compost age mlo do camilo

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CAMILO TEIXEIRA HIGIENIZAÇÃO DE LODO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO POR COMPOSTAGEM TERMOFÍLICA PARA USO AGRÍCOLA FLORIANÓPOLIS SC 2012

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Manual de Compostagem.

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  • CAMILO TEIXEIRA

    HIGIENIZAO DE LODO DE ESTAO DE TRATAMENTO DE

    ESGOTO POR COMPOSTAGEM TERMOFLICA PARA USO

    AGRCOLA

    FLORIANPOLIS SC

    2012

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    CENTRO DE CINCIAS AGRRIAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM AGROECOSSISTEMAS

    CAMILO TEIXEIRA

    HIGIENIZAO DE LODO DE ESTAO DE TRATAMENTO DE

    ESGOTO POR COMPOSTAGEM TERMOFLICA PARA USO

    AGRCOLA

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Agroecossistemas, Centro de

    Cincias Agrrias, da Universidade Federal de

    Santa Catarina como parte dos requisitos para

    obteno do ttulo de Mestre em

    Agroecossistemas.

    Orientador: Prof. Dr. Paul Richard Momsen Miller

    FLORIANPOLIS SC

    2012

  • Folha de Aprovao

    Camilo Teixeira

    HIGIENIZAO DE LODO DE ESTAO DE TRATAMENTO

    DE ESGOTO POR COMPOSTAGEM TERMOFLICA PARA

    USO AGRCOLA

    Dissertao aprovada em 03 de Maio de 2012, como requisito parcial

    para obteno do grau de Mestre no Programa de Ps-Graduao em

    Agroecossistemas, Centro de Cincias Agrrias, Universidade Federal

    de Santa Catarina.

    Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho

    Coordenador do PGA

    Banca Examinadora

    Prof. Dr. Paul Richard Momsen Miller

    Presidente da Banca Orientador

    Prof. Dr. Jucinei Jos Comin

    Membro

    Prof. Dr. Paulo Belli Filho

    Membro Externo

    Prof. Dr. Fernando Fernandes

    Membro Externo

  • Dedico este trabalho a

    todos os composteiros

    do Brasil e do mundo. Sigam na luta!!!

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo acima de tudo a Natureza pela oportunidade de viver.

    Fao sinceros agradecimentos a inmeras pessoas que de alguma forma

    contriburam para que eu encerrasse esta etapa to importante de minha

    vida e que no me lembrarei para fazer os justos agradecimentos

    pessoais.

    Agradecimentos especiais ao meu Professor, Orientador e acima

    de tudo amigo Rick. Ao Professor Jucinei, ao Professor Lovato e todos

    os outros professores que contriburam na minha formao.

    Destaco tambm minha gratido a CASAN, pela concesso da

    bolsa e a FAPESC pelo financiamento do Projeto. Agradeo tambm

    todos os colegas do Projeto CASAN: Francisco, Paulo Armando,

    Wanderli, Alexandre Trevisan, Alexandre Conceio e, em especial, ao

    Professor Paulo Belli Filho, pela confiana e cooperao para execuo

    deste trabalho. Agradeo tambm ao Pereira (Ruri Ruri), e a todo o

    pessoal da compostagem, em especial aqueles que me ajudaram na

    coleta do lodo (sinistro!!!), destacando o Skitter e o Breno. Ao Caio

    ficam aqui meus sinceros agradecimentos pela amizade.

    Ao pessoal do CCA, principalmente a Andria, a Tanusa, a

    Raquel do RU, a todos os funcionrios do RU pelo preparo do nosso

    alimento dirio, aos funcionrios da Biblioteca pela educao e

    profissionalismo, ao Cepagro, Associao Orgnica (Grson e Tatu),

    galera do Feudo do Rick (parabns pelas iniciativas), todos os amigos

    da Graduao, e principalmente aos parceiros de cerveja e de futebol,

    que contriburam bastante para que eu pudesse ter momentos

    prazerosos, que foram decisivos para continuar empenhado no trabalho.

    A todo o pessoal do Laboratrio de Virologia ficam aqui meus

    profundos agradecimento, a todos os colegas de Programa e do

    Laboratrio de Biotecnologia Neoltica que estiveram ao meu lado e me

    acompanharam neste trabalho. Fao destaque Flora, Tati, Graci e

    ao Thomas.

    Aos funcionrios do Laboratrio de Solos, Fertilizantes e

    Resduos Orgnicos da UNESC e da Econsulting pelos esclarecimentos

    e apoio nas analises.

    Impossvel expressar minha gratido minha famlia (pai, me

    e irms), alm da Lisete, que em muito me ajudou nas formataes e

    ponderaes sobre este trabalho, e tambm Nega pela pacincia,

    confiana e companheirismo (sem contar as inmeras correes e

    formataes).

  • Thank you Lord for what you done for me

    Thank you Lord for what you do in my life

    Thank you Lord for every little thing yeah yeah

    Thank you Lord for you make me sing

    Sing Alone Sing Alone

    Bob Marley - Thank You Lord

  • RESUMO

    O presente estudo avaliou a compostagem como mtodo de

    higienizao e ciclagem de nutrientes do lodo de esgoto da Estao de

    Tratamento de Esgoto Insular, em Florianpolis. Este foi o mtodo

    escolhido devido s altas temperaturas por longos perodos resultantes

    da degradao da matria orgnica. Foi feita a caracterizao fsico-

    qumica e biolgica do lodo bruto, avaliando macro e micronutrientes,

    microrganismos patognicos e elementos inorgnicos txicos. Foi

    avaliada a carga mxima de lodo de esgoto em leiras estticas de

    compostagem com aerao natural, assim como a melhor mistura a ser

    utilizada neste processo. Tambm avaliou-se a contaminao

    microbiolgica e parasitolgica do lodo de esgoto bruto e do lodo de

    esgoto aps a passagem pela compostagem. Verificou-se que o lodo de

    esgoto um material com baixa contaminao por elementos

    inorgnicos (exceto o mercrio) e alta contaminao por

    microroganismos patognicos (principalmente coliformes

    termotolerantes), devendo, portanto passar com um processo de

    higienizao para sua segura aplicao agrcola. A compostagem com

    cargas entre 60 e 80 kg de lodo de ETE por metro quadrado de leira,

    misturado com o agente estruturante, e intercalado com a aplicao de

    restos de alimentos, se mostrou o tratamento que alcanou as maiores

    temperaturas (60-70C), sendo o mais eficiente do ponto de vista legal

    para eliminao de patgenos. O produto do lodo aps ficar 20 dias na

    compostagem resultou em um material Classe B de acordo com a

    Resoluo 375/06 do CONAMA, sendo portanto apto a ser utilizado na

    agricultura, embora restrito cultura do caf, a silvicultura e s culturas

    de fibras e leos.

    Palavras-chave: Compostagem termoflica, biosslido, lodo de

    esgoto e insumo agrcola.

  • ABSTRACT

    This study seeks to evaluate composting of sewage sludge as a

    sanitation and nutrient cycling procedure. Raw sewage sludge was

    analized for nutrient content, pathogens and toxic elements. Various

    loading rates and mixtures to naturally aerated static piles were

    evaluated. Pathogens were evaluated before and after composting.

    Results show that sewage sludge from Florianpolis had low levels of

    toxic elements, and high pathogens contamination (principally heat-

    tolerant coliform), requiring sanitation measure before agricultural use.

    Loading between 60 and 80 kg/m sewage sludge mixed with wood

    shavings, alternating layers with food waste resulted in the highest

    temperature (60-70C) and the greatest reduction in pathogens. The

    product of this process after 20 days in composting piles result in a

    material within legal limits for agriculture use, but restricted to forestry,

    oil crops and fiber crops.

    Key words: Thermophilic composting, biosolid, sewage sludge and

    agricultural input.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Constituio das guas residurias.......................................34

    Figura 2: Simplificao do processo de compostagem........................49

    Figura 3: Fluxo de ar em leiras de compostagem com

    aerao natural......................................................................................56

    Figura 4: Perfil da temperatura em leiras estticas com

    aerao natural......................................................................................64

    Figura 5: Classificao dos fertilizantes orgnicos

    conforme IN 25/09 do MAPA e dos produtos derivados de

    estaes de tratamento conforme Resoluo 375/06

    do MMA................................................................................................67

    Figura 6: Corte transversal esquemtico com a distribuio

    dos materiais para aquecimento da leira antes da incorporao do

    lodo bruto..............................................................................................82

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Mtodos de compostagem e suas caractersticas...................52

    Tabela 2: Caractersticas qumicas de agentes estruturantes.................61

    Tabela 3: Tempo de sobrevivncia de patgenos em resduos

    slidos e no solo.....................................................................................63

    Tabela 4: Restries de uso para fertilizantes orgnicos.......................68

    Tabela 5: Classificao de lodo de esgoto ou produto derivado

    de acordo com a Resoluo 375/06 e as concentraes de patgenos

    toleradas..................................................................................................69

    Tabela 6: Requisitos para classificao de lodos de esgoto ou

    produtos derivados conforme Resoluo 375/06...................................73

    Tabela 7: Limites mximos de contaminantes admitidos

    em Fertilizantes Orgnicos conforme IN 27/06.....................................74

    Tabela 8: Concentrao mxima permitida de substncias

    inorgnicas no lodo de esgoto ou produtos derivados

    conforme Resoluo 375/06 e IN 27/06.................................................75

    Tabela 9: Metodologia para determinao das caractersticas

    fsico-qumicas do lodo da ETE Insular.................................................78

    Tabela 10: Composio dos tratamentos em cada experimento............80

    Tabela 11: Caractersticas fsicas e qumicas do lodo de esgoto

    da ETE Insular........................................................................................86

    Tabela 12: Elementos inorgnicos no lodo da ETE Insular...................89

    Tabela 13: Comparao da quantidade de ovos viveis de

    helmintos da ETE Insular com outras ETEs.......................................104

    Tabela 14: Classificao de acordo com a Resoluo 375/06 e da

    IN 27/06, do lodo compostado, a partir dos parmetros

    microbiolgicos e parasitolgicos........................................................106

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1: Fronteiras planetrias...........................................................26

    Grfico 2: Umidade, slidos fixos, slidos volteis em

    lodo de ETE............................................................................................85

    Grfico 3: Nitrognio orgnico e nitrognio inorgnico (% da MS).....87

    Grfico 4: Mercrio no lodo da ETE Insular........................................90

    Grfico 5: Mdia de temperatura do lodo no Experimento 1

    aps aplicao na leira de compostagem................................................93

    Grfico 6: Mdia de temperatura do lodo no Experimento 2

    aps aplicao na leira de compostagem................................................94

