os desafios da escola pÚblica paranaense … · o tema em questão (plantas terrestres) faz parte...

17
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

Upload: dokhuong

Post on 03-Oct-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

UTILIZAÇÃO DE DIFERENTES METODOLOGIAS PARA A COMPREENSÃO DOS GRANDES GRUPOS VEGETAIS

Luiz Carlos Repa

Professor de ciências e matemática na SEED, professor PDE turma 2013

Rogério Antonio Krupek

orientador, doutor, professor UNESPAR, campus de União da Vitória

Resumo

A falta de utilização de diferentes metodologias no ensino de ciências muitas vezes leva ao fracasso escolar do aluno. Neste sentido, a utilização de ferramentas assim como a fotografia digital, atividades lúdicas, pesquisas na internet e construção de modelos tridimensionais podem auxiliar na buscar pelo conhecimento e ao mesmo tempo despertar o interesse dos alunos sobre os conteúdos de Ciências e em particular da Botânica. Este trabalho foi desenvolvido durante o primeiro semestre do ano de 2014, com os alunos do Sétimo ano 'B' em uma escola do campo (Professor Francisco Gawlouski) localizado no município de Paulo Frontin, PR. Inicialmente os alunos responderam a um pré-teste para averiguação do conhecimento prévio dos mesmos sobre os quatro grandes grupos de vegetais terrestres (briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas). Em seguida, foram realizadas atividades em sala de aula (apresentação e discussão do tema) procurando evidenciar a importância do tema proposto. Posteriormente, os alunos realizaram pesquisas sobre o tema, sendo que os conhecimentos foram utilizados em jogos didáticos (dados, cartas e trilhas). A seguir, os alunos, já com conhecimentos teóricos sobre os vegetais, participaram de uma aula de campo, com o intuito de visualizar e fotografar todos os grupos vegetais e suas características. As imagens foram por eles usadas para criar apresentações de slides (indicando as características dos vegetais) e para confeccionar modelos tridimensionais dos grupos vegetais estudados. Por fim, os alunos participantes responderam a um pós-teste (similar ao pré-teste). Os resultados mostraram que houve um aumento no número de respostas corretas de 33,5% para 88.7%, evidenciando a importância de atividades diferenciadas no ensino de Botânica.

Palavras-chave: botânica, recursos didáticos, aula de campo.

1. INTRODUÇÃO

Atualmente considera-se comum a falta de interesse de muitos alunos pelos

conteúdos a eles apresentados (GATTI, 1996). “O ensino da Botânica, bem como

uma grande parte dos conteúdos relacionados às disciplinas de Ciências e Biologia

pode ser marcado por diversos entraves e, dentre os mais evidentes encontram-se o

desinteresse dos alunos por esse conteúdo, a falta de desenvolvimento de

atividades práticas e de material didático voltado para o aproveitamento desse

estudo.” (MELO, 2012). Surge assim, por parte dos professores, a necessidade de

desenvolver metodologias que venham tornar as aulas mais interessantes,

dinâmicas e com mais recursos. Considerando isto, o presente trabalho visa

apresentar o uso de diferentes metodologias e recursos para o ensino de Ciências,

em particular na área de Botânica. Os conteúdos trabalhados englobam os quatro

grandes grupos de vegetais terrestres (briófitas, pteridófitas, gimnospermas e

angiospermas) trabalhados de modo diferencial (uso de jogos e modelos

tridimensionais e aulas de campo) visando assim despertar o interesse do educando

pelos conteúdos a ele apresentados.

Os vegetais são um importante tema de estudo e fazem parte do currículo do

Ensino Fundamental. Sua importância é facilmente observada e pode ser

relacionada com questões cotidianas, assim como o equilíbrio ambiental, a

alimentação e como fonte de energia renovável. Outras questões também

importantes devem ser consideradas, assim como a origem das plantas hoje

cultivadas, sua importância econômica e a questão das plantas transgênicas. Tais

temas podem ser utilizados como elementos motivadores de interesse e

aprendizagem.

O tema em questão (Plantas Terrestres) faz parte das Diretrizes

Curriculares Estaduais do Paraná, dos conteúdos estruturantes Sistema Biológicos e

Biodiversidade, o qual prevê o estudo da morfologia e fisiologia dos vegeteis e sua

classificação. Tais diretrizes (PARANÁ, 2008) orientam iniciar um novo conteúdo

tomando como base o conhecimento prévio do aluno, a fim de traçar estratégias de

modo a aguçar a curiosidade dos mesmos.

