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INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES Autarquia associada à Universidade de São Paulo DESENVOLVIMENTO DE UM OBJETO SIMULADOR PARA INVESTIGAÇÃO DE HETEROGENEIDADES EM BRAQUITERAPIA DE ALTA TAXA DE DOSE EDUARDO SANTANA DE MOURA Tese apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Doutor em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear Aplicações Orientador: Dr. Carlos Alberto Zeituni SÃO PAULO 2015

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INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES

Autarquia associada à Universidade de São Paulo

DESENVOLVIMENTO DE UM OBJETO SIMULADOR PARA INVESTIGAÇÃO

DE HETEROGENEIDADES EM BRAQUITERAPIA DE ALTA TAXA DE DOSE

EDUARDO SANTANA DE MOURA

Tese apresentada como parte dos

requisitos para obtenção do Grau de

Doutor em Ciências na Área de Tecnologia

Nuclear – Aplicações

Orientador:

Dr. Carlos Alberto Zeituni

SÃO PAULO

2015

Dedico este trabalho aos

pacientes oncológicos e ao

amigo Prof. Dr. José Eduardo

Manzoli.

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Carlos Alberto Zeituni, orientador deste trabalho, pela confiança,

amizade e prestatividade durante todas as etapas de minha formação de ensino superior e

pós-graduação.

Ao Prof. Dr. Larry DeWerd pela co-orientação deste projeto e confiança por

desenvolver este projeto nas dependências do laboratório de Radiações Ionizantes em

Medicina da Universidade de Wisconsin-Madison.

À Profa. Dra. Maria Elisa Chuery Martins Rostelato por acompanhar-me desde a

iniciação científica, seus ensinamentos, amizade e a sua perseverança para conduzir os

projetos do grupo de forma exemplar.

Ao Físico Médico Roberto Kenji Sakuraba, por sua amizade, auxílio e seus

ensinamentos em sistemas de planejamento computadorizado para braquiterapia.

A equipe do laboratório de metrologia das radiações ionizantes da Universidade de

Wisconsin-Madison, em especial ao John Micka, Prof. Dr. Wesley Culberson, M.Sc.

Clifford Hammer, Keith Kunugi, Wendy Keenan, M.Sc. Travis McCaw, M.Sc. Samantha

Simiele e Prof. Dr. Ke Li.

Ao M.Sc. João Franciso Trencher Martins por discussões acerca dos fenômenos de

interação da radiação ionizante com a matéria e revisão deste trabalho.

Ao M.Sc. Vinicius Demboro Gonçalves e M.Sc. Paula Cristina Guimarães Antunes

pela revisão desta tese e as respectivas sugestões e correções.

Ao Sr. José Jorge Ambiel pelos desenhos técnicos realizados nas etapas iniciais

deste trabalho.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela

bolsa de estudos (141219/2011-4) durante o desenvolvimento deste projeto.

Ao IPEN por proporcionar esta oportunidade.

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), por meio do

processo 2013/26469-5, ao financiamento parcial neste projeto.

À Comissão de Pós-Graduação (CPG) do IPEN e aos auxilios prestados.

A todos aqueles que me auxiliaram de forma direta ou indireta no decorrer deste

trabalho.

DESENVOLVIMENTO DE UM OBJETO SIMULADOR PARA INVESTIGAÇÃO

DE HETEROGENEIDADES EM BRAQUITERAPIA DE ALTA TAXA DE DOSE

Eduardo Santana de Moura

RESUMO

A braquiterapia de alta taxa de dose é uma das modalidades mais utilizadas em

braquiterapia para o tratamento de câncer. Os diversos avanços tecnológicos, bem como a

evolução das técnicas de tratamento tornaram a braquiterapia de alta taxa de dose uma das

modalidades de estado da arte para o tratamento de alguns cânceres. Parte deste avanço é

creditada à melhoria na acurácia e na prescrição de dose absorvida recomendada ao

paciente, ao longo dos anos. Este avanço permite que atualmente seja possível realizar os

cálculos dosimétricos, por meio de sistemas de planejamento computadorizado,

considerando as heterogeneidades dos pacientes, tais como: tecidos e órgãos com

composições diferentes da água (meio de referência em radioterapia), contorno do paciente

individualizado, introdução de aplicadores, dentre outros. Tais avanços demandam o

controle de qualidade destas ferramentas, com objetivo de assegurar que todo o processo

de tratamento seja satisfatório e acurado. Até o momento, a comunidade carece de um

sistema experimental capaz de avaliar, considerando os níveis de incerteza, se os sistemas

de planejamento computadorizados são aptos a considerar a heterogeneidade dos

tratamentos. Neste trabalho, apresentamos o desenvolvimento de medidas experimentais

em um objeto simulador, com capacidade de mensurar as diferenças introduzidas pela

heterogeneidade por meio de três técnicas dosimétricas experimentais:

termoluminescência, filmes radiocrômicos e ionométrica. Os resultados experimentais

foram comparados com as simulações de Monte Carlo e com um sistema de planejamento

computadorizado comercial, apto a realizar correções de heterogeneidade em

braquiterapia. Discutimos as principais etapas de desenvolvimento deste objeto simulador,

seus resultados experimentais e as comparações com os demais sistemas. As conclusões e

as etapas futuras deste projeto também são apresentadas.

DEVELOPMENT OF A PHANTOM FOR INVESTIGATIONS WITH

HETEROGENETIES IN HIGH-DOSE-RATE BRACHYTHERAPY

Eduardo Santana de Moura

ABSTRACT

High dose rate brachytherapy is one of the most widely used modalities in brachytherapy

for cancer treatment The various technological advances and the development of treatment

techniques have made high dose rate brachytherapy as one of the state of the art methods

for the treatment of some cancers. Part of this progress is credited to the improvement in

the accuracy and absorbed dose prescription recommended to patients over the years. This

advance currently allows the possibility of performing dosimetric calculations, by means of

computerized planning systems, considering the heterogeneity of patients, such as: tissues

and organs with different water compositions (reference medium in radiotherapy),

individualized patient's contour and introduction of applicators, among others. Such

advances require quality control of these tools, in order to ensure that the entire treatment

process is satisfactory and accurate. Nowadays, the community needs an experimental

system capable of evaluating, since the uncertainty levels if the computerized planning

systems are able to consider the heterogeneity of treatments. In this project, we present the

development of experimental measurements into a phantom, capable of measuring the

differences introduced by heterogeneity through three experimental dosimetric techniques:

thermoluminescence, radiochromic films and ionometric. The experimental results were

compared with the Monte Carlo simulations and a commercial treatment planning system

able to perform correction of heterogeneity in brachytherapy. We discuss the main stages

of development of this phantom, their experimental results and comparisons with other

systems. The conclusions and future steps to complete this project are also presented.

“An expert is a man who has

made all the mistakes which

can be made, in a narrow

field.”

Niels Henrik David Bohr

(1895-1962)

Sumário

RESUMO .......................................................................................................................... 4

ABSTRACT ...................................................................................................................... 5

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 12

1.1 Câncer ................................................................................................................... 12

1.2 Radioterapia .......................................................................................................... 12

1.3 Braquiterapia ......................................................................................................... 13

1.4 Fontes de Irídio-192 ............................................................................................... 15

1.4 Braquiterapia de Alta Taxa de Dose Pós-carregamento (Afterloading) ................... 17

1.5 Aspectos dosimétricos em Braquiterapia ................................................................ 18

1.6 Cálculos dosimétricos em braquiterapia ................................................................. 19

1.6.1 Protocolo TG-43 .............................................................................................. 19

1.6.2 Protocolo TG-186 ............................................................................................ 21

1.6.3 Heterogeneidades ............................................................................................ 22

1.7 Sistemas de Planejamento Computadorizado em Braquiterapia .............................. 24

1.7.1 Soluções das equações de Boltzmann baseados em grid (GBBS) ..................... 25

1.7.2 Método por Monte Carlo (MC) ........................................................................ 26

1.8 Dosímetros ............................................................................................................ 27

1.8.1 Dosimetria Termoluminescente ....................................................................... 28

1.8.2 Filmes Radiocrômicos ..................................................................................... 30

1.8.3 Câmaras de Ionização ...................................................................................... 32

2 OBJETIVOS ................................................................................................................ 34

2.1 Originalidade ......................................................................................................... 34

3 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................................... 36

3.1 Objeto Simulador ................................................................................................... 36

3.1.1 Materiais utilizados no Objeto Simulador ........................................................ 39

3.1.2 Arranjos Experimentais ................................................................................... 40

3.2 Irradiações com Irídio-192 ..................................................................................... 41

3.3 Sistemas Dosimétricos Experimentais .................................................................... 42

3.3.1 Dosimetria Termoluminescente ....................................................................... 42

3.3.2 Filmes Radiocrômicos ..................................................................................... 47

3.3.3 Câmara de Ionização........................................................................................ 50

3.4 Simulações Monte Carlo ........................................................................................ 53

3.5 Sistema de Planejamento Computadorizado ........................................................... 55

3.5.1 Algoritmo Acuros ............................................................................................ 55

3.5.2 Parâmetros do Sistema de Planejamento e Imagens Tomográficas ................... 56

3.5.3 Comparações com o algoritmo TG-43 ............................................................. 58

3.6 Análises dos Dados ................................................................................................ 58

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................ 59

4.1 Dosímetros Termoluminescentes ........................................................................... 59

4.1 Seleção dos dosímetros TLD-100 ....................................................................... 59

4.2 Linearidade de Resposta TL ................................................................................... 60

4.2 Filmes Radiocrômicos ........................................................................................... 61

4.2.1 Dose Absorvida em Água ................................................................................ 61

4.3 Câmara de Ionização .............................................................................................. 62

4.3.1 Estabilidade de Resposta.................................................................................. 62

4.4 Simulações Monte Carlo ........................................................................................ 63

4.4.1 Comparações com o protocolo TG-43 .............................................................. 63

4.5 Objeto Simulador ................................................................................................... 63

4.5.1 Dosímetros Experimentais ............................................................................... 63

4.5.2 Simulações de Monte Carlo ............................................................................. 66

4.5.3 Sistema de Planejamento Computadorizado – Acuros ...................................... 68

4.6 Comparações com o protocolo TG-43 .................................................................... 71

4.7 Considerações Gerais ............................................................................................. 72

4.7 Avaliação das incertezas ........................................................................................ 73

4.7.1 Experimental ................................................................................................... 73

4.7.2 Simulações Monte Carlo .................................................................................. 76

4.7.2 Sistema de Planejamento Computadorizado ..................................................... 77

5 CONCLUSÕES ............................................................................................................ 79

6 TRABALHOS FUTUROS ........................................................................................... 80

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 81

Lista de Tabelas

Tabela 1- Principais emissões e sua respectiva intensidade do irídio-192. ........................ 16

Tabela 2 - Descrição dos principais materiais TL utilizados, adaptados da referência72

. (1)

Nome popular, como designado pelos fabricantes. ........................................................... 30

Tabela 3: Configurações utilizadas no objeto simulador................................................... 41

Tabela 4: Diferenças percentuais calculadas entre o protocolo TG-43 e o algoritmo Acuros

para os três sistemas experimentais investigados neste trabalho. Os valores percentuais

indicam o desvio entre o TG-43 e Acuros. ....................................................................... 72

Tabela 5 - Análise das incertezas para o sistema experimental TLD. ................................ 74

Tabela 6 - Análise das incertezas para o sistema experimental com filmes radiocrômicos

EBT3............................................................................................................................... 75

Tabela 7 - Análise das incertezas para o sistema experimental câmara de ionização. ........ 76

Tabela 8 - Análise das incertezas para as simulações com o código PENELOPE 2011. Os

valores entre parênteses indicam as incertezas para as simulações com a câmara de

ionização A1SL. .............................................................................................................. 77

Tabela 9 - Análise das incertezas para o sistema de planejamento utilizando o algoritmo

Acuros. ............................................................................................................................ 78

Lista de Figuras

Figura 1 - Modelos de fontes de irídio-192. As dimensões estão em milímetros (adaptado

de Rasmussen et. al.)28

. .................................................................................................... 16

Figura 2 - Representação de um sistema afterloading para braquiterapia de alta taxa de

dose. ................................................................................................................................ 18

Figura 3 - Sistema de coordenadas cilíndricas utilizadas pelo protocolo TG-4336

. ............ 21

Figura 4 - Razão do coeficiente de atenuação de massa-energia de alguns tecidos do corpo

pela água (adaptada da referência39

). ............................................................................... 24

Figura 5: Desenho esquemático representando as camadas de um filme radiocrômico. .... 31

Figura 6 - Seção transversal de uma câmara de ionização tipo cilíndrica. ......................... 32

Figura 7 - Objeto Simulador desenvolvido para a verificação de heterogeneidades em

braquiterapia de alta taxa de dose. Acima: Secção transversal esquemática (os valores

numéricos possuem a unidade em cm). Abaixo: Imagem do objeto simulador durante os

experimentos. .................................................................................................................. 38

Figura 8 - Dispositivo para irradiações com a fonte de Cs-137. ........................................ 44

Figura 9 - Irradiações dos TLDs com a fonte de Co-60. ................................................... 46

Figura 10 - Arranjo experimental para as investigações nos filmes EBT3 com fontes de

irídio-192. ....................................................................................................................... 49

Figura 11 - Seção transversal da câmara A1SL (acima) com a fonte de irídio-192 utilizadas

nas simulações com heterogeneidade. .............................................................................. 54

Figura 12 - Aquisição das imagens tomográficas. Esquerda: Visão panorâmica do objeto

simulador. Direita: Detalhe do objeto simulador tomografado. ........................................ 57

Figura 13 - Histograma que relaciona o Chip Factor dos dosímetros TLD-100 selecionados

neste trabalho. ................................................................................................................. 59

Figura 14 - Curva de linearidade da resposta TL, normalizadas para 25 cGy. ................... 60

Figura 15 - Resposta da Densidade Óptica dos filmes radiocrômicos EBT3, irradiados em

uma fonte de irídio-192, em meio homogêneo. ................................................................ 61

Figura 16 - Linearidade da resposta da câmara A1SL. ..................................................... 62

Figura 17 - Resultados dos arranjos experimentais no objeto simulador, a) arranjos VBB,

VAA e VCC; b) arranjos BVV, AVV e CVV e c) arranjos BAC, CAB e VCA. Linhas

tracejadas representam a normalização para o arranjo de referencia (VVV). .................... 65

Figura 18 - Resultados das simulações PENELOPE/penEasy, a) arranjos VBB, VAA e

VCC; b) arranjos BVV, AVV e CVV e c) arranjos BAC, CAB e VCA. Linhas tracejadas

representam a normalização para o arranjo de referencia (VVV)...................................... 67

Figura 19 - Diferenças percentuais registradas pelo sistema de planejamento empregando o

algoritmo Acuros, a) arranjos VBB, VAA e VCC; b) arranjos BVV, AVV e CVV e c)

arranjos BAC, CAB e VCA. Linhas tracejadas representam a normalização para o arranjo

de referencia VVV. ......................................................................................................... 70

Figura 20 - Compilação dos resultados obtidos pelo objeto simulador e os sistemas

dosimétricos, incluindo as incertezas relativas. ................................................................ 71

12

1 INTRODUÇÃO

1.1 Câncer

O câncer é um termo genérico associado a um grupo com mais de 100 doenças que

se caracterizam pelo crescimento desordenado do número de células, que dependendo da

severidade, podem formar tumores malignos e espalhar-se para outros sítios do corpo.

Segundo dados do World Health Organization (WHO), em 2012, o câncer foi responsável

por 8,2 milhões de óbitos pelo mundo. Estima-se que 60% dos novos casos encontraram-se

nas regiões da Ásia, África, América Central e América do Sul. Estas regiões respondem

por aproximadamente 70% dos óbitos registrados1. No Brasil, as estimativas para o ano de

2014 e 2015 é que ocorrerão aproximadamente 576 mil novos casos (considerando o

câncer de pele não melanoma)2.

Como não há causas bem estabelecidas, a melhor maneira para tratar um câncer é o

diagnóstico precoce da doença. Uma vez detectado, o câncer poderá ser tratado de acordo

com a especificidade, estadiamento e tipo do câncer, bem como a finalidade: curativa ou

paliativa. As principais modalidades de tratamento são: cirurgia, terapias sistêmicas

(quimioterapia), hormônio-terapia e radioterapia3. Tais modalidades podem ser utilizadas

separadamente ou em conjunto e geralmente envolvem uma equipe multidisciplinar.

1.2 Radioterapia

O final do século XIX revelou importantes descobertas para a identificação e

conhecimento das radiações ionizantes. A descoberta dos raios-X pelo Prof. Wilhelm

Conrad Roentgen em 1895, seguido pelo Prof. Antonie Henri Becquerel com a descoberta

da radioatividade no ano de 1896 e a descoberta do elemento rádio pelo Prof. Pierre Curie

e Profa. Marie Curie em 1898. O próprio Prof. Pierre Curie observou que os raios emitidos

pelo elemento rádio provocaram queimaduras em seu antebraço após sucessivas

exposições3. Para fins terapêuticos, a fonte de rádio foi utilizada em 1903 para o tratamento

de dois pacientes com carcinoma facial de células basais3, 4

. Tais fatos marcam o inicio da

utilização das radiações ionizantes em medicina, conhecida como Radioterapia (Terapia

utilizando o elemento rádio).

