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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7 Cadernos PDE II

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7Cadernos PDE

II

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED Superintendência da Educação - SUED

Diretoria de Políticas e Programas Educacionais - DPPE

Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE

PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título: Exclusão social e cidadania na Primeira República (1889-1930)

Autor: Milton Assis Leão

Disciplina/Área: História

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual Primo Manfrinato - Ensino Fundamental e Médio.

Município da escola: Cianorte

Núcleo Regional de Educação: Cianorte

Professor Orientador: Ricardo Tadeu Caires Silva

Instituição de Ensino Superior:

Unespar – Campus Paranavaí

Relação Interdisciplinar: Literatura

Resumo:

Esta unidade didática tem como objetivo analisar a exclusão social e a cidadania no contexto da Primeira República no Brasil (1889-1930). A mudança de regime político do país, deixando para trás séculos vividos sob a égide da monarquia, trouxe a esperança de transformações sociais capazes de estender a cidadania plena ao conjunto da população brasileira, sobretudos aos membros das classes populares, entre os quais figuravam os ex-escravos. Entretanto, as reformas empreendidas pelos governantes da República se revestiram de características autoritárias, que visavam o controle e a subordinação da população aos ditames do progresso e da civilização. Esta, por sua vez, reagiu a estas imposições, através de protestos e revoltas, as quais ocorreram tanto no campo como nas cidades, a exemplo de Canudos e Contestado e das revoltas da Vacina e da Chibata. As lutas populares do período demonstram que as classes oprimidas possuíam consciência de classe para reivindicar a construção de uma nação em que seus anseios e valores fossem levados em conta.

Palavras-chave: Exclusão social; cidadania; Primeira República; movimento social.

Formato do Material Didático: Unidade Didática

Público: Alunos do 9º Ano do Ensino Fundamental

1. APRESENTAÇÃO

A presente produção didática faz parte dos trabalhos estabelecidos pelo

Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE 2014, da Secretaria de

Estado da Educação do Paraná (SEED). A proposta é desenvolver uma Unidade

Didática abordando a Exclusão social e a cidadania na Primeira República (1889-

1930); a qual será trabalhada com alunos no 9º Ano do Ensino Fundamental do

Colégio Estadual Primo Manfrinato, em Cianorte – PR.

Ao eleger a presente temática buscamos atender o disposto nas Diretrizes

Curriculares da Educação básica de História para o ensino Fundamental, ao

defender a articulação dos conteúdos básicos e específicos a partir das histórias

locais e do Brasil e suas relações ou analogias com a História Geral. (Diretrizes

Curriculares de História do Paraná, 2008:p.74). Tomamos como ponto de partida

o Livro Didático Público de História [vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006],

especialmente a unidade Temática IV: Movimentos sociais, políticos e culturais:

relações de dominação e resistência, onde são abordados, em 05 subunidades,

as “Relações Culturais”, desde o mundo antigo até a contemporaneidade.

Do Exame preliminar deste material, constatamos que este tema é

superficialmente abordado nas produções didáticas. Por isso buscaremos

abordar a temática escolhida a partir da análise de diferentes fontes

documentais: imagens, filmes, documentos escritos e impressos, livros, revistas,

artigos, sites, entre outros; nas quais as experiências das classes populares

sejam evidenciadas de forma a destacar os homens e mulheres do povo como

sujeitos ativos do processo histórico. Neste sentido, a intenção do trabalho com

documentos em sala de aula é desenvolver a autonomia intelectual que permite

ao aluno realizar análises críticas da sociedade por meio de uma consciência

histórica (BITTENCOURT, 2004).

Assim, essa produção pretende que o aluno, além de ter acesso ao

conhecimento do conteúdo afeto à Primeira República, possa refletir sobre as

condições excludentes da sociedade brasileira, principalmente a herança da

colonização do país e a política econômica empregada no período. Podemos

afirmar assim, que se trata de uma continuidade, uma herança direta e

indiretamente ligada a um modelo que ainda está longe desaparecer no exercício

dos poderes políticos brasileiros.

O povo brasileiro, nos dias de hoje, ainda luta pelos seus direitos de

cidadão e ainda acredita que as transformações esperadas pelo novo regime

possam inaugurar uma nova realidade em suas vidas.

2 - UNIDADE DIDÁTICA

2.1. Da monarquia à república

A partir de agora faremos uma viagem por uma época muito rica da nossa

história: a Primeira República, também conhecida como República Velha. Este

período é compreendido entre os anos 1889-1930; ou seja as quatro primeiras

décadas do regime republicano no Brasil, e inaugura um novo momento na

história política brasileira. Isto porque desde o início da nossa colonização, em

1530, até o ano de 1889, sempre fomos governados por reis e rainhas, ou seja,

vivemos sob o regime monárquico. Por isso, antes de adentrarmos ao estudo

dos primórdios da república no Brasil, vamos relembrar algumas características

do regime anterior: a monarquia.

Comecemos pela análise da imagem a seguir:

DEBRET, J. B. Retrato de D. João VI, 1817. Fonte: Acervo do Museu Nacional de Belas Artes/ IPHAN/MINC, Rio de Janeiro.

