universidade de sÃo paulo escola de engenharia...

69
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA Danilo Perucchi Estudo da geração de energia heliotérmica por torre solar com armazenamento de calor, e análise comparativa com a matriz elétrica brasileira Lorena 2013

Upload: doanxuyen

Post on 07-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

Danilo Perucchi

Estudo da geração de energia heliotérmica por torre solar com armazenamento de calor, e análise comparativa com a matriz elétrica brasileira

Lorena 2013

Page 2: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

Danilo Perucchi

Estudo da geração de energia heliotérmica por torre solar com armazenamento de calor, e análise comparativa com a matriz elétrica brasileira

Projeto de Monografia apresentado à Escola de Engenharia de Lorena como requisito parcial para a conclusão de Graduação do Curso de Engenharia Química. Áreas de Concentração: Termodinâmica e Engenharia Ambiental Orientador: Prof.ª Drª Janaína Ferreira Batista Leal

Lorena 2013

Page 3: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

A meus pais e irmão, que sempre me incentivaram à busca do conhecimento e me

apoiaram por toda a minha jornada acadêmica.

Page 4: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

iv

AGRADECIMENTOS

À Prof. Drª. Janaína Ferreira Batista Leal, orientadora, que com muita paciência e

compreensão me apoiou por todas as etapas do trabalho, desde o refinamento do tema até

as correções finais.

Aos professores responsáveis pelas matérias TCC I e II, Prof. Dr. Marco Antonio

Pereira e Prof. Dr. Marcos Villela Barcza, não só pela ajuda na escolha do tema desta

monografia, mas também pelo acompanhamento em outras duas experiências acadêmicas

marcantes, o intercâmbio acadêmico na Austrália e o estágio semestral na Petrobras.

Às universidades que me permitiram a experiência do intercâmbio, Universidade de

São Paulo e James Cook University. Foi no semestre acadêmico em Townsville,

Queensland que soube a respeito da tecnologia solar usada como tema nesta monografia.

A todos os docentes e funcionários da Escola de Engenharia de Lorena que me

permitiram os anos de estudo e experiências acadêmicas no curso de Engenharia Química,

sem os quais este trabalho não poderia ser elaborado.

A grandes amigos e parceiros de república, Paulo "Patti" e Herbert "Yoshi", que

tornaram os anos de moradia em Lorena em uma miríade de boas recordações.

Page 5: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

v

"No reino das idéias tudo depende de entusiasmo...

...no mundo real todo o resto é perseverança."

Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)

Page 6: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

vi

Resumo

Perucchi, D. Estudo da geração de energia heliotérmica por torre solar com

armazenamento de calor, e análise comparativa com a matriz elétrica brasileira.

2013. 69 f. Monografia de Conclusão de Curso - Escola de Engenharia de Lorena,

Universidade de São Paulo, São Paulo. 2013.

A busca por fontes de energia alternativas e renováveis é de interesse crescente no

mundo todo há várias décadas. Legislações governamentais e institutos de pesquisa são

dedicados cada vez mais a apoiar o desenvolvimento tecnológico de tais fontes de energia,

devido a fatores como conscientização ambiental, a busca pelo desenvolvimento

sustentável e a estabilidade de fornecimento elétrico assegurada pela maior diversidade da

matriz energética. Uma dessas fontes se caracteriza pela geração de energia elétrica à partir

do calor fornecido pela radiação solar e é denominada de energia heliotérmica. A

tecnologia envolvida é conhecida como concentração solar térmica ou CSP (Concentrating

Solar Power), a qual envolve quatro técnicas principais de captação da energia solar, cada

uma com suas vantagens e dificuldades. Neste trabalho de monografia será dado o enfoque

por uma análise descritiva a uma dessas técnicas, conhecida por alguns nomes, a saber:

torre solar, torre central, receptor central e campo de heliostatos. Serão investigadas a

tecnologia e a viabilidade econômica desta técnica desde suas primeiras aplicações

comerciais no final da década de 70, através do estudo de seus princípios básicos: espelhos

concentradores, receptor, transporte-armazenamento de calor e conversão elétrica. Por fim,

será feita uma análise comparativa com a matriz elétrica brasileira e uma estimativa de

custos para aplicação da tecnologia no Brasil, levando em conta dados das usinas

heliotérmicas atuais no mundo e as recentes iniciativas de interesse na tecnologia CSP por

parte de instituições brasileiras.

Palavras-chave: Energia heliotérmica. Torre solar. Concentração solar térmica.

Page 7: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

vii

Abstract

Perucchi, D. Study of heliothermic power generation from solar tower with heat

storage, and comparative analysis with the Brazilian electric matrix. 2013. 69 pp.

Bachelor Thesis - Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, São Paulo.

2013.

The search for alternative, renewable energy sources is of worldwide interest for

decades. Government legislation and research institutes are increasingly more dedicated to

support the technological development of such energy sources, due to factors such as

environmental awareness, the search for sustainable development and stability of electrical

supply ensured by the greater diversity of the power matrix. One of these sources is

characterized by the generation of electricity from the heat supplied by solar radiation and

is called heliothermic energy. The technology involved is known as CSP (Concentrating

Solar Power), which is associated with four main techniques for collecting solar energy,

each one with its own advantages and difficulties. In this thesis, focus will be given to a

descriptive analysis of one of these techniques, known by some names, viz.: solar tower,

central tower, central receiver and heliostat field. The technology and the economic

viability of this technique will be investigated from its first commercial applications in the

late 70's, through the study of its basic principles: concentrating mirrors, receiver, heat

storage and transport, and electrical conversion. Finally, a comparative analysis will be

carried out with the Brazilian electric matrix, and also a cost estimate for implementing the

technology in Brazil, taking into consideration current data from operational solar thermal

power stations in the world and the recent initiatives by Brazilian institutions taking

interest in the CSP technology.

Keywords: Heliothermic energy. Solar tower. Concentrated solar thermal.

Page 8: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

viii

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Modelos e características dos vários coletores de energia solar......................... 6

Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas CST em operação...... 7

Tabela 3 - Fluidos de transferência disponíveis para aplicações em CST......................... 11

Tabela 4 - Empreendimentos de geração de energia elétrica no país em 2008 ................. 14

Tabela 5 - Composição de custos diretos e indiretos da planta solar no SAM.................. 32

Tabela 6 - Comparação de resultados entre projetos simulados com SAM ...................... 34

Tabela 7 - Decisões de projeto que influenciaram o fator de capacidade ......................... 35

Tabela 8 - Resultados selecionados da simulação no SAM da planta empírica de calhas

parabólicas com dados do projeto de Petrolina. Adaptado pelo autor ............................... 41

Page 9: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

ix

Lista de Figuras

Figura 1 - Plantas solares heliotérmicas PS10 (10 MW, 148 acres, 2007, ao fundo) e PS20

(20 MW, 210 acres, 2009) em Sevilha, Espanha. ............................................................... 2

Figura 2 - Diagrama esquemático de uma planta heliotérmica com uso de torre solar, sais

fundidos e armazenamento de calor ................................................................................... 3

Figura 3 - Processos de aproveitamento e conversão da energia solar. .............................. 5

Figura 4 - Diagrama esquemático da planta solar PS-10 com geração direta de vapor..... 10

Figura 5 - Diagrama esquemático da planta solar Gemasolar (Espanha).......................... 11

Figura 6 - Temperatura (T) vs. Entropia (s) do ciclo reversível de Rankine (esquerda) e

comparação com o ciclo de Carnot (direita).. .................................................................. 12

Figura 7 - Matriz elétrica brasileira, ano de 2010. ...........................................................14

Figura 8 - Áreas potenciais para desenvolvimento de projetos heliotérmicos CSP........... 15

Figura 9 - Esquemático do modelo base utilizado pelo simulador SAM. Legendas:

1) Superaquecedor, 2) Evaporador, 3) Pré-aquecedor ...................................................... 18

Figura 10 - Resultado da seção transversal do campo solar, calculada pela ferramenta

Optimization Wizard integrada ao SAM. ......................................................................... 22

Figura 11 - Ciclos termodinâmicos Rankine com eficiência de conversão superiores ao do

ciclo Rankine tradicional. (a) Vapor Superaquecido, (b) Reaquecimento e Regeneração de

Vapor, (c) Vapor Supercrítico.......................................................................................... 25

Figura 12 - Ciclos termodinâmicos de gases utilizados em pesquisas CSP. ..................... 26

Figura 13 - Tecnologia Thermocline. (a) Corte longitudinal do tanque de leito fixo; (b)

Distribuição térmica em escala após 30 h......................................................................... 28

Figura 14 - Distribuição de produção de energia (kWh) por mês..................................... 37

Figura 15 - Fluxo energético anual de cada etapa da planta heliotérmica......................... 38

Figura 16 - Levelized Costs of Energy reais empilhados totalizando 24,04 US ¢/kWh..... 39

Figura 17 - Levelized Costs of Energy reais estratificados em setores.............................. 39

Figura 18 - Vista aérea da planta heliotérmica de torre solar Gemasolar (1,7732 km²). ... 40

Page 10: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

x

Sumário

Resumo ........................................................................................................................... vi

Abstract .........................................................................................................................vii

Lista de Tabelas............................................................................................................viii

Lista de Figuras.............................................................................................................. ix

1. Introdução ................................................................................................................... 1

1.1. Justificativa ........................................................................................................... 2

1.2. Objetivos ............................................................................................................... 3

2. Revisão Bibliográfica................................................................................................... 4

2.1. Energia Solar ........................................................................................................ 4

2.2. Concentração Solar Térmica................................................................................ 5

2.2.1. Tecnologia de Torre Solar ............................................................................. 8

2.3. Matriz Elétrica Brasileira................................................................................... 13

3. Metodologia ............................................................................................................... 16

4. Desenvolvimento........................................................................................................ 17

4.1. Uso do software simulador System Advisor Model.............................................. 17

4.1.1. Localização e dados meteorológicos ............................................................ 19

4.1.2. Campo de heliostatos ................................................................................... 20

4.1.3. Torre e recebedor......................................................................................... 23

4.1.4. Ciclo de Potência.......................................................................................... 24

4.1.5. Armazenamento Térmico ............................................................................ 27

4.1.6. Perdas inerentes e desgaste.......................................................................... 30

4.1.7. Aspectos econômicos .................................................................................... 31

4.2. Resultados das Simulações ................................................................................. 33

4.2.1. Consideração comparativa sobre Projeto anunciado de Petrolina ............ 40

5. Conclusão................................................................................................................... 42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 43

Anexo A - Escolha da configuração de projeto no SAM. ......................................... 49

Anexo B - Algumas das variáveis meteorológicas de Petrolina, PE, explicitadas no

SAM. .......................................................................................................................... 50

Anexo C - Etapa "Campo de Heliostatos" no SAM. Destaque para o Optimization

Wizard (direita) e o diagrama de distribuição de heliostatos no campo solar. ....... 51

Page 11: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

xi

Anexo D - Etapa "Torre e Recebedor" no SAM. Destaque para as dimensões

otimizadas e o HTF selecionado. ............................................................................... 52

Anexo E - Etapa "Ciclo de Potência" no SAM. Planta projetada para geração de 20

MWe........................................................................................................................... 53

Anexo F - Etapa "Armazenamento Térmico" no SAM. TES Duplo Tanque e

Uniformizado. ............................................................................................................ 54

Anexo G - Etapas agregadas de perdas e desgastes, no SAM. ................................. 55

Anexo H - Etapas agregadas de Aspectos Econômicos no SAM. Destaque aos

valores nas linhas à esquerda. ................................................................................... 56

Anexo I - Fluxograma de Engenharia: Projeto NREL t. 8, I/II. Fonte: Turchi e

Heath (2013). Adaptado pelo autor........................................................................... 57

Anexo J - Fluxograma de Engenharia: Projeto NREL t. 8, II/II. Fonte: Turchi e

Heath (2013). Adaptado pelo autor........................................................................... 58

Page 12: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

1

1. Introdução

O uso de energia solar para os mais diversos fins permeia a história da humanidade,

e muito antes de começarmos a utilizá-la diretamente, os humanos já entendiam que o Sol

era responsável por muitos dos fenômenos naturais e fonte de vida (KALOGIROU, 2009).

Na antiguidade, é creditado a Arquimedes o uso de espelhos ou escudos refletores para

concentrar a radiação solar em foco, visando queimar a frota de embarcações inimigas. No

século XVIII Lavoisier desenvolveu a fornalha solar capaz de atingir 1750 °C, usada para

fundição de metais (LODI, 2011 apud MALAGUETA, 2012). Máquinas a vapor de baixa

pressão (abastecidas pela energia solar térmica capturada) surgiram na França do século

XIX, com destaque a uma impressora à pressão de vapor que usando energia solar

demonstrou capacidade de impressão de 500 cópias por hora (RAGHEB, 2011 apud LODI,

2011). Os progressos tecnológicos continuaram mais frequentes, e apenas há cerca de 40

anos que tais técnicas foram investigadas para o início da exploração da energia solar com

a finalidade de geração de energia elétrica (KALOGIROU, 2009).

Segundo Ragheb (2011), a crise do petróleo da década de 70 despertou interesse no

desenvolvimento de fontes alternativas de geração de energia, e apenas então que a

tecnologia de coletores térmicos foi utilizada para produção comercial de energia elétrica,

com a primeira planta instalada no Novo México em 1979. Também na década de 70 na

Espanha surgiu a Plataforma Solar de Almería (PSA) por meio de incentivos a pesquisa e

desenvolvimento em concentradores solares (MINISTERIO DE CIENCIA E

INNOVACIÓN, 2011). As primeiras plantas comerciais com uso de concentradores

solares parabólicos foram as SEGS (Solar Electric Generating System), numeradas de I

(1985) a IX (1991), apresentaram capacidade de geração elétrica entre 14, 30 e 80 MWe,

totalizando 354 MWe (LODI, 2011).

