sign design ou o design dos signos a con

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Priscila Lena Farias Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo, 2002 Sign Design , ou o design dos signos: a construção de diagramas dinâmicos das classes de signos de C.S.Peirce

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Tese sobre semiótica e design

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Page 1: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Priscila Lena Farias

Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e SemióticaPontifícia Universidade Católica de São PauloSão Paulo, 2002

S ign Des ign , ou o design dos signos: a construção de diagramas dinâmicos das classes de signos de C.S.Peirce

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Priscila Lena Farias

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutorem Comunicação e Semiótica, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Lucia Santaella Braga.

Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e SemióticaPontifícia Universidade Católica de São PauloSão Paulo, 2002

S ign Des ign , ou o design dos signos: a construção de diagramas dinâmicos das classes de signos de C.S.Peirce

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Page 4: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Autorizo, exclusivamente para fins

acadêmicos e científicos, a reprodução

total ou parcial desta tese por processos

fotocopiadores ou eletrônicos.

Priscila Lena Farias

São Paulo, fevereiro de 2002

Page 5: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Abstract

This thesis departs from the detection of some

problems and limitations in the diagrams for the classes of

signs designed by Peirce and peircean scholars. Its central

hypothesis is that many of those limitations may be over-

come by the use of computer graphic tools, combined with

more efficient design strategies. Sign design is the name

given to this set of strategies, applied to the visualization of

sign processes and structures. This thesis demonstrates how

it is possible to use those strategies to get to a new family of

diagrams —here referred to as dynamic diagrams—that are

more efficient as tools for investigation.

The thesis divides into three parts: (i) theoretical basis,

(ii) diagrams for the classes of signs, and (iii) dynamic

diagrams for the classes of signs. In Part I (theoretical

basis), the concepts of category, class, trichotomy and dia-

gram, within peircean theory, are introduced and analyzed,

as well as the concept of sign design, its methodology and

applications. In Part II (diagrams for the classes of sign),

the models of articulation proposed by Peirce and peircean

scholars are presented and discussed. Part III (dynamic

diagrams for the classes of signs) introduces 10cubes and

3N3, two new diagrammatic models for the classes of signs

developed using sign design strategies.

Resumo

Esta tese parte da detecção de alguns problemas e limitações

nos diagramas para as classes de signos elaborados por Peirce e

alguns de seus comentadores. Sua hipótese central é a de que

várias destas limitações podem ser superadas através do uso de

ferramentas da computação gráfica, aliado a estratégias de design

mais eficientes. A este conjunto de estratégias, aplicadas à

visualização de processos e estruturas sígnicas, deu-se o nome de

sign design. A tese demonstra como foi possível utilizar estas

estratégias para chegar a uma nova família de diagramas —aqui

referidos como diagramas dinâmicos—, que fossem mais eficientes

enquanto ferramentas de investigação.

A tese está dividida em três partes: (i) bases teóricas,

(ii) diagramas para as classes de signos, e (iii) diagramas dinâmicos

para as classes de signos. Na Parte I (bases teóricas), os conceitos de

categoria, classe, tricotomia e diagrama, dentro da teoria peirceana,

são apresentados e analisados, assim como o conceito de sign design,

sua metodologia e aplicações. Na Parte II (diagramas para as classes

de signos), são apresentados e discutidos os modelos de articulação

das classes propostos por Peirce e seus comentadores. A Parte III

(diagramas dinâmicos para as classes de signos) introduz 10cubes e

3N3, dois novos modelos diagramáticos para as classes de signos,

desenvolvidos utilizando estratégias de sign design.

Page 6: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Para RP, meu dj favorito.

Page 7: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Índice8

1314173241585962687374788286878795

103103112116117122123126127128130145153

154163176196204

• Introdução> Parte I. Bases teóricas• I.1- Categorias e classes dentro da teoria peirceanaI.1.1- Primeiridade, Secundidade e TerceiridadeI.1.2- TricotomiasI.1.3- Divisões dos signos em 10, 28 e 66 classes• I.2- O conceito de diagrama dentro da teoria peirceanaI.2.1- Diagrama como sinônimo, ou melhor exemplo de íconeI.2.2- Diagrama como um dos tipos de hipo-íconeI.2.3- Raciocínio diagramático• I.3- Sign design: um diálogo entre design e semióticaI.3.1- O que é sign designI.3.2- Uma proposta de metodologia para sign designI.3.3- Aplicações para sign design> Parte II. Diagramas para as classes de signos• II.1- Modelos desenvolvidos por PeirceII.1.1- O modelo do ‘Syllabus’ 1903 II.1.2- O modelo da carta para Lady Welby • II.2- Modelos desenvolvidos por comentadoresII.2.1- Modelos para 10 classes de signosII.2.2- Modelos para várias divisões de signos• II.3- Novas estratégias de modelagemII.3.1- Modelos que utilizam cores II.3.2- Modelos tridimensionaisII.3.3- Modelos dinâmicos> Parte III. Novos diagramas para as classes de signos• III.1- 10cubes: explorando a estrutura das 10 classes de signos de PeirceIII.1.1- ConceitualizaçãoIII.1.2- DesenvolvimentoIII.1.3- Experimentação• III.2- 3N3: explorando as estruturas e as relações entre as 10, 28 e 66classes de signos propostas por PeirceIII.2.1- ConceitualizaçãoIII.2.2- DesenvolvimentoIII.2.3- Experimentação• Conclusão• Bibliografia

Page 8: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Agradecimentos

A Lucia Santaella, minha orientadora, pelo apoio ao meu trabalho, e por seu exemplo como pessoa e como intelectual.

A João Queiroz, co-autor de diversos artigos, grande amigo, leitor paciente e atento de vários capítulos desta tese.

A Antonio Gomes, que executou brilhantemente a programação em Java dos diagramas dinâmicos 10cubes e 3N3, e seu

orientador, Ricardo Gudwin, que proporcionou este contato.

Aos professores que acompanharam parte deste trabalho, entre eles

Douglas Hofstadter, que me recebeu como pesquisadora em seu Center for Research on Concepts and Cognition na

Universidade de Indiana em Bloomington;

Nathan Houser, Albert Lewis, Andre de Tienne e Cornelis de Waal, do Peirce Edition Project, por seus comentários

sobre o meu projeto e por facilitar o acesso aos seus arquivos, em especial as cópias dos manuscritos de Peirce;

Solomon Marcus e Floyd Merell, por seus comentários inspiradores em um estágio muito inicial desta pesquisa;

Robert Marty e Shea Zellweger, com quem, apesar de nunca ter me encontrado pessoalmente, mantive contatos

surpreendentemente intensos, via correio e internet, durante minha pesquisa.

Aos meus colegas e professores na PUC-SP e na Universidade de Indiana em Bloomington, por sua amizade e inspi-

ração, em especial Breno Serson, Rejane Cantoni, Rogério da Costa, Edson Zampronha, Lafayette de Moraes,

Lucia Leão, Maria Teresa Santoro, Bob Port, Don Cunningham, Laura Shackelford e Cristina Iuli.

À FAPESP, pelo apoio à minha pesquisa através da bolsa DR-II 98/00301-9.

Page 9: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Introdução

Pensar na relação entre semiótica e visualidade, significa, na maior

parte da vezes, pensar em aplicações da teoria do signo para a

análise de obras realizadas nos diversos campos das artes visuais.

Este trabalho sugere um caminho diferente, propondo uma nova

forma, eminentemente visual, de se investigar aspectos fundamen-

tais da teoria peirceana do signo.

C. S. Peirce argumentou, em diversas ocasiões (CP 4.544,

4.571, NEM 4: 375), a favor de um tipo de raciocínio que privilegia

a visualidade, chegando mesmo a dedicar-se ao desenvolvimento

de sistemas lógicos baseados em notações visuais originais. Neste

mesmo espírito, o conjunto de estratégias adotadas nesta tese —ao

qual foi dado o nome de sign design, ou ‘design dos signos’— parte

da hipótese de que certos aspectos da teoria peirceana podem ser

mais bem compreendidos se investigados e re-enunciados de

forma visual.

A idéia de que boas estratégias de projeto devem levar a resul-

tados que sejam não apenas visualmente mais agradáveis, mas tam-

bém mais efetivos do ponto de vista comunicativo, encaixa-se den-

tro de um conjunto de pressupostos gerais e aceitos quanto à

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Page 10: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

natureza do design e da comunicação visual (Denis 1999:213,

Villas-Boas 1999: 17, Leite 2000: 28). À estes pressupostos, soma-

se a expectativa, sugerida pelos argumentos de Peirce quanto à

capacidade dos diagramas de “revelar verdades inesperadas” (CP

2.279), de que estas mesmas estratégias possam contribuir para

uma maior relevância, em termos investigativos, destes diagramas.

As bases teóricas para este desenvolvimento encontram-se

na Parte I desta tese. O capítulo I.1 tem como objetivo tornar claros

alguns tópicos da teoria do signo de Peirce necessários para a com-

preensão dos capítulos seguintes: as categorias peirceanas de

primeiridade, secundidade e terceiridade, as tricotomias, e as

divisões dos signos em 10, 28 e 66 classes que resultam da aplicação

destas categorias e tricotomias. O capítulo I.2 tem como foco as

várias facetas do conceito de ‘diagrama’ presentes na obra de

Peirce. Discute-se o conceito de diagrama como sinônimo de ícone,

como tipo de hipo-ícone, e como componente principal de proces-

sos de raciocínio. O capítulo I.3 apresenta o programa de pesquisa

sign design, discute uma possível metodologia para ele, e alguns

exemplos de aplicação.

A parte II apresenta e discute diversos diagramas para as

classes de signos, iniciando, no capítulo II.1, com a análise dos

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Page 11: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

diagramas elaborados por Peirce, para 10 classes: o diagrama do

‘Syllabus’ de 1903 (MS 540: 17, CP 2.264, EP2: 296), e o da carta

para Lady Welby (L463:146, CP 8.376, EP2: 491). O capítulo II.2

complementa o capítulo anterior, com a análise de diagramas

desenvolvidos por comentadores. A primeira seção apresenta dia-

gramas que foram concebidos especificamente para modelar a

divisão em 10 classes, como aqueles de Balat (1990: 81, 85) e

Merrell (1991, 1997). A segunda seção apresenta modelos que

podem ser aplicados a mais de um tipo de classificação, sugeridos

por Marty (1990) e Maróstica (1992). O último capítulo da parte II

aponta algumas limitações dos diagramas apresentados nos capí-

tulos anteriores, e propõe algumas estratégias de modelagem que

podem ser empregadas na construção de novos diagramas para as

classes de signos: a utilização de cores, a incorporação de uma ter-

ceira dimensão espacial, e o aproveitamento de recursos dinâmi-

cos como movimento e interatividade.

A Parte III demonstra como as estratégias discutidas nos

capítulos I.3 podem ser empregadas na construção de diagramas

que exploram os recursos apontados no capítulo II.3. O capítulo

III.1 apresenta 10cubes, um aplicativo que têm como objetivo mode-

lar de forma dinâmica as relações existentes na divisão dos signos

10

Page 12: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

em 10 classes proposta por Peirce em seu ‘Syllabus’ de 1903 (MS

540, CP 2.233-72, EP2: 289-99). Ele é um modelo tridimensional e

interativo para estas classes, que pode ser manipulado em tempo

real. O capítulo III.2 apresenta 3N3, um software que constrói dia-

gramas equivalentes para diferentes classificações de signos —

divisões em 10, 28, 66, ou qualquer outro número de classes com-

patível com o modelo peirceano—, descreve sua fase de desenvolvi-

mento, expõe alguns experimentos e avalia seus resultados.

11

Page 13: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Parte I. Bases teóricas

S ign Des i gn , ou o design dos signos: a construção de diagramas dinâmicos das

classes de signos de C.S.Peirce

Page 14: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

I.1- Categorias, tricotomias e classes

dentro da teoria peirceana

Introdução

Este primeiro capítulo tem como objetivo tornar claros alguns tópi-

cos da teoria do signo de Peirce que serão intensivamente emprega-

dos nos capítulos subseqüentes: as categorias peirceanas de

primeiridade, secundidade e terceiridade, as tricotomias, e as

divisões dos signos em 10, 28 e 66 classes que resultam da aplicação

destas categorias e tricotomias.

Peirce forneceu diversas definições de ‘signo’ em sua obra —

algumas mais técnicas, outras mais didáticas. R. Marty (1997)

colecionou e analisou 76 definições encontradas em diversas

fontes (CP, NEM, SS, cartas e manuscritos).1

Segundo Marty, é

possível identificar duas concepções diferentes de signo na obra

peirceana, uma anterior e outra posterior a 1905, notando que

80% das definições encontradas são posteriores a 1902. Marty

qualifica esta primeira concepção como “global,” e a segunda como

“analítica,” chamando atenção para o caráter mais rigoroso e for-

mal da segunda concepção, mas salientando, contudo, o caráter

triádico de ambas.

13

Page 15: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Considerando que a presença de três elementos relacionados

entre si é uma característica constante das definições de signo

fornecidas por Peirce, podemos dizer, em poucas palavras, que

um Signo (ou ‘representamen’) é um ‘primeiro’ que

estabelece algum tipo de relação genuína com um

‘segundo’ (seu Objeto), de modo a determinar um

‘terceiro’ (seu Interpretante).

Acompanhando a cronologia das definições expostas por Marty, é

possível notar que o termo ‘representamen,’ inicialmente utilizado

como um sinônimo de ‘signo’ (por exemplo, CP 2.228 [1897]),2

é

gradativamente abandonado. Em seu ‘Syllabus’ de 1903 (MS 540,

CP 2.233-272, EP2: 289-299), Peirce faz uma distinção entre ‘repre-

sentamen’ e ‘signo,’ definindo o primeiro como “o Primeiro

Correlato de uma relação triádica” (CP 2.242, EP2: 290) que envolve

ainda Objeto (Segundo Correlato) e Interpretante (Terceiro

Correlato). ‘Signos,’ por sua vez, são definidos como

“Representamen[s] cujo Interpretante é a cognicão de uma mente.

[…] os únicos representamens que já foram suficientemente estuda-

dos” (CP 2.242, EP2: 291,3

ver também CP 1.540,4

um esboço para a

terceira Lowell Lecture redigido em 1903). Por volta de 1905, porém,

Peirce decide abandonar o uso do termo ‘representamen,’ passando a

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Page 16: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

adotar apenas ‘signo,’ conforme explica em carta para Lady Welby:

Eu uso ‘signo’ no sentido mais amplo da definição. É um

caso maravilhoso de uso quase popular de uma palavra

muito abrangente quase no sentido exato da definição

científica. [...]

Eu costumava preferir a palavra representamen.

Mas não havia nenhuma necessidade de adotar esta

palavra terrivelmente longa. (SS 193)5

Uma vez que o objeto principal desta tese —as classificações de sig-

nos— são um tópico desenvolvido por Peirce principalmente a par-

tir de 1902, somente o termo ‘signo’ será utilizado, deixando de lado

o termo ‘representamen’ —com exceção dos casos onde uma referên-

cia à terminologia empregada for necessária. Sendo assim, diremos

que, para Peirce, todo signo é composto por uma relação indecom-

ponível entre 3 termos: Signo (S), Objeto (O) e Interpretante (I)

(figura I.1.a). Isto significa que qualquer processo sígnico implica

na presença destes três elementos, ou pode ser entendido como

uma combinação de tríades que contém estes elementos.

Através de sua fenomenologia,6

Peirce chegou à sua doutrina

triádica das categorias, que é o tema da seção I.1.1. A doutrina das

categorias, aplicada à sua teoria do signo, resulta em divisões dos

15

Figura I.1.a. O modelo triádico do signo peirceano.

Page 17: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

signos de acordo com um certo número de tricotomias. Estas trico-

tomias, tema da seção I.1.2, dizem respeito a aspectos ou relações

entre os elementos do signo que podem ser analisados ou descritos

de acordo com as categorias. A seção I.1.3 trata das diferentes clas-

sificações que resultam da adoção de diferentes quantidades de tri-

cotomias para a análise dos signos.

I.1.1- Primeiridade, Secundidade e Terceiridade

Na história da filosofia ocidental, encontramos diversos autores

que se dedicaram à elaboração de doutrinas de categorias —articu-

lações de um certo número de conceitos ou aspectos universais,

presentes em todo tipo de fenômeno. Entre eles, Platão,

Aristóteles, Kant, Hegel e Peirce.

Aristóteles identificou 10 categorias que julgava serem irre-

dutíveis a outros fenômenos: substância, quantidade, qualidade,

relação, lugar, tempo, posição, estado, ação e afeição (ou paixão). As

categorias peirceanas de primeiridade, secundidade e terceiridade,

por sua vez, foram concebidas sob influência do sistema de Kant

(CP 8.329),7

no qual encontramos quatro tríades que dão origem a

12 categorias:

(i) Quantidade: unidade, pluralidade, totalidade

16

Page 18: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

(ii) Qualidade: realidade, negação, limitação

(iii) Relação: inerência e subsistência, causalidade

e dependência, comunidade

(iv) Modalidade: possibilidade, existência,

necessidade

Em 1868, em um artigo intitulado “On a new list of categories” (CP

1.545-559, W2: 49-59), Peirce apresenta pela primeira vez sua

doutrina das categorias, nomeando-as:

Qualidade (referência a um fundamento),

Relação (referência a um correlato) e

Representação (referência a um interpretante)

(CP 1.555, W2: 54, ver também CP 4.3)8

Em 1896, após ter se desvencilhado da influência kantiana, e

através de seu estudo da lógica das relações, em um artigo sobre a

lógica da matemática, Peirce descreve as três categorias da seguinte

forma:

A primeira compreende as qualidades dos fenômenos, tais

como vermelho, amargo, tedioso, duro, tocante, nobre;

[…]

A segunda categoria de elementos dos fenômenos

compreende os fatos atuais […]

17

Page 19: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

A terceira categoria de elementos dos fenômenos

consiste naquilo que chamamos de leis quando contem-

plamos do lado de fora somente, mas que quando podemos

observar de ambos os lados do escudo chamamos de pen-

samentos. (CP 1.418-20)9

Em 1898, reforçando uma idéia adiantada em seu artigo “One, Two,

Three: Fundamental Categories of Thought and of Nature,” de 1885,

Peirce argumenta a favor de sua terminologia definitiva para as

categorias, ‘firstness, secondness, thirdness ’ (primeiridade,

secundidade, terceiridade). Ele o faz depois de refutar a terminolo-

gia utilizada em “On a new list of categories” (Qualidade, Relação,

Representação), e cogitar a possibilidade de nomeá-las ‘Qualidade,

Reação e Mediação.’ Para ele, contudo, “enquanto termos científi-

cos, Primeiridade, Secundidade e Terceiridade são preferíveis por

serem palavras inteiramente novas sem nenhuma falsa associação

de tipo algum” (CP 4.3).10

De forma bastante sucinta, em uma carta para Lady Welby

datada de 12 de outubro de 1904 (CP 8.328), Peirce definiu

primeiridade, secundidade e terceiridade do seguinte modo:

Primeiridade é o modo de ser daquilo que é tal como é,

positivamente e sem referência a qualquer outra coisa.

18

Page 20: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Secundidade é o modo de ser daquilo que é tal como

é, com respeito a um segundo mas independente de qual-

quer terceiro.

Terceiridade é o modo de ser daquilo que é tal como

é, ao colocar um segundo e um terceiro em relação entre si.

(CP 8.328)11

Segundo Santaella (1992: 75), a partir de 1902, para Peirce

“primeiridade é qualidade […], talidade indiferenciada, não anali-

sável, secundidade é oposição, ação e reação, e terceiridade é repre-

sentação, mediação, enfim, continuidade.” Em seu Glossary of semi-

otics, V. Colapietro (1993: 60) define as categorias peirceanas como

in-itselfness ou imediaticidade qualitativa (primeiridade), over-

agaistness ou oposição bruta (secundidade) e in-betweenness ou

mediação dinâmica (terceiridade). No contexto de sua filosofia da

mente, Peirce definiu primeiridade, secundidade e terceiridade em

termos de “experiências monádicas, ou simples” (‘simples’ no origi-

nal), “experiências diádicas ou recorrências,” e “experiências triádicas,

ou compreensões” (CP 7.527-528, ver também Ibri 1992: 4-5 para

uma análise deste mesmo trecho). Algumas outras definições

encontradas nos Collected Papers (CP 1.532-33, 3.422, 6.202 e

8.330) para as categorias são as seguintes:

19

Page 21: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

• Primeiridade: possibilidade, espontaneidade,

acaso, sentimento

• Secundidade: existência, dependência, reação

bruta, ação

• Terceiridade: mentalidade, mediação, con-

tinuidade, razão

A partir de 1902, em diversas ocasiões Peirce chamou suas catego-

rias de categorias cenopitagóricas (CP 2.87 [1902], 2.116 [1902], CP

8.328 [1904], CP 1.351 [1905], 5.555 [1906]).12

O prefixo ‘ceno—’

vem da palavra grega para ‘novo’. Segundo de Waal (2001: 11, ver

também CP 2.87), Peirce via uma clara conexão entre a sua doutrina

das categorias e a concepção de número adotada pela antiga escola

de Pitágoras. Os pitagoreanos não consideravam os números como

simples signos para quantidades específicas, mas sim como princí-

pios universais a serem descobertos na natureza. Da mesma forma,

para Peirce, no contexto de sua doutrina das categorias, os números

um, dois, e três, seriam tão reais e atuantes quanto leis naturais.

Peirce argumentou, em diversas ocasiões, a favor da irre-

dutibilidade e suficiência de suas categorias. Estes argumentos,

encontrados principalmente no contexto de sua lógica dos relativos,

caracterizam o que alguns especialistas chamaram de ‘teorema’

20

Page 22: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

(Herzberger 1981, Houser 1997: 14, De Waal 2001: 12), ‘prova de

redutibilidade’ (Ketner 1986: 376-377), ou ‘tese de redutibilidade’

(Burch 1991) de Peirce. Este teorema, formulado pela primeira vez

em 1870, em seu “Description of a notation for the logic of rela-

tives” (W2: 365) (e posteriormente em W4: 221, W5: 243, EP2: 169-

170 e 364-65, entre outros), afirma que (i) mônadas, díadas e

tríadas são elementos indecomponíveis, isto é, que não podem ser

constituídos a partir de elementos mais simples, e (ii) que qualquer

relação com adicidade maior do que quatro, isto é, com quatro ou

mais elementos, pode ser construída a partir de tríadas.

Embora, aparentemente, Peirce não tenha elaborado uma

prova definitiva deste teorema (pelo menos não em termos algébri-

cos, segundo Ketner 1986: 376, Burch 1991: vii), ele forneceu diver-

sos exemplos que sustentam sua tese.

“A dá B para C” é um exemplo de relação triádica indecom-

ponível que aparece em seu “One, two, three: fundamental cate-

gories of thought and of nature,” de 1885 (CP 1.371, W5: 244), e que

Peirce repete em diversas ocasiões (por exemplo, em seu “The logic

of relatives” [CP 3.480, 1896], em suas Harvard Lectures [CP 5.89,

1903], e em carta para Lady Welby [CP 8.331, 1904]). Segundo

Peirce, a simples coexistência de relações diádicas que podem ser

21

Page 23: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

obtidas com a decomposição da relação original (A abandona B, C

recebe B, A enriquece C) não recompõe o fato de A ter dado B para C.

Para a segunda parte do teorema, Peirce fornece, no mesmo

ensaio, o exemplo de propriedades das estradas com bifurcação em

comparação às de estradas sem bifurcação. As primeiras seriam

análogas a tríadas, pois colocam três terminais em conexão, e as

segundas análogas a díadas, pois conectam dois terminais. Segundo

ele, nenhuma combinação de estradas sem bifurcação terá mais de

dois terminais (figura I.1.1.a), ao passo que qualquer número de

terminais pode ser conectado por estradas que contenham nós

apontando para três direções (figura I.1.1.b).

Em “The basis of pragmaticism in phaneroscopy” (MS 908,

EP2: 360-70) Peirce apresenta outros exemplos de como formas

que representam relações de diversas adicidades podem ser cons-

truídas a partir de tríadas (figura I.1.1.c). Exemplos similares

podem ser encontrados em CP 1.347, CP 3.483-84 e CP 4.309.

Segundo Ketner (1986: 376), a prova de redutibilidade de

Peirce deve ser compreendida à luz de sua abordagem topológica e

diagramática da lógica e da análise lógica. Para Burch (1991: 1-6),

existe uma importante conexão entre, de um lado, a lógica dos rela-

tivos e os sistemas gráficos lógico-matemáticos desenvolvidos por

22

Figura I.1.1.a. Combinações de 2, 5 e 7 estradas sem bifurcação.

Figura I.1.1.b. Combinação de estradas com bifurcação conectando 8 ter-

minais (exemplo extraído de CP 1.371, W2: 244).

Page 24: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Peirce, e de outro, os conceitos de ‘valência’ e ‘ligação’ desenvolvi-

dos pela química no mesmo período (ver também CP 1.288-292, CP

3.468-471, CP 4.307-310, CP 5.469). Segundo ele,

Assim como Frege, Peirce passou a ver a adicidade de uma

relação como uma característica de sua capacidade de

‘ligar-se’ ou ‘juntar-se.’ Diferente de Frege, Peirce pensava

nesta capacidade de ‘juntar-se’ como uma capacidade de

juntar-se a outras relações, por ‘aplicação.’ E ele via esta

capacidade como algo tão similar à capacidade de ligação

dos ions químicos, que a adicidade de uma relação pare-

cia-lhe corresponder ao número de posições valentes em

um ion. Sendo assim, uma relação apresentava-se como

um tipo de ion conceitual. (Burch 1991: 3)

Em um tutorial para seus grafos existenciais escrito em 1909 (MS

514),13

Peirce sugere uma notação visual para mêdades, mônadas,

díadas e tríadas que remete, igualmente, à forma como elementos

químicos com valência 0, 1, 2 e 3 são representados graficamente:

Grafos indivisíveis usualmente contém “pegs” que são

lugares em sua periferia apropriados para denotar, cada

um deles, um dos sujeitos do grafo. […]

23

Figura I.1.1.c. Formas de diversas adicidades construídas a partir de 1 tríade

(primeira linha), 2 tríades (segunda linha), 3 tríades (terceira linha) e 4 tríades

(quarta linha), (exemplo extraído de EP2: 364).

Page 25: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Um grafo ou instância de grafo contendo 0 pegs é uma

mêdade.

Um grafo ou instância de grafo contendo 1 peg é uma

mônada.

Um grafo ou instância de grafo contendo 2 pegs é uma díada.

Um grafo ou instância de grafo contendo 3 pegs é uma

tríada. (MS 514)14

Ketner (1986) parte exatamente deste tipo de representação gráfica

(figura I.1.1.d) para reconstruir, com sucesso, a prova de redutibi-

lidade de Peirce. Burch (1991: 123-136) utiliza um sistema seme-

lhante para representar graficamente a “Lógica Algébrica

Peirceana” (Peircean Algebraic Logic, ou PAL) que desenvolveu para

provar, algebricamente, a tese de redutibilidade de Peirce.

Tendo em vista estes desenvolvimentos, e também a termi-

nologia adotada por outros especialistas contemporâneos em lógica

peirceana como Houser (1997: 14) e Kent (1997: 448), embora

Peirce não tenha utilizado o termo ‘relação’ para se referir às

mônadas (preferindo as expressões ‘caráter,’ ‘qualidade’ ou ‘relato’

monádico), diremos que

Um signo, no sentido peirceano, pode ser entendido

como um complexo de relações, formado por três tipos

24

Figura I.1.1.d. Notação visual para mônadas, díadas e tríadas

utilizada por Ketner (1986:377-381).

Page 26: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

elementares de relações, ou categorias:

(i) relações ‘monádicas’ ou ‘de primeiridade’,

(ii) relações ‘diádicas’ ou ‘de segundidade’, e

(iii) relações ‘triádicas’ ou ‘de terceiridade’.

Além das três categorias, Peirce também distinguiu o que ele

chamou de formas ‘genuínas’ ou ‘puras’ e ‘degeneradas’ das catego-

rias. Em seu “The basis of pragmaticism in the normative sciences”

(MS 283, EP2: 371-397) ‘degeneração’ da seguinte forma:

Um fenômeno geral que ocorre na matemática é que quase

todo conceito fortemente marcado possui conceitos fronteir-

iços que perdem suas características fortes mas são incluí-

dos em um conceito mais amplo. […] Estas fronteiras des-

botadas (se me permitem a expressão) de conceitos alta-

mente coloridos são, na matemática, apropriadamente

chamadas de ‘formas degeneradas.’ O mesmo fenômeno

ocorre no reino da faneroscopia […]. (EP2: 390)15

Em várias ocasiões (CP 4.147, CP 1.365, EP2: 390), Peirce forneceu

como exemplo de degeneração matemática os casos fronteiriços de

intersecção de um cone por um plano (figura I.1.1.e). Nestes

casos, no lugar de uma curva, temos duas retas (quando o plano é

paralelo ao eixo central do cone), uma reta (quando o plano tan-

25

Page 27: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

gencia a supefície do cone), ou um ponto (quando o plano tangen-

cia o ápice do cone).

Em relação às categorias, Peirce definiu dois tipos de secun-

didade e três tipos de terceiridade (CP 1.365, 367 e em várias partes

de seu “A guess at the riddle”, e também em CP 1.528-29, CP 2.91,

EP2: 160-161, entre outros). Segundo Peirce, primeiridades, devi-

do ao seu caráter extremamente rudimentar(EP2: 160), não pos-

suem formas degeneradas. Secundidades, por sua vez, possuem

uma forma ‘genuína,’ ou ‘forte,’ que Peirce definiu como ‘externa’

—“verdadeiras ações de uma coisa sobre a outra” (W6: 178, CP

1.365)—, e outra, ‘degenerada’ ou ‘fraca,’ que ele definiu como

‘interna,’ dando como exemplo uma relação de identidade do tipo

“Lucullus janta com Lucullus” (W6: 177, CP 1.365).

Terceiridades, por sua vez, além de sua forma genuína, pos-

suem dois graus de degeneração:

O primeiro ocorre onde não existe no fato em si nenhu-

ma Terceiridade ou mediação, mas onde existe ver-

dadeira dualidade; o segundo grau ocorre onde não há

nem mesmo verdadeira Secundidade no fato em si. (W6:

178, CP 1.366)16

26

Figura I.1.1.e. Na primeira linha: círculo, elípse, parábola e hipérbole for-

madas pela intersecção de um cone por um plano. Na segunda linha: casos

degenerados (duas retas, uma reta, e um ponto).

Page 28: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Um exemplo de terceiridade degenerada em primeiro grau seria um

grampo que segura duas folhas juntas, e que continuará a segurar

uma das folhas caso a outra seja aniquilada (W6: 178, CP 1.366),

configurando o que Peirce chamou de ‘terceiridade acidental.’ A

afirmação “um centauro é uma mistura de um homem e um cavalo”

é, para Peirce, um exemplo de terceiridade degenerada em segundo

grau, algo que ele também chamou de ‘terceiro intermediário’ ou

‘terceiro de comparação’ (W6: 179, CP 1.367).

Também é possível compreender a questão da degeneração das

categorias a partir da análise de valências proposta por Ketner (1986).

