hoje macau 25 fev 2014 #3037

20
PUB São mais de 500 os ‘shuttle bus’ que circulam pelas ruas de Macau. A maioria não é propriedade dos casinos, mas alugada a agências de turismo. Andam sem quaisquer exigências ao nível do ambiente e do trânsito. Ainda por cima estão isentos de impostos PÁGINA 5 AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB Bus non stop LIBERDADE CONDICIONAL Governo procura caminho a seguir REVISÃO DE REGIME PÁGINA 2 O CORPO PÁGINAS 14 E 15 SHUTTLES NÃO SÃO DOS CASINOS. PRIVADOS ALUGAM ANGARIADORES DE VIP Operadoras de jogo começam a fazer papel de junkets BLOOMBERG REVELA PÁGINA 6 DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 TERÇA-FEIRA 25 DE FEVEREIRO DE 2014 ANO XIII Nº 3037 hojemacau

Upload: jornal-hoje-macau

Post on 10-Mar-2016

237 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Hoje Macau N.º3037 de 25 de Fevereiro de 2014.

TRANSCRIPT

Page 1: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

PUB

São mais de 500 os ‘shuttle bus’ que circulam pelas ruas de Macau. A maioria não é propriedade dos casinos, mas alugada a agências de turismo. Andam sem quaisquer exigências ao nível do ambiente e do

trânsito. Ainda por cima estão isentos de impostos

PÁGINA 5

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

Busnon stop

LIBERDADE CONDICIONAL

Governo procura caminho a seguir

REVISÃO DE REGIME PÁGINA 2

O CORPO PÁGINAS 14 E 15

SHUTTLES NÃO SÃO DOS CASINOS. PRIVADOS ALUGAM

ANGARIADORES DE VIP

Operadoras de jogo começam a fazer papel de junkets

BLOOMBERG REVELA PÁGINA 6

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 T E R Ç A - F E I R A 2 5 D E F E V E R E I R O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 0 3 7

hojemacau

Page 2: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

35% dos presos do EPM viram os seus

pedidos autorizados

2 hoje macau terça-feira 25.2.2014POLÍTICA

JOANA [email protected]

O tribunal deu nega a mais de 50% dos pedidos de liberda-de condicional pelos

reclusos do Estabelecimento Pri-sional de Macau (EPM), no ano passado. Os dados são da própria prisão e foram enviados ao HM na semana em que a Direcção dos Serviços da Reforma Jurídico e do Direito Internacional (DSRJDI) disse ainda estar estudar a questão da revisão do Estatuto de Liber-dade Condicional, não havendo qualquer prazo ou certezas sobre se este regime vai ser revisto.

A revisão do Estatuto da Liber-dade Condicional foi proposta há três anos pela 3ª. Comissão Perma-nente da Assembleia Legislativa (AL), através de um relatório que teve como base a entrega de três petições ao Governo. As cartas pediam alterações a este regime, que atribui a liberdade condicional aos reclusos do EPM, justificando que, muitas vezes, os prisioneiros não tinham direito à liberdade condicional mesmo cumprindo os requisitos previstos na lei.

No ano passado, o número de pedidos enviados para o tribunal aumentou face a 2012. Também as autorizações para a liberdade condicional subiram ligeiramente, a par, contudo, da reprovação dos pedidos. Em 2013, segundo a EPM, “foram 507 os números de candi-daturas enviados pela prisão ao tribunal”, mais 69 do que no ano an-

LIBERDADE CONDICIONAL GOVERNO AINDA RECOLHE OPINIÕES SOBRE POSSÍVEL REVISÃO DE REGIME

À procura de respostas

GRANDES CÓDIGOS REVISTOSAlém de ter referido que o Código Penal ainda está a ser alvo de auscultação da sociedade, a DSRJDI disse ainda ao HM que estão a ser promovidos os trabalhos de revisão dos restantes grandes Códigos, “gradualmente e consoante as necessidades”. “Esta direcção irá ainda promover a revisão dos restantes Códigos. No que toca ao Código Penal vamos continuar a recolher informações.”

Ainda não há decisão sobre uma eventual alteração ao Estatuto de Liberdade Condicional, proposta já há três anos. O Código Penal ainda está a ser alvo de auscultação pública, diz o Governo, e o mesmo se passa com o regime da liberdade condicional, uma vez que se inclui neste âmbito. Apenas 35% dos presos do EPM viram os seus pedidos autorizados

dicional, Cheong Chi Keong, admitiu o actual regime “não é aplicado na totalidade”, já que o anterior diploma, “que vigorava em regime obrigatório de liber-dade condicional” na altura da administração portuguesa, não foi completamente acolhido pelo actual Governo. O actual regime funciona de acordo com o cumpri-mento de determinados requisitos, por exemplo, implica que o conde-nado tenha cumprido dois terços da pena, tenha demonstrado bom comportamento ao longo desse período e demonstre capacidade e vontade de reinserção social. Mas, além destes, as circunstâncias do crime, o cadastro criminal e a própria personalidade do recluso são também formalidades a ter em conta e que têm de ser “apuradas por um juiz”, que é quem decide se o recluso tem condições de regres-sar à liberdade sem que constitua uma ameaça para a sociedade. O tribunal coloca o condenado em liberdade condicional quando se encontrarem cumpridos dois terços da pena e, no mínimo, seis meses. No entanto, no actual regime, mesmo cumpridas estas condições nem sempre é conce-dido o acesso às prerrogativas da liberdade condicional.

terior. Destes, apenas 35,5% foram aprovados – 180 presos tiveram di-reito a liberdade condicional -, mas 50,8% (258) foram negados, mais 58 do que em 2012. Pouco mais de 60 “continuam a ser examinados” e seis acabaram por desistir, por decisão do tribunal. “Devido a de-sacordos, os prisioneiros acabaram por não concordar com a liberdade condicional, não tendo, por isso, o

tribunal iniciado os procedimentos para tal, de acordo com o Código Penal”, refere uma porta-voz da EPM ao HM. A aplicação da li-berdade condicional depende do consentimento do condenado.

LIBERDADE CONDICIONAL ALIADA AO CPSegundo informações da DSRJDI ao HM, no início do ano passado,

o regime não poderia ser revisto até haver alterações ao Código Penal, por estar incluído no âm-bito deste conjunto de leis. Este Código começou a ser revisto em 2012, mas o Governo recuou em 2013. Agora, as alterações ainda estão a ser avaliadas, de acordo com informações prestadas ao HM pela DSRJDI. “No que toca à revisão do Código Penal, vamos continuar a recolher informações e a auscultar opiniões de vários sectores da sociedade”, frisa uma porta-voz ao HM. “Isto inclui o relatório sobre o regime de liber-dade condicional elaborado pela 3ª. Comissão Permanente.”

Em 2011, o presidente da comissão encarregue de analisar o Estatuto de Liberdade Con-

Page 3: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

3 políticahoje macau terça-feira 25.2.2014

ANDREIA SOFIA [email protected]

P ODERÁ o Executivo apre-sentar um projecto de lei no mesmo ano em que uma anterior proposta tenha

sido chumbada pelos deputados, ainda que o tema seja o mesmo? Há deputados que acreditam que sim, e por isso sugeriram a implementa-ção dessa regra no novo regimento da Assembleia Legislativa (AL), actualmente em discussão.

Segundo o deputado nomeado Vong Hin Fai, presidente da comis-são que analisa o regimento, esta é uma das cinco questões conside-radas urgentes para uma alteração. Recorde-se que a repetição dos projectos de lei com o mesma tema

O deputado Leong Veng Chai, número dois de José Pereira

Coutinho na Assembleia Le-gislativa (AL), interpelou o Executivo a alterar as regras de composição das diversas comissões consultivas. Le-ong Veng Chai pede que haja mudanças mais constantes na nomeação dos mem-bros, à semelhança do que aconteceu na comissão de avaliação das remunerações da Função Pública. “Esses membros são renovados

Alguns deputados defendem que o Governo pode apresentar um projecto de lei de sua autoria mesmo que uma anterior proposta, com o mesmo tema, tenha sido chumbada. Mas não há conclusões sobre as mudanças no regimento do hemiciclo

PROJECTOS DE LEI DEFENDIDA APRESENTAÇÃO PELO GOVERNO NO MESMO ANO

O mesmo tema em dose dupla

DEPUTADO DÁ COMO EXEMPLO MUDANÇAS NA COMISSÃO DA FUNÇÃO PÚBLICA

Leong Veng Chai exige rotatividade nas comissões

foi um dos pontos mais debatidos aquando do chumbo ao projecto de José Pereira Coutinho e Leong Veng Chai, sobre a protecção dos animais. “Vários deputados enten-dem que um projecto não pode ser apresentado pelos mesmos deputa-

dos na mesma sessão legislativa, e houve deputados que apresentaram sugestões sobre a mudança da frase: ‘não podem ser renovados (...) salvo se a mesma iniciativa for do Governo da RAEM’. Aqui acrescentou-se uma ressalva. Mas

de dois em dois anos, não havendo lugar a recondu-ção. Mas observando outras comissões, alguns dos seus membros são sempre as mes-mas pessoas, o que conduz a que os jovens não tenham a oportunidade de desem-penhar esse cargo nem tão pouco aprender daí, nem possibilita introduzir sangue novo e outras opiniões nas comissões. Será que assim se pode demonstrar o prin-cipio governativo de formar talentos?”

“O Governo deve adop-tar este mecanismo nou-tras comissões, renovando periodicamente os seus membros, a fim de evitar que os lugares sejam ocupados pelas mesmas pessoas por um longo período de tempo, bem como proporcionar aos jovens mais oportunidades de promoção”, escreve ainda Leong Veng Chai.

O deputado fala ainda de “estranhas coincidências” quanto à repetição dos no-mes neste tipo de cargos. “O

número de serviços públicos aumentou, especialmente após a transferência de soberania, e foram criados mais fundos e fundações, nomeadamente a Fundação Macau, Fundo para o De-senvolvimento de Ciências e Tecnologia e Fundo das Indústrias Culturais. Quem está a assumir o cargo de presidente do conselho de administração desses fundos e fundações é membro ou ex-membro do Conselho Executivo.”

“Será que o Governo está mesmo com falta de pessoal qualificado para assumir estas funções, le-vando a situações em que os importantes cargos são ocupados pelas mesmas pessoas? De que medidas dispõe o Governo para regular os membros que exercem funções em várias comissões, a fim de garantir que estes tenham tempo su-ficiente para desempenhar essas funções?”, questiona Leong Veng Chai. - A.S.S.

repito que a comissão ainda não se debruçou sobre estas questões e só definimos a nossa metodologia de trabalho.”

Vong Hin Fai explicou ainda que “tal como o que aconteceu nos últimos dois projectos de lei,

(das rendas) e da protecção dos animais, será que a Administração pode ou não, na mesma sessão, apresentar a sua proposta de lei sobre a mesma matéria? A comis-são entende que este artigo deve ser estudado”.

Apesar da falta de um calendá-rio concreto, os deputados garan-tem que se vão debruçar primeiro sobre cinco questões consideradas urgentes, e que, numa segunda fase, será feita “uma avaliação geral do regimento” da AL. “Vamos ver como é que é possível melhorar o funcionamento da AL, num traba-lho mais detalhado e sistemático. A comissão vai procurar finalizar o estudo sobre essa revisão geral ainda dentro desta legislatura.”

SÓ O PROPONENTE É QUE FALAA activação do regime de audição, que consta na Lei Básica mas que nunca foi implementado, é outro dos assuntos considerados urgen-tes. Mas também a forma como os deputados interpelam o Executivo poderá mudar. “Agora o deputado proponente faz a leitura da sua in-terpelação e depois há uma resposta do Governo e mais uma ronda para questões adicionais. Mas há deputados que entendem que estas questões adicionais devem centrar--se nas questões que são objecto de interpelação. E há quem entenda que deve ser o próprio subscritor da interpelação que deve apresentar questões adicionais e que os outros deputados não devem apresentar questões.”

As interpelações com o mesmo tema também poderão ser compi-ladas para a obtenção de respostas numa só sessão plenária. “As interpelações orais podem ainda incidir sobre o mesmo tema, mas são considerados como interpela-ções autónomas. Também essas interpelações são apresentadas segundo a ordem, mas temos que pedir à assessoria para apresentar sugestões de melhoria no sentido de uma concentração e optimização.”

Page 4: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

TIAG

O AL

CÂNT

ARA

4 política hoje macau terça-feira 25.2.2014

PUB

CECÍLIA L [email protected]

C HAN Meng Kam fez ontem uma interpela-ção escrita, onde põe em causa o controlo

da qualidade do ar em Coloane, nomeadamente na Vila de Ká Hó. O deputado critica o facto de o local que é considerado como “o pulmão da cidade” ser, afinal, local de poluição. “No local, reúnem-se fábricas que poluem de forma elevada, a limpeza do ar já não existe.”

