cultura.sul 25

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9 | SET | 2010 • Nº 25 • Mensal • Este caderno faz parte integrante da edição nº1000 do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente esquecido no tempo Museu da cortiça • I Festival Internacional de Literatura no Algarve » p. 6 e 7 • Fotógrafos da ALFA cobrem La Fura Dels Baus » p. 8 e 9 • Santo Asinha e Outros Poemas » p. 13 Distribuído mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO ALGARVE ALENTEJO p. 14 e 15

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Cultura.Sul 25

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• I Festival Internacional de Literatura no Algarve » p. 6 e 7

• Fotógrafos da ALFA cobrem La Fura Dels Baus » p. 8 e 9

• Santo Asinha e Outros Poemas » p. 13

Distribuído mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO ALGARVE • ALENTEJO

p. 14 e 15

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Ficha TécnicaDirecção: GordaEditor: João EvaristoConcepção gráfica: Ricardo Claro

Design e paginação: Marta VilhenaResponsáveis pelas secções: »panorâmica.S - Ricardo Claro »cinema.S - Cineclubes de Faro, Olhão e Tavira

»livro.S - Adriana Nogueira»arte.S - João Evaristo»política.S - Henrique Dias Freire»património.S - Joaquim Parra

Colaboraram nesta edição: Direc-ção Regional de Cultura do Algarve; AGECAL; Cristian Valsecchi; António Laginha; Fernando Marreiros; ALFA; Cristina Braga; Ana Isabel Renda; Né-

lia Sousae-mail: [email protected]: 15.054

• SIMPLEX DICTUM

"Cultura, gravatas e foguetes no ar!"“No dia em que o Rei fez anos houve

arraial e foguetes no ar”, canta José Cid.Em bom exemplo comemorámos o aniversário da morte do

Infante, com um belo arraial e foguetes no ar… e farturas e pipocas, esses dois grandes símbolos da cultura popular.

Há quem não chame a isto cultura. Talvez… animação ou produto comercial de cariz cultural, imputando-lhe um objectivo financeiro. Que não será necessariamente pior que um produto cultural de cariz comercial.

“O mais do que isto |É Jesus Cristo, | Que não sabia nada de finanças. | Nem consta que tivesse biblioteca”, escreveu Pessoa

A cultura continua a ser uma espécie de gravata. Ninguém sabe bem para que serve mas

usam-na… Porque fica bem!

Compreende-se, afinal a cultura, tal como a gravata, é muito antiga e talvez por isso o seu verdadeiro significado tenha ficado camuflado pelo cotão da história. O sol, a chuva e o vento levaram-lhe a cor e a traça roeu-lhe a essência.

Há culturas e gravatas para todos os gostos. Com mais ou com menos folhos, coloridas ou cinzentas, de festa ou de cerimónia. E vão sendo usadas por muitos que não podendo sê-lo querem parecê-lo. Tipo um disfarce, um suponhamos, um faz-de-conta, em que se juntam todos numa espécie de baile de máscaras e tecem as mais obscenas considerações sobre cultura. Nunca fizeram nada, não sabem fazer nada, mas têm muitos projectos, ou tiveram um, uma vez, que falhou por culpa do sistema ou por outra razão circunfusa. Mas têm acima de tudo lições para dar e conselhos. Alguns nunca leram um livro, mas fazem questão de manter uma biblioteca montada com base numa listagem de títulos que alguém lhes fez acreditar que seriam incontornáveis.

Tudo depende do orçamento e do bom gosto. O pior é quando o primeiro falta e o segundo, não sendo discutível, é lamentável. Afrouxa-se a gravata, descompõe-se o figurino e pendura-se a cultura no guarda-fato.

Um dia alguém perguntou a um camponês o que era a cultura. Ele respondeu: “A cultura sou eu, é o senhor, é a minha mulher, os meus filhos, o meu vizinho…”

Comove-me a sabedoria popular. E o facto do camponês não usar gravata levam-me a pensar que a pressão exercida sobre a carótida de quem a usa poderá ter consequências, nomeadamente a nível do nervo oftálmico. E isso parecendo que não é capaz de toldar a vista.

Pois é, como escreveu António Gedeão “Onde Sancho vê moinhos Dom Quixote vê gigantes. Vê moinhos? São moinhos! Vê gigantes? São gigantes!”

• MÚSICA

Os Madame Godart apre-sentam, neste espectáculo o seu mais recente álbum, «Galapagos».

Praticando um som me-lódico e simples, ora mais ritmado a fugir para os ambientes ditos de cabarét como também com mo-mentos mais melancólicos e introspectivos, os Madame Godard conseguem cruzar as mais dispares influências

tais como Serge Gainsbourg, Deus, Radiohead, Astor Piazzola e Pascal Comelade entre outros.

24 SET | 22.00 | TEM-PO - Teatro Municipal de Portimão | Entrada Livre

• PINTURA

A artista, que desde muito cedo despertou para o mun-do da arte, expõe, pela pri-meira vez, aos 22 anos. Nos seus quadros utiliza a técnica de Doodling Art, um tipo de desenho aparentemente simples e aleatório mas que em Cristina Carneiro ganha uma intenção e coerência de traço com resultados de grande dimensão artística.

Esta jovem promissora considera-se, ainda, uma aprendiz, com “muito que ver, muito que aprender e principalmente muito que sentir, neste que é um mun-do em constante mutação”.

O Corredor das Artes é uma iniciativa da Casa da Juventude de Olhão que visa promover e divulgar os trabalhos de jovens artistas do concelho, incentivando novos talentos afirmando-se no domínio das Artes. Desde 2004, ano em que foi inaugurado, já passaram pelo corredor mais de 50 exposições de 170 jovens artistas com trabalhos de excelente qualidade técnica e artística.

30 SET | 13.00>19.00 | Casa da Juventude de Olhão

• PINTURA

Nasceu em 1977 em Por-tugal, de onde partiu para uma aventura inebriante de descobertas por vários con-tinentes. Viajou por África, Ásia e pela Europa onde foi artista de rua e participou em diversos projectos. De volta à terra natal continua o seu processo de criação e envolve-se novamente em diversas actividades entre as quais, uma oficina de artes para crianças num projecto de apoio social, tendo sido fundador e orientador de um núcleo de banda desenhada.

Colabora com espectácu-los e jornais.

A presente exposição apresenta vários estilos e formas, fazendo com que sobressaia uma luz muito própria onde a sensualidade

é evidente e se destaca o cor-po como traço singelo, de sa-lientar a desmistificação da própria mascara, que assenta prevalentemente na fanta-sia deformadora. Nas obras escondem-se estranhamente formas mitológicas.

31 DEZ | Restaurante Bar The Terrace /Hotel Colina Verde (Sítio da Maragota/Moncarapacho) | Reservas: 289790110

Exposição de pintura de Igor Nunes Silva

João Evaristo Editor Cultura.Sul

Cristina Carneiro expõe na Casa da Juventude de Olhão

Madame Godard apresenta “Galapagos”DR

João Evaristo

João Evaristo

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destaque

• MÚSICA

As Lágrimas de Saladino é um espectáculo com coreogra-fia, espaço cénico, desenho de luz de Rui Horta.

Quando entrou em Jerusalém no ano de 1187, após 91 anos de sangrenta ocupação pelos combatentes cristãos do Oci-dente, Saladino deu ordens aos seus soldados para evitar a pil-

hagem e o massacre. Quando a religião volta a ser

o ponto de todas as discórdias, o coreógrafo parte deste “acto de compaixão” para nos propor uma reflexão sobre o outro, a diferença, a intolerância.

“De algum modo”, ante-cipa Rui Horta, “As Lágrimas de Saladino” será também um

trabalho sobre a construção da incógnita. Um lugar de perma-nente tensão, mas de incomen-surável poesia”.

25 SET | 21.30 | TEMPO - Teatro Municipal de Portimão

O encanto de Archie Shepp vem todo ele de África, trazen-do consigo a tradição da música Afro-Americana e revitali-zando-a como só alguém que nasceu neste contexto histórico o poderia fazer. Histórico patri-arca de um jazz aberto, puro.

Archie Shepp não é apenas um mestre do saxofone. Ele representa uma consciência dupla, musical e política, que sempre definiu as suas opções estéticas que são vistas ao longo

de sua carreira: o estilo musical intenso do seu período de Free Jazz, a sua imersão no Blues, o seu namoro com o Rhythm N’ Blues, a paixão que emprega nas suas baladas e as suas frequentes passagens pelo Bop.

12 SET | 21.30 | Auditório Municipal de Albufeira

Dono de uma das mais inter-essantes discografias do nosso país, o músico e compositor Rodrigo Leão tem conhecido o sucesso dentro e fora de por-tas, facto que lhe tem permitido ter convidados de peso nos seus discos, como aconteceu com Ryuichi Sakamoto ou Beth (Portishead) Gibbons.

E isso reflecte apenas uma intensa ética de trabalho que nasce de uma dedicação pro-funda à música, patente desde sempre na sua carreira.

“A Mãe” editado a 22 de

Junho de 2009 teve entrada directa para o 1º Lugar do Top de vendas Nacional, lugar onde permaneceu 5 semanas con-secutivas tendo já alcançado o galardão de disco de Platina!

Paixão e intemporalidade são palavras que ocorrem quando se ouve o disco ou se presencia um concerto de Leão.

11 SET | 21.30 |Teatro das Figuras (Faro) | €15>€20

Aziza Mustafa Zadeh, tam-bém conhecida como A Prince-sa do Jazz ou Jazziza, nasceu em Baku, no Azerbeijão, é cantora, pianista e compositora e faz uma fusão entre as suas raízes étnicas, o jazz e a música clás-sica.

Aziza é dotada de um vir-tuosismo impressionante, além de ser uma extraordinária pia-nista e compositora. A junção

entre a técnica de canto lírico e o seu talento especial para a improvisação, que demonstrou desde muito cedo, fazem da sua voz, uma voz rara, comple-ta, versátil, fluída e única, um instrumento como qualquer outro.

Até hoje já gravou dez álbuns, intercalando as suas próprias composições, com standards de jazz e a sua forma particular de

interpretar peças clássicas de Bach e Chopin, entre outros.

É, sem dúvida, um espectácu-lo inédito e único em Portugal. Simplesmente imperdível!

10 SET | 21.30 |Auditório Municipal de Olhão | €15

Rodrigo Leão em Faro Aziza num espectáculo único em Portugal

• MÚSICA

• MÚSICA

Archie Shepp Quartet As Lágrimas de Saladino • DANÇA

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património

O Pirolito foi uma bebida que, durante a primeira metade do século XX, fez as delicias de adultos e, principalmente, dos mais pequenos que viam nela um “dois em um ”pois além de beberem o refrigerante, partindo a garrafa, tinham um “carolo” para jogar ao berlinde.

Basicamente, era uma bebida gaseificada, feita à base de um xarope feito com açúcar, água, ácido cítrico e essência de limão a que era posteriormente adicionado gás carbónico. A forma como estes elementos era misturados era o segredo que fazia a diferença. Quanto ao sabor, ta lvez o refrigerante actual que mais se aproxima seja a Seven-Up.

Mas o que torna esta bebida

famosa, não é o conteúdo mas sim a garrafa que o contém. Ao que parece, terá sido um inglês, Hiram Codd, o seu inventor. Em vidro transparente ou esverdeado,

a sua forma é bem característica: base cilíndrica, seguida de um estrangulamento e gargalo

cónico que terminava num anel de borracha que segurava a bola de vidro que, pela pressão do gás, fechava hermeticamente a garrafa. Para abrir, bastava carregar no berlinde.

A Vidreira Santos Barosa (SB), Ricardo Santos Gallo (SG) a Companhia Industrial Vidreira (CV) entre outras, todas da Marinha Grande, eram as fornecedoras destas garrafas, conforme se pode verificar pelas iniciais gravadas no fundo das mesmas.