13

Desde o inicio do século XX, a radioterapia evoluiu com a inserção de novas

tecnologias e maior abrangência para o tratamento de outros cânceres. Da radioterapia

provêm duas modalidades básicas para o tratamento do câncer: teleterapia e braquiterapia5.

A teleterapia é a modalidade onde a fonte emissora de radiação ionizante fica a uma

distância (0,8 - 1 metro) do paciente. As principais fontes emissoras utilizadas na

teleterapia são: fontes radioativas de Cobalto-60 ou Césio-137, raios-X (4 MV - 25 MV),

elétrons (4 MeV – 25 MeV), prótons (100 MeV/u.m.ai. – 250 MeV/u.m.a.), íons pesados

(290 MeV/u.m.a. – 400 MeV/u.m.a.)6 e nêutrons (por meio da técnica de captura nêutron-

bório, BNCT em inglês)7.

Alternativamente, braquiterapia é a técnica em que fontes emissoras de radiações

ionizantes são inseridas ou permanecem próximas (superfície) da região a ser tratada.

1.3 Braquiterapia

A braquiterapia foi uma das formas iniciais de tratamento na radioterapia,

utilizando elementos radioativos naturais, como o rádio. As fontes eram posicionadas

internamente ou na superfície do local a ser tratado3.

Atualmente, há variadas fontes radioativas para aplicação em braquiterapia, com

destaque para: isótopos emissores de raios-X ou raios iodo-125, irídio-192, paládio-196,

césio-131, césio-137 e cobalto-60), partículas (estrôncio/ítrio-90, fósforo-32, xenônio-

133, tungstênio/rênio-188 e rutênio/ródio-106) e nêutrons (Cf-252).

Algumas fontes radioativas foram publicadas como possíveis fontes adicionais para

a utilização em braquiterapia, tais como: Cobalto-578, Túlio-170

9 e Itérbio-169

10, mas até a

finalização deste trabalho não foram encontradas referências de utilização comercial destas

fontes. Nos últimos anos, fontes de raios-X (até 50 kV nominal) em tubos com dimensões

da ordem de milímetros foram desenvolvidos como alternativa para as fontes radioativas

convencionais11–13

.

Novas técnicas e modalidades impulsionaram a área de braquiterapia durante as

últimas décadas. A utilização dos recursos de imagem, como a tomografia

computadorizada, ultrassonografia e a ressonância magnética, contribuíram, por exemplo,

para desenvolver a braquiterapia tridimensional (3D)14–17

e consequentemente aplicações

guiadas por imagem18, 19

, utilização de sistemas robóticos20–22

e sistemas de fontes

i u.m.a: unidade de massa atômica.

14

radioativas que possuem maior proteção aos tecidos sadios, por meio da braquiterapia

direcional23, 24

.

Os procedimentos em braquiterapia podem ser classificados conforme as

características do tratamento específico e também das fontes radioativas aplicadas, dentre

as classificações convém destacar25, 26

:

a) Tipos de Implantes: intersticiais, intracavitários, intraoperatórios e aplicações

com placas;

b) Duração do tratamento: temporários e permanentes;

c) Carregamento (loading) da fonte radioativa: pré-carregamento (preloading) e

Pós-carregamento (afterloading);

d) Taxa de dose: baixa, média e alta taxa de dose.

Para os implantes intersticiais, as fontes radioativas são inseridas dentro do volume

alvo (região a ser tratada), através de aplicadores específicos. Implantes intracavitários

caracterizam-se por aplicações de fontes radioativas em cavidades do corpo, utilizada

principalmente em tumores ginecológicos. Quando a fonte é aplicada cirurgicamente

dentro ou próximo ao tumor, para procedimentos temporários, denomina-se implante

intraoperatório. Nas aplicações de fontes radioativas em forma de placas, estas são

alocadas diretamente no tecido ou na superfície a serem tratados. Tais placas têm a

vantagem de moldarem-se ao órgão onde se encontra a lesão, podendo ficar em contato

direto com o órgão ou volume alvo.

Com relação ao tempo em que a fonte radioativa fica em contato com o volume a

ser tratado, pode-se classificar a braquiterapia em duas categorias: temporários ou

permanentes. Os implantes temporários são realizados com a aplicação da fonte radioativa

durante intervalos de minutos ou horas, retirando-se a fonte após a aplicação. Os implantes

permanentes são realizados posicionando-se fontes radioativas (com materiais

biocompatíveis em seu invólucro) dentro do volume alvo, de modo que a fonte radioativa é

mantida dentro do paciente vitaliciamente. O tempo de permanência da fonte também

associa-se com a ordem de grandeza da atividade de cada radionuclídeo, assim para

implantes temporários, a atividade da fonte é maior do que aquelas utilizadas nos implantes

permanentes.

Para o pré-carregamento (preloading), as fontes radioativas estão localizadas nos

próprios aplicadores durante o implante. No pós-carregamento (afterloading) são

15

posicionados os aplicadores (manualmente ou por meio de aparelhos) e após esta

aplicação, as fontes e aplicadores são inseridos no volume alvo (carregadas).

As fontes radioativas são classificadas quanto à faixa de dose em baixa, média e

alta taxa de dose para intervalos de: 0,4 a 2 Gy/h; 2 a 12 Gy/h e > 12 Gy/h,

respectivamente26

.

1.4 Fontes de Irídio-192

As fontes de irídio-192 foram introduzidas para aplicação em braquiterapia no final

da década de 50, como alternativas para as fontes de rádio-226. A principal desvantagem

da utilização do elemento rádio-226 é a produção do gás radioativo radônio-222 como

produto de decaimento, que além de espalhar-se com facilidade para a atmosfera gera

outros subprodutos radioativos.

A meia-vida do irídio-192 equivale a 73,81 dias e é produzido por meio do

decaimento dos estados excitados da platina-192, via desintegração _ (95%) e captura

eletrônica do ósmio-192 (5%). Apesar de possuir modos de relaxamento nucleares

complexos, considera-se, em média, que 2,35 fótons são emitidos por desintegração, com

energias que variam de 9 keV até 1378 keV, com energia média de 355 keV. A partícula

beta é emitida com energia máxima de 675 keV e energia média de 180 keV. A produção

do irídio-192 é realizada pelo enriquecimento do irídio-191 (37% de abundância isotópica),

por meio da reação nuclear (n,)27

.

A Tabela 1 mostra os principais fótons emitidos pelo isótopo irídio-192, conforme

os dados utilizados pelo National Nuclear Data Center (NNDC) - Laboratório Nacional de

Brookhaven (BNL – Estados Unidos da América) 28

, baseados nos dados obtidos por

Baglin29

.

16

Tabela 1- Principais emissões e sua respectiva intensidade do irídio-192.

Energia (keV) Intensidade (%)

8,91 1,50

61,49 1,19

63,00 2,02

71,08 0,24

71,41 0,46

73,36 0,16

110,33 0,01

201,31 0,47

205,80 3,31

283,27 0,27

329,09 0,02

374,48 0,73

420,51 0,07

484,57 3,19

489,06 0,44

703,78 0,01

Em braquiterapia de alta taxa de dose, as fontes de irídio-192 possuem dimensões

milimétricas e são encapsuladas dentro de metais (cápsulas) onde uma das extremidades

solda-se com um cabo utilizado para o movimento da fonte. Os principais modelos

existentes destas fontes são mostrados pela Figura 1. Embora muito similares entre si, as

diferenças dentre as propriedades dosimétricas destas fontes devem ser bem avaliadas.

Figura 1 - Modelos de fontes de irídio-192. As dimensões estão em milímetros (adaptado

de Rasmussen et. al.)28

.

17

Em suas primeiras formas de aplicação, as fontes de irídio possuíam formatos

cilíndricos da ordem de milímetros, geralmente conhecidas como sementes30

. Como

alternativa para as fontes de rádio-226 e ouro-198, as fontes de irídio-192 decaem com

menor intensidade, quando comparadas aos radionuclídeos citados anteriormente, portanto

são satisfatoriamente recomendadas para implantes permanentes30, 31

. Para os implantes

permanentes, as fontes de irídio-192 possuem baixa taxa de dose (Low Dose-Rate – LDR).

Embora útil para muitos casos, sua aplicação ainda é limitada para outros sítios

anatômicos.

Como a taxa de dose de uma fonte está relacionada proporcionalmente com a

atividade da mesma, fontes com atividades maiores são capazes de fornecer alta taxa de

dose. Porém, a manipulação e a exposição das fontes de alta taxa de dose demandam

condições de blindagens especiais, para que a exposição aos trabalhadores e ao público

geral seja reduzida.

1.4 Braquiterapia de Alta Taxa de Dose Pós-carregamento (Afterloading)

A criação de um sistema eletromecânico que abriga a fonte radioativa de modo

seguro quando não utilizada e a libera somente durante a realização do tratamento foi a

estratégia utilizada para a aplicação das fontes de alta taxa de dose em braquiterapia,

sistema este conhecido como afterloading32

. As salas onde estes sistemas estão localizados

possuem blindagens especiais para evitar exposição desnecessária aos trabalhadores e ao

público durante os tratamentos de braquiterapia com alta taxa de dose33

.

A Figura 2 ilustra um sistema de afterloading utilizado em braquiterapia de alta

taxa de dose. Em suma, este equipamento possui uma fonte de irídio-192 (ou radionuclídeo

equivalente para a prática de braquiterapia para alta taxa de dose) soldada a um cabo, que

se move mecanicamente (atualmente em posicionamentos com incrementos menores do

que milímetros) até o ponto desejado, permanecendo neste mesmo ponto o tempo

necessário para administrar a dose planejada. Como citado anteriormente, tais sistemas

possuem blindagens internas que reduzem a exposição das fontes de irídio-192 ao

ambiente.

Atualmente, os sistemas afterloading são acionados por computadores e demais

controladores, alguns são aptos para múltiplas fontes (exemplo, irídio-192 e cobalto-60).

Em sua maioria, estes sistemas possuem posições para múltiplos cateteres, que podem ser

18

utilizados simultaneamente, de acordo com o plano de tratamento, porém com uma fonte

única para o conjunto.

Figura 2 - Representação de um sistema afterloading para braquiterapia de alta taxa de

doseii.

1.5 Aspectos dosimétricos em Braquiterapia

Após descoberta da radioatividade e a sucessiva aplicação das radiações ionizantes

para o tratamento de pacientes houve questionamentos sobre qual é a quantidade necessária

para o tratamento de determinadas doenças. No início, as estimativas de dose em pacientes

submetidos aos tratamentos utilizando fontes radioativas naturais, como o rádio-226, eram

baseados no limiar dose-eritema (Threshold Erythema Dose- TED), a quantidade de

exposição necessária da fonte radioativa para produzir efeitos de eritema cutâneo34

.

Com o advento dos primeiros sistemas dosimétricos foi possível estabelecer

quantidades físicas associadas aos tratamentos e os respectivos efeitos biológicos. Porém,

os procedimentos e metodologias para cada tratamento eram limitados a grupos de

pesquisas pioneiros em braquiterapia. Nota-se que em alguns casos, os valores e as

constantes necessárias para os cálculos de dose poderiam diferir entre si por um fator 2,

afetando diretamente os resultados do tratamento e possíveis comparações com outros

grupos34

.

ii Imagem obtida por comunicação pessoal – Elekta AB (publ).

19

Paralelamente, os planejamentos para o tratamento eram realizados por meio de

sistemas manuais de cálculo, para implantes planares ou volumétricos. Os principais

sistemas dosimétricos desenvolvidos foram: Quimby, Memorial e Paterson-Parker25

.

As primeiras fontes radioativas utilizadas em braquiterapia possuíam formatos cilíndricos

(tubos ou agulhas) com tamanhos e intensidades diferentes. Geralmente compostas por

rádio-226, estas fontes foram desenvolvidas para proporcionar uma distribuição de

atividade linear ao longo do cilindro. Os cálculos de dose com estas agulhas eram

realizados manualmente, considerando a intensidade do radionuclídeo, quantidade de

material radioativo e o tempo de posicionamento de cada fonte radioativa no volume a ser

tratado25, 34

.

Inicialmente, a grandeza física utilizada para mensurar a quantidade de dose a ser

administrada aos pacientes era a exposição ou taxa de exposição35

. Nota-se que para

tratamentos intracavitários, a quantidade massa radio-equivalente era aplicada, para

calcular a massa equivalente do rádio-226 correspondente a do radionuclídeo a ser

utilizado23

. Tais grandezas foram utilizadas como padrões para calibrações das novas

fontes aplicadas em braquiterapia.

Apesar do avanço gradual das técnicas em braquiterapia, sistemas de determinação

de dose mais acurados eram necessários para cálculos dosimétricos mais realistas. As

principais limitações estavam relacionadas com a dificuldade de mensuração da dose

absorvida por fontes de braquiterapia, geralmente associada às limitações dos sistemas

dosimétricos e aos algoritmos de cálculo de dose baseados em ferramentas manuais, tais

como nomogramas e tabelas, pois ainda não havia disponibilidade de ferramentas

tecnológicas (computadores), naturalmente inviabilizando sistemas de cálculos mais

complexos para um contexto clínico.

1.6 Cálculos dosimétricos em braquiterapia

1.6.1 Protocolo TG-43

Os adventos de métodos dosimétricos mais robustos e acurados permitiram que os

cálculos de dose para braquiterapia fossem realizados em condições mais próximas a

prática. Dada a não uniformidade e acurácia dos planejamentos de dose em braquiterapia, a

Associação Americana de Físicos em Medicina (American Association of Physicists in

20

Medicine - AAPM) publicou um protocolo com as recomendações para o cálculo de dose

em fontes de braquiterapia para aplicações intersticiais36, 37

. Apesar de este protocolo ser

dedicado a fontes com baixa taxa de dose, ele também é largamente utilizado para fontes

de alta taxa de dose.

Este protocolo é popularmente conhecido como TG-43 (AAPM Task Group – No.

43) e descreve a taxa de dose absorvida em um volume próximo a fonte a ser analisada,

conforme a seguinte equação:

(1)

onde é a taxa de dose em função da distância e ângulo do centro da fonte; Sk é a

intensidade kerma-ar; é a constante de taxa de dose; representa a função de

geometria; é a função radial de dose e quantifica a anisotropia ao redor da

fonte.

A intensidade kerma-ar (SK) é obtida por meio de câmaras de ionização calibradas

em laboratórios dosimétricos, para cada tipo de fonte utilizada. A constante de taxa de dose

expressa a razão da taxa de dose absorvida no ponto de referência (ro = 1 cm e o = 90º)

com a intensidade kerma-ar. A função de geometria representa a função para uma fonte

linear. O decréscimo da dose com o aumento da distância em relação ao centro da fonte,

devido aos espalhamentos de fótons e atenuações, é quantificado pela função de dose

radial. A anisotropia polar das fontes é estimada pela função de anisotropia37–39

.

Estes cálculos são utilizados para uma fonte posicionada no centro de uma esfera com

água. O subscrito L inserido na função de geometria e função de dose radial denota a

aproximação linear (2D) de uma fonte cilíndrica. Os três últimos termos da equação 1

renderão valores adimensionais38

.

As coordenadas utilizadas para esta equação estão representadas na Figura 3.

,

,

,, rFrg

rG

rGSrD L

ooL

LK

,rD

,rGL

rgL ,rF

21

Figura 3 - Sistema de coordenadas cilíndricas utilizadas pelo protocolo TG-4336

.

O protocolo TG-43 apresentou mais uniformidade e rastreabilidade para os cálculos

de dose, quando comparados com as recomendações de anteriores. Algumas limitações

ainda permanecem para representar melhor a prática clínica, dentre as quais, destacam-se:

a taxa de dose descrita pelo TG-43 considera o espalhamento das radiações

ionizantes em um meio homogeneo, composto por um volume “infinito” de água,

assim as heterogeneidades dos tecidos e as dimensões e formatos de cada paciente

são desconsideradas;

os efeitos das atenuações entre múltiplas fontes também não são considerados,

avaliando-se somente a sobreposição das doses absorvidas;

os aplicadores e demais acessórios não são considerados, porém alterações nas

distribuições de dose ocorrem no meio analisado devido à presença destes

materiais.

1.6.2 Protocolo TG-186

Na tentativa de tornar os cálculos de dose em braquiterapia mais realisticos,

formalismos foram desenvolvidos para preencher algumas lacunas relacionadas à incerteza

22

na determinação dos valores de dose para cada situação. Considerando as limitações

apresentadas no TG-43, um grupo de trabalho foi desenvolvido pela AAPM, em conjunto

com a Sociedade Americana de Braquiterapia (American Brachytherapy Society - ABS),

Group Australiano de Braquiterapia (Australasian Brachytherapy Group – ABG) e Grupo

Europeu de Braquiterapia (Groupe Européen de Curiethérapie-GEC) da Sociedade

Europeia para Radioterapia e Oncologia (ESTRO) para uniformizar a prática de cálculos

de dose em braquiterapia utilizando algoritmos de cálculo de dose baseados em modelos

(model-based dose calculation algorithms – MBDCAs)40

.

Além de descrever os principais fundamentos e modelos utilizados no cálculo de

dose, o TG-186 cita as principais etapas para a transição do TG-43 para o TG-186 e relata

os requisitos para o comissionamento de tais sistemas, informações e os procedimentos de

imagem dos pacientes40

.

