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1 NOVAS ROTAS DE DESENVOLVIMENTO O novo secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, Alvaro Prata, fala sobre as políticas para o setor LOCUS Ambiente da inovação brasileira Ano XVIII | n o 68/69 Setembro 2012 Incubadoras de empresas e parques tecnológicos têm contribuído para a transformação da realidade econômica e social dos territórios onde atuam, por meio da promoção do empreendedorismo inovador. Agora é hora de iniciar um novo ciclo de crescimento, que reserva desafios proporcionais às conquistas dos últimos 25 anos Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares apoiam crescimento de empreendimentos criados por comunidades As bases da relação entre empresas- âncoras e parques tecnológicos

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A revista Locus é uma publicação trimestral da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)

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NOVAS ROTAS DEDESENVOLVIMENTO

O novo secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, Alvaro Prata, fala sobre as políticas para o setor

LOCUSAmbiente da inovação brasileira

Ano XVIII | no 68/69Setembro 2012

Incubadoras de empresas e parques tecnológicos têm contribuído para a transformação da realidade econômica e social dos territórios onde atuam, por meio da promoção do empreendedorismo inovador. Agora é hora de iniciar um novo ciclo de crescimento, que reserva desafios proporcionais às conquistas dos últimos 25 anos

Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares apoiam crescimento de empreendimentos criados por comunidades

As bases da relação entre empresas-âncoras e parques tecnológicos

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Ligue agora e veja adisponibilidade no seu estado

0800 570 0800www.sebraemais.com.br0800 570 0800www.sebraemais.com.br

Estratégias EmpresariaisVocê será capaz de fazer uma análise completa do seu ambiente empresarial, identifi cando pontos fortes e fracos, redefi nindo missões e metas corporativas. Também iráelaborar e implementar um plano de ação estratégica.

Gestão da InovaçãoDescubra que inovação não é só tecnologia.É uma nova forma de pensar e gerir o negócio: fazendo diferente.

InternacionalizaçãoPrepare sua empresa para conquistar o mercado global, tornando seu produto ou serviço mais competitivo dentro e fora do País.

EmpretecUm seminário desenvolvido pela ONU que lhe motiva a promover mudanças no seu comportamento, aperfeiçoando suas habilidades de negociação e gestão, proporcionando maior segurança nas decisões e aumentando a chance de sucesso da sua empresa.

Gestão FinanceiraCompreenda todas as informações fi nanceiras da sua empresa e transforme-as em ferramentas para decisões seguras e efi cientes. Método prático: você aprende enquanto aplica o conteúdo na empresa.

Encontros EmpresariaisAprenda com a experiência de empresários do seu ou de outros setores. Compartilhe soluções já testadas e amplie sua rede de parceiros e de contatos.

Gestão da QualidadeImplemente novas crenças e atitudes que deixarãoseus clientes mais satisfeitos e sua empresa aindamais competitiva. Solução dividida em 5 módulos.

Ferramentas de Gestão AvançadaPromove um modelo de gestão baseado em indicadores emetas, além do acompanhamento sistemático da execuçãoe dos resultados. Você não só desenvolve o pensamentoestratégico, mas também o aplica no dia a dia.(Disponível nas capitais do CE, PE, PR, RS, SC e SP).

de 2 anosde 9 funcionários

Se a sua empresa tem

Estas soluções são para você:

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Gestão da QualidadeImplemente novas crenças e atitudes que deixarãoseus clientes mais satisfeitos e sua empresa aindamais competitiva. Solução dividida em 5 módulos.

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A revista Locus é uma publicação da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)

Conselho EditorialJosealdo Tonholo (presidente)

Carlos Américo PachecoJorge Audy

Marli Elizabeth Ritter dos SantosMauricio Guedes

Maurício Mendonça

Coordenação editorial/Jornalista responsável:Débora Horn

(MTb/SC 02714 JP)

Edição:Débora Horn

Bruna de PaulaCamila Augusto

Reportagem:Bruno Moreschi, Camila Augusto, Caroline Mazzonetto,

Daniele Martins, Débora Horn, Luiza Carreirão

Direção e edição de arte: Bruna de Paula

Colaboração: Hiedo Batista

RevisãoVanessa Colla

Foto da capaShutterstock

PresidenteFrancilene Procópio Garcia

Vice-presidenteJorge Luís Nicolas Audy

DiretoriaGisa Bassalo, Ronaldo Tadêu Pena,

Sérgio Risola e Tony Chierighini

SuperintendênciaSheila Oliveira Pires

ImpressãoEstação Gráfica

Tiragem2.500 exemplares

Produção Apoio

EndereçoSCN, quadra 1, bloco C,

Ed. Brasília Trade Center, salas 209/211Brasília/DF - CEP 70711-902

Telefone: (61) 3202-1555E-mail: [email protected]

Website: www.anprotec.org.brAnúncios: (61) 3202-1555

LOCUSAmbiente da inovação brasileira

Ano XVIII ∙ Setembro 2012 ∙ no 68/69 ∙ ISSN 1980-3842

Eis aqui mais uma edição especial da Lo-

cus. Com o dobro de páginas, equivalendo a

dois números, ela traz matérias de fôlego sobre

os temas que mais interessam aos envolvidos

com o empreendedorismo inovador no Brasil.

Do empresário ao gestor de incubadoras e par-

ques, passando por pesquisadores, professores,

servidores públicos, nossa expectativa é de que

todos encontrem na revista uma importante

fonte de informação.

Cada matéria é, assim, resultado da combi-

nação entre apuração rigorosa, colaboração de

especialistas nos temas abordados e articula-

ção dos integrantes e parceiros do movimento.

Tudo isso para que a Locus continue focada em

sua missão de promover negócios, estimular a

criatividade, compartilhar conhecimentos, for-

mar opinião, debater temas polêmicos e apon-

tar o futuro.

Para nós, da Redação, é gratificante disse-

minar informações sobre um movimento que,

nos últimos 25 anos, atuou de forma decisiva

para transformar projetos em produtos, pesqui-

sas em soluções, estudantes em empresários,

sonhos em realidade. Sabemos que a continui-

dade dessa trajetória de sucesso depende da di-

vulgação adequada e transparente não apenas

das conquistas, mas também das dificuldades

vivenciadas pelo empreendedorismo inovador.

É para isso que trabalhamos.

Da redação

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LOCUSAmbiente da inovação brasileira

NOVAS ROTAS DEDESENVOLVIMENTODesenvolvimento. Palavra que permeia todas as discus-

sões sobre o futuro, seja de uma instituição, de um negócio, de uma cidade, de uma região, de um país. Não à toa, essa palavra pauta a maioria das reportagens da Locus, desde que a publi-cação foi criada. Isso porque o desenvolvimento é a finalidade do empreendedorismo inovador, movimento que comemora, neste ano, os 25 anos da entidade que o representa no Brasil: a Anprotec.

Assim, foi escolhido também como tema do XXII Seminário Na-cional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, promo-vido por Anprotec e Sebrae entre os dias 17 e 21 de setembro deste ano, em Foz do Iguaçu (PR). Lançada no evento, esta edição traz à tona os desafios e conquistas do movimento nos últimos 25 anos. Nesse período, muitas coisas mudaram. Na esteira da globalização, temos uma nova ordem econômica, com países emergentes conquistando cada vez mais importância no mercado mundial. Há novos setores produtivos, muitos deles resultado de pesquisas iniciadas há décadas. Temos, agora, um novo perfil de pesquisadores e estudantes, que veem no empreendedorismo uma oportunidade de carreira. Temos políticas públicas específicas para Ciência, Tecnologia e Inovação. Enfim, temos muito a comemorar. E temos, claro, novos desafios pela frente, apontados na reportagem de capa, que inicia na página 54.

Os desafios também fazem parte do caminho dos empreendedores, que nesta edição ga-nham um bloco de matérias especiais para se informar. Entre as páginas 29 e 52, há reporta-gens sobre oportunidades de negócios, atração de investidores e diversos empreendimentos que deram certo. Mais à frente, a partir da página 65, matérias mais voltadas aos agentes e profissionais ligados a habitats de inovação – tratamos de aceleradoras de negócios, a rela-ção entre empresas-âncoras e parques tecnológicos, incubadoras corporativas, gestão do co-nhecimento, Núcleos de Inovação Tecnológica e lições de uma missão internacional. Embora segmentado, esse conteúdo nos faz perceber a relação estreita entre os interesses de cada público. Afinal, todos buscam um mesmo ideal: o sonhado desenvolvimento.

Por fim, convidamos você, leitor, a visitar a última página da revista e se emocionar com a carta de Mauricio Guedes, nosso colunista e um dos precursores do movimento no Brasil. Ele escreve a outros dois ícones, que infelizmente já nos deixaram: José Adelino Medeiros e Telmo Araújo, que foram diretor e presidente da Anprotec, respectivamente. Vale a pena ler e refletir.

Boa leitura!

Conselho Editorial

CARTA AO LEITOR

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8ENTREVISTA

O secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, Alvaro Prata, fala sobre o desafio de levar o conhecimento acadêmico para o setor industrial

22COOPERAÇÃO

Incubadoras tecnológicas de cooperativas populares modificam a realidade das comunidades onde estão inseridas e movimentam a economia local

30OPORTUNIDADE

A indústria mundial de e-books cresce em ritmo acelerado. No Brasil, mercado começa a ganhar espaço, principalmente no ramo de livros educacionais

71 INTERAÇÃO Quais as vantagens da convivência entre PMEs e grandes empresas – e qual o papel dos parques tecnológicos na mediação dos interesses de cada negócio?

77 APOIO Incubadoras corporativas apostam em novos empreendimentos, dando suporte desde a capacitação de gestores até a administração das empresas nascentes

86 ACADEMIA Oito anos após a Lei da Inovação, saiba como se encontra o cenário dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) e quais desafios ainda devem ser superados

98 OPINIÃO Mauricio Guedes relembra a trajetória da Anprotec no ano em que a associação comemora 25 anos, e traça um painel sobre o empreendedorismo inovador no Brasil

54A SERVIÇO DODESENVOLVIMENTO

Ao alcançar a maturidade, movimento de empreendedorismo inovador brasileiro comemora conquistas dos últimos 25 anos. Entre elas, a contribuição efetiva de incubadoras de empresas e parques tecnológicos para transformar a realidade econômica e social dos territórios onde atuam. Agora, é hora de começar um novo ciclo de desenvolvimento

ÍNDICE

34 INVESTIMENTO Entenda qual o caminho percorrido por empreendedores que aproveitaram os fóruns de investimento para alvancar e dar visibilidade aos seus negócios

43 SUCESSO Conheça a história da paranaense Angelus, que direcionou seus esforços e investimentos em P&D para crescer e manter-se competitiva

46 NEGÓCIOS Da concepção do negócio à mesa do consumidor: como buscar soluções inovadoras em um ramo tão tradicional como o da indústria de alimentos e bebidas?

66 MECANISMOS De olho em start-ups inovadoras, aceleradoras de negócios investem em empreendimentos com alto potencial de crescimento e rápido retorno financeiro

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_O MOVIMENTO

Em ENTREVISTA à Locus, o secretário de Desenvolvimento Tecnológico eInovação do MCTI, Alvaro Prata, fala sobre as políticas públicas para CT&I e sobre os planos para o setor. Novas parcerias e realizações mantém EM MOVIMENTO os habitats de inovação em todas as regiões do Brasil. Pelo país, iniciativas de COOPERAÇÃO, apoiadas por incubadoras ganham força. Gonçalo Guimarães dá sua OPINIÃO sobre a importância social dessas instituições

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conectado ao mercado

P O R D É B O R A H O R N

Ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),

instituição onde atua há mais de 30 anos, Alvaro Toubes Prata

tomou posse como secretário de Desenvolvimento Tecnológico e

Inovação do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) no

dia 23 de maio deste ano. O engenheiro – que se define como um

“cientista vinculado à indústria” – já coordenou o Instituto Nacional

de Ciência e Tecnologia em Refrigeração e Termofísica e tem um

grande desafio à frente do novo cargo: levar o conhecimento

científico para o setor industrial. Na opinião de Prata, o Brasil

precisa investir no ensino fundamental e médio e, além disso, fazer

com que o conhecimento que é produzido nas universidades e

institutos de pesquisa beneficie a sociedade e gere produtos com

alto valor agregado. A meta, segundo ele, é que, até 2014, 1,8% do

PIB do país seja investido em Ciência, Tecnologia e Inovação.

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Um cientista

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LOCUS > O sistema de Ciência, Tecnologia e Ino-vação do Brasil teve avanços significativos nos últimos anos, mas ainda há demanda por mu-danças. Como o senhor vê esse cenário? Quais são os principais desafios desse sistema?

Alvaro Toubes Prata > Temos tido avanços em todos os aspectos. Cada vez mais valoriza-mos a educação, que é o nosso grande proble-ma. Não teve nem um país do mundo que se desenvolveu sem priorizar educação. É um in-vestimento no futuro, preventivo. Mas, embora já percebamos a importância da educação e es-teja sendo feito um esforço enorme para me-lhorá-la, ainda somos um país muito desigual do ponto de vista educacional. Nós precisamos nos concentrar agora em melhorar a educação básica e o ensino fundamental e médio.

Conseguimos, porém, um progresso enorme na educação superior, sobretudo na pós-gradua-ção. A Universidade de São Paulo, por exemplo, é a que mais forma doutores no mundo. Cons-truímos uma estrutura que favoreceu muito a Ciência brasileira. É por isso que hoje o Brasil é o 13º país em produção de conhecimento [de acordo com a National Science Indicators (NSI)].

No entanto, uma característica do nosso sistema que ainda não conseguimos resolver é que essa Ciência só prospera nas universida-des e institutos de pesquisa. Cerca de 70% dos cientistas e engenheiros que trabalham com Pesquisa e Desenvolvimento estão nas univer-sidades e institutos, enquanto 30% estão no setor empresarial. Essa é uma distorção em relação ao que se verifica no resto do mundo. Do ponto de vista da tecnologia, da inovação, não temos conseguido colocar o conhecimento científico a serviço do nosso país.

Hoje o Brasil investe 1,2% do PIB em Ciên-cia e Tecnologia. Desse total, 0,6% é investido pelo governo e 0,54%, aproximadamente, é investido pelas empresas. O valor que inves-timos como governo é parecido com o que os países desenvolvidos investem. A diferença está em quanto as empresas investem. Agre-gamos pouca tecnologia aos nossos produtos

e, por isso, o setor empresarial perde compe-titividade. Quais são as saídas que o governo indica para que possamos ter empresas mais proativas nesse sentido?

O governo federal colocou como uma de suas diretrizes a necessidade de transformar o Brasil em uma potência tecnológica e inova-dora. Esse é um grande passo. Temos criado diferentes planos, como o Plano de Desenvol-vimento da Agropecuária, o Plano de Desen-volvimento da Educação, o Plano Brasil Maior, o Plano Nacional de Saúde, a Política Nacional de Defesa. São grandes estratégias que utili-zamos para poder construir uma política na-cional que trabalhe sinergicamente em prol da Ciência, Tecnologia e Inovação.

No âmbito do MCTI, em dezembro do ano passado, o Conselho Nacional de Ciência, Tec-nologia e Inovação construiu e aprovou as es-tratégias nacionais de CT&I. Essas estratégias definem o cenário que vai orientar o país em relação a programas prioritários.

É possível observar que todos esses planos es-tão interligados e parece haver uma busca pelo desenvolvimento sustentável, com uma preo-cupação com o social, o ambiental e o econô-mico. Sabemos que muitas dessas áreas priori-tárias são foco de pesquisas nas universidades e institutos do país. Como fazer esse conheci-mento chegar até a sociedade?

Dentro dessas estratégias que estabelece-mos, nós colocamos metas. Uma delas é que, até 2014, nós possamos investir 1,8% em Pes-quisa e Desenvolvimento e que metade desse total venha do setor empresarial. Queremos, também, aumentar a taxa de inovação nas empresas [indicador que mede a introdução de novos produtos e processos no mercado] e que, em 2014, essa taxa alcance 50%. Hoje estamos em 38%.

Em geral, o que queremos é facilitar e pro-mover a interação entre o conhecimento cien-tífico e o tecnológico, o que levará à inovação.

ENTREVISTA > Alvaro Toubes Prata

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Podemos separar esse objetivo em três gran-des dimensões. Uma delas visa criar e favore-cer o surgimento de instituições que possam trabalhar de forma articulada.

Uma segunda vertente é apoiar os setores prioritários para o país e fazer com que a in-dústria também se envolva com esse objetivo. Para isso, temos uma série de programas e incentivos fiscais, como a Lei do Bem e a sub-venção econômica, por exemplo. Por fim, esta-mos trabalhando no marco legal da inovação. Criamos a Lei do Bem, em 2005, e hoje há uma série de outros instrumentos. Precisamos me-lhorar o ordenamento deles.

Quais são as principais demandas de adaptação e atualização do nosso marco legal nessa área?

Quando conversamos com o setor industrial para saber por que eles não investem mais em Pesquisa & Desenvolvimento, recebemos algu-mas reclamações – e a maioria delas é proce-dente. Uma das principais críticas é referente à alta taxa de impostos que se verifica no Brasil. A questão da infraestrutura do país é um se-gundo ponto que é alvo de reclamações. E o ter-ceiro item é a questão da burocracia. O Brasil é um país complicado, amarrado em si próprio. Quando falamos de trazer ciência para os nos-sos produtos, precisamos de agilidade.

Voltando à questão do incentivo fiscal. Atualmen-te, poucas empresas aproveitam os benefícios da Lei do Bem. Há alguma explicação para isso?

Sim, é surpreendente. Pouquíssimas empre-sas utilizam esse mecanismo. Começamos a

oferecer incentivos fiscais, por meio da Lei do Bem, em 2006. Naquele ano, apenas 130 em-presas se beneficiaram. Em 2010, saímos das 130 e fomos para 639. Mas ainda temos um universo muito maior de empresas que pode-riam se beneficiar. Há algumas críticas feitas pelos empresários e as duas mais importantes são as que vou falar. Primeiro, eles veem na Lei do Bem uma insegurança, atribuída a algumas imperfeições da legislação. A Receita Federal tentou regularizar e normatizar melhor a Lei do Bem no final do ano passado. Isso melho-rou a segurança jurídica e a expectativa é que possamos ver o resultado dessa mudança nos próximos anos.

Outro alvo de críticas dos empresários é que, segundo eles, a Lei do Bem beneficia so-mente a grande empresa, porque é ela que tra-balha com lucro real. Já as empresas que tra-balham com lucro presumido e com o Simples não podem acessar esse benefício. Hoje temos estudado formas para favorecer as pequenas e médias empresas de maneira que elas possam, também, receber incentivos fiscais.

É preciso ampliar essa discussão. Todo empresário que procurou se informar e con-seguiu receber incentivos foi surpreendido positivamente e passou a fazer uso desse tipo instrumento.

Parques tecnológicos e incubadoras de em-presas têm sido apontados como ferramentas importantes para a inovação. O último estudo sobre incubadoras, realizado pela Anprotec e pelo MCTI, aponta que 98% dos empreendi-mentos incubados inovam. Qual é o papel que incubadoras e parques tecnológicos devem de-sempenhar para fortalecer o sistema?

Temos feito um esforço muito grande para ampliar o número de incubadoras no país. É impressionante o que temos conseguido até agora. Começamos a dar estímulo a elas no iní-cio na década de 1980 e hoje temos quase 400 incubadoras no Brasil. Quase nenhum outro país do mundo conseguiu fazer um progresso tão grande no número de incubadoras. Nossa

ENTREVISTA > Alvaro Toubes Prata

“UMA CARACTERÍSTICA DO

NOSSO SISTEMA QUE AINDA NÃO

CONSEGUIMOS RESOLVER É QUE A CIÊNCIA

SÓ PROSPERA NAS UNIVERSIDADES E

INSTITUTOS DE PESQUISA”

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ENTREVISTA > Alvaro Toubes Prata

expectativa é que esse impacto, advindo des-sas novas empresas que estão sendo geradas, possa começar a mudar a vocação do Brasil, para que ele passe a oferecer produtos com maior valor agregado.

As incubadoras cuidam da etapa inicial da vida da empresa. Depois disso é preciso que esses empreendimentos tenham um ambiente favorável, que são os parques tecnológicos.

Nós vemos que há várias iniciativas de incen-tivo à inovação nos estados. Há um despertar do poder público para a necessidade de investir em Ciência & Tecnologia e para a importância de instrumentos como incubadoras e parques?

Não só os Estados, mas também os muni-cípios. Não podemos esquecer que o parque tecnológico vai ser colocado em uma deter-minada cidade, que precisa estar estrutura-da legalmente e administrativamente para receber o parque. É preciso, também, que os Estados se preparem para isso. Atualmente, 16 dos nossos Estados já sancionaram suas leis de inovação. Também temos três estados elaborando a minuta de lei e um estado com o projeto em tramitação. Se você tem na políti-ca estadual o fomento à tecnologia e o surgi-mento de parques tecnológicos, as diretrizes e leis federais podem ser implantadas com maior propriedade.

O senhor tem experiência como professor, pesquisador, reitor e coordenador de diversos projetos. Do ponto de vista da universidade, como é possível avançar para que entregue-mos o conhecimento produzido dentro dela para a sociedade?

É preciso que cada um de nós faça a sua parte. O que quero dizer com isso? É que nós gastamos muito tempo e esforço reclamando, dizendo que não devia ser assim, que a culpa é do outro. É claro temos direito de nos pre-ocupar e de criticar. Mas, se dentro daquilo que nos compete, cada um de nós puder fazer a sua parte, já teremos um grande avanço. É preciso que os pesquisadores sigam duas dire-

ções. Primeiro, é necessário que eles persigam a fronteira do conhecimento e que, dentro de nossas áreas de competência, possamos fazer trabalhos originais, ousados. Em segundo lu-gar, é importante que nós possamos abrir os nossos laboratórios e as nossas dimensões para a sociedade. Não podemos conceber uma universidade fechada nela própria, com amarras e tabus, estigmatizando setores e im-pondo dificuldades de relacionamento. O bom professor universitário é aquele que consegue, contribuindo para a sociedade, transformar o relacionamento com outras áreas de conheci-mento e com as empresas em benefício acadê-mico, contribuindo para a boa formação dos alunos. L

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NORTE

O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Mar-co Antonio Raupp, anunciou que o governo pretende desenvolver uma política de parques tecnológicos na Amazônia. A declaração foi feita durante o fórum con-junto dos Conselhos Nacionais de Secretários Estadu-ais para Assuntos de CT&I (Consecti) e das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap), que aconteceu entre os dias 23 e 25 de julho, em São Luís (MA). “Queremos utilizar os conhecimentos tradicionais que existem nessas regiões sobre os elementos da biodiversidade para desenvolver novos negócios”, disse Raupp.

MCTI pretende criar política de parques tecnológicospara a Amazônia

O estudo Parques Científicos e Tecnológicos na Amazônia com Agregação de Valor aos Produtos da Biodiversidade foi apresentado no

dia 14 de agosto, no Centro de Ges-tão e Estudos Estratégicos (CGEE), em Brasília (DF). Para a realização do estudo, foram feitas reuniões em vá-

rios estados da Amazônia. O objetivo da pesquisa é apoiar a constituição e o desenvolvimento de parques tec-nológicos na região.

CGEE concluiu estudo sobre parques na Região Norte

O governo de Tocantins lançou, no dia 17 de julho deste ano, a Rede To-cantinense de Inovação (RTI), em uma reunião entre gestores públicos e o governador do estado, Siqueira Cam-pos. O projeto, que reúne 10 institui-ções, tem o objetivo de organizar e es-timular parcerias entre o governo, as universidades e o setor empresarial. A meta é criar uma cultura da inovação no Tocantins. A Secretaria da Ciência e Tecnologia terá o papel de articular os atores de inovação do estado, pro-movendo encontros regulares para o desenvolvimento da RTI.

Tocantins lança rede estadual de inovação

Signatários se comprometeram a criar condições para alcançar os objetivos do protocolo

O ministro Marco Antonio Raupp afirma que os conhecimentos locais devem ser usados para fomentar ambientes inovadores na Amazônia

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EM MOVIMENTO

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NORDESTE

Localizado na Avenida Paulista, o escritório do Porto Digital em São Paulo (SP) foi inaugurado no último dia 26 de junho e possui 35 m2 de área. O espaço oferece

nove pontos de trabalho, mesa de apresentação para até quatro pessoas com TV LED, internet banda larga wi-fi de 50 mega, além de serviços extras fornecidos de acordo com as necessidades de cada empresa. Para uti-lizar o escritório, os empreendimentos terão que pagar uma taxa de conservação de R$ 50,00 por dia.

O local funcionará 24 horas, todos os dias da sema-na. A ideia é que as empresas do Porto Digital – que abriga mais de 200 empreendimentos em Recife (PE) – possam contar com a estrutura do parque tecnoló-gico também na capital paulista, de forma a atrair in-vestidores e potenciais clientes. O escritório servirá, ainda, para que os executivos de São Paulo possam entrar em contato mais facilmente com as empresas do Porto Digital.

Contratos firmados no Sudeste do Brasil represen-taram, em 2010, 25% do total do faturamento das empresas embarcadas. “O Porto Digital, reconhecen-do a importância que tem a cidade de São Paulo no desenvolvimento de seu ecossistema, buscou o apoio da Softex e dos governos municipal e estadual para a implantação de mais um benefício às empresas lo-calizadas no parque tecnológico do Recife. No caso, um ponto de apoio no principal centro econômico do país”, explicou Francisco Saboya, durante a inaugu-

ração do escritório. O Centro de Excelência em Tecno-logia de Software do Recife (Softex) é o parceiro ope-racional do Porto Digital na administração e gerência do escritório.

Empresas embarcadas poderão contar com a infraestrutura do Porto Digital também em São Paulo

Porto Digital inaugura escritório em São Paulo

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Maranhão seleciona bolsistas para elaborar plano de Parque Tecnológico

O Governo do Estado do Maranhão lançou, no dia 21 de agosto, o edital Programa de Suporte à Implantação de Ações Estratégicas em Pesquisa, Desenvolvimento Tecnoló-gico e Inovação no Estado do Maranhão. O objetivo é sele-cionar bolsistas para atuar com as seguintes ações: moder-nização da infraestrutura de comunicações digitais; criação de um Centro de Referência em Tecnologia; dinamização de sistemas produtivos agropecuários; e elaboração de um

plano de negócios para a criação de um parque tecnológico.O edital oferece 10 bolsas, que variam de R$ 1.072 a R$

4 mil. Podem concorrer graduados em Engenharia Elétrica, Civil, da Computação ou Ciência da Computação, Economia e técnicos em Edificações, Informática e Administração.

A íntegra do edital está no site www.fapema.br. As inscrições podem ser realizadas pela internet até o pró-ximo 20 de setembro.

EM MOVIMENTO

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NORDESTE

A Secretaria de Ciência, Tecnolo-gia e Inovação da Bahia (Secti) con-tratou a Fundação Certi, de Santa Catarina, para realizar a implanta-ção e operação assistida da Incu-badora do Tecnocentro do Parque Tecnológico da Bahia, além da ela-boração do plano operacional para a estruturação do sistema estadual

de incubação. A ideia é que seja im-plantado na Bahia um modelo simi-lar ao catarinense, que inclui não só a operação da incubadora e suporte às empresas, mas também a estru-tura de uma rede de mecanismos e programas que possibilita a geração de empreendimentos inovadores.

O prédio Tecnocentro, do Par-

que Tecnológico da Bahia, já abriga nove empreendimentos. O espaço foi inaugurado neste ano e possui cerca de 26 mil m2. A Secti planeja lançar um novo edital público para seleção de empresas. O Governo ainda pre-tende instalar novas incubadoras em Ilhéus, Itabuna, Vitória da Conquista, Feira de Santana e Camaçari.

Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia começa a estruturar sistema de fomento às incubadoras de empresas

O Sistema de Gestão para Pe-quenos Negócios desenvolvido pe-los participantes do projeto Prêmio Talento Wiki – promovido pelo governo de Alagoas – será testa-do em 25 empresas residentes em incubadoras da Rede Alagoana de Incubadoras de Empresas (RAIE). “O projeto piloto vai servir para melhorar o sistema, ao mesmo

tempo em que auxiliará as peque-nas empresas a gerir melhor os seus negócios, visando à inserção no mercado competitivo”, relatou o diretor-presidente da Desenvolve – Agência de Fomento de Alagoas, Antonio Carlos Quintiliano.

O Prêmio Talento Wiki, lançado no ano passado, é uma parceria entre a Desenvolve, a Secretaria de Estado

da Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e a empresa Bessa’s Tecnolo-gy – e conta com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento. O projeto tem como objetivo fazer com que estudantes de cursos como Tecnologia da Informação e Adminis-tração desenvolvam softwares para serem implantados em micro e pe-quenas empresas.

Empresas incubadas de Alagoas adotam sistema de gestão desenvolvido por estudantes

Equipes da agência Desenvolve e da Rede Alagoana de Incubadoras reúnem-se com estudantes para apresentação do sistema

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EM MOVIMENTO

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CENTRO-OESTE

O Centro de Apoio ao Desenvolvi-mento Tecnológico da Universidade de Brasília (CDT/UnB) firmou parcei-ra para participar do projeto piloto Soft Landing, da European Business & Innovation Centre Network (EBN). Foi uma das primeiras incubadoras de empresas do Brasil a se associar à rede, da qual a Anprotec também faz parte.

O Soft Landing tem como objetivo promover a internacionalização de micro e pequenas empresas por meio do intercâmbio de empreendimentos incubados, permitindo que tenham maior facilidade de acesso ao mer-

cado internacional. Os membros do programa oferecem às empresas ser-viços como acesso a escritórios, apoio da equipe local quanto a aspectos le-gais, financeiros, culturais e assuntos práticos, além de informações sobre o mercado, dentre outros benefícios.

“Essa é uma grande oportuni-dade para promover o intercâmbio de empreendimentos incubados e graduados para participar de ações no exterior, e também receber em-preendimentos incubados de outros países, além de promover a coope-ração internacional em projetos de-senvolvidos pelo CDT e pela UnB”,

afirma o gerente de Desenvolvimen-to Empresarial do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília (CDT/UnB), Higor Santana.

