191968026 gillieron edmond as psicoterapias breves

Download 191968026 Gillieron Edmond as Psicoterapias Breves

If you can't read please download the document

Upload: dapine-neves-da-silva

Post on 30-Dec-2015

351 views

Category:

Documents


5 download

TRANSCRIPT

  • ,. rtlao interrubjeriva, transferinc/4 t interpretGo 69

    ma is prximo de uma certa "objetividade" para o objeto; tomando um exemplo extremado: uma bofetada que o te-rapeuta recebesse de seu paciente seria absolutamente real, mesmo que no fosse "verdadeiramente" destinada a ele, e essa a realidade imediata compartilhada por um e plo outro. Assim, convm insistir no aspecto de que a ao e a verbalizao tem um impacto diferente, o que ainda mais importante de compreender na medida em que o terapeuta no um simples espelho sobre o qual o paciente projeta suas fantasias; ele um espelho "que age", que reenvia ao paciente o reflexo de suas projees, mas que envia simul-taneamente um conjunto de informaes provenientes, por um lado, do mundo interno do terapeuta (contratransfe-rencia . inconsciente) e, por outro, de sua competncia tc-nica e de sua compreenso do paciente. Alm disso, as as-sociaes verbais remetem tambm ao terapeuta o reflexo de suas intervenes - fenmeno pouco contestado, mas muito pouco estudado: negligenciamos por muito tempo, em particular, tudo o que concerne efeito das interven-es do terapeuta, ao impacto delas no funcionamento in-trapsquico do paciente; ora, toda interpretao , ao mes-ma tempo, uma ao, mas o corolrio disso .que QUAL-QUER AO PODE TER VALOR DE INTERPRETAO, como bem ilustra a interveno do terapeuta do terceiro exemplo. Assim, mais particularmente esse problema, nascido do conluio maior entre fantasia e realidade, que temos estuda-do, na medida em que ele nos parece condicionar uma cer-ta especificidade dos movimentos transferencia is e contra-transferenciais.

    Na psicoterapia breve, a maioria dos autores tem uti-lizado diversas tcnicas cujo efeito principal permitir ao terapeuta manter o controle da situao e evitar a armadi-lha das reaes contratransferenciais. J: assim que podemos compreender a maior atividade dos terapeutas, ou at a focalizao por desprezo seletivo ou ateno seletiva.

    De nossa parte, optamos por uma atitude rjgorosa-mente psicanaltica, porm em conta o novo pro-blema induzido pela situao face a face - o problema da mpohnc ia das comunicaes interacionais. Por conse-gu in te, a ao interpretativa que objeto de toda a nossa

  • 70 plicot~r11pkl1 brn~s

    ateno, pois, como ilustramos em nossos trs exemplos, o terapeuta tende, na situa~o face a face, a reagir e a querer mostrar ao paciente o carter "imaginrio" de suas proje-es transferenciais, a querer desfazer-lhe a iluso, o que, paradoxalmente, impede o aparecimento das fantasias do paciente em plena luz. Dizer ao paciente, .. No transmiti-rei seu dossi, ao contrrio do que voc imagina", s faz obscurecer esse imaginrio; "mas meu sorriso no era ir-nico" teria tido o mesmo resultado. Tudo isso equivale a dizer que o principal problema do terapeuta, em psicotera-pia, agir, e no reagir.

    A disciplina fundamental a que se deve ater o psicote-rapeuta perguntar-se constantemente no o que quer transmitir ou dizer a seu paciente, mas sim o que este ir entender.

    Isso vlido para todas as comunicaes interacionais. Inversamente, no que concerne ao conjunto das asso-

    ciaes manifestamente marcadas com a chancela da subje-tividade (por exemplo, quando o paciente diz ter "o sen timento de que"), as intervenes em nada se distinguem das do psicanalista.

  • r

    f

    7

    FOCALIZAO: O Desenrolar de uma Psicoterapia

    A focalizao, universalmente admitida em psicoterapia psicanal (tica breve, baseia-se, apesar dessa universalidade, em concepes e prticas que variam de um autor para ou-tro: polarizao consciente do tratamento em um proble-ma ou em um sintoma principal para uns e, para outros, hiptese psicodinmica de base, que supostamente explica e resume a maior parte dos conflitos intraps(quicos. Em nossa viso, esses diferentes procedimentos, freqentemen-te desenvolvidos em bases intuitivas ou experimentais, tm por funo permitir ao terapeuta conservar o domfnio da relao psicoterpica, evitando a armadilha de interaes repetitivas passCveis de barrar o acesso ao inconsciente. Nossa viso diverge no sentido de considerarmos que a fo-calizao ativa no necessria, desde que se esteja atento para as relatles entre as interaes e as fantasias. Com efei-to, com base em estudos sobre os aspectos psicolgicos das primeiras consultas em medicina geral [21), voltando tam-bm nossa ateno para os aspectos precoces da transfe-rncia em psicoterapia, pudemos fazer as seguintes cons-tataes: 1. A maioria das consultas (mdicas ou psiquitricas)

    motivada pelo aparecimento de uma crise relaciona! no casal, na fam(lia ou at mesmo em outro tipo de relaes particularmente significativas;

    2. Desde as primeiras consultas, o paciente tende a indu-zir no mdico ou no psicoterapeuta uma contra-atitu-de compensatria especlfica, que parece calcar-se na ~titude habitual do parceiro do paciente que se con sulta. De qualquer modo, o terapeuta induzido pelo

    71

  • 1 I

    -

    72 ptfCOtl!rllpflu breves

    paciente a "substituir" a pessoa que lhe era cara antes do conflito. De certo modo, o prprio paciente que rende a focalizar as coisas em sua relao com o tera-peuta. O comportamento adotado pelo paciente durante a

    primeira consulta traduz o confl ito atual com que ele se v confrontado. Sua funo amb fgua e contm, ao mesmo tempo, um aspecto de resistncia e de abertura para uma mudana, refletindo, em geral, a problemtica central do paciente (zona de fragilidade de seu ego). t de acordo com esse modelo bsico que compreendemos a foca lizao. Em suma, o paciente focaliza espontnea e inconscientemente a relao. Para perceblo, convm estar atento ao que o paciente faz nas primeiras consultas, mais do que ao que diz . Talvez devamos especificar essa colocao: estar atento ao que ele leva o terapeuta a fazer. A reao deste ltimo reflete mais claramente os movimentos contratransferen-ciais precoces induzidos pelo paciente.

    Mas apoiemo-nos num exemplo para ilustrar essa questo:

    PAI MElROS CONTA TOS

    "Tenho dificuldade em trabalhar e em me concentrar, caso contrrio no teria vindo consultar-me; durmo mal e pratica mente no vejo quem possa ajudar-me. Meu marido um intelectual brilhante, tem sucesso em tudo; ele me falou sobre as diferenas entre psican~lise e psicoterapia. Eu o deixei h seis meses. Na ocasio em que o deixei, ele suportou mal a separao e propus que fo5Se ver um psiquiatra; agora ele est melhor. Deixeio porque me sentia oprimida, ele no admitia contradies. Eu estava def inhando, fiquei fis icamente doen-te."

    Desde os primeiros contatos, portanto, Daphn comu-nica seu sofrimento: distrbios da concentrao, do sono, dificuldades no t rabalho etc. Esses sintomas apareceram aps a separao conjugal, que, no entanto, ela mesma pro-vocou, pois sentia-se sufocada pelo marido, a quem enviou a um psiquiatra porque, no inicio, ele suportou mal a sepa rao; agora ele est melhor, mas agora que Daphn vai

  • ~ tociJuao 73 I

    consu ltar-se. Portanto, ela assinala um conjunto fie aconte-cimentos seguidos por sintomas.

    Vejamos agora o comportamento que adot? em rela-o ao terapeuta : ~

    1. Ela evoca seus sintomas. 2. Apressa -se a dizer que no v quem possa ajud-la,

    o que uma forma bastante clara de dizer que est sofrendo, mas que duvida do poder de set.-1 terapeu-ta; mas , ao mesmo tempo, uma maneirP indireta de pression-lo.

    3. Evoca implicitamente sua confiana na lpacidade do marido: ele tem sucesso em tudo e foi ele quem

    . lhe explicou o que a psicanlise, e no {J psicote rapeuta.

