norte a sul - agência ecclesia · 2017-07-14 · bodas de ouro sacerdotais 26 - entrevista d....

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04 - Editorial Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião: D. Manuel Linda22 - Semana de... Paulo Rocha24 - Dossier Bodas de Ouro Sacerdotais

26 - Entrevista D. Jorge Ortiga50 - Multimédia52 - Estante54 - Vaticano II56 - Agenda58 - Por estes dias60 - Programação Religiosa61 - Minuto Positivo62 - Liturgia64 - Fátima 201768 - Fundação AIS70 - LusoFonias

Foto de capa: DRFoto da contracapa: DR

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Padre Américo AguiarPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Ordenações denorte a sul[ver+]

Novas diretivas daSanta Sé[ver+]

D. Jorge Ortiga, 50anos de padre[ver+] D. Manuel Linda | Paulo Rocha|Paulo Cunha | Octávio Carmo |Manuel Barbosa | Paulo Aido | TonyNeves | Fernando Cassola Marques

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Culpa

Octávio Carmo Agência ECCLESIA

É habitual em conversas informais ou até mesmoem reflexões mais aprofundadas depararmo-noscom referências em tom de lamento aosconceitos de culpa e responsabilidade. Ou aconfusões entre legalidade e moralidade, comose a ausência de uma condenação jurídicatornasse legítima qualquer ação.O primeiro âmbito de resposta, nestes casos, é oda própria consciência. Admito que não seja fácil,num tempo de julgamentos públicos e sumáriosnos ‘tribunais do Facebook’, mas cada um devesaber como lhe pode ser imputada determinadaação e qual a sua intervenção nasconsequências, sobretudo quando as mesmastêm um efeito criminoso.Julgo que a ideia de “culpa” está demasiadoassociada à ideia de “bodes expiatórios”, deencontrar uma justificação fora de nós quandoalgo corre mal. Nota-se na vida pessoal, política,social, desportiva, até religiosa. Parece sempreser preciso ter algo ou alguém para atirar à suasorte, no deserto dos valores, carregandofrustrações, desesperanças, ilusões, erros.A consciência da culpa não é, na tradição cristã,o fardo que vários filósofos nos quiseram fazercrer: a última palavra é sempre do Bem, daMisericórdia, da conversão de que o coraçãohumana é capaz quando se entregue a quem émaior do que ele próprio. Deve ser um ponto departida para uma existência melhor, com aconsciência dos limites que existem, para poderassumir

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responsabilidades e progredir, semautocomiseração, confiando naajuda dos outros e do Outro.Na nossa vida em comunidade,espero que a determinação do quecorreu mal em tragédias recentesajude a determinar esse futuromelhor, identificando culpados(porque não basta encolher osombros e dizer que não era possívelfazer nada) e assumindoresponsabilidades, de

forma séria e respeitosa por quemsofreu na pele as consequências domal. Há uma lição a tirar dosrepetidos alertas anuais e dassucessivas devastações provocadaspelo fogo: não basta umasolidariedade que responda aosproblemas, após os incêndios, masé necessária uma solidariedadepreventiva, onde todos seempenhem a fundo para evitar osproblemas.

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Lula da Silva, ex-presidente do Brasil foi condenado a nove anos emeio de prisão @ Lusa

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“A Europa tem um património ideal e espiritual únicono mundo que merece ser reproposto com paixão erenovado frescor”, Papa Francisco, dia São Bento,padroeiro da Europa [11 jul, @Pontifex – Twitter] "O Porto está mais próximo do centro da Europa, estámais perto do centro da Península [Ibérica]”, ministroda Saúde, Adalberto Campos Fernandes, sobre acidade-sede para a Agência Europeia de Medicamento[13 jul, Rádio Renascença] “Foi a nova política de rendimentos e a previsibilidadeda redução da carga fiscal que gerou confiança […] Anecessidade de preparar o Portugal pós 2020 aceleraeste debate.”, primeiro-ministro, António Costa, debateEstado da Nação [12 jul, Jornal Económico] “Com a conjuntura de 2016 e 2017, com o governoque os portugueses elegeram nas urnas, não tenhodúvidas de que se tivéssemos um governo reformistatínhamos um país ainda mais próspero”, presidente doPartido Social Democrata, Pedro Passos Coelho [12jul, Jornal SOL] “Muitas metas são ilusórios, prometem alívio e apenasdistraem um pouco; asseguram paz e divertimento,mas depois deixam na solidão de antes, são fogo-de-artifício”, Papa Francisco, oração do ângelus [09 jul,Agência Ecclesia]

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Novos padrespara renovar a Igreja e o mundo

Várias dioceses portuguesasviveram dias de festa no sábado edomingo, com ordenações diaconaise presbiterais, como aconteceu noPorto, onde D. António Franciscodos Santos considerou que o“tesouro” confiado aos novos setepadres e cinco diáconos, da diocesee de

institutos religiosos, pelosacramento da Ordem, vai “renovara Igreja e transformar o mundo”.“Chamados por Deus e escolhidospela Igreja para o ministério dediáconos e de presbíteros, sois osprotagonistas da oração, queconvosco hoje rezamos, e o rosto dabênção,

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que de Deus através de vósrecebemos”, disse o bispo do Porto,numa homilia em que pediu aosnovos ordenados que não tenham“medo de guardar este tesouroreligiosamente nos vasos de barrohumano” que são.Do Seminário Maior do Porto foramordenados três sacerdotes - BrunoÁvila, Fernando Perpétua, MarcoAlves -, em número igual daCompanhia de Jesus (Jesuítas) -Duarte Rosado, João de Brito eManuel Lencastre Cardoso - e JorgeGonçalves, da Congregação dosSacerdotes de Coração de Jesus(Dehonianos).Foram também ordenados comodiáconos João Pedro Ribeiro eVasco Soeiro, alunos do SeminárioMaior da Sé, Ariosto Nascimento eCelestin Bizimenyera do Semináriode Santa Teresinha do MeninoJesus, Redemptoris Mater, do Porto,e Jaime Mathe da SociedadeMissionária da Boa Nova, natural deMoçambique.D. José Cordeiro, bispo deBragança-Miranda, presidiu natarde de domingo à ordenaçãopresbiteral do diácono DuarteGonçalves a quem explicou que adiocese é “uma realidade muitodesafiante”, convidando-o a ser"humilde de coração”.A Paróquia de Santa Iria de Azóiaacolheu, no dia anterior, aordenação

presbiteral de frei João MiguelRusso Silva, da Ordem de SantoAgostinho (OSA), numa celebraçãopresidida por D. Nuno Brás, bispoauxiliar de Lisboa. Este é o terceirojovem ser ordenado sacerdote,desde o regresso da ordem religiosaao Patriarcado, há mais de 40 anos.Já no domingo, D. Joaquim Mendes,bispo auxiliar de Lisboa, presidiu àordenação sacerdotal de AntónioNeves Mosso, missionárioespiritano, numa celebração quedecorreu na Paróquia da Agualva,em Sintra, onde o novo padrecresceu. O padre António Mossoregressa agora à Espanha, ondecontinua a sua missão.Em Braga, D. Jorge Ortiga presidiueste domingo à ordenação de seisdiáconos da diocese minhota, numacerimónia que marcou o seu 50.ºaniversário de ordenaçãosacerdotal. Este domingo, oarcebispo primaz ordena novossacerdotes.Para o dia 5 de agosto estámarcada a ordenação sacerdotalde Carlos Almada, na Sé doFunchal.Ao longo das últimas semanas,também houve cerimónias deordenações diaconais e presbiteraisnas dioceses de Angra, Coimbra,Guarda, Lamego, Leiria-Fátima,Lisboa, Portalegre-Castelo Branco,Viana, Vila Real e Viseu.

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1403 portugueses fazemvoluntariado missionário em 2017A Fundação Fé e Cooperação(FEC), organismo da Igreja Católicaem Portugal, anunciou que 1403pessoas vão dedicar-se a ações devoluntariado missionário em2017.“389 jovens e adultos realizamprojetos de voluntariado missionárioem países em vias dedesenvolvimento e 1014 desenvolveatividades de voluntariado/missãoem Portugal”, refere um comunicadoda instituição, enviado à AgênciaECCLESIA.Este é um número global mais altodo que em 2016, verificando-se umaumento no número de voluntáriosque parte para missões fora daEuropa, segundo dados estatísticosda Rede de VoluntariadoMissionário coordenada pela FEC –Fundação Fé e Cooperação.O elenco inclui voluntários queabdicam dos seus empregos esalários para partir em missão.“Com idades compreendidas entreos 18 e os 50 anos, 18 pessoasdeixam o seu emprego e 10 pedemuma licença sem vencimento parapartir este ano para países emdesenvolvimento”, assinala a notade imprensa.A este número somam-se 10desempregados que vão dedicar-sea

experiências de voluntariadomissionário. Os 389 voluntáriosportugueses que saem do paísestão distribuídos por vários países:Cabo Verde vai acolher 89voluntários; Moçambique, 76; SãoTomé e Príncipe recebe 70; Guiné-Bissau, 65; Angola, 38; Brasil, 27;Timor-Leste, 9; Espanha, 5;Honduras, 4; a Zâmbia acolhe 2voluntários; com destino à RepúblicaCentro Africana partem doisvoluntários; e para o Perú partemoutros dois. 349 pessoas partempara projetos de curta duração, istoé, em missões que podem ir de 15dias a 6 meses; 40 pessoas partemem projetos de longa duração (entre7 meses a 2 ou mais anos).Este ano, 1014 jovens e adultosdesenvolvem atividades devoluntariado missionário emPortugal.

