendedorismo. Esta mesma
definição é adotada pela Endeavor Brasil e pelo IBGE na produção dos relatórios de Estatísticas
de Empreendedorismo [8]. São três elementos:
• Empreendedores: são pessoas, necessariamente donos de negócios, que buscam gerar valor
por meio da criação ou expansão de alguma atividade econômica, identificando e explorando
novos produtos, processos e mercados;
• Atividade empreendedora: é a ação humana empreendedora na busca da geração de valor,
por meio da criação ou expansão da atividade econômica, identificando novos produtos,
processos e mercados;
• Empreendedorismo: é o fenômeno social associado à atividade empreendedora.
O ato de empreender pode ou não estar ligado ao objeto de estudo deste trabalho, as
startups, então, vamos adentrar neste ambiente em busca de solidificar nossa base de definições.
Muito ouve-se falar no termo startup, mas os conceitos se confundem facilmente com
outros tipos de empresas. Startups não são MPEs (Micro ou Pequenas Empresas), não são
empresas familiares ou Sociedades Anônimas, embora cada empresa desse tipo pode ser
também uma startup. Tampouco podemos classificar uma startup puramente como uma
12
empresa de base tecnológica. Por isso, vamos adentrar numa série de conceitos sobre o que é e
sobre como identificar uma instituição como startup no Brasil e no mundo.
A Harvard Business Review Brasil publicou um artigo de Ranjay Gulati e Alicia
DeSantola [9], “Startups que Sobrevivem”, que utiliza-se de uma série de estudos de caso de
empresas que cresceram de forma explosiva num intervalo analisado de 75 anos. A pesquisa
indica que existem quatro atividades críticas para crescer com sucesso, que seriam:
(i) o foco das empresas deve ser muito mais o crescimento até o próximo patamar do
que ao topo numa única vez;
(ii) faz-se necessário criar estruturas de gerenciamento que controlem o fluxo de
informações com a entrada de novos funcionários, ao mesmo tempo que possibilitam a
manutenção de laços informais;
(iii) deve-se desenvolver planejamento rápido e mutável, capacidades de previsão
para identificar tendências de mercado e possíveis dores de crescimento; e
(iv) explicitar, explicar e reforçar diariamente os valores culturais que identificam e
sustentam o negócio durante todo o crescimento.
Falamos em escalar, ou crescer rápido, porque startup é, além de outros critérios,
definida fortemente por uma cultura de crescimento. Vamos a uma definição do entendimento
do Prof. Silvio Meira (Professor Emérito da UFPE em Ciência da Computação), que sintetiza
as características apresentadas nas descrições acima e conceitua o termo startup, no Brasil,
afirmando que são novos negócios inovadores de crescimento empreendedor. [10]
Novo é um negócio que começou a existir há pouco tempo. Um negócio é novo
se ele tem menos de mil dias de vida, ou seja, uns três anos.
Novo negócio inovador é um que muda (ou está tentando mudar) o
comportamento de agentes, no mercado.
Crescimento empreendedor, em um mercado que cresce ‘x%’ ao ano, é crescer
‘5x%’, ‘10x%’, ao ano – ou mais.0
13
2.1.1 Origem
A origem deste fenômeno econômico denominado Startup veio da segunda metade do
Século XX nos EUA, surgido no centro da indústria de venture capital do Silicon Valley (ou
Vale do Silício em português), na Califórnia. O capital de risco está relacionado ao investimento
e participação societária em startups. Através da aquisição de valores mobiliários (ações,
debênture conversíveis, bônus de subscrição, entre outros), com o objetivo de obter ganhos
expressivos de capital no médio prazo (5 a 7 anos), Startups são criadas para compartilhar os
riscos do negócio (ou venture em inglês), selando uma união de esforços entre empreendedores
e investidores para agregar valor à empresa investida. Os investimentos podem ser direcionados
para qualquer setor que tenha perspectiva de grande crescimento e alta rentabilidade no longo
prazo.
O capital de risco pode ser apresentado de através de várias instituições, que veremos
mais à frente, dependendo principalmente do contexto da startup em cada momento. Através
do venture capital, Startups que pretendem crescer rápido e se transformar em grandes
companhias passam a dispor de oportunidades para financiar o seu crescimento, com apoio para
a criação de estruturas de governança, lucratividade e sustentabilidade futura do negócio.
Definições externas de startup
Faz-se necessário compreender, em todo o seu significado, este recente fenômeno
econômico denominado Startup. Selecionamos algumas definições do termo Startup por
diferentes atores do ecossistema de empreendedorismo e inovação local e global. Abaixo o
quadro com as definições que selecionamos para reflexão e estudo:
14
FONTE
CONCEITO
Wikipedia
“A startup company (startup or start-up) is an entrepreneurial venture which is
typically a newly emerged, fast-growing business that aims to meet a
marketplace need by developing or offering an innovative product, process or
service. A startup is usually a company such as a small business, a partnership
or an organization designed to rapidly develop a scalable business model.”[11]
Paul
Graham
“a Startup is a company designed to grow fast. Being newly founded does not
in itself make a company a Startup. Nor is it necessary for a Startup to work on
technology, or take venture funding, or have some sort of 'exit'. The only
essential thing is growth. Everything else we associate with Startups follows
from growth.” [12]
Dave
McClure
"A startup is a company that is confused about: (1) what its product is (2) who
its customers are; (3) how to make money." [13]
Steve
Blank
“Your startup is essentially an organization built to search for a repeatable and
scalable business model. As a founder you start out with: 1) a vision of a product
with a set of features, 2) a series of hypotheses about all the pieces of the business
model: Who are the customers/users? What’s the distribution channel. How do
we price and position the product? How do we create end user demand? Who are
our partners? Where/how do we build the product? How do we finance the
company, etc. Your job as a founder is to quickly validate whether the model is
15
correct by seeing if customers behave as your model predicts. Most of the time
the darn customers don’t behave as you predicted.” [14]
Eric Ries
"A startup is a human institution designed to deliver a new product or service
under conditions of extreme uncertainty." [15]
Investopedia
“A startup is a company that is in the first stage of its operations. These
companies are often initially bankrolled by their entrepreneurial founders as
they attempt to capitalize on developing a product or service for which they
believe there is a demand. Due to limited revenue or high costs, most of these
small-scale operations are not sustainable in the long term without additional
funding from venture capitalists.” [16]
Endeavor
Brasil
“uma empresa emergente de grande potencial.” [17]
Startup
Brasil
“Empresas que tenham até quatro anos de constituição e desenvolvam produtos
ou serviços inovadores usando ferramentas de software, hardware e serviços de
TI como parte da solução proposta.” [18]
Sebrae
“Um grupo de pessoas iniciando uma empresa, trabalhando com uma ideia
diferente, escalável e em condições de extrema incerteza.” [19]
16
Anjos do
Brasil
“O Investimento Anjo é o investimento efetuado por pessoas físicas com seu
capital próprio em empresas nascentes com alto potencial de crescimento
(as startups).” [20]
In
Revista
Exame
“Muitas pessoas dizem que qualquer pequena empresa em seu período inicial
pode ser considerada uma startup. Outros defendem que uma startup é uma
empresa com custos de manutenção muito baixos, mas que consegue crescer
rapidamente e gerar lucros cada vez maiores. Mas há uma definição mais atual,
que parece satisfazer a diversos especialistas e investidores: uma startup é um
grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável,
trabalhando em condições de extrema incerteza.” [21]
ACE
“uma organização temporária com um modelo de negócios escalável e repetível.”
[22]
Todavia repito que, por mais que hajam muitos pontos de contato, não devemos
confundir uma startup com uma Micro ou Pequena Empresa (MPE). Uma startup pode, ou não,
ao longo da sua história se comportar como uma MPE. Caso obtenha sucesso no seu
crescimento, pode atingir o patamar de Sociedade Anônima (S/A). Mas algumas startups já
nascem como S/As, por exemplo, pois podem necessitar de uma determinada robustez para
captar investimentos ou ter algum respaldo para iniciar suas atividades, como é o caso de muitas
fintechs, startups que estão ligadas ao ramo do mercado financeiro e podem precisar de vários
selos e auditorias para dar início a suas operações.
O ponto importante é entendermos que a startup é um ente mutável, ágil e com
características muito fortes de cultura e crescimento, que inova em hábitos e processos e está
inserida num ambiente de incerteza e descoberta. Vamos entender, a seguir, algumas outras
características práticas que diferem startups de empresas tradicionais.
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Aspectos clássicos de startups
Com uma definição do termo startup é importante listar algumas especificidades que
vão fazer com que a startup seja diferente de uma empresa tradicional. Com essa base, podemos
observá-las de acordo com os pilares de quíntupla hélice, conceito que veremos na próxima
seção deste capítulo.
I. Mão de obra altamente especializada
Startups necessitam de profissionais muito qualificados, ou seja, de alto valor agregado.
É comum dizermos que estes profissionais têm empregabilidade global [23] e possuem, no caso
da startup, um poder de barganha alto, devido a sua importância para a manutenção do negócio.
São profissionais de destaque que, dado seu conhecimento técnico especializado, tornam-se
vitais para uma startup. Podemos dizer que muitas vezes os funcionários são tão importantes
que eles mesmos representam um diferencial competitivo daquela empresa no mercado.
II. Participações societárias
Comumente funcionários de startups, devido ao seu valor agregado ao negócio, recebem
convites para integrar a participação societária do negócio, como sócios minoritários. Embora
não detenham o controle, esses sócios possuem uma relevância que vai além das suas ações,
pois conhecem muito bem o negócio e apresentam um desafio considerável para serem
substituídos.
III. Rápidas e múltiplas trocas de acionistas
Segundo dados do Sebrae e do IBGE, empresas familiares geram 65% do Produto
Interno Bruto (PIB) brasileiro e empregam 75% da força de trabalho, além de representarem
90% dos empreendimentos no Brasil. No caso das Startups é muito diferente. Ao evoluir e,
principalmente, ao passar de um patamar para o outro, é normal que aconteça uma transição
entre sócios. É natural que, nesta evolução, fundos de investimento e outros tipos de acionistas
assumam controle da Startup, diluindo os sócios fundadores e excluindo os investidores-anjo.
Temos duas operações financeiras que representam essas atividades, conhecidas como cash in
e cash out. No cash in o aporte financeiro é voltado para o desenvolvimento do negócio:
18
contratação de novos funcionários, investimentos em marketing, comercial, produto, ou
qualquer característica do negócio identificada como essencial para o seu crescimento.
Já o cash out está relacionado aos sócios que desejam se retirar parcial ou totalmente da
operação, reduzindo suas atribuições dentro do negócio, recebendo o pagamento devido. É
muito comum que aconteçam modificações desta natureza, com a entrada e saída de sócios,
sejam investidores-anjo, incubadoras, fundos de investimento, sócios fundadores, executivos e
funcionários estratégicos. Essa característica requer conhecimento sobre o processo de
evolução de uma startup e, acima de tudo, exige que haja amadurecimento entre os sócios para
que entendam a hora de entrar ou o momento de sair do negócio
IV. “Go big or go home”
Startups devem ter calculado seu risco, devem buscar um crescimento rápido enquanto
negócio ou devem buscar seu fechamento. Na criação de uma startup, falhar faz parte e fechar
também faz parte.
A figura abaixo resume o ideal de crescimento para um negócio nos moldes de uma
Startup: custos crescendo de forma linear e receitas crescendo de forma exponencial. [24]
19
2.1.2 Explosão e consolidação
O boom da Internet em 1995 fez com que todos os olhares de investimento se voltassem
para o Vale do Silício. Com empresas escalando numa velocidade altíssima, trazendo taxas de
ROI (return over investment) muito atrativas para o mercado de investimento, formando numa
velocidade muito rápida o que viria a ser o mercado de venture capital como o conhecemos
hoje, com os EUA se mostrando o player mais maduro deste segmento.
A partir do que aconteceu no Vale do Silício e levando a lógica para grandes pólos de
tecnologia, os principais fundos, empresas e investidores começaram a perceber o Brasil como
um potencial mercado de boas Startups. O movimento também incentivou a criação dos
primeiros fundos brasileiros que viriam a olhar para o mercado de software e internet.
No Brasil, a primeira onda que identificamos das Startups surgiu por volta de 1998,
durante a bolha da Internet global. Depois do estouro, já por volta dos anos 2000, apenas alguns
poucos empreendimentos sobreviveram. Muito pouco se fez em toda a América do Sul até que,
em 2005, ocorre a venda da Akwan para o Google [25] e, em 2009, a venda do Buscapé para a
Naspers [26]. Estas operações marcaram o início de uma onda de interesse por Startups em todo
o Brasil, o que contribuiu para outros casos de sucesso [27].