Com a queda do preço do petróleo após 1986, o desenvolvimento tecnológico de

usinas heliotérmicas sofreu uma diminuição temporária, mas apenas até o final da década

de 90, quando foram criados incentivos e leis por parte dos governos americano e espanhol

em beneficio de plantas de energias renováveis, como tarifas diferenciadas e descontos,

favorecendo o retorno de pesquisas e desenvolvimento de plantas heliotérmicas

(MALAGUETA, 2012). O CIEMAT (Centro de Investigaciones Energéticas

Medioambientales y Tecnológicas), órgão responsável pelo PSA na Espanha, continua com

parcerias em tecnologias de plantas solares até a atualidade, com a torre solar PS10,

Page 13: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

2

mostrada na Figura 1, sendo a primeira a operar comercialmente no mundo com

capacidade de geração de 10 MWe (MINISTERIO DE CIENCIA E INNOVACIÓN, 2011).

Figura 1 - Plantas solares heliotérmicas PS10 (10 MW, 148 acres, 2007, ao fundo) e PS20

(20 MW, 210 acres, 2009) em Sevilha, Espanha. Fonte: ABENGOA, (2011). 1.1. Justificativa

As atividades envolvendo uso das tecnologias de concentração solar térmica têm

crescido continuamente nos últimos anos, o que confirma a validade desta forma de

geração de energia. Com os avanços de projetos de pesquisas e programas de apoios de

governos em 20 países (maiores contribuições dos EUA, Espanha, Austrália, Índia, China e

Marrocos), a capacidade de geração elétrica mundial por plantas heliotérmicas subiu de

430 MW para 14,5 GW agregada por projetos em vários estágios de desenvolvimento,

entre os anos de 2008 e 2010 (RICHTER et. al, 2009, EERE, 2010 e LODI, 2011).

No Brasil, o MME (Ministério de Minas e Energia) demonstrou interesse nas

tecnologias de geração heliotérmica em 1995 ao entrar em contato com o IEA/SolarPACES

(International Energy Agency/Solar Power and Chemical Energy Systems), e no ano de 1997

foi realizada uma missão de pesquisa preliminar denominada START (Solar Thermal Analysis,

Review and Training) (IEA/SolarPACES, 1998). Em 2012 foi feita uma cooperação entre

Finep (Financiadora de Estudos e Projetos Técnicos), Sectec (Secretaria de Ciência e

Page 14: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

3

Tecnologia), Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica), UFPE e Petrobras, para

financiamento e pesquisa em projeto de análise crítica de geração de energia elétrica por uma

planta heliotérmica de calhas parabólicas no Brasil, com um investimento de R$ 27,5 milhões

em uma planta piloto de concentradores solares em Petrolina, no Vale do São Francisco

(CTGAS, 2012).

Os princípios da conversão de energia nas tecnologias CSP são relativamente

simples, pois a termodinâmica envolvida se assemelha à geração elétrica de qualquer

termelétrica, diferenciando-se na fonte de captação energética e nos meios de

armazenamento de calor. Um desenho esquemático do funcionamento da uma planta de

torre solar é mostrado na Figura 2.

Figura 2 - Diagrama esquemático de uma planta heliotérmica com uso de torre solar, sais fundidos e armazenamento de calor. (Fonte: http://www.earthpm.com/tag/solar-tower/)

1.2. Objetivos

O objetivo geral do trabalho é descrever a ciência envolvida na tecnologia CSP de

geração de energia heliotérmica por torre solar, uma fonte alternativa de energia renovável

e ambientalmente compatível, visando ampliar o conhecimento da tecnologia na

comunidade acadêmica nacional com uma abordagem majoritariamente qualitativa.

Os objetivos específicos são:

Page 15: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

4

• Realizar uma análise descritiva das tecnologias CST, com enfoque na torre

solar com sistema complementar de armazenamento de calor;

• Desenvolver um projeto de planta heliotérmica com o uso de um software

simulador;

• Comparar projetos encontrados na literatura com o simulado neste trabalho,

comentando e avaliando os vários aspectos técnicos e econômicos dos

projetos e a possibilidade de aplicação desta tecnologia no país.

2. Revisão Bibliográfica

2.1. Energia Solar

A radiação solar pode ser definida, em especial propósito de estudo da radiação

térmica, como energia eletromagnética de onda curta composta em média por 2 % de

ultravioleta, 41 % de luz visível e 57 % de infravermelho (FROTA & SCHIFFER, 2003

apud BASSO, 2008).

A energia irradiada pelo sol que atinge a atmosfera terrestre é considerada estável e

constante, e denominada constante solar relativa, com seu valor médio da distribuição na

atmosfera do planeta sendo 1.367 W/m². A irradiação solar 'E' é definida pela capacidade

de transmitir uma potência 'φ' de 1 kW a uma superfície de 1 m². Uma irradiação em

determinado ponto ocorrente por um período de tempo resulta em uma energia solar

mensurável na unidade de kWh (GREENPRO, 2004).

Desta irradiação, entretanto, boa parte é perdida por diversos fatores. Considera-se

uma perda de 30 % de irradiação que é refletida de volta ao espaço, mais 20 % é absorvida

ou refletida por nuvens e moléculas do ar. Consideradas tais perdas há a definição da

radiação direta incidente, ou DNI (Direct Normal Irradiance), que varia dependendo da

latitude, ventos e intensidade de nuvens. O consumo de energia no mundo em 2010 foi

próximo de 500 EJ, isto é, 5 x 1020 J, e a somatória de toda a energia solar anual irradiada,

considerando todas as perdas (inclusive os 75 % da superfície coberta por oceanos, onde a

energia não teria como ser aproveitada), é próxima de 7,6 x 10²³ J. Sendo assim, a

transformação em energia elétrica de menos de 0,1 % de toda a irradiação solar anual

poderia suprir a demanda energética mundial (KALOGIROU, 2009 e CHEN, 2011).

Page 16: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

5

A energia solar é utilizada para várias finalidades, como aquecimento direto,

secagem, refrigeração, estufas, dessalinização e geração de energia (BASSO, 2008). O

princípio de aproveitamento da energia solar pode ser de forma direta (energia térmica) ou

indireta (células fotovoltaicas), e ainda se seguir a forma direta, pode-se subdividir em

forma passiva (finalidade direta de aquecimento e arrefecimento), e em forma ativa, na

qual há a transferência da radiação solar feita por coletores solares para um fluido de

aquecimento (PEREIRA, 2010). Coletores não-concentradores interceptam e absorvem

radiação na mesma área, operando a baixas temperaturas (30 a 200 °C), enquanto que

coletores concentradores possuem superfícies refletoras que focam toda a radiação

recebida em uma área muito menor, alcançando altas temperaturas (60 a 2000 °C)

(KALOGIROU, 2009). A Figura 3 mostra tais ramificações, evidenciando em específico

qual a subdivisão dos estudos de energia solar ao qual este trabalho se dedica.

Figura 3 - Processos de aproveitamento e conversão da energia solar.

Fonte: Pereira (2010). Adaptado pelo autor.

2.2. Concentração Solar Térmica

Segundo IT Power (2012), o acrônimo CSP (Concentrating Solar Power ou ainda

Concentrated Solar Power) refere-se às tecnologias que usam da concentração da radiação

térmica solar a um receptor linear ou pontual para geração de energia elétrica. De acordo

com tal classificação, existem na verdade cinco tecnologias CSP. A separação posterior é

feita entre um sistema que usa geração fotovoltaica, CPV (Concentrating Photovoltaic),

Energia Solar

Direta (Térmica) Indireta (Elétrica)

Fotovoltaica Passiva Ativa

Coletores não-Concentradores

Coletores Concentradores

Page 17: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

6

denominado especificamente como Lentes Fresnel, e os outros quatro sistemas de geração

heliotérmica em que fluidos trocam calor até que algum fluido gera eletricidade seguindo

princípios termodinâmicos turbina-gerador, tradicionalmente em ciclo Rankine de vapor

d'água superaquecido. Estes quatro sistemas, definidos como CST (Concentrated Solar

Thermal ou ainda Concentrating Solar Thermal Power), são: Refletor Linear Fresnel

(LFR); Calha Parabólica ou Cilindro-Parabólico; Tecnologia Torre Solar ou Receptor

Central ou Campo de Heliostatos e Disco Parabólico ou Disco Stirling.

A Tabela 1 expõe as tecnologias de coletores solares.

Tabela 1 - Modelos e características dos vários coletores de energia solar Mecanismo Motor

do Coletor Coletor Receptor Taxa de Concentração*

Faixa de Temperatura (°C)

Solar Plano Plano 1 30 a 80

Tubular à Vácuo Plano 1 50 a 200

Est

aci

oná

rio

1 a 5 60 a 240 Parabólico

Composto Tubular

5 a 15 60 a 300

Refletor Linear

Fresnel Tubular 10 a 40 60 a 250

Calha Cilíndrica Tubular 15 a 50 60 a 300

Ra

stre

am

ent

o

em

1 e

ixo

Calha Parabólica Tubular 10 a 85 60 a 400

Disco Parabólico Pontual 600 a 2000 100 a 1500

Ra

stre

am

ent

o

em

2 e

ixos

Campo de

Heliostatos

Pontual

(Torre Solar) 300 a 1500 150 a 2000

Fonte: Kalogirou (2009). Adaptado pelo autor.

Ainda outros três sistemas são mencionados, mas principalmente por serem

constituídos de coletores estáticos tornam-se insatisfatórios para sistemas de geração de

energia elétrica: Coletor Solar Plano; Tubular a Vácuo e Coletor Parabólico Composto

(CPC). Coletores solares concentradores são usados em plantas heliotérmicas pois a

*A taxa de concentração é a razão da área de abertura do plano perpendicular ao raio incidente dos coletores sobre a área de absorção do receptor. A radiação solar incide em uma área grande e é refletida em uma área muito menor (KALOGIROU, 2009).

Page 18: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

7

concentração da radiação térmica refletida deve ser alta, permitindo condições

termodinâmicas de vapor d'água (temperatura, entropia, pressão) suficientes para que o

sistema turbina-gerador produza energia elétrica (PEREIRA, 2010).

O mecanismo motor do coletor também influencia consideravelmente na eficiência

térmica do sistema, pois tais coletores seguem o trajeto do Sol visando a maior incidência

de irradiação solar durante todo o dia. Sistemas com rastreamento em um eixo movem-se

leste-oeste em angulações apropriadas para que os coletores concentrem a radiação em

uma linha focal, em que um sistema de receptor tubular receberá o calor. Já sistemas com

rastreamento em dois eixos ajustam-se constantemente para coletar maior irradiação e

retorná-la a um ponto, usando sistemas de receptor pontual (Stirling e Torre Solar) com

muito maior eficiência de concentração térmica (LODI, 2011).

Outros fatores influenciam na variedade de resultados obtidos, como por exemplo a

escolha do fluido de transferência, podendo ser água, óleo mineral, ar ou sais fundidos,

cada um com diferentes condutividades, estabilidades térmicas e técnicas de

armazenamento de calor diferenciadas. Também há a influência do ciclo de arrefecimento

do vapor, se é úmido ou seco, definindo gastos de água e eficiência solar-elétrica. Por fim,

a disposição das tecnologias de planta para planta pode diferenciar dos resultados

associados a cada técnica (PHILIBERT et. al, 2010)

As tecnologias estão em constante avanço, mas com uma coleta de dados é possível

comparar resultados práticos recentes (Tabela 2) além dos conceitos técnicos supracitados

(Tabela 1).

Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas CST em operação

Parâmetro Calha Parabólica Refletor Fresnel Torre Solar Disco Parabólico

Capacidade (MW)

10 a 200 10 a 200 10 a 150 0,01 a 0,40

Taxa de Concentração

70 a 80 25 a 100 300 a 1000 1000 a 3000

Eficiência de pico solar (%)

21 20 20 29

Eficiência solar-elétrica (%)

10 a 15 9 a 11 15 a 30 20 a 30

Área Ocupada grande médio médio pequeno

Fonte: Kalogirou (2009) e Philibert et. al (2010) apud Lodi (2011). Adaptado pelo autor.

Page 19: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

8

As variações de cada parâmetro existem pois os dados foram obtidos de plantas

instaladas em várias escalas e com usos de diversas tecnologias e recursos. Capacidade se

refere ao potencial de geração elétrica, e no caso de Disco Parabólico é tão reduzido pois é

considerada a capacidade de geração de um único sistema (parabólica de espelhos e motor

Stirling). Capacidade e taxa de concentração podem depender, no caso de torre solar,

principalmente da quantidade de heliostatos instalados e da DNI do local da planta.

A eficiência de pico solar é a porcentagem de energia solar absorvida para os

fluidos de transferência durante período de máxima DNI, e a eficiência solar-elétrica é

definida como a geração de energia elétrica sobre a irradiação solar total refletida. A área

ocupada é comparada entre as tecnologias CST em grande, médio e pequeno, pois

comparações numéricas diretas entre plantas com projetos e capacidade de geração

diferentes não foram consideradas realistas, entretanto se forem atribuídos valores

numéricos, seriam em área de reflexão dos espelhos dividida pela capacidade de geração

de cada planta heliotérmica.

Essencialmente os ciclos termodinâmicos envolvidos têm as mesmas eficiências

que uma planta termelétrica a vapor tradicional, entretanto a eficiência solar-elétrica é

reduzida pois há perdas inerentes às transformações intermediárias de energia solar para

energia térmica no receptor e no fluido de transferência, para depois a energia térmica ser

transformada em energia elétrica através dos ciclos de energia turbina-gerador

(KALOGIROU, 2009).

A área ocupada pode ser vista em escala com as plantas existentes: as SEGS, que

utilizam calhas parabólicas, 6,5 km² para 354 MW de geração nominal, é considerada área

grande, enquanto que a planta Gemasolar, tem área de campo de heliostatos de 1,85km²

para 19,9 MW de geração nominal (GEMASOLAR, 2011), é considerada área média.

2.2.1. Tecnologia de Torre Solar

Designou-se vários nomes a essa técnica de concentração solar térmica em

específico devido às suas peculiaridades.