    Grfico 7: Mdia de temperatura do lodo no Experimento 3

    aps aplicao na leira de compostagem................................................95

    Grfico 8: Mdia de temperatura do lodo no Experimento 4

    aps aplicao na leira de compostagem...............................................96

    Grfico 9: Influncia da chuva na temperatura da leira........................98

    Grfico 10: Manuteno de temperatura no interior da leira

    aps a aplicao do biosslido...............................................................99

    Grfico 11A: Coliformes termotolerantes em lodo bruto, lodo

    aps 20 dias na compostagem, e limite mximo para classificao

    como Tipo B de acordo com a Resoluo 375/06............................101

    Grfico 11 B: Coliformes termotolerantes em lodo aps 20 dias

    na compostagem, e limite mximo para classificao como

    Tipo A de acordo com a Resoluo 375/06.....................................102

    Grfico 12: Eficincia da compostagem para eliminao de

    cpias genmicas de adenovrus..........................................................105

  • LISTA DE ABREVIATURAS, SMBOLOS E SIGLAS

    0 C Graus centgrados

    As Arsnio

    Ca Clcio

    CASAN Companhia de Catarinense de gua e Saneamento

    Cd Cdmio

    CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental- SP

    CETRES Centro de Transbordo de Resduos Slidos

    Cl Cloro

    Co Cobalto

    COMCAP Companhia de Melhoramento da Capital

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    CTC Capacidade de Troca de Ction

    Cu Cobre

    EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    ETE Estao de Tratamento de Esgoto

    Fe Ferro

    Hg Mercrio

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IN Instruo Normativa

    IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change

    K Potssio

    Kg Kilograma

    m Metro quadrado

    m Metro cbico

    MAPA Ministrio de Abastecimento, Pecuria e Agricultura

    Mg Magnsio

    mg Miligramas

    MMA Ministrio do Meio Ambiente

    Mn Mangans

    M.O. Matria Orgnica

    MS Matria Seca

    N Nitrognio

    Ni Nquel

    NMP Nmero Mais Provvel

    P Fsforo

    Pb Chumbo

    PCR Polymerase Chain Reaction

    PRAP Processo para Reduo Adicional de Patgenos

    PRAV Processo para Reduo da Atratividade de Vetores

  • PRSP Processo para Reduo Significativa de Patgenos

    RACCaF Restos de Alimentos Cozidos e Cascas de Frutas

    S Enxofre

    SANEPAR Companhia de Saneamento do Paran

    Se Selnio

    ST Slidos Totais

    UNEP United Nations Environmental Programme

    USEPA United States Environmental Protecy Agency

    WEF World Economic Forum

    UFF Unidades Formadoras de Foco

    Zn Zinco

  • SUMRIO

    1. INTRODUO................................................................................25

    2. OBJETIVOS .....................................................................................29

    2.1. Objetivo Geral.................................................................................29

    2.2. Objetivos Especficos......................................................................29

    3. REVISO BIBLIOGRFICA........................................................31

    3.1. Estaes de Tratamento de Esgoto ETE.......................................31

    3.2. Lodo de esgoto................................................................................33

    3.2.1. Uso de biosslidos na Agricultura .............................................35

    3.2.1.1. Benefcios..................................................................................36

    3.2.1.1.1. Parmetros fsicos e qumicos................................................36

    3.2.1.1.2. Ciclagem de nutrientes ..........................................................37

    3.2.1.1.2.1. Nitrognio............................................................................38

    3.2.1.1.2.2. Fsforo.................................................................................39

    3.2.1.2. Riscos........................................................................................41

    3.2.1.2.1. Patgenos...............................................................................41

    3.2.1.2.1.1. Vrus....................................................................................42

    3.2.1.2.1.2. Salmonella.........................................................................43 3.2.1.2.1.3. Helmintos............................................................................44

    3.2.1.2.2. Elementos inorgnicos ..........................................................44

    3.2.1.2.2.1. Consequncias do acmulo de elementos inorgnicos

    txicos.....................................................................................................46

    3.3. Matria orgnica: Compostagem ou aterro sanitrio?.....................46

    3.3.1. Compostagem...............................................................................48

    3.3.1.1. Caractersticas Gerais................................................................48

    3.3.1.2. Leiras estticas com aerao natural Mtodo UFSC............ 51

    3.3.1.3. Controle dos fatores ecolgicos na compostagem.................... 54

    3.3.1.3.1. Oxigenao.............................................................................55

    3.3.1.3.2. Calor .....................................................................................56

    3.3.1.3.3. Umidade.................................................................................57

    3.3.1.3.4. Relao C/N...........................................................................58

    3.3.1.3.5. pH...........................................................................................59

    3.3.1.3.6. Agente estruturante................................................................60

    3.3.1.3.7. Inoculante...............................................................................62

    3.3.1.4. Compostagem e patgenos........................................................62

    3.4. Legislao para higienizao de lodo de esgoto no Brasil..............65

    3.4.1. Definio legal para lodo de esgoto e produtos derivados...........65

    3.4.2. Patgenos .....................................................................................68

  • 3.4.3. Elementos inorgnicos..................................................................74

    4. METODOLOGIA.............................................................................77 4.1. Caracterizao do lodo da ETE Insular...........................................77

    4.1.1. Coleta e armazenamento das amostras.........................................77

    4.1.2. Metodologia das anlises fsicas e qumicas................................77

    4.2. Experimentos para determinao de misturas e cargas para

    a compostagem de lodo de ETE e anlises microbiolgicas

    e parasitolgicas antes e aps a compostagem.......................................80

    4.2.1. Experimento 1 e 2 - Determinao de mistura.............................80

    4.2.2. Experimento 3 e 4 - Determinao da carga mxima...................83

    4.2.3. Experimento 5 - Anlise microbiolgica e parasitolgica em

    amostras de lodo de ETE e de lodo compostado................................... 83

    4.2.3.1. Confeco da leira.....................................................................83

    4.2.4. Experimento 6 - Deteco viral em amostras de lodo de

    ETE e em composto de lodo...................................................................84

    5. RESULTADOS E DISCUSSO......................................................85

    5.1. Caractersticas fsico-qumicas do lodo da ETE Insular..................85

    5.1.1. Umidade, slidos fixos, slidos volteis e matria orgnica........85

    5.1.2. Nitrognio, pH e relao C/N......................................................86

    5.1.3. Macronutrientes............................................................................88

    5.1.4. Sdio.............................................................................................88

    5.2. Elementos inorgnicos no lodo da ETE Insular...............................89

    5.3. Experimentos de mistura e carga de lodo de ETE

    em compostagem Mtodo UFSC........................................................92

    5.3.1. Experimento 1 - Mistura incorporada ao lodo

    de ETE para compostagem.....................................................................92

    5.3.2. Experimento 2 - Mistura incorporada ao lodo de

    ETE para compostagem.. ........................................................................93

    5.3.3. Experimento 3 - Carga mxima de lodo de

    ETE em compostagem............................................................................95

    5.3.4. Experimento 4 - Carga mxima de lodo de

    ETE em compostagem............................................................................96

    5.4. Avaliao de patgenos em lodo de ETE e a eficincia

    de higienizao pela compostagem........................................................99

    5.4.1. Padro de temperatura da leira para anlises de coliformes

    termotolerantes, Salmonella e ovos viveis de helmintos.....................99

    5.4.1.1. Salmonella...............................................................................100

    5.4.1.2. Coliformes termotolerantes.....................................................101 5.4.1.3. Helmintos................................................................................103

  • 5.4.1.3.1. Comparao da quantidade de ovos viveis de

    helmintos da ETE Insular com outras ETEs.......... .............................103

    5.4.2. Vrus (Adenovrus).....................................................................104

    5.4.3. Classificao do lodo compostado de acordo com a

    Resoluo 375/06 e a IN 27/06 a partir dos parmetros

    microbiolgicos e parasitolgicos........................................................106

    6. CONCLUSES...............................................................................109

    7. CONSIDERAES FINAIS.........................................................111

    8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.........................................113

    APNDICE.........................................................................................129 A.DIMENSIONAMENTO DE UM PTIO DE

    COMPOSTAGEM PARA HIGIENIZAO DO LODO

    DA ETE INSULAR..............................................................................130

  • 25

    1. INTRODUO

    Os resduos urbanos, e principalmente aqueles provenientes de

    estaes de tratamento de Esgoto (ETEs), tambm chamado de

    biosslido1, podem ser utilizados como fertilizantes orgnicos de

    culturas agrcolas. Entretanto devem passar por um processo de

    higienizao para diminuir os seus impactos no ambiente. Segundo

    Bettiol & Camargo (2000) a maioria dos projetos de tratamento de

    esgoto no prev um destino final para o lodo produzido, sendo esta

    uma etapa problemtica dentro do processo operacional das ETEs.

    Apenas uma minoria da populao brasileira ter acesso ao

    sistema de saneamento, mas a partir de polticas governamentais, em

    mdio prazo se ter um aumento significativo na quantidade de resduo

    proveniente destas ETEs (SPERLING & ANDREOLLI, 2010). Com o

    aumento do volume de biosslidos, h a necessidade de pesquisas sobre

    a destinao final de forma segura (do ponto de vista social, ambiental,

    sanitrio e econmico), e procurando-se a ciclagem dos nutrientes

    presentes neste material.

    Segundo Rockstrm et al. (2009) a aplicao excessiva de

    fertilizantes minerais na agricultura, alm de serem potencialmente

    poluidores s guas, tambm podem perturbar os ciclos biogeoqumicos

    dos sistemas terrestres. Os impactos da utilizao de fontes adicionais de

    nutrientes e seu uso mais eficiente justificam a adoo de limites para o

    fluxo destes elementos, priorizando as prticas recicladoras. Em sua

    pesquisa, Rockstrom et al. (2009) desenvolveram um grfico com oito

    fatores tidos como potencialmente poluidores, atribuindo a cada um

    deles valores denominados limites planetrios (linha verde), que,

    quando extrapolados podem ser prejudiciais manuteno humana na

    terra nas geraes subseqentes (Figura 1). Observa-se que o ciclo do

    nitrognio extrapola em muito este limite, enquanto o fsforo est muito

    prximo disto. Merece destaque que estes dois nutrientes esto

    presentes em quantidades considerveis no biosslido, cujo manejo

    inadequado contribui para a extrapolao dos limites planetrios.

    1 De acordo com a WEF, s chamado de biosslido o lodo que tem uma destinao til, ou

    seja, todo biosslido lodo, mas nem todo o lodo biosslido. Todavia como em diversos

    trabalhos os autores fazem uma confuso nestes conceitos. Portanto, nas referncias bibliogrficas utilizarei a forma original do autor.

