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ARTIGO E SPEC IAL S PEClAL ARTl CLE Lúpus Eritematoso Sistêmico: Tratamento do Acometimento Cutâneo/Articular *) Sato EI, Bonfá ED, Costallat LTL, Silva NA, Brenol ]CT, Santiago ME, Szajubok ]CM, Rachid- Filho A, Barros RT, Vasconcelos M DESCRI ÇÃO DO TODO DE COLETA DE EVIDÊ NCI AS Oito reumatologista s que trabalham em serviços que atendem gra nd e número de paci ent es com lúpus eritemato so sistêmico, alguns dos quais têm pesquisa e publicações científi cas nesta área, foram convidad os a participar do grupo de trabalho. Também foram convidados um nefrologista e uma derma to- logista que atuam em grandes centros universitários, com gra nde expe ri ência no atendimento des t es pacient es . Todos se reuniram para discutir o tr atame nto da s dif erent es manif es tações da doença, subdivididos em quatro grupos de trabalho, cada qual fi ca ndo res ponsável por bu sca r a melhor evidência para o tratamento de um ou mais compro metimento s da doença. A última edição de Dubois's lupus eryth ematosus, editado por Wallace D e Hahn B, em 2001, foi utili za da como base da discussão. Trabalhos publicados nos últimos cinco anos foram pesqui sa dos no banco de dados do Medline. Devido à fre - qüência e à heterogeneidade de manif es tações da doença, a mai oria dos tr abalhos terapêuticos não co nt e mp la grand e INTRODUÇÃO o lúpus eritematoso sist ê mico é uma do e nça infl a- matória crônica, multi ss ist êmi ca, de causa desconhe c id a e d e natur eza auto-imune, caracterizada pela pr ese nça de div ersos a uto-anti co rpos . Evolui com manifesta ções clíni cas polimórfica s, com pe ríodos de exacerbações e re mis sões. De e tiologi a não escl arec id a, o de se nvo l vi- mento da do ença está liga do à pr e di spo si ção ge nética e aos fatores ambi e ntai s, como luz ultravioleta e alguns medicamentos. cas uísti ca, e nem são randômicos e controlados. Como as mani- fes tações e a gravidade da doença variam em dif erent es grupos populacionai s, devemos avaliar com cuidado os es tudos reali- zados em grupos popu lacionais distinto s. GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE EVIDÊNCIA A: Estudos experimentais e observacionais de melhor consistência. B: Estudos experimentais e observacionais de menor consistência. C: R elatos de casos (estudos não controlado s) . D: Opinião d es provida de avaliação crítica, baseada em conse nsos, es tudos fi siológicos ou model os animais. OBJ ETIVOS Elaborar recomendação ba sea da na melhor evidência científi ca para o tratamento das manif es tações cutâneo-arti culares do lúpus eritemato so sistêrnico. CONFLITO DE INTERESSE Nenhum conflito de int eresse declarado . É uma doen ça rara, incidindo mais freqüentemente em mulh eres jovens, ou se ja, na fase re produtiv a, numa pro- porção de nove a d ez mulheres para um homem, e com prev alê nci a variando de 14 a 50 / 100 .000 habitant es , em estudos norte americano s(l )(D). A do ença pod e ocorrer em toda s as raças e em todas as partes do mundo. Na prática , costuma-se es tabel ece r o diagnóstico utili- zando-se os critérios de classifica ção propostos, em 1982, pelo Ameri ca n College oERheumatolog}P) (B), e revisados em 1997 (3) (D). O di agnósti co se baseia na presença de pelo me nos quatro c ritérios do s onze citados a seguir: Trabalho realizado por re presenta ntes da Sociedade Bra silei ra d e Reu matologia. Elaboração final: 8 de junho de 2004. O Projeto Diret rizes. iniciat i va con junta da Associação Médica Brasi leira e Con selho Federal de Medicina. tem por objet ivo concil ia r informações da área médica a fi m de pa dronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As info rmações cont idas neste pro jeto devem ser submeti- das à avaliação e à crítica do médico. res ponsável pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de ca da paciente a ser seguida, frente à rea lidade e ao estado clínico de cada pac i ente . Endereço p ara co rres pondên ci a: Secretaria edi to ri al. Av. Brigadeiro Lu iz An to nio, 2.466, conj. 93, CEP O 1402-000, São Paulo, SP, Bras il. E- ma i l: [email protected] 454 Rev Bras Reu matol. 11. 44. n. 6. p. 454- 7, nov./dez .. 2004

