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Eugênia Maria Dantas Ione Rodrigues Diniz Morais Organização do Espaço DISCIPLINA Paisagem como categoria da análise geográfica Autoras aula 05 Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:_______________________________________ VERSÃO DO PROFESSOR VERSÃO DO PROFESSOR

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Eugênia Maria Dantas

Ione Rodrigues Diniz Morais

Organização do EspaçoD I S C I P L I N A

Paisagem como categoriada análise geográfi ca

Autoras

aula

05Material APROVADO (conteúdo e imagens)(conteúdo e imagens) Data: ___/___/___

Nome:_______________________________________

VERSÃO DO PROFESSORVERSÃO DO PROFESSOR

Aula 05  Organização do EspaçoCopyright © 2008 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEEDCarlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitoraÂngela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a DistânciaVera Lúcia do Amaral

Universidade Estadual da Paraíba

ReitoraMarlene Alves Sousa Luna

Vice-ReitorAldo Bezerra Maciel

Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPEEliane de Moura Silva

Coordenadora da Produção dos MateriaisMarta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Coordenador de EdiçãoAry Sergio Braga Olinisky

Projeto GráficoIvana Lima (UFRN)

Revisores de Estrutura e LinguagemEugenio Tavares Borges (UFRN)Janio Gustavo Barbosa (UFRN)Thalyta Mabel Nobre Barbosa (UFRN)

Revisora das Normas da ABNT

Verônica Pinheiro da Silva (UFRN)

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz Capistrano (UFRN)Sandra Cristinne Xavier da Câmara (UFRN)

Revisor Técnico

Leonardo Chagas da Silva (UFRN)

Revisora TipográficaNouraide Queiroz (UFRN)

IlustradoraCarolina Costa (UFRN)

Editoração de ImagensAdauto Harley (UFRN)Carolina Costa (UFRN)

Diagramadores

Bruno de Souza Melo (UFRN)Mariana Araújo (UFRN)

Ivana Lima (UFRN)Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

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Aula 05  Organização do Espaço 1

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Copyright © 2008 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa daUFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.

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Projeto Gráfi coIvana Lima (UFRN)

Revisores de Estrutura e LinguagemEugenio Tavares Borges (UFRN)Janio Gustavo Barbosa (UFRN)Thalyta Mabel Nobre Barbosa (UFRN)

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Verônica Pinheiro da Silva (UFRN)

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz Capistrano (UFRN)Sandra Cristinne Xavier da Câmara (UFRN)

Revisor Técnico

Leonardo Chagas da Silva (UFRN)

Revisora Tipográfi caNouraide Queiroz (UFRN)

IlustradoraCarolina Costa (UFRN)

Editoração de ImagensAdauto Harley (UFRN)Carolina Costa (UFRN)

Diagramadores

Bruno de Souza Melo (UFRN)Mariana Araújo (UFRN)

Ivana Lima (UFRN)Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

Apresentação

Nesta aula, vamos refl etir sobre a paisagem como categoria de análise geográfi ca. A abordagem está ancorada em refl exões que apresentam a trajetória desse conceito no âmbito da ciência geográfi ca, mostrando as vertentes teórico-metodológicas

envolvidas. Assim, analisa a dialética presente na dinâmica do visível e do invisível compondo a interpretação paisagística; discute a oposição entre paisagem natural x paisagem transformada, problematizando essa questão e sua validade para se compreender a relação homem/natureza no contexto das transformações espaciais contemporâneas; e, por fi m, de maneira a estimular a refl exão autônoma do aluno, sugere alguns temas de pesquisa que podem ser desenvolvidos pelo aluno.

ObjetivosCompreender o conceito de paisagem a partir de diferentes perspectivas teórico-metodológicas.

Analisar a dialética da paisagem presente na dinâmica do visível e do invisível.

Refl etir sobre a validade das defi nições de paisagem natural e humanizada no contexto da ciência geográfi ca atual.

Aplicar o conteúdo conceitual em situações-problema.

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Aula 05  Organização do Espaço2 Aula 05  Organização do Espaço

Atividade 1

Iniciando um caminho...

Como já dissemos, esta aula traz como tema a paisagem. Você já estudou a respeito do espaço como objeto e conceito da ciência geográfi ca. Agora, vai adentrar pelos meandros da Geografi a, tendo inicialmente por guia a visão, o tato, a audição e o

olfato, possibilitando o encontro com as formas geográfi cas.

Todos os dias, ao sair de casa, você se depara com um conjunto de elementos que facilitam, disciplinam ou impedem o seu trajeto. São ruas, pontes, semáforos, calçadas, carros, pessoas, bicicletas, árvores, animais etc. que se impõem combinando-se ao seu passo, a sua escuta, a sua visão e ao seu olfato.

Assim, pare e pense sobre um trajeto feito diariamente e refl ita como os seus sentidos são acionados para fazer esse percurso.

Será que você consegue distinguir cheiros, sons, cores e texturas no compasso que o seu pé é levado a ter ao colocar-se em contato com o espaço?

Registre aqui a sua experiência.

