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Dilatação endoscópica por balão de estenose esofágica em
gatos: a propósito de 2 casos clínicos
CASO CLÍNICO 1
Identificação: Gata de 2 anos, fêmea esterilizada.
Motivo: Referência para esofagoscopia por regurgitação desde há 10
dias.
Anamnese: História de tratamento recente com doxiciclina e
submetida a gastrotomia para remoção de corpo estranho no duodeno.
Regurgitação desde há 10 dias.
Esofagoscopia: Presença de uma dupla estenose esofágica (esófago
médio e distal).
Etiologia suspeita: Origem multi-factorial (doxiciclina versus refluxo
gastroesofágico).
Tratamento: Realização de dilatação endoscópica por balão
(utilizando balão de dilatação de 10mm de diâmetro). Foi instaurado
tratamento médico (antiácidos, comida húmida e maropitant).
Evolução clínica: Apesar da melhoria clinica e resolução da
regurgitação, foi realizada nova esofagoscopia 3 dias depois para avaliar
a necessidade de segunda dilatação. Macroscopicamente foram apenas
visíveis alguns sinais de esofagite pelo que o procedimento não foi
repetido (figura 1). Aquando do último contacto, 5 semanas depois, a
gata apresenta-se estável com alimentação húmida.
Foram referenciadas para o serviço de Medicina Interna do HEV - FMV-Ulisboa duas gatas fêmea de raça indeterminada, para realização de esofagoscopia por suspeita de doença
esofágica. Ambas apresentavam história de regurgitação evolutiva desde há 10 dias e 3 semanas, respetivamente.
Beatriz Rogado Paula, Rita Seixas Dias & Rodolfo Oliveira Leal
Hospital Escolar Veterinário / CIISA - Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa
INTRODUÇÃO
A estenose esofágica consiste num estreitamento anormal do lúmen do esófago, o qual pode ser secundário a causas intraluminais (refluxo gastroesofágico, esofagite secundária
à ingestão de cáusticos, antibióticos (doxiciclina e clindamicina), corpos estranhos, cirurgia esofágica ou neoplasia) ou consequência de uma afeção extra-luminal compressiva
(neoplasia extra-esofágica, esofágica intra-mural ou anomalias vasculares). A presença de disfagia e/ou regurgitação são os sinais clínicos mais frequentes. O diagnóstico definitivo é
confirmado por esofagoscopia. Entre as técnicas atualmente disponíveis para a sua resolução terapêutica, a dilatação endoscópica por balão é pouco invasiva e consiste na introdução
de balões extensíveis de dilatação e alargamento consequente da estenose. Este estudo apresenta dois casos de resolução da estenose esofágica por dilatação em gatos,
sensibilizando o clinico de animais de companhia para esta abordagem terapêutica.
CASOS CLÍNICOS
CASO CLÍNICO 2
Identificação: gata de 12 anos, fêmea esterilizada.
Motivo: Referência para esofagoscopia por regurgitação desde há 3
semanas.
Anamnese: Sem antecedentes. Regurgitação desde há 3 semanas.
Exploração do veterinário assistente - Radiografia torácica com retenção
de trânsito baritado a nível do esófago médio.
Esofagoscopia: Presença de uma estenose concêntrica de bordos
regulares, a nível da porção inicial do terço médio do esófago.
Etiologia suspeita: Tendo em conta a ausência de fatores de
predisposição conhecidos para esta lesão (sem cirurgia recente, contacto
com cáusticos ou fármacos) suspeitou-se de evolução de uma neoplasia
extra-luminal ou refluxo gastro-esofágico crónico.
Tratamento: Realização de três sessões de dilatação endoscópica por
balão com 3 dias de intervalo entre si, e utilização de pressões
crescentes (duas dilatações com balão de 10mm diâmetro e uma terceira
com um balão de 18mm de diâmetro) (figura 2, 3 e 4).
Concomitantemente, foi também administrado tratamento médico
(antiácidos, comida húmida e maropitant).
Evolução clínica: Apesar da resolução da regurgitação entre
dilatações, o aspeto macroscópico da lesão mantinha-se semelhante
justificando a realização de uma tomografia computorizada. Esta
confirmou a presença de múltiplos nódulos pulmonares e uma massa
esofágica intratorácica (45 x 12 x 9mm), não sendo claro se teria origem
intramural (figura 5). Apesar do prognóstico reservado, 3 semanas
depois, a gata apresentava-se estável com tratamento médico paliativo.
Seja numa perspetiva curativa ou paliativa, a dilatação endoscópica por balão é uma técnica útil na resolução (mesmo que transitória) dos sinais de regurgitação associados a
estenose esofágica em gatos.
REFERÊNCIA(S) E AGRADECIMENTO(S)
Ettinger, S.J., Cote, E. & Feldman, E.C. (2017). Textbook Of Veterinary Internal Medicine. (8ª edição). Philadelphia: W.B. Saunders Co.
Os autores agradecem ao serviço de imagiologia do Hospital Escolar Veterinário-FMV-ULisboa pela partilha das imagens da tomografia computorizada.
Figura 1: Fotografias de endoscopia mostrando a evolução da estenose esofágica entre duas esofagoscopias respeitantes ao caso clínico 1.
Figura 4: Fotografia de endoscopia mostrando a técnica de dilatação
endoscópica por balão de estenose esofágica.
Figura 5: Fotografias da tomografia computorizada evidenciando a massa esofágica, respeitantes ao caso clínico 2.
Figura 2: Fotografias de endoscopia mostrando a estenose esofágica antes e depois da primeira dilatação por balão respeitantes ao caso clínico 2.
CONCLUSÃO
Figura 3: Fotografia de endoscopia mostrando a estenose
esofágica prévia à segunda dilatação por balão respeitante
ao caso clínico 2.