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ARTIGO E SPECIAL

S PEClAL ARTlCLE

Lúpus Eritematoso Sistêmico: Tratamento do Acometimento Cutâneo/Articular*)

Sato EI, Bonfá ED, Costallat LTL, Silva NA, Brenol ]CT, Santiago ME, Szajubok ]CM, Rachid-Filho A, Barros RT, Vasconcelos M

DESCRIÇÃO DO M É TODO DE COLETA DE

EVIDÊ NCIAS

Oito reumatologistas que trabalham em serviços que atendem gra nde número de pacientes com lúpus eritematoso sistêmico, alguns dos quais têm pesquisa e publicações científicas nesta área, foram convidados a participar do grupo de trabalho. Também foram convidados um nefrologista e uma dermato­logista que atuam em grandes centros universitários, com grande experiência no atendimento destes pacientes. Todos se reuniram para discutir o trata mento das diferentes manifestações da doença, subdivididos em quatro grupos de trabalho, cada qual fi ca ndo responsável por busca r a melhor evidência para o tratamento de um ou mais comprometimentos da doença. A última edição de Dubois's lupus erythematosus, editado por Wallace D e Hahn B, em 2001, foi utilizada como base da discussão. Trabalhos publicados nos últimos cinco anos foram pesquisa dos no banco de dados do Medline. Devido à fre­qüência e à heterogeneidade de manifestações da doença, a maioria dos trabalhos terapê uti cos não contempla grande

INTRODUÇÃO

o lúpus eritematoso sistêmico é uma doença infla­matória crônica, multissistêmica, de causa desconhecida

e d e natureza auto-imune, caracterizada p ela presença

de diversos auto-anticorpos . Evolui com manifestações

clínicas polimórficas, com p eríodos de exacerbações e remissões. De e tiologia não esclarecida, o desenvolvi­

mento da do en ça está ligado à predisposição gen é ti ca e

aos fatores ambientais, como luz ultravioleta e alguns

medicamentos.

casuística, e nem são randômicos e controlados. Como as mani­festações e a gravidade da doença variam em diferentes grupos populacionais, devemos avaliar com cuidado os estudos reali­zados em grupos populacionais distintos.

GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE

EVIDÊNCIA

A: Estudos experimentais e observacionais de melhor consistência. B: Estudos experimentais e observacionais de menor consistência. C: R elatos de casos (estudos não controlados) . D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em

consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais.

OBJ ETIVOS

Elaborar recomendação baseada na melhor evidência científica para o tratamento das manifestações cutâneo-articulares do lúpus eritematoso sistêrnico.

CONFLITO DE INTERESSE

Nenhum conflito de interesse declarado .

É uma doença rara, incidindo mais freqüentemente em

mulheres jovens, ou seja, na fase reprodutiva, numa pro­porção de nove a dez mulheres para um homem, e com prevalência variando de 14 a 50/ 100.000 habitantes , em

estudos norte americanos(l )(D). A doen ça pode ocorrer em

todas as raças e em todas as partes do mundo.

Na prática , costuma-se estabelecer o diagnóstico utili­zando-se os critérios de classificação propostos , em 1982, pelo American College oERheumatolog}P)(B), e revisados

em 1997(3) (D). O diagnóstico se baseia na presença de pelo

m enos quatro critérios dos onze citados a seguir:

• Trabalho realizado por represen ta ntes da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Elaboração final: 8 de junho de 2004 .

