cultura.sul 65 - 17 jan 2014

12
JANEIRO 2014 | n.º 65 www.issuu.com/postaldoalgarve Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO Sociedade civil aposta em renovar a memória: 40 anos do 25 de Abril p. 5 D.R. Grande ecrã: Eroticidades em Faro p. 3 Aqui há espectáulo: Lethes garante programação em Faro p. 4 Sala de leitura: Para acabar de vez com a cultura Letras e leituras: Diário de um idealista p. 8 D.R. D.R. D.R. p. 6 D.R. Mário Zambujal: O Diário Oculto de Nora Rute p. 11 D.R.

Upload: postal

Post on 28-Mar-2016

236 views

Category:

Documents


16 download

DESCRIPTION

• Veja o CULTURA.SUL DESTE MÊS• Sexta-feira (dia 17/1) nas bancas com o PÚBLICO e o POSTAL • Partilhe o seu caderno mensal de Cultura no Algarve • EM DESTAQUE: > EDITORIAL: Alvorada, por Ricardo Claro > ESPAÇO CRIA: Este ano é que é !, por Ana Lúcia Cruz > GRANDE ECRÃ: Eroticidades em Faro > AQUI HÁ ESPECTÁCULO: Lethes garante programação em Faro, por Ricardo Claro > LETRAS E LEITURAS: Diário de um idealista em tempos modernos, por Paulo Serra > MOMENTOS: Espectáculo Aéreo, por Vitor Correia > SALA DE LEITURA: Para acabar de vez com a cultura, por Paulo Pires > DA MINHA BIBLIOTECA: O Diário Oculto de Nora Rute, de Mário Zambujal

TRANSCRIPT

Page 1: CULTURA.SUL 65 - 17 JAN 2014

JANEIRO 2014 | n.º 65

www.issuu.com/postaldoalgarve

Mensalmente com o POSTALem conjuntocom o PÚBLICO

Sociedade civil aposta

em renovar a memória: 40 anos

do 25 de Abrilp. 5

d.r.

Grande ecrã:

Eroticidades em Faro

p. 3

Aqui háespectáulo:

Lethes garante programação em Faro

p. 4

Sala de leitura:

Para acabar de vez com a cultura

Letras e leituras:

Diário de um idealista

p. 8

d.r.

d.r.

d.r.

p. 6

d.r.

Mário Zambujal:O Diário Oculto

de Nora Rute p. 11

d.r.

Page 2: CULTURA.SUL 65 - 17 JAN 2014

17.01.2014 2 Cultura.Sul

Estamos na alvorada de 2014, deste ano que comemo-ra 40 sobre o 25 de Abril, neste que é o ano do ‘fim’ do resgate e do protectorado, dizem.

Dúvidas à parte sobre o final da troika, seja ela qual for a for-ma que assuma, este é decerto um novo ano que não fugirá às contenções orçamentais do nosso descontentamento e es-tas vão decerto fazer-se sentir na Cultura, ainda um parente pobre do investimento público nacional.

A resistir à incapacidade de reforçar verbas no sector es-tão os mesmos de sempre, os artistas, os programadores, os performers em geral, as com-panhias, os agentes culturais como um todo. Resistem cá - no Algarve - como o fazem por esse país fora e é à sua resiliên-cia que devemos a Cultura que ainda temos.

Na região temos à frente da Direcção Regional de Cultu-ra um novo rosto. Alexandra Gonçalves substituiu Dália Pau-lo e terá o nobre desafio de dar a este organismo desconcentrado do Estado uma cada vez maior visibilidade e intervenção no pa-norama cultural da região.

Dália Paulo assume entre-tanto um novo projecto, a direcção dos destinos da Cul-tura na Câmara de Loulé. Um lugar onde decerto terá mui-to para aproveitar do que está no terreno e muito para fazer no que está ainda por ajustar e criar.

Estes e outros actores do sector terão de se fazer valer de uma enorme capacidade inventiva e de todas as siner-gias imagináveis para resisti-rem a mais um ano de cortes e de curtas verbas.

Isto para assegurar que o pa-norama cultural regional não se deprime ainda mais do que está no momento. A exemplo disso, e ao qual importa resis-tir, a fraca programação das sa-las municipais de espectáculos em geral.

Não podemos deixar que os espaços municipais sejam deixados à voraz desertifica-ção, é que a Cultura também se faz ali e dessa não podemos jamais desistir.

AlvoradaFicha Técnica:

Direcção:GORDAAssociação Sócio-Cultural

Editor:Ricardo Claro

Paginação:Postal do Algarve

Responsáveis pelas secções:• O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N:

Pedro Jubilot• Espaço ALFA:

Raúl Grade Coelho• Espaço AGECAL:

Jorge Queiroz• Espaço CRIA:

Hugo Barros• Espaço Educação:

Direcção Regionalde Educação do Algarve

• Espaço Cultura:Direcção Regionalde Cultura do Algarve

• Grande ecrã:Cineclube de FaroCineclube de Tavira

• Juventude, artes e ideias: Jady Batista• Da minha biblioteca:

Adriana Nogueira• Momento:

Vítor Correia• Panorâmica:

Ricardo Claro• Património:

Isabel Soares• Sala de leitura:

Paulo Pires

Colaboradoresdesta edição:Ana Lúcia CruzElena MoránMauro RodriguesPaulo SerraRute Evaristo

Parceiros:Direcção Regional de Cul-tura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve

e-mail redacção:[email protected]

e-mail publicidade:[email protected]

on-line em: www.issuu.com/postaldoalgarve

Tiragem:8.168 exemplares

“Este ano, é que é!”

Um novo ciclo vai começar. E com este surgem, pelo menos no início, novas metas. Pensa-mos: “Este ano, é que é!”. Mas, infelizmente, muitas vezes “não é”! Seja pela (des)motivação, (in)disciplina, (in)disponibilidade... Independentemente das razões, a verdade é que muitas das nos-sas metas ficam pelo caminho. Quem diz metas, diz ideias. Quantas ideias de negócio fi-cam pelo caminho, sem mes-mo antes se tentar?! Penso que o truque está na quantidade de metas que estipulamos. Quantas mais tivermos, mais dispersos (desconcentrados) vamos estar, pois o esforço para as concreti-zar será muito maior e facilmen-te ficamos sem energia... para to-das! Por isso, reforço, o truque passa por diminuir o número de metas e sermos sinceros/re-alistas quanto aos passos e es-forço que temos de fazer para as alcançar. Esta reflexão é muito importante porque, à partida, numa fase ainda muito preco-

ce, permite identificar alguns dos obstáculos, mas acima de tudo, permite fazer-nos pensar como poderemos agir diante dos mesmos. Ou seja, criar um Plano de Emergência.

Para algumas pessoas, uma das metas para 2014 pode pas-sar por uma ideia de negócio, já algum tempo fechada na “ga-veta”. Essa gaveta está fechada

porque, cegos pelo medo e pela dúvida, não queremos deixar a melhor/pior ideia do mundo sair. Para fazer companhia à ideia, deixamos um “sabone-tezinho” e, por vezes, abrimos a gaveta para a ‘arejar’, o que nos dá a ilusão de estarmos a

tratar bem da ideia lá guarda-da, sentido simplesmente que ainda não é a altura ideal para a retirar da gaveta. Pensamos: “Este ano é que é!”. E, após meio ano: “Para o ano é que vai ser!”.

Enquanto a ideia estiver na gaveta, ela não passa disso mesmo, de uma ideia. Não é boa, porque não é testada! Mas também não é má porque... não

é testada. E quem diz testar, diz “melhorar”. Por vezes, sujeitar-mos as nossas ideias à opinião alheia pode ser doloroso, mas se encararmos como um pro-cesso de aprendizagem, a nossa ideia de negócio pode melhorar bastante.

Não querendo fazer publici-dade, mas fazendo, o CRIA lan-çou a nova edição do Concurso de Ideias. Mas não levem muito tempo, porque só aceitamos candidaturas até 17 de feverei-ro. Mas porque menciono o con-curso de ideias? Os concursos de ideias são bons por uma simples razão: criam dinâmicas de gru-po, entre participantes e espe-cialistas convidados, bastante enriquecedoras, que permitem melhorar a nossa ideia de negó-cio e aumentar a nossa rede de colaboração (parece que afinal são várias as razões).

Pela experiência de outras edições, muitos são os empre-endedores que avançam com as suas ideias de negócio, mas muitos mais os que ficam para trás. No entanto, segundo anti-gos participantes, cujos projetos não avançaram (independente-mente do motivo), o concurso de ideias representou um pro-cesso de aprendizagem que prevalece em várias situações do dia-a-dia.

Não me querendo alongar muito mais, termino por dizer que a aprendizagem é algo que deve estar sempre nos nossos vo-tos todos os anos. Por isso, quem não tem ideias de negócio, apos-te ou continue a apostar no seu processo de aprendizagem. Quem tem ideias de negócio, convido a participar neste con-curso de ideias, porque “Este ano, é que é!”.

365…

A sorte somos nós que a fa-zemos. A vida não muda se a nossa atitude for a mesma perante as situações. Como aquela dieta que promete-mos fazer no início de cada ano e acabamos por nunca a fazer. Falta-nos vontade e atitude! Três regras essen-cias para a vida e que deve-mos sempre ter em conta…

- Se não perguntarmos nunca saberemos a resposta.

- Se não formos atrás nun-

ca vamos ter!! - Se não dermos um passo

em frente nunca sairemos do lugar!!!

