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USO DO PRESERVATIVO NAS RELAÇÕES SEXUAIS: UM ESTUDO NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
USE OF THE PRESERVATIVE IN THE SEXUAL RELATIONSHIPS: A STUDY IN THE STATE UNIVERSITY OF PONTA GROSSA
Michaely Natali Mendes Costa1, Lidia Dalgallo Zarpellon2
1 Autor para contato:Acadêmica da Universidade Estadual de Ponta Grossa- UEPG (44) 36231704; e-mail: [email protected] 2 Enfermeira Mestre em Educação, Docente da Universidade Estadual de Ponta Grossa- UEPG, Campus de Uvaranas, Departamento de Enfermagem, Ponta Grossa, PR, Brasil; (42) 32203735; e-mail:[email protected]
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo avaliar o uso do preservativo em acadêmicos com parceiros fixos dos cursos enfermagem, odontologia, direito, administração e jornalismo e verificou que o desuso, abandono ou uso não-consistente do preservativo está relacionado a confiança no parceiro ou ao uso de outro método contraceptivo. Foram entrevistados 200 acadêmicos, onde se avaliou a idade, sexo, tempo de relacionamento, se usam o preservativo durante as relações sexuais, qual método contraceptivo utilizam, tempo de relacionamento para abandono do preservativo e se dialogam sobre a importância do preservativo. A metodologia foi quantitativa utilizando o software SPSS para análise bioestatística. Verificou-se que 59% dos acadêmicos não utilizam o preservativo durante suas relações sexuais, destes 47% não o utilizam por possuírem parceria de confiança e 32,3% não o utilizam, pois fazem uso de um anticoncepcional. Dos duzentos acadêmicos entrevistados, 87% responderam que dialogam com o parceiro sobre a importância do preservativo. Práticas de sexo seguro entre homens e mulheres dependem de fatores socioculturais que envolvem informação, percepção de risco e significados das relações afetivas. Entre a consciência da necessidade e uso do preservativo não implica que a prática de seu uso deva ocorrer, uma vez que várias pesquisas mostram que há uma enorme distância entre um grau avançado de conhecimento em relação a DST/HIV/AIDS e a necessidade do uso do preservativo e comportamentos que envolvam menor risco. Palavras-chave: contraceptivo; preservativo; parceiro fixo.
ABSTRACT
The present study had as objective evaluates the use of the preservative in academics with fixed partners of the courses nursing, dentistry, legal, administration and journalism and it verified that the disuse, abandonment or no-solid use of the preservative is related the trust in the partner or to the use of another contraceptive method. 200 were interviewed academic, where the age, sex, time of relationship was evaluated, they are used the preservative during the sexual relationships, which contraceptive method uses, time of relationship for abandonment of the preservative and they are dialogued on the importance of the preservative. The methodology was quantitative using the software SPSS for analysis statistic. It was verified that 59% of the academics don't use the preservative during their sexual relationships, of these 47% they don't use him/it for they possess trust partnership and 32,3% don't use him/it, therefore they make use of a contraceptive. Of the two hundred academics interviewees, 87% answered that you/they dialogue with the partner on the importance of the preservative. Practices of safe sex between men and women depend on sociocultural factors that you/they involve information, risk perception and meanings of the affectionate relationships. Between the conscience of the need and use of the preservative it doesn't implicate that the practice of his/her use should happen, once several researches show that there is
an enormous distance among an advanced degree of knowledge in relation to DST/HIV/AIDS and the need of the use of the preservative and behaviors that involve smaller risk. Key words: contraceptive; preservative; fixed partner.
1. Introdução
É de conhecimento da grande maioria da população que o meio mais eficaz de prevenção da
AIDS/DST é o preservativo, ele permite a prática sexual com penetração com o menor risco de
contaminação. O uso do preservativo é alvo de várias campanhas publicitárias do governo e de
organizações não governamentais. As campanhas são veiculadas na TV e rádio desde 1987,
procurando alcançar uma maior eficácia na sua atribuição, buscando despertar nos indivíduos a
procura e consumo dessa poderosa arma contra a tão temida AIDS.
O uso do preservativo como uma das diretrizes mais importantes para a prevenção da
infecção do HIV pela via sexual foi, desde os primeiros anos da epidemia, a alternativa para o sexo
mais protegido em tempos de AIDS (Kalichman, 1993).
O uso da camisinha foi incorporado, como recomendado desde 1987, proposto por técnicos
dedicados à saúde pública e à prevenção em conjunto com o movimento das comunidades mais
atingidas, principalmente a comunidade gay organizada, apesar da oposição até hoje de alguns
grupos religiosos (Paternostro, 1999).
