plano de reabilitação do bairro do recife

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0 Arquitetura e Urbanismo Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo Plano de Reabilitação do Bairro do Recife Campinas, 14 de maio de 2012.

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Trabalho realizado à disciplina de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo pelos discentes do 1º semestre de Arquitetura e Urbano da Universidade Paulista (UNIP) campus - Campinas Swift

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Page 1: Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

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Arquitetura e Urbanismo

Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo

Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

Campinas, 14 de maio de 2012.

Page 2: Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

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Arquitetura e Urbanismo

Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo

Discentes:

Camila Boaventura

Mateus Rosolen

Pâmela Rodrigues

Thomas Grabriel

Willian

Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

Trabalho apresentado à disciplina de Teoria e

História da Arquitetura e Urbanismo -

Urbanismo I como requisito parcial avaliativo do

I semestre sob a orientação da professora

Aimée.

Campinas, 14 de maio de 2012.

Page 3: Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

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1.Características físicas e históricas da cidade do Recife:

FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Recife

Figura 1 - Mapa do Brasil com a localização da cidade de Recife, em vermelho, apliada.

A cidade de Recife foi fundada no século XVI. Outorgada em 12 de março de 1537 pelo

donatário Duarte Coelho, foi chamada de Recife dos Navios devido aos arrecifes

naturais que formavam um seguro ancoradouro para as embarcações (LEITE, R.P.

2006)

Com uma economia voltada para o setor terciário, Recife cresceu destacando-se pela

sua função de intermediação comercial com Portugal, através da exportação do açúcar.

FONTE: http://www.recife.pe.gov.br/

Figura 2 - Planta da cidade do Recife em 1856

Page 4: Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

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De acordo com o site oficial da prefeitura da cidade, atualmente, as atividades

comerciais e de prestação de serviços são predominantes e respondem por 95% de

todo o valor da riqueza gerada.

Com uma população de aproximadamente1.536.934 habitantes, Recife abriga o maior

parque tecnológico do Brasil, o Porto Digital, além de sediar o mais importante pólo

médico do Norte/Nordeste.

Apesar do desempenho da economia formal, com uma base econômica relativamente

moderna, o Recife ainda se encontra fortemente ligado à chamada economia informal.

Esse setor absorve grande quantidade de mão-de-obra correspondendo a pequenas e

micro empresas caracterizando a cidade.

As manifestações culturais de recife, como carnaval e o São João, atraem o turismo

para a região. Dentre os pontos turísticos, o bairro de Recife destaca-se por ser a

principal atração urbanística possuindo um conjunto arquitetônico e cultural de

destaque.

FONTE: Google maps

Figura 3 - Vista por satélite da cidade do Recife

Page 5: Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

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FONTE: Plug-in

Figura 4 - Mapa do recife, com uma ampliação do centro da cidade no canto superior esquerdo.

2. Projeto de intervenção urbana:

2.1 Breve Histórico do Bairro:

O Bairro do Recife, era um pequeno povoado com aproximadamente mil metros

quadrados. Devido ao ancoradouro natural formado pelos arrecifes ao longo da faixa

litorânea, o bairro cresceu como Porto de Comércio.

FONTE: http://www.recife.pe.gov.br/

Figura 5 - Bairro do Recife no século XVII

Page 6: Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

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No século XVI, com a colonização portuguesa, houve um crescente movimento da

produção e da exportação de açúcar, o que contribuiu para o surgimento dos primeiros

povoados de imigrantes europeus ao longo da vizinhança do porto. (VAINSENCHER,

S.A., 2010).

FONTE: Velhas Fotografias Pernambucanas 1851/1890 - Gilberto Ferrez

Figura 6 - Porto do Recife - sec. XIX

Com a ocupação holandesa, ao longo do século XVII, o padrão urbanístico português

foi alterado, e o povoado foi inserido na evolução urbana através da construção da

ponte Maurício de Nassau que tinha a função de ligar o bairro às ruas e avenidas da

capitania.

O Bairro do Recife foi sendo habitado por diversos povos com distintas culturas, que

transformaram o aspecto do bairro. Ao longo das ruas estreitas foram construídas belas

construções que não possuíam um padrão urbanístico.