O Projeto Diret rizes. inic iativa con junta da Associação Méd ica Brasi lei ra e Conselho Federa l de Medic ina. tem por ob jetivo concil iar informações da área médica a fi m de padron izar condutas que auxiliem o rac iocínio e a tomada de decisão do médico. As info rmações cont idas neste pro jeto devem ser submeti­das à avaliação e à crít ica do médico . responsáve l pela conduta a ser segu ida , frente à realidade e ao estado cl ínico de cada paciente a ser segu ida, frente à rea lidade e ao estado clínico de cada pac iente.

Endereço para correspondência: Secretaria ed itorial. Av. Brigadei ro Lu iz An tonio, 2.466, conj . 93, CEP O 1402-000, São Paulo, SP, Brasil. E-ma il: [email protected]. br

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Lú pus Eritematoso Sistêmico: Tratamento do Acomet imento Cutâneo/Arti cular

1. Eritema malar: lesão eritematosa fixa em região mala r, plana ou em relevo.

2 . Lesão discóide: lesão eritematosa, infiltrada, com esca­mas queratóticas aderidas e tam.pões foliculares, que evolui com cicatriz atrófica e discromia.

3. Fotossensibilidade: exantema cutâneo como reação não usual à exposição à luz solar, de acordo com a história do paciente ou observado pelo médico.

4. Úlceras orais/ nasais: úlceras orais ou nasofaríngeas, usualmente indolores, observadas pelo médico.

5. Artrite: artrite não erosiva envolvendo duas ou mais articulações periféricas, caracterizadas por dor e edema ou derrame articular.

6. Serosite: pleuris (caracterizada por história convin­cente de dor pleurítica, ou atrito auscultado pelo médico ou evidência de derrame pleural) ou pericardite (docu­mentado por eletrocardiograma, atrito ou evidência de derrame pericárdico).

7. Comprometimento renal: proteinúria persistente (>O,sg/ dia ou 3+) ou cilindrúria anormal.

8. Alterações neurológicas: convulsão (na ausência de outra causa) ou psicose (na ausência de outra causa).

9. Alterações hematológicas: anemia hemolítica ou leucopenia (menor que 4.000 / ml em duas ou mais ocasiões) , ou linfopenia (menor que 1.s00/ m1 em duas ou mais ocasiões) ou plaquetopenia (menor que 100.000/ ml na ausência de outra causa).

10. Alterações imunológicas: anticorpo anti-DNA nativo ou anti-Sm ou presença de anticorpo antifosfolípide baseado em: a) níveis anormais de IgG ou IgM anti-cardio­lipina; b) teste positivo para anticoagulante lúpico ou teste falso positivo para sífilis, por no mínimo seis meses.

11. Anticorpos antinucleares: título anormal de anti­corpo antinuclear por imunofluorescência indireta ou método equivalente, em qualquer época, e na ausência de

drogas conhecidas por estarem associadas à síndrome do lúpus induzido por drogas.

Estes critérios foram desenvolvidos com o obj etivo de uniformizar os estudos científicos da doença , e, embora raro, é possível termos pacientes que não apresentam quatro dos critérios de classificação.

A avaliação laboratorial reforça o diagnóstico quando se observar alterações tais como leu copenia, anemia, linfo­penia, plaquetopenia e alterações do sedimento urinário. De particular importância para o diagnóstico é a pesquisa de anticorpos ou fa tores antinucleares por imunofluores­cência indireta, utilizando como substrato as células HEp-2 , conforme proposta do I Consenso Brasileiro Sobre Laudos

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de FAN(4) (D). A positividade desse teste , embora não

específico, serve como triagem devido a sua sensibilidade maior que 95%, sendo altamente improvável a presença da doença se o teste resultar negativo(2) (B) . Nos raros casos da doença com pesquisa de FAN negativa, particularmente com lesões cutâneas fotossensíveis, recomenda-se a reali­zação da pesquisa de anticorpos anti-SSa/ Ro. A pesquisa de anticorpos como anti-DNA nativo, anti-Sm, anti-RNP e células LE pode contribuir para melhor caracterização laboratorial do quadro. Por outro lado, a negatividade do FAN dispensaria a pesquisa desses auto-anticorpos.