  • 26

    Grfico 1 - Fronteiras planetrias

    Fonte: Rockstrom et al. (2009).

    Segundo Incio & Miller (2009) o processo de compostagem

    termoflica uma forma de reutilizar o nitrognio e o fsforo presente

    no biosslido, servindo tambm para higienizao deste material, que

    pode apresentar quantidades expressivas de organismos patognicos,

    uma vez que o processo alcana temperaturas acima de 55C podendo

    eliminar microorganismos patognicos. Alm dos benefcios do ponto

    de vista sanitrio, a compostagem apresenta outros benefcios quando

    comparado aplicao do biosslido bruto, tais quais: a incorporao de

    uma matria orgnica mais estvel (hmus) ao solo; a diminuio do

    volume para aplicao e transporte do material e a adsoro de metais

    pesados em quelatos, tornando-os indisponveis s plantas.

    Em 2006 o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente),

    rgo ligado ao MMA (Ministrio do Meio Ambiente) elaborou a

    Resoluo 375/06, no qual Define critrios e procedimentos, para o uso

    agrcola de lodos de esgoto gerados em estaes de tratamento de esgoto

    sanitrios e seus produtos derivados, cujo objetivo minimizar os

    impactos ambientais provenientes do descarte deste material, bem como

    reutilizar os nutrientes presentes no biosslido.

  • 27

    No caso de Florianpolis, a CASAN a empresa responsvel

    pela distribuio da gua, bem como pela coleta, tratamento e

    disposio final do esgoto da cidade de Florianpolis-SC e regio

    metropolitana. Atualmente a empresa vem procurando se adequar s

    novas regras em relao destinao final dos resduos por ela coletados

    e tratados, pois desde sua criao os seus dejetos eram depositados

    diretamente em aterros sanitrios, o que pode gerar problemas

    ambientais tais como: produo de metano e xido nitroso, solubilizao

    de elementos inorgnicos, eutrofizao de guas superficiais e

    subterrneas, etc. Do ponto de vista econmico, a compostagem tambm

    pode ser uma alternativa para a reduo dos custos para destinao final

    dos lodos oriundos do tratamento de esgoto (PIANA, 2009).

  • 28

  • 29

    2. OBJETIVOS

    2.1. Objetivo Geral

    Avaliar a eficincia da compostagem na higienizao do lodo de

    estao de estao para uso agrcola.

    2.2. Objetivos Especficos

    Caracterizar fsico quimicamente o lodo da Estao de Tratamento de Esgoto Insular;

    Definir misturas e cargas para compostagem do lodo da ETE Insular;

    Avaliar a potencialidade de valorizao do produto final para fins agrcolas.

  • 30

  • 31

    3. REVISO BIBLIOGRFICA

    H algumas dcadas o tema da reutilizao dos lodos de esgoto

    vem sendo abordado em diversas pesquisas pelo mundo. No Brasil,

    percebe-se que na ltima dcada houve uma ampliao relevante nas

    pesquisas buscando alternativas de disposio final do lodo de esgoto.

    3.1. Estaes de Tratamento de Esgoto - ETE

    Estaes de Tratamento de Esgoto so unidades operacionais dos

    sistemas de esgotamento sanitrio que atravs de processos fsicos,

    qumicos ou biolgicos removem as cargas poluentes do esgoto,

    devolvendo ao ambiente o produto final, efluente tratado, em

    conformidade com os padres exigidos pela legislao ambiental

    (CASAN, 2005). As estaes de Tratamento de Esgoto podem adotar

    diversos processos para o tratamento do esgoto sanitrio e das guas

    residurias como os filtros biolgicos, as lagoas de estabilizao e os

    lodos ativados. O processo dos lodos ativados com aerao prolongada

    foi o escolhido para tratar o esgoto sanitrio da rea central de

    Florianpolis na ETE Insular.

    Este processo de tratamento utilizado mundialmente para o

    tratamento de despejos domsticos e industriais, sendo muito utilizado

    em locais em que haja reas reduzidas para o tratamento do esgoto

    (SPERLING, 1997). Apresenta como principais desvantagens o alto

    custo e a necessidade de controle laboratorial dirio.

    De forma geral um processo biolgico onde o esgoto afluente,

    na presena de oxignio dissolvido, agitao mecnica e pelo

    crescimento e atuao de microorganismos especficos, forma flocos

    denominados lodo ativado ou lodo biolgico. Esta fase do tratamento

    objetiva a remoo da matria orgnica biodegradvel presente no

    esgoto. Aps esta etapa, a fase slida separada da lquida em outra

    unidade operacional, denominada decantador. O lodo ativado separado

    retorna ao processo ou retirado para tratamento especfico ou destino

    final (CASAN, 2005).

    Este processo para o tratamento de esgotos apresenta duas fases

    distintas: a fase do pr-tratamento (gradeamento e desarenao) e a fase

    do tratamento secundrio (seletor biolgico, cmara de desnitrificao,

    tanques de aerao, decantador secundrio, adensador, sistema de

    desidratao e prensa desaguadora) (SPERLING, 1997; CASAN, 2005).

  • 32

    A fase pr-tratamento consiste na retirada mecnica de partculas

    com alta granulometria, enquanto as etapas biolgicas deste sistema de

    tratamento ocorrem nas seguintes unidades: reator biolgico, cmara de

    desnitrificao e tanque de aerao (reator). O reator biolgico tem

    como funo misturar suavemente o esgoto bruto afluente com o lodo

    ativado proveniente do processo de tratamento de aerao prolongada,

    evitando microorganismos indesejveis e melhorando a sedimentao, e

    ocorre em condio anxica. Do seletor biolgico a mistura passa pela

    cmara de desnitrificao, que, atravs de misturadores submergveis

    tem a funo de reduzir o nitrato sob a ao de microorganismos

    especficos. J no tanque de aerao, a partir da ao das bactrias

    aerbias ocorrer a digesto da matria orgnica carboncea e a

    nitrificao do nitrognio orgnico remanescente do afluente bruto.

    (CASAN, 2005). As bactrias envolvidas neste processo formam uma

    matriz gelatinosa que lhes confere a propriedade de flocular. O floco

    formado possui dimenses maiores, facilitando o processo de remoo

    de patgenos (SPERLING, 1997).

    No decantador secundrio os flocos formados no tanque de

    aerao se sedimentam, removendo o lodo para a recirculao

    (proporcionando um aumento da populao bacteriana e

    consequentemente otimizando o processo) ou descarte do excesso. Este

    excesso conduzido at um adensador gravimtrico com removedor

    mecnico, cuja funo reduzir os teores de gua no lodo sedimentado.

    Posteriormente este lodo passa por um sistema de desidratao

    composto por: tanque de armazenamento com removedor mecnico,

    sistema de recalque, sistema de pr-condicionamento qumico com

    suspenso de cal e da soluo de polieletrlitos. Por fim, este material

    chega prensa desaguadora que produz uma torta com teores de

    slidos prximos a 20%. Esta torta levada at o local de estocagem

    para posterior disposio final, que no caso da ETE Insular o aterro

    sanitrio (CASAN, 2005).

    Merece destaque que no processo de lodo ativado a reduo de

    vrus entricos ocorre principalmente por adsoro viral aos slidos ou

    por inativao viral. A distribuio viral entre as fases slidas e lquidas

    depende da distncia destas em relao aos slidos em suspensos e da

    capacidade adsortiva (ARRAJ et al, 2005).

  • 33

    3.2. Lodo de esgoto

    Os processos de tratamento de esgoto contribuem para evitar a

    contaminao dos recursos hdricos e do solo. Seu produto final, o lodo

    de esgoto, um produto rico em matria orgnica e nutrientes

    (BETTIOL & CAMARGO, 2006a), e pode ser utilizado de forma

    benfica na agricultura, proporcionado a ciclagem dos nutrientes.

    Todavia, para a aplicao agrcola segura deste material indispensvel

    que o mesmo no apresente teores de metais pesados e patgenos acima

    do determinado pela legislao (EPSTEIN, 2002).

    Alm de seu potencial poluidor e transmissor de doenas, o

    gerenciamento do biosslido representa custos elevados aos sistemas

    urbanos de tratamento (INCIO & MILLER, 2009), que podem chegar

    a at 60% dos custos de uma ETE (SPERLING & ANDREOLLI, 2010).

    Existem duas origens bsicas para o lodo de ETE, so elas:

    esgotos sanitrios e esgotos industriais. No primeiro, esto basicamente

    os efluentes residenciais, com a possibilidade de, em diversos locais

    serem contaminados por ligaes irregulares que podem destinar

    materiais contaminados para as ETEs. Na segunda, esto os lodos

    industriais, que podem apresentar quantidades significativas de metais

    pesados, tornando o material no seguro para a aplicao agrcola, de

    acordo com o tipo de indstria despejante (BETTIOL & CAMARGO

    2006b).

    De acordo com dados do IBGE (2008), no Brasil, apenas 55,2%

    dos municpios possuem coleta de esgoto, sendo este valor referente

    exclusivamente coleta, e no ao tratamento. Na regio Sul,

    aproximadamente 6,3 milhes de pessoas no tem acesso rede coletora

    de esgoto e Santa Catarina ocupa a 16 posio em relao

    porcentagem de domiclios atendidos pela rede de esgoto.

    Em Florianpolis, de acordo com a Prefeitura Municipal, 56%

    da populao no tm acesso ao sistema de saneamento, de forma que os

    resduos produzidos por esta parcela da populao invariavelmente

    alcanam os recursos hdricos. Isto pode prejudicar enormemente

    algumas atividades, como a maricultura, a pesca, o turismo, alm de

    colocar em risco a sade da populao e do meio ambiente

    (SCHLINDWEIN, 2006). Desta forma mostra-se indispensvel que o

    sistema de coleta e tratamento de esgoto seja aprimorado, tendo o seu

    produto final (o lodo de esgoto) uma destinao final adequada.

  • 34

    Antes de passar pela Estao de tratamento de esgoto (ETE), o

    esgoto constitudo por 99,99% de gua, e apenas 0,01% de slidos,

    sendo a principal funo da ETE separar estas duas fases

    (GONALVES et al., 2010). Esta separao, normalmente realizada

    por processos de floculao ou decantao (METCALF & EDDY,

    2003), destinando a parte lquida aos corpos hdricos e processando a

    fase slida, permitindo sua utilizao (GONALVES et al., 2010).

    Deve-se ressaltar, entretanto que justamente na parte slida que est

    concentrada a maior parte dos poluentes.