    Essa curta seqncia mostra que a paciente &xerce, de imediato, uma certa presso sobre o terapeuta: ,o marido tem sucesso em tudo, mas, e o terapeuta? lmpliciitamente, ela o compele a provar seu valor. A is.so acrescent-a -se o fa -to de que ela mostra claramente sua estima pelrJ marido: ao marido que pede expl icaes sobre as tcn i;as psico-terpicas.

    4. A paciente assinala, no entanto, que mal :suportou esse marido que a sufocava com seu sab&r; assim, contribui ainda mais para a dificuldade d> psiquia-tra, pois diz implicitamente que, se esciutar esse homem, sent ir-se- "sufocada".

    Em resumo, ela mostra que est sofrendo, mas que duvida da terapia; se o terapeuta, mesmo assim, viiesse are-velar-se altura de seu marido, ela correria o risciO de sen-tir-se oprimida e de definhar. Logo de incio, plOrtanto, configura -se uma relao em que possvel estabetlecer um pat 'l/elo en cre o marido e o terapeuta: ela necessital do tera peuta, a quem corre o risco de no suportar, assi-im como suportou ma l apoiar-se em seu mari do. Entretantco, o fato de ir consu ltar-se no moment0 em que o marido .est me-lhor mostra uma abertura nesse sistema; o maridc9 no jo-gandO! mais o jogo habitual, modifica os dados bsicos da relao, o que leva a uma crise que dever ser expllorada. E

  • ! !

    74 pscoterapias breves

    NESSA CR ISE QUE A PSICOTERAP IA BREVE DEVE POOi:R FOCALI

    ZA ASE. Com base nessas premissas simples, o terapeuta pode conduzir o restante da entrevista e p roC1Jrar verificar, parale lamente, atravs da investigao clfnica e de um exame pskolgico, as primeiras hipteses psicodinmicas enunciadas em seu fo ro rntimo. Vejamos do que se trata:

    ELEMENTOS ANAMN~SICOS

    Era o segundo casamento de Daphn. Grvida, ela j~ havia despo sado, aos 19 anos, um homem que encontrara numa via gem ao exterio r; esse marido morrera de uma doena grave pouco antes do nascimento d o beb, que foi confiado aos cui-dados de uma bab e dos pais de Daphn, que re tomou bri-lhantes estudos universi t rios. Aps os exames. foram-lhe ofe. recidas numerosas possibilidades universitrias interessantes e ela voou de sucesso em sucesso. Entretanto, no momento em que comeava a a tingir o objetivo que buscara, apresentou for tes cefalias e experimentou dificuldades acentuadas de con centrao. F oi nessa poca que conheceu seu segundo marido, tambm um homem bri lh ante, que lhe fez uma corte ass fdua; ela aceitou casarse com ele e mudar-se para uma cidade afas tada (onde moravam os sogros). renunciando por isso a sua carre ira. Ent rementes. seu beb morreu aps u ma doena grave. E la so-freu in tensamente essa perda, mas conseguiu superar o luto voltando a trabalhar, agora em u ma universidade des tacada on de novamente alcanou um x ito brilhante. Entretanto, sua vi da conjugal tornou -se cada vez ma is sofrida a SI! US olhos, na medida em que ela sentia dificuldade em suportar o autori taris mo do marido, que, fortalecido pelo apoio dos pais, revelou-se rgido, desdenhoso e distante. Ao voltar de uma longa viagem profis:Sional ao exterior, ela teve a sensao de no poder mais suportar a vida conjugal e props uma separao.

    Em seus antecedentes familiares, descobr iu-se que ela pro vinha de uma fam fl ia de universitrios: o pai era descr ito como u m autocrata de inteligncia brilhante, com humor muito ins t vel, que passava de gargalhadas explosivas a movimentm bruscos e terrificantes de clera; a me era dotada das mesmas qualidades de inteligncia, porm era mais sens(vel e fora do minada pelo marido por muito tempo; entretanto, acabara por adqu;r ir uma notoriedade indubitvel no campo prof1ssional , a ponto de ultrapassar o marido.

  • [oco/izaiio 75

    Daphn era uma moa de cabelos desgrenhados, displicen temente vestida ao estilo de um rapaz.

    Do conjunto da investigao e do exame psicolgico emergiu o retrato de uma pessoa hipersensvel., que contro-lava muito mal suas emoes, espreita de todas as real)es do interlocutor, e cujo pensamento tornava-se s vezes um pouco fugaz, apesar da inteligncia superior mdia.

    Durante as duas primeiras entrev istas, ela relembrou um sonho infanti l: "Estava na gua. correndo o risco de afogar~e e, de re pen te, sem que tivesse feito o menor esforo, punha-se a sobre voar a gua; era um corte total e abrupto, um sentimento ma ravilhoso por um momento e, depois, subitamente, ela ficava aterrorizada, perdia o controle de si mesma e tornava a cair no fundo da gua. onde olhava para ela prpria."

    Comentou esse sonho dizendo de sua esperana de que a psicoterapia ou a psicanlise lhe permitissem sentir-se na gua, nadando sem ser muito perturbada pelas ondas.

    O conjunto desses dados mostrou um intenso investi mento do pensamento em Daphn, que parecia defender-se desse modo contra o risco constantemente presente da emergncia de angstias invasivas. Assinalaram-se tambm suas dificu ldades relaciona is com os homens e sua tendn-cia a estabelecer vnculos com personagens bastante fracos. Por outro lado, parecia evidente que a maneira como Da phn apresentou o pai assemelhava-se surpreendentemente com o que disse do marido, mas tambm com o que estava prestes a viver e a transferir para a pessoa do terapeuta. A fragil idade de seu ego era evidente, mas o insight era pro nunciado, at pronunciado demais. Alm disso, sua motiva-o era mu i to fo rte.

    Levando-se em conta o insight dessa paciente, sua for-te motivao e o investimento significativo que ela fez no terapeuta, optou-se por uma psicoterapia analtica cujo tr-mino foi fixado, de comum acordo, para um ano depois.

    No que concerne focalizao, esse trabalho foi em-preendido com base exclusivamente na seguinte hiptese: "Daphn, no decorrer da psicoterapia, procurar resolver corigo o confli to que no conseguiu superar na relao com o marido. Cabe a mim tentar permitir-lhe compreen-

  • 76 psicoreropias bTtvts

    der as fantas ias e as resistncias subjacentes a esse con fi i to."

    ALGUNS ASPECTOS DO DESENROLAR DO TRATAMENTO

    Nenhuma outra instruo foi dada alm da relativa s asso-ciaes livres, o que se tornou possvel graas ateno voltada para os aspectos transferenciais precoces da rela o. Em termos clssicos e esquemticos, toda psicote rap ia analtica breve que evolui normalmente comporta trs fa -ses principais:

    a) Colocao de elementos transferenciais compar vcis aos da neurose clssica de transferncia;

    b) Elaborao; c) Trmino. No resumiremos aqui a totalidade do t ratame nto,

    mas simplesmente apresentaremos alguns recortes d nicos para ilustrar sua atmosfera.

    PRIMEIRA SESSO: Oaphn fala espontaneamente sobre suas dvidas quanto possibilidade de eliminar seus sentimentos de insegurana, seu medo da morte, acima de tudo, e seu medo da solido; este ltimo foi acentuado pela separao recente. ainda mais porque e la desejava profundamente um filho: "Mas imposslvel, porque no tenh o um homem e, de qualquer mo do, meu trabalho me impediria." Nesse momento. o terapeuta indaga, simplesmente: "Voc poderia descrever o homem de quem gostaria de ter um filho?"

    Essa foi uma das primeiras intervenes do terapeuta, fundamentada nas concepes desenvolvidas nos captulos anteriores.

    Com efeito, qu ai quer interveno que incidisse, por exemplo, sobre a defesa " impossvel, porque no tenho um homem", ou sobre as angstias I igadas ao desejo de ter um f ilho, no teria obtido nenhum resultado seno o de reforar as resistncias. De acordo com nossa experincia, adotamos freqentemente, em psicoterapia, as seguintes atitudes : por exemplo, mostrar que esse desejo aparece de pois de ela ter provocado a separao; outras atitudes, mais diretas, teriam ligado esse problema do filho s diferentes

  • focalizao 77

    imagens de homens que ela havia retratado: como desejar um filho de um homem to autoritrio, etc.