Jean-Baptiste Debret (1768-1848) iniciou sua vida profissional em Paris, sob a influência de

Jacques-Louis David. Integrante da Missão Artística Francesa chefiada por Le Breton, Debret

residiu no Brasil entre 1816 e 1831 e nesse período dedicou-se ao ensino das artes e à

pintura.

A partir da leitura da imagem, é possível reconhecer alguma característica

da monarquia? Qual?

Se você mencionou a coroa, o cetro e a existência de uma pessoa que

parece ser um rei ou príncipe, está certo, pois a pintura do artista francês Jean

Baptiste Debret retrata D. João VI, príncipe regente de Portugal e nosso primeiro

monarca.

Outras características do regime monárquico são: governo de um único

soberano, que pode ser um príncipe, rei ou rainha; a transferência de poder de

forma hereditária, ou seja, não há eleições para escolher quem governa pois a

sucessão é dada pela linhagem familiar. Além disso, as monarquias podem ser

do tipo absolutista, quando o rei governa com autoridade máxima e soberana;

ou constitucional, quando divide o poder com o parlamento, ou seja, com os

deputados e senadores.

Como foi dito anteriormente, o Brasil possuía uma longa tradição monárquica, como podemos observar no organograma abaixo:

Ilustração 1 Evolução política do Brasil

1500-1808

Reis portugueses

1808-1821

D. João VI1822-1831

D. Pedro I

1840-1889

D. Pedro II

Vamos pesquisar....

Será que nos dias de hoje ainda temos países que são governados por reis e rainhas,

ou seja, seguem o regime monárquico? Faça uma pesquisa e apresente os resultados,

dando destaque para o modo como funciona a organização política e as eleições nesses

países.

Mas o que fez com que a monarquia, depois de tanto tempo, perdesse

força e desse lugar para a república?

As causas são muitas, dentre as quais podemos destacar a ascensão

política dos militares, ocorrida após a Guerra contra o Paraguai (1864-1869); a

questão religiosa; e a abolição da escravidão. O caricaturista Ângelo Agostini

(1843-1910) retratou com maestria as contradições da escravidão na sociedade

brasileira. Analisemos mais esta imagem:

Ângelo Agostini. De volta do Paraguai. In: Vida Fluminense, nº 12, junho, 1870.

O que lhe chama mais atenção na imagem? Como você acha que a

sociedade brasileira recebeu a mensagem de Agostini naquele período? E os

militares, cujo apoio dos ex-escravos foi muito importante no conflito com o

Paraguai, o que pensavam disso?

Assim, a permanência da escravidão e a emergência de novas forças

políticas como os militares, passaram a engrossar as fileiras dos descontentes

com a monarquia. Tais setores, insatisfeitos com a situação econômica e política

do país, passaram a se organizar para instituir uma nova forma de governo: a

república.

Outro ponto importante a destacar é que existiam vários interesses e

expectativas em torno do novo Regime. Ou seja, os republicanos não formavam

grupo homogêneo. Pelo contrário, o que os unia era a certeza de que a

monarquia estava com os dias contados. No mais, haviam várias tendências de

como o regime deveria ser instaurado e, sobretudo, que reformas ou mudanças

sociais deveria promover.

Quadro A Pátria (1905), do artista Pedro Bruno (1888-1949)

Fonte: Museu-Histórico-RJ

Dessa forma, a instauração de um novo regime político acenava para a

instauração de reformas sociais capazes de alterar os aspectos negativos do

regime monárquico. Com essas promessas, a derrubada do antigo regime foi

ficando cada vez mais próxima.

O golpe republicano, de feição militar, ocorreu a 15 de novembro de 1889

e foi feito sem resistências ou grandes conflitos e, sobretudo, sem a participação

da maior parte do povo brasileiro. Este, entretanto, depositou esperanças de que

o novo regime promovesse medidas que de fato melhorassem a sua vida.

Vejamos se isso, de fato, ocorreu.

A palavra república vem do

latim res publica, ou seja,

coisa pública. Isto quer

dizer que todo a fonte que

legitima o governo deve vir

do povo. Tal forma de

governo pressupõe maior

participação popular na

vida política.

O texto a seguir é um depoimento ocular de alguém que vivenciou a proclamação

da República.

A partir da leitura do texto, responda as seguintes questões:

1) A quem o autor atribui a proclamação da República?

2) Como o povo reagiu ao evento da proclamação?

Dessa forma, ainda que a proclamação da República não tenha sido feita

a partir da ampla participação social, seu advento gerou enormes expectativas

de mudança.

Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1889 Eu queria dar a esta data a denominação seguinte: - 15 de novembro do primeiro

ano da República; mas não posso infelizmente fazê-lo. O que se fez é um

degrau, talvez nem tanto, para ao advento da grande era.

Em todo o caso, o que está feito pode ser muito, se os homens que vão tomar

a responsabilidade do poder tiverem juízo, patriotismo e amor sincero à

liberdade.

Como trabalho de saneamento a obra é edificante.

Por ora, a cor do governo é puramente militar, e deverá ser assim.

