cultura.sul 76 - 16 jan 2015

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www.issuu.com/postaldoalgarve 8.073 EXEMPLARES Promontório de Sagres candidato a Património Europeu p. 2 Falareis de nós como de um sonho p. 8 Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO JANEIRO 2015 n.º 76 D.R. D.R. Juventude, artes e ideias: Generalizações p. 2 Da minha biblioteca: Contos recontados D.R. p. 11 D.R. Missão Cultura: Sala de leitura: Da investigação a património da humanidade p. 10 Faro prepara 2015 cultural invejável p. 5 Lethes e Teatro Municipal: Cultural imaterial: D.R. D.R.

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• CONHEÇA O CULTURA.SUL DESTE MÊS • Sexta-feira (dia 16/01) nas bancas com o PÚBLICO e o POSTAL • Partilhe o seu caderno mensal de Cultura no Algarve • EM DESTAQUE: > MISSÃO CULTURA: Promontório de Sagres candidato a Património Europeu > GRANDE ECRÃ: Cineclube de Tavira prepara Encontro de cineclubes do Sul > JUVENTUDE, ARTES E IDEIAS: Generalizações, por Mónica Dias > PANORÂMICA: Faro prepara 2015 cultural invejável, por Ricardo Claro > SALA DE LEITURA: Falareis de nós como de um sonho, por Paulo Pires > MOMENTO: A tempestada cai sobre a cidade, por Ana Omelete > O(s) SENTIDO(s) DA VIDA A 37º N: Janeiro, por Pedro Jubilot > DA MINHA BIBLIOTECA: Contos recontados, por Adriana Nogueira

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Page 1: CULTURA.SUL 76 - 16 JAN 2015

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www.issuu.com/postaldoalgarve8.073 EXEMPLARES

Promontório de Sagres candidato a Património Europeu

p. 2

Falareis de nós como de um sonho

p. 8

Mensalmente com o POSTAL

em conjuntocom o PÚBLICO

JANEIRO2015n.º 76

d.r.

d.r.

Juventude, artes e ideias:

Generalizaçõesp. 2

Da minha biblioteca:

Contos recontados

d.r.

p. 11

d.r.

Missão Cultura:

Sala de leitura:

Da investigação a património da humanidade p. 10

Faro prepara 2015 cultural

invejável p. 5

Lethes e Teatro Municipal:

Cultural imaterial:

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16.01.2015 2 Cultura.Sul

AGENDAR

Na semana em que a França se viu a braços com atentados que semearam o terror por entre os franceses, mas também por entre os povos da Europa e do mundo era impossível deixar passar em branco a questão.

A liberdade de expressão, que está no centro dos ataques, em particular ao Charlie Hebdo, é um acto vicioso assente no pres-suposto de que a dignidade da religiosidade a coloca além das fronteiras do humor.

O erro está, antes de mais, em pensar que o humor enquan-to expressão artística, cultural e política, tem ou poderá ter fronteiras.

A suposta ‘ofensa’ que qual-quer um sentirá quando alvo do humor é exactamente a raiz da arte humorística, está-lhe na essência e não pode ser-lhe coarctada.

Ao humor impõe-se a resposta mais adequada, a do fair play e de lhe reservar o seu devido lugar, o de humor, tout court.

Não se mata a tiro quem nos ‘ataca’ com cartoons, não se rou-bam vidas a título de vendetta re-ligiosa. Não se roubam vidas seja qual for a razão.

A Europa onde grassa o deses-pero e a incerteza é campo para a sementeira dos radicais e a isso tem de responder já, ontem!

O (des)rumo e a desumaniza-ção deste mundo ocidental não pode ser coutada da desregula-ção dos valores fundamentais da sociedade em que vivemos. Só assim garantiremos o menor espaço de manobra possível a quem se juga senhor da vida e da morte.

Aos que tombaram e tom-barão no entretanto devemos a criação de um mundo melhor, onde todos possamos ser e dizer.

Por um futuro digno com uma liberdade inalienável.

A inalienabilidade da liberdade O Promontório de Sagres candidata-se

à Marca do Património Europeu

A Marca do Património Eu-ropeu (MPE) foi estabelecida por decisão do Parlamento e do Conselho europeus.

Os objetivos gerais da MPE consistem em reforçar o sen-timento de pertença à União Europeia por parte dos cida-dãos europeus, em especial dos jovens, com base nos va-lores e elementos comuns da história e do património cultural europeus, valorizar a diversidade nacional e regio-nal e incrementar o diálogo intercultural. Para isso, esta designação procura realçar o valor simbólico e melhorar a visibilidade de sítios que te-nham desempenhado um pa-pel significativo na história e na cultura da Europa e/ou na construção da União Europeia.

Os valores simbólicos, histó-ricos e físicos do Promontório de Sagres satisfazem o objec-tivo da MPE que é dar visibili-dade aos sítios que celebram e simbolizam a integração, os ideais e a história da Europa

Um valorpatrimonial europeu

O Promontório de Sagres, sob tutela da Direção Regional de Cultura do Algarve, é o espa-ço mais visitado da região do Algarve, registando: em 2011, 264.638 visitantes; em 2012, 255.160 visitantes; em 2013, 276.052 visitantes; em 2014, houve um aumento de 10,39%; sendo que 70% dos visitantes são estrangeiros. Estes dados demonstram a dimensão do Promontório de Sagres como um valor patrimonial europeu.

É um lugar que apresenta beleza natural e fenómenos naturais excepcionais. Estão presentes curiosas caraterísti-cas geológicas e climáticas que se associam a ecossistemas ter-restres e a espécies costeiras ma-rítimas específicas.

É um finisterra associado ao Promunturium Sacrum descrito pelos autores clássicos gregos e romanos (Estrabão, Artemido-ro, Èforo, Avieno), lugar onde se cultuava Hércules (designação em grego do deus fenício Mel-qart) e que era tido como o fim do mundo conhecido.

Mas Sagres é também um testemunho associado ao início

do movimento expansionista europeu, ocorrido no dealbar do século XV, no Algarve, qual “cais primeiro” que dará ori-gem à criação do mundo glo-bal, pela ação da Europa, nos séculos sequentes.

É o lugar “ocupado” por um testemunho mítico excepcional, a designada “Escola de Sagres de Henrique, o Navegador” que foi criado, fora do espaço ideológi-co português, a nível europeu. Mito que se impôs universal-mente como marca inicial da tradição cultural da civilização

europeia, no âmbito da expan-são marítima e do impacto que criou de uma mudança univer-sal irreversível.

É assim um dos lugares físi-cos que as memórias europeia e universal associam ao início de importantes intercâmbios de valores humanos e de de-senvolvimentos tecnológicos, englobando vastas áreas cul-turais do mundo que passam a estar em intercomunicação e partilha de produtos.

As consequências, no globo terrestre, das decisões geopo-

líticas tomadas, no século XV, durante a Dinastia de Avis, a de Henrique, o Navegador, gera-ram uma geografia económica e um intercâmbio cultural de dimensões nunca vistas.

Se Portugal quinhentista foi o “despoletador” de novos es-paços comerciais, para a Euro-pa, e do primeiro verdadeiro comércio internacional global (com Lagos, Lisboa), seguido por Castela e pela Espanha fi-lipina (Sevilha), Países Baixos (Bruges, Antuérpia), o processo foi concluído com os hegemo-nistas seguintes, os holandeses (Amesterdão) e ingleses (Lon-dres), que o renovaram com uma nova geopolítica econó-mica e tiraram efectivo provei-to, a partir do século XVII.

É a memória europeia co-letiva, dessa evolução em co-mum, anterior à definição do conceito da União Europeia, que tem no Infante D. Henri-que e no Promontório de Sa-gres, a figura e espaço identifi-cáveis com o início da epopeia de uma nova Europa a que a todos aproveitou. Temos assim a confiança e a crença que o Promontorium Sacrum é já um marco do património Europeu e da Humanidade.

Generalizações

Odeio generalizações!São horríveis mas, infelizmen-

te, todos fazemos. A verdade é que a comunidade acha mais cómodo colocar todos os indi-

víduos no mesmo saco pois, as-sim, não têm que perder tempo a pensar nas exceções.

Os mais velhos são uns prós nesta arte! Quantas vezes ou-vimos: “Essa geração está uma desgraça! Não têm respeito ne-nhum!”. Bem, seguindo esta li-nha de raciocínio, esta “geração”, de quem falam, são muitas vezes os vossos filhos e netos, por isso, se algo falhou foi a vossa capaci-dade de educar.

Outra generalização, engra-çadíssima, é a respeito das no-vas tecnologias. Os mais velhos

adoram implicar com os nossos smartphones, porém ao terem um nas mãos esquecem o mun-do e ficam autênticos vegetais. Que surpresa!

Generalizações em relação ao género também me intrigam muito. Acho que as pessoas nem se apercebem que o fazem! Por exemplo, quando afirmam que todas as raparigas falam mal umas das outras. Conheço inú-meras raparigas que não têm qualquer interesse nisso. Curioso é que quando se referem a rapa-zes é diferente, porque estes são

sempre leais e amigos dos seus amigos. Não, não existem rapari-gas nem rapazes maus. Existem é

pessoas más! Não é o seu género que define a sua personalidade. O que acontece é, devido a esta-rem constantemente a repetir às crianças como elas devem agir consoante o serem rapazes ou raparigas, faz com que elas se tornem naquela generalização que lhe incutiram. Se se sentiu afetado pelo que escrevi, é com-preensível, porque odeio gene-ralizações, mas é praticamente impossível falar delas sem gene-ralizar. Se faz parte da minoria que pensa nas exceções, para-béns, continue assim!