Tipos de cheiros Tipos de sons Tipos de cores Tipos de texturas

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Aula 05  Organização do Espaço Aula 05  Organização do Espaço 3

Você deve estar se perguntando em que essa tarefa se relaciona com o tema da nossa aula. Pois muito bem, ela é um desafi o à leitura da paisagem, na medida em que exige de cada um o esforço para estranhar aquilo que é mais familiar, e de distinguir o que parece homogêneo. Você foi estimulado a colocar-se diante do “mundo”, de corpo e alma, para experimentar as sensações que, possivelmente, foram adormecidas pela “tirania” da repetição.

Para estudar a paisagem, é necessário:

n olhar aquilo que é mais familiar, como se estivesse diante de algo estranho;

n descrever o que é visto, aproximando as sensações de familiaridade –estranhamento dos elementos móveis e fi xos na cena;

n revelar cores, odores, texturas e sons que, misturados, compõem a morfologia, guiando o olhar a identifi car, na homogeneidade da cena, a heterogeneidade das formas.

Assim, o sujeito se relaciona com a paisagem em seu movimento cotidiano de ir e vir, seja na cidade ou no campo, na rua ou na casa, no bairro ou na vila. Os objetos fi xos e móveis se (re)organizam, compondo o cenário em que se desenrola a vida, em processos de redefi nições sócio-ambientais e afetivas.

Outras experiências no meio do caminho...

A experiência do homem com a natureza criando cenários geográfi cos é descrita e sentida de formas distintas. A você, foi sugerido vivenciar essa prática de estranhar o familiar. Vamos apresentar agora algumas experiências que tiveram no espaço o ponto de encontro, intersecção, intervalo, dúvida... do corpo e da alma.

A casa materna, do poeta brasileiro Vinícius de Morais, faz surgir as imagens impressas na memória da casa materna como se fosse um reservatório de lembranças e sentimentos que permanecem e dão ritmo ao olhar que volta para encontrar, na forma, a vida que a faz pulsar. Leia o texto e perceba como o poeta utiliza o jogo da descrição, trazendo à tona o detalhe.

Há, desde a entrada, um sentimento de tempo na casa materna. As grades do portão têm uma velha ferrugem e o trinco se encontra num lugar que só a mão fi lial conhece. O jardim pequeno parece mais verde e úmido que os demais, com suas palmas, tinhorões e samambaias, que a mão fi lial, fi el a um gesto de infância, desfolha ao longo da haste.

É sempre quieta a casa materna, mesmo aos domingos, quando as mãos fi liais se pousam sobre a mesa farta do almoço, repetindo uma antiga imagem. Há um tradicional silêncio em suas salas e um dorido repouso em suas poltronas. O assoalho encerado, sobre o qual ainda escorrega o fantasma da cachorrinha preta, guarda as mesmas manchas e o mesmo taco solto de outras primaveras. As coisas vivem como em preces, nos mesmos lugares onde as situaram as mãos maternas quando eram moças e lisas. Rostos irmãos se olham dos porta-retratos, a se amarem e compreenderem mudamente. O piano fechado, com uma longa tira de fl anela sobre as teclas, repete ainda passadas valsas, de quando as mãos maternas careciam sonhar.

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Aula 05  Organização do Espaço4 Aula 05  Organização do Espaço

A casa materna é o espelho de outras, em pequenas coisas que o olhar fi lial admirava ao tempo em que tudo era belo: o licoreiro magro, a bandeja triste, o absurdo bibelô. E tem um corredor à escuta, de cujo teto à noite pende uma luz morta, com negras aberturas para os quartos cheios de sombra. Na estante junto à escada há um Tesouro da juventude com o dorso puído de tato e de tempo. Foi ali que o olhar fi lial primeiro viu a forma gráfi ca de algo que passaria a ser para ele a forma suprema da beleza: o verso.

Na escada há o degrau que estala e anuncia aos ouvidos maternos a presença dos passos fi liais. Pois a casa materna se divide em dois mundos: o térreo, onde se processa a vida presente, e o de cima, onde vive a memória. Embaixo há sempre coisas fabulosas na geladeira e no armário da copa: roquefort amassado, ovos frescos, mangas-espadas, untuosas compotas, bolos de chocolate, biscoitos de araruta - pois não há lugar mais propício do que a casa materna para uma boa ceia noturna. E porque é uma casa velha, há sempre uma barata que aparece e é morta com uma repugnância que vem de longe. Em cima fi cam os guardados antigos, os livros que lembram a infância, o pequeno oratório em frente ao qual ninguém, a não ser a fi gura materna, sabe por que queima às vezes uma vela votiva. E a cama onde a fi gura paterna repousava de sua agitação diurna. Hoje, vazia.

A imagem paterna persiste no interior da casa materna. Seu violão dorme encostado junto à vitrola. Seu corpo como que se marca ainda na velha poltrona da sala e como que se pode ouvir ainda o brando ronco de sua sesta dominical. Ausente para sempre de sua casa materna, a fi gura paterna parece mergulhá-la docemente na eternidade, enquanto as mãos maternas se fazem mais lentas e as mãos fi liais ainda mais unidas em torno à grande mesa, onde já agora vibram também vozes infantis. (MORAES, 1991).