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Jovens e família estão no centro dasatenções em SantarémO bispo de Santarém, D. ManuelPelino, publicou esta terça-feira,uma nota pastoral com as linhasprogramáticas para o próximo anoque vai colocar no centro os jovense a família.“Uma primeira direção éa preparação do Sínodo sobre «Osjovens, a fé e o discernimentovocacional»” e a outra prioridade “écontinuar a aplicação da ExortaçãoApostólica «A Alegria do amor»”, lê-se na nota pastoral de D. ManuelPelino enviada à AgênciaECCLESIA.Apoiar a família na transmissão dafé, designadamente “pela práticadas propostas do programa decatequese” e uma “maior integraçãoeclesial dos divorciados a viver emnova união” é uma aposta doprograma pastoral de 2017-18porque a Exortação Apostólica abre“caminhos novos e temos algunscritérios para dar passos segurosnesta área”.A preocupação pelos jovens “nãopode deixar para trás o cuidadopela família”, mas antes, deve“prepará-los e motivá-los paraassumir com empenho estavocação”, escreveu o bispo deSantarém. Tanto a preparação doSínodo sobre

os jovens como o acompanhamentoda família, só poderão “alcançareficácia com uma ação bemconjugada e o potenciamento detodas as sinergias, ou seja, com umestilo sinodal”, sublinha odocumento.D. Manuel Pelino reconhece queexistem “muitos movimentos eserviços dedicados aos jovens e àfamília” mas, por vezes, “cada umopera isolado no seu campo”.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Parlamento Europeu acolhe exposição sobre títulos centenários da imprensaportuguesa

Fátima e Rússia – José Milhazes

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Oferta da vida é novo caminho paraa abertura de um processo decanonização

O Papa Francisco publicou odecreto que apresenta a “oferta davida” como novo modelo jurídicopara a abertura de processos debeatificação e canonização, distintodo “martírio” e do reconhecimentodas “virtudes heroicas”. De acordocom a carta apostólica em forma de“motu

próprio” (documento assinado pelopróprio Papa), a "oferta da vida" temde acontecer “de forma livre evoluntária” e corresponder a uma“heroica aceitação por caridade deuma morte certa e a curto prazo”.Os critérios apontados pelodocumento divulgado pela Sala

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de Imprensa da Santa Sé indicamtambém a necessária ligação entrea "oferta da vida" e a "morteprematura" e o exercício das"virtudes cristãs antes de dar avida". A “existência de fama desantidade” depois da morte e a“necessidade de um milagre para abeatificação, ocorrido depois damorte do Servo de Deus e por suaintercessão” são outras duascondições para a santidade dequem dá a vida.A "oferta da vida" é a quarta viapara os processos de canonização,que a partir de hoje se junta aomartírio, ao exercício das "virtudesheroicas" e à canonização"equipolente" (por decisão explícitado Papa).Os processos de canonização quese incluem na categoria da "ofertada vida" seguem as normas doscasos das virtudes heroicas,começando primeiro na fasediocesana, com a recolha dedocumentação relativa aocandidato, a que se segue a faseromana, onde os processos sãoavaliados na Congregação para asCausas dos Santos, de acordo coma legislação da Santa Sé e asalterações introduzidas pelo PapaFrancisco e publicadas no dia 3 demarço de 2016.O documento pontifício, que entrouem vigor no mesmo dia da

promulgação, define como “dignosde especial consideração e honraaqueles cristãos que, seguindo maisde perto as pegadas e osensinamentos do Senhor Jesus,ofereceram de forma voluntária elivremente a vida pelos outros”perseverando “até à morte nestepropósito”.Aliás, prossegue o motu proprio, “aoferta heroica da vida, sugerida eapoiada pela caridade, exprime umaverdadeira, plena e exemplarimitação de Cristo e, portanto,merece aquela admiração que acomunidade dos fiéis costumareservar a quantos de maneiravoluntária aceitaram o martírio desangue e exerceram de modoheroico as virtudes cristãs”.Com o “parecer favorável”manifestado pela Congregação paraas Causas dos Santos, na sessãoplenária de 27 de setembro de2016, o Papa estabelece os critériosa serem seguidos na açãoprocessual.O secretário da Congregação paraas Causas dos Santos, D. MarcelloBartolucci, explica ao jornal doVaticano que o Papa abriu uma“quarta via”, porque as precedentesnão pareciam “suficientes parainterpretar todos os possíveis casosde santidade canonizável”.

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Pão e Vinho para a EucaristiaA Congregação para o Culto Divinoe a Disciplina dos Sacramentosrecordou aos bispos diocesanosque lhes compete “providenciardignamente tudo que é necessáriopara a celebração da Ceia doSenhor”, numa carta-circularenviada a pedido do PapaFrancisco.“Ao bispo, primeirodispensador dos mistérios de Deus,moderador, promotor e garante davida litúrgica na Igreja que lhe estáconfiada, compete vigiar aqualidade do pão e do vinhodestinado à Eucaristia e, por isso,também, aqueles que o fabricam”, lê-se no documento divulgado pelaSala de Imprensa da Santa Sé.A Congregação para o Culto Divinoe a Disciplina dos Sacramentos(Santa Sé) observa que hoje o pãoe o vinho para a celebração daEucaristia se vendem “também, emsupermercados, lojas ou mesmopela internet”, já não se limitando àscomunidades religiosas que sededicavam a essa preparação. Asdiretivas da Santa Sé recomendamque o pão e o vinho destinados àEucaristia tenham “um tratamentoconveniente” nos lugares de venda.O dicastério responsável pelaLiturgia lembra as normas existentese

sugere “algumas indicaçõespráticas”, por exemplo, “garantindoa matéria eucarística mediante aconcessão de certificados”. Oobjetivo é que "não fiquem dúvidasacerca da validade desta matériaeucarística”.Os bispos diocesanos devemrecordar aos sacerdotes, emparticular aos párocos e aos reitoresdas igrejas, “a responsabilidade” deverificarem “quem é que fabrica opão e o vinho” para a celebração ea “conformidade damatéria”.“Compete informar eadvertir para o respeito absolutodas normas os produtores de vinhoe do pão para a Eucaristia”, frisa aCongregação para o Culto Divino ea Disciplina dos Sacramentos.“Honestidade, responsabilidade ecompetência” é pedido quemconfeciona o pão e produz o vinhopara a Eucaristia, devendo ter“consciência” ao fim que tem o seutrabalho.O documento recorda que aCongregação para a Doutrina da Féjá “indicou as normas” para aspessoas que, “por diversos e gravesmotivos”, não podem consumir pãonormalmente confecionado ou vinhonormalmente fermentado,

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na carta-circular aos presidentesdas Conferências Episcopais de 24de julho de 2003.“As hóstias completamente semglúten são matéria inválida para aeucaristia”, mas podem ser usadashóstias “parcialmente desprovidasde glúten”, o suficiente para “obtera

panificação”, “sem acréscimo desubstâncias estranhas”.Já o mosto, o sumo de uva, frescoou conservado, de forma ainterromper a fermentação mediantemétodos que “não lhe alterem anatureza", como por exemplo ocongelamento, é matéria válida paraa Eucaristia”.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Bispos exigem ao Governo da Venezuela que acabe com «repressãodesumana» das manifestações

Holandês de 63 anos pedalou 3300 quilómetros até ao Santuário de Fátima

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A sociedade é o resultado do esforçode humanização e não da violênciacega

D. Manuel Linda Bispos das Forças Armadas e Forças de Segurança

No dia 1 de julho, cumpriram-se cento ecinquenta anos sobre um facto verdadeiramentehistórico e «moderno»: a primeira abolição legalda pena de morte por um Estado soberano. Eeste foi precisamente… Portugal. Um dadoextraordinário e honroso!Nessa altura, falou-se algo desse acontecimento.Não, porém, tanto como ele merecia. E não tantocomo exigem as circunstâncias, pois estou emcrer que, perante a instabilidade social,recrudesce a ideia de que a sua restauraçãopoderia ser útil. Então, uma palavra«desmistificadora».São vários os argumentos que configuramespecíficas tipologias da justificação da pena demorte. Uns falam no seu carácter medicinal, jáque eliminaria as células cancerígenas dasociedade. Mas a metáfora é enganosa: aocontrário da célula biológica, «cegamente»programada, a pessoa é sempre um mistério deliberdade e autodeterminação.Há quem refira o seu cunho socializante:retirados os maus, os que ficam constituiriam asociedade perfeita. Mas quem o garante? E osfamiliares e amigos dos justiçados não ficarão «aferver» à espera de vingança? E onde seencontra a sociedade perfeita?Outros advogam o aspecto dissuasivo. Mas isto émentira. Os que assim pensam, esquecem-seque o grande criminoso faz da violência a grelhapela qual lê o mundo. Confronte-se com o que sepassa

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com os loucos suicidas do Daesh: oque para um «normal» meteriamedo, para um «anormal» até podeser foco de atracção.Também se refere o efeito defensivodo grande grupo: eliminado omalfeitor, a sociedade respiraria dealívio. Mas não teremos outrosmeios para o conseguir e até,porventura, de colocar odelinquente a «compensar»minimamente o prejuízo causado?A posição que pareceria mais sériaé a dos que falam na sua marcavindicativa: a função de distinguir omal do bem e conseguir para o maluma pena adequada à suagravidade. Mas isso, na prática,remete-nos para as outras posiçõesanteriores e é de temer que, nocaso do grande celerado, não curtaefeito.Biblicamente falando, se nosprincípios se admitia a pena de

morte, com o episódio da mulheradúltera, a sua «validade jurídica»foi suplantada pelo «progresso dahumanização». Eis a razão pelaqual, na Igreja, prevaleceumaioritariamente a oposição à penade morte. E que levou São JoãoPaulo II a pedir ao mundo que a suaabolição constituísse como que a«marca de água» do avançocivilizacional de dois mil anos sob aégide da Encarnação do Filho deDeus.Ninguém duvida de que o grandecriminoso constitui um problemasério para a vida da sociedade.Mas, tal como os outros – doença emorte, infância e velhice, educaçãoe justiça - só se pode abordar numquadro ético que concilia dignidade,consciência e liberdade. E é sónesta linha que podemos falar emprogresso civilizacional. E em«modernização».

