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Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012
Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012
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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS EM PROJETOS DA PAISAGEM: A REABILITAÇÃO ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA DO PARQUE FIGUEIRAL EM PRESIDENTE EPITÁCIO Priscila Oyan Sotto, Hélio Hirao, Neide Faccio Barrocá. Curso Arquitetura e Urbanismo / Departamento de Planejamento / Universidade Estadual Júlio Mesquita Filho, [email protected].
RESUMO A pesquisa busca elaborar um procedimento metodológico para o estudo de um projeto de paisagem. Para este, toma como referência os estudos da paisagem que a Arquiteta Rosa Kliass utilizou no Projeto de Plano da Paisagem Urbana em São Luis‐Maranhão. Assim, desenvolve‐se um novo procedimento metodológico utilizando as ferramentas da APO, o exame de Referências Projetuais e verificação do potencial do lugar, que encaminham para diretrizes projetuais. Para verificar a eficácia desse processo metodológico, o mesmo é aplicado no desenvolvimento de um projeto de reabilitação do Parque Figueiral de Presidente Epitácio, SP.
INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
Para a elaboração de um procedimento metodológico de análise da paisagem, utilizou
como referência a Arquiteta Rosa Kliass no Projeto de Plano da Paisagem Urbana em São Luis,
Maranhão. Com o objetivo do estudo da paisagem do Parque Figueiral de Presidente Epitácio, SP,
baseou‐se nas leituras da paisagem desenvolvidas pela arquiteta e adotou‐se um método
semelhante. A adaptação ocorreu devido à diferença de escala dos projetos, porém ambos
buscam a reabilitação das áreas.
Os itens estudados para o projeto do Parque Figueiral serão: primeiramente a técnica da
APO (Avaliação Pós Ocupação) utilizando da aplicação de questionários e da walkthrough; em um
segundo momento desenvolve‐se a leitura de projetos referenciais, elaborando uma matriz de
referência projetual; a terceira análise estrutura‐se no estudo da paisagem existente no parque,
evidenciando seus aspectos positivos; e como quarta e última análise serão propostas as diretrizes
de implantação para o desenvolvimento do projeto.
Palavras‐chave: Procedimento Metodológico em Paisagismo, APO, ReferÊncias Projetuais,
Paisagem, Paisagismo.
METODOLOGIA E JUSTIFICATIVA
O exame dos procedimentos metodológicos que a Arquiteta Rosa Kliass desenvolveu para
realizar o Projeto de Plano da Paisagem Urbana, conforme o quadro 1, iniciou uma reflexão para
pensar em um método de leitura da paisagem e seu diagnóstico como subsídios para a
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elaboração de um projeto de reabilitação de uma área pouco apropriada pela população e com
grande potencial de utilização como é o caso do Parque Figueiral em Presidente Epitácio, SP.
Portanto, para a leitura e levantamento do Parque Figueiral, utilizando como base do
estudo o procedimento metodológico da arquiteta Rosa Kliass, resultou no quadro 2, que foi
estruturado respeitando suas proporções, em um esquema de leitura da paisagem existente,
conduzindo as diretrizes projetuais para o desenvolvimento do projeto.
Quadro 1. Análise da Arquiteta Rosa Kliass.
QUADRO KLIASS DEFINIÇÃO
1. Inventário Mapeamento e locação do existente e dos aspectos naturais da paisagem.
2. Diagnóstico Levantamento das atividades da área, do existente, problemas, das tendências e potencialidades constatados.
3. Análise Análise em diferentes fatores, suas conexões e superposições. E a análise comparativa com outros objetos no mesmo segmento.
4. Propostas para a paisagem urbana
Propor a revalorização do patrimônio cultural e do patrimônio ambiental, em ações de adequação, contenção, consolidação, preservação, expansão.
5. Diretrizes Para planos e projetos específicos, estabelecimento de prioridades em relação às atividades futuras a serem desenvolvidas.
Quadro 2. Diretrizes de análise do Parque Figueiral.
QUADRO ANÁLISE DEFINIÇÃO
1. APO Desenvolve‐se os métodos da APO: a walkthrough e o questionário, para levantar e mapear o existente da área.
2. Matriz de referências projetuais
Baseado na matriz de referências projetuais, pode‐se comparar outros projetos do mesmo segmento, buscando diretrizes para sua implantação.