A partir da busca e do estudo do mercado de investimentos no Brasil, selecionamos
alguns dos principais cases de Startups no país, com deals realizados entre 1999 e 2019. Várias
dessas empresas receberam novos aportes, foram compradas, fundidas ou até descontinuadas,
mas os deals aqui listados representaram, no seu tempo, relevância no cenário de Startups do
país. Trata-se de um recorte simbólico-ilustrativo e não uma listagem exaustiva. Nosso intuito
é trazer a baila alguns dos principais deals que influenciaram o desenvolvimento do cenário de
investimentos em Startups no Brasil.
A base de informações cruzadas é composta pelo material histórico do CrunchBase [28]
e dos principais fundos de investimento de venture capital no Brasil, como Monashees [29],
Kaszek Ventures [30] e Redpoint eventures [31].
20
Ano Investimentos Investidor Valor
1999 BuscaPé
Akwan
Radix.com
Investidor anjo
Fir Capital
CVC/Opportunity
US$ 500k
Sem valores
US$ 5MM
2000 Movile Rio Bravo US$ 1MM
2004 NetMovies IdeiasNet Sem valores
2007 Boo-box Monashees US$ 300k
2008 Samba Tech
Movile
FIR Capital/Draper Fisher
Naspers
US$ 3MM
Sem valores
2009 MoIP IdeiasNet Sem valores
2010 Kekanto Investir anjo US$ 60k
2011
GetNinjas
Kekanto
Peixe Urbano
iFood
Kaszek Ventures
Kaszek Ventures
Monashees
Warehouse Investimentos
US$ 700k
Sem valores Sem valores
R$ 1.56MM
2012 Viva Real
Runrun.it
Easy Taxi
Kaszek Ventures
Monashees
Rocket Internet
US$ 3.2MM
Sem valores
U$ 5MM
2013 iFood
Jusbrasil
ZeroPaper
uMov.me
In Loco Media
ZUP
Resultados Digitais
Movile Partners
Monashees
TOTVS Ventures
TOTVS Ventures
BuscaPé
BuscaPé
Monashees
R$ 2.6MM
Sem valores Sem valores
R$ 3.2MM
Sem valores Sem valores
R$ 5MM
2014 Netshoes
Apontador
Nubank
GIC
Movile
Sequoia Capital
US$ 170MM
R$ 15MM
US$ 14.3MM
2015 Contabilizei
Contentools
Neemu
Chaordic
Kaszek Ventures
Investidor anjo
Linx
Linx
Sem valores
US$ 300k
R$ 34.1MM
R$ 44.5MM
2016 QuintoAndar Kaszek Ventures U$ 7MM
21
Passei Direto
BankFacil
Chegg
Kaszek Ventures
R$ 23MM
R$ 15MM
2017 99
Gupy
GuiaBolso
CargoX
Softbank
Canary
Vostok
Goldman Sachs
U$ 100MM
U$ 1.5MM
U$ 15MM
R$ 66MM
2018 Pipefy
Volanty
Conta Azul
OpenView Partners
Monashees
Tiger Global
U$ 16MM
U$ 19MM
R$ 100MM
2019 Nubank
Ebanx
Loggi
TCV
FTV Capital
SoftBank
U$ 400MM
Sem valores
U$ 150MM
No Brasil, entretanto, a grande maioria das Startups falham antes de dois anos de sua
criação, segundo a seguinte pesquisa da Fundação Dom Cabral [32]:
2.1.3 Status quo brasileiro
Mesmo com dificuldades o ecossistema de Startups no Brasil cresceu e se encontra em
sua fase inicial de formação – ou ‘primeira infância’.[33] O Brasil é um mercado em formação
para as Startups, especialmente quando tratamos do tema sob a ótica da inovação através de
investimentos de capital de risco. Diz-se que o primeiro fundo especializado nessa área nasceu
em 1994, por iniciativa da GP Investimentos [34]. Isso significa que conceitos, regras de boas
práticas e definições sobre o tema estão em desenvolvimento entre nós a pouquíssimo tempo.
Mesmo assim, como é o esperado para um cenário de crescimento explosivo e com
muitas oportunidades, diversos setores da economia apresentaram saltos significativos nos
últimos anos, como é o caso dos setores financeiros, de saúde e educação.
Fintechs
O relatório “Fintech na América Latina 2018: crescimento e consolidação” [35],
publicado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), aponta crescimento de 66%
de novos empreendimentos Fintech em comparação ao primeiro levantamento, realizado em
22
2017. Os segmentos que mais cresceram no Brasil desde 2017 foram score de crédito,
identidade e fraude, registrando 750%, mostrando mais uma vez a necessidade de que o
mercado incorpore soluções para conter riscos associados ao maior desenvolvimento
tecnológico; e de empréstimos, com 132% de aumento de novos negócios. O segmento de
gestão de finanças empresariais também apresentou alto crescimento no Brasil, registrando
89%. Os números de 2019 foram consolidados pelo FINNOVATION [36], um dos maiores
portais sobre Fintechs do país e já apresenta um crescimento de 34% sobre os números de 2018,
ou seja, somamos mais de 500 fintechs só no Brasil este ano.
Healthtech
Segundo dados da Conta-Satélite de Saúde Brasil 2010-2015 [37], divulgados pelo
IBGE no fim de 2017, o consumo final de bens e serviços de saúde no país cresceu e atingiu
R$ 546 bilhões, o equivalente a 9,1% do PIB. Seguindo o IESS (Instituto de Estudos de Saúde
Suplementar), a inflação cai enquanto o custo hospitalar se incrementa. Isto ocorre porque
mesmo havendo melhor tecnologia para diagnóstico e tratamento, as pessoas continuam imunes
à doenças. As tecnologias focadas no diagnóstico e tratamento irão melhorar a precisão e
atuação da doença, mas não irão prevenir que o usuário fique doente. Por isso que mesmo
melhorando tecnologicamente, o papel do médico continuará a ser essencial.
O custo econômico hospitalar continuará a crescer nos próximos anos, e de forma quase
exponencial, devido ao número de pessoas de maior idade será cada vez maior – e segundo a
OMS (Organização Mundial de Saúde), a taxa de incidência em doenças acontece com pessoas
sedentárias a partir dos 35 anos.
Em resposta às deficiências na área de saúde, estão surgindo empresas com propostas
inovadoras para esse segmento. O mercado de Health Tech se divide em 3 grandes blocos:
prevenção, diagnóstico e tratamento. Elas podem estar em diferentes plataformas, focos de
negócios e modelos de negócios. O volume de investimentos na área de health tech no contexto
mundial aumentou 90% entre os anos de 2010 e 2017. Os dados são do relatório de inteligência
do Sistema de Inteligência Setorial do Sebrae-SC (2019).
Segundo um relatório da KPMG, existem hoje 288 startups no Brasil focadas no
segmento de health tech. Além disso, em 2017, o setor das health techs foi o segundo segmento
da economia com o maior crescimento na América Latina, com um valor acumulado de 250%
em relação ao ano anterior.
23
Edtech
O setor de edtechs vem crescendo mundialmente e, no Brasil, as startups educacionais
estão impactando positivamente os modelos de ensino e aprendizagem. Atualmente, elas
representam 7,8% do total de startups no Brasil, crescendo em média 20% ao ano, segundo o
mapeamento [38] da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) e o Centro de Inovação
para a Educação Brasileira (Cieb).
O mapeamento mostrou ainda, que o mercado brasileiro de edtechs encontra-se em um
momento de evidência devido à sua capacidade de impacto social neste mercado em expansão.
Hoje, já são mais de 350 edtechs espalhadas por 25 dos 26 estados brasileiros, dos quais 19
deles possuem, pelo menos, três startups educacionais. Elas vêm se desenvolvendo com capital
próprio, investimentos-anjo e através de fundos de venture capital.
Investimento de risco
Independente da vertical que estamos analisando, acessar capital é algo muito
importante para os empreendedores. Este ponto será mais detalhado no próximo capítulo deste
trabalho, mas como já abordamos a relevância do capital de risco para o crescimento das
startups, vamos adiantar alguns números para que o cenário Brasil fique claro.
O Brasil lidera, de longe, o caminho dos investimentos de risco [ou venture capital] na
América Latina [39]. Quando conversamos com algumas startups de países vizinhos,
estabelecendo comparações, vemos que o Brasil realmente tem um mercado gigantesco. Este
grande potencial tem atraído muitos investidores estrangeiros, assim como alguns
empreendedores de fora também. Temos visto, desde 2013, o volume de investimento de risco
aumentar quase 10 vezes, e o número de rodadas tem ficado levemente menor nos últimos dois
anos, o que revela uma maturação da tese de venture capital onde temos visto um menor número
de rodadas, porém, com maior capital investido.
Nada está perfeito
Mesmo com um cenário aparentemente favorável, ainda existem vários desafios para os
empreendedores no Brasil [40]. O número de empreendedores tem crescido, mas o número de
mortalidade vai acompanhando o crescimento de perto. Ou seja, os desafios não estão presentes
24
apenas na geração de empreendedores, mas em como dar suporte para que esse empreendedor
continue empreendendo.
As oportunidades e problemas estão postos em áreas de todo tipo, como citamos
educação, saúde e finanças. O próximo passo é descobrir a melhor forma de conectar o
conhecimento, os incentivos e as oportunidades.
Em qualquer lugar do mundo a realização do sonho da startup precisa dos pilares
propostos pelo modelo de quíntupla hélice: (i) governo, (ii) educação/universidades, (iii)
sociedade e (iv) meio ambiente. No Brasil, nenhum desses itens é trivial.
2.2 Quintupla-hélice
Carayannis et al. (2012) acreditam que um ecossistema empreendedor deve ser
orientado pelo conceito de Quíntupla Hélice. Este conceito evoluiu a partir do conceito Tripla
Hélice e mais tarde da Quádrupla Hélice. A Tripla Hélice liga o desenvolvimento de um
ecossistema empresarial inovador às interações entre governo, empresas e universidades [41]
[42]. A Quádrupla Hélice acrescenta a perspectiva da Sociedade interagindo diretamente com
conhecimento gerado e sua divulgação, contribuindo também para sua construção. Finalmente,
a Quíntupla Hélice coloca em perspectiva os temas ecologicamente sensíveis do meio ambiente.
Destacam Autio [43] e Holienka [44] que, ao se corrigir deficiências de um
ecossistema empreendedor, evolui-se na estruturação para a formação de um ambiente propício
à negócios inovadores, potencializados por instrumentos como as incubadoras, aceleradoras,
fundos de investimento de risco e outras entidades que contribuem para formação de empresas
[45] e que poderão contribuir diretamente com os pilares da sociedade e meio ambiente.
2.2.1 Evolução
O grande ponto da quíntupla hélice é de incluir o meio ambiente como uma nova subárea
do conhecimento e dos modelos de inovação, assim, então, a natureza é posicionada como um
elemento central e equivalente aos demais elementos durante a produção de conhecimento.
A necessidade de incluir este ponto, deu-se exatamente a partir da evolução dos modelos
anteriores com o contexto de mundo atual. O modelo de tripla hélice observa apenas os campos
do mercado: (i) universidades, (ii) mercado e (iii) governo. Apesar de serem pontos essenciais,
25
ainda apresentam lacunas ao encarar um mundo cada vez mais globalizado e no qual essas três
instituições se misturam diariamente com o próximo pilar (iv) sociedade.
Com o modelo de quádrupla hélice, por que aumentar a complexidade de um modelo
que possui agentes tão grandes e não triviais? Carayannis começa a entender que a valorização
do ambiente natural, para o processo de produção de conhecimento e a construção de inovação,
é particularmente importante porque serve para a preservação, sobrevivência e revitalização da
humanidade. Ou seja, começou-se a entender a importância da humanidade aprender mais com
a natureza (especialmente em tempos de mudança climática).
Com a hélice do ambiente natural, o "desenvolvimento sustentável" e a "ecologia social"
tornam-se constituintes da inovação social (societária) e da produção de conhecimento
O elemento constituinte mais importante da Hélice Quíntupla - além dos "agentes
humanos" ativos - é o recurso do "conhecimento", que, através de uma circulação (ou seja,
circulação de conhecimento) entre subsistemas sociais, provocam mudanças na inovação,
aumentam know-how em uma sociedade e trazem benefícios para a economia [46].
A Quíntupla Hélice, assim, visualiza a interação coletiva e a troca de conhecimento em
um cenário que se dá por meio dos cinco subsistemas seguintes (isto é, hélices):
26
(1) sistema de ensino,
(2) sistema econômico,
(3) sistema político,
(4) público baseado na mídia e na cultura,
(5) e o ambiente natural,
Analisar a sustentabilidade neste modelo significa que o desenvolvimento sustentável
determine o progresso significa que cada um dos cinco subsistemas descritos (hélices) tem um
recurso especial e necessário à sua disposição, com uma relevância social e acadêmica
(científica), do seguinte modo:
(i) O sistema de ensino: O sistema de educação, como o primeiro subsistema, define-
se em referência a "academia", "universidades", "sistemas de ensino superior" e escolas. Nesta
hélice, o necessário "capital humano" (por exemplo: estudantes, professores, cientistas /
pesquisadores, empreendedores acadêmicos, etc.) de um estado (estado-nação) está sendo
formado pela difusão e pesquisa do conhecimento. Quanto mais investimento é realizado na
hélice de educação, maior é a vazão de inovação, pesquisa e ciência obtida. Isso significa um
desenvolvimento sustentável com capital humano qualificado, servindo como entrada da
segunda hélice.
