trotskismo x leninismo - parte v - guerra civil espanhola

Upload: charles-engels

Post on 07-Apr-2018

224 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    1/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 1

    Trotskismo X Leninismo

    Lies da Histria

    Harpal BrarTraduo Pedro Castro

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    2/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 2

    Parte V

    A Guerra Civil Espanhola

    Captulo 16O Pano de Fundo da Guerra Civil Espanhola......................................................................................................03

    Captulo 17A Formao da Frente Popular e o Curso da Guerra...........................................................................................15

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    3/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 3

    Parte V

    A Guerra Civil Espanhola

    "Os trabalhadores da Unio Sovitica somente cumpriro seu dever quando

    prestarem ajuda s massas revolucionrias espanholas. Eles esto conscientes de

    que libertar a Espanha da perseguio dos reacionrios fascistas no uma causa

    privada dos espanhis, mas uma causa universal de toda a humanidade avanada e

    progressista.'

    Stalin

    Captulo 16 O Pano de Fundo da Guerra Civil Espanhola

    Condio dos operrios e camponeses espanhis

    Por cerca de dois sculos o povo espanhol tinha se debatido contra o domnio dolatifundismo feudal, visando trazer a Espanha para o mundo moderno mas, de umaforma ou de outra, os senhores feudais tinham sido capazes de retardar o surgimentoda burguesia, o desenvolvimento do capitalismo e da o desenvolvimento da classeoperria. Desse modo, a economia espanhola ficou cada vez mais atrasada em relaoao mundo moderno e permaneceu cada vez mais desamparada frente competiodos pases onde a revoluo burguesa tinha sido completada. Como resultado, acondio deteriorada do povo espanhol estabilizou-se relativa e absolutamente. Assimfoi que Frank Jellinek descreveu a situao em 1930:

    "A Espanha um pas de fome: principalmente da pura fome fsica, mas tambm dafome por terra.

    Uma populao da qual aproximadamente 70% vive quase sem qualquer posse daterra. 65% da populao detm 6,3% da terra, enquanto 4% da populao detm60%...

    ...O Duque de Medinaceli era proprietrio de 79.146 hectares, dois e meio milhes decamponeses galicianos eram proprietrios de 2,9 milhes"(p. 33).

    "Nessa terra, que os mouros consideravam o paraso na Terra e trataram com omximo cuidado ... o total de superfcie cultivada de 22 milhes de hectares, e o deno cultivada, 24 milhes...

    As causas desse monstruoso domnio podem ser encontradas na histria poltica eeconmica das classes dominantes espanholas. O desflorestamento, a converso da

    terra arvel em estepe e de solo agricultvel em campos de pasto extenses fechadas,latifundismo absentesta e a falta de um mercado interno forte devido aos salrios

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    4/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 4

    incrivelmente baixos, a luta primeiro entre os interesses agrcolas e dos criadores degado, depois entre o agrarismo e a indstria, combinaram -se para arruinar o pas"(ibid. p. 34).

    Nos anos 1930, a questo da revoluo burguesa espanhola era prioridade quase

    universal para o povo espanhol, porm tinha poderosos inimigos. Os primeiros,certamente, eram os grandes e poderosos aristocratas proprietrios de terra, entre osquais se inclua a Igreja Catlica - especialmente os jesutas. A aristocracia podiaassegurar qualquer resultado de eleies que desejasse, por meio do poder quemantinha sobre o campesinato (influncia que era conhecida como caciquismo) epodia, portanto, assegurar o firme controle da mquina do Estado, e a Igrejacontrolava virtualmente toda a educao das crianas e exercia uma influnciaideolgica poderosa sobre o povo espanhol.

    "A luta entre a agropecuria e as indstrias de ao e txteis teve profundos efeitos

    sociais e polticos. Um decrscimo nos preos da agricultura e uma elevao desalrios favoreceria a indstria, por fortalecer o mercado interno.Simultaneamente, fortaleceria os movimentos pequeno-burgueses e proletrios quesurgiam dentro do impulso industrial rumo ao poder e usavam as vitrias da grandeburguesia para abrir para si prprios novas possibilidades de expanso. Assim, eranecessrio para os senhores feudais manterem o pas to empobrecido quanto

    possvel, e nisso eles foram inteiramente vitoriosos" (ibid. p. 35).

    "Com o controle quase inteiro da poltica espanhola, os agricultores podiam enfrentar aameaa da indstria quase to facilmente como tinham esmagado o comrcio no

    sculo XVI" (ibid. p. 36).

    Vrios pases mpenalistas estrangeiros tinham adquirido participao emempreendimentos espanhis, tais como a minerao, e at mesmo no servio nacionalde telefones, e tinham muito interesse em manter a Espanha em estado relativamenteatrasado, de tal forma que no fossem ameaados seus investimentos. Frank Jellinekassinala (p. 278):

    "O desenvolvimento da indstria espanhola nativa deve necessariamente ter produzidono somente competio com os interesses estrangeiros, mas tambm, como sequeixou repetidamente a seus acionistas o Conselho de Administrao da Rio Tinto(uma companhia inglesa), uma atmosfera revolucionria. Era essencial, portanto,entender que a mais-valia seria neutralizada pela exportao de capital."

    Basta dizer que era exatamente o que acontecia.

    Para aqueles que desesperadamente almejavam o progresso - antes de tudo a classeoperria e as massas camponesas, que pagavam a conta em termos do atraso epobreza da Espanha caractersticos de suas vidas cotidianas, mas tambm oselementos mais enrgicos e audaciosos da burguesia e pequena burguesia nacional,especialmente aqueles concentrados nas regies desenvolvidas industrialmente do

    Pas Basco e da Catalunha - parecia haver pouca esperana de se libertar daqueles

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    5/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 5

    grilhes de ferro. Muitos tinham tentado e fracassaram. Mas, no incio do sculo XX,finalmente comearam a aparecer alguns sinais de que as coisas poderiam mudar.

    Claramente, os operrios e camponeses espanhis no podiam seno lutar contraaqueles que eles sabiam serem responsveis pela dureza de suas vidas. A burguesia

    nacional espanhola, de maneira tipicamente indecisa, tambm procurava criar ascondies para o seu prprio desenvolvimento maior. Ideologicamente, contudo, atos anos 1930, a classe operria era numericamente dbil e tendia a absorver conceitosanarquistas pequeno-burgueses que eram ento prevalecentes na Espanha, comodescrito e explicado por Engels, em Os Bakuninistas em Ao. Nos anos 1920 e 1930,entretanto, sob a influncia do movimento comunista mundial, cujo impacto fora toacentuado pela Revoluo de Outubro da Unio Sovitica, a classe operria espanholacomeou de maneira modesta a desenvolver seu partido da classe operriaindependente e sua linha de classe operria independente. A partir desses modestoscomeos, o comunismo espanhol, poca da ecloso da Guerra Civil Espanhola, tinha

    se tornado uma fora a ser levada em conta e durante toda a guerra, seu poderiocresceu at tornar-se a fora dominante na poltica republicana. Da o crescimento e oamadurecimento poltico da classe operria espanhola ter-se tornado um impulsoimportante pela mudana social.

    Captulo 16 - O Pano de Fundo da Guerra Civil Espanhola

    Na mesma poca, a decadncia econmica sem esperanas e a corrupo ia sociedadeespanhola asseguravam que a classe operria tivesse recebido uma boa escola para arevoluo, como est claro na seguinte descrio de Raymond Carr da situao

    posterior Primeira Guerra Mundial:

    "Enquanto a Segunda Guerra Mundial implicava uma privao que encobria os defeitosna estrutura social em meio a uma misria comum, a guerra de 1914-1918 produziuuma prosperidade que os exps. Como potncia neutra a Espanha, de 1915 a 1918,experimentou um boom de lucros e uma espetacular subida de preos. As fbricas daCatalunha (txteis) supriam os soldados franceses. o desaparecimento do carvo galsbarato estimulava uma atividade efervescente aos campos de carvo asturianos...

    Certamente muito desta atividade representava mais lucros rpidos do que umaexpanso sadia... O segredo real da prosperidade do tempo de guerra da Espanha eraa reverso dos termos de comrcio de produtos primrios e a alta dos preosque seus txteis podiam impor... refletia-se, portanto, no preo em pesetas mais do queem uma exploso industrial. Essas condies tornaram possvel uma repatriao dodbito nacional e ferrovirio e favoreceu o crescimento do poder dos grandes bancos.

    O boom da guerra e a elevao drstica dos preos tumultuaram todas as relaestrabalhistas. Os salrios subiram rapidamente, especialmente nas minas asturianas eentre os operrios especializados na Catalunha e no Norte industrial, mas algunsoperrios no experimentaram ganhos em salrios reais ... e isso numa poca em queos empregadores, supunha-se, estavam fazendo vastos lucros especulativos'. Essas

    condies favoreceram um rpido crescimento do trabalho organizado, no momento

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    6/39

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    7/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 7

    1930, o general foi forado a renunciar. Ele morreu em Paris mais tarde, naquele ano.

    Sua renncia veio tarde demais para salvar a monarquia, que seguiu Primo Rivera parao exlio quinze meses mais tarde, em abril de 1931. Foi aps as eleies municipais de12 de abril, que mostraram que o povo estava completamente hostil monarquia, por

    causa de seu apoio ditadura militar. As classes dirigentes viram o sacrifcio damonarquia como a nica forma de ganhar tempo para tentar dissipar ou desviar ahostilidade das massas para com o edifcio feudal em runas.

    A Repblica

    As massas estavam nesta poca tendo sua ateno desviada. De fato, elas estavameufricas. Ento, uma eleio geral plena foi realizada em 28 de junho de

    1931, que confirmou os resultados das eleies municipais de abril: 117 socialistas, 93radicais, 59 socialistas radicais republicanos, 27 da Ao Republicana, 27 republicanosde direita, 33 nacionalistas catales, 16 nacionalistas galicianos e outros 28antimonarquistas. Os monarquistas s conseguiram obter ao todo 85 assentos. Mas, adespeito do fato de que o governo passou a ser composto, como resultado dessaseleies, de elementos relativamente progressistas, ele se mostrou muitoincompetente quando se tratava de fazer alguma mudana fundamental na naturezade classes do Estado espanhol.