… e quem nunca repetiu esta frase no começo de um novo ano? Dizem que dá sor-te vestir uma cueca azul, co-mer doze passas, levantar o pé esquerdo do chão, brindar com champanhe, subir uma cadeira, pôr dinheiro no sa-pato, vestir dourado e beijar quem mais amamos à meia noite - não passam de meras superstições nas quais tenta-mos acreditar que resultem.

São 365 dias. 365 novas experiências. 365 maneiras de ver o mundo. 365 histó-rias para contar. 365 obstá-culos. 365 escolhas. É mais um ano… que não devemos desperdiçar a pensar - “se

eu tivesse feito de outra maneira?”…“se eu não tives-se dito aquilo?”.

Devemos arriscar mais. Aproveitar todas as opor-tunidades. Dizer a verdade. Chorar. Rir. Perdoar. Nunca, mas Nunca, devemo-nos ar-repender do que fizemos e

de tudo o que passamos. Por-que a vida é feita de escolhas. Certas ou erradas foram essas que nós escolhemos, que nos trouxeram o presente. Bom ou mau… é o nosso futuro. Não é mais que o resultado das atitudes tomadas agora e antes.

d.r.

d.r.

Ricardo [email protected]

Editorial Espaço CRIA

Ana Lúcia Cruz Gestora de Ciência e Tecnologia no CRIA - Divisão de Empreende-dorismo e Transferênciade Tecnologia da UAlg

Juventude, artes e ideias

Rute Evaristo

Page 3: CULTURA.SUL 65 - 17 JAN 2014

17.01.2014  3Cultura.Sul

Espaço AGECAL

A “Dieta Mediterrânica” foi inscrita na lista representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO a 4 de Dezembro de 2013, em Baku (Azerbaijão), precisamente no momento do 10º aniversário da mais jovem Convenção desta organização das Nações Unidas e no decorrer da 8ª Sessão do Comité Intergovernamental, com 116 Estados presentes.

Pela primeira vez um elemento da cultura algarvia foi reconhecido como Património da Humanidade pela UNESCO. Um espaço geocultural do sotavento algarvio, Tavira, foi escolhi-do para representar Portugal pela di-versidade dos patrimónios, produções claramente mediterrânicas e estilo de vida, presentes num território onde aportaram e se fixaram há milénios po-vos vindos de diferentes zonas do “mar entre as terras”, que deixaram marcas físicas e valores imateriais.

A componente diplomática da can-didatura foi assegurada pelo MNE/Comissão Nacional da Unesco, a coor-denação e acompanhamento da Co-missão Nacional pelo MAMAOT. Cou-be-me coordenar tecnicamente pela autarquia a candidatura de Portugal e, por necessidades do próprio processo,

também dos restantes Estados.Permitiu o estudo para construção

de sínteses fundamentadas, um proces-so preparatório exigente envolvendo sete países do Mediterrâneo Oriental, Central e Ocidental, de matriz católi-ca, ortodoxa e islâmica, cujo elemento unificador foi e é a “dieta”, no sentido grego de “daíata” ou estilo de vida.

Esta foi uma candidatura nova, com directivas operacionais e formulário diferentes do anterior, duplicando o esforço probatório, que incluía a par-ticipação das populações, declarações

de compromisso de 70 organizações públicas e privadas, documentação escrita, traduções, fotos e vídeo, con-ferências, exposição, a I Feira da DM,..Foi imperativo demonstrar na UNESCO que o elemento contínua vivo nas co-munidades, transmitido de geração em geração. A votação unânime e o reco-nhecimento da UNESCO da exempla-ridade da candidatura compensaram este trabalho.

A “Dieta Mediterrânica” é um mo-delo cultural, constituído por culturas de proximidade e partilha, vivências de

trabalho e festa, onde a mesa e os ali-mentos são centralidades na transmis-são de valores e saberes desenvolvidos durante mais de três mil anos.

Os excelentes padrões de saúde no Mediterrâneo confirmados pelo fisió-logo norte-americano Ancel Keys no estudo dos sete Estados realizado na década de 50 do século XX, não podem ser explicados apenas pelo modelo ali-mentar de excelência reconhecido pela Organização Mundial de Saúde.

O bem-estar das comunidades re-sulta do seu estilo de vida, valores de cooperação e entreajuda, estímulos positivos físicos e psicológicos, aliados ao consumo quotidiano de alimentos frescos, de acordo com a época do ano e produzidos localmente.

A inscrição na lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade, tem implicações jurídicas e reconhe-cimento planetário. O Algarve tem na “dieta mediterrânica” a grande opor-tunidade de (re)encontro com a sua identidade e cultura, de construir uma economia em sintonia com a região e a sua cultura. Desta fazem parte, territó-rio e paisagens culturais, a língua e as tradições orais, os mercados e as práti-cas produtivas ancestrais, sabedoria na

preparação e confeção dos alimentos, a arquitetura regional e festividades, as culturas de proximidade e partilha. A contemporaneidade pode e deve construir-se com a riqueza dos valores.

A UNESCO considera urgente a de-fesa das culturas locais como forma de preservação da sustentabilidade do planeta, a par da biodiversidade. Portugal, com quase mil anos de His-tória, possui uma riqueza produtiva e patrimonial, potencialmente ins-piradoras de um desenvolvimento humano e uma contemporaneidade personalizadas.

A cultura e o património, a educa-ção e a ciência, são bases do desenvol-vimento da Região e do País.

O Algarve tem agora a sua identida-de cultural reconhecida pelo mundo, a “dieta mediterrânica” um diamante por lapidar, com aplicações positivas em todas as áreas.

Jorge QueirozCoordenador Técnico

da Candidatura Transnacional – UNESCO.

Sociólogo. Membro da AGECAL -

Associação de Gestores Culturais do Algarve

Grande ecrã

Cineclube de TaviraProgramação: www.cineclubetavira.com281 971 546 | 965 209 198 | 934 485 [email protected]

SESSÕES REGULARESCine-Teatro António Pinheiro | 21.30 horas

23 JAN | BLANCANIEVES (BRANCA DE NEVE), Pablo Berger, Espanha/França/Bé-ligica, 2012, 104’, M/12

30 JAN | ANY DAY NOW (TALVEZ UM DIA), Travis Fine, EUA, 2012, 98’, M/16

Eroticidades em FaroEroticidades é o ciclo pro-

posto pelo Cineclube de Faro para os meses de Janeiro e Fe-vereiro e promete trazer até aos algarvios nomes grandes do cinema como Bernardo Bertolucci ou Roman Po-lanski.

Na calha estão, ainda, obras de Wong Kar Wai, com uma história de amor impossível em o Grande Mestre, de Alain Guiraudie, com O Desconheci-do do Lago a abordar a temá-tica queer e, já em Fevereiro, Interior. Leather Bar., de Ja-mes Franco e Travis Mathews, onde brilha Al Pacino.

O ciclo que começou com A Vida de Adèle, já exibido a 7 de Janeiro, reserva ainda espaço para a realizadora Sarah Pol-ley, que apresenta Histórias que Contamos, Grand Central, de Rebecca Zlotowski, e para Vénus de Vison, a encerrar, saí-do da arte de Roman Polanski.

A não perder as propostas do cineclube para estes dois meses de eroticidades e ainda

aquelas que estão reservadas com o filme francês do mês, que apresenta La Folle Histoire D’Amour, de Simon Eskenazy.

Pode-se ainda ver Olga Ro-

riz... A bailar na tela, um ci-clo que apresenta já dia 23 de Janeiro Olga Roriz - Cenas de Caça e que se prologará até Fevereiro.

Cena do filme O Desconhecido do Lago

d.r.

Jorge Queiroz

d.r.

Cineclube de Faro Programação: cineclubefaro.blogspot.pt

IPJ | 21.30 HORAS | ENTRADA PAGACICLO EROTICIDADES

21 JAN | O GRANDE MESTRE, Wong Kar Wai, EUA/China/Hong Kong, 2013, 113’, M/1228 JAN | O DESCONHECIDO DO LAGO, Alain Guiraudie, França, 2013, 97’, M/164 FEV | INTERIOR. LEATHER BAR., James Franco e Travis Mathews, EUA, 2013, 60’, M/16

SEDE | 21.30 HORAS | ENTRADA GRATUITACICLO OLGA RORIZ... A BAILAR NA TELA

23 JAN | OLGA RORIZ - CENAS DE CAÇA, Rui Simões, Portugal, 2000, 55’30 JAN | OLGA RORIZ - INTRODUÇÃO AO PRINCÍPIO DAS COISAS, Rui Simões, Por-tugal, 1994, 65’6 FEV I OLGA RORIZ - FINIS TERRA + CLOD HANDS, Rui Simões, Portugal, 2000, 65’

FILME FRANCÊS DO MÊS |BIBLIOTECA MUNICIPAL | 21.30 HORAS

31 JAN | LA FOLLE HISTOIRE D’AMOUR DE SIMON ESKENAZY, Jean-Jacques Zilber-mann, França, 2009

Algarve mediterrânico: património cultural da humanidade

Page 4: CULTURA.SUL 65 - 17 JAN 2014

17.01.2014 4 Cultura.Sul

Lethes garante programação em Faro

Quem conhece o trabalho de Luís Vicente, director da ACTA - A Companhia de Teatro do Algarve, sabe que o afinco e a dedicação se juntam na sua ac-tividade cultural com a perseve-rança e o saber fazer. É assim em palco como a encenar e, como não poderia deixar de ser, é as-sim enquanto programador e a prova está à vista.

Perante a míngua da actual programação do Teatro Muni-cipal de Faro, a sala maior da re-

gião, que depois de um começo fulgurante ao nível da progra-mação iniciado com a abertura do espaço em 2005, tem vindo a decair até ao quase deserto actual, o Teatro Lethes é hoje o espaço cultural de referência da capital de distrito.