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Transumância

Paulo Rocha Agência ECCLESIA

Nas últimas semanas, paira um ambiente dedúvida sobre histórias que provocaram tragédias,acontecimentos que geraram espanto eprocessos de decisão que parecememaranhados em forças e interesses quedificultam o conhecimento da verdade dos factose das suas consequências. Ou, pelo menos, dasnotícias que delas se vão conhecendo.Pedrógão Grande, Tancos e São Bento são opalco dessas crónicas. De dia para dia, umacortina cada vez mais opaca parece erguer-seentre o acontecido e o depois; assiste-se a umacondensação de dias passados, do que ocorreu,em torno de um episódio, mais ou menosimportante, para arrumar o assunto deixandoesquecido o facto, a narrativa histórica, averdade do chão pisado por conhecidos oudesconhecidos.Dia após dia, semana após semana, esse é umitinerário rumo à inverdade, a uma incertezacrescente, à hipoteca do amanhã, à desistênciade um futuro feito de franqueza e honestidade.Na outra face da mesma moeda onde seestampa a nossa história, outro acontecimento,que passa normalmente longe de focosmediáticos: a vida dos pastores, na Serra daEstrela, nos meses de Verão. Trata-se de outraocorrência das mesmas semanas, comrepercussões também nas que estão parachegar, mas de uma ordem muito diferente.Desde logo pelo que está na sua origem, a festada transumância e dos pastores: rebanhos e osque por eles dão a vida, os pastores, subiram aserra desde Seia à procura de pastagens mais

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verdejantes, de ar puro e águafresca. Por lá ficam até ao SãoBartolomeu, em jornadas feitassucessivamente de pastoreio edescanso, pelas encostas da serra.Pastores e rebanhos convivem noitedia, todas as horas, faça chuva oufaça sol!“Pouca sorte”, diríamos a partir dequalquer sofá a julgar esse modo devida; “Não queria outro”, dizem ospastores quando confrontados coma necessidade de dormir ao relento,de cozinhar e guardar alimentospara toda a semana, sempre emestado de alerta diante de centenasde cabeças de gado.A possibilidade de ter participado natransumância, nessa rota do gadorumo à Serra da Estrela desdeterras baixas, revelou uma narrativada história feita do devir espontâneodos dias, de um modo de vida queacompanha os ciclos da natureza,sempre aceites de bom agrado e,por isso, com muito proveito.

Dia após dia, semana após semana,esse é um itinerário rumo à verdade,a certezas crescentes, à garantia doamanhã, à aposta num futuro feitode franqueza e honestidade. A doshomens, dos animais e dabiodiversidade em que se inserem.Em diferentes momentos da história,na vida de instituições, grupos esobretudo no quotidiano de cadahomem e mulher acontece essatensão entre dois itinerários na vida:o que esconde a verdade e odecorrer natural dos factos diantede ameaças pessoais; e o queconvive positivamente com asucessão dos acontecimentos, aoritmo da natureza.O olhar dos pastores ajuda a olhar avida com verdade! (O programa 70x7 desde domingo,16 de julho, mostra a verdade dospastores numa reportagem sobre atransumância. É na RTP2, às13h25)

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O Semanário ECCLESIA apresenta nesta edição uma ‘entrevistade vida’ a D. Jorge Ortiga, pelas suas bodas de ouro sacerdotais.

Um percurso que vai ficar a conhecer melhor, com relatos naprimeira pessoa pelo atual responsável da Diocese mais antiga da

Península Ibérica, que, por isso mesmo, tem o título de primazdas Espanhas.

A data foi assinalada com uma semana de atividades, que se

concluem no domingo, incluindo momentos de formação e oraçãopara membros do clero, consagrados, responsáveis da

Arquidiocese, Movimentos Eclesiais e Ministérios Laicais, bemcomo momentos de convívio, como concertos e jantares, abertos a

outras entidades.A exposição fotográfica ‘Construindo Pontes’, ou a emissão de

seis selos de homenagem aos arcebispos de Braga, entre osquais o atual primaz, foram outros momentos que marcaram a

celebração, que se conclui com a ordenação de novossacerdotes.

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O fundamental é trabalharmospela unidade entre todos Há 50 anos era ordenado sacerdote D. Jorge Ortiga. Uma oportunidade pararecordar o percurso de vida como padre e bispo, numa festa comemorativaque tem como lema ‘No ouro do sacerdócio, a renovação da arquidiocese.Arcebispo de Braga em bodas de ouro sacerdotais’.D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga nasceu a 5 de março de 1944, nafreguesia de Brufe, Concelho de Vila Nova de Famalicão e uma vezterminados os estudos, foi ordenado padre no dia 9 de julho de 1967,juntamente com 24 colegas, na igreja de Lousado (Famalicão).Com 43 anos, o Papa João Paulo II nomeou-o bispo titular de Nova Bárbarae auxiliar de Braga, a 9 de novembro de 1987. A 3 de janeiro de 1988, foiordenado bispo pelo então arcebispo primaz, D. Eurico Dias Nogueira, nacripta do Sameiro, escolhendo como lema episcopal a passagem do capítulo17 do Evangelho segundo São João: "Ut unum sint" (que sejam um).

Entrevista conduzida por Paulo Rocha Agência ECCLESIA (AE) – Acelebrar 50 anos de ordenaçãosacerdotal (09 de julho), a suamissa nova foi a primeira, naDiocese de Braga, segundo areforma litúrgica do ConcílioVaticano II. Esse acontecimentoinaugurou uma nova forma de serpadre?D. Jorge Ortiga (DJO) – Fiz os meusestudos teológicos durante arealização do Concílio Vaticano II efui acompanhando sempre commuita atenção e muita leitura aquiloque

ia saindo das discussõesconciliares. Como o primeirodocumento a ser publicado foi o daliturgia [ndr:Constituição SacrosanctumConcilium] - em Braga aindacelebrávamos segundo o RitoBracarense – depois passou-separa o Rito Romano. Hoje, temospresente que era interessante –esperemos que se possa concretizardaqui a algum tempo – termos areforma do Rito Bracarense. Tenhoessa preocupação e essa vontade

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e já a expressei muitas vezes.Um dos pormenores da reformalitúrgica – uma inovação da Igreja –era que os sacerdotes pudessemcelebrar junto, isto é concelebrar.Fazer uma concelebração. Naquelaaltura, na minha freguesia, éramos5 sacerdotes e pedi autorizaçãopara que a minha missa nova fossesegundo a reforma litúrgica. Em vezde ser cantada como no tradicional,foi concelebrada. AE – Esse acontecimento mostra asua determinação e a vontade deinovar?DJO – É natural. Sempre tive apaixão pelo estudo e, emsimultâneo, pela reflexão apesardas minhas múltiplas limitações. Aminha vontade foi sempre oconcretizar. Estudar para poderconcretizar… Não foi por acaso, queno final do curso quando pensava irestudar para Roma, estavanomeado para ir frequentar o cursode Sociologia. Era isso que mais meagradava… AE – Mas acabou por ser aHistória.DJO – Verdade. Inicialmente,custou-me um pouco a aceitar, mastenho de reconhecer que depoisaceitei e a história é mestra da vida.Isto

quando queremos aprender com ahistória.O meu temperamento é… não é oespírito de vanguarda ouvanguardismo, mas sempre defendique se existe uma orientação éfundamental concretizá-la. AE – Há 50 anos como imaginavaser padre?DJO – Naquele tempo, talvez comuma certa ingenuidade – apesar determos os 12 anos de estudo –existe sempre alguma coisa desonho e de utopia. Desde oprincípio, sempre considerei que oessencial deveria ser uma fidelidadegrande a Deus para depois ir aoencontro dos objetivos da Igreja etambém poder renovar a Igreja.Recordo que na paróquia de SãoVítor, onde estive um ano, comocoadjutor antes de ir para Roma,estava um sacerdote com algumaidade e fui criando coisas novas.Nomeadamente, um grupo de jovensque não existia naquela altura. Umgrupo motivado pela música com umritmo diferente. Músicas quetivessem conteúdo na letra eajudassem na reflexão.Este espírito inovador sempre meacompanhou. Sempre gostei de serempreendedor.

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AE – Depois de ter estudadoHistória em Roma, fez também umcurso sobre a espiritualidadesacerdotal. Foi aí que aconteceu ocontacto com o Movimento dosFocolares?DJO – Já tinha acontecido dois anosantes. Ali, para além das aulasteóricas também tínhamos a prática.A prática do viver em comum. Tudoera feito por nós – desde a cozinhaà lavagem da roupa -, mas tínhamostambém uma vertente muito grandeda espiritualidade que chama para oconcreto. Foi a partir daí queaprofundei esta mesmaespiritualidade… Ela trouxe umsentido novo para o meusacerdócio. AE – E determinou estes 50 anosde ministério?DJO – Determinou toda a minhavida.

O fundamental é trabalharmos pelaunidade entre todos. Este é ogrande objetivo através da vivênciado amor e da caridade. Se não forcapaz de gerar comunhão entre opresbitério, não serei capaz de ofazer depois na ligação com osmovimentos apostólicos einstituições. Este suporte ajuda-mea encarar a vida de um mododiferente e a sorrir sempre para avida, mesmo nos momentos difíceis.Custa-me muito não ter um rostoalegre… mas às vezes acontece.Devo procurar, no dia-a-dia, Deusem tudo e em todos. Talvez tenhanascido daqui a minha empatia esimpatia de trabalhar com oscarenciados e pessoas comdeficiência. Ali, está o rosto dopróprio Cristo que importa amar eservir.