O fato foi deles, deles só, porque a colaboração do elemento civil foi quase nula.

O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que

significava. Muitos acreditavam sinceramente estar vendo uma parada.

Era um fenômeno digno de ver-se. O entusiasmo veio depois, veio mesmo

lentamente, quebrando o enleio dos espíritos.

LOBO, Aristides. Diário Popular. São Paulo, 18 de novembro de 1889.

2.2. O que mudou com a República?

Proclamada a República, a primeira tarefa do governo provisório foi a de

unificar a nação em torno dos ideais republicanos e da unidade nacional. Uma das

primeiras mudanças efetuadas pelo novo regime foi a de um dos principais símbolos

nacionais: a nossa bandeira. Observa as figuras abaixo:

Figura A- Bandeira do Império. Pintura de Debret. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeira_do_Brasil.

Figura B- Bandeira Nacional. Fonte: http://www2.planalto.gov.br/banco-de-

imagens/presidencia/simbolos-nacionais/bandeira/bandeira-nacional.jpg/view

A primeira retrata a bandeira do Império do Brasil. Já a segunda, é a bandeira

republicana, que utilizamos até hoje. Faça um quadro comparativo das diferenças e

semelhanças entre ambas. Também pesquise a origem da frase “ordem e progresso”

que estampa a bandeira nacional.

Visando apagar a imagem da antiga realeza e de tudo que pudesse lembra os

tempos de monarquia, os republicanos também criaram os seus heróis. Neste caso,

coube aos ideólogos do novo regime buscar no passado brasileiro personagens que

corporificassem a nova força política do momento, ou seja, os militares. Um desses

heróis foi Tiradentes, militar que lutou durante a inconfidência mineira (1789). Vejamos

como José Joaquim da Silva Xavier (1746- 1792) foi retratado. Observe o quadro:

Tiradentes Esquartejado. Tela de Pedro Américo (1983). Acervo do Museu Mariano Procópio. Fonte:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Tiradentes

O que lhe chama mais atenção na tela? Você consegue associar a imagem

de Tiradentes, de barba crescida e usando uma bata cumprida, com outra imagem ou

representação conhecida? A intenção de muitos artistas republicanos ao

representarem Tiradentes dessa maneira era demonstrar que o mesmo se sacrificou

pela Pátria assim com Cristo se sacrificou pela humanidade. Com isso, almejam atrair

a simpatia da população para o grupo dos militares – vistos como os principais

defensores da pátria.

Houve mudanças também no plano político. Criou-se uma nova Constituição

(1891). Por meio desta, adotou-se o federalismo, criando-se os estados em

substituição às antigas províncias. Estes, por sua vez, passaram a gozar de maior

autonomia política e financeira. A Constituição instituiu também o direito à liberdade

religiosa, o casamento civil e o direito de voto para os indivíduos alfabetizados maiores

de 21 anos. Assim, após o governo provisório, foram realizadas as primeiras eleições

para o cargo de Presidente da República. Aliás, devido ao clima de instabilidade

política nas primeiras, muitos presidentes ocuparam o poder, como se pode ver no

quadro abaixo:

Presidente Período

Deodoro da Fonseca 1889-1891

Floriano Peixoto 1891-1894

Prudente de Morais 1984-1898

Campos Sales 1898-1902

Rodrigues Alves 1902-1906

Afonso Pena 1906-1909

Nilo Peçanha 1909-1910

Hermes da Fonseca 1910-1914

Venceslau Braz 1914-1918

Delfim Moreira 1918-1919

Epitácio Pessoa 1919-1922

Artur Bernardes 1922-1926

Washington Luís 1926-1930

2.3 A República e o povo

Como foi dito anteriormente, a proclamação da República gerou expectativas

em torno do novo regime, pois o povo esperava que fossem incluídos os grupos até

então marginalizados na sociedade brasileira. Contudo, essas mudanças não

vieram. Os líderes republicanos não criaram um projeto político que incluíssem as

Atividade:

Após dividir a turma em duplas ou trios, peça aos alunos para pesquisarem na biblioteca

e também na internet as trajetórias de cada um dos presidentes da Primeira República.

Em seguida, organize a exposição dos resultados para que os alunos possam socializar

aos demais colegas o que encontram em suas pesquisas!

classes menos favorecidas do país, o que gerou um grande descontentamento

social, principalmente nos grupos que desejavam mudanças estruturais. Por

exemplo, embora a nova Constituição decretasse a “igualdade de todos perante a

lei”, somente podiam votar os indivíduos alfabetizados, ou seja, a minoria da

população. Também ficavam de fora do sufrágio eleitoral as mulheres, os soldados

e os membros das ordens religiosas.

O que ocorreu foi uma repressão nas tentativas de mudanças da ordem.

Com o novo regime político, a grande parte dos recursos significativos foram

investidos para incentivar a vinda de trabalhadores imigrantes europeus,

mantendo os ex-escravos marginalizados socialmente.

