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LEEPPLIVRARIA ESPÍRITA EDIÇÕES “PEDRO E PAULO”

JORNAL DA MEDIUNIDADE

UBERABA-MG – INFORMATIVO JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO – ANO 2011 – N.º 26

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Confirmando as previsões mais otimistas, o ano de 2010, sem dúvida, foi o ano do Espiritismo no Brasil. Dificilmente, haveremos de ter, no campo da divulgação doutrinária, tantas oportunidades que surgiram na esteira das comemorações do Centenário de Nascimento de Chico Xavier. No que pese as limitações com que se apresentaram nas telas do Cinema, "Chico Xavier - o Filme" e "Nosso Lar - o Filme" alcançaram os objetivos com que foram produz idos, ensejando que, pela primeira vez, o livro "Nosso Lar" figurasse na lista dos mais vendidos no país, e se firmasse como grande best-seller.

À exceção, talvez, de 1971, quando da participação de Chico Xavier nos célebres programas "Pinga-Fogo", levados ao ar pela extinta TV Tupi, de São Paulo, nunca o Espiritismo tanto frequentou, graciosamente, os mais diversos veículos de comunicação, e, consequentemente, motivou os próprios espíritas a mais bem conhecê-lo.

As próprias Federações que se mostravam um tanto tardias e pachorrentas no que tange à difusão de nossos Princípios, mormente com ênfase às obras da lavra mediúnica de Chico, procuraram dinamizar-se e

2010algo fizeram, além do habitual, com destaque para a Federação Espírita Bras i le i ra , que, em Brasí l ia , promoveu, embora alguns senões de natureza doutrinária, o Congresso do Centenário.

Portanto, se o ano de 2010 foi excelente para o Espiritismo, falta-nos analisar se, individualmente, ele o foi igualmente para cada um de nós, no que se refere à sua aplicação em nossa vida cotidiana. Teremos conseguido ser mais fraternos e tolerantes uns para com os outros? Respeitamos um pouco mais a l i be rdade de expressão dos companheiros, sem rotulá-los de alienados, quando o seu modo de entender as coisas colide com o nosso? Conseguimos ser mais transparentes em nossas atitudes, sem fazer o jogo do poder e da subserviência calculada, movidos por interesses exclusivamente pessoais?

Convém, sim, que façamos semelhante análise, pois é possível que, tendo sido excelente para o Esp i r i t i smo, 2010 não tenha colaborado para que saíssemos da mesmice, dilatando os horizontes de nossa compreensão à frente da Vida, que, com o vertiginoso progresso que a Ciência vem alcançando, há de se nos mos t ra r cada vez ma is surpreendente.

UM BALANÇO NECESSÁRIO

COMUNICADOComunicamos que, a partir do próximo número, a fim de diminuir gastos com impressão e postagem, o "Jornal da Mediunidade" terá a sua tiragem reduzida, passando a ser

enviado aos interessados através da Internet. Solicitamos aos que desejam continuar a recebê-lo que se cadastrem no

e-mail: jmediunidade@terra.com.br

No dia 20 de dezembro de 2010, a Casa de Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, o Serviço Editorial Vinha de Luz e o Centro Espírita Meimei, com o apoio da Aliança Municipal Espírita de Pedro Leopoldo, das instituições espíritas em nossa cidade e da Câmara Municipal, promoveram um encerramento simbólico do Centenário de Nascimento de Francisco Cândido Xavier. Justas homenagens a esse fiel discípulo que demonstrou, durante 92 anos, em pensamentos, palavras e ações, a sua fidelidade integral a Jesus.

Nessa mesma noite, a Câmara Municipal de Pedro Leopoldo, através dos vereadores Reginaldo Alves Saraiva e Paulo Ferreira Pinto, concedeu a Geraldo Lemos Neto o título de cidadão pedroleopoldense.

Sinceramente, temos que reconhecer o belíssimo trabalho que o companheiro Geraldinho vem desenvolvendo na região. Além dos trabalhos no Centro Espírita Luz, Amor e Caridade, na cidade de Belo Horizonte, ele também realiza um bonito trabalho em Pedro Leopoldo, seguindo os passos de Chico Xavier, através do Grupo Veneranda, onde juntamente com outros amigos, desenvolve, mensalmente, um trabalho de assistência material e espiritual nos distritos de Vera Cruz e Fidalgo.

E, todos os domingos, na Casa de Chico Xavier, realiza um Culto do Evangelho no Lar, nos moldes que o Chico realizava quando ainda morava em Pedro Leopoldo.

Através do Serviço Editorial Vinha de Luz, vem divulgando psicografias inéditas, muitas delas quando o Chico ainda estava em Pedro Leopoldo. Ainda, nessa mesma noite, foram lançados mais dois livros : "Luz na Escola", sob a organização de Flávio Mussa Tavares, filho de Clóvis Tavares, e "Colheita do Bem", sob a organização de Wanda Amorim Joviano, filha do Dr. Rômulo Joviano.

Jhon Harley

Geraldo Lemos Neto,Cidadão pedroleopoldense

FILHOS DIFÍCEIS

Página 2 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇOJORNAL DA MEDIUNIDADE

Maria Cristina Baracat

Márcia Queiroz Silva Baccelli

Diante da escuridão, o homem atravessa os píncaros mais elevados do sofrimento.

A provação é inesperada, alcançando o seu coração, intensificando o seu interior de miasmas postulentos, impedindo-o de prosseguir.

Entretanto, uma pequena luz adentra o seu interior e eleva o seu ser...

Ele diz para si mesmo que é necessário prosseguir intimorato e resoluto, no afã de conseguir o bem...

Ele trabalha e serve, estuda e edifica o seu íntimo, buscando o que tem de melhor.

As trevas corrompem, mas a luz acende o coração, fertilizando a alma de bênçãos espirituais.

Deus está no âmago de cada viajor que permeia os vales doloridos da aflição, ofertando-lhe as bênçãos de renovação.

O vento das dificuldades purifica o ar repleto de bênçãos, impregnando a vida de alegria e de paz.

Se escorregar no labirinto da incerteza, levante e espere, que tudo se modifica para o Eterno Bem.

A dor, a incerteza e a aflição se renovam diante da necessidade de transformação.

A crisálida pequenina se altera para a grande metamorfose da borboleta, que alça voo redentor.