Do Brasil contemporâneo, voltamos à Renascença do século XIV. Lá encontramos A ascensão ao Monte Ventoux, do Petrarca, poeta italiano, considerado pelos estudiosos da paisagem uma pedra fundamental. Aqui sintetizamos algumas idéias apresentadas por Jean-Marc Besse (2006) sobre esse poeta, no artigo “Petrarca na montanha: os tormentos da alma deslocada”. Para esse autor, por meio dessa descrição inaugura-se uma nova forma de ver a paisagem pautada pelo distanciamento do sujeito do cenário que o envolve. Ao escalar a montanha “para simplesmente verifi car o que poderia ser visto do seu cimo, teria sido o primeiro a encontrar a fórmula da experiência paisagística, no sentido próprio do termo: a da contemplação desinteressada, do alto do mundo natural, aberto ao olhar” (BESSE, 2006, p. 1/2). Petrarca, ao eleva-se para um ponto mais alto, toma a distância necessária para ver a natureza por ele mesmo, na mesma medida em que se põe dentro dela como se estivesse a ritualizar uma peregrinação espiritual. Ao chegar ao cume e experimentar as primeiras sensações que ela provoca, parece elevá-lo a certeza de “uma assunção e uma confi rmação do espaço intelectual inicial no qual Petrarca inscreveu sua empresa, a da busca da grandeza da alma, que obtém no exercício de olhar o mundo do alto” (BESSE, 2006, p. 5). Esse exercício vai ser confi gurado por um processo de tensão entre viver e conhecer, mediado pela curiosidade. Assim, olhar a paisagem é repousar sobre um ambiente para desvelar as suas entranhas, mantendo-se distante dele para ver aquilo que “não nos diz respeito”. No entanto, ao desejar isentar-se do espaço para ver melhor, o poeta não extingue as marcas que a paisagem vai imprimindo na alma de maneira que se pode sintetizar a ambivalência da familiaridade e estranhamento na descrição da paisagem por meio da seguinte afi rmação: “enfi m, experimentei quase tudo e em nenhum lugar encontrei repouso”. O que de fato

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Petrarca encontra ao contemplar a paisagem? Ele encontra um intervalo, uma distância tanto no aspecto geográfi co quanto temporal, os quais não podem ser suprimidos, apenas percorridos pelo olhar e pela refl exão. “A separação é vivida em dois planos: o topográfi co, do aqui e dali, e o cronológico, do presente e do passado”. (BESSE, 2006, p. 6)

A partir dos dois relatos, o ambiente se releva por meio do sujeito que olha, contempla, sente, distancia-se e aproxima-se do cenário visto. Temos a experiência registrando o encontro do homem com a fi sionomia, levando-os a criar representações de sua superfície como se fosse possível fazer cópias do mundo visto.

Você já estudou noções básicas de cartografi a e sabe que o mapa é uma tentativa nessa direção. Sabe também, estudando Introdução à Ciência Geográfi ca, que a Geografi a é herdeira da cartografi a e das narrativas de viagem, de maneira que, mesmo estando distantes séculos dessa tradição, ainda permanece como se fosse uma “marca genética” no exercício do geógrafo a atenção aos signos do mundo, incrustados nas distintas formas espaciais. Assim, na grade de comunicação com a semiótica do espaço, a paisagem é uma representação que deve ser contemplada pelo sujeito. Nesse sentido, o indivíduo, de forma intencional ou não, a representa como espaço do qual é preciso se afastar, ou em relação ao qual é preciso se elevar para apreendê-la como imagem. Contemplar a paisagem se efetiva em um prazer estético em que o olhar capta a “ordem do mundo que se faz visível”. Ou seja,

tudo se passa como se justamente fosse preciso não está ocupado com o trabalho para estar em condições de apreender visualmente a paisagem como tal. Como se fosse necessário colocar o mundo à distância ou, mais exatamente, colocar-se à distância do espaço terrestre para percebê-lo em sua dimensão de paisagem. Como se não houvesse paisagem a não ser na distância de um olhar por assim dizer exterior, se não estrangeiro, um olhar que passa e julga (BESSE, 2006, p. 35).

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Atividade 2

A partir das experiências narradas, podemos apresentar algumas dimensões que estão presentes na paisagem. Quais sejam:

1) a dimensão física e objetiva limitada aos elementos que estão na superfície e que podem ser vistos pelo homem;

2) a dimensão humana, subjetiva e contemplativa que diz respeito ao encontro do homem com essa superfície, provocando sensações de familiaridade e estranhamento;

3) a dimensão representacional e imagética que se apresenta como uma objetivação da relação entre a dimensão física e humana, confi gurando-se em elaborações sintéticas do mundo visto e sentido;

4) as dimensões ética e estética que se referem às ações e ao prazer estabelecidos a partir das concepções e interações do homem com a superfície terrestre.

Agora vamos refl etir e praticar mais um pouco!

Veja a fotografi a a seguir.

a) Identifi que os elementos presentes na fotografi a que compõem a paisagem.

b) A partir dos elementos identifi cados e tendo por parâmetro as dimensões presentes na paisagem, anteriormente defi nidas, faça uma descrição da imagem.

c) A partir da resolução das questões a) e b), das refl exões até então apresentadas e da sua percepção, o que é paisagem?

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sua

resp

osta

a)

b)

c)

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O que é paisagem?Vamos colocar a sua defi nição em contato com outras abordagens para que você seja

capaz de reorganizar as suas idéias, ampliando a sua percepção inicial.