Tratando-se normalmente de uma industria familiar, o número exacto de fábricas de Pirolitos em Portugal é impossível de calcular, mas seriam seguramente umas dezenas, uma vez que há referências a elas em quase todos os distritos e concelhos. Só a titulo de exemplo, basta referir, no caso do Algarve, as existentes em Vila

Real de Santo António, S. Brás de Alportel, Faro, Silves, Portimão entre outras.

A sentença de mor te do Pirolito surge nos f inais dos anos 50, quando o governo, por questões sanitárias considerou este tipo de garrafa inadequado, por não permitir uma lavagem e desinfecção adequada. Como consequência muitas fábricas

fecha ram e o Pi rol ito foi substituído pela garrafa de carica. Posteriormente, nos anos 70, como que para matar saudades, surge o Pirolito Bilas que, apesar de usar carica, tinha o formato do Pirolito e o respectivo berlinde, que era possível extrair removendo um dispositivo plástico no gargalo (sem necessidade de partir a garrafa).

Quanto a preços, terão variado

desde os 5 tostões nos anos 40 e os 12 tostões nos anos 50, um “bocadinho menos” que os 5 Euros (garrafa simples, sem a borracha) a 100 ou mais Euros (garrafa cheia, com rótulo original, e selo) que teremos de desembolsar, actualmente, para ter, um Pirolito.

•BAÚ

Nótula Histórica

A s u a c o n s t r u ç ã o i n t e g r a - s e n o p l a n o d e p r o t e c ç ã o d a b a í a d e L a g o s , s u b s t i t u i n d o , a o q u e p a r e c e , u m a a n t e r i o r f o r t i f i c a ç ã o d e s i g n a d a p o r Fo r t e d a S ol a r i a . Trat a- s e de u ma e s t r u t u r a q u a d r a n g u l a r com pa redes em a lvena r ia d e p e d r a a r g a m a s s a d a , l i g e i r a mente i nc l i n a d a s , no e x t e r io r , c omo fo r m a d e o f e r e c e r m a i o r r e s i s t ê n c i a à s b o c a s d e f o g o . I m p l a n t a d a s

e m c a d a u m d o s s e u s c u n h a i s e n c o n t r a m o s q u a t r o g u a r i t a s e m a l v e n a r i a , c o l o c a d a s a q u a n d o d o r e s t a u r o d o e d i f í c i o , e m 19 5 8 /6 0 . A e n t r a d a é f e i t a p o r u m a p ont e l e v a d i ç a s o b r e u m f o s s o . I n t e r n a m e n t e , o f o r t e a p r e s e n t a u m p á t io c e nt r a l a p a r t i r d o q u a l s e a c e d e a o t e r r a ç o s u p e r i o r p o r r a m p a . N o p i s o i n f e r i o r e x i s t e u m a p e q u e n a c a p e l a c o m a b ó b a d a d e b e r ç o e c o m u m l a b r i m d e a z u l e j o s d o s é c u l o X V I I c o m m o t i v o s f l o r a i s e m a z u l

e a m a r e l o a ç a f r ã o s o b r e f u ndo b r a nc o e f a i x a s de f l o r e s - d e - l i s e fo l h a s .

Outras notas de interesse

Pa rece te r s ido no a rea l onde foi construído, que se a s s i s t iu à pr i me i r a v end a de e s c r avos em Por t ug a l . A p a d ro e i r a d o fo r t e e r a No s s a S en hor a d a Pen h a d e F r a n ç a , m a s n ã o s e sabe como ser ia a imagem que oc upav a o r e spec t i vo n i c ho , e mb or a p o s s a mo s imag ina r, tendo em conta a i c o n o g r a f i a , t r a t a r -

s e - i a d e u m a V i r g e m p o u s a d a n u m a p e n h a e , n a e nc o s t a , u m l a g a r to .

No s a no s 6 0 f u nc ionou aqu i o Cent ro Náut ico da Mocidade Por tuguesa . De a c o rdo c om a t r a d i ç ão , é ne s te loca l que se ce lebra o Ba n ho 29, à me i a no i te d o d i a 2 9 d e A g o s t o e q u e , a c t u a l m e n t e i n c l u i e s p e c t á c u l o s d e m ú s i c a , s a r d i n h a a s s a d a e o b a n ho .

O s c o m p a r t i m e n t o s i n t e r i o r e s d o f o r t e s ã o a c t u a l m e n t e u t i l i z a d o s p a r a e x p o s i ç õ e s e t a mb ém p or u m p e q ueno

r e s t au r a nt e .

• RIQUEZA MAIOR

Forte de LagosNome

Forte da Ponta da Bandeira (também conhecido por Forte de Nossa Senhora da Penha de França, Forte do Pau da Bandeira, Forte do Registo

Localização

Marginal de Lagos (Av. das Descobertas), concelho de Lagos, Distrito de Faro

Data de Edificação

Finais da década de 70 até

G l o s s á r i o

G u a r i t a :Um a g u a r i t a , e m a rq u i-t e c t u r a m i l i t a r , é u m a p e quena to r r e com f r e s -t a s o u s e t e i r a s , g e r a l -mente erg u ida no âng u lo m a i s s a l i ent e de u m b a-l u a r t e s d e u m a f o r t i f i -c a ç ã o , c om a f u n ç ã o d e protecção das sent ine la s .

C u n h a i s :E s q u i n a s d o s e d i f í c i o s f e i t a s de mo do g e r a l em a l v e n a r i a o u e m t a i p a e nt r e c r u z a d a

Joaquim Parra Professor de História e Coleccionista

O PIROLITO

Fernando Marreiros

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cinema

• Cineclube de Faro

Cineclube de Faro em situação aflitiva

Contávamos com tudo, mas não com o que foi decidido pela Câmara Municipal de Faro – dada a situação financeira da autarquia, reduzir para 1/3 um subsídio que já era parco para organizar actividades mais ambiciosas, mas que (enfim) nos ajudava a cumprir o mínimo de sessões regulares de cinema. Desse 1/3 só está garantido o pagamento de metade; o restante sujeito a reavaliação até final do ano.

Pondo as coisas em pratos limpos: temos garantidos

2.500 euros, quando o subsídio costumava ser de 15.000€.

Tendo ainda em conta que o anterior executivo do Dr Apolinário não nos atribuiu qualquer subsídio para o ano transacto, podem imaginar a gravidade da situação em que nos encontramos.

Assim, cabe-nos fazer um forte apelo aos sócios – pois este clube não é nosso, é deles -, pelas suas particulares responsabilidades em alturas de aflição, pedindo a sua maciça participação nas actividades programadas. Mas apelar igualmente aos muitos não-sócios usuais nas nossas sessões para que frequentem em grande número as próximas, de maneira a que se torne evidente que também para eles interessa haver uma sala de cinema alternativo em Faro.

Esperamos, sinceramente esperamos, que consigamos todos em conjunto ultrapassar esta grave situação financeira, pois de contrário não nos restará senão fechar as portas de uma das mais ilustres associações farenses e de um dos mais nobres e antigos cineclubes portugueses, em actividade ininterrupta desde 1956.

Não brincamos nem dramatizamos: estamos simplesmente a ser realistas.

Desde já obrigado pela vossa presença.

A Direcção do Cineclube de Faro

Agenda do Cineclube de Farowww.cineclubefaro.com

> Ciclo Segredos Não Muito SecretosIPJ | 21.30 | Entrada paga

04 SET | O Segredo dos Teus Olhos de Juan José Campanella (127’)(M/16)

11 SET | Shirin de Abbas Kiarostami (92’)(M/12)

| Eu sou o Amor de Luca Guadagnino (120’)(M/12)

> Ciclo Olhares Forasteiros - O Algarve num certo cinema

Museu Municipal | 21.30 | Entrada livre

12 SET | Nas correntes de Luz da Ria Formosa de Jon Jost (104’) *

w* filme igualmente em exibição entre 13 e 31 Outubro em sistema de sessões contínuas – 10h / 12h / 14h / 16h, sala de audiovisuais da Exposição, entrada livre

• Cineclube de Olhão

Verão, tempo de cinema

O cinema está sem dúvida ligado ao tempo livre e entretenimento. Os números assim o comprovam.

O anuário estatístico do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) recentemente lançado e referente a 2008/2009 também o afirma. Se formos ao site deste organismo e pesquisarmos os resultados de 2010, temos a agradável surpresa de constatar que, este ano, e até ao corrente mês, o cinema melhorou as suas audiências e por conseguinte as receitas.

Fenómeno Avatar à parte, não tem sido o 3D o grande dominador de audiências. Há salas que apesar de uma forte bilheteira, ainda não se converteram e parecem não dar mostras disso (Faro é disso um exemplo). Ao espreitar o ranking 2010 os suspeitos do costume estão no top 10 – Shrek, a Saga Twilight, Alice, ou Como treinares…, são alguns dos lideres, misturados com as grandes produções de Hollywood (Robin Hood, Prince da Pérsia, etc.).

O primeiro filme europeu, surge na modesta posição 30. O que tem de bom é ser “A Bela e o Paparazzo”, um filme português ocupa portanto o primeiro lugar dos não americanos ou ingleses.

Quanto aos números que falei, tradicionalmente Julho, Agosto e Dezembro, são os meses das grandes estreias e das grandes bilheteiras. Em 2009 apesar de ter sido um ano atípico por culpa da crise, os números não baixaram nos meses citados, tendo até aumentado, em valores pouco relevantes no Verão. Em 2010 estamos melhor. Julho teve um aumento de 9% face ao ano transacto, e em Agosto, o crescimento será similar pelos dados já obtidos.

Esperemos que o crescimento continue e que se reflicta também nos Cineclubes, sendo por isso que o CCO propõe um conjunto interessante e diversificado de filmes para o próximo mês, convidando-lhe desta já, a marcar presença em todas as sessões.

Vico Ughettopresidente direção CCO

Agenda do cineclube de Olhãowww.cineclubeolhao.com

> Sessões RegularesRia Shopping – sala 2 | 21.30 |Sócios:€1 | Não Sócios: €3

7 SET | Nothing Personal de Urszula Antoniak (85’)(M/12)

14 SET | Cold Souls de Sophie Barthes (101’)(M/12)

21 SET | Amintiri din epoca de aur de Hanno Höfer, Razvan Marculescu, Cristian Mungiu, Constantin Popescu, Ioana Uricaru (155’)(M/12)

28 SET | La teta asustada de Claudia Llosa (84’)(M/6)

O Cineclube é apoiado pela CM e JF de Olhão e pelo ICA (REDE 2010)

• Cineclube de Tavira

11ª Mostra de Cinema Europeu de Tavira

Mais uma vez as Mostras de Cinema de Tavira foram sucessos em todos os níveis, e em particular em termos de afluência de público. A 11ª Mostra de Cinema Europeu foi a mais concorrida desde 2005, portanto continua a haver um público que prefere disfrutar de bom cinema no grande ecrã, exibido em 35mm, em vez de estar sentado frente ao computador portátil ou uma televisão... Ficamos feliz por saber isso! Aproveito para agradecer em especial toda a equipa executiva das passadas Mostras, sem os quais nada teria sido como foi!

O Cineclube de Tavira não apenas realiza as Mostras de Cinema ao ar livre no Verão, durante todo o ano, em cada quinta feira e em cada domingo, realizamos duas sessões semanais no antiquado cine-teatro António Pinheiro na baixa da cidade. Ao programar estas sessões, sempre tentamos ser tão diversificados quanto possível ao nível de temática e de origem dos filmes, procurando sempre e em primeiro lugar exibir filmes de alta qualidade cinematográfica e de alta sensibilidade no tratamento do tema escolhido. Penso que cada um poderá encontrar algo do seu interesse no nosso programa do mês de Setembro. Começamos com o último documentário de Rui Simões: ILHA DA COUVA DA MOURA, que iremos exibir com legendas em inglês. Assim não só iremos facilitar a compreensão do nosso público estrangeiro residente mas também todos nós aproveitaremos a entender melhor os diálogos, já que muitas vezes a qualidade de gravação de som dos filmes nacionais dificulta sua compreensão...