Campo de Heliostatos, por ser a única que utiliza de um conjunto de centenas de

heliostatos, cada um com quatro espelhos refletores planos ou levemente côncavos de 50 a

150 m² cada, espaçados entre si em um grande campo que circunda a torre receptora. Tais

espelhos possuem um sistema de rastreamento de dois eixos que através do movimento

independente, controlado por um programa computacional, buscam constantemente a

Page 20: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

9

maior irradiação solar e o foco dos raios refletidos precisamente direcionado ao receptor.

Tamanha precisão resulta em custos em tecnologias elevados, mas também, como

mostrado nas Tabelas 1 e 2, uma capacidade de concentração de 10 a 200 vezes maior que

as tecnologias predecessoras, atingindo temperaturas de 800 °C a 1000 °C (KALOGIROU,

2009, PHILIBERT et. al, 2010, PEREIRA, 2010, e RICHTER et. al, 2009).

Torre de concentração ou receptor central ou torre solar são denominações mais

conhecidas, notavelmente pois a uma primeira vista é o que mais se destaca na planta

heliotérmica, e também pelo seu principio único de ser composta por uma única central

receptora para centenas de coletores, enquanto que suas tecnologias irmãs usam vários

receptores para cada conjunto de concentradores (KALOGIROU, 2009, PHILIBERT et. al,

2010, e LODI, 2011).

O receptor é composto por material adequado e ajustado à eficiente absorção da

radiação térmica, convertendo energia solar radiativa em térmica. O sistema suporta e

transfere as altas temperaturas para um fluido de transferência térmica, podendo este ser ar,

vapor d'água ou mistura de sais fundidos (LODI, 2011, RICHTER, 2009 e KALOGIROU,

2009). Segundo Ambrosini et. al (2011), é essencial que o revestimento do receptor seja

feito com material que tenha alta absorbância solar seletiva (absorve mais que 95% do

espectro solar), baixa emitância térmica (idealmente menos de 30% de emissão do calor

recebido em ondas infra-vermelho), resistência à corrosão do ar e custo reduzido. Para o

caso específico de plantas do tipo torre solar, o material tem que resistir a temperaturas

superiores a 600 °C sem grande aumento da emitância térmica. A tecnologia atual mais

utilizada (Pyromark High Temperature Paint) possui absorbância de 0,95 e emitância de

0,8, mas outros materiais estão em etapas de teste por laboratórios que estudam a

tecnologia CSP com uso de receptores centrais ou torres solares (AMBROSINI, 2011).

O fluido pode ser diretamente enviado a turbinas a vapor conectadas a geradores

elétricos, ou indiretamente passando por tanques armazenadores de calor e quando

necessário são bombeados a trocadores de calor com o vapor d'água que irá alimentar o

ciclo Rankine de vapor (RICHTER, 2009 apud LODI, 2011, CHEN, 2011 e

KALOGIROU, 2009).

O modelo de torre solar constitui-se das seguintes operações: a radiação solar

incide sobre centenas de espelhos, denominados heliostatos e juntos formam um campo

solar. Os heliostatos são capazes de mover-se acompanhando o movimento do sol, sempre

refletindo tal radiação em um ponto especifico, no topo da torre solar. O receptor presente

no topo da torre suporta as altas temperaturas da radiação solar concentrada e transmite o

Page 21: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

10

calor para um fluido de trabalho, o qual pode ser uma mistura de sais fundidos, óleo

mineral, vapor d'água ou ar. O fluido aquecido é enviado para tanques de armazenamento

de calor e à medida que há necessidade de geração de eletricidade, o fluido é enviado a

trocadores de calor com sistemas de vapor d'água. O vapor superaquecido gira turbinas,

gerando energia mecânica. Geradores associados às turbinas enfim transformam a energia

recebida em eletricidade.

Duas plantas em atividade na Espanha demonstram a maleabilidade na escolha do

fluido de transferência. A planta solar "PS10" (Figura 4) tem capacidade de geração de 11

MW e utiliza vapor como fluido de troca térmica. Também possui sistema de

armazenamento de calor, sendo o calor mantido em leito fixo dentro do tanque

(ABENGOA, 2011). Outra planta, "Gemasolar" (Figura 5) tem capacidade de geração de

19,9 MW e utiliza sais fundidos como fluido de transferência, e devido às propriedades

físicas da mistura de sais, o próprio fluido é o meio de armazenamento de calor, podendo

armazenar por 15 horas para uso durante a noite ou períodos nublados (PSA, 2011 apud

LODI, 2011).

Figura 4 - Diagrama esquemático da planta solar PS-10 com geração direta de vapor.

Fonte: ABENGOA (2012). Adaptado pelo autor.

Page 22: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

11

Figura 5 - Diagrama esquemático da planta solar Gemasolar (Espanha).

Fonte: http://www.psa.es (2011), adaptado por LODI (2011).

Segundo Raade (2011), a escolha do fluido de transferência influencia na eficiência

global do ciclo termodinâmico para geração de eletricidade, e as principais características

desejadas são: alta estabilidade térmica; baixa pressão de vapor na faixa de temperatura

utilizada; alta capacidade térmica (para que o armazenamento de calor seja viável); ponto

de fusão mais baixo possível (para redução de custos na prevenção da solidificação nas

tubulações); alta densidade; baixa viscosidade; compatibilidade química com aços e custos

compatíveis com o projeto. O armazenamento de calor pode ocorrer de forma direta, no

fluido de transferência, ou de forma indireta, na qual o fluido troca calor com os tanques de

acumulação e tais tanques são paralelamente conectados ao sistema de geração de vapor

(EPE, 2012). A Tabela 3 demonstra as principais características de fluidos apropriados

para uso de forma direta em plantas de CSP.

Tabela 3 - Fluidos de transferência disponíveis para aplicações em CST

Nome Componentes Ponto de Fusão (°C)

Estabilidade Térmica (°C)

VP-1 / Dowtherm A Óxido de Difenila e Bifenil 12 400 Hitec XL Nitratos de sódio, cálcio e potássio 120 500

Hitec Nitratos de sódio e potássio, nitrito

de sódio 142 538

Hitec Solar Salt Nitratos de sódio e potássio 240 593 Fonte: Raade (2011). Adaptado pelo autor.

Page 23: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

12

As misturas de sais são especialmente interessantes para plantas do tipo torre solar

pois a estabilidade térmica requerida pelas condições operacionais está acima de 500 °C, e

tais misturas utilizam de princípios de mistura eutética para localizar a composição de

menor ponto de fusão e maior estabilidade térmica. Misturas eutéticas podem ser binárias,

ternárias ou quaternárias, e influenciam nas forças intermoleculares reduzindo a variação

de entalpia da mistura ou aumentam a desordem estrutural durante a fusão aumentando a

variação de entropia, ambos efeitos reduzindo a temperatura de fusão da mistura (RAADE,

2011).

Outro fator importante das misturas de sais fundidos é a alta performance em

armazenamento de calor devido à alta capacidade térmica. A mistura mais usual em torre

solar é constituída por 60 % nitrato de sódio e 40 % nitrato de potássio, podendo operar

idealmente (eficiência de armazenamento em 99 %) próximo de 585 °C, com inicio de

decomposição a nitritos, os quais aceleram corrosão das tubulações, acima de 600 °C

(GILL et. al, 2011).

Temperaturas elevadas são sempre desejadas pois há aumento de eficiência do ciclo

energético quanto maior for a temperatura. Segundo Patel (2006), a máxima eficiência

termodinâmica teórica envolvida pode ser exposta pela eficiência do ciclo de Carnot,

apesar de que na prática o ciclo mais condizente com o sistema de geração de vapor de

princípio termoelétrico é o ciclo de Rankine. A eficiência do ciclo de Carnot é

simplesmente a diferença entre as temperaturas mínima e máxima do processo, dividida

pela temperatura máxima do processo.

Segundo Balmer (2011), o ciclo de Rankine é a representação termodinâmica de

um ciclo de motor a vapor sob pressão. Sem superaquecimento o ciclo ideal de Rankine é

próximo do ciclo reversível de Carnot, como visto na Figura 6.

Figura 6 - Temperatura (T) vs. Entropia (s) do ciclo reversível de Rankine (esquerda) e

comparação com o ciclo de Carnot (direita). Fonte: Balmer (2011). Adaptado pelo autor.

Page 24: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

13

Na Figura 6 são mostradas as etapas do ciclo termodinâmico, representados como

pontos numerados no plano cartesiano. Tais etapas também são processos diferentes na

usina geradora. A etapa 1-2s representa a passagem do vapor pela turbina, que é expandido

e perde calor, enquanto o movimento gerado pela turbina (trabalho produzido) é

transmitido ao pistão que é conectado ao sistema gerador de energia elétrica. Na etapa 2-3

o vapor perde o restante de calor latente, tornando-se líquido saturado em condensadores e

é pressurizado para a entrada na caldeira. As etapas 4s-4-1 englobam a troca de calor e

pressurização do fluido de trabalho no sistema de geração de vapor (BALMER, 2011)

Devido à dificuldade do ciclo Rankine em se bombear vapor de volta ao boiler (no

caso da planta geratriz tipo torre solar, a caldeira ou boiler seriam os trocadores de calor

com o fluido de transferência, durante a geração de vapor), o vapor depois de passar pela

turbina retorna ao estado de líquido saturado após trocar calor em um condensador externo

por arrefecimento úmido (consumo de água de refrigeração) ou por arrefecimento seco,

com uso de ventilação a ar para o resfriamento. O bombeamento do líquido de volta para o

sistema de troca térmica ocorre pressurizado, mantendo a temperatura de entrada no

gerador de vapor muito próxima da temperatura de saída do condensador (BALMER,

2011). A eficiência térmica do processo é a diferença entre o trabalho gerado e o trabalho

exigido no bombeamento, divididos pelo calor fornecido nos trocadores.

A turbina a vapor transforma a energia térmica do vapor pressurizado - também

expandindo-o e reduzindo a pressão do sistema - gerando energia mecânica pela impulsão

do vapor na turbina. A turbina por sua vez conectada a um gerador elétrico transfere a

energia mecânica por um eixo ao sistema de bobinas em fase, que gera corrente direta, esta

por fim é transformada em corrente alternada no alternador e enviada à rede elétrica

(PATEL, 2006).

2.3. Matriz Elétrica Brasileira

A geração de energia elétrica no Brasil em 2010 foi de 509,2 TWh. O consumo foi

de 455,7 TWh. Cerca de 86 % de toda energia elétrica que abastece o país é proveniente de

fontes renováveis (BEN, 2011). A produção de energia elétrica no mundo todo foi de

18.930 TWh no ano de 2006, sendo menos de 19 % gerados por fontes renováveis

(ANEEL,2008).

A oferta interna de energia elétrica brasileira é mostrada na Figura 7, e os

empreendimentos públicos em operação são mostrados na Tabela 4.

Page 25: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

14

Figura 7 - Matriz elétrica brasileira, ano de 2010. Fonte: BEN (2011).

Tabela 4 - Empreendimentos de geração de energia elétrica no país em 2008

Tipo Quantidade Potência Outorgada (MW)

%

Central Geradora Hidrelétrica 227 120 0,11 Central Geradora Helioelétrica 17 272,65 0,26 Pequena Central Hidrelétrica 320 2.399,6 2,29

Central Geradora Solar Fotovoltaica

1 0,02 ~0

Usina Hidrelétrica de Energia 159 74.632,63 71,2 Usina Termelétrica de Energia 1042 25.383,92 24,22

Usina Termonuclear 2 2.007 1,92 Total 1768 104.815,83 100

Fonte: ANEEL (2008). Adaptado pelo autor.

A Tabela 4 soma todas as usinas elétricas em operação no Brasil em 2008, a

quantidade de cada tipo de usina, a potência ou capacidade de geração de todas as usinas

de cada tipo, e a contribuição em porcentagem no total de energia produzida. No ano do

levantamento pela ANEEL, têm-se menos de 0,3 % em geração elétrica à partir de

tecnologias eólicas e fotovoltaicas, mostrando a lenta inclusão de novas fontes de energia

renovável no país. Entretanto os 24,22 % de energia elétrica gerada à partir de usinas com

tecnologia termelétrica pode ser um fator que facilite o uso futuro de tecnologias CSP,

visto que metade da planta é semelhante a uma usina termelétrica, de tecnologia

desenvolvida e amplamente conhecida.

Em 2010 o Brasil revelou uma capacidade de geração de 113.327 GW. O destaque

de geração de energia elétrica foi em uma fonte renovável: a energia eólica teve um

Page 26: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

15

aumento de potência instalada anual de 54,1 % com 928 MW ao final de 2010, e um

aumento de consumo de 75 % totalizando 2176,6 GWh produzidos (BEN, 2011).

Não há até o momento no país instalações que utilizem de concentração solar

térmica, apenas o projeto recém anunciado de Petrolina, mencionado anteriormente

(CTGAS, 2012). O Brasil possui áreas bastante apropriadas para o desenvolvimento de

pesquisas e projetos de plantas heliotérmicas, devido à alta irradiação solar anual DNI no

país. Segundo Staley et. al (2009) apud Lodi (2011), o mínimo de energia solar

concentrada para a produção de energia elétrica em uma planta CSP comercial ocorre à

partir de DNI's de 2000 kWh/m²/ano, e o território nacional apresenta algumas áreas

viáveis tanto em irradiação solar quanto em baixa nebulosidade, como mostra a Figura 8.

Figura 8 - Áreas potenciais para desenvolvimento de projetos heliotérmicos CSP

Fonte: Pereira e Lima (2008) apud LODI (2011). Adaptado pelo autor.

Page 27: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

16

3. Metodologia

O trabalho de monografia seguiu a estrutura de uma pesquisa bibliográfica, de

natureza básica e descritiva das tecnologias de geração de eletricidade através de planta

geratriz heliotérmica do tipo torre solar. Tanto o estudo técnico qualitativo da ciência

envolvida quanto a análise comparativa com outras fontes da matriz elétrica brasileira

foram feitos através de: livros-texto de engenharia e específicos de energia solar térmica;

reportagens de instituições com pesquisa e desenvolvimento no setor pelo mundo;

pesquisas realizadas por empresas estrangeiras de geração elétrica que utilizam torres

solares; artigos e periódicos submetidos tanto por institutos quanto universidades, e um

software simulador.