    Qualquer interveno desse tipo teria sido sentida como um "objetivo de no receber" por parte do terapeu-ta ou como uma acusao, e teria conduzido a um jogoin-terminvel em que Daphn procuraria "provar" que tinha razo, e vice-versa.

    Assim, o terapeuta optou por um ato de valor inter-pretativo: admitiu o dese jo, admitiu a dif iculdade atual e solicitou uma preciso aparentemente andina. Vejamos as conseqncias:

    Daphn fica um pouco perturbada, cala-se e, em seguida, evo-ca sentimentos de fracasso. sem responder d iretamente. Na ses-so seguint~ , comenta: "Aconteceu uma coisa importante em mim: eu lhe falei sobre minha angstia de morte e minha im-potncia para dar um sentido a ela. Disse que queria ter fi lhos, mas, depois de sua pergunta. fiquei perturbada e me dei conta de que no queria um fi lho de um homem, e sim apenas o fru -to da aproximao, mas no a pessoa 1 Percebi que, a despeito de minhas numerosas aventuras sentimentais. tenho medo dos homens. E me veio uma recordao: eu tinha quatro anos e es-tava do lado de fora, sob o sol. transpirando com o calor. Meu pai me disse que vestisse um casaquinho. Respondi que esta-va com calor, mas ele retrucou: 'Pouco me importa; se estou dizendo para voc vesti r um casaco de malha, s lhe resta obe-decer'. F iquei fur iosa, com a sensao de que meus prprios sentidos no t inham valor."

    Assim, foi a prpria Oaphn que percebeu a repetio e deu um sentido intra-subjetivo quilo que punha na con-ta de problemas da realidade. O terapeuta obteve esse re-sultado sem intervir nas resistncias.

    ELABORAO I FASE I

    Desde cedo, a psicoterapia desenrolou-se num clima inteira-mente equiparvel ao de uma psicanlise clssica. com associa-es e sonhos que se sucediam e se completavam sem que o te-rapeuta tivesse grandes intervenes a fazer. A principal pro-blemtica elaborada foi a respeito da posio fl ica defensiva de Daphn em face de uma representao sado-masoquista da relao heterossexual. Essa riqueza de associaes imprcssio-

  • 78 psicoterapias bff~s

    nou o terapeuta, que, durante uma sesso. deu a seguinte inter prelao: e la d ava mostras de tamanho insight que seria p ossf-vel indagar se no chegava a ultrapassar seu terapeuta. talvez para agrad -lo, mas correndo o risco de sentir-se s. Daphn calou-se, mas, na sesso seguinte, comunicou o seguinte sonho:

    "Eu estava na rua e encontrava um ant igo amante : ele es ta va sorridente, deixava transparecer um vigor sereno. Disse-me, 'Venha, vou apresent-la a minha mulher'. Eu o se gui. Ele mo rava no alto de u ma casa de muitos andares. Entramos num cO modo que era uma espcie de sto e a mulher de le estava l, sentada em um d iv, com as pernas estendidas. Sentamos em out ro div e coloquei a mo no ombro dele. E I e mostrava um intenso desejo por m im, mas tambm desejava sua mulher, lou -ra e de olhos luminosos. De repente, vi que ela estava brincan do com alguma coisa preta e p eluda na ponta de um bar bante. Era uma aranha com um n ome que esqueci. Ela me d isse que os companheiros gostam de brincar juntos, e eu me aproximei e estendi a m3o para b rincar, mas fui invadida pelo medo, por um calafrio de mo rte." Oaphn fez diferen tes associaes acerca dos restos diurnos do sonho e. depois. sobre as rel.1es entre o sexo da mulher e a aranha. o que o te rapeuta conten tou -se em salientar. A isso. Daphn respondeu: "Mas. na ver dade, essa aranh a sou eu!"

    Na sesso seguinte, Daphn chegou atrasada, embora fosse sempre muito pontual, e comentou: " Estou atr ibuindo menos importncia a chegar na hora." Um pouco mais adiante, acr~scentou . ''Talvez o que acontece aqui me perturbe um pouco". e acabou d izendo, "Depois da l tima sesso, fiquei muito preo cupada. Tive a impresso de que era minha femi nil idade que estava em jogo. De repente, lembrei-me do m ito de Aracne e quis ver do que se tratava. Reli o e vi que Aracne, essa mulher que desafiou Minerva por sua inteligncia, era um pouco como eu mesma nas sesses. Talvez eu qeira brilhar, para no me apegar ... " Em seguida, ela viu tambm que tinha q11erido mal me por esta ter uma vida sexual de que parecia orgulhar-se (ela brincava com a aranh a di~nte dos olhos de Daphnl etc. Os problemas ed ipianos puderam ento ser abordados e a psi coterapia terminou no prazo previsto. sem mu itas dificulda des.

    Para conclui r, vejamos alguns comentrios fe itos por Daph n, a lgu ns meses depois, por ocasio de uma investiga-o catamnstica: "Consigo expressar melhor meus senti mentos, faze r valer m inhas necessidades nas situaes d if -

  • I

    focaliza 19

    ceis; tambm consigo aceitar me 1hor que essa tomada de posio possa desagradar aos outros, mas sei que mais vale isso do que desagradar a mim mesma ... Tenho mais respei-to por mim mesma, adquiri uma capacidade de me interro gar a meu respe ito, sobre minhas prprias necessidades. ."

    No era isso que ela havia procu rado?

    Esses poucos recortes cl ncos pretenderam il ustrar o fato de que, no desenrolar dessa psicoterapia, o terapeuta estava constantemente atento ao sentido transferencial das assoc iaes da pac iente. Por exemplo, quando Daphn evo-cou suas dvidas e a impossibilidade prtica em que se achava para conseguir o f ilho que desejava, o terapeuta dis-punha de in d i cios suficientes para saber que esse discurso dirigia-se essencialmente a ele: ento e la no disser.:~, desde as primeiras palavras, que duvidava que a terapia pudesse trazer lhe o que desejava? Do ponto de vista simblico, tra tavase exatamente do mesmo problema. Essa idia deu su-porte interveno do terapeuta. "Levar para a transfern c ia". como se diz algumas vezes, de nada teria servido, pois, aparentemente, a paciente estava fa lando da "realida-de". Assim, e ra conveniente respeitar suas defesas, criando, ao mesmo tempo, condies apropriadas para permitir a Daphn evocar o que se passava no interior dela. A inter-veno do te rapeuta permitiu isso. Ma is tarde, o sonho da aranhaAracne segu iu-se a uma interpretao claramente transferencial e assinalou uma reviravolta: os problemas edipianos toma ram dianteira em relao aos problemas pr-gen itais, tornando possvel a Daphn integrar melhor sua feminilidade, e permitindo-lhe tambm, por outro la do, enfrentar as situaes profissionais ansigenas que ela sempre evitara at ento.

    Alm disso, cremos que as poucas citaes do balano feito por Daphn mostram que e la viveu imediatamente uma experincia interior, aparentada com a experincia ana l itica, e no uma simples experincia emocional corre tiva.

  • 8

    PSICOTERAPIA$ BREVES E CLASSIFICAO DAS PSICOTERAPIAS

    Introduo Para comp reender ainda melhor a especificidade das psico-terapias breves, gostaramos, neste captulo, de situar as psicoterapias breves (e mais particularmente nosso mto-do) no domnio geral das psicoterapias, pois a ampliao do campo destas ltimas e o aparecimento de m ltiplas formas de in terveno, todas as quais se denom inam de psi-coterapias ("novas psicoterap ias", A. Haynal) , incita nos a recolocar na base o problema de sua classificao. Numero-sas intervenes, que qu ase no se d ist ingu em dos trata mentos tradicionais da alma no sculo passado e no in i cio deste scu lo, ou que se fundamentam em teorias mais ou menos esotricas, inte rrogam-nos sobre o lugar que ocupam no domnio mais especfico da prtica mdica e da cincia. Contudo, se pretende rmos tentar compreender as relaes que mantm entre si essas d iversas psicoterap ias, pensamos ser errneo comparar as teorias de umas e de ou-t ras, ou mesmo interpretar o conjunto das prticas em fun-o exclusivamente da teoria psicanaltica. Parece muito mais criterioso comparar as praticas e p rocurar, em segui -da, compreender seu funcionamento. O obj et ivo deste ca-ptulo esboar em algumas linhas uma classifica o das psicoterapias segundo esse princfpio e situar o lugar das di ferentes formas de psico terap ias breves. Para faz-lo, nos

    Resumo de um relat r io aprc

  • classificao das psicoterapios 81

    apoiaremos nas noes de "relao teraputica" e de "en-quadre" d iscutidas nos captulos 5 e 6. Mostraremos como esses parmetros se combinam de acordo com os diversos mtodos propostos.

