sustentabilidade e economia verde

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A edição de junho deste ano da revista A Lavoura, publicação especial da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), fala sobre Sustentabilidade e Economia Verde.

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Page 1: Sustentabilidade e Economia Verde

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Page 2: Sustentabilidade e Economia Verde

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Page 3: Sustentabilidade e Economia Verde

Rio de Janeiro, RJ JUNHO 2012

Publicação Especial

Ano 1 – NO 1

0-FRosto a Sumário.pmd 22/5/2012, 05:451

Page 4: Sustentabilidade e Economia Verde

2 Sustentabilidade e Economia Verde

D I R E T O R I A E X E C U T I V A

ANTONIO MELLO ALVARENGA NETO PRESIDENTE

ALMIRANTE IBSEN DE GUSMÃO CÂMARA 1O VICE-PRESIDENTE

OSANÁ SÓCRATES DE ARAÚJO ALMEIDA 2O VICE-PRESIDENTE

JOEL NAEGELE 3O VICE-PRESIDENTE

TITO BRUNO BANDEIRA RYFF 4O VICE-PRESIDENTE

FRANCISCO JOSÉ VILELA SANTOS DIRETOR

HÉLIO MEIRELLES CARDOSO DIRETOR

JOSÉ CARLOS AZEVEDO DE MENEZES DIRETOR

LUIZ MARCUS SUPLICY HAFERS DIRETOR

RONALDO DE ALBUQUERQUE DIRETOR

SÉRGIO GOMES MALTA DIRETOR

SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA · Fundada em 16 de janeiro de 1897 · Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918Av. General Justo, 171 - 7º andar · Tel. (21) 3231-6350 · Fax: (21) 2240-4189 · Caixa Postal 1245 · CEP 20021-130 · Rio de Janeiro - Brasile-mail: [email protected] · http://www.sna.agr.brESCOLA WENCESLÁO BELLO / FAGRAM · Av. Brasil, 9727 - Penha CEP: 21030-000 - Rio de Janeiro / RJ · Tel. (21) 3977-9979

Academia Nacional

de Agricultura CADEIRA

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TITULAR

ROBERTO FERREIRA DA SILVA PINTO

JAIME ROTSTEIN

EDUARDO EUGÊNIO GOUVÊA VIEIRA

FRANCELINO PEREIRA

LUIZ MARCUS SUPLICY HAFERS

RONALDO DE ALBUQUERQUE

TITO BRUNO BANDEIRA RYFF

FLÁVIO MIRAGAIA PERRI

JOEL NAEGELE

MARCUS VINÍCIUS PRATINI DE MORAES

ROBERTO PAULO CÉZAR DE ANDRADE

RUBENS RICUPERO

PIERRE LANDOLT

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

ISRAEL KLABIN

SYLVIA WACHSNER

ANTONIO DELFIM NETTO

ROBERTO PARAÍSO ROCHA

JOÃO CARLOS FAVERET PORTO

ANTONIO CABRERA MANO FILHO

JÓRIO DAUSTER

ANTONIO CARREIRA

ANTONIO MELLO ALVARENGA NETO

IBSEN DE GUSMÃO CÂMARA

J OHN R I C H A R D L EW I S T HOMP S O N

JOSÉ CARLOS AZEVEDO DE MENEZES

AFONSO ARINOS DE MELLO FRANCO

ROBERTO RODRIGUES

JOÃO CARLOS DE SOUZA MEIRELLES

FÁBIO DE SALLES MEIRELLES

LEOPOLDO GARCIA BRANDÃO

ALYSSON PAOLINELLI

OSANÁ SÓCRATES DE ARAÚJO ALMEIDA

DENISE FROSSARD

EDMUNDO BARBOSA DA SILVA

ERLING S. LORENTZEN

PATRONO

ENNES DE SOUZA

MOURA BRASIL

CAMPOS DA PAZ

BARÃO DE CAPANEMA

ANTONINO FIALHO

WENCESLÁO BELLO

SYLVIO RANGEL

PACHECO LEÃO

LAURO MULLER

MIGUEL CALMON

LYRA CASTRO

AUGUSTO RAMOS

SIMÕES LOPES

EDUARDO COTRIM

PEDRO OSÓRIO

TRAJANO DE MEDEIROS

PAULINO FERNANDES

FERNANDO COSTA

SÉRGIO DE CARVALHO

GUSTAVO DUTRA

JOSÉ AUGUSTO TRINDADE

IGNÁCIO TOSTA

JOSÉ SATURNINO BRITO

JOSÉ BONIFÁCIO

LUIZ DE QUEIROZ

CARLOS MOREIRA

ALBERTO SAMPAIO

EPAMINONDAS DE SOUZA

ALBERTO TORRES

CARLOS PEREIRA DE SÁ FORTES

THEODORO PECKOLT

RICARDO DE CARVALHO

BARBOSA RODRIGUES

GONZAGA DE CAMPOS

AMÉRICO BRAGA

NAVARRO DE ANDRADE

MELLO LEITÃO

ARISTIDES CAIRE

VITAL BRASIL

GETÚLIO VARGAS

EDGARD TEIXEIRA LEITE

FUNDADOR E PATRONO: OCTAVIO MELLO ALVARENGA

DIRETORIA TÉCNICA

ALBERTO WERNECK DE FIGUEIREDO

ANTONIO FREITAS

CLAUDIO CAIADO

JOHN RICHARD LEWIS THOMPSON

FERNANDO PIMENTEL

JAIME ROTSTEIN

JOSÉ MILTON DALLARI

KATIA AGUIAR

MARCIO SETTE FORTES DE ALMEIDA

MARIA HELENA FURTADO

MAURO REZENDE LOPES

PAULO PROTÁSIO

ROBERTO FERREIRA S. PINTO

RONY RODRIGUES OLIVEIRA

RUY BARRETO FILHO

COMISSÃO F ISCAL

CLAUDINE BICHARA DE OLIVEIRA

MARIA CECÍLIA LADEIRA DE ALMEIDA

PLÁCIDO MARCHON LEÃO

ROBERTO PARAÍSO ROCHA

RUI OTAVIO ANDRADE

0-FRosto a Sumário.pmd 21/5/2012, 20:222

Page 5: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 3

Sustentabilidade, Economia Verde

e “pegada ecológica”

A Comissão Mundial sobre Meio Ambien-

te da ONU definiu “desenvolvimento

sustentável” como aquele que aten-

de às necessidades do presente sem compro-

meter a possibilidade das gerações futuras

atenderem às suas próprias necessidades.

Ao longo dos anos, o conceito de “susten-

tabilidade” vem incorporando aspectos soci-

ais e a questão ambiental passou a ser asso-

ciada ao desenvolvimento econômico, ao em-

prego, às igualdades, ao combate a pobreza,

dentre outros aspectos.

Recentemente surgiu o termo “pegada eco-

lógica”, um indicador que avalia a quantidade

de recursos naturais necessários para a ma-

nutenção do estilo de vida das pessoas. As-

sim, cada cidadão teria sua “pegada ecológi-

ca”; cada comunidade, cidade ou país, teriam

suas respectivas “pegadas ecológicas”.

A Economia Verde permanece com um vago

enunciado. Visa à melhoria do bem-estar e à

redução das desigualdades, sem o aumento

da “pegada ecológica”.

Todo esse jogo de palavras é útil. Faz parte

do processo de conscientização ecológica que

vivenciamos nos últimos anos. Neste sentido,

é inegável que estamos evoluindo, nacional e

globalmente.

Retóricas à parte, a agricultura está sem-

pre presente, quaisquer que sejam as versões

e abrangência dos conceitos relacionados à

sustentabilidade, Economia Verde ou “pega-

da ecológica”.

A agricultura ocupa um terço da superfície

da Terra e é a principal atividade de grande

parte da população mundial.

No Brasil, de dimensões continentais, man-

temos mais de 62% do território preservado e

possuímos uma das legislações ambientais

mais avançadas e restritivas do mundo.

Podemos afirmar, sem dúvida, que a agri-

cultura brasileira é sustentável e inclusiva

socialmente. Poucos países conseguiram

conciliar uma exuberante produção se ali-

mentos, com indicadores elevados de sus-

tentabilidade e preservação ambiental, como

o Brasil.

O Brasil possui a matriz energética maisrenovável do mundo industrializado e aindatemos grande potencial de crescimento na pro-dução de etanol e biocombustíveis.

Dispomos de tecnologia avançada e adota-mos práticas agrícolas que visam ao uso racio-nal dos recursos naturais, tais como controlebiológico, integração lavoura-pecuária-flores-ta, plantio direto, dentre outros.

Caberá ao Brasil fornecer grande partedos alimentos necessários para os dois bi-lhões de novos habitantes do planeta que,nos próximos 40 anos, serão incorporadosaos atuais sete bilhões.

Além de quantidade, temos qualidade esegurança em nossa produção. Investimosem pesquisa e eficiência. Nossa produtivi-dade tem crescido de forma extraordinária,baseada na inovação, no conhecimento eno trabalho incansável de nossos produto-res rurais.

Está na hora do Brasil quantificar os valoresdos serviços ambientais que presta ao plane-ta, fundamentais para o equil íbrio doecossistema global. Trata-se de umaconstatação irrefutável, reconhecida em todoo mundo.

Não é justo que o custo dos serviços depreservação ambiental continuem sendo su-portados apenas por nossos produtores ru-rais, que já enfrentam maiores riscos e incer-tezas que os demais setores da economia.

A realização da Conferência Rio + 20 e arecente aprovação do novo Código Florestalabrem oportunidades para ampliar a discus-são sobre o assunto.

Nesta publicação especial da SociedadeNacional de Agricultura, reunimos depoimen-tos e artigos inéditos de ilustres personalida-des, de diversas origens e especialidades,sobre sustentabilidade e Economia Verde.

Boa leitura.

Antonio Mello AlvarengaPresidente da Sociedade Nacional de Agricultura

0-FRosto a Sumário.pmd 21/5/2012, 20:223

Page 6: Sustentabilidade e Economia Verde

Coordenação geral

e revisão final

Cristina Baran

Capa

Cristina Baran

Foto: Embrapa

Revisão

Paula Guatimosim

Secretaria

Sílvia Marinho de Oliveira

Editoração e Arte

Paulo Américo Magalhães

[email protected]

Tel: (21) 2580-1235

Impressão

Ediouro Gráfica e Editora Ltda

Tel: (21) 3882-8400

[email protected]

Publicação especial da

Sociedade Nacional de Agricultura - SNA

Conferência das Nações Unidas sobre

Desenvolvimento Sustentável - Rio+20

JUNHO 2012

Av. General Justo, 171 - 7º andar - 20021-130 - Rio de Janeiro / RJ

Tel: (21) 3231-6350

Site: www.sna.agr.br

4 Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e

Economia Verde

0-FRosto a Sumário.pmd 21/5/2012, 20:224

Page 7: Sustentabilidade e Economia Verde

SUMÁRIOSUMÁRIO

Sustentabilidade e Economia Verde 5

Rio+20 e o Código Florestal

Antonio Delfim Netto ____________________________________________________ 6

O exercício diário da sustentabilidade

Mendes Ribeiro Filho ___________________________________________________ 9

CNA lança política de Governança Climática da Agropecuária na Rio+20

Kátia Abreu ___________________________________________________________ 12

O agro brasileiro na Rio+20

Roberto Rodrigues ____________________________________________________ 17

Agricultura e sustentabilidade

Pedro Antonio Arraes Pereira e Maurício Antônio Lopes ___________________ 20

Humanidade em apuros

Ibsen de Gusmão Câmara _____________________________________________ 25

Avicultura: desenvolvimento com sustentabilidade

Francisco Turra________________________________________________________ 29

Desenvolvimento sustentável: um conceito

Flávio Miragaia Perri___________________________________________________ 31

Economia verde e sustentabilidade

Haroldo Mattos de Lemos e Antenor Barros Leal _________________________ 39

Progresso sustentável

Maurilio Biagi Filho ____________________________________________________ 44

A agropecuária nacional na perspectiva da economia verde

Fábio de Salles Meirelles ______________________________________________ 47

O futuro da agropecuária sustentável

Luís Fernando Guedes Pinto ___________________________________________ 53

Economia verde e agricultura: existe pontencial?

Eduardo Delgado Assad _______________________________________________ 57

0-FRosto a Sumário.pmd 21/5/2012, 20:225

Page 8: Sustentabilidade e Economia Verde

6 Sustentabilidade e Economia Verde

RIO+20 E

O CÓDIGO

FLORESTAL

RIO+20 E

O CÓDIGO

FLORESTAL

Aparentemente, o primeiro a

sugerir que o aumento da

concentração de dióxido de

carbono (o famoso CO2) poderia ser

responsável pelo aumento da

temperatura terrestre, foi o químico

sueco Svante Arrthenius num artigo

publicado em 1896. Nos últimos 116

anos, sua hipótese tem sido discutida e

escrutinizada de todas as formas, sem

que se tenha chegado a uma conclusão

definitiva. Há, também, sérias dúvidas

sobre a origem do aquecimento: se

produto da evolução natural do sistema

físico cíclico que controla a Terra ou se

produto da atividade humana (efeito

antropogênico).

A discussão escapou da área

“científica”, onde tudo se resolve

pela procura de “evidências

controladas que podem ser

repetidas”, para o campo da

“ideologia”, estimulada por suas

consequências sobre a atividade

privada que procura a “maximização

do lucro”. Da mesma forma que a

indústria de cigarros induz a

construção de evidências

“científicas” que seu produto não é

Antonio Delfim Netto

1-DelfimNeto.pmd 21/5/2012, 18:306

Page 9: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 7

um fator

estimulador do

câncer no pulmão,

ou pelo menos,

que “há dúvida

razoável” sobre

essa causalidade,

setores altamente

geradores de CO2

(energia a carvão

ou petróleo), que

produzem

externalidade negativa, cuja correção

exige uma intervenção da sociedade

através de um estado regulador forte,

tentam criar, pelo menos,

controvérsias.

Resultados pífios

No nível das conversas

diplomáticas, a ONU estimulou a

conferência sobre o clima em

Stockholm em 1972, que tem sido

regularmente repetida em cada

década: 1982 (Nairobi); 1992 (Rio);

2002 (Johannesburg, Rio+10) e 2012

(Rio+20). Em 1997, nada menos do

que 160 nações aderiram ao Protocolo

de Kyoto, rapidamente desmoralizado

por críticas de toda natureza.

Os resultados práticos de tais

reuniões têm sido pífios. Entre 1880 e

2010, a temperatura média da Terra

revelou grande variação, mas a sua

tendência tem

sido a de

crescimento.

Aumentou em

torno de 0,0042oC

ao ano entre 1880

e 1980 e acelerou-

se para nada

menos do que

0,0135 entre 1980

e 2010. Nos

últimos 130 anos,

o aquecimento da

terra foi de quase

1%, mas é difícil

discernir se

devido aos

movimentos

“naturais” ou do

efeito

antropogênico. Se

considerarmos o pequeno espaço de

tempo decorrido, é muito provável que

o grosso do efeito seja mesmo

derivado do aumento da atividade

industrial do homem.

Compromissos firmes

Isso impõe uma grande

responsabilidade à Rio+20, da qual

se deve esperar compromissos firmes

para a mudança “verde” na produção

de combustíveis e no esforço

recobrado em tecnologias que

reduzem a quantidade de energia por

unidade de PIB. Apenas para dar um

exemplo, a China que desde 2006 é a

maior poluidora internacional (é muito

rica em carvão), consome 2,5 vezes a

energia por unidade de PIB, com

relação à média mundial, e 4,5 vezes

a consumida pelos países da

Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico-OECD.

Apesar de todo

seu esforço

antipoluidor,

sendo a maior

consumidora de

energia por

unidade do PIB,

sendo o aumento

de sua energia

Setores altamente geradores

de CO2 (energia a carvão

ou petróleo), que produzem

externalidade negativa

cuja correção exige uma

intervenção da sociedade

através de um estado regulador

forte, tentam criar, pelo menos,

controvérsias

“Deve-se esperar da Rio+20

compromissos firmes para a

mudança “verde” na produção

de combustíveis e no esforço

recobrado em tecnologias que

reduzem a quantidade de

energia por unidade de PIB

1-DelfimNeto.pmd 21/5/2012, 18:307

Page 10: Sustentabilidade e Economia Verde

8 Sustentabilidade e Economia Verde

Antonio Delfim Netto é economista, formadopela Universidade de São Paulo e professor deEconomia. Ex-ministro da Fazenda, Agricultura ePlanejamento. Reeleito cinco vezes deputadofederal pelo Estado de São Paulo.

produzida pelo carvão e tendo a maior

taxa de crescimento do PIB, é pouco

provável que mesmo com um esforço

gigantesco ela venha a contribuir

significativamente para o objetivo de

2050. O mesmo acontece com os EUA.

Situação complicada

A situação é ainda mais complicada

quando consideramos que 16

cientistas publicaram, no início deste

ano, um manifesto sob o título “Não há

necessidade de pânico sobre o

aquecimento global” (The Wall Street

Journal, 26/01/2012) afirmando que

não há “evidência incontroversa que

esteja havendo um aquecimento

global” e que “não há prova que o CO2

seja um poluente”. Sugerem que

podemos esperar mais 50 anos para

ver como as coisas ficarão! E como se

faltasse “ruído”, o ganhador do prêmio

Nobel de Física, prof. Ivar Giarver,

democrata, apoiador de Obama,

pediu desligamento, em setembro de

2011, da prestigiosa American

Physical Society (APS), por não

concordar com uma resolução onde a

entidade afirmou o contrário do que

está dito acima. Isso mostra o nível de

paixão despertado por uma questão

que deveria ser resolvida com fria

objetividade apelando, pelo menos,

para o princípio da precaução, diante

das terríveis consequências do

aumento do aquecimento terrestre se

ele vier acontecer. Mais dramático,

ainda, foi o recente reconhecimento do

célebre catastrofista James Lovelock

(o criador da hipótese Gaia: a Terra é

um organismo vivo) de que o clima

contrariou, desde 2000, todas as suas

previsões e que “é necessário mais

estudos para entender o futuro do

planeta”.

Código Florestal

O mesmo fenômeno, num nível

diferente, explica a enorme disputa

que cercou o Código Florestal

aprovado no Congresso. Um discurso

de surdos. O lado mais vocal,

supostamente apoiado numa

“ciência” duvidosa, defendeu

interesses difusos e nem sempre

honestos, como os patrocinados por

algumas ONGs. O outro, com mais

poder político no Congresso,

defendeu, sem sutilezas, seus

interesses econômicos concretos. O

Código tem pouco a ver com o

aquecimento global e a tentativa de

misturá-lo com a Rio+20 não ajudará

em nada. Ele tem tudo a ver com o uso

inteligente de nossos recursos

naturais para continuarmos a construir

uma economia sustentável e

economicamente eficiente, mas não

tem nada a ver com a anistia sugerida

a quem, deliberada e maliciosamente,

infringiu a lei vigente.

Rio+20

O Brasil não fará má figura na

Rio+20 devido aos seus esforços.

Nela estará representado pela

competente e pragmática ministra

Izabella Teixeira, mas há sérias

dúvidas sobre seus resultados.

1-DelfimNeto.pmd 21/5/2012, 18:308

Page 11: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 9

O EXERCÍCIO

DIÁRIO DA

SUSTENTABILIDADE

O EXERCÍCIO

DIÁRIO DA

SUSTENTABILIDADE

Mendes Ribeiro Filho

O Brasil passa por profundas

transformações. A população

está amadurecendo e a

expectativa de vida do brasileiro, que

era de 70 anos em 2000, passou para 73

anos em 2009. Em 2020, as classes A, B

e C representarão mais de 61% das

famílias. Ou seja, em menos de uma

década, teremos uma população mais

madura, mais rica e mais exigente,

consumindo mais e melhor.

A desigualdade social no Brasil caiu

pelo décimo primeiro ano consecutivo,

segundo estudos da Fundação Getúlio

Vargas-FGV, e atingiu o menor índice

histórico desde 1960. A pobreza caiu

7,9% no ano passado e, em 2014, a

classe C representará 60,1% da

população brasileira.

Não temos dúvidas alguma de que a

educação foi o fator que mais contribuiu

para a melhoria desses índices, além do

aumento do emprego formal, da redução

da natalidade e, fundamentalmente, dos

programas sociais de inclusão, geração e

transferência de renda promovidos pelo

governo federal.

Não podemos mais debater

isoladamente questões tão intrínsecas.