Para Vasconcelos (1992) existe um problema muito grande na aula

expositiva, ainda muito utilizada atualmente, pois esta proporciona a formação de um

aluno passivo, não crítico. Desta forma, este trabalho se propôs a desenvolver as

atividades de modo participativo, com a apresentação dos conteúdos a partir de uma

mesa redonda em sala com o professor agindo como mediador e incentivador da

aprendizagem. Os alunos demandam conhecimento por influência de fontes de

informação como, por exemplo, a imprensa escrita e falada, onde esses temas têm

ocupado um espaço regular (BOSSOLAN, et al. 2008, p.41).

Os alunos de áreas rurais demonstram grande interesse pela botânica, o que

deve-se ao meio em que vivem, pois este tema tem relação direta com sua vida,

sendo totalmente contextual. Para Gimonet (2007), o meio em que um indivíduo vive

lhe traz uma série de conhecimentos vivenciados no seu dia a dia. Isto demonstra a

importância de formar o indivíduo considerando a sua relação com o meio ambiente

no qual está inserido, considerando também o seu contexto histórico, colocando-o

como um ser social e implicado nesse processo (CARVALHO, apud da SILVEIRA e

ALVES 2008, p 7).

A Botânica é a ciência que classifica os vegetais em grupos, evidenciando

ainda o potencial econômico das plantas, citando a utilização delas pelo homem na

alimentação, ornamentação, no tratamento de doenças e produção de cosméticos.

Devido a essas diferentes aplicações, a Botânica pode ser utilizada como tema

motivador no ensino de Ciências. A Botânica é o ramo da Biologia que estuda as

plantas nos seus amplos domínios, ou seja, é nesta disciplina que o aluno construirá

seus conhecimentos sobre os grupos vegetais e as características mais importantes

de cada grupo (SCHWANTES 2014).

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O trabalho foi desenvolvido com os alunos do Sétimo ano 'B' do Colégio

Estadual do Campo Professor Francisco Gawlouski, situado na Colônia São Roque

no Município de Paulo Frontin, durante o primeiro semestre do ano de 2014. Todos

os alunos são residentes da área rural do município.

As atividades desenvolvidas seguiram o seguinte programa metodológico: a

primeira etapa foi a aplicação de um questionário (denominado de pré-teste – Tabela

1), o qual consistiu de 3 questões objetivas e 7 questões discursivas sobre o tema

proposto. O objetivo deste pré-teste foi investigar o nível de conhecimento prévio

dos alunos sobre os quatro grandes grupos vegetais terrestres (briófitas, pteridófitas,

gimnospermas e angiospermas). O aprendizado dos alunos foi posteriormente

avaliado comparando os resultados obtidos com aqueles de um pós-teste, aplicado

ao final das atividades.

Tabela 1. Questionário utilizado no pré-teste e pós-teste e aplicado aos alunos do 7º ano do Colégio Estadual do Campo Professor Francisco Gawlouski.

Questão Pergunta

Objetivas

1 A reprodução permite a multiplicação da espécie. Nos vegetais a independência da água para a fecundação ocorre a partir: a) das espermatófitas. b) dos musgos. c) das licopodíneas. d) das briófitas. e) das pteridófitas.

2 Nas gimnospermas não se forma:

a) grão de pólen. b) óvulo. c) tubo polínico. d) semente. e) ovário.

3 Qual é a diferença entre musgos e samambaias

a)coloração b)existência ou não de vasos condutores de seiva c) tamanho das folhas d) capacidade de respiração

Discursivas

1 Quais são as principais características de uma planta?

2 Em quantos grupos se divide o Reino das plantas terrestres?

3 Quais são os principais órgãos de uma planta?

4 Todas as plantas possuem flores?

5 Qual é a função das flores em uma planta?

6 Todas as plantas possuem sementes?

7 Qual é a principal característica das angiospermas?

A seguir, foram abordadas informações sobre a importância dos vegetais com

base em diversos aspectos, como: fonte alimentar; fibras para o vestuário; madeira

para mobiliário; abrigo; combustível; papel para livros; temperos para culinária;

drogas para remédios; oxigênio que respiramos. Também foram apresentadas

algumas curiosidades sobre plantas, como plantas carnívoras, com o intuito de

despertar o interesse dos alunos. As aulas foram do tipo participativas, onde os

alunos foram incentivados a debater seus conhecimentos prévios, fazer perguntas e

levantar suposições.