Porém, permaneça, em todos os tempos, resoluto na necessidade de encontrar a luz clarificadora dos caminhos...

Pouco a pouco, reconsidere os fantasmas da provação e, prosseguindo, divise a luz que eleva o seu coração para as zonas Mais Altas.

Nós somos de Deus... Ele é o fermento que dá existência ao nosso ser, modificando os paradigmas do tempo e alterando o nosso coração, para a Grande Luz do porvir!...

A Grande Luz

Thiago Silva Baccelli

A q u e s t ã o 1 9 0 d a o b r a " O CONSOLADOR" - Espírito: Emmanuel, médium: Francisco Cândido Xavier — "Quando os filhos são rebeldes e incorrigíveis, impermeáveis a todos os processos educativos, como devem proceder aos pais?" — "Depois de movimentar todos os processos de amor e de energia no trabalho de orientação educativa dos filhos, é justo que os responsáveis pelo instituto familiar, sem descontinuidade da dedicação e do sacrifício, esperem a manifestação da Providência Divina para o esclarecimento dos filhos incorrigíveis, compreendendo que essa manifestação deve chegar através de dores e de provas acerbas, de modo a semear-lhes, com êxito, o campo da compreensão e do sentimento."

Compreendemos a dificuldade que muitos pais têm em aceitar a rebeldia dos filhos às suas sinceras advertências e admoestações, que visam apenas o melhor aos mesmos.

Realmente, não é tarefa simples observar os filhos que se encaminham, a passos la rgos , em d i reção aos des f i l ade i ros da l oucu ra ou da criminalidade!

Como também não é fácil constatar que todas as intervenções empreendidas não estão dando resultado, no sentido de demovê-los do caminho da dor e do sofrimento numa amplitude ainda maior.

Sabemos que alguns genitores creem mesmo já terem dado tudo de si nesse sentido, especialmente com os jovens que estão completamente absortos pela ingestão periclitante de drogas.

E que avaliam que de nada adiantou as inúmeras tentativas empreendidas por eles, sejam através de diálogos e pedidos reiterados, de castigos impostos e até mesmo do uso do artifício daqueles corretivos mais graves.

O livro Missionários da luz, escrito por André Luiz (espírito) e psicografado por Chico Xavier, aborda a questão do desenvolvimento mediúnico. André Luiz acompanha o espírito Alexandre a um centro espírita. Aproximam-se de um rapaz que tenta desenvolver a habilidade da psicografia. André Luiz indaga a Alexandre a respeito de certos corpúsculos negros que desgastavam o corpo do moço. Alexandre, então, explica a causa:

— (...) A pretexto de aceitar o império da razão pura, na esfera da lógica, admite que o sexo nada tem a ver com a espiritualidade, (...). O erro de nosso amigo é o de todos os religiosos que supõem a alma absolutamente separada do corpo físico, (...) (2009, p. 35).

André Luiz também narra a influência benéfica da oração recebida pelos frequentadores desse centro espírita. Ao mesmo tempo, mostra como algumas dessas mesmas pessoas voltavam aos braços de entidades que as perturbavam ao saírem do centro a caminho de casa.

O rapaz, em diálogo com a mãe e a irmã, ao retornarem do centro espírita, desabafa: Apesar de estar casado há apenas 8 meses, não deixo de ter o coração rep le to de t en tações descabidas.

Ao ouvir a queixa do irmão, a moça pergunta se, por acaso, ele não estaria sob a influência de entidades menos esclarecidas. A solução proposta pelo moço está no desenvolvimento mediúnico, que reproduzo abaixo:

— Sim – suspirou o rapaz –, por isso m e s m o , v e n h o t e n t a n d o o desenvolvimento da mediunidade, a fim de localizar a causa de semelhante situação. (2009, p. 64).

Após a resposta, supostamente esclarecedora, os espíritos que acompanhavam o diálogo resolveram intervir de maneira positiva através da irmã. No entanto, a solução apontada pelos espíritos esclarecedores dirige-se em sentido contrário, ou seja, em

DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO

situação de obsessão, o último recurso seria o desenvolvimento mediúnico, conforme citado a seguir:

— Nesse caso, concordo em que o desenvolvimento mediúnico deve ser a última solução, porque antes de enfrentar os inimigos, filhos da ignorância, deveríamos armar o coração com a luz do amor e da sabedoria... Não poderíamos contar com u m a b o a m e d i u n i d a d e s e m a c o n s o l i d a ç ã o d e n o s s o s b o n s propósitos;... (2009, p. 64).

Cabe esclarecer que a irmã do rapaz, sem grandes dificuldades, é envolvida por entidades benfazejas que a orientam com sabedoria, para que o irmão repense se o desenvolvimento mediúnico, naquele momento, seria a melhor alternativa. Diante da perplexidade de André Luiz, mediante a facilidade com que a menina recebia tais pensamentos, seu amigo espiritual, Alexandre, responde-lhe, indicando a mocinha:

(...) Suas células ainda se encontram absolutamente livres de influências tóxicas; seus órgãos vocais, por enquanto, não foram viciados pela maledicência, pela revolta, pela hipocrisia... Vivendo muito mais pelo espírito, nas atuais condições em que se encontra, basta a permuta magnética para que nos traduza as ideias essenciais. (2009, p. 72).

Esse fato lembrou-me das constantes e bem-humoradas advertências dos livros escritos pelo Dr. Inácio Ferreira (espírito) e psicografados pelo Dr. Carlos Baccelli. Em vários casos, Dr. Inácio recomenda aos seus pacientes, quando estão em condições de fazê-lo, uma atividade útil, através do trabalho edificante: varrer um centro espírita, servir sopa, ajudar alguém necessitado, dar um passe, fazer artesanato, ler um livro, aprender uma língua estrangeira, etc., indicando ser esse o caminho do desenvolvimento mediúnico, que pressupõe mudança de hábito num sentido bem preciso: precisamos nos tornar amorosamente úteis aos nossos semelhantes.