Ricardo [email protected]

Editorial Missão Cultura

Direção Regionalde Cultura do Algarve

Juventude, artes e ideias

Mónica DiasCiências da Comunicação

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“OLHARES”Até 28 FEV | Biblioteca Municipal de OlhãoMaria Odete Fernandes apresenta 19 painéis de foto-grafias que representam as suas viagens pelo Mundo, mostrando através da sua objectiva a forma como “olhou” para esses lugares

“A CABEÇA MUDA”22 e 23 JAN | 21.30 | Teatro das Figuras - FaroPeça interpretada pela actriz Isabel Medina, por João de Brito e Ana Lopes Gomes. A representação parte do retrato brutal das sociopatias contemporâneas; a posse e a vontade de libertação são os movimentos contrários que estabelecem o conflito

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Promontório é uma referência ímpar da História

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16.01.2015  3Cultura.Sul

Espaço AGECAL

A História de Arte é, ainda hoje, uma disciplina “nova” no Algarve. Remonta, nos seus traços embrionários, a alguns escritos esparsos e a abordagens gené-ricas na historiografia do século XIX e primeira metade do século XX, mas só nos últimos anos se tem consolidado com consciência e prática científicas, abrindo novas e ricas perspectivas so-bre o património da região.

Muito contribuiu para este avanço o repúdio das ideias de menorização do património algarvio e uma lenta, mas cada vez mais decidida, redescoberta do mesmo, sobretudo por via do contribu-to dado nas últimas décadas por alguns reputados académicos (como José Edu-ardo Horta Correia, Francisco Lameira e Vítor Serrão, responsáveis por trabalhos de fundo, por novas orientações meto-dológicas e por um magistério universi-tário mais especializado). Deste modo,

pensamos que a disciplina, no Algarve, aponte para um estado de amadure-cimento que veio para ficar, muito se devendo ao papel que as universidades vêm exercendo ao nível da formação de técnicos e investigadores e à consciência destes, cada vez mais clara, da sua im-portância social.

A realidade regional no campo da intervenção patrimonial continua a ser gravosa, pois decorre das destruições so-fridas, sismos, incêndios, vandalismos (invasões francesas, extinção das ordens religiosas, pseudo-restauros), razias de centros históricos, carências legislati-vas, míngua de práticas interdiscipli-nares e de técnicos especializados para as aplicar. Queixamo-nos muitas vezes, no decurso do nosso trabalho, que es-tamos constrangidos a intervir – face à quantidade (e qualidade) de peças que atestam abandono, desinteresse, deslei-xo, ruína, menorização, incúria oficial – numa região especialmente despreo-cupada com o seu património artístico. Depois, atentando melhor no mapa das existências, verificamos que aquilo que felizmente sobreviveu possui caracterís-ticas de uma arte plena de originalida-de, feita de constantes vernáculas, tecida com força expressiva e em consonância com as especificidades de um mercado regional, que em certos momentos da História se soube internacionalizar nas

suas referências e modelos.Contra os pareceres redutores sobre

a “menoridade” do património algar-vio, lembramos que só neste virar de século foram (re)descobertas obras tão destacadas, até então ignoradas, como o vaso islâmico de Tavira, as estruturas do urbanismo almóada na mesma ci-dade, o túmulo gótico da Sé de Faro ou a cartografia da região pelas mãos de Leonardo di Ferrari e de José Sande de Vasconcelos (dos séculos XVII, XVIII e XIX). Ao mesmo tempo, um crescente número de historiadores de arte vem reforçando o diálogo com o patrimó-nio da região, gerando novos conheci-mentos e interpretações sobre as mais diversas manifestações (urbanismo, ar-quitectura, artes decorativas, cartografia, etc.), abrindo grandes perspectivas para a sua divulgação e valorização.

Pelo historiador de arte passa o co-nhecimento profundo dos “estilos” que se sucedem na evolução artística; as questões do enquadramento históri-co-ideológico, o entendimento dos am-bientes de trabalho e de produção, de encomenda e círculo de influências, de função e de utilização das obras de arte, de coincidência ou ruptura de gostos es-téticos, de caracterização de clientelas e mercados; por ele passam as questões gerais da sensibilização pública, da efi-caz musealização dos bens, da difusão

turística de quali-dade e da edição científica.

Precisa-se da His-tória da Arte para explicar o sentido das obras de arte, como instrumentos da História da região; para preservar a memória colectiva, na dimensão da salvaguarda do patrimó-nio artístico; para integrar redes trans-disciplinares de pesquisa, formação e conservação; para dinamizar o turismo cultural, através da museologia ou da gestão de bens artísticos regionais; para recensear os objectos identitários da re-gião, através da inventariação de bens artísticos; para aliar o seu conhecimento

às práticas organizadas da intervenção urbanística, de restauro de bens ou do ordenamento do território.

Sendo o património cultural que dis-tingue, identifica e fixa a memória de uma região, potenciando a sua atracti-vidade, é como disciplina de indiscuti-da validade social que o Algarve e suas forças devem hoje encarar a História de Arte.

Grande ecrã

Cineclube de TaviraProgramação: www.cineclubetavira.com281 971 546 | [email protected]

SESSÕES REGULARES | CINE-TEATRO ANTÓNIO PINHEIRO | 21.30 HORA

22 JAN | CAVALO DINHEIRO, Pedro Costa – Portugal 2014 (103’) M/12

29 JAN | THE RAILWAY MAN (UMA LONGA VIAGEM), Jonathan Teplitzky – Austrália/R.U./Suíça 2013 (116’) M/16

Globos de Ouro e ÓscaresJá é uma tradição as distri-

buidoras em todo o mundo atrasarem as estreias dos “me-lhores” filmes até ao início do ano. Contando com umas nomeações (ou possíveis pré-mios) nos Globos de Ouro (11 de Janeiro) ou Óscares (22 de Fevereiro). Este ano verificámos a mesma táctica, nas próximas semanas vai ser lançada nas salas uma avalanche de títulos com bastante interesse. Infeliz-mente isso não quer dizer que nós, cineclubes, os possamos exibir logo a seguir, na maio-ria dos casos temos que esperar uns meses...

Mesmo assim, continuamos a tentar tecer o nosso progra-ma mensal com os filmes mais interessantes e sensíveis dispo-níveis entre nós. Um deles sem dúvida é o último trabalho de (Ossos) Pedro Costa: Cavalo Dinheiro. Durante o último ano têm nascido umas quan-tas distribuidoras novas, que procuram focar-se na distri-buição de filmes menos “co-

merciais” mas com bastante interesse, na grande maioria de produção europeia. Querendo apoiá-los, tentamos programar esses filmes, tais como O Guar-

dião das Causas Perdidas. Não os percam e que este se torne mais um ano repleto de filmes sensíveis! Até breve!

Cineclube de Tavira

Início do ano cinematográfico aguarda os Óscares

fotos: d.r.

Cineclube de Faro Programação: cineclubefaro.blogspot.pt

IPJ | 21.30 HORAS | ENTRADA PAGA20 JAN | A PRAÇA, Sergei Loznitsa, Ucrânia, 2014, 130’, M/12

27 JAN | O GUIA DE IDEOLOGIA DO DE-PRAVADO, Sophie Fiennes, Reino Unido/ Irlanda, 2012, 134’

SEDE| 21.30 HORAS | ENTRADALIVRECICLO PASOLINI | DA VIDA E DA TRAGÉDIA22 JAN | O EVANGELHO SEGUNDO MA-TEUS, Itália/França, 1964, 137’

29 JAN | UCCELACCI E UCCELINNI, Itália, 1966, 89’

FILME FRANCÊS DO MÊS | ENTRADA LIVRE | BIBLIOTECA MUNICIPAL DE FARO – 21.30 HORAS3 DE JAN | MARIAGE À MENDOZA, Edou-ard Deluc, França, 2013, 94’, Portugal

O Elogio da História de Arte no Algarve

Daniel Santana Historiador de Arte,Museu Municipal de TaviraConvidado da AGECAL

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16.01.2015 4 Cultura.Sul

Filhos da Terra, de Jean Auel:Uma saga na era glaciar

Jean Auel é conhecida por um único conjunto de obras, a Saga dos Filhos da Terra.

Os primeiros quatro títulos desta saga só foram traduzi-dos em Portugal pela Europa--América em questão (ainda que a qualidade de tradução e edição desta editora sejam discutíveis), embora sejam também já quase impossíveis de encontrar.

Em 2006, a Esfera dos Livros avançou com nova tradução e edição de O Clã do Urso das Cavernas (originalmente pu-blicado em 1980) e uns quan-tos volumes depois a editora Clube do Autor decidiu, em boa hora, publicar o último desta saga, intitulado A Mãe Terra. Este título não faz jus-tiça ao título original em in-glês, que é The land of painted caves, o sexto volume da saga.