Cineclube de Tavira

Agenda do Cineclube de Tavirawww.cineclube-tavira.com

> Sessões RegularesCine-Teatro António Pinheiro | 21.30

02 SET | A Ilha da Couva da Moura de Rui Simões (81’)(M/12)

05 SET | Mother/Madeo de Bong Joon-ho (128’)(M/16)

09 SET | Io Sono L'amore de Luca Guadagnino (120’)(M/12)

12 SET | Sin Nombre de Cary Fukunaga (96’)(M/16)

16 SET | Whisky de Juan Rebella & Pablo Stoll (99’)(M/12)

19 SET | Wendy and Lucy de Kelly Reinhardt (80’)(M/12)

23 SET | Cendres et Sang de Fanny Ardant (105’)(M/12)

26 SET | Knight and Day de James Mangold (109’)(M/12)

30 SET | Vincere de Marco Bellocchio (118’)(M/12)

Filme - Ilha da Couva da Moura

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E se de forma repentina lhe dissessem que o Algarve tem um Festival Internacional de Literatura? A surpresa seria

ainda maior se lhe dissessem que o festival é apadrinhado pelo Nobel da literatura Günter Grass? Talvez, mas não se surpreenda, tudo isto são factos e o evento chama-se Lit.Algarve e arranca já no próximo dia 16.

A ideia nasceu de Bárbara Fellgiebel, uma cidadã sueca nascida na Alemanha e radicada há mais de 30 anos no Algarve, mais de metade da vida da escritora, cuja obra mais relevante é “Suppenhühner und Zimtzicken”, uma obra que “vê com olhos críticos alguns alemães que vindos para o Algarve queriam adaptar os modos de vida locais à sua realidade em vez de a eles se adaptarem”, diz a autora.

Habit uada a pe rcor re r festivais de literatura, uma das suas paixões, por toda a Europa Bárbara Fellgiebel, presidente da ALFA (Associação dos Amigos da Literatura e do Filme no Algarve), decidiu que o Algarve, que oferece as melhores condições de clima e de segurança e é um dos destinos turísticos de eleição na Europa, poderia e deveria ter um festival de literatura como outras regiões com as mesmas características no velho continente têm.

Três pessoas na base do festival Pensada a ideia, amadureceu-a, e o Lit.Algarve ai está, cinco anos depois, criado por uma equipa de três pessoas a tempo inteiro e muito voluntariado à mistura, porque como diz a responsável, “se o Algarve se apresenta como qualidade tem de a ter também nesta área”.

A ideia pode parecer uma obra colossal à partida, mas Bárbara Fellgiebel levou-a a bom porto sem qualquer f inanciamento de entidades públicas, assente essencialmente na boa vontade dos cerca de 50 autores de oito países que vão marcar presença no acontecimento.

“Os autores most ra ram desde logo um grande interesse, especialmente os portugueses, que,

para meu espanto, não acharam estranha a ideia de ser uma estrangeira a organizar o evento”, refere a dirigente da organização do festival.

Dois anos foi quanto demorou a pôr de pé esta primeira edição, que conta com o alto patrocínio de Günter Grass e com nomes de peso como Lídia Jorge, Robert Wilson, Peter Cunningham, Vasco Graça Moura, entre muitos outros.

Objectivos do evento Gerar um cada vez maior interesse pela literatura e pela cultura em geral é o principal objectivo do festival, a que se alia a troca de experiências e conhecimento entre povos e culturas diferentes e a promoção da abertura de mentes de todos as sociedades face aos que as rodeiam perto ou longe, diz Bárbara Fellgiebel.

A tudo isto se soma um objectivo especial para a organização, o de fomentar o gosto pela literatura nos mais pequenos e para isso foi criado o Lit.Algarve, que conta com uma programação própria para as crianças, leva os autores ao meio escolar e traz as crianças para o centro dos inúmeros eventos do programa (ver caixa).

Para Bárbara Fellgiebel, acima de tudo interessa criar aquilo a que chama o “efeito Alfa”, isto é, “que os autores consigam através do contacto com o público gerar nos potenciais leitores a vontade de ler e a possibilidade de se apaixonarem em definitivo pela leitura e pela literatura”.

Momentos altos A programação é extensa, mas a organização destaca como momentos altos do festival a maratona de leitura, em que 40 autores lerão ininterruptamente para o público durante pelo menos 12 horas na Fatacil e que contará ainda com apontamentos artísticos variados, num encontro entre todas as nacionalidades e todas a artes.

Não interessa que não se conheça o idioma do leitor, diz Bárbara Fellgiebel, “se não se entende a língua deixemo-nos levar pela musicalidade da leitura”, uma ideia desafiante quando de 15 em 15 minutos há uma nova

voz, um novo texto e muito para descobrir numa maratona que se quer interactiva com o público.

Outro momento de grande interesse será a dramatização de poemas, em que autores, anónimos,

e público em geral são convidados a ler e a dramatizar poemas ou prosa poética, num desafio à capacidade comunicacional de cada um. A ideia promete e a verdade é que ler para outros é acima de tudo

comunicar e a comunicação só tem a ganhar com a dramatização da palavra.

Mas muito mais aguarda os visitantes das sessões do festival que se espalham de sotavento a

barlavento. Piqueniques literários, debates, workshops, apresentações, sessões de autógrafos e uma miríade de propostas estão na mesa, porque acima de tudo, o importante é a literatura e o acto de ler.

lit.algarve

Um festival de letras a Sul•

Bárbara Fellgiebel é a mentora do projecto Lit.Algarve

Por Ricardo Claro

Günter Grass nasceu em 1927 na Alemanha, é um dos mais importantes escritores mundiais e é exactamente este homem, um Nobel, que apadrinha o Lit.Algarve.

Foi poeta, romancista, argumentista e escultor. Educado em Danzig Volksschule e Gymnasium, aos 16 anos integrou a juventude hitleriana chegando a ser detido na Checoslováquia.

Em 1948 Grass estudou pintura e escultura na Academia de Arte Düsseldorf. Estudou ainda de 1953 a 1955 na State Academy of Fine Arts, em Berlim. De 1956 a 1960 trabalhou como escultor e escritor em Paris. Em 1956 escreveu o primeiro romance «O Tambor», aclamado pela crítica e traduzido em onze línguas.

Os seus outros trabalhos da década de 50 foram essencialmente peças para teatro, pouco conhecidas do grande público.

«O Tambor» foi a primeira parte da trilogia «Danzig», que continuou com

o conto «Katz und Maus» (1961, Cat and the Mouse). A tercei ra par te desta trilogia tomou forma no romance «Hundejahre» (1963, Dog Years).

Depois de ter at ing ido a fama com esta trilogia, Grass dedicou-se à actividade política.

Trabalhou como escritor “fantasma” do líder social-democrata Willy Brandt, que foi eleito chanceler em 1969-74. As suas posições políticas viriam a ser demonstradas nas obras «Évidences Politiques», «Journal

d’un Escargot», «Les Enfants par la Tête» e «Propos d’un Sans-Patrie».

Em 1986, Grass escreve «Dïe Rattin» (The Rat). «�ma Longa História», o«�ma Longa História», o seu último romance foi considerado o acontecimento literário de 1995, que o consagrou como um dos maiores escritores alemães do seu tempo. O auge do seu percurso literário culminou com o ‘Prémio Nobel da Literatura’, atribuído em 1999.

Controverso, muito criticado pela assunção da sua participação em forças do III Reich de Hitler, Günter Grass é, não obstante um nome incontornável da literatura Mundial, ainda mais depois do Nobel que ganhou no ano imediatamente seguinte ao de Saramago, o Nobel português da literatura.

O padrinho do festivald.r.

ALFAcultura

Associação dos Amigos da Literatura

e do Filme no Algarve

Autógrafos

Autographs

Autogramme

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panorâmica

E se de forma repentina lhe dissessem que o Algarve tem um Festival Internacional de Literatura? A surpresa seria

ainda maior se lhe dissessem que o festival é apadrinhado pelo Nobel da literatura Günter Grass? Talvez, mas não se surpreenda, tudo isto são factos e o evento chama-se Lit.Algarve e arranca já no próximo dia 16.

A ideia nasceu de Bárbara Fellgiebel, uma cidadã sueca nascida na Alemanha e radicada há mais de 30 anos no Algarve, mais de metade da vida da escritora, cuja obra mais relevante é “Suppenhühner und Zimtzicken”, uma obra que “vê com olhos críticos alguns alemães que vindos para o Algarve queriam adaptar os modos de vida locais à sua realidade em vez de a eles se adaptarem”, diz a autora.

Habit uada a pe rcor re r festivais de literatura, uma das suas paixões, por toda a Europa Bárbara Fellgiebel, presidente da ALFA (Associação dos Amigos da Literatura e do Filme no Algarve), decidiu que o Algarve, que oferece as melhores condições de clima e de segurança e é um dos destinos turísticos de eleição na Europa, poderia e deveria ter um festival de literatura como outras regiões com as mesmas características no velho continente têm.

Três pessoas na base do festival Pensada a ideia, amadureceu-a, e o Lit.Algarve ai está, cinco anos depois, criado por uma equipa de três pessoas a tempo inteiro e muito voluntariado à mistura, porque como diz a responsável, “se o Algarve se apresenta como qualidade tem de a ter também nesta área”.

A ideia pode parecer uma obra colossal à partida, mas Bárbara Fellgiebel levou-a a bom porto sem qualquer f inanciamento de entidades públicas, assente essencialmente na boa vontade dos cerca de 50 autores de oito países que vão marcar presença no acontecimento.

“Os autores most ra ram desde logo um grande interesse, especialmente os portugueses, que,

para meu espanto, não acharam estranha a ideia de ser uma estrangeira a organizar o evento”, refere a dirigente da organização do festival.

Dois anos foi quanto demorou a pôr de pé esta primeira edição, que conta com o alto patrocínio de Günter Grass e com nomes de peso como Lídia Jorge, Robert Wilson, Peter Cunningham, Vasco Graça Moura, entre muitos outros.

Objectivos do evento Gerar um cada vez maior interesse pela literatura e pela cultura em geral é o principal objectivo do festival, a que se alia a troca de experiências e conhecimento entre povos e culturas diferentes e a promoção da abertura de mentes de todos as sociedades face aos que as rodeiam perto ou longe, diz Bárbara Fellgiebel.

A tudo isto se soma um objectivo especial para a organização, o de fomentar o gosto pela literatura nos mais pequenos e para isso foi criado o Lit.Algarve, que conta com uma programação própria para as crianças, leva os autores ao meio escolar e traz as crianças para o centro dos inúmeros eventos do programa (ver caixa).

Para Bárbara Fellgiebel, acima de tudo interessa criar aquilo a que chama o “efeito Alfa”, isto é, “que os autores consigam através do contacto com o público gerar nos potenciais leitores a vontade de ler e a possibilidade de se apaixonarem em definitivo pela leitura e pela literatura”.

Momentos altos A programação é extensa, mas a organização destaca como momentos altos do festival a maratona de leitura, em que 40 autores lerão ininterruptamente para o público durante pelo menos 12 horas na Fatacil e que contará ainda com apontamentos artísticos variados, num encontro entre todas as nacionalidades e todas a artes.

Não interessa que não se conheça o idioma do leitor, diz Bárbara Fellgiebel, “se não se entende a língua deixemo-nos levar pela musicalidade da leitura”, uma ideia desafiante quando de 15 em 15 minutos há uma nova

voz, um novo texto e muito para descobrir numa maratona que se quer interactiva com o público.

Outro momento de grande interesse será a dramatização de poemas, em que autores, anónimos,

e público em geral são convidados a ler e a dramatizar poemas ou prosa poética, num desafio à capacidade comunicacional de cada um. A ideia promete e a verdade é que ler para outros é acima de tudo

comunicar e a comunicação só tem a ganhar com a dramatização da palavra.

Mas muito mais aguarda os visitantes das sessões do festival que se espalham de sotavento a

barlavento. Piqueniques literários, debates, workshops, apresentações, sessões de autógrafos e uma miríade de propostas estão na mesa, porque acima de tudo, o importante é a literatura e o acto de ler.

lit.algarve

Um festival de letras a Sul•

Bárbara Fellgiebel é a mentora do projecto Lit.Algarve

Fotos: d.r.