O deputado cita dados es-tatísticos, para referir que, actualmente, 60% da emissão de poluentes das fábricas são oriundos da vila de Coloane e da vila de Ká Hó. Apesar das reuniões entre os organismos inter-departamentais respon-

Angela Leong pede mais apoio para empresas sociaisO Governo está a elaborar o segundo plano de apoio financeiro para a promoção do emprego das pessoas com deficiência, depois de ter lançado o primeiro há cinco anos. A deputada Angela Leong divulgou ontem uma carta aberta a instar o Governo a melhorar os parâmetros desse programa. Sabe-se já que o financiamento máximo para cada projecto aumentou de dois milhões para três milhões de patacas, sendo que apenas cinco entidades podem ser financiadas. No entanto, a deputada lembrou que, dada a falta de apoio (além do monetário), apenas uma empresa social se candidatou ao primeiro plano. Por isso, desta vez, a deputada quer que o Governo possa dar mais apoio no desenvolvimento das empresas sociais. Angela Leong sugere que o Governo ofereça formação na proposta do projecto, bem como um espaço para operação e apoio técnico na operação das empresas.

A Federação das Asso-ciações dos Operários

de Macau (FAOM) reuniu ontem com o Chefe do Executivo com o objec-tivo de debater políticas laborais. Do encontro saiu a garantia de que a política de croupiers não vai sofrer alterações, tal como Chui Sai On já referiu diversas vezes aos órgãos de co-municação. “O dirigente máximo da RAEM reiterou que a política do governo de os lugares de croupiers da indústria de jogos serem preenchidos por residentes permanentes de Macau mantém-se, sem altera-ções”, pode ler-se num comunicado.

Chui Sai On terá ainda dito que “num passado recente, o secretário para Economia e Finanças, Francis Tam, teve nego-ciações com as seis ope-radoras de Jogo no sentido destas fomentarem mais cursos de formação para criar mais oportunidades de progressão na carreira dos trabalhadores locais”.

Além disso, o Chefe

do Executivo “lembrou que, recentemente, Francis Tam, na sua intervenção na Assembleia Legislativa, foi, mais uma vez, muito claro sobre o sentido das políticas de desenvol-vimento da indústria do Jogo quanto ao valor do aumento anual das mesas nos casinos que não pode exceder os três por cento”.

Cheang Chong Sek, presidente da direcção da FAOM, terá frisado as “necessidades dos tra-balhadores por conta de outrem ou assalariados de encontrarem uma habita-ção”, e que “os croupiers, supervisores e motoristas profissionais não devem ser recrutados fora do território”.

A FAOM abordou ain-da a questão do salário mínimo e sublinhou que “a inflação tem criado pressão sobre a classe assalariada fazendo votos que o gover-no possa ampliar a fonte de abastecimento de bens essenciais para atenuar os efeitos da inflação sobre a população”.

CHAN MENG KAM CRITICA QUALIDADE DO AR EM COLOANE

Pulmão da cidade é centro de poluição

Kwan Tsui Hang pergunta por propriedades abandonadas do GovernoA deputada Kwan Tsui Hang escreveu ontem uma interpelação escrita para questionar o Governo sobre a razão pela qual deixa que as propriedades públicas fiquem ao abandono quando arrenda edifícios privados a preços elevados. Segunda a deputada, as propriedades públicas, como o Hotel Estoril, foram abandonadas durante alguns anos devido à falta de manutenção e gestão, o que representa um risco para a sociedade, uma vez que albergou sem-abrigo e toxicodependentes. “O recurso de terras é precioso em Macau, o Governo insta muitas vezes os empreiteiros a desenvolverem os seus terrenos, mas por que não aproveitam as suas propriedades abandonadas?”, questiona. Kwan inquiriu ainda a Administração para saber se já foi feito um inventário de imobiliário público.

Croupiers Chui Sai On reúne com FAOM e promete manter política

sáveis, sobre a questão da poluição na Ká Hó, no fim do ano passado, Cham Meng Kam diz que não viu ainda nenhum problema resolvido. “A Direc-ção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) lançou um comunicado a dizer que já tinha exigido aos respectivos estabe-lecimentos e empresas de obras de construção para tomarem medidas eficientes preventivas e de controlo da poluição, bem como à empresa operadora de limpeza para reforçar os traba-lhos e deitar água nas estradas por onde passam os camiões de transporte de resíduos, que também já motivaram queixas por poluírem. Mas nada mudou.”

Chan Meng Kam questiona, por isso, os efeitos dos trabalho do Governo no controlo da polui-ção. “Os departamentos parecem

ter já tomado medidas eficazes, mas podem revelar ao público quais são os efeitos concretos e se estes efeitos já satisfazem os moradores?”

O deputado oriundo de Fujian considera que a polui-ção de Coloane se deve à falta de um regime eficaz sobre a emissão dos poluentes do ar da indústria de cimento e das centrais de energia. Embora a DSPA tenha alguns requisitos, são todos não-obrigatórios, sem restrições suficientes. “Agora a ‘Elaboração das Normas que Regulam os Níveis de Emissão das Principais Fontes Fixas de Poluição do Ar e Melhoria do Seu Regime de Fiscalização em Macau’ está em consulta públi-ca, mas a legislação da DSPA está sempre atrasada, desde o seu estabelecimento em 2009”, criticou Chan Meng Kam.

O deputado refere ainda que a questão ambiental é “urgente” para os residentes de Macau e, por isso, perguntou ao Governo se existe um calendário. “Há opiniões que dizem que é igno-rado que Macau é pequeno e tem muita população e que as fontes de poluição são mais próximas às zonas das residências. Como é que as autoridades avaliam esta opinião?”

Page 5: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

5SOCIEDADEhoje macau terça-feira 25.2.2014

AA TOURISM LIMITED ALUGA PARTE DOS 500 ‘SHUTTLE BUS’ EM CIRCULAÇÃO

O outro negócio da Transmac

É normal que empresas privadas façam negó-cios entre si e que umas disponibilizem às outras a maior gama possível de bens e serviços. À parti-da, numa sociedade onde imperam as leis mercado ninguém teria nada com isso. Mas o problema é que se deixou que a situação se tornasse um problema. Ninguém se preocupou com o facto de que acres-centar 600 autocarros ao tráfego de Macau traria inevitavelmente conges-tionamentos no trânsito e muito mais poluição. E de tal modo ninguém se preocupou que a ninguém foi exigido que esses novos autocarros funcio-nassem com formas ener-géticas menos poluentes. Agora, a verdade é que todos os dias sentimos piorar a situação ecológi-ca na cidade e nas ilhas. Esta preocupação não é política, nem económica. Visa defender um bem comum que a todos faz falta: o ar que respiramos e que os nossos filhos respiram. Resta aqui apelar ao bom senso e celeridade das autoridades, por um lado, e à cidadania das empresas envolvidas, por outro. Estas poderiam, por si mesmas, antes que legislação a tal obrigue, avançar para uma cons-ciencialização ambiental, reduzindo drasticamente as suas emissões de gases nocivos.Nada ficaria melhor a empresas desta dimensão, cujos avantajados lucros são sobejamente conhe-cidos, que uma atitude social consciente, que contrasta com uma injus-tificada cega ânsia pelo lucro, que tudo vexa à sua passagem. Talvez assim contribuís-sem de forma real para a diminuição dos danos colaterais que a sua presença inevitavelmen-te fomenta e certamente garantiriam uma melhor imagem junto da popula-ção de Macau.

Há mais de 500 ‘shuttle bus’ nas estradas de Macau. Ao contrário do que se pensa, a maior parte não é propriedade dos casinos, mas alugada a agências de transporte de turismo. A AA Tourism Limited, ligada à operadora de autocarros Transmac, é uma delas

ANDREIA SOFIA SILVA*[email protected]

A Transmac, uma das em-presas a operar o serviço de autocarros, também aluga, através de uma

segunda empresa, parte dos ‘shuttle bus’ que circulam ao serviço das operadoras de jogo. O negócio funciona através da AA Tourism Limited, uma agência que fornece serviços de transporte de turismo.

O nome da agência pode ser visualizado na parte lateral de muitos autocarros. Contactada pelo HM, uma das funcionárias ligadas à direcção da AA Tourism Limited confirmou que a empresa está ligada

Há mais de 500 ‘shuttle bus’ que providenciam serviços aos casinos e hotéis num total de 71 rotas. “Como trabalho a médio prazo os planos são de aplicar o controlo na sua operação, e por isso o Governo está a procurar medidas que efectivamente venham regular estes autocarros”

edi tor ia lCARLOS MORAIS JOSÉ

Contributo social

à Transmac por terem o mesmo di-rector, Li Hei Wan. A mesma fonte confirmou ainda ser o aluguer de ‘shuttle bus’ a operadoras de jogo um dos serviços disponibilizados, mas não avançou números nem os nomes das operadoras de jogo que recorrem ao serviço.

Uma pesquisa no website da Transmac permite confirmar a exis-tência de um serviço de aluguer de autocarros, cujas ligações dão um primeiro acesso a uma empresa que fornece serviços de publicidade aos autocarros, a Yi Neng Convention and Exhibition Services Limited.

No website desta empresa existe uma ligação para a AA Tourism Limited, onde se apresenta o for-necimento de “transporte de luxo para o sector de convenções e exposições (MICE)” e que se diz a primeira no mercado a oferecer este tipo de serviços, desde 2003, ano em que foi criada.

Apesar da insistência dos con-tactos, a empresa nunca se mostrou disponível para fornecer mais da-dos sobre o negócio. A Transmac também não respondeu ao pedido de uma entrevista.

Contudo, a AA Tourism Li-mited não é a única empresa que disponibiliza este serviço. Também o nome da Agência de Viagens e Turismo Heaven Limitada surge em alguns autocarros, nomeadamente da Galaxy. Contactada pelo HM, a empresa confirmou, através de um responsável, que disponibiliza este serviço. Mas não foi possível recolher mais dados, pelo facto do responsável não se encontrar disponível.

CASINOS EM SILÊNCIO O HM contactou ainda o Governo e as operadoras de jogo, sem ter recebido nenhuma informação. Do

lado da Sands China, foi-nos dito que uma parte da frota de autocarros é propriedade da operadora e que outra é alugada, mas remeteram mais esclarecimentos para o Go-verno. As restantes operadoras não responderam às perguntas do HM, sendo que a MGM China recusou prestar declarações sobre o assunto.

Também a Direcção dos Ser-viços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) não falou de nomes. “Os autocarros dos casinos são de turis-mo e quando é pedida a utilização dos mesmos não é à DSAT, portanto esta não tem conhecimento de quem são os proprietários. (Podem pertencer) a titulares ou entidades. Não é da competência da DSAT.”

Do lado dos Serviços de Turis-mo (DST), o mesmo silêncio. “A intervenção da DST no processo de

aquisição e entrada em circulação dos autocarros de turismo é pontual e acontece apenas no processo que antecede a importação dos mesmos. O papel da DST é apenas emitir um parecer vinculativo, no qual indica se as agências de viagens e turismo, ou de empreendimentos declarados de utilidade turística, que pretendem adquirir novos veículos motorizados, se têm movimento de transporte de passageiros que preencha o requisito para serem isentos de imposto.”

A DST diz ainda que “a apro-vação da isenção do imposto, bem como a autorização para importa-ção e posterior registo dos veículos, entre outros assuntos relacionados, estão fora do âmbito de competên-cias da DST”.

500 AUTOCARROS, 71 ROTAS Na sua resposta escrita, a DSAT manteve a promessa de rever a circulação destes ‘shuttle bus’. “Segundo as estatísticas, há mais de 500 ‘shuttle bus’ que providenciam serviços aos casinos e hotéis num total de 71 rotas.” “Como trabalho a médio prazo os planos são de aplicar o controlo na sua operação, e por isso o Governo está a procurar medidas que efectivamente venham regular estes autocarros.”

A DSAT garante que as mesmas podem passar por um controlo das paragens e pela possibilidade de operarem em conjunto. Mas a en-tidade liderada por Wong Wan vai ainda estudar o assunto. “Um grupo de trabalho formado pelos Serviços de Finanças, DST e DSAT está encarregado de realizar um estudo para impor limites – em termos de impostos, o número total de autocar-ros e as rotas que operam – a estes autocarros, por forma a implementar um controlo apropriado da sua uti-lização.” - *com Cecília Lin

Page 6: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

TIAG

O AL

CÂNT

ARA

hoje macau terça-feira 25.2.20146 sociedade

Comércio Retalho facturou mais 23% em 2013Os negócios dos estabelecimentos de comércio a retalho de Macau aumentaram 23% ao longo de 2013 para 66,04 mil milhões de patacas com os relógios e joalharia a valerem quase um terço do total. Dados estatísticos oficiais indicam também que só os relógios e produtos de joalharia tiveram, em 2013, um peso de 31% nas vendas das lojas de comércio a retalho, volume que traduz, em dinheiro, transacções de 20,46 mil milhões de patacas. Já os produtos de armazéns e quinquilharia valeram vendas de 10,39 mil milhões de patacas ou 16% do total das vendas. Só no quarto trimestre, o comércio a retalho em Macau fez negócios no valor de 18,25 mil milhões de patacas, mais 14% face aos 16,05 mil milhões de patacas do terceiro trimestre e mais 28% em relação ao trimestre homólogo do ano anterior.