A nota negativa a fazer nes-ta recensão é mesmo a da infe-licidade de as editoras, que de-cidiram apostar nesta autora que tem 45 milhões de segui-dores em todo o mundo, igno-raram completamente a ideia de continuidade de uma saga. É preciso reconhecer que para ler esta saga é realmente ne-cessário ter tempo, paciência e persistência, pois já vamos em seis volumes e cada um dos livros não tem menos de 600 páginas cada. Todavia, é possí-vel assegurar aos leitores que as traduções da Europa-Amé-rica não são más, muito pelo contrário, apesar de virem di-vididas em dois tomos (hábito usual a esta editora, aliás) e de os volumes traduzidos terem sido integrados na coleção Né-bula, que pertence ao domínio da Ficção Científica.

A autora fez uma apurada pesquisa histórica e em diver-sos momentos dos seus livros são-nos descritos momentos de forma exaustiva, com preci-são e rigor histórico e científi-co, de certas situações e ações quotidianas como acender o

fogo, fabricar instrumentos de caça, modo de confecio-nar alimentos ou de preparar peles, propriedades curativas de plantas, etc. Daí que seja preciso alguma persistência e gosto pela informação his-tórica em que estes livros são ricos. Por outro lado, a fantasia também prima nesta saga, no-meadamente porque a perso-nagem de Ayla irá destacar-se como líder espiritual, daí que sejam recorrentes as referên-cias a presságios, sonhos, ao contacto com o mundo dos espíritos e às viagens astrais de Ayla (em que o espírito deixa o corpo e viaja livremente pelo espaço).

A saga segue assim a vida desta jovem, encontrada aos 4 ou 5 anos, depois de ter so-brevivido a um ataque de um grande leão das cavernas, de que guarda aliás a cicatriz fei-ta pela garra do leão, e que é resgatada e adotada por uma mulher que pertence ao clã do urso das cavernas, um grupo de homens Cro-Magnon.

A autora segue nos seus li-

vros a hipótese de que os ho-mens de Cro-Magnon terão convivido com o Homem de Neanderthal em certas zonas da Europa. Contudo, esse con-vívio não parece ter sido pací-fico, tanto que o clã coloca fortes entraves à inclusão da menina, e, no segundo volu-me da saga, percebemos que a espécie mais evoluída do homem de Neanderthal sen-te aversão pelos Cro-Magnon, referindo-se-lhes como Cabe-ças Achatadas. 

Ayla irá então enfrentar di-versos desafios ao longo do primeiro volume, a começar por uma rejeição quase ab-soluta de todo o clã, acolhida apenas por Iza, a curandeira, e Mogur, o líder espiritual, uma espécie de xamã, que a irão também amar como se fosse sua filha e educar. Desde cedo, percebemos que Ayla é efetiva-mente muito inteligente e re-cusa-se a seguir as convenções impostas às outras mulheres do clã, por exemplo quando segue os homens e aprende a caçar por si própria, ativida-

de absolutamente proibida ao sexo feminino. Ayla irá mesmo criar a sua funda e torna-se perita em lançamen-

tos rápidos, con-seguindo atirar duas pedras seguidas, e com pontaria pre-cisa. A mulher do clã pretende--se também submissa pelo que a jovem Ayla, já quase mulher, começa a ser violada por um dos homens do clã e acaba por ser mãe. No final Ayla é expulsa, sendo considerada como morta para todo o clã, que se recusa a reconhecer a sua existência, fingindo que não a veem e não lhe dirigin-do a palavra.

No segundo volume da saga, O vale dos Cavalos, se-guimos alternadamente o período de reclusão de Ayla num vale e Jondalar, que par-tiu numa espécie de busca com o irmão, para conhecer outros povos que vivem em regiões mais distantes do seu povo, os Zelandonii. Ayla de-pois de ser expulsa pelo clã en-frenta as agruras de um clima agreste próprio da era glaciar e caminha durante um lon-go período até encontrar um vale que lhe parece agradável e propício à sua sobrevivência, onde  encontra também a gru-ta ideal que se tornará na sua morada durante os próximos

anos, onde vive completamen-te isolada, a tentar perceber o que é isso de ser considera-da morta para o clã. Até que percebe que afinal a sua vida continua quando subitamen-te salva Jondalar, mas isso só acontecerá umas três prima-veras mais tarde... Entretanto seguimos a vida própria de um eremita que esta jovem leva e percebemos os desafios que na época os nossos antepassados enfrentavam. Ayla irá ainda domesticar uma égua, atreven-do-se mesmo a montá-la e de-pois a usá-la para transportar cargas mais pesadas. Mais in-crível ainda é o momento em que Ayla encontra um leão das cavernas bebé e decide adop-tá-lo. Mais tarde, conhece Jon-dalar ao salvá-lo de um ataque de um leão e acolhe-o na sua gruta, assistindo e ajudando à sua recuperação. Ayla apren-derá a comunicar oralmente (pois o clã comunicava gestu-almente) e irá assombrar Jon-dalar com os conhecimentos que possui como curandeira, a sua capacidade de caçar e a forma como aprendeu a fazer fogo. Até que ambos se apaixo-nam e Ayla aprende as alegrias de partilhar os prazeres com um homem, depois de ter sido abusada por diversas vezes en-tre os homens do clã.

No terceiro volume, Os ca-çadores de Mamutes, Jonda-

lar e Ayla decidem partir em busca do povo dele, num re-gresso a casa, e encontram os Mamutoi. Ayla conhece pela primeira vez outros como ela, além de Jondalar, e apesar do receio de Jondalar, dada a sua diferença em termos de com-portamento, por ter vivido en-tre os cabeças achatadas, Ayla será vista por todos como uma mulher que parece encarnar a essência de Mut, a Mãe Terra, nomeadamente na sua capa-cidade de comunicar com os animais, de os fazer obedecer, e pelas suas artes curativas, além da sua inegável beleza e porte distinto.

Em As Planícies de passa-gem o casal continuará o seu caminho em busca do povo de Jondalar, vivendo novas aventuras. O único título que não está traduzido é o quinto volume,  The shelters of sto-ne (2002). No último volume, A Mãe Terra, iremos deparar--nos com o que poderá ser uma conclusão desta viagem até à Idade do Gelo, através da Europa que existiu entre 35 e 25 mil anos a.C., num volume onde se abordará ainda o mis-ticismo das cavernas sagradas e, como o título indica, das pinturas rupestres, quando Ayla e Jondalar são já pais, de uma menina chamada Jonayla, o que simboliza a junção dos seus espíritos.

Paulo SerraInvestigador da UAlgassociado ao CLEPUL

Letras e Leituras

fotos: d.r.

A escritora Jean Auel

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16.01.2015  5Cultura.Sul

Faro com um 2015 cultural invejável

O Lethes apresentou a programação para todo o ano de 2015

fotos: d.r.

Panorâmica

Faro apresenta-se este ano com uma oferta cultural a que a cidade se desabi-tuou nos últimos anos. Quem garantiu alguma cadência efectiva na programa-ção cultural regular e estruturada na ci-dade durante 2013 e 2014, pelo menos, foi A ACTA, através da gestão que exer-ce do Teatro Lethes. Disso mesmo dava nota o Cultura.Sul em Janeiro do passa-do ano, num reconhecimento devido à sala que garantia o grosso da programa-ção cultural da cidade então.

Este ano não será assim, a julgar pela programação já conhecida do Teatro Municipal de Faro, mas o que é facto é que a recentemente apresentada progra-mação do Lethes mantém a cadência e o rigor a que Luís Vicente já nos habituou.

Desta feita, ao Lethes apresentou a programação para o ano de 2015, intei-ra, demonstrando coerência, capacidade de determinar o que se faz a um ano de distância e, acima de tudo, capacidade de oferecer um programa completo, versátil e estruturado ao público, que naturalmente agradece.

Alguns dos destaques da programa-ção do Lethes para este ano vão para, já hoje, 16 de Janeiro, e até dia 31, a entrada em cena de ‘Os Silêncios de Sara’, teatro pela mão da ACTA - A Companhia de Te-atro do Algarve, com Tânia da Silva a dar voz e expressão ao monólogo.

Em Fevereiro, o projecto VATe - serviço Educativo da ACTA, conta com a arte de Elisabete Martins e Nuno Silvestre para repor ‘Um Pequeno Príncipe’, a partir da obra de Saint-Exupéry, enquanto que as tábuas serão ocupadas nos dias 13 e 14 pelo TEMPO - Grupo de Teatro de Porti-mão, com a peça ‘O Caracol’, e no dia 20 por ‘Os Lusíadas’, uma criação e interpre-tação de António Fonseca.

A 21 de Fevereiro é a vez do Cendrev trazer ao Lethes uma peça teatral ‘Onde é que eu já vi isto, Perguntou ele’.

Os dias 27, 28 e 29 de Março garan-tem ao público, sob direcção de Paulo Moreira, a apresentação da peça ‘Os Emigrantes’, pela ACTA, que regressa ao mesmo palco mais quatro dias em Abril. ‘Cont(opias)’ é a proposta teatral de Sera-fim para o dia da revolução, 25 de Abril.

O teatro regressa ao Lethes em Maio com ‘Um Picasso’, pela Companhia de Teatro de Braga e, em Maio, a ACTA re-põe ‘à Espera de Godot’ sob a batuta do mestre Luís Vicente e um elenco que conta com vários actores.