    Figura 1 - Constituio das guas residurias

    Fonte: MELO & MARQUES (2000)

    Os processos bsicos no tratamento da parte slida so:

    estabilizao, secagem e higienizao. A estabilizao o processo no

    qual se busca a reduo dos slidos volteis, diminuindo o potencial de

    produo de odores, e conseqentemente a atratividade para animais e

    vetores de doenas. Alm disto, a estabilizao tambm pode acarretar a

    eliminao de parte dos patgenos presentes no biosslido. So

    exemplos de formas de estabilizao: a digesto aerbia, a digesto

    anaerbia e a compostagem. O processo de secagem visa eliminar o

    excesso de umidade do material, o qual pode inviabilizar sua

    valorizao benfica e aumenta os custos de transporte, e pode ser feito

    por desaguamento, desidratao ou adensamento. Por fim, a

    higienizao busca a eliminao de patgenos at valores que no sejam

    guas

    Residuri

    as

    guas

    (99,99%

    )

    Slidos

    (0,01%)

    Orgnico

    (70%)

    Inorgnic

    o (30%)

    Protena

    Carboidrato

    s Lipdeos

    Areia

    Sais

    Metais

  • 35

    prejudiciais ao homem e a natureza, possibilitando a sua segura

    utilizao. A caleao, a compostagem e/ou a secagem trmica so as

    principais formas atuais de higienizao de biosslido (ANDREOLLI et

    al., 2010).

    O termo biosslido foi criado e divulgado em todo o mundo para

    valorizar e incentivar o uso de lodo de esgoto e de seus derivados,

    sobretudo na agricultura. Para ser considerado um biosslido, este

    material deve receber algum tipo de higienizao e apresentar

    caractersticas apropriadas para sua utilizao agrcola (LIMA, 2010).

    Segundo Tsutiya (2000), o uso agrcola, a disposio em aterros

    sanitrios, o reuso industrial (produo de agregados leves, fabricao

    de tijolo e cermica e produo de cimento), a incinerao, a converso

    do lodo em leo combustvel e a recuperao de reas degradadas, o

    Landfarming, so alternativas possveis para o aproveitamento e/ou destino final do biosslido.

    O biosslido vem sendo estudado como fonte de fsforo,

    nitrognio e outros elementos benficos na agricultura, sendo uma

    alternativa de disposio de baixo custo (BETTIOL & CAMARGO,

    2006b). Segundo a SANEPAR (1997) as propriedades do biosslido so

    semelhantes s de outros produtos orgnicos utilizados na agricultura.

    O lodo apresenta pH normalmente na faixa de 6,0 a 7,0; teores de

    carbono prximos a 30% (base seca); altos teores de N,P e S; baixas

    quantidades de K, e concentraes significativas de Ca e Mg

    (TEDESCO et al., 2008). Alm dos macronutrientes, o lodo apresenta

    alta quantidade de micronutrientes (CHENG et al., 2007).

    Em sntese, o lodo bruto um subproduto do tratamento de

    esgoto, podendo ser utilizado como um insumo agrcola de grande

    potencial, principalmente em locais em que tenha ocorrido uso intensivo

    do solo. Todavia, como ao passar pelo processo de tratamento, os

    possveis metais pesados e patgenos presentes no esgoto se concentram

    no biosslido, seu uso deve ser monitorado de forma ao evitar a

    contaminao solo, das guas, dos animais e do homem (GOMES et al.,

    2001; SPERLING & ANDREOLLI, 2010; SILVA et al., 2008).

    3.2.1. Uso de biosslidos na Agricultura

    De forma geral, os solos brasileiros so cidos, com baixa

    fertilidade natural e com intensa explorao agrcola. Neste sentido

    vem-se procurando novas prticas que contribuam para a melhoria das

  • 36

    caractersticas do solo, permitindo assim a recuperao destes solos

    (SOARES, 2005). O biosslido, desde que devidamente higienizado e

    com baixas concentraes de metais pesados, pode exercer este papel.

    So varias as possibilidades de utilizao agrcola do biosslido, como a

    silvicultura, a floricultura, o paisagismo, a produo de alimentos

    (respeitando as imposies legais), entre outros (EPSTEIN, 2002).

    3.2.1.1. Benefcios

    A reciclagem do biosslido para sua futura utilizao agronmica

    , segundo Vaz & Gonalves (2002), a forma mais adequada para a

    ciclagem dos seus nutrientes, contribuindo para a diminuio dos

    problemas ambientais e atuando como fertilizante e condicionador do

    solo. Estes benefcios so em grande parte devido s grandes

    quantidades de matria orgnica no biosslido (EPSTEIN, 2002).

    No solo, a Matria Orgnica (MO) constituda pelos resduos

    vegetais em diversos estgios de decomposio, pela biomassa

    microbiana, as razes e o hmus, que em conjunto afetam as

    caractersticas qumicas e fsicas do solo (BAYER & MIELNICKZUK,

    2008). Segundo Reeves (1997), a matria orgnica um dos principais

    indicadores chave para a qualidade de um solo, uma vez que a maioria

    dos atributos do solo tem estreita relao com ela. Alm disto, a parte

    ativa da M.O pode imobilizar temporariamente N, P, K, Ca, MG, S e

    micronutrientes, que so liberados aps sua morte e decomposio,

    podendo tornar-se disponvel s plantas. Portanto, esta biomassa

    microbiana representa considervel reservatrio de nutrientes nos solos

    (GAMA-RODRIGUES & GAMA RODRIGUES, 2008).

    3.2.1.1.1. Parmetros fsicos e qumicos

    Dentre os principais benefcios da aplicao do biosslido no solo

    destacam-se aqueles verificados nos parmetros qumicos, como:

    incorporao e aumento da disponibilidade dos macronutrientes e

    micronutrientes, reduo da velocidade de liberao do nitrognio,

    aumento da Capacidade de Troca de Ctions (CTC); complexao de

    elementos txicos, entre outros.

    Como o nitrognio um elemento muito instvel e com baixa

    disponibilidade, talvez seja o mais importante nutriente a ser

    incorporado ao solo atravs do biosslido, sendo que sua escassez pode

  • 37

    ser limitante produo de biomassa de diversas culturas e solos

    (AMADO et al., 2002). Entretanto, mesmo que se encontrem

    quantidades elevadas de N no biosslido, grande parte encontra-se sob

    formas orgnicas, sendo necessria sua mineralizao para formas

    inorgnicas, principalmente amnio (NH4) e nitrato (NO3), para que as

    plantas possam absorv-lo (CANTARELLA et al., 2008).

    O lodo bruto tambm pode ser uma tima fonte de fsforo para a

    agricultura, uma vez que apresenta quantidades significativas do

    nutriente. Em relao ao potssio (considerado junto com o nitrognio e

    o fsforo como os nutrientes mais exigidos para as culturas) o biosslido

    no se apresenta como boa fonte, pois, devido a sua alta solubilizao, o

    elemento se perde junto parte lquida durante o processo de tratamento

    na ETE (GIACOMINI et al., 2003).

    Portanto, o lodo, quando aplicado como nica fonte de N para as

    plantas, de maneira geral, ter um eficiente suprimento quantitativo dos

    outros elementos (exceto potssio) para suprir a demanda dos vegetais.

    Todavia, os nutrientes podem no estar balanceados, podendo ser

    necessrias fontes de adubao adicional (EPSTEIN, 2002).

    Destacam-se tambm os benefcios da aplicao do lodo nas

    caractersticas fsicas do solo, como: a estabilidade dos agregados e da

    estrutura, infiltrao e reteno de gua, resistncia eroso, incremento

    da atividade biolgica, diminuio da lixiviao de nutrientes, e a

    melhoria da aerao. Alm disso, a matria orgnica contida nos

    biosslidos pode aumentar o contedo de hmus do solo (BETTIOL &

    CAMARGO, 2000; MELLO & MARQUES, 2000; WRIGHT, 2001;

    CHENG ET AL 2007; PARKINSON et al., 2004).

    3.2.1.1.2. Ciclagem de nutrientes

    Os solos que so submetidos ao uso agrcola, baseado em prticas

    convencionais de manejo, apresentam um declnio no estoque de

    matria orgnica, que pode chegar inclusive a 50% em um ano

    (MIELNICZUK, 2008). Portanto, o conhecimento da dinmica da

    matria orgnica presente ou adicionada no solo desempenha um papel

    chave para inferir sobre a qualidade do mesmo.

    Com aumento dos preos de comercializao dos adubos

    minerais, os resduos orgnicos produzidos pela indstria, pela cidade

    ou pelo meio rural, como esterco, vinhaa, lixo urbano, biosslido, etc.

    passaram a ter decisiva importncia na melhoria das condies do solo e

  • 38

    aumento do nvel de fertilidade do mesmo (TEDESCO et al., 2008),

    devido ao retorno ao solo dos nutrientes exportados pelas culturas e as

    altas quantidades de matria orgnica nos mesmos.

    O uso destes resduos orgnicos, em geral, traz benefcios em

    funo da ciclagem e aumento da biodisponibilidade de alguns

    nutrientes de plantas. A reciclagem agrcola transforma o lodo (material

    atualmente descartado) em um insumo agrcola, contribuindo para

    fechar o ciclo dos nutrientes retirados do solo pela agricultura, sendo

    uma das ferramentas para a implantao sustentvel da produo

    agrcola (EPSTEIN, 2002).

    Portanto, a utilizao de resduos orgnicos de origem urbana ou

    rural traz benefcios em funo da ciclagem e aumento da

    biodisponibilidade de alguns nutrientes das plantas. Soma-se a isto a

    diminuio, ao longo dos anos, da necessidade de aplicao de adubos

    minerais. Esta substituio dos insumos agrcolas pode gerar a reduo

    no consumo de matria prima utilizada na fabricao de fertilizantes

    minerais, a diminuio dos custos de produo, a poluio de diversos

    recursos naturais, possibilitando melhorias na qualidade ambiental

    (SILVA et al., 2008).

    3.2.1.1.2.1. Nitrognio

    O nitrognio um elemento essencial para o crescimento e

    desenvolvimento vegetal e para os seres vivos do solo; sendo no caso

    dos vegetais, primordial na estrutura das protenas, cidos nuclicos e

    clorofila. Segundo Dobermann (2005), apenas a metade do N aplicado

    no solo absorvido pelas plantas. Portanto a aplicao do lodo deve

    visar a sua eficiente utilizao, com um mnimo de perdas por

    percolao, arraste superficial, desnitrificao e volatizao (CHENG et

    al., 2007), esta ltima, podendo contribuir para o aquecimento global

    e/ou provocar chuva cida (CORREA et al., 2005; GROOFMANN,

    2005).