    David Mitchell escreve que, depois que o primeiro-ministro Alcal Zamora foisubstitudo por Manuel Azana em outubro de 1931, "este foi declarado um inimigodo militarismo e da Igreja. Ao se concentrar nesses dois acontecimentos e fazerapenas esforos tmidos para enfrentar o problema mais urgente - a reforma agrriaa mal-formada coalizo s conseguiu nos dois anos seguintes exasperar quase todasas faces. Talvez apenas os nacionalistas catales, que ganharam autonomiaem setembro de 1932, estivessem satisfeitos com sua performance"(p. 36). Embora oque Mitchell disse sobre a reforma agrria fosse verdade e tenha sido a razo pela qualas massas eventualmente se tornaram desiludidas - e certamente foi assim - com seugoverno, era tambm verdade que este tomou uma srie de medidas progressistas,que puseram em pnico as classes dirigentes reacionrias: ele retirou da Igreja catlicaseu status de religio oficial e produziu uma Constituio que, entre outras coisas,proclamava liberdade total da religio, foram concedidos direitos s mulheres - emparticular o direito de voto, porm tambm o direito ao divrcio. Ironicamente, aconcesso do voto mulher foi parcialmente responsvel pela eventual queda deAzaa, quando muitas mulheres na Espanha como se esperaria em uma sociedadefeudal) tinham sido mantidas politicamente muito atrasadas e foram, no devidotempo, dedicar seus novos votos ganhos a favor de candidatos aprovados por seusPadres Confessores e respeitveis Senhoras do Lar.

    Pensando em salvar a Espanha da "ditadura anticlerical" de Azaa, o General Sanjurjo

    chefiou um golpe para derrubar o governo. O atentado em agosto de 1932,entretanto, foi facilmente sufocado, pois na poca as classes dirigentes sabiam que

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    8/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 8

    seria um suicdio apoi-lo. Elas queriam dar mais corda aos republicanos pequeno-burgueses para se enforcarem, de tal modo que nas eleies futuras as massasvoltassem a votar como seus senhores lhes indicavam pois de cometerem a loucura deexercer sua independncia. Assim, os dirigentes da insurreio de Sanjurjo, inclusiveeste, foram presos e atirados em jaulas bastante te confortveis.

    Em alguma medida, a estratgia da classe dirigente teve sucesso. O principal problemacom Azaa era que ele no tinha programa econmico digno do nome salvo algumasreformas agrrias muito brandas, que a ningum satisfizeram. O desemprego seelevava medida que o mundo capitalista mergulhava na crise econmica dos anos1930 e, naturalmente, tambm crescia a ira das massas.

    "Aps uma srie de levantes camponeses e greves industriais, um governo assustado foi forado a chamaro Exrcito, a Guarda Civil e uma foraparamilitar republicanarecentemente criada,os Guardas de Assalto, para manteruma aparncia de ordem.

    Ironicamente, a Espanha tornou-se um Estadopolicialmais do que tinha sido sob Primode Rivera"(ibid. p. 16).

    Da o controle do Exrcito sobre o governo foi consolidado, enquanto o prpriogoverno, inevitavelmente, cindia-se, quando as minorias se recusavam a se curvar presso de seus apoiadores. "Quando camponeses rebeldeseram fuzilados, enquantorebeldes militares como Sanjurjo eram simplesmenteexilados oupresos em condiesconfortveis, as piores suspeitas da FAl[anarquistas] se confirmaram; e sob a pressode seus apoiadores, Largo Caballerocomeou a redirecionar o partido socialista ea UGT de um reformismo moderadopara uma posio mais revolucionria" (ibid. p. 16-

    17).

    Nesse meio tempo, a Falange fascista (fundada por Jose Antonio Primo de Rivera, umfilho do antigo ditador militar) e a ala da extrema direita da CEDA1 organizaram-se como propsito de tirar proveito dos operrios descontentes com as organizaesoperrias tradicionais. Esses descontentes conseguiram levar uma considervelabsteno por parte dos operrios nas eleies havidas em 1933. O resultado foi que opartido que ganhou o maior nmero de cadeiras foi a CEDA. As classes dirigentes aindasabiam que seria um problema deixar que a CEDA subisse ao poder, de forma que nose permitiu que a organizao fosse de imediato admitida no governo. De fato, o

    governo era formado pelo oportunista Partido Radical, dirigido pelo arqui-oportunistaAlejandro Lerroux. Foi, entretanto, a CEDA, segurando o equilbrio do poder, queapelou para os tiros. Mitchell continua:

    "Embora fosse o maior partido nas Cortes, a CEDA no tinha maioria absoluta. Mas,sob a presso de seus deputados, o governo, chefiado por Alejandro Lerroux, repetiu ouignorou a legislao 'subversiva' de seu predecessor. As propriedades da nobreza lhes

    foram devolvidas, os camponeses expropriados, os salrios cortados. Todos osenvolvidos no levante de Sanjurjo foram anistiados...

    Em fevereiro de 1934, Largo Caballero estava dizendo que 'a nica esperana das

    massas agora est na revoluo social. S ela pode salvar a Espanha do fascismo'"(p.21).

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    9/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 9

    Outros aspectos do regime de Lerroux que enfureceram os operrios e camponesesforam:

    1. uma marcada melhoria de relaes entre o Estado e a hierarquia da Igreja. O regimede Lerroux no se atreveu a chegar ao ponto de permitir que os Jesutas voltassem

    para retomar sua velha tirania ideolgica e financeira, mas muitas das reformasdesestabilizadoras da Constituio foram atenuadas, e os esforos para substituir aeducao da Igreja pela educao secular foram abandonados;

    2. a indicao para o alto comando militar de um grande nmero de monarquistas;

    3. a revogao da autonomia da Catalunha em outubro de 1934 e a suspenso dosplanos de dar autonomia Galcia e ao Pas Basco;

    4. a anistia dada em abril de 1934 ao monarquista ex-membro do governo de Primo de

    Rivera, Calvo Sotelo, permitindo-lhe voltar Espanha, e em geral, as relaes deamizade que existiam entre o governo e os dirigentes militares e polticos anti-republicanos.

    Durante todo esse tempo a CEDA estava exigindo entrar no governo, mas insistia emfazer isso sem prometer apoio Repblica. Para levar o assunto at o mximo, a CEDAconvocou uma Conferncia dos partidos da ala direita da cidade completamenteproletria de Covadonga, no corao da regio de minerao das Astrias, para discutirsuas reivindicaes. Isso era equivalente, em termos de provocao, Frente Nacionalpromover um encontro em Southall. Foi insultuoso e deu origem a manifestaes

    durante o setembro de 1934. A I

    o

    de outubro, quando o Parlamento retornava, a CEDAvotou contra o governo, sob o argumento de que o governo foi derrotado e tinha derenunciar.

    O Presidente da Repblica procurou Lerroux a 4 de outubro para formar um novogoverno, que inclusse 3 pessoas da CEDA em ministrios-chave. Ele fez isso e assim oCEDA obteve o Ministrio do Trabalho, o Ministrio da Justia e o Ministrio daAgricultura.

    Astrias

    Prevendo o tipo de tratamento que poderiam esperar se aqueles fascistascontinuassem no governo e recordando as experincias da classe operria asturianasob Dollfuss, a resposta imediata dos operrios espanhis foi irem greve. O sindicatodominado pelos comunistas e socialistas, a UGT, convocou uma greve geral para 5 deoutubro, e Lerroux declarou um estado de guerra!

    Por vrias razes, o movimento grevista s ocorreu de fato significativamente emAstrias. Em outros lugares, os operrios foram exauridos pela greve ou aram incertos

    do que fazer, por causa da falta de entusiasmo para a luta demonstrada por'dirigentes' como o socialista Largo Caballero e certos anarquistas. Mas em Astrias, a

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    10/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 10

    CNT, o sindicato dominado pelos anarquistas, e a UGT uniram-se sob o nome de Uniodos Irmos Proletrios. Os operrios da slida classe operria das cidades asturianasestiveram unidos e determinados. No satisfeitos em irem greve, os operriosassumiram o controle da rea por vrios dias, para forarem o governo a concedersuas reivindicaes. Em seguida, o governo mobilizou o general Franco e suas tropas

    motorizadas para abafarem a rebelio. Com o colapso, no resto da Espanha, domovimento da greve geral, a derrota da rebelio asturiana era inevitvel.

    Os piores medos dos operrios, acerca da brutalidade de um governo dominado pelaCEDA, estavam prximos a se confirmar. Realmente, mesmo na Espanha, onde aselvageria sanguinria na represso dos trabalhadores e camponeses era uma norma,o tratamento dos operrios asturianos pelo governo Lerroux-CEDA foi inesperado noseu grau de horror. David Mitchell escreve:

    "De cerca de 2.000 mortos ou feridos antes da rendio de 19 de outubro, todos menos

    dez por cento eram rebeldes: quase tantos outros rebeldes foram mortos na repressosem piedade que se seguiu. Manuel Montequin recorda que 'em alguns lugares,mouros, legionrios e guardas civis no pouparam sequer cachorros, ces, leites ouvacas. Eles massacravam tudo que viam. Eu vi com meus prprios olhos quando luteina aldeia de Villafria. Eles cortavam at as cabeas das bonecas das crianas"(p. 24).

    Trinta mil operrios asturianos foram feitos prisioneiros e tiveram de ser confinadosem campos de concentrao, porque no havia mais lugar nas prises.

    Por mais horrveis que tenham sido esses acontecimentos, preciso entender que eles

    lanaram a base para o crescimento da fora do movimento da classe operria. Elesfortaleceram a classe operria:

    "O uso das tropas marroquinas e os horrores da represso foraram a esquerda, muitodividida, a se voltar para a solidariedade como nada mais poderia ter feito ... Oscomunistas, que tinham advogado continuar a luta sem esperana (entre eles DoloresIbarruri, esposa de um mineiro asturiano, mais tarde conhecida como LaPasionaria [flor da paixo], colheram a recompensa numa onda de popularidade e

    filiaes"(p. 24).

    Jos Daz, o Secretrio Geral do Partido Comunista Espanhol, em um discurso feito a 2de junho de 1935 sobre a importncia da rebelio de Astrias, falou em nome domovimento da classe operria quando disse:

    "Vocs todos sabem o que aconteceu em outubro. Vocs sabem que ns crescemos emtodo o pas; que os operrios espanhis, operrios catales, bascos, galicianos, emresumo, operrios de toda a Espanha tomaram as ruas para sustar o avano do

    fascismo por meio de uma greve geral e de uma luta insurrecional. E vocs tambmsabem que as massas lutaram com admirvel coragem para derrotar a grandeburguesia e os senhores de terra e seu governo reacionrio e fascista e tambm a fimde tomar o poder. Esse ultimo objetivo foi alcanado apenas em

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    11/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 11

    Astrias. Em Astrias foi alcanado graas ao posicionamento herico do proletariado.Em Astrias foi alcanado porque eles souberam como marchar em unidade e comoconquistar armas. A bandeira do poder dos operrios e dos camponeses tremuloutriunfantemente em Astrias por 15 dias. As Alianas dos Operrios e Camponesestomaram o poder atravs da luta armada. Essa ao gloriosa dos camaradas

    asturianos viver para sempre na memria de todo o povo explorado. Alm disso,devemos no esquecer que ali nossos irmos e irms, nossos heris, lutaram emunidade e foi por isso que eles triunfaram: comunistas, socialistas e anarquistaslutaram como um s, ombro a ombro. Por esta mesma razo, se queremos triunfar no

    pas como um todo, essencial que a Frente nica seja uma realidade, que a unidadena ao seja imposta, que as Alianas dos Operrios e Camponeses sejam criadas edesenvolvidas em toda parte do pas, de tal modo que elas possam dirigir a luta dasvastas massas para esmagar a reao e o fascismo. Se fizermos isso, digo-lhes que noestaremos longe de ver este governo, Gil Robles e todos aqueles que o defendem,correrem, fugirem, justamente como o fizeram ignominiosamente a burguesia e os

    guardas civis de Astrias, quando se defrontaram com as fileiras cerradas e o poderioarmado dos mineiros e operrios de Astrias"(p. 11-12).