Se considerarmos as possibilidades de formação de grafos valentes

simples, ou sem ligações, com valências 1, 2 e 3, veremos que:

(i) só existe um tipo de grafo valente simples com

valência 1: aquele formado por 1 mônada (figura

I.1.1.f);

(ii) existem dois tipos de grafos valente simples com

valência 2: aquele formado por 2 mônadas, e

aquele formado por uma díada (figura I.1.1.g); e

(iii) existem três tipos de grafos valentes simples

com valência 3: aquele formado por 3 mônadas,

aquele formado por 1 mônada e 1 díada, e aquele

27

Figura I.1.1.f. Grafo valente simples com valência 1,

segundo notação adotada por Ketner (1986).

Figura I.1.1.g. Grafos valentes simples com valência 2,

segundo notação adotada por Ketner (1986).

Figura I.1.1.h. Grafos valentes simples com valência 3,

segundo notação adotada por Ketner (1986).

Page 29: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

formado por 1 tríada (figura I.1.1.h).17

A idéia de degeneração, aplicada ao modelo de signo formado por

Signo, Objeto e Interpretante, apresentado na introdução deste capí-

tulo, resulta na distinção entre dois tipos de Objeto e três tipos de

Interpretante. Em concordância com as duas formas de secundi-

dade discutidas nos parágrafos anteriores, Peirce definiu dois tipos

de Objeto —um ‘interno,’ e outro ‘externo’ ao signo—, nomeando-

os, respectivamente:

(i) Objeto Imediato, ou objeto ‘dentro’ do, ou tal

como é apresentado pelo, Signo, que correspon-

de à segundidade degenerada; e

(ii) Objeto Dinâmico, ou objeto ‘fora’ do Signo, tam-

bém chamado de ‘dinamóide,’ ‘real,’ ou ‘media-

to,’ que corresponde à segundidade genuína.

Ele também definiu três tipos de Interpretante que se alinham com

os três tipos de terceiridade discutidos acima:

(i) Interpretante Imediato, ‘Inicial,’ ou ‘Explícito,’

que Peirce também chamou de “Felt” (L 463:

144, CP 8.369, EP2: 489, o que traduzimos por

‘Sentido,’ ou ‘Percebido’), que corresponde à

primeiridade do Interpretante, ou sua forma

28

Page 30: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

degenerada em segundo grau;

(ii) Interpretante Dinâmico, ‘Intermediário,’ ou

‘Efetivo,’ que corresponde à secundidade do

Interpretante, ou sua forma degenerada em

primeiro grau; e

(iii) Interpretante Final, também chamado de

‘Normal,’ ‘Destinado,’ ‘Intencionado’ ou

“Eventual” (L 463: 145, CP 8.372, EP2: 490, que

traduziremos por ‘Conclusivo’), corresponden-

do à terceiridade, ou forma genuína, do

Interpretante.

Para uma descrição mais detalhada dos dois tipos de Objeto e três

tipos de Interpretante, ver Santaella (1995: 53-66, 90-116).

Conforme veremos nos próximos capítulos, no contexto da

teoria do signo de Peirce, encontramos suas categorias cenopitagó-

ricas explicitamente aplicadas em três dimensões: (i) na definição

dos componentes básicos do modelo sígnico (Signo como primeiro,

Objeto como segundo, Interpretante como terceiro), (ii) na

definição das tricotomias (por exemplo, as três tricotomias que

servem de base para as 10 classes de signos, Signo em si mesmo

como primeiro, relação do Signo com o Objeto como segundo,

29

Page 31: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

relação do Signo com o Interpretante como terceiro), e (iii) nas

modalidades expressas dentro das tricotomias (por exemplo, no

fato da relação do Signo com o Objeto poder ser descrita como

icônica, ou de primeiridade; indexical, ou de segundidade; ou sim-

bólica, ou de terceiridade).

Ela também está implícita na regra de determinação que

restringe as possibilidades de formação das classes de signos: “uma

Idéia só pode determinar uma Idéia, um Hábito só pode ser deter-

minado por um Hábito” (MS 339D: 627). Isso significa que terceiri-

dades (hábitos ou leis) podem determinar secundidades (fatos ou

existentes) ou primeiridades (possibilidades ou qualidades), mas

somente podem ser determinados por outra terceiridade.

Primeiridades, por sua vez, podem determinar apenas outras

primeiridades, mas podem ser determinadas por secundidades ou

terceiridades. Secundidades, finalmente, podem determinar

primeiridades ou outras secundidades, e podem ser determinadas

por secundidades ou terceiridades.

No restante desta tese, e em especial no contexto das classifi-

cações de signos, a seguinte notação será utilizada para as catego-

rias: primeiridade = 1, secundidade = 2, terceiridade = 3.

30

Page 32: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

I.1.2- Tricotomias

A teoria do signo de Peirce baseia-se em uma arquitetura lógico-

filosófica eminentemente triádica, fundamentada em sua doutrina

das categorias. Em toda sua obra encontramos exemplos de con-

ceitos que são, segundo o autor, divisíveis de acordo com as catego-

rias de primeiridade, secundidade e terceiridade, explicadas na

seção anterior. Esta visão é particularmente importante para a ela-

boração de sua classificação dos signos e de sua classificação das

ciências, mas também tem reflexos em sua matemática

(“Trichotomic Mathematics,” CP 4.307), e em sua lógica (MS 339,

MS 431B, ver também Zellweger 1991 para uma análise da lógica

triádica apresentada nestes manuscritos).

No contexto da classificação dos signos, uma tricotomia, ou

tríade, é um aspecto ou ponto de vista a partir do qual um signo pode

ser descrito ou analisado. Para Houser (1991: 432, 1992: 491), as

tricotomias são como perguntas que podemos fazer a respeito do

signo. Para cada uma destas perguntas, temos três tipos de

respostas, baseadas nas categorias de primeiridade, secundidade e

terceiridade. No restante desta tese, apenas o termo ‘tricotomia’

será empregado para nomear estes aspectos, ou perguntas que

podem ser feitas a respeito do signo. Este foi, ao que tudo indica, o

31

Page 33: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

termo preferido por Peirce na fase mais madura do desenvolvimen-

to de suas classificações sígnicas (ver CP 2.233, 8.345, 8.365; EP2:

291-294, 483, 488-491, textos redigidos entre 1902 e 1908). O

termo ‘modalidade’ será empregado para nomear as subdivisões de

uma tricotomia, ou as respostas previstas para estas perguntas.

Embora Peirce já houvesse esboçado a idéia de uma divisão

tricotômica dos signos em seu “On a new list of categories” (CP

1.545-559, W2: 49-59 [1868]),18

é na quinta seção do ‘Syllabus’

elaborado por ele em 1903 (MS 540, CP 2.233-272, EP2: 289-299)

que encontramos uma descrição mais detalhada de como este tipo

de divisão resulta em uma classificação consistente com sua doutri-

na das categorias. Peirce retoma e expande a idéia de classificação

de signos a partir de tricotomias em uma série de manuscritos, car-

tas e esboços de cartas para Lady Welby escritos entre 1906 e 1908

(em especial, MS 339D [1906], L 463: 132-146, 150-160, EP2: 478-

491, SS 80-85, CP 8.342-376 [1908]).

Em “On a new list of categories” (CP 1.558, W2: 56) Peirce

define três tipos de ‘representações’ a partir do tipo de relação que

mantém com seus objetos —likenesses; índices ou signos; e signos

gerais ou símbolos—, e também propõe uma divisão dos símbolos em

termos, proposições e argumentos. Uma divisão similar é proposta na

32

Page 34: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

terceira Harvard Lecture (CP 5.73-76 [1903]). Aqui, segundo Peirce,

é o representamen que se divide, por tricotomia, em ícone, índice e

signo geral ou símbolo.

Em seu ‘Syllabus’ de 1903 (CP 2.243, EP2: 291), Peirce propõe

uma divisão dos signos com base em três tricotomias, que podem

ser traduzidas nos seguintes grupos de perguntas e respostas:

(i) O que é o signo em si mesmo?

1. Uma mera qualidade, um quali-signo

2. Um existente atual, um sin-signo

3. Uma lei geral, um legi-signo

(ii) Como ele se relaciona com seu objeto?

1. Relaciona-se em virtude de suas próprias

características, é um ícone

2. Relaciona-se de forma existencial, é um

índice

3. Relaciona-se através de convenções, é

um símbolo

(iii) De que modo, através do interpretante, ele

apresenta seu objeto para um possível intérprete?

1. Como um signo de possibilidade, um rema

33

Page 35: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

2. Como um signo de fato, existente, um

dicente

3. Como um signo de lei, um argumento

Note-se que a tricotomia (ii) corresponde à primeira divisão pro-

posta em “On a new list of categories,” sendo que a nomenclatura

para suas modalidades é igual àquela utilizada na terceira Harvard

Lecture. A tricotomia (iii), por sua vez, assemelha-se à divisão para

os símbolos proposta nestes dois textos, mantendo, inclusive, a

nomenclatura ‘argumento’ para sua modalidade de terceiridade.

Em um manuscrito datado de 31 de agosto de 1906 (MS 339D:

543), Peirce apresenta uma “divisão provisória dos signos” baseada

em 10 tricotomias:

I. Matéria do Signo

Tinge (qualidade vaga) Token Tipo

II. Forma de apresentação do Objeto

Indefinida Designativa Geral

III. Natureza do Objeto Real

Abstrato Concreto Coletivo

IV.Conexão do Signo com seu Objeto

Ícone Índice Símbolo

34

Page 36: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

V. Forma de Significação ou Interpretante Inicial

Mêdade/Mônada Díada Políada

talvez Hipotético Categórico Relativo ?

VI. Natureza do Interpretante Intermediário

Simpatético Chocante Usual

congruente percussivo

VII. Modo de Apelo do Interpretante Intermediário

Interrogativo Imperativo Indicativo

(ou sugestivo)

VIII. Propósito do Interpretante Conclusivo

Gratificante Atuante Moral ou

Temperativo

produzir auto-controle

IX. Natureza das Influências pretendidas pelo signo

[Rema] [Dici-signo] [Argumento]19

Sema Fema Deloma

X. Natureza das Garantias oferecidas pelo Signo

Abducente Inducente Deducente

garantia garantia garantia

de instinto de experiência de forma

35

Page 37: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Note-se que as tricotomias I, IV e IX correspondem às tricotomias

apresentadas (i), (ii) e (iii) no Syllabus.

Em uma série de esboços de carta para Lady Welby escritos

entre 23 e 28 de dezembro de 1908 (L 463: 132-146 e 150-60, SS

80-85, CP 8.342-376, EP2: 478-491) Peirce apresenta uma última

versão de suas 10 tricotomias, com algumas modificações. Nestes

últimos manuscritos, as tricotomias e suas modalidades são

descritas da seguinte forma (variações na nomenclatura estão

reproduzidas entre chaves):

1. Modo de ser [ou modo de apreensão] do Signo

Marca Token Tipo

[Tinge, Tom]

[Poti-signo] [Acti-signo] [Fami-signo]

2. Modo de apresentação do Objeto Imediato

Descritivo Denominativo Distributivo

[Indefinido] [Designativo] [Copulante]

3. Natureza [ou modo de ser] do Objeto Dinâmico

Abstrativo Concretivo Coletivo

[possível] [ocorrência] [coleção]

4. Relação do signo com seu Objeto Dinâmico

Ícone Índice Símbolo

36

Page 38: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

5. Natureza [ou modo de apresentação] do

Interpretante Imediato [ou percebido, ou explícito]

Hipotético Categórico Relativo

[Ejaculativo] [Imperativo] [Significativo]

6. Natureza [ou modo de ser] do Interpretante

Dinâmico [ou efetivo]

Simpatético Chocante Usual

[Congruentivo] [Percussivo]

7. Relação do Signo com o [ou modo de apelo do]

Interpretante Dinâmico

Sugestivo Imperativo Indicativo

8. Natureza [ou propósito] do Interpretante Normal

[ou conclusivo, ou destinado]

Gratificante Produzir Produzir

ação auto-controle

9. Relação do Signo com o Interpretante Normal [ou

natureza da influência do signo]

Sema Fema Deloma

37

Page 39: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

10. Relação do Signo com seu Objeto Dinâmico e seu

Interpretante Normal [ou natureza da garantia da

expressão]

Garantia Garantia Garantia

do instinto da experiência da forma

Note-se que as tricotomias desta lista correspondem às tricoto-

mias apresentadas na lista anterior (MS 339D: 543), com algumas

variações na nomenclatura. As tricotomias 1, 4 e 9, por sua vez,

correspondem às tricotomias (i), (ii) e (iii) apresentadas na lista

do Syllabus.

Levando em consideração estes últimos desenvolvimentos de

Peirce, e a terminologia adotada por seus comentadores (em espe-

cial, Weiss & Burks 1945, Sanders 1970, Jappy 1985, Marty 1990,

Müller 1994 e Santaella 1995), adotaremos a nomenclatura para as

dez tricotomias e suas modalidades apresentada na lista a seguir. A

ordem das tricotomias segue a ordem de apresentação adotada por

Peirce em uma das últimas listas por ele elaboradas, e que aparece

em um rascunho de carta para Lady Welby datado 24-28 de dezem-

bro de 1908 (L 463: 134, CP 8.344, EP2: 482-483).20

As abreviatu-

ras adotadas são particamente as mesmas utilizadas por Jappy

(1985: 114-115) e Marty (1990: 229).21

As descrições para as tricoto-

38

Page 40: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

mias são bastante similares às adotadas por Weiss & Burks (1945),22

Sanders (1970),23

Houser (1991),24

Müller (1994)25

e Santaella

(1995).26

Diferenças na terminologia adotada para as modalidades

estão indicadas em notas para as mesmas.

1. S ([natureza do] Signo): Quali-signo, Sin-signo,

Legi-signo27

2. Oi ([natureza do] Objeto Imediato): Descritivo,28

Denominativo,29

Distributivo30

3. Od ([natureza do] Objeto Dinâmico): Abstrativo,

Concretivo, Coletivo

4. S-Od (relação do Signo com o Objeto Dinâmico):

Ícone, Índice, Símbolo

5. Ii ([natureza do] Interpretante Imediato):

Hipotético, Categórico, Relativo

6. Id ([natureza do] Interpretante Dinâmico):

Simpatético, Percussivo, Usual

7. S-Id (relação do Signo com o Interpretante

Dinâmico): Sugestivo, Interrogativo,31

Cognificativo32

8. If ([natureza do] Interpretante Final):

Gratificante,33

Prático, Pragmático34

39

Page 41: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

9. S-If (relação do Signo com o Interpretante

Final): Rema, Dicente, Argumento35

10. S-Od-If (relação do Signo com o Objeto

Dinâmico e Interpretante Final): Instintivo,

Experiencial, Habitual36

Na próxima seção, veremos como estas tricotomias dão origem às

diversas classificações de signos propostas por Peirce.

I.1.3- Divisões dos signos em 10, 28 e 66 classes

Em seu ‘Syllabus’ de 1903 (MS 540, CP 2.233-272, EP2: 289-299),

além de apresentar seu modelo de signo e definir as três tricotomias

discutidas no início da seção anterior (figura I.1.3.a), Peirce tam-

bém propõe uma divisão dos signos em 10 classes a partir de com-

binações das nove modalidades que resultam destas três tricoto-

mias (figura I.1.3.b). As possibilidades de combinação destas

modalidades são restritas pelo que Savan (1987-1988) chamou de

‘regra de qualificação’:

Um Primeiro pode ser qualificado apenas por um Primeiro;

um Segundo pode ser qualificado por um Primeiro e por um

40

Figura I.1.3.a. As nove modalidades que

resultam das três tricotomias apresentadas

no Syllabus (MS 540, CP 2.233-272, EP2:

289-299).

Page 42: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Segundo; e um Terceiro pode ser qualificado por um

Primeiro, Segundo, e Terceiro. (Savan 1987-1988: 14)

Considerando o teor das ‘respostas’ que aparecem na figura I.1.3.b,

isso significa, por exemplo, que quali-signos, ou signos que são da

natureza das aparências, não podem se relacionar com seu objeto

em virtude de algo além de suas características próprias, nem se

apresentar como algo além de uma possibilidade. Legi-signos, por

outro lado, enquanto signos de tipo geral, podem se relacionar com

seu objeto tanto em virtude de suas características (neste caso

sendo, necessariamente, apresentados como signos de possibili-

dade), quanto em virtude de alguma relação existente (e assim

apresentarem-se como signos atuais, ou de possibilidade), ou em

virtude de algum tipo de convenção (e, somente neste caso, apre-

sentarem-se como signos de lei, atualidade ou possibilidade).

Weiss & Burks (1945) chamaram esta regra de ‘princípio 5’:

O que quer que seja um Primeiro determina apenas um

Primeiro; o que quer que seja um Segundo determina um

Segundo, ou (degeneradamente) um primeiro; o que quer

que seja um Terceiro determina um Terceiro, ou (degenera-

damente) um Segundo ou um Primeiro. (Weiss & Burks

1945: 384)

41

Figura I.1.3.b. Combinações das nove modalidades tricotômicas que

geram as 10 classes de signos descritas no Syllabus (figura baseada na

tabela apresentada em Merrell 1996: 8).

Page 43: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Eles argumentaram que este é um princípio que se aplica não

somente à composição das 10 classes, mas que determina, de uma

forma geral, quantas classes poderão ser formadas a partir de um

certo número de tricotomias (Weiss & Burks 1945: 387). Segundo a

fórmula proposta por eles,

(n + 1) (n + 2) / 2

(onde n é o número de tricotomias),

três tricotomias geram 10 classes de signos (conforme descrito no

Syllabus), seis tricotomias geram 28, e dez tricotomias geram 66

classes de signos (conforme afirma Peirce em carta para Lady

Welby, SS 85, EP2: 481). Sempre segundo esta fórmula, se conside-

rarmos apenas uma tricotomia, teremos uma divisão em apenas 3

classes de signos, como a que ocorre em “On a new list of cate-

gories” (CP 1.545-559, W2: 49-59) e outros textos anteriores ao

Syllabus (por exemplo, “One, two, three: fundamental categories of

thought and of nature” [CP 1.369, W5: 243], “An elementary

account of the logic of relatives” [MS 585, W2: 379]), onde Peirce

considera apenas a divisão entre ícones, índices e símbolos.

Peirce deu exemplos para cada uma das 10 classes descritas

no Syllabus, e também percebeu que, devido às restrições impostas

pela pela ‘regra de qualificação,’ seus nomes poderiam ser simpli-

42

Page 44: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

ficados. O nome da primeira classe, ‘quali-signo icônico remático’

por exemplo, pode ser simplificado para ‘quali-signo’ uma vez que

não existem quali-signos que não sejam icônicos e remáticos. O

mesmo ocorre com a classe dos ‘argumentos,’ que são necessaria-

mente legi-signos simbólicos, e assim por diante. A tabela I.1.3.a

mostra a ordem na qual as 10 classes foram apresentadas, seus

nomes37

e exemplos de cada uma delas.

Peirce desenhou dois diagramas para as 10 classes de signos,

sendo que um deles refere-se explicitamente às 10 classes indicadas

na tabela acima. Estes dois diagramas, e os diagramas elaborados por

seus comentadores, são o assunto principal da parte II desta tese.

Peirce também sugeriu que existem certas relações especiais entre

determinadas classes (tabela I.1.3.b), algo que os comentadores

interpretaram em termos de ‘instanciação e envolvimento’ (Balat

1990, Serson 1997), ou simplesmente ‘implicação’ (Marty 1990). O

diagrama dinâmico 10cubes, introduzido no capitulo III.1 desta tese,

implementa uma nova estratégia para a visualização destas classes e

suas relações, apresentadas de forma interativa.

Além destas 10 classes, determinadas a partir de três tricoto-

mias, Peirce sugeriu a possibilidade de analisarmos o signo mais a

fundo, a partir de seis e dez tricotomias. De acordo com a mesma

43

Nome Exemplo

I Quali-signo (111) uma sensaçãode “vermelho”

II Sin-signo icônico (211) um diagramaindividualizado

III Sin-signo indexical remático (221) um grito espontâneo

IV Sin-signo dicente (222) um catavento

V Legi-signo icônico (311) um diagrama em sua generalidade

VI Legi-signo indexical remático (321) um pronome demonstrativo

VII Legi-signo indexical dicente (322) um pregão de mascate

VIII Símbolo remático (331) um substantivo comum

IX Símbolo dicente (332) qualquer proposição

X Argumento (333) abdução, dedução,indução

Tabela I.1.3.a. As 10 classes de signos apresentadas no Syllabus.

Page 45: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

lógica que rege a formação das 10 classes, as seis tricotomias deter-

minam 28 classes, e as dez tricotomias determinam 66 classes.

Peirce apresenta esta idéia na série de manuscritos, cartas e esboços

de cartas para Lady Welby escritos entre 1906 e 1908 (em especial,

MS 339D [1906], L 463: 132-146, 150-160, EP2: 478-491, SS 80-

85, CP 8.342-376 [1908]), comentados na seção I.1.2, acima. Na

carta datada 23 de dezembro de 1908 (SS 80-85, EP2: 478-481),

Peirce afirma que

As seis tricotomias, ao invés de determinar 729 classes de

signos, como fariam se fossem independentes, geram apenas

28 classes; e se, como eu opino com veemência (para não

dizer que quase provo) existem outras quatro tricotomias de

signos de igual importância, ao invés de produzir 59.049

classes, elas totalizarão apenas 66. (SS 85, EP2: 481)38

Peirce não fornece nomes definitivos ou descrições detalhadas

destas 28 ou 66 classes, como faz para as 10 classes no ‘Syllabus,’

mas aponta quais seriam as tricotomias envolvidas nestas novas

classificações. Na mesma carta, Peirce afirma que as seis tricoto-

mias que produzem as 28 classes de signos são, em ordem de deter-

minação:

1. Objeto Dinâmico39

(Od),

44

Classe Relação com outras classes

Quali-signo (111)

Sin-signo icônico (211) Incorpora um quali-signo (111)

Sin-signo indexical remático (221) Envolve um sin-signo icônico (211)

Sin-signo dicente (222) Envolve um sin-signo icônico (211) e um sin-signo indexical remático (221)

Legi-signo icônico (311) Governa sin-signos icônicos (211)

Legi-signo indexical remático (321) Suas réplicas são sin-signos indexicais remáticos (221),Seu Interpretante o representa como um legi-signo icônico (311)

Legi-signo indexical dicente (322) Envolve um legi-signo icônico (311), e um legi-signo indexical remático (321). Suas réplicas são sin-signos dicentes (222).

Símbolo remático (331) Suas réplicas são sin-signos indexicais remáticos (221). Seu Interpretante o representa como um legi-signo indexical dicente (322) ou como um legi-signo icônico (311).

Símbolo dicente (332) Envolve um símbolo remático (331)e um legi-signo indexical

remático (321). Suas réplicas são sin-signos dicente (222).

Argumento (333) Suas réplicas são sin-signos dicentes (222).

Tabela I.1.3.b. Relações entre as 10 classes de

signos apresentadas no ‘Syllabus.’

Page 46: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

2. Objeto Imediato (Oi),

3. Signo em si mesmo (S),

4. Interpretante Final40

(If),

5. Interpretante Dinâmico41

(Id), e

6. Interpretante Imediato42

(Ii).

Ele segue elencando as outras quatro tricotomias envolvidas na

divisão em 66 classes, mas afirma não estar totalmente seguro

quanto a elas.

Embora haja, entre os comentadores, uma certa concordân-

cia quanto às tricotomias envolvidas nas divisões em 28 e 66 classes

de signos (ver a última lista apresentada na seção anterior, e suas

notas), não é possível dizer que haja uma posição clara e definitiva

quanto à ordem de determinação destas tricotomias. Mudanças na

ordem de determinação das tricotomias que formam as classifi-

cações são extremamente importantes neste contexto, uma vez que,

mantida a ‘regra de qualificação’ descrita acima, algumas das clas-

ses de signos formadas por tricotomias em uma certa ordem de

determinação podem simplesmente não existir se considerarmos

uma ordem diferente. Por exemplo, se invertessemos a ordem das

duas primeiras tricotomias que formam as 10 classes, não teríamos

mais Legi-signos Idexicais, nem Legi-signos ou Sin-signos

45

Page 47: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Icônicos. Por outro lado, teríamos Sin-signos e Quali-signos sim-

bólicos, algo que não existe nas 10 classes descritas por Peirce.

Segundo Sanders (1970), embora Peirce não tenha fornecido

uma lista definitiva das dez tricotomias em sua ordem de determi-

nação, é possível encontrar em seus escritos algumas ordenações

parciais. Ele afirma que, qualquer que seja a ordem definitiva das

dez tricotomias, ela deve respeitar as seguintes ordens parciais de

determinação:

1. Oi deve preceder S

2. S deve preceder S-Od, que deve preceder S-If

3. Od deve preceder S, que deve preceder Id

Existem, é claro, muitas ordens de determinação possíveis que

respeitam estas três ordens parciais, mas Sanders afirmava desco-

nhecer, na época da publicação de seu artigo, qualquer tentativa

neste sentido.

No “Apêndice B” de Semiotics and Significs (Peirce 1977), I.

Lieb afirma que a ordem de determinação das seis primeiras trico-

tomias é explícita (em SS 85, EP2: 481, citado acima), e fornece uma

tentativa de ordem para as tricotomias restantes:

Od, Oi, S, Ii,43

Id,44

If,45

S-Od, S-Id, S-If, S-Od-If.

Levando em consideração diversos manuscritos de Peirce, e os tra-

46

Page 48: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

balhos de diversos comentadores (em especial Weiss and Burks

1945 e Sanders 1970), Müller (1994: 147) defende a seguinte ordem

de determinação:

Od, Oi, S, If, Id, Ii, S-Od, S-If, S-Id, S-Od-If.

Como podemos notar, ambas as ordens de determinação satisfazem

as ordens parciais apontadas por Sanders (1977), embora apenas a

posição das três primeiras, da quinta, da sétima, e da última trico-

tomia sejam as mesmas.

Entre os comentadores franceses, Marty (1990: 228-233)

afirma acreditar que a divisão em 66 classes é redundante em

relação à divisão em 28 classes que resulta das tricotomias apresen-

tadas por Peirce na carta de 23 de dezembro de 1908 (SS 85, EP2:

481, ver acima). A ordem das tricotomias apresentada nesta carta

não é a mesma adotada pela semioticista argentina A. Marostica

(1992: 117-119), que utiliza a seqüência

S, Oi, Od, Ii, Id, If

para fundamentar seus argumentos acerca das relações entre as 28

e as 10 classes de signos. A. Jappy (1989), por sua vez, propõe uma

reformulação da estrutura da classificação em 66 classes, na qual

existiria uma ‘bifurcação’ na ordem de determinação das tricoto-

mias a partir da tricotomia S (figura I.1.3.c). Note-se que as ordens

47

Figura I.1.3.c. Reformulação da estrutura de determinação das 10

tricotomias proposta por Jappy (1989: 147).

Page 49: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

parciais defendidas por Sanders (1977, acima) são respeitadas,

embora a seqüência dos interpretantes (Ii, Id, If) apareça em ordem

diferente daquela que, segundo comentadores (Savan 1976: 48-49,

Marty 1990: 210, Müller 1993: 147) é a proposta por Peirce (ver a

lista das seis tricotomias da carta de 23 de dezembro de 1908, acima,

e suas notas).

Em resumo, podemos dizer que, se a questão da divisão dos

signos em 10 classes, conforme proposta no ‘Syllabus’ é bastante

bem compreendida, e abordada de forma concordante por seus

comentadores, o mesmo não pode ser dito sobre as 28, e principal-

mente sobre as 66 classes de signos. O diagrama dinâmico 3N3,

apresentado no capitulo III.2 desta tese pretende ser uma con-

tribuição para um melhor entendimento das questões relacionadas

às classificações de signos de Peirce, em especial às divisões em 28

e 66 classes.

48

Page 50: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Notas

1 . Ao longo deste trabalho, as seguintes abreviaturas serão utilizadas para facili-

tar a referência à obra de Peirce:

CP: The Collected Papers of Charles S. Peirce (Peirce 1994)

EP: The Essencial Peirce: selected philosophical writings (Peirce 1998)

L: cartas datadas segundo o Annotated catalogue of the papers of Charles S.

Peirce (Robin 1967)

MS: manuscritos datados segundo o Annotated catalogue of the papers of

Charles S. Peirce (Robin 1967)

NEM: New Elements of Mathematics by Charles S. Peirce (Peirce 1976)

SS: Semiotics and Significs: the correspondence between Charles S. Peirce and

Victoria Lady Welby (Peirce 1977)

W: Writings of Charles S. Peirce - a cronological edition (Peirce 1982-2000)

2 . A sign, or representamen, is something which stands to somebody for something in

some respect or capacity. It addresses somebody, that is, creates in the mind of

that person an equivalent sign or perhaps a more developed sign. That sign which

it creates I call the interpretant of the first sign. The sign stands for something, its

object. It stands for that object, not in all respects, but in reference to a sort of idea,

which I have sometimes called the ground of the representamen. [...] (CP 2.228)

3 . A Representamen is the First Correlate of a triadic relation, the Second Correlate

being termed its Object, and the possible Third Correlate being termed its

Interpretant, by which triadic relation the possible Interpretant is determined to

be the First Correlate of the same triadic relation to the same Object, and for some

possible Interpretant. A Sign is a representamen of which some interpetant is a

cognition of a mind. Signs are the only representamens that have been much stud-

49

Page 51: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

ied. (MS 540, CP 2.242, EP2: 290-291)

4 . […] I use these two words, sign and representamen, differently. By a sign I mean

anything which conveys any definite notion of an object in any way, as such con-

veyers of thought are familiarly known tous. Now I start with this familiar idea

and make the best analysis I can of what is essential to a sign, and I define a rep-

resentamen as being whatever that analysis applies to. [...] (CP 1.540)

5 . I use “sign” in the widest sense of the definition. It is a wonderful case of an almost pop-

ular use of a very broad word in almost the exact sense of the scientific definition. [...]

I formerly preferred the word representamen. But there was no need of this horrid

long word. (SS 193)

6 . Em respeito aos limites do escopo deste trabalho, não será possível, aqui,

entrar em maiores detalhes quanto à fenomenologia de Peirce. Aos interes-

sados, recomenda-se a leitura de Savan (1951), Rosensohn (1974),

Spiegelberg (1981), Parker (1998: 103-127) e Rosenthal (2001).

7 . Nesta mesma passagem dos Collected Papers (CP 8.329) Peirce afirma que

suas três categorias assemelham-se aos três estágios do pensamento de

Hegel, embora esta semelhança só tenha sido notada muitos anos depois da

concepção das categorias.

8 . Quality (Reference to a Ground),

Relation (Reference to a Correlate),

Representation (Reference to an Interpretant)

(CP 1.555, W2: 54)

9 . The first comprises the qualities of phenomena, such as red, bitter, tedious, hard,

pitiful, noble; […]

The second category of elements of phenomena comprises the actual facts. […]

50

Page 52: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

The third category of elements of phenomena consists of what we call laws when

we contemplate them from the outside only, but which when we see both sides of

the shield we call thoughts. […] (CP 1.418-20)

10 . […] But for scientific terms, Firstness, Secondness, and Thirdness, are to be preferred

as being entirely new words without any false associations whatever. […] (CP 4.3)

11 . Firstness is the mode of being of that which is such as it is, positively and without

reference to anything else.