O primeiro semestre encerra-se com ‘Rádio Cabaret’ numa proposta do Te-atro das Beiras e com uma parceria en-tre a ACTA e a APATRIS 21, sob o título ‘Viagens’.

Agosto faz regressar o teatro à mítica sala farense com Luís Vicente e ‘Nossa Senhora da Açoteia’ a que se segue ‘O Adeus’, já no mês de Setembro.

Setembro é o mês escolhido para o Lethes acolher o Ciclo de Teatro Espa-nhol, onde se poderá ver ‘Camino del Paraiso’, ‘Adúlteros’ e ‘Wangari La Niña Arból’, enquanto o décimo mês do ano é o tempo reservado ao Encontro Nacional de Teatro Universitário - ENTU.

O teatro com base na obra de Lídia Jorge invade o Lethes em Novembro com ‘Instruções para Voar’ e Dezembro faz regressar o VATe, com ‘Mãezinhas’.

Muito mais do que teatro

Mas há muito mais para ver no Lethes neste 2015. O jazz ocupa espaço de des-taque na programação, com Yessister, JazzSister, João Hasselberg, no Dia Inter-nacional do jazz, a voz inconfundível de Paula Oliveira, acompanhada por Luiz Avellar em ‘Mistura Fina’ e Luís Miguel Peaceful Retaliation Group.

Respectivamente as quatro vozes femininas do jazz apresentam-se em Fevereiro, Hasselberg sobe ao palco do Lethes a 30 de Abril no âmbito de ‘Os Dias do Jazz’, enquanto ‘Mistura Fina’ canta e encanta em Setembro, com a temporada de jazz a fechar em Dezem-bro pela mão de Luís Miguel Peaceful Retaliation Group.

Ainda na área da música, espaço para o Fado com Teresa e Pedro Viola, no iní-cio de Fevereiro, e para a 4ª Gala do Fado da Associação de Fado do Algarve a 31 de Maio, e para ouvir o som da guitarra pela mão de Marta Pereira da Costa, no final de Fevereiro, e ainda, com as actu-ações da Orquestra Juvenil de Guitarras do Algarve e do Quarteto Concordis, respectivamente em Julho e Outubro.

Finalmente e para que na agenda não

falte nada, lugar de destaque para o Fes-tival Internacional de Blues de Faro, que tem data marcada para 22 e 23 de Maio, para a interpretação de Mila Ferreira em ‘Bonsoir Paris’ e para Lara Martins & João Paulo Santos em ‘Da Opereta ao musi-cal’, espectáculos previstos para Março.

Carlos Mendes vem a Faro celebrar 50 anos de carreira em Julho, com ‘A Festa da Vida’, Ana Ester Neves e Raquel Cor-reia contam e cantam ‘Memórias de um percurso’ a 24 de Outubro e no dia 5 de Dezembro o palco é de ‘Esfinge - Projec-to mitológico’. O Concerto de Natal en-cerra a programação musical do Lethes para 2015.

Assinale-se um musical na programa-ção de 2015 do Lethes, ‘A Terra Prometi-da’ sobe à cena em Março, numa inter-pretação do Grupo da Igreja Evangélica Portuguesa.

Dança no Lethes

A dança não fica de fora da progra-mação do Lethes em 2015. Seis momen-tos marcam a presença desta forma de arte na sala farense, a começar com a actuação de Filipa Rodriguez no Dia

Mundial da Dança, a 29 de Abril, a que se segue Francisco Lucas Pires e Alma Palacios, com ‘Libretto’ em Maio.

Filipa Rodriguez regressa no início de Junho com ‘Formosa é a Ria’, e em Julho com o Espectáculo Final do Ano Lectivo 2014/2015. Elsa Palmeira e Bal-let Encantado trazem a 25 de Julho ao Lethes ‘Viver a Dança, Dançar a Vida’ e Boba Suicida fecha o pano no segmen-to com ‘Trovoada’ no mês de Outubro.

Finalmente um lugar de grande des-taque, nesta que é uma programação recheada, para a chegada, entre os dias 15 e 21 de Junho, do FOMe - Festival de Objectos e Marionetas, um momento incontornável do calendário anual da sala algarvia.

Teatro Municipalregressa à ribalta

Se o Lethes tem uma programação in-vejável para 2015, Faro conta este ano com uma programação de luxo no Te-atro Municipal de Faro (TMF). Assim se constrói um ano que será marcante em termos de oferta cultural garantida pe-las duas salas de espectáculos da capital da região.

Já hoje, dia 16 de Janeiro, e amanhã, o TMF acolhe o 2º Faro Tango Fest, para dia 24 a sala tem programado um con-certo de Rodrigo Leão e a 29 um concer-to da Banda da GNR.

Fevereiro garante casa cheia na sala maior da cidade com a Companhia Na-cional de Bailado, que traz ao Algarve ‘O Lago dos Cisnes’, numa performance acompanhada pela Orquestra Clássica do Sul, agendada para os dias 6 e 7. No dia 21, ‘Amália por Júlio Resende’ é o es-pectáculo em que o pianista se ‘introme-te’ pelos caminhos do Fado, enquanto Dino D’Santiago actua no dia 28.

São apenas destaques para os primei-ros dois meses de programação do TMF e antecipam uma programação forte da sala farense para o ano que agora come-ça, uma programação que se espera te-nha a força de outros momentos e mes-mo a ultrapasse a bem de uma agenda cultural capaz de satisfazer os mais di-versos públicos e garantir a entretanto amornada aposta na formação de novos públicos.

Só assim Faro poderá regressar aos circuitos artísticos nacionais como ci-dade destino daqueles que fazem da arte o seu mister e garantir aos farenses e aos algarvios em geral propostas de qualidade e diversidade dignas da ci-dade e da região e, acima de tudo, dos públicos.

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“MARIA CAMPINA, A LOULETANAQUE PÔS SALZBURGO DE PÉ”Até 31 MAR | Cine-Teatro LouletanoA presente exposição pretende valorizar o projecto de vida de Maria Campina, ou seja, a sua dedicação à música e à pedagogia musical, deixando ao mundo um legado incontornável

“MÚSICA NAS IGREJAS”17 JAN | 18.00 | Ermida de São Sebastião - TaviraConcerto de Raquel Correia (piano) e Isobel Reis (canto). O programa integra a interpretação de obras de Schumann (ciclo Frauen Lieben und Leben op 42)

Ricardo ClaroJornalista / [email protected]

A sala maior de Faro está a apostar forte na programação

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16.01.2015 6 Cultura.Sul

Qual a importância do pensamento na produção artística?

Artes visuais

Saul Neves de JesusProfessor catedrático da UalgPós-doutorado em Artes Visuais pela Universidade de Évora

Embora o trabalho artístico seja, em geral, realizado com grande emoção, o pensamento e o planeamento da obra são fundamentais no processo de produção artística.

Em geral, as obras artísticas são concretizadas por quem as concebe, mas verifica-se que, na arte contemporânea, muitas ve-zes quem pensa sobre o produto artístico não é quem o executa. Nestes casos, as pessoas costu-mam considerar que o artista é quem executa a obra. No en-tanto, não é exatamente assim, pois esta perspetiva de “manu-alidade” do artista tem vindo a ser alterada, sobretudo a partir dos anos 60, com a emergência da arte concetual.

A expressão “arte concetual” começou por ser utilizado por Henry Flynt, em 1961, no seu artigo “Concept Art”, segundo o qual o mais importante para a arte conceptual são as ideias, fi-cando a execução da obra para segundo plano, podendo até ser executada por outros que não o artista que a concebeu e criou. O importante seria o con-ceito, o projeto da obra, o qual é formulado antes da sua ma-terialização. Esta perspetiva da arte tornou-se mais consistente a partir do manifesto de George Maciunas, em 1963, um dos fun-dadores do grupo “Fluxus” e da primeira edição da revista “Art--Language”. Sol LeWitt também teve um contributo importante, ao publicar o artigo “Paragraphs on Conceptual Art”, na revista Ar-tforum (1967), em que defendeu que, na arte concetual, a ideia ou o conceito são o aspeto mais im-portante do trabalho realizado pelo artista. No mesmo sentido

posicionam-se vários artistas da atualidade, em particular Hirst (2012) ao considerar que a arte está sobretudo nas ideias do ar-tista: “Art goes on in your head. The real creative act is the con-ception, not the execution”.

Têm sido apresentadas várias definições de arte concetual, che-gando Lucy Lippard a considerar que há tantas definições de arte concetual quantos os artistas concetuais. Em todo o caso, esta autora apresenta também a sua definição, considerando que a arte concetual será o trabalho em que a ideia é o principal as-peto, sendo a dimensão material secundária.