Quando se fala em sustentabilidade,

tratamos de aspectos econômicos,

2-Mendes Fibeiro.pmd 21/5/2012, 18:349

Page 12: Sustentabilidade e Economia Verde

10 Sustentabilidade e Economia Verde

sociais e ambientais. O país é a sexta

economia mundial e queremos ser

protagonistas nas ações efetivas que

visam ao equilíbrio entre a demanda, à

oferta de alimentos e ao alívio à fome.

A estabilidade econômica também

tornou o Brasil campo fértil para

investidores internacionais. A conjunção

de fatores – como investimentos em

tecnologia e

pesquisa –,

potencial de

crescimento e a

adoção de boas

práticas de

sustentabilidade,

forjaram o país

como um mercado

seguro para novos

capitais.

Equilíbrio

Tratar com equilíbrio as áreas

econômica, social e ambiental tem sido

o pilar da atual política de governo. E,

neste contexto, a agricultura nacional

tem despontado não apenas no acúmulo

de resultados positivos, mas também na

perspectiva de geração de riquezas para

o Brasil e para os brasileiros.

Nosso país se tornou líder em inovação

agropecuária no mundo tropical. Pela

ferramenta da pesquisa, houve a

diversificação dos sistemas de produção

agropecuária, o que ajuda o país a

garantir a segurança alimentar e a

produzir excedentes. Além de

exportamos para mais de 200 mercados

em todo o mundo, a agricultura

representa 25% do Produto Interno Bruto-

PIB do país e é responsável pelo saldo

positivo da balança comercial brasileira.

A política agrícola brasileira avançou

sobremaneira em direção à

sustentabilidade. Buscamos um modelo

de agricultura que conserve e use, de

modo sustentável, a biodiversidade,

que proteja a qualidade do solo e da

água, que gere a inclusão produtiva,

além de promover a erradicação da

pobreza.

O Brasil possui 851 milhões de

hectares de extensão e, deste total, 61%

são de território

preservado e 33%

destinados à

produção de

grãos, pecuária de

corte e leite,

florestas, fibras,

energia,

hortifrutigranjeiros,

entre outros. Os

imóveis rurais no

Brasil possuem

uma área média de

64 hectares, muito inferior a países,

como Austrália, Argentina e Canadá.

Nossa produtividade em grãos

cresceu 290% em 50 anos. No mesmo

período, o rebanho de gado cresceu

250%, com o acréscimo em área de

apenas 39%. Estamos investindo em

eficiência e em competitividade na

produção de alimentos.

A evolução da produção de alimentos

em relação à área plantada nos mostra

a importância da eficiência no campo.

De 1991 até 2012, nossa produção de

grãos aumentou 173%, enquanto a área

necessária para suportar essa produção

cresceu apenas 52%.

Desafio

Esta é a resposta que o país e os

produtores estão dando para o desafio

de aumentar a produção de alimentos

com segurança e qualidade. A

“Buscamos um modelo de

agricultura que conserve e use, de

modo sustentável, a biodiversidade,

que proteja a qualidade do solo

e da água, que gere a inclusão

produtiva, além de promover a

erradicação da pobreza

2-Mendes Fibeiro.pmd 21/5/2012, 18:3410

Page 13: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 11

sociedade também espera da

agricultura uma contribuição

significativa na produção de energia

renovável, na geração de riqueza para

quem vive da terra e na redução da

emissão de gases de efeito estufa.

Para tanto, o Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento – -MAPA,

desenvolve ações importantes na

construção de sistemas agroalimentares

e agroindustriais

limpos. A principal

delas é o Programa

de Agricultura de

Baixa Emissão de

Carbono – Plano

ABC, que tem

como objetivo

principal a redução

da emissão de

gases de efeito

estufa na próxima

década, da ordem de 125 a 156 milhões

de toneladas de CO2 equivalentes.

Em uma vertente complementar, o

MAPA atua por meio do Programa de

Agroenergia para fomentar a produção

de energia renovável, a partir de

produtos agropecuários e do uso da

biomassa para geração de energia

elétrica. A agroenergia é responsável

por cerca de 30% da energia ofertada

no Brasil, o que coloca o país na

liderança mundial do setor. Quase 48%

da energia ofertada no país é obtida de

fontes renováveis, como a biomassa, a

energia hidroelétrica e os

biocombustíveis.

A redução na emissão de carbono em

decorrência da mistura de etanol e

biodiesel nos combustíveis fósseis tem

demonstrado que é possível caminhar

em direção ao uso massificado de

combustíveis verdes. E, com o fomento

ao uso da agricultura irrigada,

incentivamos a utilização racional da

água, a preservação do meio ambiente

e a geração de maior renda para os

pequenos produtores.

Embrapa

Gostaria ainda de destacar o trabalho

de ponta que vem sendo realizado pela

Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária-Embrapa. Estamos

produzindo uma

verdadeira

revolução no

campo da

pesquisa. A

Embrapa tem

gerado soluções

tecnológicas que

viabilizam a

elevação do

desempenho e a

inserção econômica

dos pequenos agricultores, respeitando

suas diversidades regionais e culturais.

A empresa estabeleceu parcerias

internacionais com 56 países e mantém

acordos de cooperação científica com

outros sete países.

Temos a dimensão que, para se

construir uma economia verde, torna-se

essencial incorporar a cultura de

sustentabilidade em todas as cadeias

produtivas das atividades agropecuária

e florestal.

Nossa visão de agricultura nacional

está intrinsecamente ligada à

preservação do meio ambiente.

Buscamos um modelo que conserve e

use de modo sustentável a

biodiversidade e os recursos naturais, e

que integre a relação campo-cidade

combatendo a pobreza rural.

Mendes Ribeiro Filho é Ministro daAgricultura, Pecuária e Abastecimento

“O Programa de Agricultura de

Baixa Emissão de Carbono – Plano

ABC, que tem como objetivo

principal a redução da emissão de

gases de efeito estufa na próxima

década, da ordem de 125 a 156

milhões de toneladas de CO

2

equivalentes

2-Mendes Fibeiro.pmd 21/5/2012, 18:3411

Page 14: Sustentabilidade e Economia Verde

12 Sustentabilidade e Economia Verde

CNA LANÇA POLÍTICA

DE GOVERNANÇA

CLIMÁTICA DA

AGROPECUÁRIA

NA RIO+20

CNA LANÇA POLÍTICA

DE GOVERNANÇA

CLIMÁTICA DA

AGROPECUÁRIA

NA RIO+20

A agropecuária brasileira se

consolidará como modelo

mundial de sustentabilidade

durante a Conferência das Nações

Unidas sobre Desenvolvimento

Sustentável-Rio+20, que se realiza em

junho, no Rio de Janeiro. Para

alcançarmos esse reconhecimento, a

Confederação da Agricultura e Pecuária

do Brasil (CNA), levará para o Espaço

AgroBrasil, instalado no Píer Mauá, uma

série de iniciativas que demonstram a

liderança brasileira neste novo

paradigma de produção e

desenvolvimento, como a Política de

Governança Climática da Agropecuária,

que será lançada durante o evento.

Com esta política, estabeleceremos

disposições que funcionarão como guia

de defesa e preservação do meio

Kátia Abreu

3-Kátia Abreu.pmd 21/5/2012, 18:3712

Page 15: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 13

ambiente para a

atual e as futuras

gerações,

mostrando que

temos todas as

condições de evitar

ou amenizar os

danos e ameaças

relativos à

mudança do clima.

O setor agropecuário é um dos mais

vulneráveis às alterações do sistema

climático ocasionadas pelas ações do

homem no planeta. A transição climática

imposta pelos altos níveis de emissões

de gases do efeito estufa (GEE) está

causando impactos diretos na

disponibilidade dos recursos hídricos,

no solo e na produtividade das

espécies, além de reduzir áreas

propícias à plantação de importantes

culturas destinadas à alimentação

humana.

Diante desse cenário de profundas

transformações, impõem-se ao Brasil e

ao mundo a criação e a utilização de

instrumentos econômico-financeiros

que possam colocar em prática ações

concretas para a consolidação de uma

economia menos intensiva em carbono,

capaz de limitar a elevação da

temperatura média da terra e o aumento

da concentração de dióxido de carbono

(CO2) na atmosfera.

O Brasil já adotou metas de redução

de emissões de GEE por meio da

Política Nacional

de Mudanças

Climáticas

(PNMC). No

momento, o

governo federal

trabalha no

desenvolvimento

dos Planos

Setoriais de

Mitigação e

Adaptação às

Mudanças do

Clima. Precursor

desses planos

dispostos na

PNMC, o Plano de

Agricultura de

Baixa Emissão de Carbono (ABC), do

Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA), proporciona

ao produtor rural as necessárias

condições para que adote as práticas

de produção de baixo carbono, sob o

ponto de vista técnico e financeiro. Os

recursos disponibilizados para a

implementação das ações

recomendadas pelo Programa ABC

totalizam R$ 3,15 bilhões, só para

2012.

Protagonista

A CNA assumiu o compromisso de

ser protagonista global das ações em

favor do clima e da produção rural de

baixo carbono, levando em conta os

riscos e as oportunidades internas e

externas que o aquecimento global

traz ao agronegócio brasileiro. Nossas

atividades em busca de uma

economia menos emissora de GEE

começaram com a elaboração de uma

Política de Governança Climática da

Agropecuária (PGCA), cujo primeiro

passo foi a elaboração de um

diagnóstico completo do setor

agropecuário

quanto às suas

emissões de

carbono.

Neste estudo

inicial,

identificamos a

necessidade de

inventários

A CNA assumiu o compromisso

de ser protagonista global

das ações em favor do clima

e da produção rural de

baixo carbono

“O setor agropecuário

é um dos mais vulneráveis

às alterações do sistema climático

ocasionadas pelas ações do

homem no planeta

3-Kátia Abreu.pmd 21/5/2012, 18:3713

Page 16: Sustentabilidade e Economia Verde

14 Sustentabilidade e Economia Verde

nacionais mais precisos, que reflitam

as reais contribuições do setor para as

emissões de GEE. As conclusões

também mostram que é preciso elevar

os investimentos em pesquisa e

tecnologia, ampliar as ações do Plano

ABC, facilitar o acesso às fontes de

recursos disponibilizadas aos

produtores, desenvolver projetos no

âmbito do Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo (MDL)

Programático – ou Programa de

Atividades (PoA, na sigla em inglês),

criado pelas Nações Unidas para o

registro em conjunto de pequenos

projetos geradores de créditos de

carbono – e fortalecer a criação de um

mercado de

certificados de

redução de

carbono

específico para o

setor, entre outras

iniciativas focadas

na gestão de

emissões de GEE

oriundas da

atividade

produtiva.

Identificamos, também, as ações,

atividades, programas e melhores

práticas que poderão ser adotadas

pelo setor. Nossa intenção é elevar,

estrategicamente, o grau de

percepção positiva e a

competitividade da agropecuária

brasileira diante dos mais exigentes

mercados consumidores. Os

resultados alcançados neste

diagnóstico constituem o alicerce de

um plano de ação elaborado com a

firme disposição de buscar as

alternativas mais eficazes de solução

do problema do aquecimento global,

como também a construção de

mecanismos que possibilitem

transformar esta necessidade global

em vantagem competitiva para o

agronegócio brasileiro.

Ações

Obviamente, um plano dessa

magnitude não se realiza de imediato.

Entre as ações previstas, há algumas

que poderão ser executadas quase

instantaneamente. Outras são de fácil

realização e existem, ainda, ações que

já estão naturalmente em andamento,

antes mesmo do marco inicial deste

trabalho. A maioria destas ações

cogitadas depende, no entanto, de

amplo planejamento, obtenção de

recursos,

formatação

institucional e,

especialmente,

vontade política.

Política de

Governança

Climática da

Agropecuária

Entre todas essas ações que

planejamos, destaco a formatação da

Política de Governança Climática da

Agropecuária, norma voluntária

proposta pela CNA para se tornar o

guia de boas práticas do setor e afirmar

sua posição de destaque mundial no

combate às mudanças climáticas. Sua

importância se deve, ainda, ao fato de

ter sido projetada justamente para

atender à sistematização e

coordenação de todo este

planejamento estratégico.

O setor agropecuário deve

direcionar suas atividades a uma

produção menos carbono-intensiva,

contribuindo para a solução do

problema do clima e para o

Nossa intenção é elevar,

estrategicamente, o grau de

percepção positiva e a

competitividade da agropecuária

brasileira diante dos mais exigentes

mercados consumidores

““

3-Kátia Abreu.pmd 21/5/2012, 18:3714

Page 17: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 15

atendimento das metas brasileiras de

redução de emissões. Por esse motivo,

será preciso, em primeiro lugar,

centralizar as ações do setor, criando

um modelo de atuação frente às

mudanças climáticas. Para tanto, a

PGCA enumera as condutas que

possibilitarão a ativa participação de

todos os segmentos do setor no

combate à mudança do clima, tornando

o agronegócio brasileiro menos

emissivo e mais competitivo

mundialmente.

Ao priorizar a

questão climática,

a agricultura e a

pecuária do Brasil

assumem posição

de destaque no

papel de

sequestrador de

carbono e parte

essencial na

solução para a crise climática. O Brasil

não será mero expectador desse

debate e assumirá o papel que lhe

cabe, independentemente de

qualquer imposição internacional.

Redução de emissões

Na 15ª Conferência das Partes da

Convenção Quadro das Nações

Unidas sobre Mudança do Clima (COP-

15), realizada em Copenhague, em

2009, o Brasil comprometeu-se a

reduzir suas emissões em torno de

38%, dos quais aproximadamente 6%

recaem sobre o setor agropecuário.

Com a regulamentação da Convenção

do Clima no Brasil e a promulgação da

Política Nacional sobre Mudança do

Clima (PNMC) e do Plano ABC,

mostramos que o País já está se

preparando para o novo cenário

mundial de estabelecimento de metas

de redução de emissões de GEE e

responsabilidades quanto ao

combate à mudança do clima.

Deixamos claro que o Brasil poderá

atender aos ditames do novo acordo

mundial, anunciado na 17ª

Conferência das Partes (COP-17), em

Durban, na África do Sul, para entrar

em vigor em 2020.

Há, ainda, muito a ser feito.

Precisamos intensificar as práticas

de mitigação e adaptação às

mudanças

climáticas.

Prevalece, nesse

contexto, a

disposição da

agropecuária

brasileira de

servir de

exemplo na

execução de

ações de redução

de carbono, nos moldes

manifestados pelo governo

brasileiro. Nossa intenção é que a

conservação dos recursos naturais,

essenciais ao desenvolvimento da

agricultura e da pecuária, seja foco

da atuação sustentável do setor, ao

passo em que auxilia no

atendimento das metas de redução

de emissões.

Vale lembrar que a agropecuária já

possui práticas avançadas e atividades

consideradas viáveis e eficientes para

uma produção de baixo carbono. Isso

permite que o setor chegue a um

resultado mais rápido em termos de

mitigação de GEE, tendo em vista a

necessidade de menor investimento em

desenvolvimento e financiamento de

novas tecnologias. Diante deste cenário

favorável, o setor deverá buscar os

benefícios que estão sendo

disponibilizados.

A agricultura e a pecuária do

Brasil assumem posição de

destaque no papel de

sequestrador de carbono e

parte essencial na solução

para a crise climática

3-Kátia Abreu.pmd 21/5/2012, 18:3715

Page 18: Sustentabilidade e Economia Verde

16 Sustentabilidade e Economia Verde

Valor agregado

Ao seguir atentamente as

recomendações da Política de

Governança Climática, o

agropecuarista torna-se um adepto da

prevenção da mudança do clima, um

agente que contribuirá de forma

efetiva para a solução do problema

global, sem contar o valor agregado

que a redução de carbono

proporcionará ao seu produto. Mais do

que controlar as atividades rurais,

trata-se de moldá-las às novas

gerações, por meio de um sistema de

condutas que propiciem a mitigação

dos GEEs na atmosfera.

O caráter participativo deste

processo de elaboração e

implementação da PGCA terá o condão

de estabelecer uma governança do

setor agropecuário, em resposta à

demanda pelo avanço dos processos

regulatórios relacionados ao clima. Na

fronteira do conhecimento acerca de

como ser um agente preponderante da

economia de baixo carbono, a

agricultura brasileira desenhará o perfil

necessário para adquirir maior

competitividade.

O ponto central desta política rumo à

economia verde é a implementação das

ações consideradas fundamentais e

necessárias à consolidação de uma

agropecuária de baixo carbono no

Brasil. Certamente, a Política de

Governança Climática da Agropecuária

é a mais importante das medidas

propostas pela CNA para alcançarmos

uma produção rural menos carbono-

emissiva e mais sustentável. Com a

PGCA, será possível orientar e guiar o

setor na adoção das melhores práticas

no campo.

Sistematização de ações

Vamos estabelecer critérios

organizados para a sistematização

de outras ações de grande porte,

como a realização do Fórum

Internacional de Estudos

Estratégicos para Desenvolvimento

Agropecuário e Respeito ao Clima

(FEED) e o Projeto Agricultura de

Baixo Carbono – desenvolvido em

parceria com a Embrapa, Ministério

da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA), Banco do

Brasil e Embaixada Britânica. Sem

essa sistematização, a dimensão

dos objetivos a serem alcançados

dificultaria sua execução.

Estamos trabalhando para

mobilizar todo o setor agropecuário –

produtores, fornecedores,

distribuidores e comerciantes – na

direção de uma cultura setorial de

baixo carbono. Contamos, também,

com o apoio do governo e da

sociedade civil para promovermos

uma agropecuária sustentável, apta a

atender aos anseios e necessidades

mundiais e capaz de conferir valor

agregado à produção rural brasileira,

como não acontece em nenhum outro

lugar do planeta.

Kátia Abreu é senadora da República (PSD-TO)e presidente da Confederação da Agricultura ePecuária do Brasil (CNA)

O caráter participativo deste

processo de elaboração e

implementação da PGCA terá o

condão de estabelecer uma

governança do setor agropecuário,

em resposta à demanda pelo

avanço dos processos regulatórios

relacionados ao clima

3-Kátia Abreu.pmd 21/5/2012, 18:3716

Page 19: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 17

Um dos temas recorrentes em

rodas políticas ao redor do

mundo é a falta de lideranças

globais. Não existe nenhum líder

individual nos países centrais cujas

ideias ofereçam direção a ser seguida

pelos povos dos diferentes continentes.

Nem mesmo as grandes

organizações multilaterais – como a

própria ONU –, conseguem mais ter um

protagonismo definidor de projetos

globais universalmente aceitos. Esse

vazio de comando abre espaço para

falsos líderes surgirem e crescerem,

ameaçando, até mesmo, a democracia

e a paz mundial.

É, portanto, essencial a criação de

um plano que a todos empolgue, a

ricos e pobres de todos os países, sem

rejeição alguma, e que se transforme

em uma meta a ser perseguida

coletivamente: segurança alimentar e

energética sustentáveis deveria ser o

mote. Quem poderia ser contra? E, uma

vez definido este projeto, os países

terão que se comprometer com ele,

estabelecendo inclusive mecanismos

de governança para conduzir o tema.

Lição de casa

O Brasil, indiscutivelmente, fez parte

de sua lição de casa. Basta ver alguns

números.

Nos últimos anos, a área plantada

com grãos no país cresceu 36%,

enquanto a produção aumentou quase

cinco vezes mais que isso, 176%

(gráfico na página seguinte).

Se o número em si já é um grande

troféu a ser exibido, por trás dele há

algo ainda maior: se tivéssemos hoje a

mesma produtividade por hectare que

tínhamos há 21 anos, seriam

necessários mais 53 milhões de

hectares para produzir a safra de grãos

deste ano. Em outras palavras, esta

área foi preservada!

Roberto Rodrigues

O AGRO

BRASILEIRO

NA RIO +20

O AGRO

BRASILEIRO

NA RIO +20

4-RobertoRodrigues.pmd 21/5/2012, 18:3817

Page 20: Sustentabilidade e Economia Verde

18 Sustentabilidade e Economia Verde

Etanol

E não é só o caso dos grãos. O país

tem hoje 8 milhões de hectares plantados

com cana-de-açúcar. Se a produtividade

por hectare desta gramínea fosse a

mesma de quando foi implantado o

Proalcool, seriam necessários mais 6

milhões de hectares para produzir a safra

do ano passado. Só a cana e os grãos

preservaram quase 60 milhões de

hectares!

Aliás, o etanol – considerando toda a

cadeia produtiva, desde o plantio da

cana – emite apenas 11% do CO2

emitido pela gasolina, segundo a

UNICAMP. Isto é um claro elemento

mitigador do aquecimento global.