Até o século XVI, não se conhecia a paisagem em uma dimensão estética, ou seja, como uma imagem a ser refl etida, contemplada e sentida. Ela estava imersa na noção de país ou na fração de espaço identifi cado por território, ou ainda, em um lugar do ponto de vista de suas características físicas, humanas e econômicas. Ao se confundir com base física do espaço, a paisagem até então se aparentava com a materialidade revelada de imediato ao sujeito, que, por sua vez, atrelava a feição à prática e ao uso da forma. Nessa perspectiva, a paisagem era entendida como espaço objetivo da existência, mais territorial e geográfi ca do que estética. É, somente, a partir do século XVII, com a pintura, que vai aparecer o valor estético da paisagem, alimentando-se da imaginação e da contemplação. Com essa ampliação, o inventário das imagens da Terra são ressignifi cados, trazendo à tona um vasto quadro que aparece a partir dos caminhos feitos pelo olhar. Até o século XVIII, a percepção estava atrelada à pintura e à arte e representava o sítio – lugar – visto. “Tomada pelo individuo, a paisagem é forma e aparência. Seu verdadeiro conteúdo só se revela por meio das funções sociais que lhe são constantemente atribuídas no desenrolar da história” (LUCHIARI, 2001, p. 13). Ou melhor,

A paisagem é denotada pela morfologia e conotada pelo conteúdo e processo de captura e representação. A paisagem como representação resulta da apreensão do olhar do indivíduo, que, por sua vez, é condicionada por fi ltros fi siológicos, psicológicos socioculturais e econômicos, e da esfera da rememoração e da lembrança recorrente. A paisagem só existe a partir do indivíduo que organiza, combina e promove arranjos do conteúdo e forma dos elementos e processo, num jogo de mosaicos [...] Assim a paisagem tem sua existência condicionada pela capacidade do indivíduo reter, reproduzir e distinguir elementos signifi cativos (culturais ou naturais, circunstanciais ou processuais, adventícios ou genuínos, entre outros aspectos) desse mosaico construído. A paisagem evoca signifi cados a partir dos signos e valores atribuídos. Esses signos assumem amplo espectro de propriedades e escalas numa grade semântica própria. (GOMES, 2001, p. 56/57).

Assim, a paisagem se defi ne como sendo tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança. Pode ser circunscrita ao domínio do visível, daquilo que a nossa visão consegue abarcar de um só lance. Não é formada somente de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons e texturas.

Nessa perspectiva, os limites da paisagem são dados pelo olhar e pela localização do sujeito com relação à linha do horizonte. A paisagem assume escalas distintas aos nossos olhos a partir do ponto em que nos encontramos. O que se revela está de acordo com a capacidade de perceber, sentir, escutar e tocar. Na leitura da paisagem, os sentidos são aguçados para ativar a percepção, por isso o aparelho cognitivo tem importância capital, posto que regula e fi ltra a extensão das sensações para um campo representacional em que interferem o capital cognitivo acumulado no processo de formação do sujeito.

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A abordagem da paisagem no seio da Geografi a institui a sua ascensão no patamar da Ciência. No entanto, desde a Antiguidade, ela está presente nos registros de fi lósofos-matemáticos, considerados também “geógrafos”, que construíam representações da superfície terrestre, procurando detalhar as suas singularidades e movimentos. A corografi a praticada por Estrabão é um exemplo disso. Humbolt e Ritter, séculos depois, ao se debruçarem para encontrar uma explicação para a dinâmica da Terra, também traziam como ponto de partida a descrição do cenário que lhe chegava por meio da visão e das experiências que se estabeleciam com esse mundo visto. Assim, a Geografi a partia da descrição dos aspectos físicos ou naturais, sentidos e percebidos pelo olhar. Os geógrafos do fi nal do século XIX e das primeiras décadas do século XX vão fazer uso das mesmas estratégias para procurar consolidar a Geografi a no espaço científi co.

No entanto, cabe destacar que, nesse período, a Ciência assume contornos distintos, aprofundando o racionalismo como meio para se chegar a um conhecimento verdadeiro. Desta feita, há que reduzir as interferências subjetivas provocada pelo olhar. E assim, ao assumir a descrição e o olhar como meio de ascensão ao conhecimento, à ciência geográfi ca, ressalva-se ser necessário contemplar, mas como o legítimo interesse de conhecer. Portanto, o olhar não é despretensioso, mas erudito, alicerçado em teorias e procedimentos metodológicos. Olhar, descrever, comparar e analisar constituem mecanismos de objetivação para compreender a singularidade da Terra, revelada em suas múltiplas paisagens. A Geografi a toma a materialidade da paisagem como uma objetivação analítica que impede o sujeito da ciência de se enganar. É dessa perspectiva que o viés positivista se instaura, alimentando espíritos como Ratzel e La Blache.

Para Ratzel, é preciso compreender a dinâmica da natureza para entender a dinâmica humana. O homem se faz como tal na natureza, sendo necessário encontrar a explicação para essa relação. Nesse sentido, a natureza exerce uma ação poderosa que se manifesta através de todas as fases da história, bem como em todas as esferas da vida. O homem se vê como espécie livre, mas na realidade ele é servil, pois como as raízes que fi xam as plantas ao solo, o homem também está preso ao solo que recebeu de herança. Assim, o ponto de partida para compreender esse processo de servidão parte da observação da natureza, das condições objetivas que se revelam inicialmente ao olhar de um observador erudito. Desvendar a dinâmica dos elementos naturais é o caminho para estabelecer as leis explicativas da dinâmica do homem na paisagem natural, pois este é visto como mais um elemento da natureza a compor o cenário geográfi co.