DE "O LIVRO DOS ESPÍRITOS" 58. "Os mundos que estão mais distanciados do Sol são privados de luz e calor, uma vez que o Sol lhes aparece apenas como uma estrela? - Acreditais, então, que não há outras fontes de luz e de calor, além do Sol? Não tendes, em nenhuma conta, a eletricidade, que, em certos mundos, desempenha um papel desconhecido para vós e bem mais importante que o que vos cabe na Terra? Aliás, não dissemos que todos os seres vivem da mesma maneira que vós, e com órgãos semelhantes aos vossos." DE "O LIVRO DOS MÉDIUNS" "Médiuns presunçosos: os que têm a pretensão de serem os únicos em relação com os Espíritos Superiores. Acreditam em sua infalibilidade e olham como inferior e errôneo tudo o que não procede deles." (Cap. XVI - Médiuns Especiais) DE "O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO" "O próprio perispírito passa por transformações sucessivas. Torna-se cada vez mais etéreo, até à depuração completa, que é a condição dos puros Espíritos." (Cap. IV - Ninguém Poderá ver o Reino de Deus se não Nascer de Novo) DE "O CÉU E O INFERNO" "Se a atividade do espírito reage sobre o cérebro, deve reagir, igualmente, sobre as outras partes do organismo. O espírito é, assim, artífice do seu próprio corpo, que conforma, por assim dizer, a fim de apropriá-lo às suas necessidades e à manifestação das suas tendências." (Cap. VII - As Penas Futuras Segundo o Espiritismo) DE "A GÊNESE" "No intervalo de suas encarnações, o espírito igualmente progride, no sentido de que ele põe a funcionar, para seu progresso, os conhecimentos e a experiência adquiridos durante a vida corporal..." (Cap. XI - Gênese Espiritual)

FILHOS DIFÍCEISHipotecamos, nestas linhas, a nossa

solidariedade a todos os chefes de família, que estão a vivenciar situações dramáticas e angustiantes com os seus rebentos.

Mas, por outro lado, ponderamos que tudo tem a sua razão de ser!

Não cremos que o acaso trouxe à vida de qualquer pessoa uma prova destituída de causa, de motivo.

Refletimos que tanto os pais quanto os filhos vivem, dentro de suas relações cotidianas, um processo constante de mútuo aprendizado.

No entanto, procuremos não perder a fé nas criaturas que a Misericórdia Divina colocou aos cuidados de nossa temporária tutela.

Afinal, todos somos filhos de Deus!Continuemos, pois, firmes na luta,

esforçando-nos ainda mais em tanger, para o caminho do Bem, as almas que nos foram confiadas à tutela pelas mãos do Criador.

Agora, caso determinados pais estejam se sentindo extremamente cansados da situação familiar difícil em que se encontram, e que por isso decidam não se envolverem mais com semelhantes problemas, solicitamos tão-somente a esses corações generosos para não se esquecerem de continuar pedindo, em suas orações, em favor dos filhos amados que se encontram gravemente enfermos.

Devemos manter sempre acesa a chama da esperança de um futuro melhor para as nossas crianças!

O espírito de Meimei, através da mediunidade de Chico Xavier, no livro "AMIZADE", num item do capítulo 18, escreveu: "Ora em silêncio e confia em D e u s , e s p e r a n d o p e l a D i v i n a Providência, porque Deus tem estradas, onde o mundo não tem caminhos".

e-mail: thiagobaccelli@bol.com.brblog: http://thiagosilvabaccelli.zip.net/

JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO Página 3 JORNAL DA MEDIUNIDADE

"conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram." - Jesus (Mateus,17:12)

A senhora Dora Incontri, conhecida pela sua contribuição no desenvolvimento da pedagogia espírita, recentemente, escreveu um artigo cujo nome é "Chico Xavier não é Kardec"!

Nele, a distinta pesquisadora lança como argumentos, dentre outros, estes:

Seria um absurdo sem fundamento considerar Chico Xavier a reencarnação de Allan Kardec, chocando o bom senso de qualquer um;

Devemos evitar a leviandade que tomou conta de escritores e médiuns espíritas e que grassa nos últimos tempos, na afirmação sem evidência e com descompromisso que fulano é a reencarnação de sicrano;

Que ela poderia escrever muitas páginas contendo as dessemelhanças entre a personalidade de Chico e a de Kardec;

Que conhece Chico Xavier desde a primeira infância, e que o mesmo possui uma personalidade fraca;

Que a melhor biografia do valoroso médium é aquela da lavra de Marcel Souto Maior, pois há muitas outras que mais parecem "relatos de vida de santo da Idade Média, pela linguagem melada, pela louvação exagerada e pelo cunho miraculoso";

Que Chico apoiou uma edição adulterada de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", sendo severamente admoestado por Herculano Pires;

Que o Mineiro do Século é um espírito em processo de resgate e regeneração, ainda enfrentando desequilíbrios;

Que "se Kardec tivesse escrito, por exemplo, 'Mecanismos da Mediunidade', seria certamente numa linguagem bem mais objetiva, menos literária e mais legível";

Que a tese de que Chico é o codificador reencarnado "desqualifica Kardec e exalta, indevidamente, Chico Xavier";

Que o nosso Movimento Espírita brasileiro exalta, de forma descabida, personalidades mediúnicas, "preferindo o emocionalismo à racionalidade, o igrejismo ao debate filosófico e científico", pois o Espiritismo, ao ser "transplantado" para o Brasil, "ganhou as cores místicas da cultura católica, de herança jesuítica, que formou a nação brasileira";

Que Allan Kardec "não reencarnou como Chico, não reencarnou ainda, porque teríamos de reconhecê-lo por sua mente poderosa, por sua liderança equilibrada e segura, por trazer uma contribuição muito melhor que a do Chico e mesmo melhor que a do próprio Kardec, pois, senão, não haveria razão para reencarnar-se".

Analisemos, um a um, os itens acima, refutando-os, e, empós, teçamos outras pertinentes considerações.