No entanto, parece-nos im-portante clarificar que a ênfase nas ideias nas artes visuais não será assim tão original, pois mui-tos foram os artistas que, em di-versos movimentos ou estilos, salientaram a importância das ideias ou dos pensamentos do artista, embora fosse no sentido da intenção prévia à produção artística, nunca implicando a desmaterialização. Por exem-plo, Escher afirmava: “escolho entre as técnicas que adquiri, aquela que, mais do que qual-quer outra, ofereça uma melhor representação dum pensamento determinado que me absorva”; e Munch terá referido: “Pintei de memória sem nada acrescentar,

sem os pormenores que já não via à minha frente. É esta a razão da simplicidade das minhas te-las, do seu óbvio vazio. Pintei as impressões da minha infância, as cores esbatidas de um dia es-quecido” (Bischoff, 2011). Aliás, já encontrávamos em Renoir um comentário que apontava para uma postura ativa do pintor no processo de produção artística, não se limitando a reproduzir como que de forma automática a realidade: “A paleta do pintor não significa nada. É o seu olho que faz tudo” (Pedrosa, 2009). O próprio Picasso referia “eu pinto as coisas como penso ne-las, não como as vejo” (Gante-fuhrer-Trier, 2005), pressuposto fundamental que permitiu que a arte se afastasse da mera ten-tativa de reprodução do objeto observado, para ser sobretudo um produto da imaginação do artista. Fundamentalmente pro-curava-se tentar ir para além da imagem retiniana ou visual, evi-denciando-se a imagem mental.

Em todo o caso, a arte con-ceptual acentua de tal forma a importância da ideia criativa na produção artística que parece que apenas o pensamento é im-portante, ocorrendo quase uma desmaterialização da arte.

No artigo “A desmaterilização da arte” (1968), John Chandler e Lucy Lippard referiam que a

forma intuitiva e intencional de fazer arte que havia dominado desde 1945 deu lugar a uma arte ultra-conceptual que enfatizava quase exclusivamente o processo de pensamento. No mesmo sen-tido, Kosuth (1969) argumentou no sentido da não necessidade de existência de um objeto mate-rial, palpável, para que algo pos-sa ser considerado como obra de arte visual.

Esta ênfase na desmateria-lização encontra um dos seus exemplos mais fortes na exposi-ção de Robert Barry, em 1969, na Galeria Art & Project, em Amester-dão, em que pintou na porta de entrada “during the exhibition the gallery will be closed”, não estando nenhum trabalho à vis-ta, nem sequer uma janela que permitisse ver algum trabalho no interior. Em todo o caso, esta ideia não foi assim tão original, se tiveremos em conta que, já em 1958 Yves Klein havia realizado uma exposição em Paris com o título “Vazio”, em que o espaço estava literalmente vazio, pre-tendendo expressar um “estado pictórico invisível” que estaria presente através da radiação.

Todavia, este exagero na di-mensão concetual sendo rejei-tado o objeto artístico concreto, tornaria a arte fria e apenas teó-

rica, sem produção, sem beleza e, em última estância, sem arte (Ferrari, 2001). No mesmo sen-tido, o próprio concetualista Mel Bochner (1970) considerava que a obsessão pela desmaterializa-ção não tinha sentido, pois ne-nhum pensamento pode existir sem um suporte que o sustente. A partir de 1965, este artista co-meçou a realizar quadros mono-cromáticos em tons de cinzen-to. As designações para este tipo de pintura foram várias, “silent painting”, “essential painting”, “opaque painting” ou “funda-mental painting”, mas todas elas traduzindo a intenção clara de expressar o essencial na pin-tura. Noutros trabalhos, Mel Bo-chner utilizou outros materiais como suporte, nomeadamente pequenas pedras para ilustrar um raciocínio matemático, em “Triangular and square num-bers” (1971).

No seu desenvolvimento mais recente, a perspetiva concetual tem continuado a acentuar a importância das ideias, mas com um suporte material ou plástico. Os trabalhos de González-Torres, a que já fizemos referência, são disso um exemplo, mostrando que a materialização das ideias é que permite a força ou o impac-to destas, pelo que as ideias, só

por si, não podem ser considera-das arte. Embora consideremos fundamental a criatividade na arte, esta requer uma materiali-zação para poder ser inserida nas artes plásticas. Aliás, a dimensão do concreto e do material na arte já havia sido defendida por Pi-casso, da seguinte forma: “Não existe nenhuma arte abstracta. Tem que se começar sempre com algo. Depois podem afas-tar-se todos os vestígios do real. Então não existe qualquer peri-go, pois a ideia da coisa deixou entretanto um sinal indelével” (cit. em Walther, 2006).

De acordo com Godfrey (1998), a arte concetual não é um estilo, nem pode ser limi-tada a um período de tempo. Conforme este autor chega a afirmar, “conceptual art is not an historical style, but an ingrai-ned habit of interrogation. (…) Conceptual art is not about for-ms or materials, but about ideas and meanings”. Neste sentido, a arte pode ser entendida como uma constante atitude de inter-rogação, uma busca do essen-cial e uma tentativa de expres-sar ideias, partilhando-as com os outros através da produção artística realizada, podendo ser utilizados os meios considera-dos necessários ou adequados pelo artista neste processo de realização criativa.

Atualmente, em geral, os ar-tistas procuram conciliar a com-ponente ideia e intenção com a respetiva materialização. Neste sentido, acentuam a relevância da ideia ou do conceito que lhes levou ao objeto produzido. Por exemplo, Joana Vasconce-los afirmou, em 2011: “eu não parto do objeto; eu parto duma ideia e depois tento encontrar o objecto certo para expressá-la, dar-lhe uma dimensão física ou material”.

Este processo de materializa-ção das ideias em muitos artis-tas contemporâneos permite enquadrar várias produções artísticas difíceis de compreen-der por muitos daqueles que se interessam por arte enquanto espetadores.

‘Cinderela’, Joana Vasconcelos, 2007

fotos: d.r.

‘A Noiva’, Joana Vasconcelos (2001-2005)

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“FACE A FACE”Até 7 FEV | Galeria de Arte da Praça do Mar- QuarteiraExposição de pintura de Clara Andrade. A artista é licenciada em Filosofia e desde sempre mostrou-se interessada nas questões da estética e da arte. É bi-bliotecária em Lagoa e vive em Portimão

“METROPOLIS”21 JAN | 21.00 | Biblioteca Municipal de LagosFilme alemão de 1927. Trata-se de uma parábola sobre as relações sociais numa cidade do futuro. Os privilegiados vivem nas alturas, enquanto a massa de trabalhadores oprimidos vive nos subterrâneos

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16.01.2015  7Cultura.Sul

Momento

A tempestade cai sobre a cidade

Foto de Ana Omelete

Património, Sociedade e mais Cultura, por favorUm olhar sobre o património

Será romantismo acreditar que

uma nova sociedade irá nascer, ou pelo menos uma nova forma de pensar a sociedade? E que esta so-ciedade inclua de uma vez por to-das a Humanidade no seu espectro total ou continuaremos a assistir à primazia do pensamento “a minha sociedade só vai até onde o meu quintal se acaba”?

A necessidade de novos paradig-mas não é inédita. Em 2001 ficámos atónitos com o que os nossos olhos incrédulos observavam na televisão. “Momento de viragem!”, “O mun-do nunca mais será o mesmo!”, cla-maram muitas vozes, e com razão acrescento eu. Mas agora, como em 2001, continuo a questionar-me:

quais os pressupostos que guiaram essa viragem? Quais os princípios de acção que a balizaram e quais os objectivos da tão necessária mudança do mundo? Terão esses pressupostos e objectivos sido al-cançados?

Entrados que estamos em 2015, celebra-se no presente ano (mais

precisamente em Outubro) o 10º aniversário sobre a assinatura da Convenção de Faro relativa ao va-lor do Património Cultural para a Sociedade. Em traços gerais este do-cumento visa um compromisso dos Estados signatários para a criação de políticas culturais mais transver-sais, nas quais as pessoas assumam

um papel central, constituindo-se o património cultural como elemen-to agregador e potenciador de um modelo de desenvolvimento eco-nómico baseado nos princípios do desenvolvimento sustentável e da biodiversidade cultural.

Nela se coloca pela primeira vez em letra (pré)-oficial o reconhe-

cimento que o Património Cul-tural é uma realidade dinâmica, que abrange tanto monumentos, como tradições ou inclusivamen-te criações contemporâneas. Mas este dinamismo estende-se igual-mente às diferentes interpretações que determinado elemento patri-monial pode ter, consoante a co-munidade que o observa. Assim, torna-se essencial dar a conhecer o Património Cultural nas suas di-ferentes concepções, promovendo o diálogo intercultural, a confiança e compreensão mútua tendo em vista a resolução e prevenção de confli-tos, facilitando deste modo a coe-xistência de diferentes pontos de vista numa sociedade que se exige pacífica.

Em jeito de conclusão, deixo-vos com uma última pergunta: onde é que temos falhado?

P.S.: Sou Charlie, sem margem para qualquer dúvida. Mas também sou todos aqueles inocentes que, diaria-mente e em todo o mundo, perdem ou vêm estropiada a sua vida por um motivo qualquer que eles próprios ignoram. E no final de contas, quem perde é a Humanidade…

A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, em 2005, na assinatura da Convenção de Faro

d.r.

Alexandre FerreiraLicenciado em PatrimónioCultural pela UAlg

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16.01.2015 8 Cultura.Sul

Veemente, lúcido, amar-go, culto, feroz, apaixona-do, discreto. Jorge de Sena tinha a susceptibilidade dos exigentes e dos afá-veis, honestamente afáveis, e a agressividade do muito amor (à vida, ao ensino, à crítica, à poesia). Avesso à mediocridade, estupidez, malignidade, incultura, es-pírito de compromisso e à cobardia moral, aquele que foi, sem dúvida, uma das personalidades maiores da intelectualidade portuguesa da 2.ª metade do séc. XX (e também uma das mais es-quecidas) assumia-se como “um homem visceralmente de exílio, que […] chegou à conclusão que se sente mal no mundo, embora ache que não há outro”, e que o ser humano deve ser sem-pre de todos os lugares que o acolhem.