O lit.algarve dia-a-dia

Dia 16, 5ª feira

12.30 horas - EstômbarQuinta dos ValesOs suecos estão cá!Håkan Nesser, Mian Lodalen e Maria Sveland apresentam os seus livros e dão ideia da vida como autor, com vinho e gastronomia como acompanhamentoContacto: 917 602 60725 €

13.00 horas - EstômbarSítio das FontesAnfiteatroPiquenique com os autores alemães, Ruth Möbius-Hansen, Brigitte Vollenberge Kerstin LangeMúsica: Jackie O’GradyGratuitoTraga o seu farnel

14.00 horas - LagoaBiblioteca MunicipalOficina de trabalho de escritapara crianças com a autoraMarília LopesInscrição gratuita: 282 380 436

17.00-19.30 horas - PortimãoCentro de Línguas, Culturae Comunicação“4 Minutos”, filme alemãocom legendas em portuguêsGratuito

18.00 horas - LagoaBiblioteca MunicipalApresentação literáriacom Casimiro de Britoe debate com o públicoGratuito

19.00 horas - AlbufeiraHotel HapimagRefeição com quarto pratos e poemas com K at ha r ina Lanfranconi Hafner (Suíça)Contacto: 289 540 50024 €, sem bebidas

19.00 horas - AljezurEspaço MaisElla Theiss lê a sua obra“A Saliva do Diabo”C o n t a c t o : 9 6 4 2 2 0 3 5 0 Gratuito

19.00 horas - LagoaConvento São JoséIris Galey apresenta o seu livro “Não chorei quandoo meu pai morreu”Gratuito

19.30 horas - Armação de PêraHoliday Inn (Garbe)Jantar indiano com a autora inglesa Jill Fraser que lê histórias divertidas do seu livro“Mais chá, menos padre”Contacto: 282 320 260 - 28 €

20.00 horas - LagoaConvento São JoséEncontro com um dos candidatos ao prémio da Feira do Livrode FrankfurtGratuito

21.00 horas - Lagoa

Convento São JoséNOVOS TALENTOSLídia Jorge e Casimiro de Brito avaliam e aconselham escritores não publicados.Gratuito

Dia 17, 6ª feira

10.30 horas - AlbufeiraHotel Hapimag“A evolução dos poemas”,Katharina Lanfranconi Hafne (Suíça)Gratuito

11.30 horas - TaviraBiblioteca MunicipalApresentação literária pelos autores irlandeses Éi l ís Ní Dhuibhne e Peter CunnighamModerador: Salvador SantosGratuito

12.30 horas - Armação de PêraHoliday Inn (Garbe)Debate entre membrosda Associação de Empresáriasdo Algarve e os autores Jill Fraser (Reino Unido), Mian Lodalen e Maria Sveland (Suécia)Almoço tipo BuffetContacto: 282 320 26020 €

14.00-15.00 horas - AljezurBiblioteca da Escola Básicade AljezurLeitura com Lídia Jorge e turmas do 9º ano aberta ao públicoGratuito

15.00 horas – PortimãoCentro de Línguas, Culturae Comunicação“One Day in Europe”Fi lme em Alemão, Inglês, Francês, Castelhano, Russo e Turco in Deutsch, English, Français, Español, legendado em PortuguêsGratuito

17.00 horas - Fórum FNACAlgarve ShoppingRobert Wilson respondeao público e dá autógrafos

17.00 horas - São Brás de AlportelMuseu do TrajoRia van Doorn fala sobre“Comunicação consciente”Gratuito

18.00 horas - PortimãoCasa-Museu Manuel Teixeira GomesAutora britânica Jenny Grainer apresenta o seu livro“Algarve, passado e presente”Gratuito

19.00 horas - São Brásde AlportelMuseu do TrajoRuth Möbius-Hansen, Brigitte Vollenberg, Vera Henkel e Franz Neumayr falam dos seus livrosGratuito

19.30 horas - EstômbarQuinta dos Vales

Joachim Henn apresenta o seu livro “A Pils é uma cerveja”Gratuito

19.30 horas - EstômbarSítio das FontesAnfiteatro“O segredo do sucesso”, frente a frente com Robert Wilson (Reino Unido) e Håkan Nesser (Suécia)Gratuito

20.00 horas - São Brásde AlportelMuseu do TrajoApresentação literária com James Ryan (Irlanda)Gratuito

20.00 horas - Ribeira do RuivoCafé Flôr da SerraTeatro alemão na serra“Cabaret do corvo preto”Gratuito

21.00 horas - OlhãoBiblioteca MunicipalApresentação literáriocom Casimiro de Britoe debate com o públicoGratuito

21.00 horas - LagoaConvento São JoséSerão de PoesiaAfonso Dias apresenta vários poetas: Marília Lopes, Maria João Cantinho e outrosGratuito

21.00 horas - EstômbarQuinta dos ValesApresentação literária com Vasco Graça Moura e debatecom o públicoGratuito

Dia 18, Sábado

10.00-22.00 horas - LagoaFatacilMARATONA DE LEITURA Gratuito

11.00-13.00 horas - LagoaFatacilSala de conferênciasWorkshop de escritpara iniciados com a autora britânica Jenny GrainerContacto: [email protected]

11.30 horas - Caldasde MonchiqueLongevity Wellness ResortTitus Müller e Franz Neumayr apresentam os seus livrosGratuito

14.00 horas - São Brásde AlportelRota da CortiçaPoesia no Sobreiral com Casimiro de BritoContacto: 289 840 100Gratuito

14.00 horas - Fórum FNACAlgarve ShoppingJenny Grainer (Reino Unido) apresenta o seu livro “Algarve,

passado e presente”Gratuito

15.00 horas - Fórum FNACAlgarve ShoppingConcurso de dramatizaçãode poemasInscrição: [email protected]

16.00 horas - Fórum FNACAlgarve ShoppingJill Fraser apresenta novamente o seu livro “Mais chá, menos padre”Gratuito

16.30 horas - LagoaBiblioteca MunicipalApresentação literária com Maria da Conceição Caleiro e debate com o públicoGratuito

17.00 horas - São Brás de AlportelBiblioteca MunicipalApresentação literária com Lídia Jorge e debate com o públicoGratuito

17.00 horas - Armação de PêraHoliday Inn (Garbe)Maratona de autógrafos no bar com Iris Galey, Jill Fraser, Mary O’Donnell, Éilís Ní Dhuibhnee Lisa Selvidge (autores britânicos e irlandeses)

18.00 horas - Fórum FNACAlgarve ShoppingApresentação literária com Vasco Graça Moura e debatecom o públicoGratuito

18.30 horas - São Brásde AlportelMuseu do TrajoJosé Alberto Quaresma apresenta Manuel Teixeira GomesGratuito

19.00 horas - TaviraThe Black Anchor Irish BarApresentação literária porautores irlandeses com Mary O’Donnell e James RyanGratuito

19.00 horas - AlbufeiraHotel HapimagRefeição com quarto pratose histórias deliciosas com Regina Schleheck (Alemanha)Contacto: 289 540 50024 €, sem bebidas

19.00 horas - Fórum FNACAlgarve ShoppingApresentação literária com Maria João Cantinho e debatecom o públicoGratuito

20.00 horas - Ribeira do RuivoCafé Flôr da SerraTeatro Alemão na Serra“Cabaret do corvo preto”Contacto: 282 947 683Gratuito

21.00 horas - Portimão

Centro de Línguas, Culturae Comunicação“Emmas Glück”, Filme alemão com legendas em portuguêsGratuito

21.00 horas - PortimãoTEMPOLançamento do livro “Amo Agora” por Casimiro de Brito

21.00 horas - Fórum FNACAlgarve ShoppingApresentação literáriacom Cristina Carvalhoe debate com o públicoGratuito

21.30 horas - PortimãoTEMPO (Concerto com Marina Cedro: Tango e Poesia …A BOCA E UM LEITO10- €

Dia 19, Domingo

11.00 horas - EstômbarQuinta dos ValesApresentação literáriacom Cristina Carvalhoe debate com o públicoGratuito

12.00 horas - EstômbarQuinta dos ValesGuisado irlandês com os autores irlandeses Peter Cunningham, Éil ís Ní Dhuibhne e Mary O’Donnell Inscrição: 969 052 712

12.30 horas - SilvesCafé InglêsAlmoço com Casimiro de BritoReserva: 282 442 585

13.00 horas - EstômbarSítio das FontesAnfiteatroPiquenique com Katharina Lanfranconi, Titus Müller, Regina Schleheck e Ella TheissGratuitoLeve o seu farnel

15.00-17.00 horas - TaviraA Lura dos LivrosEscrever memórias (workshop) com Writing Lisa Selvidge(Reino Unido)Contacto: 281 323 19910 €

17.30 horas - TaviraCasa das ArtesIris Galey, Janice Russell, Lisa Selvidge e Jill Fraser apresentam quarto livrosGratuito

Notas:* Para mais informações dve ser contactada a organizaçãodo evento

** Alguns os eventos serão falados nas línguas natais dos autores, mais informação disponível no sítio da internet www.alfacultura.com

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Associação dos Amigos da Literatura

e do Filme no Algarve

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O passaporte do festival para guardar os autógrafos dos escritores

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arte

A ALFA - Associação Livre Fotógrafos do Algarve realizou no passado dia 29 de Agosto uma viagem a Lagos para cobrir a apresentação do espectáculo Gnosis de La Fura Dels Baus.

Dada a qualidade da inicia-tiva e a grande expectativa face ao evento,

a ALFA endereçou o convite aos seus associa-dos para enveredarem

nesta aventura

que teve inicio pelas 18h do dia 29, junto ao Teatro das Fig-uras, em Faro, a bordo de um

autocarro cedido pela Câmara Municipal de Lagos. Foi grande o entusiasmo até ao restaurante Adega da Marina, onde os “Al-fistas” pararam para jantar e continuar o animado convívio e troca de experiências inerente a este tipo de iniciativas.

Depois, a comitiva seguiu para o local do evento, a pé, en-volta num rio de multidão que se adensava desaguando num mar de gente que rodeava o gigantesco arsenal de equipa-mento técnico composto por torres de iluminação, uma grua e diversa maquinaria de cena.

Os fotógrafos, também eles devidamente equipados com as suas máquinas fotográficas, posicionaram-me o melhor que

conseguiram para recolher

momentos únicos que podem agora ser apre-

ciados

no site e no facebook da as-sociação: http://www.alfa.pt.

Considerada uma das maio-res companhias de teatro ex-perimental do mundo, os “Fura” apresentaram uma performance baseada no papel dos portugue-ses no período das descobertas, no saber e no conhecimento que estes trouxeram ao mundo. O espectáculo, centrado na fig-ura do Infante Dom Henrique, marca o regresso da companhia a Portugal e resultou de uma

encomenda do Allgarve.O Cultura.Sul teve o prazer

de acompanhar esta aventura, organizada por Carlos Cruz, membro da direcção, conviver com os associados e conver-sar com Maia Coimbra, actual presidente da ALFA.

Esta foi apenas

uma das muitas ini-ciativas promovidas por

esta associação.

Com os objectivos de din-amizar, promover e divulgar a fotografia, e outras formas de expressão artística relaciona-das, em todo o Algarve e pro-mover o aperfeiçoamento da arte fotográfica, em todos os

seus aspectos e modalidades, como veículo de expressão e in-tervenção social, têm sido din-amizadas acções de formação, workshops temáticos, passeios fotográficos e exposições col-ectivas e individuais. Estas são actividades acessíveis a todos e com inúmeras vantagens para os associados.