Sobre a Rede EBNCriada em 1984, a European Bu-

siness & Innovation Centre Network (EBN) oferece serviços com o objetivo de coordenar as atividades dos Busi-ness and Innovation Centres (BICs) – organizações que promovem inovação e empreendedorismo. A EBN também age como interface com outras orga-nizações, como a Comissão Europeia.

CDT/UnB é a primeira incubadora do Brasil a fazer parte do projeto europeu Soft Landing

Foi inaugurada a primeira incubadora tecnológica da capital sul-matogrossense, no dia 1º de agosto. Na mesma data foi lançado o edital para seleção de empre-sas, que escolherá 15 propostas, sendo 10 para incu-bação presencial e cinco para a modalidade à distância. Os projetos podem ser enviados até 30 de novembro e a expectativa é de que haja mais de 40 inscrições.

A instituição está funcionando no antigo prédio da Incubadora Francisco Giordano Neto, que abrigava em-preendimentos da área de couro e artefatos e estava desativada. Foram investidos R$ 150 mil na reforma do local, na compra de mobiliário e na instalação da infraestrutura de Tecnologia da Informação. A coorde-nação da incubadora é realizada pela Unidade Especial de Criação e Inovação da Prefeitura de Campo Grande (MS), núcleo responsável pela política institucional de inovação do município.

O edital para seleção de empresas está disponível no Diário Oficial de Campo Grande, na edição do dia 1º de agosto: www.capital.ms.gov.br/diogrande.

Campo Grande (MS) ganha primeira incubadora tecnológica

Nova incubadora recebeu investimento de R$ 150 mil e já lançou edital para seleção de candidatas à incubação presencial e à distância

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SUDESTE

Foram iniciadas as obras de ex-pansão da Incubadora de Empresas Coppe/UFRJ, na Ilha do Fundão, com a construção do seu terceiro prédio. O novo ambiente vai abrigar até nove empresas com perfil industrial, volta-das para o setor de petróleo e gás/energia, – vocação do Parque do Rio, onde a Incubadora se encontra ins-talada. O projeto terá investimento de R$ 2,5 milhões, aportados pela

Financiadora de Estudos e Pesquisas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Finep/MCTI) e pela OGX, do empresário Eike Batista.

A área total do novo prédio será de 1,2 mil m2 e a previsão é de que as obras estejam concluídas no iní-cio de 2013. Com isso, a instituição vai ampliar sua capacidade, poden-do chegar a um total de 30 empre-sas instaladas simultaneamente.

Incubadora Coppe/UFRJ ganhará novo prédio voltado para o setor de óleo e gás

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ãoO prédio do Núcleo do Parque Tecnológico Emilio Bruno Germek, localizado em Piracicaba (SP), foi lançado no último dia 21 de agosto pelo Governo de São Paulo e pela Prefeitura do Município. O objetivo do parque, que possui área de cerca de 700 mil m², é promover a coo-peração entre centros de pesquisa, universidades e empresas, além de oferecer suporte para atividades empresariais do setor de energia. No parque já estão instalados os prédios da Faculdade de Tecnologia de Pira-cicaba (Fatec), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) e da empresa Raízen.

O núcleo, que funcionará como incubadora e centro administrativo do parque, disponibilizará espaços para abrigar empresas de base tec-nológica. O prédio conta com 27 módulos, além de secretaria, au-ditório e laboratórios. Existem 12

empresas interessadas em ocupar espaços no local, sendo que oito delas já passaram pela análise do Arranjo Produtivo Local do Álcool (Apla) que administra o parque e é responsável pela seleção dos em-preendimentos.

Os programas de inovação tec-

nológica, os serviços associados e os negócios que serão desenvolvi-dos no Parque Tecnológico de Pira-cicaba terão como foco tecnologias para a conversão de diversas fontes de biomassa em combustíveis reno-váveis. Até agora, foram investidos cerca de R$ 80 milhões no parque.

Núcleo do Parque Tecnológico de Piracicaba (SP) é inaugurado

O Programa de Incubação da Bio-minas Brasil completou 15 anos em junho – resultado de um convênio de cooperação de sucesso entre a iniciativa privada, o governo e a uni-versidade. A Habitat atualmente con-ta com 16 empresas incubadas, que faturam R$ 120 milhões por ano. O programa também já graduou 20 em-preendimentos, que hoje têm fatura-mento, somado, de R$ 500 milhões.

Incubadora Habitat completa 15 anos

O núcleo terá dupla função: incubadora de empresas e centro administrativo do parque

EM MOVIMENTO

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O concurso nacional de plano de negócios BioBusiness Brasil – organizado pela incubadora Supe-ra, de Ribeirão Preto (SP) – recebe inscrições até o próximo dia 21 de setembro. A iniciativa premiará os três melhores planos de negócios desenvolvidos ao longo do projeto. O objetivo do programa é incentivar a criação de empresas nas áreas de biotecnologia e saúde.

Os interessados em participar devem acessar o site www.biobusi-nessbrasil.com.br e preencher dois

formulários, além de realizar o paga-mento de uma taxa de inscrição. As equipes podem ter até quatro pesso-as. Após essa etapa, serão escolhidos os projetos que poderão participar das próximas atividades do concur-so. Os pré-selecionados participarão de um curso intensivo de elaboração de plano de negócio, que será reali-zado online.

Ao longo do concurso, as equi-pes desenvolverão seus planos de negócio, orientadas por consultores. Até cinco planos serão selecionados

para a etapa final: uma sabatina com um júri de avaliação. Essa fase, que ocorrerá em Ribeirão Preto, está prevista para acontecer no dia 14 de dezembro. No mesmo dia será reali-zada a premiação.

O primeiro colocado receberá um prêmio de R$ 3 mil, uma vaga na Incu-badora Supera, além de 50% de uma bolsa de pós-graduação na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) – Unidade de Ribeirão Preto. Os se-gundo e terceiro lugares receberão, respectivamente, R$ 2 mil e R$ 1 mil.

Incubadora Supera promove concurso de plano de negócios

Pequenas empresas paulistas de base tecnológica contam com novas opções para a obtenção de recur-sos. O governo de São Paulo lançou, no último dia 24 de agosto, o Programa São Paulo Inova, que inclui três linhas de financiamento, a serem operadas pela Desen-volve SP, e um termo de cooperação para a constituição de um fundo de investimento para empresas que re-alizam inovação tecnológica. Duas das linhas terão os juros subsidiados pelo Fundo Estadual de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico (Funcet).

O programa conta, no total, com investimentos de R$ 250 milhões. Desse valor, R$ 100 milhões se-rão destinados ao Fundo de Investimento e os outrosR$ 150 milhões às linhas de financiamento.

Tanto empreendimentos recém-criados quanto em-presas com rendimentos de até R$ 300 milhões poderão ter acesso aos recursos. O programa atenderá, ainda, a empresas incubadas ou que residam em parques tecno-lógicos.

O enquadramento da operação em determinada linha será realizado pelo Funcet, com base no potencial de ino-vação do projeto apresentado, no valor a ser financiado e na faixa de faturamento da empresa.

O fundo de investimentos contará com recursos do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/SP), da Fundação de Amparo à Pes-quisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Finep e da agência Desenvolve SP, entre outros eventuais investi-dores. Serão priorizados empreendimentos das áreas de Tecnologias da Informação e Comunicação, Biotec-nologia, Novos Materiais, Fotônica, Nanotecnologia e Agronegócios.

Programa São Paulo oferece três linhas de financiamento

SUDESTE

O investimento total é de R$ 250 milhões, sendo R$ 100 mi destinados ao fundo de investimento e R$ 150 mi às linhas de financiamento

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SUL

Governo de Santa Catarina lança projeto arquitetônico do Órion Parque

O projeto arquitetônico do Órion Parque, que será construído em La-ges, na serra catarinense, foi apre-sentado no último dia 17 de agosto. O edifício terá 4 mil m² e abrigará uma incubadora de empresa, centros de pesquisa e desenvolvimento, um museu tecnológico, auditórios, den-tre outros espaços. O projeto foi de-

senvolvido pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sus-tentável de Santa Catarina (SDS/SC) e pela Fundação de Amparo à Pes-quisa e Inovação (Fapesc), em parce-ria com o Inova@SC e Prefeitura de Lages.

O parque ficará localizado nas proximidades do campus do Institu-

to Federal de Santa Catarina (IFSC). De acordo com o presidente do Insti-tuto Órion, Roberto Amaral, a ideia é que as empresas absorvam o conhe-cimento e as pesquisas provenientes das instituições de ensino. O Serviço Nacional de Aprendizagem Comer-cial (Senac) planeja implantar uma universidade corporativa no parque.

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A unidade da Região Sul da Escola Superior de Pro-paganda e Marketing (ESPM) assinou um convênio com a prefeitura de Porto Alegre, no dia 12 de julho, para que seja criada a primeira incubadora de empre-sas da Indústria Criativa do Sul do país. A prefeitura cederá, por 30 anos, o prédio onde funcionará a ins-tituição.

A ESPM Sul administrará a incubadora, fará os in-

vestimentos financeiros e fornecerá a infraestrutura necessária para dar suporte às empresas. O projeto receberá um aporte inicial de R$ 3 milhões. O espaço apoiará cerca de 50 empreendimentos de áreas como Moda, Publicidade e Design Gráfico. Quando a incuba-dora estiver completamente ocupada, devem ser gera-dos cerca de 700 empregos diretos. A expectativa é de que as obras comecem em 2014.

ESMP criará primeira incubadora de Economia Criativa da Região Sul

Parque sediado em Lages (SC) terá uma incubadora de empresas, centros de pesquisa e desenvolvimento e um museu tecnológico

EM MOVIMENTO

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SUL

O governo do Rio Grande do Sul lançou no último dia 8 de agosto um edital de apoio a incubadoras de base tecnológica e à indústria criativa. A iniciativa faz parte do Programa RS Técnópole. O objeti-vo é oferecer recursos para viabi-

lizar a expansão das incubadoras existentes no estado. Cada institui-ção poderá submeter apenas um projeto. O aporte de recursos soli-citado deve ser de até R$ 250 mil. O valor total do edital é de cerca de R$ 2,1 milhões.

Na mesma data, também foi lan-çado um edital de apoio à indústria criativa do Rio Grande do Sul. Serão apoiadas empresas dos setores de audiovisual, novas mídias e design. Poderão ser financiadas propostas de até R$ 200 mil. O edital oferece, no total, cerca de R$ 1,3 milhão. O prazo final para envio de propostas para os dois editais é 24 de setem-bro deste ano.

Editais contemplam incubadoras tecnológicas e indústria criativano Rio Grande do Sul

O Centro de Inovação Microsoft--PUCRS inaugurou, no dia 19 de junho, um novo laboratório, na Fa-culdade de Informática da PUCRS. É o primeiro instalado fora da sede da empresa, que fica no Tecnopuc. Po-derão utilizar o espaço unidades aca-dêmicas e organizações parceiras que estiverem desenvolvendo ativi-dades em conjunto com o Centro.

Atualmente, há cerca de 90 Cen-tros de Inovação Microsoft no Bra-sil e no mundo.

Microsoft inaugura laboratório na PUCRS

A Universidade Luterana do Bra-sil (Ulbra) inaugurou, no último dia 22 de agosto, o Parque Tecnológico Ulbratech, em Canoas (RS). O prédio possui 6 mil m² e abrigará empresas das áreas de Petróleo e Gás, Ener-gias Renováveis, Metalmecânica, Tecnologia da Informação e Biotec-nologia. A construção do local con-tou com apoio de instituições como Finep, CNPq, Sebrae e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul.

O parque tem capacidade para re-ceber 20 empresas e a sua incubado-ra, 11. No dia 22 de agosto também foi lançada a Rede Ulbra de Inova-ção, que tem por objetivo reunir ini-ciativas inovadoras das 15 unidades da Universidade Luterana existentes no país.

Universidade Luterana do Brasil inaugura Parque

Tecnológico em Canoas (RS)

Serão distribuídos, no total, R$ 3,4 milhões às iniciativas inovadoras

A cerimônia de assinatura do pro-tocolo para criação do Parque Tecno-lógico do Norte Pioneiro aconteceu no último dia 17 de agosto, na sede do Instituto Federal do Paraná (IFPR), no município de Jacarezinho. Assina-ram o documento representantes de órgãos e instituições como Secreta-ria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado, Prefeitura de Jacarezinho e Instituto de Tecnologia do Paraná.

O protocolo assinado prevê o for-talecimento da articulação institucio-nal entre os envolvidos. Os signatá-rios ficaram responsáveis por criar condições de natureza legal e admi-

nistrativa para alcançar os objetivos do acordo, promover apoio técnico, e ainda, indicar um membro titular e um suplente para o Conselho de Ad-ministração do parque. O documento estabelece metas e prevê o prazo de 36 meses para implantação do Par-que Tecnológico do Norte Pioneiro.

O parque terá a finalidade de pro-mover o desenvolvimento dos 29 municípios da região, a partir da atra-ção de empresas de base tecnológica inovadoras. O projeto prevê, também, a instalação de uma incubadora tec-nológica do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) no campus de Jacarezinho.

Instituições do Paraná assinam protocolo de intenções para criação de Parque Tecnológico

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Finep lança linha de crédito para projetos de inovação em Tecnologia Assistiva

Uma linha de crédito de R$ 90 mi-lhões para projetos de inovação em Tecnologia Assistiva desenvolvidos por empresas foi apresentada pela Finep no último dia 27 de agosto. O crédito disponível (financiamento reembolsável) será concedido para projetos com valor de R$ 1 milhão

a R$ 20 milhões. A participação da financiadora será de até 90% das despesas da empresa. A taxa fixa de juros variará de 4% a TJLP+3% a.a.

A ação faz parte do Programa de Inovação em Tecnologia Assistiva, lançado pela Finep como parte inte-grante do Plano Nacional dos Direi-

tos das Pessoas com Deficiência – Vi-ver sem Limite, com investimento de R$ 150 milhões até 2014. Os recur-sos serão distribuídos em forma de crédito (R$ 90 milhões), subvenção econômica (R$ 30 milhões) e proje-tos cooperativos ICT-Empresa (R$ 30 milhões).

O Bndes recebe até 11 de outubro propostas de empresas interessadas em gerir o Criatec II. A chamada foi lançada no dia 30 de agosto. O fundo será voltado para empresas inovado-ras com faturamento líquido anual de até R$ 10 milhões.

O patrimônio comprometido do Criatec II será de, no mínimo, R$ 170 milhões, sendo que a partici-pação do Bndes poderá alcançar até 80% desse valor, limitado a R$ 136 milhões. O Banco do Nordeste do Brasil (BNB) comprometerá até R$ 30 milhões. O Banco de Desenvol-vimento do Sul (Badesul) e o Banco de Desenvolvimento de Minas Ge-rais (BDMG) também serão cotistas do fundo, com aportes de até R$ 10 milhões cada um. Ambos participa-rão com o objetivo de investir em projetos nas suas respectivas regi-ões. Outros investidores institucio-nais poderão ingressar no quadro de cotistas do Fundo.

O Criatec II terá um gestor nacional e, no mí-nimo, seis gestores re-gionais, que atuarão em seis polos, divididos em,

pelo menos, quatro regiões do país. A atual chamada publicada é desti-nada a selecionar apenas o gestor nacional. Os gestores regionais se-rão aprovados pelo comitê de inves-timentos do Criatec II durante os 12 primeiros meses de funcionamento do fundo.

Os polos de atuação serão distri-buídos da seguinte forma: um gestor no Rio Grande do Sul; um em São Paulo; um em Minas Gerais; um no Rio de Janeiro; um no Distrito Fede-ral e/ou em Goiás; um na Bahia e/ou Ceará e/ou Rio Grande do Norte. O fundo poderá ter mais de seis polos de atuação, inclusive em localidades não previstas, desde que aprovados por seu comitê de investimentos.

Os gestores interessados em participar do processo de seleção do Criatec II deverão enviar suas propostas em versão impressa e ele-trônica até o dia 11 de outubro de

2012. Outras informações sobre o processo de seleção encontram-se disponíveis no site do Bndes.

Criatec I – O lançamento do Criatec II é fruto dos bons resul-tados obtidos pelo primeiro fundo Criatec, que iniciou sua operação em outubro de 2007, com o obje-tivo de aportar recursos em empre-sas de pequeno porte ou start-ups com perfil inovador. O Criatec I possui 36 empreendimentos em sua carteira, espalhados pelas sete regionais de atuação do fundo. O período de investimentos já foi encerrado. Várias empresas incu-badoras ou graduadas receberam aporte do fundo.

Criatec III – O Bndes realizará um novo edital para a seleção do Gestor do Fundo Criatec III até agosto de 2013. O fundo terá estruturação idêntica ao Fundo Criatec II, apenas com polos de atuação diferentes. O Criatec III terá gestores nos seguin-tes estados: Paraná e/ou Santa Cata-rina; São Paulo; Minas Gerais; Rio de Janeiro; Amazonas e/ou Pará; Per-nambuco e/ou na Paraíba.

Bndes abre edital para seleção de gestor do fundo Criatec II

NACIONAL

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NACIONAL

O Ministério da Ciência, Tecnolo-gia e Inovação (MCTI) lançou, no úl-timo dia 20 de agosto, o Programa Estratégico de Software e Serviços de Tecnologia da Informação – TI Maior –, que tem a finalidade de

fomentar a indústria de software e serviços na área.

Um dos eixos do TI Maior é a ace-leração de empreendimentos de base tecnológica. O programa, chamado Startup Brasil, planeja acelerar 150

start-ups de software e serviços de TI até 2014, sendo 25% de start-ups internacionais localizadas no país. As empresas serão selecionadas por meio de um edital, que deve ser di-vulgado no próximo mês de outubro.

Plano TI Maior prevê aceleração de 150 start-ups até 2014

EM MOVIMENTO

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Utilizando como referência o modelo de incubação tradicional, as incubadoras tecnológicas de

cooperativas populares já somam mais de 60 iniciativas no país

Foco no social

No início da década de 1990, a Funda-ção Oswaldo Cruz (Fiocruz) – localizada no Complexo de Manguinhos, bairro e favela da Zona Norte do Rio de Janeiro – sofria com a violência da região. O prédio do órgão, que é referência em pesquisas na área de Saúde Pú-blica, chegou a ser atingido, em algumas oca-siões, por balas perdidas de tiroteios. Porém, em vez de se mudar do local, como fizeram

outras instituições, a Fiocruz decidiu adotar uma estratégia diferente, que acabou revolu-cionando o setor de incubação no Brasil.

Na época, a maioria da população de Manguinhos estava desempregada ou pos-suía empregos precários. A Fundação – com o suporte do Comitê de Entidades no Com-bate à Fome e pela Vida (COEP) e do Institu-to Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação

O programa Osasco Solidária mantém uma oficina de capacitação profissional em costura

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Em conjunto com a fundação das incubadoras, surgiu, em 1998, o Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares (Pro-ninc), com o objetivo de apoiar e fomentar essas iniciativas. No início, o programa apoiou, com recursos financeiros, as seis primeiras ITCPs do país, vinculadas às universidades públicas do Rio de Janeiro, Cea-rá, São Paulo, Juiz de Fora, Pernambuco e Bahia.

O programa, no entanto, ficou desativado por anos e só foi revita-lizado em 2003, quando foi criada a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), que faz parte do Ministério do Trabalho e Empre-go (MTE). Com sua renovação, foi constituído um comitê gestor, com-posto por 16 membros de instituições como Finep, Fundação Banco do Brasil, Rede Unitrabalho e de ITCPs, dentre outras.

O Proninc é operado por meio de editais de chamadas públicas e, atualmente, apoia 77 incubadoras. “Os editais são coordenados pelo Comitê Gestor e contam com recursos vindos de diversos minis-térios que apoiam o programa. A partir de 2010, as incubadoras das universidades públicas passaram a receber apoio do Programa de Extensão Universitária, do Ministério de Educação”, explica o diretor do Departamento de Estudos e Divulgação, da Secretaria Nacional de Economia Solidária, Valmor Schiochet.

A última chamada do programa ocorreu em 2009 e a previsão é de que a próxima seja lançada ainda neste ano. “Neste semestre está ocorrendo o pagamento de parcelas a diversos convênios rela-tivos ao último edital. Provavelmente teremos ainda neste ano uma nova chamada dirigida à constituição de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares nos Institutos Federais, para a incubação de empreendimentos cooperativos de catadores de material reciclá-vel. Caberá ao Comitê Gestor do Proninc definir os próximos passos a serem seguidos”, explica Schiochet.

De acordo com Schiochet, os resultados do Proninc são conside-rados positivos pela Senaes. “A avaliação do programa é muito posi-tiva, tanto do ponto de vista quantitativo, pela sua expansão, quanto pela contribuição das incubadoras na promoção das transformações necessárias para gerar processos territoriais de desenvolvimento mais justos e inclusivos”, destaca.

_NOVA CHAMADA DE APOIO A INCUBADORAS SOCIAIS DEVE SER LANÇADA NESTE ANO

e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ) – apoiou a formação da Cooperativa dos Trabalhadores Autônomos do Complexo de Manguinhos (Cootram). Criado no final de 1994, o empreendimento passou a prestar serviços para a Fiocruz, como os de limpe-za, jardinagem e reciclagem de lixo.

O sucesso da experiência animou os pro-fessores da Coppe, que já possuía uma incu-badora de base tecnológica desde 1994, a repensar o modelo: dessa vez, a incubadora não seria de empresas, mas de cooperati-vas populares. E foi ali, em meio a centros de pesquisa de engenharia, que nasceu a primeira Incubadora Tecnológica de Coo-perativas Populares (ITCP), em 1995. “Nós realizamos uma inovação no mundo das in-cubadoras. Pegamos algo que já existia, que era a incubadora de empresas tradicionais, e utilizamos isso como ferramenta para a inclusão de grupos marginalizados”, desta-ca o arquiteto Gonçalo Dias Guimarães, co-ordenador geral da ITCP e um dos respon-sáveis pela fundação da incubadora.

Não era apenas em Manguinhos que a população sofria com o desemprego e a informalidade. Na década de 1990 o país vivia uma grave recessão. Na Grande São Paulo, por exemplo, o número de desem-pregados passou de 614 mil pessoas, em 1989, para 1,715 milhão, em 1999, segun-do dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Die-ese). “Foi dentro desse contexto de crise, e a partir das necessidades da época, que as incubadoras de empreendimentos solidá-rios ganharam impulso”, afirma Guimarães.

A escolha pela incubação de cooperati-vas, e não de empreendimentos tradicionais, foi feita na tentativa de ampliar o impacto da incubadora na sociedade. “Por ser uma forma associativa, a cooperativa produz um impacto social maior do que se apoiássemos um empreendimento de forma individual, o qual pode ser orientado pelo Sebrae, que já tem esse papel”, explica Guimarães.

A iniciativa da ITCP da Coppe logo se ex-pandiu pelo país. “Começamos a ser muito procurados e, para apoiar e repassar a tec-

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nologia de incubação, construímos a rede de ITCPs, antes mesmo que incubadoras fossem criadas para formá-la”, afirma Gui-

marães. A rede, fundada em 1999, promove até hoje cursos, encontros e visitas a insti-tuições interessadas em criar incubadoras, inclusive em outros países, como Moçambi-que, na África.

Hoje, estima-se que existam mais de 60 ITCPs pelo Brasil. Também há, no país, mais de 30 incubadoras de empreendimentos so-lidários associadas à Rede Unitrabalho, insti-tuição composta por universidades de todo o país que, a partir de meados da década de 1990, passou a apoiar esse tipo de iniciativa. Ao todo, são cerca de 100 incubadoras dessa modalidade em atividade no país.

Modo de atuaçãoDe portas abertas. É dessa forma que as

incubadoras tecnológicas de empreendi-mentos solidários atuam. Nelas, ao contrá-rio das organizações que apoiam empresas de base tecnológica, não há um prédio com salas para os empreendimentos desenvol-verem suas atividades. É tarefa da própria equipe da incubadora visitá-los.

A metodologia de apoio aos empreendi-mentos também é diferente. Não é possível utilizar as ferramentas de gestão e plane-jamento adotadas pelas empresas tradi-cionais. Cada uma atua de acordo com as especificidades dos empreendimentos que apoiam e das regiões onde estão localiza-das. Não há uma metodologia única, apesar de a maioria das incubadoras fazerem parte de redes. Mas algumas características são comuns: não há métodos rígidos e é reali-zada uma formação dos empreendimentos não apenas quanto a aspectos econômicos e administrativos, mas também para a auto-gestão, inclusão social e economia solidária.

Por serem instituições recentes e terem que se adaptar às especificidades locais e dos empreendimentos, é normal que as incubado-ras mudem sua metodologia ao longo do tem-po. A ITCP da Universidade Federal do Paraná (UFPR) é exemplo disso. Ela nasceu em 1999, simultaneamente à criação da rede de ITCPs.

Não é só dentro das universidades que existem incubadoras de empreendimentos solidários. Alguns municípios brasileiros também promovem iniciativas do tipo. Santo André, localizada na região me-tropolitana de São Paulo, é uma das cidades que possui uma Incuba-dora Pública de Economia Popular e Solidária (IPEPS).

A incubadora de Santo André foi criada em 1999 e, no início, apoiava apenas cooperativas populares. Desde 2005, no entanto, sua área de atuação foi ampliada para atender também empreendi-mentos individuais. Nos seus 13 anos de existência, a IPEPS orientou cerca de 20 grupos de cooperados e centenas de empreendimentos individuais. Atualmente, contando com uma equipe de três pessoas, dá suporte a 17 empreendimentos, que reúnem 383 pessoas.

A maioria dos empreendimentos coletivos apoiados é do setor têxtil. “Dessa forma, a IPEPS desenvolveu arranjos produtivos soli-dários para que, em conjunto, pudessem suprir as suas carências”, explica o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecno-logia e Trabalho, Camilo Arnaldi.

Para Arnaldi, os maiores desafios para o município são construir e aprovar a Lei Municipal de Economia Solidária, além de conscientizar a sociedade de que a economia solidária é uma alternativa para o de-senvolvimento local. “A economia solidária já está consolidada como uma alternativa organizada, fortalecida, que ganha cada vez mais es-paço no planejamento estratégico dos governos locais”, destaca.

Além de Santo André, as prefeituras de cidades como Osasco e São Bernardo do Campo, de São Paulo, possuem iniciativas de incubadoras sociais. Criada em 2005, a IPEPS de Osasco atende, atualmente, 109 empreendimentos. A incubação possui duração de dois anos e consiste na orientação, por meio de assessoria, sobre a viabilidade econômica, associativa e produtiva dos empreendimentos. Para Magali Honório, coordenadora do Programa Osasco Solidária, um dos desafios é avan-çar no fortalecimento da incubadora, por meio de redes de economia solidária. “Outro ponto é o aporte de políticas de crédito e finanças solidárias com metodologias adequadas para iniciativas da Economia Solidária”, destaca. A prefeitura está implementando o Fundo Munici-pal de Desenvolvimento e Inclusão Produtiva, que concederá emprés-timos e subvenções econômicas aos empreendimentos.

_MUNICÍPIOS INVESTEM EM INCUBADORAS

COOPERAÇÃO

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Quando foi fundada, começou suas atividades executando ações do Fundo de Amparo ao Trabalhador do Ministério do Trabalho e Em-prego (FAT/MTE), como cursos de formação e assessoria técnica. “O problema é que ficá-vamos muito dependentes das demandas dos municípios, e não das demandas da própria comunidade”, avalia o coordenador da ITCP/UFPR, Denys Dozsa.

Então, desde 2007, a incubadora mudou seu foco e, em vez de oferecer suporte a em-preendimentos isolados, direcionou seus ob-jetivos para a atuação no desenvolvimento de territórios. “Começamos a perceber que os grupos não precisam apenas de qualificação e de suporte para a formação do empreendi-mento. Muitas pessoas são analfabetas fun-cionais. Como iam redigir a ata de reunião da cooperativa? Por isso, passamos a discutir o território em si, ou seja, o espaço de atuação das cooperativas. Queremos atender a uma comunidade em tudo o que ela necessite. O foco não é mais incubar um empreendimen-to”, explica Dozsa. Atualmente, a incubadora desenvolve, no Paraná, um projeto de promo-ção e desenvolvimento do turismo solidário.

ExtensãoA maioria das incubadoras de empre-

endimentos solidários e cooperativas está dentro de universidades. Todas as que são filiadas às redes da ITCP ou da Unitrabalho são vinculadas a instituições de ensino, as-sim como aquelas que recebem apoio do Programa Nacional de Incubadoras de Co-operativas Populares (Proninc) – iniciativa da Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inova-ção (Finep/MCTI).

Dentro dessas instituições, as incuba-doras estão enquadradas, principalmente, como projetos, programas ou núcleos, no âmbito das atividades de extensão. “A uni-versidade não é só ensino. A experiência na incubadora possibilita a formação de profissionais com conhecimentos sobre a

realidade social. Não é fácil trabalhar com o tripé ensino, pesquisa e extensão. É um tra-balho até mesmo excessivo, mas essencial”, destaca a coordenadora da incubadora de empreendimentos solidários da Universida-de Federal do Pará, Maria José Barbosa.

Um dos maiores desafios enfrentados pelas incubadoras, no entanto, é conseguir se institucionalizar dentro das universida-des. O relatório do Proninc, que reúne in-formações de 54 incubadoras já apoiadas pelo programa, revelou que 26,4% delas são projetos temporários nas instituições de ensino; 58,6% são programas perma-nentes; e 7,5% correspondem a núcleos.

Uma das que conseguiu se instituciona-lizar foi a Incubadora Regional de Coope-rativas Populares (Incoop), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que re-centemente tornou-se um núcleo. “A incu-badora, antes, era um projeto de extensão que tinha início, meio e fim. Pleiteávamos estabilidade. A incubadora precisava fazer parte da estrutura organizacional da uni-versidade, o que conseguimos agora. Mu-dou pouco na prática até o momento, pois continuamos dependendo de projetos para realizar nossas atividades. Mas isso nos deu um status diferente. Podemos ter, no futuro, destaque orçamentário e receber técnicos,

Cooperativa Popular Amigos do Meio Ambiente

(Coopama), apoiada pela ITCP da Coppe, reúne

mais de 60 catadores de materiais recicláveis

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por exemplo”, explica a coordenadora do Núcleo Multidisciplinar e Integrado de Es-tudos, Formação e Intervenção em Econo-mia Solidária UFSCar, Ana Lucia Cortegoso.