Os algoritmos baseados em modelos (MBDCA) têm por caracteristica calcular a

distribuição de dose volumétrica utilizando as informações geométricas do paciente,

considerando a composição (por aproximações) dos tecidos nas regiões onde o tratamento

será realizado. Dos algoritmos existentes, três destacam-se para aplicações em

braquiterapia: Método por convolução/superposição de cone colapsado (Collapsed-cone

superposition/convolution method)40,41

, Monte Carlo (MC) e Soluções das equações de

Boltzmann baseados em grid (Grid-Based Boltzmann Equation Solver – GBBES ou

GBBS).

O protocolo TG-186 recomenda que a dose absorvida em um volume seja reportada

como: dose calculada e transportada conforme a composição de cada voxel (meio) - (Dm,m).

Desta forma, todas as informações relacionadas a composição e contornos são analisadas e

calculadas pelos algoritmos baseados em modelos (MBDCA). Outras formas de

representação da dose absorvida são possíveis, como exemplo, a dose calculada em água e

transportada no meio (Dw,m) e a dose calculada em água e transportada em água (Dw,w) –

TG-43, porém não são recomendadas pelo protocolo40

1.6.3 Heterogeneidades

A descrição detalhada e acurada do transporte das radiações ionizantes na matéria é

ainda motivo de debate na comunidade científica43

. O avanço dos modelos e algoritmos

para os cálculos de dose absorvida permitiu planejar distribuições de dose com maior

23

acurácia, entretanto, em algumas situações diferenças elevadas (ordem de 40%)44

podem

ser obtidas.

Para fins terapêuticos, utilizar a água como meio simulador mais próximo ao do

tecido humano é válida, pois cerca de 70% dos elementos do corpo humano é constituído

por água. Naturalmente, os protocolos dosimétricos em radioterapia foram baseados em

distribuições em meio aquoso, em condições técnicas que não consideram a geometria

antropomórfica36, 37, 45

.

Em radioterapia, as interações predominantes dos fótons com a matéria são por

meio dos espalhamentos Compton e fotoelétrico40

. As interações são dependentes

principalmente da energia incidente dos fótons e da composição (densidade e número

atômico) do meio. Para exemplificar, a Figura 4 mostra a razão do coeficiente de atenuação

de massa-energia em água para cada tecido humano avaliado, variações em um fator 7

(osso trabecular) podem ser encontrados, principalmente para regiões de menores energias

(≤ 100 keV).

Estes coeficientes são utilizados para o cálculo de dose absorvida em muitos

algoritmos. Desta forma, o cálculo de dose absorvida em regiões com a presença de

diversos meios, com composições distintas, podem possuir incertezas elevadas caso

algoritmos baseados em meios homogeneos, como a água, sejam utilizados.

Embora estes fenômenos sejam menos pronunciados para as energias emitidas pelo

radionuclídeo irídio-192 (355 keV), a energia depositada no meio possui uma contribuição

significante devido aos espalhamentos secundários, assim os fótons de baixa energia

resultante destes espalhamentos devem ser considerados para os cálculos de dose

absorvida.

Em algumas situações clínicas envolvendo fontes de irídio-192, diferenças de até

15% são encontradas comparando a dose absorvida por meio dos algoritmos Dw,w-TG-43 e

Dm,m, respectivamente46

. Em tratamentos de câncer de mama com irídio-192,

Lymperopoulou et al. mensuraram que as doses absorvidas no pulmão são 10% maiores

quando o algoritmo Dw,w-TG-43 é utilizado47

.

24

Figura 4 - Razão do coeficiente de atenuação de massa-energia de alguns tecidos do corpo

pela água (adaptada da referência39

).

1.7 Sistemas de Planejamento Computadorizado em Braquiterapia

Os sistemas de planejamento computadorizados, ou simplesmente sistemas de

planejamento, são equipamentos que dentre outras coisas calculam os parâmetros

necessários para que o tratamento seja realizado, conforme a prescrição médica.

Basicamente, o sistema de planejamento adquire a imagem anatômica interna dos pacientes

(utilizando imagens de raios-X, Tomografia Computadorizada ou Ressonância Magnética).

Após a aquisição, as estruturas internas de interesse radioterápico são delineadas (para

procedimentos tridimensionais – 3D) ou estimadas (casos convencionais),

consequentemente as configurações de tratamento possíveis são planejadas e

contabilizadas pelo sistema de planejamento. Em braquiterapia de alta taxa de dose, os

sistemas de planejamento informam o intervalo de tempo que a fonte deverá permanecer

em uma determinada posição. Na maioria dos casos, múltiplas posições são requeridas para

atingir satisfatoriamente os objetivos do tratamento.

25

Excetuando as características individuais de cada sistema de planejamento, os

algoritmos implementados para cálculos em braquiterapia são baseados no protocolo TG-

43 ou nos métodos de cálculos com correções para heterogeneidade, algoritmos baseados

em modelos citados anteriormente. A seguir, uma breve descrição sobre as Soluções das

equações de Boltzmann baseados em grid e Métodos por Monte Carlo. Tais sistemas são

utilizados por softwares comerciais (GBBS) ou desenvolvidos por diversos grupos de

pesquisa (MC).

1.7.1 Soluções das equações de Boltzmann baseados em grid (GBBS)

Neste algoritmo, as equações integrais de transporte linear de Boltzmann (Linear

Boltzmann Transport Equation – LBTE) são resolvidas iterativamente utilizando as

discretizações das variáveis de espaço-fase: energia – via multigrupos, espaço –

aproximações por elementos finitos ou diferenças finitas, ângulo – método das ordenadas

discretas; porém outros métodos podem ser utilizados35, 40, 48–50

. Aplicações para estas

equações envolvem o transporte de partículas carregadas, neutras e emissões associadas a

fótons-elétrons simultaneamente.

O algoritmo GBBS faz a discretização do volume avaliado em uma rede (grid, em

inglês) de volumes menores (voxels). Isto permite que cada voxel possa ser assinalado com

uma densidade, procedimento este realizado por meio da aquisição apropriada das imagens

tomográficas. Finalmente, o kermaiii

em água é a quantidade utilizada pelo algoritmo para

fornecer a distribuição dosimétrica no plano avaliado, considerando o transporte das

radiações com presença de heterogeneidades39, 50

.

Atualmente, o algoritmo GBBS é disponível em teleterapia e braquiterapia

(somente para as fontes de irídio-192 – HDR), e distribuído pela empresa Varian Medical

Systems com o nome AcurosTM

, implementados em um sistema de planejamento comercial

denominado BrachyVisionTM

. As incertezas dos cálculos realizados pelo algoritmo GBBS

estão relacionados com o grau de refinamento das discretizações angulares, energia e

espaço. Os dados obtidos com a biblioteca de aplicadores e demais acessórios podem

introduzir incertezas adicionais.

Uma das principais vantagens deste algoritmo é a rapidez para o cálculo de dose em

um contexto clínico. Um dos motivos é que este algoritmo assume que os elétrons são

iii Acrônimo para Kinetic Energy Released per unit Mass.

26

absorvidos localmente, ou seja, ele não realiza o transporte de elétrons secundários (até o

momento), devido à complexidade e o tempo consumido para realizar o transporte destas

partículas. As respostas fornecidas pelo algoritmo são em termos de kerma em água, que

para as energias dos fótons de irídio-192 são próximas a dose absorvida, porém em regiões

limitadas a interfaces onde a aproximação kerma e dose não são satisfatórias, podem sofrer

maiores discrepâncias nos cálculos39, 51

.

1.7.2 Método por Monte Carlo (MC)

Frequentemente utilizado para simulações de transporte de partículas, os métodos

por Monte Carlo simulam eventos de características estocásticas (como o transporte de

radiação ionizante) para estimar a quantidade estudada. Em simulações envolvendo o

transporte das radiações ionizantes, os métodos por Monte Carlo resolvem as equações de

transporte simulando a passagem da radiação ionizante em um determinado meio e as suas

respectivas probabilidades de interação e gerações de partículas (fótons) secundárias35, 52

.

Simulações por Monte Carlo são essenciais para diversos problemas em transportes de

radiações ionizantes, onde em muitos casos outras estimativas ou mensurações são

impraticáveis.

O número de eventos simulados por Monte Carlo é diretamente proporcional a

resultados com menor incerteza, assim a simulação de situações complexas, como a

distribuição de dose absorvida em um paciente, torna-se longa (em um contexto clínico),

mesmo com sistemas computacionais otimizados para um alto processamento de dados35,

39, 51. Para reduzir o tempo necessário para realizar as simulações, aproximações são

introduzidas aos códigos para tornar viável o uso deste algoritmo em sistemas de

planejamento53–55

.

Códigos computacionais baseados em Monte Carlo foram desenvolvidos para o

estudo do transporte da radiação ionizante e os mais utilizados atualmente são:

PENELOPE52

, MCNP656

, EGSnrc57

, GEANT458

, FLUKA59

, dentre outros. Tais códigos

são aplicados para simulações de problemas em radioterapia, bem como suas respectivas

distribuições.

Por princípio, os códigos de Monte Carlo são capazes de simular qualquer

geometria e calcular a dose absorvida em qualquer região dentro de um volume,

consequentemente, vários materiais podem ser simulados (incluindo composições do

tecido humano). Isso permite cálculos de dose mais realistas e acurados, inclusive com o

27

transporte para meios heterogêneos. Entretanto, as limitações técnicas e o tempo diminuto

para realizar os planejamentos, torna promissor o uso dos sistemas de Monte Carlo na

prática clínica 39, 40

.

Apesar das limitações inerentes aos sistemas de planejamento, os métodos de

Monte Carlo são vastamente utilizados em radioterapia, como por exemplo: em fatores de

correções dosimétricos, dosimetria das fontes de braquiterapia, análise de aplicadores,

acessórios e blindagens em salas de tratamento com radiações ionizantes, corroborar

experimentos, quantificar efeitos de geometria e regiões onde as condições de equilíbrio

eletrônico não são satisfatórias, dentre outras aplicações60–66

.

1.8 Dosímetros

A obtenção de quantidades acuradas e precisas, para a determinação da dose

absorvida, está intrinsicamente associada aos instrumentos utilizados em suas

mensurações. Desde o início da utilização das radiações ionizantes em medicina, os

dosímetros estiveram presentes para determinar ou relacionar grandezas físicas

mensuráveis com a dose correspondente ao meio analisado.

A evolução das técnicas em radioterapia trouxe a necessidade para o

desenvolvimento de instrumentos mais confiáveis (em termos metrológicos) e capazes de

fornecerem as suas respectivas respostas com o menor nível de incerteza possível, uma vez

que tais valores são utilizados para o planejamento do tratamento mais eficiente para o

paciente, bem como, estimar as possíveis complicações decorrentes que possam ocorrer

após a administração da radioterapia.

Dada a variedade e especificidade das modalidades utilizadas em radioterapia, obter

um único sistema dosimétrico capaz de fornecer as quantidades dosimétricas desejadas

torna-se uma tarefa inviável atualmente. Comumente, os dosímetros podem possuir

limitações técnicas causadas por fatores externos que impedem a utilização universal no

âmbito das mensurações em física das radiações ionizantes, algumas limitações podem ser

enumeradas como: dependência energética, dependência geométrica, volumes inadequados

para gerar o equilíbrio de partículas carregadas (essencial para alguns modelos

dosimétricos), características técnicas que limitam a utilização para uma determinada

qualidade de radiação ionizante, dentre outras25, 67, 68

.

28

Considerando os diversos métodos dosimétricos, este trabalho irá apresentar os

sistemas mais relevantes para este projeto e uma breve descrição será fornecida com a

literatura correspondente nos itens subsequentes.

1.8.1 Dosimetria Termoluminescente

A termoluminescência é o fenômeno que ocorre em certos materiais, tipicamente

em isolantes e semicondutores, que caracteriza a emissão de luz do próprio material

previamente excitado. Com a irradiação do material termoluminescente (TL), estados

metaestáveis são criados na estrutura do material, tais estados retornam aos níveis

fundamentais com o aumento da temperatura do material, e consequentemente a liberação

ou emissão de energia dos estados metaestáveis ocorre em forma de luz (relaxação) 69–72

.

A luz emitida pelo material TL é proporcional à energia absorvida por ele, assim a

aplicação da técnica termoluminescente em dosimetria das radiações ionizantes é

justificada. Diversos materiais exibem o fenômeno da termoluminescência, alguns deles

são listados na Tabela 273

, incluindo as regiões de linearidade da resposta TL e saturação,

ambos em termos de dose. Esta tabela também quantifica como a resposta TL de um

determinado material apresenta variações quando duas energias distintas são utilizadas.

Este fenômeno é conhecido também como dependência energética e está associado a

fenômenos intrínsecos de cada material66

.

Um dos materiais mais utilizados e investigados pela literatura é o Fluoreto de Lítio

dopado com Magnésio e Titânio (LiF:Mg,Ti ou TLD-100)74

. Os materiais dopantes

presentes no TLD-100 são utilizados para aumentar a sensibilidade do dosímetro e

intensificar a criação de estados metaestáveis, a proporção relatada na literatura é de 180

ppm e 10 ppm de Mg2+

e Ti4++

, respectivamente73, 74

. Diversas formas e tamanhos podem

ser obtidos com o TLD-100, frequentemente os TLD-100 estão disponíveis na forma de

pó, moldando-se ao recipiente desejado.

Por ser um dosímetro relativo, os dosímetros TL requerem calibrações em feixes de

radiação ionizante com valores de dose conhecidos. Assim é possível estimar a dose

absorvida no material comparando-a com os valores obtidos durante a calibração em feixes

de referência38

. Como os dosímetros TL podem ser reutilizados, eles são submetidos ao

tratamento térmico (pós-leitura), para garantir eliminação das respostas residuais de

irradiações prévias.

29

Etapa fundamental para a técnica TL, os tratamentos térmicos são responsáveis

diretamente pela sensibilidade e reprodutibilidade das respostas do material. Para o TLD-

100, dois arranjos de tratamento térmico são utilizados, conhecidos com tratamento à alta

temperatura e à baixa temperatura, respectivamente38, 75

. Resumidamente, o tratamento

térmico a alta temperatura permite a relaxação dos estados metaestáveis de maiores

temperaturas e restauram a sensibilidade natural dos materiais TL. A redução do fading

(perda espontânea dos estados metaestáveis mesmo sem o aquecimento externo) e a

redução da contribuição dos picos de menores temperaturas são realizadas pelo tratamento

térmico de baixa temperatura73

.

Os valores de temperatura e o período utilizado para cada tratamento variam de

acordo com a metodologia empregada por cada grupo de pesquisa. Em geral, as

temperaturas mais utilizadas para o TLD-100 são 400 oC por 1 hora e 100

oC por 2 horas

ou 80 oC por 24 horas, para os tratamentos de alta e baixa temperaturas, respectivamente

73.

A acurácia da técnica TL está estritamente vinculada ao conhecimento dos

parâmetros que podem contribuir para o aumento da incerteza em suas respectivas

respostas. Desta forma, a análise das dependências e de outros fenômenos que podem

alterar a resposta é uma etapa essencial em qualquer estudo com materiais TL.

A utilização dos TLD-100 em braquiterapia perfaz uma das grandes aplicações da

técnica de termoluminescência em radioterapia. Dada a facilidade para o manuseio e os

volumes reduzidos (ordem de mm3), estes dosímetros mostram-se convenientes para

aplicações em fontes de braquiterapia, que possuem tamanhos diminutos e um rápido

decréscimo da dose com o aumento da distância34, 36, 37

. Maiores detalhes podem ser

encontrados em uma recente revisão que aborda as aplicações dos dosímetros TL, TLD-

100, em braquiterapia e é fornecida por DeWerd et. al76

.

30

Tabela 2 - Descrição dos principais materiais TL utilizados, adaptados da referência72

. (1)

Nome popular, como designado pelos fabricantes.

Material TL Nome

Comercial (1)

Zeff

Região linear

de dose (Gy)

Saturação

(Gy)

Resposta energética

(30 keV/60

Co)

LiF:Mg,Ti

TLD-100 8,2 5.10-6

– 1 ~ 105 1,3

LiF:Mg,Cu,P GR-200 8,2 3.10-6

– 10 ~ 10 anômalo

CaF2:Mn TLD-400 16,3 10-5

– 10 ~ 2.102 ~ 13

CaF2:Dy TLD-200 16,3 10-5

– 10 ~ 5.102 ~ 13

CaF2:Tm TLD-300 16,3 1 – 10 ~ 10 ~ 13

Al2O3:C TLD-500 10,2 10-6 - 10

2 ~ 50 ~ 2,8

Al2O3:Mg,Y D-2/D-3 10,2 10-3 - 10

4 ~ 10

4 ~ 2,8

CaSO4:Dy TLD-900 15,5 10-6

– 10 ~ 105 10 - 12

CaSO4:Tm - 15,5 10-6

– 30 ~ 102 10 - 12

Li2B4O7:Mn TLD-800 7,4 10-4 – 3 ~ 10

4 ~ 0,9

Li2B4O7:Cu - 7,4 10-4 – 3 ~ 10

3 ~ 0,8

MgB4O7:Dy - 8,4 10-5 – 1 ~ 10 ~ 1.5

BeO - 7,1 10-4

– 0,5 ~ 102 ~ 1,4

MgO - 10,0 10-4 - 10

4 ~ 10

4 -

1.8.2 Filmes Radiocrômicos

Os filmes radiocrômicos são relativamente recentes em aplicações para a dosimetria

em radioterapia. Desenvolvidos em meados de 1980, os filmes radiocrômicos alteram a sua

coloração quando irradiados (radiação ionizante ou ultravioleta), sem a necessidade de

revelação, desenvolvimento térmico ou óptico77–79

. As principais vantagens dos filmes

radiocrômicos são: dosimetria bidimensional (2D), espessura típica de um filme

radiográfico (≤ mm), robustez, pouca sensibilidade à luz visível e registro permanente dos

perfis de dose79

.

