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PROPEDÊUTICA PSICANALÍTICA INTRODUÇÃO Enquanto no estrangeiro, principalmente nos paises de língua alemã e inglesa, toda uma vasta literatura existe sobre a questão freudeana, em Portugal, aparte um ou outro artigo num jornal, aparte uma ou outra cita- ção que mais confunde os espíritos do que os ilumina, absolutamente nada se encontra publicado com o fim de iniciar o público ledor no conhecimento dos princípios funda- mentais em que se baseia a psicanálise, ou na compreensão clara, nítida e sumária dos seus problemas. Apesar do muito francês que se lê por cá, e embora a literatura francesa psicanalí- tica não seja muito abundante (pouco vai além da tradução das obras de Freud), a nossa gente nova e curiosa de saber, os nossos estudantes, os nossos médicos, os nossos advogados, quási conhecem a psi- canálise por ouvir dizer; e alguns outros, faltos de informações completas.. . e ele- mentares (digamos assim), fazem das teorias de Freud uma ideia errónea ou nebulosa, e falando da psicanálise sem conhecimento de causa, deturpam-na e obscurecem-na. Certos dos nossos literatos e todos os literatelhos, seduzidos pela novidade e pelo snobismo, influenciados pela profundidade psicológica da doutrina, alguns até electrizados por Gio- vanni Papini (vide Gog), insistem em consi- derá-la um tema literário evadido do campo médico. Lamentável, esta miopia que muito tem contribuído para o falso juízo que corre sobre o freudismo. A nossa «Propedêutica Psicanalítica» não é mais que um exposto elementar, uma ini- ciação que julgamos necessária. Com ela, queremos unicamente levar ao público o conhecimento simplificado das questões fun- damentais nas teorias de Freud, divulgar, dentro de certas medidas, a doutrina da psi- canálise, facilitando a compreensão dos pro- blemas freudeanos. Apresentaremos a teoria tal como o seu autor no-la apresenta, sem crítica nem comen- tário. Quere isto dizer que nos serviremos unicamente dos livros de Freud, das suas observações, dos seus argumentos, das suas ideias... E certo que a psicanálise tem sofrido modificações várias, correcções e

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Page 1: PROPEDÊUTICA PSICANALÍTICA - dspace.uevora.ptntese AI... · PROPEDÊUTICA PSICANALÍTICA INTRODUÇÃO Enquanto no estrangeiro, principalmente nos paises de língua alemã e inglesa,

PROPEDÊUTICA PSICANALÍTICA

I N T R O D U Ç Ã O

Enquanto no estrangeiro, principalmente nos paises de língua alemã e inglesa, toda uma vasta literatura existe sobre a questão freudeana, em Portugal, aparte um ou outro artigo num jornal, aparte uma ou outra cita­ção que mais confunde os espíritos do que os ilumina, absolutamente nada se encontra publicado com o fim de iniciar o público ledor no conhecimento dos princípios funda­mentais em que se baseia a psicanálise, ou na compreensão clara, nítida e sumária dos seus problemas.

Apesar do muito francês que se lê por cá, e embora a literatura francesa psicanalí­tica não seja muito abundante (pouco vai além da tradução das obras de Freud), a nossa gente nova e curiosa de saber, os nossos estudantes, os nossos médicos, os nossos advogados, quási só conhecem a psi­canálise por ouvir dizer; e alguns outros, faltos de informações c o m p l e t a s . . . e ele­mentares (digamos assim), fazem das teorias de Freud uma ideia errónea ou nebulosa, e falando da psicanálise sem conhecimento de causa, deturpam-na e obscurecem-na. Certos

dos nossos literatos e todos os literatelhos, seduzidos pela novidade e pelo snobismo, influenciados pela profundidade psicológica da doutrina, alguns até electrizados por Gio­vanni Papini (vide Gog), insistem em consi­derá-la um tema literário evadido do campo médico. Lamentável, esta miopia que muito tem contribuído para o falso juízo que corre sobre o freudismo.

A nossa «Propedêutica Psicanalítica» não é mais que um exposto elementar, uma ini­ciação que julgamos necessária. Com ela, queremos unicamente levar ao público o conhecimento simplificado das questões fun­damentais nas teorias de Freud, divulgar, dentro de certas medidas, a doutrina da psi­canálise, facilitando a compreensão dos pro­blemas freudeanos.

Apresentaremos a teoria tal como o seu autor no-la apresenta, sem crítica nem comen­tário. Quere isto dizer que nos serviremos unicamente dos livros de Freud, das suas observações, dos seus argumentos, das suas i d e i a s . . . E certo que a psicanálise tem sofrido modificações várias, correcções e