O protocolo realizado com a Câmara da cidade, que deu as rédeas do Lethes à ACTA, está provado que foi uma boa opção e Luís Vicente tem dado e está a dar provas de grande dina-mismo e capacidade de colocar a sala num lugar de destaque mesmo a nível regional.

Para o primeiro trimestre des-te ano o Lethes apresenta uma programação diversificada, consistente e pensada para uma abrangência que seja um meio para garantir novos públicos.

Já amanhã, dia 18 de Janeiro, sobe ao palco As Cartas Ridículas do Sr. Fernando e os Suspiros Líri-cos da Menina Ofélia, uma dra-matização da correspondência entre Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz, numa encenação de Paulo Moreira.

1 de Fevereiro é a data mar-cada para o concerto de uma das grandes senhoras do fado e, depois de Amália, provavel-mente, a maior divulgadora in-ternacional da canção nacional, Mísia. Imperdível esta proposta

do Lethes, onde a artista apre-senta Delikatessen Café Concerto, o seu novo disco.

Ainda no fado, dia 9 de Fe-vereiro, é a vez de Cremilde 40 anos entrar na histórica sala de Faro, com a fadista filha de Alvor.

Por entre muitas outras pro-postas que incluem Jazz, Ópera e outras sonoridades, as tábuas do teatro farense acolhem o Tea-tro Meridional na apresentação de O Senhor Ibrahim e as Flores do

Corão, com Miguel Seabra.The After Life Drag Show abre

a programação de Março, dia 3, pela mão dos Las Folies, numa encenação de Vítor Henriques.

Para o dia 8 de Março está agendado o espectáculo São Francisco, O Bobo da Corte, de Dário Fo, numa interpretação de Mário Pirovano, com o pú-blico a poder escolher se quer assistir ao espectáculo em inglês ou em italiano.

ENTU e SIN-CERA levam à cena A Cidade Autoada, a 27 de Março, com Rui Cabrita a assi-nar a encenação do espectácu-lo. E a fechar o mês, lugar a Já Gastámos as Palavras, com di-recção de Victor Pontes, numa apresentação de ENTU e Teatro Universitário do Porto.

Mas o Lethes é mais do que a oferta de espectáculos, é a casa do serviço educativo da ACTA que ‘espalha cultura’ nas esco-las da região, é a sede da própria companhia teatral da região e conta ainda, neste arranque de 2014, com um workshop de expressão dramática com Má-rio Pirovano, aulas de expressão dramática e de dança.

Há um mundo de arte e cul-tura a não perder naquela que é, hoje, por excelência, a sala maior da cena cultural farense.

Ricardo Claro

O Lethes apresenta uma programação invejável

Teatro Municipal de Faro Programação: www.teatromunicipaldefaro.pt

17 JAN | Faro Tango Fest - workshop de tango argentino, preço: 25 € (bailarino individual); 35 € (par de bailarinos)nível 1: das 18.30 às 19.30 horas; nível 2: das 20 às 21 horas18 JAN | Faro Tango Fest - workshop de tango argentino, preço: 25 € (bailarino individual); 35 € (par de bailarinos)nível 1: das 15 às 16 horas; nível 2: das 16.30 às 17.30 horas18 JAN | Faro Tango Fest - Perfume de Tango (espectáculo), 21.30 horas, preço: 10 €

AMO - Auditório Municipal de Olhão Programação: www.cm-olhao.pt/auditorio

TEMPO - Teatro Municipal de PortimãoProgramação: www.teatromunicipaldeportimao.pt

17 e 18 JAN | Histórias à volta de nós, Black Box, 60 minutos, preço: escolas - entrada gratuita mediante marcação através da Oficina do Espectador | Famílias: 6 € (adultos), 4 € (crianças até aos 12 anos)24 JAN | Fado [em] Sinfonia (música), Grande Auditório, 21.30 horas, 60 minutos, preço: 10 €; 50% desconto: menores de 12, maiores 65, Cartão Jovem, sócios AML e funcionários da Câmara Municipal de Portimão24 e 25 JAN | Filminhos Infantis, Pequeno Auditório, 24 Janeiro, 10 horas (escolas) e 25 Janeiro, 16 horas (famílias), preço: escolas com entrada gratuita, restante público 3 €

Filmes em exibição: Tempo de Emagrecer; Um dia de sol; Corrida; Aleksander; As Aventuras de Míriam: Jogo das Escondidas; As novas espécies; Embrulhando o Sol; No fim do mundo.

Aqui há espectáculo

A Branca de Neve e os 7 Anões é um es-pectáculo destinado a toda a família e tem um cariz de improviso cómico e divertido! Queremos, cada vez mais, a interacção do público, graúdo e miúdo, que cada um se sinta parte integrante da história e que em cada representação surjam elementos no-

vos e surpreendentes. O espectáculo não se esgota em 50 minutos, podemos con-siderar que cada representação é apenas um acto e que assim como gostaríamos que acontecesse na nossa vida, pudéssemos mudar, retirar e compor uma nova história cheia de novas possibilidades.

Dest

aque 25 JAN | Branca de Neve e os Sete Anões, 16 horas, 50 minutos

d.r.

No mês em que o blog Portimão Cycle Chic e os estafetas da Bike Postal fazem dois anos de existência, realizam-se um conjunto de actividades ligadas à temática das bicicletas.Com o PTM Bike Weekend pretende ce-lebrar-se estes dois anos de actividades,

juntando toda a comunidade de ciclistas existente em Portimão, com o objectivo de chamar a atenção da população em geral para o tema da mobilidade urbana com bicicletas. No âmbito deste programa, o TEMPO exibe o documentário ‘Cycle Me Home’.

Dest

aque

17 JAN | Cycle Me Home (documentário), Pequeno Auditório, 21.30 horas, 50 minutos, preço: entrada livre

Segundo Pedro Abrunhosa, que apresenta «Contramão», “um disco é cada vez mais um livro, uma narrativa contínua de his-tórias desencontradas que se reencontram na música que escrevo, de personagens que acabam por ser comuns a muitos de nós.

Falo de mim através das vozes de outros e transponho-me para os outros usando a minha própria voz. Se se encontrarem co-migo neste trabalho, a minha tarefa estará cumprida e partirei para a estrada já com o próximo disco nas entranhas.”

Dest

aque 31 JAN | Pedro Abrunhosa & Comité Caviar (música), 21.30 horas, preço: 20 €

Cine-Teatro LouletanoProgramação: http://cineteatro.cm-loule.pt

África e Médio Oriente unem-se neste encon-tro entre o sudanês Wafir Sheik el-Din e o sí-rio Salah Sabbagh. Os seus intrincados ritmos e melodias são a base para o baile oriental de Erika La Turka, bailarina técnica e expressiva-mente virtuosa.Salawa faz um percurso repleto de rigor e sen-

sibilidade, transportando o público à sensu-alidade sonora que durante séculos inundou bazares, medinas e palácios do Mediterrâneo e Médio Oriente.Artistas: Wafir Sheik el-Din - alaúde árabe, nay, percussões e voz; Salah Sabbagh - darbouka, riq, daf; Erika La Turka - dança oriental

Dest

aque

25 JAN | Salawa - 14º Festival de Música al-Mutamid, 21.30 horas, preço: 10 €

Page 5: CULTURA.SUL 65 - 17 JAN 2014

17.01.2014  5Cultura.Sul

Quarenta anos de uma liberdade que não se pode deixar esquecer

Fernando de Sousa durante a sessão de arranque do projecto em Faro

joão brito

“PERFUME DE TANGO”18 JAN | 21.30 | Teatro das Figuras - Faro Espectáculo relata o nascimento e desenvolvimen-to de uma música que passou fronteiras, passan-do de um fenómeno local a uma profusa difusão internacional

“DESENHOS DE RAFAEL SILVA”Até 19 JAN | Ria Shopping – OlhãoO autor, de apenas 21 anos e natural de Olhão, os-tenta grande talento para desenhar, pintar e esbo-çar, desde criança, sendo, inclusivamente, o melhor aluno de educação visual, durante vários anosAg

endar

Panorâmica

Há já 40 anos, é verdade. O 25 de Abril foi há 40 anos e a idade da revolução celebra-se este ano por todo o país quan-do se inicia mais uma década sobre um dos mais relevantes momentos históricos do país.

O esquecimento, a bana-lização, a perda da memó-ria colectiva e os abusos que possam ser cometidos por via destas realidades contra aqueles que são e foram os ideais de Abril, são uma ame-aça que importa ter em conta e que cumpre afastar do es-pectro do futuro de Portugal como condição sem a qual o que nos está reservado será sempre deficitário em liber-dade e em democracia.

A liberdade conquistada com a Revolução dos Cra-vos, a democracia que vin-gou no país com a queda do antigo regime são realidades evolutivas, não são dogmas, mas antes ideais e conquis-tas abertas e, nessa medida, a análise do seu substracto deve ser uma constante como único meio de defesa da sua perenidade.

A Associação Portuguesa de Criatividade e Inovação (APGICO), em parceria com a Associação 25 de Abril (A25A) e a Confederação Portuguesa das Colectivida-des de Cultura, Recreio e Des-porto (CPCCRD), propõe-se trazer as comemorações dos 40 anos sobre a data da re-volução para a ordem do dia regional e para tanto desen-volveu no passado domingo em Faro um Fórum com o objectivo de pensar Abril e as formas como a nível re-gional a sociedade civil pode celebrar a efeméride e simul-taneamente potenciar o ide-ário de Abril como realidade actual de todos os algarvios.