Atividade:

O povo, contudo, não ficou apático a esta situação e vários protestos e revoltas

marcaram a República Velha. Nas cidades, os grupos excluídos da modernização

reagiram por meio de revoltas, como a da Vacina em 1904, no Rio de Janeiro,

ou de agitações e greves operárias. No campo, a reação se manifestou por meio

do banditismo social (o cangaço por exemplo) ou movimentos messiânicos como

a guerra do Contestado e Canudos. É o que veremos a seguir.

Segundo o historiador José Murilo de Carvalho,

“A República ou os vitoriosos da República, fizeram muito pouco em termos de expansão de direitos civis e políticos. O que foi feito já era demanda do liberalismo imperial. Pode-se dizer que houve até retrocesso no que se refere a direitos sociais. Algumas mudanças, como a eliminação do Poder Moderador, do Senado vitalício e do Conselho de Estado e a introdução do federalismo, tinham sem dúvida inspiração democratizante na medida em que buscavam desconcentrar o exercício do poder. Mas, não vindo acompanhadas por expansão significativa da cidadania política, resultaram em entregar o governo mais diretamente nas mãos dos setores dominantes, tanto rurais quanto urbanos”. In: Carvalho, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo:

Companhia das Letras, 1987, p.45.

Pesquise o significado da palavra cidadania e elabore uma redação sobre

o que significa ser cidadão nos dias de hoje.

3. AS REVOLTAS POPULARES NA REPÚBLICA VELHA

Como vimos anteriormente, a proclamação da República foi feita pelos

setores mais abastados da sociedade, em especial os grandes proprietários de

terras, a classe média urbana e os militares. Ou seja, a maior parte das camadas

populares ficaram à margem do movimento. Entretanto, para aqueles que

acompanharam o movimento e se engajaram nas manifestações pró-república

aguardavam ansiosos as medidas do novo regime. A implantação do regime

republicano não foi fácil. Isto porque nem todas as classes sociais apoiavam o

novo sistema de governo e dentre os apoiadores havia divergência acerca do

que deveria ser feito. Com isso, as desavenças foram inevitáveis. A linha do

tempo a seguir mostra alguns dos principais conflitos que se seguiram após a

instituição dos primeiros governos republicanos:

Mas algumas das mudanças advindas com o novo regime provocaram

enorme descontentamento popular, que se desdobraram em revoltas e até em

guerras.

A seguir, estudaremos as causas e as consequências dessas guerras e

revoltas.

1888

Abolição da escravidão

1889

Proclamação da República

1896

Guerra de

Canudos

1904

Revolta da

Vacina

1910

Revolta da Chibata

1912

Guerra do Contestado

3.1 As revoltas no Campo

Comecemos pelas revoltas surgidas nas áreas rurais, ou seja, no campo.

Na primeira fase do período republicano, o Brasil apresentava grandes

contrastes entre pobres e ricos. No campo a população rural era

predominantemente analfabeta e não tinha direitos sociais e trabalhistas. Era um

período caracterizado por duas tendências distintas, que expressavam situações

de mudanças e permanências: no plano econômico, ocorriam o desenvolvimento

das indústrias e a crescente urbanização; no plano político e institucional, a

oligarquia agrária tentava garantir o controle do poder, manipulando as eleições,

o congresso e a política nacional. Entretanto, o choque entre essas duas

tendências gerou uma tensão crescente. E no meio rural a questão social

também era grave, pois os conflitos por terras misturavam-se com as disputas

políticas regionais. Os movimentos messiânicos, como a Guerra do Contestado

e a Guerra de Canudos transformaram o campo em área de constantes

enfrentamentos por parte da população carente, que reivindicavam melhores

condições de vida.

No início da República havia uma grande dificuldade de comunicação

entre o sertão e as regiões urbanizadas. O povo sertanejo vivia em condições

precárias, isolado e com poucas opções de trabalho. Grande parte morava e

trabalhava nas terras dos coronéis. Entre os sertanejos pobres a crença no

messianismo se tornou bastante presente.

Assim, o messianismo era um movimento baseado na esperança de

encontrar um líder capaz de livrar os sertanejos de seus sofrimentos e acabar

com as condições vigentes, instaurando, assim, a justiça e a felicidade na

comunidade. Pessoas com grande carisma, que ajudavam os necessitados e

Messianismo – Movimento

baseado na crença da vinda de

um líder espiritual – o Messias

da tradição judaica. Este, por

sua vez, guiará o povo para o

caminho da felicidade e da

salvação final.

pregavam valores cristãos, passaram a ser idolatradas pelo povo como

salvadores, como aconteceu em Canudos e também na região do Contestado.

3.1.1. A Guerra de Canudos (1893-1897)

Um desses pregadores foi Antônio Vicente Mendes Maciel, mais

conhecido como Antônio Conselheiro. Percorrendo o sertão do Nordeste

brasileiro desde o final da década de 1860, Conselheiro reuniu um grande

número de admiradores. Em 1893, ele e seus seguidores procuraram organizar

uma sociedade comunitária, na qual as leis seriam baseadas nas palavras da

Bíblia e todas as pessoas trabalhariam cooperando entre si. Para isso,

estabeleceram-se às margens do rio Vaza-Barris, em uma região chamada de

Canudos, no Norte da Bahia. Lá fundaram um arraial, que chamaram de Belo

Monte.