Bons exemplos

E tem mais: o país já conta com 7

milhões de hectares de florestas

plantadas, devendo chegar a 10 milhões

em 2020, o que ajuda a sequestrar CO2.

Temos uma crescente produção de

orgânicos, nossa pecuária vem

evoluindo tanto em leite quanto em

carnes, reduzindo a demanda por

pastagens e abrindo espaço para

pastos degradados se transformarem

em áreas agricultadas.

A integração lavoura/pecuária/floresta

mudará o paradigma tecnológico do

setor agropecuário, assim como o

plantio direto já fez no passado recente,

e o Brasil já é o país com maior área

com esta tecnologia.

A fixação biológica do nitrogênio

substitui o adubo químico deste

insumo; há economia de diesel e

água com os produtos transgênicos

extremamente seguros; e o trabalho

com dejetos animais (desenvolvido

no programa de agricultura de Baixo

Carbono do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento), entre

outros, são claras indicações do

interesse nacional por uma

agropecuária sustentável, tanto na

produção de alimentos quanto na de

energia, e aqui entram os

biocombustíveis e a bioeletricidade.

Matriz energética

Nossa matriz energética é invejável,

com mais de 45% renovável, enquanto

a da mundial mal chega a 13%.

Portanto, o Brasil pode muito bem ser

o catalisador de um programa mundial

de segurança alimentar e energética

sustentáveis! Até porque temos ainda

mais de 60% do território coberto com

vegetação nativa.

São números irrefutáveis e que o

mundo todo conhece, admira e

respeita.

O trabalho conjugado dos nossos

4-RobertoRodrigues.pmd 21/5/2012, 18:3818

Page 21: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 19

cientistas, pesquisadores,

extensionistas e produtores rurais, mais

algumas políticas públicas construtivas,

como o aumento do crédito rural e a

redução das taxas de juros, permitiram,

claramente, a expansão de nossas

exportações e do saldo comercial do

agronegócio.

Mudamos o perfil dos produtos

exportados para atender às demandas

crescentes dos países emergentes.

Isso causou reação de concorrentes

externos que perderam mercado para o

Brasil, e é possível que aproveitem a Rio

+20 para tentar depreciar nossa

atividade agropecuária e nosso

agronegócio.

Código Florestal

Até o Código Florestal poderá ser

atacado, quando é fundamental ter um

marco regulatório que confira

legalidade ao setor rural, definindo de

vez os controversos temas de Reserva

Legal e de Área de Preservação

Permanente. Se o documento aprovado

não é o melhor, é preciso aperfeiçoá-lo,

e é isso que o país está fazendo.

Em resumo, temos muitos troféus a

exibir na Rio +20, e é preciso competência

para comunicar isso com clareza.

E seria maravilhoso se, deste magno

evento mundial que definirá a

sustentabilidade da vida humana para o

futuro, saísse a proposta de um projeto

global como o sugerido.

Segurança alimentar e energética

sustentáveis são a própria síntese de

sustentabilidade, abrigando suas três

vertentes, a econômica, a social e a

ambiental.

E o Brasil tem papel relevante a

desempenhar nesta grande travessia

para um mundo melhor. Será

necessário cuidar de algumas velhas

mazelas e a educação básica de nível

técnico estaria nas providências mais

imediatas. O resto virá como

consequência disso.

Roberto Rodrigues é coordenador do Centrode Agronegócios da FGV; embaixador especialda FAO para o Ano Internacional dasCooperativas; e membro da Academia Nacionalde Agricultura

4-RobertoRodrigues.pmd 21/5/2012, 18:3819

Page 22: Sustentabilidade e Economia Verde

20 Sustentabilidade e Economia Verde

AGRICULTURA E

SUSTENTABILIDADE

AGRICULTURA E

SUSTENTABILIDADE

Pedro Antonio Arraes Pereira Maurício Antônio Lopes

Segurança alimentar e nutricional,

água, energia, meio ambiente e

pobreza representam os grandes

desafios a serem enfrentados pela

humanidade nas próximas décadas. Tais

desafios indicam que precisaremos

buscar um novo patamar de

conhecimento, um novo paradigma

científico e tecnológico, a fim de romper

limites, em especial na região tropical do

globo, onde estão os ambientes mais

desafiadores para a agricultura e a

produção de alimentos, além das

nações mais pobres. Os sistemas de

inovação para agricultura terão, cada

vez mais, que se referenciar em

aspectos que compreendam, além da

visão utilitária da produção de alimentos

e matérias-primas essenciais para a

sobrevivência e progresso do homem,

outras dimensões e valores. Para

alimentar a crescente população

mundial, é premente aumentar a

produção de alimentos com segurança

e qualidade, promovendo uma

agricultura cada vez mais sintonizada

com as três dimensões críticas da

sustentabilidade – econômica,

ambiental e social.

A agricultura brasileira dá exemplos

claros da possibilidade de se alcançar

esse objetivo. Poucos países

conseguiram avançar na direção de

uma produção mais sustentável de

alimentos e matérias-primas como o

Brasil. Em pouco mais de quatro

décadas, o país saiu de uma condição

de insegurança alimentar e

5-Pedro Arraes.pmd 21/5/2012, 18:4020

Page 23: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 21

dependência de importações para a

condição de potência agrícola tropical.

Avanços marcantes foram alcançados.

Hoje o manejo de culturas baseado no

plantio direto é utilizado no Brasil em

mais de 30 milhões de hectares de

lavouras, com expressiva contribuição

para a redução de

erosão, a melhoria

geral da qualidade

do solo e a recarga

do lençol freático.

A fixação biológica

do nitrogênio, por

meio da inoculação

de bactérias

diazotróficas, tem

possibilitado a

redução significativa da aplicação de

fertilizantes químicos em culturas como

a soja, com importante redução de

impactos ambientais como, por

exemplo, a contaminação de recursos

hídricos por nitratos. O controle

biológico utilizado regularmente em

diversas culturas, como soja, cana-de-

açúcar, algodão e fruteiras também tem

reduzido a demanda por controle

químico de pragas e doenças em

diversos sistemas de manejo, com

impactos positivos para o meio

ambiente, a qualidade de vida dos

trabalhadores rurais e para a segurança

e a qualidade dos produtos.

Superação de desafios

Há, no entanto, que se considerar

que, pela diversidade e complexidade

da agricultura brasileira, esses avanços,

embora muito relevantes, dificilmente

bastarão para superação dos desafios

futuros. É possível que a velocidade das

mudanças globais tornem obsoletos os

métodos convencionais de inovação

agropecuária, como o melhoramento

genético, o controle químico de pragas

etc., que têm sido, até aqui, o principal

instrumento de adaptação dos

organismos utilizados na agropecuária.

Nesse caso, novos métodos de

adaptação terão que ser desenvolvidos.

A busca e o domínio de funções

biológicas que tenham impacto positivo

em processos como regulação da

composição

química da

atmosfera,

regulação do

clima, tratamento e

reciclagem de

resíduos,

suprimento de

água, ciclagem de

nutrientes,

polinização e

controle biológico, entre outros, será

mais intensa à medida que crescerem

os impactos das atividades do homem

sobre o meio físico, com a consequente

redução na disponibilidade de recursos.

Rotas tecnológicas inovadoras

Estes cenários indicam que não

poderemos nos contentar com a

intensificação dos sistemas de

produção pelas vias clássicas, mas

fortalecer a busca de rotas tecnológicas

inovadoras, no que diz respeito aos

modelos e estratégias de produção,

novos métodos e insumos,

instrumentação avançada e automação

de sistemas, etc. Por exemplo, espera-

se que a combinação de estratégias da

biotecnologia moderna com as

estratégias tradicionais de inovação

tecnológica para a agricultura, como o

melhoramento genético, o controle

biológico e outras, torne-se o caminho

para a descoberta e a incorporação de

funções biológicas viabilizadoras de

uma agricultura cada vez mais

sustentável.

Na vertente da segurança biológica,

a intensificação do comércio

Estes cenários indicam que não

poderemos nos contentar com a

intensificação dos sistemas de

produção pelas vias clássicas,

mas fortalecer a busca de rotas

tecnológicas inovadoras

5-Pedro Arraes.pmd 21/5/2012, 18:4021

Page 24: Sustentabilidade e Economia Verde

22 Sustentabilidade e Economia Verde

internacional tem aumentado os riscos

de introdução e dispersão de espécies

invasoras e organismos causadores de

danos e doenças em vegetais e animais,

além de perda de biodiversidade e

outros danos aos ecossistemas naturais

e agrícolas. Legislações e

procedimentos nacionais e

internacionais de proteção ao ambiente,

à saúde ou à vida

de seres humanos

ou animais, se

tornam cada vez

mais complexos e

restritivos ao fluxo

e comércio

internacional de

produtos

agroindustriais.

Neste cenário, o

desenvolvimento

de conhecimentos e tecnologias

avançadas de detecção e identificação

de pragas, de análise, manejo e

mitigação de riscos ao meio ambiente e

à produção, é estratégico para tornar os

produtos do agronegócio mais

competitivos no mercado nacional e

internacional.

Sistemas eficientes

Uma potência agrícola como o Brasil,

necessita de um eficiente sistema de

defesa e sanidade agropecuária em

associação a um moderno sistema de

apoio científico e tecnológico. Todos os

países com presença marcante no

comércio internacional de produtos

agrícolas dispõem de capacidade de

desenvolvimento de tecnologias

avançadas e de um efetivo sistema de

controle e mitigação de riscos

ambientais e promoção da sanidade

zoo e fitossanitária. Tais sistemas se

destinam a proteger o meio ambiente e

os espaços produtivos de pragas

exóticas, permitem a convivência com

as pragas já existentes, sem perda de

qualidade ou produtividade, e garantem

a conformidade e a inocuidade dos

alimentos, evitando riscos à saúde

pública e ao meio ambiente.

Pragas e espécies invasoras

introduzidas em novas áreas geram

prejuízos exorbitantes à sociedade,

como danos a biomas sensíveis e perda

de biodiversidade,

perdas na

produção e

produtividade da

agricultura,

adoção de

medidas de

controle de alto

custo e

desemprego

devido à

inviabilização de

sistemas produtivos, citando apenas

alguns fatores. A chave para a abertura,

a conquista e a manutenção dos

mercados, é a competitividade, com a

oferta de tecnologia e de ambiente

sanitário equivalentes aos dos países

líderes do comércio internacional de

produtos agropecuários. A associação

entre órgãos de defesa do meio

ambiente, sanidade agropecuária e

instituições de Ciência e Tecnologia

(C&T), é crucial para a melhoria do

“status” sanitário dos produtos

brasileiros, bem como para o manejo e

uso sustentável da base de recursos

naturais que sustentam a produção

agropecuária e florestal.

A nascente bioeconomia e a

antevisão dos riscos e desafios

associados às mudanças climáticas

globais apontam também para a

necessidade de se intensificar o

enriquecimento, a conservação, a

caracterização, a agregação de valor e

a promoção da utilização sustentável

dos recursos genéticos vegetais,

animais e microbianos.

Uma potência agrícola como o

Brasil, necessita de um eficiente

sistema de defesa e sanidade

agropecuária em associação a um

moderno sistema de apoio

científico e tecnológico

5-Pedro Arraes.pmd 21/5/2012, 18:4022

Page 25: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 23

Adequadamente estudadas e

conhecidas, muitas funções biológicas

presentes em acervos e coleções, em

espécies não domesticadas e em

recursos da biodiversidade ainda não

catalogados ou descritos, poderão

gradualmente ser incorporadas a

espécies de importância para a

agricultura e para a futura bioindústria

do País. Caracteres pouco

considerados no âmbito dos programas

de melhoramento genético, como

aqueles relacionados à qualidade

ambiental (serviços ambientais,

bioenergia, economia do carbono e

outros) e a ramos da nascente

bioindústria (na confluência das

indústrias alimentar, farmacêutica,

química, da saúde, da energia) deverão

despertar, cada vez mais, interesse nos

ambientes de inovação tecnológica. Tal

perspectiva tende a aumentar as

intersecções entre agrobiodiversidade e

biodiversidade, ampliado o leque de

espécies e funções biológicas a serem

acessados, conservados,

caracterizados e utilizados para o

desenvolvimento de processos e

sistemas mais sustentáveis.

Inclusão dos pequenos

Atenção à dimensão social, em

especial à inclusão produtiva dos

pequenos agricultores é aspecto crítico

para a construção de um Brasil moderno

e justo. Ao longo das últimas décadas,

as tecnologias produzidas pela Embrapa

e outras instituições de pesquisa

agropecuária do país, geraram ganhos

significativos na produção de grãos,

leite, frutas, hortaliças, de carnes bovina,

suína e de frango etc., que tiveram papel

marcante na elevação da qualidade de

vida e do bem estar da população

brasileira. Entretanto, ainda convivem no

Brasil uma agricultura comercial,

moderna e dinâmica, com outra carente e

descapitalizada, à margem do mercado.

Este segmento engloba milhões de

famílias em todo o território nacional, que

dependem da assistência do Estado.

Além de educação, saúde, energia e

capital, esses agricultores precisam de

apoio e suporte. Os diversos agentes do

Estado Brasileiro devem atuar de forma

inteligente e concentrada para o

desenvolvimento de soluções que

viabilizem a elevação do desempenho e

a inserção econômica dos pequenos

agricultores, que têm papel fundamental

na segurança alimentar e nutricional da

população, no presente e no futuro.

Os desafios são, portanto, enormes.

Os clientes da pesquisa agropecuária

estarão, cada vez mais, demandando

resultados, na forma de produtos,

processos e informações que viabilizem

sistemas produtivos mais eficientes,

inclusivos e sustentáveis. A visão de

sistemas se fortalecerá na agricultura

como uma forma de solucionar, ou

minimizar, os problemas associados ao

enfoque reducionista, que se mostra

cada vez mais inadequado e

incompatível com os desafios do

presente e do futuro. Por exemplo, as

tecnologias de integração lavoura,

pecuária e floresta já permitem

desenvolver, num mesmo espaço,

diversas atividades produtivas, com

múltiplos benefícios. Tais inovações

tecnológicas serão fundamentais para

sustentação do Programa Agricultura de

Baixo Carbono-ABC, que prevê

incentivos para processos tecnológicos

As tecnologias de integração

lavoura, pecuária e floresta já

permitem desenvolver, num

mesmo espaço, diversas

atividades produtivas, com

múltiplos benefícios

5-Pedro Arraes.pmd 21/5/2012, 18:4023

Page 26: Sustentabilidade e Economia Verde

24 Sustentabilidade e Economia Verde

como o plantio direto na palha, a

recuperação de áreas degradadas,

plantio de florestas comerciais, fixação

biológica de nitrogênio, tratamento de

resíduos animais, dentre outras. Este

exemplo ilustra como a visão de

sistemas se configura como a norma

para a construção de uma agricultura

mais sustentável no futuro.

Novas tecnologias

Felizmente, novas tecnologias no

campo da tecnologia da informação, da

eletrônica e da automação, além de

sofisticados processos de organização e

gestão da informação, permitem hoje a

geração e a disponibilização de vasta

quantidade de informações em tempo

real. Elas referem-se ao desenvolvimento

de cultivos, clima, solo, água, nutrientes,

fatores bióticos etc., além de informações

sobre mercados, logística, insumos etc.,

que podem ser utilizados para o

desenvolvimento de uma nova geração

de ferramentas de gestão da produção

agrícola numa visão sistêmica. No

entanto, avanços contínuos são

necessários para habilitar os clientes da

pesquisa a acessar e interpretar este

vasto volume de soluções tecnológicas e

de informações.

Estas inovações terão enormes

implicações para a agricultura

brasileira, que precisará investir em

capacitação de recursos humanos e

em sofisticação de processos,

métodos e instrumentação para

continuar competitiva. As tecnologias

da informação e da comunicação

prometem ainda revolucionar os

métodos de gestão das propriedades,

o acesso a mercados, a gestão da

logística e a relação com os

consumidores. Tais tecnologias são

revolucionárias também do ponto de

vista das mudanças que provocam nos

comportamentos, o que exigirá

atenção às tendências de consumo e

às percepções da sociedade em

relação à produção agrícola e ao

agronegócio.

Finalmente, é preciso ressaltar que

o caminho em direção à

sustentabilidade exigirá também

investimentos em processos de

“inteligência estratégica”, necessidade

a cada dia mais relevante na atual era

de rápidas mudanças e constantes

quebras de paradigmas. O mundo

muda com muita celeridade, e os alvos

se tornam muito mais difusos e

móveis, dificultando decisão e ação,

de forma rápida e planejada. É preciso

que a agricultura brasileira se sustente

em forte capacidade de antecipação

de riscos, oportunidades e desafios, e

em processos coordenados de

decisão e ação. Só assim

conseguiremos acompanhar a

evolução do conhecimento,

internalizando métodos e processos

necessários para a promoção e a

manutenção da sustentabilidade da

nossa agricultura.

Pedro Antonio Arraes Pereira é presidente daEmbrapa

Maurício Antônio Lopes é diretor executivo dePesquisa e Desenvolvimento Embrapa

O caminho em direção à

sustentabilidade exigirá também

investimentos em processos de

“inteligência estratégica”,

necessidade a cada dia mais

relevante na atual era de rápidas

mudanças e constantes quebras

de paradigmas

5-Pedro Arraes.pmd 21/5/2012, 18:4024

Page 27: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 25

O planeta Terra, por ação

humana, encontra-se imerso

em crise ambiental grave e

crescente, sem que soluções concretas

e exequíveis estejam à vista.

O homem sempre utilizou recursos

naturais, com impactos diversos sobre

a natureza, mas, no passado e até o

século XVIII, eles foram localizados e

compatíveis com a capacidade de

absorção pelos processos naturais.

Mesmo assim, registraram-se ao longo

da História preocupações esparsas por

parte de personalidades mais

clarividentes, em discordância com o

descaso generalizado.

Platão (428-347 AC) já se referia à

devastação do território grego,

declarando que “... em relação ao que foi

outrora, nossa terra transformou-se no

esqueleto de um corpo descarnado...”.

Em nosso país, pode ser mencionada

uma famosa Carta Régia, datada de 1797,

na qual constava a passagem “...sendo

necessário tomar todas as providências

para conservar as mattas do Estado do

Brazil e evitar que ellas se arruínem e se

destruam...”. Obviamente, nesse caso, o

interesse era estratégico e econômico,

voltado para a preservação de madeiras

preciosas, então indispensáveis para a

construção de navios dos quais dependia

a Coroa. Era uma precoce preocupação

com o uso sustentável, tantos anos

depois reconhecido como indispensável

pelas Nações Unidas. O insigne estadista

e naturalista José Bonifácio de Andrade e

Silva (1763-1838) clamou pela defesa de

nossas florestas e criticou as práticas

abusivas da caça às baleias.

HUMANIDADE

EM APUROS

HUMANIDADE

EM APUROS

Ibsen de Gusmão Câmara

Page 28: Sustentabilidade e Economia Verde

26 Sustentabilidade e Economia Verde

Escala planetária

Contudo, todas essas manifestações

e cuidados, dentre outros, foram

meramente pontuais e não reconheciam

problemas em escala planetária, como

vem ocorrendo no presente. Talvez a

primeira preocupação com caráter

global tenha sido o alerta de Thomas

Malthus (1766-1834), acentuando a

importância do controle da natalidade e

a possibilidade de futura falta de

alimentos devido ao crescimento

descontrolado da humanidade.

Limites do crescimento

Seja como for, o problema ambiental

somente assumiu proporções realmente

preocupantes na segunda metade do

Século XX, quando surgiram trabalhos

alertando para um provável colapso da

civilização, em decorrência das

atividades antrópicas e do consumo –

crescente e descontrolado – dos recursos

naturais. Ficou famoso e foi amplamente

lido, o livro Os Limites do Crescimento, de

1972, divulgado pelo Clube de Roma e

baseado em relatório de equipe do

Massachusetts Institute of Technology

(MIT), segundo o qual, a Terra não

suportaria o crescimento populacional,

devido à poluição e às pressões sobre os

recursos naturais e energéticos, mesmo

tendo em conta o avanço tecnológico. As

previsões apresentadas de um desastre

global no final do Século XX não se

configuraram, mas alguns cientistas

atuais ainda concordam com a maioria

das conclusões expostas e acreditam

que sua concretização é apenas uma

questão de tempo.

Crescimento populacional

Divergências à parte, é fato que a

população humana expandiu-se

exponencialmente no decorrer dos

tempos que se seguiram ao início do

Século XX, passando de 1,6 bilhão de

habitantes em 1900, para 2,5 bilhões

em 1950 e mais de 7 bilhões na

atualidade, com a estimativa de atingir

9 bilhões em 2050. A humanidade levou

cerca de 200.000 anos para alcançar o

total de 1,6 bilhão e apenas mais 110

anos para crescer até 7 bilhões!