Além da imagem (qualitativa), informações quantitativas de dose são extraídas

quando os filmes radiocrômicos são processados. Geralmente, o método utilizado para a

leitura destes filmes é o por transmissão, ou seja, a quantidade de dose recebida pelo filme

é proporcional ao seu escurecimento, portanto, a dose absorvida é mensurada

quantificando o grau de transmitância ocasionado pelo filme exposto. Comumente

compostos por camadas únicas ou duplas, os filmes radiocrômicos possuem em sua

31

composição ativa materiais orgânicos radiosensíveis, também são cobertos com películas

protetoras, para aumentar a proteção à camada ativa.

Desde a utilização dos filmes radiocrômicos para dosimetria das radiações

ionizantes, muitos filmes foram desenvolvidos. As principais mudanças ocorreram para

ajustar adequadamente a combinação dos elementos presentes nos filmes, sendo que tais

composições afetam diretamente na utilização técnica destes filmes (manuseio), redução

nas interferências ópticas (anéis de Newton), sensibilidade reduzida e respostas lineares

para o espectro analisado79, 80

. A Figura 5 mostra a representação de uma secção

transversal de um filme radiocrômico, modelo EBT3, amplamente utilizado pela

comunidade científica.

Investigações em braquiterapia de alta taxa de dose envolvendo a utilização de

filmes radiocrômico são recentes81–85

. As aplicações variam das aplicações dos filmes

radiocrômicos para a utilização dos controles de qualidade em braquiterapia e a utilização

dos filmes para a verificação do posicionamento da fonte de irídio-192, durante as trocas

de fontes nos aparelhos.

Similares aos dosímetros TL, os filmes radiocrômicos devem ser calibrados com os

feixes de referência para respostas em quantidades de interesse dosimétrico, porém estes

filmes devem ser calibrados por lote, já que as respostas de filme para filme podem sofrer

alterações entre lotes diferentes79

. Os fatores principais que podem aumentar a incerteza

das respostas nos filmes radiocrômicos são a dependência energética, processamento do

filme (métodos de análise da resposta dos filmes – scanner ou densitômetro), composição

diferentes dos valores nominais, dentre outros.

Figura 5: Desenho esquemático representando as camadas de um filme radiocrômico.

32

1.8.3 Câmaras de Ionização

As câmaras de ionização são os dosímetros mais utilizados em radioterapia. Elas

fornecem respostas precisas para diversos tipos de feixes radioativos, disponíveis em

vários volumes e podem ser utilizadas como instrumentos de calibração primária em

laboratórios de padrões metrológicos.

Com um grande histórico de aplicações em dosimetria das radiações ionizantes, as

câmaras de ionização evoluíram para dispositivos cada vez mais sofisticados e sua

utilização são mandatórias em teleterapia e braquiterapia13, 26, 45, 67, 86–90

. Basicamente, a

câmara de ionização é composta por um eletrodo central, isolantes (anéis de guarda) e uma

cápsula (parede ou janela dependendo da configuração da câmara)67

. A Figura 6 esboça um

arranjo básico de uma câmara de ionização, as dimensões e formatos variam conforme o

modelo e fabricante. A radiação ioniza o ar dentro do volume ativo da câmara, as

partículas carregadas decorrentes da interação são coletadas pela cápsula ou eletrodo, por

meio do campo elétrico gerado pela diferença de potencial entre o eletrodo e a cápsula; as

cargas coletadas são então quantificadas por um eletrômetro. A quantidade de carga

gerada é proporcional à dose absorvida67

. Embora não comuns em muitas clínicas, câmaras

de ionização preenchidas com líquido são disponíveis, estas câmaras são geralmente

aplicadas em dosimetria para campos pequenos, onde o volume dos dosímetros e os efeitos

de irradiação parcial do volume da câmara são reduzidos91, 92

.

Os tipos mais comuns de câmaras de ionização utilizadas em radioterapia são:

cilíndricas, placas paralelas e câmaras de ionização tipo poço26, 67

. Em braquiterapia, a

câmara poço (Well Chambers) é a mais utilizada para mensurar a intensidade kerma-ar das

fontes de irídio e fontes de baixa taxa de dose93–95

.

Figura 6 - Seção transversal de uma câmara de ionização tipo cilíndrica.

33

Excetuando-se as câmaras de ionização tipo poço, os demais tipos de câmaras são

pouco explorados em braquiterapia para mensurações dosimétricas. O tamanho diminuto

das fontes aplicadas em braquiterapia pode acarretar dificuldades como: a irradiação

parcial da câmara e a baixa intensidade da resposta quando comparadas com as ordens de

grandeza em teleterapia, deste modo, o uso destes modelos de câmara deve ser feito com

cautela.

Não obstante, câmaras de ionização cilíndricas foram investigadas por alguns

grupos em braquiterapia de alta taxa de dose, principalmente para fontes de irídio-19290, 96–

100. Assim, as aplicações concentram-se em medidas da taxa de dose em água, conforme

parâmetros do TG-43, e de intensidade de kerma-ar, a metodologia, modelo e análise da

resposta fornecida por cada câmara variam de acordo com o estudo.

34

2 OBJETIVOS

Este projeto propõe uma aplicação de métodos dosimétricos experimentais para

avaliar os efeitos de heterogeneidade em algoritmos utilizados nos sistemas de

planejamento computadorizados em braquiterapia de alta de dose com fontes de irídio-192.

Os métodos dosimétricos experimentais estudados neste projeto são comparados com

simulações numéricas por Monte Carlo e com um sistema de planejamento comercial,

capaz de calcular a dose absorvida por meio de um algoritmo que considera as

heterogeneidades, no meio analisado.

Adicionalmente, este trabalho sugere uma metodologia de aplicação do sistema

experimental desenvolvido para análise de sistemas de planejamentos computadorizados

em braquiterapia, com correção para heterogeneidades, a serem desenvolvidos ou

implementados em um contexto clínico.

2.1 Originalidade

A originalidade deste projeto é a contribuição para o desenvolvimento de um

sistema dosimétrico experimental, que avaliará as interferências de materiais heterogêneos

nas medidas de braquiterapia em alta taxa de dose, utilizando fontes de irídio-192.

Visto que a incorporação de algoritmos aptos para o cálculo da dose absorvida em

braquiterapia com alta taxa de dose com a presença de heterogeneidade é recente e existe a

complexidade de obter respostas dosimétricas em meios heterogêneos, este trabalho propõe

o desenvolvimento de uma metodologia para a avaliação dos efeitos da heterogeneidade

com o uso de dosímetros experimentais. Via de regra, os algoritmos empregados para o

cálculo de heterogeneidades são comparados com simulações numéricas (Monte Carlo),

entretanto a utilização de meios experimentais fornecem as respostas dos fenômenos

físicos que ocorrem em uma determinada situação, uma vez que as simulações numéricas

utilizam aproximações para a avaliação da dose nos sistemas avaliados. A

complementariedade entre modelos teóricos e experimentais torna-se mandatória para a

redução na incerteza dos tratamentos em braquiterapia.

Referências na literatura delimitadas a este tema são esparsas no âmbito da

braquiterapia, limitando-se a casos clínicos específicos, para a validação de algoritmos de

cálculo de dose com capacidade para considerar meios heterogêneos.

35

O sistema dosimétrico experimental apresentado neste trabalho baseia-se em

configurações simples, inéditas quando considerados a utilização de materiais

heterogêneos, apta para o desenvolvimento em clínicas e hospitais, porém mantendo o

rigor científico e técnico necessário para a redução das incertezas nos processos estudados.

Devido à diversidade dos tratamentos e acessórios em braquiterapia com alta taxa de dose,

este projeto propõe o uso de um sistema experimental comum, onde as possíveis incertezas

adicionais a cada tipo de tratamento poderiam ser inseridas.

A inserção de métodos experimentais permite a comparação independente dentre os

algoritmos e os respectivos sistemas de planejamento existentes. Além de favorecer a

cultura da acurácia e precisão nos cálculos em radioterapia, estas comparações tendem ao

aperfeiçoamento mútuo do sistema dosimétrico experimental e dos algoritmos empregados

nos cálculos de dose com heterogeneidade. Estas abordagens ainda não foram investigadas

ou empregadas nas referências avaliadas neste trabalho.

36

3 MATERIAIS E MÉTODOS

A avaliação dos sistemas dosimétricos para investigações de heterogeneidade em

braquiterapia está diretamente associada com a criação e desenvolvimento de um objeto

simulador que apresente regiões de heterogeneidade. Os requisitos necessários para o

desenvolvimento deste objeto podem ser enumerados como:

Facilidade para o manuseio: Objetos simuladores que necessitam de períodos

longos para sua preparação e consequente utilização são indesejáveis para o

controle de qualidade em braquiterapia, visto o escasso tempo que os especialistas

têm disponível em radioterapia. Assim, sistemas com manuseio mais simplificados

possuem maiores vantagens para a adoção em um ambiente clínico e naturalmente

tendem a minimizar os erros ocasionados por posicionamento ou montagens

errôneas.

Custo: O emprego de materiais que representem a heterogeneidade do corpo

humano podem se traduzir em um alto valor agregado, acarretando maior custo

para a construção de objetos simuladores. Desta forma, o emprego de materiais

acessíveis torna a utilização do objeto simulador ampla para os controles de

qualidade em braquiterapia de alta taxa de dose.

Capacidade para dois ou mais sistemas dosimétricos: A disponibilidade de vários

sistemas dosimétricos favorecem as interpretações dos possíveis fenômenos físicos

que ocorrem em experimentos como os utilizados neste trabalho, portanto a adoção

de mais uma técnica dosimétrica permite a abordagem multilateral do problema,

uma vez que cada sistema dosimétrico possui limitações distintas.

3.1 Objeto Simulador

A Figura 7 mostra o desenho esquemático do objeto simulador desenvolvido neste

projeto. Este objeto consiste de placas quadradas, com 10 x 10 cm2 de área superficial, que

podem ser combinadas entre si, para reproduzir o padrão de heterogeneidade (ou

homogeneidade) esperado.

As placas podem ser empilhadas em formato cúbico, as regiões ilustradas na Figura

7 indicam os locais onde os materiais heterogêneos podem ser utilizados. As espessuras

37

para cada região variam de 1 até 2 cm, espessuras maiores do que estas não foram

utilizadas pois são pouco representativas no contexto antropomórfico. A espessura total do

objeto simulador varia de 5,2 até 6,2 cm (dependendo do sistema dosimétrico utilizado),

com um volume máximo de 620 cm3, permitindo mobilidade ao sistema para medidas

remotas. Para as fontes de irídio-192, as condições de espalhamento são satisfatoriamente

atingidas para os volumes utilizados neste projeto39

.

As placas utilizadas no objeto simulador foram usinadas em uma fresadora

horizontal, com precisão inferior a 0,5 mm, garantindo o alinhamento satisfatório para as

proposições deste projeto.

No objeto simulador, a distância dos dosímetros ao centro foi projetada para

permitir condições satisfatórias de equilíbrio eletrônico de partículas e assegurar que as

contribuições na dose absorvida devido a partículas betas emitidas das desintegrações do

irídio-192 sejam praticamente nulas. Segundo Baltas et. al. o espectro de partículas beta é

representativo para distâncias inferiores as 2,0 mm101

. Maiores detalhes sobre as distâncias

entre os dosímetros e o centro da fonte de irídio-192 serão fornecidas nos itens

subsequentes.

38

Figura 7 - Objeto Simulador desenvolvido para a verificação de heterogeneidades em

braquiterapia de alta taxa de dose. Acima: Secção transversal esquemática (os valores

numéricos possuem a unidade em cm). Abaixo: Imagem do objeto simulador durante os

experimentos.

39

3.1.1 Materiais utilizados no Objeto Simulador

Foram utilizados quatro tipos de materiais para representar as heterogeneidades em

braquiterapia de alta taxa de dose. Os materiais selecionados foram: Virtual WaterTM

(VW

- Med-Cal Incoporation) água-equivalente, material equivalente de tecido mamário

(BR50/50), alumínio e cortiça. Estes materiais foram usinados para formarem as placas

(com área superficial de 10 x 10 cm2 e espessuras variando de 1 a 2 cm) utilizadas no

objeto simulador.

O VW (ou Solid WaterTM

em algumas referências) é um material utilizado para

representar condições de espalhamento próximas a água líquida, neste caso, de grande

interesse para mensurações em meio água-equivalente. Composto por uma base de material

polimérico com os respectivos aditivos. Com densidade próxima a 1,03 g.cm-3

, o VW é

utilizado com frequência para dosimetria em braquiterapia39, 66, 83, 102

.

O material de tecido mamário-equivalente, usualmente denominado como BR50/50

(CIRS, Incorporation), por possuir em sua formulação uma proporção de 50% em tecido

glandular e o restante em tecido adiposo, composições típicas ao de uma mama feminina é

utilizado em sistemas dosimétricos e de controle de qualidade no campo do

radiodiagnóstico103, 104

. Escassas referências na literatura são encontradas para aplicações

em radioterapia (limitando-se a aplicações em medidas dosimétricas39

), porém nenhum

requisito limita sua adoção para medidas dosimétricas em braquiterapia.

Não muito comuns em estudos dosimétricos, o alumínio e a cortiça foram

escolhidos para representar duas classes distintas de materiais, com alta e baixa densidade,

respectivamente. Composição equivalente ao dos ossos corticais (mais densos), o alumínio

possui boas propriedades para usinagem, posicionamento e custo baixo (quando

comparados com materiais equivalentes). O alumínio utilizado neste projeto é do tipo

1100, de alta pureza, comercializados pela empresa Kaiser Aluminum company. O uso do

alumínio é descrito em aplicações de radioterapia105–109

. A cortiça possuí características

semelhantes ao tecido pulmonar. Suas características fazem-na apta para moldá-la em

diversos formatos e permite um posicionamento reprodutível. A utilização da cortiça como

substituto em tecido pulmonar, em radioterapia (principalmente em faixas de energia de

MegaVoltagem), são encontradas em diversas aplicações107, 110–116

.

Deste modo, a seleção destes materiais foi baseada nas seguintes considerações: 1)

Simulam as heterogeneidades presentes no corpo humano, 2) Manipulação e a usinagem

são compatíveis com a realização experimental, 3) Reprodutibilidade durante os

40

posicionamentos nos experimentos (todos materiais possuem forma sólida) e 4) Realização

fácil e exequível em um ambiente clínico.

3.1.2 Arranjos Experimentais

Muitas combinações são possíveis para o posicionamento dos materiais no objeto,

nas três regiões existentes. Observando as diversas opções viáveis, este projeto selecionou

onze arranjos experimentais, descritos na Tabela 3. Cada arranjo experimental abrange

configurações distintas, para representar sistemas próximos a condições de espalhamento

com materiais heterogêneos e regiões de interface similares ao do corpo humano, por

exemplo, pulmão e ossos.

A Tabela 3 descreve os arranjos experimentais selecionados neste trabalho. Para

cada arranjo, três letras representam a configuração utilizada no objeto simulador,

conforme as regiões selecionadas (Figura 7). As siglas para cada material foram as

seguintes: A, B, C e V para o alumínio (Al), material tecido mamário (BR50/50), cortiça

(C) e material água-equivalente (VW), respectivamente. Por exemplo, o arranjo AVV

denota a configuração formada por alumínio para a região 1 e VW nas regiões 2 e 3. Os

arranjos onde os materiais são similares, nas regiões 2 e 3, os materiais possuem espessura

de 2 cm, desta forma, melhores reprodutibilidades são alcançadas e o posicionamento dos

dosímetros é idêntico aos demais arranjos.

41

Tabela 3: Configurações utilizadas no objeto simulador.

Arranjos Região 1 (2 cm) Região 2 (1 cm) Região 3 (1 cm)

VVV VW VW VW

VBB VW BR50/50 BR50/50

VAA VW Al Al

VCC VW Cortiça Cortiça

BVV BR50/50 VW VW

AVV Al VW VW

CVV Cortiça VW VW

BAC BR50/50 Al Cortiça

CAB Cortiça Al BR50/50

BAA BR50/50 Al Al

VCA VW Cortiça Al

3.2 Irradiações com Irídio-192

As irradiações com a fonte de irídio-192 foram realizadas com um equipamento

utilizado por hospitais e clínicas, o modelo utilizado foi o GammaMedplus iX (Varian

Medical Systems). Embora este equipamento seja designado para aplicações clínicas, neste

projeto foi utilizado, em parceria com o Centro de Pesquisas em Radiações Médicas da

Universidade de Wisconsin-Madison (University of Wisconsin Medical Radiation

Research Center - UWMRRC), um equipamento dedicado para pesquisas e calibrações de

referência com fontes de irídio-192, alta taxa de dose.