Secondness is the mode of being of that which is such as it is, with respect to a sec-

ond but regardless of any third.

Thirdness is the mode of being of that which is such as it is, in bringing a second

and third into relation to each other. (CP 8.328)

12 . Em um manuscrito sem data (CP 7.528), Peirce chama suas categorias de

Kainopytagóricas.

13 . Para uma análise detalhada deste manuscrito, consultar Sowa (2001).

14 . Indivisible graphs usually carry “pegs” which are places on their periphery appro-

priated to denote, each of them, one of the subjects of the graph. […]

A graph or graph instance having 0 peg is medad.

A graph or graph instance having 1 peg is monad.

A graph or graph instance having 2 pegs is dyad.

A graph or graph instance having 3 pegs is triad. (MS 514)

15 . The general phenomenon throughout mathematics is that almost every strongly

marked concept has border concepts which lose the strong characteristics but are

included in a broader concept. […] These colorless borders (is the expression be

allowed) of highly colored concepts are, in mathematics, well called ‘degenerate forms.’

The same phenomenon presents itself in the realm of phaneroscopy […]. (EP2: 390)

51

Page 53: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

16 . Among thirds, there are two degrees of degeneracy. The first is where there is in the

fact itself no Thirdness or mediation, but where there is true duality; the second degree

is where there is not even true Secondness in the fact itself. (W6: 178, CP 1.366)

17 . A seguinte observação de Peirce:

Uma tríade diadicamente degenerada é uma [tríade] que resulta de díadas

(“A dyadically degenerate triad is one which results from dyads”, CP 1.473),

contudo, não é provável dentro da análise de valências proposta por Ketner

(1996), uma vez que viola sua regra delta: Uma tríada (seja ela simples ou

complexa) não pode ser composta por díadas exclusivamente, nem por díadas

e mônadas exclusivamente, e nem apenas por mônadas. (Ketner 1986: 380)

Note-se que esta é exatamente a regra que comprova a irredutibilidade

das tríadas.

18 . Propostas de divisão dos signos em ícones, índices, símbolos, similares a

esta, aparecem em outros textos anteriores a 1900, como “One, two, three:

fundamental categories of thought and of nature” (CP 1.369, W5: 243

[1885]). A mesma divisão aparece também em um texto para a terceira

Harvard Lecture CP 5.73-76, 1903), onde, porém, Peirce avança nas classifi-

cações de forma diferente daquela exposta no Syllabus.

19 . Estas três palavras entre chaves estão rasuradas no original.

20 . Sanders (1970: 9-10), Marty (1990: 228-230), e Santaella (1995: 125) tam-

bém apresentam as tricotomias nesta ordem. Weiss & Burks (1945: 386-387)

adotam uma ordem diferente, iniciando com as tricotomias que se referem

às naturezas dos elementos do signo, seguidas por aquelas que se referem a

relações entre estes elementos.

21 . Embora ambos utilizem “S, O, I” (e não S-Od-If) como abreviatura para a

52

Page 54: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

décima tricotomia. Sanders (1970: 9-10) e (Müller 1994: 143) também ado-

tam abreviaturas similares, mas utilizam “N” (para “normal”) onde aqui

adotamos “f” (para “final”).

22 . Weiss & Burks (1945: 386-387) utilizam uma descrição um pouco diferente

(“Relation of Final or Logical Interpretant to Object”) para a décima tricotomia.

Eles foram, aparentemente, os primeiros entre os comentadores a adotar o

termo “interpretante final” (tambem utilizado por Peirce em CP 4.536, 4.572,

8.184, 8.314) no lugar de “interpretante normal.” A expressão “interpretante

final” foi preferida para esta tese por ser considerada menos ambígua.

23 . Sanders (1970: 9-10) utiliza o termo “interpretante normal” onde aqui ado-

tamos “interpretante final.”

24 . Houser (1991: 435) utiliza a descrição “nature of the assurance afforded [to]

the interpreter” para a décima tricotomia. Esta tese adota a descrição “relação

do Signo com o Objeto Dinâmico e Interpretante Final” com base em Peirce

(SS 85, EP2: 483), Sanders (1977: 10) e Müller (1994: 143).

25 . A simplificação dos termos adotados para descrever as tricotomias foi inspi-

rada pela abordagem de Müller (1994), e por sua demonstração de como as

tricotomias podem ser derivadas a partir dos elementos do signo e da doutri-

na das categorias de Peirce. Ele utiliza, contudo, o termo “interpretante nor-

mal” onde aqui adotamos “interpretante final” (Müller (1994: 142-143).

26 . Santaella (1995: 122-126) utiliza o termo “interpretante normal” onde aqui

adotamos “interpretante final.” Ela também utiliza uma descrição um pouco

diferente (“conforme a natureza da garantia de uso do signo ou de acordo

com a relação triádica do signo com seu objeto”), similar à adotada por

Weiss & Burks (1945: 386-387, ver nota acima), para a décima tricotomia.

53

Page 55: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

27 . Jappy (1985: 115) e Marty (1990: 229) adotam a terminologia “poti-signo,

acti-signo, fami-signo” para estas modalidades no contexto das dez tricoto-

mias, embora utilizem as expressões ‘quali-signo, sin-signo, legi-signo,’

adotadas aqui, em outros contextos (por exemplo, Jappy 1985: 114; Marty

1990: 216-219, 227).

28 Além de ‘descritivo,’ Houser (1991: 435) adota também a expressão

‘indefinido’ como alternativa para a descrição desta modalidade.

29 Sanders (1970: 9), Jappy (1985: 115), Marty (1990: 229), Houser (1991: 435)

e Santaella (1995: 123) adotam “Designativos” no lugar do termo

‘Denominativo,’ adotado aqui por ser, aparentemente, aquele preferido por

Peirce (L469: 143, EP2: 488). Houser (1991: 435) também sugere a

expressão ‘singular’ como alternativa para a descrição desta modalidade.

30 . Weiss & Burks (1945: 386) e Houser (1991: 435) adotam o termo

“Copulativo”; Sanders (1970: 9), Jappy (1985: 115) e Marty (1990: 229) ado-

tam “Copulantes” no lugar do termo ‘Distributivo,’ adotado aqui por ser,

aparentemente, aquele preferido por Peirce (L469: 143, EP2: 488). Houser

(1991: 435) também sugere a expressão ‘geral’ como alternativa para a

descrição desta modalidade.

31 . Sanders (1970: 10), Jappy (1985: 115), Marty (1990: 229), Houser (1991:

435) e Santaella (1995: 124) adotam “Imperativo” onde aqui adotamos

‘Interrogativo.’

32 . Weiss & Burks (1945: 387), Sanders (1970: 10), Jappy (1985: 115), Marty

(1990: 229) e Houser (1991: 435) adotam “Indicativo;” Santaella (1995: 124)

adota “Significativo” onde aqui adotamos ‘Cognificativo.’

33 . Marty (1990: 229) adota “Gráfico” onde aqui adotamos ‘Gratificante.’

54

Page 56: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

34 . Sanders (1970: 10) adota os termos “Produzir ação” e “Produzir autocont-

role” onde aqui adotamos ‘Prático’ e ‘Pragmático.’

35 . Jappy (1985: 115) adota a terminologia “Semas, Femas, Delomas” para estas

modalidades no contexto das dez tricotomias, embora utilize as expressões

‘Rema, Dicente e Argumento,’ adotadas aqui, em outros contextos (por

exemplo, Jappy 1985: 114).

36 . Weiss & Burks (1945: 387) e Santaella (1995: 125) adotam a terminologia

“Garantia do instinto, Garantia da experiência, Garantia da forma” onde

aqui adotamos ‘Instintivo, Experiencial e Habitual.’ Houser (1991: 435)

adota “Abducentes, Inducentes, Deducentes.” Jappy (1985: 115) e Marty

(1990: 229) adotam “Formal” onde aqui adotamos ‘Habitual.’

37 . No decorrer desta tese, serão utilizadas seqüências numéricas compostas

pelos algarismos ‘1,’ ‘2,’ e ‘3’ para identificar as classes de signos em diferen-

tes classificações. Estes números, conforme explicado no final da seção I.1.1,

correspondem às categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade,

aplicadas às modalidades tricotômicas que formam as classes. A quantidade

de algarismos utilizados em uma seqüência corresponde à quantidade de tri-

cotomias envolvidas na classificação (também chamado de valor ‘n-tri-

cotômico’ de uma classificação). O fato dos algarismos que compõem estas

seqüências estarem dispostos em ordem decrescente reflete a ‘regra de quali-

ficação’ ou ‘princípio de determinação,’ discutidos no início desta seção.

38 . […] the six trichotomies, instead of determining 729 classes of signs, as they would

if they were independent, only yield 28 classes; and if, as I strongly opine (not to

say almost prove) there are four other trichotomies of signs of the same importance,

instead of making 59,049 classes, these will only come to 66. (SS 85, EP2: 481)

55

Page 57: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

39 . “Dynamoid,” no original (SS 85, EP2: 481).

40 . “Destinate” no original (SS 85, EP2: 481). Embora alguns comentadores (em

especial Weiss & Burks 1945, Marty 1982, Jappy 1985 e 1989) tenham inter-

pretado este termo como “imediato” (possivelmente devido à sua posição,

anterior ao Interpretante Dinâmico, na ordem de determinação), e o termo

“Explicit”, que aparece na mesma lista, como “final,” existe atualmente um

certo consenso (ver, por exemplo, Savan 1976: 48-49, Marty 1990: 210,

Müller 1993: 147) de que o que Peirce entende como ‘destinate’ neste manu-

scrito é o que ele chama, em outras ocasiões, de ‘normal’ ou ‘final,’ e o que

ele entende como ‘explicit’ é o que ele chama de ‘immediate.’

41 . “Effective,” no original (SS 85, EP2: 481).

42 . “Explicit,” no original (SS 85, EP2: 481). Ver nota acima.

43 . Lieb (1977: 162) descreve esta tricotomia como “destinate interpretants in

themselves,” mas utiliza como modalidades as mesmas que adotamos para a

tricotomia Ii (Hipotético, Categórico, Relativo).

44 . Lieb (1977: 162) descreve esta tricotomia como “effective interpretants in

themselves,” mas utiliza como modalidades as mesmas que adotamos para a

tricotomia Id (Simpatético, Percussivo, Usual).

45 . Lieb (1977: 162) descreve esta tricotomia como “explicit interpretants in

themselves,” mas utiliza como modalidades as mesmas que adotamos para a

tricotomia If (Gratificante, Prático, Pragmático).

56

Page 58: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

I.2- O conceito de diagrama dentro da

teoria peirceana

Introdução

No contexto deste trabalho, um ‘diagrama’ pode ser definido como

uma associação entre elementos expressa por meio de relações em

um ambiente visual. Este capítulo aprofunda essa definição, apre-

sentando as várias facetas do conceito de ‘diagrama’ presentes na

obra de Peirce.

Veremos que, em algumas ocasiões (e.g. CP 1.369, 4.447; W6:

259; EP2: 10, 303), ‘diagrama’ é um sinônimo, ou um exemplo, de

ícone. O conceito de ‘diagrama’ como um tipo específico, entre

outros, de ícone, torna-se mais claro a partir da formulação de uma

tipologia dos ícones atualizados, ou hipo-ícones, feita por Peirce na

seção dedicada à gramática especulativa de seu ‘Syllabus’ de 1903

(CP 2.276-277, EP2: 273-274).

Paralelamente, Peirce sempre destacou o papel dos diagra-

mas no raciocínio —em especial no pensamento matemático e lógi-

co—, fornecendo vários exemplos do funcionamento daquilo que

ele chamou, em algumas ocasiões, de ‘raciocínio diagramático’ (CP

4.571, 5.148, 6.213). Neste contexto, o desenvolvimento de seus sis-

57

Page 59: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

temas de diagramas lógicos —em especial seus grafos existenciais1—

deve ser entendido como um esforço para colocar em prática seus

argumentos a favor de uma forma eminentemente visual, e suposta-

mente mais intuitiva, de raciocínio.

I.2.1- Diagrama como sinônimo, ou melhor exemplo

de ícone

Conforme foi dito na seção I.1.2, em “On a new list of categories”

(CP 1.558, W2: 56 [1867]) Peirce define três tipos signos, a partir do

tipo de relação que mantêm com seus objetos. Em concordância

com sua doutrina das categorias, ele chama os primeiros, cuja

relação está baseada em simples qualidades que ambos têm em

comum, de ‘likenesses;’ os segundos, cuja relação é uma correspon-

dência factual de índices; e os terceiros, aqueles cuja relação está

baseada em alguma característica imputada, de símbolos.

Cerca de 20 anos mais tarde, em “One, two, three: fundamen-

tal categories of thought and of nature” (CP 1.369, W5: 243 [1885]),

Peirce retoma esta discussão, substituindo o termo ‘likeness’ por

‘signo diagramático’ ou ‘ícone.’ Este tipo de signo é então definido

como aquele que exibe alguma similaridade ou analogia com seu

objeto, em contraste com os índices, que apenas forçam a atenção

58

Page 60: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

sobre o objeto, sem descrevê-lo, e com os símbolos, que se referem

ao objeto através de associações habituais de idéias. Um diagrama,

por sua vez, é descrito, em “On quantity” (1895) como “imagem

visual, seja ela composta por linhas, como uma figura geométrica,

ou uma sequência de signos, como uma fórmula algébrica, ou de

natureza mista, como um grafo” (NEM 275).2

Embora, ao que tudo indica, a diferença entre os conceitos de

‘ícone puro’ e ‘diagrama,’ tenha estado evidente para Peirce desde o

início (ver, por exemplo, CP 3.362 [1885]), é possível encontrar

diversas passagens onde os conceitos de ‘diagrama’ e ‘ícone’ pare-

cem se sobrepor (CP 2.282, 7.467 [1893], 2.279 [1895], 3.429

[1896]), ou onde diagramas são apresentados como exemplos de

ícone (EP2: 303 [1904], 4.531 [1905]) e vice-versa (W6:258-259

[1889]). Uma análise destas, e outras passagens onde ambos os ter-

mos aparecem, revela que diagramas são tratados como ícones por

serem signos que se relacionam com seus objetos devido a seme-

lhanças que são fundamentalmente estruturais, mas que, não rara-

mente, se refletem em sua aparência.

Um exemplo, dado por Peirce, onde os dois conceitos se

sobrepõem, é uma equação algébrica (CP 2.279, 2.282). Uma

equação algébrica é um ícone porque se assemelha ao problema que

59

Page 61: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

pretende resolver, e é um diagrama porque esta semelhança baseia-

se, principalmente, no fato da estrutura da equação ser similar à

estrutura do problema. Além disso, para Peirce

[…] uma propriedade muito característica do ícone é que

através da observação direta dele outras verdades a

respeito de seu objeto podem ser descobertas além daquelas

suficientes para determinar sua construção. […] Esta

capacidade de revelar verdades inesperadas é precisa-

mente aquilo em que a utilidade das fórmulas algébricas

consiste, de forma que o caráter icônico é o que prevalece.

(CP 2.279 [1895])3

A relação disso com o que Peirce chamou de ‘raciocínio diagramáti-

co’ será analisada na última seção deste capítulo. Por hora, é sufi-

ciente ter em mente, à luz do que foi discutido no capítulo I.1, que

existe uma diferença, bastante importante, entre ‘ícone’ enquanto

primeiridade genuína (algo, portanto, da natureza de uma possibi-

lidade), e diagramas enquanto ícones atualizados. Esta diferença só

foi sistematizada por Peirce em 1903, e é o tema da próxima seção.

60

Page 62: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

I.2.2- Diagrama como um dos tipos de hipoícone

Embora em 1885 (CP 3.362) Peirce já houvesse afirmado que “um

diagrama […] não é um ícone puro,” somente em 1903 ele extrai

maiores conseqüências desta afirmação. Não por acaso, Peirce faz

isso em uma seção de seu ‘’Syllabus’’ dedicada à gramática especula-

tiva (CP 2.274-77, EP2: 272-288). Este é, justamente, o ramo da

semiótica —entendida como lógica— que investiga a natureza dos

signos, suas condições de existência e classificação.4

Ele inicia com uma definição mais rigorosa de seu conceito de

ícone, diferenciando ‘ícones’ de ‘signos icônicos’:

[…] em um sentido mais estrito, nem mesmo uma idéia,

exceto no sentido de uma possibilidade, ou Primeiridade,

pode ser um Ícone. […] Mas um signo pode ser icônico, isto

é, pode representar seu objeto principalmente por sua simi-

laridade, não importando seu modo de ser. Se o que se

quer é um substantivo, um representamen icônico pode ser

denominado hipoícone. (CP 2.276, EP2: 273)5

Logo após, naquela que, segundo Jappy (2001), parece ser a única

definição completa dos hipo-ícones que podemos encontrar em sua

obra,6

Peirce descreve a seguinte divisão:

61

Page 63: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Hipo-ícones podem ser grosseiramente divididos de acordo

com o tipo de Primeiridade da qual participam. Aqueles

que participam de simples qualidades, ou Primeiras

Primeiridades, são imagens; aqueles que representam as

relações, principalmente diádicas, ou assim consideradas,

das partes de uma coisa por relações análogas em suas

próprias partes, são diagramas; aqueles que representam o

caráter representativo de um representamen pela represen-

tação de um paralelismo em outra coisa, são metáforas.

(CP 2.277, EP2: 274)7

Sendo assim, podemos dizer que, em termos estritos, um

‘ícone puro’ é apenas uma possibilidade lógica, e não algo existente.

Signos icônicos, ou hipo-ícones, por outro lado, são ícones instan-

ciados, participando de relações sígnicas existentes, devido a algum

tipo de semelhança que possuem com seus objetos. Neste contexto,

diagramas podem ser definidos como hipo-ícones cuja semelhança

com seu objeto baseia-se, antes de mais nada, em uma semelhança

estrutural. Se ícones são relações de ‘semelhança,’ um ‘diagrama’ é

um ícone instanciado das relações entre as partes de seu objeto. Os

‘diagramas’ se diferenciam das ‘imagens,’ que são ícones instanci-

ados de qualidades imediatas, aparentes, ou superficiais, e das

62

Page 64: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

‘metáforas,’ que são ícones instanciados de hábitos, convenções ou

leis gerais.

Seguindo a lógica das categorias que rege a semiótica de

Peirce, devemos esperar também que as ‘metáforas,’ por um lado,

se apresentem na forma de ‘diagramas’ e, por outro, dependam da

insistência destes para adquirir seu status de convenção ou lei

(figura I.2.2.a). ‘Diagramas,’ por sua vez, devem depender da

incorporação de ‘imagens’ para serem reconhecidos como análogos

da estrutura de seus objetos (figura I.2.2.b), ao mesmo tempo em

que ‘imagens’ minimamente complexas, a partir do momento em

que são vistas como um composto de elementos mais simples,

podem ser entendidas como ‘diagramas’ (figura I.2.2.c). Isso

explica a posição central dos diagramas na lógica do ícone de Peirce.

Para Ransdell, “um ícone propriamente dito é sempre um

quali-signo […] embora o signo que ele incorpora possa ser

chamado de ‘icônico’ (ou de ‘hipoícone’)” (1997: 38). Nöth (1995:

122) e Santaella (1995: 143-1451996) adotam interpretações simi-

lares, localizando os hipo-ícones, no contexto das 10 classes de sig-

nos, entre os sin-signos e os legi-signos icônicos.

Conforme vimos na seção I.1.3 desta tese, Peirce de fato

fornece, como exemplos de sin-signo icônico e legi-signo icônico,

63

Figura I.2.2.a. Exemplo de metáfo-

ra visual: a figura ‘vamos acabar

com o nazismo’ se apresenta como

uma instância do diagrama ‘jogar

algo no lixo’ (ver figura I.2.2.b). A

compreensão desta metáfora

depende tanto de nossa capacidade

de reconhecer este diagrama quan-

to da capacidade de relacionar a

suástica com o nazismo.

Figura I.2.2.b. Exemplo de dia-

grama visual: a figura ‘jogar algo

no lixo’ depende do reconheci-

mento dos elementos ‘homem’

(ver figura I.2.2.c) e ‘cesta de lixo,’

aliada à noção de lei da gravidade.

Page 65: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

respectivamente, “um diagrama individual” (CP 2.255) e “um dia-

grama, independente de sua individualidade factual” (CP 2.258).

Além destas duas classes, temos ainda os quali-signos (111, neces-

sariamente, icônicos e remáticos), como uma terceira classe de sig-

nos icônicos entre aqueles descritos nas 10 classes. Embora a

divisão dos signos em 10 classes e a divisão dos hipo-ícones façam

parte do mesmo documento (o ‘’Syllabus’’ de 1903), não encon-

tramos nele8

nenhuma menção explícita a uma relação entre estas

duas divisões. Contudo, se desejarmos estabelecer algum tipo de

correspondência entre as 10 classes e os 3 tipos de hipoícone, e se

começamos por identificar a classe dos quali-signos com os ícones

puros, restam apenas duas classes dentro das quais poderíamos

‘encaixar’ imagens, diagramas e metáforas: sin-signos e legi-signos

icônicos (211 e 311).

Ransdell e Nöth não deixam claro onde, entre os sin-signos

ou os legi-signos, poderíamos localizar os hipo-ícones diagramáti-

cos. Santaella (1995: 143-1451996), por sua vez, argumenta que os

três hipo-ícones podem ser considerados como três níveis de

iconicidade relacionados aos legi-signos icônicos.9

Em sua proposta para uma “classificação peirceana de mode-

los,” Houser (1991) relaciona os três tipos de signos icônicos

64

Figura I.2.2.c. Exemplo de imagem visual: a compreensão da figura

‘homem’ (no centro) se dá por sua semelhança com a silhueta de um ser

humano do sexo masculino (à esquerda). Também podemos compreender

esta figura como um diagrama das relações entre cabeça, tronco e mem-

bros que encontramos nos seres humanos (à direita).

Page 66: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

encontrados nas 10 classes (quali-signos [111], sin-signos icônicos

[211] e legi-signos icônicos [311]) com três tipos de modelos:

• 111: aqueles que modelam seus objetos ao dividir

ou duplicar propriedades significantes (e.g.,

uma amostra de cor)

• 211: aqueles que modelam objetos ou eventos par-

ticulares por serem estrutural ou materialmente

parecidos com eles (e.g. uma maquete

arquitetônica)

• 311: aqueles que servem como modelo por serem

tipos gerais, similares a leis que todas as instân-

cias devem respeitar (e.g. figuras geométricas

desenhadas em uma lousa)

Houser (1991: 437) sugere que existem pontos em comum entre

estas três classes icônicas e os três hipo-ícones, e também que estas

relações talvez possam ser mais bem entendidas dentro da divisão

em 66 classes de signos. Ele não chega, porém, a nenhuma con-

clusão a este respeito, afirmando que estas questões ainda precisam

ser mais estudadas.

Stjernfelt (1999: 22), por sua vez, sugere a possibilidade de se

desenvolver uma “taxonomia racional dos diagramas,” a partir da

65

Page 67: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

descrição de Peirce para ‘diagrama’ comentada no início da seção

I.2.1 (NEM 275). Ele também identifica, em uma passagem de

“Prolegomena to an apology for pragmaticism” (NEM 316-319

[1906]) algumas facetas da definição peirceana de diagrama:

(i) diagrama como um ícone de objetos racional-

mente relacionados, cuja compreensão não

dependeria de hábitos ou experiência;

(ii) diagrama como um tipo, isto é, um conjunto de

relações racionais que podem ser comunicadas

através de instâncias deste tipo, ou tokens; e

(iii) diagrama como elemento crucial dos processos

de inferência e raciocínio, “máquina formal para

experimentos mentais” (Stjernfelt 1999: 14).

A primeira faceta se aproxima à definição de ‘diagrama’ como

‘ícone,’ discutida na primeira seção deste capítulo. A segunda é bas-

tante similar ao tipo de ‘diagrama’ invocado para exemplificar os

legi-signos icônicos (CP 2.258), e à visão, proposta por Houser

(1991), dos signos icônicos como ‘modelos,’ discutida nos pará-

grafos anteriores. A última faceta é o tema da próxima seção.

66

Page 68: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

I.2.3- Raciocínio diagramático

Em 1905, em uma passagem de seu “Prolegomena to an apology for

pragmaticism” onde introduz seus grafos existenciais, Peirce afirma

que “o raciocínio diagramático é o único tipo realmente fértil de

raciocínio” (CP 4.571). Esta afirmação reflete a força com que

Peirce defende, em várias passagens de sua obra, um tipo de pensa-

mento eminentemente visual, baseado na elaboração e manipu-

lação de diagramas.

Para Peirce, os diagramas são indispensáveis na matemática,

e de extrema importância na lógica (CP 4.544). Segundo ele, se a

lógica pode ser definida como a ciência das leis que regulam o esta-

belecimento de crenças estáveis, a ‘lógica exata,’ enquanto doutrina

das condições que fundamentam a lógica, deveria se basear em um

tipo de pensamento cujas observações sejam indubitáveis (CP

3.429). Este é, de acordo com ele, o caso do pensamento ou

raciocínio diagramático, também chamado de ‘icônico’ ou

‘esquemático.’

Em 1901, Peirce descreveu o processo envolvido neste tipo de

raciocínio da seguinte forma:

Formamos na imaginação algum tipo de representação

diagramática, isto é, icônica, dos fatos […]. Este diagra-

67

Page 69: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

ma, que foi construído para representar intuitivamente ou

semi-intuitivamente as mesmas relações que estão expres-

sas de forma abstrata nas premissas, é então observado, e

uma hipótese se sugere […]. Para testá-la, vários experi-

mentos são feitos sobre o diagrama, que é modificado de

várias maneiras. […] a conclusão é por força verdadeira

devido às condições de construção do diagrama. (CP

2.778)10

Em diversas ocasiões, Peirce salientou a importância dos diagramas

no raciocínio dedutivo ou necessário (CP 1.66, 2.267, 3.363, 5.162,

6.471), chegando mesmo a afirmar que qualquer silogismo regular-

mente expresso é um diagrama (CP 4.544). Segundo Stjernfelt

(1999: 19), o raciocínio diagramático proposto por Peirce pode ser

entendido como processo que vai dando forma a um núcleo de

raciocínio dedutivo a partir de uma série de tentativas (abduções) e

testes (induções). Este tipo de raciocínio teria, portanto, como

principais vantagens, a possibilidade de revelar verdades ‘novas,’

não aparentes em uma simples listagem das relações apresentadas

por um problema, e a capacidade de conduzir a conclusões

testáveis, corretas e necessárias.

Estas vantagens não se restringem, segundo Peirce, aos cam-

68

Page 70: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

pos da matemática e da lógica —algo que, tendo em vista a posição

fundante da matemática em sua classificação das ciências é per-

feitamente esperado. Para ele, a filosofia e a metafísica também se

beneficiam ao adotar este tipo de raciocínio.

Quanto à aplicabilidade e às vantagens do raciocínio dia-

gramático para a teoria do signo, não teremos dúvidas a este

respeito se lembrarmos que, para Peirce, ‘semiótica’ é apenas um

outro nome para a lógica “em seu sentido geral,” consistindo na

doutrina “quase-necessária, ou formal, dos signos” (CP 2.227).

69

Page 71: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Notas1 . Não será possível, dentro dos limites desta tese, entrar em detalhes quanto

aos sistemas de diagramas lógicos desenvolvidos por Peirce. Aos interessa-

dos, recomenda-se a leitura de Roberts (1973), Ketner (1981), Shin (1995), e

Sowa (2001).

2 . […] a diagram, or visual image, whether composed of lines, like a geometrical fig-

ure, or an array of signs, like an algebraical formula, or of a mixed nature, like a

graph (NEM 275).

3 . […] a great distinguishing property of the icon is that by the direct observation of it

other truths concerning its object can be discovered than those which suffice to

determine its construction. […] This capacity of revealing unexpected truth is pre-

cisely that wherein the utility of algebraical formulae consists, so that the iconic

character is the prevailing one. (CP 2.279 [1895])

4 . Os outros são lógica crítica, que estuda as várias formas de argumento ou

inferência, e retórica especulativa ou metodêutica, que se ocupa dos proce-

dimentos investigativos. O aprofundamento deste aspecto da obra de Peirce,

que deve ser entendido dentro do contexto de sua classificação das ciências,

foge ao escopo desta tese. Aos interessados, recomenda-se a leitura de Kent

(1987), Tursman (1987), Santaella (1992: 101-140).

5 . […] most strictly speaking, even an idea, except in the sense of a possibility, or

Firstness, cannot be an Icon. […] But a sign may be iconic, that is, may represent its

object mainly by its similarity, no matter what its mode of being. If a substantive be

wanted, an iconic representamen may be termed a hypoicon. (CP 2.276, EP2: 273)

6 . Uma busca nas principais obras publicadas (CPs, EPs, Ws) confirma esta

hipótese.

70

Page 72: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

7 . Hypoicons may roughly [be] divided according to the mode of Firstness of which

they partake. Those which partake the simple qualities, or First Firstnesses, are

images; those which represent the relations, mainly dyadic, or so regarded, of the

parts of one thing by analogous relations in their own parts, are diagrams; those

which represent the representative character of a representamen by representing a

parallelism in something else, are metaphors. (CP 2.277, EP2: 274)

8 . Pelo menos não em suas versões publicadas nos CPs e nos EPs.

9 . Santaella (1995: 143-145, 1996) propõe uma sistematização composta por

seis níveis de iconicidade, que vão do “ícone puro,” passando pelos “ícones

atuais,” até os “signos icônicos.” O ícone puro teria apenas um nível, sendo

caracterizado como um quali-signo. Os ícones atuais, identificados como

sin-signos degenerados, ou ícones tais como aparecem nos processos per-

ceptivos, teriam dois níveis: um nível de ação, onde algo externo se impõe à

consciência, e um nível de reação, onde a consciência reage ao estímulo

externo. Os signos icônicos, por sua vez, teriam três níveis, alinhados aos

três tipos de hipo-ícones propostos por Peirce, e que Santaella caracteriza

como legi-signos.

10 . We form in the imagination some sort of diagrammatic, that is, iconic, represen-

tation of the facts. […] This diagram, which has been constructed to represent

intuitively or semi-intuitively the same relations which are abstractly expressed in

the premisses, is then observed, and a hypothesis suggests itself […]. In order to

test this, various experiments are made upon the diagram, which is changed in

various ways. […] the conclusion is compelled to be true by the conditions of the

construction of the diagram. (CP 2.778)

71

Page 73: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

I.3- Sign design: um diálogo entre design e semiótica

Introdução

A compreensão dos aspectos fundamentais da semiótica de Peirce,

conforme vimos nos capítulos anteriores, depende do entendimen-

to dos princípios básicos que orientaram a construção de sua teoria

do signo. Isso passa pela compreensão de seu modelo de signo, de

sua doutrina das categorias, e da forma como esta teoria, aplicada a

este modelo, dá origem às tricotomias e às modalidades tricotômi-

cas que fundamentam as classes de signos. Se, conforme foi afirma-

do na seção I.1.1, um signo, no sentido peirceano, pode ser enten-

dido como um complexo de relações, então as classificações de sig-

nos de Peirce podem ser descritas como mapeamentos das relações

possíveis entre estas relações.