A afirmação de que Chico é Kardec não choca o bom senso de ninguém que realmente pesquise a teoria com espírito científico, ou seja, avaliando a bibliografia e os fatos que a corroboram ou que venham a desmitifcá-la. O que vemos é que muita gente está simplesmente dizendo que um não é a reencarnação do outro, preocupando-se apenas em sustentar uma opinião, de modo a desmerecer as informações de dezenas de pessoas que conviveram com Chico Xavier e que ouviram dele mesmo essa afirmação. A quem estiver disposto se descortinará o Chico como versão atualizada de Allan Kardec, abandonando inclusive muito do seu amor-próprio, que poderia até mesmo ser objeto de falência em sua missão, conforme os Espíritos o alertaram;

Pelo modo que a confreira se expressa, parece até que estamos vivendo um instante crítico de especulações no nosso Movimento. O fato de questionarmos se Chico é a reencarnação de Allan Kardec não é descabido, mas muito natural, em decorrência da sua vida, da sua obra, da sua liderança espontânea no seio espírita, desde os primórdios do século XX, pois, como bem expressa o Espírito de Verdade, conforme se lê em "Obras Póstumas", Kardec voltaria "em condições que o permitiriam trabalhar desde cedo", e que, se fosse possível, o insigne codificador "não sairia daqui de modo algum". Ora, diante da possibilidade de Chico Xavier ser este retorno de Allan Kardec, é importante a confirmação, pois sua vida e seu trabalho seriam o desdobramento prometido da Doutrina Espírita pelos Espíritos Superiores e pelo próprio lionês. É necessário que saibamos a resposta, a fim de colocar todas as coisas em seu devido lugar e não se correr o risco de desprezar um programa divino que vela pela evolução de toda a humanidade;

Quem realmente conviveu com o Chico (e não quem apenas o conheceu, mesmo que desde a primeira infância), diz que não nota diferença marcante entre a personalidade dele e a de Kardec, mas que vê um encadeamento evolutivo entre ambas. Infelizmente, o populacho não julga Kardec senão por uma fotografia daquelas do tempo em que a sociedade se arrumava toda para se bater uma imagem considerada distinta para a posteridade. Um dos biógrafos de Kardec mais respeitados, Henri Sausse, por exemplo, afirma que "Denizard Rivail era um alto e belo rapaz, de maneiras distintas, humor jovial na intimidade, bom e obsequioso". Sausse vai ainda mais além, quando assevera quem acreditasse que, em virtude dos seus trabalhos, Allan Kardec devia ser uma personagem sempre fria e austera. Não era, entretanto, assim. Esse grave filósofo, depois de haver discutido pontos mais difíceis da psicologia e da metafísica transcendental, mostrava-

Mas digo-vos que Elias já veio, e não o

Chico pode ser Kardec, sim!Fabio Sousa - fabiosousapsicanalista@gmail.comEscritor, Psicanalista, Pedagogo, estudante de Direito

se expansivo, esforçando-se por distrair os convidados que ele frequentemente recebia na Vila Ségur; conservando-se sempre digno e sóbrio em suas expressões, sabia adubá-las com o nosso velho sal gaulês em rasgos de causticante e afetuosa bonomia. Gostava de rir com esse belo riso franco, largo e comunicativo, e possuía um talento todo particular em fazer os outros partilharem do seu bom humor.

Sabe-se que Chico, entre as correspondências que vinham do mundo inteiro para que ele respondesse, dentre as mães e pais desconsolados de todas as convicções terrenas, no meio dos infortunados de toda ordem, dos admiradores, amigos e confrades, era sempre do mesmo caráter descrito acima, e que ia além disso, de tal modo que pedimos licença para dizer que, se Chico não for Allan Kardec, este último haveria de mirar-se em seu exemplo para atingir seu patamar de elevação, que é extremamente coerente com a personalidade de mestre de Lion;

Que "personalidade fraca" seria capaz de abnegar-se por uma causa tão bela, de consequências globais, da forma que o fez? Que "personalidade fraca" seria hábil para exemplificar o que escreveu em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", em "O Livro dos Médiuns", por exemplo, suportando o que suportou, às vezes dos próprios irmãos de ideal, sendo fiel a Jesus até o último instante, exarando que estava no fim do corpo, mas que iria amando todos nós? Quem poderia, através de uma "personalidade fraca", manter-se demonstrando superioridade de princípios diante de uma tarefa que era de almas, e não de um só? Se a beleza espiritual de Chico Xavier for fruto de uma "personalidade fraca", é melhor que rasguemos o Evangelho e toda a Codificação, que nos ensinam que a felicidade está na Humildade e na Caridade, pois "para nada mais prestam, a não ser para serem jogados fora e serem pisados pelos homens!";

Com toda vênia, penso ser a biografia de Marcel Souto Maior muito boa, mas ainda, sim, excessivamente poética em alguns trechos. A melhor biografia de Chico Xavier, esta, sim, escrita por alguém que conviveu com ele por mais de 25 anos, quase diariamente e de forma jornalística, é a seguinte: "100 anos de Chico Xavier: fenômeno humano e mediúnico", de autoria de Carlos A. Baccelli;

Chico nunca apoiou edição adulterada de nada! É necessário que tomemos muito cuidado com as informações que nos chegam sobre expressões de abrangência social como Chico Xavier, pois elas, às vezes, são modificadas, adaptadas de acordo com as paixões de quem as transmite, altamente destituídas de validade científica, de pesquisa avalizável.

O que ocorreu foi o seguinte: Chico, na presença do confrade Paulo Alves de Godoy, fez referência a duas palavras que, traduzidas do francês para a conotação hodierna, poderia dar o significado original da intenção de Kardec ao escrever "O Evangelho Segundo o Espiritismo", assim como de Jesus em passagens do Novo Testamento. Dessa forma, o Sr. Godoy promoveu uma tradução, publicada pela Federação Espírita do Estado de São Paulo, alegando que era corrigida por Chico Xavier, liderança nata do Espiritismo. O emérito professor Herculano Pires, então, criticou Chico Xavier com veemência e publicamente, como se fosse este último o autor do mal-entendido. Chico, por recomendação de Emmanuel, manteve-se na posição de humildade que lhe é característica, trabalhando mais e se defendendo quando a ocasião era realmente digna disso. Passaram-se os anos, e Chico, inocente desta culpa, teve a oportunidade de encontrar o prof. Herculano Pires já desencarnado, que o fitou em espírito, com uma expressão de arrependimento marcante pelo ocorrido, passando a colaborar diretamente nas atividades desenvolvidas pelo médium...;

7. Todos nós, na Terra, à exceção de Jesus, aqui estamos para nos reabilitar de um passado conturbado como seres inferiores, altamente endividados perante a bondade da criação. Dizer que Chico enfrentava desequilíbrios é de uma leviandade que não merece resposta, pois sua vida canta hosanas por si própria;