    "Parmetros das psicoterapias"

    Assim, tentaremos classificar as diferentes psicoterapias em relao aos dois parmetros que se seguem:

    A RELAO TERAP~UTICA E O ENQUADRE TERAPEUTICO

    J se disse algumas vezes que a psicoterapia comea no ponto em que o mdico passa a utilizar a relao mdico-paciente com um objetivo teraputico. Isso equivale a di-zer que, em ps icoterapia, o mdico utiliza a si mesmo co-mo med icao de seu paciente. Lembremos, portanto, que segundo nosso modelo, a relao psicoterp ica baseia-se em uma recusa a reagir e em um desejo de compreender, a partir do qual o mdico adapta sua ao compreenso que tem do comportamento do paciente. a que o ato mdico assume um carter psicoterpico: no ponto de pas sagem da reao (contratransferencial) interpretao, qualquer que seja o mode lo de referncia . Mas situamo-nos a no "ponto zero" da psicoterapia: somente o ''enquadre" ir permitir a evoluo de um processo. Quanto ao enqua dre, ele comporta dois aspectos:

    a l Os determinantes sco-culturais do tratamento (re-gras);

    b) A disposio {setting). Essa espcie de fronteira que separa o espao do trata-

    mento do espao social delimita, desse modo, uma zona privilegiada onde os atos e palavras assumem um valor tera-putico.

    Metaforicamente, podemos comparar a situao psi coterpica sala de operaes do cirurgio - o nico lugar que preenche as condies adequadas para permitir certas intervenes, mas cujos ocupantes empenham-se em respei-tar, estritamente certas regras, como a da assepsia, por exemplo.

  • 82 psfcoterapias brees

    Dizendo isso, estamos admitindo os dois seguintes axiomas:

    1. a funo do enquadre criar uma "situao rela-ciona!" prpria para favorecer a atividade do tera-peuta e sua eficcia;

    2. a maneira como o terapeuta uti li za a rel ao as-si m criada que determina a natureza do processo.

    De imediato, as p sicoterapias podem distinguir-se de duas maneiras:

    I. Pelas d iferenas no enquad re, a sabe r, as di feren-tes disposies ou regras de funcionamento;

    11. Pela natureza da relao proposta e mant ida pela atividade do terapeuta .

    Entretanto, somente a combi nao das duas define a psico terapia .

    Dito isso, podemos estabelecer uma prime ira distin-o entre d o is tipos de atividade : as psicoterapias propria-mente ditas, fu ndamentadas em um enquadre que d ist in gue o campo psicoterpico d o campo cu ltu ral e que p.erm i tem o desenrolar de um verdadeiro processo psicoterpico, e as intervenes com fin alidade psicoterpica, que no so del imitadas por um enquadre e no imp licam um processo temporal.

    INTERVENES DE F INALIDADE PSICOTERAPICA (sem enquadre)

    Certas intervenes de finalidade psicote rpica no p odem ser consideradas psicoterapias verdadeiras, no sent ido em que as en tendemos, na medida em que a ausncia de um enquadre preciso no autoriza o desenvolvimento de um verdadeiro processo. Retomando a metfora precedente, pode acontecer que um ci rurgio p recise intervir fora da sala de opera es (num acidente circu la trio, por exemp lo), mas essas inteNenes so gravemente limitadas pel a falta de meios, independentemente da elevada competncia tcnica do mdico. Pode-se dizer que o mesmo acontece em psico-terap ia : em nossa opinio, na falta de um enquadre preciso e bem estruturado, a psicoterapia no pode ter lugar. Por exemplo, certas in tervenes isoladas podem ter um impac-to considervel, sem que por isso meream a denominao

  • dJJssificao das pricormzpiar 83

    de "psicoterapias". Quanto chamada "psicoterapia do mdico clnico'', tampouco ela deveria ser cons iderada ver-dadeiramente como tal, mesmo que o atendimento dure muito tempo (passagem constantemente possvel a atos mdicos, como auscu ltao, investigaes d iversas etc,J; a situao do cln ico geral e de sua prtica quase no autori-zam a instalao de um enquadre psicoterpico que assegu-re a constncia necessria ao desenrolar do processo. Esse fenmeno aparece claramente, por exemplo, quando um jovem psiquiatra com sua formao j avanada precisa fa-zer um estgio em residncia com vistas obteno de seu ttu lo de especialista: por mais que seus superiores o incen-tivem freqentemente a encarregar-se dos pacientes que so-frem de dificu Idades psicolg icas, -lhe praticamente im-poss vel faz-lo.

    Observamos aqui que existe uma relao estreita entre o enquadre psicoterpico e o modelo conceitual do tera-peuta, o que no deixa de ter importncia. Assim, os trata-mentos comportamentais trazem certos problemas: em sua grande maioria, eles se baseiam em llma idia de normalida-de e no-normalidade, em uma filosofia de adaptao. A noo de liberdade individual ou de necessidades individuais est quase ausente delas. Isso se traduz pela ausncia de re-gras que estabeleam urna fronteiraentre o espao do tra-tamento e o espao social. Segundo nossa concepo, essas intervenes no pertenceriam ao domnio da psicoterapia, na medida em que o psiquismo individual no verdadeira-mente levado em conta, tratando-se antes de uma espcie de "socio terap ia", o que, a nosso ver, no corresponde ne-cessar iamente a uma critica ao mtodo.

    PSICOTERAPIAS PROPRIAMENTE DITAS

    (delimitadas do campo social)

    Todas as formas de psicoterapias compreendem, portanto, um conjunto de regras fixas, desenhando um enquadre abs trato que distingue claram~nte o campo psicoterpico do campo social. Comumente, visam no a uma readaptao do. paciente sociedade, mas sim a uma reequilibrao do mundo intrapslquico, oferecendo ao paciente um certo

  • 84 psicot~ropios buv~s

    grau de liberdade em relao ao funcionamento soc ial. A norma, nesse caso, o bem-estar individual e, secun-dariamente, o equ ilbrio inte rpessoal. As psicoterap ias ana-lt icas fazem parte dessa categoria, mas numerosas outras formas d e psicoterap ias de apoio ou catrticas visam, antes de mais nada, a melhora do indivduo; portanto , o con-junto de regras que autorizam um comportamento social -mente ina daptado que permite ao indivduo saber que se encontra em situao onde suas necessidades e seus desejos pessoais tem a possibilidade de manifestar-se, independen-temente das interdies sociais; "d izer tudo", "repouso corporal completo", " expresso corporal total (nudismo)" , porm "no faze r nada" etc.

    Como vimos mais acima , a prpria fundamentao dessas regras consiste na possibilidade de transgredir certos tabus sociais, possibilidade contrabalanada pela introdu-o de novas proibies . Feita essa colocao, h possibil i dade de certas variaes que se situam entre dois extrem os:

    a) As psicoterapias verbais, onde a regra fu ndamentat a de dizer tudo, associada de "no fazer nada";

    b} As psicoterap ias no-verbais, onde a regra principal inc ide sobre a exp resso corporal {psicoterapias ca-trticas, diversas tcnicas de relaxamento, grito pri-mai etc.);

    c) Entre esses d oi s extremos, h numerosas formas de psicoterapias mistas, tais como o psicodrama psica -naltico ou o relaxamento psicanaltico etc.

    Alm d isso, esse enquadre abstrato man tido por uma disposio que delimita claramente o lugar e o tempo em que a transgresso autorizada. Essa d isposio pode variar de u ma forma de psicoterap ia para outra.