Quantos mais formos melhor, por um 25 Abril cada vez mais colectivo

O projecto desenvolvido sob uma ideia de intervenção cívi-

ca do professor universitário Fernando Cardoso de Sousa, docente da Universidade do Algarve e líder da APGICO, tem na presidência o conheci-do actor Luís Vicente e preten-de “levar a cabo acções colecti-vas que influenciem o discurso e a prática política, no sentido da reposição dos valores origi-nais do 25 de Abril”.

Aberta a todos os que esti-verem interessados em partici-par, de cidadãos individuais a entidades públicas e privadas das mais diversas, a aposta da iniciativa está num conjugar de esforços para que o 25 de Abril não passe ao lado dos portugueses e muito em par-ticular daqueles que têm uma menor intervenção política e cívica e, também, daqueles que pela idade possam estar mais longe do conhecimento dos ideais de Abril.

As manifestações a de-senvolver abrangem to-dos os campos possí-veis da intervenção pública, das artes de palco e de rua até à literatura, da pintura à in-

tervenção cívica, da comu-nicação social à educação só para enumerar algumas áreas e o POSTAL e o CULTURA.SUL não quiseram deixar de dar apoio a esta iniciativa.

O projecto na prática

Reunidas nos Artistas em Faro, no passado domingo, cerca de 70 pessoas divididas por grupos de trabalho come-çaram já a desenvolver planos de acção para iniciativas efecti-vas a pôr em prática até 16 de Março deste ano e que serão uma realidade no terreno du-rante 2014 para comemorar os 40 anos do 25 de Abril.

Definidos os projectos base, a que se podem juntar ou-tros que venham a ser pro-

postos à associação e que po-derão contar com a ajuda de todos aqueles que se quiserem

unir a este movimento, as equipas determinaram o que fazer e os prazos de execução das iniciativas propostas.

Intervenção ao nível das es-colas, eventos culturais, teatro e música, intervenção ao nível das redes sociais e novas tec-nologias, acções de rua e semi-nários, são apenas exemplos do muito que este projecto promete e que está já em ple-na execução.

Novos e menos novos, pes-soas que viveram o 25 de Abril e aqueles que nasce-ram já muito depois da re-volução, uniram-se assim em prol de dizer a todos que o 25 de Abril está vivo, que as ideias de liberdade e demo-cracia estão pujantes e que a sua defesa será feita por todos intransigentemente.

Trazer para a rua as conquistas de Abril

O desiderato final é o de

trazer para a rua e levar até todos quantos possível a mensagem de Abril. Não a do “onde estava você no 25 de Abril?” como condição para se ser titular e beneficiário do que com a revolução se con-quistou, mas a mensagem de um Abril nosso e colectivo sem supostos guardiões mais ou menos arregimentados.

Um 25 de Abril que se quer vivido como fenómeno histórico, como realidade socio-antropológica, como memória, mas simultanea-mente como presente e fu-turo dos portugueses e como conceito aberto à influência dos tempos e ao progresso da realidade.

O mote está lançado para uma celebração em cheio dos 40 anos da revolução e aber-to a que todos tragam o seu contributo para esta mostra cívica da força que Abril teve, tem e terá.

Ricardo Claro

d.r.

Page 6: CULTURA.SUL 65 - 17 JAN 2014

17.01.2014 6 Cultura.Sul

“RAÍZES”Até 7 FEV | EMARP - Empresa Municipal de Águas e Resíduos de PortimãoEduardo Silva expõe esculturas em madeira. Nos seus tempos livres gosta de fazer passeios pela natureza onde recolhe raízes mortas com as quais desenvolve os seus trabalhos

“CONTRASTES”Até 8 FEV | Galeria Municipal de AlbufeiraExposição de pintura, escultura, fotografia, instala-ção, desenho e ilustração, de um grupo de jovens ar-tistas recém-licenciados da Universidade do Algarve, no campo das Artes VisuaisAg

endar

Diário de um idealista em tempos modernos

Ao fechar um ano e abrir outro ciclo, David Machado parece ser a melhor escolha literária para de-monstrar o estado da nossa condi-ção. Índice Médio de Felicidade é o terceiro romance deste jovem autor. O Fabuloso Teatro do Gigante (2006) marca a sua estreia, podendo ser lido como uma parábola para adul-tos, em que o fantástico aí vivido e descrito prende-se com toda uma localidade que passa a representar uma peça maior que a própria vida, montando uma farsa imensa como forma de manter a sanidade mental de um homenzarrão chamado Ga-briel (também oriundo da América do Sul, como Gabriel García Már-quez, o chamado mestre do realis-mo mágico?). Este registo do real irá evoluir para um realismo histó-rico e social mais convencional em Deixem Falar as Pedras (2011). É no seu último romance - depois de ter escrito contos e obras infantis pelo meio - que David Machado procura retratar a realidade portuguesa atu-al. Os próprios nomes são similares, além de a história ser narrada na primeira pessoa, invocando-se logo na primeira linha um «tu», o amigo Almodôvar que se encontra preso, mas como o próprio autor alerta nas entrevistas que deu acerca do ro-mance, qualquer semelhança entre a ficção e a sua realidade são mera coincidência. Isto porque o próprio autor viveu períodos em que esteve desempregado ou se ausentou do país para trabalhar e amealhar para poder continuar a escrever.

Esta voz do narratário, transcrita em itálico no decurso do livro, ajuda a traçar o plano do romance que, em vez de parecer um monólogo ou um diário, surge assim como um diálogo ou discussão a duas vozes entre Da-niel e o amigo preso por assaltar uma estação de serviço: «O Xavier saiu de casa?/ Não, Almodôvar, ainda não é a tua vez de falar. Além disso, este rela-to terá a ordem que eu ditar.» (p. 14).

Se o livro é apresentado como um

«romance admirável e extremamen-te atual sobre um otimista que luta até ao fim pela sua vida», afigura-se mais correto designar Daniel como um idealista que, mesmo sabendo que as suas escolhas e ações, movidas por princípios éticos fortes como im-pulsos naturais, o podem prejudicar, continua a reger-se por uma ética em que a sua vida só ganha sentido face à felicidade dos que o rodeiam - os filhos, a mulher, os amigos e sua res-petiva família. Ou seja, o seu otimis-mo, por vezes, sucumbe mas ainda assim as suas decisões são sempre tomadas em prol do bem maior que são os outros, e o seu próprio índice de felicidade só pode ser medido em função do próprio bem-estar daque-les que ama.

A confirmar a maturidade de David Machado na escrita surge também o uso da gíria e do calão. Ainda que haja leitores mais sensíveis ao uso do “palavrão”, este afigura-se ade-quado na medida em que configura um discurso escatológico, exprimin-do desabafo e injúria, de revolta con-tra o mundo e incompreensão face ao que o rodeia. O autor ao fazer uso desta marca linguística emblemática e de alguma estranheza nas situações narradas, desenha um cenário mais urbano que é, afinal, representativo do «País».

Sem querer adiantar muito da in-triga deste livro simples, que se lê praticamente numa tarde, basta-me referir algumas das questões que

considero centrais. A intriga segue o episódio corrente do estado da nação, mediante as peripécias deste herói moderno, que fica desempre-gado. Vive longe da família desde que a mulher se viu forçada a mudar para perto dos pais, em Viana, tem dois melhores amigos que surgem como exemplos a rejeitar, entrega a casa ao banco, passa a viver no carro, mesmo quando este é danificado e

circula com uma janela partida e um banco traseiro queimado, onde ele antes dormia, até, por fim, passar a viver clandestinamente no seu antigo trabalho. Local onde a vida lhe sor-ria até ao momento em que a crise apertara e o patrão se vira obrigado a fechar o negócio da agência de via-gens, ainda que, curiosamente, nunca tenha tido de alugar o espaço.

O autor leva-nos a refletir sobre os valores em crise do mundo pós-mo-derno (materialismo, consumismo) e da actual sociedade (pós-industrial, globalizadora), pois apesar dos avan-ços técnicos e culturais, o progresso histórico não se traduz num progres-so moral. Por isso é que os (pré)ado-lescentes retratados na ficção de Da-vid Machado parecem ter relevância e sintomatizar isso mesmo, pois Flor, Vasco e Mateus alegorizam, cada um à sua maneira, o abismo em que, de alguma forma, nos deixámos afun-dar. Exemplo disso é quando um grupo de jovens rodeiam um pedinte, humilhando-o ao urinar-lhe em cima, à vez, enquanto um deles vai mesmo ao ponto de assumir publicamente esse ato vergonhoso, filmarndo-o e publicando-o online. Menos gritante mas igualmente preocupantes são os episódios em que se descreve as bir-ras do filho de Daniel, sempre que não tem um qualquer gadget com que se entreter, ou quando a preco-

ce e inteligente Flor decide deixar de se aplicar na escola, pois sabe que isso não lhe trará qualquer retorno face à taxa crescente de desemprego. Uma passagem emblemática a con-siderar é esta: «O País está a afundar--se depressa, estamos todos a tentar manter-nos à tona, uma luta diária, injusta para muitos. Mas tu apanhas--te com trezentos euros, que nem se-quer são teus, e a primeira coisa que fazes é comprar um telemóvel. É por causa de tipos como tu que o mun-do chegou a este momento tão tris-te da história. Sabes quanto tempo algumas pessoas conseguem viver com trezentos euros? Meses.» (pp. 154-155).