Muitas pesquisas buscam determinados grupos e determinantes do uso do preservativo,
porém, tem se percebido nas últimas pesquisas realizadas pelo governo, uma feminização dos
portadores do HIV e, ainda que a maioria das mulheres infectadas são casadas ou possuem parceiros
fixo ( Paiva et al, 2006).
De acordo com Segatto (2006), “Entre 1994 e 2004 os casos de AIDS cresceram 175% entre
as mulheres, que muitas vezes são infectadas pelos parceiros, namorados, noivos ou maridos”.
Cerca de 44 milhões de casais usam a camisinha para o planejamento familiar. Esses 44
milhões representam 4% de todos os casais onde a mulher está em idade reprodutiva. No mundo
inteiro, os preservativos estão quase no último lugar da preferência dos casais como método de
planejamento familiar, verificando-se assim que, quando usado por casais, o preservativo tem
apenas a função de prevenir gestações indesejadas (DEFASAGEM..., 2006).
Para entender um pouco o motivo do abandono do uso do preservativo entre casais é
necessário aprofundar-se na história do preservativo e do anticoncepcional.
1.1 Um breve histórico do preservativo
Segundo Schiavo, (1997) na história do Ocidente, o aparecimento da “camisinha” não é um
fato preciso. Sua primeira descrição escrita data de 1564, quando o italiano Gabriel Fallopio, um
médico-cirurgião, declarou que um envoltório de linho usado sobre o pênis durante a relação sexual
impediria a disseminação de doenças venéreas.
Souza (2003) declara que os chineses foram os desbravadores que, com sua sabedoria,
criaram capas de papel de seda, embebido em óleo. Na Idade Média os turcos desenvolveram uma
capa para o pênis, feito de intestino de carneiro. No ano de 1750, a França proibiu o uso do
preservativo, que na época era chamado de sobrecasacas inglesas porém, com a Revolução
Francesa, o governo de Paris autorizou e legalizou a venda e a utilização da camisinha, e estas eram
confeccionadas para cada cliente.
Mora e Serrano (2000) citam que o higienista britânico Condom introduz em 1720 o célebre
artigo do mesmo nome fabricado com intestino de ovelha e vedado na ponta com um fio ou fita de
maneira a evitar o refluxo. A partir do século XVII, foi que a camisinha teve como função proteger
de indesejável gestação, pois teria sido desenvolvida para o rei Carlos II, da Inglaterra, que tinha um
número enorme de filhos ilegítimos.
No século XIX, com o processo de vulcanização da borracha, o preservativo pode ser
fabricado em grandes quantidades, mas era lavado, seco e reutilizado e mesmo assim, era
considerado de alto custo para as classes baixas. Somente na década de trinta do século XX, o
preservativo passou a ser fabricado em látex, porém, seu aparecimento ainda estava mais ligado à
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis que à contracepção. A contracepção ficava por
conta das mulheres que utilizavam esponjas e tampões até o fim do século XVII. (McLaren, 1997).
Devido à função de prevenção de doenças, o preservativo passou a ser identificado a práticas
libertinas, relações extraconjugais, relacionado à perversão. E, ainda, o fato de que a contracepção
deveria ficar a cargo das mulheres, tornou a camisinha impopular. Durante a primeira guerra
mundial, é que o preservativo se popularizou, por prevenir doenças, assim a sua associação à
prostituição, tornou-se ainda mais um opositor ao casamento (Marinho 1999).
Marinho (2006) afirma que a mídia foi fundamental na procura do preservativo por jovens e
solteiros, porém ainda é associada ao comportamento promíscuo, dificultando o seu uso entre
parceiros fixos que afirmam que o compromisso e a confiança no parceiro (a) não justificariam o
uso consistente do preservativo.
Segundo Sanches (2006), o preservativo como método de prevenção de DST/HIV/AIDS é
visto por muitos casais como um símbolo de infidelidade ou desconfiança, por isso há uma maior
adesão entre pessoas que têm parceiros eventuais.
1.2 O surgimento da pílula
Na década de 30, pesquisas apontaram que o hormônio feminino progesterona apresentava
indícios contraceptivos, uma década depois, Russel Marker um químico americano, produziu o
primeiro comprimido de progesterona sintética feito de raiz de batata-doce mexicana (Souza, 2003).