Conforme foi salientado na seção I.1.3, estes mapeamentos

tornam-se cada vez mais intrincados quanto maior o número de

aspectos que estivermos levando em consideração. Isso diz respeito

não só à quantidade de tricotomias envolvidas em uma determina-

da classificação, mas também às relações entre classes, como, por

exemplo, aquelas expostas na tabela I.1.3.b.

Contudo, se levarmos a sério os argumentos de Peirce quanto

72

Page 74: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

às vantagens do raciocínio diagramático para a compreensão de

problemas que podem ser expressos em termos de relações, deve-

mos esperar que o desenvolvimento de diagramas mais eficientes

auxilie no entendimento destes conjuntos de complexos de

relações, que são a base de sua teoria do signo. Foi pensando nisso

que, em Farias & Queiroz (2000a), ao buscar esclarecer o modo

como chegamos ao projeto que deu origem ao diagrama 10cubes

(descrito no capítulo III.1 desta tese), propusemos um esboço de

metodologia para um tipo de investigação, eminentemente visual,

de certos aspectos da teoria do signo de Peirce.

Esta proposta tornou-se o embrião de um programa de

pesquisa ao qual, em Farias & Queiroz (2000b, 2000d e 2001a)

demos o nome de ‘sign design.’ Este capítulo apresenta esse progra-

ma de pesquisa, discute sua possível metodologia, e introduz alguns

exemplos de aplicação.

I.3.1- O que é sign design

Conforme discutido no capítulo de Introdução, no contexto desta

tese, e de trabalhos relacionados (em especial Farias & Queiroz

2000b, 2000d e 2001a), a expressão ‘sign design’ deve ser entendi-

da como a denominação de um programa de pesquisa que busca

73

Page 75: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

descobrir novas estratégias de modelagem, e implementar novas

formas de visualização para certos aspectos da teoria do signo. Uma

tradução razoável, embora não totalmente satisfatória, desta

expressão para o português seria ‘design dos signos’ —entenden-

do-se ‘signos,’ evidentemente, no sentido semiótico do

termo. Este projeto não deve ser confundido com a expressão idên-

tica em inglês que, no contexto da prática do design, pode ser

traduzida como ‘design,’ ou ‘projeto,’ ‘de sinalização.’ Como se

verá, ele têm muito mais proximidade com o campo que se denomi-

na ‘design da informação’ (‘information design’), do qual pode-se

dizer que o ‘design de sinalização’ é um ramo aplicado.

Para os propósitos desta tese, portanto, entenderemos sign

design como uma abordagem sistemática de aspectos específicos da

teoria do signo de Peirce. Esta abordagem tem como objetivo a

construção de modelos visuais de estruturas e processos sígnicos,

estabelecendo conexões entre a semiótica peirceana e os campos do

design e do raciocínio diagramático (ou diagrammatic reasoning, tal

como é entendido, por exemplo, em Chandrasekaran et al. 1995 e

Blackwell 2001, onde encontramos visões muito similares à de

Peirce). Do design, e em particular do design gráfico, ela extrai uma

possível metodologia. Em comum com o campo de investigação

74

Page 76: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

conhecido como raciocínio diagramático, ela adota a hipótese de que

diagramas são objetos valiosos, não apenas enquanto ferramentas

para solução de problemas específicos e imediatos, mas também, de

uma forma geral, enquanto auxiliares na organização das atividades

cognitivas (cf. Chandrasekaran et al. 1995: xv-xxvii).

Em Farias & Queiroz (2000a, 2000b, 2000c, 2000d, 2001a e

2001b) apresentamos os resultados parciais de duas pesquisas que

envolviam a aplicação deste tipo de abordagem no campo das clas-

sificações sígnicas de Peirce. Dois outros artigos (Farias 2001a e

2001b) apresentam desenvolvimentos ulteriores destas pesquisas.

Estes últimos descrevem os estágios iniciais da implementação dos

diagramas dinâmicos 10cubes e 3N3, descritos com maiores detalhes

nos capítulos III.1 e III.2 desta tese. Em Farias & Queiroz (2000a),

afirmamos acreditar que a estratégia adotada nestas pesquisas

pudesse ser generalizada como um método de investigação no

campo da semiótica.

Este método de investigação aproxima-se do que Shea

Zellweger (1982: 17) chama de “man-sign engineering.” Neste arti-

go, Zellweger destaca a necessidade de exploração de uma área apli-

cada e experimental da semiótica, dedicada à “criação de signos”

com base em “esforços coletivos altamente especializados para

75

Page 77: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

compreender e melhorar nossas ferramentas mentais” (Zellweger

1982: 17-18). Segundo ele, o principal desafio desta área seria “pro-

jetar signos” capazes de estabelecer, através da “iconicidade visual”

de suas “estruturas de superfície,” um isomorfismo entre “a rede de

relações existentes em uma sociedade de signos e a rede correspon-

dente que existe na estrutura profunda daquilo que está sendo sim-

bolizado” (Zellweger 1982: 19-20). A este isomorfismo, Zellweger

dá o nome de “iconicidade relacional.” Na prática, seu plano se

divide em duas partes: (i) identificação das estruturas abstratas que

deverão ser simbolizadas; e (ii) invenção de um sistema de signos

que incorpore e revele, de forma visual, as relações presentes nes-

tas estruturas. Em diversos artigos, Zellweger demonstrou os resul-

tados de seus esforços no campo da lógica (Zellweger 1982, 1991,

1992, 1997a, 1997b).

Conforme afirmamos na Introdução, a obtenção de diagra-

mas mais efetivos do ponto de vista comunicacional, a partir da

aplicação de estratégias metodológicas do design, faz parte de um

conjunto de pressupostos gerais e aceitos quanto à natureza do

próprio design. A estes pressupostos, sign design adiciona a

hipótese de que estas mesmas estratégias poderiam contribuir para

a capacidade dos diagramas de “revelar verdades inesperadas” (CP

76

Page 78: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

2.279, seção I.2.1, acima). Outro traço distintivo de sign design con-

siste em seu objetivo de fornecer instrumentos para investigações

semióticas (inclusive na área do design) a partir da compreensão

daquilo que podemos chamar de ‘design da semiótica.’ A semiótica,

portanto, é vista como um tipo de ‘projeto’ a partir do qual podemos

analisar e conceber outros projetos.

A próxima seção apresenta uma possível metodologia para

sign design.

I.3.2- Uma proposta de metodologia para sign design

A metodologia proposta para sign design consiste em três fases

interrelacionadas: (i) conceitualização, (ii) desenvolvimento, e (iii)

experimentação. Metodologias do design baseadas em três fases são

bastante comuns. Para Villas-Boas (1999), elas podem ser resumi-

das no trinômio “problematização, concepção e especificação”

(Villas-Boas 1999: 41). Alguns exemplos deste tipo de metodologia

são a estrutura de desenvolvimento baseada em três passos, “meta-

planejamento, planejamento e design,” proposta por Owen (1998),

o “Método de Desdobramento em 3 Etapas” (MD3E) formalizado

por Santos (2000),1

e o processo recursivo “descoberta -> design -

> uso -> descoberta -> …” descrito por Cato (2001: 9-17). Não por

77

Page 79: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

acaso, é possível traçar paralelos entre a maioria destas propostas e

os procedimentos investigativos baseados em abdução, indução e

dedução descritos pela metodêutica de Peirce.2

A metodologia aqui descrita foi apresentada pela primeira vez

em Farias & Queiroz (2000a). Embora o estudo dos tipos de

raciocínio propostos por Peirce (Farias 1999), e o contato com a

proposta de Owen (Owen 1998 foi apresentado como palestra em

São Paulo e no Rio de Janeiro, durante o 3º P&D Design) tenham

servido como inspiração, a proposta de metodologia para sign design

baseou-se principalmente em uma reflexão quanto ao meu proces-

so de criação. Mais especificamente, ela é uma tentativa de definir

quais foram os passos empregados no processo que culminou com a

realização dos dois diagramas dinâmicos descritos nos capítulos

III.1 e III.2.

As três fases da metodologia proposta para sign design são:

(i) Fase de conceitualização: onde são exploradas

as bases teóricas e conceituais para o design de

estruturas e processos sígnicos específicos. A

fase de conceitualização dos modelos que serão

apresentados nos capítulos III.1 e III.2

envolveu uma detalhada investigação do mode-

78

Page 80: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

lo de signo, e sua descrição, em diferentes

tipos, através das classificações sígnicas. As

primeiras seções dos capítulos III.1 e III.2 são

exemplos de descrição esta fase.

(ii) Fase de desenvolvimento: onde os resultados da

fase de conceitualização são aplicados ao design

de um novo modelo. Trata-se de uma fase emi-

nentemente prática, fundamentada na tradução

visual dos elementos teóricos levantados na fase

anterior. Boa parte dos capítulos III.1 e III.2 é

dedicada a esta fase, que inclui desde a geração

de alternativas para a interface até a implemen-

tação dos diagramas.

(iii) Fase de experimentação: onde as informações

visuais proporcionadas pelo modelo construído

na fase de desenvolvimento devem ser testadas.

Os resultados desta fase devem ser comparados

e avaliados à luz da fase conceitualização. As

últimas seções dos capítulos III.1 e III.2 trazem

alguns resultados desta fase. Em Farias &

Queiroz (2000a), afirmamos que a ênfase na

79

Page 81: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

experimentação seria um traço distintivo desta

estratégia em relação à postura de outros

comentadores, cujos modelos pareciam ser

objetos estanques, e não ferramentas dinâmicas

para investigação.

Em Farias & Queiroz (2000b) chamamos atenção para o fato de que

os modelos desenvolvidos com esta metodologia, mais do que ilus-

trações de aspectos de uma teoria, deveriam funcionar como ferra-

mentas visuais de investigação desta teoria. Isto significa que, se um

modelo é suficientemente bem desenvolvido, devemos ser capazes

de postular e testar visualmente certas hipóteses em relação aos

processos e estruturas sígnicas especificadas na fase conceitual

(fase i). Em relação ao processo como um todo, afirmamos acredi-

tar que uma melhor estratégia de design na fase de desenvolvimen-

to (fase ii) deve levar a um modelo mais produtivo na fase de exper-

imentação (fase iii). De forma complementar, fraquezas ou incon-

sistências na fase de experimentação (fase iii) deveriam levar a uma

reconsideração das premissas assumidas na fase de conceitualiza-

ção (fase i) e das estratégias utilizadas na fase de desenvolvimento

(fase ii).

80

Page 82: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

I.3.3- Aplicações para sign design

A estratégia descrita nas seções anteriores foi desenvolvida a par-

tir da hipótese de que certos aspectos, bastante específicos, da teo-

ria peirceana, poderiam ser mais bem compreendidos se investi-

gados e re-enunciados de forma visual. Os dois diagramas dinâmi-

cos apresentados nos capítulos III.1 e III.2 desta tese são os mel-

hores exemplos de como esta estratégia pôde ser aplicada, com

sucesso, no campo das classificações sígnicas de Peirce. A

definição de uma possível metodologia para sign design tem como

objetivo não apenas tornar pública uma reflexão quanto ao proces-

so de criação destes diagramas, mas também incentivar o desen-

volvimento de novos modelos.

Em Farias & Queiroz (2000b) afirmamos acreditar que esta

estratégia, ao aproximar o estudo da semiótica à prática do design,

seja de especial interesse para áreas do design e da comunicação.

Nota-se que existe um certo consenso sobre a importância do ensi-

no da semiótica em cursos destas áreas. A semiótica de Peirce, sua

teoria geral do signo e suas classificações sígnicas, são de grande

interesse tanto para a análise quanto para o desenvolvimento de

projetos nestas áreas. Ao mesmo tempo, uma abordagem estrita-

mente teórica desta disciplina torna-a, por vezes, tão dissociada da

81

Page 83: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

prática do design que sua relevância pode parecer questionável.

Mesmo o que chamamos de ‘semiótica aplicada’ é um tópico geral-

mente tratado através de uma abordagem baseada em leituras e

desenvolvimentos descritivos, classificatórios ou analíticos (ver,

por exemplo, Im 1998:176).

A metodologia apresentada na seção anterior poderia ser uti-

lizada com propósitos educacionais, orientando estudantes no

desenvolvimento de trabalhos práticos que requerem um estudo

cuidadoso da teoria do signo de Peirce. O resultado deste esforço

seria um conjunto de ferramentas que poderiam, por sua vez, ser

utilizadas em um curso de design para explicar tópicos complexos

da teoria do signo de Peirce. Tais ferramentas, enquanto recurso

pedagógico, são de especial interesse vista a afinidade dos estu-

dantes de design com o que chamamos de raciocínio diagramático,

ou seja, uma forma de raciocínio que privilegia estruturas visuais,

imagéticas e multidimensionais.

Em resumo, sign design parece ter um duplo interesse para as

áreas do design e da comunicação. Por um lado, sua metodologia

sugere uma forma prática e visual de investigação, que poderíamos

chamar de ‘semiótica do design’, ou ‘design aplicado à semiótica’.

Por outro, as ferramentas construídas através desta metodologia

82

Page 84: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

deveriam ser capazes de auxiliar o ensino da semiótica em cursos de

design, com especial interesse para o desenvolvimento de uma

semiótica do design baseada na teoria de C. S. Peirce.

83

Page 85: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Notas

1 . Santos (2000) propõe uma estrutura baseada em três etapas que se desdo-

bram em três, da seguinte forma:

1. Pré-concepção

1.1. Definição do problema

1.2. Especificação do produto

1.3. Especificação do projeto

2. Concepção

2.1. Geração de alternativas

2.2. Seleção das alternativas

2.3. Definição e justificativa

3. Pós-concepcão

3.1. Detalhamento dos subsistemas

3.2. Especificação de componentes

3.3. Especificação da produção, venda e pós-venda

2 . Uma análise mais aprofundada da metodêutica, ou retórica especulativa, de

Peirce (ver seção I.2.1, nota 3) foge ao escopo desta tese. Para uma ótima

apresentação deste aspecto da teoria peirceana, feita dentro do contexto de

uma discussão dos métodos de pesquisa em comunicação, ver Santaella

(2001: 116-126).

84

Page 86: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Parte II. Diagramas para as classes de signos

Page 87: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

II.1- Modelos desenvolvidos por Peirce

Introdução

Neste capítulo são analisados os únicos dois diagramas conhecidos,

elaborados por Peirce, para as 10 classes de signos (MS 540: 17, CP

2.264, EP2: 296; e L463:146, CP 8.376, EP2: 491). Conforme men-

cionado na seção I.1.3 desta tese, um deles refere-se explicitamente

às 10 classes descritas no ‘Syllabus’ de 1903. O outro, encontrado

entre os esboços de uma carta para Lady Welby escrita no final de

dezembro de 1908, também apresenta um arranjo para 10 classes.

As duas seções apresentam não apenas os modelos tal como

foram publicados nos Collected Papers e no Essential Peirce, mas tam-

bém analisam uma série de esboços para estes diagramas encontra-

dos entre seus manuscritos. Elas servem de base para a discussão a

respeito dos diagramas de Peirce que ocorre nas seções III.1.1 e

III.2.1 desta tese, dedicadas à fase de conceitualização dos diagra-

mas dinâmicos 10cubes e 3N3.

II.1.1- O modelo do ‘Syllabus’ 1903

Conforme já foi discutido no capítulo I.1 desta tese, em seu ‘Syllabus’

de 1903 (MS 540, CP 2.233-72, EP2: 289-99) Peirce apresenta uma

86

Page 88: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

divisão dos signos em 10 classes, baseada em três tricotomias.

Depois de descrever cada uma delas, Peirce apresenta um diagrama

onde elas aparecem dentro de 10 quadrados arranjados de forma tri-

angular (figura II.1.1.a), e faz o seguinte comentário:

As afinidades das dez classes são exibidas pelo arranjo de

suas designações na tabela triangular aqui apresentada,

que possui divisões mais grossas entre quadrados adja-

centes que são apropriados para classes similares em ape-

nas um aspecto. Todos os outros quadrados adjacentes

pertencem a classes similares em dois aspectos. Quadrados

não adjacentes pertencem a classes similares em um

aspecto apenas, exceto que cada um dos três quadrados

nos vértices do triângulo pertence a uma classe que difere

em todos os três aspectos das classes para as quais os

quadrados ao longo do lado oposto do triângulo são apro-

priados. As designações escritas com letras mais finas são

supérfluas. (CP 2.264)1

Este diagrama, ao qual nos referiremos como ‘diagrama do

Syllabus,’ foi reproduzido de forma similar à figura II.1.1.b nos

Collected Papers (CP 2.264) e no segundo volume do Essential Peirce

87

Figura II.1.1.a. Diagrama encontrado em manuscrito de

Peirce (MS 540: 17) para seu ‘Syllabus’ de 1903.

Page 89: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

(EP2: 296). A numeração em algarismos árabes foi adicionada pelos

editores dos Collected Papers para facilitar a referência às 10 classes

descritas no texto, e foi omitida pelos editores do The Essential

Peirce. Em outras páginas do manuscrito MS 540 (MS 540: 27, 28 e

29, figuras II.1.1.c, II.1.1.d e II.1.1.e), e também em uma das pági-

nas do manuscrito MS 799 (MS 799: 2, figura II.1.1.f), encon-

tramos desenhos que parecem ser esboços para este diagrama.

Nos esboços encontrados no manuscrito MS 540 (figuras

II.1.1.c, II.1.1.d e II.1.1.e), podemos notar o esforço de Peirce para

chegar a um arranjo das classes que refletisse as relações de simi-

laridade em suas estruturas internas, expressas através das modali-

dades tricotômicas (por exemplo, classes que são icônicas, ou clas-

ses que são sin-signos). Eles parecem ser uma série de tentativas

para chegar ao arranjo final do diagrama do Syllabus, onde Peirce

fica finalmente satisfeito com a posição relativa das classes, con-

forme afirma no trecho citado acima (CP 2.264).

O desenho encontrado em MS 540: 29 (figura II.1.1.e)

parece ser o primeiro desta série. Existem quatro tentativas de

arranjo nesta página, sendo que em nenhuma delas encontramos

todas as 10 classes. O arranjo mais completo é aquele no canto infe-

rior esquerdo da figura II.1.1.e, onde a classe dos quali-signos

88

Figura II.1.1.b. O diagrama do ‘Syllabus’ conforme foi reproduzido nos

Collected Papers (CP 2.264). A reprodução encontrada no segundo volume da

série The Essential Peirce (EP2: 296) omite os algarismos romanos.

Page 90: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

89

Figura II.1.1.c. Esboço para o diagrama do Syllabus

encontrado no manuscrito MS 540: 27.

Figura II.1.1.d. Esboço para o diagrama do Syllabus encontra-

do no manuscrito MS 540: 28.

Page 91: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

90

Figura II.1.1.e. Esboço para o diagrama do

Syllabus encontrado no manuscrito MS 540: 29.

Page 92: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

91

Figura II.1.1.f. Esboço para o diagrama do Syllabus encontrado

no manuscrito MS 799: 2.

Page 93: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

(111) foi colocada no vértice superior de um triângulo apoiado em

um dos lados. A figura II.1.1.g mostra a mesma estrutura, com as

classes expressas em algarismos arábicos (conforme convenção

explicada no final da seção I.1.1) e romanos (seguindo a mesma

convenção adotada pelos editores dos Collected Papers para o diagra-

ma do Syllabus).

No manuscrito MS 540: 28 (figura II.1.1.d) encontramos, no

alto, à direita, uma lista de pares de aspectos das classes (por exem-

plo, ‘remático icônico,’ ‘remático legi-signo’) seguidos por algaris-

mos arábicos e romanos (apenas para o numeral ‘dez,’ grafado como

‘X’) que indicam quais classes possuem estes aspectos. A convenção

adotada para esta notação é idêntica àquela adotada pelos editores

dos Collected Papers (numeração segue a ordem de apresentação das

classes no ‘Syllabus’), a única diferença sendo a adoção de algaris-

mos arábicos no lugar dos romanos.

À esquerda e abaixo desta lista encontramos dois arranjos tri-

angulares para estas classes. O arranjo à esquerda parece estar

baseado somente na ordem numérica das classes. O arranjo maior,

abaixo, parece ser mais uma tentativa de organizar as classes de

acordo com sua composição interna. Deve-se notar que a posição

das classes I, II, III e V é idêntica à que aparece na estrutura do

92

Figura II.1.1.g. Estrutura das classes presente no esboço para o diagrama

do Syllabus encontrado no manuscrito MS 540: 29 (figura II.1.1.e).

Page 94: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

esboço da página posterior (MS 540: 28 II.1.1.e e II.1.1.g). A

posição relativa das classes também é similar àquela encontrada no

diagrama do Syllabus (para compará-los, basta tombar este último à

esquerda, deixando a classe 111 no vértice superior), com exceção da

posição das classes VI (321) e X (333), que encontra-se invertida.

Os esboços encontrados em MS 540: 27 (figuras II.1.1.c) e

MS 799: 2 (figura II.1.1.f) parecem ser os últimos da série que leva

ao diagrama do Syllabus. Nos dois, a posição das classes é delimita-

da por quadrados. Em ambos, a posição das classes IV (222) e VI

(321) encontra-se invertida, revelando a dificuldade de posicionar

a classe VI em relação às outras. Esta é, de fato, a única diferença,

em relação à posição das classes, entre o diagrama do Syllabus e o

esboço do manuscrito MS 799: 2 (figura II.1.1.f). Aquele do manu-

scrito MS 540: 27 (figuras II.1.1.c), por outro lado, deve ser girado

em 180 graus, e espelhado, para que a posição das classes coincida

com a posição encontrada no diagrama do Syllabus.

Alguns últimos ajustes na versão final do diagrama do

Syllabus foram, aparentemente, a diferenciação na espessura das

linhas divisórias entre as classes e no peso das letras utilizadas para

escrever seus nomes. Nesta versão final (MS 540: 17, figura

II.1.1.a), as divisões das classes II e VI, VI e IX, e III e VII, são mais

93

Page 95: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

espessas para indicar que, diferente das outras classes ‘fronteiri-

ças,’ estas possuem apenas um aspecto em comum (II e VI, por

exemplo, são remas). A variação na espessura das letras utilizadas

na descrição das classes segue a tendência para a simplificação de

seus nomes explicada na seção I.1.3.

II.1.2- O modelo da carta para Lady Welby

Em um esboço de carta para Lady Welby, datado 24-28 de dezembro

de 1908 (L463: 132-146, CP 8.342-76, EP2: 483 - 491), Peirce

desenhou um segundo diagrama para 10 classes de signos. O dia-

grama reproduzido na figura II.1.2.a (L463:146) aparece no post

scriptum deste esboço, cujo assunto principal são as dez tricotomias

discutidas na seção I.1.2 desta tese. Logo abaixo da figura, Peirce faz

o seguinte comentário:

O número acima à esquerda descreve o Objeto do Signo.

Aquele acima à direita descreve seu interpretante. Aquele

abaixo descreve o Signo em si mesmo.

1 significa a Modalidade Possível, aquela de uma Idéia.

2 significa a Modalidade Atual, aquela de uma Ocorrência.

3 significa a Modalidade Necessária, aquela de um Hábito.

(L463: 146, EP2: 491)2

94

Figura II.1.2.a. Diagrama para 10 classes desenhado por Peirce em um esboço

de carta para Lady Welby datado 24-28 de dezembro de 1908 (L463:146).

Page 96: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Este diagrama, ao qual nos referiremos como ‘diagrama de

Welby,’ foi reproduzido de forma similar à figura II.1.2.b nos

Collected Papers (CP 8.376) e no segundo volume da série The

Essential Peirce (EP2: 491).

Existem outras versões do diagrama de Welby entre os manu-

scritos de Peirce. Algumas delas, encontradas em um manuscrito

datado de 27 de dezembro de 1908 (MS 399D: 627, figura II.1.2.c),

parecem ser anotações preparatórias para este diagrama, que foi

provavelmente desenhado, posteriormente, com a ajuda de uma

régua ou instrumento similar (figura II.1.2.a). O que parece estar

em jogo aqui é, principalmente, a posição dos algarismos que iden-

tificam cada classe. No conjunto mais abaixo, a posição das classes

e dos algarismos que formam as classes é idêntica à que encon-

tramos no diagrama de Welby.

Um desenho muito similar ao diagrama de Welby encontra-se

no manuscrito L463: 155 (figura II.1.2.d).3

Este parece ter sido

desenhado, aproveitando a transparência da folha de papel, a partir

da figura encontrada no manuscrito L463:146 (figura II.1.2.a). Ele

é formado por apenas 10 triângulos, que contém as 10 classes, e não

possui células ‘em branco’ como o diagrama de Welby. Peirce intro-

duz este diagrama da seguinte forma:

95

Figura II.1.2.b. O diagrama de Welby (L463:146, figura II.1.2.a),

conforme foi reproduzido nos Collected Papers e no segundo volume

da série The Essential Peirce (CP 8.376, EP2: 491).

Page 97: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

96

Figura II.1.2.c. Anotações preparatórias para o diagrama de Welby encontradas

em manuscrito datado de 27 de dezembro de 1908 (MS 399D: 627).

Page 98: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

[…] as três divisões de acordo com a Modalidade de Ser do

Signo em si mesmo, de seu objeto, e de seu Interpretante

não podem gerar 27 classes de Signos mas apenas Dez;

sendo assim, utilizando um pequeno espaço triangular

com o vértice para baixo _ para descrever cada classe, e

denotando as por

1 a Modalidade Possível

2 a Modalidade Atual

3 a Modalidade Necessitante,

eu escrevo um destes números em cada um dos cantos do

espaço triangular.

O canto inferior para caracterizar o Modo de Ser do Signo

em si mesmo.

O canto superior esquerdo para caracterizar o Modo de Ser

de seu Objeto.

O canto superior direito para caracterizar o Modo de Ser de

seu Interpretante.

Então as Dez classes resultantes serão aquelas apresen-

tadas no Esquema abaixo. (L463: 155)4

Ao lado do diagrama, Peirce incluiu os seguinte comentário:

Um Abstrativo pode apenas ser Descritivo, não Designativo

97

Figura II.1.2.d. Diagrama para 10 classes encontrado em

L463: 155. Ele parece ter sido desenhado a partir do diagrama

de Welby (L463:146, figura II.1.2.a).

Page 99: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

nem Copulativo, enquanto um Copulativo pode apenas ser

Coletivo, não Abstrativo nem Concretivo. (L463: 155)5

Conforme vimos na seção I.1.2, os termos utilizados por

Peirce neste comentário referem-se às modalidades das tricoto-

mias Od ([natureza do] Objeto dinâmico) e Oi ([natureza do] Objeto

imediato). Este comentário é bastante curioso neste contexto, uma

vez que, conforme vimos na seção I.1.3, estas duas tricotomias só

passam a fazer parte das classificações levadas em consideração

pelos especialistas a partir da divisão em 28 classes. Além disso,

embora estes diagramas sejam estruturalmente bastante parecidos

com o diagrama do Syllabus, e suas variações, existem diferenças

importantes em relação às classes expressas em suas células.

Se considerarmos que a seqüência de leitura dos algarismos

que compõem as classes no diagrama de Welby é: (i) canto superior

esquerdo, (ii) canto inferior, (iii) canto superior direito; isso cor-

responderia, em termos de ordem de determinação (ver seções I.1.2

e I.1.3), a dizer que O determina S, que determina I. Isso parece estar

em contradição com o que ocorre no diagrama do Syllabus, onde,

conforme discutido na seção I.1.3, S determina S-Od, que determina

S-If. Contudo, se levarmos em consideração que, no diagrama de

Welby, o que estamos chamando de ‘O’ é descrito como “o Modo de

98

Page 100: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Ser de seu Objeto” (e não ‘a relação com seu Objeto), e, de forma

similar, o que estamos chamando de I é descrito como “o Modo de

Ser de seu Interpretante,” então o que temos aqui deveria, na ver-

dade, ser entendido como O (Oi ou Od) determina S, que determina

I (Ii, Id ou If). Esta não é a ordem de determinação que gera as 10

classes de signos descritas no Syllabus, mas também não está em

contradição com ela. Conforme vimos na seção I.1.3, esta é a estru-

tura básica da ordem de determinação que dá origem às 28 classes.

Tudo isso nos leva a crer que, embora a estrutura do diagrama

de Welby e do diagrama do Syllabus sejam muito similares, e embo-

ra os dois sejam diagramas para 10 classes, as classes apresentadas

nas duas figuras podem não ser as mesmas.6

A construção do dia-

grama dinâmico 3N3, apresentado no capítulo III.2 desta tese, teve,

como motivação principal, ajudar na resolução deste tipo de

incerteza a respeito das classificações.

99

Page 101: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Notas

1 . The affinities of the ten classes are exhibited by arranging their designations in the

triangular table here shown, which has heavy boundaries between adjacent

squares that are appropriated to classes alike in only one respect. All other adja-

cent squares pertain to classes alike in two respects. Squares not adjacent pertain

to classes alike in one respect only, except that each of the three squares of the ver-

tices of the triangle pertains to a class differing in all three respects from the classes

to which the squares along the opposite side of the triangle are appropriated. The

lightly printed designations are superfluous. (CP 2.264)

2 . The number above to the left describes the Object of the Sign. That above to the right

describes its Interpretant. That below describes the Sign itself.

1 signifies the Possible Modality, that of an Idea.

2 signifies the Actual Modality, that of an Occurrence.

3 signifies the Necessary Modality, that of a Habit.

(L463 : 146, EP2: 491)

3 . Este parece ser mais um dos muitos esboços para a carta efetivamente envia-

da que é, ao que tudo indica, aquela datada de 23 de dezembro de 1908,

publicada em SS 80-85 e EP2: 478-481, e não contém nenhum diagrama.

4 . [...] the three divisions according to the Modality of Being of the Sign itself, of its

Object, and of its Interpretant cannot make 27 classes of Signs but only Ten; name-

ly, appropriating a little triangular space with a vertex down ∇ to the description

of each class, and denoting by

1 Possible 2 Actual Modality, I write one of these numbers in 3 Necessitant each of the three corners of the triangular space.

100

Page 102: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

The lower corner to characterize the Mode of Being of the Sign Itself.

The left hand upper corner to characterize the Mode of Being of its Object.

The right hand upper corner to characterize the Mode of Being of its Interpretant.

Then the Ten resulting classes of signs will be those shown in the Scheme below.

(L463: 155)

5 . An Abstractive can only be Descriptive not Designative nor Copulative while a

Copulative can only be Collective, not Abstractive nor Concretive. (L463: 155)

6 . Esta também é a opinião de Nathan Houser (1999, comunicação pessoal).

101

Page 103: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

II.2- Modelos desenvolvidos por comentadores

Introdução

Este capítulo traz um estado da questão a respeito dos diagramas

para as classes de signos de Peirce. Ele complementa o capítulo

anterior, com a análise de diagramas desenvolvidos por comenta-

dores da obra de Peirce. A primeira seção apresenta diagramas que

foram concebidos especificamente para modelar a divisão em 10

classes, conforme proposta no ‘Syllabus’ de 1903. O diagrama

10cubes, apresentado no capítulo III.1, se encaixa nesta categoria de

diagramas, oferecendo uma alternativa dinâmica aos modelos

estáticos aqui expostos.