    Segundo a pesquisa de Rockstrom et al. (2009), o ciclo do

    nitrognio j ultrapassou em muito o seu limite planetrio, uma vez

    que, para suprir a demanda por comida, a humanidade removeu grandes

    quantidades de nitrognio atmosfrico para os campos, rios e florestas,

    devastando o ecossistema (ELSER & BENETT, 2011), o que pode

    acarretar problemas severos na continuidade de disponibilidade deste

    nutriente.

  • 39

    A produo de fertilizantes nitrogenados sintticos, como a uria,

    um dos maiores responsveis pelo acumulo de oxido nitroso (N2O) na

    atmosfera, sendo este gs o que apresenta o maior potencial de

    destruio da camada de oznio2 no sculo XXI (RAVISHANKARA et

    al., 2009). Diversos pases assinaram o Acordo de Montreal, no qual se

    comprometem a definir estratgias para minimizar a produo deste.

    Neste sentido Smith (2007), afirmam que reduzir a utilizao de

    fertilizantes qumicos na agricultura, bem como aprimorar o manejo das

    terras cultivveis so estratgias para minimizar a produo deste gs,

    que por ser muito estvel, se mantm por longos perodos na atmosfera,

    afetando a camada de oznio.

    3.2.1.1.2.2. Fsforo

    O fsforo , segundo muitos autores, o segundo elemento mais

    importante no crescimento e desenvolvimento das plantas, estando

    relacionado estrutura celular, assim como s fontes de energia

    (CHENG et al., 2007) e esta presente em quantidades considerveis no

    biosslido (LIMA, 2010).

    Entretanto, ao fazermos uma abordagem ampla, o fsforo aparece

    como um dos principais poluentes globais, sendo que segundo

    Rockstrom et al. (2009), o seu ciclo j se encontra muito prximo dos

    limites planetrios. Historicamente, a partir da metade do Sculo XX

    a humanidade quadriplicou a extrao de fsforo do ambiente natural

    (FALKOWSKI, 2000). A utilizao destas reservas geolgicas de

    fsforo criou um caminho de mo nica das rochas para os campos, os

    lagos e os oceanos, prejudicando os reservatrios de gua potvel e os

    ecossistema marinhos, uma vez que apenas 20% do fsforo aplicado

    como fertilizante chega ao prato do consumidor. Sete milhes de

    toneladas so jogadas no ambiente, principalmente para as guas

    superficiais e subsuperficiais. O excesso de fsforo (e do nitrognio) na

    gua gera condies propcias para a multiplicao de algas, o que

    diminui os ndices de oxignio na gua, e consequentemente produz

    regies denominadas de zona morta (ELSER & BENNETT, 2011;

    CORDELL et al., 2009).

    Apesar destes possveis problemas ambientais, existe uma grande

    demanda de fsforo na agricultura (RAIJ, 2011), uma vez que

    2 Responsvel por filtrar a entrada dos raios ultra violetas emitidos pelo sol

  • 40

    aproximadamente 36% dos solos tropicais e subtropicais so deficientes

    em fsforo e mais de 24% so altamente deficientes em fsforo

    disponvel (SANCHEZ & LOGAN, 1992 apud SANTOS et al., 2008).

    Soma-se a este fato a intensa explorao agrcola destas reas (SANTOS

    et al., 2008), que resultam em perdas de fsforo do solo pela exportao

    das culturas agrcola (VANDERMEER, 1995).

    Importante ressaltar tambm que a aplicao de fsforo a partir

    de materiais ricos em matria orgnica muito til, uma vez que a

    decomposio da matria orgnica proporciona a liberao gradual deste

    elemento, regulando a disponibilidade aos vegetais, e mantendo,

    principalmente a mdio e longo prazo, os nveis das formas lbeis que

    tendem ao esgotamento, pelos processos de perdas por precipitao,

    adsoro e eroso e pela remoo dos produtos agrcolas colhidos

    (SANTOS et al., 2008).

    Nos produtos agrcolas vegetais, a concentrao de fsforo pode

    chegar a 0,5% da matria seca (BEATON et al., 1995), o que representa

    mais de 60% do fsforo absorvido pelas plantas. Desta forma grandes

    quantidades de fsforo migram para as reas urbanas, tendo como

    destino final, em muitos casos os mananciais e ou sistemas de coleta de

    esgoto (RHEINHEIMER et al., 2008) no retornando ao sistema

    agrcola, e consequentemente tendo que ser captado em reservas

    naturais para a manuteno da produtividade agrcola.

    A importncia relacionada ciclagem deste nutriente fica

    evidente quando observamos que, diferentemente do nitrognio, o

    fsforo no pode ser retirado do ar. Soma-se a isto o fato de que as

    fontes naturais no esto uniformemente distribudas pelo globo (85%

    das reservas de fsforo esto no Marrocos) e so finitas. A previso de

    esgotamento das mesmas o fim deste sculo (MONTAG et al., 2007),

    panorama que exige que a comunidade acadmica discuta o assunto para

    encontrar solues tcnicas e polticas para este problema (ELSER &

    BENNETT, 2011).

    Portanto, ao utilizarmos o biosslido estamos reintroduzindo o

    fsforo na cadeia produtiva vegetal, maximizando a entrada de fsforo e

    minimizando a adio de fertilizantes. Contribuindo desta forma para o

    prolongamento da vida til de suas jazidas, e contribuindo para uma

    agricultura produtiva e menos danosa ao ambiente natural.

  • 41

    3.2.1.2. Riscos

    A composio dos lodos de ETE pode inviabilizar sua utilizao

    agrcola devido s concentraes prejudiciais de metais pesados,

    patgenos, compostos txicos ou ainda pelo risco de salinizao ou

    acidificao do solo (BOEIRA & MAXIMILIANO, 2006).

    Desta forma, deve-se remover os elementos inorgnicos txicos

    (ou ainda impedir que entrem nos sistemas de coletas de esgoto

    domiciliar), e os microorganismos patognicos devem ser eliminados ou

    reduzidos a um nvel seguro.

    Em relao aos elementos inorgnicos txicos, as formas de

    remoo ainda no so economicamente viveis, sendo que a origem do

    material que definir a viabilidade de sua utilizao agrcola. Em

    relao contaminao por patgenos, resultado da sanidade da

    populao produtora do lodo, a utilizao da compostagem termoflica

    tida, inclusive pela United States Environmental Protection Agency

    (USEPA, 2003), como uma forma eficiente de higienizao do lodo de

    ETE, podendo torn-lo sanitariamente seguro para sua utilizao

    agrcola. Cabe destacar que higienizar no a mesma coisa que

    desinfetar, sendo que, aps a higienizao, concentraes de patgenos

    aceitas pela legislao, ainda podem ser encontradas (PINTO, 2010).

    3.2.1.2.1. Patgenos

    Atualmente, diversos organismos patognicos vm sendo

    identificados e reconhecidos como causa principal de vrias doenas.

    Muitos destes so transmitidos pelas fezes, o que faz com que os

    mesmos possam estar presentes no lodo de esgoto (DUMONTET et al.,

    2001; SHIDU & TOZE, 2009), podendo ocasionar surtos de doenas

    gastrointestinais, respiratrias, hepatites, dermatoses, entre outras

    quando descartados de forma incorreta no ambiente.

    Entre os patgenos presentes destacam-se o grupo das bactrias,

    protozorios, vrus e helmintos (MAIER et al., 2009; USEPA, 2003).

    Alm destes, os ovos de parasitas tambm podem ser facilmente

    encontrados em diversos tipos de lodo (SMITH et al., 2004; USEPA,

    2003).

    A diversidade de microorganismos presentes em lodo de estao

    de tratamento influenciada diretamente pela populao e/ou do tipo de

    indstria que o produz, ou seja, conseqncia das condies scio-

  • 42

    econmicas da populao geradora, condio sanitria, regio

    geogrfica, presena de indstrias agro-alimentares e o tipo de

    tratamento a que o lodo foi submetido (SILVA et al., 2010).

    A contaminao atravs do lodo pode ocorrer de forma direta

    atravs do contato com o solo ou produto onde foi aplicado o biosslido

    ou indireta, pelo consumo de gua ou alimento contaminado (USEPA,

    2003).

    A presena de matria slida, especialmente os slidos em

    suspenso de guas residurias, fator determinante para a

    sobrevivncia de patgenos neste ambiente. por este motivo que os

    microorganismos esto muito concentrados e podem sobreviver longos

    perodos em biosslidos (SHIZU & TOZE, 2009). Entretanto, ao se

    aplicar este material no solo, as condies do prprio solo, assim como

    o clima se tornam determinantes para a sobrevivncia destes

    organismos.

    Alm da matria orgnica, diversos so os fatores que

    determinam o tempo de sobrevivncia de patgenos, sendo que os mais

    citados so: umidade, pH, temperatura, competio entre espcies, entre

    outros (PIETRONAVE et al., 2004; USEPA, 2003).

    importante destacar tambm que os vrus entricos, os

    protozorios e os parasitas so incapazes de se multiplicarem no lodo,

    uma vez que so parasitas obrigatrios. J as bactrias devem receber

    uma ateno especial, pois apresentam alta capacidade de se

    multiplicarem neste material. (SHIDU et al., 2001), desde que o pH no

    seja superior a 11,5 (GERBA E SMITH, 2005).

    3.2.1.2.1.1. Vrus

    Os vrus so os microorganismos patognicos mais excretados

    por homens e animais, podendo apresentar cargas virais de 10

    partculas por grama de fezes (BOSCH et al., 2008) e, esto presentes,

    em altas concentraes, no produto final das estaes de tratamento,

    pois os mtodos correntes de tratamento de esgoto muitas vezes no so

    eficientes para sua eliminao (KOOPMANS et al., 2002), o que pode

    acarretar surtos de doenas em indivduos susceptveis caso este

    material seja aplicado na agricultura (ANDREOLLI et al., 2010).

    Estima-se que mais de 150 diferentes tipos de vrus so

    excretados pelo homem, podendo ser encaminhados para o lodo

  • 43

    (BOSCH et al., 2008). Segundo Gerba & Smith (2005), os vrus so

    considerados a maior causa de infeco gastrointestinal em seres

    humanos em pases desenvolvidos.

    Por estes motivos, a agncia de proteo ambiental americana

    (EPA) considera os vrus entricos como modelo para o monitoramento

    ambiental (PUIG, 1994; YEH et al., 2009), uma vez que as doses

    infectantes so muito baixas (BOSCH et al., 2008) e os mesmos so

    muito mais resistentes que as bactrias, ao processo comum de

    tratamento de esgoto (GABUTTI et al., 2000).