Os problemas ambientais gerados

pelo aumento populacional, o consumo

descontrolado dos recursos naturais e a

preocupação com sua sustentabilidade,

redundou na concretização da 1ª

Conferência Mundial sobre o Homen e o

Meio Ambiente, realizada em Estocolmo

no ano de 1972, na qual aventou-se a

imprescindibilidade de adoção de uma

forma sustentável de desenvolvimento

econômico e social. Em 1987, a

Comissão Mundial para o Meio

Ambiente e Desenvolvimento, das

Nações Unidas , publicou o chamado

Relatório Brundtland, divulgado pelo

livro Nosso Futuro Comum, no qual o

conceito de desenvolvimento

sustentável foi formalmente apresentado

como sendo “...um processo de

mudança em que a exploração dos

recursos, a direção dos investimentos, a

orientação do desenvolvimento

tecnológico e as mudanças institucionais

estão em harmonia e aumentam o

potencial atual e futuro para atender às

aspirações e necessidades humanas.”

Desde então, o termo vulgarizou-se

amplamente, mas nem sempre as

atividades humanas têm sido

implementadas em obediência a tais

princípios. Tudo passou a ser

A humanidade levou cerca de

200.000 anos para alcançar o total

de 1,6 bilhão e apenas mais 110

anos para crescer até 7 bilhões!

Page 29: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 27

“sustentável” sem que, na maioria das

vezes, o seja realmente. O adjetivo

“sustentável” frequentemente é utilizado

apenas para mascarar ações ou

iniciativas claramente insustentáveis. Por

vezes, alguns o empregam erradamente,

no sentido de “sustentado”, ou seja, algo

de natureza continuada, uma flagrante

distorção do verdadeiro conceito.

Agenda 21, um dos resultados

da Rio 92

Na proveitosa Conferência das

Nações Unidas sobre o Meio Ambiente

e o Desenvolvimento, mais conhecida

como Rio 92, em que foram firmadas

duas importantes convenções – a

Convenção sobre Mudanças Climáticas

e a Convenção sobre Diversidade

Biológica – teve como um dos principais

resultados a chamada Agenda 21, em

que se estabeleceu a importância de

cada país comprometer-se a refletir,

local e globalmente, sobre a forma de

como governos, empresas,

organizações não-governamentais e

sociedade em geral, poderiam cooperar

no estudo dos problemas

socioambientais. Englobando 41 temas

distintos, caberia a cada governo

desenvolver sua própria agenda,

reinterpretando o conceito de progresso

de maneira compatível com o

desenvolvimento sustentável.

Na Conferência das Nações Unidas

sobre Ambiente e Desenvolvimento

Sustentável, realizada em

Johanesburgo, em 2002, também

citada como Rio+10, foi aprovado um

complemento à Agenda 21,

denominado Metas do Desenvolvimento

do Milênio (Millenium Development

Goals), com ênfase nas políticas de

globalização e erradicação da pobreza

e da fome e estabelecendo valores

numéricos para as metas.

Tanto a Agenda 21 quanto as Metas de

Desenvolvimento do Milênio, tiveram

desdobramentos e resultados distintos

nos diversos países mas, via de regra,

não atingiram plenamente seus objetivos.

Economia verde

Recentemente, novas idéias surgiram e

generalizou-se a discussão do que foi

denominado “economia verde”, uma

expressão ainda não claramente

conceituada e com implicações

controversas. Para o Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente

(PNUMA), a economia verde é aquela que

resulta na melhoria do bem-estar humano

e da igualdade social, e que,

simultaneamente, reduz de modo

significativo os riscos ecológicos e

ambientais. Ainda de acordo com o

PNUMA, ela se sustenta em três pilares:

ser pouco intensiva na emissão de

carbono, ser eficiente no uso dos

recursos naturais, e mostrar-se

socialmente inclusiva. Resta saber como

conciliar estas três condicionalidades, em

parte, conflitantes.

Nomenclatura discutida

Como contribuição ao debate, o

PNUMA organizou um documento

denominado Relatório de Economia

Verde (VER), com uma versão

compacta sob o título Rumo a uma

Economia Verde: Caminhos para o

Desenvolvimento Sustentável e a

Erradicação da Pobreza. Segundo tais

documentos, a economia verde poderá

Segundo tais documentos, a

economia verde poderá gerar

crescimento econômico maior,

mas com menos utilização de

recursos naturais

Page 30: Sustentabilidade e Economia Verde

28 Sustentabilidade e Economia Verde

gerar crescimento econômico maior,

mas com menos utilização de recursos

naturais. A repercussão desses

documentos variou de boa aceitação a

críticas severas, incluindo a observação

de que “pintar” a economia clássica de

verde não será a solução. De qualquer

modo, o tema da economia verde

continua em plena discussão, à espera

de melhor definição e consolidação.

Desigualdades

Como exposto acima, em termos

teóricos, a humanidade tem avançado

nas propostas de solução para a séria

crise socioambiental que se concretiza

nos tempos presentes. Não obstante, as

tentativas de solução apresentadas para

os problemas vigentes esbarram, em

realidade, na profunda desigualdade do

bem-estar humano que caracteriza o

mundo atual. Todos os países almejam

viver como o fazem os habitantes das

nações com maior desenvolvimento,

mas é claramente evidente que os

recursos naturais do planeta não o

permitiriam. Por outro lado, é óbvio que

as populações dos países econômica e

tecnologicamente mais avançados

jamais aceitarão reduzir sua qualidade

de vida, como se deduz da fria

declaração de George W. Bush, feita em

1992, de acordo com a qual “o modo de

vida americano não é negociável”.

A humanidade se encontra, portanto,

em um impasse profundo, mas para o

qual uma solução é absolutamente

urgente.

A Terra, em toda a sua longuíssima

história, vem mantendo uma relativa

estabilidade global devido a processos

naturais de autorregulação, e assim

permaneceu na maior parte da história

humana. Contudo, nos últimos 200 anos, e

especialmente nas últimas décadas, por

distintas razões, a humanidade tem posto

em risco esse equilíbrio com a natureza.

Com o objetivo de quantificar tais riscos,

um grupo de 29 cientistas de oito países

situados na vanguarda do conhecimento

científico, realizou um estudo visando a

avaliar até que ponto as ações humanas

são suportáveis para a estabilidade do

planeta. Para isto, procuraram identificar

que processos biofisicoquímicos,

naturais ou não, estão criando situações

de alto risco, e chegaram à conclusão de

que em três deles – mudanças climáticas,

perda de biodiversidade e interferência

no ciclo natural de nitrogênio – os limites

aceitáveis de interferência humana já

foram ultrapassados; e que, em outros

quatro, aproximamo-nos perigosamente

de tais limites: uso da água doce e do

solo, acidificação dos mares e

interferência no ciclo natural do fósforo.

Ameaças

Estamos, portanto, aproximando-nos

de uma situação de gravíssimas ameaças,

de um ponto de não-retorno além do qual

não mais poderemos agir para correções

de rumo. É indispensável, portanto, que

nos conclaves internacionais futuros,

como a Rio+20, encontrem-se soluções

urgentes, objetivas, concretas e

exequíveis para evitar-se um agravamento

catastrófico da situação. E, se não

lograrmos fazê-lo racionalmente, a

natureza certamente o fará a seu modo,

com enormes sofrimentos para grande

parte da humanidade.

Ibsen de Gusmão Câmara é diretor-presidenteda Sociedade Brasileira de Proteção Ambiental -SOBRAPA. Presidente da Rede Nacional PróUnidades de Conservação. Vice-presidente daSociedade Nacional de Agricultura. Vice-presidente da Fundação de Estudos do Mar.Presidente do Conselho Curador da FundaçãoBrasileira para a Conservação da Natureza.Presidente do Conselho Científico do InstitutoIguaçu. Presidente do Conselho Científico daFundação Pró-Natureza (FUNATURA).

Page 31: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 29

AVICULTURA:

DESENVOLVIMENTO

COM SUSTENTABILIDADE

Francisco Turra

AVICULTURA:

DESENVOLVIMENTO

COM SUSTENTABILIDADE

A produção avícola brasileira

caminhou a passos largos nos

últimos 60 anos. Isso, desde a

instalação do modelo integrado de

produção – baseado na relação de

parceria entre produtores e agroindústrias,

que hoje compõe mais de 90% da

avicultura de corte nacional – até o

desenvolvimento técnico e científico, com

evoluções nas áreas de genética, de

nutrição (com base em dieta balanceada e

eficiente), manejo nutricional e sanitário,

que resultaram em uma ave que requer

aproximadamente 1/3 do tempo e 1/3 do

total de alimento que uma ave produzida

na década de 1950, por exemplo.

Tudo isso permitiu ao Brasil chegar à

segunda década deste século como

terceiro maior produtor mundial de frangos

e líder absoluto no comércio internacional

dessa carne. Somente em 2011, foram

13,058 milhões de toneladas produzidas,

com 3,9 milhões de toneladas

embarcadas para mais de 150 países,

com receita de US$ 8,253 bilhões.

As cifras do comércio internacional

destacam o dinamismo dessa atividade

mas não expõem, de fato, o grande

cliente da avicultura brasileira: o

mercado interno. Com quase 9,1

milhões de toneladas sendo absorvidas

pelas gôndolas nacionais, o consumidor

brasileiro detém um dos maiores

consumos per capita do mundo. São

47,4 quilos por habitante/ano, três quilos

a mais que o consumidor norte-

americano, por exemplo. A carne de

frango é, hoje, a proteína animal mais

consumida do Brasil.

Segundo pesquisa encomendada

pela União Brasileira de Avicultura-

UBABEF ao Centro de Assessoria e

7-FranciscoTurra.pmd 21/5/2012, 18:4229

Page 32: Sustentabilidade e Economia Verde

30 Sustentabilidade e Economia Verde

Pesquisa de Mercado (CEAP), feita com

2.869 famílias de todo o Brasil, em

100% desses domicílios consome-se

carne de frango. E a maioria das

famílias (58%) a consome pelo menos

duas a três vezes por semana. Os

resultados dessa pesquisa mostram ao

setor e ao país que a carne de frango

consolidou-se, definitivamente, como

um hábito alimentar do brasileiro. Isso,

não apenas por ser uma proteína animal

barata, mas, principalmente, por

representar um alimento saudável e

nutritivo, apreciado democraticamente

pelas variadas cozinhas – da caseira à

alta gastronomia.

Cadeia arrojada

Seja no mercado interno ou nas

exportações, o dinamismo empresarial, a

força do produtor e a alta tecnologia

empregada na avicultura brasileira fazem

dessa cadeia produtiva uma das mais

arrojadas do Brasil. A importância desse

setor reflete seus números: são 1,3 milhão

de trabalhadores diretos, e uma

participação de 1,5% no PIB nacional.

Gerando emprego, renda, divisas ou

segurança alimentar, a produção avícola

cumpre seu papel como um dos setores

mais importantes para o país.

Essa importância é ainda maior

quando verificamos o modelo de

sustentabilidade empregado por esse

gigantesco setor. Trabalhando sob um

modelo vencedor de distribuição de

renda – o sistema de integração, cuja

relação pauta-se pela parceria entre

produtores e empresas – a produção

avícola é o motor da economia de

dezenas de municípios pelo Brasil. A

geração de renda se constata em

números: Marau (RS), importante polo de

produção, detém um dos melhores

índices de desenvolvimento do estado,

segundo dados da Firjan. Outros

municípios produtores gaúchos, do

Paraná e de Santa Catarina, também

figuram entre os mais desenvolvidos de

seus respectivos Estados.

A avicultura brasileira se diferencia

também no que diz respeito à preservação

ambiental. Todas as agroindústrias

exportadoras estão localizadas em

regiões fora do bioma amazônico. Além

disso, dados do Departamento de

Assuntos de Ambiente, Alimentos e Rural

(DEFRA) do Reino Unido indicam que a

produção de carne de frango brasileira

consome 25% menos energia e emite 17%

menos gases do efeito estufa que a

britânica. Quando verificada somente a

emissão de CO2, esse percentual

comparativo sobe para 45%.

Avicultura sustentável

A gestão dos recursos ambientais

utilizados pelas empresas é outro

diferencial da avicultura sustentável do

Brasil. Um exemplo é a utilização de

resíduos em outros processos da

produção, como a transformação de

gorduras para a produção de biodiesel.

Há também a compostagem, a

diminuição do uso de embalagens, o

aproveitamento de iluminação natural

para redução de consumo de energia, a

compensação de degradação com

plantio de árvores, entre outras

incontáveis iniciativas.

Esses dados atestam que a avicultura

nacional segue em um caminho

permeado pelas diretrizes da produção

sustentável. Estamos entre os mais

eficientes modelos industriais do país e

caminhamos a passos largos para

cumprirmos nosso papel no apoio à

segurança alimentar do Brasil e do

mundo. A liderança não veio ao acaso. O

setor avícola sabe disso e investe pesado

para continuar a ser referência mundial

em gestão, produtividade e

sustentabilidade.

Francisco Turra - ex-ministro da Agricultura,Pecuária e Abastecimento e presidente executivoda União Brasileira de Avicultura

7-FranciscoTurra.pmd 21/5/2012, 18:4230

Page 33: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 31

Flávio Miragaia Perri

É seguramente uma

impossibilidade falar-se em

desenvolvimento sustentável

sem levar em conta dois sujeitos de

nosso interesse: o ser humano e o

planeta.

Afirmei, entretanto, em diversas

ocasiões, com o risco de não ser

entendido, que a Conferência das

Nações Unidas sobre Desenvolvimento

Sustentável, apelidada de Rio+20, não

era uma conferência sobre meio

ambiente, mas uma cúpula sobre

desenvolvimento sustentável. Uma

questão conceitual que merece ser

explicada.

Não se trata de produzir fumaça nos

olhos de quem deseja enxergar, mas de

uma convicção que informa o conceito

de desenvolvimento desde a

Conferência das Nações Unidas sobre

Desenvolvimento e Meio Ambiente,

conhecida como “Rio 92” ou “Cúpula

da Terra”, de 1992.

Há 20 anos, o adjetivo qualificativo

“sustentável’ incorporou-se ao conceito

ultrapassado de “desenvolvimento”, até

então entendido apenas com o sentido

econômico. Desde 1992, não seria

crível admitir-se outro entendimento:

eticamente, o desenvolvimento só é

tolerável se sustentável, isto é, se

fundamentado na equação de equilíbrio

entre as necessidades do ser humano e

a realidade do planeta, como único e

esgotável fornecedor de bens para a

sobrevivência da sociedade humana.

Agrada-me interpretar o que James

Lovelock apresentou no seu já clássico

“Gala, a new look at life on Earth”:

DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL:

UM CONCEITO

DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL:

UM CONCEITO

8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3231

Page 34: Sustentabilidade e Economia Verde

32 Sustentabilidade e Economia Verde

o fundamento inicial da hipótese Gaia

era a visão da Terra desde o espaço,

revelando o planeta como totalidade,

mas não em detalhe. Ecologia, em

complementação, está fundamentada

no realismo da história natural e no

estudo detalhado de habitats e

ecossistemas, sem levar em conta o

quadro geral.

Processo de ocupação

Se esta era a apresentação inicial da

equação que tento compreender, a

segunda parte da esclarecida visão de

Lovelock envolve a realidade da presença

humana no planeta.

Nos últimos 500 anos, a presença

humana expandiu-se e inter-relacionou

áreas geográficas e ecossistemas,

continentes e hemisférios, mar, terra e ar,

para ocupar fisicamente todos os

espaços e utilizar os bens naturais

extensamente, da pedra inerte à vida.

A tecnologia aplicada nesse processo

de ocupação magnificou a presença

dominante do ser humano sobre outras

formas de vida no planeta. É curioso, para

dizer o menos, que o conhecimento nos

tenha feito imperiais como espécie, de

muitas formas afastando-nos da

realidade. Daí a pergunta de Lovelock,

crucial para entender a equação: “Qual

tem sido o efeito de todo e cada um dos

desenvolvimentos recentes? É o homem

tecnológico ainda parte de Gaia ou

estamos nós, de alguma ou muitas

formas, alienando-nos dela?”

Ironicamente, a consciência ecológica, a

exploração espacial e a ciência, juntaram

os dois elementos do raciocínio de

Lovelock e hoje não podemos mais isolar o

desenvolvimento da sociedade humana

na Terra da realidade do próprio planeta

flutuante no desconhecido do cosmos.

Macro e micro, inseparavelmente.

Não existiremos sem o planeta nem o

planeta sobreviverá a nossas exigências

de sofisticação e consumo no acelerado

ritmo de crescimento econômico que, se

não corrigido, o esgotará.

A espécie humana, dominante sobre

as demais, tampouco pode ignorar os

desequilíbrios sociais e a perversidade

das opções que condenaram parte

significativa da população do planeta à

miséria e à fome no ritmo míope do

crescimento econômico, tal como

medido pelo PIB de cada nação.

Para nos resumirmos ao essencial, no

antropocentrismo egoísta e excludente, o

homem teria nascido e povoado a Terra

para conquistar a natureza, voltado para

a mediocridade do exclusivismo da meta

de garantir seu bem-estar.

Desenvolvimento

É obscurecida a ideia – mais que

verdadeira – de que os insumos que

produzem o desenvolvimento são bens

naturais, pertencentes à humanidade e

ao próprio planeta que deve ser

preservados para garantir a

sustentabilidade do desenvolvimento.

A meta antropocêntrica submete-se à

ideia do progresso, que é buscado em

horizonte sem limites.

A função primordial acaba sendo

apenas a acumulação de riqueza

expressa em valores financeiros ou

monetários. É garantida pela posse de

bens materiais. Nesse quadro, o sistema

ignorou o futuro e deixou atrás o sentido

original, que seria satisfazer necessidades

humanas básicas em todos os tempos,

entre as quais está a alimentação, como

condição essencial à vida.

A meta antropocêntrica

submete-se à ideia do progresso,

que é buscado em horizonte

sem limites

8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3232

Page 35: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 33

O homem foi reduzido a consumidor e

já não produz o que lhe é essencial, mas

trabalha para realizar uma produtiva

eficiência impessoal, sem objeto.

Trata-se de um jogo de

permanente perda

Serei talvez verdadeiro se disser que o

processo de desenvolvimento, resultante

majoritário na sociedade planetária atual,

traz defeitos graves de concepção.

Socorro-me de Norberto Bobbio, o

grande pensador italiano, um insatisfeito

tanto do capitalismo arrogante, quanto de

um socialismo incapaz de realizar suas

promessas.

Discute, em sua obra, o problema da

desigualdade, não resolvido pelos

modelos teóricos de que trata nos

ensaios recolhidos em “Utopia

Capovolta” (Utopia Subvertida) e que

permanece “em toda sua gravidade e

insuportabilidade” na questão social

interna de Estados singulares e

dramatiza-se nas relações internacionais

que opõem a sociedade dos dois terços

(a do mundo desenvolvido), às

sociedades dos “quatro-quintos ou dos

nove-décimos”, onde a realidade não é a

abundância, mas a miséria.

Cito Herman Dalv, que desafia

interesses estabelecidos com sua

percepção aguda do fenômeno do

desenvolvimento: “A economia é um

subsistema do ecossistema, e o

ecossistema é finito, não cresce, é

materialmente fechado”.

Para acrescentar, em recente entrevista

transcrita do IHU on-line publicado pelo

Instituto Humanitas Unisinos-IHU, da

Universidade do Vale do Rio dos

Sinos-Unisinos, em São Leopoldo-RS,

esse economista assinala que estamos

ameaçados de sermos vítimas de um

crescimento deseconômico, que

conceitua, sumarizando: “O crescimento

deseconômico é um crescimento que

começou a custar mais do que vale – um

crescimento (seja em volume de

produção ou PIB) para o qual os custos

adicionais (incluindo os custos

ambientais e sociais) são maiores do que

os benefícios adicionais em termos de

produção.

Conceitos

Daí a necessidade de fazermos valer o

conceito de desenvolvimento sustentável.

A ideia de sustentabilidade veio inovar

conceitualmente o processo de

desenvolvimento, tornando-o todo

inclusivo, reequilibrando a equação

homem/planeta.

É evidente que a Conferência Rio+20

inclui todos os conceitos e dimensões e

não seria compreendida pela opinião

pública se tratasse, setorial e

discricionariamente, de aspectos

isolados da problemática do

desenvolvimento.