Em Setembro de 1976 So-phia de Mello Breyner, ao comentar a poesia de Sena, sublinhava precisamente a “fidelidade integral à sua responsabilidade de estar no mundo” patente numa escrita que, através das suas fúrias e imprecações, acusava o mundo onde o reino devido a cada homem fora transformado em exí-lio. Numa outra carta, desta vez endereçada por Jorge de Sena, este pedia-lhe mesmo desculpa pela “muita e ines-capável amargura de quem ama a vida e a liberdade, e odeia totalmente o mundo em que lhe é dado viver”. Sobre a ligação ao chão lu-sitano, a síntese de Sena é lapidar: “Nós […] às vezes não merecemos ter nasci-do aonde nos fizeram nas-

cer”. Não obstante as sauda-des dos amigos, só o facto de pensar em ir a Lisboa causava-lhe dor de fígado, como se lê noutra epístola enviada do Brasil à amiga e confidente Sophia.

Daí que vomitasse, vio-lentamente, a miséria e de-gradação morais de certa “litero-cambada” intelectual da metrópole, não poupan-do nada nem ninguém em escritos que, nas suas pala-vras, “deixarão as orelhas da pátria a arder”. Perante estas tomadas de posição, Sophia chegaria mesmo a questio-ná-lo sobre se valeria a pena ele gastar tanta inteligência para explicar aos parvos que são parvos.

A 9 de Janeiro de 1968, numa correspondência com Sophia, Sena deixa-nos esta singular reflexão, plena da-quele “lúcido amargor” que tanto o identificava: “A im-pressão que cada vez mais tenho é a de que, de certa al-tura em diante, na vida, nós começamos a viver como Ri-lke dizia que os anjos se sen-tiam: sem saber se estamos entre vivos ou entre mortos, porque as pessoas desapa-recem, transformam-se em memória, e a gente vai fi-cando numa cada vez mais estranha irrealidade em que a maioria dos vivos não faz parte do nosso mundo que atravessam como espectros secundários, enquanto o espaço vazio se acumula de

espectros autênticos que precisamente são os que deixaram de existir”.

As inúmeras entrevistas (1958-1978) de Jorge de Sena que a Guimarães, em boa hora, reuniu num úni-co tomo sobre esta “espécie de exilado profissional” – como ele próprio se definia – constituem um precioso repositório sobre alguém que gostava de isolar-se dos medíocres, dessa “classe hu-mana que é necessariamen-te numerosa”, constatando terem sido sempre esses os que menos gostaram de si. Mostram-nos um intelectual

absolutamente seguro de si, que acreditava que ninguém podia destruí-lo a não ser ele mesmo e que não tinha complexos em proclamar publicamente o seu talen-to pelo simples facto de, na sua opinião, até certa altura ninguém o fazer se ele não o fizesse: “O problema não está em eu me considerar muito grande – mas sim em os outros serem, na maioria, tão pequenos”.

Havia em Sena uma en-trega violenta ao seu ofício, uma devotada excitação a que nunca faltava, porém, o sentimento de raiva pelo facto de o tempo não lhe ser bastante, nem a vida, para tudo o que desejava fazer. Era esse o teu tónus espi-ritual, feito de paixão e de revolta: de um lado, a cren-ça na ideia de que “nenhum mundo, que nada nem nin-guém / vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la” (poema “Carta a meus fi-lhos sobre os fuzilamentos de Goya”, de 1959), pois “não foi para morrer que nós nascemos”; do outro, a sensação de que lhe rou-baram, porventura irreme-diavelmente (?), uma parte da vida e do seu país – daí

que a arte se assuma, para si, como descontentamen-to ou como busca de um contentamento inatingível. Também por isso, Sena acei-ta que o poeta possa e deva ser político: “Lembro-me de que certa vez, lendo o Satí-ricon de Petrónio, fiquei sa-bendo que litterati eram os escravos fugidos e recaptu-rados, que passavam a ter gravado na testa o nome do senhor. A coisa serviu-me de lição”.

Nessas entrevistas, entre outros conteúdos, encon-tramos reflexões que radio-grafam sociologicamente a portugalidade, desde o mito da adaptabilidade lusitana (Sena rebate-o defendendo que o português é alguém fundamentalmente inadap-tável embora exteriormente seja profundamente adaptá-vel, não o sendo, porém, por dentro) até à eterna questão da salvação/perdição da pá-tria, como se lê na entrevista de Abril de 1968 concedida a Arnaldo Saraiva:

Eu costumo dizer, por piada, que Portugal não se salva en-quanto todos os portugueses não forem obrigados, por lei, a fazer um estágio de alguns anos no estrangeiro, mas proi-

bidos de se encontrarem uns com os outros. Esta proibição é da maior importância, para impedi-los de assarem colec-tivamente sardinhas, cozerem bacalhau com fervor nacio-nalista, ou trocarem, sofrega-mente, as últimas novidades do Chiado.

Os temas da produtivida-de e da participação cívica e educação política da po-pulação também não fogem à lucidez implacável e livre de Sena, que diz, preto no branco, nunca ter confiado nas chamadas classes altas portuguesas:

Uma das coisas mais curio-sas da vida portuguesa é que toda a gente, neste país, fez sempre a sua malandrice des-de pequenino, deu as suas fa-cadas no matrimónio, fez de tudo, mas a sua fachada pu-ritana tem que ser mantida. […] Depois, à socapa, faz-se aquilo que sabemos.

E recorda, em entrevista de 1978, a experiência plu-rissecular de um povo que se habituou a desconfiar de um governo que não é dele e que não existe nem traba-lha para ele:

O povo português desa-prendeu de acreditar que o trabalho possa ser uma coisa rentável para o país, porque está habituado a que o traba-lho seja sempre rentável para os patrões, ou rentável para o Governo que lhe leva o dinhei-ro em impostos. Penso que o português tem qualidades de trabalho muito críveis, quan-do quer trabalhar.

Resta-nos aquela “peque-nina luz bruxuleante” que Sena imortalizou num dos seus mais belos poemas, a qual teima em resistir no meio da escuridão, numa atitude exacta, firme e jus-ta, e que persiste em brilhar não na distância mas no meio de nós. Porque o que mais importa, para Jorge de Sena, é a alegria de estar vivo e a fiel dedicação a essa honra. Só assim, “em segre-do, saudosos, enlevados, / falareis de nós – de nós! – como de um sonho”.

Falareis de nós como de um sonhoSala de leitura

Estátua de Jorge de Sena no Parque dos Poetas em Oeiras

fotos: d.r.

Paulo PiresProgramador culturalno Município de [email protected]

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“CORPO RESTRITO”Até 15 FEV | Museu do Trajo - São BrásO fotógrafo Vasco Célio registou imagens em estú-dio, inéditas, dos objectos sobre modelos, jóias da fotografia, cujo objectivo principal passa por colocar em diálogo os novos conceitos da joalharia contem-porânea de autor

“POTES”Até 13 FEV | Junta de Freguesia de PechãoO tema da exposição surgiu da paixão de Maria do Ó (Maria Odete Fernandes da Fonseca Neves) por potes, decidindo passar para a tela os muitos potes que tem descoberto nas viagens que tem realizado pelo mundo

“Eu te pertenço [pátria] mas seres minha, não.”

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16.01.2015  9Cultura.Sul

Janeiro

Pedro [email protected]

O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N

Novo ano, vida igual…

Vi fogo desprender-se da terra fria, provei de vinho despejado da garrafa gelada, ouvi votos calorosos para os dias de um tempo que virá mais quente…

No entanto estou com a sensação, de que para o bem e para o mal, nada aparentemente mudou neste novo dia, que está no que pode ser o mais cruel dos meses, como dizia uma velha canção, mas poderia ser também o mais belo. Só que nunca saberemos ao certo qual a melo-dia que traz mais um ano.

Veste-se um casaco mais grosso. Faz-se com que o amor que resta se esprema do coração para a vida que passa e se passeie connosco ao encontro dos outros…

A poesia foi banida… ?Numa destas tardes frias visitei uma nova loja

de cultura em centro comercial, já desconfiando o que me esperava. Observada com algum cui-dado a parte dedicada aos livros, encontrei na secção de literatura lusófona: Fernando Pessoa, Herberto Helder, os algarvios António Aleixo e Joaquim Vairinhos, e poucos mais livros de poesia. Não sei se ao todo terei conseguido en-

contrar 12 autores diferentes em outros tan-tos títulos, nas diversas estantes entre tantas secções. Dirijo-me então à jovem funcionária (apenas uma trabalhadora, eu sei), e como um velho com pancada, repetindo a cena de há uns dias numa outra loja da mesma cadeia perguntei: «Menina, onde têm os livros de po-esia?». Esta, simpática, sorriso comprometido e cúmplice, encolheu os ombros: «Temos aqui alguns poucos livros, entre os outros», enquan-to a outra rapariga quis à força que eu lhe dis-sesse que livro pretendia, para o encomendar. Mas eu queria era ver os livros, tocar, cheirar, e posso encomendar mesmo a partir de casa, não é? É a crise no negócio da cultura, eu sei…

A laranja

Sabes que sempre te escrevo na poesia da es-pera. Focado na observação de um céu de mais um fim de tarde neste inverno do nosso descon-tentamento, que belo título para um livro. Mas também já não sei se és tu que esperas. E con-descendo, desde que tenha uma camera, um caderno e uma canção para ouvir, daquelas que jamais esquecerei, e que sempre ajudam nas esperas.