MEDIDAS GERAIS

Como parte importante da abordagem terapêutica, algumas medidas gerais são recomendadas, entre elas (5) (D):

1. Educação: informar ao paciente e familiares o que é a doença, sua evolução, riscos e os recursos disponíveis para diagnóstico e tratamento. Recomenda-se a necessidade de cumprimento das medidas estabelecidas pelo médico.

2 . Apoio psicológico: transmitir otimismo e 1T1Otivação para o tratamento, além de estimular os projetos de vida.

3. Atividade fisica: repouso nos períodos de atividade sistêmica da doença e medidas visando melhora do condi­cionamento fisico (estimular atividade fisica regular) .

4. Dieta: Não há evidência científica de que os alimentos possam influenciar o desencadeamento ou evolução da doença. Recomenda-se a adoção de uma dieta balanceada, evitando-se excessos de sal, carboidratos e lipídios.

5. Proteção: contra luz solar e outras formas de irra­diação ultravioleta.

6. Evitar: tabagismo.

TRATAMENTO MEDICAMENTOSO

o tratamento medicamentoso deve ser inclividualjzado para cada paciente e dependerá dos órgãos ou sistemas acome­tidos, e da gravidade destes acometimentos. O tratamento de pacientes com comprometimento de múltiplos sistemas deverá ser orientado para o comprometimento mais grave. Quando houver manifestação que não responda a uma droga, pode ser necessário fazer uso concomitante de diversos medicamentos. Por exemplo, paciente com nefrite e lesões cutâneas pode necessitar de corticóide e imunos­supressor para o tratamento da nefrite , associado ao uso de talidomida para o tratamento da lesão cutânea refratária.

Independentemente do órgão ou sistema afetado, o uso contínuo de antimaláricos como 4 m g/ kg/ dia de difosfato

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Sato et aI.

de clo ro quina ou 6 mg/kg/ dia de sulfato de hidroxi­cloro quina é indicado com a finalidade de reduzir atividade da doença e tentar poupar o uso de corticóides(6)(B). A manutenção da droga em pacientes controlados reduz a possibilidade de novo surto de atividade(7) (A). M elhora do perfil lipídico, como a redu ção do colesterol sérico(8)(B), a elevação do HDL-Colesterol(9)(B), e redução do risco de trombose(1 °) (D) são beneficios adicionais atribuídos ao uso de antimalári cos .

Além dos antimaláricos, os glicocorticóides são as drogas mais utilizadas no tratam ento . A dose de glicocorticóides varia de acordo com a gravidade de cada caso. Didatica­mente as doses de glicocorticóides, tendo a prednisona como padrão, podem ser divididas em (1I )(D):

D ose baixa: 0, 125 mg/kg/dia D ose m oderada: 0, 125 a 0,5 mg/kg/dia D ose alta: 0,6 a 1 mg/kg/dia Dose muito alta: 1 a 2 mg/kg/ dia Pulsoterapia com glicocorticóides: ll1J eção intravenosa

de 19 de metilprednisolona (15-20 mg/kg/dia) por três dias consecutivos .

D evido aos múltiplos efeitos colaterais, os glicocorti­cóides devem ser utilizados na dose efetiva para o controle da atividade da doença, e, assim que possível, deve haver redução gradual de sua dose. Embora haj a grande varia­bilidade individual na sensibilidade aos glicocorticóides, está demonstrado que o uso de glicocorticóides de longa ação, como a dexanletasona, é o mais deletério, devendo ser evitado o seu uso diário(1 2) (D). N os pacientes que não conseguem atingir uma dose de manutenção de glicocor­ticóides aceitável, menor que 15 mg/dia, está indicada a associação de outra droga para poupar glicocorticóides. Entre as drogas com comprovada ação poupadora de glico­corticóides, além dos antimaláricos(6)(B) j á m encionados, temos a azatioprina(I3)(D), e o metotrexate na manifestação cutânea e vasculítica(14)(C).

É importante o diagnósti co diferencial entre atividade da doen ça e infecção, lembrando da poss ibilidade de coexistência de ambas, assim com o da presença de co­morbidades.