Para assegurar a reprodutibilidade durante as irradiações com fontes de irídio-192,

o objeto simulador foi posicionado em uma base de VW, com dimensões de 14,5 x 11,5 x

2,0 cm3. Um poliestireno expandido (isopor) foi adicionado para minimizar a contribuição

dos espalhamentos provenientes da superfície da mesa durante a realização dos

experimentos. Os materiais não utilizados durante os experimentos foram retirados da

42

superfície da mesa, dentro de um raio aproximado de 45 cm, reduzindo ainda mais a

interferência dos materiais externos nas medidas dosimétricas.

Durante os experimentos utilizou-se cateter plástico para aplicações em

braquiterapia bronquial com diâmetro de 0,167 cm (5-French) e comprimento por 131,0

cm. Este cateter foi posicionado em placa de VW, com 0,2 cm de espessura, especialmente

usinada para proporcionar grande acurácia durante as medidas, visto que durante as

movimentações da fonte de irídio-192 aumentam a incerteza no posicionamento. Para

evitar as incertezas devido ao decaimento da fonte radioativa, o experimento com cada

sistema dosimétrico foi realizado durante o mesmo dia.

Embora múltiplas posições da fonte de irídio-192 (dwell time) são usuais nos

tratamentos em braquiterapia, neste projeto decidiu-se utilizar uma única posição para

todos os experimentos. A utilização de múltiplas posições aumenta a contribuição da dose

trânsito (dose emanada durante a movimentação da fonte desde a posição segura até a

posição específica), conforme relatado por Fonseca et. al85, 117

. Utilizando uma única

posição, melhor acurácia e precisão do posicionamento da fonte são obtidas o que permite

uma comparação realista entre os sistemas de planejamento e as imagens de tomografia

computadorizada.

3.3 Sistemas Dosimétricos Experimentais

3.3.1 Dosimetria Termoluminescente

Os dosímetros utilizados neste projeto foram os Fluoretos de Lítio, dopados com

Magnésio e Titânio (LiF:Mg,Ti), mais conhecidos na literatura como TLD-100, com

dimensões de 3,2 x 3,2 x 0,9 mm3.

O tratamento térmico para os dosímetros TLD-100 consiste das seguintes etapas:

400 oC por 1 hora, resfriamento a temperatura ambiente (~ 22

oC) durante 30-35 minutos,

seguido de 80 oC por 24 horas. O intervalo mínimo entre as irradiações e o tratamento

térmico foi de 24 horas, este período permite a plena estabilização dos níveis energéticos

da estrutura cristalina para futuras irradiações. O mesmo intervalo de tempo foi utilizado

para a realização das leituras, neste caso, permite-se que os picos de baixa temperatura

retornem ao estado fundamental.

43

Todos os dosímetros foram lidos em uma leitora automática, modelo Harshaw 5500

(Thermo Scientific Corporation). Esta leitora possibilita o pré-carregamento de até

cinquenta dosímetros simultâneos, o posicionamento do TLD no compartimento de leitura

é realizado pela própria leitora. Para evitar sinais espúrios durante a leitura dos TLDs, um

fluxo constante de gás nitrogênio é acionado automaticamente durante a leitura de cada

TLD, este fluxo também auxilia o resfriamento de cada cristal durante as trocas dos TLDs.

Para a leitura dos TLDs, foi utilizado uma taxa de temperatura aproximada de 15

oC.s

-1, a aquisição do sinal luminescente efetivo ocorre entre 50 e 350

oC, assim o sinal

considerado pela leitura TL é igual ao produto do sinal luminescente efetivo durante o

intervalo de temperatura supracitado. Neste trabalho, optou-se por utilizar a resposta

integral (na região de temperatura selecionada) da curva TL emitida pelo dosímetro, com

isto economiza-se tempo para o processamento dos dados do TLD, sem grandes prejuízos

para a acurácia, em termos da resposta.

Os dosímetros foram caracterizados individualmente, deste modo, cada dosímetro

foi assinalado com um fator de calibração próprio e sua posição no conjunto não foi

modificado ao longo dos experimentos. A manipulação de cada TLD no objeto simulador e

para as leituras foi realizada com o auxílio de pinças a vácuo.

Durante a seleção, novecentos (900) dosímetros foram irradiados em uma fonte de

Cs-137 para avaliar quais destes dosímetros possuíam a menor variação dentre as

irradiações realizadas. Os dosímetros foram posicionados a 300 cm do centro da fonte e

foram irradiados com 0,5 R (equivalente ao kerma de 0,878 cGy em ar). No total, foram

realizados três ciclos de irradiações associados aos respectivos tratamentos térmicos. Os

TLDs escolhidos foram aqueles que obtiveram os coeficientes de variação menores do que

5,0%, para três ciclos de irradiações.

Ao fim da seleção inicial, duzentos (200) dosímetros, que obtiveram os coeficientes

de variação menores do que 5,0% foram selecionados. Vários fatores estão relacionados

com a dispersão da resposta de cada TLD, dentre os quais destacam-se as etapas de cada

tratamento térmico e as variações de resposta do sistema de leitura, assim, optou-se por

realizar uma nova seleção para a escolha dos dosímetros que possuíssem coeficientes de

variação ainda menores e aqueles que possuem as respostas similares, ou seja, dosímetros

próximos em valores nominais.

Para comparar as respostas de cada TLD com as respostas dos demais, foi utilizado

o formalismo determinado Chip Factor (CF), mostrado pela equação 2:

44

mediana

ii

R

RCF (2)

onde Ri é a resposta do dosímetro analisado e Rmediana perfaz a mediana da resposta dos

dosímetros do determinado conjunto. Idealmente, o CF deve possuir valores iguais a uma

unidade. Como na seleção anterior, os dosímetros foram irradiados nas mesmas condições.

A Figura 8 mostra o processo de alinhamento e irradiações, na fonte de césio-137,

dos TLDs avaliados neste projeto. A mesma metodologia foi utilizada para cada etapa

realizada. Todos os TLDs foram irradiados em acrílico (material água-equivalente) e para

propiciar as condições de equilíbrio eletrônico, uma placa de acrílico com 0,2 cm de

espessura foi colocada em frente ao conjunto de TLDs.

Figura 8 - Dispositivo para irradiações com a fonte de Cs-137.

As incertezas das respostas TL não estão diretamente associadas às características

intrínsecas ao dosímetro.

O sistema de leitura também é responsável pelas incertezas ocasionadas no

processo TL. Para quantificar e corrigir tais efeitos, este trabalho utilizou a correção da

linearidade da resposta TL. Esta correção considera a irradiação dos TLDs sob diferentes

45

valores de dose absorvida. Para este fim, os TLDs selecionados foram separados em

grupos de cinco e cada grupo foi irradiado em uma fonte de cobalto-60, modelo

Theratronics, (que possuem valores de dose absorvida rastreáveis a padrão primário) com

doses absorvidas de 25, 50, 100, 250, 500, 750 e 1000 cGy.

Para cada valor de dose, a resposta média de cada grupo de TLDs é dividida pela

dose entregue, ou seja, é determinada uma razão do valor médio das respostas TL pela

dose absorvida nominal.

Assumindo um comportamento exatamente linear nas respostas dos TLDs, para

todas as doses absorvidas avaliadas, estas razões deveriam possuir valores idênticos. Após

a obtenção das razões, elas são normalizadas para um valor de dose absorvida específico,

deste modo, é possível estimar uma função que prediz o quanto a resposta TL varia em

função da dose absorvida. Os níveis de dose absorvida foram utilizadas para comparar o

comportamento do grupo de TLDs selecionados neste projeto.

Paralelamente, a linearidade fornece os valores de calibração para cada TLD, uma

vez que as irradiações são rastreáveis metrologicamente a padrões primários. A Figura 9

exemplifica como as irradiações com a fonte de cobalto-60 foram realizadas. O

posicionamento e alinhamento foram similares aos utilizados nas irradiações com a fonte

de césio-137, porém para criar as condições de equilíbrio eletrônico, uma placa com

espessura de 0,5 cm foi utilizada.

As respostas TL (RTLD) obtidas neste projeto foram calculadas por meio da equação

3:

60

Co

i

controleiTLD L

CF

RRR (3)

onde Ri é a resposta derivada da leitora TL, Rcontrole é a média da resposta dos TLDs não

expostos, CFi é o chip factor para cada TLD e LCo-60 é linearidade dos TLDs utilizando a

fonte de cobalto-60.

As mensurações no objeto simulador proposto neste trabalho foram realizadas

posicionando o TLD no centro de um orifício (com dimensões similares ao do TLD – 0,33

x 0,33 x 0,1 cm3) em um suporte de VW com dimensões nominais de 10 x 10 x 0,1 cm

3.

Para cada arranjo experimental (Figura 7), foram utilizados cinco TLDs, aqueles

que tiveram as maiores e menores respostas foram excluídos das análises. O período de

irradiação dos TLDs foi selecionado para proporcionar a dose absorvida (em água) de 100

46

cGy (região linear para os dosímetros TLD-100). Entretanto, este valor não denota a dose

absoluta (condições de espalhamento diferem do meio água-equivalente), uma vez que este

valor de dose serve somente para estimar o período de irradiação.

Figura 9 - Irradiações dos TLDs com a fonte de Co-60.

Como investigado por Nunn et. al.118

, os TLD-100 possuem uma dependência

energética intrínseca, significativa para fótons de baixa energia (< 1250 keV). Este

fenômeno também ocorre para as energias envolvendo o irídio-192. Raffi et. al.39, 66

analisou esta dependência para as energias do irídio-192 comparando-as com a do césio-

137, os resultados mostraram que a dependência energética, nesta situação, é da ordem de

4%. A metodologia empregada por Raffi et. al. para analisar a dependência energética

utiliza métodos numéricos e experimentais e são descritas com maiores detalhes nas

referências39, 66

.

Neste projeto, o maior interesse está relacionado com a resposta do dosímetro

quando regiões com heterogeneidades estão presentes, para as irradiações com fontes de

irídio-192. Assim, assume-se que as diferenças nos espectros de energia e

consequentemente em termos de dependência energética, possuem efeitos de ordens

menores quando comparadas com os efeitos induzidos pela presença de heterogeneidade

no meio.

47

3.3.2 Filmes Radiocrômicos

Os filmes radiocrômicos utilizados neste projeto foram o Gafchromic tipo EBT3

(Ashland Inc.), que denota a terceira geração de filmes deste gênero. Apesar do seu recente

desenvolvimento, a literatura descreve aplicações deste tipo de filme em experimentos

envolvendo fontes de irídio-19281, 82, 84

.

O mesmo lote de filmes foi utilizado em todos os experimentos, Lote#A05151201

dentro do prazo especifico para a validade dos filmes. Todos os filmes foram cortados em

pedaços com 3 x 3 cm2 utilizando um sistema de corte que minimiza os rompimentos entre

as camadas do filme. Adicionalmente, todos os procedimentos de manuseio e

armazenamento dos filmes foram baseados nas recomendações do protocolo da AAPM

TG-5579

.

A digitalização dos filmes foi realizada pelo scanner Epson Expression, modelo

10000 XL (Epson America Inc.). Os filmes utilizados neste trabalho foram digitalizados na

orientação retrato, que de acordo com as referências119–121

, é a mais sensível para as

alterações das respostas no filme. Espaçadores de acrílico foram utilizados para aumentar a

reprodutibilidade de posicionamento no scanner, a contribuição destes espaçadores para as

imagens digitalizadas é praticamente nula conforme experimentos prévios. Para a

rastreabilidade dos filmes, os cantos superiores foram marcados para denotar a face e a

orientação das digitalizações. As digitalizações foram configuradas para produzir o modo

rgb (red-green-blue) como modo de 48-bit, onde são 16 bit para cada canal de cor, no

entanto somente um canal de cor fora selecionado. A resolução de cada digitalização foi de

72 pontos por polegada (dpi)120

.

Os filmes foram digitalizados antes e após as irradiações, durante este processo,

precauções adicionais foram adotadas para evitar a exposição dos filmes para a luz

ambiente. Após a exposição dos filmes, um período de 48 horas decorreu até a

digitalização, para o pleno desenvolvimento químico do filme120

.

O método de analise da resposta dos filmes foi realizado conforme recomendações

de McCaw et al.120

. Embora tal método seja derivado do filme modelo EBT2, as

características da composição química de cada filme são idênticas dentre os modelos,

portanto, sem interferir na acurácia da resposta. A densidade óptica (DO) é o parâmetro

avaliado nos filmes radiocrômicos. A expressão utilizada para a obtenção da densidade

óptica média é representada na equação 4:

48

vv

vunvun

vunvmédiaVPVP

VPVPDODODO

exp,,0exp,

exp,,0exp,

10exp,exp, log (4)

onde DOexp,v e DOunexp,v são a DO mensuradas no canal de cor vermelho das imagens dos

filmes expostos e não expostos, respectivamente. As quantidades VPunexp,v, VPexp,v, são os

Valores de Pixel, mensurados no canal de cor vermelho, para os filmes expostos e não

expostos, respectivamente. VP0,unexp,v e VP0,exp,ver são os mesmos valores de pixel

anteriores, porém realizadas em uma folha opaca. Estes parâmetros são importantes para

avaliar quaisquer variações do scanner durante as análises das imagens, geralmente este

procedimento é conhecido como transmissão a luz-zero (zero-light transmission)120

.

As imagens digitalizadas foram analisadas com o software ImageJ, a região de

interesse para a extração do VP foi semelhantes em todos os filmes analisados, equivalente

a uma área próxima a 4,5 x 4,5 mm2, localizada no centroide da superfície de cada filme,

correspondente a região onde o posicionamento da fonte encontra-se em alinhamento com

o filme. Além do VP, o software ImageJ quantifica o desvio-padrão do VP, portanto é

possível estimar a dispersão dos VP para cada imagem.

Recentemente Palmer et. al.84

investigou que as doses entregues ao filmes

radiocrômicos tipo EBT3, utilizando fontes de irídio-192 de alta taxa de dose devem ser

maiores do que 40 cGy, devido a elevada incerteza e o ruído ocasionado por valores de

dose menores do que este nível. Para avaliar as variações de dose relativa em nossa

metodologia de leitura, os filmes radiocrômicos foram irradiados com a fonte de irídio-192

com doses absorvidas variando de zero a 1000 cGy (0, 25, 50, 100, 150, 200, 300, 350,

400, 500, 600, 800 e 1000 cGy). Estas doses foram calculadas utilizando o protocolo TG-

4337

, que considera somente a dose absorvida em meio aquoso, de modo que placas de VW

com dimensões totais de 40 x 40 x 20 cm3 foram posicionada de forma a criar as condições

de espalhamento preconizadas. Neste experimento, a parada da fonte de irídio-192

coincide com o centroide dos filmes radiocrômicos e a distância entre a fonte e o filme é

igual a 3,0 cm.

A Figura 10 mostra o aparato experimental utilizado. As placas que ficam

posicionadas acima do filme foram retiradas para melhor visualização. Utilizando a

metodologia de análise dos filmes supracitada, as densidades ópticas foram obtidas e

comparadas para cada nível de irradiação utilizado.

49

Em acordo com o trabalho de Palmer et. al.84

, as maiores incertezas foram

registradas para as doses absorvidas menores do que 100 cGy.

Figura 10 - Arranjo experimental para as investigações nos filmes EBT3 com fontes de

irídio-192.

As irradiações dos filmes radiocrômicos em condições similares ao do protocolo

TG-43 foram utilizadas para avaliar a linearidade em função da dose absorvida nos filmes.

Devido a natureza da transmitância da luz, a densidade óptica possui um comportamento

exponencial em função da quantidade de dose absorvida. Neste trabalho, as DO (equação

4) foram corrigidas por meio de função obtida da dose absorvida em água versus curva de

densidade óptica, ambos resultantes das irradiações da fonte de irídio-192 em condições de

espalhamento em VW.

A função resultante foi gerada pelo software MATLAB, utilizando uma ferramenta

que analisa a função mais adequada para o conjunto de dados inseridos. A função

selecionada possui um coeficiente de variação (R2) igual a 0,9995, representada na equação

5:

50

caexDw xb )( (5)

nesta equação, Dw e x são a dose em água-equivalente (em unidades de cGy) e a densidade

óptica, respectivamente. Os termos a, b e c são os parâmetros de ajuste da curva.

Entretanto, as irradiações dos filmes radiocrômicos utilizados neste trabalho não

irão limitar-se a meios homogêneos em água e uma caracterização completa dependeria da

análise individual de cada material utilizado. A função de linearidade do filme (equação 5)

foi considerada útil para expressar a curva de resposta dos filmes radiocrômicos a serem

utilizados neste experimento. Esta premissa é considerada útil para medidas de dose

relativas, como as utilizadas neste trabalho, mas podem ser incorretas para investigações

envolvendo valores de dose absoluta.

Considerando os fatores anteriormente citados, os períodos de irradiações dos

filmes radiocrômicos no objeto simulador com a presença de heterogeneidades foram

selecionados para administrar uma dose absorvida nominal de 300 cGy (conforme

formalismo utilizado no protocolo TG-43), para uma distância entre fonte e filme igual a

3,0 cm.