A ética assenta na responsabiliza-ção do indivíduo pelo seu progres-so, vivendo consciente e respon-savelmente, como Daniel procura fazer, pois mesmo quando invade propriedade alheia, ao procurar um canto para dormir, sente culpa e an-siedade permanente, enquanto ten-ta manter-se à tona face à situação em que se deixou enredar. Já os seus amigos vivem em prisões distintas: Almodôvar encontra-se fisicamente cativo numa prisão, e Xavier, embora tenha uma melhor situação econó-mica, parece ser um contrabandista, voluntariamente preso em casa há anos. Inclusivamente, para sair em viagem com Daniel (quando partem numa viagem que abre um horizon-te de esperança no romance), Xavier toma medicação para se autoindu-zir num sono profundo que o ajude a suportar a viagem, pois o mundo exterior não só pouco lhe interessa como, de facto, parece amedrontá-lo.

Daniel é um optimista sim, que ti-nha um «Plano» da vida, um diário do futuro, como aliás os próprios livros de autoajuda sugerem: tracemos um esquema e usemos de visualização criativa para que a matriz do mundo se adeque à nossa pré-visão da vida. Até que Daniel percebeu outra coisa com o tempo: «Eu ainda não tinha quarenta anos e o meu mundo es-tava parado.» (p. 50). Compreendeu, como estamos todos a perceber, que o melhor é deixar espaço para o im-previsto pois quanto mais recetivos estivermos à mudança menos bru-tal parecerá a vida, mais fácil será a adaptação aos desígnios que nos são apresentados e que estavam comple-tamente fora do plano, ainda que nos possam levar a caminhos nunca an-tes antecipados.

Paulo SerraInvestigador da UAlgassociado ao CLEPUL

Letras e Leituras

d.r.

O escritor David Machado

Último romance procura retatar a realidade atual do país

d.r.

Page 7: CULTURA.SUL 65 - 17 JAN 2014

17.01.2014  7Cultura.Sul

Momento

Espectáculo Aéreo

Foto de Vítor Correia

Ser modelo requer dedicação e movimentaçãoMauro RodriguesSócio da ALFA

Numa altura em que existe tan-ta diversidade nos media, é impor-tante para os novos talentos mo-vimentarem-se e evitar a espera, isso, claro, requer dedicação e uma boa gestão da sua imagem. Pesso-as bonitas como você existem às centenas, não se deixe iludir pela sua beleza porque ironicamente a procura por talentos de todas as idades e feitios é uma realidade, o mercado neste momento é extre-mamente diversificado e existem oportunidades em muitos locais, é preciso é saber apresentar-se nas agências certas, não se restrinja à passerelle que é muito exigen-te, porque requere características muito específicas dos talentos. Mas como começar? Em primeiro lugar, terá de começar por fazer ses-sões fotográficas e tentar perceber se tem talento visual. A imagem é uma questão de servir um propó-sito para uma história, seja ela na moda ou no cinema. No início terá de partilhar muito a sua imagem até que comece a ter algum retorno financeiro, são as marcas que lhe

vão pagar pelos trabalhos, não pen-se que será o núcleo criativo, pode acontecer mas poderá ser num es-tágio mais avançado. Trabalhe por objetivos e tenha prazos para os concretizar. Diversifique os temas do seu portefólio e arranje um site para os mostrar, mantenha-o atua-lizado e com informação relevante. Tenha a noção que vai ser muitas vezes rejeitado ou ignorado, mas seja perseverante, paciente e nun-ca desista. Mantenha um contacto regular com todas as agências, com novos trabalhos e procure sempre alternativas, não fique à espera das oportunidades, faça-as acontecer. Envolva-se em projetos criativos de todo o género, quem sabe, uma oportunidade pode estar ao vol-tar da esquina. Seja conversador, interessado, pontual, responsável e educado, estas qualidades geral-mente são relembradas e aprecia-das. As agências de modelos nunca pedem dinheiro antecipadamente, por isso a sua inscrição será sem-pre gratuita. Evite os contratos de exclusividade no início, diversifi-que-se o mais possível. Agora deite mãos à obra e coloque esse talento em movimento.

Espaço ALFA

d.r.

Page 8: CULTURA.SUL 65 - 17 JAN 2014

17.01.2014 8 Cultura.Sul

Para acabar de vez com a cultura

Paisagens do Museu do Prado numa visita rara a Lisboa

É a primeira vez que parte da co-lecção do Museu do Prado, de Ma-drid, está exposta em Portugal e para acolher o valioso espólio em-prestado ao país o Museu Nacional de Arte Antiga, a coroa dos museus nacionais situado em Lisboa, abriu portas no início de Dezembro do ano passado à exposição “Rubens, Brueghel, Lorrain. A Paisagem Nór-dica do Museu do Prado”.

Com honras de presença do primeiro-ministro do país, a ex-posição que estará patente até ao fim de Março é absolutamente im-perdível e mostra 57 pinturas de grandes mestres do século XVII do acervo do museu da capital espa-nhola, um dos mais importantes do mundo.

Obras primas

São verdadeiras obras primas, divididas por nove núcleos, que apresentam paisagens flamengas e holandesas retratadas por alguns dos mais importantes mestres da pintura de paisagem.

A maioria das telas provém, re-fere o Museu Nacional de Arte An-tiga em nota de imprensa, das Co-lecções Reais Espanholas.

A paisagem ganhou relevo defi-nitivo enquanto género com o fim da tendência de pintar temáticas como os feitos heróicos de carác-ter histórico, um processo que se desenvolveu durante a segunda metade do século XVI e todo o sé-culo XVII.

Os artistas do norte da Europa, sobretudo dos Países Baixos, vol-

tam-se para o mundano e no seu âmbito para a paisagem como base para as suas obras e deste percurso nasce a autonomia do género.

Nove núcleos dão nota das ti-pologias da paisagem da Flandres e Holanda, desde “A Montanha: encruzilhada de caminhos”, “O Bosque como Cenário: a vida no bosque, o bosque bíblico e a flo-resta encantada, encontro de via-jantes”, passando por “Rubens e

a Paisagem”, “A Vida no Campo”, “No Jardim do Palácio”, “Paisagem de Gelo e de Neve”, “Paisagem de Água: marinhas, praias, portos e rios”, “Paisagens Exóticas, Terras Longínquas” até “Em Itália Pintam a Luz”.

Destaques

A mostra patente em Lisboa, na Rua das Janelas Verdes, permite ao

visitante ver obras tão importan-tes como Paisagem Alpina, de To-bias Verhaecht, A vida no Campo, A Abundância e os Quatro Elementos e Boda Campestre de Jan Brueghel o Velho, além de A Visão de Santo Hu-berto, pintada em colaboração com Rubens, Paisagem com Ciganos e Tiro ao Arco, de David Teniers, ou os dra-máticos Cerco de Aire-sur-la-Lys, de Peeter Snayers, e Bosque, de Simon de Vlieger.

De acordo com o museu, “as duas tipologias mais características das paisagens pintadas por artistas do norte da Europa - a paisagem de inverno e a paisagem de água - es-tão representadas, entre outras, pela delicada pintura O Porto de Amesterdão no Inverno, de Hendrick Jacobsz. Um Porto de Mar ou Desem-barque de Holandeses no Brasil, de Jan Peeters, aludem a terras longín-quas, às quais o comércio marítimo fez chegar os holandeses”.

Espaço ainda para a excelência de Atalanta e Meleagro Caçando o Javali de Cálidon, obra de Rubens, o grande mestre da paisagem nór-dica. A exposição termina com al-gumas das paisagens encomenda-das pelo rei Felipe IV de Espanha a Claude Lorrain e a Jan Both, para decorar o Palácio do Bom Retiro de Madrid. Dois jovens pintores que iniciaram em Roma a chamada pai-sagem italianizante.

Para os amantes da arte do pin-cel e da paisagem como mote da pintura esta é uma oportunida-de rara de contactar em Portugal com algumas das mais importantes obras do género em todo mundo, pela mão do Museu Nacional de Arte Antiga.

Porque há momentos culturais absolutamente únicos e que dificl-mente poderiam alguma vez ter lu-gar no Algarve aqui fica o desafio a visitar Lisboa por todas as razões e por mais esta tão especial, a de po-der ver em terras lusas a dramática excelência de nomes incontorná-veis da pintura mundial no género paisagem. Ricardo Claro

Sala de leitura

d.r.

Vista parcial de “Visão de Stº Huberto” (1617-20) óleo s/ madeira 63 cm x 100 cm de Rubens e Jan Brueghel, o Velho

Paulo PiresProgramador Culturalno DepartamentoSocioculturaldo Município de [email protected]

Na senda da Cultura

O dramaturgo e ensaísta austríaco Karl Kraus escreveu um dia que “a cultura é uma muleta com que o coxo bate no são para mostrar que tam-bém a ele não faltam as forças”, mas o relatório do Eurobaróme-tro da Comissão Europeia sobre o acesso e participação na cul-

tura (de Novembro de 2013) mostra que em Portugal, no espaço de um ano (e pelo me-nos uma vez), 8% dos inquiridos (cidadãos nacionais) assistiram a um espectáculo de dança ou ópera, 13% foram ao teatro, 15% visitaram uma biblioteca públi-ca e 17% deslocaram-se a uma galeria de arte ou museu.

Comparativamente ao últi-mo estudo (2007), caímos em todos os indicadores, não tendo subido em nenhum deles. En-tre os três maiores decréscimos constam a leitura de um livro e o visionamento de um filme em sala (em ambos menos 10%), e a utilização de bibliotecas (me-

nos 9%). Globalmente, o índice português de prática cultural re-vela-se baixo em 59% dos casos e muito elevado em apenas 1% do universo estudado, colocando--nos na cauda europeia da ade-são a actividades culturais.