Em La Blache, a paisagem é a revelação da Terra como um organismo em equilíbrio. O homem ao interferir na natureza cria o meio geográfi co, e é a partir da observação e descrição desse meio que podemos compreender a dinâmica a Terra. Assim, a paisagem assume importância central, sendo a porta de entrada do geógrafo para fazer o inventário da Terra. Olhar e descrever, comparar e sintetizar constituem ferramentas básicas para a leitura da paisagem.

Em relação à perspectiva cultural de Carl Otto Sauer – para ampliarmos mais um pouco essa discussão –, podemos ainda trazer à tona a idéias de Carl Otto Sauer, geógrafo

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Aula 05  Organização do Espaço10 Aula 05  Organização do Espaço

americano do século XX, que problematizou e discutiu a ciência geográfi ca, colocando luzes sobre a morfologia da paisagem. Para ele, a paisagem deve ser o objeto da ciência geográfi ca, sendo concebida como “uma associação de formas, físicas e culturais, resultado de um longo processo de constituição e diferenciação de um espaço” (GOMES, 1996, p, 231). Sauer sublinha a importância da análise da estrutura e das funções de cada paisagem, que deve ser vista sobre um plano sistemático e geral, em que possa fi car evidente a estrutura metodológica e teórica, possibilitando analisar os elementos signifi cativos na estruturação da paisagem e criando tipologias morfológicas. A partir das tipologias, é possível compreender a diferenciação regional, objeto último da Geografi a. Para Sauer, a paisagem forma-se da combinação de elementos naturais e humanos. Assim, ela pode ser classifi cada em paisagem natural e artifi cial, na medida em que o homem se defronta com a natureza, estabelece uma relação cultural, que é também política e técnica. Dessa relação cultural, o espaço geográfi co assume feições distintas, sendo estas resultado dos diferentes níveis de intervenção humana.

No que diz respeito à visão dialética de Milton Santos, a percepção é “um processo seletivo de apreensão da realidade. Se a realidade é apenas uma, cada pessoa a vê de forma diferenciada; dessa forma, a visão pelo homem das coisas materiais é sempre deformada” (SANTOS, 1994, p. 62). Assim, para esse teórico, a percepção é apenas o primeiro dispositivo que nos permite ver a paisagem, não é conhecimento da mesma. O que o homem vê é apenas sua forma e aparência, não distinguindo pelo olhar o que a constitui. A percepção que estimula a visão representa apenas a entrada na análise que desvela o conteúdo. Para adentrar seu signifi cado, é necessário ultrapassar a forma vista, o seu aspecto visível, sendo necessário ultrapassar a aparência para conhecer a sua essência ou gênese. É necessário, para isso, compreender a dinâmica da produção de uma sociedade historicamente organizada. A proposição de Milton Santos está apoiada em uma perspectiva dialética de leitura do espaço em que a relação homem/natureza se dá pela mediação da técnica e do trabalho, ainda em Santos (1994, p. 66), verifi ca-se que a noção de

paisagem não se cria de uma só vez, mas por acréscimos e substituições; a lógica pela qual se fez um objeto no passado era a lógica da produção daquele momento. Uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos.

Dessa perspectiva, depreende-se que para além das sensações iniciais que mobilizam o sujeito este deve tomar o distanciamento necessário para reconhecer na forma o conteúdo, e desta maneira, conhecer a adentrar nos sistemas técnicos e sociais que movem a transformação da natureza primeira em segunda Natureza. A paisagem geográfi ca é a fi sionomia que assume a segunda natureza, marcada pelas contradições sociais, econômicas e culturais que moldam a sociedade capitalista.

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A perspectiva fenomenológica de Eric Dardel

Nesta abordagem a percepção é o meio e o fi m do conhecimento, pois o mundo não é exterior, nem abstrato a vida do sujeito, é sempre uma experimentação, uma vivência, ou como sugere Merleau Ponty, “ o mundo é não aquilo que penso, mas

aquilo que eu vivo”. A fenomenologia prioriza o ser no mundo. Assim, a paisagem, nessa vertente, resulta da geografi cidade perene nas diversas maneiras pelas quais sentimos e conhecemos em todas as suas formas. Originalmente, a Geografi a é um prolongamento da experiência, em que a paisagem é uma dimensão da condição humana de habitar. É uma força imanente que transforma todos os homens em seres topológicos. “A função da paisagem se precisa então: ela permite manter uma relação viva entre o homem e a natureza que o envolve imediatamente. A paisagem desempenha o papel de mediação, que permite a natureza subsistir como mundo para o homem” (BESSE, 2006 p. 82). Assim, a Geografi a, tem o seu valor positivo como ciência, mas representa também um elo fundamental do homem com a natureza.