Posteriormente foi feita uma apresentação de slides com informações sobre

plantas de cada um dos quatro grupos de vegetais em questão. Essa exibição foi

acompanhada de uma explanação oral do professor, o qual discorreu e levantou

questionamentos aos alunos sobre cada um dos grupos. Desta forma, os alunos

conhecem de antemão as características morfológicas de cada grupo. Em seguida

os alunos realizaram algumas atividades para a fixação do conteúdo. Estas

contaram com caça palavras, palavras cruzadas e atividades de completar. Tais

atividades buscaram envolver memória e raciocínio. Para tanto, esses exercícios

foram feitos com um texto de apoio trazendo informações expostas durante a

apresentação de slides. Em seguida, os alunos exercitaram seus conhecimentos

através de uma atividade lúdica, adaptado a partir do jogo “O coletor”

(http://unb.revistaintercambio.net.br/24h/pessoa/temp/anexo/1003/1315/ 2126.pdf.).

Para o jogo foi necessário confeccionar trinta e seis cartas, contendo uma figura de

um lado e uma questão de outro, além de dois dados contendo figuras e cores,

conforme exemplos na figura 1.

Figura 1. Imagem das cartas utilizadas durante as atividades práticas com os alunos. Adaptado do jogo “o coletor”. Fonte: o autor

O jogo foi organizado da seguinte forma: a turma foi dividida em duas

equipes, sendo que cada equipe indicou um representante para ir à frente disputar a

“coleta” dos cartões após o mediador do jogo lançar os dados. A combinação das

faces dos dados (forma e cor) resulta em uma imagem igual a de um dos cartões

sobre a mesa. Após a largada os jogadores procuram a carta representada na mesa.

Aquele que pegou a carta responde ao desafio. Em caso de resposta correta a

equipe pontua. Em caso de resposta incorreta, é dada a oportunidade para a outra

equipe responder.

Na próxima etapa os alunos foram ao laboratório de informática, onde fizeram

uma pesquisa na internet sobre o reino vegetal e os quatro grandes grupos. Nesse

momento tiveram a oportunidade de entrar em contato com uma quantidade enorme

de informações, porém durante a pesquisa foram orientados pelo professor, que

conduziu a atividade para que os mesmos não perdessem o foco da pesquisa.

Em seguida, foi feita uma aula de campo no Viveiro Florestal de Santana do

Instituto Ambiental do Paraná IAP, na colônia Santana em Paulo Frontin, Paraná, de

acordo com as seguintes coordenadas obtidas no Google -26.074417, -50.763680

local este que apresentava representantes dos quatro grupos vegetais.

Como o objetivo era evitar a coleta de material da natureza, os alunos fizeram

o documentário fotográfico dos espécimes, procurando evidenciar as características

do vegetais de modo que possam ser estudados e descritos posteriormente. Após a

aula de campo os alunos criaram apresentações de slides, utilizando as fotos e

descrevendo as características das partes dos vegetais fotografados, suas funções e

também a que grupo pertence cada vegetal, justificando com informações a respeito

destes.

Para fixação do conteúdo, foi realizada ainda outra atividade lúdica (Jogo de

dados e trilhas). Nesse jogo, o aluno lança um dado de seis faces, e o numero que

surgir na face superior deve ser o mesmo a colocado na trilha (Figura 2). Para

continuar na casa, entretanto, ele deve responder a uma questão contida em uma

carta com o número correspondente. Se responder corretamente, ele continua na

casa, caso contrário volta à casa anterior, ou ao início se esse for o caso. As cartas

foram enumeradas em uma face, e possuíam uma questão na outra face (voltada

para baixo durante o jogo).

Figura 2. Imagem do jogo da Trilha utilizada durante as atividades com os alunos envolvidos no projeto. Fonte: o autor

A seguir, os alunos desenvolveram modelos tridimensionais dos vegetais e

suas características (Figuras 3 e 4), utilizando arame e papel crepom. Esse trabalho

foi importante para aguçar o poder de observação dos alunos, e também sua

memória visual. A criatividade também foi fator importante nesse processo, os alunos

usando arames, papel crepom, massas de modelar conseguiram elaborar diversos

moldes de diversos vegetais, inclusive suas partes, como frutos flores e folhas. Com

essa atividade os alunos demonstraram seu conhecimento, o qual em alguns

momentos não foi exposto em palavras, pois estas as vezes não são suficientes ou

lhes faltam.