Turismo Visitantes aumentam 8% em JaneiroMais de 2,5 milhões de pessoas chegaram a Macau em Janeiro, uma subida de 8% face ao mesmo mês de 2013 e mais de metade eram oriundos da China continental, foi ontem anunciado. De acordo com dados oficiais estatísticos relativos ao turismo local, no primeiro mês do ano chegaram à actual região Administrativa Especial chinesa 2.503.609 visitantes dos quais 1.689.277 eram oriundos da China continental, ou seja, 67,47% do total. Do total de visitantes da China continental, 49%, ou 832.381, entraram em Macau com visto individual, um mecanismo lançado pela administração central chinesa em 2003 para potenciar o turismo nacional para Macau e Hong Kong então afectadas pela crise da pneumonia atípica. Os visitantes permaneceram em Macau por um período médio de um dia, ao passo que os turistas prolongaram a estada por 1,9 dias.

Curso de dirigentes associativos da diáspora em Março A segunda edição do curso mundial de dirigentes associativos da diáspora, da responsabilidade do Ministério dos Negócios Estrangeiros em Portugal, vai decorrer já nos próximos dias 26 e 28 de Março, em Lisboa. Segundo um comunicado, o curso destina-se a “portugueses e luso-descendentes, de preferência com alguma experiência associativa, tendo como objectivo reunir dirigentes associativos da diáspora portuguesa de diversos países da Europa e de fora da Europa”, por forma a reunir “diferentes experiências, saberes e conhecimentos das associações representadas”.

RITA MARQUES [email protected]

S E há 20 anos havia rixas sangrentas entre tríades, espoletadas pelo domí-nio das salas com apostas

elevadas, hoje a luta é outra. A luta hoje é feita por meio de jactos privados e limusinas. A descrição é feita pela Bloomberg para dar conta de que os casinos come-çam a prescindir dos serviços prestados pelos promotores de jogo, para serem eles próprios a controlar as altas paradas.

Os intermediários começam, por isso, a perder espaço de ma-nobra quando operadoras com a Sands China Ltd. ou a MGM China Holdings Ltd. assumem estar dispostas a cortar nestas despesas. “A angariação directa de [jogadores] VIP dá-nos uma margem de lucro consideravel-mente mais elevada”, admite Grant Bowie, director-executivo da MGM, em declarações à agência financeira. A razão é explicada pelo facto de as recei-tas provenientes deste grupo de apostadores comporem, actual-mente, dois terços do montante total amealhado pelos casinos.

No caso da empresa de Sheldon Adelson, o relatório anual de 2012 dá conta de que é posto à disposição, dia e noite, uma frota de limusinas para os grandes apostadores, além de

Os intermediários começam, por isso, a perder espaço de manobra quando operadoras com a Sands China Ltd. ou a MGM China Holdings Ltd. assumem estar dispostas a cortar nestas despesas

BLOOMBERG ALGUNS CASINOS PROCURAM LUCRAR MAIS PRESCINDINDO DOS ‘JUNKETS”

Cortar nos “intermediários”Os promotores de jogo podem começar a perder terreno. As operadoras de jogo começam a fazer sozinhas o papel dos ‘junkets’. A ideia, assume Grant Bowie, é alcançar uma margem de lucro maior. Mas, se MGM e Sands China querem correr riscos por conta própria, Ambrose So, da SJM, diz-se “confortável” com a relação com os angariadores de VIP

suites de grandes proporções e ‘concierges’.

Por essa razão, até os junkets mais estáveis se deixam abalar pela decisão dos casinos. Quem o admite são os “angariadores”, liderados pelo Suncity Group e pelo Jimei Group. “Estamos a ser comprimidos”, disse Yu Yio, que opera numa sala VIP do Casino Altira. Embora não tenha acedido

do continente por sua iniciativa, em vez de pagar a ‘junkets’. Em casos mais singulares, podem garantir 50% mais em lucros.

OPERAÇÃO ‘JUNKET’Segundo a indústria do jogo, um jogador VIP aposta no mínimo um milhão em cada visita a Macau. Como é que isso é pos-sível? Através de empréstimos

yuans diariamente. Desta for-ma, as fichas movimentam-se, primeiro, à custa dos ‘junkets’.

O que ganham os promotores de jogo? Comissões. Estas valem 44% da receita bruta sobre as apostas de jogadores VIP, se-gundo a correctora Credit Suisse Group AG. Ou seja, contas feitas pela Bloomberg, os ‘junkets’ ga-nham 13 mil milhões de dólares (105 mil milhões de patacas).

E, em certos clubes priva-dos, cada ficha dava para pagar grandes luxos. A Bloomberg exemplifica. No Sky 33, dentro do Galaxy, quem não apostar um mínimo de 5 milhões de yuans não é bem-vindo. No Sky 32 a fasquia eleva-se: 10 milhões de yuans, mínimo. Quem os angaria? Os ‘junkets’, que lhes facultam não apenas o emprés-timo, mas também o transporte e a estadia.

Continuará a ser fundamental o seu papel em Macau? Se há alguém que tem voz na matéria é a maior operadora de jogo na RAEM, aquela que detém o maior número de casinos e a úni-ca que garantiu o monopólio da indústria no território durante 40 anos. “A SJM sente-se confortá-vel com as relações que mantém com o sistema de ‘junkets’, que operam legalmente em Macau”, afiança Ambrose So, CEO da em-presa criada por Stanley Ho, num e-mail enviado à Bloomberg.

falar à agência norte-americana, segundo o seu portal online, o Suncity já instalou clubes VIP na Coreia do Sul e nas Filipinas, procurando diversificar a oferta de serviços de consultadoria para a indústria cinematográfica e musical.

Karen Tang, analista do Deutsche Bank em Hong Kong, garante que um casino pode facturar entre 10% a 15% mais se recrutar os grandes jogadores

sem juros. Estes apostadores de bolso cheio, maioritariamente vindos do continente, apostam de facto por meio de crédito, quando quantias tão elevadas de dinheiro físico não podem atravessar fronteiras - as regula-mentações do Governo Central impõe aos cidadãos um limite de 20 mil yuans para levarem nas suas viagens e nas caixas multibanco da RAEM não se pode levantar mais de 10 mil

Page 7: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

TIAG

O AL

CÂNT

ARA

MONGES BUDISTAS A TRATAREM DO OURO

7 sociedadehoje macau terça-feira 25.2.2014

CECÍLIA L [email protected]

A Macao Water (ou Sociedade de Abastecimento de Águas de Ma-

cau) anunciou a intenção de investir mais de mil milhões de patacas na construção de uma estação de tratamento de água na zona de Seac Pai Van. A notícia fez manchete ontem no jornal Ou Mun.

Segundo o director da empresa, Fan Xiaojun, a península de Macau tem actualmente três ligações para fornecimento de água provenientes de Zhuhai, mas apenas duas chegam por via marítima às ilhas.

O Governo da Pro-víncia de Guangdong e a RAEM estão agora a negociar uma quarta via para abastecimento directo da Taipa e Coloane, mas

A LIAR a dança ao carinho pelos animais. É o que planeia a ANIMA – So-

ciedade Protectora dos Animais, em conjunto com Sophie Duncan, coreógrafa no território, para pro-mover uma campanha de adopção.

Depois da notícia de que a ANIMA terá de devolver uma parte do terreno onde tem cerca de 30 animais, a adopção continua a ser a única solução possível para que os cães não sejam mortos, algo que a Sociedade Protectora dos Animais diz não conseguir fazer, por ser contra.

Para motivar a adopção, a ANI-MA planeia hoje, às 16h30, uma ‘flash mob’ na Praça da Amizade, em frente à Escola Portuguesa de Macau, a que chamou “Dançar pelos Canitos”. O evento conta com a participação especial de Sophie Duncan, coreógrafa e artista do Reino Unido, a viver em Macau.

Cinco monges budistas foram apanhados, esta semana, a comprar ouro numa muitas lojas da Lukfook espalhadas por Macau. De acordo com a religião, deviam viver com pouco mais que o manto que os cobre. Este tipo de situações não é nova. De acordo com o jornal El País, têm surgido alguns pequenos escândalos que envolvem monges budistas em casos de consumo de droga e álcool, ou até jogo e prostituição.

MACAO WATER VAI CONSTRUIR UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA EM SEAC PAI VAN

À espera de ligação a partir da Montanha

Sophie com um dos cães da ANIMA

ANIMA PROMOVE ESPECTÁCULO GRATUITO HOJE NA PRAÇA DA AMIZADE

Dançar pelos animais“Sophie criou um espectáculo espontâneo reunindo uma vasta gama de talentos e artistas locais, para um espectáculo gratuito às 16:30 horas”, frisa um comunicado da ANIMA enviado aos jornais.

“A ANIMA é uma organização extraordinária e a quem eu tenho

grande carinho em ajudar”, revela a artista. Sophie Duncan frisa que, quem cá vive, pode ver que há um grande problema com animais vadios, alertando, por isso, para o facto de as campanhas de adopção serem “uma excelente maneira de promover o trabalho da Anima”.

No local estarão alguns ani-mais que podem já ser adoptados, de forma a criar espaço na ANIMA para outros. Ao lado deles, estarão artistas que vivem no território. “Tenho muita sorte em trabalhar com alguns dos mais talentosos indivíduos do mundo, alguns dos quais adoptaram animais da ANIMA. Pegar nesse talento e levá-lo até às ruas por uma boa causa certamente resultará num pequeno reboliço e muito diver-timento. O espectáculo terá uma única apresentação de acrobacias e dança por artistas vivendo em Macau.” - J.F.

desta vez a partir da Ilha da Montanha.

Actualmente, as ilhas são abastecidas a partir da península de Macau, através de duas tubagens subaquáti-cas. No entanto, caso venha a existir algum problema nestas duas ligações, a se-gurança do abastecimento pode ficar ameaçada.

O Governo ainda ponde-ra a criação de uma quarta ligação entre Macau e a Taipa, por meio de túnel ou ponte, se esta infra-es-trutura andar para a frente, a Macao Water espera que o Executivo liderado por Fernando Chui Sai On possa criar uma terceira via de abastecimento para assegurar, com menores riscos, o serviço.

Para corresponder à realização de um quarta canalização para trans-formação de água entre

Zhuhai e Macau, a empresa está a planear construir a primeira e a segunda fase da estação de tratamento de água na zona de Seac Pai Van. Estima-se que os custos possam chegar a um máximo de 1,5 mil milhões de patacas.

Fan Xiaojun prevê que, dada a intensificação da actividade económica nas ilhas nos próximos anos, o consumo diário de água nas ilhas possa atingir os 120 mil metro cúbicos até 2019.

Segundo fontes do di-ário local, a população de Macau pode atingir as 700 ou 800 mil pessoas quando terminar a construção da es-tação de tratamento de água em Seac Pai Van. Nessa al-tura, o abastecimento diário de água pode atingir os 500 mil metros cúbicos, o que pode satisfazer o consumo de milhões de residentes.

Page 8: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

8 hoje macau terça-feira 25.2.2014CHINA

O crescimento económico da China parece ter desacelerado

significativamente no início do ano, levantando dúvidas sobre a capacidade do gover-no de atingir as suas metas de expansão sem agravar as tensões no sistema financeiro.

Tem havido uma carência de dados concretos desde o início de 2014 devido ao feriado do Ano Novo Lu-nar, durante o qual muitas fábricas fecham e o governo chinês suspende a divulgação de alguns indicadores. Mas as informações disponíveis, incluindo o índice de geren-tes de compras preliminar di-vulgado na semana passada, indicam que a economia pode estar a perder força. “O início do ano não foi muito bom”, disse Li Daokui, professor da Universidade Tsinghua, de Pequim, e ex-consultor do banco central na área de política monetária. “Pode-mos ter de nos preparar para um crescimento um pouco menor.”

Para o governo, a de-saceleração representa um risco. O crescimento está a cair em parte porque as autoridades, preocupadas com as bolhas de crédito no sector financeiro, elevaram o custo dos empréstimos. Mas o governo está empenhado em não travar demasiado o crédito, temendo que isto

Para o governo, a desaceleração representa um risco. O crescimento está a cair em parte porque as autoridades, preocupadas com as bolhas de crédito no sector financeiro, elevaram o custo dos empréstimos. Mas o governo está empenhado em não travar demasiado o crédito, temendo que isto cause uma redução ainda maior do crescimento e o aumento do desemprego

ECONOMIA DESACELERAÇÃO É DESAFIO PARA REFORMAS

Março revela metas de crescimentocause uma redução ainda maior do crescimento e o aumento do desemprego.

Alguns observadores dizem que a China deveria permitir que o crescimento desacelere durante a transi-ção de uma economia de-pendente de investimentos alimentados pelo crédito para uma mais assente no aumento do consumo. Um dos testes para saber se o governo pode tolerar um menor crescimento ocorrerá no mês que vem, quando os líderes chineses divulgarem a meta de crescimento para 2014 na abertura da reunião anual do parlamento.

No ano passado, o pri-meiro-ministro da China, Li Keqiang, disse que o país poderia crescer a uma taxa mais modesta de 7,2% ao ano e ainda gerar emprego suficiente para manter a desocupação baixa e evitar agitação social. Mas relatos da imprensa local dizem que o governo definirá uma meta de 7,5%, igual à de 2013.

No ano passado, a econo-mia cresceu 7,7%, a mesma taxa de 2012, mas bem abai-xo das taxas de dois dígitos dos anos anteriores.

Como o crescimento de-sacelerou no início de 2013, em parte devido ao aperto no crédito, o governo entrou em

cena com um pequeno pacote de estímulo de gastos em infra-estruturas que aumentou a actividade económica, mas fez crescer o já pesado endi-vidamento no país.