    Entre os vrus, destacam-se, devido alta incidncia em diversos

    ambientes, aqueles com RNA fita simples, como os calicivrus, os

    enterovrus, os vrus da hepatite A e da hepatite E; os rotavrus; e os

    vrus de DNA fita dupla como os adenovrus (LEES, 2000).

    Os vrus entricos agregam-se s fontes slidas, diminuindo

    assim a possibilidade de sua inativao e favorecendo, portanto, sua

    viabilidade, podendo desta forma permanecer potencialmente

    infectantes durante meses em ambientes como a gua e/ou o lodo de

    esgoto (TRABELSI et al., 1995; SKRABER et al., 2004). Os principais

    processos de inativao dos enterovrus so a variao de pH, de

    temperatura e de umidade (MAIER et al., 2009). O tratamento trmico

    considerado o mais eficiente (SCHWARTZBORD, 1995).

    Dentre os enterovrus, a famlia dos adenovrus se destaca

    devido a sua alta resistncia, conseqncia de sua fita dupla de DNA.

    Estes so usualmente transmitidos atravs da via fecal-oral e replicam-se

    no trato gastrointestinal do hospedeiro (LIPP et al., 2001).

    3.2.1.2.1.2. Salmonella

    Segundo Sahlstrom (2003), diversos autores detectaram a

    presena de Salmonella em lodo de esgoto, sendo inclusive a bactria

    que ocorre em maior nmero, com quase 2000 tipos identificados.

    Destes, grande parte considerado patognico ao homem (BITTON,

    2005). Ainda segundo Sahlstrom (2003), 50% das amostras de lodo de

    uma estao de tratamento na Sucia apresentaram contaminao por

    Salmonella. Este autor cita ainda outro trabalho realizado na Noruega no

    qual em 10% das amostras havia contaminao por Salmonella.

  • 44

    3.2.1.2.1.3. Helmintos

    Dentre os helmintos, o gnero Ascaris o mais conhecido (HOGLUND, 2001). Tambm se destacam o Ascaris lumbricoides,

    associados a problemas gastrointestinais e a Taenia solium, que ocorre

    em alta incidncia na Amrica latina (SILVA et al., 2010).

    Devido alta velocidade de sedimentao, acredita-se que a

    maior parte dos ovos de helmintos fique retida no lodo (NELSON,

    2003), e possam permanecer vrios anos no solo que recebeu

    adubao com lodo de ETE, principalmente se esta regio for utilizada

    como pasto (LIMA, 2010). Segundo Brewster et al. (2003), ovos de

    Ascaris so resistentes s condies ambientais e podem permanecer

    infectivos por vrios anos. Por estes motivos os ovos de helmintos so

    timos indicadores para a anlise das condies sanitrias (GASPARD

    & SCHWARTZBROD, 2001).

    Conforme indicado por Aitken et al. (2005) a melhor opo para a

    inativao de ovos de helmintos submet-lo ao tratamento trmico.

    3.2.1.2.2. Elementos inorgnicos

    Os elementos inorgnicos so encontrados naturalmente nos

    solos, sendo inclusive importantes para diversos processos fisiolgicos

    vegetais. Todavia, em lodos de esgoto, estes mesmos metais podem ter a

    sua concentrao exacerbada, e, quando aplicados ao solo podem ser

    txicos s plantas e aos seres humanos que consumirem estes vegetais

    (MELO, 2002). Podem estar presentes no lodo, principalmente em lodos

    industriais, o cdmio e o chumbo, que so extremamente txicos,

    mesmo em baixas quantidades (SILVA et al., 2010).

    De forma geral, segundo Epstein (2002), as comunidades no

    industrializadas apresentam concentraes baixas de elementos

    inorgnicos em seus lodos de esgoto, fato este confirmado por Barton et

    al. (2008) citado por Incio & Miller (2009). Todavia estes autores

    destacam que quando despejos industriais e a gua da chuva entram no

    sistema de captao do esgoto urbano pode ocorrer o aumento

    significativo das concentraes de elementos inorgnicos no lodo. No

    caso do Brasil, mesmo sendo ilegal, existem diversas indstrias que

    despejam resduos contaminados com elementos inorgnicos nas redes

    de esgoto. Isto pode acarretar altas quantidades dos mesmos no lodo,

    mesmo quando a coleta predominantemente domiciliar (KUCHAR et

  • 45

    al., 2006).

    A preocupao em relao aos elementos inorgnicos est

    associada tanto a sua absoro e acmulo nos tecidos vegetais, e

    possivelmente na cadeia alimentar; como aos processos de sua perda por

    lixiviao ou eroso (SILVA et al., 2006). Todavia, o maior problema

    relacionado aos elementos inorgnicos no lodo que os mesmos no

    podem ser destrudos, pois no so molculas, mas sim, elementos

    estveis.

    O risco associado aos elementos inorgnicos do lodo est

    principalmente ligado ao fato do solo ser capaz de armazenar estes

    metais. Todavia, sua dinmica ainda um assunto com muitas dvidas,

    sendo esta dinmica conseqncia da Capacidade de Troca de Ctions,

    do contedo original, da textura, da matria orgnica, do tipo de argila,

    da intensidade do intemperismo, do pH, do contedo de xidos, das

    reaes de complexao, entre outros (BORGES & COUTINHO, 2004).

    Dependendo das condies ambientais, os elementos inorgnicos podem

    estar no solo de formas disponveis s plantas, sendo que a transferncia

    destes metais para a cadeia alimentar depender das caractersticas de

    cada solo e do tipo de planta, visto que as espcies vegetais tm

    capacidades variveis de absoro de metais (BORGES & COUTINHO,

    2004).

    Quando os elementos inorgnicos so aplicados no solo existem

    algumas rotas possveis para os mesmos, so elas: adsoro pelas

    plantas, pelas argilas, precipitao, formao de quelatos com a matria

    orgnica, formao de complexos insolveis de fsforo e solubilizao

    (EPSTEIN, 1997). Estas rotas so tambm influenciadas pelos fatores

    acima descritos.

    Cabe destacar que o principal fator para a solubilizao dos

    elementos inorgnicos no solo no a sua quantidade absoluta, mas o

    pH do solo (OLIVEIRA et al., 2002). Em solos cidos ocorre a

    solubilizao dos metais, ficando disponveis s plantas, e muitos dos

    elementos inorgnicos no so solveis quando o pH maior que 4,5

    (EPSTEIN, 1997). Alm disto, medida que o tempo de contato com o

    solo aumenta, diminui o perigo das plantas absorverem os metais

    (BROWN et al., 1998, ABREU et al., 2002).

    Desta forma, os critrios para aplicao de biosslido devem ser

    baseados tambm nos atributos do solo e no apenas nos teores totais de

    metais no biosslido. O conhecimento de como esses atributos

    influencia o comportamento dos metais torna-se, ento, fundamental

  • 46

    para o estabelecimento da carga mxima de resduo que um solo pode

    receber.

    3.2.1.2.2.1. Consequncias do acmulo de elementos

    inorgnicos txicos

    Do ponto de vista ambiental, MCBRIDE (1998) indica que entre

    os elementos que podem causar toxicidade, os mais potencialmente

    txicos as plantas e aos animais superiores so: As, Hg, Cd, Pb, Se, Co,

    Cu, Fe e Mn, Mo, Zn e Ni. Sendo os cinco primeiros particularmente

    txicos aos animais superiores, enquanto que os demais podem ser

    txicos as plantas, de maneira especial quando em altas concentraes,

    neste caso chamados de fitotxicos.

    Todavia, os prejuzos causados pela presena de elementos

    inorgnicos no ambiente ainda objeto de diversos estudos. Vilar (2003)

    destaca alguns perigos: acmulo na cadeia trfica, devido assimilao

    por plantas que sero consumidas por homens ou animais para o abate; a

    fitotoxidade, que pode prejudicar a produtividade agrcola; a alterao

    da microbiota do solo, que pode afetar a assimilao de nutrientes pelas

    plantas; a contaminao das guas superficiais devido ao arraste destes

    elementos pelas guas pluviais. Em relao s guas subsuperficiais,

    Ahlberg et al. (2006), afirma que dificilmente os metais presentes no

    lodo se deslocam para as camadas mais profundas do solo, portanto, o

    risco de lixiviao e contaminao do lenol fretico se torna quase

    nula. Isto ocorre devido complexao dos metais com a matria

    orgnica.

    3.3. Matria orgnica: Compostagem ou aterro sanitrio?

    O termo aterro sanitrio se refere a uma instalao previamente

    planejada para a posterior disposio de resduos slidos, visando no

    causar danos, nem perigo, ao meio ambiente e a sade pblica

    (MUOZ, 2002).

    A decomposio anaerbica da matria orgnica, ou seja, aquela

    que ocorre sob condies marcadas pela ausncia de oxignio, uma

    importante fonte de metano para o ar (BAIRD, 2002). Os aterros so

    responsveis por 10 a 20% das emisses de metano geradas pela

    atividade antropognica (IPCC, 2007) sendo estas emisses

    responsveis para um grande nmero de problemas ambientais.

  • 47

    Segundo o Primeiro Inventrio Brasileiro de Emisses

    Antrpicas de Gases de Efeito Estufa (Brasil, 2002), elaborado pela

    Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), ligada

    Secretaria de Meio Ambiente do Estado de So Paulo (2006), as

    emisses totais de metano provenientes do tratamento de resduos

    totalizaram 803.000 toneladas em 1994 e destes a maior parcela (pouco

    mais de 84%) foi atribuda s emisses provenientes dos aterros (DIAS,

    2009).

    Para o IPCC, o metano (CH4) um dos principais gases

    responsveis pelo efeito estufa, e possui uma ao 25 vezes maior do

    que o dixido de carbono (CO2) em relao reteno do calor

    responsvel pelo aquecimento global. (IPCC, 2007).

    Neste contexto, gases de efeito estufa e seus efeitos no meio

    ambiente terrestre tm levado a comunidade cientfica na direo de se

    aprimorar sobre o que e o que no ambientalmente favorvel

    (BOTSKINS & KELLER, 1998), sendo os aterros sanitrios um dos

    focos de contestao.

    Atualmente diversos estudos apontam que a possibilidade de

    que os aterros sanitrios tenham capacidade de capturar carbono para

    venda no mercado vem sendo contestada. De acordo com Anderson

    (2006) os modelos utilizados pela EPA para calcular esta captura so

    errneos, tendendo a superestim-los. O valor real capturado chega

    prximo a 25% do calculado por estes mtodos.