O estudo identifica uma cau-sa principal, que é transversal aos vários itens: a falta de inte-resse do público, surgindo as outras “barreiras” a uma – na maioria dos casos – assinalável distância percentual: falta de tempo, custo elevado e oferta cultural limitada ou de fraca qualidade. Note-se que é preci-samente no indicador “visitas a bibliotecas” que se verifica uma

maior percentagem de respos-tas justificadas com ausência de interesse (57%).

Várias visões (inter-relacio-nadas) concorrem para este pa-norama geral: a falta de investi-mento estatal; a não valorização política e social da cultura como bem essencial; a fraca aposta no ensino cultural e na educação artística, de forma a estimular a criatividade na escola e uma maior articulação desta com o meio cultural exterior (países com níveis educacionais mais elevados apresentam em regra hábitos culturais mais consis-tentes); e o reduzido poder de compra derivado da actual

conjuntura. Conviria ainda per-ceber mais a fundo, em termos psicossociais, até que ponto o ambiente de pessimismo, deses-perança e défice de entusiasmo afecta realmente os hábitos cul-turais dos portugueses.

Temos vindo a assistir nos últimos anos a três discursos político-ideológicos perversos e perigosos, transmitidos, di-recta ou veladamente, à opinião pública: não nos podemos pre-ocupar demasiado com a cul-tura quando há gente a passar fome e uma dívida pública para pagar; o sector cultural não é lu-crativo, constituindo um peso para a despesa pública devido

à necessidade regular de subsí-dios; e na área da cultura pode fazer-se muita coisa com pouco ou nenhum dinheiro, apostando na criatividade e dinamismo dos recursos já existentes, e apelando ao voluntariado e a um maior envolvimento social.

O primeiro argumento pare-ce-nos claramente oportunista e coloca na balança pesos não comparáveis pela sua natureza e âmbito, desviando-se do cer-ne da questão; o segundo é uma falácia fruto do não conheci-mento (voluntário ou não, mas grave) das realidades existen-tes noutros países e do notório impacto socioeconómico das

Page 9: CULTURA.SUL 65 - 17 JAN 2014

17.01.2014  9Cultura.Sul

Para acabar de vez com a cultura

Arqueologia Preventiva e Produção de Conhecimento

Frequentemente, na aná-lise de um processo de obra e na elaboração do parecer técnico sobre o seu impacto no património arqueológico, deparamo-nos com uma cor-rente de acusações imediatas: a um tímido «só quero fazer obras na minha casa, não me interessa a arqueologia», segue-se um taxativo «se a Câmara ou o Estado querem fazer investigação então eles que a paguem».

A preservação do patri-mónio arqueológico como recurso cultural da comuni-dade é um dever público a que se aplica a Lei 107/2001, de 8 de setembro. É obriga-ção das Autarquias zelar por esse património e apostar em procedimentos preventi-vos que garantam a sua sal-vaguarda, física ou através do «salvamento pelo registo científico», e a produção de conhecimento científico in-dispensável para caraterizar as cidades e os territórios como espaços de memória coletiva, onde o conheci-

mento do passado seja ga-rantia da preservação das identidades.

Uma deficiente prática ar-queológica estará na base do mau entendimento do exer-cício da arqueologia. Se as cidades e os territórios são espaços de memória cole-tiva, a prática arqueológica só terá razão de ser se hou-ver um retorno social real do conhecimento que vamos adquirindo, isto é, se esse co-nhecimento for devolvido à comunidade. De contrário, é mais saudável para a pre-servação do legado histórico não intervir no património arqueológico, sendo neste caso necessário garantir que uma qualquer intervenção no subsolo não afete o patrimó-nio preexistente.

Gestão de recursos culturaise gestão urbanística

Parece imperativo que os arqueólogos municipais se apetrechem de ferramentas adequadas à gestão urbanísti-ca. É fundamental que sinteti-zem numa carta arqueológica todas as informações sobre as ocorrências de caráter arqueo-lógico num determinado terri-tório ou área urbana (registos bibliográficos e relatórios das intervenções arqueológicas). É também indispensável que a cartografia de todas essas ocor-rências fundamente uma carta de sensibilidade arqueológica, justificativa dos procedimentos de salvaguarda a implementar

caso qualquer obra projetada venha a colidir com o patrimó-nio arqueológico.

Como em qualquer instru-mento de gestão territorial, as cartas de sensibilidade arque-ológica devem ser associadas a um regulamento, definindo as medidas de salvaguarda que se preconizam em cada uma das áreas e graus de sensibilidade. O conhecimento do local e das in-formações que justificam a atri-buição do grau de sensibilidade, permitirá ao promotor progra-mar melhor a intervenção que pretende realizar, incluindo as correspondentes medidas de

mitigação do impacte arqueoló-gico das obras quanto a prazo e custo. Fornecendo ao promotor um elenco dos procedimentos mínimos, a incluir em caderno de encargos, estaremos criando condições para que a interven-ção do arqueólogo permita o uso científico dos dados reco-lhidos e a produção de conhe-cimento, mesmo naqueles casos em que a intervenção se limita a uma tarefa exclusivamente técnica, sem que o relatório in-clua o correspondente enqua-dramento da intervenção na topografia histórica em que se insere o imóvel.

O arqueólogo municipal e a produção de conhecimento

A fisionomia das áreas urba-nas dificulta por vezes uma in-tervenção arqueológica tradi-cional (de escavação), uma vez que a escavação em profundi-dade pode interferir com a se-gurança dos trabalhadores e/ou com a estabilidade do edificado. Nesses casos, compete ao arque-ólogo municipal procurar estra-tégias alternativas, não invasivas (procedimentos geofísicos) ou pouco invasivas (procedimentos geoarqueológicos), que permi-tam caracterizar o local e definir

os procedimentos de salvaguar-da mais ajustados no âmbito da execução de projetos de obra.

Contudo, a gestão das cida-des e dos territórios não deve impedir o arqueólogo munici-pal de praticar uma arqueologia de investigação, que lhe permi-ta, por uma parte, melhorar o desempenho das políticas de gestão urbanística e, por outra, acrescentar ao legado histórico novas informações, produzir co-nhecimento e partilhá-lo com a comunidade.

Assim, é desejável o estabe-lecimento de parcerias com entidades externas (universi-dades e institutos de investi-gação) que garantam uma in-vestigação de qualidade. Esta é a política que o Município de Lagos vem praticando desde 2006, tendo já estabelecido diversas parcerias, nomeada-mente com as Universidades de Sevilha, Bremen e Nantes para o estudo geoarqueológi-co do Centro Histórico de La-gos e da sua Frente Ribeirinha, com vista ao aperfeiçoamen-to de uma política de arque-ologia preventiva do Centro Histórico de Lagos, com a Fa-culdade de Letras da Universi-dade de Lisboa para o estudo de Monte Molião, com vista ao conhecimento e valorização desta estação arqueológica, e com a Universidade de Hei-delberg para o estudo da villa romana de São Pedro de Pul-gão e do aglomerado romano da Praia da Luz, com vista ao conhecimento e à valorização destes sítios.

Espaço ao Património

projecto geolac

Elena MoránArqueóloga da Câmara Municipal de Lagos Investigadora no UNIARQ - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa

Sondagem geoarqueológica na Rua da Barroca, Lagos

indústrias criativas e culturais (veja-se a Irlanda nos últimos anos); e o terceiro é, em parte (sublinho bem esta nuance), um slogan populista e dema-gógico, meia-verdade que vai entrevendo uma gradual des-responsabilização e divorciar do Estado enquanto estrutura que tem o papel de assegurar/pres-tar um serviço público e que, como tal, deve, no âmbito de uma política bem definida, por um lado, apoiar financeiramen-te (parcialmente, claro) e, por outro, estimular/incrementar e dignificar o universo cultural. Isto não obstante esta crise ter levado (porventura a sua única

“virtude”) a que, por exemplo, no caso das autarquias se tenha começado a olhar menos para atractivos e tentadores catálo-gos (com toda uma plêiade de opções “eficazes” quando há muito dinheiro para gastar) e mais para a diversidade cultu-ral e qualidade/dinâmica criati-vas que se tem “dentro de casa” (associações, plataformas e movimentos colectivos, artistas e outros criativos a nível local/regional).

Se os agentes culturais têm de rever os seus processos de organização e actuação (par-cerias, programação em rede, formação de públicos, envol-

vimento com as comunidades, auto-sustentabilidade, etc.),

não é menos verdade que orça-mentos desfasados e puramente

contabilísticos, que não respei-tam/valorizam o sector cultural, bem como ausência de estraté-gia e, por vezes gritante, falta de perfil (misto de conhecimento, experiência, exigência, pulso e sensibilidade) dos decisores cul-turais a nível central, regional e local, provocam danos graves e fundos num tecido vital para o crescimento e promoção do país.

O financiamento da cultura não é uma esmola, mas sim um investimento, uma aposta em “que o retorno se faz em ter-mos de economia de valores sociais e de bens simbólicos que sustentam uma ideia de

futuro da comunidade onde são investidos” (António Pin-to Ribeiro). Joaquim Manuel Magalhães rematava assim um poema seu: “Só nos resta esperar então morrer?”. Não. Não (nos) fiquemos e não nos (des)gastemos apenas a con-tar os tostões por causa da cri-se ou a divinizar ou diabolizar os economistas financeiros. A cultura e a criatividade estão na base, na essência do ser/es-tar/agir, funcionam como “sal da vida”, constituem o nosso mais “perigoso” potencial e serão “tudo o que resta depois de se ter esquecido tudo o que se aprendeu” (Selma Lagerlöf).