CRÉDITO EM ALTAO crédito bancário e outros financiamentos cresceram fortemente em Janeiro, quando foram feitos cerca de 1,6 bilião de patacas em no-vos empréstimos bancários, acima de cerca de 1,3 bilião de Janeiro de 2012. O crédito avança sempre no início do ano, quando os bancos obtêm novas quotas de em-préstimos, mas o aumento também sugere que o banco central não está a apertar a sua política monetária. “Este é um de vários sinais recen-tes de que o banco central não é tão linha-dura como se pensava”, escreveram Chen Long e Andrew Bat-

son, da empresa de pesquisa GaveKal Dragonomics, num relatório publicado a semana passada. “Embora o governo esteja preocupado com o endividamento dos governos locais [provinciais e municipais] e com outras dívidas de alto risco, acha que esse problema pode ser resolvido a longo prazo.”

Apesar de repetidas ga-rantias de que os dias de “adoração do PIB” e medi-das de estímulo alimentadas por dívida acabaram, alguns analistas suspeitam que a ne-cessidade de atingir uma meta pré-determinada pelo governo vai superar as preocupações com a saúde da economia a

longo prazo, promovendo um afrouxamento das condições financeiras ainda este ano. “Esperamos que o governo relaxe a política monetária no segundo trimestre para apoiar o crescimento”, diz Zhang Zhiwei, economista do banco de investimento Nomura.

NO SEGREDOS DOS DEUSESAs informações sobre o desempenho económico da China em 2014 têm sido es-cassas até agora. Para evitar sinais enganosos em torno do ano novo chinês, o go-verno combina dados sobre o investimento e sobre a pro-dução industrial de Janeiro e Fevereiro. Estes números

não serão divulgados até ao dia 13 de Março. Enquanto isso, os analistas têm dados limitados para trabalhar.

Uma leitura preliminar do índice de gerentes de compra (PMI) para o sector de manufactura, divulgado pelo HSBC, ficou no nível mais baixo em sete meses.

O índice caiu de 49,5 em Janeiro para 48,3 em Fevereiro. Qualquer nú-mero abaixo de 50 indica contracção em relação ao mês anterior.

Os números de Janeiro contribuíram para provocar uma venda generalizada de activos em mercados emergentes no início do ano, alimentada pelo receio dos investidores de que um crescimento mais len-to na China possa causar problemas no mundo em desenvolvimento.

Embora o PMI sugira uma desaceleração, as ex-portações e importações fo-ram excepcionalmente altas em Janeiro, ambas apresen-tando um crescimento em torno de 10% em relação ao ano anterior. Os dados aumentaram a esperança de que a recuperação nas economias industrializadas esteja a ajudar a China. Na realidade, as novas enco-mendas de exportações fo-ram o único componente do PMI que teve uma melhoria em Fevereiro.

Page 9: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

9 chinahoje macau terça-feira 25.2.2014

REGIÃOPUB

ANÚNCIO

HM-1ª vez 25-2-14AUTOS DE INTERDIÇÃO CV3-14-0004-CPE 3º Juízo Cível

REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO. ------------------------REQUERIDO: WONG FAT SON. -------------------------------------

*****

FAZ-SE SABER que, foi distribuído neste Tribunal, em 11 de Fevereiro de 2014, um Processo de Interdição, com o número acima indicado, em que é Requerido, WONG FAT SON, casado, titular do BIR nº 1249347(4), nascida de 04/12/1938, residente em Macau, na Rampa dos Cavaleiros, Edifício Fok Hoi Court, 9º andar A, para efeito de ser decretada a sua interdição por anomalia psíquica. ------------------------------------------------------------------

Macau, 14 de Fevereiro de 2014.

O S graves índices de polui-ção atmosférica continua-ram domingo a afectar as cidades de Pequim e Tian-

jin, e a província de Hebei, no norte da China. Devido à gravidade da situação, o Ministério da Protecção Ambiental do país enviou 12 equipas de supervisão para os locais. Para além disto, foram também tomadas medidas de restrição do movi-mento dos carros para aliviar a poluição atmosférica, informa a rádio China. Segundo um funcionário do ministério, Pequim, Tianjin, e algumas cidades do centro e sul da província de Hebei, incluindo ShiJiazhuang, Baoding e Xingtai, tiveram nos últimos dias índices gravíssimos de poluição atmosférica. O ministério exigiu que as autoridades destas cidades façam um tratamento da poluição deixada principalmente pelas indústrias siderúrgicas, de carvão, de vidro e de cimento. A entidade exigiu ainda que os locais envolvidos sigam atentamente a evolução dos índices de poluição e divulguem as informações mais recentes sobre o controlo da qualidade do ar e as previsões para os próximos dias.

A polícia de Pequim está a oferecer prémios de entre cerca de 1.200

a 47.000 patacas a quem fornecer informação útil para “ajudar a detectar ataques terroristas”, publicou ontem a imprensa oficial.

A oferta, anunciada atra-vés do website do Departa-mento de Segurança Publica de Pequim, visa “cumprir melhor o plano de segu-rança” das autoridades, por ocasião da reunião anual da Assembleia Nacional Popular (parlamento), que começa na próxima semana.

Este ano, pela primeira vez, o Governo chinês mon-tou um sistema de segurança envolvendo mais cinco pro-víncias e regiões autónomas, entre as quais o Xinjiang, de maioria muçulmana, para “partilhar informações e treinar as polícias locais na luta anti-terrorista”, refere ontem o jornal Global Times.

Segundo as autoridades

chinesas, mais de 200 de incidentes violentos e atenta-dos terroristas ocorreram no Xinjiang desde 2012, o último dos quais - um ataque a uma patrulha de polícia, que causou onze mortos - foi há apenas dez dias.

Em Outubro passado, um jipe com matrícula do Xinjiang chocou contra a multidão na Praça Tiananmen, num aten-tado atribuído ao Movimento Islâmico do Turquestão Orien-tal, organização que, segundo as autoridades chinesas, está ligada à Al-Qaida.

Histórico palco de pro-testos, situada no centro físico e político de Pequim, a Praça Tiananmen é consi-derada o espaço urbano mais vigiado da China.

A parte ocidental da praça é ocupada pelo Grande Palá-cio do Povo, onde decorrem os congressos do Partido Comunista e a reunião anu-al da Assembleia Nacional Popular.

A Coreia do Sul e os Estados Unidos iniciaram ontem em território sul-coreano os seus dois maiores

exercícios militares anuais conjuntos, o ‘Key Resolve’ e o ‘Foal Eagle’, apesar dos protestos da Coreia do Norte.

As manobras “começaram esta manhã conforme previsto por terra, mar e ar em diversas áreas do país”, disse à Efe um porta-voz do Ministério de Defesa de Seul.

O exercício ‘Key Resolve’, que durará duas semanas até 09 de Março, mobilizará cerca de 10.000 militares sul-coreanos e 5.200 norte-americanos.

As manobras ‘Foal Eagle’, que se vão prolongar durante quase dois meses até 18 de Abril, vão contar com cerca de 7.500 militares das Forças Armadas dos Estados Unidos, que se juntam às tropas da Coreia do Sul.

O porta-voz da defesa sul-coreano sublinhou que ambos os exercícios militares têm um carácter “estritamente defensivo” e não pretendem provocar a Coreia do Norte, mas sim coordenar a resposta perante eventuais agressões do regime vizinho.

Não obstante, nas últimas semanas o regime de Kim Jong-un classificou as

Tailândia Trêsmortos em ataque contra manifestantes em BanguecoqueUma menina de seis anos tornou-se na terceira vítima mortal da explosão de uma granada lançada no domingo contra um acampamento de manifestantes antigovernamentais numa zona comercial de Banguecoque, informou ontem a imprensa local. A menina era irmã de um rapaz falecido no mesmo ataque, juntamente com uma mulher de 40 anos, de acordo com as agências internacionais. O incidente ocorreu na tarde de domingo, na área comercial de Ratchaprasong, um dos lugares ocupados por manifestantes, e além das três vítimas mortais, provocou mais de 20 feridos, alguns com gravidade, de acordo com o diário ‘The Nation’, citado pela agência Efe. A primeira-ministra interina da Tailândia, Yingluck Shinawatra, condenou os ataques contra os acampamentos antigovernamentais na sua página de Facebook e pediu às autoridades a rápida detenção dos atacantes.

POLUIÇÃO MINISTÉRIO DE PROTECÇÃO AMBIENTAL TOMA MEDIDAS

Situação “gravíssima”POLÍCIA DÁ PRÉMIOS A QUEM AJUDAR A “DETECTAR ATAQUES TERRORISTAS”

Boas alvíssaras

O funcionário do ministério su-blinhou que o principal motivo da gravidade da poluição atmosférica nos últimos dias no país é o grande volume de emissão de poluentes e a dificuldade de dissipação do ar poluído devido às condições meteorológicas desfavo-ráveis, para além da emissão de gás carbono dos veículos em circulação.

Segundo os dados meteorológi-cos, até ao dia 26 deste mês, a cidade de Tianjin e o norte da província de Hebei terá índices de poluição entre o nível alto e médio. Para Pequim e centro e sul da mesma província, o nível da poluição será grave. No entanto, devido ao ar frio, a poluição nestes locais deverá aliviar no dia 27.

SEUL E WASHINGTON INICIAM EXERCÍCIOS CONJUNTOS

Pyongyang protestamanobras dos aliados como “ensaios de guerra nuclear” e “provocações militares” e solicitou o cancelamento dos exercícios conjuntos, uma pretensão rejeitada por Seul e Washington.

Page 10: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

10 hoje macau terça-feira 25.2.2014EVENTOS

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

O MISTÉRIO DO CADERNO CHINÊS • Pierdomenico Baccalario e Alessandro GattiAnnette e Fabò têm um quebra-cabeças para resolver: tudo começa com a descoberta do misterioso diário de uma dama parisiense do século XIX. O antiquário que o possuía foi assassinado e o diário contém pistas para revelar a identidade do criminoso! Mas qual será a ligação entre as desventuras de uma dama que viveu há mais de um século e um crime cometido na Paris de hoje?

PANDA - 1001 ATIVIDADES • vários autoresO Panda e os seus amigos prepararam muitas atividades para as crianças se divertirem a valer. Nas páginas deste livro, podem encontrar jogos originais, diferenças entre imagens, experiências curiosas, labirintos, origamis en-graçados e autocolantes coloridos, entre muitas outras surpresas.

O centenário só se assinala no dia 7 de Abril, e o grande aconte-

cimento do Ano El Greco, em Toledo e em Espanha, só chega a 14 de Março, com a inauguração da exposição com a maior reunião jamais realizada com obras do pintor nascido em Creta, Grécia, em 1541, mas que realizou a parte mais relevante da sua obra na-quela cidade espanhola, onde viveu até à morte, em 1614.

Mas Todelo está já a viver sob o signo do seu habitante mais ilustre. O primeiro ver-dadeiro acontecimento do Ano El Greco deu-se, no entanto, no final de Janeiro, quando os responsáveis da Fundação El Greco 2014 recolocaram no seu lugar histórico da sacristia da catedral de Toledo a monumen-tal tela O Espólio (1579), com três metros de altura, depois do restauro realizado no ano passado no Museu do Prado, em Madrid. As fotos do restauro deste óleo que é considerado um ponto alto na carreira do pintor foram divulgadas pela Reuters esta semana. “Foi uma tarefa fortemente emotiva. Foi a coroação da minha carreira”, disse então à Reuters Rafael Alonso, o restaurador da equipa do Prado, que conta já na sua carteira profissional a respon-sabilidade pela recuperação de outras 90 obras do pintor.

“Não consigo imaginar a face de Cristo de outro modo que não esta com que El Greco o pintou neste quadro”, acres-centou o técnico, referindo-se à impressiva imagem de um Cristo envergando um vestido vermelho vivo, pescoço com-prido e pose altiva no meio de uma multidão de homens em alvoroço.

O Espólio será, no entan-to, apenas uma da centena de obras-primas que Toledo vai mostrar – a mais de um milhão de visitantes, esperam

PINTURA EL GRECO VOLTA A TOLEDO 400 ANOS DEPOIS DA SUA MORTE

Cem obras-primas de regresso a casa

os responsáveis da cidade – a partir de 14 de Março, reuni-das a partir das colecções dos maiores museus do mundo e também de coleccionado-res privados. Telas como A Adoração do Nome de Jesus (National Gallery, Londres), Cristo na Cruz (Louvre, Paris); Vista de Toledo (Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque – que a Reuters lembra ter sido o quadro preferido de Ernest Hemingway), associadas a outras que não chegaram a sair de Toledo, como O No-bre com a Mão no Peito, ou O Enterro do Conde Orgaz, vão ser colocadas nos seus lugares originais, nas igrejas e conventos em volta da cidade e no Museu de Santa Cruz. A exposição fica até 14 de Junho. “Quase todos estes quadros saíram de Toledo no início do século XX. Estamos agora a reuni-los a partir da diáspora de El Greco”, disse à Reuters Gregorio Maranon, presidente da Fundação El Greco 2014.