A paisagem geográfi ca é a síntese primeira dessa condição. Por ela, entramos no espaço geográfi co, encontramos seus limites, conhecemos o mundo e a nós mesmos. A paisagem aqui é designada como uma dimensão da sensação, da percepção, como uma orientação no e sobre o mundo. Eric Dardel (apud BESSE, 2006) colocou o sentido da Geografi a no meio caminho entre o saber disciplinar e o eminentemente humano. Em suas indagações, se pergunta “o que é habitar a Terra”? cuja resposta assume a dimensão originária da existência humana. Para além de uma dimensão epistemológica e científi ca, o sentido da Geografi a está “na frequentação do mundo e na paixão pelo mundo, na sua densidade e variedade fenomenal, ao mesmo tempo em que procura compreender-lhe as estruturas e os movimentos” (BESSE, 2006, p. 82). Assim, a paisagem, nessa perspectiva, está atrelada ao espaço vivido, sentido e percebido. A Geografi a, ou de forma sinonímica, a paisagem não

procura revelar aos homens o sentido oculto dos lugares, mas ela procura apreender como, no contato, com os lugares, as signifi cações ‘pegam’, ou como se diz que uma maionese ‘pega’, ou que uma forma nasce de repente, num fenômeno de emergência que é a aparição inata de um sentido (BESSE, 2006, p. 89).

A paisagem é para Dardel expressão do encontro singular entre a Terra e o projeto humano. Não há paisagem de sobrevôo. Olhar a paisagem é um movimento de intimidade e de profundidade na relação de experimentação que vincula o homem à Terra. É por esse vínculo que se revela a “geografi cidade originária do ser humano, que é, para o espaço, o par daquilo que a noção de historicidade representa para a relação do homem com o tempo”. (BESSE, 2006, p. 93).

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Atividade 3

A paisagem é criação e recriação da natureza no homem, na medida em que este, ao modifi car as formas originais, percebe, experimenta e vivencia os processos sócio-afetivos que estruturam e constituem a sua relação com a natureza. Na mesma dimensão, ocorre a criação e recriação do homem na natureza, visto que esta, ao assumir contornos moldados pela ação humana, ressignifi ca suas formas originais, passando a adquirir ritmos e feições vinculados ao resultado do encontro do homem com a natureza. De uma perspectiva fenomenológica, a paisagem possibilita ao homem relembrar esse encontro. E mais, permite refl etir que a ‘habitalidade’ do mundo deve se pautar por um compromisso ético e estético em que se possa concretizar uma vivência mais equilibrada entre os limites da natureza e os desejos humanos. A percepção da paisagem não é uma atitude passiva do sujeito diante do mundo, mas uma experimentação, criando o espaço vivido. A percepção é um exercício de objetivação da natureza no homem, do homem na natureza.

Vamos praticar!

Pesquise como o tema paisagem é abordado em livros didáticos de 9º ano e de Ensino Médio.

Apresente o conceito(s) de paisagem abordado(s) no livro didático escolhido por você.

Compare as noções encontradas com as idéias postas até aqui nesta aula e apresente três pontos semelhantes e três diferenças.

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A trama do visível e do invisível

Você viu até agora que a paisagem é um conceito que se defi ne a partir da perspectiva teórico-metodológico utilizada. Assim, na perspectiva positivista, ela fi ca presa ao universo do visível e do que pode ser descrito dos elementos que se encontram ao

alcance da visão do observador. É claro que tal observação/descrição procura neutralizar as variáveis subjetivas que podem interferir na análise e na síntese. Assim, há uma preponderância do que se vê e da identifi cação dos elementos como fundamentais no processo de explicação das diferenciações paisagísticas. O que está disponível à visão se torna central na compreensão da paisagem.

Já na abordagem dialética, tem-se o reconhecimento da percepção como caminho inicial para a compreensão da paisagem, mas é necessário ao sujeito saber ultrapassar o aspecto visível a fi m de encontrar os elementos que são responsáveis pela trama paisagística. Assim, ganha centralidade a produção da paisagem como resultado dos movimentos estruturantes da sociedade, como o trabalho, a técnica e as condições de realização de dominação do homem sobre a natureza, alterando a natureza primeira em uma segunda natureza. A paisagem revela o aspecto imediato desse processo, mantendo em sua fi sionomia as contradições, permanências e rupturas que regem a sociedade em sua relação com a natureza.

A vertente fenomenológica assume a percepção como condição para compreender a paisagem, sem cisões ou fragmentações. A paisagem é o elo de comunicação do sujeito com o mundo. A percepção da forma é condição de objetivação do sujeito no mundo. Não há, portanto, subordinação entre as condições subjetivas e objetivas na produção da paisagem, na media em que o espaço geográfi co é a própria vivência do homem na Terra. O visível se mistura ao invisível, de maneira que o que aparece é sempre o resultado de processos de experimentação e vivência do homem na natureza.

Assim, você deve ter percebido que a discussão da paisagem está enredada na trama do visível e do invisível, sobre a qual se estabelece a lógica de explicação da sociedade. Tal explicação decorre da combinação das técnicas e saberes culturalmente organizados. Assim, o que vemos e sentimos é mediado por essa combinação.

Para compreender melhor o que está sendo dito, podemos perguntar: o que é a Terra? Se tomarmos o conjunto de imagens de satélites que são feitos sobre o planeta, podemos enxergar uma superfície marcada por grandes transformações, em que a técnica e ação humana se apresentam como mestras.