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AE – A primeira edição doSemanário ECCLESIA em formatodigital foi com uma entrevista a D.Jorge Ortiga… nessa conversadisse que nos momentos maisnegativos os entrega à benignidadede Deus. Esse exercício não é fácilde fazer?DJO – Não é fácil, mas é umprincípio que é fundamental.Falámos há pouco do MovimentoFocolares e uma das orientações ouproposta é a vivência do momentopresente. Em cada momento, Deuspede-me uma resposta… AE – Mas vai além do Carpe Diem?DJO – Sim. Com empenho ecompromisso na vivência séria. Nãovale a pena estar a chorar ouvangloriar o passado. Temos é denos preocupar com o momentopresente e preparar o futuro. Oviver o momento presente ajuda alibertar os possíveis complexos dopassado. AE – Pouco depois da sua chegadaa Portugal, vindo de Roma, asociedade portuguesa estava aconstruir a liberdade… Que desafioconstituiu este acontecimento paraquem estava a iniciar o seuministério sacerdotal?DJO – Foi um período característico

da minha vida e logo com duasvertentes. Não gosto muito derecordar esses momentos… Nessaaltura, a Arquidiocese de Bragapassou por um período um poucoagitado. Alguma agitação ao níveldo presbitério… Entre algunssacerdotes e, particularmente, pelacriação ou não criação da Diocesede Viana do Castelo que veio aacontecer em 1977.Já nessa altura me empenhei naquestão e, suponho, do modo maisadequado. Procurando reconheceressa liberdade e de pensar deforma

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diferente, mas cada um manter asua identidade. Ia a encontros ondese defendia a criação e ia a outrosonde se defendia o contrário.Procurava estabelecer pontes.D. Francisco Maria da Silva [ndr:arcebispo de Braga na altura] sabiadeste trabalho todo que eurealizava. Não lhe contava ospormenores, mas sabia que ia aessas reuniões. Tentava ser pontepara ultrapassar questiúnculas.Tenho experiências maravilhosasdesse período.Em relação à chamada liberdadepolítica… Confesso que tinha umacerta ansiedade. Não memanifestava contra o regimedaquela época,

mas reconhecia que uma mudançaera necessária. Para mim, o 25 deabril de 1974 foi vivido com algumentusiasmo. Embora, depoistambém misturado com algumreceio. Na altura, estava na Igrejados Congregados – na AvenidaCentral – e tudo o que acontecia emtermos de manifestações erarealizado ali. Alguns utilizavam umalinguagem que não dignificava aIgreja. Ao lado, estava a sede doCDS e, em várias ocasiões, otiroteio aconteceu.Reconhecia a necessidade deliberdade, mas sentia também anecessidade de estabilizar após osprimeiros tempos do 25 de abril de1974.

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AE – Como era olhada a voz daIgreja na altura? A Igreja era maisconotada com o anterior regime doque com as ondas de liberdade queestavam a nascer?DJO – A Igreja tinha de tudo…

A Igreja não é apenas o bispo. Étambém o povo de Deus. Tivemosmuitos cristãos que estavam navanguarda pela liberdade e pelademocracia. Era necessário umequilíbrio. Recordo que em

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Braga incendiaram a sede doPartido Comunista. Isto no final deuma grande manifestaçãoconvocadapara os católicos por D.Francisco Maria da Silva. Nessamanifestação, em agosto,apareceram quase 200 mil pessoas. AE – A Igreja foi além do que seriao seu papel?DJO – A Igreja não pode fazerpolítica, mas não se pode alhear dapolítica. A Igreja tem de secomprometer com o bem dasociedade e o bem das pessoas.Quando as pessoas nos seusdireitos essenciais não estão a serrespeitadas, a Igreja tem o dever deanunciar a sua verdade e dedenunciar certos problemas. E temde fazê-lo com coragem. AE – Concordava com essastomadas de posição de D. FranciscoMaria da Silva?DJO – Concordava por causa dosextremismos que estavam a existir.Era necessário um certo equilíbrio erespeito pela diversidade em termosde ideologia. AE – Voltando ao processo dacriação da Diocese de Viana doCastelo, qual foi a sua posturanaquele tempo?DJO – Naquela altura já pensava

que a Arquidiocese de Braga erademasiado grande… Já havia umdistrito definido e delimitado. Eraconveniente para Braga a criaçãode uma nova diocese. Aliás, assineium documento a pedir a criação daDiocese de Viana do Castelo. Erasacerdote de Braga, masreconhecia que esta devia sercriada. AE – É conhecido o seu gosto pelaunidade do presbitério, todavia numencontro de sacerdotes disse: «Émuito complicado ser padre». Quala razão desta dificuldade oucomplicação?DJO – O sacerdote deve ser,essencialmente, um sinal de Cristo eda Igreja. Deve ser manifestadordesta realidade diferente. Esabemos na sociedade ondevivemos… Se não é hostil hárealidade sobrenatural é, pelomenos na sua maioria, indiferente.O padre consagra-se a Deus, mas épara viver para os homens. E teresta relação com os homens, não éfácil. Mesmo nas comunidadescristãs há sempre muitassensibilidades. E depois temos omundo de fora que é muito variadoe diversificado.Quando me ordenei era tudo muitomonocórdico, mas hoje a sociedadeé totalmente diferente. É necessárioter variadas linguagens conforme aspessoas.

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AE – Mas também tem aspetospositivos.DJO – Evidentemente. Costumodizer que, para mim, a vida épermanentemente uma festa e umaalegria. AE – Nas suas homilias de quinta-feira santa, onde o presbitério estátodo reunido com o bispo, costumadeixar sempre apelos aos padres.Em 2016, fala da pirâmide invertida…DJO – Essa pirâmide invertida temmuitos sentidos. Mas quando useiessa expressão referia-me àresponsabilidade que os sacerdotestêm de suscitar umacorresponsabilidade laical. Nãoexiste Igreja particular sem o bispo,mas todos somos servos. Temos denos identificar com o próprio povo.Não podemos ser sobranceiros como povo. Um dos grandes problemaspara a renovação da Igreja estáaqui: na corresponsabilidade laical.Costumo falar com frequência, queé necessário os leigos estarempreparados para assumirem tarefas.Porque nem todos os leigos sesentem construtores da Igreja emuitos têm vergonha de manifestara sua fé em determinados sítios. Osleigos não podem ser meros

instrumentos nas mãos dos padres,mas devem ser protagonistas daIgreja. (30.19) AE – No exercício do seu ministérioepiscopal, acredito que uma figuradesta região, frei Bartolomeu dosMártires, tinha sido a figura maisinspiradora para si.DJO – Em certo sentido sim, mas hátambém outras figuras inspiradoras.Quando comecei a conhecer umpouco melhor a vida do beatoBartolomeu dos Mártires senti umapelo de o tornar como modelo daminha vida. Ele viveu num períodoconturbado da história da Igreja(século XV e XVI)… Apesar doperíodo de crise, ele acreditousempre na necessidade de reforma. AE – Acreditou e iniciou esseprocesso de reforma, desde logopelo seu exemplo.DJO – Essencialmente pelo seuexemplo. Ele não prega a reforma,ele realiza a reforma nas paróquiascom a sua presença. A sua vidatornou-se um testemunho muitoconcreto, sobretudo para ossacerdotes. Até escreveu uma obradedicada aos padres e bispos:«Estímulos dos

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Pastores». Este livro foi oferecidopelo Papa Paulo VI a todos osbispos que participaram na últimasessão do II Concílio do Vaticano.Foi um homem realizou muitasvisitas pastorais. AE – Em todo o norte de Portugal.DJO – Sim. Incluindo Vila Real eparte

de Bragança. Ele não perdiatempo… Vindo do Concílio deTrento, começou logo em Alfandegada Fé (ndr: hoje território daDiocese de Bragança-Miranda) afazer uma visita pastoral. Ele queriauma Igreja renovada e adaptadaàquele tempo.

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AE – Acredita na canonização destafigura ainda este ano?DJO – Temos a dispensa domilagre, o Papa Franciscoreconheceu a personalidade de freiBartolomeu dos Mártires e acreditaque ele pode ser modelo desantidade para a Igreja. A Positioestá bastante adiantada.Recentemente, estive com o vice-postulador da causa de canonização

e ele garantiu-me que entregaráesse documento (a Positio) antes dofinal do ano. Espero que no próximoano pastoral ele seja canonizado. AE – Ele inspirou-o nesse contactopermanente com as populações?DJO – Quando cheguei aqui comobispo auxiliar (ndr: 03 de janeiro de1988), introduzi logo um dia para

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passar nas paróquias. Ia às escolas,visitava os idosos e doentes eencontrava-me com os movimentos.Conversava com os padres dessasparóquias, a partir daquilo que tinhaverificado.Não me contentava apenas de fazera visita ao domingo, mas estar e vera vida na paróquia. Conheço ossacerdotes todos da arquidiocesede Braga, tal como as paróquias. AE – Então entende que ser bispo éestar com todas as pessoas.DJO – Isso para mim é ofundamental. Gostaria de estar comtodos e sem fazer distinção deninguém. Mesmo incluindo aquelesque não são católicos. Não tenhoreceio de receber seja quem for.Posso receber qualquer partidopolítico, menos na altura dascampanhas eleitorais. Gostotambém de promover encontros comagentes da cultura. Não foi poracaso que introduzi na diocese, umaexperiência que considero desucesso: «A Nova Ágora». Ágora,como espaço aberto, onde podementrar todos e num confronto sadio,dialogar e expressar as suas ideias.Esta iniciativa nasceu depois deverificar que as catequesesquaresmais tinham quase sempreas mesmas pessoas. Erafundamental dar

voz também aos leigos sobredeterminados assuntos sobrequestões da atualidade. AE – Esse diálogo com a cultura éuma aposta. Tanto na rentabilidadedas estruturas como na criação deobras artísticas.DJO – Nós temos de anunciar Deuse aquilo que se adequa mais comDeus é a beleza de Deus. Ondeestá Deus, está a beleza. É isso quetemos procurado fazer e umexemplo é a capela «Árvore daVida». Uma capela que adquiriu umprémio. Temos também o Museu PioXII que, permanentemente, organizaexposições. O Museu da Sé tambémé um lugar de grande consideração.O Centro Cultural e Pastoral, ondeestá localizado o auditório Vita, foicriado também com esse sentido efinalidade artística. Nós queremosacolher a vida, nas suas maisvariadas dimensões, naqueleauditório. Temos realizado ali muitasatividades, desde teatro, música,cinema…Em relação a este diálogo com acultura, queremos dar vida a umcentro de pastoral universitária. Elejá está a funcionar, junto daUniversidade do Minho. Naquelelocal organizamos, com frequência,tertúlias com professoresuniversitários. Uma preocupação dechegar ao mundo universitário.

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AE – As prioridades têm sido muitasno exercício do seu ministério.Todavia, recordo uma propostalançada num encontro da Pastoraldo Turismo. Aí, lançou o desafio dese criar a marca «Minho». Comoestá esse projeto?DJO – É uma ideia que voufalando… Considero que o Minhomerece outra consideração emvários quadrantes do seupatrimónio. A arquidiocese temtentado recuperar e conservar oseu património. AE – É um programa que faz partedo seu plano enquanto arcebispode Braga?DJO – Se temos este património,não o podemos menosprezar. Nãopodemos dar uma imagem negativa,mas muitas vezes damo-la. AE – Não corre o risco daarquidiocese ser conotada com adimensão empresarial?DJO – Só temos feito as obras quesão essenciais. Estamos arecuperar o Santuário do Bom Jesuse recuperámos os dois seminários eo paço episcopal. Agora queremosaproveitar o edifício onde funcionoua Faculdade de Teologia. Temos jáum projeto para podermosreaproveitá-lo.