8. Allan Kardec traçou parâmetros ao mesmo tempo atuais e futuristas, numa síntese raramente conseguida na história da humanidade. Os Espíritos que psicografaram falaram, materializaram-se, curaram através de Chico Xavier, vieram clarear diversos pontos da obra do grande compilador do ensino dos Espíritos, trazer notícias e informações novas, tão de acordo com a inteligência e o desenvolvimento de nossa época quanto em sintonia com o porvir, da mesma forma que essas características se expressam na Codificação. Ressalte-se que, principalmente no exterior, como, por exemplo, na França da atualidade, país onde residia Kardec, o Espiritismo é muito mais bem compreendido à medida que os espíritas entram em contato com as obras psicografadas por Chico, notadamente as de Emmanuel e as de André Luiz. Tratam-se de obras bem digestivas e que diminuem nossas calorias perispirituais;

9. Chico Xavier não é um Espírito desqualificado ou desqualificador, mas um missionário de alta envergadura espiritual, emissário de Jesus, que desempenhou, na Terra, nobremente sua missão e deu provas de sua superioridade a todo instante, assim como Allan Kardec, a tal ponto que enxergamos em Chico, repito, a evolução segura do Espírito do codificador;

10. Allan Kardec nos escreveu que o Espiritismo bem compreendido, mas sobretudo bem sentido, conduziria-nos ao alcance das características do homem de bem. O povo brasileiro, quais cristãos das

horas primeiras de logo após dos passos de Jesus, possuem esta vocação de senti-Lo e está ensinando ao mundo, através da sustentação e da disseminação da Boa Nova Espírita, uma lição de coragem, de estudo, de cientificidade e de fé;

11. Não haveremos de julgarmo-nos donos do processo de reencarnação e de suas nuances tenuíssimas. No artigo 216, de "O Livro dos Espíritos", as entidades asseveram a Kardec que, em reencarnando e mudando de posição social, o Espírito não será facilmente reconhecido, e que seus modos podem até modificar-se devido à Lei de Evolução, é claro. Um fator que impede o observador superficial de não enxergar traços de Kardec em Chico é justamente isto: ele deixou Paris, centro da intelectualidade de sua época, após ter estudado com ninguém menos que Pestalozzi e de ter desfrutado de todas as regalias que uma família tradicional do Direito francês lhe dispensou, e reencarnou pobre, sem condições de estudo, no interior de um Brasil rural, no início do século XX, para se calar, abnegar-se e devotar-se, vencer o amor-próprio a fim de que a obra e seu autor, Jesus, falassem mais alto.

Então, após haver refutado os argumentos que considero principais no texto de Dora Incontri, gostaria de aproveitar o ensejo para colocar minha opinião a respeito de alguns outros que já ouvi, contrários à especulação Chico-Kardec:

Chico não foi Kardec, mas a Mlle. Japhè, uma das médiuns através das quais Kardec recebeu orientações dos Espíritos: Chico afirmava que havia passado algo em torno de 40 anos, na erraticidade, para depois reencarnar. Sabemos que a Mlle. Japhè desencarnou na década de 1880, o que descarta a hipótese. Além disso, sendo Chico a Mlle Japhè, quem se destacaria no processo de codificação, ela ou Kardec?!... Lembramos que Chico possuía uma expansão perispiritual de 10 metros na década de 1970 (e que devia ser bem maior, como se deduz de relatos dos que lhe compartilharam a presença, quando de seu desencarne em 2002).

Lembre-se de que a aura dos homens tem abrangência considerada normal de apenas 3 a 5 centímetros;

Chico não é Kardec porque senão como poderia desenvolver, numa encarnação, tamanho potencial mediúnico? As obras básicas são claras: a mediunidade é de origem orgânica. Também sabemos que, numa programação espiritual, como seria caso se ratificasse que Chico foi Allan Kardec, haveria, como aconteceu, todo um aparato espiritual incomum, uma preparação até mesmo do perispírito do encarnante para a sua nova tarefa;

Chico mesmo afirmava que não era Kardec. Publicamente, até certo ponto, sim, mas, já na década de 1990, ele passou a dizer que era Kardec e que não disse antes, porque isso traria dificuldades desnecessárias ao Movimento Espírita, já que iam pensar que ele estava querendo ser o dono da Doutrina, e isso viria, no momento exato, a público. E falou a dezenas de pessoas.

Quando Adelino da Silveira, homem sério e inteligente, publicou o livro "Kardec Prossegue", o próprio Chico Xavier autografou a obra e deu de presente a muitas pessoas, a quem mostrava conter, no livro, a expressão da verdade.

Por ocasião da 34ª Confraternização de Madurezas e Mocidades Espíritas do Triângulo Mineiro - COMETRIM, em Ituiutaba, Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1997, o médium Antônio Baduy Filho, hoje médium habitual de André Luiz (atestadamente, pelo próprio Chico Xavier quando encarnado), recebeu a seguinte mensagem:

A Volta de Allan Kardec

Início do século XX. Nas regiões mais elevadas da Espiritualidade, acontecia importante reunião. Encontro significativo. Decisões de relevância. Presença marcante de Allan Kardec.

Discutia-se a volta do apóstolo espiritista às lides terrenas. Época difícil na Doutrina Espírita. Controvérsia estéril entre os adeptos.

Ideia de exclusividade da investigação científica e filosófica. O cientificismo, atuante no meio doutrinário, negava o aspecto religioso.

Urgia, pois, o testemunho do Espiritismo, comprometido com as lições da Boa Nova, semeando, no coração dos homens, o amor e a caridade.

Clima de emoção. Recolhimento. Expectativa.Venerável preposto de Jesus, envolto de luz

alvinitente, dirigiu-se a Kardec e falou com bondade:- Chegou a hora, meu filho...O Codificador respondeu, firme e respeitoso:- Estou pronto e confiante.Consta, nos registros do mundo espiritual, que

ocorreu, a partir daí, sublime e emocionante diálogo, do qual transcrevemos, palidamente, alguns fragmentos:

- Renascerás em condições adversas...- Obedecerei à vontade do Senhor.- Começarás muito novo, entre aflições e

dificuldades, e trabalharás com sacrifício e renúncias, por longo tempo...

- Dedicarei cada minuto à seara do Bem.- Não possuirás títulos acadêmicos...- O único título que almejo é o de fiel servidor do

Cristo.- Encontrarás desconfianças e agressões...- Buscarei, na fé e na humildade, a força para

resistir.- Terás a dor por companhia constante...- Saberei aceitá-la com o amparo do Alto.- Companheiros não te entenderão e se voltarão

contra ti...