3. Estudo da paisagem Analisa‐se a paisagem buscando valorizar e priorizar o existente.
4. Diretrizes para implantação
Diretrizes de implantação proposta para o projeto a ser desenvolvido.
Como o projeto de São Luis é estruturado em uma escala urbana, foi‐se adaptado as
análises para o estudo do Parque Figueiral, que é um parque na cidade de Presidente Epitácio,
admitindo sua escala local, assim, adotou‐se quatro diferenciados itens para a análise: a primeira é
a APO (Avaliação Pós‐Ocupação) e suas ferramentas: a Walkthrough e os questionários. Como
segundo item é a releitura de dois projetos referenciais com temas semelhantes; o terceiro é o
estudo e levantamento do potencial do lugar, que analisados e refletidos serviram de subsídios
para realizar um diagnóstico síntese, como quarto e último item, indicando as diretrizes de um
plano de reabilitação do Parque Figueiral.
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A APO se equivale ao inventário e ao diagnóstico, pois ambos tratam com o existente da
paisagem, as atividades, problemas, tendências e as potencialidades das mesmas. A análise no
projeto da Rosa Kliass estuda outros projetos com o mesmo segmento, que é relacionado com a
matriz de Referências projetuais, pois utilizando de outros projetos na mesma área, se elabora um
quadro comparativo entre os mesmos.
Já na proposta para a paisagem urbana, Rosa evidencia e valoriza os aspectos do terreno,
que ela divide em: patrimônio cultural, patrimônio ambiental, ações de adequações, contenção,
preservação e expansão. Para o estudo do Parque Figueiral, elabora‐se o estudo da paisagem, de
forma a valorizar o patrimônio natural e ambiental do parque.
APO (AVALIAÇÃO PÓS‐OCUPACIONAL) DOS AMBIENTES CONSTRUÍDOS
A APO considera a opinião do usuário, sempre procurando entender sua relação com o
ambiente construído. Segundo Rheingantz (2009, p. 16), APO é ¨um processo interativo,
sistematizado e rigoroso de avaliação do ambiente construído, passando algum tempo de sua
construção e ocupação.¨
Já conforme Ornstein (1992, p. 20), ¨é ¨um mecanismo eficiente de realimentação para
outros projetos semelhantes e do controle de qualidade global do ambiente construído no
decorrer de sua vida útil¨.
Para este estudo optou‐se por realizar uma APO do tipo walkthought e com aplicação
de questionário, pois conforme estudos e pesquisa, concluiu‐se que são os métodos mais eficazes
para esta análise.
Questionário
O questionário é um exemplo do método quantitativo mais utilizado, segundo Lay e Reis
(2005). É um instrumento de coleta de dados, de forma objetiva e eficaz. Com os resultados
percebe‐se que o parque é bem frequentado por mulheres e homens, sendo 42% do público
feminino e 58% do público masculino.
O estado civil das pessoas é na maioria casada (42%) e solteira (42%). Havendo uma
pequena porcentagem de pessoas divorciadas (8%) e uma pessoa viúva. As pessoas que
frequentam o Parque são de todas as faixas etárias, mas a maioria se concentra entre 20 a 30 anos
(34%).
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As pessoas que frequentam são de diversas profissões e que chegam de outras cidades da
redondeza, havendo também alguns turistas do Mato Grosso do Sul. A nota média, de zero a dez,
atribuída pelos usuários para o Parque Figueiral é de 7,6.
Nas perguntas abertas, o ponto mais encontrado foi que faltam mais equipamentos para
as crianças. Muitos sugeriram a melhoria dos quiosques para refeição. Os pontos positivos mais
destacados foram a arborização do parque e as áreas de lazer. Os pontos negativos mais relatados
foram os banheiros, que são muito pouco conservados. Os usuários classificam a maioria dos
equipamentos entre otimo e bom, mas quando a questão em relação a quais equipamentos que
eles utilizam, a maioria acaba apenas utilizando aqueles que estão na orla da praia.