A segunda seção apresenta modelos mais flexíveis, que

podem ser aplicados a mais de um tipo de classificação. O diagrama

3N3, apresentado no capítulo III.2, também é um modelo deste tipo,

com a vantagem de ser interativo.

II.2.1- Modelos para 10 classes de signos

Os diagramas de M. Balat

M. Balat faz parte de um grupo de semioticistas, ligados à

Universidade de Perpignan, na França (outro expoente deste grupo

102

Page 104: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

é R. Marty, cujos diagramas são apresentados na próxima seção),

que, principalmente durante a década de 1980, se dedicaram ao

estudo das estruturas e relações presentes nas classificações sígni-

cas de Peirce. Em Balat (1990), ele apresenta três modelos, aos

quais nos referiremos como ‘diagrama triangular’ (Balat 1990: 81,

figura II.2.1.a), ‘diagrama quadrado’ (Balat 1990: 85, figura

II.2.1.b), e ‘diagrama 3D’ (Balat 1990: 86, figura III.1.2.a). Este

último serviu de inspiração para a criação do diagrama dinâmico

10cubes, e é analisado na seção III.1.2.

Nos três diagramas, a notação para as 10 classes é a mesma

adotada nesta tese (seqüências de algarismos 1, 2 e 3), e existem

conexões orientadas (flexas) ligando certas classes. Estas conexões

são exatamente as mesmas nos três diagramas (conectam as mes-

mas classes, apontando nas mesmas direções), embora o arranjo

geral dos diagramas seja bastante diferente. O diagrama quadrado

(figura II.2.1.b) e o diagrama 3D (figura III.1.2.a) adotam a

mesma convenção para representar as modalidades tricotômicas

que formam as classes: algarismos romanos (I, II, III) para as

modalidades da primeira; letras (A, B, C) para as modalidades da

segunda; e algarismos arábicos (1, 2, 3) para as modalidades da ter-

ceira tricotomia.

103

Figura II.2.1.a. ‘Diagrama triangular’ de M. Balat para as 10

classes de signos de Peirce (Balat 1990: 81).

Figura II.2.1.b. ‘Diagrama quadrado’ de M. Balat para as 10

classes de signos de Peirce (Balat 1990: 85).

Page 105: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Balat (1990: 86) descreve três tipos de relação que seriam

representados por suas conexões orientadas —incorporação, instan-

ciação, e regência1—, mas não chega, contudo, a definir o significado

de todas elas. Ele faz menção especifica somente às flechas horizon-

tais encontradas no diagrama quadrado (figura II.2.1.b), agrupadas

segundo as colunas (I, II e III) nas quais se encontram. Segundo ele,

aquela da coluna I significa incorporação, as da coluna II instanci-

ação, e as da coluna III regência.

Comparando a posição de Balat com a descrição das relações

entre classes apontadas por Peirce no ‘Syllabus’ de 1903 (ver tabela

I.1.3.b, seção I.1.3), Serson (1997: 134-136) faz uma leitura um

pouco diferente destas conexões orientadas. Ele as divide entre

relações de “instanciação” (flechas horizontais) e de “envolvimento”

(flechas verticais), fazendo notar que existe um pequeno problema

nesta leitura —“‘anomalias’ ou exceções a uma clara distinção entre

instanciação e envolvimento” (Serson (1997: 136)— no que diz

respeito às flechas que unem as classes 333 e 332, e as classes 211 e

111. Entre as duas primeiras (333/332), segundo ele, existiria uma

relação de instanciação que no diagrama aparece como uma flecha

vertical. Entre as outras duas (211/111), ao contrário, uma relação de

envolvimento está representada no diagrama por uma flecha horizon-

104

Page 106: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

tal. Serson, aparentemente, deixou de perceber que no diagrama tri-

angular de Balat (1990: 81, figura II.2.1.a) tais ‘anomalias’ não ocor-

rem, sendo possível dizer que, neste, todas as flechas apontando

para baixo representam relações de instanciação, e todas aquelas

apontando para o alto representam relações de envolvimento.

Se o diagrama triangular (figura II.2.1.a) destaca-se pela

facilidade e coerência na interpretação de suas conexões orien-

tadas, a principal vantagem do diagrama quadrado (figura II.2.1.b)

é apresentar, de forma clara, os diversos subgrupos que existem

dentro das 10 classes de signos. Tendo em mente que algarismos

romanos correspondem às modalidades da primeira, letras corres-

pondem às modalidades da segunda, e algarismos arábicos corres-

pondem às modalidades da terceira tricotomia, é fácil notar a pre-

sença de nove subgrupos:

Quali-signos (primeira coluna, I)

Sin-signos (segunda coluna, II)

Legi-signos (terceira coluna, III)

Ícones (conjunto delimitado pelo quadrilátero A)

Índices (conjunto delimitado pelo quadrilátero B)

Símbolos (conjunto delimitado pelo quadrilátero C)

Remas (primeira linha, 1)

105

Page 107: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Dicentes (segunda linha, 2)

Argumentos (terceira linha, 3)

O diagrama dinâmico 10cubes, apresentado no capítulo III.1 pode

ser visto como uma tentativa de recuperar estas propriedades

heurísticas a partir de uma interface baseada no diagrama 3D (figu-

ra III.1.2.a), utilizando estratégias de modelagem apontadas no

capítulo II.3.

Os diagramas de F. Merrell

O semioticista norte-americano F. Merrell desenhou diversos dia-

gramas para as 10 classes de signos de Peirce. Entre eles, encontra-

se uma tabela que mostra as combinações entre modalidades tri-

cotômicas que geram as 10 classes (Merrell 1996: 8), adaptada na

figura I.1.3.b. O primeiro diagrama apresentado nesta seção

(Merrell 1991: 17, figura II.2.1.c) refere-se exclusivamente às 10

classes e suas possíveis relações. O segundo (Merrell 1997: 298-

299, figura II.2.1.d) propõe uma relação entre as 10 classes e os três

tipos de hipo-ícone descritos por Peirce.

A figura II.2.1.c é uma versão simplificada do diagrama pro-

posto por Merrell (1991: 17). A versão original continha letras e out-

ros recursos que facilitavam a referência a um exemplo dado no

106

Figura II.2.1.c. Diagrama para as 10 classes de signos proposto por Merrell (1991: 17).

Page 108: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

texto do artigo (Merrell 1991) onde este diagrama aparece. A versão

reproduzida aqui preserva a estrutura de relações entre classes, que

é o aspecto mais relevante desta proposta de Merrell. As classes,

mais uma vez identificadas através da mesma notação adotada nesta

tese, estão divididas em três colunas, de acordo com o subgrupo,

definido pela modalidade da segunda tricotomia (ícone, índice,

símbolo), ao qual pertencem.

As conexões orientadas que aparecem neste diagrama são,

segundo Merrell (1991: 20), “operadores” que podem ser divididos

em quatro grupos, de acordo com seu tipo e direção. Conexões con-

tínuas representam “caminhos normais de transmutação sígnica,”

enquanto conexões segmentadas representam caminhos “anor-

mais” entre as classes. Conexões unidirecionais apontam caminhos

de “geração,” ou “evolução” de signos mais simples para signos

mais complexos, enquanto conexões bidirecionais significam que

um caminho de “evolução” pode, na direção contrária, significar

um provável caminho de “subdivisão” ou “degeneração” (Merrell

1991: 20).

Segundo Merrell (1991), relações entre classes como aquelas

que aparecem nos diagramas de Balat (figuras II.2.1.a, II.2.1.b e

III.1.2.a) podem ser entendidas como “relações de geração” dentro

107

Figura II.2.1.d. Diagrama relacionando as 10 classes de signos com os

três tipos de hipo-ícone proposto por Merrell (1997: 298-299).

Page 109: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

do processo da semiose, limitando-se a descrever as propriedades

estruturais de signos mais gerais. A estrutura proposta na figura

II.2.1.c, por outro lado, ao levar em conta os caminhos de “degen-

eração,” seria mais adequada para descrever o processo da semiose.

O segundo diagrama (Merrell 1997: 298-299, figura II.2.1.d)

coloca em foco a estrutura, e não as relações entre as 10 classes,

mostrando-as como conjuntos constituídos a partir das modalida-

des tricotômicas. Assim como na figura I.1.3.b (capítulo I.1, basea-

da em Merrell 1996: 8), as classes são identificadas com números

de 1 a 10, e as modalidades agrupadas conforme a tricotomia à qual

pertencem. Além das três grandes elipses que separam, por tricoto-

mia, as modalidades, vemos uma quarta elipse que abrange a

modalidade ‘ícone’ e contém os três tipos de hipo-ícone (imagem,

diagrama, metáfora). Embora esta questão não fique clara em seu

texto, isso sugere que, para Merrell, as classes que contém a modal-

idade ‘ícone’ poderiam ser subdivididas em classes hipo-icônicas

imagéticas, diagramáticas e metafóricas.

Outros modelos

Outros modelos para as 10 classes são aqueles propostos por Olsen

(1999, figura II.2.1.e), Hoffman (2000, figura II.2.1.f) e Amadori

108

Figura II.2.1.e. Modelo para as 10 classes de relações

triádicas proposto por Olsen (1999: 8).

Page 110: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

(2001: 34, figura II.2.1.g). Os modelos de Olsen e Amadori utilizam

cores. Os modelos de Amadori e Hoffman utilizam cubos represen-

tados em um espaço tridimensional para localizar as classes.

Olsen (1999) propõe um novo modelo de notação para as

classes de signos descritas por Peirce em seu Syllabus de 1903. Na

figura II.2.1.e vemos a estrutura básica desta notação, composta

por três correlatos (representados pelos círculos contendo os

números 1, 2 e 3) e suas relações (conexões entre os círculos).

Segundo Olsen, esta estrutura, composta apenas por relações diádi-

cas entre correlatos, combinada com um trio de cores que corres-

ponde às três categorias (primeiridade, secundidade e terceiri-

dade), é suficiente para modelar as “10 classes de relações triádi-

cas” descritas por Peirce (Olsen 1999: 8). A partir desta estrutura e

de uma notação suplementar para relações triádicas, Olsen chega a

uma notação para as 10 classes de signos descritas no ‘Syllabus’

(figura II.2.1.f). Conforme podemos notar, a conclusão de Olsen é

que a lógica da divisão dos signos exposta no ‘Syllabus’ permite a

existência de seis tipos diferentes de quali-signos (111), e três tipos

diferentes de sin-signos icônicos (211), sin-signos indexicais

remáticos (221) e sin-signos dicentes (222).

Os modelos de Hoffmann (2000, figura II.2.1.g) e Amadori

109

Figura II.2.1.f. Notação para as 10 classes de signos

descritas no ‘Syllabus,’ segundo o modelo proposto

por Olsen (1999: 18). De cima para baixo: na

primeira linha, seis tipos de quali-signos (111); nas

três linhas seguintes, três tipos de sin-signos icôni-

cos (211), três tipos de sin-signos indexicais remáti-

cos (221) e três tipos de sin-signos dicentes (222);

nas outras, notações para as classes remanescentes

(311, 321, 322, 331, 332, 333).

Page 111: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

(2001: 34, figura II.2.1.h) são bastante similares, e sua estrutura

interna se assemelha àquela indicada no diagrama 3D de Balat

(figura III.1.2.a). De fato, as relações de proximidade entre os

cubos, que nestes diagramas representam as classes, são exata-

mente as mesmas, embora, em comparação com o diagrama 3D de

Balat, o conjunto de cubos do diagrama de Amadori pareça ter sido

girado, e o de Hoffmann, além disso, pareça ter sido espelhado.2

O modelo de Hoffmann (2000, figura II.2.1.g) não utiliza

cores, e as classes são identificadas por uma numeração de 1 a 10

colocada sob a sigla SR (para sign-relation) em cada cubo. Ao lado e

abaixo do conjunto, vemos as siglas S (para sign itself), OR (para

object relation) e IR (para interpretant relation), acompanhadas pelos

números 1, 2, ou 3, indicando as modalidades tricotômicas repre-

sentadas em cada um dos eixos do diagrama.

No modelo de Amadori (2001: 34, figura II.2.1.h), as classes

estão identificadas por sua notação numérica habitual (a mesma

adotada nesta tese), e por um sistema de cores. Conforme podemos

acompanhar na legenda abaixo do diagrama, as modalidades de

primeiridade estão representadas por três tons do espectro verme-

lho, as modalidades de secundidade por tons de verde, e as modali-

dades de terceiridade por tons de azul.

110

Figura II.2.1.g. Modelo tridimensional para as 10 classes

de signos proposto por Hoffmann (2000).

Figura II.2.1.h. Modelo tridimensional para as 10 classes

de signos proposto por Amadori (2001: 34).

Page 112: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

II.2.2- Modelos para várias divisões de signos

Os modelos de R. Marty

Em seu livro L’algebre des signes (Marty 1990), e em uma série de

artigos (entre eles, Marty 1982a e 1982b), o semioticista francês R.

Marty apresenta um tratamento matemático das classificações síg-

nicas de Peirce, tendo em vista o que ele chama de “faneroscopia

analítica” (Marty 1990: 143). Através deste tratamento, ele não ape-

nas justifica matematicamente a construção das classes, mas tam-

bém deriva uma série de relações entre estas classes.

Aplicando o mesmo tratamento às 10 e às 28 classes, Marty

chega aos diagramas apresentados nas figuras II.2.1.i e II.2.1.j. Em

ambos, as classes são apresentadas em uma estrutura hierárquica

(Marty 1982: 178), onde, segundo o autor, cada classe implica a pre-

sença das classes que estão abaixo dela. As conexões segmentadas

no diagrama para 10 classes (figura II.2.1.i) indicam relações de

tipo especial (réplicas) entre legi-signos e sin-signos.

Marty também argumenta que seu tratamento permite esta-

belecer relações coerentes entre a classificação em 10 e a classifi-

cação em 28 classes de signos (Marty 1990: 225-228). A figura

II.2.1.k reproduz um diagrama, de estrutura similar ao da figura

II.2.1.i, onde Marty substitui o conteúdo das posições originais por

111

Figura II.2.1.i. Diagrama para as 10 classes de signos proposto

por Marty (1982a: 178, 1990: 171).

Page 113: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

112

Figura II.2.1.j. Diagrama para as 28 classes de signos proposto

por Marty (1982b: 10, 1990: 224).

Figura II.2.1.k. Diagrama onde as 28 classes de signos são

apresentadas dentro da estrutura hierárquica das 10 classes,

proposto por Marty (1990: 228).

Page 114: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

uma numeração que indica as classes que, dentro da divisão em 28,

correspondem a cada uma das 10 classes de signos. Ele não aplica o

mesmo tratamento às 66 classes de signos, como poderíamos

esperar, pois afirma acreditar que as classificações além da divisão

em 28 classes sejam redundantes (Marty 1990: 228-235).

O modelo de A. Maróstica

Percebendo uma relação entre a quantidade de tricotomias e o

número de classes nas divisões de signos descritas por Peirce, a

semioticista argentina A. Maróstica (1992) propõe um tratamento

das classificações baseado em equações da combinatória. Os resul-

tados numéricos obtidos são os mesmos que conseguimos através

da equação de Weiss & Burks (1945), (n+1) (n+2) / 2, onde n é o

número de tricotomias. O aspecto mais interessante deste artigo é a

proposta de uma estrutura diagramática, baseada no diagrama de

Welby (figura II.1.2.a), capaz de conter qualquer número de classes

(figura II.2.1.l). Esta estrutura é bastante similar à utilizada no dia-

grama dinâmico 3N3, apresentado no capítulo III.2.

O próximo capítulo discute algumas limitações encontradas

nestes modelos, e propõe novas estratégias que podem ser utilizadas

na construção de diagramas para as classes de signos de Peirce.

113

Figura II.2.1.l. Estrutura diagramática para abrigar diversas classificações

de signos proposta por Maróstica (1992: 130-132).

Page 115: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Notas

1 . La flèche du genre I se lit «incorpore». Ainsi une trace iconique (211) incorpore un

ton (111). Les trois flèches horizontales du genre II se lisent «s’instancie dans».

Ainsi un type iconique (311) s’instancie dans une trace iconique (211). Les flèches

horizontales du genre III ne concernent qu’indirectement la division

type/trace/ton: on dira qu’elles «régissent». En effet les symboles du genre C régis-

sent des indices du genre B. (Balat 1990: 86)

2 . Estas comparações podem ser facilmente conferidas utilizando o diagrama

dinâmico 10cubes, apresentado no capítulo III.1 desta tese. Em 10cubes, os

cubos que representam as classes foram arranjados de acordo com a posição

das mesmas no diagrama 3D de Balat.

114

Page 116: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

II.3- Novas estratégias de modelagem

Introdução

Tendo em vista o que foi discutido no capítulo sobre sign design

(capítulo I.3), e os modelos propostos por Peirce e seus comenta-

dores apresentados nas seções anteriores, este capítulo aponta

algumas estratégias de modelagem que podem ser empregadas na

construção de novos diagramas para as classes de signos. Os mode-

los analisados até aqui são, em sua grande maioria, monocromáti-

cos, bidimensionais e estáticos, características em grande medida

impostas por limitações típicas do meio impresso.

Estas características, contudo, não devem ser confundidas

com limites próprios das formas visuais diagramáticas. Muito pelo

contrário, estudiosos do raciocínio diagramático, como Harel

(1995: 263), apontam a possibilidade de se resolver problemas

notacionais específicos através do uso de formalismos visuais tridi-

mensionais e simulações gráficas dinâmicas. Sivasankaran & Owen

(1992), por sua vez, são enfáticos quanto à elevação do status de fer-

ramenta investigativa de um diagrama através do uso de recursos da

computação gráfica:

115

Page 117: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

As restrições do formato convencional, estático e bidi-

mensional dos diagramas, faz com que seja impossível

para o usuário examinar mais de um punhado de

relações simples por vez. A adição de uma terceira

dimensão espacial utilizável, e do tempo como uma

quarta dimensão, aumentam de modo considerável a

utilidade de um diagrama enquanto ferramenta.

(Sivasankaran & Owen 1992: 453)

II.3.1- Modelos que utilizam cores

Com exceção dos modelos de Olsen (1999, figura II.2.1.e) e

Amadori (2001, figura II.2.1.g), nenhum dos diagramas apresenta-

dos nas seções anteriores utiliza recursos baseados em variações

cromáticas. A introdução de cores além do preto (até mesmo tons

de cinza) permite, entre outras coisas, que o observador estabeleça

relações entre elementos que se encontram espacialmente dis-

tantes no diagrama. Embora seja, de modo geral, reconhecido como

um aspecto interessante das representações visuais, o uso da cor em

diagramas é um tópico raramente abordado por especialistas em

raciocínio diagramático.

116

Page 118: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Em Anderson & Armen (1998), os autores apresentam uma

generalização da teoria do raciocínio inter-diagramático proposta por

Anderson & McCartney (1995), incorporando o uso da cor como

uma dimensão formalizável. Esta teoria associa conhecimentos vin-

dos da teoria da cor ao estudo daquilo que pode ser computado a

partir de representações diagramáticas. A estratégia geral proposta

consiste em associar valores de uma escala cromática aos elementos

de um problema, e funções de combinação destes valores aos ope-

radores que ajudarão a definir e resolver este problema.

Exemplos de aplicação dados por Anderson & Armen (1998)

incluem o agendamento de reuniões e a combinação de seqüências

de DNA. No agendamento de reuniões, a disponibilidade de cada

participante a cada hora do dia é representada por um grau na escala

de cor, e a combinação destes fornece, para cada hora, um valor

geral de disponibilidade. No caso do seqüenciamento de DNA, as

seqüências de bases são representadas por seqüências de tons em

um sistema de cor, e as várias possibilidades de combinação de

seqüências são exploradas em termos de combinações de cores.

As figuras II.3.1.a e II.3.1.b, mostram como esta estratégia

pode ser aplicada para representar as 10 classes de signos em ter-

mos de cores nos sistemas RGB (vermelho, verde, azul) e CMY

117

Page 119: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

(ciano, magenta, amarelo). As figuras II.3.1.c e II.3.1.d mostram o

resultado da mesma estratégia aplicada às 66 classes, representadas

como tripletos que indicam a quantidade de algarismos ‘1’, ‘2’ e ‘3’

que compõem a notação numérica para cada classe. Nas figuras

II.3.1.a e II.3.1.c, o sistema utilizado é o RGB. Em ambas, R (ver-

melho) corresponde à categoria peirceana de primeiridade, G

(verde) à secundidade, e B (azul) à terceiridade. As classes são vis-

tas como combinações de elementos destas três categorias, traduzi-

dos em termos de quantidades de ‘1’s (primeiridades), ‘2’s (secun-

didades) e ‘3’s (terceiridades). As escalas graduadas acima dos dia-

gramas indicam a correspondência entre a quantidade de elemen-

tos de uma determinada categoria em uma classe, e um ponto na

escala de cor. Por exemplo, na figura II.3.1.a, duas ‘terceiridades’

(como ocorre em 331 e 332) correspondem a 66% de azul (ou 170 de

B, em uma escala RGB que vai de 0 a 255). Nas figuras II.3.1.b e

II.3.1.d, onde o sistema utilizado é o CMY, as mesmas regras foram

adotadas, sendo que aqui M (magenta) corresponde a primeiridade,

Y (amarelo) corresponde a secundidade, e C (ciano) corresponde a

terceiridade.

118

Page 120: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

119

Figura II.3.1.a. Diagrama para 10 classes de signos, representadas

como combinações de cores do sistema RGB.

Figura II.3.1.b. Diagrama para 10 classes de signos, representadas

como combinações de cores do sistema CMY.

Page 121: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

120

Figura II.3.1.c. Diagrama para 66 classes de

signos, representadas como combinações de

cores do sistema RGB.

Figura II.3.1.d. Diagrama para 66 classes de

signos, representadas como combinações de

cores do sistema CMY.

Page 122: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

II.3.2- Modelos tridimensionais

Os diagramas apresentados nas seções anteriores, com exceção dos

modelos de Hoffman (2000, figura II.2.1.f) e Amadori (2001: 34,

figura II.2.1.g), além de serem, em sua maioria, monocromáticos,

são também bidimensionais. Mesmo aqueles que simulam ou

indicam uma terceira dimensão espacial (ver também o diagrama

3D de Balat, figura III.1.2.a), acabam sendo prejudicados por

serem, de fato, representações bidimensionais e estáticas, próprias

do meio impresso. Um dos cubos de Hoffman (o que corresponde à

classe 321, ou ‘SR6’, figura II.2.1.f), por exemplo, tornou-se

invisível devido ao arranjo do conjunto. No modelo de Amadori

(figura II.2.1.g), a identificação numérica da classe 222 teve que ser

colocada, em parte, sobre o cubo 311, à sua frente, contrariando as

regras de perspectiva. As vantagens da inclusão de uma terceira

dimensão espacial são mais apropriadamente desfrutadas em um

ambiente tridimensional, onde o observador possa modificar sua

posição em relação ao objeto observado.

Alguns cuidados devem ser tomados, contudo, para que

recursos tridimensionais não sejam interpretados de maneira erra-

da ou pouco precisa. Diferenças de tamanho, por exemplo, podem

ser interpretadas como diferenças de distância em relação ao

121

Page 123: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

observador. Campbell (2000: 80-83) demonstra como este proble-

ma pode ser, em alguns casos, contornado pelo uso de volumes

gradeados, cujo tamanho pode ser mais facilmente comparado.

A aplicação de cores em objetos tridimensionais também

exige cuidados, uma vez que variações de intensidade (por exemplo,

azul, azul escuro e azul claro) podem ser erroneamente interpre-

tadas como variações de sombra e luz. Isso ocorre, por exemplo, no

cubo 333 do diagrama de Amadori (figura II.2.1.g), que pode ser

visto como um objeto de uma cor só se não prestarmos atenção nas

legendas abaixo.

II.3.3- Modelos dinâmicos

Todos os diagramas examinados até aqui são, sem exceção, repre-

sentações estáticas, com as quais só podemos interagir sob o risco

de deforma-las (ao fazer uma cópia errada, por exemplo) ou

destrui-las (ao rasura-las ou apaga-las). A inclusão de uma dimen-

são temporal não apenas facilita o entendimento de alguns diagra-

mas (os modelos de Hoffman e Amadori comentados acima, por

exemplo, se beneficiariam neste aspecto), como também possibili-

ta a representação de outros tipos de relações, que em diagramas

122

Page 124: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

estáticos não são facilmente perceptíveis ou simplesmente não

podem ser representadas.

A possibilidade de representar muitos níveis e tipos de

relação ao mesmo tempo, contudo, pode se tornar um problema

caso não seja possível selecionar os tipos de relação que desejamos

observar. Ocasionalmente, pode ser mais útil observar apenas um

nível de relações, descartando detalhes do que ocorre em níveis

diferentes. Harel (1995: 262) aponta vantagens na capacidade de

executar “zoom outs”, suprimindo detalhes menores, ao se trabalhar

com diagramas muito complexos. Em modelos convencionais,

estáticos, a única forma de se obter isso é observar diversas versões

do mesmo diagrama. Em diagramas dinâmicos, através de recursos

computacionais, este é apenas um dos muitos tipos de interação que

podem ser implementados.

Em ambientes tridimensionais e dinâmicos, relações podem

ser representadas por mudanças na posição e volume de objetos

tridimensionais, além de mudanças na direção e forma de movi-

mento. Relações que são representadas por meio de conexões orien-

tadas, por exemplo (ver figuras II.2.1.a, II.2.1.b, II.2.1.c, II.2.1.i e

II.2.1.j), podem ser traduzidas em termos de movimento. Em dia-

gramas que se transformam com o tempo, o exame dos processos

123

Page 125: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

desencadeados pode se basear em novas considerações: mudanças

na configuração, ritmo das mudanças, sincronicidade, etc.

Os diagramas dinâmicos apresentados nos próximos capí-

tulos são exemplos de como as estratégias apontadas aqui podem

ser aplicadas na construção de modelos das classificações de sig-

nos de Peirce.

124

Page 126: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Parte III. Novos diagramas para as classes de signos

Page 127: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

III.1- 10cubes: explorando a estrutura das

10 classes de signos de Peirce

Introdução

10cubes é um aplicativo, desenvolvido em linguagem Java, que têm

como objetivo modelar de forma dinâmica (i.e., incorporando,

através do uso de recursos informáticos, interatividade e possibili-

dades de modificação temporal) as relações existentes na divisão

dos signos em 10 classes proposta por Charles Sanders Peirce em

seu ‘Syllabus’ de 1903 (MS 540, CP 2.233-72, EP2: 289-99). Ele é

um modelo tridimensional e interativo para estas classes, que pode

ser manipulado em tempo real.1

O projeto para a elaboração deste diagrama iniciou com a

constatação da existência de certas limitações nos modelos visuais

para as classes e as classificações de signos propostos por Peirce

(MS 540: 17, L463: 146, CP 2.264, CP 8.376, EP2: 296, 491), e por

seus comentadores (em particular Marty 1990, Balat 1990, Merrell

1991 e 1997, Maróstica 1992, Müller 1993). Estas limitações, de

modo geral, estavam ligadas principalmente à natureza estática,

bidimensional e monocromática destes modelos, características

em grande medida impostas pelas restrições existentes nos proces-

126

Page 128: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

sos tradicionais de impressão.

Em Farias & Queiroz (2000a), argumentamos que existiam

boas razões para crer que, fazendo uso de recursos oferecidos pela

computação gráfica e pelas tecnologias digitais em geral,

poderíamos chegar a uma nova família de diagramas, mais efi-

cientes enquanto ferramentas de investigação das classes e classifi-

cações sígnicas propostas por Peirce. Estas tecnologias permitiri-

am, por exemplo, a construção de diagramas em ambientes digitais

tridimensionais, aos quais poderíamos atribuir movimento e cores

de maneira significativa. Fazendo uma referência ao trabalho de

Sivasankaran & Owen (1992), denominamos estes diagramas ‘dia-

gramas dinâmicos’.

Este capítulo apresenta as questões que levaram à elabo-

ração de 10cubes, descreve sua fase de desenvolvimento, e avalia

seus resultados.

III.1.1- Conceitualização

Conforme já vimos no capítulo I.1.3 desta tese, Peirce propõe, em

seu ‘Syllabus’ de 1903 (MS 540, EP2: 289-99), uma divisão dos sig-

nos em 10 classes. De forma bastante resumida (para uma descrição

mais detalhada consultar o capítulo I.1.3), podemos dizer que a

127

Page 129: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

divisão descrita neste manuscrito é constituída a partir de uma

análise que leva em consideração a existência de três tricotomias,

ou três aspectos segundo os quais os signos podem ser observados:

(i) signo em si mesmo, (ii) relação do signo com seu objeto, e (iii)

relação do signo com seu interpretante. Considerando que cada

uma destas tricotomias pode ser entendida como uma pergunta

sobre o signo (cf. Houser 1991: 432), podemos afirmar que esta

análise prevê também a existência de três tipos de resposta para

estas perguntas, baseadas, por sua vez, nas categorias cenopitagóri-

cas de primeiridade, secundidade e terceiridade. O cruzamento das

três tricotomias com as três categorias forma uma matriz de 9 ele-

mentos (3 linhas por 3 colunas, ver figura I.1.3.a), da qual Peirce

extrai as 10 classes de signos. Em suas descrições destas 10 classes,

Peirce aponta também para a existência de certas relações especiais

entre as classes, discutidas no mesmo capítulo I.1.3.

A partir das descrições das 10 classes, o próprio Peirce, e

alguns de seus comentadores, elaboraram diagramas que tinham

como objetivo facilitar a visualização, e, conseqüente, a compreen-

são destas classificações. Contudo, conforme vimos na Parte II

desta tese, maioria destes diagramas mostra apenas as classes, ou as

relações entre tricotomias e categorias cenopitagóricas que formam

128

Page 130: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

estas classes, deixando de lado as relações existentes entre as clas-

ses. O objetivo principal do projeto que levou à implementação do

diagrama dinâmico 10cubes era elaborar um diagrama onde fosse

possível observar tanto as relações entre tricotomias e categorias, que

formam as classes, quanto as relações entre as classes presentes nas

10 classes de signos.

III.1.2- Desenvolvimento

Projeto de interface

O desenvolvimento do diagrama 10cubes teve como ponto de parti-

da uma estrutura proposta pelo semioticista francês Michel Balat

(1990: 86, figura III.1.2.a). O primeiro passo para a concepção de

uma versão dinâmica deste modelo consistiu na elaboração de uma

nova notação para as classes, envolvendo cores e volumes. Este dia-

grama (figura III.1.2.b) foi apresentado pela primeira vez em

Farias & Queiroz (2000a), sob o título de “SANDERS I”.

Diferentemente da maior parte dos diagramas elaborados

para as classes de signos (ver capítulo II.2 para uma análise mais

detalhada destes diagramas), o diagrama de Balat apresentado na

figura III.1.2.a, embora seja de natureza bidimensional, sugere

uma terceira dimensão espacial.

129

Figura III.1.2.a. Diagrama proposto por Michel Balat (1990:86).