- Cumprirei meu dever e guardarei a consciência em paz.

- Não farás nada por ti mesmo, serás apenas instrumento...

- Agradecerei a Deus a oportunidade de servir.- Não gozarás as alegrias e o aconchego do lar

constituído...- A Humanidade será minha família.-Assumirás espinhosa missão no desdobramento

da Codificação Espírita...- Serei leal aos princípios doutrinários, ciente de

que o Espiritismo é o Consolador prometido por Jesus.

- A tarefa te exigirá devotamento e abnegação...- Não hesitarei viver, em plenitude, o Evangelho e

a Doutrina Espírita.

O iluminado benfeitor interrompeu o colóquio e, após elucidativos comentários sobre a nova etapa de trabalho, rogou as bênçãos do Senhor ao missionário de partida.

Seguiram-se calorosas demonstrações de solidariedade e, no final da primeira década deste século, em doce atmosfera de esperança, Allan Kardec retornou ao plano físico, renascendo em pequena cidade do interior brasileiro.

Hilário Silva

Chico Xavier não só ratificou a mensagem como a distribuiu em várias reuniões do Grupo Espírita da Prece.

Mais tarde, o mesmo médium recebia a seguinte mensagem, também distribuída e confirmada por Francisco Cândido Xavier:

Louvor a Kardec

Allan Kardec, ao apresentar "O Livro dos Espíritos", em 18 de abril de 1857, surpreendeu o horizonte intelectual e religioso do mundo com o sol de nova doutrina, impregnada de luz e esperança.

Entretanto, mal estudada e mal compreendida, a Doutrina Espírita é vítima da desinformação de muitos adeptos, que contrariam a Codificação Kardequiana.

Cultivam hábitos arraigados de formalismo religioso.

E Kardec alude à adoração em espírito e verdade.Aceitam revelações sem o exame do bom senso.E Kardec condiciona a fé ao crivo do raciocínio.Transformam o passe em gesticulação complexa.E Kardec fala da naturalidade da ajuda espiritual.Conduzem, com formalismo, os atos religiosos.E Kardec menciona o culto simples e sincero.Perturbam as instituições com atitudes egoístas.E Kardec elege a caridade como roteiro de paz.Divulgam textos sem o resguardo da prudência.E Kardec lembra os critérios de análise mediúnica.Tratam o fenômeno como objetivo primeiro.E Kardec ressalta a transformação moral.Submetem o socorro do Alto a certo preço.E Kardec insiste na mediunidade gratuita.Sucumbem à curiosidade pelas vidas anteriores.E Kardec salienta o esquecimento do passado.Renegam o discurso religioso pelo intelectual.E Kardec reafirma as lições do Evangelho.

O Legado Kardequiano é a referência autêntica do Espiritismo e guarda, em seu cerne, a dimensão do Consolador prometido pelo Cristo.

Respeitemos, pois, todos nós, os espíritas encarnados e desencarnados, a obra doutrinária de Allan Kardec, louvando-lhe o extremado zelo à missão reveladora, até o ponto de voltar à crosta terrestre, em novo corpo, para desdobrar a Codificação do Espiritismo e testemunhar, mais uma vez, o profundo amor a Jesus, em toda uma existência consagrada ao Bem.

André Luiz

Com relação à mensagem contida em Obras Póstumas sobre a volta de Kardec, "o tempo daqui é contado de modo diferente do de lá": Então, nós teríamos de pensar que o Espírito de Verdade se enganou quando afirmou que ele ficaria "apenas alguns anos" na erraticidade, e também o próprio Kardec quando disse, claramente, que reencarnaria no fim do século XIX ou início do século XX. Ou, quem sabe, nós queiramos ensinar a Allan Kardec o modo como se conta o tempo na erraticidade e a gravidade de sua tarefa...

Para terminar, uma curiosidade: na Casa de Memórias e Lembranças Chico Xavier, situada à Rua Dom Pedro I, 165, Parque das Américas, Uberaba - MG, encontra-se uma mensagem de Allan Kardec dada a Eurípedes Barsanulfo em 1908, na qual ele se despede do apóstolo do Espiritismo no Brasil, pois iria reencarnar... Chico nasce em 1910...

Conclusões:

Os argumentos apresentados pela senhora Dora Incontri não sustentam sua fala;

Ou Chico estava certo ao afirmar que era Allan Kardec ou temos que pensar que esse homem lúcido, inteligente, exemplo de cristandade e de Amor estava "gagá"...;

Não afirmamos que Chico é ou não Kardec, mas dizemos que a maior parte das evidências levam à resposta afirmativa;

Só o próprio Chico, de maneira peremptória e não nestas imitações que vemos por aí, poderá responder a essa questão. Aguardemos, então, suas respostas às nossas perguntas, e, enquanto isso, conjecturemos, sim, pois o Espiritismo nos ensina que somos livres para pensar.

Página 4 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇOJORNAL DA MEDIUNIDADE

Conselho Editorial: LEEPPJornalista Responsável: Juvan de Souza NetoRegistro: SC 01359JPRevisão gramatical: Ana Rita Jorge ZaidanDiretores: Edson de Sousa Marquez / Mário Alexandre AbudProjeto gráfico e Impressão:

Editora Vitória Ltda.E-mail: jmediunidade@terra.com.brEndereço p/ correspondência:

Av. Elias Cruvinel, 1202 - B. Boa Vista -38070-100 - Uberaba-MG

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

EXPEDIENTE

Antonio Baracat

A SUPOSTA CARIDADE tornou-se componente básico do capitalismo. Há tendência crescente em juntar, ganhar dinheiro e fazer caridade, de modo que, quando se compra algo, o direito anticonsumista de agir pelos outros, para o ambiente e assim por diante, já vem incluído no preço.

SE ACHA EXAGERO, veja, na internet, o Café Starbucks, grande rede de franquias europeia, que diz: "Não é só o que está comprando, é o que você está comprando. Quando compra Starbucks, conscientemente ou não, você está comprando algo maior do que uma xícara de café. Você está comprando uma ética de café. Através do Programa Starbucks 'Planeta Compartilhado', nós compramos mais café do 'comércio justo' [fair trade] do que qualquer outra empresa no mundo, garantindo que os agricultores que cultivam o grão recebam preço justo pelo seu trabalho árduo. E nós investimos e melhoramos as práticas de cultivo do café e as comunidades ao redor do globo. É um bom karma do café. Parte do preço das xícaras de café do Starbucks ajuda a m o b i l i a r o l o c a l c o m c a d e i r a s confortáveis". E assim por diante.