Pintura do Arraial de Canudos, em 1897. Ilustração publicada no jornal O Estado de São Paulo. Fonte: Domínio Público. Acessado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Canudos.

Os habitantes desse arraial praticavam uma economia de subsistência.

Ali, plantavam feijão, milho, cana-de-açúcar e mandioca; também criavam aves

e cabritos e vendiam o excedente nas cidades próximas, para comprar armas e

madeira. Antônio Conselheiro exercia a função de administrador geral da

comunidade. Apenas três anos após sua fundação, o arraial já contava com

cerca de 10 mil habitantes e continuava a receber milhares de pessoas.

A quantidade de famílias que estava se mudando para Canudos começou

a incomodar os poderosos da região, haja vista que isto representava uma perda

de mão de obra. Os habitantes do arraial não trabalhavam para os latifundiários,

mas para si próprios; negociavam diretamente com comerciantes, sem pagar

impostos; aprendiam a doutrina cristã da forma que o Conselheiro ensinava e

não como pretendia a igreja; e criticavam o governo, principalmente por causa

da cobrança de altos impostos.

Para Antônio Conselheiro, a República não passava de um regime

herético e infame, que desprezava a religião, conforme retrata a charge abaixo:

Fonte: Revista Illustrada, de Angelo Agostini, em 1986. Acessado em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Conselheiro_Revista_Ilustrada.jpg

Alguns jornais do país, apoiados em relatórios da igreja e em boatos,

chamavam os habitantes de Canudos de “fanáticos” e “monarquistas”. Nessa

época, a República estava sendo consolidada e a ideia de um reduto

monarquista no sertão preocupava as autoridades republicanas. Diante dessa

situação, o governador da Bahia se dirigiu ao Exército solicitando a aniquilação

do arraial de Canudos. A partir de então, foram organizadas três expedições a

Canudos com o intuito de aniquilar o arraial. Contudo, estas que foram

derrotadas pela forte resistência dos sertanejos.

Em 1897, foi enviada uma quarta expedição, com milhares de soldados

de todo o país e as melhores armas que o Exército possuía. Essa expedição

dizimou o arraial de Canudos, massacrando sua população.

A imagem ao lado, mostra moradores de Canudos em frente a uma igreja

danificada durante os ataques do Exército ao arraial.

Igreja destruída – Fonte: Flávio de Barros 1897 - Museu da República, Rio de Janeiro.

Atividade 01:

Peça aos alunos para realizarem a leitura do trecho abaixo selecionado,

retirado do livro Os sertões, de Euclides da Cunha:

"O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. (...). É o homem permanentemente fatigado." Fonte: CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo: Ed. Ática, 2009.

A partir da leitura do trecho acima, responda as seguintes questões:

1) Como o autor retrata o homem do sertão?

2) Esta imagem condiz com os atributos físicos que o autor narra no texto?

Atividade 02:

Sessão de Cinema:

Reúna a turma para uma sessão de cinema. O filme a ser assistido e debatido será

a Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende.

Foto (divulgação)

Sinopse: Em 1893, Antônio Conselheiro e seus seguidores começam a tornar um

simples movimento em algo grande demais para a República, que acabara de ser

proclamada e decidira por enviar vários destacamentos militares para destruí-los. Os

seguidores de Antônio Conselheiro apenas defendiam seus lares, mas a nova ordem

não podia aceitar que humildes moradores do sertão da Bahia desafiassem a

República. Assim, em 1897, esforços são reunidos para destruir os sertanejos. Estes

fatos são vistos pela ótica de uma família com opiniões conflitantes sobre

Conselheiro.

Atividade 03:

Elabore um roteiro de questões para que os alunos, reunidos em grupos, descrevam

e debatam suas percepções do filme e dos fatos históricos. Exemplo:

a) Quem foi Antônio Conselheiro, herói da trama? Pesquisa sobre a sua trajetória

na internet.

b) Como o filme aborda a vida dos sertanejos do arraial de Canudos? Em que

condições de moradia e de trabalho estes aparecem?

c) Os alunos também podem ser orientados a ler o livro Os sertões, de Euclides da

Cunha, e estabelecer relações com o filme. Podem discutir como o mesmo foi

adaptado em roteiro cinematográfico, visualizando diferenças, semelhanças, etc.

Nesse sentido, o professor deve trabalhar com a turma as peculiaridades de

cada linguagem.

3.1.2 – A Guerra do Contestado (1912-1916)

Outro importante movimento social do início do século XX foi o Contestado,

ocorrido no território de fronteira que era disputado o Paraná e Santa Catarina, entre

1912 a 1916. Os habitantes dessa região sertaneja, que ficou conhecida como

Contestado por conta do litígio deste território entre os dois estados, viviam do cultivo

de erva-mate, da criação de animais e do corte de madeiras; além de pequenos

cultivos de subsistência, como o milho. Devida à rica floresta e a potencialidade

econômica de exploração da erva mate, a área passou a despertar o interesse de

grandes companhias, as quais passaram a expulsar os posseiros.