    De Astrias para a vitria nas eleies de fevereiro de 1936

    Astrias forou muitos dos principais partidos pequeno-burgueses a participarem daFrente Popular promovida pelos comunistas. Tornou-se claro para todos que nohaveria democracia sem uma frente popular. Isso foi finalmente acordado entre os

    republicanos, os comunistas e os socialistas, em 15 de janeiro de 1936. Asreivindicaes propostas ao eleitorado eram:

    1. Anistia para todos aqueles condenados por crimes polticos aps novembro de 1933;

    2. Reintegrao dos empregados do governo que tinham perdido seus cargos pormotivos polticos;

    3. Compensao para as famlias dos membros das foras revolucionrias e do governoque foram mortos;

    4. Restaurao da soberania da Constituio;

    5. Implementao da Constituio;

    6. Melhoria da segurana pblica;

    7. Reorganizao da justia criminal;

    8. Redistribuio de responsabilidades dentro do exrcito e da polcia e reviso dasregras disciplinares;

    9. Menos impostos e mais crdito para os camponeses;

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    12/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 12

    10. Adoo de polticas para conter a depresso econmica na indstria;

    11. Adoo de um programa de obras pblicas;

    12. O Banco e o Tesouro sero colocados a servio da reconstruo nacional;

    13. Aperfeioamento da legislao social, incluindo a fixao de um salrio mnimo;

    14. Maior investimento no ensino laico.

    A frente popular diferia das frentes nicas dos anos 1920 porque a primeira inclua ospartidos social-democratas, ao contrrio da ltima. Por isso, os programas tinham deser amplos o suficiente para serem aceitos pelos partidos social-democratas, o quelevou a acusaes dos trotskistas e outros de que os programas eram burgueses. Masa razo para incluir os partidos social-democratas nas frentes populares tinha sido bem

    explicada por Campbell:

    "As lies da revoluo de 1917, e do perodo revolucionrio subseqente na Europa, pertencem ao capital bsico da classe operria, e negligenci-las cometer suicdiopoltico. Mas aquelas lies no podem ser aplicadas nos presentes dias, a menos quese levem em conta as diferenas da situao de hoje quando comparada com aquelade 1917-20..."(p. 316).

    "Em 1917-20, o capitalismo estava defendendo a democracia parlamentar contra oimpulso da revoluo socialista, procurando estabelecer a democracia sovitica. Hoje,

    o capitalismo, para manter-se. est buscando subverter e destruir a democraciaparlamentar e dissolver os rgos da classe operria. Defender a democracia em 1917-20 era defender o capitalismo contra a revoluo."

    A anlise de J. R. Campbell desse perodo no original, mas coincide com a linha domovimento comunista internacional, expressa pelo camarada Stalin, em 1930, em ODesvio Direitista no PCUS(B). onde ele ressaltou "a tarefa de intensificar a luta contra ademocracia social e. acima de tudo, a ala 'esquerdista', por ser suporte docapitalismo". E, outra vez. em seu Relatrio do Comit Central ao XVI Congresso doPCUS(B), Stalin disse:

    "Ao desenvolver uma luta sem trguas contra a Social-Democracia, que agncia docapital na classe operria, e ao reduzir a poeira todo e qualquer desvios do leninismo,que s podem favorecer a Social Democracia, os partidos comunistas tm mostradoestar no caminho certo. Eles devem definitivamente fortalecer-se nesse caminho; poissomente se o fizerem podero contar com a vitria para a maioria ia classe operria e

    preparar com sucesso o proletariado para as futuras batalhas de classes. Somente seeles fizerem isso poderemos contar com um aumento maiorno prestgio daInternacional Comunista

    Porm, em 1934, em muitos casos a questo no era preparar o proletariado para as

    batalhas que viriam. Era o caso de organizar o proletariado para ganhar as batalhasque a burguesia j estava lhe impondo. Por isso que Campbell continuava a dizer

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    13/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 13

    que: "Defender a democracia em 1938 frustrar o ataque capitalista classe operriae o ponto de partida de qualquer avano da classe operria para o poder" (bid. p.318).

    Outra vez, sua anlise estava na linha daquela do camarada Stalin e do movimento

    comunista internacional, como mostra o relatrio do camarada Stalin ao 17 Congressodo Partido, em 1934, onde ele assinalou:

    "As massas do povo no alcanaram ainda o estgio em que esto prontas para atacaro capital, porm a idia do ataque est amadurecendo nas mentes das massas - dissodificilmente pode haver alguma dvida. Isso testemunhado eloqentemente pelos

    fatos, como, digamos, a revoluo espanhola que derrubou o regime fascista ...

    Isso, de fato, explica por que as classes dirigentes nos pases capitalistas esto tozelosamente destruindo ou anulando os ltimos vestgios do parlamentarismo e da

    democracia burguesa, que poderiam ser usados pela classe operria em sua luta contraos opressores ...

    Neste contexto, a vitria do fascismo na Alemanha deve ser considerada no somentecomo um sintoma do enfraquecimento da classe operria e um resultado da traio daclasse operria pela Social-Democracia, que abriu caminho para o fascismo; devetambm ser considerada como um sinal da fraqueza da burguesia, um sinal de que aburguesia no est indo muito longe em sua capacidade de orientar-se pelos velhosmtodos do parlamento e da democracia burguesa e, em conseqncia, estcompelida ... a recorrer aos mtodos terroristas de domnio"(p. 299-300).

    Foi por isso que, em agosto de 1935, o 7o Congresso da Internacional Comunistaresolveu:

    "Sob as condies de uma crise poltica, quando as classes dominantes no podemmais dominar o poderoso desenvolvimento do movimento das massas, os comunistasdevem enfatizar as bandeiras revolucionrias centrais, (tais como o controle da

    produo e dos bancos, a dissoluo da polcia, sua substituio por uma milciaarmada, etc.), calculada para abalar ainda mais o poder econmico e poltico daburguesia, fortalecer as foras da classe operria, isolar os partidos conciliadores econduzir as massas para a tomada revolucionria do poder. Se, em face de tal elevaodo movimento de massas, for possvel e necessrio, no interesse do proletariado,

    formar um governo de frente proletria nica ou de frente antifascista popular, queno ser ainda um governo da ditadura do proletariado, mas tratar de tomarmedidas decisivas contra o fascismo e a reao, o Partido Comunista deve buscar a

    formao de tal governo.

    A premissa essencial para a formao de um governo de frente nica constitui umasituao com os seguintes fatores: (a) quando o aparato do Estado burgus est to

    paralisado que a burguesia no est em posio de evitar a formao de tal governo;b) quando as massas operrias mais amplas esto se lanando maciamente contra o

    fascismo e a reao, sem todavia estarem prontas para lutar pelo Poder Sovitico; c)quando uma considervel parte da organizao da social-democracia e outros partidos

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    14/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 14

    que fazem parte da frente nica est exigindo a aplicao de medidas implacveiscontra os fascistas e outros elementos reacionrios e est pronta para lutar emconjuno com os comunistas, afim de tomar essas medidas.

    Na medida em que o governo de frente nica realmente toma providncias-decididas

    contra os magnatas financeiros contra-revolucionrios e seus agentes fascistas e denenhum modo restringe as atividades do Partido Comunista, nem as lutas da classeoperria, o Partido Comunista apoiar este governo de todas formas. Quanto ao

    problema da participao dos comunistas em um governo de frente nica, isso serresolvido de acordo com a situao concreta em cada caso' (Resolutions, Cap. II. 8).

    E, como Jellinek corretamente assinala (p. 208): "A situao concreta na Espanha docomeo de 1936 continha todos os trs fatores que eram 'a premissa essencial para a

    formao de um governo de frente nica'."

    Notas

    1 Nota do tradutor: CEDA = Confederao dos Direitos Autnomos, de Jos ManaRobles, organizao poltica direitista que venceu as eleies espanholas de 1933,graas sobretudo "greve do voto" dos anarquistas, ao recusarem apoio aos partidosde esquerda naquelas eleies.

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    15/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 15

    Captulo 17

    A Formao da Frente Popular e o Curso da Guerra

    A Frente Popular

    As tticas da Frente Popular foram adotadas pelo movimento internacional ia classeoperria nas novas condies do incio dos anos 1930, produzidas pela vitria dofascismo na Alemanha e na Itlia - nas condies em que o capitalismo de monoplioestava se orientando para o fascismo como o nico meio de preservar o capitalismo,ao abolir a democracia burguesa. Nessas circunstncias, as tticas da Frente Populartinham dupla face. Primeiro procurava-se construir uma aliana da classe trabalhadorae dos estratos intermedirios da populao, a fim de defender a democracia, preservara paz e realizar um governo democrtico trabalhista como meio para tal fim.Secundariamente, procurava capacitar o proletariado revolucionrio a conquistar

    sees inteiras da classe operria e uma seo considervel do estrato mdio para oprograma do socialismo completo. Porm, por mais sensata que essa ttica pudesseparecer, ela foi tema de virulenta denncia por parte de certas sees da 'esquerda'; e,em particular, por parte de Trotsky e seus seguidores. Tal linha de luta difcil ecomplicada no estava de acordo com o gosto do trotskismo, que procurava soluesfceis para problemas difceis, no conforto das frmulas prontas e dos dogmas vazios.Para o trotskismo, era uma colaborao de classes evitar que o estrato mdio dapopulao casse sob a influncia do capitalismo monopolista, era colaborao declasses procurar isolar os capitalistas monopolistas, quando estes tentavamencaminhar-se para o fascismo a todo vapor; e a Guerra Civil Espanhola, de acordo

    com o trotskismo contra-revolucionrio, no foi seno um exemplo perverso decolaborao de classes.