Figura 3. Representação de uma angiosperma construída pelos alunos utilizando arames, papel celofane, EVA e massa de modelar. Percebem-se a presença de folhas, gemas apicais, flores e frutos. Fonte: o autor

Figura 4. Modelo tridimensional de um pinheiro (Araucaria augustifolia) - representante das gimnospermas - construído pelos alunos participantes do projeto. Fonte: o autor

Por fim, ao final das atividades foi aplicado o questionário de pós-teste, com

finalidade de averiguar o conhecimento adquirido pelos alunos após as atividades

desenvolvidas, embora os mesmos tenham sido acompanhados e avaliados durante

todo o processo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As aulas de campo, com o uso da fotografia proporcionaram aos alunos a

focalização de vegetais inteiros e seus detalhes morfológicos.

A própria complexidade que envolve uma aula de campo, em que os alunos deparam-se com uma quantidade maior de fenômenos quando comparada a uma aula tradicional, pode confundir os alunos na construção dos conceitos e lidar com essa complexidade requer o estabelecimento de objetivos claros e um professor bem preparado. (LOPES e ALLAIN apud SENICIATO E CAVASSAN 2004).

Para tanto, neste estudo, o professor delimitou seus objetivos e estabeleceu

metas, com conhecimento prévio da área visitada, podendo assim discorrer, explicar

e questionar os alunos diante dos elementos em questão presentes em seu habitat

natural, e então os alunos puderam obter fotografias como as das figuras a seguir.

Figura 5. Exemplo de fotografias utilizadas (obtidas pelos próprios alunos) durante as atividades desenvolvidas. Fonte: o autor

Os alunos obtiveram dezenas de fotos que foram sendo observadas e

utilizadas em suas apresentações. Através das fotos que os alunos foram tirando

podemos verificar também o nível de entendimento em relação ao conteúdo. Em

laboratório eles relembraram as explanações do professor a respeito de cada

vegetal, ou cada parte do vegetal.

Os dados obtidos foram analisados buscando-se demonstrar o nível de

conhecimento antes e depois da implementação do projeto. Os gráficos mostram a

média de erros e acertos das questões propostas aos alunos no pré-teste e pós-

teste (Figura 6).

Figura 6. Resultados obtidos durante o pré-teste e pós-teste aplicado aos alunos do 7º ano B do Colégio Estadual do Campo Professor Francisco Gawlouski.

Os gráficos mostraram uma melhora substancial nos conhecimentos

adquiridos pelos alunos após a implementação do projeto. No pré-teste obteve-se

33,5% de acertos, enquanto que no pós-teste o valor foi de 88,7% de acertos. Isso

evidencia que o uso de diferentes metodologias, e diferentes recursos possibilita

uma aprendizagem com os índices ora expostos. Nesse caso as aulas de campo

foram fundamentais, pois de acordo com Joly apud Schwantes (2014), o professor

jamais deverá tentar ensinar Taxonomia sem recorrer às plantas vivas, isto é, à

natureza. Isso permite um contato com as plantas, diferente do proporcionado pelo

livro ou até mesmo pela internet. Durante a aula de campo, com o contato com as

plantas e suas características diante dos alunos, pode-se mostrar in loco todos os

conhecimentos encontrados em livros ou na internet. Desta forma, durante as

atividades, foram sendo apontados e comentados os quatro grandes grupos vegetais

terrestres com suas características morfológicas e fisiológicas. Para Seniciato e

Cavassan (2004), as aulas de campo trazem tranquilidade e conforto, isso devido

aos quatro sentidos, olfato, visão, tato e audição que foram sendo citados pelos

alunos e ainda pelas sensações de descobrir coisas novas. Vários outros fatores se

aliam a estes em uma aula de campo. Ainda de acordo com os autores, talvez o

conforto relacionado ao aprender apontado pelos alunos seja decorrência de uma

satisfação pessoal pela conquista de um novo saber, o que pode ser tema para

novas pesquisas.