Comitiva ALFA cobre La Fura Dels Baus •FOTOGRAFIA

A História da ALFA

A Associação Livre Fotógra-fos do Algarve - ALFA nasceu formalmente a 7 de Março de 2008 na Conservatória Co-mercial de Loulé, graças ao empenho de um grupo de fotógrafos amadores e profis-sionais na região algarvia, en-tre eles Manuel Andrade, João Prudêncio, Tatá Regala e Jovi-no Baptista, que assim criaram as condições para juntar aman-tes da arte fotográfica numa organização que tem como ambição tornar-se uma refer-ência na área da fotografia no Algarve.

Sedeada no Concelho de Faro, a ALFA é uma associação sem fins lucrativos, que procura a participação e o envolvim-ento de todos os associados, no sentido de dinamizar a vida as-sociativa e fomentar o espírito colectivo, interagindo com as mais diversas entidades a nível regional, nacional e internacio-nal.

Conta com novos Orgãos Sociais desde 26 de Março de 2010, mandato para o biénio 2010-2012.

por João Evaristo

Mauro Rodrigues Maia Coimbra Malin Lofgre

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arte

Actividades ALFA em Setembro e Outubro de 2010

A ALFA vai realizar 10 acti-vidades até ao final de Outubro deste ano, de acordo com pla-no de actividades aprovado em Assembleia Geral.

>11 e 12 de Setembro – Faro - Ciclo de gestão de imagem – Formação/Workshop em Adobe Photoshop – Nível 2

Formação no programa Adobe Photoshop ao nível de utilizador avançado, na se-quência da primeira de inicia-ção onde foram desenvolvidas as competências básicas do fo-tógrafo neste tema. Vão ser ex-postas técnicas e metodologias avançadas, com uma metodo-logia activa e prática, em que os fotógrafos vão desenvolver competências em edição de imagem para diferentes tipos de trabalhos, workflow avança-do com a utilização do Adobe Camera Raw, e outros aspectos essenciais que o fotógrafo pre-cisa de dominar na utilização deste software.

>25 de Setembro – Faro – Ciclo Beauty Sessions - Formação/Workshop inicial de moda em estúdio - Fashion & Glamour – Colaboração com

Algarve Stock Models (ASM) – Nível 1

Destinado aos fotógrafos que querem aprender e co-nhecer a fotografia de estúdio, este workshop tem o nível 1, isto é, básico e iniciação. Mais tarde ir-se-ão realizar outros workshops com níveis mais elevados, nomeadamente os níveis 2 e 3. Dividida entre ses-sões teóricas e práticas, e com a presença de duas modelos, pretende-se abranger os assun-tos e temas básicos da fotogra-fia de moda em estúdio, como a luz, o flash e os equipamentos e acessórios de estúdio.

>1 a 3 de Outubro – Vila do Bispo – Observação de aves e foto-reportagem em Sagres - Colaboração com Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA)

Destinado a todos os inte-ressados nesta área, pretende--se que seja feita a observação das aves migratórias, com o respectivo registo fotográfico das aves mais importantes, e que se faça a foto reportagem desta actividade, e do concelho de Vila do Bispo, com a possi-bilidade de realização de uma exposição dos melhores traba-lhos. Os temas a explorar serão Aves em Migração, Obser-vadores de aves, Paisagens de Sagres, o Bom Ambiente em Sagres, o Mau Ambiente em Sagres, o Mar de Sagres, Cre-

púsculos e Nocturnos, Sagres e a Biodiversidade e “Tudo me-nos Aves”. >13 de Outubro – Faro –

Abertura de exposição foto-gráfica colectiva sobre o tema “Prevenção Rodoviária” – Colaboração com MS Car

Para a celebração do dia mundial da prevenção rodovi-ária, a ALFA e a MSCar vão realizar uma exposição com fotografias feitas pelos associa-dos da ALFA, que vão realçar a importância deste dia mundial, e que se reveste de crucial im-portância nos dias actuais. Esta exposição vai estar presente nas instalações da MSCar em Faro e em Portimão, estando tam-bém prevista a apresentação desta em Tavira.

>16 de Outubro – Portimão - Ciclo Beauty Sessions – Formação/Workshop em Maquilhagem para moda - Nível 2

Pretende a ALFA dotar os fotógrafos de competências específicas na área de maqui-lhagem para moda com esta acção. Vai ter uma metodologia teórica e prática, na qual os fo-tógrafos vão receber formação específica neste tema, e vão ter o papel de maquilhadores, e ser eles a fazer a maquilhagem das suas modelos. Está previsto a disponibilização de um “kit de maquilhagem para fotógrafos”,

que fará parte integrante do equipamento dos fotógrafos, e a que estes poderão recorrer sempre que necessitarem.

>27 de Outubro – Faro – Terúlia sobre o tema “Fotografia – Da história e da Estética”, apresentada por Fernando Amaro ( professor da Universidade do Algarve e especialista em história da fotografia)

Discussão pública sobre o tema “Fotografia – Da histó-ria e da Estética”, sendo esta orientada pelo associado da ALFA Fernando Amaro, com larga experiência técnica e académica. Vão ser revistos e discutidos os temas mais im-portantes sobre a história da fotografia, e sobre a sua evo-lução.

>Portimão – Passeio fotográ-fico com visita a uma unidade de panificação

Passeio fotográfico a uma panificadora, no qual os fotó-grafos vão observar e registar nas câmaras todos o processo do fabrico do pão e dos restan-tes produtos. Da produção à distribuição.

Panificadora Portimonen-se, junto a passagem de nível dos Caminhos de Ferro (CP), sábado 30 de Outubro a parir das 22 horas da noite. Mais de-talhes com José Garrancho do Núcleo do Barlavento, através

do telem. 96 5229476. Grupo limitado a 10 participantes.

>Faro – Tertúlia sobre Picture Styles ( data a definir)

Discussão pública sobre o tema “Picture Styles”, sendo esta orientada pelo presiden-te da ALFA Maia Coimbra, com larga experiência técnica na área. Vai ser demonstrada a importância de utilizar este recurso das máquinas fotográ-ficas actuais, e que melhora o resultado final do trabalho de qualquer fotógrafo.

>Portimão – Ciclo de ges-tão de imagem – Formação/Workshop de gestão de cali-bração de cor - Nível 2 (data a definir)

Pretende a ALFA dotar os fotógrafos de competências específicas na área da gestão e calibração de côr com esta ac-ção. Vai ter uma metodologia teórica e prática, na qual os fotógrafos vão receber forma-ção específica neste tema, vão conhecer os métodos e equipa-mentos (color checker), e vão trabalhar com estes, e avaliar a sua importância o resultado final do fotógrafo, enquanto amadores e profissionais.

Mais informações, e foto--reportagem das actividades referidas em www.alfa.pt. e no facebook.

Malin LofgreMauro Rodrigues

Maia Coimbra Mauro Rodrigues

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apontamentos

Por Ana Isabel Renda*

O desenvolvimento do turismo traz aos territórios novas dinâmicas e desafios. O lugar, que para os residentes é o seu espaço de partilha e con-vívio, transforma-se num outro lugar ou até mesmo num “não lugar” onde novas relações e novas regras se estabelecem e no qual estes sentem por vezes dificuldades em se posicionar.

Neste novo lugar interagem residentes e turistas com per-spectivas muitas vezes dife-rentes ou mesmo antagónicas sobre as dimensões culturais. Os residentes vêem, de repente, o seu lugar invadido pelo tur-ismo, o seu quotidiano altera-se, as relações com os turistas tornam-se frequentes.

Repentinamente os resi-dentes transformam-se a eles mesmos e descobrem uma nova forma de estar. O residente pas-sa a ter o papel de anfitrião, de hospedeiro. De um momento para o outro o residente torna-se um dos agentes principais do desenvolvimento turístico e, mesmo sem essa consciência assume o papel de hospedeiro. É hospedeiro à força porque raramente lhe é perguntado se

está disposto a assumir esse pa-pel ou se concorda e apoia o de-senvolvimento turístico. Mas é também hospedeiro voluntário porque procura o contacto, a relação a experiência da nova realidade a diferença e a mu-dança.

Nesta nova realidade, aq-uilo a que o turista dá valor e que procura, muitas vezes não é o mesmo que o residente re-conhece como tendo valor ou sendo digno de especial atenção uma vez que para si faz parte da sua realidade de sempre. Actu-almente o movimento turístico faz-se presente em novos ter-ritórios ou redescobre os já existentes através da procura, pelos turistas, da singularidade dos outros, numa experiência que desejam marcante nas suas vidas. Esta situação leva a que cada vez mais a cultura imate-rial seja reconhecida, recriada e valorizada para fins turísticos.

O turista procura na diferen-ça cultural, na forma como esta imaterialmente se manifesta pelas práticas quotidianas, fes-tividades e valores subjacentes, um antídoto à homogeneiza-ção global. A singularidade da cultura da comunidade recep-

tora atrai o olhar do turista em busca da autenticidade do lugar, seja esta construída ou não para o turismo.

Na verdade, é através da cultura imaterial que as novas dinâmicas turísticas se desen-volvem, assentando na partilha de elementos únicos, diferen-ciadores, através dos quais os residentes, como hospedeiros dedicados, presenteiam os turistas, proporcionando-lhes as experiências marcantes que estes procuram.

A cultura imaterial assume assim uma importância de-terminante no desenvolvim-ento turístico e constitui o elo de ligação privilegiado entre o turista e o hospedeiro pela par-tilha diferenciada que propor-ciona.

O carácter contraditoria-mente efémero e duradouro da cultura imaterial, expressa através dos quotidianos ou de eventos propositadamente cria-dos para o turismo, revela-se a grande linha orientadora de desenvolvimento dos destinos turísticos e constitui uma ex-celente forma de difusão cul-tural.

Esta tendência no turismo,

sendo evidente a nível mundi-al, ocorre também no Algarve. Podemos contar cada vez mais com ofertas culturais diversi-ficadas onde cultura imaterial, muitas vezes articulada com património construído e re-inventado. Na verdade prolif-eram as ofertas culturais onde, num processo de construção conjunta, turistas e residentes participam. Encontramos as-sim programas a nível alargado como o ALLGARVE mas também eventos mais singu-lares e pontuais, de pequena dimensão a nível concelhio ou de freguesia, promovidos pelos organismos do estado ou por associações culturais ou sociais, frequentemente sem fins lucra-tivos. Trata-se em muitos casos de práticas sociais tradicionais, religiosas e culturais que, ao in-vés de se reproduzirem exclusi-vamente para as comunidades originárias, se recriam para o turismo acolhendo os novos participantes numa dinâmica cultural que nuns casos é con-sciente e deliberada, noutros casos é imposta e pode mesmo ser conflituosa.

Há por isso uma multiplici-dade de sentimentos e práticas

nestas relações entre turistas e residentes, uma hospitalidade na generalidade positiva embo-ra por vezes menos entusiasta. Há um misto de incredulidade, medo, admiração e entusiasmo que caracterizam os sentimen-tos e comportamentos dos resi-dentes e dos turistas neste novo lugar e tempo que determinam mudanças nos contextos sociais e nas práticas culturais, numa compatibilização entre tradição e modernidade suscitando uma mais acelerada mudança de valores. Assistimos a uma con-vivência de multicomunidades e inerentes multiculturalidades, que se manifestam em percep-ções e valorizações distintas das manifestações imateriais da cultura.

Hospedeiro “à força”… ou talvez não!O papel da cultura imaterial na relação turista/residente

*artigo produzido no âm-bito do 2º Curso de Jornal-ismo Cultural realizado com o apoio do CENJOR, numa parceria entre a AGECAL e o POSTAL

•OPINIÃO

Os públicos das instituições culturais colocam-nos questões que nos obrigam a pensar a comunicação cultural. No caso específico do Algarve o desafio poderá ser ainda maior.

A oferta cultural na região al-garvia tem vindo a aumentar na última década.

Para tal contribuiu o inves-timento realizado pelos mu-nicípios na construção e re-cuperação de equipamentos culturais, como teatros, museus e bibliotecas. O circuito cultural algarvio tem vindo a desen-volver-se, mas para quem? para

a população residente? para os turistas? A questão dos públicos é inerente ao funcionamento de qualquer instituição cultural. Sem estes a sua existência é difícil de justificar.