FONTE: URB/ Recife

Figura 7 - Bairro do Recife - Século

XIX

Page 7: Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

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Com o passar do tempo as construções foram se deteriorando tornando o aspecto do

bairro pouco agradável de decadência física. Os antigos sobrados passaram, em sua

maioria, a abrigar cabarés e cortiços.

Atualmente o Bairro do Recife é o lugar de formação da cidade e o mais importante

sítio histórico do município. (LIRA, et.Al. dez.2007)

FONTE: Google maps

Figura 8 - Vista por satélite do Bairro do Recife.

Diante da importância histórica do bairro, nas últimas décadas do séculos XX,

procurou-se investir em ações de renovação urbana do local. Essa revitalização trouxe

consigo algumas questões fundamentais a serem discutidas no âmbito do

planejamento urbano.

Essa política de revitalização de sítios históricos, relativamente nova no Brasil,

representa a passagem de uma prática de expansão indiscriminada da cidade

existente, para uma de transformação urbana, baseada na valorização do potencial do

patrimônio instalado, seja do ponto de vista construído, de sua acessibilidade, como de

seu simbolismo. (LIRA, et.Al. dez. 2007)

2.2 Intervenção Urbana:

A primeira reforma urbana considerável no Recife antigo ocorreu em 1910 para

melhoramento do porto. Segundo o cientista social Rogério Proença Leite a reforma

seguiu a mesma tendência que se proliferou em todo país, associando modernização

Page 8: Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

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da estrutura portuária com renovação urbana, sendo esse período relevante a história

econômica de Pernambuco.

Recife era importante no cenário econômico do país, sendo o centro da elite urbana.

Além disso, no início do século XX, o estado de Pernambuco passou por

transformações no setor açucareiro, na qual substitui-se os antigos engenhos pela

usina.

A reforma, portanto, não apenas melhorava as condições operacionais do comércio

exportador/importador, como também delineava uma nova imagem para a cidade,

reflexo das novas elites da economia financeira e urbana em Pernambuco, conforme

ressalta Cátia Lubambo (1991) e citado por Rogério Proença Leite. Outra função

importante das reformas da época era a de ampla higienização a fim de amenizar as

moléstias e os focos de epidemias que assolavam os centros urbanos.

FONTE: Flaviana Lira

Figura 9 - Planta do bairro do Recife com a evolução urbana do bairro e as respectivas reformas

ocorridas de pois de 1910

A partir dos anos 50 o bairro passou por um lento processo de deterioração, na qual

acelerou-se o processo de degradação ambiental, tornando-se uma periferia no centro

da cidade.

Em meados da década de 70 foi criado o Escritório do Bairro de Recife e com ele a

proposta de recuperação do bairro já bastante degrado. A proposta pretendia atender

ENTORNO DA PRAÇA TIRADENTES

Page 9: Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

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os habitantes das favelas, trabalhadores do porto e prostitutas que habitavam o bairro.

Diante disso, os principais atores econômicos locais afastaram-se do projeto.

Com isso o grande desafio enfrentado para implementação do projeto foi fazer com que

o setor privado investisse no bairro. Para tanto, definiram-se duas estratégias:

concentrar os esforços iniciais em uma única área, apostando em que, com a sua

recuperação, os investimentos transbordariam os seus limites, e induzir o setor privado

a acreditar no potencial econômico do Bairro, de tal forma que ali investisse o seu

capital. (LACERDA, 2007)

No final da década de 80 o governo do estado estabelece projetos para aumentar a

economia estadual investindo, principalmente, no setor turístico. Nesse contexto, em

1992, é proposto o Plano de Revitalização do Bairro de Recife, coordenado pela

Agência de Desenvolvimento da Ilha do Recife.

FONTE: Prefeitura do Recife, 2002.

Figura 10 - Área Sul do bairro do Recife, uma das áreas que mais sofreu intervenções urbanísticas.