(ii) O sistema econômico: O sistema econômico, como o segundo subsistema, consiste
em "indústria / indústrias", "empresas", serviços e bancos. Esta hélice concentra e concentra o
27
"capital econômico" (por exemplo: empreendedorismo, máquinas, produtos, tecnologia,
dinheiro, etc.) de um estado (estado-nação). Com a entrada de novos conhecimentos de um
capital humano mais especializado, temos uma valorização do conhecimento econômico. Com
o enriquecimento do conhecimento, são produzidos novos tipos de trabalho, novos produtos e
serviços sustentáveis [verdes]. Neste subsistema, novos valores, como responsabilidade
corporativa-social, são demandados, suportando aprendizados e inovações diretamente das
questões econômicas para a hélice do ambiente natural.
(iii) O ambiente natural: O ambiente natural como terceiro subsistema é decisivo para
um desenvolvimento sustentável e proporciona às pessoas um "capital natural" (por exemplo:
recursos, plantas, variedade de animais, etc.). Assim, recebemos, do sistema econômico, um
motor de desenvolvimento que se comunica melhor com a natureza e resulta em menos
exploração, destruição, desperdício e contaminação. Com isso, o ambiente natural pode se
regenerar e fortalecer o seu valor, proporcionando também aprendizado humano. O objetivo é
levar a sociedade a viver em balanço com a natureza e ao mesmo tempo se desenvolver, usando
recursos finitos de forma sustentável. Este conhecimento verde é a entrada da hélice cultural.
(iv) O público baseado na mídia e na cultura: o quarto subsistema, público baseado
na mídia e na cultura, integra e combina duas formas de "capital". Por um lado, esta hélice,
através do público baseado na cultura (por exemplo: tradição, valores, etc.), é um "capital
social". Por outro lado, a hélice do público baseado na mídia (por exemplo: televisão, internet,
jornais, etc.) contém também "capital da informação" (por exemplo: notícias, comunicação,
redes sociais). O capital da informação está balanceado com o estilo de vida desenvolvido na
hélice anterior. Desenvolvimento social e cultural estão em harmonia com uma consciência
sustentável. Todo o conhecimento, desejos, necessidades e modos de vida são a entrada para a
próxima hélice: o sistema político.
(v) O sistema político: O sistema político, como um quinto subsistema, também é de
importância crucial, porque formula a 'vontade', para onde o estado (estado-nação) está
caminhando no presente e no futuro, definir, organizar e administrar as condições gerais do
estado (estado-nação). Portanto, esta hélice tem um "capital político e legal" (por exemplo:
idéias, leis, planos, políticos, etc.). Entre outras palavras, a questão midiática e cultural é
somada a todo o restante dos motores das hélices, influenciando diretamente o sistema político.
As discussões, com toda bagagem adquirida, objetivam a criação de um capital político e
28
jurídico que mantenha as hélices funcionando harmonicamente, fazendo com que o modelo de
hélice quíntupla seja eficaz e sustentável. Ou seja, sugestões de investimentos sustentáveis
levam a circulação do conhecimento de volta ao sistema educacional.
2.2.2 Cenário Brasil
I. Universidades
A universidade deve potencializar e inspirar o empreendedorismo e a capacidade de
inovar dos seus alunos, a fim de gerar desenvolvimento econômico e social na comunidade.
Porém, as instituições não estão atendendo às necessidades dos alunos: de acordo com uma
pesquisa do SEBRAE [47] enquanto cerca de 65% dos professores estão satisfeitos com
iniciativas de empreendedorismo dentro das universidades, a média de satisfação entre alunos
é de 36%. Há sinais para explicar o descompasso. Entre os principais problemas e dificuldades
estão:
(i) As universidades não têm uma estrutura que apoie a jornada completa do
empreendedor;
(ii) A universidade está desconectada do mercado;
(iii) A atuação da universidade não estimula a inovação e o sonho grande nos alunos;
As universidades precisam conectar os seus alunos com o mercado e com a comunidade.
É preciso interligar suas iniciativas a uma visão estratégica de médio e longo prazo, visando a
uma gama de atividades e espaços que acompanham a jornada do empreendedor em um pro-
grama robusto de empreendedorismo.
Porém, a universidade não demonstra ser ativa no mercado e na comunidade, já que
poucos professores são empreendedores ativos e se atualizam por meio do contato com
empreendedores externos à instituição de ensino, além de haver poucas iniciativas abertas ao
público ou que envolvam agentes empreendedores da comunidade.
Há uma relação direta entre cursar uma disciplina de empreendedorismo e o seu perfil
empreendedor. Quanto maior o envolvimento com a temática empreendedora, maior a
proporção de alunos que realizaram disciplinas do tipo. Cerca de 46% de alunos
empreendedores já cursaram as disciplinas, número superior ao de potenciais empreendedores
29
(38,8%), por sua vez superior ao de alunos que não pensam em ter um negócio (24%). Entre os
alunos, observou-se:
(i) O grupo que cursou disciplinas de empreendedorismo é o mesmo que pretende
empreender nos próximos três anos;
(ii) Cursar disciplinas de empreendedorismo diminui as dúvidas e os desafios entre
alunos empreendedores;
(ii) O aluno valoriza iniciativas empreendedoras em sua universidade;
Porém, ao mesmo tempo que os números gerais mostram o descompasso das
universidades com a cultura de empreendedorismo e startups, existem algumas exceções que
revelam o potencial das instituições na formação de bons empreendedores.
Assim como o animal mitológico, que é considerado raríssimo, as startups que são
avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais são chamada de "unicórnios". Ainda assim, essas empresas
já fazem mais parte da realidade do que o belo cavalo de um chifre só — são 416 delas no
mundo todo de acordo com a plataforma CB Insights [48]. Dos unicórnios espalhados pelo
mundo, 9 deles estão no Brasil: arco, Gympass, iFood, Loggi, movile, 99, Nubank, Stone e,
mais recentemente, o Ebanx.
Na liderança de unicórnios brasileiros, há egressos de instituições tradicionais como a
Universidade de São Paulo (USP) e a Fundação Getulio Vargas (FGV). Saíram da USP dois
fundadores da Gympass (Cesar Carvalho e João Thayro); todos os fundadores do iFood
(Eduardo Baer, Felipe Ramos, Patrick Sigrist e Guilherme Bonifácio); os três criadores da 99
(Ariel Lambrecht, o já mencionado Renato Freitas e Paulo Veras), além de Cristina Junqueira,
do Nubank.
Assim, vemos que há potencial de gerar inovação e impacto socioeconômico em saltos
significativos, mas tem se mostrado imprescindível para universidades se manterem mais
conectadas com problemas da sociedade civil que representam, ao mesmo tempo, boas
oportunidades de mercado. Basta conectá-los e fornecer as ferramentas e incentivos corretos,
como tem feito a USP com a criação de disciplinas focadas em marketing, finanças, recursos
humanos, pensadas diretamente para empreendedores [49].
30
II. Mercado
Os sinais da crise econômica foram evidenciados no crescimento pouco expressivo do
Produto Interno Bruto (PIB) e do número de empresas exportadoras, decorrente do ritmo fraco
de diversos setores no período analisado - com desempenho regular apenas do setor de serviços
– e do número de empresas que decretaram falência ou que sofreram aquisições e fusões nos
últimos anos [50].
Adicionalmente, o Brasil segue como um dos países mais fechados em termos de
comércio internacional, sendo o que menos exporta entre as 20 principais economias do mundo.
Um estudo do Banco Mundial [51] identificou que os custos para empreender e se
internacionalizar no país continuam altos, sendo necessários investimentos para desenvolver o
ambiente de negócios e atrair mais empresas capazes de exportar e aumentar a competitividade
do país.
Após a pior crise de sua história, o Brasil mostra sinais de lenta recuperação econômica.
Entretanto, várias cidades foram afetadas, seja pelo desaquecimento dos setores econômicos ou
pela queda da renda da população. De toda forma, vale ter em mente que, quando se trata dos
dados do PIB, as informações divulgadas pelo IBGE são defasadas em alguns anos. Ou seja,
não é possível analisar e detalhar as dinâmicas econômicas dos municípios no contexto atual.
De qualquer maneira, as previsões mais atuais são previsões de melhorias, apesar de
lentas. Segundo o relatório do Banco Central (BC), a expectativa de crescimento da economia
em 2019 passou de 0,88% para 0,91%, conforme o Relatório de Mercado Focus. Há quatro
semanas, a estimativa de alta era de 0,87%. Para 2020, o mercado financeiro manteve a previsão
de expansão do Produto Interno Bruto (PIB), em 2,00% [52].
III. Meio ambiente
O Brasil é um dos principais atores nas discussões internacionais sobre o meio ambiente.
As características naturais do país o tornam uma referência no tema: o Brasil conta com a maior
biodiversidade do mundo; a maior extensão de floresta tropical e 12% das reservas de água
doce do planeta.
Como país em desenvolvimento, o Brasil defende também a necessária conciliação
entre a conservação do meio ambiente, a erradicação da pobreza e o desenvolvimento
econômico. Essa visão, consolidada no conceito de desenvolvimento sustentável, tem levado
31
a resultados expressivos no Brasil, como a queda nas taxas de desmatamento florestal, a
expansão das matrizes energéticas limpas e o aumento da produção e da produtividade agrícola.
Porém a sustentabilidade é um fator importante e nada trivial. As práticas sustentáveis
envolvem custos não incorridos pelas práticas tradicionais mas ao mesmo tempo podem
oferecer vantagens competitivas e reduções em custos advindos da reutilização dos resíduos ou
dos custos do descarte, etc. Portanto a sustentabilidade também é complexa. E é claro que a
combinação de sustentabilidade com inovação é mais complexa ainda. Finalmente, inovação
(especialmente inovação tecnológica) e startups frequentemente ocorrem juntos acarretando
complexidade geometricamente maior se também maior valor e impacto potencial.
As empresas devem ter um bom desempenho simultâneo em todos os quatro quadrantes
do modelo, e em uma base contínua, caso queiram maximizar o valor ao acionista ao longo do
tempo. A atuação em um ou dois quadrantes é sinal de um desempenho inferior e até mesmo
de fracasso [53].
Existem algumas diretrizes do governo para avaliar negócios e suas políticas de
sustentabilidade:
(i) NBR ISO 26000: norma que sugere práticas de responsabilidade social empresarial,
com foco em accountability; transparência; comportamento ético;respeito aos interesses dos
stakeholders; respeito ao Estado de Direito; respeito às normas internacionais de
comportamento; e direitos humanos.
(ii) Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3: iniciativa da B3, antiga
BM&FBOVESPA, mensura o retorno de uma carteira composta das ações mais líquidas da
bolsa que passam por uma avaliação voluntária em relação à sustentabilidade. A base para essa
avaliação são as respostas a um questionário que trata de sete dimensões: geral, natureza do
produto, ambiental, social, econômica, governança e mudança do clima. Ao sugerir boas
práticas, o questionário também serve como guia para empresas que almejam avançar nessas
dimensões.
(iii) Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis: ferramenta que permite diagnosticar
o estágio organizacional em relação à responsabilidade social corporativa. Também em formato
de questionário, o guia é organizado em quatro grandes dimensões – (i) Visão e Estratégia; (ii)
Governança e Gestão; (iii) Dimensão Social; e (iv) Dimensão Ambiental.
32
O grande ponto sobre sustentabilidade é que apesar de existirem diretrizes e incentivos,
precisamos entender que negócios são partes integrantes da sociedade e devem estar de acordo
com as boas práticas que promovem a preservação do meio ambiente, para que o impacto
causado seja positivo e de longo prazo, gerando mais valor social e permitindo que a sociedade
evolua como um todo, sem prejudicar o ecossistema natural.
IV. Sociedade
Olhar para o pilar de sociedade, na relação de quíntupla hélice, leva-nos a olhar para
tudo aquilo que constitui as relações humanas, os anseios sociais, a evolução de grupos de
indivíduos. Sendo as startups entidades criadas por pessoas e refletindo aspectos culturais
locais, podemos perceber que as startups possuem uma relação muito próxima com as principais
necessidades das pessoas, seja num ambiente urbano ou rural. Elas são uma forma de expressão.