Walktrrough
A walkthought é um exemplo da análise qualitativa, pois tem o objetivo de coletar e
analisar dados dos ambientes construídos e a utilização por seus usuários, em um período rápido
de tempo. Seu principal objetivo é a descrição de aspectos positivos e negativos do ambiente, a
partir de um olhar técnico do avaliador.
Os objetivos são identificar os espaços avaliados, as apropriações imediatas dos usuários
do ambiente, as principais alterações realizadas nos espaços e o nível de familiarização dos
usuários com os espaços.
As observações da área foram organizadas na forma do estudo de walkthought,
desenvolvida com a coleta de imagens e mapa da área, conforme a figura 1.
MATRIZ DE REFERÊNCIAS PROJETUAIS
O objetivo da análise de outros projetos é a leitura e compreensão de projetos
semelhantes ao desenvolvido, servindo como referência a ser utilizada ou não, dependendo do
contexto em que se insere o projeto de requalificação do Parque Figueiral, ou seja, o lugar e seu
potencial (físico, climático, conforto, visuais, ambiência), as características do público alvo
(hábitos, costumes, anseios, desejos, imaginários) que frequenta o lugar, por exemplo.
Para o estudo das referências, foram escolhidos duas obras para a leitura projetual. Esta
leitura corresponde em uma observação, analise e compreensão da obra escolhida, levantando
seus aspectos positivos e negativos, encaminhando diretrizes para o projeto a ser desenvolvido.
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Figura 1. Análise da Walktrough.
Os projetos estudados foram visitados e vivenciados, podendo haver uma grande auxílio
para os estudos dos mesmos. O primeiro é o Camping Fuentes Blancas, na cidade de Burgos, ao
norte da Espanha. E o segundo é o Balneário da Amizade, na cidade de Presidente Bernardes.
Assim, nas duas primeiras colunas apresenta as características dos campings escolhidos e
a terceira coluna são diretrizes projetuais possíveis para o projeto. As Diretrizes Projetuais, são os
itens positivos que se deve ser estudado na reabilitação do Parque Figueiral, mas que serão
melhores destacadas no próximo item.
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MATRIZ DE REFERÊNCIAS PROJETUAIS REFERÊNCIAS PROJETUAIS
PROJETOS DE REFERÊNCIA DIRETRIZES PROJETUAIS
Camping Fuentes Blancas Balneário do Futuro Projetos de diretrizes projetuais.
ENTO RNO
Entorno composto pela vegetação e um rio que passa na encosta do camping e uma praia artificial.
No camping tem vistas para fora, onde o entorno é composto por muita vegetação.
Busca‐se o descanso, somente com vistas para a paisagem natural.
PAISA GEM
Não respeita o existente da paisagem local. Apenas insere o empreendimento.
Não respeita o existente da paisagem local. Apenas insere o empreendimento.
A Casa da cascata, pois ela propõe uma sutil implantação ao na paisagem, de forma natural.
SETORIZAÇÃO
Atividades de forma setorizada.
Atividades de forma setorizada
Pretende‐se setorizar as atividades propostas, relacionadas com suas funções. Evitando que que se molestem.
ASPECTOS ARQUITETÔNICOS
Nenhuma característica arquitetônica marcante. Apenas os bangalôs que são todos feitos em madeira, resultando em uma tendência arquitetônica. Área totalmente adaptada para deficientes.
Arquitetura tradicional, sem nenhuma linha ou tendência arquitetônica. Utiliza das cores como característica marcante para o camping.
Não se pretende projetar edifícios monumentais, apenas utilizar da arquitetura funcional, para melhor desenvolver o projeto.
LEITURA DA PAISAGEM E DIAGNÓSTICO
Esta etapa do processo metodológico faz a leitura da paisagem existente, com seus
aspectos naturais da topografia, insolação, ventilação, vegetação e a hidrografia, visuais
favoráveis. Verifica assim, o potencial do lugar a ser considerado na definição das diretrizes de
projeto.
A topografia do Parque Figueiral é consideravelmente plana, com a ressalva de algumas
áreas que possui um declive mais acentuado, ou até alguns pontos de grandes desníveis. O parque
possui um desnível de 45m que divididos ao longo dos seus 851m de largura, possui uma
inclinação média no terreno de 5,30%.