O plano promoveu a caracterização de três diferentes setores de intervenção e definiu

também áreas de interesse e uma espacialização das atividades, a partir das

possibilidades concretas de intervenção. O Setor de Consolidação, definido como uma

área estável quanto aos usos, compreendia a parte da Ilha onde se fixaram as

atividades portuárias e as atividades institucionais. O Setor de Renovação se

apresentava como uma área que oferecia “disponibilidade de transformação”. O Setor

Page 10: Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

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de Revitalização, que compreendia praticamente a área que depois constituiu a

poligonal de tombamento, tinha seu uso do solo definido pelas atividades de “serviços

modernos, o comércio varejista e a habitação”. (LEITE, R.P. 2006)

FONTE: Prefeitura do Recife, 2008.

Figura 11 - Bairro do Recife - Configuração espacial.

Esse projeto possuía uma lista de ações a curto e médio prazo, com dimensionamento

físico e estimativa do custo da obra. A área de abrangência do projeto era de

aproximadamente 120km2, abrangendo uma grande área da Rua do Bom Jesus e do

Paço Alfândega.

Além de conservar o patrimônio histórico e cultural o plano objetivava ainda aumentar a

economia do bairro tornando-o um centro regional de comércio e serviços modernos, e

atração turística nacional e internacional. Previa-se ainda um espaço que promoveria a

concentração de pessoas nas áreas públicas criando um espetáculo urbano.

O projeto foi realizado em basicamente quatro etapas: a primeira constitui-se na

recuperação de espaços público como ruas, calçadas, iluminação, esgoto, dentre

outras, a segunda etapa foi baseada na parcerias do governo com órgão privados para

a construção e manutenção de praças, além disso implantou-se o projeto cores da

cidade na qual recuperava-se a fachadas das casas com tinta fornecida por empresas

internacionais. Ao término das duas primeiras fases não havia grandes investimentos

no bairro, pois o projeto havia adquirido pouca credibilidade.

Page 11: Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

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FONTE: Geocities.

Figura 12 - Rua do Bom Jesus à esquerda e Praça da catedral após a revitalização à direita

A terceira fase tentou reverter a situação ampliando a área geográfica do projeto cores

da cidade. A quarta fase correspondeu ao período de consolidação da revitalização, na

qual restaurou-se os prédios desapropriadas. Sendo assim, no ano de 1995 inaugurou-

se os primeiros bares.

Em 1998 o bairro foi tombado pelo IPHAN, que o reconhece como patrimônio nacional,

justificando-se pelo bairro “[...] configurar-se hoje em exemplar único, íntegro, e híbrido

da Paris de Haussmann no Brasil”.

Nesse mesmo ano iniciou-se os estudos para os regulamentos que definiriam a

elaboração do Projeto de Lei que institucionalizou a utilização do solo no Bairro do

Recife. Após as intensas discussões resultou-se na Lei nº 16.290, aprovada pela

Câmara Municipal do Recife em 1997.

Apesar da existência dessa Lei, já no final da década de 90, o processo de

revitalização passou por contrastes sociais e uma elevada descaracterização do

patrimônio histórico, artístico e cultural.

Isso se deu devido a existência de uma periferia no coração do Bairro. Como é descrito

pela arquiteta Norma Lacerda, a pior periferia de Recife, o Pólo do Pilar, encontra-se

encravada na área de renovação urbana do Plano de Revitalização. Possuindo piores

índices de inclusão social da cidade, a Favela dos Ratos, como é denominada, possui

grande números de pessoas que moram em péssimas condições de habitabilidade.

Page 12: Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

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FONTE: NERY, et. al., 2008

Figura 13- Habitações da comunidade do Pillar à direita e seus moradores à esquerda.

Diante da problemática, o Plano de Revitalização incluía o Centro múltiplo do Pilar, na

qual abrigaria um centro de atividades de apoio as do porto.A favela dos Ratos seria

então deslocada. O projeto não foi realizado, e com o aumento do número das família

na favela a relocação passou a ser questionada.

"Ação típica de embelezamento para o turista descortinar a bela paisagem

panorâmica do centro do Recife." (LACERDA, 2007)

Seguido do Plano de Revitalização outros projetos foram lançados a fim de

desenvolverem o Bairro do Recife, dentre eles o Projeto Porto Digital Empreendimentos

e Ambiente Tecnológico, na qual trata-se de um sistema local de desenvolvimento de

software. Paralelo ao Porto Digital criou-se o Projeto Monumenta BI, na qual o antigo

prédio do Cais da Alfândega, foi recuperado e nele instalado o shopping Paço

Alfândega.