El Greco foi, de facto, um pintor esquecido, um ‘out-sider’, não só no seu tempo

como nos séculos subsequen-tes. Mesmo se ele é possivel-mente “o mais moderno de todos os grandes pintores dos séculos XVI e XVII”, como defende Gregorio Maranon, que vê nele alguém que ab-sorveu do modo mais eficaz as lições de Miguel Ângelo, Ticiano, Tintoretto ou Vero-nese, e soube combinar as influências da arte bizantina com o maneirismo italiano. Com treino nas grandes es-colas de Roma e de Veneza, El Greco chegou a Espanha à espera de ter a protecção de Felipe II e tornar-se pintor de corte. Não conseguiu a posi-ção ambicionada e instalou-se em Toledo, a antiga capital, a 70 quilómetros de Madrid.

UM PINTOR DOS PINTORESO estilo audaz de El Greco ainda levanta todo o tipo de questões e teorias, que os especialistas tendem a não valorizar, diz Leticia Ruiz, responsável pelo departa-mento de pintura anterior ao século XVII no Museu do Prado. “Ele tinha estigmatis-

Page 11: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

hoje macau terça-feira 25.2.2014 eventos 11

C ENTENAS de exemplares do “Diário de Anne Frank”, assim como de outras obras sobre a ado-

lescente judia morta às mãos dos nazis durante a II Guerra Mundial, têm sido vandalizados nas bibliotecas públicas de Tóquio, no Japão.

Já há mais de 250 exemplares van-dalizados – foram arrancadas várias páginas do ‘Diário’ que Anne Frank escreveu no sótão da casa em Amester-dão (Holanda) onde se tentava esconder dos nazis. “Não sabemos por que razão isto aconteceu”, admitiu Satomi Mura-ta, director do conselho de bibliotecas públicas de Tóquio, citado pela AFP.

“Temos queixas de cinco dos 23 dis-tritos de Tóquio, mas ainda não sabemos quantas bibliotecas foram afectadas ao certo”, acrescentou.

O motivo é desconhecido, assim como os responsáveis pelos actos de vandalismo. Uma investigação está a ser conduzida pela polícia japonesa, que revelou a existência de várias denúncias sobre o caso.

Para além dos ‘diários’ e de outras obras sobre a adolescente judia foram ainda vandalizados livros que abordam a perseguição aos judeus durante o período nazi. “Pedimos às autoridades japonesas que identifiquem os autores desta campanha de ódio e que resolvam

U M conjunto 66 tesouros da colecção do Kremlin de Moscovo, que inclui

jóias, tecidos e armas, vai estar em exposição no Museu Ca-louste Gulbenkian, em Lisboa, a partir de 28 de Fevereiro.

O conjunto estará patente na sala de exposições tempo-rárias do museu no âmbito da exposição “Os Czares e o Oriente - Ofertas da Turquia e do Irão no Kremlin de Mos-covo”, anunciou a Fundação Calouste Gulbenkian.

De acordo com a Funda-ção, é a primeira vez que o acervo oriental desta colec-ção, constituída fundamental-mente pelas luxuosas ofertas

Na semana de estreia no “Tonight Show”, Jimmy Fallon atraiu média de oito milhões de pessoas e quebrou recordes de largos anos. A escolha de Jimmy Fallon parece ter sido um tiro certeiro da NBC para ocupar a cadeira deixada vaga por Jay Leno, após 22 anos ao comando do “The Tonight Show”, daquela estação norte-americana. Isto a avaliar pelos números da sua semana de estreia como apresentador do programa de “late night”, que não deixam margem para dúvidas. Ao lado de um leque de convidados de luxo como Michelle Obama, U2, Justin Timberlake, Jerry Seinfeld, Will Smith, Lady Gaga ou Bradley Cooper, Jimmy Fallon conquistou nesta primeira semana uma média de 8,3 milhões de espectadores - o maior número, naturalmente, foi logo no dia de estreia, segunda-feira, com mais de 11 milhões a ver -, ou seja, mais do dobro da audiência média da temporada 2013/2014 com Jay Leno de serviço: 3,8 milhões de seguidores.

PINTURA EL GRECO VOLTA A TOLEDO 400 ANOS DEPOIS DA SUA MORTE

Cem obras-primas de regresso a casaANNE FRANK ‘DIÁRIOS’ VANDALIZADOS EM BIBLIOTECAS DE TÓQUIO

Campanha de ódio e intolerância

EXPOSIÇÃO TESOUROS DO KREMLIN NO MUSEU GULBENKIAN A PARTIR DE DIA 28

Ofertas da Turquia e do Irão

mo ou problemas de visão? As pessoas ainda perguntam isso hoje”, acrescenta Ruiz, falando à Reuters na sala El Greco do Prado. “Ele é um pintor dos pintores. Não é um pintor fácil. As pessoas ou ficam fascinadas por ele ou não gostam.”

El Greco só viria a ser ver-dadeiramente redescoberto no século XIX, quando dife-rentes gerações de estudantes e de pintores que faziam a sua “peregrinação” ao Mu-seu do Prado em busca das obras-primas de Velázquez deparavam com a obra desse “grego” desconhecido.

No final desse século, seria mesmo El Greco a marcar sobremaneira a sensibilidade dos impressionistas e expres-sionistas. “Isto aconteceu com Manet, mais tarde com

Cézanne e mais tarde ainda com Picasso”, nota Javier Baron, responsável, no Museu do Prado, pelo departamento de pintura do século XIX. “A influência de El Greco em Picasso é maior do que em qualquer outro artista, desde o início ao fim da sua carreira”, acrescenta este especialista.

Javier Baron será, de resto, o comissário do outro grande acontecimento do Ano El Gre-co em Espanha: a exposição no Museu do Prado, que vai colocar par a par 25 obras do pintor de O Espólio com oito dezenas de outras de artistas de épocas seguintes e até à arte contemporânea – e que vai decorrer de 24 de Junho e 5 de Outubro.

No início da semana passa-da, no dia 18 de Fevereiro, foi inaugurada a exposição Toledo Contemporânea, que reúne mais de seis dezenas de traba-lhos de artistas dos nossos dias e de diferentes origens – David Maisel, Rinko Kawauchi, Shi-rin Neshat, Flore-äel Surun, Vik Muniz, José Manuel Ballester, Dionisio González, Matthieu Gafsou, Marcos López, Mas-simo Vitali, Abelardo Morell y Philip-Lorca diCorcia… -, e que inclui uma instalação vídeo do artista israelita Michal Rovner, projectada na Igreja de São Marcos.

Mas estas exposições serão apenas a parte mais mediática de uma vasta pro-gramação, que quer colocar esta cidade na margem do rio Tejo e a cerca de 70 quilóme-tros de Madrid nos roteiros não só turísticos mas também artísticos de Espanha.

a questão. Anne Frank é estudada e re-verenciada por milhões de japoneses”, comentou o director do Centro Simon Wiesenthal, Abraham Cooper, numa entrevista à BBC.

“Somente as pessoas imbuídas de ódio e intolerância destruiriam as históricas palavras de coragem, amor e esperança de Anne perante a sua morte iminente”, acrescentou.

Traduzido no Japão desde Dezem-bro de 1952, o “Diário de Anne Frank” tem estado entre os mais populares e apreciados no país. São até realizadas “competições em que os adolescentes japoneses tinham que reflectir sobre a experiência de Anne Frank”, como revelou Rotem Kowner, professor de história e cultura japonesa, em decla-rações à BBC.

aos czares provenientes do Irão safávida e da Turquia otomana dos séculos XVI e XVII, é mostrado na Europa, fora dos Museus do Kremlin.

Considerado único entre as colecções museológicas do mundo, este acervo inclui tecidos, armas, arreios de cavalo e jóias, objectos que durante muito tempo foram essenciais na vida quotidiana da corte russa, usados como adornos nos actos oficiais dos czares, nas campanhas mili-tares e cerimónias religiosas nas igrejas do Kremlin. A selecção de 66 peças é pro-veniente essencialmente do Irão, Turquia e Rússia.

Um complexo funerário do século III D.C. baptizado como “a pequena Pompeia” e em óptimo estado de conservação foi descoberto na localidade veneziana de Concordia Sagittaria, antiga colónia romana de Iulia Concordia. Segundo a imprensa italiana, a descoberta aconteceu durante trabalhos durante uma

investigação arqueológica e, com isso, ficou a conhecer-se todo o complexo. Entre as descobertas mais importantes destaca-se um pódio em calcário de quase dois metros de altura por seis de largura, dois sarcófagos de pedra, a base de um terceiro e outros fragmentos de uma necrópole do século I A.C..

Jimmy duplica a audiência de Jay Leno

Descoberto em Itália complexo funerário do século III

Page 12: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

12 hoje macau terça-feira 25.2.2014

hARTE

S, L

ETRA

S E

IDEI

AS

luz de inverno Boi Luxo

F ORAM vários os textos nestas páginas dedicados a filmes de Fassbinder. Este é uma decla-ração admirativa a um filme

menor, feito em 1971 para televisão. O que nele mais admiro é o brutalismo da sua insignificância, para além dos lábios finos da insuportavelmente atra-ente Irm Hermann.

Fassbinder é o autor em que a insigni-ficância e a irrelevância , intelectual ou fíl-mica, mantém mais atracção e mais actu-alidade. Mais do que com qualquer outro realizador, nos filmes deste autor não há momentos desperdiçados (Tarkovski não tem filmes ou sequer momentos insigni-ficantes) mesmo que estes sejam insigni-ficantes. Nunca há nada a mais nas suas peças, tudo é de uma economia brutal.

A urgência com que fez os seus fil-mes (uma compulsão que parecia predi-zer a sua morte prematura) promovem igualmente uma urgência de ver e uma relação feroz com o que nos é mostra-do e com o muito que nos é dito. Em 1971 fez mais outros 3 filmes, um deles para televisão (Rio das Mortes).

Em Pioniere in Ingolstadt, que tem um tom vocal que o autor utilizaria mais tarde em Berlin Alexanderplatz, repete-se o pendor vertiginosamente oral - que é teatral - do seu cinema. Não há, na sua filmografia, grandes momentos de silêncio. Não há, no seu cinema, mo-mentos de tranquilidade e Fassbinder

não se libertará nunca das intensas cli-vagens que o perseguirão toda a vida. Um filme de Fassbinder é sempre (não lembro excepções) um exercício de constante impaciência, uma tensão que não lembro em nenhum outro grande autor europeu, Bergman, Resnais, Ma-noel de Oliveira, ou mesmo Pasolini.

Esta uma arte particular a este reali-zador, a de nos obrigar a ver e a rever mesmo o que não nos interessa muito, como se a ausência no cumprimento desta obrigação impusesse uma culpa. Revê-los produz o mesmo efeito: é di-fícil de sair de um filme de Fassbinder sem um sentimento de culpa. Como escrevera num texto sobre o mesmo autor, este dispara em tantas direcções que algumas das suas censuras acabam sempre por encontrar susceptibilidades mais ou menos escondidas.

Por vezes a televisão é um meio mui-to aproximado ao teatro, menos ambi-ciosa na exibição dos espaços livres e avara nos silêncios. Fassbinder, como é sabido, manteve, ao longo de toda a sua vida, um contacto muito íntimo com o teatro, na capacidade de actor, encenador e dramaturgo. Em Pioniere in Ingolstadt, como em quase todos os seus filmes, pode falar-se em teatro filmado (o filme parte de uma peça de uma dra-maturga de inícios do século chamada Marieluise Fleiber). Fassbinder isola as cenas, na sua maioria nocturnas, ilu-

minando intensamente os actores e os seus discursos, e quase eliminando o fundo - como Oshima fizera, cerca de 10 anos antes, em Night and Fog in Japan, e esta económica depuração torna-o numa violenta sucessão de quadros.

Esta é uma concentração obsessiva. Sabemos que o realizador se desinteres-sou deste projecto durante a sua roda-gem – o abandono tenso deste filme in-significante não deixa de o demonstrar.

Pioniere in Ingolstadt é baseado num equívoco. Um grupo de pioneiros (enge-nheiros do exército) ajuda a reconstruir uma ponte na pequena povoação de In-golstadt. Em torno deste destacamento para-militar revolve um grupo de mulhe-res. O esforço que este grupo de trabalha-dores desenvolve em ajudar a população não é muito bem aceite por esta. Mais que construir uma ponte constrói-se um imenso desconforto na pequena cidade. Nem a tropa é uma verdadeira tropa.

É no confronto com os pioneiros que Fassbinder demonstra dois tipos de mulher – a mulher que não precisa do amor mas que mais o pratica (Irm Her-mann), e a mulher que não consegue viver sem ele (Hanna Schygulla). No fim, não há amor possível em Ingolsta-dt e esta noção é tão deslocada como a própria tropa fandanga o é. A última imagem, de Hanna Schygulla, dispo-nível, de pernas abertas, no parque da cidade, é a melhor ilustração desta

impossibilidade. Os militares deixam a cidade assim que termina a sua missão.

Trata-se de uma produção verda-deiramente insignificante, hoje em dia praticamente esquecida, e esta carreira promove um afecto particular em re-lação a ela. Rio das Mortes permaneceu muito mais conhecido.

Dos filmes de Fassbinder sai um fascí-nio interno, provinciano, que é uma po-derosa força criadora. O mesmo acontece com autores como Tarkovski ou Bergman, em que o menor afastamento do país de cada um resulta num desconforto pouco produtivo. Na comovente autobiografia que Bergman publicou em 1987, Laterna Magica, este conta um episódio em que se deslocou a Nova Iorque para (penso) uma estreia com Liv Ullman e regressou no mesmo dia à Suécia.