Não olhes para a caixa postal desconfiando do carteiro. Não esperes a carta que nunca virá. Recolhe as laranjas que apodrecem no chão. Não esperes a chuva que não sabes quando virá. Liga a mangueira e lava o chão.

Mas se isso não te satisfaz agarra num papel e escreve já a resposta, sobre o muro de cal ex-posto ao sol, enquanto descascas uma laranja da árvore antes que caiam todas por terra...

Alma

A editora 4águas lança mais um livrinho, o sétimo da colecção de contos OndaCurta. ‘Alma’ de Pedro Jubilot terá apresentações a 30 e 31 de Janeiro em Tavira e Olhão, res-pectivamente, na Casa Álvaro de Campos e na Galeria Sul, Sol e Sal. Aqui fica um peque-no excerto, em pré-publicação, desta ficção baseada numa personagem histórica da vila de Olhão, o sapateiro anarquista Bartolomeu Constantino, quando passam a 11 de Janeiro, 99 anos sobre a sua morte.

« (…) A partir daqui as ruas começam a es-treitar-se, a fechar-se a esse mundo novo cres-cente, abrindo-se a toda uma nova dimensão indefinida, mesmo para nós habituados às coi-sas da cidade grande. Embrenhamo-nos numa labiríntica rede de ruas e travessas, becos e pequenos largos. De chão agora mais sujo, em piso irregular. Onde pairam criaturas mais ru-des, toscas e despudoradas. Logo ali um homem tombado no chão, dormindo o excesso de álcool. Cães escanzelados vadiam em busca de restos de comida. Uma mulher de aspecto pouco saudá-vel imitando mal uma pose lasciva convida-nos a entrar numa casa. Duma outra porta aberta ouvimos o entoar de um canto. Não é fado como o de Lisboa, ainda que o faça lembrar. Soa es-tranho, áspero mas quente, talvez porque tem laivos musicais de flamenco e tonalidades vocais de cante berbere. Já noutra casa logo a seguir, fecham-se os postigos com força, à nossa passa-gem. Crianças esfarrapadas correm desunhadas escapulindo-se assim que dobram a próxima es-quina. Reparamos então num vulto que passa ao fim da rua envolto por um manto negro que lhe oculta a cabeça e a face.

- Viste? Trajo misterioso e…atraente? Mas aquilo não é proibido?

- Acho que sim. Chama-se bioco. Mas concen-tra-te ao que viemos. Não fiques para aí a cismar nisso agora.

- Olha! Lá está o largo. E a taberna da velha.

Portas verdes, serradura no chão, pingos por todo o lado, pipas, bancos de madeira já gasta expondo pregos ferrugentos. O típico balcão de pedra. Gatos que entram e saem entre um sono e outro.

- Tudo como descrito lá por eles. Pelo menos até agora.

Finalmente estacamos o passo, agora que já nos supomos à porta da pequena oficina do sa-pateiro, que outrora terá sido castanha, e está já, como tantas outras das que encontrámos pelo caminho, a precisar de mantença».

O Sangue das Flores

É o nome do livro publicado pela editora Ar-tefacto, em outubro de 2014, da autora algar-via Rute Castro (Faro, 1982), que em 2012 foi finalista na competição Fnac Novos Talentos de Literatura com o conto “Sobre os passos que matam”. Este é um dos seus poemas:

32.

e tu aína casa que permanece com as suas dores de

doença na construção,a casa espreita a saudade e guincha o fresco

das árvores na companhiado esquecimento,agrego os sentidos, agrego tudo e junto a

confrontos dessa vozcomigo, e afinal o frente a frente dá-se des-

pido,e afinal não nos deixam sem que nos caia o

paraíso, que se desmanche,e afinal ganhar é esse corte a meio.

fotos: d.r.

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“LOS NEGROS: AMOR E MEDO”25 JAN | 17h30 | Academia de Música de TaviraProjecto inclui a interpretação da actriz, performer e cantora Sara Ribeiro, a guitarra e percussão de Tiago Albuquerque, o piano e a composição de Luís Con-ceição, bem como os poemas de Álvaro de Campos

“O ESPÍRITO DE UM PAÍS”24 JAN | 21.30 | Teatro das Figuras - FaroRodrigo Leão regressa à capital algarvia para apre-sentar o espectáculo que deu na escadaria do Palácio de São Bento por ocasião da homenagem aos 40 anos do 25 de Abril

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16.01.2015 10 Cultura.Sul

Cultura imaterial: da investigação a património da humanidade

Espaço ao Património

O Museu Municipal de Tavi-ra (MMT) surgiu em finais de 2001, como resposta à vonta-de da autarquia e também de sectores da população mani-festada ainda na primeira me-tade do século XX. Integrou desde o seu início um progra-ma de investigação, valoriza-ção e divulgação da história de Tavira e da região, a par do acesso à actualidade das artes contemporâneas portuguesas e internacionais.

A primeira fase passou pela reorganização de espaços e dos recursos humanos, trata-mento de colecções, a par da concretização de um vasto programa (mais de 50 expo-sições realizadas) que incluiu algumas relevantes figuras e obras das artes portuguesas e internacionais como Anto-ni Tapiés, Luís Gordillo, Júlio Pomar, Gerard Castello Lopes, Vieira da Silva, Cabrita Reis, Joana Vasconcelos, Angelo de Sousa, Alberto Carneiro, Costa Pinheiro, René Bertholo, entre outros e também das princi-pais colecções de arte portu-guesa, Fundação Gulbenkian, Culturgest, EDP, Vieira da Sil-va/Arpad Szenes, Berardo (em 2003 sobre o surrealismo in-ternacional com originais de Picasso, Miró, Dali, Duchamp, Magritte,…). Foram também apresentados artistas emer-gentes ou menos conhecidos na região mas com universos artísticos personalizados.

Foi desenvolvido o conceito de «museu de território», po-linucleado, refuncionalizan-do diversos edifícios, como o Palácio da Galeria, o Núcleo Islâmico (onde se encontra o

«Vaso de Tavira» atualmente cedido temporariamente ao Museu do Louvre), Núcleo de Cachopo (etnografia serra-na), Convento da Graça/Pou-sada (bairro almóada), Arraial Ferreira Neto/Hotel Albacora (pesca do atum), sobre o abas-tecimento de água a Tavira num edifício junto ao rio, no lagar de Santa Catarina sobre a produção do azeite…

Exposições de investigação sobre o território e a história social foram concretizadas, sempre acompanhadas pela edição de catálogos, casos de “Tavira, patrimónios do mar” (2008), “Cidade e mundos rurais – Tavira e as socieda-des agrárias“ (2010), “ A 1ª República em Tavira” (2010), “Fotografar” (2011), “Tavira Is-lâmica” (2012), “Dieta Medi-terrânica, património cultural milenar” (2013), “Memória e Futuro”(2013)…

O património cultural ima-terial, destacado pela UNESCO na Convenção de 2013, inte-grou os diversos programas do MMT.

Contudo, foi a escolha de Tavira como comunidade re-presentativa de Portugal na nova candidatura da «Dieta Mediterrânica» a Património Cultural Imaterial da Huma-nidade que concedeu maior visibilidade e reconhecimen-

to da relevância e actualidade da cultura imaterial na agri-cultura, alimentação, saúde, protecção das culturas e dos estilos de vida ancestrais. A candidatura dos 7 Estados, tecnicamente preparada em Tavira, foi aprovada por una-nimidade pela UNESCO em Baku no Azerbaijão a 4 de Dezembro de 2013, concreti-zando-se assim a segunda ins-crição do nosso País na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Huma-nidade e a primeira obtida pelo Algarve.

O MMT tem patente, desde Fevereiro de 2013, visitada por mais de 40 mil pessoas, uma exposição informativa e didáctica sobre a «dieta medi-terrânica» que acompanhou o antes e depois do processo de candidatura. Decorreram desde então atividades com-plementares, passeios de in-terpretação, oficinas de culi-nária tradicional, visitas de escolas e associações. O MMT participou em actividades da “Feira da Dieta Mediterrânica” que reuniu largas dezenas de milhares de pessoas.

Trata-se de um património internacionalmente reconhe-cido (UNESCO e OMS), de ele-vado valor simbólico e prático para a presente e as próximas gerações.

Trabalhar como “património vivo”

O MMT tem vindo a realizar ciclos de passeios e demonstra-ções sobre produções, saberes--fazeres e vivências sociais em torno da cozinha mediterrâ-nica. É um trabalho regulado pelas estações do ano com as comunidades que vivem quo-tidianamente este património. Engloba atividades de divulga-ção, dirigidas a todos e também “de interpretação patrimonial“ e inventário com as metodolo-gias da recolha antropológica e etnográfica. Estas atividades de investigação e inventário estão inseridas no Plano de Salvaguar-da aprovado pela UNESCO.