A cidade e o campo:

o progressivo afastamento

da natureza

O ser humano destacou-se dos demais

seres por sua capacidade de pensar e

curiosidade em pesquisar, descobrir e

agir em sua autodefesa, ou capacidade

de sobrevivência.

Do homem das cavernas ao cidadão

das metrópoles atuais, a notícia que a

história nos traz é que as comunidades

humanas buscam, sistematicamente,

A ideia de sustentabilidade veio

inovar conceitualmente o

processo de desenvolvimento,

tornando-o todo inclusivo,

reequilibrando a equação

homem/planeta

8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3233

Page 36: Sustentabilidade e Economia Verde

34 Sustentabilidade e Economia Verde

desenvolver conhecimentos e meios de

autoproteção e subsistência.

Mudaram os tempos, mudou a

realidade, ainda que atualmente

convivam as duas percepções: o

homem do campo e o citadino

traduzem diferentemente sua relação

com a natureza.

Nas comunidades rurais, onde

predominam a pequena propriedade e

a propriedade familiar, a relação com a

natureza é mais intensa e dela depende

sua subsistência. No mundo

subdesenvolvido, especialmente, o

conhecimento e as técnicas do homem

do campo ainda são transmitidos pela

tradição oral, de pai para filho, no sentir

a direção do vento, no entender a

revoada dos pássaros, o significado da

chuva ou da estiagem. A água da fonte

ou do ribeirão tem valor real na

produção.

Também onde sobrevivem as

comunidades tribais, essa relação é

direta e a sabedoria da prática de

gerações corrige os conflitos com a

natureza.

Atenção, assistência e crédito

Será vital para essa população dos

campos e das florestas que a

conferência Rio+20 lhe dê a devida

atenção, assistência e crédito. Em

grande parte, a agricultura e a

produção animal no mundo dependem

de seu trabalho e de seu respeito à

natureza.

O habitante das metrópoles rumou

em outra direção, para distanciar-se

das urgências naturais. Vive em

países centrais desenvolvidos,

ocupa-se quase tão somente de seu

bem-estar e acompanha as misérias

das Bolsas de Valores com a

curiosidade ávida do investidor que

multiplica lucros para dispender no

consumo. Vez por outra considera,

constrangido, em ações de

benemerência religiosa ou

sentimento ético de remota culpa, o

problema da fome e da miséria no

terceiro mundo.

A transparência dos meios de

comunicação, entretanto, a televisão

e a Internet, em particular, sacodem

sua consciência e produzem,

progressivamente mais cultura de

interesse global. A importância dos

fenômenos naturais, agravados pela

dramaticidade das crises sociais,

traduzem-se em participação virtual.

Tomada de consciência

A militância de grupos engajados

agudizam essa tomada de consciência

e a juventude esclarecida admite seu

papel nas mudanças de rumo que Ihes

garantirão a dignidade de conviver

mais igualitariamente com seus

coetâneos daqui a 50 anos.

Essa é a expectativa que convoca os

governantes do mundo à ação

imediata na conferência que se

aproxima em junho, no Rio de Janeiro,

e em suas consequências para o

futuro.

No Brasil 70% da população vive

nas cidades e a migração do campo

acentua essa tendência de progressiva

urbanização, com todas as

consequências das carências

educacionais e do despreparo para a

vida urbana. Nos países latino-

americanos, apesar de avanços sociais

recentes e do desenvolvimento

econômico, essas massas ainda

Será vital essa população

do campo e das florestas

que a conferência Rio+20

lhe dê a devida atenção,

assistência e crédito

8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3234

Page 37: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 35

ocupam a periferia pobre e as encostas

dos morros, exibindo as fragilidades

de nossas sociedades.

Economia verde

“Economia Verde” é criação recente

de um grupo de países desenvolvidos.

Equivoca-se a Agenda ao incluir

elementos que, por enquanto,

parecem apenas uma combinação de

palavras, no termo cunhado no foro do

PNUMA. Trata-se de ideia, cujos

limites não estão estabelecidos e que

parece ter sido proposta como

alternativa indesejável ao

desenvolvimento sustentável. Por isso

mesmo, a agenda da Conferência

Rio+20 qualificou esse enunciado

vago, submetendo-o ao conceito do

desenvolvimento sustentável e ao

combate à miséria.

Parece-me necessário circunscrever

essa frase a ações

de promoção do

desenvolvimento

sustentável, metas

e medidas

positivas, no plano

exclusivamente

nacional, capazes

de viabilizar a

sustentabilidade

ambiental e social em processos de

desenvolvimento.

No plano internacional é, entretanto,

necessário frear o livre curso dessa

combinação de palavras, evitando que

venha a implicar restrições ao comércio

internacional ou à mais livre disposição

de tecnologias para o desenvolvimento

sustentável, o que poderia acontecer se

países desenvolvidos, isoladamente

ou em bloco, decidissem

unilateralmente, pelos governos de

países em desenvolvimento, onde e

como aplicar recursos financeiros e

tecnológicos internacionais.

O que se pode desejar da

Rio+20?

Uma firme declaração de intenções

(o mandato da conferência

intergovernamental não prevê decisões

de implementação nem automática,

nem imediata) que componha

interesses e equilibre a expectativa da

opinião esclarecida com a capacidade

de compromisso das nações,

representadas por seus chefes de

Estado e de Governo.

Curta, incisiva e afirmativa

No plano institucional internacional

É urgente recuperar a capacidade

operacional do sistema das Nações

Unidas no tema do desenvolvimento

sustentável, onde sobreleva a

necessidade de estabelecer um

mecanismo de

coordenação

eficiente dos

trabalhos das

diversas agências

e organizações do

sistema, que

acompanhe e

avalie, a coerência

das posições dos

países membros em todos os foros e os

vincule em suas decisões.

Há que reconhecer a evidente

fraqueza do atual quadro institucional,

onde a solução não está relacionada

com o papel do PNUMA, mas ao

desempenho do conjunto de

programas, organizações e agências

sob as Nações Unidas, nas áreas de

interesse econômico/social/ambiental.

Faz-se premente encontrar o meio mais

eficiente de alocar responsabilidade

pela implementação das decisões a

serem consensualmente tomadas.

A Comissão de Desenvolvimento

Faz-se premente encontrar

o meio mais eficiente de

alocar responsabilidade pela

implementação das decisões

a serem consensualmente

tomadas

8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3235

Page 38: Sustentabilidade e Economia Verde

36 Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentável teve sua criação acordada

em 1992, mas cuja implementação

resultou em órgão de poderes

extremamente limitados.

Novos temas

1. Quanto aos temas a inovar, seria

importante, no contexto da revisão

institucional referida acima – e por essa

via –, que um novo índice social e

ambientalmente mais acurado, viesse a

ser criado, para medir o grau de

satisfação humana de suas

necessidades básicas (e aí parece-me

claro que se incluiriam a segurança

alimentar, a saúde individual e coletiva, a

educação como vittares essenciais) e o

nível de sustentabilidade ótima dos bens

disponibilizados pelo planeta, o estágio

e a organização de seu aproveitamento.

Um tal índice ofereceria não apenas

os valores do crescimento, mas tomaria

o ser humano e o planeta como

referências fundamentais.

Tratar-se-ia de estabelecer a definitiva

transparência de todos os parâmetros

para a ação dos Estados no plano

internacional e dos governos no plano

nacional. Atividades agrícolas, industriais

e urbanas seriam enriquecidas por essa

orientação e o cidadão teria à sua

disposição um medidor confiável, para

sua avaliação pessoal das atividades dos

governos de seus países, e dos demais

atores econômicos, com vista à sua

sobrevivência. No plano político, esse

novo índice garantiria a transparência dos

resultados e a consolidação da

democracia.

2. Nesse mesmo quadro, recordo

Octavio Mello Alvarenga, ilustre

advogado, especialista em Direito

Agrário, em artigo publicado em 1993,

sobre problema ainda central e

tornado premente na realidade do

planeta e na história da

sustentabilidade:

“É habitual citar-se pela metade uma

afirmativa do escriba Pero Vaz de

Caminha, que, para ser exata,

necessita das duas partes que a

compõem. Refiro-me à observação de

que a terra recém-descoberta era de

tal maneira graciosa e boa que

‘querendo-a aproveitar dar-se-á nela

tudo, por bem das águas que tem’.”

Aí está o mais importante, diz

Octavio, as águas constituíam-se no

principal elemento para

aproveitamento dessa terra. Uma visão

de estadista.

Nessa linha, li com grande interesse

em trabalho conjunto da Agência

Nacional de Águas (ANA) e PNUMA,

bela e concisa dissertação sobre o

problema agudo da água em diversas

partes do mundo, a qual a Conferência

Rio+20 deveria tocar para encaminhar

compromissos e ações atuais,

presentes e futuras, antevendo crises

que não tardarão a eclodir:

“Água doce limpa, apropriada e em

quantidade adequada, é de vital

importância para a sobrevivência de

todos os organismos vivos, bem como

para o funcionamento adequado de

ecossistemas, comunidades e

economias. Contudo, a qualidade dos

recursos hídricos mundiais está sob

ameaça crescente à medida que

aumentam as populações humanas e

se expandem as atividades industriais

e agrícolas, em um cenário em que as

mudanças climáticas poderão provocar

grandes alterações no ciclo hidrológico.

A qualidade dos recursos

hídricos mundiais está sob

ameaça crescente à medida que

aumentam as populações humanas

e se expandem as atividades

industriais e agrícolas

8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3236

Page 39: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 37

Há uma necessidade premente de a

comunidade global – dos setores público

e privado – se unir e assumir o desafio de

proteger e aprimorar a qualidade da água

de nossos rios, lagos, aquíferos e

torneiras. Para tanto, é preciso maior

comprometimento com a prevenção da

poluição hídrica futura, com o tratamento

das águas já contaminadas e com a

restauração da qualidade e saúde de rios,

lagos, aquíferos, terras úmidas e

estuários, permitindo assim que essas

águas atendam a um espectro mais

amplo possível de necessidades dos

seres humanos e dos ecossistemas. As

repercussões dessas ações serão

sentidas desde as cabeceiras das nossas

bacias hidrográficas até os oceanos, os

recursos pesqueiros e os ambientes

marinhos que auxiliam no sustento da

humanidade.”

Miséria e fome,

águas, estão aí,

limitadamente, dois

dos destaques a

estimular para ação

da comunidade

internacional nos

próximos anos para

promover a

sustentabilidade

ambiental e social do desenvolvimento

em escala planetária.

3. Para tratar da miséria e da fome,

destaco o princípio cinco da Declaração

do Rio, documento lapidar pela

precisão de conceitos que ajudaram a

consolidar o conceito do

Desenvolvimento Sustentável: “Todos

os Estados e todas as pessoas deverão

cooperar na tarefa essencial de

erradicar a pobreza como requisito

indispensável ao desenvolvimento

sustentável, a fim de reduzir as

disparidades nos níveis de vida e

responder melhor às necessidades da

maioria dos povos do mundo.”

Dele derivam o combate à fome e os

esforços de formulação de um “Direito à

Alimentação”, estes como evolução

jurídico-política significativa, anos

depois. O Brasil tem uma história

louvável de avanços nesse sentido e

tem servido de parâmetro para

programas de muitos países em

desenvolvimento, especialmente

africanos e centro-americanos.

Por sua vez, a Organização das

Nações Unidas para Agricultura e

Alimentação (FAO) elegeu o tema “A

Água e a Segurança Alimentar” para

celebrar o Dia Mundial da Água, “tema

de extrema relevância em função da

negligente e perdulária utilização deste

recurso natural finito em escala

planetária”.

A combinação água e alimento

resulta da constatação simples de que

são hoje no mundo

7 bilhões de

pessoas a

alimentar. Poucos

sabem que cada

ser humano

consome de 2 a 4

litros de água por

dia, sendo a maior

parte incorporada

ao alimento que

ingerimos.

A Agenda 21, documento a retomar,

rever e reforçar

Numa retomada de documentos de

importância já adotados pela

comunidade internacional, seria

significativo que a conferência Rio+20

revisse e revigorasse o valor da Agenda

21, assinada por 179 países, talvez o

documento mais abrangente produzido

na Rio-92, destinado a promover um

novo tipo de desenvolvimento,

constituindo um programa de ação e um

método de trabalho conciliando o

econômico, o social e o ambiental, para

...seria significativo que a

conferência Rio+20 revisse e

revigorasse o valor da Agenda 21,

assinada por 179 países, talvez o

documento mais abrangente

produzido na Rio-92...

8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3237

Page 40: Sustentabilidade e Economia Verde

38 Sustentabilidade e Economia Verde

concretização do desenvolvimento

sustentável.

A Agenda 21 não foi universalmente

desenvolvida e aplicada, mas é o

repositório mais completo de métodos

de proteção ambientaI, justiça social e

eficiência econômica, em contexto de

necessária e consciente participação da

cidadania.

Sua dimensão econômica e social

abrange política internacional e políticas

nacionais para aplicação do conceito do

desenvolvimento sustentável,

envolvendo países desenvolvidos e em

desenvolvimento, em soluções que

encaminham mudanças nos padrões de

produção e consumo. Por essa via,

implica a essencial contribuição da

empresa em todos os planos e níveis de

abrangência de suas atividades.

São significativas as sugestões de

saúde pública e a qualidade dos

assentamentos humanos.

Limites do planeta

Aspecto, a meu ver, de delicada

atualidade são os limites do planeta, que

sem serem apontados dessa maneira,

veem-se tratados, por exemplo, nas inter-

relações entre sustentabilidade e

dinâmica demográfica.

O equilíbrio de interesses entre o

planeta e o desenvolvimento é tratado

na Agenda 21 sob diferentes enfoques:

proteção da atmosfera, transição

energética, manejo do solo, recursos

do mar, gestão dos recursos de água

doce, combate ao desmatamento,

desertificação, diversidade biológica, o

valor da educação etc.

O documento não ignora, nas ações

propostas, a importância dos

mecanismos financeiros e a produção

e oferta de tecnologias como suportes

essenciais à gestão da

sustentabilidade; ao desenvolvimento

da ciência e a educação, à cultura

como elementos básicos na

construção de uma consciência

ambiental.

Está nele, sob o enfoque das

revisões institucionais internacionais e

nacionais, necessárias à consecução

de um desenvolvimento sustentável, a

problemática da formação de quadros

(“capacity building”) para a gestão

eficiente e a governança, que hoje

trabalhamos diante dos desafios do

processo civilizatório.

Flávio Miragaia Perri é embaixador aposentado, foi secretário executivo do Grupo de TrabalhoNacional que organizou a Conferência do Rio em 1992, secretário nacional do Meio Ambiente,presidente do Ibama, secretário de estado do Meio Ambiente no Rio de Janeiro. É membro daAcademia Nacional da Agricultura. Em seu período como diplomata, atuou nas Nações Unidas emdistintas Conferências e Assembleias Gerais. Foi embaixador junto à FAO (Organização das NaçõesUnidas para Alimentação e Agricultura).

A dimensão econômica e social da Agenda 21 abrange política

internacional e políticas nacionais para aplicação do conceito do

desenvolvimento sustentável, envolvendo países desenvolvidos e em

desenvolvimento, em soluções que encaminham mudanças nos

padrões de produção e consumo

8-FlávioPerri.pmd 21/5/2012, 19:3238

Page 41: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 39

Nos dois últimos séculos a

humanidade produziu uma

extraordinária transformação na

nossa biosfera. Em 1802, a população

humana atingiu 1 bilhão; em 1900,

éramos cerca de 1,5 bilhão; em 2000,

mais de 6 bilhões; e, agora, passamos

dos 7 bilhões. A previsão é que iremos

chegar a 2050 com cerca de 9 bilhões

de habitantes em nosso planeta.

Durante este período, o consumo de

energia, água, e outros recursos

naturais, cresceu muito mais que a

população.

Como resultado, estamos

enfrentando, neste século XXI, alguns

problemas globais, como o

aquecimento global e suas

consequências (elevação do nível dos

mares, eventos climáticos extremos

mais frequentes e mais intensos), a

escassez de água, que já se manifesta

em várias regiões do planeta, e a

disponibilidade de energia, tendo em

vista o fim das reservas de petróleo

nos próximos 50 a 60 anos.

Energia solar

Para alcançar a sustentabilidade das

futuras gerações, com razoável

qualidade de vida, precisamos

entender como funciona a nossa

biosfera. Recebemos de fora do nosso

sistema apenas a energia solar, que é

indispensável para a vida no planeta.

ECONOMIA

VERDE E

SUSTENTABILIDADE

ECONOMIA

VERDE E

SUSTENTABILIDADE

Haroldo Mattos de Lemos Antenor Barros Leal

9-Haroldo e Antenor.pmd 21/5/2012, 19:3639

Page 42: Sustentabilidade e Economia Verde

40 Sustentabilidade e Economia Verde

Esta energia solar é

absorvida pelas

plantas na terra e

pelas algas no mar,

sendo transformada

pela fotossíntese

em energia química

contida na estrutura vegetal formada.

Esta energia química é um recurso

renovável, assim como alimentos, entre

eles trigo e arroz; combustíveis, como

madeira e álcool da biomassa e

materiais para vestimentas, como

algodão. Na biosfera temos também

recursos não renováveis, como minerais

e combustíveis fósseis (petróleo, carvão

e gás natural).

Todos os dias, a humanidade usa

recursos renováveis e recursos não

renováveis para produzir os bens e

serviços de que precisamos para a

nossa vida diária (alimentos,

transportes etc.). Ao produzir estes bens

e serviços, geramos resíduos e poluição

que, parcialmente tratados ou não, são

jogados na biosfera para que sejam

absorvidos. A disponibilidade de

recursos, renováveis ou não, para

transformação em bens e serviços, e a

capacidade da biosfera para assimilar

resíduos e poluição, formam o que

chamamos de capacidade de suporte

da Terra.

Desafios

Para alcançar a sustentabilidade

com razoável qualidade de vida, a

humanidade terá que enfrentar três

grandes desafios:

1) Garantir a

disponibilidade de

recursos naturais

para a produção de

bens e serviços

necessários para a

nossa vida diária.

2) Respeitar os

limites da biosfera

para assimilar

resíduos e

poluição. Significa

não gerar resíduos

e poluição em

quantidade e velocidade superiores à

sua capacidade de autodepuração.

Atualmente, vários tipos de resíduos e

poluição estão se acumulando na

biosfera, tanto no ar quanto na água e

nos solos.

3) Resolver a questão social, isto é,

reduzir a pobreza em nível mundial. O

Terceiro Relatório do Clube de Roma,

Para uma Nova Ordem Internacional,

divulgado em 1976, concluiu que

“antes de atingirmos os limites físicos

do nosso planeta (a disponibilidade de

recursos naturais e a capacidade da

biosfera para absorver resíduos e

poluição), ocorreriam graves

convulsões sociais provocadas pela

grande desigualdade entre os países

industrializados e os países pobres”.

Políticas e investimentos

A sustentabilidade está baseada no

equilíbrio de três fatores: o econômico,

o ambiental e o social. Para colocar a

economia a favor da sustentabilidade,

o Programa das Nações Unidas para o

Meio Ambiente – PNUMA, desenvolveu

a proposta da Economia Verde,

definida como “aquela que resulta na

melhoria do bem-estar humano e do

bem-estar social, ao mesmo tempo

que reduz

significativamente

os riscos

ambientais e as

carências

ecológicas”. A

transição da

economia

tradicional para a

A sustentabilidade está baseada

no equilíbrio de três fatores:

o econômico, o ambiental

e o social

Todos os dias, a humanidade

usa recursos renováveis e

recursos não renováveis para

produzir os bens e serviços

de que precisamos para a nossa

vida diária

9-Haroldo e Antenor.pmd 21/5/2012, 19:3640

Page 43: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 41

economia verde

envolve políticas e

investimentos que

desassociam o

crescimento do

atual consumo

intensivo de

materiais e energia. Nos últimos 30

anos, poucos países, como a

Alemanha, conseguiram alguma

desassociação, mas os resultados

foram modestos para garantir a nossa

sustentabilidade.

Economia verde

Na 26ª sessão do Fórum de Ministros

do Meio Ambiente e do Conselho de

Administração do PNUMA, em 2011, foi

aprovado o relatório “Rumo a uma

Economia Verde: Caminhos para o

Desenvolvimento Sustentável e a

Erradicação da Pobreza”, que mostra

que um investimento de 2% do PIB

mundial (cerca de 1,3 trilhão de dólares

por ano) em dez setores estratégicos

pode ser o início da transição rumo a

uma economia verde com baixo

carbono, gerando um desenvolvimento

mais eficiente no uso de recursos

naturais, além de combater a pobreza.