No caso de Fassbinder não só é di-fícil distanciarmo-nos da Alemanha, mesmo que este exprima um constante desejo meridional, como é impossível dissociarmos o seu cinema da sua pes-soa. Mais do que com qualquer outro re-alizador. Em cada plano sentimos, sem que haja fuga possível, a carne deste ho-mem feio e nervoso que teima em fazer--nos reagir ao mais insignificante estí-mulo. Hoje em dia, numa época em que o cinema é muito bem feito mas muitas vezes não passa disso, é cada vez mais difícil encontrar alguém com um desejo tão físico e tão violento de contar.

PIONIERE IN INGOLSTADT, 1971, FASSBINDER

Page 13: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

13 artes, letras e ideiashoje macau terça-feira 25.2.2014

Boi Luxo José Goulão

U M vídeo com pou- co mais de seis minutos, publica-do no Youtube,

vale como um tratado de alta política e de minuciosa geoes-tratégica. Pelo menos à altura e com a minúcia da política e da estratégia como se prati-cam nos tempos que correm. Deixo-vos o endereço do ví-deo: http://www.youtube.com/watch?v=sSx8yLOHSUs.

A veracidade da peça não suscita dúvidas, porque a intér-prete já a confirmou ao acusar os serviços secretos russos de a terem espiado, e logo a ela, uma subsecretária do Estado que espia meio mundo e também a outra metade.

No vídeo, a Srªa Victoria Nuland, subsecretária de Esta-do norte-americana para a Eu-ropa e a Euroásia, e o Sr. Geo-frey Pyatt, embaixador dos Es-tados Unidos na Ucrânia, tro-cam impressões sobre a estra-tégia a adoptar para controlar os acontecimentos neste país europeu, a principal frente da renovada guerra fria. Enquan-to manifestantes se esfalfam na Praça Maidan de Kiev atrás de dirigentes em que acreditam piamente, ou porque lhes pro-metem a democracia e a liber-dade plenas ou então tudo isto e ainda mais o céu da União Europeia, a Srª Nuland e o Sr. Pyatt, provavelmente tal como a Srª Merkel, o Sr. Barroso, mais o Sr. Putin, combinam o modo de conduzi-los como peças do xadrez dos seus inte-resses. Peões especiais porque o Sr. embaixador confessa que “a peça Klitschko é o electrão mais complicado” neste “jogo”.

Klitschko, o boxeur, é a re-velação política dos últimos acontecimentos, o favorito da Srª Merkel e que agora se mu-dou da sua residência alemã para as confusões de Kiev. No

O BOXEUR-ELECTRÃOE OUTRAS PEÇAS

NÃO É UMA NOVIDADE, MAS TEM

INTERESSE ESTA NOVA CONFIRMAÇÃO

DOCUMENTAL DO MODO COMO O

IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO SE

INGERE, MANIPULA, CONSPIRA E COLOCA

OS SEUS PEÕES NO TABULEIRO EM

RELAÇÃO A ESTADOS QUE SE SUPORIA

SOBERANOS E A INSTITUIÇÕES COMO A

ONU

vídeo percebemos, porém, que não é o homem dos americanos.

“Iatseniuk é o gajo”, esclare-ce a Srª Nuland, que serviu tão fielmente Cheney, o vice-presi-dente de Bush, como serve ago-ra Kerry, o secretário de Estado de Obama, declarando-se ela “uma neoconservadora”. Iatse-niuk, Arseni Iatseniuk, é o chefe parlamentar do grupo da Srª Ty-mochenko, a pedra preciosa da “revolução laranja”, ex-primeira ministra que agora cumpre sete anos de prisão por alta corrup-ção. Washington permanece fiel à “revolução laranja”, mesmo estragada.

Sendo Istseniuk “o gajo” para os americanos, poderia pensar-se que quando coubesse a estas democráticas figuras for-mar governo – o que ainda não conseguiram apesar da hipótese dada pelo presidente Viktor Ia-nukovitch, “o homem de Mos-covo” – o boxeur Klitscko daria um bom vice-primeiro ministro. Nem pensar, recomenda a Srª Nuland ao embaixador: ele tem de ficar “fora do governo”.

E porquê? “To fuck the EU”, a União Europeia, expli-ca a subsecretária – evito por-menorizar, não por pudor mas por ser desnecessário. Nem mais: “to fuck the EU”, neste caso sobretudo a Srª Merkel e a sua “complicada peça” de boxeur-electrão. Para tal, sub-secretária e embaixador com-binaram ainda como tirar pro-veito de um dos homens que Washington pôs a controlar o secretário-geral da ONU para que esta organização nomeie um ex-chefe de operações da NATO como seu representan-te em Kiev. “Seria formidável”, entusiasmou-se a Srª Nuland.

Quando os senhores do mundo nos falam em democra-cia, liberdade, direitos humanos, primado do voto já sabemos do que conversam antes entre eles.

Page 14: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

14 hoje macau terça-feira 25.2.2014h

N O livro  Adeus ao corpo, o antropólogo francês David Le Breton cita uma afirma�ção do escritor romeno

Emil Cioran segundo a qual a carne é “perecível até � indecência, até � lou�� indecência, até � lou� indecência, até � lou�� lou� lou�cura, não apenas é sede de doenças, é a própria doença, um nada incurável, ficção degenerada em calamidade [...] e tanto monopoliza e domina que meu es�pírito já não passa de vísceras”.1 Como não pensar, lendo essa frase, nos perso�nagens de Samuel Beckett, cujos corpos estão sempre em degeneração? Os per�sonagens do escritor irlandês são, como

Dirce Waltrick Do amarante IN SIBILA

SAMUEL BECKETT

O CORPO E OS CORPOS regra, cegos, coxos, paralíticos, velhos e impotentes, inclusive alguns deles já perderam até mesmo o corpo e ficaram reduzidos a uma cabeça, a uma boca, a um crânio. Dessa perspectiva, o corpo é o fardo que os personagens beckettia�nos carregam.

David Le Breton lembra que, para os gnósticos, existe um dualismo rigo�roso entre o corpo e a alma: o corpo estaria ligado a uma esfera negativa, a esfera da morte, da ignorância, do tem�po e do mal, enquanto a alma estaria relacionada � esfera positiva, de pleni�tude, de conhecimento, do bem.2  No

entanto, como prossegue Le Breton, após uma catástrofe metafísica, o Bem caiu na cilada do Mal, a alma tornou�se cativa de um corpo vítima de duração, da morte e de um universo obscuro onde esqueceu a Luz [...]. Os gnósticos levam, desse modo, a seu termo o ódio do corpo.3

Mesmo não sendo um gnóstico, Be�ckett parece compartilhar das ideias ex�postas por Le Breton, uma vez que, nos seus textos, o corpo é muitas vezes um tipo de sarcófago, que aprisiona a alma inquieta de seus personagens. É preciso ressalvar, no entanto, que o conceito de

O ESCRITOR IRLANDÊS

CENSURARIA O CORPO

PELA SUA FALTA DE

DOMÍNIO SOBRE O

MUNDO, POR SUA

VULNERABILIDADE E,

COMO JÁ SUGERI ACIMA,

POR APRISIONAR A ALMA

Page 15: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

15 artes, letras e ideiashoje macau terça-feira 25.2.2014

Notas1. LE BRETON, David. Adeus ao corpo: antropologia e

sociedade. Campinas: Papirus, 2003, p. 14.2. Idem ibidem.3. Idem ibidem.4. LE BRETON, David. Op. Cit., p. 14.5. WEBB, Eugene. As peças de Samuel Beckett. São

Paulo: É realizações, 2012, p. 66.6. Idem ibidem.7. LE BRETON, David. Op. Cit., p. 14, 15.8. Idem, p. 15.9. Idem, p. 16.10. LE BRETON, David. Op. Cit., p. 16.11. ACKERLEY, C. J. e S. E. Gontarski. The Drove

Companion to Samuel Beckett, Nova York: Grove Press, 2004, p. 126.

12. GIL, José. Matamorfoses do corpo. Lisboa: Relógio d`água, 1997, p. 147.

13. LE BRETON, David. Op. Cit., p. 20.14. GIL, José. Metamorfoses do corpo. Lisboa: Relógio

d`água, 1997, p. 163, 164.15. Idem, p. 166.

“alma” em Beckett tem dimensão pró-pria, pois, ao manifestar-se por meio da polifonia, ela é uma rede de vozes inter-nas e externas que falam incessantemen-te, atravessando o sujeito.

Outra afirmação de Le Breton po-deria também ser usada para analisar o “modelo” de corpo beckettiano, que é o que me interessa destacar aqui: “a alma caiu no corpo [...] onde se perde. A car-ne do homem é a parte maldita sujeita ao envelhecimento, à morte, à doença. É o cadáver em decomposição, a carne. O mal biológico”.4 Considerações que aprofundam a imagem de corpo-sarcó-fago, atravessado por vozes.

Mas, em Beckett, o corpo vai além da carne e da anatomia humana, pois ele é representado, às vezes, por jarros, leitos de hospital, latões de lixo etc.

Em Fim de jogo, duas latas de lixo dão “corpo” a Nagg e Nell, que parecem não poder sair de seu “corpo/objecto”. Mas os personagens importantes são dois outros, ambos habitando a mesma casa: Hamm, um velho cego e paralíti-co, e Clov, seu criado. A casa represen-taria igualmente seus corpos (com duas janelas como se fossem dois olhos). Nessa peça, como em outras, cenário e corpo se confundem, enfatizando ainda mais a impossibilidade de o per-sonagem se libertar de sua estrutura corpórea. Aqui, o cenário é um prolon-gamento do corpo de Hamm e Clov, que não seriam realmente pessoas, mas apenas a imagem do mundo interior de alguém que nunca se sabe quem é.5

Eugene Webb lembra que, nessa peça, a casa é tanto um ‘abrigo’ quanto um lugar de isolamento, em que as an-tigas maneiras de pensar, preservadas pelo medo ou pela teimosia, tanto pro-tegem os habitantes quanto os apartam da realidade do lado de fora. ‘Bem no alto’, na parede de trás, há ‘duas janeli-nhas, de cortina abaixada’, que sugerem que a sala pode representar o interior da caveira de um homem que fechou os olhos para o mundo exterior.6

No mundo beckettiano,o corpo é visto, pode-se concluir, como uma “doença incurável” e se torna, por isso, “anacrónico”, devendo ser substituído por uma máquina. O escritor talvez concordasse com Le Breton, quando ele, avaliando o corpo “inútil”, afirma que o homem contemporâneo condena o corpo anacrónico, tão pouco à altura dos avanços tecnológicos das últimas décadas. O corpo é o pecado original, a mácula de uma humanidade da qual alguns se lamentam. [...] O corpo é um membro supranumerário, seria neces-sário suprimi-lo.7

Mas, afirma Le Breton, “subtraído do homem que o encarna à maneira de um objecto, esvaziado de seu caráter simbólico, o corpo também é esvazia-do de qualquer valor”.8 Esse parece ser o discurso que também se ouve em Be-ckett, segundo a minha leitura: o corpo

humano encarnaria “a parte ruim, o ras-cunho a ser corrigido”, embora isso seja um projecto impossível.9

O escritor irlandês censuraria o corpo pela sua falta de domínio sobre o mundo, por sua vulnerabilidade e, como já sugeri acima, por aprisionar a alma. Talvez Beckett faça parte da-queles escritores que vêem hoje “com júbilo” chegar o “tempo do fim do cor-po”, conforme concluiu Le Breton num outro contexto.10

Em  The Drove Companion to Samuel Beckett, lemos que o pessimismo de Beckett origina-se da convicção permanente de que seria melhor não ter nascido e do pavor da morte lenta.Só a morte con-seguiria separar a mente do corpo, permitindo talvez o fim da consciência.11  Diria que a luta contra o corpo vulnerável poderia revelar o medo da morte intermi-nável, a qual depende da falência dos órgãos vitais do corpo. Parece-me que é contra o tormento do tem-po que leva à morte que os personagens de Beckett lu-tam, sendo ao mesmo tempo incapazes de morrer, a despeito da decadência física, por isso são obrigados a falar, conforme já apon-tou Maurice Blanchot.

É preciso ainda sublinhar que o corpo traz à tona, na obra do autor de Esperando Godot, a sua complexa e in-sólita relação com o mundo e com o outro. Como afirma José Gil, “de ou-trem, da sua subjectividade, não tenho senão uma experiência indireta. A per-cepção directa dos seus sentimentos, emoções, pensamentos, é-me vedada, apenas através da mediação do corpo me é dado inferir que estou em pre-sença do outro ‘eu’, um ‘alter ego’. Essa mediação compõe-se essencialmente de ‘indicações’ corporais”.12

Pelo fato de não terem corpo “ínte-gro”, os personagens de determinadas peças Beckett talvez não consigam atin-gir o outro e, por isso, estão condenados à solidão. Em Beckett, os personagens tendem a imergir em “monólogos para-lelos” ou “falsos diálogos”, o que resulta numa situação que explora a incomuni-cabilidade humana, que é, aliás, uma das questões do teatro de vanguarda francês de meados do século XX.