O papel do empreendedor, ao criar um negócio que visa o crescimento, é dar sentido ao
negócio e se integrar como um objetivo social em essência. Ou seja, startups são tanto um meio
de expressão de uma determinada construção social, quanto um agente modificador que se
relacionada diretamente com a sociedade, mudando hábitos, culturas e se misturando no dia a
dia das pessoas.
Quando observamos para o cenário brasileiro, é natural vermos todo impacto, já citado
no capítulo 1, sobre aspectos como saúde, educação, mercado financeiro. Várias startups vêm
cumprindo o quesito de preencher as lacunas deixadas por instituições como o governo e outros
mercados, por exemplo. Se olharmos para os últimos anos, houve um aumento significativo de
empresas atuando em setores básicos e mudando diversas realidades.
Temos startups como o Dr. Consulta, fundada em 2011, responsável por providenciar
atendimento médico de qualidade, voltado para diagnósticos, a um preço acessível. Desta
forma, a população que não tem acesso a planos de saúde e precisa de um diagnóstico rápido,
sem passar pela fila do Sistema Único de Saúde (SUS), pode utilizar um serviço de baixo custo.
Outros exemplos de startups como o Nubank vêm revolucionando a relação dos consumidores
com instituições financeiras, ao oferecer produtos de crédito a custo zero, permitindo que mais
pessoas consigam abrir contas no banco, sem pagar tarifas e sem enfrentar filas. Ou ainda
empresas como a Geekie, que atua diretamente na preparação de jovens estudantes para o
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), auxiliando com sugestões de estudo, conteúdos
complementares e ocupando uma brecha que existia na formação daquele aluno, que não
consegue acesso direto ao professor ou aos pais durante o processo de estudo e aprendizado.
33
Pensar em necessidades sociais e na forma dessa necessidade emergir como problema
ou oportunidade de mercado, faz com que startups sejam criadas em torno delas e provoquem
uma mudança positiva na sociedade, dado que existe um mercado rentável e um problema real
que, ao ser resolvido, tem como consequência a melhoria do bem estar social. O Brasil tem
evoluído bastante em formatar problemas reais como oportunidades para startups, o que
também é uma consequência natural do tempo e aprendizado dos negócios e empreendedores,
além de termos exemplos espalhados ao redor do mundo que servem como modelos de
inspiração no nosso ambiente.
V. Governo
Pensar na relação entre governo e startups exige pensar em toda relação entre política e
empresas na história do Brasil. Novos perfis de negócios começaram a integrar o mercado,
porém existe um arcabouço de leis, programas e adaptações muito extenso na evolução dessa
relação. Por isso vamos nos limitar a uma linha temporal mais recente, suprimindo algumas
etapas da evolução das políticas governamentais com as empresas de alto crescimento, as
startups.
Como mostramos até aqui, startups são empresas com características muito particulares
e é esperado que apresentem necessidades diferentes. O governo, como uma instituição que
busca promover o desenvolvimento econômico e o bem estar social, pode encarar startups como
um meio de deste desenvolvimento. Assim, faz-se necessário se aproximar e entender as
principais necessidades. No modelo de hélice quíntupla, negócios só são viabilizados e geram
impacto positivo quando bem conectados com outras hélices, como o governo e a sociedade.
Logo, temos um governo que buscou desenvolver diversas iniciativas que pudessem servir de
auxílio e incentivo às startups. Na sequência vamos falar um pouco desses programas e da
participação do governo na construção de uma comunidade mais madura e bem contextualizada
com as necessidades sociais.
Entre os anos 2012 e 2014, três iniciativas que incentivam startups foram lançadas pelo
governo federal. Apesar de lançadas e executadas em curto espaço de tempo, foram elaboradas
por ministérios diferentes e de forma independente entre si. Embora as três experiências se
voltem para o setor de startups e empresas nascentes e busquem incentivar esse ecossistema,
cada uma tem seu objetivo e estratégia de atuação específica. A análise do desenho e
instrumentos de cada programa foi realizada com base no estudo e tipologias propostas por
Rammer e Müller [54]. É preciso destacar que cada iniciativa surgiu sob a influência dos valores
34
e objetivos próprios de seus órgãos responsáveis. Ainda que tivessem atribuições próximas, os
Ministérios apresentavam ênfases e focos distintos em suas atribuições formais, que se
refletiram e influenciaram as estratégias implementadas em cada programa e também serviram
de justificativa para a criação de programas diferentes, com instrumentos e metodologias
diferentes.
O Startup Brasil foi criado e implementado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações (MCTI) e seu objetivo se vinculava à promoção do
desenvolvimento tecnológico e da inovação e à política de desenvolvimento de informática e
automação. O Inovativa Brasil, por sua vez, foi formulado e gerido pelo Ministério da Indústria,
Comércio Exterior e Serviços (MDIC), relacionando-se à sua atribuição de executar políticas
públicas para a promoção da competitividade e da inovação nas empresas. Já o Inovapps foi
desenhado e lançado pelo Minicom, com a preocupação de promover o acesso aos serviços de
comunicações, contribuindo para o desenvolvimento econômico e tecnológico e a inclusão
social no Brasil.
Quanto aos objetivos estratégicos, percebe-se que o Startup Brasil e o Inovapps
explicitam a busca por desenvolvimento tecnológico. O Inovapps traz de forma subjacente a
ideia de aumento da competição e da eficiência do mercado, enquanto o Inovativa volta-se com
mais ênfase à criação de novas oportunidades de trabalho e promoção de mudanças no setor
industrial. Esses objetivos se relacionam com as missões formais de seus órgãos executores e
se traduzem também nos instrumentos e serviços oferecidos por cada programa.
Segundos os números do próprio StartupBrasil, 5 turmas já foram realizadas e mais de
200 startups apoiadas, fazendo parceria com 17 aceleradoras do país. Já o InovAtiva apoiou
mais de 900 startups, conectando-as com mentores e investidores.
Iniciativas desta natureza mostram o amadurecimento do Governo como instituição
apoiadora do empreendedorismo. Criação de programas a partir do governo, ligado a
instituições de ponta, como aceleradoras, com mentores locais e externos; investidores
buscando novas oportunidades de negócios; empreendedores gerando novos postos de trabalho
e devolvendo valor para o governo.
35
3. Recife e o Porto Digital como ecossistemas de
empreendedorismo e inovação brasileiros
Como vimos até aqui, o Brasil se apresenta como um cenário bastante complexo,
revelando diferentes realidades e desafios. Nosso objetivo agora é analisar mais de perto as
particularidades de um dos seus pedaços marcantes: Recife.
Recife é uma das cidades mais antigas do país, fundada em 1537, e a cidade nordestina
com o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M). É a quarta capital brasileira na
hierarquia da gestão federal, após Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo [55]. Com uma cultura
forte, tipicamente bairrista, algumas das universidades mais tradicionais e prestigiadas do país,
formada por uma planície aluvial, tendo as ilhas, penínsulas e manguezais como suas principais
características geográficas, Recife se apresenta como um prato cheio para analisar relações com
os pilares de hélice quíntupla.
3.1 O que já construímos?
Ao observamos Recife como ecossistema empreendedor, ligado aos conceitos já citados
da Quíntupla Hélice, podemos isolar os pilares e avaliar como cada um deles evoluiu e se
apresenta atualmente. Com isso, é possível entendermos o comportamento da cidade e quais as
instituições que dão suporte a formação de novos negócios. A seguir, veremos um pouco do
que já foi construído em Recife e como cada pilar impacta nos novos empreendedores.
Universidades
Chegando até aqui, entendemos que as universidades têm o papel de incentivar
empreendedorismo e a capacidade de inovar dos seus alunos. Ao compreender startups como
entidades que dependem de escala, partimos do pressuposto que elas dependerão de software
para crescer de maneira saudável. Assim, focaremos na análise de cursos de Ciência da
Computação, Engenharia da Computação, Sistema de Informação e Engenharia de Software,
como motores do crescimento de uma comunidade empreendedora sustentável.
O primeiro centro dedicado ao ensino de Computação em Recife foi na UFPE e o plano
para a criação do centro, dentro do padrão que ele é hoje, nasceu no antigo Departamento de
36
Estatística e Informática. Foi elaborado em 1985 e idealizado para ser um centro de referência
e excelência em Informática da América Latina 15 anos antes dele existir de fato, em meio a
um momento no qual não se fazia planos de longo prazo no Brasil dadas as condições
econômicas da época. Os idealizadores desse plano tinham como premissa básica a inovação e
isso fez com que a UFPE se tornasse a instituição pioneira no Brasil no ensino de tecnologias
atuais do mercado e, consequentemente, do empreendedorismo.
Depois do Centro de Informática novos cursos surgiram na UPE (Engenharia da
Computação), UFRPE (Ciência da Computação), Unicap (Ciência da computação) e em várias
outras faculdades. Ao menos 20 cursos diferentes são ofertados hoje, de ensino superior, além
de cursos de formação técnica.
Apesar de termos crescimento e novas ofertas educacionais para formação nas áreas de
tecnologia, ainda existe uma deficiência no preenchimento de vagas. De acordo com o Porto
Digital e representantes de empresas do parque, há uma lacuna no que diz respeito à formação
dos estudantes na área, já que suas qualificações não são compatíveis com os requisitos
solicitados para a conquista dos cargos. Segundo o Ministério da Educação (MEC), todos os
anos, universidades públicas e privadas de Pernambuco formam 620 profissionais nas áreas
requisitadas. Considerando toda a região Nordeste, o número de graduados chega a 2.400 por
ano.
Mercado
Como vimos, o mercado é relacionado a capacidade humana de fazer trocas. Pessoas
diferentes, em países e cidades diferentes, promovem as trocas de valor, movimentando
produtos e serviços no mercado, gerando demanda e oferta. Quando pensamos na economia
tradicional, existe uma série de limitações em diferentes empresas: estoque, logística,
durabilidade dos produtos, barreiras culturais.
Quando pensamos no novo modelo de economia, temos a realidade de empresas que são
cada vez mais globais. Esta tese foi escrita utilizando a plataforma de documentos digitais do
Google, com várias referências buscadas no sistema de pesquisas acadêmico, com
conhecimento construído em diferentes instituições e academias ao redor do mundo. Economia
e conhecimentos globais. Mas as empresas podem atuar e se desenvolver no mesmo modelo
econômico mesmo que não sejam o Google.
Olhando para Recife, vemos grandes empresas, como a MV Sistemas, que possui
versões de seus produtos para hospitais em mais de 9 países da América Latina, consolidando-
37
se como uma das maiores empresas brasileiras de software [56]. Porém várias outras empresas
têm se destacado: a Tempest, empresa de segurança, tem se destacado pela sua atuação tanto
no mercado brasileiro quanto em mercados da América Latina e Europa. A In Loco, empresa
que coleta dados anonimizados de localização para solucionar problemas de grandes clientes,
que já atendia Brasil, EUA e Europa agora monta uma operação física em São Francisco, além
do escritório em São Paulo. Ainda temos empresas como o Mr. Plot que é responsável pelo
Mundo Bita, canal que já tem mais de 2 bilhões de views, 500 mil seguidores nas redes sociais,
uma indicação ao Grammy Latino, brinquedos licenciados, shows pelo Brasil com três equipes
diferentes. O Mr. Plot é uma empresa de economia criativa, mas que utiliza software e
mentalidade de startup para produzir e difundir o material.
O mais importante para entendermos sobre o mercado em Recife é que ele nasce em
Recife e não tem barreiras físicas. Com as devidas adaptações, software pode ser distribuído
para Recife, para o Brasil e para o resto do mundo. O mais importante para definir a natureza
da empresa, sua sede e a cultura que ela irá transmitir é referente a capacidade de atrair capital
intelectual para aquela região e que ferramentas, incentivos e programas estão disponíveis
naquela região. O mercado agora é global.
Meio ambiente
Recife está completamente conectada com o meio ambiente. A cidade nasce cortada por
rios, em cima de manguezais. O movimento de pessoas gera impacto direto a natureza e num
momento de mudanças climáticas, espécies ameaçadas de extinção, qualidade da água e do solo
deteriorados por uso industrial, químico e acúmulo de lixo, faz-se necessário pensar em meio
ambiente a cada decisão tomada, seja na criação de políticas públicas, de ações da sociedade
ou até mesmo para construir empresas.
O Recife recebeu do Ministério do Meio Ambiente o selo A3P Verde em
reconhecimento ao empenho da gestão municipal em implantar a Agenda Ambiental na
Administração Pública (A3P). O selo é conferido às instituições públicas que fazem a adesão
formal ao Programa Agenda Ambiental na Administração Pública, cujo objetivo é promover a
divulgação de práticas de gestão baseadas em conceitos de sustentabilidade.