Além da institucionalização, existe o de-safio de atrair professores e estudantes para atuar nas incubadoras. O relatório do Pro-ninc constatou que quase 60% delas têm, no máximo, seis professores envolvidos. Dentre os motivos apontados pelo documento estão a supervalorização da pesquisa em detri-

mento da extensão, a sobrecarga de traba-lho e o apoio insuficiente relativo à estrutura administrativa da incubadora.

A história da Incubadora de Empreendi-mentos Solidários da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) reflete esse cenário. A iniciativa surgiu há três anos, a partir de um convite da pró-reitoria de ex-tensão, que vislumbrou a possiblidade de submissão do projeto a um edital de finan-ciamento externo. Quando foi fundada, a incubadora contava com uma equipe de 14 colaboradores, entre professores, técnicos e estudantes, mas hoje possui apenas oito pessoas. “A nossa incubadora, nesse tem-po, conviveu com vários desafios, sendo o maior deles a dificuldade de atrair professo-res e alunos para o fortalecimento das suas ações”, afirma a coordenadora do projeto, Maristela Miranda.

De acordo com ela, os professores enfren-tam dificuldades para conciliar sua carga ho-rária com o projeto. Já em relação aos alunos, há pouca disponibilidade de bolsas para que participem da incubadora. “A universida-de disponibiliza um bolsista por ano, o que é muito reduzido, devido à necessidade de acompanhamento de vários grupos” explica.

SustentabilidadeQuando a incubadora da UESB surgiu,

havia a expectativa de que a Universida-de recebesse recursos para a implantação do projeto. “Após 12 meses de espera, en-tre inúmeros contatos com a instituição financiadora, encaminhamento de vários relatórios e muitas planilhas de cotações, o recurso nunca chegou, causando uma grande desmotivação na equipe que inicia-va a construção da incubadora. A espera gerou conflitos internos e desgaste nas relações entre a equipe, culminando com a dissolução do grupo inicial”, relata a co-ordenadora do projeto, Maristela Miranda.

A falta de recursos, destaca Maristela, até hoje afeta as atividades da incubadora.

A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Funda-ção Getúlio Vargas (ITCP/FGV) encontrou uma maneira diferente de alcançar sua sustentabilidade financeira. Criada em 2001, a institui-ção iniciou suas atividades atuando em iniciativas da Prefeitura Mu-nicipal de São Paulo e também desenvolveu projetos financiados pelo Proninc, mas hoje possui como foco a gestão dos chamados “fundos sociais”. “Reestruturamos a incubadora para dar foco a resultados e estamos espelhando o que as gestoras de fundos fazem na indústria de Private Equity & Venture Capital no gerenciamento dos negócios inclusivos. Respeitamos, é claro, as diferenças dos empreendimen-tos. Não temos a figura do acionista, por exemplo, e as pessoas não vivem de renda, mas de trabalho”, explica o coordenador da incuba-dora, Felipe Bannitz.

A ITCP/FGV atua, em conjunto com o Instituto HSBC Solidarieda-de, na seleção de projetos sociais que tenham foco em ações de ge-ração de renda e economia solidária, além de realizar a incubação tradicional de empreendimentos. Os projetos selecionados recebem apoio financeiro de cerca de R$ 30 mil do Instituto HSBC e suporte da incubadora, que desenvolve o processo a distância, através de plataformas online, e por meio de parcerias com outras instituições. A incubadora também atua com o Instituto Votorantim e com a Ca-margo Corrêa.

Para Bannitz, um dos maiores desafios da ITCP/FGV é consolidar a metodologia da incubadora. “Queremos contribuir, gerando solu-ções efetivas para que os negócios se tornem sólidos e gerem resul-tados e renda”, destaca. A incubadora, atualmente, apoia mais de 80 projetos.

_FUNDOS SOCIAIS GARANTEM AUTONOMIA FINANCEIRA DA INCUBADORA DA FGV

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“A dificuldade de financiamento é um moti-vo forte de alteração na metodologia, uma vez que muitas ações acabam sendo modi-ficadas por conta da falta de recursos, tais como oferecimento de cursos, palestras, pagamento de bolsas de monitoria”, afirma.

O mesmo problema é sentido por várias incubadoras, de Norte a Sul do país. O re-latório final do Proninc indicou que muitas delas dependem do programa para viabi-lizar suas atividades. Apesar de cerca de 80% das incubadoras entrevistadas para a elaboração do documento terem afirmado que ele não é a sua única fonte de recursos, em mais de 50% delas o Proninc representa mais de 30% do orçamento da incubadora.

O documento revelou, ainda, que as in-cubadoras não possuem sustentabilidade no interior das universidades. São poucas as que possuem servidores em seus quadros, por exemplo. Os entrevistados pelo Pro-ninc afirmaram que a grande maioria das instituições disponibiliza estrutura física, custeio e a facilitação a captação de recur-sos, mas que isso não seria suficiente para a manutenção do projeto. “Muitas vezes, constataram-se grandes falhas no acompa-nhamento, junto aos empreendimentos in-cubados, em função dessa descontinuidade de recursos”, diz o relatório.

Para conseguirem sustentar suas ativi-dades, muitas incubadoras dependem da realização de projetos específicos. A incuba-dora da Universidade do Pará (UFPA), por exemplo, desenvolve, atualmente, projetos na cadeia produtiva de gemas e joias no sul do estado, dentre outros. “É necessário que haja uma ação continuada e planejada. Não dá para depender apenas de projeto. Isso frag-menta e descontinua. A maioria dos trabalha-dores que atendemos tem baixa escolaridade e, para que o empreendimento amadureça, acredito que seja necessário um trabalho que dure de quatro a seis anos. Hoje, os projetos não correspondem a essa necessidade”, expli-ca Maria José, da incubadora da UFPA.

O que significa o termo “tecnológica” no nome das incubadoras que apoiam empreendimentos solidários? Segundo Gonçalo Guima-rães, da ITCP Coppe/UFRJ, as incubadoras são um tipo de tecnologia social. “Procuramos criar, com elas, uma tecnologia do emprego e do trabalho”, explica.

De acordo com a Fundação Banco do Brasil (FBB) - que é uma das principais apoiadoras das incubadoras de empreendimentos solidá-rios - o conceito de Tecnologia Social compreende produtos, técni-cas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representam efetivas soluções de transformação social.

Para Maristela Miranda, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, a incubadora representa uma oportunidade de aplicar o conhecimento científico desenvolvido na Universidade, em suas vá-rias áreas de atuação, em benefício das demandas da sociedade. “É uma tecnologia social capaz de contribuir na prática do ensino, pesquisa e extensão a partir de uma ação interdisciplinar, capaz de integrar os diversos saberes produzidos e reproduzidos no meio aca-dêmico”, afirma.

_INCUBADORAS DE EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS: UM TIPO DE TECNOLOGIA SOCIAL

LSuperando a falta de recursos, a Incubadora de

Empreendimentos Solidários da UESB opera há três anos

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2012, o ano do cooperativismo

Assim como na década de 1990, quando cresceu e se espalhou por quase

todo o território nacional, hoje, em 2012, o cooperativismo ainda é uma

solução adequada. A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares

(ITCP) do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de

Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) surgiu em um

contexto de crise. O objetivo era transferir tecnologia social e organizacional – como

se fazia com empresas de capital – para grupos de trabalhadores sem emprego e sem

organização. Promovendo a inclusão socioprodutiva, a meta era criar oportunidades

reais para o exercício de uma atividade profissional remunerada segundo os princípios

da economia solidária. Naquele cenário de crise, a realocação era urgente. A inclusão

socioprodutiva foi, a partir das ações da ITCP da Coppe, reconhecida como importante

ferramenta para o desenvolvimento. A iniciativa pioneira motivou a criação de várias

incubadoras similares pelo Brasil. Hoje, elas seguem buscando representação, aprimo-

rando as suas técnicas de gestão e formando novas cooperativas, que ampliam seu

papel no cenário atual de forma inovadora.

Por mais de uma longa e fecunda década, o cooperativismo colaborou para a ge-

ração de renda e para a retirada de milhares de trabalhadores sem colocação formal da periferia do sistema.

Cumprida essa missão, hoje, o cooperativismo deve ocupar espaço estruturante, adentrando as políticas pú-

blicas e criando soluções inovadoras no campo da tecnologia social, com ênfase nas grandes metrópoles. Ne-

las, acumula-se grande força de trabalho ociosa – um desperdício de energia para diversos setores produtivos.

Nelas também se agravam os problemas da destinação e do tratamento sustentável dos resíduos.

As grandes cidades vivenciam de maneira mais aguda e dramática as marcas do capitalismo contempo-

râneo, de consumo voraz, onde a inovação reside em agregar detalhes a uma matriz e, de forma contínua

e cadenciada, provocar a troca constante dos produtos. Este ritmo de colocação de novidades no mercado

gera o crescimento de resíduos. Uma das grandes questões urbanas atuais é destinar e aproveitar a energia

contida neles.

O cooperativismo pode potencializar o reaproveitamento desta energia, agregando geração de renda para

os catadores, organizando-os em cooperativas e capacitando-os a prestar o serviço que a cidade precisa. Nes-

se sentido, o cooperativismo deve ser inscrito no rol das políticas públicas. A reorganização dos trabalhadores

em forma associativa, capaz de fortalecer a sua posição no mundo da produção, encontra no cooperativismo

autogestionário um terreno fecundo. Mais uma vez as ITCPs e as cooperativas apresentam-se como solução

inovadora. Embora no cenário atual não haja crise de desemprego, há premente necessidade de reorganiza-

ção dos processos produtivos, de forma a torná-los aptos a incluírem na sua dinâmica o reaproveitamento e

a transformação daquilo que em décadas passadas era descartado como lixo. As ITCPs estão na pauta do dia,

trazendo para a superfície do cenário nacional a inovação, a dignidade social e a sustentabilidade a partir da

incubação de empreendimentos de economia solidária e de novas empresas de tecnologia.

G o n ç a l o G u i m a r ã e s

Co ordenador da Inc ub adora Te c noló gica de Co opp era t i vas Populares - COP P E / UF R J

OPINIÃO

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_EMPREENDEDOR

O mercado de e-books surge como uma OPORTUNIDADE de negócios a ser explorada. Para quem já descobriu seu nicho de atuação, os fóruns de INVESTIMENTO são uma chance para captar recursos. Pesquisadores brasileiros encaram o DESAFIO de tornar os biocombustíveis – como o etanol de segunda geração – competitivos. Na seção CARREIRA, entenda por que incubadoras estão incluindo avaliações psicológicas em seus processos seletivos. A Angelus demonstra que o investimento em P&D foi fundamental para manter a trajetória de SUCESSO do empreendimento. Outras empresas que prosperam apresentam as dificuldades e vantagens dos NEGÓCIOS no ramo de alimentos e bebidas

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Mercado brasileiro ainda é pouco aquecido, mas a expectativa é de crescimento no nicho de e-books - que já fazem parte do

dia-a-dia de leitores de países mais desenvolvidos

Estante digital

OPORTUNIDADE

Para cada 100 livros de papel vendidos, 115 versões digitais são comercializadas pela multinacional Amazon. O anúncio fei-to pela empresa americana no ano passado mostra que a indústria de e-books (livros virtuais) vem ganhando força. Mais que isso: é possível que alcance ou até mesmo supere o mercado de livros impressos. “O livro de papel é a tecnologia de ontem”, disse Jeff Bezos, presidente da Amazon, em entrevista à revista francesa Le Nouvel Ob-servateur, em 2011.

Se a previsão de Bezos está certa ou é apenas empolgação, só o tempo irá dizer. A maior parte do faturamento das edito-ras ainda vem dos livros de papel. Mas é fato que o mercado de e-books está cres-cendo no mundo inteiro. Além do anúncio da Amazon, um relatório da Association of American Publishers e da Book Industry Study Group, divulgado em julho deste ano, revelou que, em 2011, a venda de livros digitais da categoria ficção para adultos superou, pela primeira vez, a das edições

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OPORTUNIDADE

de capa dura (a instituição não disponibi-lizou os dados referentes à venda total de livros físicos, incluindo brochura). Reunin-do informações de cerca de 2 mil editoras, a pesquisa estima que o mercado mundial de livros digitais tenha faturado cerca de U$ 2 bilhões no ano passado.

No Brasil, assim como na Europa, o mer-cado de livros digitais não está tão acelera-do quanto o dos Estados Unidos. Divulgada neste ano, uma pesquisa realizada pelo Ins-tituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) – por encomenda da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) – mostrou que em 2011 foram lançados no país 5.235 itens digitais (como PDFs, e-books e aplicativos). A arre-cadação de R$ 868 mil não chegou a 1% do faturamento total do mercado editorial brasileiro no ano passado, que foi de R$ 4,8 bilhões. Foi a primeira vez que a pesquisa incluiu os livros eletrônicos no estudo.

Levantamento realizado pela empresa Simplíssimo – que trabalha com a produ-ção de livros digitais e oferece cursos sobre o setor – mostrou, também, que a livraria Gato Sabido, especializada em e-books, contabilizava em seu catálogo, em janeiro deste ano, 7.292 títulos em versão digital. Um pouco atrás, a Saraiva disponibilizava 6.058. A coleta de dados foi realizada por meio dos sites das empresas, e a Livraria Cultura não está incluída na pesquisa, pois não foi possível realizar esse tipo de consul-ta na sua página na internet.

“Nós estamos na pré-história dos e-books aqui no Brasil. É impossível consumir algo que não está à venda. As editoras investem pouco na produção de livros digitais”, afir-ma Eduardo Melo, fundador da Simplíssimo, destacando que a oferta total de e-books hoje no país não alcança o número de livros que foram disponibilizados pela Amazon na época em que lançou o seu e--reader Kindle, em 2007. Segundo dados de uma pesquisa da PricewaterhouseCoo-

pers (PwC), quando lançou o dispositivo, a Amazon, sozinha, colocou à venda 90 mil títulos digitais.

Chamada Virando a página: o futuro dos e-books, a pesquisa da PwC foi realizada ao longo de maio de 2010, por meio de entre-vistas com especialistas da indústria e de surveys com consumidores. O relatório do estudo é enfático ao afirmar que as livra-rias, editoras e escritores devem estar aten-tos às tendências do mercado de livros digi-tais. Porém, como aponta a pesquisa, nem todos vem fazendo isso. “Enquanto algumas pessoas anunciam o advento da tecnologia da leitura digital como uma oportunidade para abrir novos tipos de mercado e criar consumidores, outros lamentam o fim dos livros tradicionais e duvidam que a indús-tria vá ser capaz de manter o controle sobre os preços e o conteúdo”, diz o relatório.

SoluçõesAs editoras e livrarias brasileiras, por en-

quanto, estão no time dos que mais temem do que na equipe dos que apostam nas no-vas oportunidades que estão sendo geradas pela indústria de e-books. Contrariando esse cenário, no entanto, algumas empresas bra-sileiras inovadoras oferecem soluções para o mercado de livros digitais.

É o caso da LivoBooks, incubada na Fum-soft, em Belo Horizonte (MG). A empresa foi fundada em 2011, por Pedro Israel. Depois de passar três anos estudando na Eu-ropa, ele desembarcou no Brasil com a ideia de criar uma empresa de produ-ção de livros interativos voltados para o público infantil. “Já tinha a ideia em mente há cerca de um ano. O projeto passou até mesmo por um período de pré-incubação na Universidade Po-litécnica de Madri. Quando voltei ao Brasil, no ano passado, encontrei um novo parceiro para o projeto, o Ronald Durchfort, e elaboramos um plano de negócios”, explica Israel.

Quarta geração do e-reader Kindle: quando

o lançou, em 2007, a Amazon colocou à venda

90 mil títulos digitais

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Um modelo de gestão elaborado para potencializar os resultados das incubadoras de empresas.

Sua incubadora vai fazer ainda mais. E melhor .

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Realização: Parceria:

A ideia é que os livros sejam vendidos como aplicativos para tablets. “Encontramos uma opor-tunidade boa nesse ramo. As crianças têm muita atração pelos tablets. Elas gostam de tocar, mexer”, afirma Israel. De acordo com ele, a produção de

livros infantis interativos não evoluiu muito até agora. “É um mercado novo, com pouco mais de dois anos, e há um espaço grande para a oferta de novos produtos”.

O lançamento do primeiro título da Livo-Books, Zuly Brincando no Quintal, está pre-visto para acontecer em agosto. As animações do livro foram desenvolvidas em parceria com uma agência de São Paulo. Até setembro deste ano, a expectativa é que a LivoBooks te-nha três títulos em seu catálogo. “Estamos em contato com escritores e vamos realizar par-cerias com agências para o desenvolvimento da arte dos livros”, explica Israel.

A LivoBooks já surgiu com foco no mer-cado dos Estados Unidos e de outros países, e os livros serão traduzidos para várias lín-guas. “O Brasil tem potencial, mas o merca-do ainda é pequeno. Seria difícil, para nós, gerar receita se só comercializássemos aqui. Por isso, já fundamos a LivoBooks pensando em vender para outros países”, explica Isra-el. Para ele, no entanto, o mercado nacional deve crescer nos próximos anos. “Vai ser natural, com o aumento do uso de tablets e outros dispositivos, o mercado vai crescer”.

Mercado de educaçãoNo Rio de Janeiro, a Lumis, graduada pela

incubadora do Instituto Gênesis, da PUC-Rio, lançou no início deste ano uma solução para produção e distribuição de e-books chama-da Lumis Ebook Suite. “Com a disseminação do uso de tablets e e-readers, passou a fazer todo o sentido a transição dos conteúdos im-pressos para os dispositivos digitais. A Lu-

mis atua há anos com a produção e gestão de conteúdo para web. E os e-books acabam sendo um problema de gestão de conteú-do”, afirma André Matos, diretor executivo da empresa, que possui clientes como Pe-trobras, Editora Abril, SulAmérica Seguros, Coca-Cola, Ticket e Sousa Cruz.

O Lumis Ebook Suite permite que o cliente crie e distribua livros digitais que te-nham conteúdos multimídia, como vídeos e animações, além de ferramentas de intera-tividade. A solução também possibilita a in-serção de materiais que o cliente já possua, como arquivos PDF e fotos. A distribuição é feita por meio de aplicativos para iPad e An-droid, que podem ser customizados. Além disso, o cliente pode gerenciar quando e para quais pessoas os e-books podem ser disponibilizados.

O foco da Lumis é o mercado de edu-cação – tanto instituições de ensino e edi-toras de livros didáticos, quanto empresas que realizam treinamento corporativo e desenvolvem materiais para isso. A solução já está sendo utilizada, por exemplo, pelo grupo Santillana, do México. Lá, 65 mil estudantes, de 238 escolas, acessam seus materiais escolares em iPads, por meio da solução da Lumis.

Um dos motivos que levou a Lumis a focar no setor de educação foi a grande demanda que esse mercado possui. Em fe-vereiro deste ano, o Ministério da Educação (MEC) anunciou que irá comprar 600 mil tablets para serem usados por professores do ensino médio de escolas públicas do país. Universidades e escolas particulares tam-bém vêm adquirindo tablets para estudantes e professores.

Outro motivo é que as ferramentas de in-teratividade que os aparelhos digitais pos-sibilitam é especialmente adaptável a livros didáticos e para treinamento corporativo. “O setor de educação é o que mais vem de-mandando interatividade, a princípio”, afir-ma Matos. Ele aponta como vantagens dos

Equipe da LivoBooks, incubada na Fumsoft: empresa investe na produção de livros interativos voltados para o público infantil

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André Matos, da Lumis: setor de educação é, hoje, o que mais demanda interatividade

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Um modelo de gestão elaborado para potencializar os resultados das incubadoras de empresas.

Sua incubadora vai fazer ainda mais. E melhor .

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Realização: Parceria:

livros eletrônicos o fato de eles não deman-darem uma grande quantidade de recursos para impressão e distribuição e a facilidade de atualização dos conteúdos. Além disso, existe a possibilidade de adicionar ao con-teúdo materiais multimídia, como vídeos e galerias de fotos, ferramentas de intera-tividade aluno-professor, assim como a de personalizar os conteúdos de acordo com cada público.

Na opinião de Matos, o mercado de livros

digitais, apesar de ainda ser pequeno, tem potencial. “No Brasil, não há uma limitação tecnológica, mas de mercado. Editoras que oferecem livros em formatos digitais ainda não estão presentes no país. Mas isso deve mudar nos próximos anos”, analisa. Ainda neste ano, a multinacional Amazon deve che-gar ao Brasil, com foco na venda de e-books (ver box). Empresas como Apple e Google também estão pensando em ingressar no mercado nacional de livros digitais.

Ainda não há uma data certa, mas a Amazon deve iniciar operações no Brasil nos próximos meses. A multinacional, que é a maior varejista do mundo, está assinando contrato com editoras nacionais e resolvendo questões de logística.

O foco da Amazon, primeiramente, será o mercado de livros digitais. Para Eduardo Melo, da empresa Simplíssimo, a chegada da empresa americana ao país pode representar uma mudança mais simbólica do que prática. “Tenho dúvidas quanto ao impacto que a Amazon pode exercer. O mercado aqui é pequeno, mas a sua chegada pode ser um estímulo e um aviso para as editoras de que elas não podem mais adiar a oferta de e-books”, analisa.

_CHEGADA DA AMAZON AO BRASIL DEVE IMPACTAR MERCADO DE E-BOOKS

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INVESTIMENTO

Fóruns são oportunidades valiosas para empreendedores que pretendem dar visibilidade ao seu negócio e atrair a

atenção de investidores

Aparecer para crescer

É possível apresentar e tornar atrativo um negócio a uma plateia de investidores em apenas dez minutos? Esse é o desafio que os fóruns de investimento propõem aos seus participantes. Modelo de even-to surgido nos Estados Unidos e replica-do em vários países do mundo, os fóruns são programas nos quais os empresários passam por um processo de capacitação

e têm a oportunidade de apresentar seus empreendimentos a potenciais investido-res.

Esse tipo de iniciativa foi introduzido no Brasil pela Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência, Tecno-logia e Inovação (Finep/MCTI). De acordo com informações do 2º Censo Brasileiro da Indústria de Private Equity e Venture

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INVESTIMENTO

Capital – realizado pela Agência Brasilei-ra de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) –, os fóruns de investimento repre-sentam 5,77% das fontes de origem dos in-vestimentos de Venture Capital realizados por meio de prospecção direta das organi-zações gestoras de fundos.

Inspirada em um modelo americano desenvolvido pela The Capital Networks – instituição não lucrativa que promove a educação financeira de empreendimentos early stage –, a Finep trouxe ao Brasil os fóruns de investimento. O primeiro acon-teceu em 2000, no Rio de Janeiro (RJ) e, desde então, a Financiadora realizou 38 eventos similares. A iniciativa faz parte do Programa Inovar e conta com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimen-to (BID).

O diferencial dos fóruns é que as empre-sas não são meramente apresentadas aos investidores: elas passam, antes, por uma capacitação, no qual aprendem que tipo de informações sobre seus negócios são estra-tégicas para apresentar aos investidores. A

ideia é potencializar as chances de elas con-seguirem um aporte.

Para participar dos fóruns, as empre-sas interessadas passam por uma pré-se-leção, em que precisam enviar um sumá-rio executivo de seu negócio. É feita uma triagem e os escolhidos são chamados para uma banca presencial. Apenas os empreendimentos que passam por todas essas fases estão aptos a participar do programa. “Às vezes o investidor precisa analisar 100 empresas para chegar a dez iniciativas boas. Os fóruns facilitam isso, tornando mais fácil o trabalho do inves-tidor e a possibilidade de uma empresa conseguir um aporte”, afirma Clovis Meu-rer, presidente da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (Ab-vcap).

EvoluçãoNo início, quando começou a realizar

esse tipo de evento, a Finep promovia apenas Venture Foruns, ou seja, fóruns direcionados a empresas já estruturadas, que faturam mais de R$ 5 milhões ao ano

_CASOS DE SUCESSO

Em maio deste ano, os professores da Harvard Business School, Ann Leamon e Josh Lerner, publicaram um artigo na revista da universidade sobre o Programa Inovar, da Finep. O texto traz informações sobre casos bem-sucedidos de em-presas que participaram de fóruns de investimento promovidos pela Financiadora.

Um dos casos é o da Lupatech, companhia fornecedora de serviços e equipamentos para o setor de petróleo e gás. A empresa participou de um dos primeiros Venture Foruns promovidos pela Finep e conseguiu aportes de capitais de inves-tidores como Bndes e GP Investimentos. Em 2006, a empresa realizou seu IPO na Bovespa.

Outro caso de sucesso, relatado no artigo, é o da TOTVS, empresa multinacional de softwares sediada no Brasil – a sexta maior do mundo no setor em que atua. Três das quatro principais companhias do mundo que se uniram para formar a TOTVS (Microsiga, RM Sistemas e Datasul) passaram por fóruns da Finep. A Microsiga foi a primeira empresa latino-americana do ramo de Tecnologia da Informação a realizar um IPO na Bovepa Novo Mercado, em 2006. Com os recursos do IPO, a empresa adquiriu a RM Sistemas e a Datasul, e depois foi incorporada pela TOTVS.

No âmbito dos Seed Foruns também há histórias de sucesso, como a da Ningo, start-up do ramo de e-commerce. Graduada pelo Cietec, localizado na Cidade Universitária de São Paulo, a empresa recebeu aporte de investidores anjo no 10º Seed Forum, realizado em São Paulo.

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(veja na tabela as diferenças entre os fó-runs). Com o tempo, no entanto, a Finan-ciadora começou a diferenciar o modelo de acordo com os estágios das empresas e suas necessidades de investimento. “Nós vimos que os Ventures Foruns não alcançavam as empresas iniciantes, que precisavam de investimento anjo ou de seed money, nem as empresas que já pre-tendiam abrir capital e demandavam um volume maior de investimentos”, explica o Departamento de Empreendedorismo Inovador da Financiadora, Rochester Go-mes.

Já em 2002 foi realizada a primeira edição do Fórum Brasil de Abertura de Capital, que contou com a participação de quatro empresas: Alusa, Bematech, Datasul e Lupatech. Nesses eventos, que já tiveram seis edições, empreendimentos com inte-resse em ingressar na Bolsa de Valores têm a oportunidade de se apresentar a investi-dores. No final de 2007, a Finep começou a focar, também, em empresas iniciantes, e passou a realizar os Seed Foruns, que atingem até empreendimentos que ainda não faturam. Até hoje foram realizadas 12 edições do Seed Forum, em 11 cidades di-ferentes.

O modelo vem evoluindo e se diferen-ciado desde então. Durante o XXII Semi-nário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, em Foz do Iguaçu (PR), acontecerá o Seed Forum Fi-nep Anprotec, voltado apenas a empresas incubadas, graduadas ou associadas a ins-tituições que fazem parte da Associação. É a primeira edição nacional do evento. “Será uma oportunidade para que as em-presas que têm vínculo com incubadoras mostrem que são bem-sucedidas. O even-to também possibilitará que os gestores de incubadoras se aproximem mais da indústria de Capital Semente”, destaca Gomes.

A realização do Seed Forum em parceria

com a Anprotec é sinal de uma mudança de estratégia da Finep. A Financiadora vem atuando em parceria com outras institui-ções e, também, direcionando os fóruns a públicos ou objetivos específicos. Nes-te ano, durante a Rio+20, por exemplo, aconteceu uma versão do evento voltada a empresas que produzem tecnologias sus-tentáveis.

Desde 2011, a Abvcap passou a ser responsável pela promoção de Venture Fo-runs, com apoio da Finep. O modelo é o mesmo, salvo algumas diferenças, como a necessidade de as empresas enviarem um sumário executivo mais detalhado. A Ab-vcap, além dos fóruns normais – em que podem participar empresas de qualquer setor –, tem realizado eventos direciona-dos a cadeias específicas, como Tecnologia da Informação e Óleo & Gás. “Realizamos esses fóruns devido a demandas de enti-dades parceiras, como a Softex e a Orga-nização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip)”, explica Meurer .

Capital empreendedorOs fóruns são utilizados, também, como

instrumentos para ajudar a estruturar e consolidar a indústria de capital empreen-dedor. “Quando realizamos os fóruns e con-vidamos os investidores para conhecerem as empresas, ampliamos a possibilidade da formação de um pipeline, que pode chegar à formação de fundos no futuro. Nós insti-gamos o investidor a isso”, afirma Gomes, da Finep.

Alguns Seed Foruns, de acordo com Go-mes, têm um caráter mais pedagógico. Em regiões onde não há uma indústria de ca-pital empreendedor muito desenvolvida, a Finep, além de convidar investidores para o evento, chama instituições parceiras, como federações da indústria e parques tecnológicos, por exemplo. “Ampliamos o número de participantes para incentivá--los a, eles mesmos, promoverem encon-

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Samy Menasce, da Brasil Ozônio: fóruns são oportunidades para que empresas realizem uma revisão interna

Bernardo de Castro, da Arvus: fóruns induzem empreendedores a questionarem e levantarem mais informações sobre seus negócios

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tros posteriores e desenvolverem o Capital Semente em suas regiões”, explica.

Em conjunto com alguns Seed Foruns, a Financiadora promove, também, eventos de capacitação de investidores anjo, com o objetivo de mostrar os benefícios do fó-rum, além de fornecer conhecimentos e ferramentas necessárias para a prospec-ção, valoração, negociação e legalização de investimentos em empresas nascentes inovadoras.

AmadurecimentoOs fóruns, além de possibilitar aos

empresários o contato com possíveis investidores ou compradores, são uma oportunidade para que eles analisem com cuidado suas empresas e, até mesmo, repensem suas estratégias. “É uma expe-riência que, indiretamente, obriga o em-preendedor a realizar uma revisão interna do seu negócio”, destaca Samy Menasce , sócio-fundador da Brasil Ozônio, empresa incubada no Centro de Inovação, Empre-endedorismo e Tecnologia (Cietec), que já participou de dois fóruns promovidos pela Finep.

“É uma forma de validação das premis-sas de negócio nas quais a empresa acredi-ta. A participação obrigará os empreende-dores a se questionarem, levantarem mais informações e obterem feedback sobre os seus conceitos”, explica Bernardo de Castro, diretor da Arvus, empresa catarinense que participou do primeiro Seed Forum realiza-do pela Finep, em 2007.