ISSO É o que se pode chamar de capitalismo essencialmente cultural. Não se compra apenas café, compra-se a redenção por ser mero consumista. Crê-se agir pelo meio ambiente, atuando para ajudar as crianças famintas da Guatemala, da Colômbia ou do Brasil, fazendo algo para estabelecer o senso de comunidade planetária.

HÁ OUTROS EXEMPLOS, como o Tom Shoes, empresa norte-americana, cuja fórmula é "um-para-um". Alegam que a cada par de sapatos que se compra deles doam outro par para alguma nação africana. Ato de consumismo, incluso o fato de que se paga para fazer alguma coisa "boa".

NO BRASIL, também acontece, por exemplo, com as "empresas amigas da criança", associadas à "Fundação Abrinq", e os que custeiam o "Greenpeace", o "WWF" ou a "Fundação Mata Atlântica".

ISSO GERA superinvest imento semântico. Sabe-se que não é só comprar uma xícara de café. Ao mesmo tempo, cumprem-se diversos deveres éticos. Essa lógica está quase universalizada.

TEMOS UM curto-circuito interessante: o próprio ato de consumo egoísta incluindo o preço de seu oposto. Melhor seria estabelecer bases sociais nas quais a exclusão social seja impossível, porém

O "Vinha de Luz" - Serviço Editorial -, fundado pelo confrade Geraldo Lemos Neto, benemérito das obras de Chico Xavier, tem publicado, sob a sua iniciativa e coordenação de Wanda Amorim Joviano, importantes obras da lavra mediúnica do inesquecível médium, prestando, assim, relevante colaboração histórica e doutrinária ao Espiritismo.

Dos livros já editados, gostaríamos de destacar três da autoria de Neio Lúcio, pseudônimo de Arthur Joviano, pai do Dr. Rômulo Joviano e avô de Wanda Joviano: "Sementeira de Luz", "Sementeira de Paz" e "Colheita do Bem".

As mensagens, inéditas, constantes das referidas obras, foram recebidas por Chico a partir da década de 30, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, nos cultos semanais realizados na casa do Dr. Rômulo, anexa à Fazenda Modelo, na qual o médium trabalhava.

Nesse pequeno arrazoado, no entanto, chamamos a atenção de nossos leitores para significativo trecho da mensagem de Neio Lúcio, transmitida em 21 de janeiro de 1948, quando Chico estava às vésperas de completar 38 primaveras!

Após ter concluído, com êxito, o plano inicial estabelecido por Emmanuel, para a recepção de trinta livros, Chico manifestou desejo de se recolher a uma colônia de hansenianos, passando a conviver com os portadores do mal de Hansen, a fim de devotar-lhes a existência.

Na mensagem aludida, Neio Lúcio, antecipando-se à orientação do próprio Emmanuel, que também se manifestaria a respeito da decisão que o médium pretendia tomar, escreve com extrema sabedoria e beleza, dirigindo-se a Chico Xavier, com a possível discrição do espírito que escreve ao médium, através do próprio médium.

Reflitamos nas ponderações que, sem dúvida, ensejam-nos um mundo de reflexões, além, é óbvio, de colocarem, em destaque, desconhecido lance biográfico do abençoado medianeiro, que, no campo da psicografia, ainda tinha tanto a realizar.

Outra parte de minha promessa

referia-se ao Chico. Não preciso destacar o trabalho de medicação que já foi iniciado e esperamos que o mesmo não sofra solução de continuidade. Depois de

CARIDADE EFETIVA

isso requer trabalho para o qual poucos se apresentam.

ESSA ASSOCIAÇÃO entre lucro e caridade é a últ ima tentativa de sobrevivência do capitalismo: não descartemos o mal, façamos o próprio mal trabalhar pelo bem. 30 ou 40 anos atrás, sonhava-se com o socialismo humanizado. Hoje a visão geral é a do capitalismo global, com um rosto humano. Temos as regras básicas do jogo, vamos torná-lo um pouco mais humano, com um pouco mais de bem-estar... Apesar das contradições, é bom que seja assim.

COMO EM NENHUM MOMENTO na história humana, boa parte da população vive hoje em razoável liberdade relativa, segurança e assim por diante. Ou seja, a sensação de conforto é grande, mas será que suas bases são sólidas? E se formos mesmo criaturas imortais, como há de ficar nosso futuro, quando o preço do binômio lucro-caridade é a devastação ambiental e a sedimentação da exclusão de bilhões de homens e mulheres, principalmente crianças e idosos?

ESTAMOS CERCADOS por uma pobreza terrível, pela fome, pelo desamparo. É inevitável que sejamos tocados por tudo isso... Assim, com intenções admiráveis, porém mal orientadas, achamos que a prática do bem rima com a hipocrisia do lucro, da exploração e que basta dar um pouco do que nos sobra , a l imentando as engrenagens do consumismo, que encontraremos a redenção.

DIANTE DISSO, convém voltar ao ensinamento do Nosso Senhor Jesus Cristo, no episódio em que a pobre viúva doou as moedas necessárias ao seu sustento.

S E G U N D O A O R I E N TA Ç Ã O EVANGÉLICA, Caridade Efetiva é doação de si, do que nos é essencial, do tempo, do afeto, da atenção aos deserdados, nossos irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Deus. Isso não é pedir demais, pois a vida é dom gratuito do Criador, que nada nos cobra por ela. O que custam algumas horas semanais em visitas a presídios, hospitais, creches, asilos, ou a participação em mutirões comunitários para preparar a sopa que alimenta, o enxoval que veste, a moradia que abriga? Sejamos sinceros: não somente governos têm que resolver problemas sociais. Há muito que nos cabe e não pode ser transferido, não porque seja um favor aos outros, mas em nome de nossa verdadeira salvação e progresso.