    AS DISPOSIES

    Trata-se do conjunto de parmetros espao-temporais fixos de um tratamento: nmero de pacientes. tempo {freqn cia d as sesses, horrios, dura o). espao (neutral idade e constncia d o lugar, posies respectivas do paciente e do terapeuta). Esses parmetros so constantes e quase mudos, uma vez contratado o tratamento. No entanto, so o su-

  • classi/kao das psicorerapios 85

    porte d~ ~ra~amento, e _esse sup_ort_e tem _um considervel efeito dmam1co na relaao terapeut1ca. Tres formas de mo-dificao da disposio correspondem a trs categorias de psicoterapias:

    a) Modificao do nmero; b) Modificao da disposio espacial; c) Modificao da disposio temporal; Grosso modo, portanto, temos: as psicoterapias in-

    dividuais, as psicoterapias em grupo, as psicoterapias dedu-rao no limitada e as psicoterapias de durao limitada, podendo cada uma dessas formas de tratamento ocorrer na situao face a face ou em assimetria (terapeuta sentado, paciente(s) deitado(s)) A combinao desses diferentes pa-rmetros j determina parte da especificidade do tratamento.

    Em resumo, o enquadre deli mita nitidamente o campo psicoterpico do campo social; essa definio fun-damenta-se em um conjunto de regrs que autorizam com-portamentos proibidos em outros lugares, mas essas autori-zaes s ocorrem no interior de uma disposio espao-temporal claramente definida conforme o tipo de trata-mento. Certas regras podem divergir de in cio (verbalizao - expresso corpora l) e a disposio espao-temporal pode diferir (div-poltrona/face a face- limitao temporal etc.): so essas var iaes que compem, a nosso ver, o essenc ial da especificidade dos tratamentos, na medida em que a di-nmica da relao terapeuta-paciente fortemente modifi-cada.

    Isso no impede que, no interior do enquadre, certas caractersticas relacionais I igadas tcnica e s opes tericas do terapeuta condicionem a dinmica do processo.

    O tema da relao teraputica psicanaltica fo i abor-dado no capitulo 6, e acrescentaremos apenas que todas as relaes teraputicas podem s ituar-se em funo dos dois seguintes plos:

    ,7) o terapeuta pode utilizar a relao para influenciar o paciente e ajud-lo;

    b) o terapeuta pode interpretar o que se passa na rela-o (=transferncia J e trazer luz os eventuais con-flitos.

    O conceito de interpretao merece alguns coment-

  • 86 pslcotuaplas breves

    rios: seu momento fundamental continua a ser aquele em que o terapeuta no reage ao comportamento do paciente, comenta a relao e declara-se no envolvido. Essa a pr-pria base da interpretao da transferencia, que caracteriza as psicote rapias psicanalticas, mas poderamos imaginar outras situaes em que a atitude a mesma - por exemplo, os conflitos conjugais em que um dos cnjuges repele as acusaes do outro ("no sou esse ou essa que voc est pensando"). O que devemos p r em destaque mais uma vez, nesse ponto, a interdependncia entre a rela o e o enquadre: somente o enquadre analtico permite ao terapeuta dar uma interpretao da transferncia; fora do enquadre, qualquer interpretao inscreve-se em um sim pies conflito interpessoal. Eis porque consideramos que qualquer classificao que tenha como nico ponto de re-ferncia a noo de transferncia errnea.

    Esses dois modos de ao correspondem, portanto, a duas grandes categorias de psicoterapia:

    a) As pscoterapas ditas de apoio, recuperadoras ou corretivas;

    b lAs psicoterapias analiticas ou de descobrimento.

    a. PSICOTERAPIAS SUGESTIVAS. RECUPERADORAS OU CORRETI VAS Em cada caso particular, o terapeuta procura compreen-der as dificuldades do paciente e orient-lo sobre a sua na-tureza, mas sem procurar pr em evidncia uma eventual origem intrapsquica. Quando o terapeuta formu la para si mesmo uma idia sobre as razes desta ou daquela dificulda-de, no a comunica ao paciente, mas antes incita este ltimo a supe rar seus problemas enfrentando-os. Por exemplo, num paciente que acumule fracassos, o terapeuta, mesmo com-putando certas causas inconscientes para esses fracassos, contenta-se em pr em destaque os comportamentos auto-punitivos do paciente e em ajud-lo, atravs de uma atitu-de freqentemente sugestiva, a modificar esses comporta mentos. Caso o paciente adote perante o terapeuta uma atitude semelhante que tem em sua vida cotidiana, o te rapeuta no fala sobre isso, ou pelo menos no iaz nenhu-ma interpretao dita "da transferncia" . As terapias com-portamentas poderiam inscreve r-se nessa categoria.

  • clasrificao das psicotrrapias 87

    b. PSICOTERAPIAS ANALITICAS Nesse caso, o terapeuta renuncia a qualquer atitude "suges tiva", "educativa" ou "corretiva". Como observador neutro, busca permitir ao paciente observar a si mesmo e aperceber-se, desse modo, das razes intra-subjetiv.as de suas dificuldades. Para chegar a isso, o terapeuta deve pa-gar-se o mais possvel, de maneira a permitir que apaream os problemas subjetivos do paciente. O objetivo trazer luz conflitos em que o mdico no possa sentir-se direta-mente em questo. Esse exatamente o modelo da atitude psicanaltica, mas um comportamento assim no prprio exclusivamente do tratamento analtico: podemos encon-tr-lo tambm nas psicoterapias rogerianas e nos diferentes tipos de psicoterapias de inspirao psicanal tica.

    Por outro lado, essas atitudes esto constantemente presentes. em graus mais ou menos pronunc iados, em todas as relaes humanas, e em nada so espec/ficas das psicote-rapias, s se transformando nisso em relao ao conceito complementar de enquadre.

    LUGAR E OINAMICA OASPSICOTERAPIAS BREVES

    Com base nos dados precedentes, podemos conceber um grande nmero de combinaes, que esto resumidas no es-quema da Tabela 1. As diferentes formas de psicoterapias breves encontram lugar ali, e podemos tentar apreender a interdependncia dinmica de certos parmetros das psico-terapias. Assim, as psicoterapias breves tm como caracte-rlstica comum procederem a certas modificaes do enqua-dre e da tcnica, mas, sede um lado todas adotam a d isposi o face a face, de outro o manejo do tempo muito vari-vel: algumas delas fixam um prazo preciso, enquanto outras no fixam prazo algum, e outras, enfim, adotam uma atitude intermediria, como ilustrou o quad ro sinp-tico do captulo 4. Ora, isso s ter interesse se examinar mos ento a tcnica adotada pelos terapeutas; desse modo, percebemos que ex iste uma relao entre a tcnica e a delimitao do enquadre temporal_ quanto mais clara-

  • -88 psico terapioJ breves

    mente d eterminado o enquadre temporal, menos ativo se mostra o terapeuta . Inversamente, quanto mais a li-mitao temporal deixada na incerteza, mais o terapeuta se mostra ativo . Essa atividade transparece no rigor da sele o dos pacientes e na natu reza das interpretaes . Por exemplo, sabemos que Peter Sifneos no indica nenhum prazo preciso, mas seleciona rigorosamente seus pacientes, escolhe ativamente, de comum acordo com seu paciente, um foco de tratamento, e atm-se rigorosamente a essa es-colha. Alm disso, adota uma atitude de apoio narc/sico muito a t iva. James Mann, ao contrrio, fixa de imediato um prazo extremamente rigoroso, mas deixa que seus pa-cientes associem livremen te e sua atitude muito pouco in-tervenconista, mesmo que ele atr ibua partic1Jiar importn-cia s angstias de separao do paciente. Ns mesmos, em Lausanne, fixamos um enquadre muito rigoroso, tanto no plano da durao quanto no da freqncia, muito embora possamos ater-nos exc lusivamente regra das associaes livres. .

    Em resumo, para situar as psicoterapias breves em re-lao s outras tcnicas, devemos voltar a ateno essenci-almente para a disposio espao-temporal nova que as ca-racteriza: elas se distanciam da psicanlise pela passagem ao face-a-face e afastam-se de outras tcnicas psicoterpicas de inspirao psicanal t ica pela limitao da durao. Essa li mitao pode ser implcita ou explcita. Quando apenas impl i cita, compensada por uma atitude mais ativa do te rapeuta, ao passo que, quando explcita, essa compensa - o no necessria .