Essa é a mesma opinião de Israel Ca-brera, fundador da empresa Bioactive, uma das participantes do 10º Seed Forum Finep. Para ele, o evento foi uma oportunidade para reformatar seu plano de negócio. “O plano é observado por pessoas que não têm nada a ver com o seu negócio, que têm um olhar frio, e podem contribuir para o desen-volvimento dele, tornando-o mais coerente e realista”, afirma.

O fórum pode funcionar, também, como um termômetro da evolução da empresa. “O processo permite avaliar o grau de matu-ridade da proposta do empreendimento, e também serve para acelerar a maturidade da empresa quanto ao futuro relacionamen-to com o mercado”, afirma Roberto Macêdo, diretor-presidente da Armtec, de Fortaleza (CE). “Houve, para nós, um aumento da per-cepção de qual estratégia e rota de decisões levaria à captação e uma definição do tipo de investidor para os diversos segmentos da empresa”, avalia.

Para Roberto Caracas , presidente da empresa Bioclone, o evento é uma ótima forma de divulgação. “Só o fato de partici-par, é algo que gera vitrine à empresa. De-monstra que ela tem um diferencial, pois passou por uma seleção antes”, afirma. A Bioclone foi uma das empresas investidas pelo fundo Criatec, do Bndes.

Para empresas que, ao participar do fó-rum, já estão em contato com outros fun-dos, o evento possibilita a realização de comparações, como aconteceu com a Pixe-on, de Florianópolis (SC), hoje investida pela Intel Capital. “Foi importante receber feed-back de outros fundos. Também tivemos a oportunidade de falar de valution [valora-ção do empreendimento] para realizar uma comparação”, destaca Iomani Engelmann, diretor comercial da empresa.

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Roberto Caracas, da Bioclone: fóruns dão

visibilidade para empresas

Iomani Engelmann, da Pixeon: empresa já tinha

contato com outros fundos, mas o fórum possibilitou realizar uma comparação

INVESTIMENTO

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DESAFIO

Produzido a partir de biomassa vegetal, o etanol de segunda geração deve chegar ao consumidor brasileiro em

2015. Até lá, será preciso investir em P&D para torná-lo uma alternativa viável

Geração sustentável

Durante a Rio+20, 40 minivans da Pe-trobras transportaram os participantes da conferência. A empresa aproveitou o even-to para apresentar, pela primeira vez, uma nova tecnologia: os veículos foram abasteci-dos com etanol de segunda geração, produ-zido a partir do bagaço da cana-de-açúcar. O combustível, que vem sendo estudado desde 2004 pela estatal, permite ampliar a produção do etanol em 40%, sem aumen-tar a área plantada de cana. “Totalmente alinhados à discussão do evento, consegui-mos mostrar uma tecnologia amadurecida, que agrega mais sustentabilidade ao ciclo de produção do etanol, poupa recursos na-

turais e que, em pouco tempo, deverá che-gar ao mercado”, avalia o gerente de Gestão Tecnológica da Petrobras Biocombustível, João Norberto Noschang Neto.

Até agora, a Petrobras produziu 80 mil litros de etanol de segunda geração em uma planta de demonstração. O combustível só deve chegar aos postos do país, no entanto, em 2015. São necessárias melhorias na sua produção para que ele possa ser gerado em escala comercial. O processo ainda é bem mais caro que o tradicional e muitas técni-cas envolvidas na produção desse novo tipo de etanol não são dominadas atualmente pelos cientistas e pelas empresas.

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P O R D A N I E L E M A R T I N S , C O M C O L A B O R A Ç Ã O D E C A M I L A A U G U S T O

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DESAFIO

O etanol de segunda geração (também chamado de celulósico) é produzido a par-tir da biomassa vegetal, como o bagaço e a palha da cana, por exemplo. Esse material é composto, principalmente, por celulose – polímero de glicose formado por seis áto-mos de carbonos; hemicelulose – polímero de cinco carbonos; e lignina – molécula que torna as paredes dos vegetais impermeá-veis e rígidas. Já o etanol de primeira ge-ração é gerado a partir da fermentação do caldo da cana-de-açúcar, processo que hoje já alcança 90% de aproveitamento.

Para que o etanol de segunda geração seja produzido, a biomassa precisa passar por um pré-tratamento, que desestrutura a parede celular e facilita a extração do açúcar da celulose, utilizado na geração do combustível. O custo de todo esse processo é hoje um dos principais obstáculos para a produção etanol celulósico em escala co-mercial.

CompetitividadeA partir do domínio dessa nova tecnolo-

gia, o Brasil, que sempre ocupou uma po-sição de vanguarda em produção e uso de etanol, vislumbra a possibilidade de se tor-nar um dos grandes fornecedores mundiais de biocombustíveis. O etanol de segunda geração aproveita melhor a matéria-prima e, de acordo com Noshang, é uma das solu-ções para aumentar, de forma sustentável, a oferta do combustível. Por isso, a Petro-bras revisou, recentemente, seu Plano de Negócios e prevê investir até 2016 cerca de R$ 2,5 bilhões na produção de biocombus-tíveis.

A pesquisadora da Embrapa Agroe-nergia, Silvia Belem Gonçalves, explica que uma das principais vantagens do eta-nol de segunda geração está associada à otimização do uso da terra. “Atualmente, conseguimos produzir cerca de 80 litros de etanol com uma tonelada de cana. Es-timativas apontam que, se além do caldo,

utilizarmos também o bagaço e a palha para produzir o biocombustível, será pos-sível obter aproximadamente 144 litros com essa mesma tonelada”, afirma. De acordo com a pesquisadora, o Brasil tem a vantagem de não precisar inventar uma nova indústria completa para produzir esse novo combustível: é possível adaptar a produção de etanol de primeira geração já existente.

Além de representar uma vantagem econômica – já que proporciona um maior aproveitamento energético de uma mesma matéria-prima –, o etanol de se-gunda geração também traria vantagens ambientais, pois diminuiria a emissão de gás carbônico na atmosfera. “Há um im-pacto positivo na saúde das pessoas, por-que o etanol produz menos gases tóxicos quando é queimado dentro dos motores”, explica o diretor científico do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioe-tanol (CTBE), Marcos Buckeridge. Segun-do ele, com a produção de etanol de se-gunda geração, o Brasil avançará também na produção de tecnologias e máquinas de alto valor agregado.

As empresas e cientistas ainda enfren-tam vários desafios para produzir o etanol de segunda geração. As demandas de pes-quisa e desenvolvimento concentram-se, basicamente, em três setores: agrícola, in-

- Os carros são responsáveis por mais de 70% da poluição nas ci-dades- A Petrobras pretende iniciar a produção de etanol de segunda ge-ração em escala comercial no Brasil em 2015- A Petrobras vai investir até 2016 cerca de R$ 2,5 bilhões na produ-ção de biocombustíveis.

(Fonte: Petrobras)

_NÚMEROS

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dustrial e sustentabilidade ambiental. No setor agrícola, o Brasil já desenvolveu um conjunto muito grande de variedades de cana-de-açúcar com potencial de produ-ção e produtividade, mas ainda existe um caminho grande de pesquisa sobre plantas transgênicas.

Ciclo completoNo setor industrial, a preocupação é com

a melhoria do processo de pré-tratamento da biomassa e da hidrólise (processo de quebra das moléculas de glicose para que os microrganismos consigam fazer a fer-mentação). A fase de fermentação também é alvo de estudos. “Nós estamos, por exem-plo, tendo que modificar geneticamente as leveduras [fungos que fazem a fermenta-ção, transformando o açúcar em energia], utilizando estratégias de biologia molecular e genética para gerar novas leveduras que sejam capazes de fermentar polímeros com açúcares de cinco carbonos [hemicelulose], que correspondem a cerca de 30 ou 40% da parede celular das fibras da biomassa”, explica Buckeridge.

Em relação à área de sustentabilidade, vários pontos da produção de etanol de segunda geração ainda precisam ser pes-quisados, como: a quantidade de gás car-bônico emitida no campo; quanto e como a cana beneficia o sistema ambiental, evitando a emissão desse gás; e quanta energia é gasta no processo de geração do combustível.

Além da Petrobras, várias empresas es-tão investindo em pesquisas sobre etanol de segunda geração, como British Petroleum, Shell, Esso, Braskem e Rhodia. “O Bndes [Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social] fez agora um processo de escolha de empresas que vão desenvolver processos completos de etanol de segunda geração. O aporte de investimentos será de cerca de R$ 1 bilhão”, relata Buckeridge. Ele estima que dentro de dois ou três anos esses processos começarão a ser testados, ainda com custos altos. A produção de combustível de segunda geração, de acor-do com o pesquisador, se estabilizará daqui a cinco ou dez anos, com custos reduzidos para entrar no mercado.

_DIFERENÇAS ENTRE O ETANOL DE PRIMEIRA E DE SEGUNDA GERAÇÃO

Fator Bioetanol de primeira geração Bioetanol de segunda geração

Matéria-primaÉ produzido a partir do caule

da cana-de-açúcarÉ produzido a partir do bagaço e da palha da ca-na-de-açúcar, além de outros tipos de biomassa

Aproveitamento da matéria-prima

Como aproveita apenas o caule da cana, necessita de maior área plantada

Aproveita melhor a matéria-prima e pode elevar a produtividade entre 30% a 40% em relação à

mesma área plantada para o bioetanol de primei-ra geração

CustoÉ um processo já estabelecido e, portan-

to, mais barato

Ainda são necessárias pesquisas para baratear o processo e possibilitar a sua produção em escala

industrial

Meio ambienteA queima da palha da cana que não é

utilizada nesse processoprovoca danos ambientais

O aproveitamento de maior parte da cana reduz a emissão de gases e danos ambientais

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DESAFIO

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CARREIRA

Incubadoras passam a incluir avaliações psicológicas nos processos de seleção das empresas, ampliando a

análise do perfil para além dos aspectos técnicos

Empreendedor no divã

Não basta ter apenas um bom plano de negócios. Incubadoras de empresas, cada vez mais, avaliam os candidatos a vagas não só quanto a aspectos técnicos, econômicos e comerciais, mas também psicológicos. “Havia um histórico de empresas que, ape-sar de estarem bem no âmbito técnico, não conseguiam alavancar. É preciso desenvol-ver aspectos comportamentais nos empre-sários”, afirma o coordenador da multincu-badora de empresas do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universi-dade de Brasília (CDT/UnB), Anísio Lopes.

Lá, a incubadora incluiu em seu processo seletivo, desde 2006, uma etapa de avalia-

ção do perfil empreendedor dos candidatos. A entrevista é realizada por um profissional da área de psicologia e é obrigatória para todos os participantes. “Buscamos avaliar a capacidade que eles possuem de correr ris-cos, se são pessoas proativas, dentre outros aspectos”, explica Lopes.

Além do CDT/UnB, as incubadoras do Inatel, de Minas Gerais, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e do Instituto Gênesis, da PUC-Rio, entre outras, adotam essa avaliação em seus processos seletivos. “Sabemos que o bom de-sempenho da empresa conta com produtos e serviços de qualidade e competitividade, mas

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CARREIRA

_CERNE PREVÊ REALIZAÇÃO DE PLANO DE VIDA DO EMPREENDEDOR

O Modelo Cerne (Centro de Referência para Apoio a Novos Em-preendimentos), adotado em mais de 100 incubadoras do país, pre-vê que elas realizem um planejamento de vida dos empreendedores – contribuindo com uma sistemática para o planejamento pessoal e dando apoio para que executem seus planos de desenvolvimento.

A maioria das incubadoras ainda está trabalhando para implan-tar esse tipo de acompanhamento. “Essa atividade hoje é realizada de maneira informal e não sistematizada. Agora que ganhamos o Edital do Sebrae-Anprotec para as práticas-chave do Cerne, iremos elaborar um Modelo de Plano de Vida, junto com uma psicóloga, para ser usado com os empreendedores e acompanhado semestral-mente”, explica José Alberto Aranha, do Instituto Gênesis.

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também o aspecto gerencial de pessoas é con-dição capital para agregar valor. Dessa forma, procuramos aliar o conjunto produto-serviço--pessoa como eixo avaliativo na seleção das empresas candidatas”, afirma o psicólogo do IFCE, Hamilton Viana Chaves.

ComprometimentoNa incubadora do IFCE, o processo é con-

duzido por dois psicólogos, que trabalham em sistema de cooperação: enquanto um dirige a conversa, o outro faz observações e registros. A entrevista é dividida em vários momentos. Na primeira etapa, o psicólogo pede para que cada membro da empresa candidata se apresente de forma criativa. “Após as apresentações, convidamos cada grupo a ‘vender’ seu produto. Esse é o mo-mento para o grupo persuadir os demais quanto à qualidade e à viabilidade de seus empreendimentos. Com isso, queremos per-ceber o grau de comprometimento com a jornada que está por iniciar”, explica Chaves.

Os empreendedores precisam também responder a um questionário, no qual são avaliados seus pontos fortes e fracos, o re-lacionamento com os membros do grupo,

entre outros aspectos. “O último momento é feito com cada grupo em separado e rea-lizamos uma entrevista propriamente dita. Fazemos perguntas como: ‘Por que você acha que sua empresa – e não as demais que aqui estão – deve ser escolhida?’ ‘Como vocês se imaginam daqui a cinco anos?’ As respostas a esses quesitos podem nos dar indícios quanto à motivação, capacidade empreendedora, grau de resiliência, cla-reza de objetivos, compromisso com suas causas etc.”, destaca Chaves.

Outro aspecto importante analisado nas entrevistas é a relação entre os sócios da empresa. “Por isso é obrigatório que todos os empreendedores participem do proces-so. Precisamos observar se existem confli-tos entre os sócios e como é o relaciona-mento deles”, explica a psicóloga Regina Jardim, que conduz o processo na incuba-dora do Instituto Gênesis e ministra a disci-plina Atitude Empreendedora, na PUC-Rio.

O processo, no Instituto Gênesis, é rea-lizado desde a criação da empresa e possui três fases diferentes: uma entrevista livre, um questionário – que procura identificar características comportamentais dos candi-datos e comprometimento com metas – e, por fim, uma etapa em que os empreende-dores precisam montar um quebra-cabeça. “Para chegarem ao resultado correto, os em-preendedores precisam mexer na forma do quebra-cabeça. Por isso, conseguimos obser-var a interação entre os sócios, assim como a capacidade de adaptação à nova ideia”, ex-plica a psicóloga Regina Jardim.

De acordo com Regina, ainda é difícil ve-rificar a relação entre o desenvolvimento da atitude empreendedora das empresas incu-badas e o sucesso do empreendimento. “É preciso que sejam realizados mais estudos para que possamos ver como as incubado-ras podem ajudar na redução da mortalida-de das empresas, desenvolvendo aspectos comportamentais nos empresários incuba-dos e candidatos a vagas”, avalia.

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SUCESSO

Fundada em 1990, a paranaense Angelus desenvolve soluções odontológicas inovadoras, atualmente comercializadas para mais de 60 países. O segredo do sucesso é o investimento em

P&D, um dos alicerces da empresa

Da pesquisa ao consultório

Cansado dos procedimentos lentos e artesanais que precisava adotar no seu consultório, o cirurgião dentista parana-ense Roberto Martins Alcântara começou a desenvolver, no início da década de 1990, materiais que pudessem melhorar a produtividade do seu trabalho e a qua-lidade no atendimento de seus pacientes. No começo, a fabricação era apenas para uso próprio, mas, com o tempo, seus co-legas de profissão começaram a lhe fazer encomendas. Foi então que Alcântara per-

cebeu que havia descoberto um grande mercado.

Em 1994, ele fundou a Angelus, espe-cializada no desenvolvimento de soluções odontológicas inovadoras. A empresa de Londrina (PR), que fechou seu faturamento de 2011 em cerca de R$ 12,5 milhões, co-mercializa seus produtos para mais de 60 países, e tem hoje a Pesquisa e Desenvolvi-mento (P&D) como uma de suas principais bases – tanto que já foi destaque três vezes no Prêmio Finep de Inovação, e ficou em

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SUCESSO

primeiro lugar, em 2009, na categoria na-cional de pequena empresa.

A preocupação com inovação existe des-de o início do empreendimento. Um ano após ser criada, a Angelus – que hoje possui sede no Parque Tecnológico de Londrina Francisco Sciarra – mudou-se para a Incu-badora Industrial de Londrina, onde ficou por dois anos. “O objetivo era aproximar a Angelus do meio acadêmico e realizar troca de experiências com as demais empresas do mesmo porte. Nesse contexto, a incuba-dora foi importante”, explica Cesar Bellinati, gerente de P&D da empresa.

O foco em Ciência e Tecnologia, no entanto, só foi intensificado ao longo da última década. “O primeiro produto da Angelus [Nucleojet – núcleo pré-fabricado em policarbonato para obtenção do nú-cleo metálico] nasceu de uma percepção do Roberto, mas no começo ele não tinha um cunho tecnológico. E foi assim nos pri-meiros seis anos da empresa, até que o Roberto percebeu que, para continuar, ti-nha que investir em Ciência e Tecnologia e tornar os produtos competitivos”, relata Bellinati.

Nova faseA mudança de foco foi contemplada

no planejamento estratégico da compa-

nhia. A empresa, inclusive, teve seu nome mudado para “Angelus – Ciência e Tec-nologia”. Em 2005, o departamento de Pesquisa e Desenvolvimento foi criado, formalmente, consolidando a prática já existente e inaugurando uma nova fase para a Angelus.

Atualmente, dos 70 colaboradores que a empresa possui, sete dedicam-se exclusiva-mente ao departamento de P&D: três dou-tores, dois mestres e dois graduandos de Química da Universidade Estadual de Lon-drina (UEL). “Houve uma grande mudança na empresa com a criação do departamento de P&D. Antes, os projetos não eram orga-nizados. Agora, conseguimos gerenciá-los por meio de uma estrutura matricial. Ainda somos uma empresa pequena e, por isso, precisamos contar, no nosso trabalho, com a colaboração dos outros departamentos, como controladoria e design, por exemplo”, explica Bellinati.

A partir da estruturação do depar-tamento de P&D, a Angelus começou a captar recursos governamentais para o desenvolvimento de projetos. A empresa conseguiu, até hoje, aprovar sete proje-tos de subvenção econômica à inovação. “Hoje a Angelus conta com apoio da Fi-nep, do CNPq e do Bndes para o custeio de suas atividades inovativas. Esse apoio é fundamental para que a empresa desen-volva produtos tecnológicos capazes de serem introduzidos em mercados exigen-tes, como a Europa, o Japão e os Estados Unidos”, destaca Bellinati.

Uma das bases do processo de desen-volvimento de novos produtos da empresa, que hoje possui cinco patentes depositadas, é a parceria com instituições de ciência, tecnologia e inovação. Atualmente, a Ange-lus desenvolve projetos em conjunto com quatro instituições: o Laboratório Interdis-ciplinar de Eletrônica e Cerâmica, da Uni-versidade Federal de São Carlos (UFSCar); a Divisão de Materiais do Comando-Geral

Equipe da Angelus recebeu o Prêmio Finep de Inovação 2009, na categoria pequena empresa

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de Tecnologia Aeroespacial; a Universidade Federal de Pelotas (UFPel); e o Centro Téc-nico Votorantim. “Como a empresa fabrica medical devices, é de fundamental impor-tância a participação destas instituições em várias fases do projeto, como, por exemplo, na caracterização físico-química do protó-tipo desenvolvido e na avaliação clínica do produto final”, explica Bellinati.

A Angelus ainda desenvolve um Pro-grama de Apoio à Pesquisa, que, com o objetivo de possibilitar parcerias, apoia o desenvolvimento de trabalhos inéditos que possuam relações com as áreas estratégi-cas da empresa. “Esse programa já colabo-rou com mais de 600 trabalhos científicos, desde painéis e monografias, até disser-tações e teses de doutorado, de todas as regiões do Brasil e de países como Estados Unidos, México, Israel e Itália. O programa disponibiliza não somente o material pro-duzido pela Angelus, mas também toda a informação científica e o suporte técnico para o desenvolvimento do projeto”, des-taca Bellinati.

Made in BrazilDe toda a produção da Angelus, cerca

de 40% é exportada. A empresa comercia-liza seus produtos para mais de 60 países. A porta de entrada para o mercado externo foi a participação em congressos interna-cionais de odontologia. Nesses eventos, profissionais estrangeiros compravam pequenas quantidades de produtos para endodontia, dentística estética e próteses laboratoriais. Após a realização de estudos, foi criado um departamento de exportação na Angelus em 2003. “O primeiro desa-fio no exterior foi divulgar a imagem de um Brasil tecnológico, comprovando que os produtos brasileiros nada ficam a de-ver aos da Europa e dos Estados Unidos”, aponta Bellinati. Atualmente, os principais compradores são México, Itália, Rússia, Ucrânia e Irã.

A empresa planeja expandir as expor-tações nos próximos anos, entrando nos mercados dos Estados Unidos e do Canadá. A Angelus já possui certificações da Food and Drugs Administration (FDA) – órgão governamental americano responsável pelo controle de medicamentos e equipa-mentos médicos, entre outras atribuições – para alguns produtos. “Para atingir esse objetivo [de expandir as exportações], a empresa recebeu em 2009 e 2010 um gru-po de estudantes das Universidades de Mi-chigan e da Califórnia, por meio de progra-mas de MBA. As equipes permaneceram na empresa por dois meses e realizaram um planejamento estratégico detalhado, que incluiu um plano de entrada da Angelus no mercado americano, com estratégia opera-cional, análise financeira e de risco”, expli-ca o gerente de P&D.

O ingresso no mercado internacional, de acordo com Bellinati, trouxe vantagens competitivas para a empresa. “Não é por vaidade que a Angelus exporta. Isso nos trouxe benefícios, como: melhoria no pa-drão de qualidade, novos mercados, eco-nomia de escala em processos produtivos, blindagem financeira, maior lucratividade, redução da inadimplência, aumento da con-corrência, conhecimento de novos produtos e indução da competitividade para dentro da própria empresa”, destaca.

Fundação: 1994Cidade: Londrina (PR)Faturamento: R$ 12,5 milhõesGraduada pela: Incubadora Industrial de LondrinaNúmero de colaboradores: 70Produtos: soluções odontológicas, como acessórios para dentística e endodontia, cimento dental, materiais de moldagem, pinos e núcle-os metálicos, próteses, entre outras.

_RAIO-X: ANGELUS

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SUCESSO

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Inovação na mesaApesar das dificuldades, o setor de alimentos e bebidas pode ser uma boa aposta para quem quer empreender: não faltam nichos

de mercado e consumidores potenciais

Das quase 38 mil empresas brasileiras ligadas à indústria de transformação que implantaram inovações de processo ou pro-duto entre 2006 e 2008, 4.792 eram do ramo de produtos alimentícios e bebidas. Os números, reportados pela Pesquisa de Inovação Tecnológica realizada pelo Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Pintec/IBGE, 2008) são significativos, mas não traduzem exatamente a realidade do setor no que se refere a empreendimentos inovadores de base tecnológica. Quem re-solve entrar nesse mercado – que teve um faturamento de R$ 383,3 bilhões em 2011

– costuma enfrentar dificuldades que vão desde falta de apoio até a desconfiança do consumidor final. Mas com o produto cer-to, uma estratégia bem planejada e grandes doses de perseverança, qualquer empreen-dedor é capaz de se firmar nesse mercado.

A média de empresas inovadoras no se-tor de alimentação é próxima a da indús-tria, mas essas inovações se referem, em boa parte das vezes, a modificações muito pequenas ou de embalagem. Enquanto no exterior os principais players fazem par-cerias com a indústria química e de bens de capital – com uma atuação ofensiva

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NEGÓCIOS

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NEGÓCIOS

Djalma Marques e Fátima Fonsêca, da BioLogicus:

empresa nasceu com foco em alimentos e

hoje abrange produtos dermatológicos e

dermatocosméticos

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na busca por melhorias de processo com repercussão de inovação tecnológica no produto final –, as empresas brasileiras de alimentos e bebidas trilham outro cami-nho. “A indústria vive muito da tradição”, resume a pesquisadora e pós-doutoranda do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Silvia Domingues de Carvalho.

A vantagem dos empreendimentos ino-vadores nesse cenário é que, na maioria das vezes, seus lançamentos não têm concor-rente na empresa tradicional. “Encontrar ni-chos de mercado, que é o que acontece com empresas incubadas voltadas para produ-tos bem específicos, funcionais, facilita mui-to”, completa Silvia, cuja tese de doutorado teve como tema A indústria de alimentos e bebidas no Brasil: uma análise da dinâmica tecnológica e das estratégias de inovação de suas empresas entre 1998-2005. A re-ceita é identificar o mercado de atuação e os produtos substitutos, já que um alimento ou bebida só é inovador se tem a aceitação do consumidor. “O objetivo é ter o diferen-cial de lucratividade, que é fornecido por esse algo a mais. Tem que estar muito bem planejado”, completa a pesquisadora.

Qualidade de vidaUm dos nichos que mais cresce nos úl-

timos anos em alimentação é o de comidas e bebidas que buscam promover saúde e bem-estar. É nesse mercado que se insere a BioLogicus. Graduada pela incubadora do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep), onde ingressou em 2006, a empre-sa conta hoje com 26 colaboradores e tem em seu mix bebidas fermentadas, iogurtes e queijos. O diferencial é que os produtos con-têm probióticos – microrganismos que têm um papel importante no sistema imunológi-co e normalmente habitam o corpo humano desde a infância (400 a 500 espécies), mas cuja presença vai diminuindo com o tempo

(20 a 30 espécies na idade adulta).Fruto da pesquisa de um casal que fez

doutorado na Europa e, em 1997, desco-briu o benefício dos probióticos na região do Cáucaso (onde o consumo de tais pro-dutos é disseminado e a ocorrência de do-enças degenerativas é mínima), a BioLogi-cus nasceu focada em alimentos – e hoje abrange também produtos dermatológicos e dermatocosméticos. Os recursos para o desenvolvimento da empresa vieram da Financiadora de Estudos e Projetos do Mi-nistério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Finep/MCTI), que aprovou o projeto em 2008. “Tínhamos toda a ideia da empresa

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pensando no produto, eles deram uma ideia de negócio”, conta o diretor e médico der-matologista Djalma Marques, que tem como sócia a esposa, a engenheira química Fáti-ma Fonsêca. Nos últimos anos, a empresa também recebeu investimento do fundo de capital semente Criatec, do Banco Nacional de Desenvolvimento (Bndes).

Os produtos saem com a marca BioLo-gicus, mas sua fabricação é terceirizada. A empresa desenvolve a fórmula e faz parce-rias com indústrias, que fabricam os itens sob a supervisão de um pesquisador. A dis-tribuição também fica a cargo da indústria terceirizada. “Atuamos como se fosse uma sociedade. Tudo que é gasto, é dividido meio a meio”, explica Djalma. Para chegar ao consumidor final, a BioLogicus mantém uma loja própria dentro do Itep (onde boa parte dos clientes chega por indicação de médicos e nutricionistas, ou amigos) e con-tata lojas especializadas, farmácias homeo-páticas e outros pontos de venda.

A BioLogicus já firmou parceria com a rede Mundo Verde. A pesquisadora Silvia de Carvalho explica que contar com o res-paldo de uma rede de lojas com tradição no segmento é uma boa saída para driblar as dúvidas do consumidor. “Muitos produ-tos são lançados e têm vida curta porque o

consumidor desconfia”, comenta. Entre um artigo novo de marca diferente e outro pa-recido, mas de uma marca conceituada, o nome famoso costuma prevalecer quando o preço é similar. A não ser que seja um pro-duto diferenciado, o novo, em geral, perde para a tradição da grande empresa. Com o respaldo de um distribuidor conceituado, esse obstáculo tende a ser eliminado.

Parceria sólidaFirmar acordos para fornecimento de

produtos a prefeituras e governos estaduais é uma alternativa para os empreendedores do setor de alimentos. Foi o que fez a Vale Mais Alimentos, de Santos (SP), que produz biomassa de banana verde – alimento fun-cional que pode substituir, na preparação de receitas, o trigo, a soja, a fécula de man-dioca e o amido de milho, com maior valor nutritivo e mais fibras. A empresa fornece o insumo para a indústria, que depois vende-rá um produto final (pão, almôndega, bis-coito, patê de requeijão, salsicha etc.) com acréscimo de saúde e, portanto, valendo mais – e não somente na prateleira. Desde 2009, a Vale Mais é fornecedora da prefei-tura de Jundiaí (SP), que usa biomassa de banana verde na merenda escolar.

De acordo com o diretor da Vale Mais, Cleonildo Xavier, há dezenas de prefeituras interessadas na biomassa. O objetivo delas é cumprir as exigências do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que determi-na uma certa gradação de fibras na comida servida às crianças. Entre os clientes em fase adiantada de negociação está a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed/PR), que usará a biomassa em almôndegas. Serão produzidas 60 toneladas ao mês de almôndegas, com o fornecimento de oito to-neladas mensais de biomassa. “A questão da quantidade de alimentação está relativamen-te resolvida. Agora, o que importa, é o quão saudável os produtos são”, afirma Xavier, lembrando que o processo de produção de-

A Vale Mais produz biomassa de banana verde, que pode substituir, na preparação de alimentos, o trigo, a soja, a fécula de mandioca e o amido de milho, com maior valor nutritivo e mais fibras

Cleonildo Xavier, da Vale Mais: empresas devem perseguir inovações dentro de seu escopo de atuação

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NEGÓCIOS

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senvolvido no Instituto de Tecnologia de Ali-mentos de Campinas (Ital) não leva nenhum aditivo químico. O campo para crescimento é vasto: o mercado de alimentação saudável cresce 20% ao ano no Brasil. No exterior, o ritmo é de 10% ao ano, em taxas estáveis.

Os planos para a Vale Mais são terminar 2012 com faturamento consolidado e, para o futuro próximo, buscar financiamento do Bndes para agregar tecnologia. Atualmen-te, o faturamento é de cerca de R$ 45 mil mensais – valor que equilibra a balança dos gastos, mas ainda não garante uma boa margem de lucro. Em 2014, a empre-sa pretende começar a linha pasteurizada e fornecer a biomassa de banana em tem-peratura ambiente – atualmente, ela é co-mercializada e armazenada congelada. Com a nova tecnologia haverá redução de custos e ganho de escala, e o produto se tornará ainda mais inovador. “Você tem que tornar seus próprios produtos oboletos, porque a concorrência vai chegar”, prevê Xavier.