"E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro; porque todos ali deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha, todo o seu sustento." (MARCOS, 12:43-44)

ORIENTAÇÃO A CHICO XAVIER, EM 1948 Carlos A. Baccelli

dez anos de convivência, creio não dever designar o médium e, sim, o amigo. Por isso, embora o constrangimento da situação em que um amigo se vale de outro para tratar de assuntos particulares e peculiares a ele mesmo, acredito não esteja cometendo uma intromissão em lhe solicitar a anulação dos propósitos de dedicação intensa aos irmãos leprosos. Há ideias que devem ser trazidas das sombras do subconsciente para a luz da boa análise e da apreciação útil. Sabemos que lhe sobram as lutas nos variados setores da vida sentimental e mais íntima, todavia, à frente dos trabalhos espirituais, enormes, é forçoso convir que a família humana fala, agora, mais alto. Compreendo que os seus pensamentos se baseiam na decisão de Alcíone, em "Renúncia", e da própria "Maria de Magdala", em "Boa Nova", todavia, diferem as situações, e cada qual de nós tem um programa diverso, intransferível. No fundo, a ideia é boa para o seu campo individual e, convertida em autossacrifício, carrear-lhe-ia enormes bens, entretanto, os interesses da tarefa espiritual são, agora, mais imperativos. Dedicar-se aos irmãos hansenianos, sem uma chamada individual do Mais Alto para esse gênero de serviço, o que no caso seria o desabrochamento da própria moléstia, não é uma ideia louvável quando tantos trabalhos nos aguardam a colaboração. Se é verdade que o conflito das opiniões e das vibrações dá para esmagar os menos fortes, não acredite que estaria livre de semelhantes antagonismos entre as lutas em que um instituto desses se confina. Os recursos maiores ao nosso dispor são ainda os da prece.

Reconstitua quanto lhe seja possível a saúde e trabalhemos. Se eu pudesse aconselhar alguma coisa, recomendar-lhe-ia, depois do verão, uma semana à beira do mar, sem pensar, sem lutar, e sem outro descanso que não fosse inalar os elementos marinhos. Essa é uma lembrança de minha amizade. Há ocasiões em que precisamos reconduzir as células ao seu "habitat" e não podemos esquecer que a matriz de nossa organização terrestre reside na casa oceânica. Emmanuel, naturalmente, pronunciar-se-á a tempo. Adianto tais lembranças por amor, porque eu também me sinto feliz com a nossa boa oficina de luz e faltaria, ao meu coração, se aqui não enunciasse os meus cuidados.

A beleza da luta humana está justamente nas grandes tormentas vencidas. Vamos para a frente com a fé. Que a perturbação não nos vença, e que a sugestão de desânimo jamais nos turve o espírito na batalha. Estamos convocados a lutar até o fim, e Jesus nos ajudará na luta, a fim de que possamos perseverar até o seu término.

Em janeiro de 1861, há exatamente 150 anos, foi lançada em Paris, pelo Prof. H. L. D. Rivail (Allan Kardec), mais uma de suas obras, que compõem a codificação do Espiritismo: O Livro dos Médiuns. É um livro valioso, que deve ser estudado e colocado, em primeiro lugar, no estudo da mediunidade.

Kardec entendeu rapidamente, em suas pesquisas e experiências, que o intercâmbio com os Espíritos não é uma tarefa simples; ao contrário, exige preparo e qualificação das pessoas envolvidas no processo de comunicação.

Entendeu também que não basta a uma pessoa ter mediunidade; é preciso que ela saiba utilizá-la corretamente, a fim de que não lhe aconteça o que ocorreu com o servidor infiel da parábola dos talentos, que enterrou o seu talento na areia, temeroso de não corresponder aos desígnios do Senhor.

O dom da mediunidade é um presente de Deus para todos nós. Entretanto, a maioria dos que o possui, infelizmente negligencia, e termina não fazendo dele um instrumento voltado para o bem comum.

Quando lemos o capítulo I da referida obra, vemos que Kardec analisa a questão da existência do Espírito, e prova que, de fato, ele é uma realidade,

Homenageando "O Livro dos Médiuns" Geraldo Ribeiro da Silva

uma força importante da natureza, influenciando o ser humano mais do que ele supõe (L. E. questão 459), e que, sem sua existência, muitos fenômenos permaneceriam sem explicações.

O autor descreve com riqueza de detalhes, no capítulo XIV, o que é um médium e os vários tipos de mediunidade. Prova que todos nós, de certo modo, somos medianeiros dos Espíritos, uma vez que lhes sofremos sua influência. Porém, deixa claro que médium, na acepção da palavra, é aquele cujo dom se revela de forma patente e incontestável.

No capítulo seguinte, adverte-nos sobre os inconvenientes e perigos da mediunidade, caso não seja praticada com conhecimento, seriedade e bom senso.

A obsessão e as medidas preventivas são analisadas, com muita propriedade, no capítulo XXIII. Segundo Kardec, a obsessão é o principal escolho do Espiritismo prático. É um flagelo que atinge parcela considerável da humanidade.

O autor descreve, no capítulo XXV, os cuidados que devemos ter na evocação dos Espíritos. No capítulo seguinte, alerta-nos sobre os tipos de perguntas que devemos fazer aos Espíritos, de modo a não desagradá-los nem causar neles qualquer constrangimento.

Nos capítulos finais, o autor discorre sobre o charlatanismo, os embustes e as fraudes que aqueles que lidam com o Espiritismo prático podem ser vít imas, se não vigiarem e orarem continuamente.

Hoje, o Espiritismo oferece aos médiuns orientação vasta, de modo que eles pratiquem a mediunidade de forma segura. Nesse sentido, "O Livro dos Médiuns" é considerado o guia número um.

O livro é de valor inestimável. Lendo-o com um olhar de pesquisa, descobriremos que nele existem muitas orientações, verdadeiras pérolas para os médiuns e para todos nós que, direta ou indiretamente, lidamos com a mediunidade.

Parabéns, Sr. Allan Kardec! O senhor foi realmente um grande visionário. Foi longe ao estudar e analisar o fenômeno mediúnico. Transpôs as barreiras do pensamento comum dos homens e penetrou nas sutilezas do mundo espiritual, um universo, na sua época, pouco conhecido, e ainda hoje não muito bem claro para nós.

Aproveitemos essa efeméride para reler essa obra maravilhosa e de grande conteúdo doutrinário, certos de que, após sua leitura, iremos nos sentir mais confiantes e fortalecidos no trabalho de intercâmbio com os Espíritos.