A coleta de dados foi feita através da revisão da literatura e se constitui por:

pesquisa aprofundada em bancos de dados acadêmicos como ScienceDirect, Scielo,

BDTD, Google Acadêmico, Springer e outras fontes de pesquisa acessíveis à USP; contato

com empresas e instituições nacionais e internacionais envolvidas com pesquisas da

tecnologia estudada; busca por dados atualizados da matriz elétrica brasileira e pesquisar o

interesse de grupos nacionais na realização de projetos relacionados com energia

heliotérmica. Os dados levantados na revisão bibliográfica fazem parte da coleta e

apresentação da literatura, e análises de dados mais específicos constituem o

desenvolvimento da pesquisa bibliográfica.

A análise de dados, resultado de leitura, organização de idéias e construção lógica,

é apresentada de forma sucinta, visando a descrição e entendimento da ciência com os

avanços tecnológicos práticos das pesquisas realizadas em cada aspecto relevante a plantas

de energia tipo torre solar, em complemento ao conteúdo mencionado na revisão da

literatura. Análises comparativas entre tecnologias e custos utilizam bases hipotéticas

devido à dificuldade de assumir valores precisos das tecnologias e seus custos de compra

para o Brasil, ainda assim foi possível desenvolver interpretações quanto à compatibilidade

econômica, geográfica e ambiental para aplicação da tecnologia no país. A etapa de

análise, atrelada ao desenvolvimento do trabalho usa o software simulador de energias

renováveis System Advisor Model (SAM) como base estrutural e comparativa para discutir

sobre cada aspecto relevante da planta heliotérmica do tipo torre solar.

Page 28: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

17

4. Desenvolvimento

4.1. Uso do software simulador System Advisor Model

O software simulador utilizado, desenvolvido por National Renewable Energy

Laboratory, é de acesso e uso público em sua versão mais recente (SAM version

2013.9.20, setembro/2013), e possui um banco de dados para auxiliar a simulação de

projetos de diversas plantas de energia renovável, com dezenas de modelos de base. Em

adição aos manuais de uso disponíveis na página do desenvolvedor (NREL, 2013), o

relatório técnico de Turchi e Heath (2013), e a dissertação de Lodi (2011), foram

referências para o uso e aplicação do programa.

Os modelos utilizados foram CSP Molten Salt Power Tower (Tipo de geração

heliotérmica por torre solar com sais fundidos) e o financiamento básico Independent

Power Producer, que permite alterações em aspectos financeiros da planta (ANEXO A).

Segundo Turchi e Heath (2013), o modelo de base que é carregado no simulador

após escolha da tecnologia possui configuração próxima à da planta considerada "estado da

arte" da tecnologia CSP de torre solar, comissionada em 2011 na Espanha, Gemasolar de

19,9 MWe. A planta consiste das seguintes características: coletores heliostatos de espelhos

planos de 116 m²; receptor circular 360°; Fluido de transferência de calor (ou HTF, Heat

Transfer Fluid) sendo uma mistura eutética binária Nitrato de Sódio 60 % - Nitrato de

Potássio 40 %; armazenagem do HTF tipo duplo tanque; ciclo Rankine de vapor

superaquecido com possibilidade de reaquecimento e regeneração do sistema de vapor e

condensador operando com arrefecimento úmido, ou wet cooling. O fluxograma

simplificado mostrado na Figura 9 separa as etapas consideradas pelo simulador para um

projeto de planta de torre solar com armazenamento de calor e uso de sais fundidos. Cada

uma dessas etapas são discutidos em sua respectiva seção do desenvolvimento do tema

junto ao uso do simulador, com os motivos da decisão de cada característica da planta na

simulação projetada no vigente trabalho.

Page 29: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

18

Figura 9 - Esquemático do modelo base utilizado pelo simulador SAM.

Legendas: 1) Superaquecedor, 2) Evaporador, 3) Pré-aquecedor Fonte: Turchi e Heath (2013). Adaptado pelo autor.

Page 30: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

19

4.1.1. Localização e dados meteorológicos

As primeiras variáveis de importância requeridas para um projeto de planta solar

são os dados meteorológicos da região selecionada para a instalação. O banco de dados do

programa SAM foca nos EUA e Espanha principalmente, mas outros bancos de dados

compatíveis possuem um acervo compreensivo de territórios sul-americanos. Foi

selecionado então o pacote de dados meteorológicos de Petrolina (PE), considerando que a

cidade foi selecionada para projeto e construção de uma planta heliotérmica no país

(CTGAS, 2012 e MELO, 2013). O pacote de dados foi provido pelo acervo do programa

EnergyPlus Energy Simulation Software, desenvolvido pela Energy Efficiency &

Renewable Energy (EERE).

As variáveis necessárias (com décadas de amostras horárias para que a simulação

execute médias anuais) são: a Irradiação Normal Direta, DNI, em kWh/m²/a; as

Temperaturas de Bulbos Seco e Úmido em °C; a Velocidade do Vento em m/s; a Umidade

Relativa do Ar em porcentagem; a Pressão Atmosférica em mbar; Incidência Solar em

horas; o Índice de Nebulosidade Diurna, IND e, em menor escala, a Elevação do Nível do

Mar em m, Latitude e Longitude em graus. Outras variáveis presentes no pacote de dados

têm pouco ou nenhum efeito na modelagem utilizada pelo simulador SAM para plantas

CSP, como as Radiações Horizontal Difusa e Global (W/m²), o Efeito Albedo e a Direção

do vento (NREL, 2013).

Os valores médios de Petrolina são apropriados para plantas CSP, porém em

especial a DNI (mostrada em impressão de tela do software no Anexo B) encontra-se

apenas marginalmente acima do limite inferior sugerido por Staley et. al (2009) apud Lodi

(2011), entre 5 e 9 kWh/m²/d (1825 e 3285 kWh/m²/a), sendo valores acima de 2200

kWh/m²/a o ideal para reduzir custos a longo prazo.

Adicionalmente, a seleção do local exato para instalação de qualquer tipo de planta

heliotérmica - apesar de não ser requerimento do simulador - é, segundo Azevedo (2010),

dependente também de fatores geográficos e sociais tais como: condições topográficas

favoráveis, sendo que quanto menos terraplanagem necessária, menor será o custo total do

projeto; terras disponíveis para compra ou uso por instituições públicas e privadas, com a

possibilidade de se conseguir terras cedidas por órgãos governamentais sendo uma redução

de custos a se avaliar; proximidade a um leito com suprimento d'água suficiente para os

gastos da planta que não proporcione impacto aos outros usos humanos do leito d'água

selecionado (o consumo de água do ciclo úmido de condensação representa 90 % do

Page 31: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

20

volume total, e mesmo no caso do uso mais ambientalmente compatível de ciclo seco, as

considerações de projeto devem considerar o suprimento para uma planta de ciclo úmido);

desejável baixa (mas não inexistente) densidade populacional nas proximidades da planta;

todas as condições meteorológicas supracitadas relevantes ao simulador e, por fim, a

facilidade de implementação da usina elétrica associada com a rede elétrica de alta tensão,

preferencialmente já existente nas proximidades do local selecionado.

4.1.2. Campo de heliostatos

O campo de heliostatos é a parte que mais ocupa o espaço destinado à planta

heliotérmica do tipo torre solar, e a escolha apropriada das tecnologias e estratégias de

compra podem portanto contribuir para reduções relevantes de custo de projeto. A tática

mais abordada recentemente por empresas investidoras é a compra e venda de heliostatos

em massa, produzidos em grandes números sob contratos comerciais, junto de peças

componentes do campo mais baratas e de materiais mais simples possível, reduzindo o

custo geral associado a esta fração da planta (PHILIBERT et al., 2010 apud LODI, 2011).

De acordo com Turchi e Heath (2013), o levantamento de custos e uso de

tecnologias no campo de heliostatos para a melhor visualização em resultados da

simulação pelo SAM é ramificada em todos os componentes de contribuição relevante,

econômica e/ou operacional: espelho, acionador, pedestal, fundação, suporte do espelho,

controles e cabos de automação, cabos elétricos, homem-hora, instalação e manutenção.

Há concordância entre os argumentos sobre redução de custo por parte dos autores citados,

o principal modo de se alcançar reduções da escala de até 20 US$/MWe está na

padronização de peças e na produção contratual em escala, como por exemplo, 5000

unidades por ano (TURCHI e HEATH, 2013).

Entretanto, segundo Kolb et. al (2011), há pouco consenso sobre os melhores

valores para otimização técnica e econômica no quesito tamanho dos espelhos, com

estudos simplificados apontando para o efeito da proporcionalidade de custo com área

reflexiva, o que sugere menores espelhos como melhor opção, sem considerar o aumento

de custos de suporte e controle devido ao maior numero de espelhos na área total. Quando

se avalia outros fatores adicionais como peças componentes do pedestal, controle e

manutenção, espelhos com áreas entre 50 e 130 m² têm um custo menor, considerando

todo o ciclo de vida útil do conjunto, apesar de um aumento nos custos de equipamentos

Page 32: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

21

pois o efeito dos ventos em espelhos maiores exige materiais de suporte e rastreamento

mais robustos e resistentes.

Os parâmetros variáveis nesta etapa do simulador são de natureza técnica, com

conseqüências indiretas nos custos associados. Basicamente, para a redução do numero de

espelhos (e consecutivamente todas as partes de seu suporte, controle e rastreamento) o

melhor aproveitamento da área de superfície de cada unidade deve ser considerada. Com a

menção em literatura sobre a média de área dos espelhos entre 50 e 150 m², e também as

alternativas de espelhos retangulares ou circulares, há maior otimização tanto de custos

quanto área de radiação transmitida ao receptor com espelhos retangulares de área próxima

do padrão do simulador, 144 m² (NREL, 2013). Foi escolhido manter o dimensionamento

dos espelhos semelhante aos da planta Gemasolar, comprimento e altura 10,9 m

(resultando em área de heliostato de 115,25 m² considerando 97 % de área reflexiva

efetiva), para efeitos comparativos. Outros diversos fatores são editáveis pelo usuário no

simulador SAM, mas buscando simplesmente otimização equilibrada entre custos e

tecnologia, usa-se os valores sugeridos, que representam pesquisas e levantamentos sobre

como tais variáveis são mais facilmente encontradas no mercado ou verificadas em plantas

atualmente em operação.

Também nesta etapa da simulação o programa dispõe de uma Interface de

Otimização de Campo Circular (ou Circular Field Optimization Wizard), e tal ferramenta

de otimização utiliza-se de um conjunto misto de variáveis (relacionadas a parâmetros

inter-relacionados do campo de heliostatos, da torre e do receptor), estas mais sensíveis aos

resultados estatísticos da otimização desejada. Portanto, seguindo os guias do usuário do

software, parâmetros fixos serão mantidos no valor sugerido, e parâmetros com entrada de

valores mínimos e máximos terão a maior variedade sugerida (menores valores possíveis

para as dimensões mínimas e maiores valores possíveis para as dimensões máximas como

valores de entrada na calculadora otimizadora do software) para reduzir as chances de que

o ponto de otimização esteja fora do range dos parâmetros exigidos na modelagem

estatística usada pelo software DELSOL3 associado ao SAM (NREL, 2013). Tais valores

estão na impressão de tela da calculadora otimizadora no Anexo C.

Desta forma, ao utilizar um campo circular otimizado de espelhos retangulares ao

redor da torre solar, também elimina-se a possibilidade de uso de um recebedor do tipo

cavidade (120° de superfície com material apropriado) e torna-se imprescindível o uso de

um recebedor do tipo externo (360° de superfície com material apropriado)

Page 33: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

22

Um fator de maior importância, tendo em vista o uso de armazenamento térmico, é

o multiplo solar "MS". Trata-se da relação entre a energia térmica fornecida pelo campo de

heliostatos (considerando todas as perdas), e a energia térmica necessária para a turbina

produzir a energia elétrica nominal de projeto (CARDEMIL e COLLE, 2010 apud LODI,

2011). Um MS maior que 1 é desejável para se alcançar a mínima relação entre o custo

total da planta e a produção esperada, denominada LCOE (levelized cost of energy) (IEA,

2010). Estudos aplicados à CSP de calhas parabólicas mostraram valores LCOE

minimizados usando a faixa entre 1,13 e 1,25 para valores de MS, mas tais valores não são

necessariamente os mesmos para a CSP de torre solar tanto pelas diferenças técnicas e

econômicas, quanto pelo fato de que um MS maior que 1 não é progressivamente melhor

sem armazenamento térmico pois o excedente de energia fornecida não teria como ser

aproveitado. O valor sugerido no modelo do simulador para HTF de sais fundidos é

mantido em 2,4 para garantir um armazenamento térmico autônomo de 15 horas sem

queima de gás natural como backup, mesmo considerando que o efeito ao usar-se um MS

de 2,4 é um aumento de 35 % no custo total do projeto, em comparação a um MS de 1,13.

A Figura 10 a seguir mostra o resultado da disposição dos heliostatos no campo

circular pela calculadora otimizadora do simulador, com gradientes da cor vermelho

representando concentração de espelhos por bloco radial, variando de 7 a 30 espelhos por

área de seção transversal.

Figura 10 - Resultado da seção transversal do campo solar, calculada pela ferramenta

Optimization Wizard integrada ao SAM.

Page 34: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

23

Os valores resultantes desta etapa foram: área reflexiva (247.778,3 m²); número de

heliostatos (2150) e área de terra total (372 acres americanos, equivalentes a

aproximadamente 150,47 hectares). Todos os valores inseridos que se diferem sutilmente

dos valores do modelo base seguem dados verificados da planta Gemasolar, pelo estudo de

caso da NREL (NREL, 2013a). Os valores obtidos no simulador SAM também consideram

uma cota de 4 % dos heliostatos fora de operação (em manutenção ou limpeza ou sombra

da torre), através da variável Heliostat Availability ajustada para 0,96. A impressão de tela

desta etapa é mostrada na íntegra no Anexo C.