Com a introdução dos contraceptivos orais combinados os (COC´s) na década de 60,
observa-se uma evolução contínua dos compostos utilizados, focalizando comodidade, segurança e
conforto. A rápida evolução dos contraceptivos foi o maior responsável pela progressiva diminuição
do uso do preservativo. Com a chegada da pílula, as mulheres foram libertadas da obrigação da
gravidez indesejada. Nesse período, a camisinha viveu praticamente isolada e escondida nas
prateleiras das farmácias, pois seu uso ficara restrito para casos de infecção das doenças
sexualmente transmissíveis. A contracepção oral é o método contraceptivo reversível mais
amplamente utilizado no mundo (Livoti e Topp, 2006).
As mulheres hoje podem escolher o momento certo para engravidar, e decidem também a
maneira e por quanto tempo pretendem usar o anticoncepcional, pois não lhes faltam opções,
existem anticoncepcionais orais, comprimidos vaginais, adesivos, injetáveis, anéis vaginais,
implantes intradérmicos.
A escolha do anticoncepcional pela mulher é algo pessoal. As opções diversas dos métodos
anticoncepcionais envolvem diferentes riscos, melhores adequações conforme a faixa etária,
métodos mais ou menos definitivos, custos, mas principalmente os efeitos colaterais (Ferriani,
2003).
A camisinha, ao contrário de todos os outros métodos contraceptivos, não oferece efeitos
colaterais, exceto em casos de usuários alérgicos ao látex, é de baixo custo, além de ser distribuída
pela rede pública de saúde.
Soares (2001) afirma que a camisinha é o único método contraceptivo que, além de evitar
filhos, protege contra a transmissão das DST/HIV/AIDS.
É importante frisar que as ações de anticoncepção devem estar atreladas à prevenção de
DST/HIV/AIDS, principalmente a síndrome da imunodeficiência que vem crescendo amplamente
entre as mulheres e jovens (Aquino, 2003).
A utilização de métodos contraceptivos adequados e eficazes aliados à prevenção de DST
tem esbarrado na aceitabilidade, taxa de descontinuação, preconceito que o tema DST gera (Souza
et al., 2006).
2. Objetivos
O objetivo geral da pesquisa realizada foi avaliar o uso do preservativo em acadêmico com
parceiros fixos, verificando se o desuso, abandono ou uso não-consistente do preservativo está
relacionado à confiança no parceiro ou o uso de outro método contraceptivo, de forma que estas
informações possibilitem o desenvolvimento de programas preventivos e adequados, com sua
posterior avaliação.
Para a execução dos objetivos foram necessários levantamentos bibliográficos, que tinham
como foco o uso do preservativo e o motivo de seu desuso ou abandono.
3. Sujeitos, Materiais e Métodos
Optou-se por abordar acadêmicos para a pesquisa por situarem-se na faixa etária de
população sexualmente ativa e para avaliar se o conhecimento adquirido na universidade, ou seja, se
o grau de instrução favorece ou não a utilização do preservativo.
O estudo realizado entre setembro e outubro de 2007 foi quantitativo e utilizou-se de
questionário semi-estruturado, auto preenchido em sala de aula por alunos dos curso de direito (três
turmas), enfermagem (duas turmas) jornalismo, administração e odontologia (uma turma) da
Universidade Estadual de Ponta Grossa - Paraná. A abordagem foi feita anteriormente com o
professor que estaria em sala de aula no momento da pesquisa. Os questionários foram aplicados
nos primeiros vinte minutos iniciais da aula com os acadêmicos que estavam presentes.
Foram excluídos da pesquisa acadêmicos menores de 18 anos e acadêmicos que não
possuíam parceiro fixo por pelo menos dois meses.
A proposta do projeto foi registrada no Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual
de Ponta Grossa, sendo submetida à apreciação e obteve parecer favorável, sob o nº 37/2007
estando de acordo com as normas éticas estabelecidas pela resolução nº196/96 do Ministério da
Saúde.
Em relação ao tamanho da amostra, utilizou-se o modelou N= (Z/d)2. p(1-p), onde N é o
tamanho da amostra, Z é a variável normal reduzida, p(1-p) é o desvio padrão amostral e d é o erro
padrão de 5%. Os dados foram processados e submetidos a estudos estatísticos utilizando-se o
software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 12.0. Inicialmente, foi construída
uma base de dados a partir dos dados coletados pela entrevistadora. Em seguida, procedeu-se a
entrada de dados, com dupla digitação (dois digitadores diferentes). Após a digitação, fez-se a
consistência lógica do banco de dados. A análise dos dados foi feita no mesmo SPSS e foram
utilizados o teste de Qui- quadrado de Pearson e Yates, sendo que o nível de significância p foi de
5%.