Page 131: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Observe-se que, neste diagrama, as três tricotomias que for-

mam as 10 classes são representadas por três eixos, ao longo dos

quais estão dispostas suas modalidades de primeiridade, secundi-

dade e terceiridade. Estas modalidades são representadas por

algarismos romanos (I, II, III) no eixo da primeira tricotomia;

letras (A, B, C) no eixo da segunda tricotomia; e algarismos arábicos

(1, 2, 3) no eixo da terceira tricotomia.2

No espaço interno destes

eixos, a posição de cada classe é determinada por sua tradução em

um conjunto de coordenadas <x, y, z>, onde x corresponde a uma

posição no eixo da primeira tricotomia (I = quali-signo, II = sin-

signo, III = legi-signo)3, y a uma posição no eixo da segunda (A =

ícone, B = índice, C = símbolo), e z a uma posição no eixo da terceira

tricotomia (1 = rema, 2 = dicente, 3 = argumento). O diagrama é

desenhado de tal maneira que no ponto de intersecção entre os três

eixos localiza-se a classe 111 (quali-signo), que corresponde à coor-

denada <I, A, 1>. Seguindo a mesma lógica, a classe 211 (sin-signo

icônico) posiciona-se logo acima, em <II, A, 1>; 322 (legi-signo

indexical dicente) posiciona-se em <III, B, 2>; 333 (argumento)

posiciona-se em <III, C, 3>, e assim por diante.

Em SANDERS I (figura III.1.2.b), as classes foram mantidas

nas mesmas posições relativas, embora agora identificadas de acor-

130

Figura III.1.2.b. SANDERS I: Diagrama proposto por Priscila

Farias e João Queiroz (2000a).

Page 132: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

do com um novo formalismo visual. As tricotomias, antes represen-

tadas por três eixos em um sistema de coordenadas tridimension-

ais, passaram a ser representadas por três planos com uma inter-

seção comum, identificados pelas letras S (de Signo, abreviação

para ‘Signo em si mesmo’ ou ‘natureza do Signo’, primeira tricoto-

mia), O (de Objeto, abreviação para ‘relação do Signo com seu

Objeto [Dinâmico]’, segunda tricotomia), e I (de Interpretante,

abreviação para ‘relação do Signo com seu Interpretante [Final]’,

terceira tricotomia). Dentro deste sistema de superfícies coorde-

nadas, as classes passaram a ser representadas por cubos com faces

paralelas aos planos S, O e I.4

As faces destes cubos foram pintadas de cores diferentes

(vermelho para primeiridade, verde para secundidade e azul para

terceiridade)5

de acordo com os tipos de relação (1 = primeiridade,

2 = secundidade e 3 = terceiridade) que constituem cada classe, e o

plano (S, O ou I) ao qual cada uma destas faces é paralela. Por exem-

plo, o cubo que corresponde à classe 321 teve suas faces paralelas ao

plano S pintadas de azul, aquelas paralelas ao plano O pintadas de

verde, e as paralelas ao plano I pintadas de vermelho.6

De acordo

com o mesmo formalismo, o cubo que corresponde à classe 222 teve

todas as suas faces pintadas de verde (figura III.1.2.c).

131

Page 133: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Uma conseqüência importante deste formalismo é que,

mesmo sem considerarmos quais faces de um cubo são paralelas a

quais planos, quando três de suas faces estão visíveis é fácil perce-

ber que cada cubo é um elemento diferente pois está pintado de

maneira diferente. Isso ocorre porque, em concordância com as

leis da combinatória, se estamos trabalhando com apenas três

cores, e se faces paralelas devem ter a mesma cor, existem apenas 10

maneiras diferentes de se pintar um cubo (figura III.1.2.d). Esta é

uma demonstração visual da Formula das aplicações crescentes de X em

Y (Rosenstiehl 1988: 302)7:

Esta formula combinatória permite calcular o número C de combi-

nações possíveis de n elementos pertencentes a um alfabeto k, sem

considerar a ordem destes elementos como fator de diferenciação.8

Note-se que, no caso das classes (combinações) criadas a partir das

tricotomias, o valor de k (número de elementos no alfabeto) não

seria uma variável, e sim uma constante igual a 3, pois 3 é o número

de elementos que fazem parte de qualquer tricotomia. Esta fórmula

converge com aquela proposta por Weiss & Burks (1945: 387):

C=(n+1) (n+2) /2,9

C k nk n

n( , ) =

+ −

1

132

Figura III.1.2.c. Os cubos que correspondem às classes 321 (à esquerda) e 222

(à direita), segundo o formalismo adotado em SANDERS I.

Page 134: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

a partir da qual podemos calcular o número C de classes que forma

uma classificação de signos válida dentro do sistema peirceano a

partir da determinação de um número n de tricotomias.

Tendo resolvido a questão da notação para as classes, agora

representadas por cubos coloridos, o próximo passo foi determinar

a melhor posição para estes cubos dentro dos planos do diagrama,

preservando as posições relativas das classes. Ao observar um cubo

em um espaço tridimensional, dependendo de nosso ponto de vista

poderemos enxergar apenas uma, duas, ou três de suas faces de cada

vez. Além disso, ao observarmos um conjunto de cubos, é bem

provável que alguns deles, dependendo de seu arranjo, sejam com-

pleta ou parcialmente escondidos pelos outros. Em SANDERS I a

posição relativa dos cubos segue a posição das classes no diagrama

de Balat (figura III.1.2.a), mas existe um espaço entre eles que

facilita a visualização de cubos que estejam mais distantes do obser-

vador. Conforme já vimos no capítulo II.2.1., caso houvéssemos

optado por posicionar os cubos sem nenhum espaço entre eles,

como em Hoffman (200o, figura II.2.1.g) ou Amadori (2001: 34,

figura II.2.1.h), perderíamos a capacidade de visualizar pelo menos

uma das faces de cada cubo (com exceção do cubo 333 em Amadori),

mesmo tendo a possibilidade de girar o conjunto de cubos, con-

133

Figura III.1.2.d. As 10 únicas maneiras diferentes de se pintar as

faces paralelas de um cubo utilizando três cores. Seguindo a mesma

lógica da figura III.1.2.c, estes 10 cubos podem ser colocados em

correspondência com as 10 classes de signos.

Page 135: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

forme proposto em SANDERS I.

Em Farias & Queiroz (2000a) previmos que a implementação

desta possibilidade de girar o conjunto de cubos não apenas permi-

tiria visualiza-los todos, mas também facilitaria o estabelecimento

de relações significativas entre grupos especiais de classes.

Mostramos que seria possível, por exemplo, observar o diagrama

tendo à frente o plano O (figura III.1.2.e), e rapidamente perceber a

existência de três grupos de cubos/classes: (i) aqueles com faces ver-

melhas paralelas a este plano (ícones), (ii) aqueles com faces verdes

paralelas a este plano (índices), e (iii) aqueles com faces azuis para-

lelas e este plano (símbolos). O mesmo ocorreria ao observarmos o

diagrama tendo à frente os planos S ou I (figuras III.1.2.f e

III.1.2.g). Esta importante propriedade heurística, também pre-

sente em outro diagrama de Balat (1990: 85, figura II.2.1.b, onde

podemos observar claramente 9 grupos de classes formados pelas 10

classes de signos) havia sido perdida em seu diagrama ‘3D’.

Neste contexto, é possível afirmar que o arranjo específico de

cubos, cores, e posições de SANDERS I cumpria, já, boa parte dos

objetivos do projeto, uma vez que permitia que observássemos tanto

as relações entre tricotomias (combinações de faces coloridas que

formam os cubos) quanto um aspecto importante da relação entre

134

Figura III.1.2.e. SANDERS I visto a partir do plano O. Prestando atenção nas cores

(vermelho, verde ou azul) das faces que são paralelas a este plano, é fácil observar a

existência de três grupos especiais de cubos: ícones (à esquerda, em vermelho),

índices (ao meio, em verde) e símbolos (à direita, em azul).

Figura III.1.2.f. SANDERS I visto a partir do plano S. Prestando atenção nas cores

(vermelho, verde ou azul) das faces que são paralelas a este plano, é fácil observar a

existência de três grupos especiais de cubos: quali-signos (abaixo, em vermelho),

sin-signos (no meio, em verde), e legi-signos (no alto, em azul).

Page 136: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

as classes (a posição de cada classe em relação às demais, determi-

nada em função das tricotomias e das modalidades cenopitagóri-

cas). Em Farias e Queiroz (2000b) chamamos estas relações de

“relações estáticas,” e afirmamos que o projeto não se limitaria a

este tipo de relação. Conforme mencionado no primeiro parágrafo

desta seção, pretendíamos construir um diagrama onde fosse pos-

sível visualizar também as relações entre as classes presentes nas 10

classes de signos.

Para representar este outro tipo de relação, ao qual demos o

nome de “relações dinâmicas”, propusemos, em Farias & Queiroz

(2000a), a adoção de um conjunto de regras visuais envolvendo o

aparecimento e desaparecimento de cubos específicos, e difer-

enças nos tamanhos destes cubos. Para esclarecer melhor este

ponto, elaboramos, como exemplo, um storyboard (figura

III.1.2.h) contendo os principais passos das relações ‘dinâmicas’

entre as 10 classes que aparecem nos diagramas de Balat (figuras

III.1.2.a, II.2.1.a e II.2.1.b), na forma de conexões orientadas.

Segundo interpretação de Serson (1997:134-136), as relações rep-

resentadas por estas flechas podem ser divididas entre relações de

‘instanciação’ e de ‘envolvimento’.10

Neste storyboard, foram adotadas duas regras visuais diferen-

135

Figura III.1.2.g. SANDERS I visto a partir do plano I. Prestando atenção nas cores

(vermelho, verde ou azul) das faces que são paralelas a este plano, é fácil observar a

existência de três grupos especiais de cubos: remas (à esquerda, em vermelho),

dicentes (ao meio, em verde), e argumentos (à direita, em azul).

Page 137: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

tes para representar os dois tipos de relação: relações de instanci-

ação estão representadas por uma substituição das classes ‘instan-

ciadoras’ pelas classes ‘instanciadas’; e relações de envolvimento

estão representadas pela aparição simultânea das duas classes rela-

cionadas, sendo que as classes ‘envolvedoras’ estão representadas

por cubos maiores do que os das classes ‘envolvidas’.

Implementação

A primeira versão do software 10cubes foi baseada, principalmente,

nas idéias apontadas em Farias & Queiroz (2000a), e descritas nos

parágrafos acima. Tratava-se de uma versão bastante simples e

direta de SANDERS I: um modelo informático tridimensional, bas-

tante similar ao da figura III.1.2.b, que podia ser girado em qual-

quer direção utilizando-se o recurso de clicar-e-arrastar com o

mouse. A este modelo, foi acrescentado um segundo recurso de

interatividade que não estava previsto no projeto original: ao clicar

sobre um cubo, este ficava ‘realçado’, com suas arestas em amarelo,

e uma legenda indicando qual a classe por ele representada apare-

cia logo acima do diagrama (figura III.1.2.i).

A partir da versão alpha-2, novos recursos foram sendo acres-

centados. Em primeiro lugar, o recurso da legenda para os

136

Figura III.1.2.h. Storyboard com os 6 passos principais das relações de

instanciação e envolvimento entre as 10 classes de signos. No sentido da

leitura, temos:

1- 333…

2- …instancia 332, que envolve 331.

3- 332 instancia 322, que envolve 321. 331 instancia 321.

4- 321 envolve 311.

5- 322 instancia 222, que envolve 221. 321 instancia 221, que envolve 211. 311

instancia 211,…

6- … e 211 envolve 111.

Page 138: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

cubos/classes foi aprimorado, de forma que, além da descrição em

termos numéricos (por exemplo, “321”), os cubos também fossem

descritos verbalmente (por exemplo, “legi-signo indexical remáti-

co”). Também ficou estabelecido que as cores utilizadas nas legen-

das, para ambas as formas de descrição, deveriam obedecer o mesmo

critério utilizado para colorir os cubos: vermelho para primeiridade,

verde para secundidade, azul para terceiridade (figura III.1.2.j).

O próximo recurso acrescentado foi um botão reproduzindo

os três planos do diagrama (botão ‘S/O/I’), criado para possibilitar

‘saltos diretos’ para vistas especiais, sem a necessidade de girar o

modelo. Ao clicar sobre um dos planos que formam este botão,

saltamos de qualquer posição para uma vista do modelo que tem

como plano principal (de frente para o usuário) o plano escolhido.

Concomitantemente, ao lado do botão S/O/I podemos observar uma

legenda que informa a tricotomia à qual o plano selecionado se ref-

ere (por exemplo, ‘relação SIGNO/OBJETO’),11

e quais são suas

modalidades (por exemplo, ícones, índices e símbolos). Ao clicar-

mos sobre uma destas modalidades, (por exemplo, ‘índices’), as

faces dos cubos nas quais ela aparece (neste caso, 221, 222, 321 e

322) passaram a ser sinalizadas (figura III.1.2.k).

A partir da versão alpha-5, estabeleceu-se uma diferença no

137

Figura III.1.2.i. Aspecto da interface de 10cubes, versão alpha-1, com o cubo que

corresponde à classe 321 selecionado (arestas em amarelo).

Figura III.1.2.j. Aspecto da interface de 10cubes, versão alpha-2, com o

cubo 321 selecionado (arestas e diagonais amarelas nas 6 faces).

Page 139: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

modo de realçar um cubo selecionado, conforme se tratasse de uma

seleção de modalidade (por exemplo, ‘índices’), ou uma seleção de

classe (por exemplo, sin-signo indexical remático). Tendo em vista

evitar confusões na leitura das legendas, as faces de cubos realçadas

a partir das seleções ‘por modalidade’ passaram a ser realçadas por

traços amarelos em suas diagonais, enquanto os cubos selecionados

diretamente passaram a ser realçados por traços amarelos sobre

suas arestas. (figura III.1.2.l).

Além disso, outros botões e recursos foram acrescentados.

Logo abaixo do botão S/O/I, foi inserido um pequeno botão em

forma de flecha que faz com que o diagrama dê um giro de 180 graus.

À sua direita, um botão em forma de alvo faz com que o diagrama

retorne à posição inicial, sem nenhum cubo ou legenda seleciona-

dos. Este último mostra-se particularmente útil no caso de termos

efetuado diversos giros e seleções diferentes durante a navegação, e

desejarmos retornar à posição inicial.

Abaixo deste grupo, um botão na forma de cubo dá acesso à

visualização de duas seqüências de relações dinâmicas entre as

classes (figura III.1.2.m). O usuário pode optar entre visualizar as

relações de ‘instanciação/envolvimento’ (recurso previsto no pro-

jeto inicial, e comentado acima) ou as relações de ‘implicação’. Para

138

Figura III.1.2.k. Aspecto da interface de 10cubes, versão alpha-2, com as faces dos cubos

que correspondem aos índices selecionadas (contornos e diagonais em amarelo).

Figura III.1.2.l. Aspecto da interface de 10cubes, versão alpha-6, com as faces dos

cubos que correspondem aos ícones (diagonais em amarelo), e o cubo que corresponde

à classe 322 (arestas em amarelo) selecionados.

Page 140: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

estas últimas, que seguem a seqüência de conexões orientadas que

aparecem no diagrama proposto por Marty (1982a: 178, figura

II.2.1.i), foi adotada uma regra visual segundo a qual as

classes/cubos ‘implicadas’ vão se tornando visíveis, e fazendo com

que se tornem também visíveis as classes/cubos que elas ‘implicam’

(ver seqüência completa na figura III.1.2.n). Para as relações de

instanciação/envolvimento’ foram adotadas duas regras: (i) clas-

ses/cubos ‘instanciadoras’ são substituídas pelas classes/cubos

‘instanciadas’; e (ii) classes/cubos ‘envolvidas’ aparecem simul-

taneamente às classes/cubos ‘envolvedoras’ (ver seqüência com-

pleta na figura III.1.2.o).

Em ambas as seqüências, é possível optar entre uma visual-

ização em animação contínua (‘loop’), ou uma visualização passo-a-

passo (clicando diretamente nos ‘steps’, ou passos que compõem

cada seqüência). Cada ‘passo’ corresponde a uma configuração

específica do diagrama, e sua descrição é dada por uma legenda logo

abaixo do mesmo (figura III.1.2.p). Mesmo dentro deste modo de

visualização ‘animado’ ainda é possível selecionar cubos (clicando

diretamente sobre eles) e modalidades (clicando sobre uma modal-

idade dentro de uma lista de tricotomia) (figura III.1.2.q).

A partir da versão beta-1, foi acrescentado um recurso de

139

Figura III.1.2.m. Aspecto da interface de 10cubes, versão alpha-6, com o botão

‘Relations between classes’ selecionado (em amarelo).

Page 141: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

140

Figura III.1.2.n. Seqüência de passos da relação ‘Implication’ na versão alpha-7 de 10cubes.

Page 142: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

141

Figura III.1.2.o. Seqüência de passos da relação

‘Instantiation/involvement’ na versão alpha-6 de 10cubes.

Figura III.1.2.p. Aspecto da interface de 10cubes, versão alpha-6, com o

passo 6 da relação ‘instanciação/envolvimento’ selecionado. Somente os

cubos que correspondem a este passo (111, 211 e 222) estão visíveis.

Page 143: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

ajuda ao usuário, que consiste em um botão ‘help’ e uma página em

html, ligada a ele, com créditos e informações básicas sobre como

utilizar o diagrama (figura III.1.2.r). Também foi acrescentado à

interface o título do diagrama.

A página de ajuda ‘About 10cubes’ (figura II.1.2.s) têm como

objetivo principal apresentar ao usuário os recursos oferecidos pelo

diagrama. Ela consiste em uma lista de sugestões de ações e seus

efeitos, precedida por pequenas ilustrações informativas (ícones, no

jargão da informática) relativas a estas ações. Estas ilustrações bus-

cam traduzir de forma visual o conteúdo das informações dadas ver-

balmente, em uma tentativa de tornar o acesso a estas informações

mais intuitivo e mais rápido. Duas destas ilustrações informativas

são imagens em movimento (figuras III.1.2.t e III.1.2.u), recurso

utilizado para demonstrar com maior clareza as ações em questão.

A partir da versão alpha-6, 10cubes foi colocado online para

testes. A versão mais atualizada deste diagrama pode ser encontra-

da no seguinte endereço:

http://www.dca.fee.unicamp.br/~asrgomes/pri/d10cubes/

142

Figura III.1.2.q. Aspecto da interface de 10cubes, versão alpha-6, com o passo 6 da

relação ‘instanciação/envolvimento’, o cubo/classe 221, e a modalidade ‘ícone’ sele-

cionados. Somente os cubos que correspondem ao passo 6 da relação

‘instanciação/envolvimento’ (111, 211 e 222) estão visíveis. O cubo que corresponde à

classe 221 está com suas arestas realçadas (em amarelo), assim como as diagonais das

faces dos cubos/classes 111 e 211 paralelas ao plano O, que correspondem aos ícones (o

cubo/classe 311, que também possui uma face ‘icônica’, não está visível neste passo da

relação ‘instanciação/envolvimento’).

Page 144: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

143

Figura III.1.2.r. Aspecto da interface de 10cubes, versão beta-2, onde vemos,

acima, à esquerda, o título do diagrama, e à direita o botão ‘help’.

Figura III.1.2.s. ‘About 10cubes’, página de ajuda ao diagrama 10cubes.

Figura III.1.2.t. Seqüência de imagens do gif animado ‘clicar-

e-arrastar’, na página de ajuda ‘About 10cubes’.

Figura III.1.2.u. Seqüência de imagens do gif animado ‘loop-ou-steps’,

na página de ajuda ‘About 10cubes’.

Page 145: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

III.1.3- Experimentação

Conforme foi dito na introdução deste capítulo, 10cubes tem como

objetivo modelar de forma dinâmica (i.e., incorporando, através do

uso de recursos informáticos, interatividade e possibilidades de

modificação temporal) as relações existentes na divisão dos signos

em 10 classes proposta por Charles Sanders Peirce em seu ‘Syllabus’

de 1903. O projeto inicial previa os seguintes recursos:

(i) visualização das relações entre tricotomias que

formam as classes (figura III.1.2.c e III.1.2.d),

(ii) visualização de subgrupos significativos de

classes (por exemplo, ícones, índices e símbo-

los, figuras III.1.2.e, III.1.2.f, e III.1.2.g), e

(iii) visualização de relações dinâmicas entre as

classes (por exemplo, relações de instanciação e

envolvimento, figura III.1.2.h)

O recurso adicional (não previsto no projeto inicial) de apresentar

legendas para os cubos selecionados fez com que a visualização das

relações que formam as classes, prevista item (i) se realizasse de

forma mais eficiente, ao informar, de forma mais clara, as modali-

dades tricotômicas que constituem cada cubo/classe. O fato destas

legendas seguirem as mesmas regras para utilização de cores adota-

144

Page 146: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

da para pintar os cubos contribui para a percepção, por parte do

usuário, da existência de correspondências constantes entre cores e

categorias cenopitagóricas (primeiridade, secundidade, terceiri-

dade). O recurso de realçar, pintando de amarelo suas arestas, os

cubos selecionados, faz com que seja possível escolher um determi-

nado cubo e depois girar o diagrama livremente para analisar, por

exemplo, suas relações de proximidade e posição com os outros

cubos.

A inclusão do botão S/O/I e das legendas relativas às tricoto-

mias contribuiu para a realização do item (ii). De forma similar ao

que ocorre com as legendas para as classes, as informações verbais

fornecidas pelas legendas para as tricotomias fazem com que a visu-

alização de grupos especiais de cubos/classes ocorra de forma mais

clara e eficiente. Além disso, a possibilidade de selecionar estes

grupos de cubos/classes a partir das legendas proporciona maior

flexibilidade na visualização dos mesmos, uma vez que as faces dos

cubos em questão permanecem realçadas ao girarmos o diagrama.

Neste sentido, também cabe frisar a relevância da existência de

regras visuais diferentes para a seleção de classe (cubo inteiro

realçado por suas arestas) ou modalidade tricotômica (face do cubo

realçada por suas diagonais), o que permite a visualização de infor-

145

Page 147: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

mações ‘cruzadas’ sobre os cubos/classes (por exemplo, qual a

posição dos sin-signos icônicos dentro do grupo de classes de sig-

nos icônicos).

No que diz respeito ao item (iii), as duas seqüências imple-

mentadas (‘instanciação/envolvimento’ e ‘implicação’) demon-

stram que é possível implementar a visualização de relações

dinâmicas entre as classes em 10cubes de forma bastante simples.

Desenvolvimentos ulteriores deste diagrama poderão incluir a

implementação de outras seqüências de relações entre classes,

como, por exemplo, aquelas indicadas em Merrell (1991:17, figura

II.2.1.c). Outro desenvolvimento interessante seria a implemen-

tação de um mecanismo que possibilitasse a criação de seqüências

de relações por parte do usuário.

Grande parte dos botões e recursos descritos nesta seção não

estavam previstos no projeto original, e foram sendo acrescentados

ao projeto básico de interface a partir da utilização de versões pre-

liminares do diagrama. Embora nenhum tipo de teste de usabili-

dade tenha sido efetuado de forma sistemática, comentários feitos

por usuários, a partir da versão alpha-6 —colocada online para

testes em maio de 2001— também foram levados em consideração

no refinamento do design de interface. Estes comentários moti-

146

Page 148: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

varam a inclusão do mecanismo de ajuda descrito nos últimos pará-

grafos da seção anterior. Acredito que este mecanismo esteja de

acordo com os requisitos para um sistema de ajuda eficiente elen-

cados por especialistas em design de interface (Raskin 2000: 174-

177, Cato 2001: 265), e que a versão beta-2 de 10cubes seria avaliada

positivamente caso submetida a testes controlados de usabilidade.

147

Page 149: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Notas

1. Os pressupostos teóricos para a construção deste diagrama foram longamente

expostos em Farias & Queiroz (2000a), e de forma um pouco mais resumida

em Farias & Queiroz (2000b e 2000d).

2. Esta notação é a mesma utilizada em outro diagrama do mesmo autor, discuti-

do no capítulo II.2.1, e apresentado na figura II.2.1.b (Balat 1990: 85).

3. No artigo onde este diagrama é apresentado (Balat 1990), o autor utiliza a

nomenclatura “tom” (no original em francês, ton), “tipo” (type) e “traço”

(trace), respectivamente, para definir o significado das as posições I, II e III.

4. As abreviaturas ‘S’, ‘O’ e ‘I’, utilizadas para identificar as três tricotomias

envolvidas na classificação de signos em 10 classes proposta no Syllabus de

1903 (MS 540, CP 2.233-72, EP2: 289-299) não devem ser confundidas com

abreviaturas para os três correlatos do signo (Representamen, Objeto e

Interpretante) descritos neste mesmo manuscrito, e que poderiam sugerir

que a letra ‘R’ fosse utilizada no lugar de ‘S’ no diagrama aqui proposto.

5. A escolha das três cores primárias do sistema aditivo RGB (red, green, blue ou

vermelho, verde, azul) para representar as categorias cenopitagóricas, em

detrimento às três cores primárias do sistema subtrativo CMY (cyan, magen-

ta, yellow, ou ciano, magenta, amarelo) deve-se ao fato deste (RGB) ser o

sistema adotado pelas telas de computadores. Uma vez que o projeto

SANDERS I previa, desde o início, a implementação do diagrama em meios

digitais, considerou-se que o sistema RGB seria o mais adequado por ser

mais coerente com esta implementação. Também seria possível, conforme

discutido no capítulo II.3.1, considerar a utilização de combinações de cores

primárias para as diferentes faces dos cubos, mas isso se tornaria um pro-

148

Page 150: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

blema para a representação dos volumes em 3 dimensões, onde estas combi-

nações poderiam ser confundidas com a aplicação de sombras (algo similar

ocorre no diagrama de Amadori [2001: 34], comentado no mesmo capítulo).

6. A escolha das relações entre cores do sistema aditivo RGB e categorias ceno-

pitagóricas segue a ordem em estas cores costumam ser apresentadas (1=R,

2=G, 3=B). Mas não deixa de ser uma coincidência interessante o fato de um

dos exemplos mais conhecidos de ‘quali-signo’ (classe formada por três

relações de primeiridade), fornecido pelo próprio Peirce, ser “um senti-

mento de vermelho” (CP 2.254).

7. As letras utilizadas para nomear as variáveis da fórmula encontrada nesta

página foram alteradas para torna-la coerente com a fórmula de Weiss &

Burks (1945: 387) que será apresentada a seguir, tendo em vista uma maior

clareza na explicação de sua equivalência. Na fórmula originalmente apre-

sentada por Rosenstiehl,

,

B corresponde ao número de palavras com k letras que podem ser escritas

com um alfabeto de n letras. Em contraste com isso, na fórmula de Weiss &

Burks n corresponde ao número de tricotomias que formam uma classe (ou,

nos termos de Rosenstiehl, ao número de letras de que formam uma palavra)

dentro de uma classificação —sempre baseada no mesmo ‘alfabeto’ de 3

letras, que corresponde às 3 categorias cenopitagóricas. Para evitar conflitos

na nomeação das variáveis utilizadas nos próximos parágrafos, a fórmula de

Rosenstiehl foi alterada de forma que a variável ‘n’ correspondesse, como na

B n kn k

k( , ) =

+ −

1

149

Page 151: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

de Weiss & Burks, ao número de letras (ou número de tricotomias) que for-

mam uma palavra (ou classe).

8. Isso significa, por exemplo, que, ao calcular o número máximo de combi-

nações de três elementos a partir de um alfabeto {R, G, B}, a combinação (B,

G, G) será considerada igual a (G, B, G) e (G, G, B), assim como a combi-

nação (B, G, V) será considerada igual a qualquer outra combinação onde

apenas a ordem dos elementos do alfabeto {R, G, B} foi alterada.

9. A expressão ‘C=’ não faz parte da fórmula encontrada em Weiss & Burks

(1945: 387), e foi incluída aqui para dar maior clareza à explicação a seguir.

10. Para uma análise das relações representadas nos diagramas de Balat (1990),

ver seção II.2.1 desta tese.

11. As tricotomias representadas pelos planos S, O e I são descritas nestas legen-

das, respectivamente, como: SIGN/SIGN relation, SIGN/OBJECT relation, e

SIGN/INTERPRETANT relation. Acredito que seja fácil, para um usuário que

possua alguma familiaridade com a divisão em 10 classes proposta por Peirce,

intuir que as duas últimas legendas são versões abreviadas de ‘relação do

signo com seu objeto’ e ‘relação do signo com o interpretante’. A primeira

legenda, contudo, merece uma explicação. Trata-se, obviamente, de uma ten-

tativa de abreviação para a descrição verbal da primeira tricotomia. Peirce,

assim como boa parte de seus comentadores, refere-se a esta tricotomia

como ‘signo em si mesmo’ (EP2: 291, Lieb 1977: 160, Weiss & Burks 1945:

385, Houser 1991: 433, Müller 1994: 140, Santaella 1995: 120), ‘modo de

apreensão do signo em si mesmo’ (EP2: 482), ‘modo de apresentação do

signo’ (EP2: 483), ou ainda ‘natureza do signo’ (Houser 1991: 435, Santaella

1995: 122). Neste contexto, a expressão ‘SIGN/SIGN relation’ é uma tentativa

150

Page 152: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

de aproximar a descrição desta primeira tricotomia às descrições das outras

duas, definindo-a em termos de uma ‘relação do signo com si mesmo’.

Embora a relação de algo ‘consigo mesmo’ possa parecer estranha à primeira

vista, a escolha desta descrição se justifica se levarmos em consideração que,

quando Peirce fala em ‘signo em si mesmo’, ele provavelmente tem em mente

algo similar ao conceito de identidade tal como descrito no primeiro capítulo

de seu A Guess at the Riddle (W6: 165-210):

Other relations … consist in the relation between two parts of one complex con-

cept, or, as we may say, in the relation of a complex concept to itself, in respect

to two of its parts. … Identity is the relation that everything bears to itself.

151

Page 153: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

III.2- 3N3: explorando as estruturas e

as relações entre as 10, 28 e 66 classes de signos

propostas por Peirce

Introdução

3N3 é um software que constrói diagramas triangulares para dife-

rentes classificações de signos —divisões em 10, 28, 66, ou qualquer

outro número de classes compatível com o modelo peirceano.1

Desenvolvido em linguagem Java, ele tem como objetivos principais

(i) facilitar a análise de signos de acordo com os princípios dia-

gramáticos das categorias, tricotomias e classes propostos por

Peirce, (ii) possibilitar comparações de estruturas sígnicas semel-

hantes (por exemplo, legi-signos icônicos) no contexto de diferen-

tes classificações, e (iii) auxiliar na consideração de diferentes

hipóteses, levantadas pelo próprio Peirce e por alguns de seus

comentadores (em particular Weiss & Burks 1945, Sanders 1970,

Lieb 1977, Marty 1990, Maróstica 1992 e Müller 1994), acerca das

classificações baseadas em mais de 3 tricotomias —as divisões em

28 e 66 classes.

O projeto que se concretiza com a implementação deste soft-

ware iniciou com a análise de dois diagramas elaborados por Peirce

152

Page 154: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

para 10 classes de signos (MS 540: 17, CP 2.264, EP2: 289-99, figu-

ra II.1.1.b, e L463: 132-146, CP 8.376, EP2: 483 – 491, figura

II.1.2.b). Em Farias & Queiroz (2000c e 2001a), demonstramos que

estes dois diagramas foram construídos com base nos mesmos

princípios diagramáticos, e propusemos que estes princípios pode-

riam ser aplicados na construção de diagramas para qualquer con-

junto n-tricotômico de classes baseado no modelo triádico do signo

peirceano. A implementação destes princípios diagramáticos é o

principal recurso do software 3N3, que possui ainda outros mecanis-

mos interativos. O fato de podermos contar com uma ferramenta

consolidada para construir estes diagramas tem implicações impor-

tantes não somente para a compreensão da estrutura das classes e

das classificações, mas também para a discussão acerca da ordem de

determinação das tricotomias nas classificações em 28 e 66 classes.