FONTE: Skyscrapercity

Figura 14 – Shopping Paço

Alfândega com Edifício Chanteclair

ao fundo

Page 13: Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

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Para o funcionamento do shopping era necessário área para estacionamento, para

desempenhar tal função criou-se edifício-garagem. No entanto, a solução do edifício-

garagem não levava em consideração as condições espaciais do bairro, resultando na

descaracterização do conjunto histórico e arquitetônico do bairro.

Esse e outros projetos marcariam a passagem do Recife Antigo para o Novo Recife,

teria transformado o Bairro em um “[...] arquivo vivo e único da superposição das várias

temporalidades que dominaram a história e a produção artística no Recife e no Brasil”.

3. Considerações finais:

A partir do projeto de revitalização do bairro do Recife, bem como de outras áreas

urbanas brasileiras, como Pelourinho em Salvador - BA, pode-se dizer que o no Brasil

o conceito de tombamento de áreas históricas é levado ao sentido mais radical de

comércio, na qual pretende movimentar o turismo regional esquecendo-se da memória

que o lugar armazena.

O projeto é falho, ainda, no âmbito da grande pobreza inserida no centro do bairro na

Favela dos Ratos. Ao lado de grandes monumentos como a prefeitura da cidade, a

favela ilustra projetos de investimentos milionários em contrapartida a negligência

pública quanto condições de sobrevivência subumanas.

Por fim pode-se afirmar que as revitalizações dos centros históricos são extremamente

importante uma vez que mantêm viva a história do lugar. No entanto, transformar esses

centros em moeda de troca e ascensão capitalísticas é desumano.

Page 14: Plano de Reabilitação do Bairro do Recife

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4. Referências:

LACERDA, Norma. Intervenções no Bairro do Recife e no seu entorno: indagações

sobre legitimidade. Sociedade e Estado. Brasília, v. 22, n. 3, p. 621-646. set./dez.

2007.

LEITE, Rogério Proença. Patrimônio e enobrecimento no Bairro do Recife. Revista

CPC. São Paulo, v. 1, n.2, p.17-30, maio/out. 2006.

LIRA, Flaviana; PONTUAL, Virgínia. O Bairro do Recife: O patrimônio cultural e o

estatuto da cidade. FORUM PATRIMÔNIO: ambiente construção e patrimônio

sustentável, Belo Horizonte , v .1, n .1 ,set. /dez. 2007.

MEDEIROS, Camila; CAMPANA, Mariangela. Criação de Empresa: escritório de

arquitetura e urbanismo especializado na revitalização e reabilitação de edifícios

históricos para uso de novos empreendimentos no centro histórico do Recife

Antigo. Revista da Ciência da Administração – versão eletrônica, Pernambuco, vol. 02,

jul. / ago. / set. 2009.

Nery, N. S.; Castilho, C. J. M. de. A comunidade do Pilar e a revitalização do bairro

do Recife: possibilidades de inclusão socioespacial dos moradores ou

gentrificação. Humanae, v.1, n.2, p.19-36, Dez 2008.

PÁGINAS DA WEB:

Recife. http://pt.wikipedia.org/wiki/Recife. Acesso em: 30 de abril de 2012.

Cidades brasileiras: Recife. Disponível em:

http://www.suapesquisa.com/cidadesbrasileiras/cidade_recife.htm. Acesso em: 27 de

abril de 2012.

Recife. Disponível em: http://www.recife.pe.gov.br/pr/secplanejamento/inforec/. Acesso

em: 01 de maio de 2012.

VAINSENCHER, Semira Adler. Recife, bairro. Pesquisa Escolar OnLine, Fundação

Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>.

Acesso em: 27 de abril de 2012.

Bairro do Recife: Patrimônio Cultural e o Estatuto da Cidade. Fórum Patrimônio.

Disponível em : www.forumpatrimonio.com.br/view_full.php?articleID=93&modo=1.

Acesso em: 11 de maio de 2012.