PRÉ-TESTE

acertos

erros

PÓS-TESTE

acertos

erros

Ao analisar algumas questões percebeu-se que horam evolução do ponto de

vista quantitativo, representado pelo número de respostas certas, mas também

qualitativo, considerando as questões discursivas e mesmo objetivas. Quando

perguntados no pré-teste a respeito de qual é a função das flores em uma planta,

15% dos alunos responderam: embelezar, 30,7% responderam polinizar e outros

15% responderam transferir pólen. Outros deram diversas respostas de cunho

romântico ou estético. Aos que responderam polinizar ou transferir pólen constatou-

se que já tinham uma noção embora incompleta a respeito da função reprodutiva

das plantas. Estes, no pós-teste deram as seguintes respostas a mesma pergunta:

“A função das flores é para as abelhas obterem o mel e reproduzirem as plantas”.

Neste caso, o aluno conseguiu fazer uma associação entre organismos (planta-

polinizador), envolvendo a ideia de relação ecológica, embora tenha apresentado

dificuldade no momento de expressar a sua ideia. Outra resposta também obtida

para a mesma questão: “função de reprodução e produção de frutos”. Houve uma

nítida melhora em sua concepção, relacionando estrutura e função, embora não

tenha especificado isso em maiores detalhes. Outra resposta obtida foi que “a flor

tem função reprodutiva”. Todos os alunos responderam corretamente, dizendo que a

flor tem função de reprodução nas plantas, mas não explicaram com muitos detalhes

como é a estrutura e o processo. Porém foi deixado de lado a alusão a beleza ou ao

aspecto formoso das flores, que é do senso comum.

Outra questão interessante, objetiva, referiu-se a diferença entre musgos e

samambaias (Tabela 1). No pré-teste 35,7% alunos responderam corretamente

marcando “existência ou não de vasos condutores de seiva”, enquanto 28,57%

marcaram que a diferença está na folha, o que na verdade não significa um erro,

porem não é esse o melhor conceito diferencial. Os demais alunos marcaram as

demais alternativas. No pós-teste mais de 93% marcaram a alternativa referente a

vasos condutores de seiva, o que confirmou a aquisição de um conhecimento

cientifico. Isso mostra que a aula de campo é importante, embora se deva ressaltar

que a mesma sempre deve ser complementada pelas aulas teóricas.

Uma condição comum encontrada foi que no pré-teste as respostas,

normalmente, apresentaram conceitos incompletos ou em nível muito básico para

definir planta, não conseguindo representá-la de forma mais complexa. As respostas

dadas não estavam sempre erradas, porém são vagas e muito generalistas não

apresentando características específicas que representem um vegetal

BITENCOURT (2009).

Quando os alunos foram perguntados a respeito das principais características

das plantas, inicialmente 61,5% das respostas referiam-se a morfologia das plantas,

folhas, galhos, raízes e tronco. Outros 23% responderam que são seres vivos, e

15% não responderam. Já no pós-teste, todos se referiram, não só a parte

morfológica, mas falaram a respeito do fato de serem na sua maioria verdes por

possuírem clorofila e realizarem fotossíntese, e produzirem oxigênio.

Para Santos apud Seniciato e Cavassan (2004), as contribuições da aula de

campo de Ciências e Biologia em um ambiente natural podem ser positivas na

aprendizagem dos conceitos à medida que são um estímulo para os professores,

que vêem uma possibilidade de inovação para seus trabalhos e assim se empenham

mais na orientação dos alunos. Para os alunos é importante que o professor

conheça bem o ambiente a ser visitado e que este ambiente seja limitado, no sentido

espacial e físico, de forma a atender os objetivos da aula. Os autores salientam

ainda que o raciocínio se dá mais facilmente por meio da observação concreta dos

objetos ou dos fenômenos, no caso específico do ensino de Ciências, a

experimentação da realidade torna-se uma ferramenta de indiscutível validade.

Seguindo a análise dos testes, na questão onde se perguntou qual elemento

não se forma nas gimnospermas (Tabela 1), 7% não responderam, mais de 23%

responderam dizendo que não se forma o óvulo, 30% responderam dizendo que não

se forma a semente, e aproximadamente 40% disseram que não se forma o ovário.

Nesse momento, a maioria dos alunos ainda não tinham a ideia do desenvolvimento

do ovário em fruto e do óvulo em semente ou mesmo da função fisiológica do ovário.

No pós-teste, 78,57% responderam que nas gimnospermas não ocorre a existência

de ovário, e 21% indicaram outras respostas. Houve assim, um aumento substâncial

de 40% para 78,56%. Considerando ainda, o pequeno número de alunos na turma,

houve um significativo aumento no nível de conhecimento. Para Seniciato e

Cavassan (2009), alguns alunos poderiam sentir-se desconfortáveis durante as

aulas de campo, alguns por serem mais urbanos, ou simplesmente não gostarem do

ambiente de floresta. Os argumentos são diversos, espinhos, falta de lugar pra

sentar, medo de animais, ou mesmo a falta de costume. Nesse caso explica-se o

fato de alguns não atingirem a plenitude dos conhecimentos oferecidos.