Para mais informações acerca de como trabalhar o cinema em sala de aula ver o

livro NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo:

Contexto, 2005.

A Guerra do Contestado. Fonte: Domínio Público: Acessado de http://www.estudopratico.com.br/wp-content/uploads/2013/02/guerra-do-contestado-causas-consequencias-e-imagens-3.jpg

O clima de tensão na região foi agravado ainda mais após a construção da

estrada de ferro São Paulo – Rio Grande do Sul. Isto porque, após o término da obra,

a maior parte dos cerca de 8.000 trabalhadores resolveu permanecer na região;

situação que desagradava os coronéis e as grandes companhias madeireiras.

Nesse contexto de tensão, entrou em cena a figura de Miguel Lucena

Boaventura, um ex-soldado do exército, cujo apelido era José Maria. Possuidor de

grande carisma, o “monge” e curandeiro José Maria organizou uma sociedade

comunitária na cidade de Irani, conhecida como Vila Santa. Sua intenção, era resistir

às tentativas de expulsão da população cabocla, desalojada de suas terras por conta

da construção da estrada de ferro. Ele também era contra a República, pois a

considerava “a lei do diabo, causadora de todos os males e sofrimentos pelos quais o

povo estava passando”.

O movimento de resistência organizado pelo beato contou com a participação de

milhares de pessoas. Os conflitos armados iniciaram-se em 1912 e perduraram por

vários anos, abrangendo uma região de aproximadamente 20 mil quilômetros

quadrados. Nem mesmo a morte do monge José Maria, em 22 de novembro de 1912,

extinguiu o movimento. Acreditando em sua ressurreição, os “pelados”, como também

ficaram conhecidos seus seguidores, continuaram opor resistências às tropas do

exército e aos jagunços contratados pelas empresas madeireiras. Contudo, em 1916

os rebeldes foram definitivamente derrotados.

Atividade 01:

A foto a seguir apresenta alguns dos combatentes do Contestado. Observando

a imagem, o que podemos deduzir acerca das origens, condições de vida e

armamento dos participantes do conflito?

Fonte: Claro Gustavo Jansson (1877-1954) -Reprodução

A guerra do Contestado deixou um saldo de aproximadamente 10 mil mortos. Os

caboclos foram definitivamente expulsos para dar lugar à concessão de terras

públicas às grandes empresas. Mais tarde, o incentivo à ocupação das terras por

imigrantes europeus consolidou o processo que despojou milhares de indivíduos.

Ainda hoje, os descendentes dos sertanejos que lutaram no Contestado vivem em

Sugestão: Analise com a turma outras imagens da Guerra do Contestado, fazendo com que

os alunos exercitem a leitura desta importante fonte histórica.

situação precária, espremidos em pequenos lotes ou na periferia das grandes

metrópoles.

Atividade 02:

Sessão de Cinema:

Selecione previamente alguns trechos do filme a Guerra dos Pelados (1970), de

Sylvio Back, e peça para que a turma analise e exponha as visões dos dois lados

envolvidos no conflito.

Foto: divulgação

Título Original: A Guerra dos Pelados Duração: 98 min. Ano: 1970 Diretor: Sylvio Back País: Brasil Idiomas disponíveis e legendas: Português Gênero: Drama Histórico/ Épico Temática: Guerra do Contestado/ Revolta Durante a República Velha

3.2. As revoltas nas cidades

Assim como no campo, nas cidades também haviam muita gente

insatisfeita com o início do governo republicano. Não só nas áreas rurais

houveram movimentos de contestação ao novo regime. Nas cidades também

eclodiram eventos históricos de desagravo. Nos grandes centros urbanos a

Primeira República foi marcada pela organização do movimento sindical, o qual

passou a exigir a implementação de políticas públicas de saúde, habitação,

educação, transporte, melhores salários e a redução da jornada de trabalho.

3.2.1. A Revolta da Vacina (1904)

A Revolta da Vacina foi um movimento popular que ocorreu em 1904, na

cidade do Rio de Janeiro. Assim como outros movimentos sociais do mesmo

período, esta revolta pode ser interpretada como mais uma demonstração da

insatisfação popular contra o novo governo. Ainda que com características

próprias, a Revolta da Vacina tem em comum com os demais movimentos

ocorridos no período a exclusão social, a fome, as péssimas condições de

moradia e trabalho em que vivia a população pobre do país.

Cidade do Rio de Janeiro em 1889, por Marc Ferrez (1843-1923) In: LAGO, Pedro Correa do. Coleção Princesa Isabel: Fotografia do século XIX. Capivara, 2008. Acessado em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rio_de_janeiro_1889_01.jpg

Esta situação vivida pelas classes populares contrastava com o discurso

republicano do progresso, ou seja, da modernização e civilização do país. Visando

colocar o Brasil no mesmo patamar das nações consideradas civilizadas – leia-se

países europeus -, as autoridades governamentais passaram a promover uma série

de reformas urbanas, as quais atingiam as vias públicas e muitos espaços

particulares. Trata-se, de um lado, de alargar as vias públicas, saneá-las, iluminá-

las, etc; e de outro, instruir a população a adotar novas hábitos de higiene e saúde.