    Ademais, a referncia psicanalitica nem sempre cla-ra, o que tambm pode traduzir-se no comportamento dos terapeutas. Alguns enfatizam essencialmente a atividade e a experincia emocional corre tiva : a essas terapias chamara mos, com Peter Sifneos, psicoterapias breves de apoio ; ou-tros, ao contrrio, colocam nfase na in terpretao dos conflitos atuais em funo de seus v nculos com os confli -tos intraps/quicos (resistncia ao processo associa t ivo, de fesas etc .) e com o passado do sujeito. Somente estas lti mas merecem a qualificao de psicoterapias ana/icicas breves.

  • Tabele l .~odelo : Parme1ros e Vari ves c:!as Ps icoterapia.s

    Verbal

    I Expresso' Mosta

    Regras: ""-.,. Corporal

    I Div&-poltrona E !pao< Face a face

    En\n I /'"'""';'\ ~ . Tempo~ Otspo$ioes. ~ -

    Duraao~

    Um --Nvmero-- Vrios----

    Psicoterapias verb~is ou ~ pr-verbais {indovieluais ou grupaos) ,

    Relaxamento psicanal it ico ~ , \\ I

    Psicoteraplas gestuais : ~ \ \ psicodramas, relaxamento ou ' ,

    . ' \ . . outras abordagens corporaos ' , , 1 Recuperao, apooo: psocoterapoas . ' ' \ / de apoio

    Psicanillise {re laxamento, h opnose) 1-- - ~el~es-.......__ . .,. ' I 1111 1 In terpretao (1ransfer11coal : PIP

    Psicoreatpias e psicodramas

    E levada {3/5 sessesisemana): Psicanalise , doversas psicoterapias de inspi,.iio psicanalitica !PIPI

    ,..... / 1111 1 I 11(11

    I 111 11 1/ 11 111 ~ IIIJI

    11 111 111 11

    Baixa 11 ou mAnos/semana: apoio, L ___ ....J 1111 PIP breves) I 1111

    no-limitada : psicanlise. PIP etc.

    li miracta: Psocoterapias breves, loeaos etc.

    1111 t- ___ _.J 111 111 r--- _j" li 11

    Psic ote ra~)ias ond ivoduais ~ ____ . J 1 I

    Grupos - psicodramas colerivos 1- - -- --- ..J

  • I

    I I I

    J

    !

    9 INDICAOES E CONTRA-INDICAES

    Os critrios de seleo dos pacientes para uma psicoterapia de curta durao variam muito conforme os au tores e situ am-se em uma escala que vai de uma grande restrio a uma grande "no-seletividade". Utilizam-se diferentes cri -trios de seleo:

    a) Critrios psicopatolgicos: diagnsticos/sintomas/ estru tu ras da personalidade;

    b) Critrios "temporais": crises ou afeces crnicas; c) Critrios psicodinmicos: problemtica "genital''

    (edipiana) ou "pr-genital" (pr-edip iana).

    RELATIVIDADE DAS INDICAES

    De maneira geral, comeamos por determinar, mu ito classi-camente, a afeco atual (a "demanda" do paciente, segun-do M. Balint 1301) e, em seguida, interrogamo-nos sobre a estrutura da personalidade. Prope-se tambm, freqente mente, um exame psicolgico (Rorschach, TAT ou outros) [21). Feito isso, a ut ilizao desses dados varia segundo os autores.

    P. Sifneos atm-se a critrios ri gora mente psicanal ti-cos e aceita apenas os pacientes cujos problemas so edipi-anos e cuja estrutura de personalidade "genital" . Trata-se, portanto, de pacientes muito evoludos, dotados de um ego slido e de boa capacidade de introspeco, e cujos problemas podem ser interpretados segundo um ou outro dos aspectos do complexo de dipo (posit ivo ou negativo} .

    90

  • indic-aes e contraindicaes 91

    O. Malan, mais flexvel em sua abordagem, refere-se de maneira muito estrita s concepes de M. Balint, e seus critrios baseiam-se sobretudo na "demanda" do paciente e na possibilidade de "focalizar" o tratamento em uma hip-tese pscodinmica bsica, passvel de explicar a maior .par-te das d ificuldades, o que amplia razoavelmente o campo da seleo, j que o critr io psicodinmico essencial baseia-se nessa possibilidade de focalizao.

    Outros terapeutas so ainda mais abrangentes em suas indicaes ou se interessam por um campo psicopatolgico especf ico: os casos fronte irios (borderline), para M. Lei-bovich (28] ou as neuroses graves do carter, para H. Da-vanloo. Outros, enfim, mostram-se mais variveis e, sem de-finir em critrios precisos de seleo, adaptam sua tcnica aos problemas dos pacientes, aproximando-se, nesse aspec-to, das posies de F. Alexander, L. Wolberg, L. Small ou L. Bellak. So esses os que mais pregam o ecletismo tcni co.

    De fato, isso remete questo da contratransferencia (no sentido lato do termo) e provvel que, como em psi canlise, cada terapeuta tenda a escolher os pacientes "que lhe tragam melhores resultados", parcialmente em funo de sua economia pessoal.

    Como conseq ncia, em uma primeira abordagem, quando se fa la em critrios de seleo de pacientes (ou em indicao para a psicoterapia breve), sempre conveniente precisar a que forma de psicoterapia breve se est aludindo (Aiexander e French, Balint-Mal an, Sifneos etc.).

    De nossa parte, consideramos, ainda assim, que exis-tem certas constantes na psicoterapia analtica breve que se nrendem essencialmente ao enquadre espao-temporal. Po-ut i iomos dizer que as indicaes para a psicoterapia breve so re lativas, no sentido de dependerem, simultaneamente, do desejo do paciente e da tcnica particular do terapeuta. Ao contrrio, parecem existir contra-indicaes absolutas, que parecem estar estreitamente ligadas questo da "mo tivao" dos pacientes. Com efeito, todos os autores con-cordam quanto a esse ponto fundamenta l: alguns falam em motivao de mudana, outros em motivao de insight, mas todos atribuem uma importncia primordial a esse as

  • 9l psicorerapias brC'ves

    pecto, que o fa tor d e prognstico mais d iretamente liga-do ao sucesso da psicoterap ia. Entre tan to , parece-nos que essa questo deve ser examinada em suas nuanas, pois, de fato, d isti nguem-se dois t ipos de p ac ientes :

    1) A queles cujas motivaes so sobretudo progressi-vas;

    2) Aqueles cujas motivaes so sobretudo regressivas. Os p rimeiros procuraro uma verdadeira mudana, en

    q uan to os ltimos buscaro uma compensao para suas di-ficuldad es . Estes seriam inacessveis s psicoterapias breves. De fato, esse ponto de vista afi gura -se demasiadamente es quemt ico, pois muitas coisas parecem depender do pr-prio terapeuta: H. Davanloo ou M. Leibovich, por exemplo, tratam com sucesso pacientes cujas motivaes seriam qua-lificadas por muitos como regressivas. Eis porque, apesar da u til idade dessa d ist ino, consid eramos que ela insufi-ciente, na medida em que tampouco leva em con ta a ativi dade especdica do terapeuta. Convm le mb ra rmos aqui q ue, segundo o modelo das teorias da comun icao, deter-minamos a ns mesmos, como princfpio fundamental, en-carar a dupla tera peuta-pacien te como um rodo em intera-o contnua.

    Assim, possvel considerar a questo das motiva es regressivas ou progressivas como um problema perten cente ao domnio das indicaes relativas, que depende es-sencialmente da natureza d a relao in te rsubjetiva de um dado p acient e com um dado terapeuta.

    A nosso ver, a questo das indicaes ou contra-indi-caes ganha maior clareza quando se examina o pro blema das motivaes luz da organizao puls ional e em funo de duas ordens de fa tores :

    1) A disposio espao-cemporal proposta ; 2 ) O carter analltico do tratamento p roposto.