Os dez setores são: agricultura,

construção, abastecimento de energia,

pesca, silvicultura, indústria, turismo,

transportes, manejo de resíduos e

água.

Princípios

A adoção dos princípios da economia

verde evitaria os riscos, choques,

escassez e crises cada vez mais

frequentes da atual economia de alta

emissão de carbono e ajudaria a

contestar os mitos de que investimentos

ambientais são contrários ao

desenvolvimento econômico.

Coordenado por Pavan Sukhdev,

economista senior

do Deutsche Bank e

diretor da Iniciativa

Verde do PNUMA,

este relatório integra

a contribuição do

PNUMA para a

Conferência das Nações Unidas sobre

Desenvolvimento Sustentável, que se

realiza no Rio de Janeiro.

Para a transição desses setores para

uma economia mais verde, em termos

gerais, o relatório do PNUMA propõe

que sejam investidos:

Na agricultura sustentável:

US$ 108 bilhões.

No setor de construções:

US$ 134 bilhões para programas

de eficiência energética.

No setor de energias renováveis:

mais de US$ 360 bilhões.

Na pesca: US$ 110 bilhões,

incluindo a redução de

capacidade das frotas mundiais.

Na silvicultura: US$ 15 bilhões,

incluindo redução do

desmatamento e aumento no

reflorestamento, que ajudaria no

combate às mudanças climáticas.

Na indústria: US$ 75 bilhões.

No turismo sustentável: US$ 135

bilhões.

Nos transportes: US$ 190

bilhões, incluido o fomento à

utilização dos transportes

públicos.

Na gestão de resíduos: US$ 110

bilhões, incluindo triplicar a

reciclagem até 2050.

Na água: US$ 110 bilhões,

incluindo eficiência no seu uso e

saneamento básico.

Segundo Achim Steiner, diretor

executivo do PNUMA, a economia

A adoção dos princípios da economia

verde evitaria os riscos, choques,

escassez e crises cada vez mais

frequentes da atual economia de alta

emissão de carbono

9-Haroldo e Antenor.pmd 21/5/2012, 19:3641

Page 44: Sustentabilidade e Economia Verde

42 Sustentabilidade e Economia Verde

verde está repleta

de oportunidades

para empresas e

empreendedores,

com desafios

baseados na

inovação, no

conhecimento e

na ciência.

O mundo gasta

atualmente entre

1% e 2% do PIB

global em uma

série de subsídios

que contribuem para intensificar os

danos ambientais e ampliar a

ineficiência na economia global,

acelerando a insustentabilidade do

uso de recursos, entre eles,

combustíveis fósseis, agricultura,

água e pesca. Diminuir ou eliminar

estes subsídios liberaria recursos para

financiar a transição rumo a uma

economia verde, importante para o

crescimento e a erradicação da

pobreza nos países em

desenvolvimento, onde a natureza ou

os recursos naturais respondem por

90% do PIB de alguns deles.

Investimentos desiguais

O uso dos combustíveis fósseis

recebeu mais de 500 bilhões de dólares

por ano em subsídios governamentais

em 2009. Evidências sugerem que esses

subsídios raramente beneficiam os

pobres. Por outro lado, naquele mesmo

ano, os subsídios para o

desenvolvimento e

uso das energias

renováveis foram

cerca de US$ 50

bilhões, isto é, 10%

do total concedido

aos combustíveis

fósseis. Um

investimento anual

de 1,25% do

PIB mundial em

eficiência energética

e energias

renováveis poderia

reduzir a demanda

global por energia

primária em 9% em

2020, e em 40% até

2050. A economia

de capital e de

gastos com

combustível na

geração de energia, seria de 760 bilhões

de dólares entre os anos de 2020 e 2050.

No curto prazo, a queda dos níveis

de emprego em alguns setores, como

o da pesca, será inevitável, caso não

ocorra a transição rumo à

sustentabilidade. Na realidade, em

virtude dos subsídios dados às

grandes frotas pesqueiras de países

desenvolvidos (cerca de 27 bilhões de

dólares por ano), estamos retirando os

peixes nobres do mar com uma

velocidade superior à de sua

reprodução. A maioria dos estoques

pesqueiros mundiais está sobre-

explorada, e algumas espécies estão

ficando escassas. A criação de áreas

marinhas protegidas e a desativação e

redução da capacidade das frotas,

pode recuperar os recursos

pesqueiros. A captura anual de 80

milhões de toneladas de pescado

sofreria uma queda até 2020, mas

poderia aumentar para 90 milhões de

toneladas em 2050, de forma

sustentável.

Um dos objetivos

da economia verde

seria criar um

número de

empregos “novos”

– desde o setor de

energia renovável

A Organização Internacional

do Trabalho – OIT define

“empregos verdes” como

os postos de trabalho em diversos

setores que ajudam a proteger

e restaurar ecossistemas

e a biodiversidade, reduzem

o consumo de energia,

materiais e água, e reduzem

a emissão de CO2

A criação de áreas marinhas

protegidas e a desativação e

redução da capacidade das

frotas, pode recuperar os

recursos pesqueiros

9-Haroldo e Antenor.pmd 21/5/2012, 19:3642

Page 45: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 43

até o de agricultura

sustentável – que

compense

aqueles perdidos

na antiga

economia de alto

carbono. A

Organização

Internacional do

Trabalho-OIT

define “empregos

verdes” como os

postos de trabalho em diversos

setores que ajudam a proteger e

restaurar ecossistemas e a

biodiversidade, reduzem o consumo

de energia, materiais e água, e

reduzem a emissão de CO2.

Empregos verdes

Dados da OIT, divulgados no

Caderno Boa Chance do jornal O

Globo, no dia 20 de maio passado,

indicam que existem hoje cerca de

três milhões de empregos verdes no

Brasil, que correspondem, ainda, a

apenas 6,6% do

total de postos de

trabalho formais.

Mas a oferta dos

empregos verdes

cresceu 26,73%

entre 2006 e

2010, enquanto a oferta de empregos

formais cresceu apenas 25,35%. Com

a implantação da economia verde,

esta diferença tende a aumentar

progressivamente. Entre os

responsáveis por este aumento dos

empregos verdes está a nova Política

Nacional de Resíduos Sólidos, que

determina o fim dos lixões no país

até 2014; e a aplicação da logística

reversa no processo de

aproveitamento, reciclagem e

destinação correta do lixo produzido.

Investimentos

anuais

Os

investimentos

anuais em

transportes,

previstos para

0,34% do PIB

mundial até 2050,

com ênfase nos

transportes

públicos, na maior eficiência no

consumo de combustíveis e em

energias alternativas, podem reduzir o

uso do petróleo em 80% e elevar as

taxas de emprego em 6%. Hoje, os

custos ambientais e sociais –

engarrafamentos, tempo perdido

diariamente para ir e voltar do

trabalho, maior gasto de

combustíveis, maior emissão de

poluentes, e danos à saúde das

pessoas, são estimados em 10% do

PIB de um país ou região. Em 1980, a

frota de veículos no Brasil era inferior a

10 milhões. Hoje,

já ultrapassamos

os 40 milhões de

veículos.

Como afirma

Achim Steiner,

diretor executivo

do PNUMA, a economia verde é uma

resposta à questão de como manter a

pegada ecológica da humanidade

dentro dos limites do planeta. Objetiva

relacionar as demandas ambientais

aos resultados econômicos e sociais,

em particular o desenvolvimento

econômico, o emprego e a igualdade.

Haroldo Mattos de Lemos é presidente doInstituto Brasil PNUMA

Antenor Barros Leal é presidente daAssociação Comercial do Rio de Janeiro-ACRJ

Hoje, os custos ambientais

e sociais – engarrafamentos,

tempo perdido diariamente

para ir e voltar do trabalho, maior

gasto de combustíveis,

maior emissão de poluentes,

e danos à saúde das pessoas,

são estimados em 10% do PIB

de um país ou região

A economia verde é uma resposta

à questão de como manter a

pegada ecológica da humanidade

dentro dos limites do planeta

9-Haroldo e Antenor.pmd 22/5/2012, 09:2043

Page 46: Sustentabilidade e Economia Verde

44 Sustentabilidade e Economia Verde

É fundamental achar a linha justa entre

desenvolvimento e sustentabilidade ambiental

Maurilio Biagi Filho

A ideia do progresso econômico

a qualquer preço está com a

validade vencida desde a Eco

92, quando todos os países do mundo

se reuniram no Rio de Janeiro para a

Conferência Mundial do Meio

Ambiente e Desenvolvimento.

Entretanto, 20 anos depois, sabemos

que o principal poluidor não assinou o

Protocolo de Kioto, o acordo global

para reduzir a emissão de gases

causadores do efeito-estufa.

Agora, à luz da Conferência Rio +

20, que enfoca ainda o tema do

possível ajuste entre desenvolvimento

econômico e sustentabilidade

ambiental, podemos dizer que o

mundo talvez precise de 20 + 20 anos

para reconhecer que a primazia do

verde sobre as outras cores é mais do

que uma bela metáfora sobre os riscos

de desestabilização do equilíbrio

natural no planeta.

Pé do acelerador

Qualquer pessoa com um mínimo

de conhecimento e bom senso, admite

que se tornou necessário tirar o pé de

acelerador e reduzir a poluição onde

for possível. Nesse sentido, a recente

decisão do governo brasileiro de

subsidiar a venda de automóveis,

configura um estímulo ao consumo de

combustíveis fósseis.

PROGRESSO

SUSTENTÁVEL

PROGRESSO

SUSTENTÁVEL

10-MaurílioBiaggi.pmd 21/5/2012, 19:3744

Page 47: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 45

Apesar da lentidão do processo de

conscientização ecológica, é inegável

que estamos evoluindo, em nível

global. Nossa consciência ambiental é

muito maior hoje do que há 100 anos,

quando o próprio conceito de ecologia

não estava presente nos meios

empresariais e recém começava a se

diluir nos meios acadêmicos, de onde

se lançaria para a esfera pública, sob

a forma de leis e regulamentos.

A mudança pode parecer lenta,

dúbia até, mas não será assim se

examinarmos as coisas dentro de uma

perspectiva de longuíssimo prazo. De

fato, 20 ou 40 anos não são nada perto

dos 10 mil anos da nossa civilização. E

os 100 séculos decorridos desde a

invenção da agricultura e da criação

de animais – marcos iniciais da

civilização humana – são uma fração

de tempo insignificante diante da

idade do planeta, medida em milhões

de anos.

Lado positivo

O lado positivo dessa sucessão de

conferências como a Rio +20 é que

elas contribuem para o avanço, no

processo coletivo, da revisão dos

métodos de produção em todos os

setores da economia. Ainda que

alguns resistam, vai sendo implantada

em nível global, uma ética planetária,

sem a qual tendem a se agravar os

riscos de colapso da civilização

humana.

Se o que importa mesmo é a

qualidade de vida, cabe ao setor

primário a missão especial de ajudar a

limpar o planeta com a produção de

alimentos saudáveis, a geração de

combustíveis renováveis e a

intensificação da captação de carbono.

Estamos progredindo nessa

caminhada, mas a necessidade de

fortalecer a economia verde não pode

ser reduzida a chavões extremistas,

como se a ênfase no ambientalismo

exigisse a paralisação da economia e

vice-versa – a realização do

desenvolvimento econômico servisse

como anistia de malfeitos ecológicos.

É fundamental acharmos a linha

justa, de modo a fazer a

sustentabilidade ambiental caminhar

junto com a sustentabilidade

econômica. Os exageros dos dois

lados são profundamente negativos.

Os radicalismos são

contraproducentes porque afastam a

possibilidade de negociação,

consenso e acordo.

Sem a necessária integração entre o

ecológico e o econômico, estarão

comprometidas tarefas fundamentais

como a preservação das florestas, a gestão

dos recursos hídricos, a despoluição das

águas e outras medidas de inspiração

verde; de outro lado, corre-se o risco de

anular as possibilidades de aprimorar a

produção, de introduzir inovações

tecnológicas, de criar parcerias e de

explorar sinergias no mundo dos negócios.

A Rio+20 contribuirá para o

avanço da revisão dos métodos

de produção em todos os setores

da economia

“Os radicalismos são

contraproducentes porque

afastam a possibilidade

de negociação, consenso

e acordo

10-MaurílioBiaggi.pmd 21/5/2012, 19:3745

Page 48: Sustentabilidade e Economia Verde

46 Sustentabilidade e Economia Verde

Setor sucroalcooleiro

Como empresário originário do

setor sucroalcooleiro, gostaria de

exemplificar com a luta pela mudança

na matriz energética brasileira. Ao

criar o Proálcool em 1975, o Brasil se

tornou o pioneiro na substituição dos

combustíveis fósseis pelos renováveis.

Contribuiu para despoluir os centros

urbanos e ajudou a economizar

divisas na importação de petróleo.

Em cerca de 40 anos, a cana-de-

açúcar passou de dois milhões de

hectares para mais de oito milhões,

sem tirar área de culturas alimentares,

como diziam os críticos mais

alarmistas – todo o crescimento foi

feito em cima de pastagens

antieconômicas.

Combustível verde

Há cinco anos encantado com a

descoberta do petróleo na camada

pré-sal da plataforma continental, o

País acabou perdendo a liderança

mundial na produção do combustível

verde.

É ótimo ser um dos maiores

produtores de petróleo do mundo,

mas é arriscado descuidar-se da saída

propiciada pela agroindústria

canavieira, cujos esforços pelo

combustível verde têm sido

complementados por outras lavouras,

especialmente a da soja.

É bom ser um dos líderes mundiais

na produção de combustíveis verdes,

mas é fundamental não perder o

senso de responsabilidade ambiental,

econômica e social. Somente a cadeia

econômica da cana gera dois milhões

de empregos.

É desejável – e seria proveitoso – se

reuniões gerais como a Rio + 20,

servissem para promover um

verdadeiro ajuste entre os interesses

do desenvolvimento econômico e a

necessidade da preservação

ambiental. Deixando a hipocrisia de

lado, é preciso admitir que a ciência já

descobriu inúmeras soluções, como

os combustíveis de segunda geração

e os plásticos biodegradáveis. Mas, a

verdade é que o ecológico custa mais

caro.

À luz dos conhecimentos

científicos sobre as mudanças

climáticas que estão ocorrendo na

Terra desde o advento da civilização

industrial, é questão de tempo a

tomada de decisões estratégicas em

favor da manutenção do equilíbrio

ecológico. A partir desse momento,

cabe criar políticas efetivas para

administrar convenientemente o

desequilíbrio.

Maurílio Biagi Filho é empresário, presidenteda Maubisa e membro do CDES daPresidência da República

É uma questão de tempo a

tomada de decisões estratégicas

em favor da manutenção do

equilíbrio ecológico

“Somente a cadeia econômica

da cana-de-açúcar gera dois

milhões de empregos

“ “

10-MaurílioBiaggi.pmd 21/5/2012, 19:3746

Page 49: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 47

A AGROPECUÁRIA

NACIONAL NA

PERSPECTIVA DA

ECONOMIA VERDE

A AGROPECUÁRIA

NACIONAL NA

PERSPECTIVA DA

ECONOMIA VERDE

A agropecuária nacional é sólida,

eficiente e representa um dos

setores mais dinâmicos da

economia nacional. Além de cumprir

com fé e afinco sua nobre missão de

abastecer a população brasileira e

auxiliar no suprimento de alimentos de

mais de 150 países, posiciona-se

estrategicamente na vanguarda do

desenvolvimento sustentável.

A crescente adoção de tecnologias e

novas práticas agrícolas, que assimilam

as contínuas transformações sociais,

econômicas e ambientais, processadas

na diversidade do território brasileiro,

nas demandas da sociedade e na

amplitude de uma agricultura tropical,

respondem por grande parte desse

status conquistado pela agropecuária

brasileira.

Isso significa que as práticas

agrícolas e tecnologias utilizadas no

Brasil vêm privilegiando o uso mais

racional dos recursos, comprovado

pela utilização mais frequente de:

energia limpa e renovável, insumos e

máquinas de melhor qualidade, plantio

direto na palha, agricultura de precisão,

técnicas de manejo e de conservação

do solo, recuperação de pastagens

Fábio de Salles Meirelles

11-FábioMeirelles.pmd 21/5/2012, 19:3947

Page 50: Sustentabilidade e Economia Verde

48 Sustentabilidade e Economia Verde

degradadas, adubação verde, cultivo

rotacionado e consorciação; manejo

integrado de pragas e doenças,

integração lavoura-pecuária-floresta,

adoção de programas de certificação e

de boas práticas de produção,

tratamento de efluentes e dejetos, uso

racional da água, entre outras.

Evolução

Essa evolução vem ocorrendo há

muito tempo no campo, haja vista que

a expansão da produção brasileira

tem se calcado no incremento da

produtividade, e não na área

cultivada. No período de 1991 a 2010,

enquanto a área plantada aumentou

32%, a produção total cresceu 181%,

denotando o significativo incremento

de produtividade, próximo a 115%.

Isso significa que a produtividade

brasileira de grãos cresceu a uma taxa

de 3,9% ao ano, o que é expressivo.

Esses números não deixam dúvida:

o crescimento da agricultura nacional

não é horizontal, ele é essencialmente

vertical, baseado no ganho de

produtividade e qualidade, graças ao

uso de tecnologia e a melhor

capacitação do homem do campo. E a

tendência é de a produtividade

permanecer como principal

componente de expansão da

produção agrícola brasileira.

É perceptível que os produtores

estão cada vez mais conscientes da

importância de produzir de modo

sustentável, pois sem rentabilidade

agrícola, preservação ambiental e

desenvolvimento social não é possível

desenvolver uma atividade econômica

duradoura.

Capacitação

O sistema FAESP/SENAR-AR/SP,

inclusive, vem capacitando a

comunidade rural em relação aos

temas sustentabilidade e meio

ambiente, com ações de

sensibilização, treinamentos,

orientação técnica e jurídica, além de

aconselhamento e disponibilização de

informações.

Na amplitude do conceito de

sustentabilidade insere-se a

dimensão econômica, responsável

pela geração de renda para garantir

os investimentos necessários para a

sustentação das dimensões ambiental

e social. Entretanto, a experiência

mostra, pela conformação dos

mercados e dispersão dos produtores,

que a dimensão econômica, no âmbito

da produção agropecuária, é um dos

pilares mais frágeis da

sustentabilidade, com reflexos diretos

e indiretos sobre as demais

dimensões.

Especificidades

Isto ocorre porque a produção

agropecuária possui especificidades

que a distinguem das demais

atividades econômicas e condicionam

os produtores a enfrentarem maiores

riscos e incertezas que o conjunto da

economia, sendo elas:

1) sazonalidade da produção

devido à dependência dos fenômenos

climáticos, do meio ambiente e dos

processos biológicos vegetais e

animais;

2) perecebilidade dos produtos;

3) elevado número de produtores

que atuam em situação de

concorrência, entre mercados

concentrados a montante (oligopólio

da indústria de insumos e máquinas) e

a jusante (oligopsônio das indústrias);

4) acentuada distribuição espacial

da produção no território brasileiro e

5) rigidez da produção no curto

prazo, com períodos bem demarcados

11-FábioMeirelles.pmd 21/5/2012, 19:3948

Page 51: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 49

de contratação dos

custos e apuração

da receita

(comercialização),

exigindo volume de

capital de giro

elevado.

As razões

expostas e o fato

de a agropecuária

garantir o abastecimento de quase 200

milhões de brasileiros justificam a

importância e a necessidade de o

governo estabelecer política agrícola e

meio ambiente com instrumentos

específicos que promovam a

estabilidade da produção e da renda

agrícola, assegurando de fato o

crescimento equitativo e sustentável

das cadeias produtivas.

Voltando aos destaques brasileiros

na produção sustentável, outro ponto

relevante refere-se à bioenergia. O

Brasil é uma referência em termos de

bioenergia, pois 45,4% da matriz

energética nacional é composta por

fontes renováveis de energia,

enquanto a média mundial é de

apenas 14%. Quanto aos

combustíveis, cerca de 1/5 tem origem

renovável, são biocombustíveis.

Biocombustíveis

Os biocombustíveis de primeira

geração são os mais conhecidos,

como o álcool (etanol) de cana-de-

açúcar e o biodiesel de oleaginosas,

por exemplo. No entanto, uma nova

fase de desenvolvimento está em

andamento por meio dos estudos para

produção de biocombustíveis de

segunda geração. O potencial desses

biocombustíveis é fantástico, pois eles

podem produzir um volume grande de

energia a partir de matérias-primas

que atualmente não são consumidas e,

na maioria das vezes, são tratadas

como subprodutos,

como restos

agrícolas e

agroindustriais

com baixo valor

comercial.