    No curso deste texto ficar demonstrado, alm de qualquer dvida, que os trotskistassabotaram a luta da Repblica Espanhola contra o fascismo, porm cada vez estasabotagem era mais acompanhada pela elocuo de slogans ultra-esquerdistas taiscomo: "A burguesia no pode ser um aliado contra o fascismo", "somente a revoluo

    proletria pode ser uma fora mobilizadora suficiente para levantar a populao naretaguarda de Franco", "o proletariado irreconciliavelmente oposto democraciaburguesa"e assim por diante. Essa gente abominvel no prestou a mnima ateno

    resoluo dos problemas reais de uma luta revolucionria particular sobre a base dascircunstncias concretas e a correlao das foras de classe envolvidas em tal luta. Emvez disso, todo problema concreto da luta era escondido embaixo de uma catarata defrases pomposas, buscando-se o que s pode ser chamado de auto-isolamento'revolucionrio' e de uma posio poltica em que o cretinismo da ala direita mescla-secom o contra-senso aventureirista de esquerda e os dois se tornam inextricavelmenteentrelaados. Embora deva ser dito que se o trotskismo falhou ao apreciar a naturezarevolucionria da Frente Popular, os jesutas (que eram a grande burguesia e osproprietrios de terra da Igreja Catlica Espanhola), no. Seu rgo O Debate declarou,a 4 de Agosto de 1935, aps o 7o Congresso da ECCI (que tinha adotado as tticas dafrente popular):

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    16/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 16

    "O comunismo agora parece-nos infinitamente mais perigoso, quando se disfara coma mscara de colaborao governamental e oferece essa colaborao para algo maisdo que mera revolta"(citado em Jellinek, p. 189).

    Circunstncias da formao da Frente Popular

    Seguindo-se derrota da Greve Geral e do levante de Astrias ao final de 1934, omovimento da classe operria espanhola orientou-se para a clandestinidade, e 30.000operrios estiveram sofrendo nas prises espanholas. Nessas circunstncias, sob ainiciativa do Partido Comunista da Espanha, a frente dos operrios foi ampliada parauma Frente Popular por um acordo entre o Partido Comunista, o Partido Socialista e osrepublicanos de esquerda. Os anarquistas no se uniram Frente Popular, mas ao finalinstaram seus apoiadores a votarem por ela, por causa da promessa de libertar ospresos polticos. O resultado foi que, quando a crise crescente nas fileiras da reaolevou a uma eleio geral em fevereiro de 1936, o resultado foi uma vitria da Frente

    Popular, levando a uma transformao nas oportunidades para o movimento da classeoperria. Na poca, os trotskistas espanhis estavam organizados em um aparelhosectrio contra-revolucionrio que teve a audcia de se autodenominar 'Partido dosOperrios da Unidade Marxista' (POUM), que era dirigido por Joaquim Maurin (quetinha antes deixado o Partido Comunista sob uma argumentao nacionalistadireitista) e Andras Nin, um dos colegas mais ntimos de Trotsky na URSS, entre 1926-1927.

    Embora os trotskistas tenham sempre negado a natureza trotskista do POUM, porqueele estava filiado ao Bir Internacional de Fenner Brockway para o Socialismo

    Revolucionrio, e no assim chamada Quarta Internacional de Trotsky, em suaessncia era trotskista - por exemplo, em sua atitude para com a URSS, para com aFrente Popular e para com os problemas da Revoluo Espanhola. Dentro do POUMhavia um grupo que se autodenominava 'bolcheviques-leninistas', que defendia todosos pontos e vrgulas da Revelao de Trotsky. O POUM primeiro denunciou a FrentePopular, fortalecendo assim os anarquistas e os anarco-sindicalistas. Mas, como a idiada Frente Popular "varreu tudo sua frente", para tomar emprestada a expresso doento Mr. (mais tarde Lord) Brockway, que no poderia de forma alguma ser descritocomo advogado da Frente Popular, o POUM entrou na aliana com propsitoseleitorais e, tendo-se beneficiado, voltou posteriormente sua 'liberdade de ao',

    denunciando a Frente Popular.

    Tarefas aps as eleies de fevereiro

    Aps as eleies de fevereiro, a classe operria espanhola enfrentou as tarefas deconstruir suas organizaes dentro e fora da Frente Popular e lutar por um governomais esquerda do que o governo republicano que tinha emergido das eleies defevereiro. A esse respeito, por iniciativa do Partido Comunista, alguns avanos reaisforam feitos. Sindicatos vermelhos sob influncia comunista entraram na UGT, aFederao Sindical Socialista; a juventude socialista e comunista formou uma nicaorganizao; as relaes entre os anarquistas e as federaes sindicais melhoraram;negociaes foram abertas para a unificao dos partidos socialista e comunista. Datornou-se possvel frustrar a estratgia da classe dirigente, que tinha esperado que as

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    17/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 17

    massas se voltariam para a direita, uma vez tivessem experimentado as trapalhadas dademocracia pequeno-burguesa ao tentar governar o pas. O que estava realmenteacontecendo estava tornando as classes dirigentes cada vez mais furiosas, porque elascomearam a ver que a desiluso com a democracia pequeno-burguesa estava levandoas massas para a esquerda, e no para a direita, e comearam a criar as condies para

    a hegemonia da classe operria sobre o movimento republicano. Foi por isso que osremanescentes feudais e a grande burguesia entreguista usaram todos os embustespara estrangular esse desenvolvimento. E, como sempre, elas foram ajudadas em seusesforos pelos trotskistas, que levaram sua viso reacionria para o corao domovimento operrio e campons, sob o disfarce dos slogans mais revolucionrios. Ostrotskistas do POUM, por exemplo, fizeram o melhor que podiam, de todas as formas,para prejudicar o processo de unificao das foras progressistas. Eles estimularamtodos os excessos por parte de operrios e camponeses zangados. As tentativas deorganizar e disciplinar esses movimentos espontneos eram rotuladas de contra-revolucionrias.

    Eis como Felix Morrow, o trotskista norte-americano, expressou a aprovao deatividades como incendiar igrejas:

    "O clero odiado, administrador dos 'dois anos negros', tambm foi tratado venervelmaneira dos camponeses oprimidos. Especialmente depois que ficou claro que ogoverno no tocaria no clero, as massas decidiram fazer justia por suas prpriasmos. Isso consistia no apenas em incendiar igrejas, mas em ordenar os padres adeixarem as aldeias, sob pena de morte se eles retornassem. Devido a uma lealdadeabjeta para com o governo, os stalinistas aviltaram a luta contra o clero: 'Lembrem-se

    que atear fogo s igrejas e mosteiros d apoio contra-revoluo' (Correspondncia daImprensa Internacional, Io de agosto de 1936). Eles no eram ouvidos mais do que

    Azaria. Na provncia de Valncia, onde os operrios agora esmagaram a contra-revoluo to decisivamente, mal havia uma s igreja funcionando em junho"(FelixMorrow, Revolution and Counter-Revolution in Spain, p. 40).

    Os esforos do Partido Comunista para explicar que tais atividades nada tinham emcomum com as tticas revolucionrias eram tratados com desprezo. Todavia, um dosproblemas mais urgentes enfrentados pelos operrios espanhis foi o de conquistar oscamponeses de pensamento religioso para a Frente Popular. Queimar igrejas

    dificultava esta tarefa. De fato, to nociva era esta atividade para a causa da revoluoespanhola que, antes da rebelio, grupos fascistas foram pegos incendiando igrejascom o propsito de culpar os comunistas.

    Outro mtodo de provocao fascista e burguesa era tornar exaustos os operrios, pormeio de greves que se prolongavam depois que todos os ganhos possveis tinham sidoalcanados. Os trotskistas participaram alegremente de tais aes, que visavam exauriros grevistas, e no decorrer delas atacar o governo, numa tentativa de criar divisesentre as duas federaes de sindicatos, assim como entre os socialistas e oscomunistas.

    A classe empregadora tentou reagir onda de greves e agitaes camponesasencorajando as organizaes fascistas a promoverem uma campanha de assassinatos

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    18/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 18

    de dirigentes operrios, similar que foi promovida pelos fascistas italianos em 1921-22. Mas as quadrilhas fascistas levaram a pior nesse confronto com os operrios. Ogoverno suprimiu as organizaes fascistas e procedeu a uma limpeza na polcia. Nessenterim, os fascistas, tendo perdido sua chance de tomar o controle do Estado pela viada vitria eleitoral, vigorosamente planejaram tomar o poder pela via do golpe militar,

    um golpe militar que nessa poca teria o pleno apoio dos crculos dirigentes espanhise do imperialismo estrangeiro. Planos foram tramados assim que a vitria da FrentePopular foi anunciada. Os generais Franco, Varela e Mola encontraram-se em Madripara combinar uma estratgia. Em cada capital provincial o comando militar estavapara declarar estado de stio e, isso feito, seria apoiado, caso necessrio, pelo exrcitoafricano. Embora Franco e Varela estivessem servindo fora da Espanha (precisamenteporque o governo no confiava neles), Mola permaneceu no continente, emPamplona, de onde era capaz de reunir e organizar os conspiradores militares.

    O governo foi logo informado do que estava acontecendo, mas simplesmente no

    acreditou nisso. Uma delegao da direo do Partido Comunista foi a CasaresQuiroga, o primeiro-ministro, com a evidncia incontrovertida do compl. CasaresQuiroga descartou a idia de imediato, declarando que os comunistas viam fascistasem todos os cantos.

    Como os generais tinham adotado uma poltica de hipocrisia covarde para com ogoverno, o governo caiu inteiramente em sua armadilha:

    "Quando Manuel Azaria foi eleito presidente da Repblica, em maio de 1936, os primeiros a apresentarem seus respeitos a ele e oferecerem-lhe apoio foram os

    generais Franco, Goded, Cabanells e Quiepo de Llano, coronel Aranda e outros, todoseles envolvidos no golpe contra a Repblica.

    A carta que Franco enviou ao ministro da Guerra no governo republicano poucos diasantes da insurreio um modelo de dubiedade e dissimulao: Aqueles que dizemque o exrcito se ope Repblica esto mentindo', escreveu o general traidor. 'Vocsesto sendo enganados por gente que inventa conspiraes levados por suas prpriaspaixes obsessivas...'

    Na mesma poca em que escreveu isso, Franco estava recebendo e transmitindoinstrues a outros generais envolvidos na trama; ele estava metido at o pescoo emintriga e conspirao"(Sandval e Azcrate, p. 24).

    Subterfgios similares foram adotados pelos generais Mola, Capaz, Cabanellas ecoronel Aranda: "Em 16 de julho, Mola deu ao general Batet sua palavra de honra deque ele no se rebelaria. Dois dias mais tarde ele se rebelou ... e prendeuBatet"(ibid.). Mais tarde, ele tambm fez com que Batet fosse executado.