O programa está baseado em cinco eixos temáticos: Uso racional dos recursos naturais
e bens públicos; Gestão adequada dos resíduos gerados; Qualidade de vida no ambiente de
trabalho; Sensibilização e capacitação dos servidores; Compras Públicas Sustentáveis;
Construções Sustentáveis e oferece uma metodologia para que os órgãos realizem um
38
diagnóstico, estabeleçam metas e plano de ação. A A3P propõe a mudança de atitude a partir
da revisão do modelo de produção e consumo, economizando recursos naturais no dia-a-dia,
tais como água, energia, papel, copinhos plásticos; reutilizando ou reciclando os resíduos
gerados, optando por insumos ambientalmente corretos, enfim, fazendo escolhas mais
conscientes.
Entre as medidas adotadas no órgão, estão a substituição de copos plásticos por copos
de vidro; a implantação da coleta seletiva em unidades da prefeitura; a utilização de papéis
reciclados; curso sustentabilidade socioambiental com A3P, com a finalidade de sensibilizar e
capacitar os servidores e público externo em relação ao tema e a construção do Econúcleo
Jaqueira, que foi implantado com base nos preceitos da arquitetura sustentável, através do
reaproveitamento e da reutilização de materiais para a confecção e customização dos
mobiliários.
Mas a questão ambiental também trespassa a administração pública e tange o mercado
de tecnologia. O Porto Digital mantém projetos de sustentabilidade e mobilidade urbana,
através do ITGreen e PortoLeve. A política de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) do
Porto Digital atua em quatro eixos temáticos: (i) Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos
(em especial de TIC); (ii) Acessibilidade Digital; (iii) Formação para Inclusão de Jovens no
Mercado de Trabalho; e (iv) Mobilidade Urbana.
Como suporte à política de RSE do Porto Digital, o ITgreen desenvolve as seguintes
atividades:
1. Realização de estudos e pesquisas
2. Produção e disponibilização de informações estratégicas
3. Sensibilização e mobilização empresarial
4. Realização de eventos técnico-científicos
5. Apoio ao desenvolvimento de tecnologias urbanas sustentáveis
Já o Porto Leve procura conciliar o desenvolvimento económico das empresas do
Parque do Porto Digital, a melhora da acessibilidade a este e a melhora da qualidade de vida.
Os serviços oferecidos procurando uma mobilidade mais sustentável são os seguintes:
Bicicleta Pública;
Carro elétrico;
Estacionamentos inteligentes;
39
Zona Azul;
Transporte Público;
Informação Estacionamento.
O Porto Leve, por exemplo, acontece em parceria com a Mobilicidade, uma startup local
que é responsável pelo desenvolvimento e gestão de toda a infraestrutura de acesso e mobilidade
do Porto Digital. É o exemplo de empresas nascendo em torno da sustentabilidade na região,
colaborando para o surgimento de mais negócios.
Sociedade
A sociedade também se mostra como um pilar ativo e que interage diretamente com
todo o ecossistema, como interface para criação de soluções para seus próprios desafios. Apesar
de ter instituições públicas e privadas auxiliando no desenvolvimento econômico social da
cidade, seus próprios integrantes, como civis, organizam-se para promover conexões entre
problemas do dia a dia, empreendedores e outras instituições.
Recife apresenta-se como entidade socialmente ativa, contando com o apoio de
instituições formais e movimentos orgânicos, que nasceram da necessidade de complementar o
que é desenvolvimento pelo governo, academia e mercado. O Manguezal é um movimento que
nasce de empreendedores para empreendedores e, mais recentemente, agregando outros
profissionais, civis, membros e líderes de comunidades, que apresentam realidades, trocam
experiências e promovem uma troca de conhecimento e influência que possibilita a criação de
negócios altamente conectados com o cenário local, ao mesmo tempo que têm potencial global.
Manguezal
Esta comunidade reúne as startups de Recife para apoiar práticas colaborativas para
aprendizagem de tecnologia, design e empreendedorismo, através de palestras, eventos e
programações educacionais que fomentam o crescimento econômico na região.
A Manguezal promove, também, visibilidade às startups novatas da região, com
conexões a investidores anjos e fundos de capital de risco, além de promover o intercâmbio
entre os negócios locais e startups ao redor do mundo.
Recentemente, os empreendedores voluntários do grupo se reuniram para administrar
mais uma edição do evento Mangue.bit, conferência regional de startups e empreendedorismo,
40
em um ambiente onde empresas de inicialização nordestina puderam trocar experiências,
estudar soluções e entrar em contato com investidores.
Importante ressaltar que todo o movimento não fala apenas de geração de negócios e
empregos, mas também da relação dos empreendedores com a academia, com o mercado e meio
ambiente. É um exemplo que ilustra todo o modelo de hélice quíntupla, partindo de moradores
da cidade e promovendo o desenvolvimento, ao mesmo tempo que colabora com as demais
instituições.
Governo
O Porto Digital teve início não só como um polo de empresas, mas foi associado desde
suas origens a um plano governamental de desenvolvimento territorial e urbanístico o qual teve
importante papel no investimento deste projeto. Araújo (2006) destaca que os governos
municipal e estadual atuaram abrindo linhas de financiamento, fundos, programas de incentivos
fiscais, além de atuar na governança do cluster visando aumentar a competitividade das
empresas e atrair negócios inovadores. Além disso, incentivos Federais como a Lei da
Informática geraram importantes benefícios locais.
Em Recife, os órgãos municipais e estaduais estiveram desde o início na origem e
estruturação do Porto Digital com incentivos fiscais, planejamento de curto e longo prazo, apoio
institucional e um projeto de revitalização urbanística. Ainda hoje, o apoio governamental é
fundamental para seu desenvolvimento e expansão, uma vez que órgãos governamentais
participam ativamente da governança do ecossistema [57].
3.2 Aportando as empresas e pessoas de amanhã
Recife nasceu e se desenvolveu banhada pelo mar. O Porto do Recife foi um motor para
o desenvolvimento e para a pluralidade local. Lar de comércio e passagem das indústrias, o
porto teve momentos muito distintos em sua história, acompanhando altas e baixas do mercado.
Por fim, depois de algumas décadas, reinventou-se. O Porto do Recife agora é o Porto Digital
e, assim como qualquer porto, é responsável por abarcar e exportar produtos. Agora um novo
tipo de matéria prima. Abarcam-se práticas inovadoras, novos mercados, capital humano
altamente especializado, enquanto exportamos cultura local, soluções globais, tecnologia de
ponta e também um capital humano de ponta.
41
Com um novo contexto, exige-se uma nova mentalidade. Saímos do modelo de uma
cidade local, para um ecossistema de visibilidade global, completamente ressignificado. E, com
novas empresas, começamos a girar as hélices em prol do amadurecimento das instituições
desse ecossistema.
3.3 Pilares de avaliação
Nesta seção vamos avaliar o ecossistema empreendedor local a partir de alguns critérios
pré-definidos. Estes critérios foram propostos pelo time de pesquisa da Endeavor e publicados
como o Índice de Cidades Empreendedoras (2017) [58]. Este índice propõe um Ranking
Nacional entre 32 cidades consideradas como principais cidades brasileiras para se construir
negócios, incluindo as 26 capitais, o distrito federal e mais 5 outras cidades que se destacaram
nos últimos anos.
Os dados foram recolhidos pelo time de pesquisa da Endeavor em parcerias com as
próprias prefeituras de cada cidade e o objetivo do índice, além de propor uma análise
comparativa entre as cidades, promove a troca de práticas e medidas que levam as cidades a
ficar no topo para cada critério de avaliação.
Os sete pilares que serão analisados abaixo são:
Acesso a capital
Ambiente regulatório
Mercado
Capital Humano
Infraestrutura
Inovação
Cultura empreendedora
3.3.1 Acesso a capital
A disponibilidade de recursos para investir no negócio, seja em sua fase inicial seja em
momentos de crescimento, é determinante para o futuro da empresa. Afinal, para que as scale-
ups possam, de fato, escalar, elas precisam de muito capital para suportar o crescimento.
Evidenciado em estudos empíricos, o “custo” de acessar esses recursos/investimentos é
42
considerado pelos stakeholders como o principal entrave a ser superado na abertura de um novo
negócio [59].
Portanto, é fundamental entender os principais fatores que caracterizam o Acesso a
Capital disponível para empresas, já que nem sempre os empreendedores dispõem de recursos
financeiros suficientes para conseguir tirar do papel novas ideias e planos. A captação de
recursos externos tem se tornado uma das principais alternativas aos empreendedores,
especialmente em momentos de instabilidade financeira no país e em regiões mais periféricas
[60]. Como retorno, para além dos investimentos em capital, ainda há possibilidade de que
serviços complementares possam ser acionados, aumentando o potencial de crescimento e
capacitação de equipe gerencial. Entre os serviços complementares, pode-se observar
capacitações gerenciais para a equipe da empresa, que girem em torno de marketing e
atendimento ao cliente, por exemplo. Dessa forma, a “dívida contraída” pelos novos
empreendedores pode possibilitar maiores ganhos para ambas partes: o empreendimento se
moderniza, cresce e atrai clientes; e, assim, o retorno aos investidores é dado de forma mais
eficaz [61].
As duas principais formas, no Brasil, para novos empreendimentos conseguirem
recursos financeiros é o Capital Disponível via Dívida e o Capital de Risco. O primeiro é
realizado por bancos – privados ou públicos –, na forma de contração de uma dívida pelo
empreendedor, que, posteriormente, recebe um crédito, a ser quitado com a adição de juros
(corrente no mercado no momento da aquisição da dívida). Já o segundo é efetivado a partir da
venda de uma parte do novo empreendimento, onde são criados fundos de investimentos, como
os de novos sócios investidores. Ambas as formas podem gerar um efeito multiplicador no
investimento empreendido, de maneira rápida e abrangente [62].
Alguns fatores são identificados como determinantes no momento da escolha por qual
“recurso de terceiro” utilizar: o tamanho do empreendimento e sua rentabilidade, assim como
os riscos envolvidos no endividamento. De toda forma, no Brasil, segundo a literatura
internacional especializada, quanto menor for o nível de endividamento público, maior será o
volume de investimento em empresas. E quanto mais lucrativos forem os empreendimentos,
maiores serão suas capacidades de investimentos futuros [63], gerando um ciclo positivo de
desenvolvimento para a economia local.
43
3.3.2 Ambiente regulatório
Temos como definição do pilar “ambiente regulatório” o conjunto de processos que
permite o início das atividades comerciais de uma empresa, ou seja, o processo de abertura de
uma nova empresa. Os processos analisados para calcular a métrica são divididos em 3 grandes
grupos, organizados da seguinte forma:
I.Tempo de processos gasto para que as atividades comerciais da empresa sejam regularizadas,
avaliado de acordo com o tempo gasto para abrir a empresa e regularizar o imóvel e com a taxa
de congestionamento em tribunais estaduais.
II.Custo dos impostos, que avalia o peso tributário das alíquotas de ICMS, IPTU e ISS , além do
número de incentivos fiscais, que varia diante da chamada guerra fiscal entre os estados.
III.Complexidade tributária avalia as dificuldades para pagar os impostos nas cidades e nos
respectivos estados, considerando aspectos como as obrigações acessórias, emissão de CNDs e
o número de novas normas tributárias.
Todos esses dados oferecem ao empreendedor um quadro comparativo que esclarece o
quanto a burocracia local pode interferir ou contribuir com os negócios. Em um país como o
Brasil, onde o ambiente regulatório é altamente complexo e os impostos não são baixos, essa
informação pode ser valiosa no momento de tomada de decisão.
Tanto os processos burocráticos quanto a carga tributária aplicada sobre a empresa
correspondem a uma parte considerável de seus custos de operação. O cumprimento dessas
obrigações regulatórias demanda, do empreendedor, recursos como: tempo, custeio de taxas e
contratação de profissionais especializados. Assim, quanto maior o grau de complexidade
burocrática e os valores de taxas e tributos locais, menores são os incentivos para abertura de
novos negócios.
44
3.3.3 Mercado
Para que as empresas cresçam, gerando mais empregos e desenvolvimento local, é
necessário que haja um mercado consumidor para comprar os produtos ou contratar esses
serviços [64]. Portanto, a propensão de abertura de novos negócios em uma cidade é bastante
relacionada às expectativas sobre o poder de compra da população residente. Não é de
surpreender, então, que a possibilidade de expansão e aquecimento do mercado faça com que
os níveis de desenvolvimento econômico e os consumidores potenciais sejam determinantes
para atrair empresas [65].
O conjunto de indicadores Desenvolvimento Econômico dimensiona o mercado através
das medidas de PIB total e seu crescimento e do alcance ao mercado externo. Em paralelo, o
sub determinante de Clientes Potenciais verifica como o mercado pode absorver os produtos e
serviços das empresas, através de indicadores que sinalizam o poder de compra de três tipos de
consumidores: empresas (no modelo Business to Business, B2B), governos (Business to
Government, B2Gov) e os consumidores finais (Business to Consumers, B2C). Para cada
conjunto de consumidores analisa-se um índice que aponta o mercado potencial: a proporção
entre grandes e médias empresas, e entre médias e pequenas avalia o potencial B2B, a média
de compras públicas por empresa indica o mercado B2Gov e o PIB per capita mede o poder de
compra dos clientes B2B.