Este capítulo apresenta as questões que levaram à elaboração

de 3N3, descreve sua fase de desenvolvimento, expõe alguns exper-

imentos e avalia seus resultados.

III.2.1- Conceitualização

Conforme foi visto no capítulo I.1.3, Peirce descreveu, em diversas

partes de sua obra (MS 540; L463: 132-60; CP 2.233-72 e 8.342-76;

153

Page 155: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Lieb 1977: 80-85; EP2: 289-99 e 478-91), diferentes classificações

de signos —divisões em 3, 10, 28 e 66 classes. A primeira e mais

conhecida destas classificações, baseada em apenas uma tricoto-

mia, divide os signos em ícones, índices e símbolos. Também é

razoavelmente bem conhecida sua divisão em 10 classes, baseada

em 3 tricotomias, e longamente descrita em seu ‘Syllabus’ de 1903

(MS 540, CP 2.233-72, EP2: 289-99).

Muito menos conhecidas, as divisões em 28 e 66 classes

aparecem em diversos manuscritos e rascunhos de cartas escritas

por Peirce para Lady Welby em dezembro de 1908 (L463: 132-60;

CP 8.342-76; EP2: 478-91; Lieb 1977: 80-85). Estas divisões

baseiam-se, respectivamente, em 6 e em 10 tricotomias. Embora

diversos especialistas (Houser 1992: 501-502, Müller 1994:135,

Santaella 1995: 125, entre outros) concordem quanto à relevância

destas classificações para a compreensão da semiótica peirceana,

elas nunca receberam, por parte do próprio autor, o tratamento

exaustivo dado às 10 classes descritas no ‘Syllabus’. Conforme

vimos no capítulo II.1, Peirce também desenhou vários diagramas

para 10 classes de signos (figuras II.1.1.a, II.1.2.a, e II.1.2.d), mas

aparentemente2

nunca fez o mesmo para suas divisões em 28 e 66

classes. A constatação de que este era um aspecto pouco compreen-

154

Page 156: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

dido da teoria peirceana do signo foi a principal motivação para as

investigações que levaram ao diagrama descrito nesta seção.

A fase de conceitualização de 3N3 iniciou com a análise com-

parativa de dois diagramas para 10 classes de signos concebidos por

Peirce (o ‘diagrama do Syllabus’, MS 540: 17, CP 2.264, EP2: 296,

figura II.1.1.b; e ‘o diagrama de Welby’, L463:146, CP 8.376, EP2:

491, figura II.1.2.b). O primeiro deles, conforme vimos no capítu-

lo II.1.1, aparece no contexto de sua apresentação mais completa das

10 classes de signos, e é sem dúvida o mais conhecido dos dois. O

segundo, conforme vimos na seção seguinte, aparece no contexto de

uma série de rascunhos de cartas para Lady Welby, e aparentemente

não se refere às mesmas 10 classes.3

Deixando de lado, por um momento, as possíveis diferenças

entre as classes de signos presentes nos dois diagramas, podemos

apreciar suas similaridades estruturais. Em primeiro lugar,

podemos notar que os dois diagramas possuem silhuetas bastante

parecidas, que podem ser descritas como formas triangulares

eqüiláteras apoiadas em um de seus vértices. Estas silhuetas são

formadas por células quadradas no diagrama do Syllabus, e por

células triangulares no diagrama de Welby. Além disso, em relação

ao arranjo das classes, podemos constatar que os dois diagramas

155

Page 157: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

possuem a mesma estrutura interna, organizada de forma espelha-

da por um eixo vertical no centro do diagrama. O espelhamento se

dá de tal forma que as classes localizadas sobre este eixo (321 e 222)

permanecem no mesmo lugar, enquanto as outras (por exemplo, 111

e 333) invertem suas posições. Estes dois pontos ficam mais claros

ao compararmos as versões simplificadas dos dois diagramas, apre-

sentadas nas figuras III.2.1.a e III.2.1.b.

No diagrama do Syllabus simplificado (Syllabus-S, figura

III.2.1.a), a notação para as classes, feita de forma verbal no diagra-

ma original (figura II.1.1.b), foi substituída por notação numérica,4

disposta de forma similar à que aparece no diagrama para Welby

(figura III.1.2.b). Além disso, a numeração em algarismos

romanos, assim como a variação nas espessuras das divisões entre

células, foi suprimida. No diagrama de Welby simplificado (Welby-

S, figura III.2.1.b), os triângulos que não que estavam ‘em branco’

no diagrama original (figura III.1.1.2.b) foram suprimidos.5

Para generalizar estas questões estruturais, e demonstrar que

estes dois diagramas seguem os mesmos princípios diagramáticos,

o próximo passo foi compreender o posicionamento das classes

nestes diagramas, em termos de coordenadas triangulares,6

onde

cada classe é representada por um tripleto (a, b, c). Para cada triple-

156

Figura III.2.1.a. Syllabus-S: versão simplificada do diagrama para 10 classes

de signos desenhado por Peirce em seu Syllabus de 1903 (MS 540: 17, CP

2.264, EP2: 296, figura II.1.1.b).

Figura III.2.1.b. Welby-S: versão simplificada do diagrama para 10 classes de

signos desenhado por Peirce em rascunho de carta para Lady Welby (L463:146,

CP 8.376, EP2: 491, figura II.1.2.b).

Page 158: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

to, os valores de a, b, e c são números inteiros variando de 0 a 3 (cor-

respondendo à quantidade de algarismos ‘1’, ‘2’ e ‘3’ que compõem

a notação numérica para cada classe), sendo que a+b+c=3.7

Existem

apenas 10 tripletos que atendem a estas exigências. São eles: (3, 0,

0), (2, 1, 0), (1, 2, 0), (0, 3, 0), (0, 2, 1), (0, 1, 2), (0, 0, 3), (1, 0, 2),

(2, 0, 1), e (1, 1, 1).

Estes 10 tripletos podem ser arranjados de acordo com coor-

denadas triangulares, conforme podemos acompanhar nas figuras

III.2.1.c, III.2.1.d e III.2.1.e. Para construir estas coordenadas,

começamos por desenhar um triângulo eqüilátero e posicionar os

tripletos ‘extremos,’ isto é, aqueles onde dois de seus elementos são

iguais a zero,8

em seus vértices (figura III.2.1.c). A seguir, os

tripletos ‘intermediários,’ isto é, aqueles onde os valores de a, b e c

correspondem a seqüências onde um dos elementos permanece

igual a zero e os outros dois assumem valores do tipo (n+1, n-1), são

posicionados entre estes vértices (figura III.2.1.d). Por fim, os

pontos que correspondem aos tripletos ‘intermediários’ são ligados

por retas paralelas aos lados do triângulo, ao longo das quais são

dispostos os tripletos ‘centrais’ (figura III.2.1.e).

O que temos na figura III.2.1.e é um padrão de 10 vértices

que, conforme veremos, corresponde à estrutura interna dos dois

157

Page 159: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

158

Figura III.2.1.c. Construindo coordenadas triangulares

para 10 classes. Passo 1: posicionando os tripletos

‘extremos’ (3, 0, 0), (0, 3, 0) e (0, 0, 3) nos vértices de um

triângulo eqüilátero.

Figura III.2.1.d. Construindo coordenadas triangulares

para 10 classes. Passo 2: posicionando os tripletos ‘inter-

mediários’ (2, 1, 0), (1, 2, 0), (0, 2, 1), (0, 1, 2), (1, 0, 2) e

(2, 0, 1) entre os vértices extremos das coordenadas trian-

gulares iniciadas no passo 1.

Figura III.2.1.e. Construindo coordenadas triangu-

lares para 10 classes. Passo 3: posicionando o tripleto

‘central’ (1, 1, 1) no cruzamento das retas que ligam os

pontos (2, 1, 0) e (1, 2, 0), (0, 2, 1) e (0, 1, 2), (1, 0, 2)

e (2, 0, 1).

Page 160: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

diagramas para 10 classes desenhados por Peirce (figura II.1.1.b e

figura III.1.2.b). Se considerarmos que o elemento ‘a’ dos tripletos

corresponde à quantidade de algarismos ‘1’, o elemento ‘b’ à quan-

tidade de algarismos ‘2’, o elemento ‘c’ à quantidade de algarismos

‘3’ que formam a notação numérica para cada classe, e desenharmos

quadrados ao redor dos vértices, obteremos um diagrama idêntico a

Syllabus-S (comparar figura III.2.1.f e figura III.2.1.a). Por outro

lado, se invertermos as correspondências de ‘a’ e ‘c’, isto é, se con-

siderarmos que o elemento ‘a’ dos tripletos corresponde à quanti-

dade de algarismos ‘3’, o elemento ‘b’ à quantidade de algarismos

‘2’, o elemento ‘c’ à quantidade de algarismos ‘1’, e desenharmos

triângulos ao redor dos vértices, obteremos um diagrama idêntico a

Welby-S (comparar figura III.2.1.g e figura III.2.1.b).

É possível utilizar coordenadas triangulares para determinar

o arranjo de qualquer conjunto cuja quantidade de elementos seja

igual a um número triangular. A matemática define número trian-

gular como um inteiro que segue a fórmula n(n+1)/2, onde n é um

natural. Aplicada aos inteiros positivos, esta fórmula nos fornece a

seqüência {1, 3, 6, 10, 15, 21, 28,…}. A fórmula proposta por Weiss

& Burks (1945: 387) para calcular o número de classes de signos

válidas dentro do sistema peirceano a partir de um certo número de

159

Figura III.2.1.f. Syllabus-S reconstruído a partir das coordenadas

triangulares para 10 classes (comparar com figura III.2.1.a).

Figura III.2.1.g. Welby-S reconstruído a partir das coordenadas

triangulares para 10 classes (comparar com figura III.2.1.b).

Page 161: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

tricotomias, (n+1)(n+2)/2, pode ser considerada um caso especial

da fórmula anterior, fornecendo números triangulares a partir de 3.

Uma vez que esta fórmula sempre nos dará números triangulares,

podemos dizer que é possível utilizar coordenadas triangulares para

construir diagramas para qualquer número de classes de signos.

Sendo assim, o mesmo procedimento utilizado para reconstruir os

diagramas Syllabus-S e Welby-S pode ser utilizado para construir

diagramas para qualquer classificação de signos, inclusive para as

divisões em 28 e 66 classes, conforme veremos a seguir.

Para construir um diagrama baseado em coordenadas trian-

gulares para as 28 classes, devemos criar um padrão de vértices

onde localizaremos os 28 tripletos da forma (a, b, c) que correspon-

dem a estas classes. Uma vez que a divisão em 28 classes está basea-

da em 6 tricotomias, os elementos a, b e c destes tripletos deverão

variar entre {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6},9

respeitando a regra a+b+c=6. Da

mesma forma como procedemos para determinar o arranjo de 10

vértices (figuras III.2.1.c, III.2.1.d e III.2.1.e), começaremos por

posicionar os tripletos ‘extremos’ (6, 0, 0), (0, 6, 0) e (0, 0, 6) nos

vértices de um triângulo eqüilátero, e os 15 tripletos ‘inter-

mediários’ ao longo dos lados correspondentes deste mesmo triân-

gulo.10

Ligando os pontos marcados pelos tripletos intermediários

160

Page 162: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

com retas paralelas aos lados do triângulo, obteremos um padrão de

28 vértices, ao redor dos quais podemos construir células triangu-

lares para abrigar as 28 classes (figura III.2.1.h).

Podemos agora ‘traduzir’ os tripletos nas seqüências de algar-

ismos ‘1’, ‘2’ e ‘3’ que formam a notação numérica para as classes. Se

adotarmos as mesmas correspondências utilizadas para reconstru-

ir o diagrama Welby-S obteremos um diagrama bastante similar ao

diagrama de Welby original (figura III.1.2.b). Esta é uma impor-

tante indicação de que, caso Peirce houvesse desenhado diagramas

para as 28 classes, ele provavelmente utilizaria um método similar

ao que estamos empregando aqui. O mesmo método pode ser uti-

lizado para construir um diagrama equivalente para as 66 classes de

signos (figura III.2.1.j).

A principal vantagem deste procedimento é poder construir

diagramas equivalentes para qualquer classificação de signos con-

sistente com o sistema peirceano. Isto, conforme afirmamos em

Farias & Queiroz (2000b, 2000c, 2001a e 2001b), faz com que seja

possível analisar e comparar as diferentes —e muitas vezes confli-

tantes— hipóteses acerca das divisões dos signos em 28 e 66 classes

propostas por Peirce feitas por seus comentadores, apresentadas no

capítulo I.1.3. Nestes mesmos artigos, foram apresentados alguns

161

Figura III.2.1.h. Diagrama para 28 classes construído ao redor de um padrão

de 28 vértices dispostos de acordo com coordenadas triangulares.

Figura III.2.1.i. Diagrama triangular para 28 classes, com notação numérica. Os pontos

indicam as células ocupadas por classes no diagrama de Welby (figura III.1.2.b).

Page 163: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

exemplos de como estas análises e comparações poderiam ser

feitas. Estes resultados e exemplos serviram de base para o design

de 3N3, um software que implementa a estratégia de construir e

facilitar a análise destes ‘diagramas triangulares.’

III.2.2- Desenvolvimento

Uma das maiores dificuldades no processo de construção dos diagra-

mas triangulares apresentado na seção anterior é traçar as coorde-

nadas triangulares, e cuidar para que os tripletos sejam expressos cor-

retamente e dispostos nas posições adequadas. A análise e comparação

de hipóteses, por sua vez, requer a tradução destes tripletos na notação

numérica, e também, muitas vezes, em uma descrição verbal.

O software 3N3 foi concebido para facilitar a construção e

análise destes diagramas, automatizando o processo de geração de

diagramas triangulares e providenciando uma forma rápida e sim-

ples de analisar seus componentes. A primeira versão de 3N3 pos-

suía apenas o recurso de gerar diagramas equivalentes para um

certo número de classes, de acordo com uma quantidade de tricoto-

mias variando entre 3 e 10 (figura III.2.2.a). As classes apareciam

descritas como tripletos, e era possível selecionar um ou mais ele-

mentos do diagrama (figura III.2.2.b).

162

Figura III.2.1.j. Diagrama triangular para 66 classes de signos. As classes

são mostradas na forma de tripletos.

Page 164: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

A partir deste desenvolvimento, foram estabelecidas uma

série de especificações para a interface e funcionamento do progra-

ma, que começaram a ser implementadas nas versões subseqüentes

do software. As principais inovações quanto ao esboço original

foram a criação de um campo que mostra a notação numérica para

as classes selecionadas, e uma tabela que fornece a descrição verbal

para estas classes (figuras III.2.2.c e III.2.2.d).

Interface de entrada

A partir da versão alpha-2, a interface de entrada passou a ter, como

elementos principais, dois campos para inserção de valores

numéricos, intitulados ‘number of classes’ (‘número de classes’) e

‘number of trichotomies’ (‘número de tricotomias’), e um botão

chamado ‘build diagram’ (‘construir diagrama’). 3N3 utiliza os val-

ores inseridos no campo ‘number of trichotomies’ como n para calcu-

lar e mostrar o valor c de classes no campo ‘number of classes,’ de

acordo com a fórmula c=(n+1)(n+2)/2, e vice-versa. Tendo um

destes campos preenchidos, basta clicar sobre o botão ‘build dia-

gram’ para que o software construa o diagrama correspondente.

O número de classes e tricotomias foi limitado a duas casas

decimais, podendo chegar até 12 tricotomias, ou 91 classes. Estes

163

Figura III.2.2.a. Aspecto da versão alpha-1 de 3N3, com o menu de

seleção do número de tricotomias ativado.

Figura III.2.2.b. Aspecto da versão alpha-1 de 3N3, com algumas

células de um diagrama para 28 classes selecionadas.

Page 165: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

números não precisariam, necessariamente, ser limitados, mas a

falta de um limite aumentaria desnecessariamente a complexidade

da implementação, principalmente no que diz respeito à construção

dos diagramas e respectivas tabelas, conforme veremos a seguir. Os

diagramas se tornariam ilegíveis caso mantivessem o mesmo

tamanho, como ocorre na versão que está sendo apresentada, ou

precisariam crescer ilimitadamente, aumentando sua área em pro-

porção ao número de classes em questão. As tabelas, por outro lado,

se tornariam infinitamente longas, crescendo em proporção ao

número de tricotomias envolvidas.

Alertas

O número de tricotomias inserido no campo ‘number of trichotomies’

deve ser um inteiro maior ou igual a 1. O numero de classes no

campo ‘number of classes,’ por sua vez, deve obedecer a formula

(n+1)(n+2)/2. Um campo foi criado logo abaixo do botão ‘build dia-

gram’ para mostrar mensagens de alerta a respeito dos valores

inseridos nos campos ‘number of trichotomies’ e ‘number of classes.’

Caso o usuário insira um número de tricotomias ou classes maior do

que o limite aceito pelo programa (12 tricotomias, 91 classes), este

164

Figura III.2.2.c. Aspecto do projeto de interface para 3N3, mostrando o que deveria

ocorrer ao selecionar uma das células do diagrama: a descrição verbal da classe

aparece realçada na tabela, e em notação numérica na lista ‘show class,’ acima dela.

Figura III.2.2.d. A interface de entrada de 3N3 na versão alpha-5.1.

Page 166: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

campo exibirá uma mensagem de erro informando o valor deste

limite (figuras III.2.2.e e III.2.2.f).

Caso o usuário insira no campo ‘number of classes’ um valor

que não obedece à formula (n+1)(n+2)/2, o programa substitui este

número pelo maior valor válido mais próximo e envia uma men-

sagem de alerta (figura III.2.2.g). Embora o software permita criar

diagramas com diferentes número de classes e tricotomias, no con-

texto da semiótica peirceana apenas alguns destes valores (1, 3, 6 e

10 para o número de tricotomias; 3, 10, 28 e 66 para o número de

classes) são considerados válidos pelos especialistas. Caso os val-

ores inseridos forem diferentes destes, o programa constrói o dia-

grama, mas também envia uma mensagem de alerta (figura

III.2.2.h).

Construindo diagramas

Ao clicar no botão ‘build diagram’, um diagrama triangular com o

número de classes determinado no campo ‘number of classes’ é con-

struído. As classes são representadas nos diagramas por tripletos da

forma (a, b, c) onde a corresponde ao número de algarismos ‘1,’ b ao

número de algarismos ‘2,’ e c ao número de algarismos ‘3’ que com-

põem a notação numérica para cada classe. O tripleto ‘extremo’ no

165

Figura III.2.2.e. Mensagem de erro para

número de tricotomias maior do que o limite

estipulado, na versão alpha-5.1 de 3N3.

Figura III.2.2.f. Mensagem de erro para

número de classes maior do que o limite

estipulado, na versão alpha-5.1 de 3N3.

Figura III.2.2.g. Mensagem de alerta para

número de classes que não obedece à formula

(n+1)(n+2)/2, na versão alpha-5.1 de 3N3.

Figura III.2.2.h. Mensagem de alerta para número de

classes ou de tricotomias que não considerados válidos

pelos especialistas, na versão alpha-5.1 de 3N3.

Page 167: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

qual a é igual ao valor expresso no campo ‘number of trichotomies’ é

colocado no canto superior direito do diagrama, aquele onde c é

igual a este valor é colocado no canto superior esquerdo, e aquele

onde b é igual a este valor é colocado no canto inferior.

A organização dos tripletos, assim como a convenção para sua

tradução na notação numérica poderiam ser diferentes sem prejuí-

zo para a coerência dos diagramas: as posições dos tripletos

extremos superiores poderiam ser invertidas, assim como a con-

venção para a tradução dos elementos a e c. A escolha dos parâmet-

ros utilizados na versão atual do programa levou em consideração o

fato de que o diagrama mais conhecido para as classificações sígni-

cas de Peirce é o diagrama do Syllabus (figura II.1.1.b), e buscou

tornar mais intuitiva a tradução dos tripletos em notação numérica.

Para isso, a estrutura deste diagrama (classe 111 no canto superior

direito, classe 333 no canto superior esquerdo) foi mantida, e, para

o estabelecimento de correspondências entre os elementos dos

tripletos e sua tradução em algarismos, seguiu-se a ordem alfabéti-

ca (a= quantidade de ‘1’s, b= quantidade de ‘2’s, c= quantidade de

‘3’s).

166

Figura III.2.2.i. Diagrama triangular para 10 classes de

signos criado pela versão alpha-5.1 de 3N3.

Page 168: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Tabelas de tricotomias

Além do diagrama, o programa também constrói, abaixo dele, uma

tabela com as tricotomias envolvidas na classificação. Estas tabelas

tem a função de fornecer a chave para a leitura dos tripletos em ter-

mos de descrições verbais para classes de signos. Elas são formadas

por 4 linhas, sendo que, de cima para baixo, a primeira correspon-

de ao nome da tricotomia, e as outras três às modalidades em

primeiridade (2ª linha), secundidade (3ª linha) e terceiridade (4ª

linha) de cada uma destas tricotomias. O número de colunas é sem-

pre igual ao número de tricotomias determinado no campo ‘number

of trichotomies’.

A primeira linha das tabelas é formada por uma seqüência de

menus drop-down (que se transformam em listas quando clicamos

sobre eles, figura III.2.2.j), todos com as seguintes opções:11

S ([natureza do] Signo)

Oi ([natureza do] Objeto Imediato)

Od ([natureza do] Objeto Dinâmico)

S-Od (relação do Signo com o Objeto Dinâmico)

Ii ([natureza do] Interpretante Imediato)

Id ([natureza do] Interpretante Dinâmico)

167

Page 169: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

S-Id (relação do Signo com o Interpretante

Dinâmico)

If ([natureza do] Interpretante Final)

S-If (relação do Signo com o Interpretante Final)

S-Od-If (relação do Signo com o Objeto Dinâmico e

Interpretante Final)

other (outro)

O projeto de interface previa que o significado das abreviaturas dos

menus drop-down apareceria na forma de sub-menu ao lado de

cada uma delas (figura III.2.2.k). Este recurso, contudo, não pode

ser implementado devido a limitações correntes da linguagem Java,

e as informações sobre o significado destas abreviaturas passou a

ser dado na página de ajuda, conforme discutiremos mais adiante.

Por default, e com base no que foi discutido a respeito das tri-

cotomias e classificações nos capítulos I.1.2 e I.1.3, algumas combi-

nações especiais de número de tricotomias/número de classes

geram seqüências específicas de opções das listas dos menus drop-

down. A combinação que corresponde à divisão em 10 classes gera a

seqüência (S, S-Od, S-If) (figura III.2.2.i); a que corresponde à

divisão em 28 gera a seqüência (Od, Oi, S, If, Id, Ii) (figura III.2.2.l);

e aquela que corresponde à divisão em 66 classes gera a seqüência

168

Figura III.2.2.j. Diagrama triangular para 10 classes de signos criado pela versão

alpha-5.1 de 3N3, com o menu drop-down da última coluna da tabela ativado.

Figura III.2.2.k. Aspecto do projeto de interface de 3N3, simulando a ativação do

recurso de sub-menus dentro dos menus drop-down.

Page 170: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

(S, Oi, Od , S-Od , Ii , Id , S-Id , If , S-If , S-Od-If) (figura III.2.2.m).

Para todas as outras combinações, a seqüência de opções

segue a ordem dos itens do menu drop-down.12

Em qualquer caso, o

usuário tem sempre a possibilidade de modificar estas seqüências

através da manipulação dos menus. O conteúdo das demais células

da tabela segue, com a exceção da opção ‘other,’ a nomenclatura para

as modalidades atualmente mais utilizadas pelos comentadores e

discutida no capítulo I.1.3:

S : Qualisign, Sinsign, Legisign

Oi : Descriptive, Denominative, Distributive

Od : Abstractive, Concretive, Collective

S-Od : Icon, Index, Symbol

Ii : Hypothetical, Categorical, Relative

Id : Sympathetic, Percussive, Usual

S-Id : Suggestive, Interrogative, Cognificative

If : Gratific, Practical, Pragmatistic

S-If : Rheme, Dicent, Argument

S-Od-If : Instinctive, Experiential, Habitual

A opção ‘other’ permite, ainda, que o usuário utilize nomenclatu-

ras alternativas, ou mesmo que estabeleça sua própria nomen-

clatura. Para isso, basta digitar nos campos apropriados a nomen-

169

Figura III.2.2.l. Diagrama triangular para 28 classes de signos

criado pela versão alpha-5.1 de 3N3.

Figura III.2.2.m. Diagrama triangular para 66 classes de signos

criado pela versão alpha-5.1 de 3N3.

Page 171: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

clatura desejada e em seguida pressionar a tecla ‘return’ para fixá-

la na tabela.

Tripletos, classes, listas e tabelas

Ao clicar em uma célula do diagrama podemos observar, na lista

‘show class,’ a tradução do tripleto ao qual esta célula corresponde

em uma seqüência de algarismos 1, 2 e 3 que descrevem esta classe

‘numericamente,’ de acordo com as categorias cenopitagóricas

adotadas por Peirce. Também podemos observar, realçadas em ver-

melho na tabela, uma seqüência de células que corresponde à

descrição verbal desta classe (figura III.2.2.n). Este procedimento

é particularmente útil para desvendar o significado de um tripleto

em termos verbais ou numéricos.

De forma similar, ao clicar em uma célula da tabela podemos

observar, na lista ‘show class’ a classe (ou o conjunto de classes) que

possui este elemento —uma modalidade dentro de uma tricotomia,

em uma certa posição, por exemplo, ‘ícones’ na segunda tricoto-

mia— em sua composição. No diagrama, as células com os tripletos

correspondentes a estas classes são automaticamente realçadas. No

restante da tabela, células que correspondem a modalidades neces-

sariamente envolvidas pela modalidade selecionada (por exemplo,

170

Figura III.2.2.n. Diagrama triangular para 10 classes de

signos criado pela versão alpha-5.1 de 3N3 com a célula que

contém o tripleto (2, 1, 0) selecionada.

Page 172: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

‘remas’, pois todos os ícones são remáticos) aparecerão em verme-

lho, e células que correspondem a modalidades que podem estar

envolvidas mas que não fazem parte da composição de todas as clas-

ses que compõem o conjunto das classes com a modalidade sele-

cionada (por exemplo, ‘quali-signo,’ ‘sin-signo’ e ‘legi-signo,’ uma

vez que os ícones podem ser signos com uma destas naturezas)

aparecem com o contorno em vermelho. As modalidades que não

estão envolvidas de nenhuma forma, permanecem em branco

(figura III.2.2.o).

Este último procedimento é particularmente útil para identi-

ficar sub-grupos especiais de classes dentro de uma classificação.

Através deste recurso podemos, por exemplo, localizar com facili-

dade todos os ícones presentes em um diagrama triangular que tem

a mesma estrutura do diagrama do Syllabus (figura III.2.2.o).

Selecionando mais de uma célula da tabela podemos também rela-

cionar diferentes classificações e identificar, por exemplo, quais

são as classes que podem ser descritas como ‘legi-signos indexicais

remáticos’ (321) dentro de um diagrama para 66 classes. Este

recurso foi implementado na versão beta-1 do programa (figura

III.2.2.p).

A partir da versão beta-1 de 3N3 também passou a ser possível

171

Figura III.2.2.o. Diagrama triangular para 10 classes de signos criado pela versão

alpha-5.1 de 3N3 com a célula ‘icon’ da tabela selecionada.

Page 173: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

172

Figura III.2.2.p. Diagrama triangular para 66 classes de signos criado na versão

beta-1 de 3N3, com as células ‘legisign,’ ‘index’ e ‘rheme’ da tabela selecionadas.

Page 174: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

interagir com os diagramas construídos a partir da lista ‘show class.’

Um campo para inserção de seqüências numéricas foi colocado

acima da lista, tendo ao lado um botão ‘mais’ e um botão ‘menos.’ É

possível acrescentar classes à lista digitando sua seqüência numéri-

ca neste campo, e clicando em seguida sobre o botão ‘mais’ (figura

III.2.2.q). O campo aceita apenas seqüências compostas pelos

algarismos 1, 2 e 3, e que obedecem à regra (x1, x2≤x1, x3≤x2, …

xn+1≤xn), e cuja quantidade de elementos seja igual à quantidade de

tricotomias do diagrama em questão. Para excluir classes da lista,

basta seleciona-las e clicar no botão ‘menos’ (figura III.2.2.r).

Ajuda

Assim como em 10cubes, em 3N3 também foi acrescentado um recur-

so de ajuda ao usuário, consistindo em um botão ‘help’ localizado no

canto superior direito da interface de entrada (figura III.2.2.d), e

uma página em html, ligada a ele, com créditos e informações bási-

cas sobre o funcionamento do software (figura III.2.2.s).

A partir da versão alpha-4, 3N3 foi colocado online para

testes. A versão mais atualizada deste diagrama pode ser encontra-

da no seguinte endereço:

http://www.dca.fee.unicamp.br/~asrgomes/pri/d3n3/

173

Figura III.2.2.q. Inserindo uma classe na lista ‘show class,’ na versão beta-1 de 3N3,

Figura III.2.2.r. Excluindo uma classe da lista ‘show class,’ na versão beta-1 de 3N3.

Page 175: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

174

Figura III.2.2.s. Página de ajuda de 3N3.

Page 176: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

III.2.3- Experimentação

Conforme foi discutido no capítulo I.1.3, existem controvérsias

quanto à ordem das tricotomias envolvidas nas classificações em 28

e 66 classes de signo, e mesmo alguns questionamentos quanto à

validade destas classificações. A divisão em 10 classes proposta no

Syllabus de 1903 (MS 540, EP2: 289-99), por outro lado, é

razoavelmente bem conhecida, e abordada de forma bastante con-

sistente pelos especialistas. Os recursos fornecidos por 3N3 per-

mitem que diferentes hipóteses acerca das classificações encon-

tradas na literatura especializada sejam testadas e comparadas com

facilidade.

Os exemplos a seguir mostram como este software pode ser

utilizado para comparar algumas afirmações conflitantes sobre as

28 e as 66 classes de signos. Para isso, partiremos do princípio de

que, conforme sugerem alguns especialistas (Marty 1990: 225-228,

Maróstica 1992: 117-120), é possível estabelecer correspondências

entre as 10 classes de signos descritas no Syllabus de 1993 (MS 540,

EP2: 289-99) e as divisões em 28 e 66 classes. As 10 classes

servirão, assim, como referência para estas comparações.