Não obstante os

resultados

alcançados,

algumas ações,

pesquisas e políticas públicas ainda

precisam ser implantadas, de forma a

alavancar o desenvolvimento e a

vanguarda brasileira na produção

bionergética.

O país precisa de uma política mais

ampla, que contemple desde a

agricultura até a distribuição dos

biocombustíveis, ou seja, que cubra

todas as etapas de produção,

abastecimento interno e a exportação.

São necessários incentivos

econômicos à produção até que os

investimentos maturem e o mercado

se consolide.

Políticas públicas

Contudo, as políticas públicas

brasileiras devem se concentrar nos

incentivos e na organização da

agropecuária, setor que produz as

matérias-primas e impulsiona a

cadeia produtiva. A pesquisa

científica, semente do processo de

inovação, por exemplo, deve buscar a

ampliação e a diversificação do

número de matérias-primas

apropriadas à fabricação da

bioenergia, de modo a contemplar o

potencial natural existente no Brasil.

Da mesma maneira, há um grande

potencial para exploração e utilização

de espécies nativas das florestas

brasileiras para a produção florestal

comercial, pois as principais espécies

florestais plantadas no Brasil foram

adaptadas às condições brasileiras.

O Brasil é uma referência

em termos de bioenergia,

pois 45,4% da matriz energética

nacional é composta por

fontes renováveis de energia,

enquanto a média mundial

é de apenas 14%

11-FábioMeirelles.pmd 21/5/2012, 19:3949

Page 52: Sustentabilidade e Economia Verde

50 Sustentabilidade e Economia Verde

Como o debate

envolve a

sustentabilidade,

os desafios

renovam-se com

dinamismo no

meio rural e,

atualmente, a

vertente “mudança

climática” tem recebido maior

atenção, pois desmatamento,

queimadas, a conversão da utilização

do solo e as atividades agropecuárias

relacionam-se diretamente às

emissões brasileiras de gases de

efeito estufa (GEE).

O inventário das emissões e a

metodologia utilizada são ainda

bastante controversos, mas, com base

nas informações de 2005, a mudança

do uso da terra e florestas é

responsável por 60,6% das emissões

brasileiras de GEE, enquanto a

agropecuária responde por 18,9% e a

geração de energia por 15%, seguidas

pela indústria (3,6%) e tratamento de

resíduos (1,9%).

As queimadas e o desmatamento

inserem-se na rubrica mudança do uso

da terra e florestas, de longe a

principal fonte das emissões

brasileiras, enquanto a agropecuária

ocupa a segunda posição. As

emissões do setor são resultantes das

seguintes atividades: fermentação

entérica dos ruminantes, manejo de

dejetos de animais, cultivo de arroz

irrigado, queima de resíduos

agrícolas, utilização de fertilizantes

nitrogenados e deposição de dejetos

animais em pastagem, dentre outras

de menor expressão.

Práticas

Os números atribuídos à

agropecuária preocupam, mas a

situação do setor não é tão grave

quanto se propala.

Em primeiro lugar

porque existem

práticas adotadas

na produção

agrícola que são

reconhecidamente

mitigadoras das

emissões, ou até

mesmo fixadoras de carbono no solo.

E, em segundo lugar, porque o

inventário discutido foca-se nas

emissões, não contemplando

adequadamente a captura/fixação do

CO2.

Nessa perspectiva, quando o

problema for tratado do ponto de vista

do balanço das emissões pelos

sistemas de produção, os resultados

serão distintos e muitas vezes

favoráveis às atividades

agropecuárias.

A título de exemplo, um boi produz

cerca de 1,8 tonelada de CO² por ano,

enquanto uma pastagem bem

manejada captura 3,0 toneladas. A

pecuária de corte é acusada de ser

uma grande emissora, mas, na

realidade, o balanço entre emissão e

fixação do sistema é positivo em 1,2

tonelada de CO2 por hectare/ano. O

mesmo ocorre com a integração

lavoura-pecuária-floresta, pois esta

prática agrícola pode aumentar o

estoque de carbono no solo na ordem

de 0,82 a 2,58 toneladas por hectare/

ano.

E é justamente da ampliação da

discussão sobre mudanças climáticas

que emerge o que se chama

economia verde. Trata-se de uma

abordagem pragmática de

desenvolvimento que propõe uma

transformação na maneira de lidar

com a relação entre o crescimento

econômico e a preservação dos

recursos naturais. O termo economia

verde insere a sustentabilidade de

A integração lavoura-pecuária-

floresta, pois esta prática

agrícola pode aumentar

o estoque de carbono no solo

na ordem de 0,82 a 2,58

toneladas por hectare/ano

11-FábioMeirelles.pmd 21/5/2012, 19:3950

Page 53: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 51

forma objetiva no

conceito de

desenvolvimento,

visando enaltecer

as vantagens

socioeconômicas

da aliança entre

produção, inovação

e preservação da qualidade

ambiental.

Perspectivas favoráveis

Para a agropecuária, a economia

verde cria perspectivas favoráveis de

mercado, por meio do fomento aos

“agronegócios verdes”, que podem

se desenvolver em diferentes áreas:

agricultura orgânica; adubação verde,

mercado de créditos de carbono;

prestação de serviços ambientais;

ecoturismo e turismo rural; expansão

de fontes alternativas de energia

(solar e eólica); diferenciação via

certificação de processos e produtos

ambientalmente corretos, produzidos

com baixa emissão de carbono, em

equilíbrio com o meio ambiente e

eficientes do ponto de vista do uso de

insumos; e da produção

agroenergética.

Além das oportunidades listadas,

há muitas outras que ainda não foram

desenvolvidas ou sequer

identificadas, as quais certamente

exigirão a revisão dos processos

produtivos, impondo mudanças na

dinâmica das atividades rurais, com o

intuito de criar novos ciclos de

desenvolvimento.

Economia verde

Em síntese, nova frente de

reafirmação e fortalecimento das

qualidades da agropecuária

brasileira se abre com a economia

verde. E para aproveitá-la é preciso

pró-atividade,

gestão e

planejamento. Para

tanto,

recomendam-se as

seguintes ações:

a) estímulo à

pesquisa

agropecuária, preconizando linhas

de investigação que contribuam para

a mitigação ou retenção dos gases de

efeito estufa, tais como: 1) controle

biológico; 2) resistência a doenças e

pragas; 3) utilização eficiente de

insumos; 4) melhoria nutricional dos

alimentos; 5) criação de técnicas de

produção mais eficientes; 6)

produção orgânica; 7) adubação

verde; 8) redução de perdas e

desperdícios nas lavouras e no

beneficiamento industrial;

b) criação de incentivos e/ou

desincentivos econômicos às

práticas e sistemas de produção

positivos e/ou negativos do ponto de

vista da emissão de gases de efeito

estufa, respectivamente;

c) financiamento de sistemas de

produção de baixo carbono, que

tenham balanço positivo de emissões

(retenção menos emissão);

d) criação de programas de

fomento à utilização de técnicas e

processos mais limpos

(financiamento e transferência de

tecnologia);

e) estímulo à adoção de padrões

internacionais de desempenho das

atividades (a exemplo do GRI –

Global Reporting Iniciative) e

f) engajamento do Brasil nas

negociações internacionais a fim de

pleitear a incorporação de padrões

comuns de desempenho (balanço de

emissões) pelos países (para permitir

a comparação entre os países e servir

como antídoto contra eventuais

barreiras não tarifárias) e o

Para a agropecuária,

a economia verde cria

perspectivas favoráveis de

mercado, por meio do fomento

aos agronegócios verdes

11-FábioMeirelles.pmd 21/5/2012, 19:3951

Page 54: Sustentabilidade e Economia Verde

52 Sustentabilidade e Economia Verde

estabelecimento de mecanismos

financeiros para premiar as reduções

de emissões.

Observa-se que a sustentabilidade

ganha, paulatinamente, contornos

práticos, sendo cada vez mais

debatida na sociedade. No meio rural

ela não somente está presente como

é condição sine qua non de

competitividade e permanência do

homem do campo na atividade

agropecuária.

Para transformar as oportunidades

em catalisadores do progresso e do

desenvolvimento, em sintonia com a

contemporaneidade do tema e com a

necessidade de a agropecuária

continuar abastecendo a população

brasileira e o mercado internacional,

muitos são os desafios, e para vencê-

los é preciso planejamento, gestão e

união. Simultaneamente, é imperativo

cobrir a ausência de informação e

melhorar o nível de comunicação com

BRASIL. Empresa de Pesquisa

Energética. Balanço Energético

Nacional 2011 – Ano base 2010:

Resultados Preliminares. Rio de

Janeiro, 2011.

CONAB – Companhia Nacional de

Abastecimento. Produtos e Serviços:

Safras – Séries Históricas. Acesso em

24 de maio de 2012. <http://

www.conab.gov.br>.

CARVALHO, J.L.N. Dinâmica do

carbono e fluxo de gases do efeito

estufa em sistemas de integração

lavoura-pecuária na Amazônia e no

Cerrado. 2010. 144 p. (Tese

Doutorado em Ciências) - Escola

Superior de Agricultura “Luiz de

Queiroz”, Universidade de São

Paulo, Piracicaba, 2010.

SÃO PAULO (Estado). Secretaria do

Meio Ambiente. Economia Verde:

desenvolvimento, meio ambiente e

qualidade de vida no Estado de São

Paulo. São Paulo, 2010.

DEPARTAMENTO ECONÔMICO DA

FAESP. Oportunidades de mercado

no setor de agricultura sustentável: a

perspectiva empresarial e a geração

de empregos verdes. São Paulo,

2010. (Apresentação realizada no 1ª

Bolsa Internacional de Negócios da

Economia Verde, 01 dez. 2010).

REFERÊNCIAS

a sociedade, objetivando reverter a

imagem negativa e distorcida que se

faz da produção agrícola.

Em suma, a economia verde traz

oportunidades que, para se

materializarem, dependem do

empreendedorismo do setor privado

e da ação pragmática e tempestiva do

Governo na construção de políticas

públicas de fomento e integração do

sistema agrícola nas políticas de

mercado e meio ambiente, de

maneira a proporcionar a verdadeira

sustentabilidade, resultante do

equilíbrio das dimensões ambiental,

social e econômica.

Fábio de Salles Meirelles é presidente daFAESP - Federação da Agricultura e Pecuária doEstado de São Paulo

11-FábioMeirelles.pmd 21/5/2012, 19:3952

Page 55: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 53

O FUTURO DA

AGROPECUÁRIA

SUSTENTÁVEL

O FUTURO DA

AGROPECUÁRIA

SUSTENTÁVEL

A divisão de Desenvolvimento

Sustentável da ONU acaba de

publicar um estudo a respeito

do futuro da sustentabilidade na

agricultura e na produção de alimentos

(http://www.un.org/esa/dsddsd_sd21st/

21_pdf/agriculture_and_food_the_

future_of_sustainability_web.pdf). O

relatório Food and Agriculture: The

future of sustainability foi lançado comouma contribuição estratégica para orelatório mais amplo, denominadoDesenvolvimento Sustentável no século

21, que será lançado na Rio +20. Odocumento é fruto de uma consulta adezenas de líderes ligados ao setor,numa lista que inclui diversosbrasileiros. Eles apontaram astendências e prioridades para quesejam garantidos sistemas agrícolas e

produção de alimentos sustentáveis nospróximos 20 anos. O estudo concluisobre o que há de consenso sobre otema, mas também explicita as áreasonde há divergências fundamentais.

Seja pelos consensos ou dissensos,devemos digerir seus resultados e usá-lo como mais um importante subsídiopara a definição de políticas para estesetor crucial para o nosso país. Esperoque nos ajude a oxigenar a reflexão e odebate público sobre a nossaagropecuária, o que e como aqueremos e que políticas necessitamospara tal.

O estudo destaca a escassez derecursos naturais, energia e insumoscomo uma tendência para a produção

Luís Fernando Guedes Pinto

12-Luiz Fernmando.pmd 21/5/2012, 19:4653

Page 56: Sustentabilidade e Economia Verde

54 Sustentabilidade e Economia Verde

agropecuária. Isto se opõe a outrosaspectos alarmantes que têm recebidopouca atenção: o desperdício ouperda de 30 a 40% do que é produzidoe o fato do comércio de alimentos atualjá dar conta da necessidade decalorias da população humana,contrastando com desnutrição eobesidade. Ressalta também anecessidade de integração entre o usoda terra e os serviços ambientais paraa qualidade de vida local e global.Alerta ainda sobre um conjunto demedidas para a adaptação àsmudanças climáticas. E, conclui queestamos no caminho errado: aprioridade deve ser na qualidade daprodução e do produto e nadistribuição dos alimentos, ao invés dofoco exclusivo na quantidade a serproduzida.

Concentração da produção

Entre outras tendências, o estudotambém ressalta o risco daconcentração da produção e dadistribuição da comida. Metade doque comemos vem do cultivo de arroz,milho e trigo e um pequeno grupo deempresas domina o comércio mundialde alimentos. Finalmente, destaca amudança na governança, onde adinâmica entre governos, omultilateralismo, o setor privado e asociedade civil é bastante distinta dedécadas passadas. Os autoresconcluem que poucas empresas eONGs tomaram a dianteira na

inovação e na busca de soluçõesrumo a agricultura sustentável,enquanto a maioria dos outros atoresainda está batendo cabeça sobre emque direção ir e o que fazer. Talcenário reflete muito bem a situaçãodo nosso país e a discussão doCódigo Florestal é apenas umindicador. A conclusão é que énecessário equilibrar as forças entreo setor empresarial e o Estado,buscando integrar políticas públicase privadas que convirjam para o bempúblico comum.

Áreas de consenso

As nove áreas de consenso dosespecialistas foram:

1. Pequenos e médios produtoresorganizados (com ênfase para asmulheres agricultoras) deveriam ser aprioridade para investimentos.

2. Definir a meta da produçãosustentável em função da nutriçãohumana ao invés de simplesmenteproduzir mais.

3. Buscar alta produção comconservação ambiental, que não devemse opor, tendo políticas e uma agendade pesquisa compatíveis para esteobjetivo.

Há necessidade de integração

entre o uso da terra e os serviços

ambientais para a qualidade de

vida local e global

Poucas empresas e ONGs

tomaram a dianteira na inovação e

na busca de soluções rumo a

agricultura sustentável, enquanto a

maioria dos outros atores ainda

está batendo cabeça sobre em

que direção ir e o que fazer

12-Luiz Fernmando.pmd 21/5/2012, 19:4654

Page 57: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 55

4. Promover inovação e adisponibilização de diversastecnologias de produçãosustentáveis, aplicáveis paradiferentes contextos sócio-econômicos e ecológicos. Logo,evitar os pacotes tecnológicos,dominantes na agropecuárianacional.

5. Reduzir significativamente asperdas em toda a cadeia de alimentos.

6. Produzir biocombustíveis demaneira descentralizada, evitando queestes substituam a produção dealimentos. Ambas devem se somar parapromover a segurança alimentar eenergética, contribuindo paradiversificar e restaurar as paisagensrurais.

7. Medir de maneira inteligente etransparente os resultados rumo àsustentabilidade. O estudo adverte quepouco se mede os impactos dasmudanças em curso no campo, o quenão nos permite tomar decisõesadequadamente.

8. Desenvolver e adaptar asinstituições públicas e privadas paraque possam responder eficazmente aonovo paradigma da sustentabilidade.

9. Incentivar e recompensar osinvestimentos e sistemas de negóciosque resultem em impactos mensuráveispara o bem público.

Visibilidade

Vale a pena darmos visibilidade aosdilemas. As áreas onde não háconsensos entre os especialistas sobreo rumo a sustentabilidade da agriculturae dos alimentos ficaram organizadasem sete perguntas:

a) A segurança alimentar será melhorgarantida pela produção em larga oupequena escala?

b) Qual deve ser o papel dascorporações no sistema alimentar?

c) Quais tecnologias entregarão demaneira efetiva uma segurançaalimentar sustentável? Qual deve ser oequilíbrio entre sistemas intensivos deuso de químicos e práticasagroecológicas?

d) Qual pode ser o papel dostransgênicos para a segurançaalimentar?

e) Quanta biodiversidade deve havernos sistemas de produção agrícola?

f) Como se adaptar à crescentedemanda por proteína animal?

g) Como o comércio pode afetar asegurança alimentar dos países? Qualo equilíbrio entre produção e consumolocal e o comércio global?

O relatório é categórico em afirmarque a situação como está (business as

usual), não é uma opção para o alcance

“A segurança alimentar será

melhor garantida pela produção

em larga ou pequena escala?

Quanta biodiversidade

deve haver nos sistemas de

produção agrícola?

“ “

12-Luiz Fernmando.pmd 21/5/2012, 19:4655

Page 58: Sustentabilidade e Economia Verde

56 Sustentabilidade e Economia Verde

da agricultura e aalimentaçãosustentáveis.Adiciona que um“esverdeamento”parcial não ésuficiente, sendonecessário umavisão ampla esistêmica e areconstrução dosetor, com novastecnologias e políticas. O papel daextensão rural e do cooperativismo écolocado como central, na contramão dasituação brasileira, onde muitascooperativas viraram revendas deinsumos e os produtores são assistidospor técnicos de multinacionais deempresas de agroquímicos e sementes.

Desafios

Finalmente, a governança érecorrente em todo o estudo, commuitos destaques para a busca doequilíbrio entre o papel do Estado e dosetor empresarial. Estes são vistoscomocomplementares, aoinvés deantagônicos.Contudo, tudo indicaque os defensoresdo liberalismo sãoem menor número do que antes, pois,neste aspecto a conclusão é quemercados eficientes e equitativos sãocriados por governos fortes e não pormercados auto-regulados.

Os desafios são enormes, mas aúnica opção é enfrentá-los e o Brasilestá numa posição privilegiada paraser protagonista neste processo. Alémda situação especial dedisponibilidade de terras e condições

naturais paraproduzir, é líderem pesquisa einovação naagropecuáriatropical. Contacom um setorprodutivo onde avanguarda estápresente, mesmoque aindaconvivendo lado a

lado com o arcaico.

Nossa sociedade civil é organizadae, aos poucos, está despertando para aimportância do campo para a sua vidae para o projeto do nosso país. Agrande lacuna ainda está nadesconexão e contradições daspolíticas públicas, que devem criar ascondições para a construção de umanova agropecuária.

Somente alcançaremos a condiçãode líderes quando as políticaspassarem de setoriais parasistemáticas e coordenadas.

O estudo deixa evidente aimportância de integração de políticas

sociais eambientais, quevão da saúde eeducação, à infra-estrutura ecomércio. Não háfórmula para isto,

mas o que sabemos é que tratar cadatema separadamente gera enormescontradições, perda de energia emuitas dificuldades para se avançarrumo ao DesenvolvimentoSustentável.

Luís Fernando Guedes Pinto é secretárioexecutivo do Instituto de Manejo e CertificaçãoFlorestal e Agrícola-IMAFLORA

O papel da extensão rural e do

cooperativismo é central e está na

contramão da situação brasileira,

onde muitas cooperativas viraram

revendas de insumos e os

produtores são assistidos por

técnicos de multinacionais de

empresas de agroquímicos e

sementes

O Brasil, além de ter condições

naturais para produzir, é líder em

pesquisa e inovação na

agropecuária tropical

12-Luiz Fernmando.pmd 21/5/2012, 19:4656

Page 59: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 57

ECONOMIA VERDE

E AGRICULTURA:

EXISTE POTENCIAL?

Eduardo Delgado Assad

Uma análise da situação mundial

de alimentos, indica, segundo

a ONU, que os estoques de

alimentos são os mais baixos dos

últimos 30 anos. Ao mesmo tempo, todos

os cenários de aquecimento global

apontam para redução na oferta de

alimentos, principalmente nos países

mais pobres e os do hemisfério sul. A

FAO também mostra que os preços dos

alimentos devem continuar altos nos

próximos anos, segundo o recém eleito

diretor geral daquela instituição.

Portanto, a solução óbvia traduz-se na

necessidade de se produzir mais

alimentos para que os estoques

cresçam, reduzindo, assim, a

insegurança alimentar mundial. A FAO

também prevê que o mundo precisará,

até 2030, de mais 600 milhões de

toneladas de milho e oleaginosas, o que

equivale – considerando altas

produtividades –, incrementar em mais 54

milhões de hectares a área para produção.