Uma das principais características do se-tor, aliás, tem a ver justamente com a concor-rência. Isso porque, em alimentos, é muito fácil copiar o que o outro faz. Uma empresa leva anos para desenvolver uma tecnologia e, a partir do momento que esta chega ao mercado, é rapidamente imitada pelo con-corrente. “O setor não tem mecanismo eficaz

Equipe da Nutryclin: empresa iniciou fabricando

produtos direcionados a atletas e hoje estende seu

portfólio a crianças e idosos

_A BUSCA POR FINANCIAMENTO

Uma dificuldade apontada pelos empreendedores do ramo de alimentos se refere aos obstáculos na hora de con-seguir aprovar projetos junto aos órgãos de incentivo à pesquisa. “É difícil se enquadrar nas linhas temáticas que são exigidas no edital. O que conseguimos aprovar era aberto”, conta Bruno Figueira Ramos, da Nutryclin Alimentos. Para ele, a prioridade do governo passa por outras áreas.

A Vale Mais Alimentos submeteu por seis vezes projetos a um órgão de fomento e todos foram recusados. A alegação era que a pesquisa com biomassa de banana verde, foco do empreendimento, não estava no escopo dos editais. “Sem dúvida, por ser uma empresa de alimentos, há dificuldade de financiamento”, afirma o diretor da Vale Mais, Cleonildo Xavier. No final, a única alternativa foi recorrer a empréstimo bancário.

De acordo com a doutora em Política Científica e Tecnológica, Silvia de Carvalho, os investimentos públicos em pes-quisa dependem muito do mercado e dos assuntos que estão em alta no momento. Para Angela Pibernat, da Qualis-tatus, quem vence os editais são geralmente projetos voltados para TI ou eletrônica. “Vejo essas empresas recebendo investimento, visitas e investidores. O mundo é muito tecnológico”, afirma. A explicação para essa predominância pode ser a velocidade: o setor de alimentos não é tão rápido quanto o de TI. “Em dois anos, funda-se empresa e ela é vendida ou acabou. A área de alimentos é mais tradicionalista”, explica Xavier, da Vale Mais.

Aos empreendedores, resta se articular para propor que os órgãos elaborem editais nas linhas temáticas alimen-tícias. É o que acredita Bruno Ramos, da Nutryclin. “Outros setores da economia estão à frente. Para o segmento de desenvolvimento de alimentos é um desafio, mas talvez isso ajude o setor a inovar.”

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de apropriação da inovação”, diz Silvia. Por isso, é preciso ter um projeto bem estrutu-rado, para garantir que o público dê retorno sobre o investimento. “Não tem como ter se-gredo industrial. Nenhum dos mecanismos normais funciona nesse setor”, completa a pesquisadora da Unicamp.

Driblando o mercadoOutro mercado em franca expansão é

o de suplementos – uma indústria que co-meçou nos anos 1980 no Brasil, na esteira de nomes como Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger. Com um número cada vez maior de pessoas frequentando academias, praticando esportes e cuidando do corpo, esse segmento se torna cada vez mais atra-ente. No início, os suplementos fabricados

pela Nutryclin Alimentos – empresa graduada em 2008 pela incubadora mi-neira do Centro Tecnoló-gico de Desenvolvimento Regional da Universidade Federal de Viçosa (Centev/UFV) – tentaram atingir justamente esse público: os atletas. A percepção foi de que seria mais fácil gerar caixa e ter renda ao direcionar a empresa para um nicho consolidado. Era também uma forma de ganhar tempo, já que os

suplementos para outros públicos deman-davam longos períodos de estudo até mos-trarem resultado.

A estratégia deu certo e a empresa hoje possui produtos direcionados a crian-ças (um suplemento composto de cálcio, magnésio, ferro e zinco para ajudar no desenvolvimento nutricional e intelectual de crianças em idade pré-escolar), idosos (um shake que contém 17 vitaminas e mi-nerais essenciais para pessoas acima dos 50 anos) e interessados em emagrecer (um produto substituto total das refeições e que atende devidamente os valores caló-ricos necessários).

O plano agora é, a partir de recursos do Programa Pró-Inovação, do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), sair do patamar de faturamento médio de R$ 30 mil ao mês para R$ 100 mil mensais em janeiro de 2013 – e depois buscar um crescimento de 10% ao ano. “Como estamos nos modernizando, vamos ter capacidade produtiva alta e teremos que firmar parce-rias com grandes redes de lojas, distribui-dores”, explica Bruno Figueira Ramos, dire-tor executivo e gerente de desenvolvimento da Nutryclin. “É bem difícil captar clientes, fidelizar. É um processo contínuo de com-pra”, completa.

Oportunidade de negócioMas nem só de comida, insumos e su-

plementos vive o setor de alimentos. Um exemplo de negócio alternativo é a Qualis-tatus, de Porto Alegre (RS). Quando o go-verno federal decidiu terceirizar as análises de qualidade e identidade feitas em bebidas e vinagres importados – obrigatórias para autorizar sua entrada em território brasilei-ro – um novo nicho de mercado foi criado. Até o primeiro semestre de 2010 as análi-ses eram realizadas pelo próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Como a fronteira gaúcha é rica em importação de bebidas, as irmãs Angela e

Produtos da Nunes & Góes, de Maceió: empresa incubada com foco na produção de cachaças

A Qualistatus se aproveitou de um novo nicho de mercado: a análise da qualidade de bebidas e vinagres importados

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Cristiane Pibernat, ambas engenheiras, en-xergaram ali uma boa oportunidade e cria-ram o laboratório Qualistatus, empresa in-cubada no Parque Científico e Tecnológico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Tecnopuc).

O credenciamento junto ao Mapa, ne-cessário para o início das operações, veio em dezembro de 2011, depois da monta-gem de toda a estrutura física do empre-endimento – o que dificultou às empreen-dedoras conciliar o investimento inicial com o período ocioso até sair a autoriza-ção. “Depois que começou a chegar amos-tra, em janeiro, a coisa fluiu tranquila. O mercado do Rio Grande do Sul estava bem carente e nós conseguimos suprir uma de-manda”, analisa Angela.

O trabalho de prospecção havia começa-do antes do credenciamento, com a apre-

sentação da Qualistatus aos importadores – são eles que encomendam ao laboratório de sua preferência a análise que liberará a bebida na aduana. “Existe a barreira inicial do cliente, de trocar o certo pelo duvidoso, o velho pelo novo”, aponta a engenheira. A proposta de inovação da Qualistatus é dis-ponibilizar um sistema de diferenciação, autenticidade e tipicidade de produtos de alto valor agregado, com o intuito de desta-car aspectos qualitativos e levar confiança ao consumidor final.

A Nunes & Góes, de Maceió, também trabalha com bebidas, mas o foco da em-presa é um produto bem brasileiro: a ca-chaça. Tudo começou quando o professor do curso de Engenharia Química da Uni-versidade Federal de Alagoas (Ufal), João Nunes, comprou um pequeno alambique e passou a usá-lo para dar aulas práticas. O

_DIFICULDADES DO SETOR

Falta de apoio governamental não é a única reclamação dos empreendedores do setor de alimentos. Confira alguns obstáculos enfrentados por empresas que ocupam diferentes nichos:

Fornecedor: às vezes é preciso desenvolver o mercado fornecedor. A Vale Mais Alimentos, que vende biomassa de ba-nana verde, passou por essa etapa. “O fornecedor usa plantação natural, sem agrotóxico, só se utiliza óleo nas folhas”, explica o diretor Cleonildo Xavier. Afinal, quando se lida com um produto voltado para a promoção da saúde, todas as etapas precisam estar cobertas.

Desconfiança: o consumidor final é reticente em relação a novos produtos, e o mesmo acontece com a indústria no caso de insumos. Em alimentos, o ciclo de entrada no mercado é um pouco mais longo. “Tem que marcar reunião, mostrar, aprovar, passar por todo o crivo”, salienta Xavier. “A partir do momento que começa a fornecer para um e para outro, começa a se firmar no mercado”, completa.

Produto delicado: certos artigos exigem cuidados especiais, como é o caso dos alimentos probióticos desenvolvidos pela BioLogicus. Afinal, a empresa lida com microrganismos vivos. “Eles não suportam qualquer tipo de corante, nada de acidulante, conservante. São ultrassensíveis”, explica o sócio Djalma Marques.

Matéria-prima: dependendo da área de atuação, o acesso à matéria-prima pode se tornar um problema. É o caso da fabricante de suplementos Nutryclin, localizada em Viçosa (MG). Os principais fornecedores da empresa estão em São Paulo, o que traz problemas de custo, com ICMS e outros impostos, além do frete.

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envelhecimento era feito com nove tipos diferentes de madeira e a cachaça produ-zida era distribuída para degustação entre professores, estudantes e funcionários. A bebida agradou e surgiu a ideia da em-presa incubada. Hoje as pesquisas versam sobre cinco tipos diferentes de madeira, a influência do tamanho do barril no pro-cesso de envelhecimento e a reutilização dessa mesma madeira. A cachaça Nunes & Góes já é vendida em lojas especializadas e

redes de supermercado regionais, onde o ingresso do produto é mais barato. “Muita gente acha bom o fato de ter trabalhado com iniciação científica, teses, dissertação em função de um produto que hoje é ad-mirado no mundo todo. O público de fora da universidade vê isso com bons olhos”, explica Nunes.

Assim como em qualquer outro setor, para se dar bem no de alimentos a coisa mais importante a fazer é acreditar.

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NEGÓCIOS

A indústria tem pressa, o Brasil não pode esperar.

Opine e veja mais informações sobre o tema em: www.aindustriatempressa.com.br

A inovação é a chave da produtividade, queabre as portas para um país mais competitivo.

A inovação é fator estratégico para a competitividade da indústria

nacional, o grande motor do aumento da produtividade. É prioridade

dos nossos concorrentes globais. E se não quisermos ficar para

trás, também teremos de seguir pelo mesmo caminho, investindo

mais em inovação, cada vez mais.

• Uma indústria inovadora tem maior capacidade de geração de empregos.

• Inovar é fundamental para a conquista de novos mercados e negócios.

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_ESPECIAL

Como incubadoras de empresas e parques tecnológicos podem revelar e integrar novas áreas de desenvolvimento? Algumas das respostas para essa questão podem ser encontradas na reportagem especial de CAPA, que relata as principais conquistas e desafios do movimento de empreendedorismo inovador brasileiro nas últimas décadas. Descubra quais caminhos levaram esse movimento ao patamar de instrumento essencial ao desenvolvimento sustentável do país

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CAPA

Um movimento que transforma

Iniciado em meados da década de 1980, o movimento do empreendedorismo inovador conferiu novo perfil econômico a territórios

que abrigam incubadoras de empresas e parques tecnológicos. Baseados no

conhecimento, empreendimentos apoiados por essas instituições criam produtos e serviços

que têm na inovação seu principal diferencial. Assim, nas últimas décadas, foram geradas,

muito além de negócios, novas rotas de desenvolvimento. O desafio, agora, é fazer com que esse movimento contribua ainda mais para

gerar um Brasil maior e melhor para todos.

P O R D É B O R A H O R N E C A M I L A A U G U S T O

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CAPA

Década perdida. Assim ficou conhecido o momento em que o Brasil se encontrava há 25 anos. Marcado pela transição do modelo econômico e políti-co, mais aberto e democrático, o país via o sonho do desenvol-vimento cada vez mais distante. Com economia instável, regis-trando índices inflacionários que alcançaram os 1.000% ao ano em 1989, a desigualdade

social só aumentava. No país do futuro, o futuro era incerto.

Foi nesse cenário que a An-protec surgiu, em 1987, com a visão pioneira de que parques tecnológicos e incubadoras de empresas poderiam contribuir para a transformação do país, por meio do apoio ao surgimen-to de empreendimentos inova-dores – veja box na página 58. De lá para cá, esses mecanismos

se revelaram como instrumen-tos importantes, também, para o desenvolvimento regional. Hoje, no Brasil, existem 384 incubadoras, que apoiam 3.764 empresas e já graduaram 2.509 empreendimentos, de acordo com dados de um estudo reali-zado pela Anprotec e pelo Mi-nistério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em 2011. Esse número evoluiu muito até

Foz do Iguaçu sempre foi uma cidade com vocação turística. Localizado na fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, o município, que é famoso por abrigar as Cataratas do Iguaçu, re-gistrou grande crescimento a partir da constru-ção da Usina Hidrelétrica Itaipu. De 1970 a 1980, sua população saltou de 34 mil habitantes para cerca de 136 mil, segundo informações do Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Porém, com o término das obras, em 1984, a cidade passou a enfrentar o desafio de diversifi-car e dinamizar a sua economia, a fim de incluir, também, os trabalhadores que fixaram residên-cia no local.

Hoje, Foz do Iguaçu tem cerca de 260 mil ha-bitantes. A base de sua economia continua sendo o turismo, principalmente o setor de comércio e serviços. A Usina de Itaipu também atua, ainda, como um dos principais motores da economia local e vem incentivando a transformação da cidade em um polo tecnológico, por meio do Parque Tecnológico Itaipu (PTI), implantado em 2003.

O PTI está instalado nos antigos alojamentos dos operários que construíram a hidrelétrica e desenvolve ações de educação, pesquisa científica, tecnologia, empreendedorismo e inovação. O ambiente tem o objetivo de promover o de-senvolvimento tecnológico não só da Usina, mas da região de Foz do Iguaçu como um todo. “Acreditamos que os parques tecnológicos formam uma rede ideal para a geração de emprego e renda, a criação de produtos e processos inovadores, o desenvolvimento científico e tecnológico e a transformação econômica e social das regiões onde estão inseridos”, afir-ma o diretor-superintendente do PTI, Juan Carlos Sotuyo.

Com uma área de 116,7 hectares, o Parque abriga 50 empreendimentos, como empresas incubadas, companhias residentes no Condomínio Empresarial e prestadoras de serviço, entre outros. No PTI também estão localizadas seis insti-tuições de ensino, entre elas a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), que contou com a parceria do Parque para sua implantação.

_ROTA ALTERNATIVA EM FOZ DO IGUAÇU

Parque Tecnológico Itaipu: missão de contribuir com o desenvolvimento sustentável de Foz do Iguaçu

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CAPA

chegar ao patamar atual. Um ano após a criação da Anprotec, havia apenas duas incubadoras. Na década de 2000, já existiam 135. E, em 2005, 339.

O número de parques tec-nológicos também foi amplia-do ao longo desse período. Na década de 1980, de acordo com a Anprotec, apenas um parque estava em operação, o Parque Tecnológico da Ciatec, em Campinas (SP). No final de 2008, 25 parques já haviam iniciado suas atividades. Atu-almente, existem por volta de 90 iniciativas de parques, das quais cerca de 30 estão em operação.

Segundo dados da Associa-ção, no ano de 2007 – duas décadas depois do início do movimento – 100% dos muni-cípios com mais de 1 milhão de habitantes possuíam uma incu-badora ou parque tecnológico. Além disso, 64% das cidades com mais de 300 mil habitan-tes e menos de 1 milhão ti-nham iniciativas similares. Do total de incubadoras existentes naquele ano, 88% priorizavam o desenvolvimento regional.

Lançado neste ano, o mais recente estudo da Anprotec so-bre incubadoras de empresas no Brasil, realizado em parce-ria com o MCTI, confirma a im-portância desses mecanismos para o desenvolvimento do país. A pesquisa revelou que 38% das empresas incubadas atuam para se inserir em um Arranjo Produtivo Local (APL)de alta tecnologia. Do total de empresas apoiadas pelas

incubadoras, 98% são inova-doras, sendo que 55% dessas inovações têm alcance nacio-nal e 15%, mundial. Os 2.640 empreendimentos incubados, além de gerarem mais de 16 mil empregos, faturam R$ 533 milhões por ano. Já os gradua-dos são responsáveis pela ofer-ta de quase 30 mil postos de trabalho e têm faturamento de R$ 4,1 bilhão por ano.

Além dos números, as histó-rias de várias cidades, estados e regiões do Brasil mostram como as incubadoras e par-ques são instrumentos impor-tantes para o desenvolvimento do país e a transformação da realidade social e econômica das regiões onde estão inseri-dos.

Alguns precursoresA história do movimento de

empreendedorismo inovador brasileiro começou com ações pontuais em diferentes regiões do país, lideradas por alguns poucos visionários. Um deles vinha de Campina Grande, na Paraíba: Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, que faleceu em

janeiro de 2011. Como presi-dente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi-co e Tecnológico (CNPq), car-go que ocupou entre 1980 e 1985, ele foi responsável pelo lançamento, em 1984, das pri-meiras políticas públicas de apoio aos parques tecnológi-cos e incubadoras de empre-sas no Brasil. “Lynaldo era um

Parques tecnológicos no Brasil

Fonte: Portfolio de Parques Tecnológicos no Brasil, Anprotec, 2008

Projeto Em operação Em implantação

25 (34%)17 (23%)

32 (43%)

São Carlos (SP): sede de uma

das primeiras incubadoras

instaladas na América Latina

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homem à frente de seu tempo. Inspirado em modelos e meca-nismos que havia conhecido nos Estados Unidos e na Euro-pa, levou essa discussão para o governo, apontando parques e incubadoras como um cami-nho para o desenvolvimento”, afirma Sylvio Goulart Rosa Jr., ex-presidente da Anprotec, que conviveu com Cavalcanti. “No início, em meados da dé-cada de 1980, esse movimento gravitava em torno de poucas pessoas, instituições e iniciati-

vas. Para dar certo, era preciso agregá-las. A Anprotec nasceu dessa inspiração”, explica.

Hoje Rosa é diretor do S. Carlos Science Park, de São Carlos (SP), município que abrigou, em 1985, uma das primeiras incubadoras de em-presas da América Latina. Em 15 anos, a cidade atingiria a marca de 150 empreendi-mentos de base tecnológica, ostentando o título de “Capital da Tecnologia”. “O empreen-dedorismo inovador mudou a

geografia econômica de São Carlos,”, afirma Rosa. Entre os fatores que contribuíram para essa transformação, está a atu-ação de universidades e cen-tros de pesquisa no município. Além da Universidade de São Paulo (USP), com dois campi na cidade e a Universidade Fede-ral de São Carlos (UFSCar), São Carlos conta com dois centros da Empresa Brasileira de Pes-quisa Agropecuária (Embrapa): a Embrapa Pecuária Sudeste e o Centro Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Instru-mentação Agropecuária.

Em consequência da pre-sença dessas instituições, a cidade concentra cientistas e pesquisadores. Segundo a Prefeitura Municipal, há um pesquisador doutor (PhD) para cada 180 habitantes, enquan-to no Brasil a relação é de um doutor para cada 5.423 habi-tantes. “São Carlos hoje atrai profissionais de alta qualifica-ção e gera riqueza por meio da inovação”, afirma Rosa.

Transformação semelhante foi promovida na capital cata-rinense, Florianópolis. Atual-mente, o setor de tecnologia é o que mais contribui com impostos na cidade, sendo res-ponsável por mais de 30% do PIB municipal. Esse cenário era bem diferente no início da década de 1980, quando o mo-vimento de empreendedoris-mo inovador começou a surgir no município, um dos pionei-ros na criação de incubadoras e parques tecnológicos.

A criação da Fundação Cer-

Criada em 30 de outubro de 1987, a Anprotec teve origem em um seminário organizado no Rio de Janeiro (RJ) por entidades que já atuavam ou tinham interes-se na área de empreendedorismo e inovação. Foi uma das primeiras associações do gênero no mundo, fundada apenas dois anos depois da norte-americana Na-tional Business Incubation Association (NBIA) e três anos depois da International Association of Science Parks (IASP).

Na época, os 12 sócios-fundadores propuseram uma nomenclatura que apon-tava os grandes desafios a serem perseguidos pela entidade: ANPROTEC – Asso-ciação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas”. Em 1999, o termo “Tecnologias Avançadas” foi substituído por “Ino-vadores”, indicando um novo momento econômico vivido pelo país, que desperta-va para a necessidade de inovar para garantir competitividade no cenário global .

Hoje a Anprotec representa os interesses das incubadoras de empresas, par-ques tecnológicos e empreendimentos inovadores no Brasil. Atua por meio da pro-moção de atividades de capacitação, articulação de políticas públicas e geração e disseminação de conhecimentos. A Associação agrega cerca de 270 entidades associadas, entre incubadoras de empresas, parques tecnológicos, instituições de ensino e pesquisa, órgãos públicos e outras entidades ligadas ao empreendedo-rismo e à inovação.

Após 25 anos de atuação, a Anprotec se prepara para liderar um novo ciclo de desenvolvimento. “Em sinergia com as diretrizes e estratégias de políticas públicas governamentais e com os programas e ações propostos por agências de fomento, parceiros efetivos do movimento brasileiro, os ambientes de inovação se fortale-cem e se qualificam para ocupar novos espaços em um Brasil Maior”, afirma a presidente da Associação, Francilene Garcia.

_A SERVIÇO DO DESENVOLVIMENTO

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CAPA

ti, em 1984, foi um dos even-tos que marcou a mudança de perfil econômico da região. A instituição desenvolve solu-ções inovadoras para empre-sas e, em 1986, criou a Incuba-dora Empresarial Tecnológica, hoje chamada de Centro Em-presarial para Laboração de Tecnologias Avançadas (Celta). “Quando criamos a Fundação, estávamos focando no atendi-mento a empresas existentes, que é nossa missão principal ainda hoje. Nós atuávamos mais fora de Santa Catarina”, explica o superintendente ge-ral da Certi, Carlos Alberto Schneider.

Em 1985, no entanto, teve início um debate, dentro da própria Fundação, de que a Certi deveria criar mecanismos para desenvolver empresas locais. “Começou a haver uma

discussão, inclusive política, de que Florianópolis precisava criar empregos. Aqui não havia indústria, fora algumas gran-des empresas estatais. Foi nes-se contexto que o governo do Estado nos pediu para fazer-mos uma reflexão sobre como poderíamos fomentar empre-gos na indústria de informáti-ca”, relata Schneider.

A resposta veio, em 1986, com a criação do atual Celta, que já graduou quase 70 em-presas e hoje abriga cerca de 30 empreendimentos. “São bons números. Mas posso afir-mar que a contribuição do Cel-ta para Florianópolis foi bem maior. Nossa incubadora sem-pre tem uma fila de candidatos querendo entrar aqui. Aqueles que não conseguem uma vaga continuam com seus planos de negócios, desenvolvidos no

Schneider, da Certi: incubadoras devem ajudar cidades a encontrar soluções para seus gargalos

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Fonte: Anprotec

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SISTEMA ESTADUAL DE ENSINO SUPERIOR

Sete universidades estaduais entre as melhores do país.

Ensino gratuito e de excelência para mais de 123 mil

estudantes.

REDE PARANAENSE DE PESQUISA E INOVAÇÃO

É o Governo do Estado fomentando a geração de

conhecimento, estimulando a cultura da inovação e

contribuindo para o desenvolvimento econômico e social.

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SISTEMA ESTADUAL DE ENSINO SUPERIOR

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Ensino gratuito e de excelência para mais de 123 mil

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É o Governo do Estado fomentando a geração de

conhecimento, estimulando a cultura da inovação e

contribuindo para o desenvolvimento econômico e social.

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processo seletivo da incuba-dora. E o que vão fazer com eles? Vão começar a empresa no fundo das suas casas, vão procurar outra incubadora ou alugar uma sala. Hoje, quando o prefeito discursa, ele diz que Florianópolis tem mais de 500 empresas inovadoras. E como é que elas surgiram? Exata-mente desse jeito. O papel da incubadora vai muito além daquelas empresas incubadas que foram criadas, desde que ela esteja fazendo bem o seu papel”, destaca Schneider.

Para complementar o am-biente de promoção a empre-endimentos inovadores em Florianópolis, foi criado, em 1993, o Parque Tecnológico Alfa, onde hoje fica a incubado-ra Celta. A cidade ainda abriga o Sapiens Parque, que come-çou a ser implementado em

2005 e também é gerenciado pela Fundação Certi. “Ele não é apenas um parque tecnológico, e sim de inovação: é um mix de um parque científico – com um segmento voltado à pesquisa científica e ao desenvolvimen-to tecnológico – e de serviços. Qual é a condição que nós da-remos a empresas que querem se instalar? Elas terão que ser inovadoras e modernas”, afir-ma Schneider.

Em evoluçãoAssim como São Carlos e

Florianópolis, diversos outros municípios brasileiros muda-ram suas rotas de desenvol-vimento a partir do empre-endedorismo inovador. “Em quase meio século de operação, é visível a melhoria da compe-titividade nos territórios que se movimentam com a parceria de incubadoras de empresas, ace-leradoras de negócios, parques ou polos científicos e tecnológi-cos. Esses mecanismos de apoio à inovação contribuem de for-ma relevante para consolidar a formação de uma forte e com-petitiva indústria baseada no conhecimento, bem como para criar condições mais favorá-veis à agregação de tecnologia e inovação ao setor industrial, agrícola e de serviços já estabe-lecidos em nosso país”, afirma a presidente da Anprotec, Franci-lene Procópio Garcia.

Entre as ações que contri-buíram para o sucesso do mo-vimento, destaca-se a articula-ção institucional e política, que garantiu apoio a incubadoras

de empresas e parques tecno-lógicos. “Sem esses parceiros, o movimento não teria prospera-do com a mesma força. Quan-do começamos a Associação, a entidade tinha um projeto grandioso, mas pouquíssimos recursos. Foi a partir de 1990, quando o Sebrae tornou-se parceiro da Anprotec, que esse projeto teve condições de se consolidar”, relata Silvio Gou-lart Rosa Jr., que presidiu a As-sociação entre 1989 e 1993.

Assim, o empreendedoris-mo inovador passou de tema desconhecido a importante instrumento para o desenvol-vimento. “Com a disseminação dos primeiros resultados e be-nefícios, parques tecnológicos e incubadoras de empresas passaram a ser vistos como so-lução e ferramenta, despertan-do o interesse de instituições públicas e, mais recentemente, também privadas”, afirma o diretor executivo do Sapiens Park, José Eduardo Fiates, que presidiu a Anprotec entre 2003 e 2007. Segundo ele, esses mecanismos geraram no-vas rotas de desenvolvimento a partir do fomento a áreas e setores até então sem expres-sividade na economia regional ou nacional. “Em alguns locais, como Florianópolis, São Carlos, Campina Grande, na Paraíba, e Santa Rita do Sapucaí, em Mi-nas Gerais, por exemplo, esse processo leva a novas voca-ções econômicas. Em outros, onde a economia já era forte, como São Paulo e Rio de Janei-ro, cria uma rota alternativa de

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Francilene, da Anprotec: incubadoras e parques contribuem para a formação de uma forte e competitiva indústria baseada em conhecimento

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CAPA

desenvolvimento”, explica.

Novo cicloAlcançada a maturidade,

o movimento do empreende-dorismo inovador no Brasil se prepara para um novo ciclo de desenvolvimento. “O mo-vimento segue crescendo no país. Esse crescimento é, em parte, justificado pelo maior interesse dos governos locais na promoção de ambientes que promovam o empreende-dorismo. Recentemente, com a estabilidade econômica do país e com sua maior atratividade aos investimentos externos, a promoção do empreendedo-rismo se tornou uma via de desenvolvimento. Marcos re-gulatórios importantes, como a subvenção econômica, são ala-vancas que auxiliam na maior presença de iniciativas empre-endedoras no Brasil. Os par-ques tecnológicos atuam como fortes parceiros nesse cenário, articulando e integrando com-petências, agências de fomen-to e demandas de mercado”, afirma a presidente da Anpro-tec, Francilene Garcia.

Para José Eduardo Fiates, um dos grandes desafios do movimento está na geração de resultados cada vez mais relevantes para o crescimen-to econômico. “Precisamos tornar grandes os empreen-dimentos apoiados, de modo que eles sejam responsáveis por uma fatia importante das riquezas geradas pelo país”, afirma. Além disso, segundo Fiates, é necessário avançar

na capacitação e criação de competências dos agentes envolvidos com o movimento. “Temos que criar massa críti-ca, de modo que os conheci-mentos acumulados ao longo dessa experiência de 25 anos não se percam ao longo do tempo”, defende.

Alguns dos precursores do movimento no país também acreditam que este é um mo-mento de incubadoras e par-ques se voltarem para o futu-ro. “Eu diria que temos dois desafios. Um deles – que não é fácil – é captar empreen-dedores com propostas real-mente inovadoras. O outro é promover o desenvolvimento regional, ajudando as cidades a identificarem seus próprios desafios, a buscar soluções”, afirma Schneider, da Funda-ção Certi. Contribuir para a competitividade da economia brasileira está entre os obje-tivos elencados pelo diretor do São Carlos Science Park, Sylvio Rosa Jr. “Um passo im-portante para isso é a busca pela internacionalização das empresas criadas no movi-mento, que precisam crescer focadas no mercado externo, na inovação em nível global”, afirma.

Se há 25 anos a meta era inserir o empreendedorismo inovador na agenda do país, tudo indica que o avanço des-se movimento, agora, depende da articulação entre políticas públicas eficientes, instituições preparadas e pessoas empe-nhadas em transformar. L

Foco de atuação dasincubadoras brasileiras

Dinamização da economia local

Criação de spin-offs da pesquisa

Dinamização de um setor específico Inclusão social

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32%

16%

4%

55%28%

15%

2%

Nacional Local

Mundial Não inovam

Alcance das inovações incubadas

Fonte: Estudo, análise e proposições sobre as incubadoras de empresas no país, Anprotec e MCTI, 2012.