    Eis aqui um esboo dessas concepes :

    1. Contra-l'ndicaes ligadas Disposio Espao-Tempordl

    Essas contra-indicaes concernem : a) aos pacientes qu e, em virtude de sua problemtica,

    precisa m mostrar-se insensveis (ou quase nsens-

  • iiiJtcaoes e cor~tra indicaftS 93

    veis) influencia do enquadre, qualquer que seja ele;

    b) aos pacientes que, em virtude de sua problemtica, podem util iza r certas caractersticas especificas do enquadre (freqncia das sesses, limitao tell)pO ral, face a face ou div-poltrona etc.) a servio de suas resistncias.

    a. Insensibilidade ao enquadre. Trata-se do domn io das psicoses e, em medida menor, das pr-psicoses. Com efeito, independentemente de suas outras caractersticas psicopatolgicas, esses pacientes. por suas tendncias aut is-tas. comportam-se praticamente da mesma maneira, qual-quer que seja o enquadre proposto e qualquer que seja o interlocuto r, o que equ ivale a dizer que so incapazes de jogar o jogo ps,canal tico ou psicoterpico. Seu tratamento requer modificaes tcnicas de tal ordem que se afasta mu i to das concepes psicanalticas.

    b. Contra-indicaes ligadas a certas caractedsticas es-pedficas do enquadre. O face-a -face parece contra-indica-do para os pacientes cujos mecanismos de defesa contra o desenvolvimento de urna neurose de transferncia so parti-cularmente acentuados: o grupo das neuroses obsessivas. Para eles, a nosso ver, a disposio div -poltrona larga-mente prefervel. De f a to, eles tendem a defender-se do aparecimento de suas emoes e de suas fantasias referin-do-se constantemente "realidade" do terapeuta. Quando este ltimo interpreta esse movimento como uma resistn cia, iniciase ento o jogo sem fim, que mais se assemelha a uma guerra do que a uina psicoterapia . Com efe ito, esse mecanismo de defesa intensa mente reforado pelas possi-bilidades de controle visual oferecidas pela disposio face a face . Convm lembrarmos, de passagem, que esse modo de defesa atravs da realidade deve ser claramente d istinguido de outro mecanismo de defesa a que poderamos designar de "defesa contra a realidade do outro"- mecan ismo prprio dos psicopatas e dos pervertidos, que utilizam seus parcei ros de acordo com suas prt'lprias necessidades fantasmt i-cas: no apenas confundem o outro com sua vida fantasm-tica. interna, como tambm no suportam a existncia do ou-tro enquanto indiv(duo, mui to embora estimulem violenta-

  • 94 pscoterapills breves

    mente a pessoa diante deles para "obrig-la" a comportar-se de acordo com a estrutura de sua prpria vida fantasmtica. Por exemplo, em funo de suas tend ncias agressivas mui to mal controladas, o psicopata tem necessidade de considera r o outro como mau. Sem considerao pela afetividade do parceiro, ele o impele, atravs de estimulaes constantes, a irritar-se e a mostrar-se desagradvel, para ento reprov-lo. Assim, o parceiro torna-se automaticamente confundido com a fantas ia do sujei to. Para designar esse gnero de pa-cientes, falou -se algumas vezes em "negao do narcisismo do outro" (J _ Be rgeret), na medida em que seu egocen tris-mo de tal ordem que a prp ria sensibilidade do outro, ou sua susceptibilidade, devem ser negadas. Essa categoria de pacientes no suporta nenhum tipo de postura anal itica e desaparece aps a primeira ou a segunda entrevista.

    Quanto limitao temporal, ela se afigura particular-mente contra-indicada em duas situaes: nas estru turas perversas, sobre as quais se afirma que so praticamente inacess ve is ao trata mento psicanaltico, mas que, d~ ma neira mais especifica, reagem atravs da negao a qual quer limitao temporal; essa limitao t .. mbm contra-indica-da nas "neuroses narcsicas'' (no sentido de Kernbergl. Com efeito, este lt imo gru po de pacientes, aterrori zados por sua profu nda necessidade regressiva, defende-se lutando ativamente contra a re lao afetiva. Eles utilizam a limita-o temporal para just ificar seu medo de se apegarem. Nes-se sentido, qualquer limitao temporal favorece esses mo-vimentos defensivos.

    Em contrapartida, a disposio divpoltrona e sobre-tudo a ausencia de limitao temporal podem ser muito nocivas para as personalidades que no lutam contra suas necessidades regressivas, em particular as personalid

    2. Contra-Indicaes Ligadas ao Carter Psicanalitico do Tratamento Proposto

    Como acabamos de ver, a maioria das contra-indicaes pa ra a psicanlise ortodoxa const itui tambm as contra-ind i

  • indicaes e conrra-inicas 95

    caes para as psicoterapias de inspirao psicanal it ica, se-gundo nosso ponto de vista .

    Todavia, existem algumas contra-ind icaes ma is es-pec ficas das psicoterapias analt icas breves. Para compre-ender isso, preciso retomar o problema da "demand

  • 96 priroteroplar br~vn

    preferirmos diz-lo desse modo, a voltar ao passado, mars do que a seguir adiante 1

    Cabe essencialmente ao terapeuta estar atento sicua-o crtica que levou o pac iente a consultar-se: a que se focal iza o conflito do paciente. Trata-se ento de julgar as possibilidades reais de mudana ou o peso das resistncias que visam a um simples retorno ao equilbrio anterior. De um lado, a orientao analtica, a mudana; de outro, a recuperao, a homeostase. Abordamos aqui o domnio das resistncias. A sua importncia pode ser medida pela reao do paciente aos ''ensaios interpretativos", segundo as proposies at mesmo de O. Malan. Trata-se de inter-pretaes parciais que podem incidir sobre este ou aquele aspecto do con tedo latente das queixas do paciente, sobre as resistncias ou at, simplesmen te, de uma confrontao que vise a mostrar a repetio de certos comportamentos ao longo do temp o. Por exemp lo, mostrar a um paciente que vem consu lta r-se em decorrncia de um conflito conju gal que, desde os primeiros tempos de sua escolarizao, ele entrava freqentemente em conflito com as meninas de sua classe, ao passo que nunca t in ha problemas com os me-ninos, algo que pode ter um efeito muito dinamizador. Assim, desde a primeira entrevista, o terapeuta deve estar na escuta das manifestaes inconscientes do paciente e procurar fo rmular uma hiptese psicodinmica passvel de explicar os motivos inconscientes que o impel iram a con-sultar-se. com base nessa hiptese que ele pode destacar uma ou outra das dificuldades do paciente e lig-la a seus motivos inconscientes. O objetivo disso permitir ao paci-ente captar a natureza do trabalho que lhe ser proposto e examinar sua reao: prazer do ego provocado pela desco-berta de um novo modo de funcionamento, aumento da ansiedade, surgimento de resistncias macias etc .

    Claro est que no pode esperar de todos os pacientes que reajam p osit ivamente s interpretaes, mesmo que sabiamente dosadas. Em numerosos casos, convm prepa-r-los para um tra:;alho anal itico atravs de uma aborda -

    1 Cf. " Au-del du prncipe do p laisir'. m Emlis de p1ychanalyse, Paris. PayOt, 1970.

    -

  • I J

    mJ icacs e contra-indcat-s 97

    gem lenta e prudente.' Essa_ prepa rao pode ser muito fru-tfera. mas talvez ex11a mu1to tempo. Nesse caso, eviden-te que um tratamento analtico de curta durao impos svel.

    As resistncias podem ter d iversas fontes : a presso,do meio scio-fam iliar do paciente, um sistema defensivo ainda rela tivamente bem equilibrado, benefcios secund rios particu larmente acentuados ou, ao contrrio, um esta-do de crise aguda num paciente cujo sistema defensivo tenha desmoronado. Neste lti mo caso, como prope P. Sifneos. uma terapia recuperadora muito mais ind icada. Contudo, as resistncias podem prender-se tambm s di-ficuldades internas do prprio terapeuta. igu almente im-portante levar isso em conta pois, de qualquer modo, in-til querer forar o dest ino: tanto o terapeuta quant-:J opa-ciente so freriam com isso.