4.1.3. Torre e recebedor

A torre solar é centralizada no campo de heliostatos e o recebedor ou receptor é

posicionado próximo do topo da torre. O simulador SAM propõe valores otimizados para o

dimensionamento de ambos (impressão de tela no Anexo D), de acordo com os dados

utilizados na interface da etapa de campo de heliostatos. Considerando o motivo da escolha

de receptor externo cilíndrico já mencionada como consequência da disposição radial dos

heliostatos, os valores relevantes otimizados são a altura da torre (110 m do solo à metade

do comprimento do receptor), comprimento do receptor (10,56 m), diâmetro do receptor

(6,33 m), máxima vazão mássica de HTF (388,052 kg/s) e a energia térmica captada

(133,981 MWt). Tais valores podem ainda ser editados manualmente caso alguma

alteração do projeto seja pertinente, mas os valores escolhidos são otimizados pelo

simulador, que considera a eficiência de produção e a otimização de custos de projeto.

Os valores do modelo base de características térmicas do revestimento do receptor

(emitância 0,88 e absorbância 0,94) condizem com tais propriedades da tinta preta

Pyromark, mais comumente mencionada em trabalhos que utilizam esta tecnologia CSP,

assim como a escolha da mistura de sais, padrão de fluxo interno pelas tubulações que

formam a estrutura do receptor e o material utilizado aço inox padrão AISI316 (KOLB, et.

al, 2011 e AMBROSINI, et. al, 2011).

Para as estimativas de custos, o simulador considera: a torre; as tubulações de sal

frio (ascendente, 290 °C) e sal quente (descendente, 574 °C); o isolamento do sistema; o

receptor revestido; as bombas de sal frio; a tubulação horizontal que formam serpentinas

no interior do receptor e os sistemas de controle e rastreamento térmico.

O potencial de melhorias neste setor da planta está majoritariamente no receptor,

pela redução de perdas térmicas por menor emitância, e em maiores resistência e

Page 35: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

24

estabilidade térmica das peças constituintes para que a temperatura do conjunto ultrapasse

os 600 °C, permitindo maior eficiência de troca térmica.

4.1.4. Ciclo de Potência

O ciclo de potência (de geração, ou energético) de uma planta termelétrica é o

conjunto de equipamentos e controle que transformam a energia térmica em elétrica,

incluindo etapas desde o aquecimento do fluido de trabalho (água) pelo gerador de vapor

de sal fundido, a transformação da energia térmica em mecânica pela passagem do vapor

pelas turbinas, o resfriamento do fluido para líquido saturado pelo condensador, e a

transformação de energia mecânica em elétrica pelo gerador. O simulador SAM divide esta

seção nos seguintes conjuntos de variáveis: capacidade da planta; design do bloco de

potência; controle da planta e sistema de arrefecimento. Segundo Kolb et. al (2011),

atualmente a tecnologia CSP de torre solar utiliza uma estrutura do bloco de energia

semelhante aos encontrados em plantas termelétricas de combustível fóssil tradicionais. O

ciclo de Rankine de vapor superaquecido utilizado é subcrítico, com reaquecimento e

regeneração, mantendo a eficiência de conversão próxima de 42 % considerando

resfriamento com água.

Segundo Balmer (2011), o reaquecimento no ciclo Rankine consiste na retirada do

vapor de uma etapa intermediária da turbina, o reaquecimento deste vapor em um trocador

de calor denominado superheater, e aplicação do vapor reaquecido a um estágio posterior,

de menor pressão, da turbina ou conjunto de turbinas para continuar a expansão até

próximo do ponto de condensação. Condensação na turbina deve ser evitada ao máximo

pois a água acelera desgastes e corrosão nas pás (ou hélices) das turbinas diminuindo sua

vida útil e aumentando riscos de acidentes e custos operacionais.

A operação de regeneração também requer a retirada do vapor em expansão de um

estágio da turbina, porém este vapor troca calor com água advinda do condensador, em um

trocador denominado regenerador ou preheater. O vapor é posteriormente redirecionado

também para um estágio do ciclo de potência com menor temperatura e pressão.

Por fim, a característica de superaquecimento provém de maiores temperatura e

pressão de operação do vapor atingidas no gerador de vapor antes deste passar pela turbina,

e o uso destes recursos permite melhorias na eficiência de conversão da energia térmica em

energia elétrica, e também redução do risco de ter condensação do vapor dentro da turbina,

garantindo maior vida útil das pás (BALMER, 2011).

Page 36: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

25

O simulador pode utilizar dry cooling (resfriamento com ar) e utilizar a eficiência

próxima de 41 %, com efeitos localizados no custo do sistema de arrefecimento

(condensador e equipamentos auxiliares).

Um aspecto técnico pertinente à turbina pode diferenciá-la das turbinas comuns

encontradas em termelétricas, pois enquanto a geração é constante, o uso do bloco de

energia mantém a turbina constantemente operacional, o que não representa todas as

possíveis condições de operação de uma planta heliotérmica. O ciclo dia-noite de plantas

com nenhum (ou insuficiente) nível de armazenamento térmico (Thermal Energy Storage,

TES) reduz drasticamente o uso da turbina, que precisa ser produzida com diversas

características de resistência mecânica diferenciadas, aumentando o custo. Plantas com

TES podem entretanto se aproximar das condições de operações contínuas do bloco de

energia como vistas em termelétricas tradicionais (NYQVIST e WILLIAMS, 2013).

O uso do ciclo de Rankine superaquecido (Figura 11.a) já é implementado no

simulador devido às condições termodinâmicas (pressão e temperatura alcançados na

caldeira), e também o uso de regeneração e reaquecimento (Figura 11.b) visando o

aumento da eficiência de conversão de energia. Além destes recursos, mais melhorias

técnicas e de controle no conjunto receptor poderiam permitir a aplicação do ciclo de

Rankine supercrítico (Figura 11.c) para uma eficiência de conversão no ciclo energético

ainda maior, sem alterar os princípios termodinâmicos do bloco de potência (KOLB et. al,

2011).

Figura 11 - Ciclos termodinâmicos Rankine com eficiência de conversão superiores ao do ciclo Rankine tradicional. (a) Vapor Superaquecido, (b) Reaquecimento e Regeneração de

Vapor, (c) Vapor Supercrítico. Fonte: Balmer (2011), adaptado pelo autor.

As etapas numéricas de cada gráfico da Figura 11 explicam o ciclo termodinâmico,

parcialmente abordado na explicação da Figura 6. As melhorias de tais etapas

Page 37: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

26

(superaquecimento, reaquecimento, regeneração e vapor supercrítico) são mostradas na

Figura acima.

Outros ciclos termodinâmicos mais complexos como Stirling (Figura 12.a) e

Brayton (Figura 12.b) poderiam ser usados em tecnologias CSP melhorando a eficiência de

conversão, mas por operarem com gases e não vapor, os equipamentos teriam diferentes

características que não são ainda cobertas pelo simulador SAM ou pela indústria de CSP

tipo torre solar, por serem alterações de maior escala e que requerem diversas alterações

termodinâmicas para o bloco de potência, como por exemplo pelo fato de que não há

mudança de fase, o fluido de trabalho é gasoso durante todo o ciclo, exigindo tecnologias

de bombeamento diferenciadas (KOLB et. al, 2011).

Figura 12 - Ciclos termodinâmicos de gases utilizados em pesquisas CSP.

(a) Stirling, (b) Brayton. Fonte: Balmer (2011), adaptado pelo autor. Os valores do simulador SAM alterados do modelo base seguem alguns parâmetros

para posterior breve comparação com a planta comercial Gemasolar (GEMASOLAR,

2011). Desta forma, o potencial de geração líquido de 20 MWe foi produto de uma geração

bruta de 23 MWe e um fator de conversão elétrica de 87 %. As condições já estipuladas no

modelo base determinam a operação do bloco de potência como um ciclo termodinâmico

de Rankine com superaquecimento, regeneração, reaquecimento e condensação a ar

(eficiência de conversão 41,2 %, temperatura de início de operação 500 °C, pressão de

operação 100 bar). O sistema de arrefecimento foi mantido como modelo, completamente a

ar, em vista da proposta ambiental da planta. As variáveis são mostradas na impressão de

tela no Anexo E.

Mesmo com o maior aproveitamento possível pelo sistema turbina-gerador,

usualmente através do uso de múltiplas etapas de expansão e regeneração, o condensador

ainda é fundamental para assegurar que todo o vapor do ciclo fechado retorne ao estado de

líquido saturado, permitindo o uso de bombeamento líquido tradicional da água de volta ao

ciclo de evaporação no gerador de vapor, como é utilizado em plantas termelétricas

convencionais.

Page 38: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

27

Para o bloco de potência, o ideal em vista do foco ambiental do projeto é a não

utilização de backup simples com gás natural ou hibridização da planta do tipo ISCCS

(Integrated Solar Combined Cycle System). Tal decisão agrega custos tecnológicos ao

projeto visando gestão do suprimento elétrico equivalente a uma planta com backup, como

é o caso da Gemasolar, que utiliza 15 % de suprimento energético por queima de gás

natural, conforme regulamento espanhol. O não uso de backup acarreta em possível

redução na continuidade do abastecimento devido às limitações técnicas relacionadas aos

limites viáveis de armazenamento de calor (no projeto elaborado, isso ocorreria diante da

descontinuidade de irradiação solar suficiente após o período de 15 horas de

armazenamento térmico e consequente necessidade de descontinuar temporariamente o

ciclo de potência (NREL, 2013a).

Para o presente estado da tecnologia, o uso de um sistema híbrido emergencial de

queima de gás natural atrelado à planta heliotérmica para garantir a continuidade do

suprimento elétrico 24 horas por dia, seja quais forem as condições meteorológicas, é um

recurso relevante para a aplicabilidade da tecnologia CSP, ainda que não essencial e não

utilizado no projeto.

4.1.5. Armazenamento Térmico

O denominado TES (Thermal Energy Storage) é composto pelo sistema de

estocagem e pelo fluido de transferência de calor, HTF. O sistema de estocagem possui

atributos comuns a qualquer tecnologia usada, como tubulações e isolamento térmico,

cabeamento e controle, fundação, bombas e válvulas. Entretanto as duas tecnologias mais

exploradas para armazenamento divergem no modelo de tancagem utilizado. O modelo

mais tradicional designado duplo tanque (demonstrado na Figura 9, sobre "Sistema de

Armazenamento Térmico") com estocagem em calor sensível segue um princípio básico:

separação do HTF quente (570 °C) em um tanque e do HTF frio (290 °C) em um segundo

tanque. O HTF aquecido no receptor é enviado ao tanque quente, e conforme a necessidade

de geração, é bombeado para o gerador de vapor do ciclo de potência. Após as trocas

térmicas com o vapor, o HTF frio (ainda líquido) é bombeado ao tanque frio, que por vez

bombeia o HTF para o topo da torre em períodos de sol, aquecido com a radiação

acumulada pelo receptor (KOLB et. al, 2011, TURCHI e HEATH, 2013, e LODI, 2011)

A tecnologia alternativa é chamada Thermocline (Figura 13), em referência à

camada termoclina descoberta originalmente por estudos oceanográficos (uma faixa do

Page 39: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

28

nível do mar em que há maior mitigação térmica, isto é, o gradiente de calor é grande entre

o comprimento da faixa, separando um fluido mais quente acima, e um fluido mais frio

abaixo). Esta faixa pode ser otimizada utilizando um tanque de leito fixo poroso

preenchido de materiais granulados específicos, como quartzita e areia (RAADE, 2011).

Os HTF frio e quente ambos são alocados neste mesmo tanque (sendo assim, também

trata-se de estocagem com calor sensível, mas com menor volume de HTF), separados por

uma faixa termoclina não só precisamente delimitada como também servindo como um

feixe isolante térmico melhor do que teria a faixa termoclina sem uso de preenchimento -

um nível de troca térmica ainda existe, mas pode ser controlado com tecnologias comuns

de controle de processos (GARIMELLA, 2012).

Figura 13 - Tecnologia Thermocline. (a) Corte longitudinal do tanque de leito fixo; (b) Distribuição térmica em escala após 30 h. Fonte: Garimella, 2012. adaptado pelo autor.

Os fluidos de transferência para a tecnologia CSP de torre solar precisam ter alta

estabilidade química nas temperaturas de trabalho (que por limitações técnicas do conjunto

receptor e dos HTF desenvolvidos comercialmente, devem estar entre 500 e 600 °C), e

características físicas que favoreçam a transferência de calor, como a alta capacidade

térmica e baixo ponto de fusão, mantendo a troca de calor do tipo sensível, isto é, sem

mudança de estado físico, pois caso o fluido de transferência seja também o meio de

armazenamento térmico (como é o caso da mistura de sais fundidos), a solidificação na

tubulação pode resultar em interrupção plena de atividade da planta heliotérmica.

Page 40: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

29

Segundo Kolb et. al, 2011, as otimizações técnicas a serem alcançadas no setor de

TES são diversas, devido à variedade de tecnologias alternativas sendo estudadas

anualmente. Alternativas para o armazenamento por líquidos e calor sensível já existem,

como materiais de troca de fase (calor latente), fluidos nanoparticulados e estocagem em

sólidos, e termoquímicos, que exploram a troca térmica com auxílio de reações. Algumas

dessas poderiam até mesmo utilizar gases como HTF, mas nenhuma delas está ainda com

maturidade tecnológica para aplicação industrial.

Em aspectos mais simples, tem-se a relação conhecida por estudos econômicos de

que com o aumento do diferencial de temperatura, o custo de estocagem diminui. Para tais

variáveis serem otimizadas, precisa-se encontrar meios de utilizar o potencial térmico da

torre solar, que ultrapassa os 1000 °C se as condições do campo solar forem adequadas. O

desafio neste aspecto é encontrar materiais apropriados a custos factíveis.