    A partir deste e de outros estudos, a UNEP (2011) - United Nation Environment Prograrmme - afirma que uma das principais aes que

    devem ser incentivadas no mundo a separao dos resduos urbanos

    biodegradveis, destinando-os para a reciclagem e/ou para a

    compostagem, sendo os lodos de esgoto e os restos de alimentos alguns

    dos principais focos deste programa.

    Estudos realizados por Santos et al. (2006), no Municpio de

    Manaus apontam o alto grau poluidor dos aterros sanitrios sobre as

    guas superficiais e subsuperficiais adjacentes ao aterro sanitrio do

    municpio.

    Neste contexto, observa-se que disposio de resduos orgnicos

    (no qual se insere o lodo de esgoto) em aterros sanitrios ainda uma

    prtica muito disseminada no Brasil. Todavia este procedimento esta

    sendo alvo de restries devido aos problemas ambientais anteriormente

    discutidos.

  • 48

    Diversos pases j adotam instrumentos legais e econmicos para

    restringir o uso do aterro sanitrio, buscando desta forma a reciclagem

    do lodo de esgoto e de outros resduos. Por exemplo, destaca-se a

    Comunidade Econmica Europia, que desde 2002, est impondo

    restries utilizao dos aterros sanitrios, considerando que esta

    prtica apresenta diversos prejuzos, como os maiores custos

    econmicos e os prejuzos ambientais. Somada a uma poltica de

    reciclagem, a utilizao de aterros sanitrios deve acontecer apenas para

    resduos no reciclveis. Desta forma, deve ocorrer o aumento da

    utilizao agrcola do lodo de ETE, sendo necessrio, estudos para que a

    aplicao agrcola do lodo de esgoto seja feito de uma forma

    ambientalmente segura.

    Como alternativa, os resduos reciclveis devem ser separados e

    reciclados, enquanto que o descarte dos resduos orgnicos, que

    compem at 60% do peso total do lixo comum, deve ser realizado de

    forma que minimize seus impactos ambientais negativos, bem como

    contribua para a ciclagem dos seus nutrientes. Neste sentido a

    compostagem termoflica uma alternativa vivel, pois alm de

    diminuir os efeitos ambientais indesejveis, tem como produto final um

    timo condicionador de solo.

    3.3.1. Compostagem

    3.3.1.1 Caractersticas Gerais

    A compostagem um processo de decomposio controlada de

    resduos orgnicos que resulta na produo de substncias similares, em

    composio, ao hmus do solo e de minerais, por meio da atuao de

    microorganismos e de reaes fisioqumicas (PAIGN & GIRARDIN,

    2004). Como um processo, obrigatoriamente, aerbio, na

    compostagem a ao da degradao biolgica usa o O2 para transformar

    o carbono do substrato orgnico e obter energia, CO2, gua e calor

    (INCIO & MILLER 2009). No esquema abaixo, pode-se observar um

    esquema simplificado do processo da compostagem:

  • 49

    Figura 2 - Simplificao do processo de compostagem

    Fonte: Fernandes & Silva (1999)

    Observa-se que parte do carbono resultante da degradao

    orgnica, durante o processo aerbio o dixido de carbono (CO2), cujo

    potencial poluidor 25 vezes menor do que o do metano (CH4),

    produzido em aterros sanitrios. Outra parte do carbono ficar fixada

    como matria orgnica estvel, beneficiando as caractersticas fsicas e

    qumicas do solo.

    Neste processo, os componentes orgnicos biodegradveis

    passam por etapas sucessivas de transformao sob ao de diversos

    grupos de microorganismos, resultando em um processo biogeoqumico

    altamente complexo (FERNANDES & SILVA, 1999), sendo que o

    produto de um grupo de microorganismos o ponto de partida ideal para

    outro grupo de microorganismos (INCIO & MILLER, 2009).

    Segundo Haug (1993), o processo de compostagem pode ser

    dividido em trs etapas de acordo com a temperatura no interior da leira.

    A primeira fase, denominada de Fase mesoflica caracterizada por

    apresentar temperaturas abaixo dos 45 C, e est associada ao incio do

    processo, quando os microorganismos esto em perodo de colonizao

    do resduo orgnico depositado na leira. Devido intensa atividade

    microbiana no resduo orgnico, ocorre um aquecimento desta leira,

    proporcionando a denominada Fase termoflica, segunda fase, que

    caracterizada por temperaturas acima dos 45o C e predominncia de

    bactrias no processo. Esta etapa persiste at que estes microorganismos

    decomponham os resduos orgnicos de fcil degradao (carboidratos,

    protenas, leos, etc.) presentes na matria orgnica. Por fim, ocorre a

    terceira fase, que se caracteriza pela diminuio da temperatura,

    denominada de Maturao, onde os resduos orgnicos de difcil

    degradao (lignina, celulose, hemicelulose) sero decompostos pela

    Matria

    orgnica

    Micror-

    ganismo O2

    Matria

    orgnica

    estvel

    CO2 H2O

    Matria Orgnica

    nutrientes calor

    + +

    + + + +

  • 50

    atividade microbiana. Esta etapa esta mais relacionada degradao

    pelos fungos.

    Os nutrientes, principalmente carbono e nitrognio, so

    fundamentais ao crescimento bacteriano na compostagem. O carbono

    a principal fonte de energia e o nitrognio necessrio para a sntese

    celular. Fsforo e enxofre tambm so importantes. Os microorganismos

    tm necessidade dos mesmos micronutrientes requeridos pelas plantas:

    Cu, Ni, Mo, Fe, Mn, Zn e Cl que so utilizados nas reaes enzimticas,

    porm, os detalhes deste processo, ainda so pouco conhecidos.

    (EPSTEIN, 1997)

    De acordo com WEF (1996), os principais objetivos da

    compostagem so:

    Converso biolgica da matria orgnica putrescvel numa forma estabilizada;

    Destruio de patgenos;

    Promoo da biorremediao e biodegradao de resduos perigosos;

    Reduo da massa total dos resduos orgnicos atravs da remoo de gua e slidos volteis;

    Produo de produto final utilizvel;

    Diminuio das quantidades de resduos depositados em aterros sanitrios.

    Alm destes benefcios diretos, o uso do composto orgnico na

    agricultura pode destacar benefcios ambientais como a reduo da

    contaminao dos recursos hdricos, o aumento da vida til dos aterros e

    a mitigao de emisso de metano oriundo da disposio de resduos

    urbanos (INCIO & MILLER, 2009).

    Estes mesmos autores ainda destacam os benefcios ao solo

    relacionados ao uso do composto, tais como: fonte de matria orgnica e

    nutrientes, elevao da CTC, aumento da estabilidade do pH, melhora o

    aproveitamento dos fertilizantes qumicos, incremento de microbiota no

    solo e supresso de fitopatgenos.

    Alm destes benefcios, Kiehl (1985) indica que, no composto, a

    maior parte dos nutrientes, especialmente nitrognio, fsforo e enxofre,

    esto conservados na forma orgnica (matria orgnica) e na biomassa

    microbiana, sendo que apenas uma pequena parte dos nutrientes j se

    encontra em estado mineral. O produto final tem baixa atividade

    biolgica, mas rico em microorganismos e restos de microorganismos

    (parede celular e contedo citoplasmtico). Desta forma, a

  • 51

    compostagem retm a maior parte dos nutrientes presentes no material

    original, o que proporciona ao produto final a caracterstica de liberar

    lentamente os nutrientes contidos nele, no ocorrendo, portanto

    saturaes do solo, principalmente com nitrognio. Apesar disto, em

    relao ao nitrognio, uma frao deste perdida na forma de amnia

    que volatiliza junto com o vapor de gua. A prtica adotada e os

    prprios materiais da compostagem influenciam esta perda (INCIO &

    MILLER, 2009).

    A compostagem est longe de ser uma atividade de preocupante

    potencial poluidor, pois, como processo controlado, uma biotecnologia

    para transformar resduos orgnicos em um beneficio ambiental

    (INCIO & MILLER, 2009). Entretanto, segundo Golueke (1984): a qualidade do processo repousa sobre alguns

    aspectos especficos: Evitar a proliferao de

    moscas e a atratividade de outros vetores; Evitar a

    ocorrncia de odores fortes e desagradveis;

    Evitar excessiva produo de chorume; Gerar um

    produto final sem riscos de contaminao do solo,

    gua e adequado ao manuseio; Adequado uso na

    agricultura e recuperao do solo. Basicamente,

    estes aspectos so dependentes das altas

    temperaturas proporcionadas durante o processo

    de compostagem, os quais tambm garantem a

    ausncia de patgenos no produto final que ser

    manuseado.

    3.3.1.2. Leiras estticas com aerao natural Mtodo UFSC

    Existem diferentes mtodos de compostagem, que se diferenciam:

    pelo porte, pela tecnologia, pelos custos, pela mo de obra, pela rea,

    pelo tipo de aerao, pelo grau de revolvimento, e se realizado em

    leiras ou em reatores. (EPSTEIN, 1997). Os principais mtodos so:

    compostagem com revolvimento de leiras, leiras estticas com aerao

    forada, compostagem em sistemas fechados (In Vessel) e leiras estticas com aerao natural (INCIO & MILLER, 2009). Na Tabela 1 esto

    expostos os principias mtodos de compostagem, destacando as

    especificidades de cada um deles.

  • 52

    Tabela 1 - Mtodos de compostagem e suas caractersticas

    Compostagem

    com

    revolvimento de

    leiras

    Compostagem

    com leiras

    aerao forada

    Compostage

    m em

    reatores

    Compostagem com

    leiras estticas e

    aerao natural

    + Difundido Eficiente controle

    de moscas e

    produo de

    percolado

    Necessita

    reas

    pequenas

    Baixo custo de

    implantao

    Baixo custo de

    implantao

    Alto custo de

    implantao

    Diminui o

    tempo do

    processo

    Baixo custo de

    operao

    Alto custo

    operacional

    Alto custo

    operacional

    Produz um

    material mais

    homogneo

    Eficiente controle de

    moscas e emisso de

    percolado

    Dificuldade para

    controlar moscas e

    emisso de odores

    Necessita reas

    extensas

    Alto custo de

    implantao

    Necessita de reas

    menores

    Necessita reas

    extensas

    Acelera o

    processo

    Alto custo

    operacional

    Alto custo de mo de

    obra

    Alta produo de

    percolado

    Necessita

    pouca mo de

    obra

    Alta suscetibilidade

    ao clima

    Na presente pesquisa utilizou-se o mtodo de Leiras estticas

    com aerao natural (Mtodo UFSC), devido s altas temperaturas

    alcanadas, a baixa necessidade de mo de obra, o baixo custo, e a

    experincia obtida com este mtodo decorrente do Projeto de Extenso

    da UFSC (1994-2011) denominado Compostagem de resduos

    orgnicos que atua no Campus Universitrio por mais de mais15 anos.