Captada de longe, pelas lentes de câmeras em órbita, a Terra deixa entrever imensos oceanos, imponentes cadeias de montanhas, vastas massas continentais. As imagens noturnas revelam manchas luminosas e pontos de luz que correspondem às cidades, às concentrações de poços de petróleo e até mesmo aos faróis de frotas de navio pesqueiros (MAGNOLI, 2005, p. 13).

Se recuarmos no tempo e fi zermos a mesma pergunta tendo por referência a Antiguidade, a resposta, porém, não será a mesma. Essa diferença resulta, justamente, das condições de objetivação da técnica e do conhecimento produzidos em escalas distintas.

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Atividade 4

Hoje, por meio dos instrumentos técnicos e das informações existentes é possível encontrar a paisagem do alto sem precisar se elevar ao cume de uma montanha, como fez Petrarca. Pode-se ver a superfície da Terra como uma incorporação das técnicas e da tecnologia criando a multiplicidade de paisagens. Quando observamos a paisagem, podemos enxergá-la como uma composição de tempos que misturam ações do presente, do passado e direcionam modelagens futuras. Na trama do visível, podemos avaliar, criticar e intervir no resultado da ação humana, pois ela está tatuada na paisagem.

Assim, “as paisagens não existem a priori, como um dado da natureza, mas somente em relação à sociedade. Em diferentes períodos históricos, o olhar lançado sobre o meio elege e inventa paisagens em uma construção social que não cessa” (LUCHIARI, 2001, p. 20). Por meio da habilidade humana, a natureza não se esgota, mas regenera-se, refaz-se, renova-se. Esse processo está atrelado ao compromisso do sujeito com o entorno, reconhecendo nele a sua própria existência. Desta feita, o sujeito, ao se colocar na paisagem, deve assumir o compromisso ético e estético com a mesma. Essa perspectiva exige dele saber olhar, se posicionar diante do que está sendo visto. Pense que na paisagem está a História e a Geografi a simultaneamente enlaçadas. Verifi que que é possível ver as mazelas do mundo com apenas um olhar. Assim, ver a paisagem é olhar a realidade em um grande espelho que refl ete diversas faces da própria humanidade.

Vamos Praticar!

Veja as imagens:

A partir delas, o que você pensa da relação entre paisagem e ética? Refl ita e escreva a sua opinião.

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Paisagem natural x paisagem transformada: uma oposição possível?

Vamos analisar um outro ponto que é bastante tradicional no estudo da paisagem geográfi ca: a diferença entre paisagem natural e paisagem humanizada. Defi ne-se paisagem natural como resultado de uma combinação singular de elementos, como

relevo, solo e as formações vegetais. Esses elementos se modifi cam ao longo do tempo, em um ritmo lento e quase imperceptível.

A paisagem humanizada refere-se àquelas formações resultantes da ação humana ou das sociedades na superfície terrestre. Elas são produtos do trabalho social, isto é, do esforço coletivo e organizado das gerações que, por meio de técnicas disponíveis, instalam artefatos os quais são utilizados e recriados a partir das múltiplas interações que se realizam.

Essas defi nições têm hoje valor apenas didático, não se constituindo um viés de interpretação e análise das formas espaciais. Não se pode mais considerar uma fronteira material entre o físico e o humano na leitura do espaço. A fi sionomia do espaço assumiu uma feição em que elementos da natureza se misturam ao humano criando feições espaciais heterogêneas. As relações homem-natureza responsáveis pela trama paisagística combinam ritmos diferenciados, distensões e próteses. O natural não é um dado do real, mas uma construção do real. É, segundo Armando Corrêa da Silva (1993), um ponto de vista derivado da observação. Por isso, “a natureza só se apresenta ao indivíduo, ao grupo por meio de um treinamento” (SILVA, 1993, p. 42). E acrescenta: “então, não se trata de procurar o natural nos lugares ainda intocados pela humanidade. O natural está presente na informática, na cibernética, na robótica, na telemática” (Idem, ibdem). A paisagem não é única, mas revela o grau de bricolagem em que se encontra a informação e a comunicação na relação homem-natureza.

A partir daí, é possível perceber que “o equilíbrio resultante dessas combinações não têm nada de estável, que ele está à mercê de modifi cações cuja multiplicidade de fatores abrem uma ampla margem” (LA BLACHE, 1985, p. 43). Os estudos geográfi cos sobrevivem das transformações remanejadas no tempo, das misturas, dos resíduos que se incrustam nas formas espaciais, resultantes da indissociável relação entre o homem e a natureza. Afi rma Vidal de La Blache (1985, p. 42) que “a obra do passado persiste através do presente como matéria sobre a qual se exercem as forças atuais. A partir daí estamos em plena Geografi a”. A superfície da Terra é laboratório de múltiplos resíduos que, ao se combinarem, formam o meio geográfi co, exigindo do geógrafo o saber olhar. Para saber olhar, é necessário compreender a priori esse laboratório marcado por relações de interdependência entre o movimento e a inércia, a rugosidade e a transformação, o fl uxo e o repouso, o real e o virtual, a convivência e a barbárie, o símbolo e a matéria, superando as fronteiras pragmáticas e paradigmáticas que estão fi ncadas nas estranhas de sua trajetória.