Modelo

Qual deve ser o modelo adotado para

atingir esta previsão? Está demonstrado

que a simples abertura de áreas para

plantio não é a solução. Somente na

Amazônia, segundo os estudos feitos

pelo INPE/EMBRAPA/IBAMA, conhecido

como Terraclass, indicam que mais de 15

milhões de hectares que foram abertos e

explorados, estão abandonados ou em

processo de revegetação natural.

A agricultura brasileira é uma das

maiores e melhores do mundo em

produção e produtividade. Entre 1977 e

ECONOMIA VERDE

E AGRICULTURA:

EXISTE POTENCIAL?

13-EduardoAssad.pmd 21/5/2012, 19:4757

Page 60: Sustentabilidade e Economia Verde

58 Sustentabilidade e Economia Verde

2011, a produção cresceu 221% e a

produtividade 151%. É possível crescer

mais e atingir patamares ainda não

alcançados, se a agricultura e o

agricultor brasileiro conseguirem

enfrentar os desafios estruturais que

impedem o seu desenvolvimento

potencial. Esses desafios são muito

mais importantes que o aumento, ou a

redução, de área plantada, temas

discutidos nos últimos dois anos pela

sociedade brasileira.

Quais são esses desafios?

Regularização fundiária,

seguramente, este é um dos maiores

problemas de segurança jurídica do

homem do campo. Milhares de

agricultores vivem em situação irregular

e, assim, não conseguem com isso o

acesso ao crédito.

Acesso a tecnologias compatíveis

com o ambiente tropical. Desde 1990,

com o desmonte do sistema Sibrater no

governo Collor de Melo, o Brasil viu

desmoronar grande parte do aparato de

extensão rural e difusão de tecnologia.

Os mais atingidos são os pequenos e

médios agricultores, que deixam de ter

acesso a importantes informações que

poderiam aumentar a produtividade e

diversificar a produção, utilizando a

mesma área que possuem hoje. A

tecnologia não está chegando ao

homem do campo como deveria. O

Brasil deveria oferecer diferentes

sistemas de produção e disseminar a

transferência dessa tecnologia, que está

fundamentada no conhecimento

científico sobre a agricultura tropical,

arduamente conquistado nos últimos

40 anos.

Infraestrutura para escoamento

da produção. A vergonhosa situação

das estradas rurais brasileiras, que

impedem a entrega de produtos e o

escoamento da produção. Cada vez

que o sistema modal de transporte

rural entra em colapso, durante o

período das mais do que conhecidas

chuvas tropicais, as perdas são

imensas e os prejuízos incalculáveis. A

conta vai para o agricultor que perde

renda e não vê seus impostos sendo

aplicados em logística, o que garantiria,

minimamente, o escoamento de sua

produção. Novamente a questão não

está no aumento da área plantada e sim

na eficiência dos serviços que são

direito de quem produz.

Até quando?

Infraestrutura para

armazenamento da produção. Há

anos a capacidade de

armazenamento no país é discutida.

Com a extinção da Cibrazem, pouco

se fez para se construir novos

armazéns no país e impedir as perdas

pós-colheita, que chegam a 10 % da

nossa produção. Não é difícil ver, no

Mato Grosso, milho sendo

“armazenado” ao ar livre, sujeito ao

ataque de pragas e roedores,

contaminando este grão, base da

alimentação mundial, juntamente com

o trigo. Até quando o produtor

brasileiro vai viver esta situação?

Pedimos aumento de área para

produção agrícola, sem ter onde

armazenar nossos produtos! Se não

houvesse fome no Brasil, poderíamos

deixar de lado esta discussão. Mas

esta não é a realidade. Perdemos

““

A agricultura brasileira é uma das

maiores e melhores do mundo“

13-EduardoAssad.pmd 21/5/2012, 19:4758

Page 61: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 59

alimentos por falta de infraestrutura de

armazenamento.

Ordenamento territorial. É

necessário sustentar e priorizar os

zoneamentos agrícolas de, pelo menos,

dez principais culturas do país. Só

assim teremos um ordenamento

territorial moderno, eficiente e precursor

do aumento de produtividade. Isto

significa menos risco, menor perda e

maior produção em áreas já

consolidadas. Essas ações têm que

estar apoiadas na produção de

sementes de qualidade, garantidas e

protegidas pela lei de proteção de

cultivares, tantas vezes não obedecidas

por aproveitadores e traficantes de

material genético no país. Respeitando

nossas leis, a produtividade irá

aumentar, sem a necessidade de

expandir a área plantada.

Restrição da produtividade

Todas essas insuficiências restringem

a produtividade de nossa agricultura e

pressionam os passivos:

1 - as dívidas agrícolas se acumulam

e são roladas com discussões, quase

anualmente, sobre sua anistia, num

sistema de crédito hoje assegurado

pelo Tesouro Nacional, ou seja, por

recursos públicos;

2 - o desmatamento continua como

prática de ocupação e expansão de

área para atividade agrícola e pecuária;

3 - as áreas sensíveis, como as de

preservação permanente (APP) e as de

importância singular para a

conservação, como as reservas legais

(RL), deixam de ser recuperadas/

restauradas e geram demanda por

consolidação.

A dívida agrícola e os passivos

ambientais não são problemas da

agricultura. São sintomas e feridas

abertas que só serão curadas, com o

enfrentamento dos verdadeiros

problemas do campo. A energia

despendida atualmente no meio rural,

para tentar desfigurar a proteção das

florestas e renegociar ou buscar anistia

para dívida rural, deveria ser canalizada

para garantir a efetiva reversão dos

gargalos da agricultura.

Se trabalharmos corretamente,

respeitando a tecnologia tropical que

temos em abundância e valorizarmos

nossas instituições, verdadeiras

fábricas de soluções, poderemos

produzir mais e promover a

remuneração pelos serviços

ambientais que a boa agricultura pode

fazer. Nas discussões ambientais, o

agrícola é o único setor da economia

que, num curto espaço de tempo, pode

deixar de ser emissor de gases de

efeito estufa, para ser assimilador de

carbono, transformando-o em renda.

São passivos tornando-se ativos. Tudo

isto sem necessidade de aumentar a

área cultivada.

Economia verde

É neste contexto que vem tomando

força a economia verde. De que

maneira?

A grande disponibilidade de terra

adequada para as atividades

agropecuárias, aliada às condições

climáticas favoráveis, à abundância de

água, ao avanço tecnológico e ao

empreendedorismo dos produtores,

impulsionaram o crescimento significativo,

nos anos mais recentes, de setores da

agricultura e da pecuária, transformando-

os numa das principais alavancas do

O setor agrícola é o único que,

num curto espaço de tempo,

pode deixar de ser emissor de

gases de efeito estufa

13-EduardoAssad.pmd 21/5/2012, 19:4759

Page 62: Sustentabilidade e Economia Verde

60 Sustentabilidade e Economia Verde

Principais problemas ambientais decorrentes de práticas agrícolas (CEPEA, 2006)

Recurso

natural Problema ambiental Possíveis alternativas/soluções

Ar - Poluição do ar decorrente da queimada - estabelecimento de reduções progressivas

da cana-de-açúcar; da queimada da cana e incentivos para

- lançamento de gases que destroem a tecnologias menos nocivas à camada de

camada de ozônio; ozônio;

- contribuição para o agravamento do - divulgação, para os produtores, de

efeito estufa decorrentes processo de informações relacionadas ao mercado de

decomposição de dejetos (suínos e carbono, suas oportunidades e limitações.

bovinos), bem como desmatamento,

queimadas e mudança do uso do solo,

entre outros.

Solo - alteração da qualidade resultante da - incentivo às práticas de conservação e

expansão da fronteira agrícola e das recuperação do solo, tais como consórcios e

pastagens; rotações, adubação orgânica, controle

- redução da qualidade devido à biológico e manejo integrado de pragas etc.;

utilização excessiva de fertilizantes - desenvolvimento de pesquisas sobre as

químicos e agrotóxicos; características do solo, verificando qual

- desertificação e erosão do solo; seria a atividade mais adequada para se

- poluição causada por curtumes, dejetos adotada (zoneamento econômico ecológico),

suínos, vinhoto e queima da cana; bem como de medidas para a proteção

- não cumprimento das leis referentes às do solo;

áreas de APP e Reserva Legal na grande - promoção do uso dos resíduos agropecuários

maioria das propriedades rurais. para geração de energia.

Recursos - poluição causada por efluentes das - regulamentação das necessidades de

Hídricos destilarias de álcool e pelas águas de tratamento das águas residuais dos

lavagem da cana-de-açúcar; processos produtivos;

- poluição causada por matadouros, - desenvolvimento de pesquisas e estudos

frigoríficos e criadouros de animais; que identifiquem os problemas críticos e

- poluição por águas não tratadas apontem soluções viáveis aos produtores;

adequadamente em propriedades - incentivo ao desenvolvimento de

criadoras de suínos; tecnologias eficientes para o tratamento das

- assoreamento de cursos d’água por águas residuais e reutilização da água;

erosão do solo; - medidas de racionamento do uso da água e

- poluição tóxica e orgânica diversa; combate ao desperdício, através de processo

- utilização excessiva decorrente da de conscientização do produtor e

irrigação de culturas agrícolas, como possivelmente da cobrança pelo uso da água

arroz e fruticultura. (neste item, deve-se ter a sensibilidade para

valorar a água de forma a apenas racionalize

seu uso, e não comprometa os custos de

produção, como foi verificado por alguns

estudos);

- medidas de proteção dos mananciais;

- divulgação das informações para os

produtores, tanto referentes às exigências,

quanto às alternativas existentes de

tratamento/racionalização;

- programas de recuperação e conservação

de bacias hidrográficas;

- fiscalização e monitoramento das

propriedades quanto ao cumprimento das

regulamentações.

Recursos Os principais problemas estão - programas de combate e controle de

florestais relacionados à redução de áreas devido: queimadas, incêndios florestais e

- à elevada taxa de desmatamento, exploração ilegal da madeira;

queimada e incêndios florestais; - desenvolvimento de tecnologias que

- à expansão da fronteira agrícola; aumentem a produtividade agrícola em

- às práticas comuns de exploração da terras já desmatadas, para diminuir a taxa de

madeira em sistemas não manejados; expansão da fronteira agrícola;

- extração ilegal da madeira, bem - desenvolvimento de técnicas de

como de produtos como palmito, xaxim recuperação de ambientes degradados;

e canela; - estabelecimento de programas de

- geração de resíduos e subprodutos recuperação de áreas degradadas e

como resultado da exploração dos fiscalização quanto às APP e Reservas

recursos florestais; legais;

- não cumprimento das leis referentes às - promoção do uso dos resíduos florestais

áreas de APP e Reserva Legal na grande para geração de energia;

maioria das propriedades rurais. - processo de conscientização do produtor

quanto às regulamentações existentes, bem

como incentivos ao cumprimento;

- disseminação de prática como manejo

florestal, sistemas agroflorestais e processos

de certificação florestal.

13-EduardoAssad.pmd 22/5/2012, 09:2760

Page 63: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 61

SOLUÇÕES

As soluções apresentadas podem ser resumidas e aplicadas às diferentes

atividades agropecuárias:

o apoio a instituições de pesquisa e universidades para desenvolvimento

de estudos que direcionem tecnicamente a tomada de decisão de política

agrícola;

incentivos ao desenvolvimento tecnológico que:

aumentem a produtividade agrícola, diminuindo a tendência de

desmatamento;

aumentem a eficiência energética;

tratem eficientemente os resíduos gerados com possibilidade de gerar

energia dentro da própria propriedade.

divulgação de informação e qualificação de recursos humanos;

capacitação dos produtores e propagação de gestões sustentáveis,

através da adoção de certificação ou selos limpos.

Mecanismos de gestão ambiental

Além destas soluções, há também mecanismos de gestão ambiental que

incorporam incentivos econômicos ou controle, que podem ser aplicados

para todos os casos citados na tabela acima.

Regulamentos e sanções (estabelecimento de padrões de emissões;

exigência de licenciamento para atividades; restrições ao uso do recurso;

aplicação de multas, estabelecimento de fechamento da atividade);

Taxas, Impostos e cobranças (taxas por não cumprimento da legislação

ambiental ou para racionalizar o uso de determinado recurso; bônus de

desempenho etc.);

Criação de mercado (licenças comercializáveis para direito de captação

de água ou emissões, por exemplo); e

Intervenção de demanda final (programas de rotulagem, processos de

certificação, adoção de selos “verdes” etc).

Ações governamentais

Todas as soluções apresentadas só serão efetivas se, por um lado, os

problemas ambientais forem bem identificados e quantificados (através de

parcerias com universidades e centros de pesquisa), se existirem alternativas

viáveis para a adequação (tecnologias, financiamento, crédito etc.) e,

finalmente, se os produtores tiverem conhecimento, tanto das exigências

quanto das alternativas existentes.

Num primeiro momento, determinadas ações de governo já estão em

andamento, colocando o Brasil numa posição de vanguarda com relação à

produção agrícola, considerando o conceito da economia verde. São elas:

• A recuperação direta de pastagens com baixa capacidade de suporte;

• A Integração Lavoura-Pecuária (ILP);

• A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF);

• Reflorestamento;

• Tratamento de resíduos;

• O plantio direto na palha (PD);

• A fixação biológica do Nitrogênio (FBN);

• Agroenergia – produção de biocombustíveis: bioetanol e biodiesel

Publicação Especial Rio+20 61

13-EduardoAssad.pmd 22/5/2012, 09:2761

Page 64: Sustentabilidade e Economia Verde

62 Sustentabilidade e Economia Verde

crescimento econômico brasileiro.

A rápida expansão do setor

agropecuário no Brasil nos últimos anos,

ocasionou a mudança do uso da terra e

colocou a agricultura brasileira como um

dos responsáveis pela emissão de

gases de efeito estufa (gás carbônico –

CO2; gás metano – CH

4 e óxido nitroso –

N2O), tanto na produção agrícola – uso

de fertilizantes e manejo das áreas

agricultáveis – quanto na pecuária – uso

de áreas desmatadas e emissão de CH4

pelo rebanho bovino.

Potencial de ampliação

A disponibilidade de recursos

naturais e os avanços tecnológicos,

aliados à demanda interna expressiva e

ao acentuado crescimento do consumo

do mercado internacional, são

indicadores do potencial de ampliação

da produção brasileira.

Esse cenário, do ponto de vista

produtivo e da produção da riqueza

nacional, é extremamente positivo. O

Brasil precisa continuar estimulando o

desenvolvimento, com a produção

crescente da agricultura, para gerar

divisas com a exportação e,

sobretudo, para alimentar a população

brasileira. Mas, por outro lado, a

questão ambiental associada com a

redução das emissões de gases de

efeito estufa (GEE), também são

necessidades fundamentais no

desenvolvimento do Brasil, o que

concretiza diversos novos imperativos

para os produtores e para a ação

governamental. Será preciso enfrentar

um duplo desafio: estimular o

crescimento e reduzir as emissões de

GEE e, para tanto, o setor agrícola

brasileiro dispõe de tecnologias

mitigadoras dos GEE e que podem

ser incorporados pelos agricultores

no seu processo de produção.

O que é economia verde?

O PNUMA (2011) define economia

verde como uma economia que resulta

em melhoria do bem-estar da humanidade

e igualdade social, ao mesmo tempo em

que reduz significativamente riscos

ambientais e escassez ecológica. Em

outras palavras, uma economia verde

pode ser considerada como tendo baixa

emissão de carbono, é eficiente em seu

uso de recursos e socialmente inclusiva.

Em uma economia verde, o crescimento

de renda e de emprego deve ser

impulsionado por investimentos públicos

e privados, que reduzem as emissões de

carbono e poluição, e aumentam a

eficiência energética e o uso de recursos,

além de previnir perdas de

biodiversidade e serviços

ecossistêmicos. Esses investimentos

precisam ser gerados e apoiados por

gastos públicos específicos, reformas

políticas e mudanças na regulamentação.

O caminho do desenvolvimento deve

manter, aprimorar e, quando possível,

reconstruir capital natural como um bem

econômico crítico e como uma fonte de

benefícios públicos, principalmente para

a população carente cujo sustento e

segurança dependem da natureza.

Condições facilitadoras

Para fazer a transição para uma

economia verde, são necessárias

algumas condições facilitadoras

A economia verde resulta em

melhoria do bem-estar da

humanidade e igualdade social,

ao mesmo tempo em que

reduz significativamente

riscos ambientais e escassez

ecológica

13-EduardoAssad.pmd 22/5/2012, 09:2762

Page 65: Sustentabilidade e Economia Verde

Sustentabilidade e Economia Verde 63

específicas. Essas

condições

facilitadoras

consistem de um

pano de fundo de

regulamentos

nacionais, políticas

públicas, subsídios

e incentivos,

mercado

internacional e infraestrutura legal, além

de protocolos comerciais e de apoio. No

momento, as condições facilitadoras

dependem excessivamente da energia

proveniente dos combustíveis fósseis.

Exemplos

Em escala nacional, os exemplos de

tais condições possibilitadoras são:

mudanças na política fiscal, reforma e

redução de subsídios prejudiciais ao

meio ambiente; emprego de novos

instrumentos de base de mercado;

procura de investimentos públicos para

setores-chave “verdes”; tornar mais

“verdes” os contratos públicos; e,

finalmente, a melhoria das regras e

regulamentos ambientais, bem como

sua execução. Na escala internacional,

também há oportunidades para

complementar a infraestrutura de

mercado, melhorar o fluxo de comércio

e de apoio, e promover maior

cooperação internacional.

Um dos pontos que mais pesa na

condição atual da produção agrícola

nacional é o uso excessivo de

agrotóxicos. É necessário reduzir este

uso excessivo, com as técnicas de

manejo existentes, que permitem,

também, a redução de custos e o

aumento de renda. Durante o período

de 1975 a 2009, o País esteve entre os

seis maiores mercados de agrotóxicos

do mundo. Em 2008, o Brasil assumiu o

posto de maior mercado consumidor de

agrotóxicos do mundo. Segundo

levantamento feito

pelo Sindicato

Nacional da

Indústria de

Produtos para

Defesa Agrícola

(Sindag), as

vendas de

agrotóxicos

somaram US$

7,125 bilhões diante de US$ 6,6 bilhões

do segundo colocado, os Estados

Unidos (ANDEF, 2009). Ser o maior

consumidor do mundo em agrotóxicos

não é uma boa classificação para quem

precisa apostar na economia verde,

como grande opção de mercado. De

forma mais detalhada, a tabela ilustra

os principais problemas ambientais

decorrentes de práticas agropecuárias.

Eduardo Delgado Assad é formado emEngenharia Agrícola em 1979 pela UniversidadeFederal de Viçosa. Fez Mestrado e Doutorado emMontpellier, França, 1987, no laboratório deHidrologie e Mathematique da Universidade de deMontpellier II. Nessa oportunidade trabalhou noslaboratórios do INRA de Avignon e do CIRAD emMontpellier. É pesquisador da Embrapa desde1987 atuando inicialmente no Centro de PesquisaAgropecuária dos Cerrados (CPAC), onde criou oLaboratório de Biofisica Ambiental. Foicoordenador da área de Recursos Naturais doCPAC e Secretário Executivo do Programa deRecursos Naturais da Embrapa, além de chefe dePesquisa e Desenvolvimento da EmbrapaCerrados. No período 2005-2009 foi chefe daEmbrapa Informática Agropecuária. Foi ocoordenador técnico nacional do ZoneamentoAgrícola de Riscos Climáticos do Ministério daAgricultura durante 10 anos. Coordenou váriosprojetos em rede nacional sobre zoneamentos deriscos climáticos e mudanças climáticas naagricultura. É membro comitê científico do PainelBrasileiro de Mudanças Climáticas. FoiSecretário de Mudanças climáticas e recursoshídricos do Ministério do meio Ambiente, no anode 2011. Professor do curso de pós-graduaçãoem agronegócios da Fundação Getúlio Vargas.

É necessário reduzir

o uso excessivo de agrotóxicos

com as técnicas de manejo

existentes, que permitem

também a redução de custos

e aumento de renda

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Page 66: Sustentabilidade e Economia Verde

64 Sustentabilidade e Economia Verde

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Brasil: informe 2011. Brasília: ANA, 2011.

112 p.

Assad, E.D.; Pinto, H.S.; Zullo Junior, J.;

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Plenarium, v. 5, p. 96-117, 2008.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento. Plano Agrícola e Pecuário

2011-2012 / Ministério da Agricultura,

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EMBAIXADA BRITÂNICA. Semeando

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www.snagricultura.org.br.

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