Para os arranjos experimentais, três filmes foram utilizados para as mensurações. O

valor médio das três irradiações é que foi utilizado para os estudos envolvendo a

heterogeneidade presente no objeto simulador. As irradiações foram feitas de forma

consecutiva, reduzindo as incertezas devido ao posicionamento de cada filme durante os

experimentos.

3.3.3 Câmara de Ionização

As mensurações utilizando o sistema ionométrico foram realizadas com a câmara

Exradin A1SL (Standard Imaging Inc.), designada comumente com A1SL. O volume

sensível da câmara, aproximadamente 0,053 cm3, permite uma alta razão de sinal-ruído

quando comparada com as câmaras de ionização com volumes menores, denominadas

microcâmaras (<0,01 cm3). Câmaras com volumes maiores, como por exemplo, câmaras

tipo Farmer (0,6 cm3) produzem efeitos de irradiação parcial do volume e não são

indicadas para fontes de irídio-192.

51

O trabalho de Sarfehnia et al.90

utilizou a câmara A1SL para mensurar a dose

absorvida em água proveniente de irradiações com irídio-192, com incerteza expandida da

ordem 1,44% (k=1). Adicionalmente, a câmara A1SL foi utilizada para avaliar a dose

absorvida em água em um sistema experimental que utiliza duas câmaras diametralmente

opostas com a fonte de irídio-192 situada no centro (sandwich approach), esta metodologia

foi proposta por Araki et al.100

e a incerteza expandida deste processo foi estimada em

1,7% (k=1). Austerlitz e Campos98

desenvolveram um objeto simulador que permite a

inserção de uma câmara A1SL (“BrachyPhantom”), com a finalidade de mensurar a dose

absorvida em água das fontes de irídio-192. A referência descreve que a ordem da

incerteza expandida é de 2,12% (k=1).

Para verificar se a câmara A1SL possui dependência energética, para as energias do

irídio-192, quando comparadas com as energias provenientes das fontes de calibração foi

usado o método das interpolações87

. Descrito originalmente por Goetsch et al.87

este

método assume que a energia média ponderada do irídio-192 é aproximadamente a

“metade” entre as energias oriundas da fonte de césio-137 e dos raios-X moderadamente

filtrados com potencial nominal de 250 kV (conhecido como UW250-M), onde as energias

médias equivalem a 662 keV e 146 keV, respectivamente. Assim, o fator de calibração

interpolado entre as duas energias fornece o fator utilizado para a fonte de irídio-192,

evitando correções por dependência energética. A fonte de césio-137 e os raios-X UW250-

M são ambos padrões metrológicos, deste modo, a hierarquia metrológica é mantida. O

método das interpolações é utilizado atualmente como o padrão primário interino

americano para a fonte de irídio-192 de alta taxa de dose87, 122

.

Ao utilizar o método das interpolações, verificou-se que a câmara A1SL produziu o

mesmo fator de calibração (mesma taxa kerma-ar), considerando as incertezas envolvidas

no processo, para ambas energias (Cs-137 e UW250-M), deste modo, é possível afirmar

que para esta região energética avaliada, a câmara A1SL não possui dependência

energética considerável.

Medidas preliminares foram realizadas para avaliar a linearidade de resposta da

câmara de ionização A1SL, em irradiações com a fonte de irídio-192. As medidas foram

executadas no objeto simulador utilizando a configuração homogênea, ou seja, somente

com placas de VW e a distância nominal entre a fonte e o centro da câmara de ionização

foi de 3,5 cm.

Para as medidas de heterogeneidade do objeto simulador, a câmara de ionização

A1SL e os componentes do objeto simulador foram armazenados na sala onde encontra-se

52

a fonte de irídio-192 por no mínimo por 10 h. Esta prática garante que o equilíbrio térmico

entre a sala e os sistemas dosimétrico seja alcançado, uma vez que o volume sensível da

câmara depende da correções de temperatura-pressão e tais medidas são realizadas com

acurácia somente no interior da sala e não no volume sensível da câmara. A câmara A1SL

foi conectada em um eletrômetro MAX4000 (Standard Imaging Inc.) e as leituras foram

realizadas no modo baixo de coleção, pA ou pC (potencial utilizado foi de +300V, mesmo

valor de potencial utilizado para as calibrações do eletrômetro), devido ao baixo sinal

proveniente da fonte de irídio-192 quando comparadas com aquelas em teleterapia. Apesar

do baixo sinal mensurado nestes experimentos, a corrente de fuga foi negligenciável para

os tempos de irradiações utilizados neste trabalho (< 0,01% para uma irradiação de 5

minutos). As respostas da câmara A1SL foram coletadas em unidades de carga (pC)

utilizando um período de coleção igual a 30 segundos.

Para assegurar a reprodutibilidade das respostas da câmara A1SL, dez medidas

consecutivas foram realizadas para cada arranjo experimental investigado neste trabalho.

Com a finalidade de evitar os efeitos de dose de trânsito e prover a estabilização de coleção

de carga, as leituras foram adquiridas 3 minutos após a exposição inicial da fonte de irídio-

192. Os períodos de coleção foram aferidos com um cronômetro digital durante as medidas

em cada arranjo experimental.

A resposta corrigida da câmara A1SL (Mc) foi calculada com base nas

recomendações do protocolo da AAPM TG-61123

polioneleTPc PPPPMM (6)

na equação 6, M é a carga coletada pelo eletrômetro, PTP and Pele são as correções de

pressão-temperatura e a calibração do eletrômetro (neste trabalho, o valor de Pele é

equivalente a 1,001 para modo de baixa coleção), respectivamente. Os fatores Pion e Ppol

são os fatores de eficiência de coleção iônica e correções por polaridades; neste trabalho

ambos os fatores foram considerados como unitários, pois estes fatores são mais

expressivos para feixes da ordem de Megavoltagem (MV ou MeV) do que para as energias

do irídio-192.

53

3.4 Simulações Monte Carlo

Os arranjos experimentais descritos no item 3.1.2 foram simulados por meio de

simulações Monte Carlo (MC). Todas as simulações foram realizadas com o código geral

PENELOPE52

, versão 2011, e com o código modular penEasy, versão 2013124

.

A fonte de irídio-192 utilizada neste trabalho, GammaMedplus iX foi simulada

conforme as dimensões e materiais descritos por Rasmussen et al.125

. As energias do

espectro emitido pelo irídio-192 foram importadas do National Nuclear Data Center

(NNDC) - Laboratório Nacional de Brookhaven (BNL – Estados Unidos da América),

conforme recomendações de Rivard et al.61

.

Nas simulações realizadas, as condições de equilíbrio de partículas foram adotadas,

principalmente devido a baixa energia dos fótons da fonte de irídio-192126

, portanto a dose

absorvida e o kerma de colisão foram considerados equivalentes126

. Este procedimento

torna as simulações mais eficientes, sem prejudicar a acurácia dos resultados. A energia de

corte dos fótons adotada neste projeto foi de 1 keV para todos os materiais simulados. Os

parâmetros da simulação foram aferidos85

utilizando os parâmetros do TG-43: constante de

taxa de dose e função de dose radial. Este procedimento foi adotado para verificar

quaisquer inconsistências nas simulações, uma vez que estes valores estão disponíveis na

literatura.

Os dosímetros foram simulados com o maior detalhamento possível. O TLD-100

foi simulado com dimensões de 0,3 x 0,3 x 0,09 cm3 e uma composição elementar

percentual de 73,28% Li, 26,70% F, 0,02% Mg e 0,001% Ti, com uma densidade de 2,64

g.cm-3

, conforme referências66, 118

. As dimensões dos filmes radiocrômicos EBT3 foram

extraídas das especificações nominais do fabricante (espessura total de 280 m, onde 30

m é a espessura da camada ativa do filme e 125 m para o substrato de poliéster), a

composição da camada ativa e do substrato de poliéster foram similares às utilizadas por

Sutherland e Rogers127

. Para a câmara de ionização A1SL, a composição e o formato de

seus materiais foram baseados em documentos oficiais fornecidos pela empresa Standard

Imaging, cedidas para fins de reprodução neste projeto. A Figura 11 mostra um desenho

esquemático representando a seção transversal da câmara A1SL utilizada para as

simulações, somente para descrição detalhada da câmara A1SL, mais de dez materiais com

composições diferentes foram utilizados.

54

Figura 11 - Seção transversal da câmara A1SL (acima) com a fonte de irídio-192 utilizadas

nas simulações com heterogeneidade.

Os materiais utilizados para representar as condições de heterogeneidade foram

simulados para representar com máxima fidedignidade possível a composição e geometria

dos materiais utilizados nas práticas experimentais128

. A composição dos materiais tecido

equivalente, VW e BR5050 foram obtidas dos trabalhos de Murphy et al.102

e Poletti et

al.129

, respectivamente. Para a cortiça, não foram encontrados na literatura valores

consensuais sobre a composição elementar deste material, contudo uma vez que possui

grau de similaridade com o tecido pulmonar, as simulações foram realizadas assumindo

que a cortiça é equivalente ao tecido pulmonar, seguindo as definições do International

Commission of Radiation Protection (ICRP)52

. Esta consideração foi baseada em medidas

prévias da densidade da cortiça utilizada neste projeto, cujos resultados foram

aproximadamente de 0,25 g.cm-3

, valor próximo ao adotado pelo ICRP (=0,30 g.cm-3

)124

.

Os demais materiais utilizados nas simulações foram obtidos a partir da lista de materiais

catalogados pelo código PENELOPE e outros foram obtidos da literatura disponível124, 130

.

As técnicas de redução da variância, comumente aplicadas em simulações de Monte

Carlo para aumentar a eficiência das simulações, foram utilizadas somente para as

simulações com a câmara de ionização A1SL. Este recurso foi adotado devido a baixa

eficiência dos eventos (fótons iniciais) em interagir com ar dentro do volume sensível da

câmara, necessitando de simulações extremamente longas para níveis de incerteza

adequados. As técnicas de variância utilizadas foram a Interaction Force (IF) e a simple

particle splitting. Simulações prévias foram realizadas para verificar se os valores adotados

55

para as técnicas de redução da variância poderiam influenciar os resultados, quando

comparadas com as simulações sem a utilização da técnica de redução das variâncias.

Nesta investigação, os valores adotados para as técnicas de redução por variância foram

equivalentes.

3.5 Sistema de Planejamento Computadorizado

3.5.1 Algoritmo Acuros

Os cálculos de dose absorvida com as fontes de irídio-192 foram realizados pelo

software BrachyVision (BV) versão 10.0, com capacidade para executar os cálculos

baseados em modelos, por meio do algoritmo Acuros, ambos comercializados pela

empresa Varian Medical System.

Este algoritmo utiliza as seções de choque atômicas baseadas nos códigos

CEXPS131

(seções de choque para elétrons e fótons baseados em multigrupos de

Legendre), que inclui os espalhamentos Compton, fotoelétrico e produção de pares,

considerando as energias do irídio-192, os espalhamentos Rayleigh foram excluídos devido

à baixa contribuição nesta faixa energética50, 131

.

Os cálculos de dose neste sistema de planejamento são executados selecionando a

densidade do material contida em cada voxel. Para este fim, os valores de densidade são

obtidos das imagens importadas do tomógrafo simulador para o sistema de planejamento e

por meio de tabelas utilizadas para a conversão da escala hounsfield (HU) para densidade.

O algoritmo Acuros assume que a dose absorvida é equivalente ao kerma de colisão em

água, a fluência escalar total é calculada e a dose absorvida no volume de interesse (VI) é

reportada49, 50

.

As densidades da base de dados do BV, utilizadas pelo algoritmo Acuros, variam

de 0,001 (ar seco em condições normais de temperatura e pressão) até 8,0 g.cm-3

(aço

inoxidável de alta densidade), caso algum material possua densidade fora desta faixa, o

algoritmo assinala a densidade mais próxima aos limites analisados. O BV possui uma lista

baseada em informações de diversos materiais com destaque para os materiais que

compõem os tecidos e órgãos do corpo humano (pulmão, tecido adiposo, músculo,

cartilagem e ossos), bem como materiais utilizados em acessórios, aplicadores, e outros

tais como: alumínio, titânio, ar seco e aço inoxidável50

.

56

3.5.2 Parâmetros do Sistema de Planejamento e Imagens Tomográficas

Imagens tomográficas são necessárias para a realização dos cálculos no sistema de

planejamento computadorizado, especialmente quando estes possuem algoritmos baseados

em modelos. Neste trabalho, cada arranjo experimental utilizado no objeto simulador foi

tomografado, para que todas as configurações fossem analisadas e a dose absorvida

calculada sob a presença de heterogeneidades.

O tomógrafo utilizado foi o 64-slice modelo Discovery CT750 HD, da empresa GE

Healthcare. As imagens foram adquiridas por meio do modo de aquisição axial de

imagens e devido ao baixo volume dos dosímetros (quando comparados com os volumes

de tratamento típicos), as imagens foram adquiridas com o menor corte possível (0,0625

cm).

Em todos os arranjos onde o alumínio estava presente, os parâmetros do tomógrafo

foram alterados para reduzir a atenuação causada pelo alumínio durante a aquisição das

imagens avaliadas. Desta forma, aumentando-se os parâmetros de potencial e corrente do

tubo de raios-X do tomógrafo, foi possível reduzir a atenuação e visualizar a região

delimitada pelo material alumínio.

Para melhor acurácia durante os cálculos de dose no sistema de planejamento, uma

fonte de irídio-192 fictícia foi posicionada durante todas as aquisições das imagens

tomográficas para auxiliar o posicionamento da fonte de irídio-192 durante a etapa de

planejamento no sistema computadorizado. A Figura 12 ilustra a aquisição de uma imagem

tomográfica utilizada para o cálculo dose no sistema de planejamento. Na Figura 12 a

direita, é possível observar o posicionamento da câmara de ionização e abaixo a fonte de

irídio-192 fictícia, ambos inseridos no objeto simulador. Para reduzir a incerteza entre as

imagens de objetos simuladores diferentes, demarcações na mesa da tomografia foram

registradas para aumentar a reprodutibilidade no posicionamento, entre imagens diferentes.

Uma vez que as imagens tomográficas são importadas para o sistema de

planejamento, paralelamente, o volume de cálculo e o tamanho da grade de cálculo são

definidos. O volume de cálculo foi definido para assegurar que o volume de todo o objeto

simulador fosse considerado durante os cálculos dosimétricos. Para cada grupo dosimétrico

experimental, uma região de volume de cálculo foi definida, uma vez que a espessura de

cada elemento utilizado para criar as condições de heterogeneidade é constante, a variação

deve-se ao sistema dosimétrico (TLD, EBT3 ou A1SL) utilizado para cada arranjo.

57

Sabendo que as dimensões dos sistemas dosimétrico são muito próximas entre si, somente

um dosímetro de cada tipo foi utilizado durante as tomografias.

O tamanho da grade de cálculo define as dimensões de cada voxel, este parâmetro

define a “resolução” de cada elemento contido no volume delimitado. Ratifica-se que cada

voxel é assinalado com uma densidade estimada pelo sistema de planejamento, portanto,

quão menor é o tamanho de cada voxel, maior será a resolução para o cálculo de dose no

meio. O tamanho de grade selecionado neste projeto foi de 0,05 x 0,05 x 0,0625 cm3,

gerando aproximadamente 8,3.106 voxels para cada arranjo experimental estudado.

Figura 12 - Aquisição das imagens tomográficas. Esquerda: Visão panorâmica do objeto

simulador. Direita: Detalhe do objeto simulador tomografado.

O programa BrachyVision possui uma ferramenta que possibilita desenhar os

contornos a partir da escala HU, mas em algumas regiões o contorno do material torna-se

dúbio ou inexistente, dependendo de cada caso. Para evitar incertezas devido à delimitação

do volume de cálculo utilizado, este trabalho delineou os contornos de cada arranjo do

objeto simulador individualmente. Os volumes de interesse de cada dosímetro foram

também delineados individualmente, este volume servirá para fornecer as respostas de dose

média e o respectivo desvio padrão. Mesmo os arranjos sendo delineados individualmente,

as imagens com características semelhantes foram comparadas com uma ferramenta

(disponível no sistema de planejamento) que mensura a distância entre dois pontos

diferentes.

58

3.5.3 Comparações com o algoritmo TG-43

Como o algoritmo do protocolo TG-43 é muito utilizado em diversas práticas

clínicas em braquiterapia, este trabalho mensurou a dose absorvida calculada pelo sistema

de planejamento utilizando o algoritmo TG-43 e Acuros.

Seguindo a mesma metodologia utilizada por Mikell e Mourtada49

, o tempo de

parada e posição da fonte, delineamento dos volumes e tamanho da grade de cálculo foram

mantidos exatamente iguais entre ambos os cálculos, assim somente a opção por utilizar o

algoritmo TG-43 ou Acuros é que foram aplicadas, em decorrência, as possíveis diferenças

a serem registradas devem somente ao algoritmo de cálculo de dose.

3.6 Análises dos Dados

As influências das heterogeneidades foram avaliadas comparando-as com as

respostas, para um determinado conjunto dosimétrico, em arranjo homogêneo, ou seja, sem

a presença de materiais heterogêneos. Todos os dados mensurados (ou calculados) foram

normalizados com o arranjo homogêneo, conforme a equação 7:

100(%)

VVV

VVVH

R

RRdif (7)

Na equação7, RH e RVVV representam a resposta do arranjo dosimétrico utilizando

materiais heterogêneos e o arranjo homogêneo (VVV), respectivamente. As condições dos

experimentos foram constantes (tempo de irradiação para cada sistema dosimétrico

avaliado), exceto a mudança dos materiais para criar os efeitos de heterogeneidade. Assim,

os valores de diferença são atribuídos exclusivamente para as heterogeneidades

(considerando os níveis específicos de incerteza de cada processo).