Em Play, as cabeças sem corpo con-vencional (aqui o corpo é representan-do por um jarro) e quase sem expressão

A “ROSTOIDADE” SERIA UMA MÁQUINA DE

SIGNIFICÂNCIA PORQUE AS SIGNIFICAÇÕES VERBAIS –

QUE A FALA CONSTRÓI NA LÍNGUA – PRECISAM DE UM

ROSTO QUE AS PROFIRA

facial não falam entre si, não percebem o outro ao seu lado e mergulham num monólogo desenfreado, sempre olhan-do para frente. Em Not I, a protagonista, reduzida a uma boca sem rosto, fala a esmo, ou parece contar e evocar a sua vida, mediante uma avalanche de pa-lavras, de frases desprovidas de sintaxe e salpicadas de perguntas sem respos-tas: mundo … posta no mundo … este mundo

O rosto inexpressivo ou até mes-mo inexistente, na obra de Beckett, merece ser analisado, já que é no tra-ço do rosto, como afirma José Gil, que se reconhece “a intenção de signifi-car; mais: esse traço significa, é senti-senti-do para nós que o vemos.” O rosto, prossegue o estudioso português, traz, primeiro, a recognição. Recognição imediata de um suporte de sentido, a partir do qual gestos e movimentos tomam significados. Ao contrário dos gestos do autómato que têm de ser in-ómato que têm de ser in-mato que têm de ser in-ventariados e referidos a um modelo vivo para serem entendidos, na com-preensão imediata dos traços do ros-to ou do movimento do corpo, dá-se ao contrário: é porque se reconheceu primeiro um rosto que se interpretam imediatamente os traços que nele sur-gem e se inscrevem. Tal olhar ou curva do nariz toma sentido porque pertence a um rosto.14

A “rostoidade” seria uma má-quina de significância porque as

significações verbais – que a fala constrói na língua – precisam de um rosto que as profira. Segundo José Gil, “o rosto reenvia, ao sujeito que se lhe dirige, a certeza de a linguagem se não perder em excesso de sentido: o alocutório faz convergir os significantes verbais para um só ponto a que eles se referem (ele é polícia, mu-

lher, etc.)”.15

Em Beckett, a fala do per-sonagem sem rosto se torna in-

determinada, polissémica e “equi-émica e “equi-mica e “equi-vocada”. O rosto é uma superfície

de entrada do exterior para o interior, segundo a citação acima. Sem ele, a voz parece pairar autónoma no ar e não necessariamente se dirigir a alguém ou vir de alguém. Esse é um dos maiores mistérios da obra de Beckett, e, portan-to, uma de suas maiores contribuições à literatura do pós-guerra, conforme reconhece a crítica especializada.

… pequeno pedaço de nada … antes da hora … longe de … quê? … feminino? … sim … pequeno pedaço de mulher … no mundo antes da hora… longe de tudo…  [...]no mundo…dito…não importa … pai mãe fantasmas … não vestígio … ele fugiu … nem visto… nem conhecido.

Convém ressaltar, no entanto, que, na obra de Beckett, mesmo quando o per-sonagem tem um corpo convencional de carne e osso, este é “subempregado, incó-ó-modo, inútil, o corpo torna-se uma preo-cupação: passivo, faz com que ouçam seu mal-estar”,13  nas palavras de Le Breton, que ilustram aqui aspectos da construção dos personagens beckettianos.

Muitos personagens beckettianos, tanto nas peças como nos romances e contos, ficam imóveis, como se hou-vesse um esquecimento do corpo nas suas vidas quotidianas. Por isso talvez, na obra do escritor irlandês, o corpo seja percebido como um material aci-dental (ou um terrível sarcófago), dis-sociado da pessoa ou da voz que fala ininterruptamente através dela.

Page 16: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

PUB

16 DESPORTO hoje macau terça-feira 25.2.2014

L EANDRO Machado, lem-bra-se dele? Pois bem, o brasileiro ex-Sporting era o estrangeiro mais jovem a

marcar pelo Valencia, com 20 anos e 339 dias. Realçamos o “era”, porque Leandro perde o estatuto de “é” há 24 horas, mais coisa menos coisa. O “é” pertence ao português Rúben Vezo. Aos 19 anos e 304 dias, é ele o herói do Mestalla no 2-1 ao Granada para a Liga espanhola.

Transferido do Vitória de Setú-bal para o Valencia na reabertura do mercado, em Janeiro deste ano, Rúben Vezo dá os primeiros passos na equipa do argentino Pizzi a 8 de Fevereiro como suplente utilizado na goleada ao Betis (5-0). São nove minutos apenas para sentir o ar. Mas como é que um miúdo sai assim do Vitória para o Valencia? Ele desvenda o segredo no blogue Crónica Futebolística. “Muitos jo-gadores reclamam oportunidades e muitos treinadores se calhar têm medo de as dar, ainda para mais na minha posição de defesa central que é uma posição digamos que

Ténis Rui Machado segue em frente no torneio de CantãoO tenista português Rui Machado apurou-se ontem para a segunda ronda do torneio “challenger” de Cantão, na China, ao afastar o chinês Bowen Ouyang. O jogador português, número 250 do “ranking” mundial, eliminou um outros tenista situado no posto 991 do mundo, em dois parciais, por 7-2 e 6-5. “Foi uma boa vitória hoje [ontem]. O meu adversário jogou muito acima do nível de jogo que o seu `ranking poderia indicar, provavelmente mais motivado por estar a jogar em casa. Da minha parte, fiz um muito bom primeiro ‘set’ e, devido a uma pequena falha de concentração logo no inicio do segundo, tive que jogar com o resultado em contra durante muito tempo, o que me dificultou mais a tarefa”, disse Rui Machado, citado pela sua assessoria de imprensa.

FUTEBOL PORTUGUÊS É O JOGADOR ESTRANGEIRO MAIS JOVEM DE SEMPRE A MARCAR UM GOLO

Rúben Vezo, o herói do Mestalla

arriscada porque é muito mais fácil apostar num jovem avançado do que num jovem defesa, porque se o avançado falhar tem uma equipa inteira atrás dele, agora se um defesa falhar tem somente o guarda-redes atrás, mas felizmente não passei por essa situação por-que trabalhei muito para merecer a confiança de José Mota.”

Mas como, insistimos? “Por exemplo, 20 dias antes do dia de me apresentar no Vitória para o arranque

da pré-época, comecei a treinar com um preparador físico e amigo que se chama Ventura; ele trabalhou-me fisicamente com treinos muito duros para chegar melhor fisicamente que os outros e foi isso que aconteceu. Abdiquei das minhas férias, coisa do qual não estou arrependido, e acho que essa foi a chave para o meu ‘sucesso’ neste começo de carreira profissional.”

É isso mesmo, Mota aposta em Vezo como titular do Vitória logo

a partir da 1.ª jornada, com o FC Porto. Às boas exibições seguem--se dois golos (um na baliza certa, ao Portimonense: 1-0 para a Taça da Liga; outro na errada, para o campeonato: 2-0 para o Braga) e duas expulsões (em Guimarães e Arouca). A sua ascenção é me-teórica e o interesse do Valencia comprova-o.

Rúben aquece os motores na tal manita ao Betis e, duas semanas depois, Pizzi estreia-o a titular no centro da defesa ao lado de Mathieu, aproveitando a ausência do compa-triota (e capitão) Ricardo Costa – o outro português é João Pereira e está sentado no banco. Aos 90’+2, o guarda-redes Roberto falha a intercepção a um livre da direita de Parejo e o central dá um toque com o pé direito para a baliza deserta. O Mestalla explode de alegria, o Valencia sobe ao sétimo lugar, numa Liga agora dominada por Real Ma-drid (3-0 ao Elche), com três pontos de avanço sobre os infelizes Barça (3-1 em San Sebastian) e Atlético (3-0 em Pamplona).

Page 17: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

hoje macau terça-feira 25.2.2014 FUTILIDADES 17

TEMPO MUITO NUBLADO MIN 15 MAX 20 HUM 70-98% • EURO 10.9 BAHT 0 .2 YUAN 1.3

Pu YiPOR MIM FALO

Pensamentogerido pelo caos

KELLY BROOK DESPIU-SE E TODOS GANHARAM

Kelly Brook nasceu e cresceu em Rochester, Kent, Inglaterra. Manequim, apresentadora de televisão, esta modelo de 33 anos entra na galeria das mais belas do Reino Unido. No currículo conta com uma eleição, promovida pelo diário Dailly Mail, para formar a mulher mais sedutora do Mundo. Pois bem, aqui fica a fórmula: o corpo de Kelly Brook, os olhos de Halle Berry, o nariz de Jennifer Lopez e as pernas de Angelina Jolie. Tudo junto, a mulher perfeita.

Colombiana carregava(sem saber) dentro de sium bebé há 40 anos• Se for mulher e estiver com uma dor forte na zona abdominal, cuidado. Não vá ter um pesadelo! Foi o que aconteceu com uma colombiana de 82 anos. A sua dor era causada por um feto de 40 anos de idade alojado no interior do seu corpo. Numa fase inicial foi-lhe diagnosticado um problema estomacal. Os médicos pensavam que ela tinha apanhado um vírus. Mais tarde, suspeitou-se de cálculos biliares. Depois de ecografias e radiografias, os médicos perceberam o que de facto se passava: ela realmente sofria de “litopédio”, ou bebé de pedra, que é quando um feto se desenvolve fora do útero da mãe e acaba calcificado no seu corpo.

Despertar com prazer?Sim é possível…• Dificilmente uma pessoa associa despertador a prazer, não é verdade? É o aparelho responsável por interromper um sono agradável e avisar: “vamos, hora de acordar!”Mas este momento de acordar pode ser uma experiência cheia de prazer. Chama-se Wake-Up Vibe. Explicando: o aparelho é um misto de despertador e vibrador, para ser posto dentro das cuequinhas na hora de ir para a cama. Quando o equipamento toca, a função vibratória também é activada. E são seis níveis de vibração.

João Corvofonte da inveja

O dia de jornalista pode ser muito cheio. Podemos fazer uma entrevista, duas ou três agendas e atender mais de cinco chamadas. O pensamento do jornalista é comparável a um dia de plenário na Assembleia Legislativa (AL), quando durante cinco horas de reunião se discutem oito interpelações orais, que abordam oito assuntos totalmente diferentes. Se tivesse tantos assuntos para debater ao mesmo tempo, acho que precisaria de uma cabeça mais forte. Mas quando assisto às reuniões da AL pela televisão, não vejo que os deputados tenham esta capacidade. Alguns precisam mesmo de se apoiar unilateralmente num papel, que foi escrito pelo seu secretário, para trazer ao debate as “suas” argumentações. Qual bengala...Eles não falam a sério nas reuniões. Brincam. Gozam com assuntos sérios, abordados pelos colegas, e terminam a conversa com um poema ou piada, especialidade do deputado nomeado Fong Chi Keong. Que qualidade de discussão é esta na AL? Pensamos que podemos ter deputados responsáveis, que se debruçam sobre as necessidades do povo, mas não temos. Nada. Ninguém. Não estou a referir-me aos deputados democratas, mas às vezes penso que eles também estão a lutar para nada. Nunca podem ter apoio suficiente dos seus colegas. Falo dos casos recentes da lei dos animais ou do debate sobre o plano da zona norte da Taipa. Isso não é uma questão de capacidade, nem maneira, mas um fenómeno. Quando temos o caos no pensamento, não conseguimos procurar uma solução eficaz para resolver os problemas à nossa frente.

Afinal o capitalismo era a doença infantil do imperialismo.

C I N E M ACineteatro

SALA 1ROBOCOP [C]Um filme de: José PadilhaCom: Joel Kinnaman, Gary Oldman, Michael Keaton, Abbie Cornish14.30, 16.30, 19.30, 21.30

WINTER’S TALE [B]Um filme de: Akiva GoldsmanCom: Colin Farrell, Jessica Brown Findlay, Jennifer Connelly14.30, 21.30

SALA 2 THE LEGO MOVIE [A](FALADO EM CANTONÊS)

Um filme de: Phil Lord, Chris Miller16.45, 19.30

SALA 3FROM VEGAS TO MACAU [C](FALADO EM CANTONÊSLEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Wong JingCom: Chow Yun-Fat, Nicholas Tse14.30, 21.30

ENDLESS LOVE [B]Um filme de: Shana FesteCom: Alex Pettyfer, Gabriella Wilde, Robert Patrick16.30, 19.30

ROBOCOP

Page 18: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

18 publicidade hoje macau terça-feira 25.2.2014

Page 19: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Gonçalo Lobo Pinheiro Redacção Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; Joana de Freitas; José C. Mendes; Rita Marques Ramos Colaboradores Amélia Vieira; Ana Cristina Alves; António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Gonçalo Lobo Pinheiro; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

hoje macau terça-feira 25.2.2014

RogéRio M. FeRnandes FeRReiRaMónica Respício gonçalves

P ORTUGAL introduziu algumas reformas que permitem colocar o país no mapa fiscal interna-cional.

Para além da recente reforma do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRC), sobre as empresas, e que prevê a redução gradual das taxas aplicáveis e um regime de “par-

ticipation exemption” muito semelhante ao que existe na Holanda, entre outras novida-des, existem já outros regimes aplicáveis às pessoas físicas e que têm vindo a resultar num fluxo emergente de estrangeiros, que decidem residir e/ou investir em Portugal.