O simulador SAM dispõe das opções de duplo tanque e termoclina como sistema

de estocagem, e para o trabalho vigente foi ponderado o uso do duplo tanque: é o método

mais maduro em termos tecnológicos e em quantidade de literatura disponível, e a planta

Gemasolar utiliza duplo tanque, facilitando mais uma linha de comparação.

O programa também dispõe nesta seção o "Controle de Despacho do Estoque

Térmico", que apenas acarreta em sutis alterações técnicas na planta CSP de torre solar,

sendo em sua maioria uma característica econômica da escala de produção de energia por

horas do dia. Seguindo o projeto da planta Gemasolar, a opção selecionada foi Uniform

Dispatch, modelo em que a distribuição de produção é constante durante as 24 horas do

dia, com 0 % de backup com queima de gás natural (a impressão de tela desta etapa é

integralmente mostrada no Anexo F).

Com a escolha do tipo de tancagem, o fluido HTF, e a otimização feita na etapa de

campo de heliostatos, o simulador retorna valores otimizados das dimensões da seção de

tanques: volume total de armazenamento (dois tanques de 3895,75 m³ cada); diâmetro dos

tanques (15,75 m); altura dos tanques (mantido valor modelo de 20 m) e volume de HTF

inicialmente distribuído (tanque de sal quente: 1168,73 m³; tanque de sal frio: 2727,3 m³).

Raade (2011) menciona a possibilidade de otimização na escolha da mistura

eutética no caso do HTF tipo sais fundidos, com algumas misturas alcançando pontos de

fusão tão baixos quanto 65 °C e estabilidade próxima de 520 °C, aplicáveis em tecnologias

CSP de calhas parabólicas, e outras misturas otimizadas que estáveis a 650 °C.

A escolha da mistura binária no simulador SAM, de NaNO3-KNO3 60 % / 40 %

(feita na etapa "Torre e Recebedor") foi mantida como proposto no modelo base em todas

Page 41: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

30

as variáveis pertinentes; possui ótimas características para ambas funções de HTF e meio

de armazenamento de calor, com eficiência térmica entre 0,96 e 0,99; é a mistura mais

comum vista no levantamento da literatura, chamada inclusive de "solar salt" (TURCHI e

HEATH, 2013) e é utilizada também no estudo de caso da planta Gemasolar feito pelo

desenvolvedor do software (NREL, 2013a).

4.1.6. Perdas inerentes e desgaste

O termo "Parasitics" é definido como a somatória de gastos energéticos da planta.

Os valores editáveis desta etapa foram mantidos como o modelo base propõe (valores

iniciais do simulador) pois são fatores de difícil otimização na prática. Segundo guia do

usuário do software (NREL, 2013) e Kolb et. al (2011) tais perdas agregam ao menos 10 %

da produção elétrica anual. Mas por outro lado todos os custos parasíticos não escalam

linearmente com o aumento da planta, mostrando valores melhor distribuídos em modelos

de plantas CSP de calhas parabólicas entre 150 e 250 MWe. Plantas de torre solar possuem

perdas mais concentradas no bombeamento do HTF frio para o topo da torre, etapa

inexistente para as calhas parabólicas, mas em vista do custo relativo, em LCOE real

estratificado, são gastos de peso equivalente entre as tecnologias heliotérmicas.

A única alteração relevante em relação ao modelo base proposto por SAM foi o

coeficiente de perda da tubulação, que pelo estudo de caso da planta Gemasolar é

considerado 8.000 Wt/m ao invés de 10.200 Wt/m (NREL, 2013a), obtido por otimização

dos sistemas de isolamento térmico da planta. Além das perdas por dissipação,

considerando todos os consumos elétricos internos, o simulador agrega tais valores em

uma constante que representa a fração de uso de energia elétrica por energia térmica,

estipulada inicialmente em 0,0055 MWe/MWt.

As etapas "Parasitics" e Ajuste de Performance foram agregadas neste capítulo

(sendo no simulador duas etapas distintas) pois são conceitualmente simples e possuem

efeitos menores no modelo. Os ajustes de sistema condizem com o uso percentual efetivo

da planta, considerando os eventos de manutenção e afins, sendo mantido nos 96 %

propostos. Caso seja pertinente a um projeto simular desgastes de quaisquer origem, a

tabela pode ser preenchida com os outputs previstos, entre 1 e 0. Para esta simulação a

tabela de ajuste, parcialmente representada no Anexo G, foi preenchida com valores "1".

Page 42: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

31

4.1.7. Aspectos econômicos

Os custos de referência dados como valores iniciais para plantas do tipo torre solar

no simulador SAM foram, segundo site do desenvolvedor, intensamente baseados em

relatório técnico de Sandia National Laboratories, elaborado por Kolb et. al (2011) e por

estudos executados pela NREL (TURCHI e HEATH, 2013).

Os aspectos econômicos avaliados pelo simulador são agregados nesta etapa

generalizada devido ao não aprofundamento, neste projeto, nas conversões de taxas e

legislações e tarifas do modelo padrão, que segue normas e estimativas baseadas em leis e

estudos de caso elaborados no estado da Califónia, EUA (Lodi, 2011) para os valores

equivalentes brasileiros. Além de não ser o foco do vigente levantamento, tais fatores

econômicos contêm variáveis e incertezas que não agregam verificabilidade numérica

relevante à análise, como por exemplo tarifas e descontos específicos para energias

renováveis mas que exigem condições de projeto específicas: o REIDI - que afeta PIS e

COFINS -, o IPI que neutraliza taxação sobre alguns equipamentos da industria de geração

elétrica, a taxa TUSD com desconto de 50 a 100 % no caso de uso de energias renováveis e

outras condições, e como um conceito global, podendo incluir todas as influências

econômicas características do país, temos o custo Brasil, definido por Lodi (2011) como:

"(...) conceito utilizado para apontar fatores que impactam

negativamente a competitividade e eficiência da indústria nacional, tais como: carga tributária, obrigações sociais e trabalhistas, logística, burocracia e encargos financeiros."

Seguindo o sugerido por Turchi (2010) apud Lodi (2011), adota-se o intervalo de

erro de 30 % sobre o custo total da planta indicado pelo projeto, no caso, do simulador

SAM. Além deste fator, é feita a conversão da moeda, Dólar (US$) para Real (BRL)

obtendo os valores monetários no capítulo seguinte sobre esta base de custo hipotética

então estabelecida.

Quanto às variáveis utilizadas pelo simulador, os aspectos econômicos se dividem

em: custos diretos de capital; custos indiretos de capital; custo total instalado; operação e

manutenção; financiamentos; empréstimos; período de vida econômica; taxas e seguros;

incentivos governamentais e depreciação de ativos. "Exchange Variables" é um recurso do

simulador para a adição de fatores econômicos via planilha ou folha de cálculo. As únicas

alterações feitas do modelo de base foram a redução do custo indireto da compra de terra

($10.000 por acre para $0), assemelhando tal aspecto simplificado ao recente projeto de

Page 43: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

32

usina heliotérmica brasileira em Petrolina - PE, em que as terras foram cedidas pela

Codevast (MELO, 2013), e o aumento do período de vida econômica de 25 para 30 anos,

visto que outros modelos e referências usam tal valor. Por fim, menciona-se que o fator de

depreciação usado se assemelha com o modelo conduzido no Brasil, de depreciação

acelerada do ativo imobilizado, considerando equipamentos como depreciação progressiva

em 10 anos, mas por ser acelerada ao triplo do uso diário padrão de 8 horas, tem um fator

de redução de 2,0 (IUDÍCIBUS, 2011), resultando em fatores anuais de depreciação

semelhante ao 5-yr MACRS sugerido pelo simulador.

A impressão de tela desta etapa do simulador é mostrada no Anexo H, e os dados

econômicos que somam-se ao custo final estimado do projeto são mostrados na Tabela 5,

servindo para mostrar os custos em cotação de Dólar americano, com sua soma a ser

cambiada para Real e comentada, como custo total instalado, no capítulo seguinte.

Tabela 5 - Composição de custos diretos e indiretos da planta solar no SAM

Valores Simulados Custos Unitários Custos Finais (US $) Espelhos (US$/m²)

180 3.716.673,83 Campo de Heliostatos (m²)

247.778,3 Melhorias (US$/m²)

15 44.600.085,90

Balanço (US$/kWe)

350 8.050.000,00

Bloco de Potência (US$/kWe)

1200 27.600.000,00 Geração Elétrica

Bruta (MWe) 23

Backup Fóssil (US$/kWe)

0 0

Armazenamento (MWht)

837,38 Estoque térmico

(US $/ kWht) 27 22.609.223,30

Custo Fixo (US $) 3.000.000 Torre Solar (m) 140 Expoente de

Escala 0,0113

10.417.981,34

Referência (US $) 110.000.000 Receptor (m²) 210 Expoente de

Escala 0,7

26.891.907,03

Contingência (%)

7 -------------------------------------- 10.072.011,00

Compra (US$/acre)

0 0 Terreno (km²) 1,5

Manutenção (% custo)

11 16.935.367,06

Taxa de Venda (%)

5 Parcela do

custo (% custo) 80 6.158.315,30

Custo Total 177.051.564,75

Page 44: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

33

4.2. Resultados das Simulações

A Tabela 6 a seguir mostra alguns dos indicadores resultantes da modelagem com o

software SAM, ao lado de valores obtidos em trabalho de referência e planta operacional.

Valores monetários mostrados não consideram os custos financeiros e taxações do

Brasil, servindo apenas de base comparativa para avaliar o estágio do desenvolvimento

tecnológico em relação a investimentos nas plantas CSP entre si. Tais comparações servem

para, por exemplo, confirmar as demonstrações mencionadas por Turchi e Heath (2013):

casos de simulação e prática operacional nas quais o uso de torres solares com sais

fundidos tem se tornado mais economicamente viável com o passar dos anos, inclusive

podendo alcançar custos de produção de energia elétrica (em $/MWh) mais viáveis que a

tecnologia do tipo cilindros parabólicos com óleos minerais de HTF (mesmo esta planta

CSP sendo tecnologicamente mais desenvolvida por pelo menos uma década). Tal

demonstração da competitividade se verifica também, segundo autores, com o crescente

interesse comercial em plantas de torre solar.

Vários parâmetros de comparação relevantes mencionados na Tabela 6 são

descritos nas etapas do desenvolvimento do projeto com o simulador, mas alguns aparecem

apenas como resultados da simulação da planta.

O custo instalado aproximado é o valor calculado pelo simulador que soma todos

os gastos previstos na planta projetada. O valor de R$ 400 milhões é, por exemplo, o custo

total da planta visto na Tabela 5 multiplicado pela cotação do Dólar americano. A operação

anual mostra o tanto de horas no período de um ano que o bloco de geração operou em sua

capacidade de geração plena. Em plantas CST, tal valor é influenciado pelos dados

meteorológicos (horas de incidência solar e horas de tempo nublado) e pela capacidade de

armazenamento de calor da planta. O abastecimento estimado é um valor referenciado da

escala atribuída à planta Gemasolar, que confere o abastecimento de 30.000 residências

com a energia produzida. À partir de tal proporção, obteve-se o estimado das outras duas

plantas comparadas na Tabela 6.

Page 45: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

34

Tabela 6 - Comparação de resultados entre projetos simulados com SAM Parâmetros de comparação

Planta Petrolina Simulada

Gemasolar, Sevilla (NREL, 2013a)

Planta BJL (Lodi, 2011)

Tecnologia Torre Solar Torre Solar Calhas Parabólicas Ano de Projeto 2013 2011 2011

Geração Nom. (MWe) 23 19,9 30 Tipo de Condensação Seca Úmida Dado indisponível

Múltiplo Solar 2,4 2,5 1,13 Eficiência da turbina

(%)* 41,2 41,2 37,49

Área total (ha) 150,47 177,32 68,0 Autonomia por TES (h) 15 15 0

Geração anual (MWh/a)

56.327,47 107.356,96 63.576,58

Custo Total Instalado aproximado (R$)†

400.000.000,00 765.000.000,00 416.000.000,00

Fator de Capacidade (%)

32,1 70,4 28,0

Backup de Combustível Fóssil (%)

0 15 0

Operação anual (h) 2.816 6.315 2.355 Abastecimento

estimado (residências)‡ 15.740 30.000 17.766

LCOE real (R$/MWh) 540,9 381,95 611,30 Uso de água (m³/ano) 12.976 368.346 Valor indisponível

Geração anual representa o valor líquido da energia elétrica produzida no período

de um ano e, como é visto nos resultados, plantas de capacidade de geração semelhantes

podem ter gerações anuais distintas devido a diversas variáveis, que podem ser agregadas

em um único fator para fins de cálculo, como sendo a razão entre a energia refletida pelos

heliostatos e a energia elétrica produzida, denominado fator de capacidade.

Tal fator resume então diferenças entre os projetos que afetam intensamente a

energia elétrica produzida. Diante da discrepância entre as duas simulações de torre solar

(fatores de capacidade de 32,1 % na planta de torre solar de Petrolina e 70,4 % na planta

Gemasolar), progressivas alterações pontuais na simulação do presente trabalho foram

feitas, buscando explicitar quais são as diversas variáveis (parâmetros e decisões de

projeto) responsáveis pela divergência entre os resultados.

* Estabelecida como parâmetro de entrada no simulador (de 0 a 1). Acompanha a eficiência do ciclo termodinâmico utilizado. † Aproximações com correções de câmbio (1 US$ = 2,25 BRL ; 1 EUR = 3,04 BRL ; 30/out/2013) e inflação desde 2011 da moeda informada (Dólar americano = 13,7% e Euro = 2,82 %). ‡ Abastecimento estimado assume taxa de consumo elétrico do cidadão espanhol igual às do brasileiro e do estadonidense. Escala baseada em dados de folheto técnico (GEMASOLAR, 2011).

Page 46: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

35

O método de tal análise foi comparar todas as decisões de projeto entre a simulação

deste trabalho com a simulação referência (Torre solar Gemasolar), e então foi-se alterando

as decisões do projeto individualmente para tornar-se igual ao projeto de referência.