    A guerra

    O comeo da insurreio em si foi planejado para ser executado em toda a Espanha s

    5 horas de 18 de julho de 1936. Como aconteceu, a primeira ao foi deflagradaprematuramente, quando os planos fascistas vazaram para um comandante militar em

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    19/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 19

    Melilla (a cidade mais oriental do Marrocos espanhol), a saber, o general Romerales.Ele despachou tropas e polcia para os quartis-generais onde os oficiais rebeldes jtinham distribudo armas. Aps algumas idas e vindas, foi o general Romerales que foipreso pelos rebeldes, e no o contrrio. Os rebeldes declararam estado de guerra,ocuparam os edifcios pblicos em Melilla, em nome do General Franco, como

    comandante-em-chefe em Marrocos - e prenderam os dirigentes dos gruposrepublicanos ou da ala esquerda. Como Melilla tinha se antecipado, as outras duascidades principais do Marrocos espanhol, Tetuan e Ceuta, tinham de fazer issotambm. A insurreio no continente comeou s 5 horas da manh do dia 18 de

    julho, como planejado.

    Havia apenas uma resposta possvel insurreio militar - como Astrias tinhamostrado - a saber, a fora armada. A nica fora disponvel para os republicanos, parte o tero do Terceiro Exrcito e a Guarda Civil que tinha permanecido leal, era opovo. O governo da Frente Popular, entretanto, era um governo pequeno-burgus que

    hesitou de maneira verdadeiramente criminosa, antes de tomar aquele passonecessrio. De acordo com Sandoval e Azcrate (p. 27), "Diz-se que um oficial dirigenteda cidade em Corua estava lamentando desta forma quando os rebeldes estavam

    para atacar os escritrios do governo local:'se armarmos o povo agora, quem ocontrolar mais tarde? E se no o fizermos, o que ser da Repblica?' ..." Como sepoderia esperar, o primeiro-ministro, Casares Quiroga e o presidente, Azaa,objetaram distribuio de armas ao povo, e se passaram trs dias antes quemanifestaes de massa conduzidas pelos comunistas e socialistas fossem capazes deforar o governo a ceder nesse ponto. Mas, ento, as guarnies militares tinham selevantado em toda a Espanha e no encontraram nenhuma oposio efetiva, j que os

    governos provinciais no distribuiriam armas sem permisso do Centro para faz-lo.Nesses trs dias no menos do que as 25 maiores cidades foram tomadas pelosfascistas, incluindo Sevilla, Cdiz, Algeciras e Jerez a 18 de julho; Oviedo, Burgos,Zaragoza, Huesca, Jaca, Pamplona, Ternel, Valladolid, Segovia, Salamanca, vila,Zamora, Palencia, Cceres, Albacete, Majorca e Ibiza a 19 de julho; Corua, Vigo,Pontevedra, Leon e Crdoba, a 20 de julho. Quantas dessas cidades poderiam ter sidosalvas se o povo tivesse sido armado! De fato, onde as cidades foram salvas(Barcelona, Valencia, Madri, etc.) foi onde as armas foram confiadas ao povo, porquesoldados simpatizantes as tinham distribudo ou porque milcias locais armadas tinhamsido organizadas anteriormente. Significativamente, essas cidades incluam toda a

    grande Espanha e os centros industriais densamente povoados, onde o movimentooperrio era forte.

    A defesa de Madri

    Eis como Sandval e Azcrate descrevem a situao em Madri (p. 28-29):

    "O ponto de maior perigo fascista reconhecido em Madri eram os quartis demontanha.

    No domingo 19 de julho, as tropas notaram com ansiedade que os quartis estavamcheios de estranhos, jovens civis fascistas que imediatamente receberam uniformes earmas. Ao meio-dia, chegou o general fascista Fanjul, tambm paisana.

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    20/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 20

    Aps fazer um discurso medocre, Fanjul lanou uma proclamao, declarando estadode guerra em Madri. Todavia, ele no cuidou de enviar tropas para as ruas, onde osoperrios de Madri estavam cuidadosamente acompanhando toda a mobilizao queos militares faziam.

    Grupos de operrios... foram postados nas esquinas, nas rvores e atrs de murosbaixos. Os quartis estavam sitiados. A presena de multides furiosas levou Fanjul aadotar a ttica prudente de confinar sua rebelio ao interior dos quartis...

    Entrementes, o povo partiu para a ofensiva. Destacamentos de civis armados, Guardasde Assalto, Guardas Civis e tropas leais, com audcia e herosmo magnficos, foramcapturando os quartis em Getafe, Campamento e Vicalvaro.

    Na alvorada do dia seguinte o ataque aos quartis da montanha comeou.

    ...Por volta de meio-dia, os portes das fortalezas dos fascistas foram arrombados.Madri tinha conquistado sua Bastilha."

    Ento, veio a necessidade de evitar que os fascistas viessem de fora para marcharsobre Madri. Eis como Jellinek descreve como isso aconteceu (p. 313-314):

    "Com 10.000 homens, a artilharia pesada de Segovia e Median e os esquadres areosde Len e Logroo, o general Mola marchou da Serra de Gaudarrama sobre Madri. Osbatalhes se mobilizaram rapidamente para o Alto de Len, a passagem que comandaa estrada de Segovia para Madri. O resto da coluna espalhou-se pela rea, para as

    trincheiras de cimento construdas quando Gil Robles era Ministro da Guerra.

    Ento, ocorreu um dos acontecimentos mais importantes daquela Guerra Civil. Semoficiais, quase sem nenhuma munio, sem nenhuma comunicao e sem ordens,operrios se deslocaram em txis, carros confiscados, nibus, qualquer meio, para aSerra, para enfrentar um exrcito moderno. Os anarquistas avanaram nas montanhasarmados apenas com bastes de dinamite enrolados em pacotes de jornais. Mais tardereceberiam parte dos rifles encontrados nos quartis da Montanha.

    A juventude socialista avanou para o Alto do Len. Quase todos os seus dirigentestinham sado para suas frias. A organizao da primeira coluna foi conduzidainteiramente pelo nico membro do Comit Executivo em Madri, uma jovem de 22anos, Aurora Amaiz.

    Com louco entusiasmo - e quase nada mais - as primeiras colunas se apoderaram das passagens e dominaram todas, exceto a do Alto de Len. Mesmo ali, o inimigo foibloqueado..."

    O Quinto Regimento

    Naturalmente, era agora necessrio organizar-se em uma base permanente para

    resistir aos avanos fascistas e retomar as reas que os fascistas tinham tomado. Issoera uma tarefa temerria, quando o governo tinha apenas um tero de seu exrcito

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    21/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 21

    disposio. Foram os comunistas que tomaram a iniciativa de preparar um regimento -o "Quinto" Regimento, que iria tornar-se o modelo sobre o qual o Exrcito RepublicanoPopular foi baseado. O Quinto Regimento foi formado em julho de 1936, no ptio deum Mosteiro de Madri, o convento salesiano de Francos Rodriguez. O povo de Madriobservou por si prprio, no curso da luta espontnea que teve lugar em defesa de

    Madri, como muito mais efetivos e eficientes seus esforos teriam sido, se organizadose disciplinados apropriadamente. Como resultado, eles seguiram para os quartis a

    juntar-se com o Quinto Regimento. Eles viram que eram os comunistas que estavampreparados e prontos para se organizarem militarmente de uma forma profissional epara treinarem e armarem seus soldados apropriadamente. Toda unidade do QuintoRegimento tinha, como o Exrcito Sovitico, um comissrio poltico. Sua funo eraforjar um novo tipo de disciplina - consciente e voluntria, mais do que imposta e,portanto, em tudo mais efetiva.

    Gradualmente, os mtodos organizacionais aplicados ao Quinto Regimento

    mostraram-se to obviamente bem-sucedidos que foram estendidos para novasunidades (Brigadas Mistas) e depois para o total do Exrcito Popular. O sucessodoS mtodos comunistas de organizar o exrcito foi testemunhado pelos elogios dohistoriador burgus E.H. Carr, que nunca foi um grande amigo dos comunistas.

    "O primeiro e mais importante campo da atividade sovitica foi a reorganizao doexrcito. Desde a ecloso da guerra, o PCE fez campanha para a fuso das unidadessobreviventes do velho exrcito regalarcom a milcia operria, para formar um'exrcito popular' unificado. Contudo, pouco foi realizado antes da chegada dosconselheiros soviticos e a formao das brigadas internacionais, no final de 1936. A

    frmula da unificao foi encontrada na criao, em analogia com as brigadasinternacionais, das 'brigadas mistas' compreendendo batalhes do exrcito e Iasmilcias. A instituio dos comissrios polticos, introduzida na brigada internacional,

    foi estendida para as brigadas mistas e depois para o total do novo exrcito popular.Como a instituio era baseada em um modelo sovitico, era natural que oscomunistas predominassem nela. O corpo de comissrios tornou-se um grupo

    poderoso, cuja influncia nos assuntos militares foi dirigida para o gerenciamento doexrcito e o estabelecimento do controle sovitico total. O objetivo nico da eficinciamilitar foi perseguido; isso tambm coincidia com a poltica sovitica e do Cominternnessa poca. Se alguma ideologia era invocada, era a do patriotismo e no a da

    revoluo.

    O efeito salutar dessas medidas sobre a capacidade de luta da repblica estava fora dequesto."

    Tal era a fora e a moral do exrcito popular republicano que, sem o sangue vitaldespejado pelos governos fascistas alemes e italianos em apoio a Franco, osrepublicanos teriam tido uma vitria fcil. Tamames escreveu (p. 263-264):

    "...as batalhas da Sierra demonstraram que as foras populares republicanas,organizadas em milcias, eram suficientes para conter o exrcito regular e seusapoiadores auxiliares, tais como os falangistas e as milcias carlistas. Porm, quando asmesmas foras eram apoiadas pela artilharia mais pesada e tambm pelos

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    22/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 22

    marroquinos, alemes e italianos, a histria era diferente."Como veremos, as tropas eo equipamento de Franco estiveram constantemente sendo repostos pelo fascismointernacional, enquanto o esforo republicano esteve constantemente sendo solapadopelo imperialismo britnico, francs e dos EUA, em perseguio, entre outras coisas, sua poltica de conciliao com Hitler.

    Avanos fascistas

    O primeiro maior objetivo dos fascistas era levar tropas africanas a atacarem Madri.Sua estratgia global era capturar Madri logo que possvel, porque eles pensavam que,uma vez Madri cada, a guerra estaria decidida. Levar as tropas africanas para a rea deMadri era um problema, entretanto. Elas no poderiam vir por mar, j que os navioscosteiros espanhis guardando os estreitos tinham permanecido leais.