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CAPA

Locus > De que forma parques tecnológicos e incubadoras de empre-sas podem contribuir com a geração de novas

rotas de desenvolvimento nas regiões em que atuam? Santos > Enquanto iniciativas indutoras do empreende-

dorismo inovador, as incubadoras trazem em sua essência aspectos relevantes ao desenvolvimento do território em que se inserem. Estrategicamente, devem assumir o prota-gonismo do estímulo à inovação como resposta a oportu-nidades de mercado. Representam uma renovação original das políticas tradicionais de apoio às pequenas empresas, na medida em que elas se definem explicitamente como organizações que promovem transferência de tecnologia, por meio do incentivo ao surgimento de empresas inovado-ras originárias, em sua maioria, de universidades, institutos de tecnologia e centros de excelência para o mercado pro-dutivo. Em territórios em que o sistema local de inovação possui processo de governança estruturado, a existência de um parque tecnológico é essencial, pois incentiva a trans-formação de pesquisas básicas em aplicadas, estimula a criação de inovações de ruptura, por meio da interação en-tre o empreendedorismo, a inovação e a pesquisa. Aproxi-ma, assim, grandes empresas de micro e pequenas que lhes ofertam produtos (bens e serviços) com alto valor agregado. Portanto, incubadoras de empresas e parques tecnológicos assumem, no ambiente em que se inserem, papel funda-mental na concretização de políticas públicas de incentivo à inovação, agregando competitividade e sustentabilidade na indução de novas rotas de desenvolvimento.

Quais são os principais desafios enfrentados por ter-ritórios menos desenvolvidos para fazer com que esses mecanismos existam e contribuam, efetivamente, para o crescimento econômico e social?

Em territórios menos desenvolvidos, sob o aspecto so-cioeconômico, existem tanto deficiências quanto oportuni-dades a explorar. Nesse contexto, incubadoras de empresas e parques tecnológicos são indutores de oportunidades e

potencializadores de ações voltadas à inovação e profissio-nalização de setores difundidos nos territórios em que se inserem. O grande desafio, porém, é a sustentabilidade des-sas iniciativas devido à baixa latência de seus parques indus-triais e potenciais parceiros financiadores. A resposta está na integração de poder público, que nesses ambientes deve protagonizar o processo de desenvolvimento do território, com o capital privado enquanto beneficiário e interessado nos efetivos resultados dessas iniciativas. No Brasil, temos muito a avançar. Sempre fomos um país voltado à produção de alimentos e exploração de matérias-primas. Fortalecer e modernizar nosso parque industrial são um dos grandes desafios nacionais para o aumento de nossa competitivida-de. Os habitats de inovação devem ser um dos expoentes do desenvolvimento socioeconômico. Um grande desafio talvez seja descaracterizar o território como menos desen-volvido e caracterizá-lo como farto em oportunidades.

Em 2012, a Anprotec completa 25 anos. Quais foram, na sua opinião, as maiores conquistas do movimento do empreendedorismo inovador nesse período? E quais os principais desafios do movimento para os próximos anos?

Ao longo de 25 anos, a Anprotec teve forte influência na difusão da importância do empreendedorismo inovador no Brasil. Institucionalizou o movimento de incubadoras de empresas e parques tecnológicos, liderando o proces-so que induziu a criação de políticas públicas voltadas ao incentivo à sua criação e ao seu financiamento. Portanto, sua influência para a expansão do movimento foi tanto ex-ponencial quanto a razão de sua existência. Os grandes de-safios para os próximos anos são legitimar o modelo Cen-tro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos (Cerne) como processo fundamental à sustentabilidade e atuação das incubadoras de empresas; qualificar e apro-ximar as incubadoras de empresas e empresas incubadas do mercado, passando pela completa formação do empre-sário e pela articulação institucional com o poder público para criação de políticas que incentivem o financiamento de empreendimentos inovadores, desde sua fase de cria-ção até sua efetiva consolidação mercadológica.

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Entrevista: Carlos Alberto Santos, diretor-técnico do Sebrae

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_HABITATS

Aceleradoras surgem como um novo MECANISMO de auxílio às start-ups. As grandes empresas residentes em parques tecnológicos também cumprem seu papel de catalisadoras do desenvolvimento das PMEs, promovendo uma INTERAÇÃO benéfica para os dois lados.As incubadoras corporativas surgem com a promessa de APOIO aos empreendimentos nascentes. Em GESTÃO, descubra por que a sistematização do conhecimento ainda é pouco aplicado em ambientes inovadores. Na ACADEMIA, o desafio é garantir a autonomia dos NITs. Após mais uma missão INTERNACIONAL de sucesso, participantes analisam lições que o Brasil pode aprender com Alemanha e Estônia

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MECANISMOS

De olho em empreendimentos com potencial de crescimento rápido e ideias inovadoras, aceleradoras

ganham espaço no cenário nacional

Pé na tábua

Já existem dezenas delas nos Estados Unidos, mas no Brasil estão surgindo ago-ra: aceleradoras de empresas e progra-mas de aceleração ganham força no país. Esses novos atores de estímulo à inova-

ção nascem com a promessa de aproxi-mar empreendimentos com potencial de crescimento rápido de investidores e pos-síveis compradores. Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Recife são algu-

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P O R C A M I L A A U G U S T O

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MECANISMOS

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mas das cidades que possuem iniciativas do gênero.

O Armazém da Criatividade – criado neste ano pelo parque tecnológico Porto Digital, do Recife (PE), em parceria com a Jereissati Participações e o Instituto Ta-lento Brasil (ITB) – receberá as primeiras start-ups a partir do primeiro semestre de 2013. “O Porto Digital é um ambiente complexo. Já trabalhamos com a frente de formação de profissionais. Também temos duas incubadoras – uma de base tecnológica e outra de Economia Criati-va, além do C.E.S.A.R [Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife]. Preci-sávamos de um elemento que completas-se isso – um espaço que vai ser suprido pelo Armazém da Criatividade. Estamos sofisticando nossas estratégias de fo-mento ao empreendedorismo inovador”, afirma o diretor-presidente do Parque, Francisco Saboya.

De acordo com Saboya, o papel da ace-leradora será o de fornecer aos empreen-dimentos um contato mais direto com o investidor, algo que as incubadoras não oferecem atualmente. “Enquanto a incu-badora tradicional está mais preocupada em capacitar um empreendimento em termos de gestão e qualidade técnica, disponibilizando suporte também de in-fraestrutura, a aceleradora trabalha com start-ups que já possuem projetos atrati-vos, oferecendo uma janela para o capital de risco ou para um possível comprador”, explica.

As empresas interessadas em fazer parte do programa terão que passar por um processo seletivo. Os projetos apro-vados participarão de um ciclo de acele-ração de cinco meses, que será concluído com um evento de apresentação a inves-tidores. Os selecionados contarão, desde o início, com recursos de capital semente de até R$ 40 mil, para ajudar no início da operação do empreendimento. O financia-

mento será realizado pela Jereissati Par-ticipações.

Pós-incubaçãoIncubadoras e aceleradoras possuem

um objetivo em comum: ajudar empre-endimentos nascentes. Apesar disso, são entidades que guardam muitas diferen-ças entre si e se complementam. As in-cubadoras geralmente estão associadas a instituições públicas e recebem recursos governamentais. Já as aceleradoras são privadas e, como forma de obter recursos, adquirem participações das empresas a serem aceleradas. Em Recife, por exem-plo, apesar de o Armazém da Criatividade ter surgido como uma política pública do governo de Pernambuco, que cedeu um prédio para a aceleradora, o projeto está sendo financiado pela Jereissati Participa-ções.

Outra distinção está relacionada aos processos adotados por elas. A incubação dura em média três anos, enquanto a ace-leração, em geral, dura seis meses, no má-ximo. “Enquanto as incubadoras têm como principal proposta o valor do espaço físi-co, da infraestrutura e, algumas vezes, de certas consultorias, as aceleradoras ofere-cem principalmente know-how em gestão, acesso a mercados e relacionamento com mentores muito qualificados, geralmente

Evento marcou a assinatura do convênio entre o Porto

Digital e o governo do Estado de Pernambuco para

a criação do Armazém da Criatividade

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profissionais muito bem-sucedidos e reno-mados em suas áreas de atuação”, explica Felipe Matos, CEO da Startup Farm, ace-leradora itinerante de start-ups digitais, que oferece programas de 10 e 30 dias. A aceleradora já passou por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis.

O público-alvo também é diferenciado. “Normalmente, as incubadoras buscam apoiar pequenas empresas de acordo com alguma diretiva governamental ou regio-nal como, por exemplo, incentivar projetos de biotecnologia devido à proximidade de algum centro de pesquisa nessa área”, ex-plica Yuri Gitahy, que fundou, em 2008, a empresa Aceleradora, uma das primeiras do país. “Aceleradoras, por sua vez, são focadas em empresas que tenham o po-tencial para crescer muito rápido – não em

uma necessidade prévia. Justamente por isso, aceleradoras buscam start-ups escalá-veis, e não somente uma pequena empresa promissora”, destaca.

Essa é uma das razões que faz com que o processo de seleção de empreen-dimentos para aceleração priorize aspec-tos diferentes. “As incubadoras pedirão seu plano de negócio. Aceleradoras es-tudarão seu modelo de negócio. A verba pública que normalmente apoia as incu-badoras pede maior formalidade e trans-parência na avaliação de projetos, além da necessidade de mais critérios para avaliar um plano completo. Aceleradoras apostam somente em uma boa ideia”, ex-plica Gitahy .

A aceleração seria uma etapa poste-rior à incubação. “As aceleradoras atuam normalmente em um estágio pós-incuba-dora. Na incubadora, os empreendedores investem no início do desenvolvimento do produto e da própria equipe, ou seja, começam a ganhar alguma velocidade. É a partir desse momento que as acelerado-ras podem ajudar a aumentar essa velo-cidade de crescimento, principalmente na busca por validar um modelo de negócios com potencial de ter escala”, afirma Rafael Duton, um dos fundadores da 21212 Digi-tal Accelerator, com escritórios no Rio de Janeiro e em Nova York, e foco em negó-cios digitais.

Porém, algumas incubadoras já estão se aventurando a oferecer programas de aceleração, como a Fumsoft, de Belo Hori-zonte (MG). Este ano, ela passou a ofertar esse novo tipo de mecanismo a empre-endimentos da área de Tecnologia da In-formação. A principal novidade é que as empresas deverão seguir um projeto de aceleração, terão facilidade de acesso a investidores e receberão coaching para a elaboração do pitch (termo utilizado por investidores para definir uma apresenta-ção curta sobre a start-up).

Aceleradora itinerante Startup Farm em evento em São Paulo (acima). Na edição de Belo Horizonte, Felipe Matos (à dir.), CEO da Startup Farm, e Alex Tabor, do Peixe Urbano, que apoia start-ups que se conectam ao seu negócio

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MECANISMOS

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Histórico e liquidezAs aceleradoras são instituições novas

e ainda têm um longo caminho pela frente para demonstrar sua eficiência. Na opinião de Yuri Gitahy, da Aceleradora, os princi-pais desafios enfrentados por elas são a falta de histórico de operação, a dificulda-de de captar investimentos suficientes – já que investidores e fundos preferem eles mesmos aplicar seu capital – e a falta de liquidez das start-ups.

Um dos pontos mais importantes, se-gundo Gitahy, é o financiamento das aceleradoras, que precisam ter capital próprio suficiente ou captar aportes de investidores para manterem suas ope-rações. “A pergunta importante é: quem manterá uma operação competitiva e tra-rá resultados de médio e longo prazo?”, avalia.

Para Francisco Saboya, do Porto Digi-tal, a base do sucesso de uma acelerado-

ra está em dois fatores: conexão com o mundo empresarial, para a formação de uma rede de mentores, e acesso ao capital de risco. “Se esses dois aspectos não são

Como o empreendedor pode saber se é melhor ingressar em uma incubadora ou participar de um processo de ace-leração? Não existe uma resposta pronta, mas uma das palavras-chave é escalabilidade – ou seja, o negócio precisa ter capacidade de crescer rápido sem ter que aumentar de maneira excessiva suas despesas e equipes, por exemplo. “Se sua start-up está em busca de uma inovação radical ou de um modelo de negócios escalável e repetível, procure uma aceleradora. Se o seu modelo de negócios é baseado na economia tradicional, procure uma incubadora”, orienta Yuri Gitahy, da Aceleradora.

Incubadora Aceleradora

Tempo médio de três anos, dependendo da área Dura de um a seis meses

É baseada no modelo de consultoria Possui como base uma rede de mentores

Seu foco é capacitar empreendimentos em termos de gestão e qualidade técnica, além de oferecer infraestrutura

O objetivo é possibilitar crescimento rápido do empreendimento e aproximá-lo de investidores ou compradores

Em geral tem como base recursos públicosSão baseadas em capital privado. Adquirem partici-pações das empresas aceleradas

_INCUBADORA OU ACELERADORA?

Yuri Gitahy, da Aceleradora: seleção leva em conta

start-ups com boas ideias e potencial para

crescimento rápido

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MECANISMOS

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contemplados, não é um processo de ace-leração apropriado. Nós esperamos que a nossa parceria com a Jereissati Participa-ções possa contribuir com a rede de men-tores. Aqui no Nordeste já temos alguns fundos atuantes, além de uma empresa de participações no Porto Digital. Não é o suficiente, gostaríamos que fossem deze-nas, mas já é uma quantidade relevante”, afirma.

Na opinião de Felipe Matos, do Startup Farm, os principais desafios são selecionar bons projetos e, principalmente, empreen-dedores. “É preciso encontrar times que consigam absorver bem o processo de ace-leração e responder aos feedbacks recebi-dos com velocidade e coerência. Para esse processo ser efetivo, precisam contar com excelentes mentores, conteúdo e ferramen-tas metodológicas. Enfrenta-se também um desafio na saída, que é conseguir vender suas participações acionárias nestas em-presas, realizando o lucro sobre o investi-mento inicial”, explica.

Além disso, há os ricos inerentes aos próprios empreendimentos. “É um proble-ma que não é específico do Brasil. A mor-talidade das start-ups é grande no mundo todo. Mas já está comprovado que é pos-sível reduzir essa mortalidade através de mentoria e de fornecimento de estrutura”, afirma Anthony Eigier, um dos fundado-res da recém-inaugurada Tree Labs, que começou a operar neste ano em São Pau-lo e acelera, atualmente, seis empreendi-mentos.

O número de aceleradoras deve aumen-tar no Brasil nos próximos anos. Além das já existentes, há diversos projetos seme-lhantes pelo país. “É provável que o núme-ro aumente, principalmente por meio da expansão para outras áreas que não ape-nas o mercado digital. Nos Estados Unidos o modelo começou em 2005 e, atualmente, já são mais de 100 aceleradoras lá”, afirma Rafael Duton, da 21212.

Belo Horizonte (MG)

> Aceleradora - Foi fundada em 2008, por Yuri Gitahy, com o ob-jetivo de apoiar start-ups com gestão e capital semente. Já apoiou mais 200 start-ups com mentoring.

Rio de Janeiro (RJ)

> 21212 Digital Accelerator - Combinando no seu nome os có-digos de área de telefonia do Rio e de Nova York, a 21212 – criada no ano passado – oferece um processo de aceleração de seis meses voltado para negócios digitais. Os selecionados ganham R$ 200 mil em serviços e, em troca, a aceleradora recebe 20% do capital do empreendimento.

Recife (PE)

> Armazém da Criatividade - O projeto do Porto Digital e da Je-reissati Participações teve sua criação anunciada neste ano. O pro-cesso de aceleração das primeiras start-ups vai começar no primeiro semestre de 2013 e terá duração de cinco meses.

São Paulo (SP)

> Wayra - projeto da Telefônica implantado no Brasil desde o ano passado. Seleciona 30 start-ups para aceleração de uma semana e, depois, escolhe 10 empreendimentos para se instalar por um perío-do inicial de seis meses em um prédio chamado Academia Wayra, em São Paulo.

> Tree Labs – Inaugurada neste ano, realiza atualmente a acele-ração de seus primeiros seis empreendimentos. O processo possui duração de quatro meses. No próximo ano, receberá duas novas turmas de empresas.

Nacional

> Startup Farm – Essa aceleradora possui uma proposta diferen-te. É itinerante e realiza programas de aceleração em várias cidades do país com duração de 10 ou 30 dias. Já passou por cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis.

_CONHEÇA ALGUMAS DAS ACELERADORAS BRASILEIRAS

MECANISMOS

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INTERAÇÃO

Micro, pequenas e médias empresas, instituições de ensino e parques tecnológicos trabalham em conjunto para gerar

inovação e desenvolvimento

Ancorados na cooperação

O planejamento de um parque tecnoló-gico geralmente inclui a captação de gran-des empresas, reconhecidas pela atuação em seu setor de mercado. Ao se instalarem no parque, as chamadas empresas-âncora atraem para o seu entorno uma cadeia de outros empreendimentos, que lhes prestam suporte, por meio da terceirização de servi-ços ou mesmo de parcerias. “As grandes or-ganizações têm alguns serviços e demandas que não lhes interessa fazer dentro de sua infraestrutura. Isso permite que as menores prestem serviços às maiores. Elas entram na cadeia produtiva local e também passam a fazer parte de uma cadeia nacional ou

internacional, no caso das multinacionais”, explica o diretor de Inovação e Competitivi-dade Empresarial do Porto Digital, de Recife (PE), Guilherme Calheiros.

A experiência do Parque Científico e Tec-nológico da PUCRS (Tecnopuc), em Porto Alegre (RS), confirma essa dinâmica. Tanto a HP quanto a Dell, duas grandes organi-zações instaladas no parque, contrataram várias empresas brasileiras de TI para dar suporte às soluções produzidas no local. Na esteira da presença dessas âncoras, instalaram-se no mínimo oito empresas de médio a grande porte, na área de TI, para apoiar projetos das maiores. “O que acaba

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acontecendo é uma espécie de escadinha: a empresa-âncora toma serviços de uma em-presa média, enquanto a média toma ser-viços de uma empresa menor. Cria-se um conceito de sistema”, afirma o diretor do Tecnopuc, Roberto Moschetta.

A AirMod Engenharia, Consultoria e Serviços, instalada no Parque Tecnológico São José dos Campos (SP), já tinha passado pela experiência de estar em um ambiente inovador, quando iniciou suas atividades na incubadora tecnológica da Universidade do Vale do Paraíba (Univap). Ao decidirem pela mudança de sede, os empreendedores optaram pela instalação no parque, atraídos pela vocação na área de aeronáutica e pela presença de grandes empresas do setor. “A proximidade com as grandes possibilita inúmeras oportunidades de negócios para as pequenas empresas. A AirMod é forne-cedora do setor de Suporte ao Cliente da Embraer, mas também seria muito interes-sante fornecermos serviços para as áreas de desenvolvimento da Embraer e da Vale Soluções em Energia”, aponta o CEO da em-presa, Amaury Acatauassu.

Ele cita outra consequência gerada pela presença de grandes empresas nos parques tecnológicos: a atração de mão-de-obra es-pecializada, que é aproveitada não apenas por essas organizações, mas também por negócios locais. “São José dos Campos, devi-

do à presença do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), da Embra-er e do Instituto Nacional de Pesquisas Es-paciais (INPE), é, por vocação, o centro de excelência no setor aeronáutico e espacial. Portanto, a AirMod está localizada onde há capital humano disponível com profundos conhecimentos em aviação”, explica.

Apesar da indiscutível atração de mão--de-obra especializada para os polos tec-nológicos, a presença de grandes empre-sas pode trazer também desafios para os empreendimentos menores instalados nos parques, no que se refere a recursos hu-manos. O diretor do Porto Digital explica que isso acontece porque as empresas menores precisam competir por esses talentos com as grandes organizações, que têm uma capaci-dade maior de mobilizar recursos e atrair pro-fissionais. No entanto, ele não vê isso de ma-neira negativa. “Isso causa desconforto para as demais empresas do parque, mas também tem que ser visto como uma oportunidade. A competição por talentos eleva o nível de exi-gência das empresas menores, que precisam melhorar seus processos internos de produ-ção, gestão de pessoas e a relação com o capi-tal humano. Isso é importante para a própria dinâmica do polo tecnológico, que precisa de mudança e inovação contínuas. Se o polo tivesse apenas micro e pequenas empresas, não evoluiria na mesma velocidade”, analisa.

Calheiros ressalta que também cabe aos parques tecnológicos apoiar o desenvolvi-mento dos pequenos negócios para minimi-zar o impacto da chegada de grandes empre-sas: “No Porto Digital, oferecemos programas de capacitação para suprir a necessidade de capital humano que surge com a instalação de grandes empresas no parque”.

P&DAlém do incremento na competitividade

e das oportunidades de negócios, as micro, pequenas e médias empresas também se be-

INTERAÇÃO

Empreendedores da AirMod acreditam que a proximidade com as grandes empresas possibilita inúmeras oportunidades de negócio

Calheiros, do Porto Digital: parques devem apoiar as PMEs quando as âncoras se instalam

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neficiam da proximidade de grandes orga-nizações para formar parcerias de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. É o caso da Ambidados – Soluções em Monitoramento Ambiental, criada por pesquisadores egres-sos do Programa de Engenharia Oceânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A empresa ingressou na incubadora da Co-ppe/UFRJ em 2007 e se instalou no Parque Tecnológico do Rio neste ano. A presença da Petrobras no entorno do parque atraiu a Ambidados. “Estar perto da unidade de Pesquisa e Desenvolvimento da Petrobras e de outras empresas aqui instaladas com o mesmo perfil tornou-se um facilitador e um diferencial para a empresa. Hoje temos uma parceria importante com o Centro de Pesquisas da Petrobras”, explica a diretora da Ambidados, Wilsa Atella.

As grandes organizações também veem as oportunidades de pesquisa e desenvol-vimento como grandes atrativos de um parque tecnológico. No Tecnopuc, o centro de P&D da Dell conta com uma área para integração de projetos especiais com a universidade. “A Dell possui um grupo de parceiros tanto para fins de pesquisa e ino-vação, quanto para suporte a projetos de desenvolvimento. Vários desses parceiros residem no parque tecnológico, propician-do uma integração maior em toda a cadeia de valor”, afirma Roberto Petry, gerente sê-nior de TI da Dell e site lead para o time da Dell no Tecnopuc. Já a HP mantém par-cerias e convênios com 17 universidades e centros de pesquisas em nove estados brasileiros. “Nosso trabalho é totalmente integrado. Estamos em contato com labora-tórios e centros de pesquisa do mundo in-teiro. Este ecossistema criado no Tecnopuc, entre universidade e empresa, nos permite transformar o que há de mais criativo e ino-vador em um produto palpável, que atenda as demandas do mercado”, analisa o diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da HP Brasil, Cirano Silveira.

Os laboratórios e equipes das universida-des são um fator propulsor para a efetivação das parcerias em P&D. “Os laboratórios da PUCRS são usados também para projetos desenvolvidos com empresas. Esses projetos envolvem, de um lado, os pesquisadores e alunos da universidade, e, de outro, os pes-quisadores e técnicos das empresas. A pro-ximidade física colabora para estabelecer o diálogo”, aponta Petry, da Dell.

O diretor do Parque Tecnológico do Rio, Mauricio Guedes, afirma que os resultados dessas parcerias de desenvolvimento entre as grandes empresas e a academia benefi-ciam principalmente a sociedade, devido ao desenvolvimento de soluções tecnológicas. Ele cita como exemplo a parceria entre o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Le-opoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobras, a UFRJ e outras universidades brasileiras. “Do ponto de vista das empre-sas, essa proximidade traz benefícios que incluem o acesso a pessoal altamente qua-lificado e a laboratórios de padrão mundial, e também a novas ideias e tecnologias. O maior ativo do Parque Tecnológico do Rio é a riqueza do sistema de inovação aqui loca-lizado, com grupos acadêmicos se relacio-nando com centros de pesquisas de gran-des empresas, start-ups e empresas em fase de crescimento acelerado”, avalia.

Roberto Petry, da Dell: residência no Tecnopuc

gera integração em toda a cadeia de valor

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Cirano Silveira, da HP: convivência entre

empresa e universidade facilita o caminho entre

a ideia criativa e o produto palpável

INTERAÇÃO

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Um dos habitats de inovação mais recen-tes do país, o Parque Tecnológico da Bahia, em Salvador (BA), também se desenvolve com foco em pesquisa aplicada. “As grandes empresas foram atraídas ao parque para fins

de pesquisa, por meio das parcerias com as universidades aqui representadas. Todas as universidades públicas da Bahia vieram para o parque fazer suas pesquisas. O desenvol-vimento de novos negócios será processado

Construído no campus da UFRJ, o Parque Tecnológico do Rio, criado em 2003, fica a poucos quilômetros do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobras. Prioritariamente voltado para projetos de Pesquisa e Desenvolvimento nas áreas de petróleo e gás, o parque conta com diversas empresas-âncora do setor, como Schlum-berger, Baker Hughes, FMC Technologies e Halliburton. “A chegada de um nú-mero elevado de centros de pesquisas de grandes empresas está relacionada à vocação do Parque, à descoberta das reservas do pré-sal, que trouxe novos desafios tecnológicos para o setor, e às exigências de conteúdo local para a cadeia do petróleo”, destaca o diretor do Parque, Mauricio Guedes.

Se as empresas se beneficiam do conhecimento gerado na universidade, a comunidade acadêmica também sai ganhando. A premissa para a aceitação de qualquer empresa no Parque é a relação que será estabelecida com os grupos acadêmicos da UFRJ, por meio de contratos de cooperação. As em-presas-âncora também têm um papel relevante no custeio da operação de alguns laboratórios de grande porte da universidade. “Milhares de empregos para pesquisadores brasileiros serão gerados por essas empresas nos próxi-mos anos. Muitas unidades da UFRJ têm se beneficiado da parceria com a Petrobras, por exemplo. O binômio Petrobras-Coppe é reconhecidamente um

dos mais importantes casos de sucesso da relação universidade-empresa no Brasil. Essa cooperação tem gerado grande produção científica e contribuído para que 11 dos 12 programas de pós-graduação da Coppe tenham recebido nota seis ou sete [classificação máxima] na avaliação da Capes”, analisa Guedes.

A relação entre Coppe e UFRJ é antiga. Foi iniciada em 1977, com os primeiros estudos sobre estruturas para plata-formas offshore. Em 2001, 24 anos depois, era assinado o milésimo contrato. Até 2011, ou seja, em apenas mais uma década, outros 3 mil contratos realizados. A Petrobras, que mantém cerca de 1,8 mil funcionários no Cenpes, reconhece a relevância do parque tecnológico para as suas atividades. “Essa proximidade com os centros de pesquisas de outras empresas ligadas à área de petróleo acelera o desenvolvimento de tecnologias. A proximidade física proporciona uma troca intensa de experiências e aprendizado. Temos parcerias com boa parte das empresas instaladas no parque, das grandes organizações aos empreendimentos incubados”, relata o gerente de Relacionamento com a Comunidade de Ciência e Tecnologia do Cenpes, Luís Cláudio Sousa Costa. Segundo ele, o pioneirismo da Petrobras no desenvolvimento de tecnologias para extração de petróleo em águas profundas deve muito às parcerias com empresas, universidades e institutos de pesquisa. Um levantamento feito em 2010 apontou que, para cada funcionário da Petrobras envolvido em projetos de pesquisa, existiam outras 15 pessoas, de outras instituições, participando desses mesmos projetos. “Nosso envolvimento com a comunidade de Ciência e Tecnologia no Brasil é imenso. Chegamos aonde chegamos porque investi-mos no desenvolvimento de tecnologia”, avalia Costa.

_PARQUE DO RIO E PETROBRAS: PARCERIA HISTÓRICA GANHA NOVO FÔLEGO

Luís Cláudio Costa, do Cenpes: parceria é propulsora do desenvolvimento de novas tecnologias

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por essas empresas-âncora, que os repassa-rão às empresas menores do seu entorno”, explica o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia, Paulo Câmera.

Ganhos de imagemA presença de empresas-âncora também

impacta na imagem do parque tecnológico junto à sociedade. “Além da visibilidade que traz, revela o amadurecimento e a impor-tância do parque para o setor. Demonstra que o polo tem micro, pequenas e grandes empresas, que não atua apenas no mercado local, mas que também tem credibilidade nacional e internacional”, analisa Calheiros, do Porto Digital.

O Parque Tecnológico de São José dos

Campos também acredita na contribuição das grandes empresas para a visibilidade e credibilidade do empreendimento. “Essas empresas mobilizam recursos considerá-veis, mantêm boa interlocução com entida-des governamentais e o sistema financeiro e constituem natural foco de atração de empresas de pequeno e médio porte que se candidatam a integrar sua cadeia de supri-mentos”, pontua Horacio Aragonés Forjaz, diretor do parque. As micro e pequenas em-presas também se beneficiam da imagem positiva gerada para os parques tecnológi-cos. “O fato de estarmos no parque foi signi-ficativo para que o mercado reconhecesse a Ambidados como uma empresa de credibi-lidade”, avalia Wilsa Atella.

Um dos grandes atrativos dos parques tecnológicos para profissio-nais e empresas é intangível, porém real e efetivo: a rede de relacio-namentos que se forma nesses ambientes de pesquisa, inovação e estí-mulo ao empreendedorismo cria oportunidades de crescimento e novas ideias. “Quando está no parque, a empresa consegue achar as conexões necessárias para seu crescimento. São 5,5 mil pessoas trabalhando e, ao meio-dia, pessoas de várias empresas saem para almoçar juntas. Como no Vale do Silício, as interações das pessoas, e não só das empresas, é muito relevante. Aqui no Tecnopuc, as empresas criaram um espaço para open innovation. Elas perceberam que tinham necessidades em comum e descobriram que, se abrissem essa oportunidade, de repente encontrariam soluções melhores para todos. O ambiente propicia uma interação que é muito maior do que simplesmente o agente que estimulou o parque”, afirma Roberto Moschetta, diretor do Tecnopuc.

A experiência da Develop IT, incubada no Tecnopuc, revela muito dessa dinâmica criada pelos relacionamentos dentro do parque. Antes de criarem a empresa, os sócios prestavam serviços para o Centro de Inovação da Microsoft junto à PUCRS. Com a possibilidade de criar um novo negócio, a primeira ideia dos empreendedores foi permanecer no parque. “Quando éramos estudantes, tivemos contato com diversas empresas no Tecnopuc. Então, desde o início queríamos estar aqui. Por já termos essa aproximação, nos propusemos a entrar na incubadora”, relata Felipe Dorneles, um dos sócios. O ambiente dinâmico, com empresas de todos os portes, seria o principal valor do parque. “Essa mistura com a universidade formando profissionais para atuar nas empresas, vários programas de pesquisa, as empresas grandes dan-do a força que o parque precisa e as empresas nascentes que podem se tornar grandes, com certeza é atrativa”, afirma outro empreendedor da Develop IT, Tiago Totti.