Gostaria também de construir umarquivo novo. Isto são obrasessenciais. Mas temos sempre apreocupação de sustentabilidade.As obras são feitas de harmoniacom aquilo que é possível. AE – E o setor da comunicação.Também apostou nele?DJO – Não sei se é orgulho ouvaidade dizer que, nessa área, aArquidiocese de Braga é modelo.Temos o único jornal diário do paíse temos também uma tipografiamodernizada. Há muito poucotempo, as instalações do «Diário doMinho» também forammodernizadas. AE – Na inauguração dessasinstalações, afirmou que era apérola da arquidiocese.DJO – Em certo sentido e na linhada evangelização. Ali, colocámostambém o Departamento daComunicação Social que está afuncionar muito bem. É umdepartamento que não olha apenaspara o «Diário do Minho».Transmitimos muitas conferênciaspela internet. Esse departamentoprocura dar a conhecer o que aIgreja realiza. Temos investido muitodinheiro neste setor, dinheiro quenem sempre temos.

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AE – Uma aposta, mesmo sem oretorno económico?DJO – A comunicação social paranós, não nos oferece retornoeconómico. Digo com toda asinceridade que o jornal «Diário doMinho» dá-nos, todos os anos,prejuízo. Para cima de 150 milEuros. Sentimos que o jornal éimportante porque comunica a vidada Igreja e está em contato com apopulação. Isto é um investimentopastoral.

AE – Tem uma presença regularnas redes sociais, nomeadamenteno Twitter, que mensagens pretendepassar através destes meios? DJO – Aquilo que esta rede social écapaz de nos dar… Um simplespensamento que, às vezes, é umafrase do Evangelho. Uma palavra deapoio. Quando ocorreram osincêndios, em Pedrogão Grande,disseram-me que fui o primeiro aenviar uma mensagem.

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AE – O que representa para aArquidiocese de Braga ter umcentro da Universidade CatólicaPortuguesa? Existe alguma áreaespecífica do ensino, no conjuntoda UCP, onde Braga queira ser vozdos vários centros?DJO – A UCP nasceu em Braga,com a Faculdade de Filosofia.Desde sempre, tenho defendido apresença da UCP nesta cidade.Uma Faculdade de Teologia éimportante… mas não

só a Teologia. É fundamental umapresença nas realidades humanas.As ciências sociais foram tambémuma aposta. Esta aposta, no início,teve muito eco e muita aceitaçãoporque é necessário formarassistentes sociais e educadoras deinfância.Todavia, digo que a UniversidadeCatólica em Braga quer crescer.Gostaríamos de ter um curso ligadoà gestão ou à economia.

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Cidadão exemplar e sacerdotecomprometido

Vila Nova de Famalicão é um dosmaiores e mais importantesconcelhos de Portugal. Com pertode 134 mil habitantes e com um ADNempresarial e industrial histórico,somos o terceiro concelho maisexportador de Portugal e o segundocom a melhor balança

comercial. Somos uma comunidadeviva, com instituições de referêncianacional e internacional em muitosdomínios, nomeadamente o social,onde a Igreja desempenha um papelabsolutamente decisivo para acoesão e o desenvolvimentocomunitário.

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Entre as perto de meia centena deIPSS’s famalicenses,metade pertencem à Igreja. Estacomunidade ativa, dinâmica, comum grande poder de iniciativa, nasua esmagadora maioria católica,tem sido berço de grandes Homens,cujos percursos de vida ajudaram opaís a crescer e a desenvolver-seem várias áreas. É o caso dobanqueiro Artur Cupertino deMiranda, do escritor Camilo CasteloBranco, do político e pedagogoBernardino Machado, docomendador Castro Alves e doindustrial Narciso Ferreira. Só paracitar alguns. Também a Igrejafamalicense tem contribuído paraeste registo de vidas notáveis, queorgulham o país, e muitoparticularmente a nossacomunidade, pelo legado quedeixaram. Lembro, a título deexemplo, o Pe. Manuel Faria, o Pe.Benjamim Salgado e o MonsenhorJoaquim Fernandes. E também D.Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz deBraga, que é, de facto, umareferência de Vila Nova deFamalicão e uma fonte deinspiração para todos. São já 50anos de missão sacerdotal, dededicação aos outros, à Igreja e àcomunidade.

D. Jorge Ortiga é atualmente umadas vozes mais respeitadas eouvidas no país e isso enche-nos deorgulho, assim como nos enche deorgulho o brilho no olhar quesempre lhe captamos quando falade Vila Nova de Famalicão.O percurso de vida do SenhorArcebispo é merecedor de todo onosso respeito e admiração hámuitos anos. Em 1992, a CâmaraMunicipal de Vila Nova de Famalicãoatribuiu-lhe a Medalha de Honra doMunicípio e, em 1999, a Chave daCidade, alto galardão municipaldestinado a distinguirpersonalidades que, pelo seuprestígio e pela sua ação,colocaram o nome do nossoconcelho e do país nos maiselevados patamares. Esta últimacondecoração, apenas atribuída acinco pessoas em toda a História deFamalicão, significa que as portasda nossa comunidade estão eestarão sempre abertas parareceber o cidadão distinto eexemplar e o sacerdote responsávele comprometido D. Jorge Ortiga.

Paulo CunhaPresidente da Câmara Municipal

de Vila Nova de Famalicão

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Uma semana de celebração

O arcebispo de Braga, D. JorgeOrtiga, presidiu este domingo àordenação de seis diáconos dadiocese minhota, numa cerimóniaque marcou o seu 50.º aniversáriode ordenação sacerdotal. Segundoo responsável, os novos diáconos“são um exemplo de entrega e umsinal de esperança”.“São também um testemunho daalegria que o serviço faz brotar emnós”, disse D. Jorge Ortiga na

homilia da celebração, numaintervenção divulgada pelo jornaldiocesano, ‘Diário do Minho’.A celebração, que decorreu noSantuário do Sameiro, reuniumilhares de pessoas, perante asquais o arcebispo primaz sustentouque “a atitude de serviço nasce deuma convicção pessoal”. “Nunca sevive para os outros sem a opção porDeus”, acrescentou.

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O dia tinha começado com umahomenagem na terra natal de D.Jorge Ortiga, a paróquia de S.Martinho de Brufe, arciprestado deVila Nova de Famalicão, onde foiinaugurado um memorial aossacerdotes desta comunidade queforam ordenados sacerdotes.Também por ocasião do 50.ºaniversário de ordenaçãosacerdotal do arcebispo primaz, osCTT — Correios de Portugalapresentaram este domingo, noSalão Nobre da Confraria doSameiro, uma emissão filatélica dehomenagem aos arcebispos deBraga.

Os selos representam retratos deSão Martinho de Dume, SãoFrutuoso, São Geraldo, D. FreiBartolomeu dos Mártires, D. Rodrigode Moura Teles e o próprio D. JorgeOrtiga.Os conselhos económicos daArquidiocese reuniram-se na Criptado Sameiro na passada terça-feira,no âmbito das celebrações dasbodas de ouro sacerdotais doArcebispo Primaz. Durante oencontro, o padre HermenegildoFaria falou sobre “a caridade e usodos bens” numa perspetiva bíblica,ficando a abordagem dos aspetospráticos

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a cargo do cónego José PauloAbreu.D. Jorge Ortiga, também presente,destacou a importância de se cuidardos bens da paróquia, tarefa queconsidera “responsabilidade detodos”.“Cuidar, preservar, conservar, nuncaadulterar nem destruir” o patrimónioforam os pedidos que o cónegoJosé Paulo Abreu deixou aospresentes, lembrando que as obrase restaurações “mal feitas” acabam

por deteriorar ainda mais opatrimónio. “Há muita coisa por aíque não dignifica a tradição daIgreja”, advertiu, numa intervençãocitada pelo site da arquidioceseminhota.Também na terça-feira, o arcebispode Braga presidiu à celebração deSão Bento, padroeiro da Europa, eexortou os exorta cristãos a reforçara vida comunitária. “Muitos cristãosestão ausentes da vida paroquial,não

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prestam o mínimo de cuidado nemo mínimo de atenção à vida dacomunidade, pensam que acomunidade é de alguns e quebastam alguns para sercomunidade”, referiu D. Jorge Ortiganuma intervenção enviada hoje àAgência ECCLESIA.A celebração decorreu na Cripta daBasílica de São Bento da PortaAberta. D. Jorge Ortiga vincou queuma comunidade paroquial “tem deser viva” e para que isso aconteça“necessita muito de pessoas queestejam disponíveis para colaborar,necessita do trabalho de todos”.O arcebispo de Braga incentivou osfiéis a servirem a Deus e a serem“agentes do bem”, prestando“atenção às necessidades dosoutros” e procurando dar-lhesresposta, através de gestos e açõesconcretas de voluntariado, no seioda igreja ou numa instituição.No final da Eucaristia, que foisolenizada pelo Coro daMisericórdia de Vila Verde, omonsenhor António Moreno, emnome da Irmandade de S. Bento daPorta Aberta, saudou os peregrinose congratulou-se pelas presençasdo vice-presidente da Câmara deTerras de Bouro, do presidente daJunta de Freguesia de

Rio Caldo, do coro e do arcebispode Braga, a quem foi dirigida umasalva de palmas pela celebraçãodos seus 50 anos de sacerdócio.A página da Arquidiocese de Braga[facebook.com/diocese.braga/]disponibiliza os vídeos dos váriosencontros que decorreram ao longodesta semana, como “OsMovimentos Eclesiais, asAssociações de Fiéis e a PastoralFamiliar - Que desafios, hoje?”, oencontro com os consagrados -“Felizes os pobres em espírito: onecessário e o supérfluo” ou oencontro com o clero - “O ADN doclero e futuro da Arquidiocese".