    Hugh Thomas descreve os meios pelos quais a lealdade dos navios foi assegurada (p.

    242-243):

    "Na memorvel madrugada de 19 de julho, os cruzadores Libertad e Miguel deCervantes estavam navegando de El Ferrol para o sul. Eles tinham sido despachados

    pelo governo para evitarem que o Exrcito da frica cruzasse o Estreito de Gibraltar.Mais tarde, o nico navio de guerra em boas condies de navegao, o Jaime I (oEspanha estava em reparo em El Ferrol), tambm deixou Vigo, indo para o sul. Emtodos esses navios, no destrier Churruca, que j tinha atracado com um carregamentoem Cadiz, em todos os navios de guerra em Cartagena, os mesmos acontecimentosrevolucionrios ocorreram, como nos trs destrieres que tinham sido enviados no dia

    anterior de Melilla; isto , os homens, estimulados pelas mensagens de rdio doalmirantado em Madri, endereadas a eles e no aos seus comandantes, subjugaram,aprisionaram e, em muitos casos, alvejaram aqueles oficiais que pareciam desleais. Asbatalhas mais violentas ocorreram no Miguel de Cervantes, onde os oficiais, no meiodo oceano, resistiram tripulao do navio at o ltimo homem ( questo lacnica doque seria feito com os cadveres - perguntada pelo comit da tripulao do navio queassumiu o comando - o almirantado respondeu: "Lanar os corpos ao mar comrespeitosa solenidade").

    No 22 dia de julho de 1936, os fascistas espanhis pediram ajuda a Hitler e Mussolini.Ambos estavam mais do que dispostos a apoiar Franco, com todo o necessrio. Em 27de julho, 11 avies de transporte Savoia-81 chegaram a Marrocos vindos da Itlia, e a29 daquele ms 20 avies de transporte Junker chegaram da Alemanha, sob o disfarcede aeronaves civis encomendadas por uma companhia de transporte espanhola-marroquina, apressadamente constituda. Essas aeronaves foram usadas paratransportar 14.000 homens, com todo seu equipamento, atravs dos estreitos edentro da Espanha.

    Em um ato deliberado de sabotagem do esforo de guerra republicano, as companhiasde petrleo dos EUA negaram-se a suprir os navios republicanos, que no tiverampermisso para reabastecer. Ao solaparem a frota espanhola dessa maneira, os

    estreitos passaram a estar muito prontamente abertos aos fascistas, capacitando-os atransportarem o resto das tropas africanas por mar, durante os primeiros dias de

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    23/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 23

    agosto de 1936, em comboios guardados pelo cruzador Germnico Deutschland. Odesembarque dessas tropas, em Algeciras, foi facilitado, por sua vez, pelos britnicos,cujos navios de guerra de Gibraltar obstruram o bombardeio do desembarque dastropas pela Fora Area Espanhola. Uma vez em terra, as tropas africanas foramdirigidas s pressas para o Norte. A fim de ter passagem desimpedida pelo resto da

    guerra, eles tinham que capturar o territrio mantido pelos republicanos entre a costae Madri. Eles avanaram muito rapidamente, tomando Almendralejo a 7 de agosto,Mrida no dia 8 e Badajoz no dia 15. Em Badajoz, enfrentaram feroz resistncia esofreram baixas pesadas antes de serem capazes de captur-la e tirarem sua desforra,ao colocarem cerca de 2.000 pessoas numa arena e massacrarem-nas - uma dasatrocidades mais sangrentas de toda a guerra.

    O exrcito fascista continuou seu caminho para o norte a 20 de agosto. Thomasassinala (p. 375) que "Todos os coletivos revolucionrios formados aps a ocupaodas fazendas, em maro, caram sem muita luta, embora a queda fosse seguido por

    muita matana."Isso vale a pena destacar, tendo em vista a crena

    encorajada pelos trotskistas de que, cuidando-se da revoluo, a guerra cuidaria de siprpria. Qual no entanto, o sentido de fazer ganhos da revoluo se voc no temmeios sua disposio para defend-los?

    Protegido pelas esquadrilhas de avies italianos que davam aos fascistas o controleareo local, o exrcito africano tomou Talavera de la Reina, a 3 de setembro, ficandobem posicionado para desfechar um ataque sobre Toledo e da sobre Madri. Toledotinha estado sob cerco republicano, mas as foras africanas fizeram com que o cerco

    fosse levantado, a 27 de setembro, quando os fascistas tomaram o controle de Toledo.

    Em setembro de 1936, os republicanos foram ofensiva em Aragn. As forasenvolvidas estavam numa mar de sucesso, depois da consolidao do total daCatalunha no lado republicano, quando tinham conquistado uma srie impressionantede vitrias. Pareciam irresistveis. Da Catalunha avanaram sobre Aragon e foramcapazes de recapturar metade de seu territrio, antes de serem foradas a estancar.Na viso de Tamames, a razo para a perda do mpeto repousava na retaguarda "queno correspondeu aos esforos esperados dela. Em Barcelona, enquanto Madri sofriaescassez de alimentos, as pessoas estavam vivendo como se no houvesse uma guerra.

    A produo estava declinando por causa da coletivizao anarquista. A CNT-FAL, emlugar de facilitar o avano sobre o territrio aragons, para o qual tinham dado umacontribuio extremamente importante, dedicou-se a fazer uma revoluo eenfraquecer o poder republicano, ao criar entidades como o Conselho de Aragn.

    A lio a ser tirada do colapso do avano em Aragn era clara: ganhar a guerra econduzir uma revoluo libertria ao mesmo tempo era simplesmente impossvel."Masisso os anarquistas, encorajados pelos trotskistas do POUM, no foram capazes deentender.

    Esse fato colocou o Partido Comunista em coliso com os anarquistas e os trotskistas,

    desde que estava claro para o Partido Comunista que a guerra contra o fascismo tinhade ser ganha primeiro, como pr-condio para qualquer outro avano.

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    24/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 24

    Por isso, os comunistas clamaram por:

    - Pleno poder ao governo da Frente Popular;

    - A formao de um Exrcito Regular do Povo, sob um comando unificado e nico,

    composto por aqueles oficiais que tinham sido aprovados na Guerra Civil;

    Ao mesmo tempo, o Partido Comunista foi adiante com a construo do QuintoRegimento como um ncleo do exrcito modelo.

    Esse programa foi recebido com furiosa oposio por parte do POUM, dos anarquistase mesmo de alguns socialistas de esquerda. Contudo, um dos aspectos maisdeplorveis da luta antifascista na Espanha, foi a criminosa perda de vidas devido diviso das foras armadas do governo em milcias de Partido, cujas rivalidades einvejas resultaram diretamente em muitas debacles militares desnecessrias.

    Foi assim que um observador alemo descreveu a situao em torno de Huesca, nosprimeiros estgios da Guerra Civil:

    "Fora de Huesca h a milcia catal, alguns grupos de cem retirados da Guarda Civil eoutros do POUM, batalhes da FAI e prximos a eles os Socialistas Unidos.

    Em todos estes grupos h lutadores bravos. Porm, os vrios dirigentes tinham noesdiametralmente opostas de tticas corretas. Agindo conjugadamente, a milcia teriavarrido Huesca. Cada grupo individual operava separadamente e foi derrotado

    separadamente.

    O grupo socialista levou adiante um plano conjugado de operaes, mas os batalhesvizinhos diziam que aquilo era suprfluo.

    Nos prximos dias vocs acordaro e encontraro bandeiras negras e vermelhastremulando sobre Huesca"(Peter Martin, Spain between Death and Birth, citado emCampbell p. 352).

    Os socialistas de esquerda, que na poca estavam no controle do Claridad, saudaram oapelo por um Exrcito Popular com um comando unificado com a seguinte declarao:

    "Pensar que outro tipo de exrcito pode ser substitudo por aquele que estavarealmente lutando e que em certa medida controla sua prpria ao revolucionria,

    pensar em termos contra-revolucionrios (ibid. p. 353)."

    Aps certo tempo, o POUM esteve a favor de um exrcito unido e um comandounificado. Tal exrcito, entretanto, seria em sua viso no um Exrcito Popular, masapenas um Exrcito dos Operrios! No deveria estar sujeito ao governo da Repblica,nem quele da Catalunha, mas a um conselho militar eleito pela organizaes dosoperrios. Entrementes, o POUM prosseguia com a mais perniciosa propaganda contra

    os governos de Madri e Barcelona (em ambas, aps setembro de 1936, osrepresentantes dos operrios eram maioria) por permitirem a construo de um

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    25/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 25

    Exrcito Popular, declarando que os soldados de tal exrcito seriam comoos "autmatos sem cabea que to eficientemente juntavam seus calcanhares e faziamou seriam capazes de morrer por Hitler ou por Mussolini"e que a proposta comunistade um comando unificado, compreendendo "os soldados mais hbeis e os maisrepresentativos dos partidos e sindicatos que contavam com a confiana das

    massas"era equivalente a "entregar o controle absoluto do Exrcito dos Operrios amilitaristas profissionais".

    Enquanto esse debate tinha lugar, Franco estava ganhando batalha aps batalha;enquanto todo tipo de experimento anarquista estava sendo conduzido na indstria daCatalunha, estavam sendo negligenciados os dois fatores essenciais vitalmenteimportantes para a vitria sobre os fascistas, a saber, a criao do Exrcito Popular e odesenvolvimento de uma poderosa indstria de guerra.

    Na frente econmica, o Partido Comunista advogava que as principais indstrias

    estivessem sob controle do Estado, mas que nenhuma tentativa deveria ser feita detomar posse das pequenas lojas ou oficinas. Ademais, que tal controle estatal fosseusado para transformar as principais indstrias para a produo de guerra. A situaoreal era que a maioria das fbricas estava nas mos dos comits de sindicatos; nohavia coordenao entre as fbricas; os lucros adquiridos nessas empresas controladaspor sindicatos iam para fundos sindicais; as fbricas em muitos casos continuavam aproduzir itens como banheiras e carrinhos de criana, porque era mais lucrativo fazerisso, quando elas podiam estar produzindo munies para a guerra contra o fascismo.Enquanto continuava esse escandaloso estado de coisas, o POUM estava gritando queo governo estava deliberadamente retendo as armas da Frente de Aragn. Na

    realidade, o POUM estava apoiando aqueles que estavam evitando a transformaodas indstrias catals para suprirem as

    necessidades da Frente de Aragn. Cada tentativa do Estado de controlar a indstriade larga escala era rotulada de tentativa de liquidar o controle dos operrios, desfazeros ganhos da revoluo e restaurar a classe capitalista.