Todos os meses, desde Março de 2013 até ao momento, foi co-locada “a paisagem na panela”, percorrendo territórios, seguin-do a sazonalidade dos trabalhos agrícolas, as festividades cíclicas, descobrindo as comidas e parti-lhando a mesa.

Na Primavera foi-se ao cam-po conhecer as plantas silvestres alimentares, cozinhou-se a sopa de urtigas e os esparregados e desvendaram-se os segredos de como fazer um folar da Páscoa e construir os “maios”. Também se calçaram as botas para “ir à maré” mariscar e no caminho descobriram-se artes de pesca do polvo na Ria Formosa.

Ainda em tempo de flores, adoçaram-se as bocas com a doçaria feita com mel. As festas dos Santos Populares em Tavira tiveram oficinas sobre os enfei-tes de papel que habitualmente decoram as ruas da cidade.

No Verão foi a descoberta das plantas aromáticas e terapêuti-cas, dos rituais, ditos e fazeres característicos do período do solstício. Calcorreou-se o pomar de sequeiro algarvio, secaram-se e “estrelaram-se” figos, fez-se o pudim de alfarroba e várias con-servas de azeitonas.

No Outono, aprovisionou--se a despensa para os frios, provou-se o vinho novo, fez-se azeite e conviveu-se à volta da “tiborna”.

Inverno é tempo de resguar-do, de celebrar o Natal com co-midas e bebidas para “aquecer”. Vieram as primeiras sementei-ras e alguns dos manjares e petiscos da caça. E regressou a Primavera…

Para este trabalho o MMT contou com a disponibilida-de de muitas pessoas que par-tilharam o seu quotidiano e com aquelas que participam nas atividades, trazendo ou-tras experiências e práticas, dando conta da diversidade e criatividade, valorizando a atualidade deste “estilo de vida” milenar que nos é co-mum, a Dieta Mediterrânica.

Jorge QueirozDirector do Museu Municipalde Tavira (MMT)

Passeio dedicado à alfarroba no âmbito do ciclo de ‘Passeios e Comeres da Dieta Mediterrânica’

d.r.

Ficha Técnica:

Direcção:GORDAAssociação Sócio-Cultural

Editor:Ricardo Claro

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Raúl Grade Coelho• Missão Cultura:

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Tiragem:8.073 exemplares

Luísa RicardoAntropóloga, técnica superior do Museu Municipal de Tavira

Page 11: CULTURA.SUL 76 - 16 JAN 2015

16.01.2015  11Cultura.Sul

Contos recontadosDa minha biblioteca

Adriana NogueiraClassicistaProfessora da Univ. do [email protected]

Penso que muitos professo-res sentirão como eu: é sempre com muita alegria e orgulho que vemos antigos alunos a te-rem sucesso nas suas profissões e outras atividades em que se empenhem. Foi assim que me senti, quando soube que a mi-nha antiga aluna de Latim, Cidá-lia Ferreira Bicho, tinha ganho o Prémio Revelação - Literatura para a Infância e Juventude, da Associação Portuguesa de Escri-tores, e é sobre esse livro, que foi ilustrado por Patrícia Furtado, que hoje escrevo: As Três Fortu-nas do Lobo Lobão e outros contos tradicionais.

Cidália Bicho conhece acade-micamente muito bem os con-tos tradicionais, pois foi esse o tema do seu mestrado em Literatura Oral e Tradicional, porém, o seu interesse, com este livro, é poder passar a ou-tros (em primeiro lugar, ao seu filho Gonçalo) as histórias que lhe contaram em criança, que fizeram parte da sua formação. E como «quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto», este livro é a sua forma de contribuir para a tradição. Numa época em que muitos pais e avós, tantos destes jovens e ainda ativos pro-fissionalmente, não têm capaci-dade para continuar essa cadeia – que se esperaria inquebrável – de transmissão oral desse mate-rial, o aparecimento desta obra faz todo o sentido.

O livro tem quatro contos, todos eles passados no tempo em que os animais falavam, pro-tagonizados por um lobo ma-treiro e uma raposa vaidosa que vivem várias aventuras.

Como contar estas histórias, que eram tradicionalmente ou-vidas? Que tipo de linguagem escolher? Terá de haver uma moral evidente?

Consciente ou não destes de-safios, o livro de Cidália Bicho tem em conta estas preocupa-ções.

Língua e literatura

O modo como usamos a lín-gua proporciona diferentes re-sultados literários: por exemplo, às vezes, a colocação do adjetivo antes do nome gera um efeito grandioso, eleva a linguagem, torna-a mais literária, até por-que se afasta um pouco da ora-lidade e do seu uso quotidiano. E precisamos de um bocadinho mais de tempo para apreciar o que lemos ou ouvimos: «o seu esfomeado estômago» (p.12), «o verdejante prado» (p.14), «rijo e áspero calhau» (p.14).

O mesmo se passa com a esco-lha do vocabulário, que recupe-ra formas já menos usadas, mas que aumentam (ou recordam) o conhecimento de quem ouve ou lê, como bácoro por leitão, baraço por cordel ou zorra por raposa. Também faz uso de ver-bos como almejar, derrear, es-tropiar, nomes como pujança, adjetivos como ínfimo, sagaz ou fugaz, que enriquecem este universo encantado.

Mas não se pense, por estes

exemplos aqui apresentados, que o livro está pejado de pala-vras difíceis que dificultam a sua leitura. Nada disso. Destaquei apontamentos que se conjugam elegantemente com um discurso fluido, onde também se encon-tram formas que fazem ecoar os tempos da nossa infância.

«Enquanto o diaboesfrega um olho!»

Com o tempo, algumas expressões idiomáticas pas-saram a… enigmáticas, pela dificuldade que muitos fa-lantes têm em decifrá-las, em entender o seu contexto cultural. Também aqui temos algumas, que desenvolverão os recursos linguísticos das crianças. Expressões como «[pedir] com falinhas man-sas» (p.14), «enquanto o dia-bo esfrega um olho» (p.16), «[não haver] nem rei nem roque» (p.18) ou «[aproxi-mar-se] com pezinhos de lã» (p.27) podem dar origem a conversas entre pais e filhos e a descobertas conjuntas.

E o que dizer das onomato-peias? Além de animarem a leitura, incentivam a imagina-ção: se o galo faz «cocorococó»

e «cacaracacá» (p. 28), se uma ação violente a de surpresa faz «zás catrapaz» (p.14), como fará o mocho quando se afas-ta feliz? Ou os carneiros depois de enganarem o lobo? E com isto se pode passar uma tarde divertida.

«Vitória, vitória, acabou-se a história!»

Nas histórias que ouvíamos

das nossas mães, avós e tias, havia sempre algumas frases que nos ficavam no ouvido, normalmente porque tinham rima. Cidália Ferreira Bicho usa este recurso com grande intensidade, tornando melo-diosa a leitura das suas histó-rias.

Por vezes, a rima é evidente, estando os versos destacados no texto, como acontece com o primeiro conto, em que, de-

pois de perder a oportunida-de de comer, o lobo lamenta--se «Pobre lobo Lobão, feroz como um trovão,/Enganado e maltratado em vão!/ Nem tou-cinho, nem poldra, nem por-quinho, nem carneiro!/ Hoje, de comida só senti o cheiro!»

Outras vezes, aparece inter-namente, nas falas das per-sonagens: «não tenho vagar, tenho muito que anunciar» (p.30). E é a rimar que termi-nam os capítulos, rematan-do a aventura vivida: a rapo-sa Raposina lamenta-se: «Ai rabo rabão, por causa de ti ia perdendo um corpo tão são» e o Mocho Sabe-Tudo, quando se livra da morte, responde à zorra que se gabava antes de tempo, anunciando «Mocho comi!»: «Outro sim, mas não me comerás a mim».

No tempo em que os animais falavam…

Já nos esquecemos deste princípio, que apresentava animais muito parecidos com os humanos nos seus sentimentos e modos de agir. Nestes contos, em que todos os animais falam e, portanto, se aproximam muito de nós, podemos tirar lições de vida, mais ou menos moralizado-ras (se bem que não seja essa a intenção dos contos tradi-cionais), que ajudam a lidar com sentimentos, como a

frustração de não se conseguir o que se quer, ou a perceber que a inteligência dos outros, que mui-tas vezes subestima-mos, pode suplantar a nossa.

No final, apetece--nos mais. Espere-mos que a Cidália Bicho não demore muito a trazer-nos outros contos tra-dicionais.

Termino, adap-tando a última frase do livro: «Bendito e lou-vado está este

artigo acabado!»

Cidália Ferreira Bicho recebeu o Prémio Revelação

fotos: d.r.

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“PR´Ó DIABO KUS CARREGUE!”17 JAN | 21.30 | Auditório Municipal de OlhãoRevista à portuguesa, encenada por Natalina José e com um elenco onde, para além da própria, surgem nomes como Anita Guerreiro, Vítor Emanuel, Ana Paula Mota e Filipa Giovanni, que promete um fes-tival de gargalhadas

“FLORES POLACAS EM PORTUGAL”Até 14 FEV | Centro de Experimentação e Criação Artística de LouléExposição de artistas polacos que criam em Portugal e que pelas cores, visões, formas, memórias e sonhos, constituem um ramo de ‘Flores Polacas em Portugal’

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