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Dinamizar e renovar a Igreja emBragaA Arquidiocese de Braga pretendeaproveitar as comemorações dasbodas de ouro sacerdotais de D.Jorge Ortiga para “dinamizar erenovar” aquele território do AltoMinho.Na conferência de imprensa deapresentação das atividades quedecorrem entre 9 e 16 de julho, porocasião dos 50 anos de ordenaçãopresbiteral de D. Jorge Ortiga, ovigário-geral da arquidiocese deBraga, cónego José Paulo Abreu,disse aos jornalistas que o objetivoé “envolver todos os setores” dapastoral.As comemorações iniciaram-se comordenações diaconais a 9 de julho eencerram-se com ordenaçõespresbiterais, uma semana depois.Com estas iniciativas, aArquidiocese de Braga pretendetambém “acordar quem anda maisadormecido e cativar quem andamais afastado”, referiu o cónegoJosé Paulo Abreu.A renovação é um assunto que“preocupa a arquidiocese há muitotempo” porque tem “notado sinaisde abrandamento da práticareligiosa em muitos sítios”, frisouAo longo de toda a semana háatividades e o “ponto alto” das

comemorações é dia 14 de julhocom o pontifical, sessão solene econcerto na Sé de Braga pelo ‘SpiritAlive’, frisa o vigário-geral ecoordenador da iniciativa.“Dos bispos de Portugal, apenasdois por razão de saúde e outro porocupação, não estarão presentes”na festa.O Auditório Vita, em Braga, acolheaté sexta-feira a exposiçãofotográfica ‘Construindo Pontes’, noâmbito das bodas de ourosacerdotais. A mostra recordaencontros entre o arcebispo deBraga e personalidades dasociedade civil, captados pelofotojornalista Avelino Lima.“Construindo Pontes” retrata umpercurso de 50 anos de sacerdote,30 dos quais enquanto bispo, emque D. Jorge Ortiga “dialogou comdiversas personalidades do mundoda cultura, política, educação eassistência social”, pode ler-se nadescrição da exposição, divulgadapelo site da Arquidiocese de Braga.

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O Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, convida todos aqueles que odesejem presentar, no contexto da celebração das suas Bodas de OuroSacerdotais, a canalizar as suas ofertas para o fundo “Partilhar comEsperança”.Desde a sua criação, em 2010, o fundo solidário tem proporcionadodiversos tipos de apoio aos mais carenciados, como o pagamento derendas, medicação, consultas médicas, água, luz, entre outros. O fundodiocesano surgiu da vontade de apoiar os mais necessitados face àsdificuldades da população durante o desenrolar da crise.

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Pastoral do Turismo onlinehttp://www.pastoraldoturismo.pt/ A proposta desta semana passa,mais uma vez, por sugerir umatemática bastante relacionada coma época do ano que vivemos.A Obra Nacional da Pastoral doTurismo (ONPT) “é um organismoda Igreja Católica, em Portugal,dependente da Comissão Episcopalda Pastoral Social e MobilidadeHumana, constituído como meio depromover a Pastoral do Turismo, anível nacional”.Ao digitarmos o endereçowww.pastoraldoturismo.pt entramosnum espaço simples, com imagensde elevada qualidade e bastanteeficaz, do ponto de vista de acessoaos conteúdos disponibilizados.Na página principal além do menu edos habituais destaques,encontramos as ligações de acessoà página do facebook e do twitter eainda um pequeno aplicativo quenos disponibiliza, resumidamente, aliturgia do dia.De seguida ao clicarmos em ONPTficamos a saber que uma dasprincipais finalidades passa pelapromoção do “respeito peladignidade da pessoa humana e aprocura do

bem comum, expressos pelaDoutrina Social da Igreja, em toda aatividade turística”. Por outro lado,nessa mesma opção, podemosainda consultar os estatutos,perceber quem são os membros quecompõem a atual direção e aindaconsultar a memória descritiva daimagem gráfica.Em notícias, conforme o nome orefere, somos convidados aconhecer as ações, os dinamismose os eventos que são desenvolvidospor esta organização ou que comela se relacionam e pretendemmostrar a quem “visita uma igreja ouum santuário, que o que veem émuito mais que uma obra de arte”.Na secção “documentos”, dispomosde um conjunto de textos dispostosem três grandes áreas (Santa Sé,nacionais e internacionais) onde,além de outros, podemos ler amensagem do Papa para o diamundial do turismo.Caso pretenda aceder maisdetalhadamente à liturgia, lecionárioe rituais, em língua inglesa, bastaclicar em “liturgia”, uma propostainteressante e reveladora daatenção para com os turistas.Em destinos entramos num espaçointeressante e que irá merecer

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especial atenção por parte dosvisitantes deste sítio. Aí temosdispostas as vinte diocesesnacionais e em cada uma delasencontramos algumas sugestões devisitas turísticas.Fica então a sugestão para que

acompanhem, pela internet, apresença da ONPT porque temosaqui um meio ao serviço da Igrejapara poder mostrar a “beleza deDeus”.

Fernando Cassola [email protected]

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Papa Francisco:«A Bíblia é um livro perigoso»A BÍBLIA JOVEM YOUCAT já seencontra disponível no mercadoportuguês.A mais recente novidade da coleçãoYOUCAT é uma coletânea dostrechos bíblicos mais significativosque ajudam os jovens a inspirarem-se na Palavra de Deus.O Papa Francisco, no prefácio dolivro, lembra aos jovens que «têmnas mãos algo de divino: um livrocomo fogo, um livro no qual Deusfala». Por isso, «a Bíblia não é feitapara ser colocada numa prateleira,mas para ser levada na mão, paraser lida frequentemente», desafia oSanto Padre.A obra foi preparada durante trêsanos por uma equipa de biblistas,doutores em Sagradas Escrituras,membros da Comissão TeológicaInternacional da Santa Sé eprofessores do Pontifício InstitutoBíblico de Roma.Cada livro bíblico é precedido poruma breve introdução,contextualizando o texto. Nasmargens das páginas, o leitor podeencontrar frases de grandes santose pensadores da Humanidade, queatuam como.

chaves de leitura do capítulo bíblicocorrespondente.À semelhança de toda a coleçãoYOUCAT, a BÍBLIA JOVEM YOUCATestá totalmente ilustrada, com umaimagem leve e atual. Inclui imagensda Terra Santa, fotos de algumasdas paisagens bíblicas, indicaçõespara o Catecismo da IgrejaCatólica e YOUCAT, as perguntasdos jovens e, claro, os famososbonequinhos stickman!No prefácio, o Papa Franciscoconfidencia-nos como lê a sua“velha Bíblia”, diz que «a Palavra deDeus não pode ser lida com “umavista de olhos”» e dá váriassugestões aos jovens em como usá-la. O Santo Padre lembra aos jovensque «a Bíblia é um livroextremamente perigoso», e que «emcertos países quem possui umaBíblia é tratado como seescondesse granadas no armário».Francisco termina o prefácioincentivando os jovens: «Queremfazer-me feliz? Leiam a Bíblia!» A BÍBLIA JOVEM YOUCAT estádisponível em todas as livrariasnacionais e online em www.paulus.pt

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Julho 2017Dia 14 de Julho*Aveiro – Anadia - CáritasPortuguesa promove colóquio comsociedade civil para debaterprevenção dos incêndios e entregauma casa em Anadia e alfaiasagrícolas a uma família de Águeda,afetada pelos fogos *Aveiro – Anadia - A CáritasPortuguesa vai entregar umahabitação recuperada depois dosincêndios florestais de 2016 e visitaruma fábrica que recomeçou a suaatividade recuperando todos ospostos de trabalho. *Braga – Sé - Celebração e sessãosolene dos 50 anos de sacerdóciode D. Jorge Ortiga, arcebispo deBraga *Beja - Moura (Igreja do Carmo) -Apresentação da obra «A Beleza daVirgem Maria» de D. João Marcos,Bispo de Beja Dia 15 de julho*Lisboa - Queijas (Igreja de SãoMiguel) - Abertura do ano jubilarcomemorativo do 175º aniversáriodo nascimento da beata Maria Clara

do Menino Jesus com celebraçãopresidida por D. José Traquina,bispo auxiliar de Lisboa *Porto - Casa de Vilar - Jornadasdiocesanas de formação decatequistas (15 e 16) Dia 16 de julho*Fátima - Peregrinação Nacional daPastoral Penitenciária ao Santuáriode Fátima presidida por D. JoaquimMendes *Braga – Sameiro - Ordenaçõespresbiterais *Santarém – Sé - Ordenaçãopresbiteral de Rúben Marques *Aveiro – Sé - Concerto paracelebrar o quarto aniversário doórgão de tubos da Sé de Aveiro. Dia 17 de julho*Elvas - Igreja de São Domingos -Festa dos beatos Álvaro Mendes eAleixo Delgado, naturais de Elvas emártires do Brasil

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Dia 18 de julho*Coimbra - Pampilhosa da Serra -Campo de Férias «Confia!» naPampilhosa da Serra (Diocese deCoimbra) promovido pela Paróquiade São Romão de Carnaxide(Diocese de Lisboa) (18 a 23) Dia 19 de julho*Faro - Aniversário da dedicação dacatedral de Faro *França, Paris, - A Sociedade dasFilhas do Coração de Maria (FCM)está a preparar o seu 34.º CapítuloGeral que vai realizar-se em Paris,de 19 de julho a 19 de agosto.