O Algarve debate-se com o problema da sazonalidade, não só na área da cultura mas em todos os sectores de actividade.

A região tem como principal fonte de receitas o turismo, preponderante na época do Verão. Embora já se notem esforços para combater a discrepância época alta / baixa, é natural que as organizações que prestam serviços culturais possam cair na tentação de orientar a sua produção de forma a tirar partido da situação.

Fará sentido desenvolver a actividade cultural em função de públicos flutuantes?

Considero difícil que uma instituição cultural viva somente da população flutuante da cidade, ou mesmo da região onde se encontra. Se não estabelecer laços com a comunidade que a rodeia, dificilmente a sua existência será reconhecida como uma mais valia

para os seus habitantes. E é este que deverá ser sempre o seu objectivo primordial.

Para que ta l aconteça , a instituição cultural terá de definir quais os seus objectivos e estratégias para os atingir. Assim, deverá responder às questões: o que fazer? para quem fazer? como fazer?

Q ua lquer e s t r a tég i a de angariação de públicos depende de uma resposta clara a estas três questões. São elas que definem o rumo da instituição, tornando-se determinantes para o seu sucesso ou fracasso.

Uma instituição com uma identidade clara, que passa pela divulgação do seu trabalho, permite ao público a compreensão das actividades promovidas e dos serviços prestados. A divulgação faz com que cada indivíduo se sinta valorizado e alvo preferencial da actividade: «este concerto, esta exposição, este percurso foi feito para mim». Da mesma forma, o público não deve ser abandonado na fase posterior à actividade.

É importante que seja feita

uma análise da evolução dos públicos e do seu comporta-mento.

Tal permite que a estratégia de captação e formação de públicos não seja rígida e que se vão redefinido os objectivos de forma a que a instituição não morra a médio prazo.

O desenvolvimento cultural não se faz sem públicos.

As instituições culturais estão alerta para esta situação e muitas vezes desenvolvem esforços para comunicar a sua actividade, esforços estes que nem sempre são compensados. Um dos principais obstáculos com que se deparam é a sobrecarga de informação que invade o espaço público e impossibilita a visibilidade alargada que procuram. Esta situação dificulta os processos de comunicação das instituições que não tenham os recursos humanos, financeiros e tecnológicos para veicular a informação sobre as suas acções de uma forma mais efectiva.

Desta forma, a coordenação voluntária entre organismos

culturais é necessária e desejável para a organização da oferta cultural da região e consequente comunicação com os públicos potenciais.

Já vão surgindo no Algarve al-gumas redes informais entre as diversas organizações culturais. Este facto tem vindo a permitir a troca de ideias, a articulação de estratégias e a implementação de rumos conjuntos para a definição da oferta cultural. Só assim se poderá esboçar uma estratégia para chegar aos públicos locais, que podem participar e se identificar com as instituições culturais da região, frequentando-as. Considerando-as suas.

•ESPAÇO AGECAL

Comunicar a Cultura

Cristina BragaVice-Presidente da AGECAL

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apontamento

No cenário de competitividade global da sociedade pós-industrial, a nova empresa deve saber encarar a cultura não apenas como um elemento externo com

o qual interagir através de uma participação simbólica numa óptica de mecenas ou encarando-a como uma mera ocasião de visibilidade, mas como um factor imperativo da própria evolução estratégica.Compreender esta dinâmica s i g n i f i c a a p r o v e i t a r a s potencialidades que a cultura oferece à valorização do principal recurso de que a empresa dispõe para enfrentar os próprios desafios competitivos: o capital humano. Este cenário aplica-se quer perante o entendimento do papel da cultura numa óptica sistémica, destinada a melhorar o contexto envolvente, quer numa óptica empresarial com vista a promover inovações de processos e produtos.

A teoria da vantagem com-

petitiva de Porter evidencia claramente quanto a orientação e o recurso a processos e tecno-logias avançadas na produção de bens e serviços possa consti-tuir um elemento determinante ao serviço da competitividade de um território, em particu-lar modo dos clusters que nele operam. Assim, a génese da inovação deixa de poder ser considerada isoladamente: não é apenas fruto de processos internos de uma empresa, mas de interacção local entre acto-res inteligentes que constituem um “habitat” capaz de evoluir e renovar continuamente e sistematicamente os próprios objectivos. E aqui reside a im-portância de cultivar um tecido sociocultural capaz de acolher, atrair e alimentar contextos

produtivos inovadores. Neste sentido, o conceito de corporate social responsability, frequent-emente instrumentalizado e restringido aos limites do mar-keting, deve-se converter numa opção estratégica indispensável para a empresa a fim de contri-buir para um território fértil e consequentemente capaz de de-volver inteligências criativas. A relação entre cultura e empresa, como evidenciado por diversas pesquisas internacionais, oferece sinais não menos interessantes também se circunscritos ao microcosmo empresarial constituindo um verdadeiro estímulo à produção de novas ideias. É interessante notar que, mediante uma comparação do ranking da taxa de participação a actividades

artísticas dos cidadãos europeus e do European innovation scoreboard, o resultado dos países europeus que se encontram acima da média UE27 no primeiro ranking coincidem com os que se encontram acima da média UE27 no segundo.

Em ambas as listagens, como seria de esperar, Portugal, Grécia, Irlanda, Itália e Espanha situam-se abaixo da média europeia.

Cristian ValsecchiEconomista da cultura e Gestor Factor Desenvolvimento [email protected].

•OPINIÃO

A Cultura como factor produtivo para o crescimento empresarial

•OPINIÃO

Por António Laginha

“GNOSIS”: A Última criação dos Fura Dels Baus em Lagos

De regresso a Portugal o grupo catalão “La Fura Dels Baus” – que ao longo de mais de duas décadas tem sido uma pre-sença constante no nosso país – assentou arraiais em Lagos, a cidade que este ano recorda a passagem de 550 anos sobre a morte do Infante.

Nos últimos dias de férias de Verão de 2010, junto da está-tua de Henrique o Navegador e embalado por versos de Fer-nando Pessoa, um grupo de 60 intérpretes portugueses, 40 criativos e técnicos e duas gruas, deram vida a “Gnosis”.

Uma plateia de vários mil-hares de pessoas – muitas delas turistas – espalhadas pela maior praça fronteira ao mar no cora-ção da cidade, passaram quase uma hora a olhar para o ar, já que este trabalho está nos an-típodas do primeiro que os Fura apresentaram em Portugal (nos jardins da Fundação Gulben-kian) e em que os “performers” surgiam enterrados no chão.

Inspirado nos Descobrimen-tos e nas forças cósmicas, o espe-ctáculo assenta, basicamente, na exibição de grandes “objectos” povoados com figuras brancas, alternadamente por duas gruas, uma das quais elevando os ar-tistas a muitas dezenas de met-ros do solo. O primeiro grande passeio aéreo foi protagonizado por um triângulo constituído por um anjo e dois “querubins” batendo asas e despejando nu-vens de penas sobre a multidão.

Depois iluminou-se uma am-pulheta gigante com uma mul-her nua dentro de bolinhas de esferovite, numa alusão óbvia ao correr do tempo. De simbologia em simbologia, as gruas foram levantando sucessivamente um enorme globo coberto por pa-nos brancos, de onde umas duas dúzias de homens e mulheres atiraram das alturas sacos de plástico e papéis, e uma mario-neta gigante feminina prateada

que se passeou uns bons cem metros com desusada desen-voltura. O último voo coube a um gigante mobile humano com encapuzados suspensos por arneses que mais parecia uma grelha de minhocas bran-cas viajando pelo céu negro ao som de poderosa música am-biente que, juntamente com um habilidoso e sofisticado desenho de luzes, criou um es-

pecial clima de sonho e fantasia durante toda a obra. Uma curta e inusitada exibição de (rico) fogo-de-artifício encerrou um evento que impressionou pela escala – a maioria dos números aconteceu a uma altura proi-bida a quem tem vertigens – e pela sensação de grandiosidade. Poesia e História ficaram pelo caminho… mas, uma vez mais, os Fura, com um espectáculo algo previsível, sem grande

dinâmica, que não envolveu o público nem primou pela pro-vocação e que esteve longe do impacto dos muitos que têm vindo a apresentar em Portu-gal, mostraram que ao longo de toda a sua trajectória têm sabi-do reinventar-se e manter uma linha artística muito personal-izada e altamente profissional.

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biblioteca

•BIBLIOTECA MUNICIPAL DE ALBUFEIRA

Inserido no propósito do Plano Nacional de Leitura, “Livro que ladra não morde!”, pretende ser, ao mesmo tempo um espectáculo educativo, for-mador, criativo, lúdico e diver-tido. Em que se estabelece um diálogo constante, interactivo, com alunos, professores e pais.

Incentivando alunos, pais e pro-fessores a comungar a leitura e a sua descoberta. Promovendo o livro como fonte inesgotável de conhecimento, beleza e prazer.

Ao longo do espectáculo, o grupo de teatro A Gaveta irá abordar actores como Luísa Ducla Soares, Álvaro Magal-hães, Manuel António Pina,

Sophia de Mello Breyner An-dersen, António Torrado.

Já ouviram algum livro ladrar? A resposta será surpreendente.

27 SET | 10.00 | Biblioteca Municipal Lídia Jorge (Albu-feira)

Afonso Dias apresenta mais um recital que ilustra, pela palavra dos poetas, a longa e sofrida viagem do povo portu-guês desde os tempos de luta pela República até à libertação de Abril.

Uma evocação dos valores nobres da Liberdade, da Soli-dariedade e da Justiça.

A palavra e o canto que ajudaram a construir a bandeira e a definir a nação são recorda-dos pela voz deste artista.

30 SET | 21.30 | Biblioteca Municipal Lídia Jorge (Albu-feira)

No dia 15 de Setembro, pelas 18h, tem lugar na Bib-lioteca Municipal de Olhão a inauguração da exposição “In-visível”. A biblioteca procura com este evento criar abertiura a novas formas de conhecimen-to e sensibilidade estética. A ex-

posição apoia-se num conceito que pretende apresentar com-plexidade do produto de design editorial e revelar a sua essência: a harmonia criada a partir de pequenos elementos, princípios e subtilezas que não só inte-gram o resultado final como se assumem enquanto verdadeira-

mente imprescindíveis já que, isoladamente, são tantas vezes invisíveis para o leitor.

15>30 SET | Biblioteca Mu-nicipal de Olhão

A Biblioteca Municipal de Olhão dinamiza um ciclo de conferências para comemo-rar o centenário da república evocando as ideias e represen-tações, aspirações, realizações e legados caracterizadores dos primeiros e complexos tempos deste regime. Através de uma viagem pela produção literária e filosófica de vários autores desta época, revisitar-se-ão as vertentes utópicas que geram o ideário da república, o empenho intelectual que a sustentou, a aposta de modernidade que ela continha e que desejaria ter vis-

to prolongar-se por mais tem-po, bem como vozes opositores a certos aspectos da instauração da república.

No dia 24 de Setembro, pelas 21h, o Prof. Doutor João Carv-alho apresenta: O Integralismo de sardinha, o saudosismo de pascoais e o modernismo de Pessoa.

24 SET | 21.00 | Biblioteca Municipal de Olhão

•BIBLIOTECA MUNICIPAL DE OLHÃO

Teatro “O livro que ladra não morde” pela Gaveta Recital de poesia ‘Verde e Vermelho - da República à Liberdade' por Afonso Dias

Ciclo de Conferências na Biblioteca Municipal de Olhão “Invisível”Exposição de tipografia e design editorial do curso de design e comunicação da ESEC-UALG

A República: Figuras, Escritas e Perspectivas

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livro

É sabido que Frederico Lourenço (n.1963) se dedicou ao estudo da música (piano e cravo) e da língua alemã antes das letras clássicas. Talvez por isso o estranho seria ainda não ter publicado poesia. Corrijo: poesia da sua autoria. Corrijo: poesia que tivesse apenas o seu nome.