3.3.4 Capital Humano
A qualificação dos funcionários é uma das principais características que o empreendedor
busca para compor a sua empresa. Considerando que esses profissionais, muitas vezes,
interagem diretamente com clientes e possíveis investidores [66], é de se esperar que a oferta
local de recursos humanos seja diversa e qualificada, possibilitando o atendimento à demanda
de crescimento de novos negócios.
É comum que os recursos de capital humano sejam classificados de acordo com os
níveis de educação formal da mão de obra. Pensando nisso, os indicadores utilizados para
compor essa dimensão do ICE foram divididos em dois grupos. O primeiro avalia a mão de
obra básica, analisando as características do ensino fundamental, médio e técnico da cidade
pelo acesso a essas formas de ensino e pelos índices do Ideb e do Enem, além da proporção de
45
adultos com ensino médio completo. Já para avaliar a mão de obra qualificada, o segundo grupo,
mede-se a faixa mais escolarizada da população. São consideradas as dinâmicas do ensino
superior e o custo de contratar profissionais em nível de direção.
Trabalhadores bem qualificados podem contribuir para aumentar o potencial de
inovação da empresa no médio e longo prazo. Nesse sentido, tanto a qualificação quanto a
capacitação contínua do quadro de trabalhadores são essenciais para que as empresas sejam
capazes de crescer e aumentar sua produtividade. A qualificação profissional dos trabalhadores
das empresas também é um dos fatores que possibilitam que conhecimentos e inovações
produzidos em outras esferas (científica, por exemplo), sejam assimiladas e aplicadas no
contexto empresarial local. Assim, para além de uma equipe qualificada para atuar no seu ramo
específico, tem-se pessoas formadas em um nicho grande de atuação, que acompanham
diferentes inovações e evolução do mercado global [67].
3.3.5 Infraestrutura
A presença de um sistema eficiente de trânsito de mercadorias e pessoas é considerada
um dos principais fatores de desenvolvimento econômico de países e regiões [68]. As condições
das malhas viárias influenciam desde o escoamento da produção e o acesso a insumos até a
alocação de recursos humanos e na conectividade comercial, tecnológica e informacional entre
diferentes áreas, afetando o custo de produção e o preço final dos produtos e serviços [69], além
da qualidade de vida de empreendedores, funcionários e clientes. Nesta estrutura, o fluxo de
informações se mostra fundamental para o alcance dos consumidores, instalação de novas
tecnologias e inovação.
Mas para além da conectividade urbana, o funcionamento das empresas também
depende dos custos que as condições locais impõem sobre a manutenção e criação de
instalações adequadas. Alguns componentes da despesa variam de acordo com a localização
geográfica da empresa, a exemplo dos preços do mercado imobiliário e do fornecimento de
energia. Esses fatores podem ser determinantes na decisão de iniciar um negócio em um
determinado estado ou cidade.
46
3.3.6 Inovação
O atual contexto globalizado e interconectado demanda que os empreendedores estejam
atentos e integrados às inovações apresentadas no mercado [70]. Demanda também que os
investidores sejam criativos e produzam novas tecnologias capazes de otimizar o tempo gasto
pelas pessoas em suas tarefas cotidianas [71]. Além disso, são as inovações apresentadas pelas
empresas que alimentam a competitividade e, consequentemente, geram maiores lucros para
aquelas que mais se destacam [72]. Para tanto, é necessário que os empreendedores sejam
capazes de combinar fatores de inputs e outputs para o desenvolvimento de inovações.
Para desenvolver o ambiente de inovação no Brasil, é necessário que todos os atores
envolvidos – governos, empresas, investidores, pesquisadores, entre outros, considerem
algumas questões cruciais, dentre elas: o que representa, de fato, o conceito de inovação (novas
ideias colocadas em prática, com uso abrangente); a valorização de dos elementos relevantes
para que a inovação tecnológica ocorra (pesquisa científica, marketing, entre outros); e, por fim,
o suporte para a produção dessas inovações (reestruturação de centros de pesquisa, investimento
de recursos, bases legais estáveis, entre outros) [73].
Sintetizando, então, os componentes cruciais para o processo de inovação tecnológica
pelas empresas, observa-se a congruência de alguns fatores. No processo de inputs, espera-se
que cidades mais propícias à inovação possuam índices mais altos de Mestres e Doutores em
Ciência e Tecnologia, alta média de investimentos do BNDES e FINEP, infraestrutura
tecnológica local mais elevada e, também, maior proporção de contratos de concessões. Já nos
outputs, é esperado que cidades mais inovadoras contem com maior quantidade de empresas
com patentes e softwares próprios, bem como com maior número de empresas de economia
criativa, de indústrias inovadoras ou ligadas à tecnologia.
3.3.7 Cultura Empreendedora
A definição do conceito de Cultura, seja na antropologia ou na sociologia, não é
consensual. Há divergências teóricas em torno do significado, dos sentidos e, especialmente, de
como a cultura se conforma e se perpetua (ou não) ao longo do tempo. Aqui embasamos esta
definição em termos do que foi proposto por Clifford Geertz: um padrão social que é
historicamente transmitido por meio de gerações, incorporando símbolos, sistemas de
concepções simbólicas perpassadas em processos comunicativos e interacionais. Elas se
47
perpetuam a partir do conhecimento e atitudes em relação à vida, sendo mais que um
ordenamento da sociedade, mas uma condição essencial para ela. [74]
Logo, a cultura de determinada sociedade engloba aspectos sociais, educacionais,
econômicos, financeiros e de consumo, e é transmitida ao longo do tempo por meio das
interações entre grupos e indivíduos. Esse entendimento acerca da cultura é válido também
quando pensamos na cultura empreendedora: esse tipo de cultura também segue uma dinâmica
processual, histórica, de aprendizagem e reprodução na sociedade. Assim, não há evidências de
que ela possa sofrer alterações rápidas ou grandes rupturas em curtos espaços de tempo, a não
ser que algum evento exógeno muito influente possa ser capaz de alterar a articulação social,
econômica, educacional, entre outras.
Uma comunidade que apresente uma cultura empreendedora fortalecida é capaz de
compreender e usufruir de novas oportunidades, gerando fortes vantagens competitivas para os
empreendimentos localizados nesses contextos [75]. Dentre as vantagens competitivas de um
município com forte cultura empreendedora, estariam, por exemplo, a criação de novas
tecnologias pelas empresas e sua aceitação e incorporação pelos indivíduos. Uma das
dimensões para que uma determinada sociedade ou localidade apresente potencial da população
para empreender com alto impacto diz respeito à visão de oportunidades, proatividade,
criatividade e sonho grande dos indivíduos (em outras palavras, visão de mundo e ambição de
crescimento). Por impacto entende-se a capacidade de criar e operar empresas que crescem
aceleradamente, empregam um número maior de funcionários, têm modelos de negócio mais
rentáveis e sobrevivem por mais tempo. Dessa forma, a cultura empreendedora, mesmo já
estabelecida, é fundamental, mas necessita também de ser constantemente promovida [76].
3.4 Para onde estamos indo? Para onde podemos ir?
Até aqui vemos Recife como uma cidade em desenvolvimento, fazendo parte de um
ambiente complexo de inovação, cultura, desenvolvimento tecnológico e político. O objetivo
era de evidenciar o que já havia sido construído e o que estava sendo feito hoje para promover
a evolução da qualidade de vida urbana.
Recife é uma das principais capitais do Nordeste e do Brasil, tem um papel relevante na
produção de capital intelectual cultural e de mercado, principalmente quando falamos em
tecnologia. O Porto Digital é uma das referências de parques tecnológicos e os centros
acadêmicos estão entre os mais bem pontuados do país.
48
Contudo é necessário compreender bem o posicionamento em termos socioeconômicos,
a fim de promover as medidas certas que vão auxiliar no desenvolvimento saudável da região
e não na implosão do ecossistema local. A seguir vamos analisar cenários similares a Recife e
que são referências nos pilares citados neste capítulo. O intuito é de comparar a realidade local
com ambientes que apresentam maior grau de similaridade do que o Vale do Silício ou Europa,
por exemplo. Ou seja, Recife demonstra potencial para crescer e se destacar ainda mais como
uma das principais cidades para se empreender e produzir negócios, basta olhar pelo prisma
adequado, importando práticas e medidas que tenham aderência à cultura da cidade.
49
4. Referências globais
Quando falamos em empreendedorismo, inovação e startups no mundo, alguns nomes
surgem a cabeça: Stanford, MIT, Vale do Silício, Califórnia, Boston e New York City no eixo
ocidental e Tel Aviv, Hong Kong, Tokyo no eixo oriental. São universidades, instituições e
cidades que representam o que temos de mais maduro sobre empreendedorismo no mundo.
4.1 Uma alternativa ao Vale do Silício e Tel’Aviv
Por já serem os ecossistemas mais maduros, com maior densidade de empreendedores,
profissionais qualificados, capital disponível para investimento e facilidade para se fazer
negócio, temos um cenário completamente diferente do que encontramos em praticamente todo
território nacional e, principalmente, em Recife.
Em dezembro de 2015 a Atlassian, empresa australiana, fez IPO. O mais interessante,
além de estarem fora do Vale e fazerem um produto global, é que eles não pegaram nenhum
investimento de VC para crescer. Apenas fizeram vendas secundárias para dar liquidez às ações
dos funcionários. Cada sócio ainda tem 37,7% das ações pós IPO (dois fundadores), o que dá
quase 2 bilhões de dólares para cada. Criaram a empresa usando os cartões de créditos. Foi um
dos poucos IPOs do ano que fecharam acima do preço estabelecido.
A reflexão é: dá pra fazer empresas bilionárias fora do Vale do Silício, basta não querer
fazer igual ao vale.
4.2 Casos de sucesso
Vamos analisar a seguir algumas cidades similares a Recife, em determinados aspectos,
mas que também são referência nos pilares discutidos acima. Desta forma, podemos ter
comparações mais contextuais e de fato importar processos que podemos encaixar na cultura
local.
4.2.1 Acesso a capital - Bangalore (Índia)
A maior parte da literatura sobre a indústria de VC da Índia enfatiza principalmente que
as reformas pós-década de 90, implementadas desde a Nova Política Econômica (NEP),
50
contribuíram significativamente para o desenvolvimento da indústria de Venture Capital. Como
pode ser deduzido de Nayyar [77] em sua análise do 'nascimento, vida e morte' de instituições
financeiras de desenvolvimento, a indústria indiana de VC desenvolveu-se paralelamente à
diminuição do papel dos bancos de desenvolvimento. Também é verdade que a maioria dos
aspectos estruturais do Sistema Nacional de Inovação da Índia (NIS), configurados
principalmente no período pós-independência, foram de grande importância para o
desenvolvimento de VC. De fato, em comparação com Israel, uma meca da indústria de VC, a
Índia tem algumas semelhanças estratégicas, como o compromisso estatal de longo prazo com
a pesquisa e desenvolvimento (civil e militar) e um fornecimento importante e constante de
técnicos e engenheiros eletrônicos.
Várias regulações vieram do governo, no início da bolha da internet, para facilitar a
entrada de novas empresas no mercado de Venture Capital:
Facilitou os critérios para uma empresa exercer a atividades de investimento, sem a
necessidade de se classificar como um banco na Índia;
Fundos de VC eram limitados a exercer somente atividades de investimento de risco,
exigindo foco das instituições.
O valor mínimo para abertura do fundo, de aproximadamente U$ 2 milhões, foi
removido.
Na sequência, o O Conselho de Valores Mobiliários da India (SEBI), montou um comitê
para recomendar necessidades do contexto de VC. Tudo isso aconteceu em paralelo com o
crescimento das empresas do Vale do Silício. Em outras palavras, o mercado de investimento
de risco cresceu junto ao mercado de TI na India. O comitê formado mapeou alguns fatores
críticos para o sucesso do mercado de investimentos:
Eliminar multiplicidade: Existiam muitos órgãos regulamentando o investimento de
risco. Havia a necessidade de trabalhar a questão da regulamentação de forma mais
harmonizada. Então, foi proposto que o SEBI fosse o único órgão regulamentador.
Estimular a entrada de capital estrangeiro: Fundos estrangeiros poderiam agora investir
e desinvestir sem a necessidade de pegar aprovações do RBI (Reserve Bank of India).
E caso os fundos fossem registrados na SEBI, teriam liberdade para atuar como um
fundo local.