A insolação incide no terreno de forma perpendicular ao seu comprimento. Assim, o
nascer e o por do sol são observados no horizonte do Rio Paraná.
Os ventos acontecem na vertical do parque e sua maior intensidade ocorre saindo do rio,
e percorrendo ao longo do parque.
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A vegetação existente esta espalhada ao longo do terreno, sendo do tipo rasteira em
todo o parque. Mas também há várias árvores, de grande, médio e pequeno porte. A vegetação
existente deverá ser integrada na implantação do projeto arquitetônico e paisagístico.
A hidrografia é composta pelo rio Paraná, ao longo de toda a orla do Parque. A orla da
praia é um atrativo natural. Assim, os quiosques, banheiros e estacionamentos que estão o redor
da orla, também são os mais utilizados. Os outros equipamentos são muito poucos utilizados.
Na figura 2, observa‐se um esquema da insolação, ventilação, topografia, vegetação e
hidrografia existente na área. Na figura 3, destacam‐se os caminhos atuais do parque. Os
caminhos de cascalho são os mais utilizados e maiores. Os de pedrisco são os menos utilizados,
sendo em alguns pontos do parque, praticamente inexistentes. O material construtivo dos
equipamentos existentes é a alvenaria aparente.
Figura 2. Esquema de ventilação, insolação e topografia do parque. Figura 3. Mapa dos caminhos do
parque.
RESULTADOS
Como resultado, apresenta‐se as diretrizes projetuais, que foram baseadas na análise de
referências projetuais dispostas na matriz, bem como no estudo e compreensão das
características naturais e das intervenções existentes do Parque Figueiral.
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DISCUSSÕES
A discussão consiste na principal diretriz do projeto de reabilitação do parque será a
integração dos ambientes construídos com o ambiente natural do parque, trabalhando com os
caminhos, fluxos, volumetria e materialidade do objeto proposto.
A implantação será desenvolvida a partir dos espaços cheios e vazios e de seus caminhos
existentes. Além de tirar partido do desnível do terreno, para um projeto acessível, onde todos
seus usuários possam utilizá‐los sem nenhuma restrição. Esta implantação acontecerá na forma de
setorização das atividades, de forma que estas atividades semelhantes estejam relacionadas com
as características do terreno e sua potencialidade a ser aproveitada. Sempre integrando‐as e
relacionado‐as.
Os caminhos contemplam o visual do parque, tomando partido para a implantação dos
equipamentos, que estarão localizados ao longo dos mesmos. Estes caminhos poderão ser ora
contemplativos, ora de percurso, ora de atividades de permanência e ora de flanar. As edificações
devem se integrar ao máximo, com a natureza.
Utilizando de materiais que integrem com o parque, as edificações não buscam o objetivo
de serem monumentais, mas colocadas de forma a participarem da paisagem. Locadas de melhor
forma no terreno, buscam aproveitar seus aspectos naturais, como ventilação e iluminação.
CONCLUSÕES
Com o procedimento metodológico adotado, o encaminhamento projetual da
reabilitação surge naturalmente, como consequência, bem como a fundamentação para
justificativas das soluções adotadas no projeto fica clara. Desta forma o Projeto de reabilitação do
Parque Figueiral ganha consistência e qualificação.
Existem diversos outras perspectivas de procedimentos metodológicos em projetos da
paisagem, mas este adotado possui uma condução lógica contemplando os vários aspectos
envolvidos no processo com um potencial de acerto de chegar a boas soluções de desígnios para a
requalificação do Parque Figueiral.
REFERÊNCIAS
KLIASS, R. G. Rosa Klias: desenhando paisagens, moldando uma profissão. Texto: Ruth Zein.
Editora SENAC. São Paulo. 2006.
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ORNSTEIN, S. W.; ROMÉRIO, M. A. (col.) Avaliação pós ocupação (APO) do ambiente construído.
São Paulo: Studio Nobel / Edusp, 1992.
RHEINGANTZ, P. A.; et al. Observando a qualidade do lugar: procedimentos para avaliação pós
ocupação. Rio de Janeiro: PROARQ/FAU/ARQ, 2009.110p.