Está difícil começar a escrever sobre um livro tão pequenino (19 poemas distribuídos por 43 páginas): Santo Asinha e Outros Poemas, lançado no passado mês de Junho pela Caminho/Leya). Porque os livros não se medem aos palmos.

Tradutor: traidor ou autor?

Quando escrevi que este era o primeiro livro de poesia de Frederico Lourenço, estava a deixar-me levar pelas informações que a editora e as l ivrarias divulgaram. Mas, na verdade, as suas traduções da Ilíada e da Odisseia (publicadas pela Livros Cotovia, em 2005 e 2003, respectivamente) são, também elas, poemas da sua autoria. Pois se tradutor é traidor (traduttore, traditore) não deixa de ser também autor. Já nessas traduções, Frederico Lourenço assumia a sua preocupação em «reproduzir, ao nível da própria fonética, a música do original» (Prefácio à Odisseia,

p.8). Só um poeta poderia traduzir assim poesia.

Poesia e músicaA dedicatória ao compositor

Alexandre Delgado faz antever o carácter musical destes poemas, que atinge a sua forma mais explícita no último capítulo, que dá o nome ao livro, «Santo Asinha», que tem como subtítulo «Lenda para barítono e orquestra». Quem teve a possibilidade de ver o próprio Alexandre Delgado a conduzir a orquestra do Algarve (da qual foi o compositor associado este ano de 2009-2010) em Lagos, também em Junho, na primeira apresentação mundial desta obra (na «estreia absoluta», como foi divulgado), pôde apreciar este poema, cantado pelo barítono Luís Rodrigues. Quem nunca ouviu (como, infelizmente, é o meu caso) pode deliciar-se com a limpidez da expressão de Frederico Lourenço, que consegue criar o ambiente das lendas e dos milagres, com palavras e ritmos que nos fazem suspender a respiração (No coração sentia martelar o medo:/quanto menos falas melhor. /O aldeão mediu o outro de esguelha. /Já se via furado no peito com golpe de punhal. /Quanto mais medos bulia, mais violências fabricava. /Estudava pausas, movimentos, como furtivo caçador. /Mediu a distância, como quem mede o último passo da vida.) ou libertar os sentidos, antevendo o que poderiam ser estas palavras em música (Sem prevenir os caminheiros, no mais ébrio dos acasos, /como num acesso de esplendor, /todas as aves do mundo de amor cantaram. /Fugiam sons de ínfimos esconderijos, /rompiam melodias dos arbustos, esgueiravam-se harpejos das pedras, /como num claustro

invadido por coros. /Pararam as gentes maravilhadas, surpresas, entontecidas.)

A música está presente por todo o livro, quer através dos títulos dos capítulos («IV. Da Música»), quer dos nomes dos poemas (como em «Gavotte da Rainha Louca», numa dupla referência: ao andamento musical – gavotte – e à ópera «A Rainha Louca», também de Alexandre Delgado), quer em evidentes citações, como quando enquadra um verso em alemão (que, traduzindo, significa «desce, ó noite de amor»), da ópera de Wagner «Tristão e Isolda», no corpo do poema (p.29): Desce do tempo, desce das estrelas, /o sink hernieder, Nach der Liebe, /derrama gotejando cromáticas /cintilações; sobe em arabesco, /evola-te dos nossos corpos, /para de novo desceres /e pousares sobre nós , /que nos abrimos e nos penetramos /e no celebrarmo-nos te celebramos /a ti, noite do tempo (…).

AlgarveAssim se chama o capítulo

III, de onde este último poema citado foi retirado. Dois mais completam o grupo. No entanto, no capítulo seguinte, o Algarve continua presente, expresso na «Canção do Salgueiro» (um dos poemas de que mais gostei): Seguimos agora em direcção a Faro; /entramos já de noite na Via do Infante. /Atravessáramos o Alentejo debaixo de chuva, /como debaixo de chuva atravessáramos o Ribatejo. (…)/ É um mundo fechado, este; um mundo/ só teu e meu. Não nos olhámos nos olhos/ durante a viagem, mas consigo/ ver-te na paisagem nocturna à minha frente/ como se olhasses para mim.

E o refrão, três vezes repetido entre as estrofes, canta: Peço-te que sobre o meu leito deponhas/ a veste branca com que serei enterrado. /Ouves um lamento? É o vento.

O Algarve, visto por quem não é de cá ou aqui não vive, é o lugar para onde se vai, não aquele por onde se passa ou que se tem de atravessar para ir para algum lado. É um lugar de chegada e de permanência. Um lugar de repouso

e de confidências. Um lugar de encontro. E isto pode também ser lido nos poemas do grupo «Algarve», onde a noite algarvia/ tem a respiração de Novembro e se sobrepõe ao dia, pois é uma noite de descoberta: Vai longa esta noite, /as noites todas elas vão longas, /pois nem os dias /conseguem quebrar /esse fio que é a noite, /sempre a mesma, / infindável, a noite /que são todas as noites /em que nos amamos.

Aqui, no Algarve, encontram os amantes um espaço de liberdade.

Poemas de AmorAlém da música, o amor é uma

constante nos poemas deste livro: o amor pelo pai, pungente de tão cru e sentido, o amor erótico e belo de tão franco, o amor sedutor de tão subtil nas palavras e nos implícitos.

Termino com um poema do capítulo «II. Sete Poemas (a partir de Goethe e de Eurípides)», o mais clássico na inspiração:

Nuvens tens tu, amor, para nos levares aos lugaresmais longínquos da terra.És sábio e conheces o futuro.O passado para ti não passou

ainda.O teu olhar repousa sobre os

que te pertencem,Como a tua luz, que dá vida

às nossas vidas,Repousa na fe l ic idade

temporária do nosso ser.

* Frederico Lourenço optou por esta expressão na Ilíada em vez da fórmula tradicional «palavras aladas», pois as palavras não voam como as aves, que têm asas por natureza, mas como as flechas, nas quais o homem colocou penas para que voassem (e, até, ferissem) na direcção por si projectada.

“Palavras apetrechadas de asas”

Itinerários:

> Apresentação de Livro 17 SET | 21.30 | Pátio de Letras (Faro) “Ventos do Sul” - apresentação, pelo Dr. Teodomiro Neto, do livro de poesia do advogado farense Manuel Inocêncio da Costa.

> Poesia e Música 24 SET | 22.00 | Pátio de Letras (Faro) “A Última Sexta - LEITURAS PERNICIOSAS” - poesia e música com Joaquim Morgado (poemas) e Strak (contra baixo).

> Apresentação de Livro 28 SET | 18.00 | Biblioteca Municipal de Faro “Amanhecer na Rotunda”, de José Sequeira Gonçalves e João Espada.

d.r.

Com as Cartas a Lucí-lio, de Séneca, inaugura-se uma nova secção nesta página Livro.S chamada «Diziam os antigos…».

Esta obra, em forma epis-tolar, permite-nos ouvir o pensador latino (séc. I d.C.) a dirigir-se ao seu amigo Lucí-lio comentando a natureza do homem, reflectindo sobre fi-

losofia, sobre política, enfim, sobre a vida na sua totalidade: um livro pleno de assuntos controversos, do qual é tão fácil gostar como é frequente discor-dar. E a variedade de assuntos e sentimentos que nos pro-vocam e estimulam faz deste livro excelente e desinquietador companheiro de caminhada. Podemos abri-lo em qualquer carta e encontraremos aí, cer-

tamente, muito em que pensar.A tradução, de uma grande

qualidade e clareza, é da auto-ria de José António Segurado e Campos, algarvio de Lagos, professor catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Uni-versidade de Lisboa.

•Diziam os antigos…

Perde a esperança de poderes saborear em excertos o talento dos nossos maiores mestres: terás de estudar, e voltar a estu-dar, as obras inteiras. (…) Mas se quiseres fazer excertos, não vou armar em agiota – colhe a mãos ambas! A quantidade de máximas que poderás en-contrar em qualquer página é enorme: apanha-as a eito, não precisas de rebuscar.

Séneca, Cartas a Lucílio, 33, 5-6.

•da minha biblioteca

Cartas a Lucílio

Séneca, Cartas a Lucílio, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2009

Adriana NogueiraProfessora Universitária de Estudos Clá[email protected]

d.r.

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politíca

Quando as portas se fe-cham ficam as memórias de tempos áureos, época em que a indústria da cortiça era o principal motor de de-senvolvimento da cidade de Silves. Hoje, panos negros estendem-se ao cimo dos grandes portões de ferro que voltaram a deixar a Fábrica do Inglês no mais profundo esquecimento. Lá dentro está o Melhor Museu Indus-trial da Europa à espera de abrir, novamente, ao público

De importante indús-tria corticeira, a Fábrica do Inglês em Silves passou a ser um importante pólo de atracção turística. Não só pe-los eventos que todos os anos atraíam milhares de pessoas, mas também pela sua mais preciosa pérola: o Museu da Cortiça. As dificuldades financeiras que atravessam a sociedade proprietária do museu e do parque de lazer levaram a um desfecho que em nada dignifica o seu vali-oso passado.

Fundado em 1999, o espa-ço museológico alberga um conjunto valioso de docu-mentos e máquinas, dando a conhecer ao visitante como se processa a transformação da casca do sobreiro.

Pelas mãos do director do Museu, Manuel Ramos, somos convidados a entrar nesta relíquia industrial. Em cada um dos recintos temáti-cos observa-se um conjunto de fotografias que recordam a labuta diária de operários no sector corticeiro, a trans-formação da cidade ao lon-go dos tempos e os velhos patrões que ergueram um vasto património.

Outrora sem descanso, as brocas de pedal, rebaixadei-ras e inúmeras ferramentas e máquinas dos operários fabris descansam, agora, sob o olhar atento dos intrusos (ver caixa). Mas torna-se pertinente saber como sur-giu a ideia de construir o museu. Como nos explica Manuel Ramos, o Museu da Cortiça “surgiu da neces-sidade de preservar o pat-rimónio aqui encontrado. Depois organizámos umas jornadas dedicadas à indús-tria e, nesse âmbito, decidi-

mos avançar para o projecto de musealização. Em 1998 comprometemo-nos a fazer a musealização do espaço e em Outubro de 1999 abri-mos como museu”.

Não foi preciso muito tempo para o reconhecimen-to internacional. Em 2001 foi distinguido pelo Fórum Museológico Europeu com o Prémio Micheletti para Melhor Museu Industrial da Europa, uma proeza nunca antes alcançada por nenhum museu da região. Além disso, coube-lhe outro grande feito no contexto dos museus al-garvios: o de ter recebido mais de 100 mil visitantes nesse ano.

Futuro incertoO Museu da Fábrica do

Inglês em Silves é um dos poucos museus privados ex-istentes no Algarve. O Mu-seu possui o maior acervo documental do mundo so-bre a história da indústria da cortiça. São mais de 150 anos de maquinaria e de documentação comercial. Foi um projecto tão inova-dor que, no entender da di-rectora regional de cultura,

Dália Paulo, “tinha tudo para ser vencedor”. “Mas, a partir do momento em que o complexo perde a vertente comercial, o Museu não con-segue per se atrair mais visi-tantes”, explica. Além disso para a directora regional da cultura faltou uma equipa consistente para dinamizar o museu. Dinamização que passa não só pela conserva-ção do património, mas tam-bém pela função comunica-cional e pela divulgação.

Ironicamente o museu fechou portas no dia 18 de Maio, Dia Internacional dos Museus. Estão, actualmente, em cima da mesa, algumas propostas no sentido de

salvar o espólio. A Câmara Municipal de Silves, a so-ciedade detentora do museu, e a Direcção Regional da Cultura estão empenhadas em dar um rumo positivo ao espaço. “Não queremos equacionar a hipótese do Museu continuar fechado a longo prazo. O objectivo é tentarmos encontrar rapida-mente uma solução de via-bilidade até porque o museu funciona como um ponto de atracção importante en-quanto produto turístico”, diz Maria Manuela Guer-reiro. Segundo explica a vereadora da cultura, neste momento, a autarquia está a trabalhar nesse sentido. “Te-

mos procurado falar sobre o assunto e discutido soluções. Se estivéssemos num perío-do fora de crise, e se a au-tarquia tivesse recursos, uma das soluções poderia pas-sar pela compra do imóvel. Em período de crise vamos tentar encontrar parcerias para podermos olhar para o futuro daquele complexo de forma positiva”.