O problema é que muitas destas ações foram feitas à revelia das camadas populares,

as quais sequer foram consultadas se concordavam ou não com as novas medidas

– como a da vacinação em massa.

O motivo imediato da revolta da Vacina foi a política sanitária levada a cabo

pelo governo do Rio de Janeiro para vacina compulsoriamente a população contra a

varíola. Para tanto, autorizou a invasão das casas dos trabalhadores para que os

agentes sanitários realizassem a vacinação das pessoas, usando, se necessário, o

recurso da força, como podemos perceber da leitura abaixo:

A reação da população àquilo que consideravam uma invasão de privacidade

não tardou a acontecer. Durante vários dias, e armados de pedras, paus e outros

objetos, os revoltosos promoveram várias desordens na cidade do Rio de Janeiro,

como podemos analisar na charge do caricaturista Leônidas, publicada na revista O

Malho, em 1904.

O regulamento [da vacina] era extremamente rígido, abrangendo desde recém-

nascidos até idosos, impondo vacinações, exames e reexames, ameaçando

com multas pesadas e demissões sumárias, limitando os espaços para

recursos, defesas e omissões. O objetivo era uma campanha massiva, rápida,

sem quaisquer embaraços e fulminante: o mais amplo sucesso, no mais curto

prazo. Não havia qualquer preocupação com a preparação psicológica da

população, de quem só exigia a submissão incondicional. Essa insensibilidade

política e tecnocrática foi fatal para a lei da vacina obrigatória. Infelizmente, não

só para ela.

Sevecenko, Nicolau. A Revolta da Vacina: São Paulo: Scipione 2001, pág. 17).

Fonte: Revista O Malho, de 29 de outubro de 1904. (Reprodução)

Atividade:

Da leitura da imagem, o que mais lhe chamou a atenção?

Você concorda com a maneira escolhida pelo governo para que a população

tomasse a vacina?

Pesquise e identifique quem é o personagem de bigode que carrega um objeto

pontiagudo na mão, ao centro? Escreve um texto descrevendo sua atuação na

Revolta e na política sanitária do período.

Atividade:

Filme: “Sonhos Tropicais”. Um filme de André Sturm

“Sonhos Tropicais” retrata a vida no centro do Rio de Janeiro no início do século XX.

O filme tem como tema principal a História da Revolta da Vacina ocorrida em 1904.

No filme se apresenta dois protagonistas, Esther, uma jovem judia polonesa que veio

ao Brasil na esperança de se casar e constituir família, mas quando chega ao Brasil

é envolvida numa rede de prostituição. E o médico Oswaldo Cruz, sanitarista,

encarregado de combater as epidemias na cidade do Rio. A trama do filme apoia-se

em dois movimentos do período: o problema da migração envolvendo a prostituição

na cidade do Rio e a Revolta da Vacina. O filme contextualiza o período sócio-político

a partir de grupos envolvidos na revolta. Mostra o cenário carioca da época, assim

como as doenças que assolavam a população da cidade trazendo para o cenário

público, as decisões arbitrárias da obrigatoriedade da vacina.

Exiba trechos previamente selecionados e

editados do filme “Sonhos Tropicais” em uma sala

de vídeo para os alunos e realize um debate.

1. Quais as doenças abordadas no filme?

2. Quem foi Oswaldo Cruz? O que ele fez

de relevante para a população?

3. Como o governo agiu diante das

epidemias?

4. No que se refere à vacina, de que forma

elas eram disponibilizadas para a população?

5. Como a população reagiu diante das

medidas tomadas pelo prefeito Pereira Passos e

do sanitarista Oswaldo Cruz?

Filme Sonhos tropicais – Fonte: http://www.cineconhecimento.com/wp-content/uploads/. Foto (Divulgação)

3.2.2. A revolta da Chibata (1910)

Fonte: Arquivo Nacional (Reprodução)

Você conhece o homem que está retratado nesta foto? Seu nome é João

Cândido Felisberto (1880-1969), também conhecido como “almirante negro”.

Sua trajetória de vida é um exemplo pujante de como os negros participaram

ativamente das lutas sociais na República Velha. Filho de ex-escravos, foi ele

quem, no dia 22 de novembro de 1910, liderou, na Baia de Guanabara, um

levante a bordo dos principais navios da Marinha brasileira (os encouraçados

Minas Gerais e São Paulo).

Vejamos os principais fatos que envolvem este acontecimento no

programa De lá prá cá - A Revolta da Chibata, da TV Brasil, exibido em 28 de

março de 2010.

(Acesse o vídeo em: https://www.youtube.com/watch?v=krjD3w1fjoM).

Como pudemos perceber na reportagem, a Revolta da Chibata foi uma

reação aos maus-tratos e castigos físicos que eram impostos pelos oficiais aos

marinheiros, em sua maioria negros, quando punidos por praticarem atos de

indisciplina. O levante ocorre depois de o marinheiro negro Marcelino Rodrigues

sofrer 250 chibatadas. Além da abolição dos castigos físicos, o movimento

reivindicava melhores soldos e boa alimentação para os marinheiros.