    Por ser um mtodo, ainda pouco difundido no resto do mundo,

    mesmo no Brasil, o referencial terico bsico adotado nesta pesquisa,

    o livro de Incio & Miller (2009), publicado pela EMBRAPA, intitulado

    Compostagem: cincia e prtica na gesto de resduos orgnicos, onde

    este mtodo muito bem descrito.

    Este mtodo, segundo Incio & Miller (2009) se caracteriza pelo

    emprego de algumas tcnicas especficas, sendo elas:

  • 53

    Formato das leiras: as paredes da leira neste mtodo apresentam ngulo perpendicular ao solo (paredes retas), normalmente com

    utilizao de palha;

    Leiras estticas: as leiras permanecem fixas, portanto no so deslocadas como em outros mtodos, nem mesmo revolvidas;

    Densidade do substrato: alta carga de material estruturante, com alta relao C/N, e com pelo menos 1/3 do volume total;

    Carga contnua: novas cargas peridicas, conforme monitoramento da leira, ou seja, a leira ganha altura no decorrer do

    processo;

    Mistura de camadas: a cada nova carga, o material da carga anterior (situado mais no fundo da leira) misturado a esta nova

    camada, proporcionando a inoculao deste novo material, o que

    otimiza e acelera o processo;

    Cobertura: uma ampla cobertura da leira com material vegetal, de preferncia gramnea. Esta camada tem a funo de evitar a

    exposio dos alimentos a vetores, bem como funcionar como um

    tampo, evitando assim a perda de calor da leira.

    A forma retangular das leiras estticas tem papel na manuteno e

    controle do fator ecolgico mais importante, o oxignio (aerao). Ao

    contrrio do que algumas literaturas tcnicas brasileiras descrevem; o

    formato piramidal no necessariamente o mais adequado para as leiras

    de compostagem, mesmo em perodos chuvosos (INCIO & MILLER,

    2009). Ainda em relao aerao, em sistemas que utilizam a aerao

    forada, deve-se ter muito cuidado, pois muitas vezes a mesma pode

    remover a umidade e conseqentemente diminuir a temperatura,

    causando problemas na qualidade final do produto e na eficincia da

    eliminao de patgenos (PINTO, 2010). Neste tipo de leiras (estticas

    com aerao natural), os operadores devem, basicamente, observar as

    temperaturas no seu interior, atravs de termmetros, pois redues

    abruptas, a valores abaixo de 55 C, so sintomas de interrupo do

    processo termoflico.

    Um autor que observou este mtodo de compostagem da UFSC

    foi Buttenbender (2004), e assim o definiu do ponto de vista

    operacional, o sistema de compostagem termoflica em leiras estticas

    caracterizou-se como um processo flexvel, de baixo custo, que utiliza

    equipamentos simples, sanitariamente adequados, e principalmente por

    requerer mo de obra reduzida, eliminando o revolvimento peridico da

    massa do composto. A configurao da leira, associada ao sistema de

  • 54

    aerao, permitem a permanncia de altas temperaturas termoflicas

    durante o perodo de 120 dias. O elevado perodo de exposio dos

    agentes patognicos a altas temperaturas gerou um composto orgnico

    isento de coliformes fecais nas quatro amostras analisadas. Ficou

    constatado, ainda, o controle dos principais aspectos ambientais

    prejudiciais, como os vetores, os odores e o excesso de percolados.

    Para a otimizao do processo, todo o manejo baseado no

    entendimento dos fatores ecolgicos, que afetam a atividade biolgica,

    principalmente a entrada de oxignio, a umidade, a densidade, a

    disponibilidade do substrato e pela nfase na arquitetura da leira. Desta

    forma, procura-se confeccionar a leira de compostagem para que todo o

    processo ocorra sem a necessidade de interveno, ou interferncia

    mnima, satisfazendo aos requisitos antes colocados. (INCIO &

    MILLER, 2009)

    3.3.1.3. Controle dos fatores ecolgicos na compostagem

    De acordo com Miller (1993) o entendimento racional da

    ecologia da compostagem prov as melhores bases para o

    desenvolvimento e estratgias de controle do processo. Isto inclui o

    conhecimento sobre os fatores fsicos, qumicos e biolgicos que

    determinam (e so seletivos para) a estrutura das comunidades

    microbianas e para as rotas da atividade metablica dentro do processo

    de compostagem.

    A biodecomposio aerbia e termoflica ocorrer apenas a

    partir de certas condies na estrutura da leira que permitam:

    transferncia de calor, transferncia do fluxo de ar e de vapor e do

    balano de umidade. Tais fenmenos so manejados a partir de prticas

    de montagem da leira de compostagem, e no apenas ao longo do

    processo, o que torna necessrio conhecer a influncia do manejo das

    leiras de compostagem na dinmica microbiana, e consequentemente no

    processo de compostagem. Tcnicas amplamente difundidas, como a

    aerao forada e o revolvimento, podem no favorecer o processo

    aerbio e termoflico como esperado e necessrio, e isto tem levado a

    problemas srios como a emisso de odores, produo excessiva de

    percolado e proliferao de moscas, que se traduzem na falta de

    segurana e qualidade do processo (INCIO & MILLER, 2009).

    De forma geral, so cinco os principais fatores a serem

    observados para a otimizao do processo da compostagem: aerao,

  • 55

    calor, pH, umidade, relao C/N e a utilizao de microrganismos

    adaptados (inculo). Destaca-se que estes fatores esto inter-

    relacionados e, portanto, o manejo de um destes acarreta em alteraes

    dos outros.

    3.3.1.3.1. Oxigenao

    Por ser um processo predominantemente aerbio, indispensvel

    no interior da leira a presena de oxignio, o que ocorre devido

    porosidade da pilha de composto. O oxignio serve para os

    microorganismos se alimentarem da matria orgnica por respirao

    oxidativa (EPSTEIN, 1997).

    Processos de compostagem requerem uma concentrao mnima

    entre 5 e 10% de O2 dentro dos espaos porosos da leira (RYNK, 1992),

    com base em evidncias de que os organismos termoflicos so ativos

    em concentraes acima de 5% de O2 (RANDLE & FLEGG, 1978).

    Segundo Epstein (1997) o fluxo de oxignio est estritamente

    relacionado ao fluxo de calor. Este ocorre por conveco e por difuso,

    sendo funo: do diferencial de temperatura com o ambiente, do fluxo

    de ar na superfcie da leira, da porosidade da mistura e do contedo de

    gua nos poros. Inicialmente, as reas internas das leiras so anaerbias,

    mas tornam-se aerbias ao longo da fase termoflica, acompanhando a

    evoluo da temperatura.

    Este mesmo autor afirma que as mudanas na concentrao de

    oxignio so resultado da interao de trs fatores: O2 consumido pelos

    microorganismos, O2 reposto pela movimentao de ar (conveco) e

    por fim, pela troca de gases (difuso). Se a concentrao de O2 se reduz,

    isso indica que seu consumo maior do que a taxa de reposio por

    conduo ou conveco, sendo o oposto tambm verdadeiro (RANDLE

    & FLAGG, 1978).

    Portanto, leiras estticas com laterais verticais so construdas

    para promover a conveco de ar. O formato retangular proporciona

    maior superfcie de entrada de ar frio (temperatura ambiente) pelas

    paredes laterais, e tambm um fluxo direcionado ascendente para a sada

    do ar quente (temperatura interna da leira) e do vapor de gua. A sada

    ascendente do ar, devido ao aquecimento interno, gera um gradiente de

    presso negativo no interior da leira suficiente para promover o fluxo de

    ar por conveco e a entrada do ar externo numa taxa satisfatria

    durante a compostagem (INCIO & MILLER, 2009). Desta forma, em

  • 56

    um processo com aerao passiva, o fornecimento de O2 exige um fluxo

    de ar de fora para dentro da leira, e dependente de altas temperaturas

    geradas no interior da leira.

    A aerao tambm remove o gs carbnico, gua e calor, como

    pode ser observado na ilustrao representativa do fluxo de ar em leiras

    de compostagem retangular com aerao natural (Mtodo UFSC).

    Figura 3 - Fluxo de ar em leiras de compostagem com aerao

    natural

    Fonte: Desenho do autor Baseado em Incio & Miller (2009)

    O lodo de ETE, por ser um material com granulometria muito

    fina, quando parcialmente desidratado se torna pastoso e gera

    dificuldades para a circulao do ar devido baixa porosidade do

    material. Por isto, necessrio que sejam misturados ao lodo outros

    resduos com granulomtrica mais grosseira, servindo como agente

    estruturante, permitindo assim a livre difuso do oxignio no interior da

    leira (FERNANDES & SILVA, 1999).

    3.3.1.3.2. Calor

    A produo de calor no interior da leira est intimamente

    relacionada ao consumo de oxignio, pois a utilizao do oxignio

    pelos microorganismos que produz calor no interior da leira de

    compostagem.

    Segundo Epstein (1997), no processo de compostagem de leiras

    fundamental favorecer a produo de calor, e principalmente manejar a

  • 57

    transferncia de calor dentro da leira e sua sada junto ao vapor de gua.

    Neste sentido, as perdas de calor ocorrem de forma mais intensa a partir

    do calor sensvel na sada de gases da leira, em forma de calor latente da

    evaporao do vapor de gua e ainda de forma menos intensa por

    conduo, conveco e radiativa. A baixa condutividade trmica da

    matria orgnica tambm contribui para reduo das perdas por

    condutividade e resulta em grande acumulo de calor.

    Segundo Miller (1993), em muitas configuraes de leiras de

    compostagem, tal como as leiras piramidais no ocorre uma

    significativa conveco, enquanto que em leiras com formato retangular,

    isto , com laterais verticais, observa-se significante transferncia de

    calor por conveco, o que importante para a manuteno do fluxo de

    oxignio e, portanto de produo de calor.

    Segundo Fernandes & Silva (1999) e Epstein (1997), as

    temperaturas da compostagem devem se encontrar entre 55C e 65C,

    uma vez que valores abaixo deste intervalo no so eficientes na

    eliminao de patgenos e valores acima reduzem a atividade

    microbiana, tornando o processo muito lento. Todavia, Incio & Miller

    (2009) indicam que apesar de diversos autores citarem a importncia de

    se controlar a temperatura em torno de 55 C para evitar perdas de

    nitrognio e inibio da atividade microbiana termoflica, na

    compostagem de materiais com potenciais cargas de organismos

    patognicos, o manejo do fluxo de calor fundamental. Assim, a