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II Concílio do Vaticano:Bento XVI foi um perito conciliar

O Papa Bento XVI que resignou, a 11 de fevereiro de2013, foi um dos peritos do II Concílio do Vaticano,iniciado em outubro de 1962. Na audiência geral de10 de outubro de 2012, Bento XVI recordou essesmomentos: “eu era um jovem professor de teologiafundamental na Universidade de Bonn, e foi oarcebispo de Colónia, cardeal Frings, para mim umponto de referência humano e sacerdotal, que metrouxe consigo a Roma como seu teólogo consultor;depois, fui também nomeado perito conciliar”.Ao memorar o início do II Concílio do Vaticano, BentoXVI disse, em Castel Gandolfo, na memória do bispoSanto Eusébio de Vercelas, 2 de Agosto de 2012, que“foi um dia maravilhoso aquele 11 de Outubro de 1962quando, com a entrada solene de mais de dois milPadres conciliares na Basílica de São Pedro emRoma, se abriu o Concílio Vaticano II”.“Raras vezes na história foi possível como então,quase «tocar» concretamente a universalidade daIgreja num momento da grande realização da missãode levar o Evangelho a todos os tempos e até aosconfins da terra”, disse o Papa na audiência de 10 deoutubro de 2012.Cada um dos episcopados aproximou-se do grandeacontecimento eclesial “com ideias diferentes”. Algunschegaram com uma atitude “mais de expectativa emrelação ao programa que devia ser desenvolvido”,mas “foi o episcopado do centro da Europa – Bélgica,França e Alemanha – que se mostrou mais decididonas ideias”, afirmou Bento XVI.Entre os franceses, foi sobressaindo cada vez mais otema da relação entre a Igreja e o mundo

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moderno, isto é, o trabalho sobre ochamado «Esquema XIII», do qualnasceu depois a Constituiçãopastoral sobre a Igreja no mundocontemporâneo. “Atingia-se aqui oponto da verdadeira expectativasuscitada pelo Concílio”, lembrou oPapa.“As coisas deviam continuar assim?Não podia a Igreja cumprir um passopositivo nos tempos novos?”questiona Bento XVI e responde deseguida: “por detrás da vagaexpressão «mundo de hoje»,encontra-se a questão da relaçãocom a era moderna; para aesclarecer, teria sido necessáriodefinir melhor o que era essencial econstitutivo da era moderna”.

“Inesperadamente”, o encontro comos grandes temas da era modernanão se dá na Constituição pastoral,mas “em dois documentos menores,cuja importância só pouco a poucose foi manifestando com a receçãodo Concílio”, referiu Bento XVI. Enomeia os dois documentos:Declaração sobre a liberdadereligiosa e a declaração Nostraaetate.No cardeal Frings, Bento XVIconsidera que teve “um «pai» queviveu de modo exemplar esteespírito do Concílio”. “Era umhomem de significativa abertura egrandeza, mas sabia também que sóa fé guia para se fazer ao largo,para aquele horizonte amplo queresta impedido ao espíritopositivista”, concluiu.

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Hoje, 14 de julhoPorto Torre dos Clérigos recebe um concerto «In the nameof Bach» de Henk van Twillert & Vento do Norte,dedicado a Bach, às 19h00; 15 e 16 de julhoFátimaPeregrinação do Movimento da Mensagem de Fátimaao santuário da Cova da Iria; 16 julhoFátima- A Pastoral Penitenciária de Portugal dinamiza aperegrinação nacional ao santuário de Fátima com olema «Peregrinos na Esperança e na Paz»; - Ordenações sacerdotais na Arquidiocese de Braga ena Diocese de Santarém; 19 de julhoAlgarve- Aniversário da dedicação da Catedral de Faro; Cartaz: Exposição assinala a aprovação da carta de leide 1 de julho de 1867 - reforma penal das prisões eabolição da pena de morte para crimes comuns e detrabalhos públicos.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h30Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa

Domingo:10h00 - Porta Aberta;11h00 - Eucaristia;23h30 - Entrevista deAura Miguel Segunda-feira:12h00 - Informaçãoreligiosa Diariamente18h30 - Terço

RTP2, 13h00Domingo, 09 de julho,13h30 - D. Jorge Ortiga:Padre há 50 anos Segunda-feira, dia 10 dejulho, 15h00 - Fátima eRùssia. Entrevista joséMilhazes Terça-feira, dia 11 de julho, 15h00 - Informação eentrevista a Catarina Martins Bettencourt sobre osprojetos da Ajuda à Igreja que Sofre na Rússia. Quarta-feira, dia 12 de julho, 15h00 - Informção eentrevista a Aura Miguel sobre a Mensagem de Fátimae a Rússia. Quinta-feira, dia 13 de julho, 15h00 - Informação ecomentário à atualidade Sexta-feira, dia 15 de julho, 15h00 - Entrevista.Comentário à liturgia do domingo com a Irmã LuísaAlmendra e o padre Nélio Pita Antena 1Domingo, 16 de julho - entrevista a D. Jorge Ortigasobre os 50 anos do seu sacerdócio segunda a sexta, 17 a 21 de julho - Experiências devoluntariado missionário: Jovens Sem fronteiras,Equipa d'África e Juventude mariana Vicentina.

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Ano A – 15.º Domingo do TempoComum Boa TerraPara SemearO Evangelho!

O Evangelho deste 15.º Domingo do Tempo Comumapresenta-nos a bem conhecida parábola dosemeador e da semente, sobre a importância e osignificado da Palavra de Jesus.Temos consciência que a Palavra anunciada eproclamada, meditada e partilhada, celebrada e vivida,é a referência fundamental à volta da qual se constróia vida da comunidade e dos crentes?Deixemo-nos interrogar pelas quatro situaçõesapontadas.A semente que caiu em terrenos duros, de terrabatida, faz-nos pensar em corações insensíveis,egoístas e orgulhosos, onde não há lugar para aPalavra de Jesus e para os valores do Reino. É arealidade de tantos homens e mulheres que veem noEvangelho um caminho para fracos e vencidos, e quepreferem um caminho de independência e deautossuficiência, à margem de Deus e das suaspropostas.A semente que caiu em sítios pedregosos, que brotanessa pequena camada de terra que aí está, mas quemorre rapidamente por falta de raízes profundas, faz-nos pensar em corações inconstantes, capazes de seentusiasmarem com o Reino, mas incapazes desuportarem as contrariedades, as dificuldades e asperseguições. É a realidade de tantos homens emulheres que veem em Jesus uma verdadeiraproposta de salvação e que a ela aderem, mas querapidamente perdem a coragem quando confrontadoscom a radicalidade do Evangelho.A semente que caiu entre os espinhos e que foisufocada por eles faz-nos pensar em coraçõesmaterialistas,

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comodistas e instalados, para quema proposta do Reino não é aprioridade fundamental. É arealidade de tantos homens emulheres que, sem rejeitarem aproposta de Jesus (muitas vezes atésão “muito religiosos” e têm “a suafé”), fazem do dinheiro, do poder, dafama e do êxito profissional ousocial o verdadeiro Deus a que tudosacrificam.A semente que caiu em boa terra eque deu fruto abundante faz-nospensar em corações sensíveis ebons, capazes de aderirem àspropostas de Jesus e deembarcarem na aventura do Reino.É a realidade de tantos homens emulheres que encontraram naproposta de Jesus um caminho delibertação e de vida plena e que,como Jesus, aceitam fazer da suavida

uma entrega a Deus e um dom aoshomens.Este último é o quadro ideal doverdadeiro discípulo. Nem sempreestamos situados neste últimoquadro. Mesmo navegando pelasquatro situações da parábola,procuremos sintonizar sobretudocom esta última.Que a Palavra, que germina ecresce no nosso coração, sejasempre o dinamismo que nosdesafia a olhar a vida e os outroscom entusiasmo solidário. Levadospelo que insistentemente nos diz oPapa Francisco, nunca noscansemos de ser transformadospela alegria missionária doEvangelho.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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De Fátima a Moscovo

O bispo de Leiria-Fátima, D. AntónioMarto, disse esta quinta-feira que seviveu um dia “memorável” e“histórico” na Cova da Iria, com apresença de representantes da“Igreja Católica nos países de línguarussa”. 100 anos depoisda terceiraaparição de Nossa Senhora emFátima, o responsável sublinhouque “pela primeira vez” os bisposdestes países estiveram noSantuário para “dar

graças a Nossa Senhora pelaconsolação, pela fortaleza e pelapaz que lhes concedeu”.O testemunho dos três videntes deFátima regista que, na aparição de13 de julho de 1917, Nossa Senhoralhes disse: “Para impedir a guerravirei pedir a consagração da Rússiaao meu Imaculado Coração e aComunhão reparadora nosprimeiros sábados”.Ainda nestaaparição teve

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lugar a visão do inferno e arevelação do sofrimento da Igreja ede um bispo vestido de branco, atrilogia que constitui o chamadoSegredo de Fátima.D. António Marto, que falava no finalda peregrinação internacionalaniversária de julho, na Cova daIria, quis realçar que “o chamado econhecido Segredo de Fátima” sereferia aos sofrimentos dahumanidade “ameaçada na suasobrevivência”, por causa daguerra, e à perseguição contra aIgreja “por regimes totalitários eateus” “O Senhor é mais forte do que omal e Nossa Senhora é para nós agarantia visível e materna de que abondade de Deus é a última palavrasobre a história”, prosseguiu,citando a promessa deixada pelaVirgem Maria em 1917: “Por fim, omeu Imaculado Coração triunfará”.O bispo de Leiria-Fátima agradeceuaos peregrinos de língua russa,vindos desde países da antigaUnião Soviética, “pela presença,pela mensagem e pelo testemunho”,saudando em particular o arcebispode Moscovo, D. Paolo Pezzi, quepresidiu à Missa conclusiva daperegrinação.A peregrinação presidida pelo

arcebispo de Moscovo contou commais de 6300 peregrinos inscritosno Serviço de Peregrinos doSantuário de Fátima, num total de140 grupos oriundos de 27 nações.O arcebispo de Moscovo recordouna sua homilia as perseguiçõescontra cristãos no século XX,alertando para as consequênciasdos totalitarismos na vida dassociedades. “O século XX ficoumarcado por uma perseguiçãoparticularmente sangrenta.Infelizmente, quando uma sociedaderenuncia ao anúncio do Evangelhotorna-se facilmente vítima detotalitarismos, do poder do homemsobre o homem”, disse D. PaoloPezzi.D. Clemens Pickel, bispo de Saratov,na Rússia, sublinhou em Fátima o“significado especial” da aparição de13 de julho de 1917, em particularpara as comunidades cristãs daantiga União Soviética.“O encontrocom a ‘Senhora’, a 13 de julho de1917, teve um significado especial.Maria comunicou um segredo efalou da Rússia”, recordou oresponsável, na homilia da Missa davigília da peregrinação internacionalaniversária.