Na foto abaixo, João Cândido lê o manifesto pelo qual os revoltosos

pedem o fim dos castigos.

Fonte: Fundação Biblioteca Nacional (reprodução)

Atividade 01:

Analise juntamente com a turma a letra da música O mestre sala dos mares,

composta por João Bosco e Aldir Blanc em homenagem à Revolta da Chibata.

Acesse o clip musical em: (https://www.youtube.com/watch?v=Qga3mBv_Fz0)

Música: O mestre sala dos mares Letra: Aldir Blanc/ João Bosco

Há muito tempo nas águas da Guanabara

O dragão do mar reapareceu

Na figura de um bravo feiticeiro

A quem a história não esqueceu

Conhecido como o navegante negro

Tinha a dignidade de um mestre-sala

E ao acenar pelo mar na alegria das regatas

Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas

Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas

Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas

Inundando o coração do pessoal do porão

Que, a exemplo do feiticeiro, gritava então

Glória aos piratas

Às mulatas, às sereias

Glória à farofa

à cachaça, às baleias

Glória a todas as lutas inglórias

Que através da nossa história não esquecemos jamais

Salve o navegante negro

Que tem por monumento as pedras pisadas do cais

Mas salve

Salve o navegante negro

Que tem por monumento as pedras pisadas do cais

Mas faz muito tempo…

Considerações Finais

Vimos no decorrer desta unidade didática que após século vivendo no

regime monárquico a sociedade brasileira optou por vivenciar a experiência

republicana. É certo que nem todos concordaram ou participaram da troca de

regime político, mas também é verdadeiro afirmar que a maior parte da

população pobre e os egressos da escravidão depositaram esperanças de dias

melhores.

Contudo, o descontentamento com a República que se instaurava foi

generalizado, abarcando tanto as áreas rurais com as áreas urbanas,

principalmente as grandes cidades. Prova disso foram as constantes

manifestações e revoltas ocorridas entre 1889 e 1930, a exemplo das guerras

de Canudos e Contestado e das revoltas da Vacina e da Chibata.

Estes eventos históricos demonstram que a população pobre e

marginalizada possuía consciência de classe e não assistiu “bestializada” às

reformas levadas a cabo pelo novo regime. Pelo contrário, ainda que derrotadas

em suas principais reivindicações, deram prova de que ansiavam pro uma maior

participação na vida política do país e que almejam a construção de uma

sociedade efetivamente mais democrática – algo que ainda está por ser feito nos

dias de hoje.

3 – REFERÊNCIAS AQUINO, Tânia Mittelman. A Revolta da Vacina: vacinando contra a varíola e contra o povo. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2003. BRAICK, Patrícia Ramos. MOTA, Myriam Becho. História Das Cavernas ao Terceiro Milênio. Do avanço Imperialista no século XIX aos dias atuais. Volume 3. 2ª ed. São Paulo, 2010. CAINELLI, Marlene. SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2009. CARVALHO, José Murilo de. A Formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados. O Rio de Janeiro e a República que não foi. 3ª. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. CASTRO, Celso. A proclamação da República. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. CHALHOUB, Sidney, Cidade Febril: cortiços e epidemias na corte imperial. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. COSTA, Emilia Viotti da. Da Monarquia à República. São Paulo: Editora da Unesp, 1997. CUNHA, Ana Carolina Vieira. A Cidade e a Revolta: Novas perspectivas sobre a República “Velha”. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História. ANPUH. São Paulo, julho 2011. Disponível em http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300707631_ARQUIVO_ANPUH_correcao.pdf. Acesso em 16 de mai 2014. GRANATO, Fernando. O negro da chibata: o marinheiro que colocou a República na mira dos canhões. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. MACEDO, José Rivair; MAESTRI, Mário. Belo Monte: uma história da guerra de Canudos. São Paulo: Expressão Popular, 2004. MACHADO, Paulo Pinheiro. Liderança do Contestado. Campinas: Editora Unicamp, 2004. MARTINS, Ana Luiza. O Despertar da República. São Paulo: Contexto, 2001. MEYHY, José Carlos Sebe e BERTOLI FILHO, C. Revolta da Vacina. São Paulo: Ática, 1995. MELLO, Maria Tereza Chaves de. A república consentida: cultura democrática e científica do final do Império. Rio de Janeiro: Editora FGV / Edur, 2007. MONTEIRO, Douglas Teixeira. Os Errantes do Novo Século: um estudo sobre o surto milenarista do Contestado. São Paulo: Duas Cidades, 1974. MORAES, José Geraldo V. de Moraes. Cidade e Cultura Urbana na Primeira República. 2. ed. São Paulo: Atual, 1994. MOTA, André; SANTOS, Marco Antonio Cabral. Por entre algemas e vacinas: medicina, polícia e resistência popular em São Paulo, 1890 – 1920. In: Novos estudos Cebrap, n. 65, 2003. NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. Cidadania, cor e disciplina na revolta dos marinheiros de 1910. Rio de Janeiro: Faperj/Mauad,2008. NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2005PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes

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