Apostar na identidade cul-tural

Situada entre o litoral e a serra, Silves tem vivido sob o estigma da interioridade o que a leva a manter-se af-astada do interesse voraz dos grandes empreendedores turísticos. Em contrapartida,

por Nélia Sousa

Museu da Cortiçauma relíquia esquecida no tempo

d.r.

Ao princípio era o braço, a mão, o saber de gerações acumulado. O artesão, mu-nido da sua faca ferramenta cortava a prancha, retalhava-a em rabanadas, dividia estas em quadros. Torneava depois a rolha entre os dedos já que o trabalho do rolheiro era ainda manual. Mais tarde, alguém inventara processos mecânicos, alguém criara a máquina que ele próprio,

muitas vezes contrariado, movimentava com a força dos seus músculos. Produ-zia mais, muito mais com certeza, mas a pouco e pouco perdia a proximidade com os objectos que fazia, e o saber que adquirira era cada vez menos importante. A ferra-menta, antes sua, era agora a máquina de que o patrão era dono. E precisava cada vez menos da sua força, do seu saber. O motor já não era o

seu braço, era a correia que precisava vigiar, não o fosse atraiçoar e aleijar. O ritmo do trabalho não era já o seu, a voz que ouvia não era a dos seus companheiros: era o da veloz máquina que tudo ensurdecia e que a seu lado preenchia o lugar do colega despedido.

Manuel Ramos, director do Museu da Cortiça

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política

publicidade

a cidade orgulha-se do seu passado profícuo, presente no património histórico e arqueológico.

Falta, no entanto, desper-tar as gentes locais para as questões culturais. Um tra-balho que, segundo a verea-dora da cultura da Câmara,

Maria Manuela Guerreiro, está a ser feito. Porque, como adianta, “a cultura precisa de hábitos e práticas regu-lares. Sobretudo a cultura mais erudita. As pessoas não estão habituadas a este tipo de cultura, e por isso, é preciso convidá-las. E aí eu

penso que o serviço educa-tivo pode ser um pólo muito importante de dinamização”. Para a vereadora, o objectivo é assumir uma postura mais pedagógica e apostar no tra-balho desenvolvido pelos agentes culturais locais, pois “eles são as forças vivas que

ficam quando os espectácu-los vão embora”.

Preservar a identidade cul-tural de um local deverá ser a aposta quando se fala em cultura. Pelo menos é assim que Dália Paulo vê o futuro cultural da região. “No Al-garve os responsáveis algar-vios perceberam que temos de preservar a nossa iden-tidade, a nossa memória e que no mundo globalizado em que vivemos temos de ser diferentes pela cultura”, afirma.

Ao contrário do que mui-tas pessoas pensam, asso-ciando o Algarve ao sol e à praia, existe na região muito património que precisa ser valorizado. É esse o passo que a directora regional acredita que tem de ser dado. E é possível fazê-lo aliando turismo e cultura. “Durante algum tempo pensou-se que o turismo poderia ser o elixir desta região e onde o pro-

gresso se fazia muitas vezes penalizando a identidade cultural da região. Hoje já se percebeu que isso não é as-sim. Hoje o turista pede algo diferente. Por isso a região tem de ter uma marca mui-to forte que só é dada pela identidade do lugar.”

Apostar fortemente na cultura deverá ser o grande trunfo para a região que não deve deslumbrar-se com os produtos culturais que vêm de fora. Dália Paulo salienta que “felizmente está a criar-se a ideia de que o Algarve não é apenas uma região boa para viver, mas uma região onde também se faz criação artística, onde há mais-valias a nível do conhecimento”.

*artigo produzido no âmbi-to do 2º Curso de Jornalis-mo Cultural realizado com o apoio do CENJOR, numa parceria entre a AGECAL e o POSTAL

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estratégia

•DIRECÇÃO REGIONAL DE CULTURA DO ALGARVE

Salvaguarda do Património do Algarve: o Plano Regional de Intervenções Prioritárias (PRIPALG)

À Direcção Regional de Cultura compete definir estratégias regionais de inter-venção no património e pri-orizar as acções de salvaguarda e preservação. Criada em 2007 – juntando a antiga Delegação Regional da Cultura do Al-garve e a antiga Direcção Re-gional de Faro do IPPAR – a Direcção Regional de Cultura do Algarve tem nas suas atri-buições a elaboração de um Plano Regional de Interven-ções Prioritárias, de acordo com a alínea b) do n.º 2 do artigo 2.º do Decreto Regulamentar n.º 34/2007, de 29 de Março. Este Plano, propõe ao IGESPAR as intervenções prioritárias em matéria de estudo e salvaguarda do património arquitectónico e arqueológico bem como os pro-

gramas e projectos anuais e plurianuais da sua conservação, restauro e valorização, assegu-rando a respectiva promoção e execução.

Em Janeiro de 2010 iniciou-se a elaboração do PRIPALG,

com o levantamento do pat-rimónio em risco na região do Algarve, o que irá permitir esta-belecer as prioridades regionais com vista a definir investimen-tos e prazos de intervenção.

A metodologia utilizada na

elaboração deste instrumento operativo privilegiou um diálo-go com os Municípios. Assim, foram até ao momento realiza-das as seguintes etapas: reunião com as autarquias; visita a cada concelho, conjuntamente com

as autarquias; elaboração de uma ficha de levantamento; preenchimento das fichas pelas autarquias e envio de uma lista de prioridades por concelho.

Actualmente, a Direcção Regional de Cultura está a tra-balhar os dados recolhidos e a realizar a caracterização das necessidades de intervenção, elaborando o Plano Regional de Intervenções Prioritárias do Algarve, que servirá como documento orientador do in-vestimento do Estado na região. Este instrumento operacional é um documento aberto e em constante actualização, que per-mite uma acção regional con-certada.

O Apelo do Sangue

Se tivessem os respon-sáveis pela Cultura – desde que surgiram no sul do País a nível ministerial e autárquico - tido um pouco mais de formação académica e competência em áreas como as artes performati-vas e património arquitectónico e tradicional, um mínimo de visão, uma pitada de humildade e alguma vontade de deixar obra consistente para que out-ros pudessem vir a usufruir de dinheiros estatais (falar de tal-ento e genuíno empenho pela causa pública em políticos, não costuma ultrapassar as raias da ficção) não viveria, ainda hoje, o Algarve praticamente de fo-gachos estivais. E, seguramente, não teriam os algarvios que sair da sua terra para estudar, se es-tabelecer e afirmar-se em outras paragens como profissionais das artes.

Só “Companhias de Dança do Algarve” há duas em Faro - e, não muito longe, apareceu

outra em S. Braz de Alportel - que, afinal, não passam de gru-pos amadores de alunos de “es-colas” de categoria duvidosa. E é isto que constitui a programa-ção autóctone terpsicoreana do Teatro das Figuras!

Se o nível do ensino da música, sobretudo com a contribuição de artistas vindos do Leste, tem vindo a subir – embora a constituição da Orquestra do Algarve seja o melhor atestado de incompetência às escolas al-garvias e uma chico-espertice que aliciou quase todas as au-tarquias meridionais - já no que toca à produção algarvia nas outras artes não estamos muito longe da paisagem desértica de há três décadas. A culpa de tal estado de coisas deverá também ser imputada ao Ministério da Educação que, entre outras bar-baridades, se permite espalhar “monitores” e oferecer “cur-sos artísticos”, por escolas sem quaisquer condições, com umas centenas de horas de formação. O que começa por se tratar de um equívoco acaba num ult-raje à consciência de um artista digno desse nome e que carrega na bagagem muitos (e por vezes penosos) anos de formação an-tes de se aventurar a apresentar-se em público.

Neste século XXI, em que a Internet nos permite - em tempo real - apreciar o que de melhor se faz em todas as áreas, parece paradoxal que gente com responsabilidades político-culturais continue a publicitar feitos e projectos (de substân-cia muito empolada e, quase sempre, ferida de demagogia) quando, na prática, os resulta-dos raramente chegam a ter um

nível aceitável e o impacto pre-tendido, para além quase nunca atingirem os verdadeiros inter-essados.

“Incidentes” como a desas-trosa Faro Capital da Cultura e o famigerado Allgarve – que pouco mais servem do que para dar trabalho a políticos desempregados e oportunistas sedentos de protagonismo que promovem artistas de con-veniência - carnavais de verão e de inverno, noites brancas e pretas, festivais disto, daquilo e de tudo e mais alguma coisa, não deixam qualquer semente. Apenas se pautam por um rasto de populismo que atingiu mui-tos “agentes culturais” algar-vios, embalados por uma falsa abundância de números É que quando se fala de tudo como sendo cultura… então já nada mais é (verdadeira) cultura.

Eventos que se costumavam apelidar de artísticos, têm sido, em muitos casos, substituídos

pela animação espúria, centrada no entretenimento puro e duro, ou por ensaios cujo experimen-talismo está nos antípodas do gosto e das tradições dos con-sumidores mas que o dinheiro dos impostos, hoje, compra e distribui sem qualquer critério.

O tecido cultural português dependente do estado – muito mais do que seria desejável - transborda de burocratas sem vontade nem interesse nas artes, que se vão revezando num imenso universo laboral que os partidos criaram para satisfazer as suas enormes clientelas. A sua forte e perversa influên-cia, ao contrário do que seria de esperar, tem se revelado, em muitos casos, o maior entrave para a evolução das artes e o desenvolvimento de artistas no Algarve.

Engenheiros que escolhem músicos para orquestras dirigi-das por vendedores de piscinas, informáticos que são promovi-

dos a vereadores, donos de bar que viram programadores, bib-liotecários que saem debaixo das pedras para gerir teatros, e muitos outros que fazem parte de num lamentável desfile de figuras mercenárias, têm de-ixado um desagradável amargo de boca em todos os que estão atentos ao joio e, sobretudo, aos maus mondadores. Represent-antes de “profissões” do leque das novas “oportunidades” para as quais, curiosamente, não existe escola. Em décadas de prática teatral tenho visto cois-as inenarráveis sem que alguém tenha, alguma vez, sido chama-do a responder pelos fracassos e buracos financeiros resultantes de más práticas na área cultural.

Como tudo seria diferente se este sangue não me corresse na veias e o Algarve das “Artes” não tivesse a mania atávica de varejar a rama e deixar os frutos apodrecer no tronco.

António LaginhaDirector da Revista da Dança e do Centro de Dança de Oeiras, Presidente da Associação Cais de Culturas e Vice-Presidente da Batoto Yetu-Portugal

• convidado.S

• próximo convidado.S Luís Vicente

O próximo convidado.S é Luís Vicente, actor, ence-nador e director artístico e de produção da ACTA – A Com-panhia de Teatro do Algarve.

Natural de Setúbal. Ficou conhecido do grande público pela participação em inúmeros trabalhos radiofónicos e televi-sivos: teatro, novelas, séries.

No teatro participou, até à data, em mais de 50 peças de grandes autores da drama-turgia mundial, como Brecht, Stridberg, Genet, Shakespeare, Camus, Duras, Gombrowikz, Albee, Bulgakov, Feydau, Molière, e também de incon-tornáveis autores nacionais como Romeu Correia, Virgí-lio Martinho, Natália Correia, Norberto Ávila, José Saramago,

na maioria das quais como actor-protagonista e nalguns casos também como encena-dor. Foi em várias ocasiões e sob diferentes pretextos, distin-guido e premiado em Portugal e no estrangeiro. Em 1997, a convite do professor e pedago-go José Louro, integra o núcleo fundador da ACTA – A Com-panhia de Teatro do Algarve, da qual é director de produção desde o início de actividade da Companhia e director artístico desde finais de 1999.

http://www.actateatro.org.