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Curso de Verão analisou relação dosPapas com o santuário

O Santuário de Fátima dedicou oseu curso de verão 2017 ao tema“particularmente significativo”‘Fátima e os Papas’, no contexto doCentenário das Aparições.“Houvevárias visitas de Papas a estesantuário. Os pontífices desteséculo XX, XXI estiveram todos dealguma

forma relacionados com Fátima”,disse o reitor do santuário à AgênciaECCLESIA.O padre Carlos Cabecinhasconsiderou que essas visitassignifica tomar “consciência daprofunda ligação” que a Igrejauniversal sente em relação aofenómeno Fátima, “da importância

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que Fátima tem”.“Também, daimportância que é aprofundar estadimensão da ligação eclesial deFátima com a Igreja universal”,acrescentou.75 alunos lotaram o curso de verão‘Fátima e os Papas’ que terminouesta quarta-feira e para o reitor dosantuário a sua “promoção já é umsinal positivo”. “Esgota sempre asvagas que abrimos. Há sede muitogrande para estudar Fátima, porquenão tem sido muito estudada doponto de vista académico, emborajá haja honrosas e boas exceções”,disse Marco Daniel Duarte,coordenador da edição e diretor doServiço de Estudos e Difusão dosantuário à Agência ECCLESIA.Os alunos eram oriundos dePortugal, Espanha, Brasil e EUA dasmais diversas áreas de formação,como: Arte e Património; História;Ciências Religiosas; EconomiaSocial; Turismo; Matemática eFísica, Ciências da Comunicação.O diretor do Serviço de Estudos eDifusão contextualizou que esteano, a visita do Papa Franciscomotivou o estudo da “relaçãoumbilical que existe entre os Papa eFátima”.“Procuramos especialistasde cada um dos pontificados com

linguagens diversas desde dahistória mas também do jornalismo,dos vaticanistas que estão emPortugal e acompanharam algumasdas viagens para dar instrumentosde leitura, ferramentas, para osinvestigadores poderem analisar atemática particularíssima de Fátima”,desenvolveu Marco Daniel Duarte.Segundo o coordenador conclui-seque “não se pode olhar para estatemática de forma unívoca”, porqueFátima como “fenómeno global” éuma “espécie de balão de ensaio”de tantas questões “ramificadas coma história da Igreja e do mundo”.O curso de verão 2017homenageou o padre LucianoCoelho Cristino, diretor do Serviçode Estudos e Difusão do santuárioentre 1976 e 2013.No final dos trabalhosfoi apresentado um livro da suaautoria, ‘As aparições de Fátima:reconstrução a partir dosdocumentos’.“É uma súmula sobretodas as aparições, do anjo e deNossa Senhora. Uma história dasaparições sem assuntos teológicosa não ser as frases dos diálogos”,referiu o sacerdote à AgênciaECCLESIA.

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O relato desesperado de dois bispos na República Centro-Africana

A coragem do amorDois bispos, duas dioceses, umpaís: República Centro-Africana.D. Cyr-Nestor Yapaupa e D. JuanJosé Aguirre. Duas vozes paraum mesmo lamento. Nos últimostempos, a violência tomou contadas aldeias, vilas e cidades deAlindao e de Bangassou. Duasdioceses em que milhares depessoas em lágrimas procuram aajuda da Igreja. Muitos perderamtudo e não têm mais ninguém… Que se diz quando alguém vê, comos próprios olhos, cenas de umaviolência inimaginável? Que se diz?Às vezes as palavras desaparecem.Tornam-se inoportunas, incapazes.Perante lágrimas de verdade,lágrimas de dor, que se pode dizer?Quase todos os dias, D. Cyr-NestorYapaupa e D. Juan José Aguirreficam assim, sem palavras, perantehistórias de sofrimento de pessoas,muitas delas cristãs, que foramapanhadas na armadilha daviolência que se apoderou do paísnos últimos tempos. No meio destefuracão estão grupos armados, osSeleka, muçulmanos, e os Anti-Balaka, constituídos, muitas vezes,como grupos de auto-defesa.

Mas a radiografia deste desastreé muito complexa. D. Juan Aguirre,Bispo de Bangassou, explica o quese está a passar. “Há dezoito anosque vivemos um calvário com muitosataques, raptos, roubos,intimidações e inclusive a degolaçãode pessoas.” É assim emBangassou, uma diocese apoiadadirectamente pela Fundação AIS.Agora vamos até Alindao. Que diz obispo? “A violência teve início do dia8 de maio, em resposta aos raptos eassassinatos de vários jovens emDatoko pelos Seleka. Após aintervenção das tropas da ONU, asituação acalmou-se um pouco.Porém, ainda existem cerca de5.000 refugiados, que estãoactualmente a ser atendidos emvários centros da Igreja Católica.”Cinco mil pessoas em lágrimas sóali, na diocese de D. Cyr-NestorYapaupa. A República Centro-Africana é um país destroçado.Quando a violência irrompe assimnas ruas, não poupando nada nemninguém, fica-se sem respostas. Équando as pessoas se sentemincapazes. É nestas ocasiões queum simples abraço apertado valemais do que todas as palavras.

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Pessoas assustadasMas a violência e o medo só secombatem com a coragem inspiradapelo amor. O Bispo de Bangassou éespanhol, missionário comboniano eé, também, um homem de coragem.No passado dia 8 de Maio, graças aD. Juan José Aguirre – e à actuaçãopronta de militares portugueses aoserviço da ONU – não foramchacinadas centenas de pessoas.Eram quase todas muçulmanas.Podiam ser cristãs. Para o bispoeram apenas pessoas assustadasque precisavam de ajuda. Comoprocurar caminhos de paz quandotanta violência está à solta? D. Cyr-Nestor Yapaupa também sabe bemo que é ter à sua frente gente feridano corpo e na alma, estendendo-lheas suas mãos vazias. Que dizer?Que fazer? “As pessoas na minhadiocese vivem essencialmente dosprodutos agrícolas locais. Osalimentos da caça e da pescatornaram-se muito raros nos últimostempos. Como resultado, existe orisco de uma crise alimentar, à qualjá estamos a assistir. As pessoas jánão são capazes de cultivar os seuscampos de forma segura, e asreservas e lojas de alimentosdesses países foram saqueadas,roubadas e até queimadas.” O bispoestá a falar de fome. Está a falar defome e de medo.

Está a falar de lágrimas. Está a falarde pessoas que precisam de ajuda.Está a falar connosco. Está a falarconsigo. No meio desta tragédia emque se tornou a República Centro-Africana, a Fundação AIS, atravésdos seus benfeitores e amigos, estáa fazer todos os dias verdadeirosmilagres. Milagres que só a coragemdo amor pode construir.

Paulo Aido

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S. TOMÉ E PRÍNCIPE

Alegrias e dificuldades do povo das IlhasVerdes

Tony Neves Espiritano

Hoje, ao falar de S. Tomé e Príncipe, vou darvoz ao Bispo destas Ilhas verdes. Eleencontrou um povo simples e bom, comvontade de crescer na fé e na cidadania.Problemas também os havia à farta. De almae coração, D. Manuel António pôs mãos áobra na evangelização integral do povosantomense.Diz: ‘O povo santomense é naturalmentereligioso. Há uma cultura crioula muito arreigada,sentindo-se isso também na vivência da fé. Nota-se a presença de rituais de tradição animista,mas também muito de outras tradições,particularmente de Portugal. Temos as festas dossantos, com as suas procissões, as suasnovenas, mas onde também se misturam crençasancestrais, pedidos de protecção, ritossincretistas. O baptismo continua a ser muitoprocurado, mas já não tanto os outrossacramentos. A fé mistura-se com ritos ecrenças, sentindo-se uma forte tendência paraver a religião mais como um conjunto de ritosprotectores que uma caminhada de vida com odivino. Há uma desestruturação familiaracentuada, com uma grande maioria das famíliasa ter a mulher como o sustentáculo do lar, já queo homem prima pela ausência.No entanto, sente-se a presença de uma culturacatólica marcante. As Igrejas com as suas festas,as suas cerimónias litúrgicas, as suas eucaristiasvivas, as missas pelos defuntos, são marcos bempresentes na paisagem humana santomense’.Sobre a situação política, económica esocial, o Bispo é cauteloso nas palavras:‘São Tomé e Príncipe ainda é visto por muitoshoje como um 70

exemplo de democracia em África. Anível económico a situação semprefoi difícil e continua. O desequilíbrioentre as importações e exportaçõesé enorme. O orçamento de Estado éfeito contando apenas com dez porcento de rendimentos próprios. Odesemprego é elevadíssimo. OEstado acaba por ser o maiorempregador do país, um Estadocom pouca capacidade de respostaaos desafios que lhe sãoapresentados. A agricultura desubsistência e a pesca artesanalsão os sectores que mais genteocupam. A pobreza generalizada éuma realidade que não se podeocultar. E a vida é muito cara. Ossalários são baixíssimos, mas osprodutos custam tanto ou mais quena Europa. A nível social,encontramos uma sociedade onde afalta de esperança no amanhã étalvez o maior drama que afecta avida das pessoas. A falta deemprego, de perspectivas de futuroe a pobreza generalizadacontribuem para isso.A desestruturação das famíliastambém não ajuda. O facto demuitas famílias contarem apenascom os rendimentos da mãe,contribui para a pobreza dasfamílias. Vive-se à espera

de "messias", de salvadores. Masestes tardam em chegar. Apesar detudo, a escolarização da populaçãoaumentou muito, a luta contra amalária tem sido um êxito, temhavido um esforço grande paralevar água e energia a todas aspovoações, o abastecimento do paísem bens tem sido regular’. A última palavra de D. ManuelAntónio é virada para o futuro:‘Apesar de todas as limitações quesofremos, continuo a acreditar nofuturo de São Tomé e Príncipe. Aaposta na formação das nossascrianças e jovens, o empenho numacatequese permanente e capaz delevar à conversão e adesão à Igreja,a perspectiva de virmos a terbrevemente um número significativode sacerdotes santomenses, oentusiasmo que se sente nacomunidade cristã na celebração dasua fé, são aspectos que nosajudam a acreditar no amanhã. Eacredito que brevemente São Tomée Príncipe poderá mesmo ter à suafrente um bispo africano. Quando talsuceder, ficarei contente, porqueserá sinal de que a Igreja destasIlhas verdes, plantadas no Equador,se afirma capaz de assumir os seusdestinos’.

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