_A EXPERIÊNCIA DO TECNOPUC

Os sócios Tiago Totti e Felipe Dorneles, da Develop IT

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INTERAÇÃO

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O outro ladoAs grandes empresas se beneficiam não

apenas da parceria com empreendimentos locais e da mão-de-obra disponível: a in-fraestrutura, o ambiente e os serviços ofe-recidos pelos parques tecnológicos criam condições favoráveis à instalação de suas unidades de negócios. A Dell, que tem pro-gramas junto à PUCRS e ao Centro de Ino-vação Microsoft, valoriza o ambiente aca-dêmico – que promove a integração com a universidade para pesquisa, inovação e for-mação de talentos. “Também há uma série de benefícios estendidos aos nossos funcio-nários junto ao Tecnopuc, como descontos em cursos de graduação e pós-graduação, acesso a estrutura de lazer, biblioteca e de-mais dependências da universidade”, apon-ta Roberto Petry, da Dell.

Os serviços de apoio ao desenvolvi-mento de negócios também são apontados como benefícios para empresas grandes e pequenas. No Porto Digital, há programas de capacitação na área técnica (linguagens de programação), em gestão empresarial e de projetos, em língua inglesa, consultorias e assessorias para a obtenção de certifica-dos de qualidade na área de software, pro-gramas de gestão e responsabilidade social e suporte ao marketing. Esses serviços são

apontados como fatores que não só atraem empresas, mas fortalecem os empreendi-mentos locais no momento da instalação de novas grandes organizações. “Também temos a incubadora, o setor de empreende-dorismo que dá suporte à geração de novos produtos e serviços. Oferecemos apoio com os laboratórios de capacitação e eventos. Os convênios de cooperação técnica e capaci-tação com universidades também são rele-vantes”, relata Guilherme Calheiros.

O diretor do Parque Tecnológico do Rio, Mauricio Guedes, entende que as perspec-tivas econômicas do Brasil e os avanços nacionais em Ciência e Tecnologia são ou-tros fatores significativos de atração para as multinacionais. A estrutura dos parques complementaria o cenário nacional: “O Parque Tecnológico do Rio oferece um am-biente vocacionado para a inovação, com excelente localização, boa qualidade urba-nística e serviços e espaços que estimulam a convivência entre milhares de pesquisa-dores. As empresas de grande porte têm contratos de concessão de uso dos terre-nos por 20 anos e constroem as suas pró-prias instalações”, ressalta.

O diretor do Tecnopuc, Roberto Mos-chetta, lembra que a dinâmica entre uni-versidades e empresas de todos os portes é o que gera crescimento, oportunidades e inovação: “A empresa-âncora tem esse poder atrativo significativo, que devemos estimular, mas o parque não vive só de empresa-âncora. Deve ser um mix entre grandes empresas, passando por toda a ca-deia produtiva, até as pequenas start-ups. Grandes empresas são fundamentais, mas fazem sentido especialmente quando estão em um ambiente onde gravitam em torno delas dezenas de outras empresas de todos os portes. Essa mistura e distribuição é o que torna o parque tão atrativo como am-biente de inovação. É o conceito da sinergia, a riqueza do ambiente que caracteriza um parque tecnológico”.

Wilsa Atella, da Ambidados: residir no parque contribuiu para a conquista de credibilidade no mercado

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Incubadoras corporativas abrem espaço para iniciativas de novos negócios, dando suporte em atividades de capacitação,

busca de recursos e administração financeira

Primeiros passos

Um negócio mais ou menos pode dar muito certo nas mãos de um empreendedor excelente, mas um negócio excelente nas mãos de um empreendedor mais ou menos, não. É assim que Matheus Meirelles, sócio da Biruta Ideias Mirabolantes, resume por que as grandes ideias dependem muito do

perfil dos empreendedores. A empresa – criada em 2003 por quatro jovens cariocas com idades entre 22 e 28 anos, com o apoio do Programa Shell Iniciativa Jovem – ofere-ce soluções inovadoras em comunicação, e faturou R$ 15 milhões no ano passado.

Foi Alan James, sócio majoritário da Bi-

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ruta, quem descobriu o Programa em 2002, quando, depois de algumas experiências, percebeu que precisava se aprimorar para estruturar um plano de negócios. Conheceu Meirelles, que na época trabalhava em uma consultoria júnior parceira do programa na orientação do planejamento financeiro dos projetos. Rafael Liporace e Romulo Grois-man, os outros dois sócios da Biruta, foram indicados por consultores.

“Se não fosse o Iniciativa Jovem não teríamos nem nos conhecido. A Biruta foi fundada em 2003 e ficou no programa até 2005. Éramos jovens e alguns de nós ainda estávamos na faculdade. O modelo era de incubadora e nos permitiu ter uma estrutu-ra adequada para que a empresa crescesse”, relembra Meirelles.

Um dos projetos mais marcantes foi também um dos primeiros desses jovens empreendedores: a construção do contador oficial do réveillon de 2004/2005 de Co-pacabana, no Rio de Janeiro (RJ) – um pai-

nel de 800 metros quadrados. “Era o maior painel eletrônico desenvolvido na América Latina até então. A Biruta na época não ti-nha chegado nem ao seu primeiro milhão, e o projeto custou R$1,5 milhão. Talvez por isso tenha marcado mais, porque foi um dos primeiros, feito em uma época em que tínhamos pouco dinheiro e pouca experiên-cia”, orgulha-se.

De start-up a incubadoraHoje a Biruta tem também sua própria in-

cubadora corporativa, a Experimental, que já ajudou no processo de aceleração de oito no-vos negócios idealizados por jovens empre-endedores. Foi estruturada em 2008, por Ja-mes, como uma maneira de retribuir para a sociedade a ajuda que recebeu do programa Iniciativa Jovem. Meirelles assumiu o novo desafio como gerente geral e conta com uma equipe de cinco pessoas que desenvolvem atividades de capacitação, busca de recur-sos, coordenação e administração financeira.

Sócios da Biruta: a Experimental, incubadora própria, foi criada para retribuir à sociedade a ajuda que receberam do programa Iniciativa Jovem

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A Experimental possui uma metodolo-gia financeira própria que é aplicada du-rante um ano e meio. São feitos testes e o modelo de negócios é desenvolvido, para avaliar o que a empresa quer fazer e o que interessa ao cliente. Depois é pensado o planejamento estratégico da empresa. “Ter uma visibilidade do negócio e um acom-panhamento da empresa evita problemas, por isso fazemos reuniões semanais ou quinzenais de acompanhamento, e mensais para avaliar resultados”, afirma Meirelles.

A proposta da Experimental é ajudar a analisar o negócio, se existe concorrência, como é o mercado, a viabilidade e a susten-tabilidade da proposta. Para isso, foi criada uma rede de mentores – pessoas experien-tes que ocupam cargos de gerência e di-retoria em várias áreas estratégicas como recursos humanos, finanças e vendas. O papel destes mentores, que em geral são pessoas com vivência prática em multina-cionais, é desenvolver um plano de ação para os problemas que são identificados na empresa, para que sejam resolvidos com ra-pidez e eficácia.

Hoje são quatro empresas incubadas: Viralata, Agência Saliva, Neotrip e Criapix. “Apostamos no empreendedor e damos su-porte para que ele tenha condições de de-senvolver as suas ideias. O empreendedor é visionário, não entende necessariamente de finanças. É importante analisar o seu perfil técnico, emocional e comportamental, mas ele também tem que ter brilho nos olhos”, conclui Meirelles.

Iniciativa JovemRodrigo Lins, gerente do programa Ini-

ciativa Jovem concorda: “o empreendedor é aquele que vai além do ponto onde os outros desistem. São visionários, sabem buscar soluções e enfrentar problemas”, explica.

Essa é a 11a edição do programa da Shell, que é executado pelo Centro Integrado de

Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (CIEDS). São três etapas que le-vam de 12 a 14 meses para serem comple-tadas. Na primeira, os participantes passam por um curso de formação de quatro meses com conteúdos de Administração, Finanças, Contabilidade e Marketing. O foco é fazer com que essas pessoas que têm perfis em-preendedores adquiram conhecimentos ne-cessários para os projetos. Nesta etapa eles aprendem a montar um plano de negócios e este plano só é aprovado depois de passar por uma banca que avalia e dá sugestões.

A segunda etapa é marcada por uma auditoria. Os projetos são agrupados por área de interesse para que sejam debatidos. Por fim, na terceira etapa os projetos que passam pela auditoria recebem um selo de sustentabilidade e viabilidade econômica, ambiental e social.

Outros programasEm julho deste ano, a Anprotec lançou

uma pesquisa, feita em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inova-ção (MCTI), que mostrou que há no Brasil

_QUE TIPO DE EMPREENDEDOR AS INCUBADORAS CORPORATIVAS PROCURAM?

Para estar na mira das apoiadoras, o empreendedor precisa:

• Conhecer o ramo de atuação e buscar sempre novas informações;• Possuir capacidade de liderar e motivar;• Correr riscos calculados;• Ser otimista, organizado e criativo;• Possuir comprometimento e determinação;• Ser persistente, não desistir e superar obstáculos;• Ser independente e autoconfiante;• Estabelecer metas;• Buscar oportunidades e tomar a iniciativa;• Acompanhar o desempenho dos concorrentes;• Planejar e realizar um monitoramento sistemático das ações.

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2.640 empresas instaladas em 384 incuba-doras. O faturamento anual das empresas incubadas é de, aproximadamente, R$ 533 milhões, enquanto o das graduadas chega a R$ 4,1 bilhões. Ao mesmo tempo em que o investimento e a experiência de empre-sas consolidadas são de vital importância para quem está começando, adquirir novos projetos, conhecer novas ideias e parceiros é estratégico para que essas empresas en-frentem a concorrência e possam fortalecer o próprio negócio.

É o caso da Buscapé Company, que pos-sui 26 empresas na holding, mas ainda precisa se preparar para enfrentar concor-rentes como Google, Amazon e eBay, que aos poucos estão chegando ao Brasil. Além disso, o espírito empreendedor na Busca-pé é forte por conta da trajetória da com-panhia, montada por estudantes que, pela sua experiência, sabem da necessidade de investimento.

“O programa ‘Sua Ideia Vale um Mi-lhão’ foi criado para incentivar o setor de e-commerce. E como investimento mes-mo, a Buscapé se torna sócia do projeto e faz de tudo para que ele dê certo. A gestão fica com o fundador da empresa e por isso procuramos por pessoas que tenham perseverança e saibam enfrentar as dificuldades”, explica Ayrton Aguiar, vice-presidente de Fusões e Aquisições da Buscapé Company.

Em 2011, primeiro ano do programa, a intenção era investir em apenas uma em-presa, mas quatro foram escolhidas entre as 800 inscritas. “Ainda é muito raro o investimento em empresas que estão co-meçando. Os investidores querem inves-tir nas que estão faturando milhões. E o Buscapé não apenas investe, como acom-panha dentro de uma parceria estratégia”, completa.

Já a Siemens trouxe para o Brasil, em 2012, o New Ventures Forum, também para identificar novos negócios ou start--ups promissoras. O programa terá duração de seis meses, período em que os projetos serão avaliados e os empreendedores capa-citados, com toda a assistência e o suporte profissional. O foco do programa nesta pri-meira edição serão projetos com soluções para energia e biocombustíveis.

Ao final, os projetos escolhidos pode-rão receber até US$ 1 milhão para o seu desenvolvimento. Entre os critérios para a escolha estão a relevância global, sinergia estratégica, grau de inovação, competência técnica da equipe, potencial do negócio e duração do projeto – que deve ter perspec-tiva de comercialização em no máximo dois anos. O investimento será feito através do Technology To Business (TTB), área de tec-nologia para negócios localizada na Califór-nia, nos Estados Unidos, que se concentra desde 1999 em ideias inovadoras fora do núcleo Siemens e atua como um fundo de investimento corporativo.

Empreendedores da Buscapé: companhia criou programa para incentivar negócios em e-commerce

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Ainda pouco aplicadas nos habitats de inovação, as ações de criação, organização, armazenamento, distribuição e aplicação de informações são fundamentais para o

aperfeiçoamento da gestão

Conhecimento gerenciado

Fomentar a inovação é um dos principais objetivos dos parques tecnológicos e incu-badoras de empresas. Essa meta contém um ponto, no entanto, que, apesar da sua impor-tância, só recentemente virou objeto de dis-cussão dentro do movimento de empreende-dorismo inovador: a Gestão do Conhecimento.

Dentro de qualquer ambiente de inovação, dezenas de empresas, reunindo centenas de profissionais, estão, a cada minuto, desenvol-vendo conhecimentos e informações. Essas organizações também trocam informações entre si e com diversas entidades externas ao ambiente onde estão. É papel da Gestão do

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Conhecimento (GC) gerenciar tudo isso, atuando na criação, organiza-ção, armazenamento, distribuição e aplicação desses conhecimentos.

A GC é um campo de estudos multidisciplinar que começou a se desenvolver por volta da década de 1990. De acordo com a Organiza-ção para a Cooperação e Desenvol-vimento Econômico (OCDE), a área envolve atividades de gestão rela-cionadas à captura, uso e compar-tilhamento de conhecimentos por organizações. Suas práticas podem

abranger desde processos simples, como a realização de reuniões semanais para incen-tivar o compartilhamento de conhecimentos, até questões mais complexas, como a elabo-ração de uma política de GC e a identificação da necessidade de elaboração de uma base de dados.

Segundo a doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento e pesquisadora da Fundação Certi, Mohana de Sá, a GC pode contribuir para que os ambientes de inovação obtenham ganhos de produtividade, por meio do registro e da padronização de processos e da redução da necessidade de retrabalho, por exemplo. “Assim, ocorre o ganho de compe-titividade desses ambientes de inovação com a adoção das práticas de GC: desenvolvendo novos produtos inovadores; identificando-se novas estratégias de desenvolvimento do pró-prio parque; produzindo e absorvendo novos conhecimentos para se gerar diferenciais de competitividade; possibilitando a atualização tecnológica; incrementando o nível de profis-sionalização da gestão do parque”, afirma.

Um exemplo simples de como a Gestão de Conhecimento pode ser aplicada em incubadoras é no registro de informações sobre as atividades desenvolvidas pela sua equipe. “As práticas de GC possibilitam que tudo fique registrado. O conhecimento não fica retido. Muitas incubadoras dependem de serviço voluntário e há uma alta rotativi-

dade de seus funcionários. Todo o conheci-mento acaba se perdendo com essas trocas, caso não sejam estabelecidas estratégias para retê-lo”, explica Andréia Antunes da Luz, autora de artigos sobre o assunto.

Isso também pode ser adotado em em-presas que residem em ambientes de inova-ção. “Há casos de projetos que foram reali-zados por empresas residentes em parques tecnológicos e entregues ao cliente final. E, depois de meses, outro cliente solicita algo similar ao que já foi desenvolvido e a empre-sa residente não possui nenhum portfólio contendo a base do projeto desenvolvido anteriormente, perdendo tempo e, conse-quentemente dinheiro, desenvolvendo tudo novamente”, exemplifica Claudia Andressa Cruz Affonso, autora da dissertação Gestão Estratégica do Conhecimento: Estudo Explo-ratório em Empresas Instaladas nos Parques Tecnológicos do Estado de São Paulo.

Teoria X práticaA Gestão do Conhecimento, no entanto,

ainda está distante da prática de muitos ambientes de inovação. Mesmo no campo acadêmico, os estudos sobre o assunto são recentes. A maioria das pesquisas sobre GC é voltada a empresas. “A partir da década de 2000 começaram a surgir, no Brasil, as primeiras publicações sobre Gestão do Conhecimento, com foco nas organizações existentes em parques ou outros ambien-tes de inovação. Já os estudos sobre a GC dos habitats em si só surgiram mais para o final da década”, afirma Roberto Pacheco, coordenador de pesquisa do Departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina (veja a entrevista na página 84).

Mohana de Sá, doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento, constatou em sua tese Avaliação de Práticas de Gestão do Co-nhecimento de Parques Tecnológicos, defen-dida em 2011, que muitos parques não de-senvolvem ações de GC. “Quanto aos parques

Andréia Antunes da Luz: a Gestão do Conhecimento preserva registros estratégicos

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brasileiros estudados em minha tese, pode-se considerar ainda incipiente a utilização das práticas de GC e descontinuidade na implan-tação delas, devido à falta de: equipe qualifi-cada; cultura e disseminação de ferramentas e metodologias de GC; recursos financeiros; infraestrutura adequada; e planejamento com visão em longo prazo”, afirma.

Apesar disso, para Mohana, os gestores de parques estão conscientes da importân-cia da Gestão do Conhecimento para esses ambientes. “É unanimidade estre os gesto-res dos parques tecnológicos a percepção da importância de se adotar as práticas de GC com vistas ao ganho de produtividade e competitividade dos atores do parque”, aponta. O ideal, na opinião dela, seria que esses ambientes possuíssem uma equipe ou departamento dedicado ao assunto. No Bra-sil, o Parque Tecnológico Itaipu (PTI) é um dos que está estruturando sua área de GC.

Falta formaçãoO pró-reitor de Extensão, Pesquisa e Ino-

vação do Instituto Federal do Paraná (IFPR), Silvestre Labiak Junior, desenvolveu em sua tese de doutorado um modelo conceitual sobre fluxos de conhecimento aplicado a Sistemas Regionais de Inovação. Para ele, ainda falta a aplicação de práticas de Ges-tão do Conhecimento em ambientes de ino-vação. “Há um despreparo muito grande acerca da GC. Isso não faz parte da forma-ção de base dos gestores de ambientes de inovação, que geralmente vêm de cursos como Engenharia e Administração”, afirma.

Labiak analisou, em seu estudo, o Siste-ma Regional de Inovação (SRI) do sudoeste do Paraná e constatou falhas que podem dificultar o fluxo de conhecimento entre os atores do sistema, como falta de comunica-ção entre eles, carência de equipamentos ou estruturas digitais de compartilhamento e armazenamento de conhecimento, lon-gos tempos de resposta e burocracia. “A GC possibilita a estruturação de métodos,

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_ANPROTEC PRETENDE CRIAR REDE DECONHECIMENTO PARA PARQUES E INCUBADORAS

A Fundação Instituto de Administração (FIA), a pedido da Anpro-tec, está desenvolvendo um projeto que tem como objetivo propor um modelo de rede de conhecimento para parques tecnológicos e incubadoras de empresas. O papel dessa rede será o de possibilitar a troca de experiências entre os ambientes de inovação no que diz respeito às suas práticas de gestão, tanto de processos administrati-vos e de negócios, como de Gestão do Conhecimento.

A pesquisa de campo foi realizada ao longo deste ano, por meio do envio de formulários pela internet. Cerca de 70 entidades partici-param. A partir desse levantamento, será possível identificar quais instituições já possuem processos estruturados de gestão. “Assim, poderemos, em uma etapa posterior, estabelecer mecanismos de aferição periódica de indicadores que mostrem ‘quem é quem’ em termos de gestão, e, dessa forma, identificar quais entidades podem colaborar com a Rede de Conhecimento, transferindo seu know-how para outras, e quais precisam receber essas informações para me-lhorar seus resultados de gestão”, explica o professor da FIA Heitor Pereira, coordenador do projeto.

O relatório final do projeto deve ser concluído em setembro deste ano. “Um dos resultados previstos será estruturar um ‘banco de co-nhecimento’, no qual será registrado o acervo das práticas de gestão e seus resultados, para que sejam facilmente acessados por qualquer associado da Anprotec interessado em compartilhar conhecimento”, afirma Pereira. De acordo com o professor, a implantação do mode-lo Cerne nas incubadoras de empresas possibilitará a criação de um ambiente propício ao compartilhamento de experiências e será um suporte fundamental para a o funcionamento da futura rede.

Uns dos principais desafios para a criação da Rede de Conhe-cimento, segundo Pereira, será mobilizar as entidades parceiras à Anprotec e fazer com que os gestores se comprometam a compar-tilhar conhecimentos. “A essência da Rede é a interação efetiva das pessoas detentoras de conhecimento, o que pode gerar de forma permanente um aprendizado coletivo, beneficiando todos. Acredi-to que se as lideranças dos parques tecnológicos e das incubado-ras, junto com a equipe da Anprotec, se alinharem com essa visão comum, haverá um salto de qualidade em pouco tempo na gestão de todas as entidades envolvidas. O resultado será o aumento dos empreendimentos inovadores no Brasil, o que estamos precisando com muita urgência, diante do contexto competitivo internacional”, destaca o professor.

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metodologias e ferramentas que auxiliam na criação, compartilhamento, socialização e reutilização de conhecimentos num SRI, potencializando a comunicação entre atores regionais”, afirma.

Já em relação às incubadoras de empre-sas, de acordo com Fabiano Raupp, professor da Universidade do Estado de Santa Catarina

(Udesc), existe uma preocupação, dentro desses ambientes, nesse sentido. “Percebe-se que há uma preocupação em gerar, difundir e, sobretudo, compartilhar conhecimentos nas incubadoras estudadas”, afirma. Raupp foi um dos autores de um estudo sobre a aplicação de práticas de GC em incubadoras. Na pesquisa, desenvolvida em 2010, foram

_“Tudo que conhecemos sobre Gestão do Conhecimento Organizacional

É na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis (SC), que a maioria das pesquisas sobre Gestão do Conhecimento está concentrada. A instituição é uma das úni-cas do país que possui um programa de pós-graduação na área. Roberto Pacheco, coorde-nador de pesquisa do Departamento de GC da universidade e pesquisador do Instituto Stela, desenvolve estudos principalmente na área de Engenharia do Conhecimento, no campo de soluções para Governo Eletrônico.

Atuou no desenvolvimento da Plataforma Lattes, do Portal da Inovação, e hoje parti-cipa da elaboração da plataforma Aquarius – ambiente com informações estratégicas de

suporte ao acompanhamento e tomada de decisão das iniciativas de CT&I, geridas principalmente pelo Ministério da Ci-ência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Instituto Stela também trabalhou no desenvolvimento do Sistema de Acompanha-mento de Parques Tecnológicos e Incubadoras (SAPI), que reúne informações sobre incubadoras e parques tecnológicos.

Locus > Qual é o conceito de Gestão do Conhecimento? E como ele se difere da Engenharia do Conhecimento?

Pacheco > Temos que começar pela definição do que é conhecimento. Na nossa atuação, o conhecimento é visto tanto como produto quanto como processo. Ele é resultan-te de uma atividade intensiva e é aplicado em uma ativi-dade intensiva. No mundo organizacional, isso significa que ele está presente na geração de produtos e soluções, como ele mesmo também é produto e solução.

A Gestão do Conhecimento é a área preocupada com o gerenciamento disso, com os processos que definem as di-retrizes organizacionais voltadas a esse produto ou proces-so. Ela está no plano estratégico organizacional, definindo a forma como a organização trata de seus processos e ativos. Um dos eixos afetados por isso é o da tecnologia. É aí que entra a Engenharia do Conhecimento, que tem como seu principal produto a construção de sistemas de conhecimen-to. Diferentemente da engenharia de software, a engenha-ria do conhecimento inicia seu trabalho identificado para

onde a organização quer ir e como é possível criar sistemas para apoiar a tomada de decisão, por exemplo. Essa é uma nova disciplina, que começou a ser desenvolvida na década de 1960. A Inteligência Artificial é a mãe dessa área.

Como esse campo de estudos se relaciona com a inovação?

Há uma definição que coloca isso muito bem. Você pode diferenciar pesquisa de inovação dessa maneira: na pesquisa, você transforma dinheiro em conhecimento; na inovação, você transforma conhecimento em dinheiro. É um processo sistêmico.

De que forma a Gestão do Conhecimento se aplica a ambientes de inovação como parques e incubadoras?

Se um parque tecnológico, por exemplo, é uma orga-nização com múltiplos atores e missões, tendo a inovação como uma de suas metas, a pergunta é: quais são os ma-croprocessos dos quais ele deve cuidar que afetam o de-

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(Entrevista: Roberto Pacheco)senvolvimento de inovação? Como é que ele faz a gestão do conhecimento produzido pelo parque e pelos atores? Como faz a diferenciação desse conhecimento frente aos seus competidores? A gestão do conhecimento pode ajudar na resolução desse tipo de questão.

Os gestores dos parques estão preocupados com isso? Há uma consciência da importância da gestão do conhe-

cimento. Mas aí começam as dificuldades naturais: para você propor soluções de mídia, engenharia e gestão do conheci-mento, você precisa ter identificado a organização, seus li-mites, seus fatores críticos. Fazer isso em um parque não é trivial. O próprio locus da gestão do conhecimento, quando é voltado a um parque, cresce em complexidade. Tudo que a gente conhece da Gestão do Conhecimento Organizacio-nal tem que ser modificado e readaptado para ser aplicado aos parques. Segundo ponto: não existe um parque igual ao outro e essa configuração de atores e missões diferenciadas gera uma grande dificuldade de comparabilidade. A Gestão do Conhecimento é uma área nova e traduzir os conhecimen-tos que temos, que ainda não estão consolidados, para o uso em ambientes como parques, que são mais complexos que as organizações em geral, exige mais trabalho.

Já existem estudos na área de Gestão do Conhecimento especificamente sobre parques e outros ambientes de ino-vação. Quando eles começaram a surgir?

Os primeiros estudos que surgiram foram sobre como é a Gestão do Conhecimento nas organizações que estão nos parques. Nós estamos falando de gestão do conhecimento no parque ou de gestão de conhecimento do parque? Sobre a

gestão de conhecimento no parque existem muitos estudos, que mostram que organizações que estão dentro de parques têm vantagens. O que é mais recente são os estudos do par-que. Um parque é condomínio ou é um sistema? A gestão do conhecimento e da inovação são uns dos fatores de diferen-ciação entre esses dois extremos.

O SAPI é uma ferramenta de Engenharia do Conheci-mento? Como ele pode auxiliar na consolidação do movi-mento de empreendedorismo inovador?

Ele tem potencial para ser um sistema de conhecimento, mas não é. Atualmente, ele é um sistema de informação es-tratégica ou analítica.

E qual é a diferença?Ele ainda não tem nenhuma semântica registrada lá.

Tem informações que são apresentadas em relatórios e da-dos. A plataforma Aquarius, que é o projeto mais recente que estamos fazendo, é um sistema de conhecimento. O governo possuía várias bases de dados e não sabia respon-der a questões como: onde é que foram parar os recursos investidos em fundos setoriais? As áreas de pesquisa que estão sendo financiadas são as que o Brasil precisa mesmo e vai precisar nos próximos anos? A Aquarius é uma plata-forma que está reunindo e integrando esses dados todos e criando painéis de conhecimento. O sistema será capaz de dizer, por exemplo, “Você sabia que x% dos convênios estão na região tal?”. Para dar aquela mensagem, ele teve que analisar trilhões de dados e dar uma semântica. Ele está muito mais perto do estratégico do que o outro, que me permite apenas fazer relatórios no Excel.

entrevistados 163 gestores de incubadoras. Os participantes do levantamento considera-ram que palestras, reuniões, encontros e dis-cussões são as formas de compartilhamento de conhecimento mais importantes.

De acordo com os especialistas entre-vistados, a tendência é que a Gestão do Conhecimento ganhe espaço nos ambientes

de inovação e nas empresas que neles re-sidem. “O fato é que a Gestão do Conheci-mento não é um modismo e está aos poucos tomando seu espaço entre os gestores. Para se diferenciar e inovar, os gestores devem incentivar e fornecer mecanismos que sub-sidiem a criação do conhecimento que le-vará à inovação”, destaca Claudia Affonso.

tem que ser modificado e readaptado para ser aplicado aos parques”

(Entrevista: Roberto Pacheco)

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Conquistar sustentabilidade financeira e qualificar recursos humanos são alguns dos principais objetivos dos Núcleos de

Inovação Tecnológica (NITs) no Brasil

Busca do equilíbrio

Quando entrou em vigor em 2004, a Lei de Inovação trouxe um grande desafio para as Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs) do país: todas elas tiveram que criar um Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), órgão que possui a finalidade de gerir suas políticas de inovação. Passados oito anos, estima-se

que existam mais de 120 NITs em ICTs, dos quais cerca de 50% estão implementados e, aproximadamente, 30% em implementação.

O desafio surgido em 2004, no entanto, continua. A maioria desses núcleos enfrenta obstáculos para se sustentar. Os problemas passam pela carência de profissionais es-pecializados para trabalhar nos NITs e pela falta de recursos contínuos. Além disso, há a questão da cultura dos pesquisadores das ICTs, que ainda não estão acostumados a lidar com inovação, e dos empresários – muitos não possuem uma postura proativa e não procuram os núcleos em busca de transferência de tecnologia ou parcerias para o desenvolvimento de soluções.

De acordo com o secretário de Desenvol-vimento Tecnológico e Inovação do Ministé-rio de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Alvaro Prata, o fato de muitos NITs ainda es-tarem em implementação está relacionado, entre outros fatores, a uma mudança cultu-ral nas ICTs. “Muitas instituições que decla-ram que seu NIT está em implementação ainda necessitam de maior reconhecimen-to interno, incluindo recursos humanos para operacionalizar as questões ligadas às competências do núcleo. Também es-tão aprendendo a rever seus processos, de

forma que possam concretizar proteções e comercializações do conhecimento”, afirma.

Sustentação financeiraAtualmente, a maioria dos NITs depende

de recursos da Financiadora de Estudos e Ilust

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Projetos (Finep), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e, no caso de alguns estados, das Fundações de Amparo à Pesquisa. Os recur-sos, no entanto, são concedidos por meio de projetos com duração limitada e muitos núcleos apresentam fragilidade em relação à sustentação financeira de suas operações. “Existe um problema desde o momento em que foram criados os NITs: o da estabilida-de. A Lei de Inovação, quando veio, obrigou todas as ICTs a terem um núcleo, mas não disse de onde viriam os recursos para isso. Então, todos os NITs do Brasil são altamen-te instáveis, pois sobrevivem com base em projetos das agências de fomento”, analisa Marcelo Portes de Albuquerque, coordena-dor do NIT Rio – rede que abrange os núcle-os de sete Unidades de Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro vinculadas ao MCTI.