51
Flexibilidade nos investimentos e saídas: O governo deve considerar a criação de novas
estruturas, como parcerias limitadas, parcerias de responsabilidade limitada e empresas
de responsabilidade limitada. As normas de IPO de histórico de três anos ou o projeto
financiado pelos bancos ou instituições financeiras foram flexibilizadas para incluir as
empresas financiadas pelo fundo registrado. As empresas financiadas por VCs e seus
valores mobiliários estão listadas nas bolsas de valores fora do país; essas empresas
devem poder listar suas ações nas bolsas de valores indianas.
Em suma, os países em desenvolvimento precisam harmonizar os requisitos do mercado
de capitais e as necessidades de capital de risco, para que possam estimular empresas a se
concentrarem em inovar.
Sobre os fundos de VC, em 2014, Mumbai e Pune centralizaram 55% deles, Bangalore
17% e as Regiões das capitais nacionais, que incluem Nova Délhi, Gurgaon, Noida, Ghaziabad
18%. Chennai e Hyderabad registraram 5% e 2%, respectivamente. No entanto, Joshi [78]
ressalta que a importância de Bangalore como principal centro de VC/empreendedor é
subestimada: muitos fundos de VC que possuem escritórios registrados em outras cidades
também têm escritórios secundários em Bangalore (por exemplo, SeedFund, Nexus Partners,
parceiros da Norwest Venture). Além disso, a maioria das empresas estrangeiras de capital de
risco que possuem operações em Bangalore e relativamente maiores em comparação com as
empresas indianas estão localizadas fora da Índia (por exemplo, Sequoia Capital, Accel
Empreendimentos, ICICI).
A presença de excelentes instituições de pesquisa acadêmica é um pré-requisito para o
sucesso de startups de risco em um local, pois pode fornecer mão de obra de alta qualidade. No
caso de Bangalore, a presença de instituições de pesquisa facilitou o crescimento de empresas
apoiadas por investimentos.
Bangalore foi escolhida por vários fundos causa de suas economias de 'aglomeração':
Wipro, PSI Data e Infosys eram baseadas lá, bem como as atividades de pesquisa de empresas
estatais, a Organização de Desenvolvimento de Pesquisa em Defesa e o Instituto Indiano de
Ciência.
Durante esse primeiro período de emergência do arranjo institucional de VC, as
principais realizações foram identificar o financiamento antecipado como uma questão de
política e o desenvolvimento de algumas instituições públicas, como o Technology
Development and Information Company of India (TDIC), a fim de estruturar um primeiro
52
suprimento de financiamento. De fato, várias startups, principalmente de Bangalore, foram
financiadas e tornaram-se públicas.
Em termos regionais, paralelamente aos EUA, a Índia também desenvolveu três locais
de capital de risco. São Francisco, Nova York e Boston, nos EUA, e Bangalore, Mumbai e
Delhi, na Índia.
Na tabela abaixo, podemos ver uma comparação de pontos trabalhados em Bangalore,
comparados a cidade do Recife.
Cidade/Pilar Bangalore Recife
Acesso a
Capital
Centralizou órgãos
regulamentadores
Incentivo a fundos estrangeiros
para investir e liquidar.
Existem mais de 100 fundos de
capital de risco profissionais
Investimento público em
institutos de pesquisa, para
atrair capital
Harmonização de requisitos do
mercado para estimular
empresas a focar apenas em
inovação
Regulamentação vem de
Sem ações diretas para
incentivar capital
estrangeiro
Há menos de 20 fundos de
investimento de risco
Investimento em eventos e
infraestrutura local da
cidade, mas não foram
encontradas fontes de
investimento direto em
institutos de pesquisa
4.2.2 Ambiente regulatório - Fortaleza (Brasil)
Para falar em Fortaleza, antes vamos nos inspirar no caso de um dos nossos países
vizinhos e emergentes: a Colômbia. Em 2001, a abertura de uma empresa na Colômbia levava
em média 55 dias e envolvia a obtenção de cerca de 45 documentos e autorizações e a procura
por, pelo menos, dez instituições regulamentadoras [79]. Como consequência, os
procedimentos impunham altos custos financeiros e informacionais para os novos negócios,
estimulando a informalidade, a corrupção e a queda na competitividade comercial e industrial.
53
Diante do labirinto burocrático que as empresas colombianas enfrentavam, o governo
nacional aderiu a uma estratégia de agregar as competências em organizações especializadas.
Assim surgiram os Centros de Atenção Empresarial (CAE), instâncias pertencentes às câmaras
de comércio municipais, cuja finalidade era concentrar as funções públicas de regulamentação
em um único local.
Além de prestar assessoria especializada e concentrar as informações necessárias para
abertura de empresas, os CAEs também dispunham de terminais de auto consulta que
aceleravam as solicitações dos empreendedores. Estas características viabilizaram a
simplificação do fluxo de procedimentos necessários, o aumento da autonomia dos empresários
e a especialização dos agentes públicos.
Por efeito, a integração de competências em uma única organização de nível local
reduziu o tempo de abertura das empresas para menos de nove dias e os documentos e
autorizações para apenas dois, resultando numa redução de cerca de 30% dos custos de criação
de uma empresa. Além disso, graças à integração institucional dos CAE, os empresários gastam
cerca de um único dia para estabelecer contato com todas as organizações necessárias para
formalizar seus negócios [80].
Mas o que isso tem a ver com Fortaleza? De acordo com o ranking da Endeavor,
Fortaleza subiu 30 posições no quesito tempo de processos entre os anos de 2016 e 2017. É
uma grande virada para o ambiente de negócios local e que serve de exemplo para outras
cidades no Brasil. A expressiva melhora da cidade no ranking está relacionada à redução no
tempo necessário para executar cada um dos processos de abertura de empresas, que ficam
divididos nas três principais categorias citadas no pilar de ambiente regulatório. Além disso,
relaciona-se também à redução do tempo necessário para regularizar os imóveis, especialmente
no processo de concessão do alvará de construção.
Uma das principais mudanças implementadas pela cidade foi a adoção do Alvará de
Construção Online, emitido pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente
(SEUMA) através de sua plataforma. Por meio da internet, o empreendedor pode conseguir a
liberação imediata de alvarás, no caso da construção de empreendimentos que possuam até
750m².
As principais licenças e autorizações municipais para regularização de atividades e
construções apresentaram expressivo crescimento no mês de julho deste ano, se destacando
como o mês com os melhores números do semestre. O resultado demonstra a eficácia das ações
54
de incentivo do poder público municipal para a criação de um cenário qualificado para a geração
de oportunidades na Cidade.
Com números de 2019, somente a abertura de novos negócios ampliou 25%, saltando
de 561 emissões de Alvarás de Funcionamento Fácil, em junho, para 699 em julho. Já as novas
construções da Cidade tiveram um crescimento de 200% no mesmo período, evoluindo de 16
emissões, em junho, para 49, em julho, entre Alvará de Construção e Regularização de Obra
Construída [81].
As intenções de empreender em Fortaleza também podem ser avaliadas pelo aumento
na emissão das Consultas de Adequabilidade Locacional, que é o primeiro passo para quem
deseja abrir um novo negócio. O Município emitiu, de forma gratuita, segura e imediata, por
meio do Programa Fortaleza Online, 6.109 consultas em julho e 5.152 em junho, um aumento
de 18,6% entre os meses.
O Programa Fortaleza Online foi o grande responsável pelos bons resultados da Capital.
Hoje, com 38 serviços disponíveis ao cidadão, a plataforma estimula empresas a atuarem em
condições legais e oferece maior facilidade para aqueles que desejam empreender.
Cidade/Pilar Fortaleza Recife
Ambiente
regulatório
Subiu 30 posições no
ranking da Endeavor entre
2016 e 2017 (segundo lugar,
de 32 cidades)
Redução do tempo das
etapas de abertura de
empresa (principalmente
Alvará de Construção),
devido a centralização e
digitalização do processo.
Criação do Programa
Fortaleza Online, auxiliando
na regularização e
estimulando abertura de
novas empresas na cidade
Caiu 4 posições no ranking
da Endeavor entre 2016 e
2017 (vigésimo sexto lugar,
de 32 cidades)
Processo ainda é físico e
descentralizado, passando por
vários órgãos e etapas (RF,
Junta, Análise Prévia da
Viabilidade de Localização)
Sala do Empreendedor é um
espaço físico na Prefeitura do
Recife voltado para micro e
pequenas empresas, com o
objetivo de orientá-los a
desenvolver o negócio.
55
4.2.3 Mercado - Kuala Lumpur (Malásia)
A capital da Malásia ganhou uma importância especial na região, não apenas por ser a
capital deste importante país turístico da região, mas também por seu ambiente de inicialização
em rápida evolução.
A cidade desempenha um papel importante ao tornar a Malásia o maior centro bancário
bancário islâmico. Com um PIB de US $ 172 bilhões e uma população de 7,2 milhões, Kuala
Lumpur é um importante centro empresarial para startups, especialmente as de base
tecnológica. Profissionais de tecnologia de todos os países estão se mudando para Kuala
Lumpur para fazer parte de seu ecossistema de rápido crescimento.
Kuala Lumpur, assim como as outras cidades da Malásia, é lar de pessoas de diferentes
etnias e origens. A população da Malásia, especialmente em centros comerciais como Kuala
Lumpur, é caracterizada principalmente por comunidades de chineses e indianos. No entanto,
a cidade está vendo um aumento nas comunidades de expatriados de outros países também nos
últimos anos.
O ecossistema de startups em Kuala Lumpur vem crescendo devido a uma mistura de
vários fatores. A cidade possui mais de 300 startups de diversos nichos e um setor de tecnologia
com melhor desempenho do que outros no ecossistema. Vamos esclarecer algumas das
condições favoráveis que estão criando um ambiente de negócios fértil aqui.
Startups, empreendedores e candidatos a emprego que planejam se mudar para Kuala
Lumpur agora podem entrar no país através do programa Malaysia Tech Entrepreneur. Os
programas estão disponíveis para novos empreendedores e para os já estabelecidos, que
recebem um passe por permanecer no país por um ano e cinco anos, respectivamente. O
processo de inscrição leva menos de dois meses e ajudou várias startups em Kuala Lumpur a
encontrar uma base sólida na cidade.
A proximidade da cidade a outro centro de negócios na Malásia, Cingapura, ajudou as
startups em Kuala Lumpur a escalar mercados não apenas na cidade, mas também fora dela.
Kuala Lumpur e Singapura estão bem conectados, e a facilidade de transporte entre essas duas
cidades aumentou desde a introdução de transportadoras aéreas de baixo custo.
A cidade é sede de vários programas governamentais e de incubadoras e aceleradoras
privadas que estão ajudando os empreendedores a encontrar o suporte certo para seus negócios,
o Cyberview Living Lab e programas de financiamento como o Cradle Fund são alguns dos
principais atores dessa rede de incubadoras, aceleradoras, e programas de financiamento que
56
motivam as startups a se mudarem para Kuala Lumpur e crescerem sob suas asas para penetrar
no mercado regional de maneira econômica.
Para um ecossistema de startups que está em sua fase de ativação, o segmento de
tecnologia ainda conseguiu ter um desempenho acima das expectativas. As startups que se
mudam para Kuala Lumpur podem fazer parte de um setor de tecnologia que cresceu apesar de
todas as probabilidades e deu à região alguns dos mais notáveis acordos de saída e
financiamento. A maioria das startups de sucesso baseadas em tecnologia em Kuala Lumpur
pertence aos subsetores de jogos, comércio eletrônico, big data & analytics e tecnologia da
saúde.
O crescimento do setor de turismo médico na Malásia abriu um vasto horizonte de
oportunidades para o setor de tecnologia da saúde crescer ainda mais. A maioria dos produtos
e serviços introduzidos pelas startups de tecnologia da saúde na Malásia tem se concentrado em
melhorar o acesso aos prestadores de serviços médicos de várias maneiras. O BookDoc, que
levantou US $ 2 milhões até agora, é um dos muitos outros, como Teleme, Getdoc,
Healthmetrics, HomeGP e Door2Door Doctor. Havia cerca de 1 milhão de pacientes
internacionais que visitaram o país em 2017 por suas unidades de saúde.
Cidade/Pilar Kuala Lumpur Recife
Mercado
Atrai talentos com o
Malaysia Tech
Entrepreneur, garantindo até
5 anos de visto de trabalho
Investimento em “Zonas
especiais de turismo”, que
representou ~15% do
crescimento econômico em
2018
Programas governamentais
com incubadoras e
aceleradoras, como
Ciberview Living Lab e
Cradle Fund.
Não há política específica
para atração de talentos,
apesar de universidades
reconhecidas
internacionalmente
Turismo é responsável por
4% do crescimento
econômico de 2018
Plano de Turismo Criativo,
atraindo empreendedores
explorar turismo criativo e
proporcionando aos turistas
experiências únicas
57
4.2.4 Capital Humano e Infraestrutura - Santiago (Chile)
O Chile é um dos países mais concentrados do mundo. A maioria dos 40% da população
vive na capital, Santiago, onde cerca de 45% do PIB é produzido. Ao mesmo tempo, a maioria
das políticas que promovem o bem-estar concentra-se nas pessoas e são cegas espacialmente.