59

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Dosímetros Termoluminescentes

4.1 Seleção dos dosímetros TLD-100

A Figura 13 apresenta os resultados obtidos dos dosímetros TLD-100 após a

calibração. Nesta figura, os TLDs são agrupados em termos de Chip Factor (equação 2),

que denota a variação entre o valor mediano do grupo de TLDs selecionados.

Observa-se que os 55 TLDs selecionados, estão em uma faixa correspondente a

0,996 - 1,005 (valores adimensionais) mostrando que os dosímetros utilizados nesta etapa

possuem respostas muito similares em relação ao grupo de dosímetros avaliados. Apesar

de cada TLD-100 ser caracterizado individualmente, a análise do CF é apropriada quando

dois ou mais dosímetros TL são utilizados para mensurar uma mesma região.

A caracterização individual permite melhor acurácia para as medidas dosimétricas

no objeto simulador com heterogeneidades, pois cada TLD avaliado não representa a

resposta média do grupo. Em muitos casos, quando os dosímetros são avaliados em grupo,

é desejável que a distribuição dos resultados apresentados na Figura 13 possua uma

distribuição tipicamente normal (Gaussiana).

0,9950 0,9975 1,0000 1,0025 1,0050

0

2

4

6

8

10

TL

Ds (

#)

CF

Figura 13 - Histograma que relaciona o Chip Factor dos dosímetros TLD-100 selecionados

neste trabalho.

60

4.2 Linearidade de Resposta TL

A curva de linearidade da resposta TL, realizadas por meio de irradiações em uma

fonte de cobalto-60, é representada pela Figura 14. O comportamento supralinear é mais

acentuado para doses superiores a 100 cGy, até 250 cGy fatores de supralinearidade de

dose são da ordem de 10%. Em doses maiores, como 1000 cGy, o fator de linearidade

equivale a aproximadamente 40%, quando normalizadas para 25 cGy.

Os dados da Figura 14 foram ajustados para uma função polinomial (ordem 3),

assim, todos os valores de resposta provenientes da leitora foram ajustados por meio da

função polinomial. O coeficiente de determinação (R2) da função polinomial foi 0,99918,

revelando excelente concordância com os dados experimentais.

Todos os TLD-100 utilizados tiveram suas respostas corrigidas por meio deste

processo, embora as respostas dos dosímetros sejam próximas uma das outras, este

processo reduz a contribuição dos efeitos de supralinearidade, mesmo para respostas TL

onde a contribuição deste fenômeno é reduzida. Ratifica-se que este fenômeno está

relacionado com as propriedades de aquisição da resposta TL da leitora (linearidade da

fotomultiplicadora) e não somente as características do TLD-100.

1000 10000 100000

1,0

1,1

1,2

1,3

1,4

1,5

25 cGy

750 cGy

1000 cGy

100 cGy

500 cGy

250 cGy

Re

sp

osta

Re

lativa

(n

orm

aliz

ad

a e

m 2

5 c

Gy)

Leitura TL (nC)

50 cGy

Figura 14 - Curva de linearidade da resposta TL, normalizadas para 25 cGy.

61

4.2 Filmes Radiocrômicos

4.2.1 Dose Absorvida em Água

As irradiações em meio água-equivalente dos filmes EBT3 em função da densidade

óptica média de cada filme são ilustradas na Figura 15. O comportamento exponencial da

curva apresentada pela Figura 15 é coerente aos valores obtidos pela literatura83

. A seleção

da cor do canal que realiza leitura pode influenciar nas incertezas das respostas geradas

pelo filme, pois a escolha do canal depende da faixa energética utilizada para as irradiações

dos filmes. Neste trabalho, o parâmetro de cor não foi avaliado, pois o maior interesse é na

resposta relativa fornecida pelo filme. Em experimentos que envolvem diretamente doses

absolutas, tal parâmetro pode contribuir na acurácia da determinação dos valores de dose.

As análises citadas anteriormente são dependentes das características de cada lote

de filme, assim o procedimento de verificação da resposta de cada lote do filme, em termos

de dose absorvida no meio de interesse, é fundamental para as mensurações em dosimetria

por filmes radiocrômicos, pois as características de fabricação de cada lote podem alterar a

composição da camada ativa.

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

0

200

400

600

800

1000

Do

se

ab

so

rvid

a (

cG

y)

DOmédia

Figura 15 - Resposta da Densidade Óptica dos filmes radiocrômicos EBT3, irradiados em

uma fonte de irídio-192, em meio homogêneo.

62

4.3 Câmara de Ionização

4.3.1 Estabilidade de Resposta

A estabilidade de resposta da câmara A1SL é mostrada Figura 16. Para melhor

visualização, as respostas foram normalizadas para trinta irradiações sucessivas, utilizando

o mesmo potencial e um tempo de coleção (30 s) similar ao realizado para as medidas com

o objeto simulador deste trabalho.

Os resultados mostraram que a respostas da câmara de ionização são reprodutíveis

para as irradiações com a fonte de irídio-192. Observa-se na Figura 16 que as respostas

normalizadas da câmara de ionização A1SL permaneceram inferiores a ±0,13%,

comprovando a viabilidade para aplicações com fontes de irídio-192.

Atividades aparentes típicas para fontes de irídio-192 em braquiterapia de alta taxa

de dose variam, geralmente, entre 370 GBq (10 Ci) a 148 GBq (4 Ci), para as distâncias

entre a fonte e o centro da câmara de ionização estimados neste trabalho, as respostas

nominais mensuradas pelo eletrômetro são da ordem de 500 até 100 pC, para a faixa

analisada. Deste modo, as medidas no objeto simulador com heterogeneidades foram

realizadas para otimizar as maiores atividades da fonte de irídio-192.

0 5 10 15 20 25 30

0,997

0,998

0,999

1,000

1,001

1,002

1,003

Re

sp

ota

s N

orm

aliz

ad

as

# Medidas

Figura 16 - Linearidade da resposta da câmara A1SL.

63

4.4 Simulações Monte Carlo

4.4.1 Comparações com o protocolo TG-43

As simulações numéricas realizadas com a fonte GammaMedplus iX por meio do

código PENELOPE 2011 foram empregadas para avaliar se os parâmetros utilizados pelas

simulações estão em coerência com os dados publicados na literatura para estas fontes.

Duas simulações distintas foram executadas, intensidade kerma-ar (Sk) e dose

absorvida em água a 1 cm da fonte e a 90 graus (azimutal). A razão entre tais grandezas

fornece a constante de taxa de dose (), fator que está diretamente associado as

características da fonte analisada37

. Estas simulações foram realizadas conforme a

metodologia proposta por Ballester et al130

.

O valor da constante de taxa de dose () obtido nas simulações do protocolo TG-43

foi (1,111 ± 0,002) cGy h-1

U-1

, que concorda em aproximadamente -0,49% com o valor

atualizado da constante de taxa de dose para a fonte GammaMedplus iX27, 130, 132

.

A diferença dos valores da função radial de dose (g(r)) para a distância de 3 cm

experimentais, foram menores que 1% em relação ao valor fornecido pela literatura 27, 130

.

Portanto, a comparação dos valores obtidos nestas simulações, como os valores descritos

na literatura, mostraram que os parâmetros selecionados neste trabalho, para a fonte de

irídio-192, são aptos para a realização das simulações com o objeto simulador heterogêneo.

4.5 Objeto Simulador

4.5.1 Dosímetros Experimentais

As Figuras 17 (a-c) mostram as respostas obtidas para os arranjos experimentais

dos três sistemas dosimétricos utilizados neste trabalho. O método de análise adotado

assume que as variações das respostas relativas devem-se às condições de espalhamentos

criados a partir da introdução dos materiais heterogêneos ou a permutação entre estes

materiais, no arranjo desejado. A dependência energética e a linearidade de dose (para os

TLDs e a câmara de ionização, enquanto que os filmes radiocrômicos EBT3 é correta

somente para as curvas baseadas em dose em água) dos sistemas dosimétricos são

64

premissas plausíveis, considerando que elas interferem somente com a introdução dos

materiais heterogêneos e não devido ao espectro energético das fontes de irídio-192.

Considerando cada nível de variação específico, todos os três sistemas dosimétricos

experimentais utilizados neste trabalho distinguiram a introdução de materiais

heterogêneos no objeto simulador. Os resultados mostraram que a introdução do material

BR50/50 (tecido mamário equivalente) nos arranjos VBB e BVV (Figura 17a e Figura 17b,

respectivamente) ocasionaram diferenças menores do que 1,6%, quando comparadas com o

arranjo homogêneo, considerando os sistemas TLD e a câmara de ionização A1SL. Este

fenômeno não foi demonstrado pelos filmes radiocrômicos no arranjo BVV, onde uma

diferença de -4,9% foi registrada. Porém, para os arranjos envolvendo o material alumínio,

as diferenças percentuais mensuradas pelos três sistemas experimentais foram, na média,

aproximadamente +3% e -10%, para os arranjos VAA e AVV, respectivamente. Para os

demais arranjos, Figura 17c, os desvios entre os sistemas dosimétricos foram maiores se

comparados com os arranjos VXX e XVV (onde X denota quaisquer materiais

heterogêneos utilizados neste trabalho), embora nos arranjos BAC, CAB e BAA as

diferenças percentuais foram maiores do que 2,5%, quando comparadas ao arranjo de

referência (homogêneo).

Os resultados experimentais para o arranjo VCA foram mais próximos ao arranjo

homogêneo, quando comparados como os arranjos citados anteriormente, exceto para os

filmes EBT3, que apresentaram desvios próximos a -3,3%.

Similarmente ao alumínio, os resultados obtidos com a introdução da cortiça

revelaram diferenças maiores se comparadas aos arranjos que possuem o material

BR50/50. Os filmes EBT3 mostraram um desvio superior dos demais dosímetros para os

arranjos VCC, CVV, CAB e VCA. Parte da possível explicação deste desvio está

relacionado a posição da cortiça no objeto simulador, ou seja, atuando como um material

retroespalhador ou atenuador. Nos arranjos VCC e VCA, a cortiça produz menos fótons

espalhados do que a Virtual Water, devido a sua baixa densidade. Entretanto, para os

arranjos CVV, os resultados provenientes dos filmes EBT3 sugerem que o efeito atenuador

da cortiça é similar ao ocasionado pelo material água equivalente (-0,42%), assim para

materiais de baixa densidade, a posição de retroespalhamento é mais intensa do que a

posição de atenuação.

65

VBB VAA VCC

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

a)

TLD

EBT3

A1SL

Dife

ren

ça

(%

)

BVV AVV CVV

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

TLD

EBT3

A1SLDife

ren

ça

(%

)

b)

BAC CAB BAA VCA

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

c)

TLD

EBT3

A1SL

Dife

ren

ça

(%

)

Figura 17 - Resultados dos arranjos experimentais no objeto simulador, a) arranjos VBB,

VAA e VCC; b) arranjos BVV, AVV e CVV e c) arranjos BAC, CAB e VCA. Linhas

tracejadas representam a normalização para o arranjo de referencia (VVV).

66

Recentemente, Bekerat et. al.133

mostraram que os filmes radiocrômicos comerciais

tipo EBT3 possuem um aumento e diminuição da resposta para as regiões energéticas de

40 keV e 20 keV, respectivamente, estes efeitos de dependência energética poderiam

ocasionar os desvios das respostas relativas mensuradas neste trabalho, uma vez que os

fótons espalhados são dependentes da composição do meio e da espessura do material.

Outro aspecto interessante é o “endurecimento” do espectro de energia devido à

introdução do material alumínio. Os fótons de baixa energia e que contribuem para a dose

absorvida no dosímetro são atenuados com maior intensidade do que a configuração

homogênea.

4.5.2 Simulações de Monte Carlo

As diferenças obtidas pelas simulações no código PENELOPE 2011 são

representadas na Figura 18(a-c).

Simulações envolvendo os TLD e os filmes radiocrômicos EBT3 registraram

diferenças praticamente idênticas em todos os arranjos investigados. As diferenças

sistemáticas apresentadas pelos resultados experimentais do filme EBT3 e outros métodos,

principalmente considerando os arranjos VVC e VCA não foram encontradas nas

simulações.

Considerando as simulações envolvendo a câmara de ionização A1SL

demonstraram diferenças elevadas, até 5,0%, comparando-as com as diferenças registradas

pelo TLD e EBT3, para os arranjos AVV, CAB, BAA e VCA. Estas simulações obtiveram

incertezas médias da ordem de 3,0% (k=1). As incertezas das simulações com a câmara de

ionização A1SL foram maiores quando comparadas com os demais métodos dosimétricos,

pois a probabilidade de interação dentro do volume sensível da câmara (composta

majoritariamente por ar seco) é muito baixa. Alterações nos fatores envolvendo as técnicas

de redução da variância poderiam reduzir as incertezas dos resultados envolvendo as

câmaras, porém tais modificações poderiam ser tendenciosas aos resultados e desta forma

decidiu-se manter valores mais conservadores.

Comparado com os resultados experimentais, as simulações confirmaram as

respostas relativas dos sistemas dosimétricos, em condições de heterogeneidade. As

simulações com os três sistemas dosimétricos mostraram que diferença inferior a 1,0% é

mensurada quando o material BR50/50 é inserido no objeto simulador (arranjos VBB e

BVV).

67

VBB VAA VCC

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

a)

MC-TLD

MC-EBT3

MC-A1SL

Dife

ren

ça

(%

)

BVV AVV CVV

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

b)

MC-TLD

MC-EBT3

MC-A1SL

Dife

ren

ça

(%

)

BAC CAB BAA VCA

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

c)

MC-TLD

MC-EBT3

MC-A1SL

Dife

ren

ça

(%

)

Figura 18 - Resultados das simulações PENELOPE/penEasy, a) arranjos VBB, VAA e

VCC; b) arranjos BVV, AVV e CVV e c) arranjos BAC, CAB e VCA. Linhas tracejadas

representam a normalização para o arranjo de referencia (VVV).

68

A cortiça exibe uma sobre resposta quando este material é colocado na posição de

retroespalhador (arranjo VCC) e como possui um poder menor de atenuação do que o

material água-equivalente (VW) registrou uma diferença positiva no arranjo CVV.

Os arranjos BAC, CAB, BAA e VCA registraram diferenças similares aos métodos

experimentais. A única exceção encontrada foi para a simulação da câmara de ionização no

arranjo BAA, uma diferença negativa, diferente das simulações com o TLD e o filme

EBT3, também diferentes dos sistemas experimentais. Considera-se que a simulação da

câmara A1SL, no arranjo BAA, é equivalente aos resultados experimentais e aos do

sistema de planejamento Acuros, dentro das faixas de incertezas de cada processo. Estudos

adicionais são necessários para interpretações em simulações envolvendo câmaras de

ionização, principalmente em regiões com presença de heterogeneidade.

4.5.3 Sistema de Planejamento Computadorizado – Acuros

As diferenças provenientes dos cálculos de dose utilizando o sistema de

planejamento (TPS), com o algoritmo Acuros, são ilustradas na Figura 19(a-c). Em termos

gerais, os resultados do sistema de planejamento concordam com o sistema experimental e

com as simulações numéricas, isto ratifica que o algoritmo Acuros é adequado para

quantificar a presença de heterogeneidades, em cálculos dosimétricos envolvendo

braquiterapia de alta taxa de dose. O sistema de planejamento, conjuntamente com o

algoritmo Acuros, foi capaz de extrair os valores de dose dos volumes sensíveis dos

dosímetros utilizados neste trabalho, sendo tais volumes menores quando comparados com

as dimensões de volumes antropomórficos.

Na Figura19(a), o sistema de planejamento obteve resultados similares aos métodos

experimentais e simulações Monte Carlo. O cálculo de dose no filme EBT3, para o arranjo

VBB, mostrou uma pequena diferença quando comparados com os experimentos e

simulações por Monte Carlo, -1,34%, para o mesmo dosímetros e arranjo, os resultados do

experimento e da simulação foram -0,3 e -0,09, respectivamente. Porém, a resposta inferior

dos filmes EBT3 está dentro da faixa de incerteza dos cálculos no sistema de

planejamento.

Respostas muito consistente foram obtidas para os três métodos dosimétricos para

os arranjos XVV, corroborando os resultados experimentais com as simulações. Como

esperado, os efeitos de atenuação são mais reprodutíveis do que os de retroespalhamento,

ou seja, os modelos físicos incorporados nos sistemas de planejamento, com algoritmo

69

baseado em modelos, e nas simulações de Monte Carlo são mais efetivos quando os efeitos

de transmissão são avaliados, ao contrário dos efeitos de retroespalhamento, comparando

com os resultados experimentais.