[porque] “os sonhos não têm fim”, de Jovelino MatosAlmeida [2007]

Page 10: CULTURA.SUL 65 - 17 JAN 2014

17.01.2014 10 Cultura.Sul

“PINTURA DE JUTTA MERTENS-KAMMLER”Até 1 MAR | Galeria de Arte Praça do Mar - QuarteiraCom a compra de um iPad, a artista descobriu um novo mundo na pintura: a aplicação digital ou iPad--Painting. Em vez do uso de pincéis, paleta e cavalete, pinta com um dedo ou com uma caneta especial no ecrãAg

endar

“CORES E FORMAS”Até 28 JAN | Galeria de Arte Pintor Samora Barros - AlbufeiraExposição de pintura de Artemísia, que reúne diver-sos trabalhos da artista, natural de Boliqueime, e das aprendizes que frequentam o seu atelier

Janeiro

Pedro [email protected]

O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N

fotos: d.r.

Bom Ano

Na feroz concorrência dos dias, a novida-de, a mensagem, a imagem, atropelam-nos por todo o lado. Esperam-se as horas para um novo ano como se não fosse mais um dia deste mesmo tempo, em que tudo é uma veloz pas-sagem dos minutos. Queremos ansiosamente o ano vindouro, só para que passe rapidamen-te a caminho doutro tempo, noutras horas passadas em modos de vida mais desejados... Tão cedo se faz fim de tarde neste cinzento primei-ro dia de Janeiro, que quando estiver fora nos dará mais uma hora. A tradição das ‘charolas’ man-tém-se na sorte de não estar a chover, e apesar da humidade, com grande afluência de público no largo frente à igreja da Luz.

Bem, … e quanto a resoluções de princípio de ano, deixem-me lá ver…, pois é, cada um lá terá as suas… bem hajam nas folhas deste novo calen-dário… e um bom ano, meus amigos… 

Na Cozinha

Na cozinha da casa dos meus avós havia uma clarabóia. Um pequeno vidro quadrangular lá no alto do tecto que deixava entrar a claridade possível pela açoteia. E eu ficava ali sentado num banco a apreciar as nuances da luz que passava, enquanto a minha avó cozinhava coisas deliciosas: bolos de fo-lha (camadas de massa folhada fina e tenra, como só ela fazia. Com açúcar, canela, amêndoas…), ou as ‘trutas’ de batata doce, cujo creme ficava a descan-sar numa grande taça de loiça, num armário em-butido na parede, diversas vezes atacado por mim,

antes de passar a ser o recheio de finos pastéis fritos.

O Tempo Entre As Fendas

Título do novo livro de poesia de Miguel Go-dinho, na 4Águas editora, lançado no passado mês de Dezembro, com uma tiragem única de 80 exemplares, numerados e assinados. Reservas por mensagem via facebook ou [email protected] - (8 € - portes incluídos).

O amor é um fogoselvagemprimeiro custaa ateardepois não se dáconta dele

Andar

A manhã está clara. Só andar faz perder o frio. Entrar pela cidade, a pé. Sei que vou encontrar as mesmas ruas, as mesmas caras. Noutras ruas e noutras caras. Mas não importa. Andar. An-dar, só a andar se percebe que temos um corpo, que respira e que se move. Na cidade que pare-ce sempre parada. Andar também faz mover a cidade. Andar faz crescer o dia...

Parque com vista paga

Há ali na Via do Infante frente a Faro um par-

que devidamente assinalado onde se pode pa-rar e estacionar e que permite olhar o aglome-rado urbano da cidade, (sua ilha e aeroporto) a encher-se de luz e cor de dia ou de noite. À de-vida irrisória escala é a nossa espécie de provin-ciano Mulholland Drive. Quanto ao desplante surrealista e sádico de se ter de pagar portagem na A22, esse é claramente david lynchiano, ou como diria um amigo meu… estamos mas é da vida linchados.

Escaparates

E é bom ver produções de artistas algar-vios, entre os grandes nomes da indústria cultural, nos escaparates cheios de produtos em destaque nessa concorrência de vendas de natal de uma empresa multinacional. O livro ‘Claves do Sol e da Lua’ (Arandis, 2014) de Manuel Neto Dos Santos (Alcantarilha, 1959), que diz tem «andado nos últimos anos de prego ao fundo nesta luta cultural no Algarve» e lançará este ano a sua ‘Foto-bibliografia’ – comemorativa do 25º aniver-sário de edições. Nos discos surge ‘Infinity3’ de Pete Tha Zouk (nascido António Pedro, em Olhão, 1978). Considerado o melhor dj português pela grande maioria dos especia-listas na arte da percepção musical mistura-da em bpm, mesmo antes do êxito de ‘I’m Back Again’ com Abigail Bailey. Discípulo de Dj Vibe, ultrapassou o mestre na tabela da revista Mix Mag, para os 100 melhores djs do mundo em 2011.

Microbiometria para

Simone de Beauvoir

A escritora, filósofa existencialista e femi-nista francesa (Paris,9.01.1908 14.04.1986) esteve em Faro (diz-se que tomou chá no Café Aliança) para a conferência “A Vida Literária em França, da Ocupação à Libertação”, pro-

nunciada a 9 de Março de 1945 no Instituto Francês, a convite do Prof. Lionel de Roulet, ob-tendo elogiosas referências na imprensa local. Noutro inverno igualmente tempestuoso sentei-me por ali naquele espaço centenário a tomar café e escrevi-lhe esta microbiometria:

«existir. mas muito mais do que existir, é amar. o sangue do outro. do tempo de se li-bertarem no mundo as ideias presas na gar-ganta, de tudo o que escorre do segundo sexo, para poder gritar pedaços de suor, lamber as próprias lágrimas. existindo, vive-se. e viven-do, ama-se, sofre-se e existe-se em essência».

De Passage(m)

A fronteira, essa passagem outrora român-tica e aventurosa ficou térrea e airosa. Na galeria café Passage (plaza de la laguna, Aya-monte), os muitos relógios na parede junto ao balcão marcam mais uma hora do que o meu pulso. Mas o tempo, ele próprio, está igualmente suspenso na minha vontade de pará-lo. Nas paredes exibem-se ‘Apuntes para una coleción’ de Manuel Moreno Morales - ex-posição de pintura gráfica. Das colunas para encher o ar, elevam-se as notas de piano de Keith Jarret…

Gosto de entrar em cafés vazios e depois vê-los encher lentamente e… ir-me embora quando o barulho começa a tornar-se pouco suportável.

CanalSonora

Será lançado no próximo mês, o terceiro título do catálogo da editora :)CanalSono-ra(: - sediada a 37° 7’ 0’’ N, 7° 39’ 0’’ W, com apresentação em Tavira. Fiquem atentos à convocatória. Chama-se ‘Espuma Evanescen-te’, do autor Vítor Gil Cardeira, e continua a apresentar-se segundo o lema da editora: pequenos livros~grandes segredos~volumes portáteis~emoções resguardadas.

À Noite a Natureza…

…à noite a natureza defende-se das amea-ças através da humidade com que rega tudo e assarapanta os homens que por aí andam à espera de um novo amanhecer. então mal o dia espreita, cubro-me de casaco. calço lu-vas. saio para o campo. sei que só gostas de prendas frescas. caminho. sai-me um fumo da boca que não é de fumar. uma geada co-bre as pequenas pétalas da manhã que quero colher. regresso de mãos molhadas, frias às tuas quentes…

Page 11: CULTURA.SUL 65 - 17 JAN 2014

17.01.2014  11Cultura.Sul

O Diário Oculto de Nora Rute, de Mário ZambujalDa minha biblioteca

Adriana NogueiraClassicistaProfessora da Univ. do [email protected]

“14º FESTIVAL DE MÚSICA AL-MUTAMID”25 JAN | 21.30 | Cine-Teatro LouletanoWafir Sheikheldin (alaúde árabe, nay, percussões e voz), Salah Sabbagh (darbouka, riq, daf) e Erika la Turka (dança oriental) são os protagonistas do espectáculoAg

endar

“FADO [EM] SINFONIA”25 JAN | 21.30 | Centro Cultural de LagosA Academia de Música de Lagos junta-se a um talento emergente do fado, Ana Pinhal, para a construção de um programa em torno do Fado Tradicional e Novo Fado, com composições e arranjos da autoria de Manuel Maio, Bruno Ribeiro e o Ensemble algarvio Gato Malvado.

É sempre um prazer e um desafio ler os livros de Mário Zambujal. Desde o marco que foi o sucesso do seu primeiro romance, Crónica dos bons ma-landros, que o deslocou da re-ferência como jornalista (que nunca deixou de ser) e o colo-cou no rol dos nossos autores de literatura, a sua produção tem continuado a dar-nos bons momentos.

Alguns gostos

Com uma prosa escorreita, humor inteligente e tratan-do as personagens com mui-ta bondade, Mário Zambujal constrói mundos muito di-ferentes daqueles em que a maioria de nós vive. Na mi-nha biblioteca tenho alguns dos seus livros, que muito me fizeram sorrir e ajudaram a ver o mundo com outros olhos.