Apesar de não ser possível dizer se as influências dos resultados no fator de capacidade são

independentes ou interdependentes sem aprofundamento em planejamentos experimentais,

verificou-se quais as etapas do projeto da planta que mais contribuíram nos ajustes do fator

de capacidade, buscando maximizá-lo. A Tabela 7 mostrada abaixo agrega tais resultados.

Tabela 7 - Decisões de projeto que influenciaram o fator de capacidade Alteração realizada no

simulador Fator de Capacidade (antes da alteração)

Fator de Capacidade (depois da alteração)

Dados meteorológicos (Petrolina - Sevilha)

32,1 % 39,2 %

Tipo de condensação (Seca para Úmida)

39,2 % 40,9 %

Backup por queima de gás natural (0 % para 15 %)

40,9 % 55,8 %

Dimensões (Torre e Receptor)

55,8 % 54,2 %

Número de espelhos no campo solar

54,2 % 70,4 %

O aumento de 6,9 % no fator de capacidade ao trocar os dados meteorológicos de

Petrolina pelos dados meteorológicos de Sevilha mostram que o DNI (2089,7 kWh/m²/a

em Sevilha e 1833,7 kWh/m²/a em Petrolina) é uma das variáveis responsáveis pelo valor

do fator de capacidade. A troca do sistema de condensação (de seco para úmido) e o uso

das dimensões de torre e receptor da planta Gemasolar agregaram pouca alteração no fator.

As duas decisões de projeto que mostraram as variáveis com maior potencial de

alteração da geração elétrica da planta (através da melhoria do fator de capacidade) foram

o uso de 15 % de backup de queima de gás natural (ao invés de 0 %), que aumenta a

energia transmitida para o bloco de potência com a energia térmica proveniente da queima

do combustível fóssil, e o aumento no número de espelhos no campo solar, sendo que a

planta Gemasolar utiliza mais do que o sugerido pela interface de otimização de campo

solar circular, existente no simulador (2650 espelhos ao invés de 1719).

Aumentando então o número de espelhos, trocando os dados meteorológicos e

adicionando o uso de 15 % de backup de geração por queima de gás natural, o fator de

capacidade da planta simulada passou de 32,1 % para próximo de 70 %, situação em que o

valor de geração anual aumentaria de 56.327,47 MWh/a para 123.358,91 MWh/a, ao custo

Page 47: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

36

de adicionais US$ 25 milhões no projeto, um aumento de consumo de água de 320 mil

metros cúbicos por ano, e a parcial geração de energia poluente e não renovável.

De maneira semelhante à comparação feita na Tabela 7, o LCOE Real entre as

plantas tipo torre solar pode ser ajustado pelo simulador para chegar alcançar qualquer

valor entre os dois limites, usando-se as propriedades de cada um dos dois modelos. Para o

LCOE, as duas variáveis que mais pesaram foram a troca do banco de dados meteorológico

de Petrolina para Sevilha (redução de cerca de 2,5 US ¢/kWh ou 56,25 R$/MWh) e o uso

de 15 % de backup energético com gás natural (redução de cerca de 4,5 US ¢/kWh ou

101,25 R$/MWh).

Considerando que os valores de LCOE das tecnologias CSP desenvolvidos neste

projeto não agregam todos os encargos financeiros, ao menos 30 % de erro é esperado

(TURCHI, 2010), e valores ainda maiores podem existir. Porém outros parâmetros

comparativos servem para comprovar o potencial de redução de custos sobre plantas de

geração elétrica por fontes renováveis: a redução de LCOE de usinas de maior

desenvolvimento tecnológico, como as usinas eólicas e hidrelétricas.

A energia eólica no Brasil teve seus primeiros projetos com custos não muito

inferiores às plantas heliotérmicas desta década, e até a atualidade vem apresentando

reduções significativas, recebendo investimentos no período de 2011 a 2013 com capital

referente a LCOEs entre 180 e 150 R$/MWh (IRENA, 2012). A energia hidrelétrica por

sua vez, apesar de encontrar divergências de opiniões do público sobre ser considerada

fonte renovável ou ambientalmente compatível, é vista pelo mundo como importante fonte

de energia limpa, e graças às décadas de melhorias técnicas e financeiras, o Brasil dispõe

de investimentos e venda primária de energia hidrelétrica com LCOEs na faixa de 75 a 135

R$/MWh. (IEA, 2010a)

Retomando os resultados do simulador, gráficos, tabelas, relações paramétricas,

sensitividade e estatística são alguns dos recursos do software que permitem uma variedade

de correlações e testes. O usuário pode selecionar entre dezenas de parâmetros de acordo

com as informações específicas que busca. Em vista de concluir este trabalho com alguns

exemplos de tais correlações, os gráficos a seguir demonstram e explicam valores

relevantes colocados em comparação.

A Figura 14 mostra o gráfico de produção mensal (kWh por mês), com a intrínseca

relação entre geração de energia elétrica e o nível de DNI (Irradiação Normal Direta) de

cada mês, com maiores exposições à energia térmica nos meses afastados dos meses do

inverno (planta localizada no Hemisfério Sul).

Page 48: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

37

Figura 14 - Distribuição de produção de energia (kWh) por mês.

O fluxo energético anual (kWh nas cinco etapas de transferência e transformação

de energia da planta) da Figura 15 mostra as principais baixas de eficiência na transmissão

para o receptor e no ciclo termodinâmico. A grande diferença entre a energia aproveitada

nas etapas de "Energia Térmica Total Incidente" e "Rendimento Térmico do Receptor" se

deve principalmente às limitações do receptor (alta emitância) e do HTF (estabilidade

térmica dos sais fundidos). Para comportar-se a tais limitações, a quantidade do HTF

aquecido é menor do que poderia ser. Se o receptor pudesse dissipar menos calor de volta a

seu exterior e o sal pudesse atingir temperaturas mais elevadas, a transferência de calor ao

sal poderia melhorar, tanto reduzindo esta queda de eficiência quanto reduzindo custos

envolvidos com as etapas de TES.

Por outro lado percebe-se quase nenhuma queda de energia entre o Receptor e a

"Energia Térmica para o Bloco de Potência". Isto confirma a qualidade de ótimo fluido de

armazenamento de calor que é a mistura de sais fundidos, com sua alta capacidade térmica,

cerca de 99% da energia térmica absorvida no receptor é transferida na etapa de geração de

vapor. Como o gráfico compara a energia captada pelo receptor e a energia transformada

no bloco de potência, o valor total pode aumentar entre um e outro em casos de uso de

backup para geração de energia por outra fonte de geração de calor, desta maneira a

energia térmica para o bloco de potência seria a soma da energia térmica do receptor e a

energia térmica gerada pelo sistema de backup (queima de gás natural, por exemplo).

A segunda queda de quantidade de energia transferida neste gráfico está entre o

aquecimento do fluido de trabalho e a produção elétrica no gerador. Esta perda é mitigada

melhorando as técnicas usadas no sistema de geração, sobretudo no ciclo termodinâmico

Page 49: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

38

utilizado. O uso, já mencionado, de superaquecimento, reaquecimento, regeneração de

vapor, e sistema supercrítico, são exemplos de potenciais melhorias da eficiência de

conversão do ciclo de Rankine, utilizado nesta transformação de energias. Por fim, a

redução entre a "Produção Bruta" e a "Produção Líquida" de eletricidade se deve aos

Parasitics (perdas e consumos internos) já vistos anteriormente, e de difícil otimização.

Figura 15 - Fluxo energético anual de cada etapa da planta heliotérmica.

O par de gráficos das Figuras 16 e 17 ambos representam os mesmos números, mas

um é colocado em pilha, como que representando a somatória das parcelas que constituem

o LCOE real do projeto da planta heliotérmica como um todo (Figura 16), enquanto o

outro estratifica o custo em US ¢/kWh de cada etapa do projeto que envolve custos

atrelado ao potencial de produção (Figura 17). Dessa forma fica mais visível quais etapas e

parcelas do projeto, operação e manutenção da planta que mais agregam custo à energia

produzida, sendo os maiores contribuintes para o alto LCOE: os Heliostatos; o Sistema de

Geração; o Receptor e o Sistema de Armazenamento Térmico. É importante reiterar que os

LCOEs dos gráficos estão em moeda americana, e que principalmente as parcelas de custos

indiretos, seguro, taxas, subsidios, O & M (Operação e Manutenção) serão maiores numa

análise em Reais devido sobretudo ao "Custo Brasil", mencionado anteriormente.

Page 50: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

39

Figura 16 - Levelized Costs of Energy reais empilhados totalizando 24,04 US ¢/kWh.

Figura 17 - Levelized Costs of Energy reais estratificados em setores.

O projeto simulado nesta etapa do desenvolvimento simula a estrutura da planta

heliotérmica CSP de torre solar Gemasolar, localizada em Sevilha, Espanha. Após

construída, seria semelhante à mesma, demonstrada na Figura 18.

Page 51: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

40

Figura 18 - Vista aérea da planta heliotérmica de torre solar Gemasolar (1,7732 km²).

(Fonte: www.objetivofotografico.com) 4.2.1. Consideração comparativa sobre Projeto anunciado de Petrolina

A planta heliotérmica de calhas parabólicas anunciada para construção em 2 anos,

de 1 MWe, sem armazenamento de calor, teve o espaço de terra cedido pela Codevast, e

recebeu financiamento de 27,5 milhões de reais (MELO, 2013 e CTGAS, 2012).

É possível realizar uma simulação simplificada com o software SAM para

estabelecer uma razão entre o custo da planta em US$ e o valor estipulado pelo projeto.

Assumiu-se os seguintes fatores: (a) o financiamento recebido é total para todos os custos

envolvidos na planta; (b) todos os valores financeiros do modelo base de simulação SAM

para CSP do tipo calha parabólica empírica são mantidos, exceto o custo do terreno,

desconsiderado; (c) um MS otimizado próximo de "1" devido à ausência de

armazenamento de calor. Conforme visto por Lodi (2011), o MS otimizado para menor

LCOE é entre 1,13 e 1,25, usou-se 1,13 nesta simulação e (d), uma potência nominal de 1,2

MWe com fator de conversão de perdas parasíticas a 0,9 para obter-se a potência de

geração líquida próxima do projeto, 1 MWe.

Page 52: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

41

Tabela 8 - Resultados selecionados da simulação no SAM da planta empírica de calhas parabólicas com dados do projeto de Petrolina Métrica Valor

Geração Anual (MWh/a) 2.085,80 LCOE real (US ¢/kWh) 20,33

Custo total instalado (US $) 5.363.933,00 Fator de Capacidade (%) 22

Fator de conversão de energia bruta-líquida 0,83 Área total (ha) 3,54 Fonte: SAM (NREL, 2013). Adaptado pelo autor.

Considerando então os resultados apresentados na Tabela 8, o câmbio do valor total

instalado é de R$ 12.068.849,25. Com o financiamento de R$ 27.000.000,00 obtêm-se o

fator 2,2372. Tal fator pode ser definido como o conjunto de custos Brasil para a

tecnologia CSP de calhas parabólicas no ano de 2013. Se considerarmos que o

investimento leva em conta previsão de inflações, é compreensível o uso de um desvio de

até 15 % do fator calculado.

Por fim, temos também a medição do LCOE real, transformado em 457,42

(R$/MWh), um valor coerente, estando entre os LCOE verificados nas plantas simuladas

anteriormente, e considerando a simplicidade da planta mais os aspectos retardatários que

afetam preços da tecnologia e aplicação no Brasil.

Considerando esse conjunto de custos no projeto simulado de 20 MWe do presente

trabalho, os R$ 400 milhões escalonariam para R$ 900 milhões ± 130 milhões,

considerando o erro de 15 % associado à previsão de inflação (2012 a 2025) no

investimento do projeto de Petrolina. Sendo assim, o investimento (em 2013, no Brasil) de

uma planta de CST seria entre 90 % e 157 % acima do valor esperado considerando apenas

o câmbio entre as moedas (Dólar americano, utilizado no simulador, para o Real).

Tais valores e fatores calculados devem ser considerados como bases relativas e

comparativas, não como elementos exatos ou absolutos. O presente trabalho não teve

acesso a preços de materiais além dos bancos de dados públicos, e teve como objetivo

análises descritivas e qualitativas, sem aprofundamento em aspectos financeiros.

Page 53: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

42

5. Conclusão

A presente monografia de conclusão de curso visou descrever a ciência envolvida

na fonte de energia limpa e renovável denominada Heliotérmica ou CSP, focando no

modelo de torre em campo de heliostatos para captura do calor do Sol e a engenharia que

abrange princípios termelétricos para geração de eletricidade.

Com o desenvolvimento teórico conduzido em paralelo com o uso de um software

simulador, System Advisor Model (SAM), foi possível descrever as atuais tecnologias,

vantagens e dificuldades envolvidas na implantação destas usinas CSP. A variedade de

características físicas, químicas e termodinâmicas é evidenciada pelas alternativas

operacionais descobertas, desde as mais consolidadas até os protótipos emergentes de

pesquisas focadas em CSP pelo mundo.

O modelo simulado mostrou custos elevados (com LCOEs entre 380 e 610

R$/MWh, enquanto a energia eólica no país custa entre 150 e 180 R$/MWh, e a

hidrelétrica entre 75 e 135 R$/MWh) e eficiências intermediárias, sobretudo pela escolha

de se manter o projeto o mais ambientalmente compatível dentro das condições de

operação e produção favoráveis. Outros modelos de plantas CSP encontrados utilizam

recursos hídricos em demasia, confrontando a vantagem da planta heliotérmica de ser

construída em regiões quente e secas (senão desérticas em termos meteorológicos), ou

então usam sistemas de suporte de geração de calor pela queima de gás natural.