C O M PROMET IMENTO C U TÂ N E O

O tratamento vai depender da extensão do acom etimento dermatológico e da gravidade das m anifestações extra­cutâneas. Lembrar que nem toda lesão cutânea é LE espe­cífica, podendo decorrer de complicações do tratam ento ou outras dermatoses concomitantes, requerendo condutas diagnósti cas e terapêuticas diversas.

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Fotop roteção: Considerando que a radiação ultravioleta B é a principal causadora de fo tossensibilidade e desenca­deante das lesões cutâneas, protetores solares com FPS 2: 15 devem ser utilizados em quantidade generosa pela manhã e reaplicados mais uma vez ao dia. O uso de bloqueadores solares de amplo espectro pode trazer beneficio adicional pela capacidade de proteção contra UV -A, em algumas lesões cutâneas com o as lesões subagudas(IS)(D), bem como no melhor prognós tico relacionado às lesões renal e trombocitopênica (16) (B).

N as lesões cutâneas localizadas, está indicada terapia tópica com corticóide não flu orado na face e áreas de flexão . Em lesões m ais hipertrófi cas , indica- se corticóide flu orado, podendo ser aplicado sob a forma oclusiva ou de infiltração(1 7) (D).

As lesões cutâneas agudas geralmente respondem ao tratam ento indicado para outras manifestações do LES, como corticosteróides e imunossupressores. Embora não haja estudos controlados, na prática clínica, os especialistas utilizam os antimaláricos para o tratam ento do comprome­timento cutâneo, quando não houver necessidade dessas drogas para outros comprometimentos . As lesões do lúpus cutâneo subagudo costumam responder bem ao uso de antimaláricos isolados ou em combinação(1 8) (D).

N a falta de resposta em três meses, ou antes, quando a lesão fo r muito extensa, ou quando houver progressiva piora, pode-se associar prednisona em dose baixa a mode­rada por curto período de tempo.

N os casos em que persistirem lesões cutâneas ativas, refratárias ao esquema terapêutico anterior, a escolha do tratamento deve ser baseada nas características da paciente, como a existência ou não de contra-indicações ao uso de determinada medicação, ou tipo de lesão cutânea.

A talidomida, na dose de 100-200 mg/ dia com redução progressiva, mostrou-se efi caz em cerca de 75% dos casos, m as deve ser indicada somente para pacientes do sexo masculino, ou para mulheres sem qualquer risco de gra­videz, na pós-menopausa ou com anticoncepção defini­tiva(19) (B). N os demais pacientes, pode- se associar meto­trexate na dose de 10-20 mg/semana(14) (A), azatioprina - 1 a 2 mg/kg/dia(20) (C) , clofazimine - 100 mg/ dia(21 )(D), ou

dapsona - 100 mg/dia, indicado principalmente para casos de lúpus sistêmico bolhoso(22) (D).

COM PROMETIMEN T O A RTI CULA R

A artrite habitualmente é intermitente e não erosiva, en­tretanto, cerca de 10% dos casos podem evoluir com poliar­trite ou oligoartrite crônica. As artrites agudas, quando não

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acompanhadas de comprometimento sistêmico , podem ser tratadas com antiinflamatórios não hormonais, desde que não sejam contra-indicados(23) (D). C aso não haja melhora, pode-se substituir ou associar prednisona em dose baixa.

N as artrites com evolução crônica ou com recidivas fre­qüentes, está indicado o uso de antimalárico, hidroxiclo­roquina(24)(A) ou difosfato de cloroquina para controle da dor articular. N os casos não responsivos, ou em que os

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antimaláricos sej am contra-indicados, pode-se assocIar 10-20 mg/semana de m etotrexate(25)(B).

Na prática, em pacientes que evoluem com artrite crônica, em uma ou duas arti culações, não responsivos a tratamento m edicamentoso ac im a proposto , fazemos infiltração intra-articular com triancinolona hexocetonida, geralmente com boa resposta, mas não há nenhum estudo controlado que tenha avaliado esta conduta.

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