Um destes regimes é o que permite a concessão de “vistos dourados” (golden visa) aos cidadãos de países terceiros – isto é, que não sejam membros da União Europeia ou membros da Convenção que implementou o Acordo de Schengen, como o Brasil -, dispostos a investir em Portugal.

Este regime, designado como “ARI - Au-torização de Residência para Actividade de Investimento”, permite que os cidadãos de países terceiros obtenham uma autorização de residência, em Portugal, com o objectivo de permitir que desenvolvam uma actividade de investimento em território português. O regime aplica-se, também, a cidadãos de países terceiros que detêm participações no capital social de uma empresa com sede em Portugal ou noutro Estado-Membro da União Europeia com estabelecimento estável em território Português.

Para efeitos da atribuição dos “vistos dourados”, exige-se que uma actividade de investimento seja desenvolvida, direc-tamente por um indivíduo ou através de uma sociedade, num período mínimo de cinco anos. A actividade de investimento a desenvolver poderá corresponder a uma das seguintes opções:

• transferência de capital num montante igual ou superior a €1.000.000,00, incluindo investimentos no capital social de sociedades;

• criação de, pelo menos, 10 postos de trabalho, sendo necessário demons-trar a inscrição de todos os trabalhado-res na Segurança Social; ou

• compra de imóveis com um valor

Este é, pois, o momento para os investidores estrangeiros aproveitarem as oportunidades que Portugal oferece, constituindo, para os Brasileiros, a porta de entrada mais natural para a Europa e a plataforma de investimento mais acertada, quer para quem pretende investir na União Europeia e aproveitar dos regimes comunitários de que Portugal beneficia, quer para quem quer investir nos PALOP, beneficiando da alargada rede de Convenções para eliminação da dupla tributação celebrada por Portugal e de regras internas favoráveis ao investimento naqueles países

Portugal: plataforma paraa Europa, a China e os PALOP

mínimo de €500.000,00, o que inclui as seguintes situações:

(i) a compra em regime de comproprie-dade, desde que cada comproprietá-rio tenha investido um valor mínimo de €500.000,00, ou a assinatura de contrato-promessa de compra e ven-da, com pagamento de sinal igual, ou superior, a €500.000,00, sendo ne-cessária a apresentação do respectivo título de aquisição, antes do pedido de renovação da autorização de residência em causa;

(ii) a oneração sobre imóveis num valor superior a €500.000,00;

(iii) o arrendamento de imóveis para fins comerciais, agrícolas ou turísticos.

A atribuição e a renovação desta autoriza-ção de residência obedecem ao cumprimento de outras condições, que se prendem, por exemplo, com um período de investimento mínimo de cinco anos e com um período, mínimo, de permanência no território por-tuguês, de sete dias consecutivos ou inter-polados no primeiro ano ou de catorze dias consecutivos ou interpolados no período subsequente de dois anos.

Complementarmente, Portugal introdu-ziu, em 2009, o regime fiscal dos chamados “residentes não habituais”, criado com a intenção de atrair para o nosso país pro-fissionais de actividades de elevado valor acrescentado e indivíduos com elevado pa-trimónio, pretendendo rivalizar com alguns regimes já vigentes noutros países.

Podem beneficiar deste regime os sujeitos passivos que se tornem residentes fiscais

em Portugal, no ano relativamente ao qual pretendem que tenha início a tributação como “residentes não habituais” e desde que não tenham sido considerados residentes em ter-ritório português em qualquer dos cinco anos anteriores. A inscrição como “residentes não habituais” deverá ser feita até 31 de Março do ano seguinte ao qual os sujeitos passivos se tornaram residentes fiscais em Portugal.

No que respeita aos rendimentos empre-sariais e profissionais, auferidos em activi-dades de prestação de serviços de “elevado valor acrescentado”, com carácter científico, artístico ou técnico, obtidos no estrangeiro pelos “residentes não habituais”, os mes-mos beneficiam da aplicação do método da isenção, na eliminação da dupla tributação sobre o referido rendimento, mediante o cumprimento de determinadas condições.

Estas actividades, de elevado valor acres-centado, estão especificadas numa tabela que inclui profissões de variados ramos de actividade: arquitectos e engenheiros, artis-tas plásticos, actores e músicos, auditores e

consultores fiscais, médicos e dentistas, pro-fessores universitários, profissões liberais, investidores, administradores e gestores.

Mas a aplicação do método da isenção alarga-se a outro tipo de rendimentos, como sejam, por exemplo, no caso de rendimentos obtidos no Brasil, os dividendos e os juros, que estarão, assim, sujeitos, no Brasil, a tributação à taxa reduzida de 15% (e que, no caso dos juros, poderá ser de 10% em determinadas condições) e isentos de im-posto em Portugal.

Estão também isentas, em Portugal, as pensões de reforma obtidas pelos residen-tes não habituais no estrangeiro, embora essa isenção perca importância no caso das pensões de reforma pagas nos termos da legislação Brasileira, já que a Convenção para eliminação da dupla tributação celebra-da entre Portugal e o Brasil determina que, nestes casos, apenas o Brasil poderá tributar.

Atento o recente interesse dos investi-dores estrangeiros no mercado imobiliário português, importa sublinhar que Portugal mantém diversos estímulos às operações de requalificação urbana, através da con-sagração de um conjunto de benefícios fiscais que prevêem diversas isenções de Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) e de Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT) e aplicação de taxas reduzidas de tributação sobre as mais--valias decorrentes da venda de imóveis requalificados.

Por outro lado, Portugal poderá também servir como plataforma de investimento nos países asiáticos já que, para além novo regime em sede de IRC, no que respeita à China, a taxa de retenção na fonte reduzida sobre os dividendos e sobre os juros nos termos da Convenção para eliminação da dupla tributação celebrada entre Portugal e a China é de 10%, enquanto, nos termos da mesma Convenção celebrada entre o Brasil e a China, a referida taxa é de 15%.

Este é, pois, o momento para os investi-dores estrangeiros aproveitarem as oportu-nidades que Portugal oferece, constituindo, para os brasileiros, a porta de entrada mais natural para a Europa e a plataforma de investimento mais acertada, quer para quem pretende investir na União Europeia e aproveitar dos regimes comunitários de que Portugal beneficia, quer para quem quer investir nos PALOP, beneficiando da alarga-da rede de Convenções para eliminação da dupla tributação celebrada por Portugal e de regras internas favoráveis ao investimento naqueles países.

19OPINIÃO

Page 20: Hoje Macau 25 FEV 2014 #3037

hoje macau terça-feira 25.2.2014

Ucrânia Emitido mandado de captura para YanukovichA Ucrânia emitiu um mandado de captura em nome do deposto presidente Viktor Yanukovich, cujo paradeiro é incerto desde sexta-feira. De acordo com o ministro do interior interino, Arsen Avakov, foi aberto já um processo criminal contra Yanukovich “pelo assassínio em massa de cidadãos pacíficos”. De acordo com a agência AP, Yanukovich foi visto pela última vez na península da Crimeia, no sul do país, no domingo. Depois dos confrontos mais sangrentos sexta-feira, sábado amanheceu com um paradeiro incerto, sabendo-se que Yanukovich já não estava em Kiev. Estaria em Kharkiv, no leste, junto à fronteira com a Rússia, onde terá sido impedido de sair do país.

Uganda Presidente assinou nova lei anti--homossexualO presidente Yoweri Museveni já assinou a lei que agrava as penalizações para homossexuais e criminaliza os que não os denunciarem. Um porta-voz do presidente disse que assinatura avançou apesar de «pressões ocidentais», mostrando assim a independência do Uganda. O presidente do Estados Unidos, Barack Obama, comentou na semana passada a lei, referindo que se tratava de «um retrocesso». A homossexualidade já é proibida no Uganda, mas a nova lei pune com 14 anos de prisão quem for acusado pela primeira vez; haverá pena perpétua para «homossexualidade agravada». Passa, então, a ser crime não denunciar homossexuais, tornando assim impossível que se assuma abertamente a condição. Chegou a estar prevista a pena de morte, mas o artigo foi retirado depois de pressão internacional. A homossexualidade é considerada uma doença e um «comportamento que se pode desaprender».

Cabo-verdiano condenado a prisão perpétua nos EUAUm cidadão cabo-verdiano residente nos Estados Unidos foi condenado a prisão perpétua por ter assassinado um homem a tiro em 2010. O Tribunal Superior de Brockton, nos Estados Unidos, considerou que Michael Barros, 28 anos cometeu homicídio de primeiro grau contra Moisés Vicente, condenado-o a prisão perpétua, sem possibilidade de sair em liberdade condicional.

Passo Coelho “O que fizemos não chega”Um longo caminho pela frente tem ainda Portugal que percorrer, explicou este domingo o presidente do PSD, Passos Coelho, no encerramento do congresso do partido, que decorreu em Lisboa. «Tudo o que fizemos não chega. Precisamos de fazer muito mais. Não é fácil, não é menos exigente», salientou o também primeiro-ministro, citado pelo Jornal de Negócios. Para o governante, o fim do programa de assistência da troika, previsto para 17 de Maio, não significa o fim dos problemas que o País atravessa, e alertou os portugueses para as dificuldades que se aproximam. Ressalvando que não se devem cometer erros do passado, Passos lembrou que o caminho a percorrer não será, como até aqui, um «caminho sobre um precipício».

Brasil Mãe detidapor corte de cabelodo filho recriar folhade cannabisUma mulher foi detida depois de mandar um cabeleireiro «desenhar» uma folha de cannabis na cabeça do seu filho, em Santa Rita do Suaçuí, no estado brasileiro de Minas Gerais. Segundo dados da emissora Record, a polícia viu a criança interpelou a mulher, detendo-a. De um lado da cabeça era visível uma folha da planta de droga e do outro estava um símbolo relacionado com o consumo daquele tipo de estupefaciente. Tanto a mãe do bebé de um ano e oito meses como o cabeleireiro foram detidos e respondem por apologia às drogas e corrupção de menores, podendo, a ser considerados culpados, cumprir pena de prisão até quatro anos.

Preservativo mais fino do mundo é chinêsO Livro dos Recordes do Guinness atribuiu a um preservativo criado na China o título de mais fino do mundo. Com uma espessura de 0,036 milímetros, o preservativo da empresa Guangzhou Daming United Rubber Products Limited, passou todos os testes de resistência e de segurança.

Mali Encontrados cinco cadáveresForam descobertos perto de Bamako cinco corpos de militares que as autoridades do Mali pensam ser de soldados leais ao presidente maliano Amadou Toumani Toure, deposto em 2012. «Informamos a descoberta, no domingo, por uma equipa liderada pelo juiz Yaya Karembé, de duas valas comuns contendo corpos de cinco soldados», citou a agência France Press.

cartoon por Stephff

CECÍLIA L [email protected]

O S moradores de Sin Fong Garden vão entregar cartas ao Gabinete de Ligação

do Governo Central na RAEM e ao Chefe do Executivo. Mas, a par disso, vão também fazer uma queixa formal ao Comissariado contra a Corrupção (CCAC). A notícia foi ontem avançada pela imprensa chinesa. Os proprietá-rios dizem que há mais questões polémicas que se levantam sobre o edifício e que o Governo ainda não conseguiu resolver.

Wong Man Sang, presidente temporário da assembleia de mo-radores do Sing Fong Garden, ex-plica que a acção junto do CCAC deve-se ao facto de o desenho inicial do projecto do edifício não corresponder à realidade. E, por isso, os proprietários questionam--se se não estão perante um caso de construção ilegal.

O representante explicou, após uma reunião de moradores no domingo, que não é razoável, passado um ano e quatro meses,

SIN FONG GARDEN MORADORES VÃO FAZER QUEIXA AO CCAC

Desconto de tempo dado ao Governo terminou

o Governo da RAEM recusar-se a fazer uma investigação crimi-nal. “Esperamos que o Governo Central nos possa ajudar”, diz, justificando a carta a entregar ao Gabinete de Ligação do Governo chinês na RAEM.

Além disso, a carta ao Chefe do Executivo pretende apelar a que o proprietário de uma loja no rés-do-chão venha a receber subsídios, que o Governo atri-buiu aos restantes proprietários até se descobrir o responsável pelos danos no prédio.

A Associação de Beneficên-cia Tung Sin Tong, que deverá

ser a próxima representante dos moradores, vai procurar a compensação devida por parte da entidade responsável pelos problemas na estrutura do prédio. “Acredito que a associação não irá rejeitar [o convite] porque o princípio da associação é servir os cidadãos, e já vem afirmando que quer acompanhar a vontade dos proprietários do edifício”, esclareceu Wong.

A entidade foi a escolhi-da pelos moradores por ser o maior detentor de habitações no edifício e também o antigo proprietário do terreno onde se encontra a habitação. Isto depois de, no mesmo encontro, terem decidido dissolver o grupo de dez proprietários que se encontram em comunicações com o Gover-no. “Já não precisamos de dar mais tempo ao Governo porque já esperamos quase ano e meio”, salientou uma proprietária no en-contro. “O edifício está em risco não porque fizemos construções ilegais, mas porque tem proble-mas de origem, de qualidade [dos materiais]”, indicou outra moradora.

DIVISÃO UCRANIANA