A última chamada de apoio da Finep des-tinada aos NITs ocorreu em 2008. Alguns estados, como o Rio de Janeiro, o Ceará e o Pará oferecem recursos aos núcleos. Em ou-tros, no entanto, não há esse tipo de supor-te. Uma das formas encontradas pelo MCTI para distribuir os recursos de maneira mais igualitária entre os núcleos foi incentivar a formação de redes de NITs, como as do Rio de Janeiro e Nordeste. Dessa forma, os nú-cleos podem participar de chamadas para receber recursos das agências de fomento de forma conjunta, sem se tornarem con-correntes um dos outros.

De acordo com os gestores de NITs en-trevistados pela Locus, ainda é distante a possibilidade de que os núcleos consigam se autossustentar por meio de royalties re-cebidos via contratos de transferência de tecnologias patenteadas, por exemplo. Na Universidade de Brasília (UnB) – a primei-ra universidade pública a ter formalizada, através de resolução interna, a criação de um núcleo para lidar com propriedade inte-lectual – apenas 10% do orçamento do NIT é fornecido por royalties, um número que,

apesar de ainda ser tímido, é superior ao da maioria dos núcleos do país.

Na opinião de Rosângela Bentes, da Rede NIT Amazônia Ocidental, a falta de recursos é o maior empecilho para a implantação e a efetiva ope-ração dos NITs do país. “A partir do momento em que se fala que é im-portante proteger e transferir, é necessário ter recursos. Preci-samos disso para manter uma patente, por exemplo. E o or-çamento das instituições está preparado para isso? Muitas ICTs não estão. Então, para não fi-carem fora do sistema, dizem que o NIT está ‘em implementação’. Os projetos de fomento são neces-sários, mas não podem ser a única fonte de recurso”, avalia.

Recursos humanosComo dependem dos recursos advindos

de projetos – e não tem um aporte contínuo –, as equipes dos NITs são, em sua maioria, formadas por bolsistas. Esse aspecto é apon-

- Obter recursos financeiros contínuos;

- Ter quadros de profissionais qualificados para atuar nos núcleos;

- Reduzir a dependência de bolsistas;

- Criar uma cultura de inovação nas ICTs e no setor empresarial;

- Falta de linha de financiamento que facilite o depósito de patentes no exterior;

- Falta de política institucional nas ICTs;

- Falta de suporte jurídico nas ICTs para resolver as questões confli-tantes;

- Falta de entendimento universidade-empresa;

- Em relação aos pesquisadores das ICTs: incentivo ao patenteamen-to X pontuação com publicações.

_OS MAIORES DESAFIOS DOS NITs

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tado pelos gestores dos núcleos como uma das principais fragilidades do sistema. “No

caso do Museu Goeldi tem sido recorrente

a perda de bolsistas, que completam sua formação e alcan-

çam melhores posi-ções no mercado. Isto

é bom para o bolsista, e a formação de recursos humanos qualificados faz parte da nossa missão institucional, mas urge a cria-ção de um mecanismo de absorção destes profissionais para que o NIT possa efetiva-mente desempenhar seu papel”, afirma Gra-ça Ferraz, da Rede NIT Amazônia Oriental.

A falta de uma carreira específica para atuação nos NIT também é uma dificuldade. “A maior lacuna na legislação é a falta de criação de cargos e perfis de profissionais para atuarem nos NITs, que são responsá-veis por gerir a política de inovação de uma instituição científica e tecnológica. A Lei de Inovação Federal institucionalizou os NITs, porém não criou mecanismos e uma estru-tura forte para dar proteção ao desenvolvi-

mento de produtos inovadores”, explica Marcus Zanon, coor-denador regional do Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de

Tecnologia (Fortec) na Região Sul e, também, coordenador da

Rede NIT Paraná – que já capaci-tou cerca de 50 bolsistas.

De acordo com Luís Afonso Ber-múdez, diretor do CDT/UnB, já exis-tem discussões a respeito da criação

dessa carreira, mas não há nada defini-do até agora. “É uma grande luta das ICTs convencer o MEC [Ministério da Educação] e o MCTI de que é importante a criação des-sa carreira. Hoje o que existem são bolsas, iniciativas pontuais como a da UnB, em que formamos pessoal para trabalhar com isso”, afirma.

Cultura da inovaçãoOutro desafio que as ICTs enfrentam na

gestão dos NITs é o de incentivar a forma-ção de uma cultura da inovação entre os estudantes e pesquisadores das instituições e, também, no setor empresarial. Para con-seguir isso, os núcleos realizam ações de divulgação, como eventos, cursos e discipli-nas nas universidades.

A Universidade Federal da Bahia (UFBA), por exemplo, oferece disciplinas de elaboração de patentes, contratos de transferência de tecnologia e realização de prospecção tecnológica para alunos da graduação e pós-graduação. “Quere-mos fazer com que eles entendam o que vai acontecer com aquilo que estão apro-priando e evitar que tenhamos uma série de patentes na prateleira”, explica Cristina Quintella, coordenadora do NIT da UFBA. Segundo ela, a maioria dos estudantes dessas disciplinas vem de cursos da área de Ciência e Tecnologia. Além disso, a Rede NIT Nordeste, a cada ano, organiza um congresso chamado PROSPECT&I, no qual são expostos os produtos desenvolvi-dos pelas ICT.

O fator cultural é um dos maiores de-safios do NIT Rio, formado principalmente por instituições que realizam pesquisas de ciência básica. “O que temos feito ao longo desses anos são atividades de divulgação. Tentamos mostrar aos pesquisadores que patentear e publicar não são coisas incom-patíveis, além de explicar conceitos de pro-priedade intelectual. É muito comum, no ambiente acadêmico, ouvirmos os pesqui-sadores falarem que fazem inovação todo dia. Na verdade, o que eles querem dizer é que fazem invenção ou descoberta todo dia. Mas inovação, não”, afirma Marcelo de Al-buquerque, do NIT Rio.

Transferência de tecnologiaAinda é tímido o número de contratos

de transferência de tecnologias realizados

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pelas ICTs. Os dados do MCTI, com base em 2010, mostram que a gran-de maioria dos núcleos não possui esse tipo de contrato. De um total de 164 instituições, apenas 36 informa-ram possuir contratos (27 públicas e nove privadas), sendo que a maioria deles não envolve a transferência de tecnologias patenteadas.

Para o secretário do MCTI, Alva-ro Prata, o baixo número de contra-tos se deve à falta de estruturação dos NITs. “A perspectiva do contra-to de transferência de tecnologia é um estágio avançado do processo. Nem todas as instituições estão fa-miliarizadas com todas as etapas na participação da inovação, e o tem-po de assimilação para todas estas mudanças é necessário para que a negociação destas tecnologias de-senvolvidas seja realizada de forma satisfatória”, avalia.

Ainda falta, na opinião dos gesto-res de NIT, a criação de um ambiente

Instituição Científica e Tecnológica: órgão ou entidade da administração pública que tenha por missão institucional, dentre outras, executar atividades de pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico.

Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT): Núcleo ou órgão constituído por uma ou mais ICTs, com a finalidade de gerir sua política de inovação.

Quais são as competências mínimas de um NIT?

1) Zelar pela manutenção da política institucional de estímulo à proteção das criações, licenciamento, inovação e outras formas de transferência de tecnologia.

2) Avaliar e classificar os resultados decorrentes de atividades e projetos de pesquisa para o atendimento das dispo-sições da Lei de Inovação.

3) Avaliar solicitação de inventor independente para adoção de invenção, na forma da Lei de Inovação.

4) Opinar pela conveniência e promover a proteção das criações desenvolvidas na instituição.

5) Opinar quanto à conveniência de divulgação das criações desenvolvidas na instituição, passíveis de proteção intelectual.

6) Acompanhar o processamento dos pedidos e a manutenção dos títulos de propriedade intelectual da instituição.

_O QUE DIZ A LEI DA INOVAÇÃO?

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Distribuição regional dos NITs

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4

133

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Sudeste Sul

Centro-Oeste Norte

Nordeste Total

Fonte: Relatório “Política de Propriedade Intelectual das Instituições Científicas e Tecnológicas do Brasil”, MCTI, 2010.

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e de um marco regulatório que facilite a interação universidade-empresa, além de mais tempo para que os contratos exis-tentes rendam royalty. “Nós estamos fa-lando de núcleos que surgiram há poucos anos. Até hoje, o NIT da UFBA não recebe nenhum royaltie e a maioria dos núcleos da Rede NIT Nordeste também não. Nor-malmente, nesses contratos, as empresas pedem dois anos para colocar os produtos no mercado, pois eles foram desenvolvi-dos em escala de bancada”, explica Cristi-na Quintella, do NIT UFBA, que firmou 30 contratos de transferência em 2011.

Na UnB, 10% do orçamento do NIT da instituição é baseado em royalties. A uni-

versidade possui contratos de tecnologia desde que o núcleo foi criado, em 1998, mas a maioria deles não envolve tecnolo-gia patenteada, e sim segredos industriais. “A transferência via concessão de uso da patente ainda é baixa, mas, ao todo, temos cerca de 80 contratos de desenvolvimen-to”, afirma Luís Afonso Bermúdez.

De acordo com Bermúdez, o sistema de NIT ainda é muito novo e, com tempo, está progredindo. “Não é assunto fácil. Não veio de uma cultura existente, está se trans-formando. Somente no ano passado, por exemplo, conseguimos formar uma associa-ção nacional dos NIT. Com o tempo isso irá evoluir”. L

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Sem exclusividade Outras formas Com exclusividade

Privada R$ 2.464.054,97 R$ 25.076.369,12 R$ 1.544.441,09

Pública R$ 77.522.138,92 R$ 79.097.149,71 R$ 5.260.702,00

Total R$ 79.986.193,89 R$ 104.173.518,83 R$ 6.805.143,09

[[

[[

[[

[[

1,29%

40,59%41,89%

13,13%

41,42%

54,55%

0,81% 2,75% 3,56%

Recursos obtidos com contrato de transferência tecnológica/licenciamento

Fonte: Relatório “Política de Propriedade Intelectual das Instituições Científicas e Tecnológicas do Brasil”, MCTI, 2010.

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Liderada pela Anprotec, delegação com 38 membros visitou 13 ambientes e mecanismos de inovação na Alemanha e na

Estônia no primeiro semestre

Missão para o aprendizado

Criada após a Segunda Guerra Mundial, em 1949, a Sociedade Fraunhofer nasceu com o objetivo de dar o suporte científico e tecnológico necessário à reconstrução da Alemanha. Hoje, ela é uma das maiores ins-tituições de pesquisa aplicada da Europa, reunindo mais de 60 unidades.

A Sociedade Fraunhofer está sendo o prin-cipal modelo seguido pelo Brasil na estrutu-ração da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e foi um dos destaques da Missão Técnica Internacional Alemanha-Estônia, promovida pela Anprotec entre 10 e 21 de junho deste ano. A viagem contou com 38 participantes e incluiu visitas a 13 ambientes e mecanismos de inovação

na Alemanha e na Estônia – onde ocorreu a 29ª Conferência Mundial da Associação In-ternacional de Parques Tecnológicos (IASP, na sigla em inglês) – ver box.

Na Alemanha, a Missão ficou concentra-da nas cidades de Munique, localizada na região da Bavária, e na capital Berlim. Foram visitadas instituições como o Munich Tech-nology Center, o BioM Biotech Cluster Deve-lopment, o BMW Technology Center e o IPK Berlin Fraunhofer Institute, dentre outras.

A região da Bavária possui mais de 50 incubadoras, que apoiam 600 empesas, res-ponsáveis pela geração de cerca de 5 mil empregos. Munique é sede de oito das 30 maiores empresas da Alemanha. A cidade

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INTERNACIONAL

P O R C A M I L A A U G U S T O

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INTERNACIONAL

_BRASIL TEVE MAIOR DELEGAÇÃO NA CONFERÊNCIA DA IASP

O Brasil foi o país com a maior delegação na 29ª Conferência Mun-dial da IASP, com 52 representantes. Vários integrantes da missão participaram do evento, que teve como tema “Servindo as empresas e as comunidades inovadoras”. A conferência, que ocorreu em Tallin, capital da Estônia, marcou o término do mandato do primeiro presi-dente brasileiro da IASP, Mauricio Guedes, que concluiu um período de gestão de dois anos. A próxima edição da conferência, em 2013, acontecerá em Recife (PE) e será realizada em conjunto com o XXIII Se-minário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas.

possui forte atuação na área de Biotecnolo-gia, e é sede do cluster BioM Biotech Clus-ter Development.

Já Berlim é sede da mais antiga incu-badora da Alemanha e também abriga o principal parque tecnológico do país: o Ad-lershof. A cidade possui, no total, 17 incu-badoras, quatro parques tecnológicos e três pré-incubadoras. No município também existem 50 institutos de pesquisa, dos quais seis são Institutos Fraunhofer e quatro Ins-titutos Max Planck.

Plano nacionalMembro do Conselho Administrativo do

Sebrae de São Paulo, Sylvio Goulart Rosa Jr., que também é presidente da Fundação do Parque Tecnológico São Carlos (ParqTec), considerou a integração entre as institui-ções o destaque do sistema de inovação alemão. “O país possui um plano nacional de integração do sistema de Ciência & Tec-nologia com o sistema produtivo. É tudo fei-to com planejamento em longo prazo. Ain-da não temos esse tipo de ação no Brasil”, afirma. “Nós, do Sebrae, estamos na ponta, apoiando as micro e pequenas empresas, e sentimos falta de um arcabouço maior, que articule as entidades, defina objetivos e que tenha continuidade, independente de mu-danças no governo”, argumenta.

Essa integração também foi observada pelo diretor da Empresa Municipal Parque Tecnológico de Sorocaba (EMPST), Carlos Alberto Costa. “Pudemos perceber que na Alemanha, as empresas, sejam grandes ou pequenas, se interrelacionam com as insti-tuições de ensino com mais facilidade. Situ-ação bem diversa da enfrentada no Brasil, onde a legislação impede este relaciona-mento de forma mais flexível”, analisa.

De acordo com a presidente da Anpro-tec, Francilene Garcia, a parceria entre os diferentes atores do sistema da Alemanha possibilita que os ambientes de inovação se desenvolvam de maneira mais rápida. “A pactuação entre governo, investidores privados e a sociedade assegura a presen-ça permanente de investimentos públicos e privados nos ambientes de inovação, a exemplo dos Parques Tecnológicos, que se consolidam e crescem em ciclos de tempo bem menores que os nossos”, afirma.

Outro destaque da Missão foram as unida-des da Sociedade Fraunhofer. Um dos centros visitados foi o IPK Berlin Fraunhofer Institute, que possui 517 colaboradores e orçamento de € 24,7 milhões. Com uma média de dois pedidos de patente por dia de trabalho, o IPK, todos os anos, firma cerca de quatro mil con-tratos com empresas. Fundado em 1986, o instituto desenvolveu uma metodologia para mensuração do capital intelectual de peque-nas e médias empresas, adotada em várias companhias do mundo (ver box).

O orçamento anual para pesquisa da Sociedade Fraunhofer é de cerca de € 1,8 bilhão, sendo que cerca de € 1,5 bilhão é proveniente de pesquisas encomendadas. Dois terços do valor dos projetos são fi-nanciados por contratos com a indústria e por projetos de pesquisa de verba pública. O restante é fornecido pelo governo, como financiamento institucional.

Os institutos são vinculados a universi-dades e servem como ponte entre elas e a indústria. O modelo está servindo de exem-

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Obrigado a todos os participantes, organizadores locais, patrocinadores e apoiadores do maior evento de parques tecnológicos e incubadoras de empresas

da América Latina.

www.seminarionacional.com.br

Realização: Patrocínio:

Apoio Institucional:

Organização Local:

Diamante

Ouro Prata Cobre

Platina

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Obrigado a todos os participantes, organizadores locais, patrocinadores e apoiadores do maior evento de parques tecnológicos e incubadoras de empresas

da América Latina.

www.seminarionacional.com.br

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_MÉTODO DE GESTÃO DO CAPITAL INTELECTUAL DA FRAUNHOFER IPK É TEMA DE MINICURSO NO SEMINÁRIO

O pesquisador Markus Will, do Fraunhofer IPK, ministrará um minicurso sobre o método de Gestão do Capital Intelectual, desen-volvido pelo instituto, durante o XXII Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas e XX Workshop Anprotec. O evento acontecerá em Foz do Iguaçu (PR), entre os dias 17 e 21 de setembro de 2012. O método, chamado “Intellectual Capital State-ment”, é desenvolvido por meio de workshops, durante os quais os participantes precisam responder a uma série de perguntas sobre suas organizações. Os dados são colocados em um software, que, depois, gera um mapa. A ferramenta é capaz de mensurar aspectos intangíveis das organizações.

De acordo com Will, até agora, cerca de mil “Intellectual Capital Statements” estão sendo implementados na Alemanha e em todo o continente europeu, com foco nas pequenas e médias empresas. Mas grandes empresas alemãs como Volkswagen e EnbW também adota-ram o método. “A partir dessa experiência, nós também desenvolve-mos vários projetos para Parques Tecnológicos, clusters e ambientes de inovação em países como Vietnã, Dubai, Egito, Indonésia, entre outros - com abordagem especial para parques tecnológicos”, explica Will. O minicurso, intitulado “Gestão do capital intelectual como indu-tor da inovação”, será realizado no dia 17 de setembro.

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plo para a estruturação da Embrapii e foi considerado o destaque da organização pe-los participantes da Missão. “Ele possuem um modelo que deveria ser adotado urgen-temente nos institutos de pesquisa brasilei-ros. Lá, o pesquisador tem que buscar um problema no setor produtivo para resolver. O modelo de financiamento compartilhado gera uma grande eficiência”, afirma Sylvio Goulart Rosa Jr.

EstôniaSituada na Costa Oriental do Mar Báltico,

a Estônia tornou-se independente da União Soviética em 1991. Com um território me-nor que o da Alemanha e população de cer-ca de 1,3 milhão de pessoas, o país faz parte da União Europeia desde 2004 e, no Global

Innovation Index 2012, já aparece em 19º lugar, em uma lista de 141 países. O Brasil está em 58º. O sistema de inovação esto-niano tem como foco, principalmente, os setores de Telecomunicações e Eletrônicos. O famoso Skype – serviço de telefonia via IP – foi criado por desenvolvedores do país.

De acordo com o economista do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), Felipe Maciel, o desenho atual do sistema de inovação da Estônia co-meçou a ser criado no início da década de 1990. “Até então, a Estônia fazia parte da União Soviética e a alocação dos recursos era centralizada no governo soviético. A pesquisa era muito centrada nas universi-dades e era pouco orientada para o desen-volvimento de tecnologias”, explica. Após o fim da União Soviética, segundo ele, a Estônia orientou-se para uma economia de mercado aberta e desregulamentada e seu sistema de inovação tem alcançado bons resultados.

Para Maciel, o Brasil possui caracterís-ticas parecidas com as da Estônia do início da década de 1990. “Temos em comum a pesquisa centrada em universidades e voltada mais para a ciência do que para o desenvolvimento de tecnologias. A mudan-ça dessa característica está contemplada na Política de Inovação do Bndes, que tem entre seus objetivos elevar a proporção de pesquisa e desenvolvimento realizada den-tro das empresas, local da inovação por ex-celência”, afirma.

Para Audy, da Anprotec, os modelos de instituições dos sistemas de inovação da Alemanha e da Estônia podem servir de ins-piração para as experiências que estão sen-do adotadas no Brasil. “Cabe a nós, a partir de nossa realidade social, cultural e econô-mica, cientes das boas experiências inter-nacionais, construirmos modelos locais de sucesso, que reflitam nossa realidade, com a visão no mundo, mas com forte ação local, junto a nossas comunidades”, afirma.

INTERNACIONAL

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_SAIDEIRA

Para todos os gostos: quatro opções de filmes para divertir, relaxar e refletir. Em Porto Alegre, uma retrospectiva histórica apresenta obras criadas pelo artista carioca Waltercio Caldas. Já em São Paulo, uma oportunidade imperdível de descobrir o talento da mineira Lygia Clark. Tudo isso é CULTURA. E Mauricio Guedes encerra a edição especial da Locus rememorando a trajetória de 25 anos da Anprotec: OPINIÃO de um dos precursores do movimento

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Uma visão do poder

P O R B R U N O M O R E S C H I

O filme O Exercício do Poder surpreende já nas suas primeiras cenas. Em um sonho, o protago-nista do filme vê sua mulher sendo engolida por um crocodilo. A cena acontece no seu espaço de

trabalho. E não é um trabalho qualquer. Bertrand Saint Jean, interpretado de maneira brilhante por Olivier Gourmet, é Ministro do Transporte da França – um cargo que, assim como no Brasil, significa coordenar um setor do governo com um dos maiores orçamentos do país.

Olivier Gourmet enfrenta uma série de problemas ao longo do filme. Entre eles, um acidente com um ônibus que vitimou dezenas de crianças e uma provável privatização das estações ferroviárias na França. Essa é, digamos assim, as questões macros que o filme apresenta ao público. Além disso, há um lado mais intimista , como sua relação com seu motorista e com um de seus principais assessores. E esse é o grande trunfo do longa: revelar o que é estar no poder, sem esquecer que os poderosos têm problemas comuns a qualquer outro ser humano.

Muitas das cenas de O Exercício do Po-der revelam uma das características mais emblemáticas do cenário político global. Grande parte das decisões é, na verdade, tomada a partir de critérios exclusivamen-te marqueteiros e eleitorais. Pouco impor-ta ajudar a população em uma crise tão se-vera quanto a que os europeus vivenciam. O importante, mesmo, é que a equipe de governo recupere os cinco pontos perdi-dos nas pesquisas de avaliação do presi-dente. E, é claro, isso não vale apenas para a França. Vale para o mundo todo.O exercício do poder. (França, 2011, 115 minutos. Dirigido por Pierre Schöller. Com Oliver Gourmet, Michel Blanc, Zabou Breitman e Laurent Stocker).Nos cinemas e em DVD.

CULTURA

Sempre Darin

Há uma piada que costuma irritar os argentinos: a de que todos os filmes argentinos atuais têm no elenco o ator Ricardo Darin. No fundo, é uma brincadeira com a melhor das intenções. Darin é, sem sombra de dúvida, um ator brilhante, capaz de tornar um filme médio um grande pequeno filme. É o caso de Um Conto Chinês, história sobre um típico portenho que precisa abrigar um chinês fala de um tema universal: a nacionalidade. As cenas de Darin como um homem mal humorado são hilárias.Um Conto Chinês (2011, Argentina). Direção de Ignacio Huang. Com Ricardo Darin. Nos cinemas e em DVD.

Um grande diretor

Trata-se de um box de DVDs que merece estar na pra-teleira de qualquer pessoa que gosta de cinema. Stanley Kubrick é considerado um dos melhores diretores nor-te-americanos. Quem não se lembra da cena inicial de 2001, Uma Odisséia no Espaço? Se você não conhece os trabalhos de Kubrick, não perca tempo. A caixa contém oito filmes do diretor. Entre eles, De Olhos Bem Fecha-dos, O Iluminado, Laranja Mecânica e Nascido para Ma-tar. Há também um interessante documentário que per-mite entender um pouco a brilhante mente desse mestre.Stanley Kubrick Collection. Filmes dirigidos por Stanley Kubrick. Em DVD.

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CULTURA

Imperativo

Ouça o CD homenagem a Caetano Veloso (A Tribute to Caetano Veloso). Intérpretes como Marcelo Came-lo e o norte-americano Beck regravam canções conhecidas do artista que até hoje é um dos principais nomes da música popular brasileira.

Leia O Estrategista (Sextante, 208 páginas), da escritora Cynthia Montgomery. A autora é professora da Harvard Business School e discute estratégias para vencer a concorrência e transformar sua empresa em um negócio atua-lizado com o novo tempo em que vivemos.

Assista ao filme My Way: o mito além da música, do diretor Florent-Emilio Siri. A produção conta a história do ídolo da música francesa dos anos 60 e 70, Claude François. Ele foi coautor da música My Way, mundialmente conhecida na voz de Frank Sinatra.

Retrospectiva histórica

Outra exposição que merece uma visita acontece em Porto Alegre, mais especialmente na Fundação Iberê Camargo, um

dos prédios culturais brasileiros mais interessantes sob o ponto de vista da arquitetura. O ar mais próximo... e outros ensaios é uma expo-sição que apresenta obras criadas nas últimas quatro décadas pelo artis-ta carioca Waltercio Caldas. A mostra é o resultado de um levantamento completo de sua carreira realizado pela Fundação Iberê Camargo e o Blaton Museum of Art, de Austin, Texas. Depois de ser exibida em Porto Alegre, a exposição irá para a Pinacoteca do Estado de São Paulo e, em seguida, para os Estados Unidos.Fundação Iberê Camargo (av. Padre Cacique, 2000, Porto Alegre, RS, tel. (51) 3247-8000). Quando: De 1/9 a 18/11. De 3a a dom., das 12h às 19h. 5a, das 12h às 21h. Grátis.

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O mundo de Clark

Muito por causa da Bienal de São Paulo, a capital pau-lista está repleta de exposições de arte imperdíveis. Um dos destaque é a mostra Lygia Clark: uma retrospectiva. São cerca de 150 obras da artista mineira que nasceu em 1920 e viveu até 1988. Ao lado de Helio Oiticica, ela foi um dos principais representantes de sua geração e até hoje é um nome bastante estudado nas artes brasileiras. O número e a qualidade das obras expostas da artista im-pressionam. Entre elas estão pinturas, esculturas, experi-ências interativas, além de réplicas da serie Bichos que po-dem ser manipulados pelo público. Como se não bastasse, estão ali alguns projetos nunca antes executados.

Itaú Cultural (av. Paulista, 149, São Paulo, SP, tel. (11) 2168-1776) Quando: até 11/11. De 3a a 6a , das 9h às 20h. Sab. e dom., das 11h às 20h. Grátis.

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OPINIÃO

Queridos Adelino e Telmo,

Já se passaram 25 anos daquele seminário no Bndes, onde reunimos 400 pessoas num

tal Seminário Internacional sobre Parques Tecnológicos. Não tinha número na frente porque

não sabíamos se haveria um segundo. A Anprotec acabava de ser criada, na carona da

pesquisa que nós na Coppe e o pessoal do Pacto/USP realizamos para a Finep e OEA. Foi um

super evento, com estrelas de várias partes do mundo e figuras carismáticas, pioneiros do

nosso movimento, como Milton Ferreira de Souza, de São Carlos, e Paulinho Toledo, prefeito de Santa Rita

de Sapucaí.

De lá prá cá a Anprotec cresceu, e muito, principalmente no campo das incubadoras de empresas. Temos

hoje quase 400 projetos no Brasil e somos um dos países com o maior número de incubadoras do mundo.

Compensa com folga a perda do “maior estádio de futebol do mundo”. Acreditem, o Maracanã foi demolido.

Nas incubadoras brasileiras nasceram mais de 5 mil empresas, que faturaram R$ 5 bilhões no ano

passado e empregam hoje 45 mil pessoas. Quem diria que chegaríamos tão longe?

Criamos dois troféus para premiar a cada ano os melhores parques e incubadoras. E os troféus se cha-

mam José Adelino Medeiros e Telmo Araújo. Assim mesmo, com nome e sobrenome. Vocês merecem! Na

próxima vez que encontrarem o Christiano, contem que ele virou instituto: Instituto Christiano Becker de

Estudos sobre Desenvolvimento, Empreendedorismo e Inovação. Também merecido.

O Brasil também mudou, e pra melhor. Um cara chamado Jim O´Neill, de um bancão internacional,

inventou um tal de Brics, uma espécie de novo continente, formado pelos “países do futuro”. O B é de Brasil,

e parece que, pelo menos para nós, o futuro chegou, finalmente!

A economia faz tempo que anda bem e não se fala mais em dívida externa, nem em inflação. Depois de

FH, o Lula foi eleito duas vezes e agora temos uma mulher como presidente - Dilma Rousseff, que Adelino

não chegou a conhecer. Tá mandando bem na economia e no social e tem alto nível de aprovação.

O governo fala muito em inovação e trocou até o nome do Ministério, que agora se chama da Ciência,

Tecnologia e Inovação. E o Raupp é o Ministro! Pena que o orçamento não acompanha o discurso.

Crescemos muito na produção científica e somos hoje o 13o colocado no ranking mundial de artigos pu-

blicados. Infelizmente ainda estamos devendo, e muito, na transformação desse conhecimento em riqueza

para os brasileiros.

A cultura também mudou. Em todo o país a sociedade, e especialmente os jovens, valorizam a pequena

empresa. Grande vitória do Sebrae, que poucos acreditam que se escrevia com “C” - Cebrae.

O Bndes tem mais dinheiro que o Banco Mundial e aumentou os investimentos em inovação, mas ainda

não está apostando em nossos parques tecnológicos como elementos estratégicos da infraestrutura indus-

trial do Século 21. Acho que não vai demorar.

Continuem torcendo e mandem um super abraço pro Lynaldo, que deu a deixa no CNPq pra que tudo

isso começasse.

Do amigo saudoso,

Mauricio

P.S. Telmo, esqueci de dizer, a Francilene agora é presidente da Anprotec.

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M a u r i c i o G u e d e s é Diretor do Parque Tecnológico da UFR J e ex-presidente da Anprotec

O Ciência sem Fronteiras (CsF) é um programa do governo Federal que busca promover a expansão e a consolidação da ciência, tecnologia e inovação no Brasil por meio da cooperação e da mobilidade internacional. A intenção é aumentar a presença de estudantes e pesquisadores brasileiros em instituições de excelência no exterior e oferecer oportunidades semelhantes aos estrangeiros nas instituições nacionais. Além disso, atrair jovens talentosos e líderes científicos do exterior para trabalhar no país, em parceria com cientistas brasileiros.

INFORME-SE:http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/

Um programa especial de mobilidadeem Ciência, Tecnologia e Inovação

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O Ciência sem Fronteiras (CsF) é um programa do governo Federal que busca promover a expansão e a consolidação da ciência, tecnologia e inovação no Brasil por meio da cooperação e da mobilidade internacional. A intenção é aumentar a presença de estudantes e pesquisadores brasileiros em instituições de excelência no exterior e oferecer oportunidades semelhantes aos estrangeiros nas instituições nacionais. Além disso, atrair jovens talentosos e líderes científicos do exterior para trabalhar no país, em parceria com cientistas brasileiros.

INFORME-SE:http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/

Um programa especial de mobilidadeem Ciência, Tecnologia e Inovação

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Empreendedorismo e inovação para transformar o Brasil

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