4. Resultados e Discussão
Os resultados desse estudo baseiam-se nas respostas obtidas a partir da aplicação de um
questionário estruturado a uma amostra de 200 acadêmicos, composta pelos cursos de direito,
jornalismo, administração, enfermagem e odontologia. A amostra constitui-se de 55% de
acadêmicos do sexo feminino e 45% de acadêmicos do sexo masculino.
Na amostra global, a idade dos acadêmicos variou entre 18 e 38 anos, 44,5% têm idade entre
21 e 26 anos, 8,5% têm idade de 33 a 38 anos.
Quanto ao tempo de relacionamento, 57% dos acadêmicos entrevistados mantém
relacionamento há pelo menos 24 meses, 15% tem relacionamento entre 12 e 18 meses, 12% de 6 a
11 meses e 16% de 2 a 5 meses.
O que se percebe nos dias de hoje é que ainda existe uma visão de que o preservativo deve
ser usado eventualmente com parceiros que ainda não são considerados de “confiança”.
Segundo Brasil (2006) dados divulgados pelo Programa DST/HIV/AIDS do Ministério da
Saúde, em pesquisa realizada em território nacional com 1.882 pessoas com mais de 14 anos em
2003, o uso do preservativo com parceiros fixos fica na faixa de (20%) na última relação sexual.
Número semelhante ao encontrado na pesquisa de 1998 do Ministério da Saúde (21%). Quando
perguntados sobre o uso consistente do preservativo (uso em todas as relações sexuais), o índice cai
para (11%).
Verificando os dados coletados na pesquisa podemos analisar a pergunta: Você costuma
usar preservativo durante as relações sexuais?
Apenas 41% responderam que usam. Destes, apenas 34,4 % eram do sexo masculino.
Mais da metade, 59% dos acadêmicos não utilizam o preservativo, e justificaram suas
respostas. Analisando as justificativas para o não uso do preservativo, encontramos as seguintes
respostas (tabela 1).
Tabela 1- Distribuição percentual (%) da justificativa da não utilização do preservativo durante
as relações sexuais segundo o sexo.
Justificativa F M Total
Parceiro fixo 23,7% 71,2% 47,4%
Uso de Anticoncepcional 45,8% 18,6% 32,3%
Parceiro Fixo e Anticoncepcional 28,8% 8,5% 18,6%
Coito interrompido 1,7% 1,7% 1,7%
Fonte: A pesquisadora 2007 a partir de amostra com 200 acadêmicos
A baixa freqüência no uso de preservativos na amostra do sexo masculino aparece
preferencialmente relacionada à natureza do relacionamento, demonstrando que o preservativo seja
menos utilizado ou usado apenas com o intuito primário de prevenir uma gravidez indesejável.
Paiva et al. (2003) relata que a relação estabelecida entre parceiros é a explicação
predominante para não usar o preservativo.
Segundo Amorin e Andrade (2006) outro fator que tem aumentado o número de casos de
HIV/AIDS em mulheres, é a chamada dupla moral sexual, que acaba impondo restrições à
expressão sexual das mulheres e uma maior tolerância às relações extraconjugais dos homens.
Carreno e Costa (2006) afirmam que a confiança no parceiro fixo e a vasta diversidade de
contraceptivos disponíveis no mercado têm favorecido um aumento significativo de casos de AIDS
entre as mulheres, causando preocupação.
Já na amostra feminina predomina o uso do anticoncepcional, ou seja, a mulher demonstra
ter o poder de escolher se quer ou não engravidar independente se o parceiro usa ou não o
preservativo.
A escolha do método contraceptivo, de acordo com Brasil (2002), pressupõe a oferta de
todas as alternativas de elegibilidade do contraceptivo, que depende do grau de confiança e eficácia
que ele oferece ao casal. Outros fatores influenciam na escolha, como a disponibilidade do produto,
facilidade do uso e reversibilidade do método e a proteção contra doenças sexualmente
transmissíveis.
Um fator predominante nas vivências afetivo-sexuais nos acadêmicos pesquisados, a relação
estável, mantida com um único parceiro é o principal fator associado à dispensa de prevenção, não
uso ou uso inconsistente do preservativo masculino.
Quanto à pergunta: Você ou seu parceiro usam algum método contraceptivo?
Verificou-se o uso do preservativo como método contraceptivo em apenas 7,5% dos
acadêmicos. O uso ideal do preservativo juntamente com anticoncepcional totalizaram 18,5%, o
anticoncepcional ficou em primeiro lugar com 66,5%.