Outro fator discutível trata-se dos jogos, pois estes também tem suas

controvérsias:

ainda acrescenta o valor das reflexões e análises feitas pelo professor após as atividades com jogos para a aprendizagem da Matemática. Se elas não forem feitas: Não se estabelece um resgate das ações desencadeadas no jogo, ou seja, um processo de “leitura”, construção e elaboração de estratégias e “tradução”, explicitação numa linguagem. Trata-se apenas de compreensão e cumprimento das regras, com elaboração informal e espontânea de estratégias, e sem muita contribuição para o processo ensino-aprendizagem... (GRANDO 2000 apud STRAPASON p.24).

Considerando os resultados apresentados nos gráficos, e a análise de

algumas questões evidenciou-se que os resultados foram positivos, porém com

pequenas ressalvas, pois não atingiu-se cem por cento de aproveitamento.

Durante o desenvolvimento deste trabalho foram utilizados recursos tais como

a fotografia digital que está cada vez mais presente em nossas vidas e na dos

alunos. Aparelhos como máquinas fotográficas digitais, smarth-phones ou celulares

equipados com máquinas fotográficas digitais são objetos que fazem parte do gosto

e cotidiano do aluno. O fato de sua utilização trouxe grande expectativa e

consequente motivação. “O bem-estar sentido pelos alunos durante a aula de campo

também tornou agradável o processo de aprendizagem e é interessante vê-los

justificar o conforto pelo fato de aprenderem novos assuntos” (SENICIATO e

CAVASSAN, 2004). A aula de campo, no ensino de ciências torna-se de grande

relevância especialmente quando se estuda elementos do ecossistema regional, da

localidade em que vivem os alunos. O simples fato de o aluno estar fora do ambiente

de sala de aula, e em contato com o seu objeto de estudo no seu ambiente natural

tornou o aprendizado muito mais amplo, demandando inclusive um preparo especial

por parte do professor. Então a aula de campo aliada a fotografia digital trouxe a

possibilidade de se rever em sala de aula elementos dos vegetais observados in loco

pelos alunos, e por eles também fotografados. Todos esses modos de apresentação

da imagem apontam para a sua principal função, que é “garantir, reforçar, reafirmar e

explicitar nossa relação com o mundo visual: ela desempenha papel de descoberta

do visual” (AUMONT, 2004 apud DA SILVEIRA e ALVES, 2008 p.134).

Os jogos por sua vez, trouxeram um aspecto lúdico aos trabalhos, e foram

utilizados em dois momentos com níveis de conhecimentos exigidos diferentes.

Jogando, o indivíduo se depara com o desejo de vencer que provoca uma sensação

agradável, pois as competições e os desafios são situações que mechem com

nossos impulsos (SILVEIRA, 1998, p.02). Para Da Silveira, Ataíde e Farias Freire

(2009), no processo de criação e execução da abordagem lúdica vislumbramos uma

prática inovadora, uma vez que o aprendizado não se restringe a um ambiente

escolar, podendo tornar-se um momento prazeroso e instigante, permitindo que o

conhecimento científico seja construído de maneira usualmente diferente.

As pesquisas na internet colocaram os alunos num mundo de informações

onde eles deveriam ler e interpretar, porém em meio digital a interação com o

conhecimento e a informação são totalmente diferentes. Com maior dinâmica na

busca de informações de interesse imediato, como por exemplo, termos novos ou

desconhecidos, tornando a pesquisa mais ampla. No entanto a presença e

observação constante do professor são imprescindíveis, assim como uma ampla

pesquisa prévia relativa aos sites para poder monitorar o trabalho dos alunos,

considerando a vastidão da internet. Para Moran (2001), nunca tivemos tanta

informação disponível, tantas tecnologias, mas nunca tivemos também tanta

dificuldade de comunicação. Comunicar significa interagir de verdade, todos nós que

estamos envolvidos no processo.

A construção de modelos tridimensionais com a utilização de arames, papel

crepom, EVA, cola entre outros materiais, possibilitou a demonstração de

conhecimentos adquiridos, através da reprodução destes em modelos construídos.