Em Fora de mão – Prosas revisitadas e inéditas, uma belíssima coletânea, publi-cado em 2003 pela Oficina do Livro, somos defrontados com momentos que nos fa-zem pensar, como no conto «Uma pratada de mundo» (p.85), que nos remete para a hipocrisia e para a banali-zação da desgraça que a in-vasão noticiosa acarreta, ou como em «Vermelho e ver-de» (quando se refere à per-sonagem que ganha a vida quando os carros param nos sinais): “O seu mundo é outro e se calhar anda ao contrá-rio, como ele, ali, com as lu-zes coloridas dos semáforos” (p.113); em 2006 escreve, na mesma editora, Primeiro as se-nhoras. Relato do último bom malandro. Contado na pri-meira pessoa, não há outra

voz no livro. A personagem conversa com um inspetor da polícia, mas nunca ‘ouvi-mos’ a voz deste interlocu-tor – apenas subentendemos as suas respostas ou reações pelas falas daquele: “Dormir, eu dormi, senhor Inspector, mas não posso falar em des-canso” (p.23); “Sossegue, Ins-pector, vou resumir” (p.24); “O senhor Inspector deseja-rá saber se deixaram escapar um nome” (p.28); “Demorei? Queira desculpar” (p.95. Te-nho estado a citar a edição de bolso, da Leya, 2010). Este é um livro muito divertido, que nos obriga a colocar-nos na pele do silencioso inspetor e ir acompanhando o desven-dar das trafulhices, esque-mas, amores, aventuras e des-venturas, ao sabor da decisão do “último bom malandro”. Em Uma noite não são dias, de 2009 (editado pela Planeta), o subtítulo revela um pouco da história: Intriga e paixões no esquisito ano de 2044. Há neste romance, pelo ambien-te futurista, uma grande iro-nia com o nosso presente, que é o passado das persona-gens: “Os mais velhos dizem ter saudades das épocas em que ninguém dizia mal de alguém. Agora é o que se vê” (p.30); “Era impensável, há trinta, quarenta anos, diga-mos nas imediações de 2010, que alguém afinasse por vi-rem dizer que outro alguém dissera horrores a seu respei-to. Agora zangam-se” (p.67). A história tem um toque poli-cial e, como seria de esperar, não nos desiludimos.

Em 2012, Mário Zambujal publica, na editora Clube do Autor, Cafuné. Tropelias do secretário da amiga da aia da rainha. Mais uma vez, Zambu-jal muda de tipo de narrador. Desta vez, está fora da histó-ria e conhece tanto o passa-do como o presente, o que lhe permite fazer conexões entre os dois mundos: “carta (…) mais suculenta que um moderno sms” (p.127); “lon-ge vinha a fresquidão do bi-quíni e do fio dental” (p.159). Há também aqui, como na

generalidade das suas obras, crítica à sociedade e aos costumes e muito humor: a princesa Carlota Joaquina era “tão pouco selectiva quanto a homens que chegava a dei-tar-se com o próprio marido” (p.18); “o piolho é democra-ta, nem atende ao estatuto de cada cabeça” (p.199). Um livro que diverte enquanto nos enquadra no Portugal com uma corte em fuga para o Brasil.

Confissões privadas de uma jovem rebelde

No passado mês de novem-bro, Mário Zambujal publi-cou, de novo na editora Clu-be do Autor, o seu último romance: O Diário Oculto de Nora Rute, que tem por sub-título divertido, explicativo e longo, tão ao gosto do autor, Confissões privadas de uma jo-

vem rebelde.O livro tem a forma de diá-

rio de uma jovem que cami-nha para os 22 anos, como a própria afirma (p.43), e começa a 30 de dezembro de 1968, uma segunda-feira. Achei graça quando me dei conta de que estava a iniciar a sua leitura precisamente no dia 30 de dezembro de 2013, também uma segunda-feira (mas, claro, ficaram por aqui as coincidências, pois não de-morei um ano a lê-lo: o diário termina a 31 de dezembro do ano seguinte).

Sempre com muito humor, somos postos na pele de uma jovem do fim da década de sessenta, uma época de gran-de agitação política e social, nomeadamente entre os estu-dantes. Curiosamente, a he-roína desta história deixou a faculdade sem acabar o curso e o seu envolvimento políti-

co é algo superficial. Mesmo a sua estada em França, nas manifestações do Maio de 68, não teve o empenhamento que se poderia supor. Aliás, como foi, provavelmente, para muitos jovens daquela geração, que não tinham po-sição definida e não se envol-viam nas lutas. Diz ela: “Acre-ditam alguns, até declarados opositores ao Salazar, que estão em curso mudanças de respeito. Outros, no círculo de estudantes com que ainda me vou encontrando, dizem ‘primavera marcelista’ com ironia. Tentarei não escorre-gar para o lado dos apáticos que nada pretendem excepto o divertimento de cada dia, de preferência à noite. Con-fesso: é para aí que me tem puxado o pezinho” (p.44).

O livro é de leitura agra-dável, divertido, com muitos subentendidos, mas também

com muita crítica direta. E ainda se torna mais interes-sante por falar de uma reali-dade relativamente próxima de nós (se bem que muitos leitores – como eu, felizmen-te – já não a viveram): “Ainda há mulheres proibidas de se casar por serem enfermeiras ou hospedeiras da TAP. E não há mulher casada que pos-sa viajar ao estrangeiro sem licença escrita pelo senhor marido. Diz-se que estas ab-surdas proibições terminarão em breve. Esperemos que sim, será limpar uma nódoa deste Portugal engravatado” (p.45).

Esta nódoa tirámos, mas pusemos muitas outras.

Termino com os versos do poeta Alexandre O’Neil, que me ficaram a ressoar quan-do li aquele parágrafo: “País engravatado todo o ano / e a assoar-se na gravata por engano”.

O Diário Oculto de Nora Rute é o novo romance de Mário Zambujal

d.r.

Page 12: CULTURA.SUL 65 - 17 JAN 2014

17.01.2014 12 Cultura.Sul

Alexandra Gonçalves é o nome da nova directora re-gional de Cultura do Algar-ve. A ex-vereadora da autar-quia farense tomou posse no mês de Dezembro e substi-tui no cargo Dália Paulo que, entretanto, regressou à Câ-mara de Faro de cujos qua-dros faz parte e já está a tra-balhar à frente da Divisão da Cultura da Câmara de Loulé em regime de comissão de serviço, confirmou ao POS-TAL a ex-responsável pela pasta na região.

O novo rosto aos coman-dos da Direcção Regional é licenciada em Marketing pela Universidade do Algar-ve e concluiu recentemente o doutoramento em Turismo na Universidade de Évora, ainda durante o seu man-dato na câmara da capital algarvia.

Aos 41 anos o seu currícu-lo académico inclui ainda o mestrado em Gestão do Pa-trimónio Cultural pela uni-versidade onde se licenciou e onde lecciona, na Escola Superior de Gestão, Hotela-ria e Turismo.

Quer a formação acadé-mica, quer a experiência profissional, seja no sector privado, seja em funções li-gadas à causa pública, serão instrumentos determinantes no desafio que a nova direc-tora regional assumiu.

A Cultura numa região de turismo

Realce para a gestão focada no turismo que, numa região que é o mais importante des-tino turístico do país, é uma mais-valia, uma vez que a gestão da Cultura no Algar-ve se tem, necessariamente, e mais do que no resto de Portugal, de fazer para os tu-ristas ao mesmo tempo que se faz em prol dos residentes.

A herança deixada pela anterior responsável do or-ganismo da administração desconcentrada do Estado implica para Alexandra Gon-çalves um desafio acrescido. Dália Paulo revolucionou a Direcção Regional de Cultu-ra e o seu papel e forma de intervir na cultura da região e a obra dá mostras disso mesmo.

O que se espera da nova titular da Cultura

Não obstante, Alexandra Gonçalves conta com a vanta-gem de ter já hoje uma equi-pa na Direcção Regional mo-tivada e onde há elementos de relevo que compreendem a necessidade de uma atitu-de proactiva e promotora da cultura regional num padrão que não se compadece com o anacronismo da capacida-de transformadora da admi-nistração pública em muitas matérias.

Habituada a fazer e a con-gregar esforços, mulher de resultados e de diálogo re-conhecidos na execução do cargo de vereadora na câ-mara algarvia, espera-se de Alexandra Gonçalves a mão capaz de manter a Direcção Regional no bom caminho, sejam quais forem as opções tomadas.

Mais do que continuidade tout court, pede-se-lhe a sua própria abordagem da pasta da Cultura com resultados próprios no sentido positivo trilhado pela sua antecessora.

Muito há a fazer depois dos passos dados - largos conve-nha-se - por Dália Paulo. Ao nível do património edifica-

do e dos sítios e lugares his-tóricos da região, mas mui-to em particular na área das tecnologias de informação e respectiva acessibilidade para o sector.

A Direcção Regional tem, desesperadamente, de se co-locar na primeira linha de visibilidade nas redes sociais e na web, oferecendo conteú-dos amigáveis em várias pla-taformas e neste capítulo há um mundo por fazer que não se compadece com as demo-ras provocadas pela vontade uniformizadora da tutela.

A Direcção Regional tem os conteúdos e a qualidade de trabalho que permitem avançar sem demoras neste capítulo e esperar tem custos demasiado elevados.

Nas demais áreas a capa-cidade de ouvir, ser um fa-cilitador e interlocutor pri-vilegiado é o que se pede a Alexandra Gonçalves, a quem se exige ainda o génio de congregar vontades e re-forçar apostas de sucesso em prol daquilo que nos forma a fatia de leão da identidade, a Cultura.

Não é pouco, por isso é um desafio e Alexandra Gonçal-ves aceitou-o.

Ricardo Claro

Novo rosto a liderar a Direcção Regional de Cultura

d.r.

PUB

Real MarinaHotel & Spa

Criamosmomentos

únicospara si

Real Marina Hotel & Spa - OlhãoInfo e reservas Spa:

289 091 310 - spa @realmarina.com

Alexandra Gonçalves é a nova directora regional