A conclusão tomada diante do que foi discutido é que o caminho para o uso cada

vez mais intenso de energias renováveis está sendo gradualmente facilitado, e que as

tecnologias intermediárias com o uso de ambos combustíveis finitos e recursos naturais

renováveis é uma etapa essencial desta transição. A viabilidade de utilização e as

oportunidades de investimento de plantas CST melhorarão continuamente enquanto tais

tecnologias continuarem a ser fomentadas por crescente aprendizado, pesquisas,

otimização de processos e recursos (no que concerne a desafios técnicos, legislativos e

econômicos), como tem acontecido com energias renováveis mais estabelecidas no Brasil,

caso da energia hidrelétrica e, mais recentemente, a eólica.

Estudos futuros nesta área têm a oportunidade de explorar mais os aspectos

quantitativos da tecnologia, bem como o prisma econômico e financeiro em maior

profundidade visando implementar mais projetos, em prática, no país. Um desenho de

projeto de uma planta CSP Torre Solar é deixado (Anexos I e J) como incentivo ao

interesse de engenheiros e cientistas que venham a ler este trabalho.

Page 54: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABENGOA, 2011. Abengoa Innovative Technology Solutions for Sustainability .

Disponível em: <http://www.abengoa.es>. Acesso em: set/2013.

AMBROSINI, A., LAMBERT, T. N., BENCOMO, M., HALL, A., VANEVERY, K.,

SIEGEL, N. P., HO, C.K. Improved high temperature solar absorbers for use in

concentrating solar power central receiver applications. Sandia National Laboratories.

5th International Conference on Energy Sustainability, ASME. 8 p. Washington, DC,

USA, August 2011. ES2011-54241

ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). Atlas da energia elétrica do Brasil. 3ª

edição. ANEEL. Brasilia. 2008. 236 p.

AZEVEDO, V. W. B., TIBA, C., CANDEIAS, A. L. B. Estudo de localização de

centrais termoelétricas solares de grande porte na região do semi-árido nordestino.

Avances en Energías Renovables y Medio Ambiente. Vol. 14, 2010, 8 p. Departamento de

Energia Nuclear (DEN). PE: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recife, 2010.

BALAGOPAL, B., PARANIKAS, P., ROSE, J. What’s Next for Alternative Energy?.

The Boston Consulting Group (BCG). Boston, 2010. Disponível em:

<http://www.bcg.pt/expertise_impact/Industries/Energia/PublicationDetails.aspx?id=tcm:

84-65669>. Acesso em: out/2013.

BALMER, R. T. Modern engineering thermodynamics. 1ª edição. Academic Press.

Elsevier: Burlington, MA, USA. 2011. 827 p. ISBN 978-0-12-374996-3.

BASSO, L. H. Utilização da energia solar em sistemas de aquecimento de água

residencial. 2008. 120 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) - Universidade

Cascavél, PR: UNIOESTE, 2008.

Page 55: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

44

BEN. Balanço energético brasileiro: relatório. 1ª edição. Rio de Janeiro: EPE, 2011. 267

p. Disponível em <https://ben.epe.gov.br/downloads/Relatorio_Final_BEN_2011.pdf>.

Acesso em: set/2013.

CARDEMIL, J. M., COLLE, S. A base de dados swera como suporte para

análises tecno-econômicas de plantas termo-solares. PA: III Congresso Brasileiro de

Energia Solar. Belém, 2010.

CHEN, C. J. Physics of Solar Energy. 1ª edição. Hoboken, New Jersey: John Wiley &

Sons, Inc. USA. 2011. 373 p.

CTGAS-ER, 2012. Avaliação da geração elétrica a partir de energia solar térmica

utilizando tecnologia de torre central. Reportagem em website.

<http://www.ctgas.com.br/index.php/servicos-tecnologicos-e-inovacao/pesquisa-

desenvolvimento-e-inovacao/projetos-em-andamento/130-avaliacao-da-geracao-eletrica-a-

partir-de-energia-solar-termica-utilizando-tecnologia-de-torre-central>. Acesso em:

set/2013.

EERE. Solar energy technologies program: concentrating solar power fact sheet.

National Renewable Energy Laboratory (NREL). USA: Energy Efficiency & Renewable

Energy (EERE). DOE/GO-102010-2965, 2010.

EERE. EnergyPlus Energy Simulation Software Database, desenvolvido por Energy

Efficiency & Renewable Energy (EERE). 2012. Banco de dados utilizado disponível em <

http://apps1.eere.energy.gov/buildings/energyplus/cfm/weather_data3.cfm/region=3_south

_america_wmo_region_3/country=BRA/cname=Brazil#instructions>. Acesso em:

out/2013.

EPE (Empresa de Pesquisa Energética). Análise da inserção da geração solar na matriz

elétrica brasileira: nota técnica. Rio de Janeiro: Ministério de Minas e Energia. Maio de

2012. 64 p.

FROTA, A. B., SCHIFFER, S. R. Manual de conforto térmico. São Paulo: Studio Nobel,

2003. 243 p.

Page 56: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

45

GARIMELLA, S.V., FLUECKIGER, S.M., YANG, Z. Thermomechanical Simulation of

the Solar One Thermocline Storage Tank. Journal of Solar Energy Engineering, ASME,

v. 134, 6 p., Novembro/2012.

GEMASOLAR, Gemasolar: connected to the sun : folheto. 2011. 25 p. Torresol Energy.

Disponível em

<www.torresolenergy.com/EPORTAL_DOCS/GENERAL/SENERV2/DOC-

cw4e88b3bb57c8f/folleto-gemasolar.pdf>. Acesso em: set/2013.

GILL, D. D., SIEGEL, N. P., BRADSHAW, R. W., HO, C. K., Design, fabrication and

testing of an apparatus for material compatibility testing in nitrate salts at

temperatures up to 700 °C. Sandia National Laboratories. 5th International Conference

on Energy Sustainability, ASME. 6 p. Washington, DC, USA, August 2011. ES2011-

54250

GREENPRO. Energia Solar Térmica: manual sobre tecnologias, projecto e instalação.

volume 1 de 3. Lisboa. 2004.

GUIMARÃES, A. P. C., et. al. Caracterização de localidades do semi-árido para

implantação de um sistema piloto heliotérmico de geração elétrica. PA: III Congresso

Brasileiro de Energia Solar. Belém, 2010.

IEA. Energy Balances of Non-OECD Countries. International Energy Agency, Paris,

França, 2010.

IEA. Projected Costs of Generating Electricity. International Energy Agency. Paris,

França. 2010a. Disponível em: <

http://www.worldenergyoutlook.org/media/weowebsite/energymodel/ProjectedCostsofGen

eratingElectricity2010.pdf >. Acesso em: set/2013.

IEA/SolarPACES. START Mission to Brazil: relatório. 1ª edição. Albuquerque: Sandia

National Laboratories. New Mexico, EUA, 1998. 91 p.

Page 57: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

46

IRENA. Wind Power. Renewable energy technologies: cost analysis series. Vol. 1.

Issue 5/5. Abu Dhabi: International Renewable Energy Agency (IRENA). Emirados

Árabes Unidos. 64 p. Junho/2012.

IT Power. Realising the potential of concentrating solar power in Australia : relatório.

1ª edição. Newcastle: Australian Solar Institute (ASI). NSW, Australia. 2012. 273 p.

IUDÍCIBUS, S. de, et. al. Contabilidade Introdutória . 11ª edição. ATLAS. SP:

FEA/USP. São Paulo, Brasil. 2011.

KALOGIROU, S. A. Solar energy engineering: processes and systems. 1ª edição.

Academic Press. Elsevier. EUA, 2009. 756 p.

KOLB, G. J., HO, C.K., MANCINI, T.R., GARY, J.A. Power Tower Technology

Roadmap and Cost Reduction Plan: relatório. 1ª edição. Albuquerque: Sandia National

Laboratories. New Mexico, EUA. Abril de 2011. 38 p. Disponível em <

http://prod.sandia.gov/techlib/access-control.cgi/2011/112419.pdf>. Acesso em: set/2013.

LODI, C. Perspectivas para a Geração de Energia Elétrica no Brasil Utilizando a

Tecnologia Solar Térmica Concentrada. 2011. 142 p. Dissertação (Mestrado em Ciência

em Planejamento Energético) - Universidade Federal do Rio de Janeiro,

PPE/COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 2011.

MALAGUETA, D. C. Geração heliotérmica: princípios e tecnologias. CRESESB. Rio

de Janeiro: Eletrobras, 2012. 43 p.

MELO, J. Petrolina terá primeira usina de energia heliotérmica da américa latina.

Reportagem em website

<http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/noticias/2013/04/26/petrolina_tera_primeir

a_usina_de_energia_heliotermica_da_america_latina_150240.php>. Acesso em: out/2013

MINISTERIO DE CIENCIA E INNOVACIÓN, 2011. La Plataforma Solar de Almería

(PSA), Gobierno de España. Disponível em: <http://www.psa.es/webesp/index.php>.

Acesso em: set/2013.

Page 58: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

47

NREL. System Advisor Model (SAM): Version 2013.9.20. National Renewable Energy

Laboratory. NREL, 2013. Software disponível para download em: <https://sam.nrel.org>.

Guia de usuário disponível em: <https://www.nrel.gov/analysis/sam/help/html-php/>.

Acesso em: out/2013.

NREL. System Advisor Model (SAM) Case Study: Gemasolar. National Renewable

Energy Laboratory. NREL, 2013a. Estudo de caso disponível em: <

https://sam.nrel.gov/files/content/case_studies/sam_case_csp_salt_tower_gemasolar_2013-

1-15.pdf>. Acesso em: out/2013.

NYQVIST, J., WILLIAMS, J. The design challenges of stop-start turbines for the CSP

industry . Reportagem em website. Disponível em

<http://social.csptoday.com/printpdf/29606>. Acesso em out/2013.

PATEL, M. R. Wind and solar power systems: desing, analysis, and operation. 2ª

edição. CRC Press. Taylor & Francis Group: Boca Raton, Florida, USA. 2006. 473 p.

PEREIRA, E. B. & LIMA, J. H. Solar and wind energy: resource assessment. São José

dos Campos: INPE, 2008.

PEREIRA, P. T. S. Energia solar térmica: perspectivas do presente e futuro. 2010. 115 p.

Dissertação (Mestrado Integrado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores) -

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2010.

PHILIBERT, C., FRANKL, P., DOBROTKOVA, Z.. Technology roadmap:

Concentrating Solar Power. International Energy Agency (IEA), 2010. Disponível

em: <http://www.iea.org/papers/2010/csp_roadmap.pdf>. Acesso em: set/2013.

RAADE, J.W., PADOWITZ, D. Development of molten salt heat transfer fluid with

low melting point and high thermal stability. Journal of Solar Energy Engineering,

ASME, v. 133, 6 p., Agosto/2011.

Page 59: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

48

RAGHEB, M. Energy storage systems: Historical perspective. University of Illinois at

Urbana-champaign, EUA, 2011. Disponível em :

<https://netfiles.uiuc.edu/mragheb/www/NPRE%20498ES%20Energy%20Storage%20S

ystems/Historical%20Perspective.pdf>. Acesso em: set/2013.

RICHTER, C., TESKE, S., SHORT, R. Concentrating Solar Power – Global Outlook

2009: Why Renewable Energy is Hot. Greenpeace International. Amsterdam, 2009.

Disponível em:

<www.greenpeace.org/raw/content/international/press/reports/concentrating-solarpower-

2009.pdf>. Acesso em: set/2013.

STALEY, B. C., et. al. Juice from concentrate: reducing emissions with concentrated

solar power. World Resources Institute. 2009. 64 p. Disponível em:

<http://pdf.wri.org/juice_from_concentrate.pdf>. Acesso em: set/2013.

TURCHI, C. Parabolic Trough Reference Plant for Cost Modeling with the Solar

Advisor Model (SAM). National Renewable Energy Laboratory. New Mexico, EUA,

2010. Disponível em: <http://www.nrel.gov/docs/fy10osti/47605.pdf>. Acesso em

out/2013.

TURCHI, C., HEATH, G. Molten Salt Power Tower Cost Model for the System

Advisor Model: relatório. NREL/TP-5500-57625. National Renewable Energy

Laboratory. NREL: Colorado, EUA, 2013. Disponível em

<http://www.nrel.gov/docs/fy13osti/57625.pdf>. Acesso em: set/2013.

Page 60: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

49

Anexo A - Escolha da configuração de projeto no SAM. Fonte: NREL, 2013. Adaptado pelo autor.

Page 61: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

50

Anexo B - Algumas das variáveis meteorológicas de Petrolina, PE, explicitadas no SAM. Fonte: NREL, 2013. Adaptado pelo autor.

Page 62: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

51

Anexo C - Etapa "Campo de Heliostatos" no SAM. Destaque para o Optimization Wizard (direita) e o diagrama de distribuição de heliostatos no campo solar. Fonte: NREL, 2013.

Adaptado pelo autor.

Page 63: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

52

Anexo D - Etapa "Torre e Recebedor" no SAM. Destaque para as dimensões otimizadas e

o HTF selecionado. Fonte: NREL, 2013. Adaptado pelo autor.

Page 64: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

53

Anexo E - Etapa "Ciclo de Potência" no SAM. Planta projetada para geração de 20 MWe. Fonte: NREL, 2013. Adaptado pelo autor.

Page 65: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

54

Anexo F - Etapa "Armazenamento Térmico" no SAM. TES Duplo Tanque e Uniformizado. Fonte: NREL, 2013. Adaptado pelo autor.

Page 66: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

55

Anexo G - Etapas agregadas de perdas e desgastes, no SAM. Fonte: NREL, 2013. Adaptado pelo autor.

Page 67: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

56

Anexo H - Etapas agregadas de Aspectos Econômicos no SAM. Destaque aos valores nas linhas à esquerda. Fonte: NREL, 2013. Adaptado pelo autor.

Page 68: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

57

Anexo I - Fluxograma de Engenharia: Projeto NREL t. 8, I/II. Fonte: Turchi e Heath

(2013). Adaptado pelo autor.

Page 69: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13018.pdf · Tabela 2 - Características de desempenho demonstrado por plantas

58

Anexo J - Fluxograma de Engenharia: Projeto NREL t. 8, II/II. Fonte: Turchi e Heath

(2013). Adaptado pelo autor.