Essa atividade possibilitou uma interdisciplinaridade com a disciplina de artes, sem a

qual não se obteria sucesso na atividade.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A metodologia utilizada foi decisiva para o sucesso da aprendizagem dos

alunos, conforme descrito acima eles tiveram um desempenho bastante

considerável. Obviamente não se atingiu a plenitude dos objetivos, isso se deve a

fatores conhecidos, assim como na aula de campo, que embora proporcione

interesse em todos, alguns não conseguem se inteirar das explicações pela grande

quantidade de informações visuais proporcionadas pelo local da aula. Alguns se

deram muito bem nas atividades lúdicas, porém não conseguiram complementar as

informações ali obtidas.

De forma geral a proposta teve êxito, e ficou evidente nos resultados obtidos

nos testes aplicados. Desta forma, o desenvolvimento deste trabalho cumpriu seu

papel, trouxe inovação e novas metodologias ao alcance dos professores.

5. BIBLIOGRAFIA

BITENCOURT, Iane Melo et al. As plantas na percepção de estudantes do ensino fundamental no município de Jequié–Ba. UFRJ: VIII ENPEC, v. 2, 2011. DA SILVEIRA, Larissa Souza; ALVES, Josineide Vieira. O uso da fotografia na educação ambiental: tecendo considerações. Pesquisa em educação ambiental, v. 3, n. 2, p. 125-146, 2008 DA SILVEIRA, Alessandro Frederico; DE ATAÍDE, Ana Raquel Pereira; DE FARIAS FREIRE, Morgana Lígia. Atividades lúdicas no ensino de ciências: uma adaptação metodológica através do teatro para comunicar a ciência a todos Playful activities in science teaching: a methodological adaptation through theater. Educar em Revista, n. 34, p. 259, 2009. DE SOUZA MARTINS, Déborah; CRUZ, Thereza Christina BS. Trabalho de Campo e produção de videodocumentário: pensar e fazer em Geografia–um estudo de caso na Educação Básica em Campos dos Goytacazes/RJ.Encontro de Geografia, 2010. GATTI, Bernadete Angelina. Os Professores e Suas Identidades: O Desvelamento da Heterogeneidade. Cadernos de Pesquisa, v.98, p.87, 1996. MELO, Edilaine Andrade et al. A aprendizagem de botância no ensino fundamental: Dificuldades e desafios. Scientia Plena, v. 8, n. 10, 2012 MORAN, José Manuel. Novos desafios na educação–a Internet na educação presencial e virtual. Saberes e linguagens de educação e comunicação. Pelotas: UFPel, p. 05, 2001. PRIGOL, Sintia; GIANNOTTI, Sandra Moraes. A importância da utilização de práticas no processo de ensino-aprendizagem de ciências naturais enfocando a morfologia da flor. Simpósio Nacional de Educação–XX Semana da Pedagogia, 2008. SCHWANTES, Janice. O TRABALHO EM CAMPO NO ENSINO DA BOTÂNICA NOS CURSOS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS: CONTRIBUIÇÕES PARA O PROCESSO DE ENSINO VOLTADO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL.Teses e Dissertações PPGECIM, 2014. SENICIATO, Tatiana; CAVASSAN, Osmar. Afetividade, motivação e construção de conhecimento científico nas aulas desenvolvidas em ambientes naturais. Ciências e Cognição/Science and Cognition, v. 13, n. 3, p. 120-136, 2009. SENICIATO, Tatiana; CAVASSAN, Osmar. AULAS DE CAMPO EM AMBIENTES NATURAIS E APRENDIZAGEM EM CIÊNCIAS–UM ESTUDO COM ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL Field Classes in natural environment and science learning–a study with students from elementary school. Ciência & Educação, v. 10,

n. 1, p. 133-147, 2004. SILVEIRA, Sidnei Renato; BARONE, Dante Augusto Couto. Jogos Educativos computadorizados utilizando a abordagem de algoritmos genéticos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Informática. Curso de Pós-Graduação em Ciências da Computação, 1998. STRAPASSON Lísie Pippi Reis .o uso de jogos como estratégia de ensino e aprendizagem da matemática no 1º ano do ensino médio. Santa Maria, RS – 2011. VIEIRA, Valéria; BIANCONI, M. Lucia; DIAS, Monique. Espaços não-formais de ensino e o currículo de ciências. Ciência e Cultura, v. 57, n. 4, p. 21-23, 2005.