Os arranjos BAC, CAB, BAA e VCA mostraram um padrão de resposta

comparável com as outras técnicas. CAB apresentou uma grande diferença dentre os três

sistemas dosimétricos, as diferenças percentuais do sistema de planejamento, para o

arranjo CAB com TLD foi de 2,33%, contra 6,10% dos resultados experimentais. Embora

os dados para o arranjo VCA sejam comparáveis com os dados experimentais e com os

valores obtidos por meio das simulações de Monte Carlo, todos os dosímetros

apresentaram uma diferença inferior ao do arranjo VVV, resultado similar aos das

simulações por Monte Carlo; exceto para o filme EBT3, que registrou uma diferença

positiva no arranjo VCA, nas medidas experimentais.

Os resultados obtidos, referente às investigações no objeto simulador com

heterogeneidades são ilustrados na Figura 20, incluindo as incertezas relativas a cada

processo avaliado.

70

VBB VAA VCC

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

a)

TPS-TLD

TPS-EBT3

TPS-A1SL

Dife

ren

ça

(%

)

BVV AVV CVV

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

b)

TPS-TLD

TPS-EBT3

TPS-A1SL

Dife

ren

ça

(%

)

BAC CAB BAA VCA

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

c)

TPS-TLD

TPS-EBT3

TPS-A1SL

Dife

ren

ça

(%

)

Figura 19 - Diferenças percentuais registradas pelo sistema de planejamento empregando o

algoritmo Acuros, a) arranjos VBB, VAA e VCC; b) arranjos BVV, AVV e CVV e c)

arranjos BAC, CAB e VCA. Linhas tracejadas representam a normalização para o arranjo

de referencia VVV.

71

01-V

BB

02-V

AA

03-V

CC

04-B

VV

05-A

VV

06-C

VV

07-B

AC

08-C

AB

09-B

AA

10-V

CA

-16

-14

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

TLD

EBT3

A1SL

MC-TLD

MC-EBT3

MC-A1SL

TPS-TLD

TPS-EBT3

TPS-A1SL

Dife

ren

ça

(%

)

Figura 20 - Compilação dos resultados obtidos pelo objeto simulador e os sistemas

dosimétricos, incluindo as incertezas relativas.

4.6 Comparações com o protocolo TG-43

A Tabela 4 mostra as diferenças percentuais entre o algoritmo Acuros e o protocolo

TG-43, estas diferenças foram obtidas de modo similar a equação7, porém normalizadas

para o algoritmo Acuros. As diferenças relativas variaram de -0,7% até 12,4%. Isto revela

que para casos específicos, a utilização do protocolo TG-43 não é acurada em cálculos de

dose envolvendo heterogeneidades.

Em cenários clínicos, diferenças elevadas podem ser registradas, como descrito pela

literatura39, 47

. A avaliação de como tais diferenças impactarão os objetivos de cada

tratamento é específica a cada caso, mas uma estimativa apurada destas características

auxiliam os profissionais a estimar incertezas envolvidas quando regiões anatômicas com

heterogeneidades são tratadas.

72

Tabela 4: Diferenças percentuais calculadas entre o protocolo TG-43 e o algoritmo Acuros

para os três sistemas experimentais investigados neste trabalho. Os valores percentuais

indicam o desvio entre o TG-43 e Acuros.

Arranjo Diferença Percentual (%)

TLD EBT3 A1SL

VVV 4,15 5,07 4,81

VBB 4,47 5,21 4,28

VAA 1,73 3,83 2,69

VCC 6,21 7,86 6,88

BVV 4,26 4,87 4,79

AVV 10,75 12,19 12,43

CVV -1,08 -0,68 -1,11

BAC 1,22 2,97 2,15

CAB -4,40 -1,77 -2,20

BAA 2,05 1,90 1,61

VCA 5,27 5,11 3,83

4,7 Considerações Gerais

Devido a variedade de fontes de irídio-192, alta taxa de dose, acredita-se que as

diferenças técnicas entre as fontes são inferiores a incerteza inerente aos processos

experimentais, permitindo a utilização da metodologia aqui descrita para outros modelos

de fonte. Rasmussen et al,125

investigou como as variações dentre os modelos de fonte

influenciam para a determinação da intensidade kerma-ar de cada fonte; seus resultados

revelaram que as variações atribuídas a diferentes modelos de fonte são negligenciáveis

perante as incertezas globais da câmara de ionização tipo poço, assim o fator de calibração

de tais câmaras independe da fonte utilizada na determinação do padrão metrológico125

.

Porém, tal argumento não é válido para diferentes radionuclídeos, como o cobalto-

60 e césio-137, pois as diferenças nos espectros de energia e as diferentes espessuras de

materiais requeridas podem acarretar em incertezas elevadas ao processo.

73

Observa-se que nos tratamentos de braquiterapia com alta taxa de dose a utilização

de aplicadores é constante23, 89, 134–136

. Ratifica-se a importância da completa caracterização

dosimétrica (experimental e computacional) destes aplicadores. Adicionalmente, os dados

adquiridos destas caracterizações necessitam ser aferidos em cada sistema de

planejamento, aos que utilizam algoritmos baseado em modelos ou protocolo TG-43 (para

estimar as possíveis diferenças com outros algoritmos). Além dos algoritmos, estes

aplicadores devem ser assinalados com a correta descrição do material de composição e

consequentemente com a escala CT (HU) apropriada. Desta forma, uma base de dados dos

aplicadores utilizados contribui para a redução da incerteza para a estimativa de dose

absorvida no paciente.

4,7 Avaliação das incertezas

4,7,1 Experimental

As estimativas das incertezas referentes aos arranjos experimentais estão na Tabela

5 a 7, para os sistemas dosimétricos utilizados neste trabalho: TLD, EBT3 e câmara A1SL,

respectivamente, As incertezas específicas a cada método foram propagadas e analisadas

conforme a sugestão do trabalho de DeWerd et al137

.

A Tabela 5 mostra as incertezas estimadas para as medidas com o dosímetro TLD-

100, adotando um método equivalente ao adotado por Raffi et al39, 66

. As incertezas das

leituras do TLD-100 foram assinaladas como a média da reprodutibilidade (Tipo A)

durante as medidas e de acordo com a estabilidade da leitora durante as mensurações

sucessivas. Sobre a correção da resposta do TLD, a incerteza referente ao Chip Factor foi

baseada nas irradiações com o césio-137, incluindo as incertezas relativas a determinação

da taxa de dose no local e a reprodutibilidade dos TLDs. As correções da linearidade de

resposta foram estimadas em 1,0%, incluindo as incertezas do processo de ajuste das

curvas e a determinação da dose absorvida da fonte de cobalto-60. Os espalhamentos em

decorrência do objeto simulador e das heterogeneidades foram avaliados e contribuíram

com 0,5% na incerteza deste processo. A incerteza de posicionamento do objeto simulador,

durante os experimentos, foi calculada utilizando uma distribuição retangular.

74

Tabela 5 - Análise das incertezas para o sistema experimental TLD.

Parâmetro

Incertezas Padrões Relativas (%)

Tipo A Tipo B

TLD reprodutibilidade 0,83

Estabilidade Leitora 0,30

Chip factor – Cs-137 0,84

Linearidade Leitora – Co-60 1,00

Espalhamentos Objeto Simulador 0,50

Posicionamento Objeto Simulador 0,58

Incerteza Combinada 0,83 1,18

Incerteza Total (k=1) 1,44

Incerteza Expandida (k=2) 2,88

Para os filmes radiocrômicos, a avaliação de incertezas encontra-se na Tabela 6,

Foram consideradas somente as incertezas envolvidas nas respostas relativas dos filmes

radiocrômicos EBT3. A reprodutibilidade dos três segmentos de filme utilizado para as

medidas foi de 0,58%, As demais incertezas são referentes a posição da fonte e detector

(0,5%), homogeneidade do scanner (0,33) e a incerteza da densidade óptica média (1,0%),

Com exceção da homogeneidade do scanner, as demais incertezas foram extraídas das

referências 83, 85

, assumindo que as incertezas para os filmes radiocrômicos EBT2 (tipo

utilizados por ambas as referências) são equivalentes ao modelo EBT3. Para a incerteza na

correção da resposta, um valor estimado de 0,7% foi considerado. As incertezas de

espalhamentos e posicionamento do objeto simulador foram também consideradas.

75

Tabela 6 - Análise das incertezas para o sistema experimental com filmes radiocrômicos

EBT3.

Parâmetro

Incertezas Padrões Relativas (%)

Tipo A Tipo B

Reprodutibilidade Filmes 0,58

Posicionamento fonte-filme 0,50

Homogeneidade Scanner 0,33

Incerteza DOmed 1,00

Função de calibração Ir-192 0,70

Espalhamentos Objeto Simulador 0,50

Posicionamento Objeto Simulador 0,58

Incerteza Combinada 0,58 1,56

Incerteza Total (k=1) 1,66

Incerteza Expandida (k=2) 3,33

As incertezas para a câmara de ionização tipo A1SL (Tabela 7) foram determinadas

seguindo a aproximação de Fulkerson et al13

. As medidas envolvendo a câmara de

ionização revelaram melhor reprodutibilidade (0,04%) quando comparadas com outros

sistemas dosimétricos. A maior estimativa de incerteza deve-se a contribuição do

posicionamento da câmara durante as trocas dos materiais heterogêneos, para formar o

arranjo escolhido. As incertezas devido às correções de pressão-temperatura (PTP) foram

extraídas de medidas contínuas destas grandezas, ao longo de um período usual de

medidas. Conforme realizado nas estimativas de incertezas do TLD e EBT3, os

espalhamentos provenientes dos materiais e o posicionamento do objeto simulador também

foram incluídos na análise de incerteza das câmaras A1SL.

76

Tabela 7 - Análise das incertezas para o sistema experimental câmara de ionização.

Parâmetro

Incertezas Padrões Relativas (%)

Tipo A Tipo B

Reprodutibilidade 0,04

Posicionamento A1SL 0,6

Calibração Eletrômetro 0,1

Densidade do ar 0,1

PTP 0,26

Espalhamentos Objeto Simulador 0,50

Posicionamento Objeto Simulador 0,58

Incerteza Combinada 0,04 1,02

Incerteza Total (k=1) 1,02

Incerteza Expandida (k=2) 2,03

4,7,2 Simulações Monte Carlo

A Tabela 8 descreve as incertezas consideradas para as simulações Monte Carlo,

utilizando o código PENELOPE 2011. Os valores entre parênteses indicam as incertezas

relativas a câmara de ionização A1SL. Como as incertezas Tipo A para os TLD e os filmes

EBT3 foram similares, adotou-se uma média entre os valores da incerteza Tipo A (0,27%)

para ambos os dosímetros. Devido ao longo período de simulações para a câmara de

ionização, a incerteza Tipo A foi de 3,0%. As incertezas adicionais incluem a contribuição

dos coeficientes de absorção de massa-energia (en/) para as energias do irídio-192,

extraídas do trabalho de Andreo et al43

; a incerteza do espectro de fótons do irídio-192

encontrados na base de dados NNDC foram também consideradas. Adicionalmente,

77

decidiu-se adotar as incertezas dos modelos físicos incorporados no código PENELOPE,

valor proveniente de Vijande et al138

.

Tabela 8 - Análise das incertezas para as simulações com o código PENELOPE 2011. Os

valores entre parênteses indicam as incertezas para as simulações com a câmara de

ionização A1SL.

Parâmetro Incertezas Padrões Relativas (%)

Tipo A Tipo B

Reprodutibilidade 0,27 (3,00)

(en/) 0,11

Espectro fótons 0,5

MC modelos físicos 0,05

Incerteza Combinada 0,27 (3,00) 0,51

Incerteza Total (k=1) 0,58 (3,04)

Incerteza Expandida (k=2) 1,18 (6,09)

4,7,2 Sistema de Planejamento Computadorizado

As incertezas avaliadas para os cálculos do sistema de planejamento

computadorizado são mostrados na Tabela 9. O protocolo TG-138137

estima que a

incertezas do sistema de planejamento utilizados em braquiterapia de alta taxa de dose é

equivalente a 2,6%. Tais estimativas foram baseadas nos valores obtidos pelo protocolo

TG-43, propagando as incertezas devido às interpolações dos valores contidos ou

recomendados pelo protocolo TG-43137

. Para quantificar as incertezas presentes no sistema

de planejamento utilizando algoritmos baseados em modelos, quatro incertezas adicionais

foram introduzidas às recomendações preconizadas pelo TG-138: posicionamento do

objeto simulador, conversões da escala HU, delineamento dos volumes e reprodutibilidade

78

do algoritmo. A incerteza do objeto simulador foi determinada após sucessivos scans de

um mesmo arranjo (mantendo constantes os valores de kV e mAs), as variações das

distâncias foram comparadas com a ferramenta de mensurar as distâncias do BrachyVision,

As incertezas devido às conversões da escala HU foram baseadas nas variações estatísticas

utilizadas no sistema de planejamento. O delineamento de volumes explica as variações

nos delineamentos manuais utilizados neste trabalho. Dada a dificuldade de avaliar as

incertezas envolvidas nos cálculos do algoritmo Acuros (GBBS), considerou-se que 0,6% é

uma estimativa razoável para quantificar a incerteza global do algoritmo Acuros, este valor

foi baseado em estudos realizados no inicio da aplicação do GBBS em braquiterapia de alta

taxa de dose, cujos detalhes são encontrados na publicação de Daskalov et al139

.

Tabela 9 - Análise das incertezas para o sistema de planejamento utilizando o algoritmo

Acuros.

Parâmetro

Incertezas Padrões Relativas (%)

Tipo A Tipo B

TPS TG-138 2,6

HU conversões 0,5

Delineamento Volumes 1,0

Posicionamento Objeto Simulador 0,1

Incerteza algoritmo (GBBS) 0,6

Incerteza Combinada 0,1 2,89

Incerteza Total (k=1) 2,89

Incerteza Expandida (k=2) 5,79

79

5 CONCLUSÕES

A determinação de dose absorvida com acurácia é uma das principais metas da

radioterapia e a introdução dos algoritmos baseados em modelos em braquiterapia de alta

taxa de dose é relevante para as práticas clínicas e mensurações experimentais. Avaliar as

diferenças ocasionadas por heterogeneidades é necessário para assegurar a eficácia e

segurança durante a administração da dose aos pacientes.

Este trabalho desenvolveu um sistema dosimétrico experimental capaz de mensurar

diferenças ocasionadas pela introdução de heterogeneidades. Tais diferenças foram

confirmadas por simulações de Monte Carlo, por meio do código PENELOPE 2011 e

também com um sistema de planejamento comercial (BrachyVision) com algoritmo

baseado em modelos (Acuros), utilizado em braquiterapia de alta taxa de dose. O sistema

experimental quantificou arranjos heterogêneos com diferenças superiores a 11%, quando

comparados como arranjos homogêneos. Este trabalho avaliou que diferenças da ordem de

12% são encontradas quando os algoritmos TG-43 e o Acuros são comparados entre si.

Observando as respostas obtidas pelos filmes radiocrômicos nas medidas

experimentais, mais investigações são necessárias para compreender quais fatores que

produziram respostas com desvios maiores (em alguns arranjos), quando comparadas com

os demais sistemas dosimétricos. Portanto, as limitações dosimétricas para os dosímetros

experimentais avaliados neste trabalho sugerem a adoção de dois ou mais sistemas

experimentais, em investigações envolvendo regiões com heterogeneidade.

A metodologia aqui descrita é recomendada para utilização por outros profissionais

interessados em avaliar os sistemas de planejamento computadorizados que possuem

algoritmos baseados em modelos, com fontes de irídio-192 para alta taxa de dose, a

importação das imagens tomografadas permite que os arranjos aqui descritos possam ser

incorporados ao sistema de planejamento e as diferenças comparadas.

80

6 TRABALHOS FUTUROS

A extensão natural deste trabalho é a aplicação da metodologia descrita neste

trabalho para outros sistemas de planejamento computadorizados, aplicados em cálculos

dosimétricos com correções para heterogeneidade em braquiterapia de alta taxa de dose. O

interesse em avaliar essa metodologia para outros programas utilizados em cálculos

dosimétricos, envolvendo heterogeneidades em braquiterapia de alta taxa de dose, decorre

do fato que comumente outros programas farão uso de outros algoritmos de cálculo, assim

as limitações e respectivas comparações dentre sistemas de planejamento podem ser

realizadas.

Investigações acerca dos fenômenos de heterogeneidade, envolvendo os principais

aplicadores utilizados em braquiterapia de alta taxa de dose serão uma das etapas

decorrentes deste projeto. Estes aplicadores compõem um importante cenário em

braquiterapia, uma vez que muitas modalidades de braquiterapia com alta taxa de dose

fazem uso destes aplicadores, tornando assim a utilização deste objeto simulador mais

próximo do contexto clínico.

Os resultados obtidos neste trabalho mostram que pesquisas adicionais envolvendo

filmes radiocrômicos e as simulações de Monte Carlo, com a câmara de ionização, são

requeridas. Estas investigações poderão prover resultados mais acurados dos fenômenos

físicos que ocorrem quando estes sistemas são utilizados em mensurações onde há

presença de heterogeneidade.

Sugere-se que esta metodologia seja editada, para mensurar as condições de

heterogeneidade quando outros radionuclídeos diferentes do irídio-192 forem utilizados.

Até o momento de conclusão deste projeto, o radionuclideo com utilização para

braquiterapia de alta taxa de dose, além do irídio-192, é o cobalto-60, Entretanto, tais

adaptações não estarão limitadas ao radionuclídeo escolhido.

81

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