    A exigncia do Partido Comunista, de um Governo Popular, representando todas asorganizaes da classe operria, com plenos poderes para funcionar sem ter desubmeter cada deciso s diversas para confirmao, era recebida pelo POUM como:

    "Objetivando estabelecer um governo com poderes ditatoriais, no qual os ministrosno seriam responsveis por suas respectivas organizaes, em resumo, um governo

    forte, que dirigiria todos seus esforos para massacrar o instinto revolucionrio criativodo proletariado" [La Batalla, 16 de dezembro, citado ibid., p. 356).

    Em matria de ordem pblica, o Partido Comunista propunha uma fora policialorganizada sob controle do governo, dissolvendo as patrulhas dos operrios que,tendo cumprido sua tarefa original de lidar com os fascistas durante a rebelio de

    julho, tinham comeado a comportar-se de forma mais arbitrria, como mostrado nomassacre de La Fatarella. Os camponeses dessa aldeia, durante o curso da resistncia

    coletivizao forada da agricultura, atiraram em dois anarquistas. Uma patrulhacomposta principalmente de anarquistas chegou de Barcelona e matou a metade dos

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    26/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 26

    homens da aldeia, numa terrvel vingana. Surgiu a exigncia de que acabassem taisultrajes, e o POUM declarou:

    "Essa ofensiva dos stalinistas no pode ser vitoriosa e no o ser..."

    Assim, pode-se ver qual era a posio do POUM:

    (1) um exrcito independente do governo; e

    (2) uma fora policial independente do governo, como um primeiro passo para aderrubada do governo pela guerra civil.

    Na frente camponesa, o POUM, contrrio s propostas dos comunistas e aos interessesda luta da Repblica contra os fascistas, advogava uma poltica de coletivizaoforada - pondo em perigo assim o suprimento de alimentos.

    Excluso do POUM do governo

    Em vista do precedente, a menos que a sabotagem pelo POUM da poltica necessria unidade do povo espanhol fosse sustada, a organizao da luta contra Franco teria sidocompletamente desorganizada. E o primeiro requisito para pr fim a essa sabotagemdo POUM era exclu-lo do governo, pois como se poderia permitir que participasse detal governo um partido que denunciava dia aps dia toda deciso do governo? Essasituao, por seu turno trgica e farsesca, foi encerrada pelo Partido Unido Socialista-Comunista da Catalunha, que precipitou uma crise com a proposta de expulso do

    POUM do governo; e, aps dura luta interna, isso foi aprovado. Essa deciso doscomunistas foi denunciada pelos trotskistas e seus amigos como destruidora daunidade da classe operria. Ao contrrio, ela marcou o comeo da adoo de umapoltica unitria na Espanha Republicana, em lugar da unidade simulada que apenasimpedia a ao resoluta na defesa da Repblica contra o fascismo.

    O segundo ataque fascista a Madri

    O segundo ataque fascista a Madri tinha comeado, ento, na primeira semana denovembro de 1936. Tropas de 25.000 homens foram reunidas a 15 milhas de

    Madri, e tropas comandadas por Mola capturaram o Aeroporto de Getafe no dia 4.Todos pensavam que a queda de Madri era apenas uma formalidade. A 8 denovembro, de fato, o embaixador sovitico, Ivan Maiski, encontrou-se com Churchillem Londres. Churchill apoiava Franco, e ele e Maiski tiveram uma discusso acalorada,

    j que Maiski, naturalmente, apoiava a Repblica."Por que discutir?", disseChurchill. "Em uma semana este problema desagradvel ter sado de cena... Francoestar em Madri em dois ou trs dias. Quem mais se lembrar depois da Repblicaespanhola?"

    A principal ofensiva fascista contra Madri foi comandada pelo general Varela, que

    tinha recentemente assumido o comando do Exrcito Africano, em substituio aogeneral Yague. A leve demora em atacar Madri foi ocasionada por um desejo dos

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    27/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 27

    fascistas de tomarem Madri a 7 de novembro, como um gesto de desafio reacionrio Grande Revoluo de Outubro. Como veremos, porm, foi a Grande Revoluo deOutubro que triunfou outra vez.

    O governo republicano, pequeno-burgus como era, decidiu que poderia conduzir a

    guerra mais efetivamente a partir de Valencia, para onde se retirou. Assim, coube aosmilitantes - comunistas e Juventude Socialista Unida em particular - organizarem adefesa de Madri. Livres da necessidade de agradar aos social-democratas, eles deramcabo excelentemente da misso. Na noite de 6/7 de novembro, eles formaram umaJunta de Defesa sob o comando do general Miaja. Embora reunida s pressas, sob sualiderana a populao de Madri "ombro a ombro, formou uma imensa barreira emarchou e assumiu seus lugares nas trincheiras ao redor da cidade".

    '"Madri ser o Verdun da Espanha!' 'No passaro', proclamou o Partido Comunista, eessa bandeira foi levantada por homens e mulheres de todos os nveis sociais, que

    ofereceram sua vida para salvar a cidade.

    E os fascistas no passaram"(Sandval e Azcrate, p. 72-73).

    Chocados e desalentados com sua inabilidade de tomar Madri, a despeito do intensobombardeio areo alemo, os fascistas decidiram deixar aquele problema particularpara depois. Para comear, decidiram que necessitavam de mais homens e materiais erecorreram outra vez a seus mestres quarteleiros italianos e alemes, pedindosuprimentos. O embaixador alemo informou seu governo nessa poca de que"Asituao militar est longe de ser satisfatria. As operaes militares levadas a efeito

    agora tm-se limitado a tropas de choque marroquinas e legionrias. Essas tropasesto em perigo de serem extenuadas por Madri, mesmo se conseguirem tomar acapital."Ambos os governos, alemo e italiano, concluram que eles precisavam darum passo a mais em seu apoio militar a Franco. Entre dezembro de 1936 e maro de1937, os italianos desembarcaram tropas com 100.000 homens na Espanha (70.000italianos e 30.000 marroquinos); a Alemanha enviou a Legio Condor especializada,formada por 6.000 homens e 279 avies de combate. 180 tanques e massas deartilharia de apoio.

    Mlaga

    As novas tropas italianas foram primeiro empregadas no ataque fascista sobre Mlaga(escolhida pelos fascistas porque o aventureirismo anarquista tinha causado tal caosna administrao da cidade que no havia ningum para defend-la). Mlaga caiu a 9de fevereiro de 1937 para um exrcito formado de 15.000 italianos, 10.000 alemes,5.000 mouros e 5.000 legionrios estrangeiros na Espanha.

    Contudo, a queda de Mlaga ilustrava o argumento que o Partido Comunista defendia,de que os exrcitos republicanos eram ineficientes e que era necessrio um comandonico e um exrcito unificado. Uma vasta manifestao de apoio a essa proposta tevelugar em Valencia, a 14 de fevereiro, e o governo foi obrigado a responder a essa

    proposta do povo e das necessidades da guerra, a despeito dos temores dos

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    28/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 28

    'respeitveis' republicanos pequeno-burgueses no governo, de que o PartidoComunista estivesse indo longe demais em sua influncia.

    Jarama

    Os fascistas, entretanto, decidiram abandonar qualquer assalto direto a Madri poraquela poca. Em lugar disso, decidiram dirigir-se a Valencia, com o objetivo de cortaras linhas de suprimento entre as duas cidades.

    Tropas com 40.000 homens, principalmente africanos, apoiadas por tanques, canhese avies de combate da Legio Condor, receberam a ordem, a 5 de fevereiro de 1937,de atravessar o rio Jarama para bloquear a estrada entre Madri e Valencia. A 15 defevereiro, entretanto, elas foram forados a se retirar pelo novo Exrcito Republicanoreorganizado (Brigadas Mistas de exrcito regular e milcias populares), as 14a e15a Brigadas Internacionais e o apoio de 40 avies de combate soviticos - Moscas e

    Chatos - que tinham chegado recentemente na Espanha: no tantos como os aviesalemes, mas tecnicamente superiores.

    Na batalha de Jarama, ambos os lados sofreram pesadas perdas (estimadas em 10.000homens em cada lado), mas a vitria dos republicanos mostrou como um ExrcitoPopular renovado, mesmo pobremente treinado e equipado, podia no obstantetriunfar em batalha aberta contra um exrcito profissional experimentado: tudo quefoi necessrio foi organizao e disciplina apropriadas que, graas influnciacomunista, foram conseguidas.

    Guadalajara

    A vitria de Jarama foi logo seguida por outra esplndida vitria em Guadalajara,contra os 'voluntrios' de Mussolini - uma fora de 50.000 homens, 222 canhes, 108tanques, 32 carros de combate e 80 avies de guerra. Os italianos pensavam queJarama tinha sido perdida pelos franquistas por causa da incompetncia tpica dosespanhis e decidiram "dar Espanha e ao resto do mundo uma exibio de sua forae sabedoria estratgica. Em maro de 1937, a Fora Expedicionria Italiana ... iniciou oquarto ataque a Madri, desta vez atravs de Guadalajara. Apoiados por seus generososrecursos em homens e armas, os fascistas italianos anunciaram que tomariam Madri ederrotariam a Repblica em questo de dias"(Sandval e Azcrate, p. 78).

    Mas o que aconteceu foi que os italianos que foram derrotados. A batalha travou-sede 8 a 21 de maro, e nesse perodo as divises italianas foram devastadas. Ositalianos perderam 8.000 homens (3.000 mortos, 1.000 capturados e 4.000 feridos),bem como vasta quantidade de armas e equipamentos.

    O norte

    Batidos severamente em suas tentativas de cercar e derrotar Madri, os fascistasvoltaram-se para o norte e lanaram, a Io de abril de 1937, uma ofensiva para captur-

    lo. Os bascos tinham finalmente recebido sua autonomia fazia tempo, aps o comeo

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    29/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 29

    da Guerra Civil, e eram republicanos leais. Mas numerosos fatores enfraqueceram afrente norte:

    1. O acesso fronteira francesa (e assim aos suprimentos atravs da Frana) tinha sidofechado pelos fascistas, quando estes tomaram Irn (em setembro de 1936) e San

    Sebastin (13 de setembro de 1936).

    2. A Zona Norte operava como trs estados semi-autnomos distintos - o Pas Basco,Astrias e a rea de Santander. Virtualmente no havia coordenao entre eles, queno conseguiram tirar vantagem das defesas naturais ao redor da rea.

    3. No havia exrcito republicano efetivo na rea. Os bascos recusavam-se a lutar,exceto no territrio basco.

    4. De acordo com Sandval e Azcrate (p. 107), "Infelizmente a poltica da direo do

    Partido Nacionalista no reconhecia os esforos, o sacrifcio e o herosmo doslutadores. O Partido Nacionalista tinha controle completo do governo basco, e seudesejo primordial era evitar a introduo no pas basco das mudanas democrticasque j tinham tido lugar no resto do territrio republicano. Ele se recusou a formar oExrcito Popular. Os trabalhadores no obtiveram benefcios sociais nem polticos. Ogoverno basco nada fez para preparar o potencial industrial do pas para atender snecessidades da guerra, mesmo quando a existncia continuada da liberdade bascaestava em risco."