Foi questionado também qual o motivo que leva o acadêmico a utilizar o preservativo. O uso
dos preservativos foi relacionado às praticas anticoncepcionais na maioria das respostas; 37% só o
utilizam como substituto na falta de outro método contraceptivo, 18,5% utilizam o preservativo
apenas como contraceptivo, para evitar gravidez. Relacionaram o uso do preservativo diretamente à
prevenção de DST/HIV/AIDS, 14,5% dos acadêmicos.
O preservativo, como método de prevenção de doenças, parece não ter grande popularidade
nessa amostra, historicamente o preservativo ainda é visto por alguns como símbolo de infidelidade
ou desconfiança. Para muitos, o uso do preservativo durante um relacionamento baseado na
afetividade e confiança implicaria a possibilidade de rompimento de tal compromisso, pondo em
questão a fidelidade do parceiro. Algumas bibliografias ainda associam a não utilização do
preservativo por ele ser visto como um obstáculo ao prazer.
A percepção do preservativo como um método contraceptivo, mais do que como um
preventivo de DST/AIDS, também é o motivo para o abandono de seu uso.
Uma porção razoável (30 %) afirmou fazer o uso consistente do preservativo independente
do motivo.
Uma questão de grande importância foi a de com quanto tempo de relacionamento houve o
abandono do preservativo (tabela 2).
Tabela 2- Distribuição percentual (%) do tempo de relação para abandonar o uso do preservativo.
Tempo de abandono F M Total
1 a 4 meses 22,7% 26,7% 24,5%
5 a 10 meses 10% 15,5% 12,5%
11 a 18 meses 9,2% 10% 9,5%
24 meses ou mais 5,4% 5,5% 5,5%
Nunca usei 11,8% 12,2% 12%
Sempre uso 40,9% 30,9% 36%
Fonte: A pesquisadora 2007 a partir de amostra com 200 acadêmicos
Segundo as Políticas e Diretrizes de Prevenção das DST/AIDS entre Mulheres , a prevenção
em parcerias fixas e/ou estáveis está intimamente relacionada à prevenção da transmissão sexual do
HIV, onde o termo se refere à relação entre duas pessoas casadas ou que moram juntas (coabitam) e
/ou se relacionam sexualmente por um período de pelo menos de 12 meses. Porém, o que se tem
visto é que adolescentes e adultos que se relacionam por menos de 3 (três) meses têm dispensado o
uso de camisinha, procurando apenas se prevenirem de uma possível gravidez (Brasil,2003).
Apesar dos dados demonstrarem que 59% dos acadêmicos não utilizam o preservativo
durante as relações sexuais com seus parceiros, 87% responderam que dialogam com o parceiro
sobre a importância do preservativo, destes 7,3% são mulheres e 20% homens.
Outro valor destacado na população de acadêmicos pesquisada é a percepção de risco, que
está presente tanto nos homens quanto nas mulheres.
5. Conclusão
Práticas de sexo seguro entre homens e mulheres dependem de fatores socioculturais que
envolvem informação, percepção de risco e significados das relações afetivas (Sanches, 2006).
Entre a consciência da necessidade e uso do preservativo não implica que a prática de seu
uso deva ocorrer, uma vez que várias pesquisas mostram que há uma enorme distância entre um
grau avançado de conhecimento em relação a DST/HIV/AIDS e a necessidade do uso do
preservativo e comportamentos que envolvam menor risco. Trata-se de insistir no fato de se
reconhecer que o estímulo do desejo dos indivíduos pelo preservativo não deve estar limitado ao
caráter meramente contraceptivo, mas tentar associá-los à prevenção de valores socioculturais
conhecidos, desejados e respeitados. A vulnerabilidade coletiva de novas infecções pelo HIV parece
estar se reduzindo há certos estratos da população.
Deve-se buscar uma a mudança no sentido moral, coerente com as normas sociais que
atribuem pecado e risco ao sexo não conjugal e, no entanto, há uma visão oposta de que o “sexo
com um parceiro fixo” é mais protegido, por isso tem se verificado uma não utilização do
preservativo em parceiros fixo ou de confiança, enquanto que com parceiros eventuais há uma
maior utilização do preservativo.
Agradecimentos
A minha mãe Maria Cleide Natali Mendes, meu pai Luiz Mendes a minha irmã Flávia
Natali Mendes, pelas orientações durante as horas de pânico e ansiedade para a finalização deste
trabalho, à minha tia Ana Odete Cray pelas correções gramaticais, que mesmo sabendo que não
poderiam ser citados como co-autores, devido ao grau de parentesco me ajudaram, sem vocês eu
não teria conseguido. Obrigada!
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