    Em resumo, no que concerne ao problema das indica-es e contra-indicaes para as psicoterapias breves, re-nunciamos a fornecer critrios precisos que se assentem em bases psicopatolgicas nit idamen te del imitadas, tais como o alcoolismo crnico, a toxicomania, as neuroses mais ou menos bem estru turadas etc. Preferi mos mostrar os elemen-tos din micos passveis de impedir o engajamento em uma psicoterapia ana lt ica breve, esboando em traos genricos a natu reza das relaes do paciente no enquadre q ue lhe proposto. A indicao para qualquer forma de psicoterapia um processo dinmico que implica uma tomada de cons-cincia. partilhada tanto pelo terapeu ta quanto pelo paci-ente.

  • 10

    CONCLUSCES

    Quisemos mostrar que os mtodos psicoterapicos anal t i cos breves so mltip los, mas que, se voltarmos nossa aten -o para esse fenmeno central que a relao teraputica, poderemos definir certas constantes. Assim, do ponto de vista psicanaltico, as regras internas de funcionamento do tratamento desenham uma espcie de fronteira abstra: - que delimita o campo psicanaltico do campo cultural. Es sas mesmas regras valem para a psicoterapia e so elas que conferem psicoterapia seu car ter analtico. Entretanto, a disposio concreta do tratamento {face a face em vez de d iv-pol t rona, temporalidade) mod ifica a dinmica dessa relao. Em conseqencia disso, o trabalho do terapeuta talvez seja mais rduo, no sentido de que a manuteno da fronteira entre o campo psicoterpico analtico e o campo da realidade dif c il de fazer. No obstante, h que evitar que a relao teraputica se transforme numa relao" real". provavelmente pa ra no correr esse risco que diferentes meios tcn icos t m sido utilizados pelos terapeutas: focali zao, aumento da atividade etc. Pretendemos mostrar que uma ateno aguada voltada para a especificidade da transferncia em psicoterapia permi te evitar esses meios ativos e substitu-los exclusivamente pela INTERPRETA O .

    E os resultados? I nmeros trabalhos foram ded icados a essa questo e j os citamos, particularmente em um a obra anterior {Aux conf;ns d~ la psychanalyse). Dentre eles, a maioria parece mostrar que os resultados das psicoterapias breves so pelo menos to bons quanto os das psicoterapias de longa durao . O problema atual o da especifi cidade de suas tcnicas: especificidade da seleo dos pacientes, especificidade d os resultados. Mas essa uma Q' 1esto que ainda permanece em aberto ...

    98

    -

  • J

    BIBLIOGRAFIA

    ( 1 J Alexander, F. e F rench , M., Psychothdrapie ana/ytique, Paris, PUF. 1959.

    [ 2] 8ateson, G., Vcrs une cologie de l'esprir, vo ls. I e 11, Paros, Seul, 1977 c 1980.

    ( 3] Bellak, L. e Smafl, L .. Emergency Psychorherapy and Brief Psychothe py, Coogress atalog Card rof.l 65-19220, Nova York, Grune & Stratton, 1965.

    [ s]

    ( 6]

    [ 7]

    [ 8]

    [ 12 J

    [ 13]

    Benoit, J.-C., Les Doubfes Jiens, Paris . PUF, 1981, col. "Nodules" !Eu. Q[&sileir~: V/nculos duplos (PiJriJdoxos liJmliares dos esquizofrt1-nicos/ , Rio de Jane

  • 100

    I 14 I

    [15)

    [ 16]

    [ 17]

    [ 181

    [191

    [20)

    [21]

    [221

    [231

    [24]

    [25]

    [26]

    [27 1

    [28)

    [29)

    [301 [31 1

    [32]

    psicoteropias breves

    Freud, S., "Au-del du prncipe de plaisir", in Essais de psychanalylltl, Paris, Payot, 1970 [Ed. brasileira: "Alm do frinclpio de prazer", in E.S.B. vol. XVIII, Rio de Janeiro, lmago, 1976 . Freud, S . "L'phm~re", in Revue Franailltl de Psychanalylltl, vol. XLV, n!l3, 1981, pp. 569-577. Freud, S., "La mthode, psychanalytique de Freud" (1904), in La tech-niqutl psychanalytiquB, Paris, PUF, 1967 (Ed. brasileira: "O mtodo psicanaHtico de Freud", in E.S. B. vol. VIl, Rio de Janeiro : lmago, 1972]. Gilliron, E., Merceron. C., Piolino, P. e Rossel. F., "Evaluation des psychothrapies analytiques brves et de longue dure: comparison et devenir", Psychologie Mdica/e, 1980, 12:623-636. Gilliron, E., "La fonction des mythes dans l'quilibre des groupes. Ouelques hypotht!ses", Rt1vut1 Europenne des ScienCBs Sociales, Genebra, 1980.

    Gilliron, E., "Travil psychothrapique et \"avail psychanalytique", Psychothrapitls, n? 2, Genebra, 1981, pp. 93-102. 'Gilliron, E . Aux confins de la psychanalyse (PsychotrapitiS analyti ques breves: acquisitions actuelles), Paris, Payot, 1983. Gilliron. E. e Navarro,. C., "Examens psychologiques de personnalit dans les indiciations la psychothrapie breve", PsychothtJrapies, n!l 3, Genebra, 1982. Gilliron, E .. "Urgences mdicales: Aspects psychologiques (une enqu-te), Praxis", Rt1vue Suisse de Mdecine, no prelo. Greenson, R. R., Technique et pratique de la psychanalyse, Biblioteca de Psicanlise, Paris, PUF, 1977 [Ed. brasileira:A tknicaeapnlticada psicanAiise , 2 vols., Rio de Janeiro, I mago, 1981 I. Gressot, M., "Psychanalyse et psychothrapie", in Le royaume inter mdiaire, Paris, PUF, 1979.

    Grnberger, 8., "De la technique active la confusion des langues", Revue Fnmaise de Psychanalyse, vol. XXXVII, n!l 4, 1974, pp. 522-524. Jones, E., La vie et l'oeuvre de Sigmund Freud (3 vols.), Paris, PUF, 1967 [Ed. brasileira: Vida e obra de Sigmund Freud, 3!1 ed., Rio de Janeiro, Zahar, 1979].

    Laplanche, J. e Pontalis, J.-8., Vocabulaire de psychanalylltl, Paris, PUF (Ed. portuguesa: Vocabulrio da psicanlise, 4.11 ed., Lisboa, Mo-raes Ed., 1977 I. . Leibovich, M.A., "Short-term psychotherapy for the borderline per-sonality disorder", Psychoth. Psychosom., 1981, 35: 257-264. Levvin, K., Brief encounterr, Brief psychotherapy, St. Louis, Warren H. Green Inc., 1970. Malan, 0., La psychothrapie breve, Paris, Payot, 1975. Malan, 0., The frontier of brief psychotherapy, Nova York e Londres, Plenum Medicai 8ook Co., 1976. Mann, J., Time-limited psychotherapy. A Commonwealth Fund Book, Cambridge, Mass., Harvard University Press, 1973.

  • [33)

    [34)

    [35]

    [36)

    bibliografw 101

    Sifneos, P., "Psychothrapie breve et crise motionnelle", Psychologie, Bruxelas, Mardaga, 1977 . Watzlawick, P. , a) Changements, paradoxes et p6ychoth~rapie; b) Une logique de la communication, Paris, Seuil, 1975 e 1972. Widl&her, 0., Freud et /e problema du changement, Biblioteca de Psicanlise, Paris, PUF, 1970. WidiCicher, O., "Gense et changement", Revue Franaise dB Psychan /yse, vol. 4, 1981, pp. 889'976.

  • OUTROS LIVROS DE INTERESSE

    HISTRIA SOCIAL DA LOUCURA Roy Portar

    HISTRIA DO MOVIMENTO PSICANALTICO Jacquy Chemouni

    ARQUEOLOGIA DA PSICANLISE Alfred Lorenzer

    O FREUDISMO Paui-Laurent Assoun

    O MOVIMENTO PSICANALTICO Ernest Gellner

    AUTO-RETRATO DE UMA PSICANALISTA Franoise Dolto

    INCONSCIENTE E DESTINOS SEMINRIO DE PSICANLISE

    DE CRIANAS

    Franoise Dolto

    QUANDO OS PAIS SE SEPARAM Franoise Dolto

    MES DA PSICANLISE HELENE DEUTSCH, KAREN HORNEY,

    ANNA FREUD, MELANIE KLEIN

    Janet Sayers

    (JZE] Jorge Zahar Editor