    5. Os fascistas foram capazes de impor um bloqueio martimo, evitando que

    chegassem suprimentos pelo mar.

    A despeito de todas as dificuldades enfrentadas pelos republicanos, a captura do Norteno foi rpida, e a 20 de abril de 1937 decidiu-se empregar um bombardeio desaturao, num esforo por quebrar a moral da populao civil. O bem conhecidobombardeio de Guernica foi efetuado pelos avies alemes. Morreram 1.654 pessoase 889 ficaram feridas quando essa cidade de 7.000 habitantes foi bombardeada nummovimentado dia de mercado. Dois dias mais tarde, Guernica caa nas mos das forasfascistas, assim como Durango. A 30 de abril, as tropas? italianas entraram emBermeo.

    O resto da Espanha republicana, em si sob constante ameaa, no apenas dosfascistas mas tambm (em Catalunha) do POUM, pouco podia fazer para ajudar.

    A despeito das foras avassaladoras lanadas pelos fascistas contra elas, as populaesdo Norte realizaram uma defesa corajosa. Afundaram o cruzador franquista Espanha echegaram a retomar Bermeo. Contudo, os fascistas avanaram inexoravelmente,atravs de uma luta feroz, em direo a Bilbao. Em Bilbao tornou-se impossvelorganizar uma Junta de Defesa como a que tinha defendido Madri, parcialmente porfalta de entusiasmo por parte do governo basco e parcialmente por causa de umxodo em massa de bilbaienses para Santander. Nada foi organizado, nem mesmo a

    dinamitao de pontes para sustar o avano fascista. Nem os bascos quiseram sabotar

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    30/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 30

    as minas de ferro ou as fbricas de ao para evitar que cassem nas mos do inimigo.Os erros de Mlaga foram sendo repetidos. Na

    metade de junho, Bilbao caiu e os alemes acorreram a tomar as fbricas de ferro. A26 de agosto, Santander caiu. Finalmente, a despeito dos valentes esforos do lado

    republicano para criar diverses em outras partes da Espanha, Gijn caiu, a El deoutubro, desse modo levando ao fim da Zona Norte Republicana. Deve-se dizer,contudo, que muitos lutadores fugiram para as montanhas, onde mantiveram umaofensiva guerrilheira que persistiu por muitos anos contra o regime de Franco.

    O 'putsch' do POUM

    Enquanto os fascistas estavam destruindo os basties republicanos no norte, o POUMestava redobrando seus esforos de sabotagem da retaguarda republicana. A respostado POUM sua excluso do governo da Catalunha (a generalitat) foi comear a

    preparao de um golpe cujo nico objetivo era, e no poderia ser outro, desorganizara retaguarda da resistncia das foras populares antifascistas. O Comit Centralampliado do POUM, numa longa resoluo publicada subseqentemente, a 16 dedezembro de 1936, em seu rgo La Batalla, clamava pela criao de rgos de poderdual paralelos ao governo existente, com o propsito de derrubar o ltimo. Em outraspalavras, o POUM advogou a criao de condies de guerra civil no campo das foraspopulares, justamente na poca em que Franco avanava e ganhava as batalhas! Emsua resoluo, o POUM fazia uso indulgente das frases "revolucionrias" e ultra-esquerdistas, como camuflagem para uma poltica de oposio a cada tentativa de secriar um Exrcito Popular e uma fora policial sob o governo republicano e de resistir,

    em nome do socialismo (naturalmente), ao controle da economia da Catalunha pelogoverno.

    E, quando o governo avanou na direo de realizar tais objetivos, to necessrios parauma luta vitoriosa contra o fascismo, o POUM denunciou dia aps dia, em tons cadavez mais agudos, essas medidas como sendo destinadas a retirar "os ganhos darevoluo"e trazer de volta os capitalistas e senhores de terra, que tinham fugido parao exterior na tentativa de chegarem a um entendimento com Franco. As exortaes doPOUM a uma insurreio contra o governo tornaram-se mais freqentes e insistentes.A 22 de maro de 1937, La Batalla dizia:

    "Por causa disso, nosso Partido incessantemente mostra o caminho: uma frente dosoperrios revolucionrios que nos capacite a alcanar o fim do estgio atual e instalarum governo dos operrios e dos camponeses atravs da conquista do poder..."

    Em abril, Andras Nin escreveu:

    "No podemos perder tempo. Se reagirmos passivamente reconstruo do aparatoburgus do poder, a classe operria espanhola ter perdido a oportunidade maisextraordinria que j foi dada para sua emancipao ... Depois, ser tarde demais.Devemos malhar o ferro enquanto est quente."

    Em Io de Maio, Nin declarou, em um artigo em La Batalla:

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    31/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 31

    "A classe operria deve cortar os laos que a amarram democracia burguesa edecisivamente tomar posio pela conquista do poder. Ainda h tempo. Amanh sertarde demais.

    Andrade, no mesmo veculo La Batalla, declarou:

    "As organizaes operrias revolucionrias devem adquirir sua completaindependncia econmica e poltica; devem abandonar todo tipo de cooperaoconfusa com as fraes da pequena burguesia e do reformismo no campo poltico."

    Outro apelo em La Batalla, em Io de maio de 1937, dizia:

    "Por dois dias a classe operria tem estado montando guarda. Os homens nas fbricase oficinas esto cuidando noite e dia do estado da Revoluo, que tem sido posta emrisco pela poltica dbil e distorcida dos reformistas. Eles no so incontrolveis e

    provocadores. So as sentinelas conscientes que esto vigiando a retaguarda. Estoesperando com seus rifles prontos, para quando a classe operria tiver exaurida sua

    pacincia. Esto cansados de tanta fraqueza por parte dos governos de papeloformados sobre a base de concesses impotentes ... continuaremos em guarda daqui por diante, pois no podemos tolerar a poltica manca dos governos de Valncia eCatalunha. Uma poltica contra a classe operria. Uma poltica de colocar freios revoluo. Uma poltica dirigida a um novo levante da burguesia, que foi derrotada em19 de julho."

    Em Io de maio tambm encontramos este anncio de ltimo instante:

    "Todos os membros de nosso partido pertencentes Escola Militar Popular que tmsido indicados para diferentes lugares na Catalunha ou para as frentes, esto

    penhoradamente sendo requisitados para se apresentarem ao Comit MilitarExecutivo, aos Estdios Rambla, aos quartis-generais do Comit Executivo."

    A 2 de maio, La Batalla dizia:

    "No se trata de uma questo de conquistar demandas imediatas. Hoje, a tarefa diferente. a tomada do poder por todos os operrios."

    Tambm a 2 de maio, La Batalla imprimiu uma declarao da Executiva do POUM quedizia:

    "Estamos de acordo com um dos grupos anarquistas, que est no presente em conflitocom os dirigentes governamentais da CNT e tm levantado a seguinte bandeira: "Todoo poder aos operrios. Todo poder econmico aos sindicatos."

    O grupo anarquista referido na nota precedente era o denominado Amigo de Durruti',que estava infiltrado de agentes fascistas e foi mais tarde repudiado pela prprio CNT.Tendo fracassado em conquistar os sindicatos anarquistas para uma poltica de

    levante, o POUM movia-se na direo de dividi-los.

  • 8/6/2019 Trotskismo x Leninismo - Parte v - Guerra Civil Espanhola

    32/39

    Trotskismo x Leninismo - Lies Da histria Parte V

    Comunidade Josef Stlin - http://comunidadestalin.blogspot.com/ Pgina 32

    E, no dia seguinte, 3 de maio de 1937, teve lugar a insurreio que o POUM tinhaestado convocando.

    A situao, entre 25 de abril e Io de maio, era to tensa que o governo da Catalunhaproibiu todas as manifestaes do Io de Maio. O POUM respondeu assim a essa

    proibio, atravs de seu porta-voz Nin: "A classe operria deve cortar os laos que aligam democracia burguesa e decisivamente tomar o caminho da conquista do poder.

    AINDA H TEMPO. AMANH SER TARDE DEMAIS."

    No admira, ento, que o governo, vendo as incitaes insurreio que ocorriam emtorno dele, decidisse agir. A crtica ao governo no era que ele tivesse agido paraesmagar a insurreio, mas que no tivesse agido h bastante tempo para cont-la porcompleto. Os fascistas provocadores obtiveram o conflito pelo qual tinham trabalhado.

    Embora o fracasso do POUM em assegurar o apoio da sindical anarquista, a CNT,

    condenasse a insurreio a uma derrota desde o incio, o POUM continuou com ela -assim como com duas organizaes anarquistas extremistas, os 'Amigos de Durruti' e a'Juventude Anarquista', prolongando assim o despropositado banho de sangue.

    E, assim, os fascistas provocadores de dentro e de fora do POUM e as organizaesanarquistas extremistas encenaram seus maiores e mais espetaculares atos desabotagem. Mas eles foram esmagados. Como, com o propsito de sustentar o seulevante, o POUM trotskista e os anarquistas extremistas tinham retirado suas tropasda Frente de Aragn, esta foi enfraquecida numa poca de presso fascista.

    Desobstruindo a retaguarda

    O povo espanhol agora ficou convencido da necessidade de desobstruir a retaguarda aqualquer custo. O governo central de Largo Caballero, que tinha por longo tempotolerado o POUM e os anarquistas incontrolveis, foi desmembrado e substitudo porum governo capaz e desejoso de concentrar as foras populares para a vitria naguerra. O novo governo comeou seu trabalho decisivamente. Desarmou as 'patrulhas'anarquistas e substituiu-as por uma polcia responsvel, sob controle dos comunistas esocialistas confiveis. A coletivizao compulsria e as exigncias ao campesinato, ainterferncia com o pequeno comrcio - contrabando de moeda, importao de armaspara grupos polticos distintos da Frente, foram sustadas. Os excessos insensatos einsanos, que tinham por longo tempo desfigurado a revoluo e minado sua unidade epropsito, terminaram. Mas a situao era tal que esses excessos no podiam serterminados sem suplementar a persuaso com a fora. Aqueles que eramprovocadores ou tinham interesse na persistncia da anarquia tinham de ser tratadoscom dureza. Foi esse processo de assegurar uma retaguarda sob uma autoridade, emlugar de sob grupos de comits rivais conflitantes, de assegurar a organizao de todosos recursos disponveis sob um controle para a vitria da guerra contra o fascismo -esta mais nobre das tarefas com que se defrontava ento a Revoluo Espanhola - qu