O Chile apresenta uma concentração significativa em toda a Região Metropolitana, mais
de 50% dos profissionais do país vivem em Santiago.
Um dos mecanismos de concentração em torno de Santiago é a escolha da escola no
nível universitário. Os melhores alunos do ensino médio escolhem as melhores universidades
e/ou regiões onde existem oportunidades de trabalho atraentes e boa qualidade de vida. A
Região Metropolitana é o território que atende a essas condições. Orsuwan e Heck [82] mostram
que a probabilidade de morar em um território aumenta quando a pessoa conclui seus estudos
universitários naquela região. Sendo assim, se os melhores estudantes fora de Santiago são
atraídos para essa região, pode-se esperar que eles procurem trabalho na capital quando
graduado. Essa atração de alto potencial das regiões rurais é chamada de "fuga de cérebros" na
literatura.
O sistema de ensino superior do Chile é dividido em três tipos de instituições:
universidades, institutos profissionais (IP) e centros de treinamento técnico (CFT). As
universidades oferecem programas de graduação com duração de cinco ou mais anos, além de
mestrado e doutorado. Os programas CFT e IP duram de dois a quatro anos. Atualmente, 25
universidades pertencem ao Conselho de Reitores (CRUCH). Eles são chamados de
“universidades tradicionais” e incluem instituições públicas e privadas. O Chile também possui
45 universidades particulares chamadas "universidades não tradicionais".
As universidades estabelecem suas taxas para cada programa anualmente, além de uma
mensalidade paga por cada aluno ou responsável. No entanto, existem benefícios, como bolsas
de estudo e créditos, para estudantes com bom desempenho no PSU ou com os recursos
necessários para financiar seus estudos. Esses benefícios são fornecidos pelo Estado ou pelas
universidades.
Pesquisas recentes sugerem [83] que políticas voltadas para os melhores alunos, como
bolsas de estudo destinadas a manter esses indivíduos em suas regiões de origem, não mitigarão
o efeito de concentração em Santiago. Isso se deve ao fato de que, com base nas estimativas, os
fatores vinculados ao local são mais importantes para eles. Assim, para mitigar a concentração
de capital humano, devem ser considerados os incentivos e a melhoria das condições nesses
58
territórios, assim como a melhoria das oportunidades de emprego e a oferta de serviços básicos
em regiões fora da capital.
Porém oportunidades de emprego e boa educação não são suficientes para evitar a “fuga
de cérebros”. Alinhado a um processo de qualificação da educação e da mão de obra, é
fundamental que as condições de infraestrutura e mercado andem alinhados para a construção
de uma cidade atrativa. Santiago tem se tornado uma cidade referência na América Latina.
O ambiente construído, verde e social expressa a situação de uma cidade e, em grande
medida, indica o desenvolvimento da área urbana. Esses componentes do ambiente urbano têm
um forte impacto na qualidade de vida dos cidadãos. Juntamente com os conceitos de eficiência
de recursos e resiliência nas cidades, a qualidade de vida é um pilar fundamental sobre
transformações urbanas. O conceito de qualidade de vida está diretamente ligado a perspectiva
ambiental e entendemos o bem-estar humano como parte integrante do conceito mais amplo de
qualidade de vida.
Unindo condições de mercado e infraestrutura favoráveis, Santiago se destaca como
uma das cidades mais atrativas para se viver, atraindo capital intelectual relevante e
possibilitando a construção de negócios de crescimento rápido e sustentável no Chile.
Cidade/Pilar Santiago Recife
Capital
Humano &
Infraestrutura
Bolsas de estudo
universitárias para melhores
alunos ficarem em Santiago
Investimento em
infraestrutura urbana e
melhoria da qualidade de
vida da população
(mobilidade, habitação,
saneamento)
Principal centro possui
cerca de 600 empresas
Não há políticas diretas para
financiar alunos de bom
desempenho no Brasil vindo
para Recife
Eleito décimo pior trânsito do
mundo e a sétima capital
mais violenta do Brasil
Porto Digital abriga cerca de
250 empresas atualmente
59
4.2.5 Inovação e Cultura Empreendedora - Nairóbi (Quênia)
À primeira vista, você pode não pensar em Nairóbi, no Quênia, como um grande celeiro
de startups. Preocupações públicas sobre segurança, burocracia governamental e um longo
período de espera para abrir uma empresa são algumas das razões pelas quais a capital
historicamente não se destacou como uma referência em empreendedorismo.
Ainda assim, nos últimos anos, Nairobi viu um desenvolvimento significativo no seu
meio digital. Contando milhares de graduados em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e
Matemática) de faculdades locais a cada ano, o cenário tecnológico de Nairobi pode gerar U$
1 bilhão ao Quênia entre 2016 e 2019 [84].
À medida que o uso de telefones celulares ganha popularidade, um mercado mais fértil
para empresas de comércio eletrônico está sendo criado. A IBM escolheu recentemente Nairobi
como o local para o seu primeiro "laboratório de pesquisa africano", citando o notável
"zumbido" tecnológico da cidade e a conexão com o continente africano em geral.
A M-Farm é uma das muitas startups de tecnologia que emergem do ecossistema
empreendedor de Nairóbi. Fundada em 2010 por um trio de mulheres, a empresa fornece aos
agricultores acesso a informações em tempo real sobre preços de mercado e onde eles podem
vender produtos e comprar suprimentos, tudo com o toque de um botão do celular. Atualmente,
esses agricultores estão produzindo apenas um sétimo do rendimento possível por hectare
produzido nos países em desenvolvimento, de acordo com a consultoria McKinsey and Co.
Empresas inovadoras como a M-Farm deram a Nairobi o impulso necessário para ter
sucesso econômico. Atualmente, abriga 242 startups e quase 2.000 investidores privados, a
cidade - outrora apelidada de "Niarobbery" por suas taxas de criminalidade - agora está
adotando um novo título: "Silicon Savannah".
O governo queniano reconhece que as startups criam empregos e, para esse fim, está
fazendo vários investimentos para apoiar o ecossistema empreendedor. Em 2013, o governo
estabeleceu uma parceria com a incubadora queniana Nailab para lançar um programa de
tecnologia de U$ 1,6 milhão para fornecer aos empreendedores acesso a capital, educação e
contatos úteis no setor.
A penetração da Internet no Quênia aumentou ao longo dos anos, criando uma enorme
oportunidade para os empreendedores digitais. Em 2014, quase metade (43%) da população
queniana tinha acesso à Internet, de acordo com o Banco Mundial. Este é um aumento
significativo em relação a 2010, quando a penetração pairava em apenas 14%. Além disso, 82%
dos quenianos agora possuem um telefone celular, em comparação com 89% dos americanos.
60
Nairóbi é incipiente quando comparada a gigantes urbanos como Nova York ou Los
Angeles, mas somente na África é uma das cidades que mais se desenvolve. Em termos
econômicos, Nairóbi é a sétima cidade líder da África, de acordo com um relatório recente da
série da PwC sobre "Cidades de Oportunidades". E em um estudo de 2012 da Economist
Intelligence Unit, "Pontos quentes: comparando a competitividade global das cidades", foi
projetado que Nairóbi se tornará uma das 40 economias urbanas que mais cresce no mundo até
2016, devido à sua força de trabalho altamente qualificada e ao custo de vida comparativamente
baixo.
Ainda assim, para competir melhor no cenário global, a cidade precisa desenvolver sua
infraestrutura física: o transporte em Nairóbi é uma dor de cabeça infame, pela qual a cidade
ficou entre as 10 primeiras do total de 120 cidades pesquisadas pela EIU.
Desta forma, vemos que a criação de startups que tratam de problemas e desafios locais,
ao mesmo tempo que podem se expandir em mercados de grande potencial, como o resto da
África, atraem a atenção de investidores e do governo, além de despertar o interesse da
população, pois tratam de dores reais. Naturalmente nascem programas de incentivo, ações
políticas de apoio e engajamento das universidades, para tratar de desafios que despertam a
simpatia da população e motivam novos cidadãos a empreender. Apesar de ter começado num
ambiente bastante caótico, com burocracias, problemas de segurança e ainda ter um dos piores
trânsitos da África, é possível ganhar a atenção de agentes globais e se posicionar como uma
das principais cidades africanas para se empreender em tecnologia.
Cidade/Pilar Nairóbi Recife
Inovação &
Cultura
Empreendedora
Programas entre prefeitura
e aceleradoras (capital,
capacitação e contatos com
o setor)
Investimento direto na
abertura de novas
instituições acadêmicas
Construção de cases,
através do governo, como
ferramenta de incentivo
Programas de aproximação
entre entidades públicas e
startups (eg.: Suape Match
Day)
Não foram encontrados
registros de investimentos
em instituições acadêmicas
Cases locais ainda são
distantes da formação de
novos empreendedores
61
5. Importando práticas num mundo globalizado
Conhecimento nunca foi tão difundido quanto nos dias atuais. Temos dados viajando
pela internet, pesquisas, relatos, relatórios de governo, de grandes consultorias. Tudo
compartilhado em questão de segundos à qualquer lugar do mundo.
Torna-se natural que os governos, órgãos independentes e indivíduos observem tudo
que é feito em outras geografias a fim de entender que práticas e modelos são utilizados lá fora,
ou aqui do lado. Boas práticas e resultados, então, são buscadas e replicadas em diferentes
geografias.
Com o empreendedorismo não é diferente: Governos, instituições privadas, fundos de
investimento e empreendedores buscam incessantemente as melhores práticas de criação e
escalabilidade de negócios, startups. Porém entendemos aqui que startups são elementos
intrínsecos da sociedade, interligados com o ambiente acadêmico, com a sociedade, com o meio
ambiente.
Vimos aqui que o Brasil em si já é um ambiente complexo, com uma grande variação
de hábitos, culturas e mercados dentro da sua própria geografia. Logo, é praticamente
impossível exigir resultados uniformes para políticas funcionando do mesmo jeito em todo
território. Por isso as sociedades locais e entidades locais do governo podem seguir diretrizes
governamentais mais amplas, ao mesmo tempo que adaptam modelos de políticas locais,
incentivando a cultura empreendedora de acordo com as particularidades de cada região.
O Brasil tem outra biografia, outro nível de desenvolvimento econômico e outro
arcabouço cultural. Os dois podem estar olhando para a mesma coisa, mas nem sempre o que
um americano vê é o que um brasileiro vê. Até a sujeira é relativa, concluiu uma das pesquisas
trazidas! Universos culturais distintos produzem interpretações distintas para a realidade.
Simplesmente enlatar e importar têm seus riscos.
62
6. Conclusão
A partir dos números e cenários levantados, podemos chegar em duas principais
conclusões: startups são entidades extremamente particulares, com alto risco e grande potencial
de impacto na sociedade; O Brasil é um ecossistema extremamente complexo, denso e que se
expressa através de realidades completamente diferentes.
Recife, enquanto parte formadora do Brasil, também tem complexidades, características
próprias e realidades diferentes, porém numa óptica mais controlada de ser observada.
Apesar de vivermos num mundo cada vez mais globalizado e estarmos construindo um
ecossistema baseado em tecnologia, é fundamental entender que este contexto é diferente de
outros mais conhecidos e maduros. Evoluir, mudar e aprender com benchmarks são passos
necessários para levar a cidade a outro patamar de geração de negócios, mas é preciso comparar
cidades através das suas semelhanças e aprender a partir dos “parentes próximos”.
Várias cidades ao redor do Brasil e do mundo mostram que é possível amadurecer e
gerar negócios sustentáveis, tanto do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista
ambiental. Porém, para que isso aconteça, é necessário interligar os agentes de mudança: a
universidade, o mercado e o governo, para evoluir junto ao meio ambiente e a sociedade.
Sem conexões genuínas, provocamos o crescimento desproporcional e
descontextualizado. Mercado sem impacto social, governo sem políticas ambientais,
universidade desconectada do mercado. As entidades não se entendem e a inovação não
acontece.
Felizmente, mostramos que ecossistemas emergentes podem evoluir rapidamente, desde
que comecem focados e que entendam onde estão posicionados. Entender quais as suas
fraquezas, pontos fortes, recursos disponíveis e quais agentes precisam ser mais mobilizados
nesta evolução são etapas fundamentais. Uma boa execução destes passos separam realidades
que deram saltos de melhoria ou que permanecem num ciclo de tentativa e erro, importando
práticas de um contexto completamente diferente, sem entender porque outras cidades deram
certo.
Assim, Recife se posiciona numa situação desafiadora e privilegiada: é uma das cidades
com maior potencial de crescimento rápido no país.
63
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