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Resumo

Assim, a paisagem é uma categoria da análise geográfi ca que possibilita problematizar o espaço a partir do conjunto de objetos fi xos dinamizados por meio dos fl uxos de idéias, percepções, valores, condutas, usos apropriações que variam no tempo. A natureza coloca seus elementos; o homem coloca as suas técnicas; a paisagem é síntese dessa combinação natureza-técnica, em que não se pode separar uma da outra sob o risco de cairmos na armadilha da fragmentação, que isola o homem da natureza, a partir de conceitos que difi cultam a compreensão dos problemas. No mundo técnico-científi co e informacional, o qual caracteriza a era da globalização, a paisagem concretiza múltiplos usos e funções. Sugere inúmeras apropriações em função da utilização do espaço como mercadoria. Pode-se falar, de acordo com Milton Santos (1996, p. 191), em uma cientifi cização e tecnicização da paisagem, em que cada vez mais são colocadas próteses visando ampliar o raio de acumulação de capitais e de sedução às práticas inovadoras ativadas por agentes sociais distintos. O meio geográfi co globalizado impõe-se como uma lógica que estimula no espaço a realização do particular no universal, do universal no particular. Assim, a Geografi a é um empecilho ou uma abertura a esse modelo, constituindo um ponto ou nó na rede de informações e trocas que alimentam a sociedade hoje.

Finalizando a nossa abordagem, sugerimos alguns temas para refl exões, os quais você pode assumir como caminhos de pesquisa.

1) A noção de ecossistemas e paisagem: qual é o lugar do homem nesse contexto?

2) Biomas e paisagens: como compreender a natureza em transformação?

3) Paisagens urbanas: onde está a natureza?

4) Paisagem: qual o lugar da natureza e do homem na trama morfológica?

Nesta aula, foi feita uma abordagem teórico-metodológica e prática da paisagem como categoria da análise geográfi ca. Contextualizamos a refl exão em situações de ensino-aprendizagem, a qual exigiu do aluno a leitura e a participação ativa nas atividades. Assim, vimos que a paisagem é um conceito e uma prática de análise do espaço, constituindo-se em um campo de refl exão e ação do sujeito.

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Auto-avaliaçãoTendo em vista que a paisagem está enredada na trama do visível e do invisível, observe

esta imagem.

A partir do que você observou, elabore um texto refl exivo em que seja feita uma descrição e uma análise teórico-metodológica da paisagem como categoria de análise geográfi ca.

ReferênciasBESSE, Jean-Marc. Ver a terra: seis ensaios sobre a paisagem e a geografi a. São Paulo: Perspectiva, 2006.

GOMES, Edvânia Torres Aguiar. Natureza e cultura: representações na paisagem. In: ROSENDHAL, Zeny; CORRÊA, Roberto Lobato (Org.). Paisagem, imaginário e espaço. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2001. p. 50-70.

GOMES, Paulo César da Costa Gomes. Geografi a e modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.

LA BLACHE, P. V. As características próprias da geografi a. In: CHRISTOFOLETTI, A. (Org.). Perspectivas geográfi cas. 2. ed. São Paulo: DIFEL, 1985.

LUCHIARI, Maria Tereza Duarte Paes. A (re)signifi cação da paisagem no período contemporâneo. In: ROSENDHAL, Zeny; CORRÊA, Roberto Lobato (Org.). Paisagem, imaginário e espaço. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2001. p. 09-28.

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Aula 05  Organização do Espaço18 Aula 05  Organização do Espaço

MAGNOLI, Demétrio; REGINA Araújo. Geografi a: a construção do mundo. São Paulo: Moderna, 2005. (Geografi a Geral de Brasil).

MORAES, Vinícius. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. 3. edição. São Paulo: HUCITEC, 1994.

______. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: HUCITEC, 1996.

SILVA, Armando Corrêa. A geografi a humana e a abordagem naturalista. In: SOUZA, M. A et al. (Org.). Natureza e sociedade de hoje: uma abordagem geográfi ca. São Paulo: HUCITEC, 1993. (p. 42-45).

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Anotações

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Anotações

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EMENTA

n Eugênia Maria Dantas

n Ione Rodrigues Diniz Morais

Objeto de estudo da geografia; as correntes filosóficas que embasam o pensamento geográfico; espaço, território,lugar,

região e paisagem nas diversas abordagens geográficas; a importância das redes no estudo geográfico do mundo

globalizado; a ciência geográfica na sociedade pós-moderna:paradigmas, perspectivas e dificuldades; as formas de

abordagens dos temas geográficos no Ensino de geografia; atividades práticas voltadas para a resolução de problemas

referentes ao espaço geográfico em situações de ensino

Organização do Espaço – GEOGRAFIA

AUTORAS

AULAS

2º S

emes

tre d

e 20

08Im

pres

so p

or: G

ráfic

a

01 Despertando para a leitura do espaço

02 Aprofundando o conceito de espaço

03 A Organização do Espaço: um desafio inter-trans-disciplinar?

04 A dinâmica entre o global e o local na globalização

05 Paisagem como categoria da análise geográfica

06 Lugar e (des) identidade

07 Território e territorialidade: abordagens conceituais

08 Território e territorialidade: abordagens conceituais (parte II)

09 Por entre territórios e redes: múltiplas leituras

10 Região e a Geografia tradicional

11 Região no contexto da renovação da geografia

12 Organização do espaço: do universo conceitual ao ensino da Geografia

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