175

Page 177: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

O diagrama de Welby e as 28 classes

Uma primeira hipótese a ser analisada é a possível correspondência

entre o diagrama de Welby —um diagrama para 10 classes desen-

hado por Peirce em um esboço de carta para Lady Welby no final de

dezembro de 1908 (figura III.1.2.b)— e as 10 classes de signos

descritas no Syllabus. Na seção dedicada à fase de conceitualização

(III.2.1), foi chamada atenção para o fato deste diagrama ser bas-

tante similar aos diagramas triangulares para 28 classes de signos

construídos a partir de coordenadas triangulares. De fato, o diagra-

ma de Welby possui o mesmo número de células triangulares apon-

tando para baixo (28), embora apenas 10 delas estejam ocupadas

por classes. Uma vez que as classes descritas neste diagrama pare-

cem não ser as mesmas encontradas no diagrama do Syllabus,13

e

uma vez que existe menção explícita às 28 classes em pelo menos um

outro manuscrito datado da mesma semana (uma carta enviada a

Lady Welby datada de 23 de dezembro de 1908, Peirce 1977: 84-85,

EP2: 481), podemos perguntar se Peirce não teria as 28 classes em

mente quando desenhou este diagrama. Além disso, podemos per-

guntar se existe alguma relação entre as 10 classes que aparecem no

diagrama de Welby e as 10 classes descritas no Syllabus.

176

Page 178: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Para checar esta hipótese, podemos iniciar construindo um

diagrama triangular para 28 classes de signos e identificando nele

as posições ocupadas por classes no diagrama de Welby (comparar

figura III.2.2.q com figura III.1.2.b e figura III.2.1.i). Na lista

‘show class’ podemos observar que as classes selecionadas seguem

um padrão peculiar, que pode ser descrito como h1=h2=t1, h3=h4=t2,

h5=h6=t3.14

Se considerarmos que a ordem correta das tricotomias

envolvidas na divisão em 28 é aquela fornecida por Peirce em sua

carta de 23 de dezembro (Peirce 1977: 84-85, EP2: 481), 15

ou seja,

[h1=Od, h2=Oi, h3=S, h4=Ii, h5=Id, h6=If] só existe uma relação

possível com as 10 classes descritas no Syllabus. Ela se dá a partir da

terceira tricotomia da divisão 6-tricotômica (h3), que corresponde

à primeira divisão 3-tricotômica (t1) descrita no Syllabus: a

natureza do signo, ou o signo em si mesmo (S). Cruzando as

posições das classes do diagrama de Welby com as três modalidades

da tricotomia S no diagrama triangular para 28 classes, percebemos

que entre as 10 classes de Welby, entendidas como parte das 28

classes, existem três quali-signos, quatro sin-signos e três legi-sig-

nos.

177

Figura III.2.3.a. Diagrama triangular para 28 classes com as 10

células que correspondem às posições de classes no diagrama de

Welby (figura III.1.2.b) selecionadas.

Page 179: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

178

Figura III.2.3.b. Diagrama triangular para 28 classes com os

três quali-signos que correspondem a posições de classes no

diagrama de Welby (figura III.1.2.b) selecionados.

Figura III.2.3.c. Diagrama triangular para 28 classes com os quatro sin-signos que

correspondem a posições de classes no diagrama de Welby (figura III.1.2.b) selecionados.

Figura III.2.3.d. Diagrama triangular para 28 classes com os três legi-signos que

correspondem a posições de classes no diagrama de Welby (figura III.1.2.b) selecionados.

Page 180: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

A hipótese de Maróstica

A semioticista Ana Maróstica (1992: 117-120) afirma que é possível

localizar, entre aquelas que pertencem às divisões em 28 e 66, clas-

ses específicas que correspondem às 10 classes apresentadas por

Peirce no Syllabus de 1903. Ela considera que as tricotomias

envolvidas na divisão em 28 classes são as mesmas utilizadas no

exemplo anterior, mas em uma ordem de determinação diferente,

[h1=S, h2=Oi, h3=Od, h4=Ii, h5=Id, h6=If], enquanto que as

envolvidas na divisão em 10 classes seriam [t1(S), t2(O), t3(I)].16

Ela também argumenta que a relação entre as 10 e as 28 classes deve

seguir o padrão [h1=t1, h2=h3=t2, h4=h5=h6=t3].

Existem apenas 10 classes, entre as 28, que respeitam

este padrão:

1 11 111

2 11 111

2 22 111

2 22 222

3 11 111

3 22 111

3 22 222

3 33 111

179

Page 181: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

3 33 222

3 33 333

Inserindo estas seqüências na lista ‘show class’ obtemos a figura

III.2.3.e, que mostra a localização destas 10 classes dentro de um

diagrama para 28 classes. Cruzando estes dados percebemos que,

segundo a hipótese de Maróstica, entre estas 10 classes existem 1

quali-signo, 3 sin-signos e 6 legi-signos, algo sem dúvida coerente

com o que temos nas 10 classes descritas no Syllabus. Se levarmos

em consideração as descrições verbais para estas classes fornecidas

pela tabela de tricotomias, contudo, veremos que a relação entre as

10 classes obtidas por Maróstica e as 10 classes descritas no Syllabus

é um tanto problemática. A classe 322111, por exemplo, que segun-

do a autora deveria corresponder ao ‘legi-signo indexical remático’

descrito no Syllabus é descrita como um ‘legi-signo denominativo

concretivo hipotético simpatético grafítico’ (figura III.2.3.f).

Maróstica (1992) propõe também um método para desenhar

diagramas compatíveis para divisões em 10, 28 e 66 classes de sig-

nos, com resultados bastante similares aos apresentados neste

capítulo (figura II.2.1.l.). O desenvolvimento de seus argumentos

sugere que a relação entre classificações possa ser estendida às 66

classes, mas, neste sentido, seu trabalho não vai muito além da

180

Figura III.2.3.e. A localização das 10 classes dentro de um diagrama

para 28 classes, segundo a hipótese de Maróstica.

Page 182: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

181

Figura III.2.3.f. Um diagrama para 28 classes com a classe ‘322111’

selecionada. Segundo a hipótese de Maróstica, esta classe deveria

corresponder ao ‘legi-signo indexical remático’ descrito por Peirce.

Figura III.2.3.g. Um diagrama para 66

classes, com a seqüência de tricotomias

proposta por Maróstica (1992) e com a

classe ‘3222222111’ selecionada.

Page 183: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

exposição de uma seqüência de tricotomias que não condiz com

aquelas propostas por Peirce nem encontra eco em seus comenta-

dores: S (signo), IOP (objeto imediato como objeto possível), IOA

(objeto imediato como objeto atual), ION (objeto imediato como

coisa necessária), DOP (objeto dinâmico como objeto possível),

DOA (objeto dinâmico como objeto atual), DON (objeto dinâmico

como coisa necessária), II (Interpretante Imediato), DI (interpre-

tante dinâmico) e FI (interpretante final). Embora Maróstica não

seja clara quanto à relação desta seqüência com as divisões dos sig-

nos, e muito menos quanto às modalidades expressas por estas tri-

cotomias, utilizando os recursos de 3N3 é possível construir um dia-

grama compatível com esta hipótese e tentar localizar algumas clas-

ses (figura III.2.3.g).

A hipótese de Marty

Assim como Maróstica, o semioticista francês Robert Marty (1990)

também considera que existe uma relação entre as divisões em 10 e

28 classes de signos. Ele adota, contudo, uma ordem de determi-

nação diferente para as seis tricotomias envolvidas: [h1(Od),

h2(Oi), h3(S), h4(If), h5(Id), h6(Ii)].17

Segundo o autor, embora

esta ordem de determinação, onde os ‘objetos’ precedem o ‘signo,’

182

Figura III.2.3.h. Diagrama para 28 classes com as duas classes

6-tricotômicas que, segundo Marty (1990: 225-228), correspondem

à classe 3-tricotômica 321, selecionadas.

Page 184: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

pareça estar em conflito com a ordem de determinação exposta no

Syllabus (onde a ‘natureza do signo’ precede a ‘relação do signo com

o objeto’), as 28 classes podem ser consideradas subdivisões das 10

classes de signos apresentadas no mesmo artigo de acordo com o

padrão [h1=t1, h3=t2, h4=t3] (Marty 1990: 225-228). Neste caso,

para cada uma das 10 classes descritas no Syllabus deveríamos

encontrar uma ou mais correspondentes entre aquelas perten-

centes à divisão em 28 tipos de signos.

Para localizá-las utilizando 3N3, iniciamos com um diagrama

para 28 classes onde a tabela de tricotomias segue a ordem de deter-

minação adotada por Marty. Em seguida, utilizamos o padrão de

relação proposto pelo autor para selecionar os grupos de classes que

correspondem às 10 classes 3-tricotômicas. Por exemplo, para

encontrar o conjunto de classes 6-tricotômicas que corresponde à

classe 321, selecionamos a modalidade ‘3’ da primeira coluna de tri-

cotomias, a modalidade ‘2’ da terceira coluna, e a modalidade ‘1’ da

quarta coluna (figura III.2.3.h). A figura III.2.3.i mostra a divisão

das 28 classes segundo este princípio.

Ao estabelecer estas correspondências utilizando 3N3, fica

imediatamente claro que, embora seja possível dividir as 28 classes

em 10 grupos segundo o padrão proposto por Marty, a relação entre

183

Figura III.2.3.i. Diagrama para 28 classes mostrando os 10 conjuntos de

classes 6-tricotômicas que, segundo Marty (1990: 225-228), correspondem

às 10 classes 3-tricotômicas.

Page 185: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

estes conjuntos e as classes descritas no Syllabus é bastante proble-

mática. Notamos, por exemplo, que o conjunto das classes 6-tri-

cotômicas que, segundo Marty, seria uma ‘subdivisão’ dos legi-sig-

nos indexicais remáticos (321) não possui nenhum legi-signo, mas

apenas sin-signos (ver tabela de tricotomias na figura III.2.3.h).

Além disso, os conjuntos que correspondem aos sin-signos e aos

legi-signos icônicos (211 e 311) possuem apenas quali-signos, e

aquele que corresponde aos legi-signos indexicais dicentes (322)

possui apenas sin-signos (figuras III.2.3.j, III.2.3.k e III.2.3.l).

Relações entre as 3, as 6, e as 10 tricotomias

Os problemas encontrados na aplicação das hipóteses de Maróstica

e Marty derivam do fato destes dois autores buscarem uma relação

entre as classes sem levar em consideração que existe apenas uma

tricotomia em comum nas divisões em 10 e 28 classes propostas por

Peirce no Syllabus 1903 e na carta para Lady Welby de 23 de dezem-

bro de 1908. Se, conforme discutimos nos capítulos I.1.2 e I.1.3,

estas tricotomias são <S, S-Od, S-If> para as 10 classes do Syllabus e

<S, Oi, Od, Ii, Id, If> para as 28 classes da carta de Welby, então,

independentemente da ordem de determinação, existe apenas uma

tricotomia (S) que está envolvida em ambas as classificações.

184

Figura III.2.3.j. Diagrama para 28 classes com o conjunto de classes

6-tricotômicas que, segundo Marty (1990: 225-228), é uma subdivisão da classe

3-tricotômica 211 (sin-signos icônicos), selecionado.

Page 186: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Figura III.2.3.k. Diagrama para 28 classes com o conjunto

de classes 6-tricotômicas que, segundo Marty (1990: 225-228),

é uma subdivisão da classe 3-tricotômica 311 (legi-signos

icônicos), selecionado.

Figura III.2.3.l. Diagrama para 28 classes com o conjunto de classes

6-tricotômicas que, segundo Marty (1990: 225-228), é uma subdivisão da classe

3-tricotômica 322 (legi-signos indexicais dicentes), selecionado.

185

Page 187: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Por outro lado, conforme discutimos nos mesmos capítulos, a

divisão dos signos em 66 classes envolve ambos os conjuntos de tri-

cotomias, e mais uma décima (S-Od-If). Existem discordâncias

entre os especialistas, contudo, quanto à ordem de determinação

destas 10 tricotomias.

Podemos utilizar 3N3 para visualizar e testar as conseqüências

de diferentes ordens de determinação nas relações entre as 66 e as

10 classes de signos. Para isso, iniciaremos construindo um diagra-

ma para 66 classes onde a ordem das tricotomias na tabela segue a

“lista dos dez aspectos de acordo com os quais as principais divisões

de signos são determinadas” (L463: 134, 150, CP 8.344, EP2: 482-

483) fornecida por Peirce: S, Oi, Od, S-Od, Ii, Id, S-Id, If, S-If, S-Od-

If. A partir daí, clicando nas células da tabela que pertencem às

colunas das tricotomias presentes na divisão em 10 classes (S, S-Od

e S-If) poderemos identificar, um a um, os conjuntos de classes 10-

tricotômicos que correspondem às classes descritas no Syllabus de

1903. É possível identificar, por exemplo as classes 10-tricotômicas

que correspondem aos legi-signos indexicais remáticos (321) nesta

configuração (figura III.2.2.p).

Em seguida, faremos o mesmo partindo de ordens de deter-

minação diferente. A figura III.2.3.m mostra o que ocorre ao

186

Page 188: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

187

Figura III.2.3.m. Diagrama triangular para 66 classes

de signos, com as células ‘legisign,’ ‘index’ e ‘rheme’ da

tabela selecionadas a partir da ordem de determinação

defendida por Müller (1994: 147).

Page 189: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

localizarmos a mesma classe em um diagrama onde as tricotomias

estão dispostas segundo a ordem de determinação defendida por

Müller (1994: 147): Od, Oi, S, If, Id, Ii, S-Od, S-If, S-Id, S-Od-If.

Note-se que, embora as tricotomias referentes à divisão em 10 clas-

ses (S, S-Od e S-If) permaneçam na mesma posição relativa (em

ambos os casos, S precede S-Od, que precede S-If), as diferenças na

ordem de determinação das 7 tricotomias restantes têm conse-

qüências tanto para a quantidade quanto para a composição das

classes 10-tricotômicas que compõem os conjuntos relacionados às

10 classes. Por exemplo, diferente da ordem de tricotomias exposta

na “lista dos dez aspectos,” a ordem defendida por Müller (1994)

exclui a existência de legi-signos indexicais remáticos distribu-

tivos, mas inclui um legi-signo indexical remático pragmatístico

(comparar as tabelas das figuras III.2.2.p e III.2.3.m).

Outro exemplo disso é o conjunto de classes 10-tricotômicas

que correspondem aos ‘quali-signos [icônicos remáticos]’ do

Syllabus. Seguindo a ordem de tricotomias dada pela “lista dos dez

aspectos” (L463: 134, 150, CP 8.344, EP2: 482-483) teremos ape-

nas um quali-signo (figura III.2.3.n). Seguindo a ordem de deter-

minação defendida por Müller (1994: 147) ou a ordem adotada por

Lieb (1977: 164, apoiado em Peirce 1977: 84-85, EP2: 481) — Od, Oi,

188

Page 190: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

189

Figura III.2.3.n. Diagrama triangular para 66 classes

de signos, configurado de acordo com a ordem de

determinação dada por Peirce na “lista dos dez

aspectos” (L463: 134, 150, CP 8.344, EP2: 482-483),

mostrando o conjunto das classes 10-tricotômicas que

correspondem aos quali-signos [icônicos remáticos]

descritos no Syllabus de 1903.

Figura III.2.3.o. Diagrama triangular para 66 classes

de signos, configurado de acordo com a ordem de

determinação Müller (1994: 147), mostrando o

conjunto das classes 10-tricotômicas que

correspondem aos quali-signos [icônicos remáticos]

descritos no Syllabus de 1903.

Page 191: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

S, Ii, Id, If, S-Od, S-Id, S-If, S-Od-If—, teremos 6 quali-signos (figu-

ras III.2.3.o e III.2.3.p). O número de classes 10-tricotômicas que

correspondem aos quali-signos nestas duas últimas ordens de

determinação é igual devido ao fato da tricotomia S estar localizada

na mesma posição. A composição das classes 10-tricotômicas dos

dois conjuntos é também idêntica devido ao fato das três primeiras

tricotomias serem as mesmas, e da terceira (S) determinar que as

modalidades seguintes sejam sempre ‘1’ (ou ‘primeiras,’ em termos

cenopitagóricos).

190

Figura III.2.3.p. Diagrama triangular para 66 classes de signos, configurado

de acordo com a ordem de determinação adotada por Lieb (1977: 164),

mostrando o conjunto das classes 10-tricotômicas que correspondem aos

quali-signos [icônicos remáticos] descritos no Syllabus de 1903.

Page 192: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Notas1 . Os pressupostos teóricos para a construção deste software foram expostos

anteriormente em Farias & Queiroz (2000b, 2000c e 2001), onde nos referi-

mos ao projeto para este desenvolvimento como “Diagramas Triangulares”.

Para uma apresentação das bases teóricas para as diferentes classificações,

consultar o capítulo I.1 desta tese.

2 . Efetuei uma pesquisa bastante rigorosa entre os manuscritos de Peirce durante

minha estadia na Universidade de Indiana, mas não posso excluir que algum

diagrama para este tipo de classificação possa estar perdido entre os docu-

mentos não publicados.

3. Conforme discutimos no capítulo II.1, parece haver uma diferença na ordem de

determinação das classes que aparecem nos dois diagramas. No diagrama do

Syllabus ela é, explicitamente (EP2: 291), (i) signo em si mesmo, (ii) relação

do signo com seu objeto, e (iii) relação do signo com seu interpretante. No

diagrama de Welby ela parece ser, implicitamente, (i) natureza do objeto, (ii)

signo em si mesmo, e (iii) natureza do interpretante.

4 . Esta notação (111 para quali-signo, 211 para sin-signo icônico, 321 para legi-

signo indexical remático, etc.), já discutida nos capítulos I.1 e II.1, aparece em

alguns manuscritos de Peirce (em especial MS 799:4), e é adotada por diver-

sos especialistas (Weiss & Burks 1945: 386, Sanders 1970: 7, Déledalle &

Réthoré 1979: 82, Jappy 1984: 1, Merrell 1991: 1, entre outros).

5 . Conforme discutimos em II.1.2, um diagrama muito similar a Welby-S foi desen-

hado pelo próprio Peirce, e pode ser encontrado em L463: 155 (figura II.1.2.d).

6. Esta estratégia inspirou-se no tratamento que Shea Zellweger dedica à lógica

triádica de Peirce em Zellweger (1991).

191

Page 193: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

7. O valor de a+b+c=3 não deve ser confundido com a variação de a, b, e c entre {0,

1, 2, 3}. Neste exemplo, o valor de a+b+c é igual a 3 por que estamos trabal-

hando com as 3 tricotomias que formam as 10 classes. Conforme veremos a

seguir, este valor deverá variar de acordo com o número de tricotomias

envolvidas em uma determinada classificação.

8. Se dois dos elementos do tripleto (a, b, c) são iguais a zero, e a soma destes ele-

mentos deve ter um valor constante, então um dos valores de a, b ou c é igual

ao valor de a+b+c. Isso significa que nos tripletos ‘extremos’ ou a= a+b+c, ou

b= a+b+c, ou c= a+b+c.

9. Relembrando, isso corresponde à quantidade de algarismos ‘1’, ‘2’ e ‘3’ que

compõem a notação numérica para as classes. Uma vez que estamos trabal-

hando com 6 tricotomias, a quantidade de algarismos ‘1’, ‘2’ e ‘3’ que com-

põem cada uma das classes deverá variar entre 0 e 6.

10. Isso significa que, ao longo dos lados do triângulo teremos as seguintes

seqüências:

(6, 0, 0), (5, 1, 0), (4, 2, 0), (3, 3, 0), (2, 4, 0), (1, 5, 0), (0, 6, 0);

(0, 6, 0), (0, 5, 1), (0, 4, 2), (0, 3, 3), (0, 2, 4), (0, 1, 5), (0, 0, 6); e

(0, 0, 6), (1, 0, 5), (2, 0, 4), (3, 0, 3), (4, 0, 2), (5, 0, 1), (6, 0, 0).

11. Esta lista, com exceção do item ‘other (outro)’ segue a seqüência de tricotomias

suas respectivas abreviaturas e modalidades discutida no capítulo I.1.3.

12. No caso limite da tabela do diagrama para 91 classes/12 tricotomias, a opção

‘other’ é repetida na 11ª e na 12ª coluna.

13. Para uma análise mais cuidadosa do diagrama de Welby consultar o

capítulo II.1.2.

192

Page 194: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

14. A seguinte convenção será utilizada para descrever padrões na formação

das classes:

- as tricotomias envolvidas em divisões 3-tricotômicas serão

identificadas por tn,

- as tricotomias envolvidas em divisões 6-tricotômicas serão

identificadas por hn, e

- as tricotomias envolvidas em divisões 10-tricotômicas serão

identificadas por dn,

onde n indica a posição de uma tricotomia dentro da ordem de determinação.

15 . ... it follows from the Definition of a Sign that since the Dynamoid Object determines

the Immediate Object,

which determines the Sign itself,

which determines the Destinate Interpretant,

which determines the Effective Interpretant,

which determines the Explicit Interpretant,

the six trichotomies ... only yield 28 classes …

(Peirce 1977: 84-85, EP2: 481)

16. Maróstica (1992: 115-116) propõe que, ao invés de uma classificação baseada

em relações, nós devemos entender as 10 classes como “combinações …

baseadas no tipo estático de definição do signo” dado por Peirce. Sendo

assim, no lugar de S-Od teríamos apenas “O”, e no lugar de S-If teríamos sim-

plesmente “I”. Ela afirma, contudo, que a combinação destas tricotomias

resulta nas mesmas 10 classes descritas por Peirce no Syllabus de 1903, inclu-

sive no que se refere às modalidades expressas por estas tricotomias.

17 . Conforme discutido no capítulo I.1.3, esta é a mesma ordem de determinação

193

Page 195: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

defendida por Müller (1994: 147). Para Marty, diversos autores (Weiss &

Burks 1945, Déledalle 1978, Jappy 1983) teriam compreendido mal o trecho

da carta para Lady Welby onde Peirce fornece a ordem de determinação destas

tricotomias (Peirce 1977: 84-85, EP2: 481, ver nota 15, acima). Marty argu-

menta que devemos entender “destinate” como um sinônimo de “final,” e

“explicit” como um sinônimo de “immediate.”

194

Page 196: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Conclusão

10cubes e 3N3, os dois diagramas dinâmicos apresentados nos capí-

tulos III.1 e III.2 desta tese, são os melhores exemplos de como as

estratégias de sign design, discutidas no capítulo I.3, aliadas aos

recursos apontados no capítulo II.3, podem ser aplicadas, com

sucesso, na construção de diagramas das classes de signos de

Peirce. Mais do que conclusões definitivas, este último capítulo

aponta algumas questões e novos caminhos de pesquisa sugeridos

pelos resultados obtidos até aqui.

Resultados relevantes para o campo do design

Sign design não têm, evidentemente, a pretensão de ser uma respos-

ta definitiva em termos de metodologia de projeto para o campo do

design. Contudo, o fato de aliar o instrumental teórico da semiótica

peirceana à metodologia de projeto, faz com que ele se torne apto a

fornecer uma contribuição interessante para a investigação de

estratégias eficientes para o desenvolvimento de produtos, espe-

cialmente na área do design da informação. Se, conforme afirma

Sless (1997) a emergência do design da informação, a partir da

195

Page 197: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

década de 1960, caracteriza-se por uma transição do design de

objetos para um design de relações, então, tendo em vista o que foi

discutido no capítulo I.2, a contribuição das estratégias de sign

design para esta área parece ser promissora.

O status de sign design enquanto metodologia capaz de

desenvolver recursos mais adequados para o ensino da semiótica

também merece ser investigado. Embora isso esteja fora do escopo

desta tese, os dois modelos propostos nos últimos capítulos pode-

riam ser testados enquanto ferramentas didáticas. Pode-se espe-

rar que 10cubes, em especial, por ser um modelo de caráter muito

mais analítico (no sentido dado por Pazukhin 1987, uma con-

cretização de nosso conhecimento sobre o protótipo) do que

experimental, seja mais útil como ferramenta de ensino do que

3N3. Este último deve ser de particular interesse para especialistas

e estudantes avançados de semiótica.

Resultados relevantes para a semiótica

Conforme constatamos no final do capítulo I.1, a divisão dos signos

em 10 classes, conforme proposta no ‘Syllabus,’ é bastante bem

compreendida, e abordada de forma concordante por seus comen-

tadores. O mesmo, contudo, não pode ser dito sobre as 28, e prin-

196

Page 198: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

cipalmente sobre as 66 classes de signos. Junte-se a isso a sugestão

de que Peirce tenha, talvez, concebido outras divisões em 10 classes

diferentes daquelas do ‘Syllabus,’ conforme vimos na seção II.1.2.

Some-se também a incerteza quanto a considerar os hipo-ícones

como uma classificação sobreposta, independente, ou como uma

ramificação das 10 classes. Ao fazer isso perceberemos que, quando

Peirce falou em “59.049 questões difíceis para considerar com

cuidado” (CP 8.343), em relação às classificações sígnicas, ele não

estava brincando com números.

Qualquer um que deseje estudar a questão das classificações

com mais rigor perceberá logo que existem muitas perguntas sem

resposta direta na obra de Peirce. É neste sentido que o diagrama

dinâmico 3N3 se apresenta como uma ferramenta extremamente

útil na procura de respostas para algumas destas cerca de 50 mil

“questões difíceis.”

Quando Peirce falou em 59.049 questões, ele estava con-

siderando todas as combinações possíveis entre as 3 modalidades

de suas 10 tricotomias. Sabemos que, de acordo com a lógica que

rege a construção de suas classes, estas 30 modalidades combinadas

deverão gerar apenas 66 classes de signos, conforme vimos no capí-

tulo I.1. O problema reside em determinar quais são, exatamente,

197

Page 199: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

estas 66 classes. Sabemos também que a ordem das tricotomias

determina quais as classes que aparecerão em uma classificação, e,

portanto, que se conseguirmos estabelecer qual é a ordem correta

das tricotomias, saberemos quais são estas classes, e vice-versa.

Embora resolver esta questão não seja um objetivo desta tese, é pos-

sível indicar um caminho para isso, utilizando 3N3.

Conforme vimos no capítulo I.1, segundo Sanders (1970),

embora Peirce não tenha fornecido uma lista definitiva das dez

tricotomias em sua ordem de determinação, é possível encontrar

em sua obra algumas ordenações parciais. Se isso estiver correto,

as ordens de determinação defendidas por Lieb (1977) e Müller

(1994) são sérias candidatas a ordem correta, mas existem

muitas outras ordens possíveis. Se discordarmos quanto às trico-

tomias envolvidas, existem muitas mais. Cada uma destas ordens

implica na possibilidade ou impossibilidade de certos tipos sig-

nos existirem, e todas elas podem ser facilmente testadas em 3N3

(ver, por exemplo, as comparações das ordens de Lieb e Müller

no final do capítulo II.2).

Hipóteses quanto à relação dos hipo-ícones com as classes de

signos também podem ser testadas com facilidade. Conforme dis-

cutimos no capítulo I.2, se considerarmos que os quali-signos são

198

Page 200: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

‘ícones puros,’ existe uma dificuldade para se ‘encaixar’ os hipo-

ícones na divisão em 10 classes do ‘Syllabus,’ pois restam apenas

duas classes icônicas (211 e 311). Contudo, se considerarmos outras

classificações onde a tricotomia S-Od (à qual pertence a modalidade

dos ícones) aparece, teremos quantidades e tipos diferentes de sin-

signos e legi-signos icônicos, dependendo das tricotomias que pre-

cedem a tricotomia S. Embora, mais uma vez, resolver este proble-

ma não seja um objetivo desta tese, pode-se adiantar que, respei-

tando as ordenações parciais apontadas por Sanders (1970, seção

I.1.3, Oi e Od devem preceder S, que deve preceder S-Od), indepen-

dente da ordem das outras tricotomias (e mesmo da ordem de Oi e

Od), existem três sin-signos icônicos, e apenas um legi-signo

icônico nas 66 classes (figura IV.a). Isso sugere que os hipo-

ícones, dentro das 66 classes, possam ser diferentes tipos de sin-

signos icônicos, algo diferente das hipóteses dos comentadores

apresentadas na seção I.2.2.

Uma terceira sugestão é a investigação da posição dos três

tipos de argumento —abdução, indução e dedução— em relação às

66 classes. A posição da tricotomia S-Od-If, cujas modalidades

estão relacionadas a estes tipos de argumento, é uma das poucas

cuja posição, conforme os comentadores, não varia, permanecendo

199

Figura IV.a. Diagrama para 66 classes de signos mostrando três tipos de

sin-signos icônicos que poderiam corresponder aos hipo-ícones.

Page 201: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

sempre em último lugar na ordem de determinação. Embora a

quantidade de classes de signos abdutivos, indutivos e dedutivos,

neste caso, não varie, seria interessante estudar as implicações de

mudanças na ordem das tricotomias para os tipos de signos que

compõem cada classe.

Conforme vimos no capítulo III.2, todos os recursos previstos

no projeto de 3N3 —e mais alguns— foram implementados. Isso não

impediu, porém, que ainda outros recursos continuassem a ser

sugeridos por sua utilização. Um recurso que deverá ser implemen-

tado em uma possível nova versão de 3N3 é uma forma mais adequa-

da de se representar mapeamentos entre diferentes classificações

(por exemplo, entre as 10 e as 66 classes, tal como aparece na figu-

ra III.2.3.i). A figura IV.b mostra como o formalismo de cores

apresentado na seção II.3.1 poderia ser empregado para implemen-

tar este tipo de mapeamento.

Conforme foi dito no capítulo I.3, a definição de uma possí-

vel metodologia para sign design tem como objetivo não apenas

tornar pública uma reflexão quanto ao processo de criação destes

diagramas, mas também incentivar o desenvolvimento de novos

modelos. Se é verdade que sign design tem um duplo interesse para

as áreas do design e da comunicação, enquanto metodologia para

200

Figura IV.b. Mapeamento entre as 10 e as 28 classes de

signos, mostrando 10 conjuntos de classes 6-tricotômicas

que, segundo Marty (1990: 225-228), correspondem às 10

classes 3-tricotômicas (comparar com a figura III.2.3.i).

Page 202: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

uma forma prática e visual de investigação, e como provedor de

ferramentas capazes de auxiliar o ensino da semiótica, uma

questão em aberto é: será que este conjunto de estratégias também

poderia ser aplicado a outros ramos da semiótica (como, por

exemplo, aquele que deriva da linguística de Saussure)? Tendo em

vista os argumentos de Peirce sobre as vantagens do raciocínio

diagramático para a filosofia (CP 3.406, 3.429), poderíamos espe-

rar que sim, mas o assunto mereceria muito mais estudo antes de

uma resposta definitiva.

Outra questão em aberto diz respeito à aplicabilidade destas

estratégias a outros aspectos da teoria peirceana, além da classifi-

cação de signos. Aplicações no campo da lógica, tais como a imple-

mentação de ambientes virtuais para a manipulação dos grafos exis-

tenciais, por exemplo, são bastante fáceis de prever. Existem exem-

plos bem sucedidos deste tipo de aplicação, que implementam out-

ros tipos de lógica diagramática, como o software A&T, de V.

Sivasankaran e Doblin Group, que implementa diagramas de Venn,

e o Tarsky’s World e Hyperproof de J. Barwise e J. Etchemendy

(Barwise & Etchemendy 1994), que implementam versões gráficas

e sentenciais da lógica de Tarsky.

201

Page 203: Sign Design Ou o Design Dos Signos a Con

Neste contexto, o trabalho apresentado nesta tese deve ser

visto como um primeiro resultado de um programa de pesquisa

mais amplo, que busca descobrir novas estratégias de modelagem, e

implementar novas formas de visualização, para diferentes aspectos

da teoria do signo.

202

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