efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS FACULDADES INTEGRADAS DE FERNANDÓPOLIS EFEITOS AVERSOS DOS INIBIDORES DA CICLOOXIGENASE BRUNO SARAMBELE MARINHO RUIDMAN FERNANDO POLINÁRIO VÍTOR LUÍS PEDRÃO GOUVEIA FERNANDÓPOLIS 2012

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Page 1: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS FACULDADES INTEGRADAS DE FERNANDÓPOLIS

EFEITOS AVERSOS DOS INIBIDORES DA CICLOOXIGENASE

BRUNO SARAMBELE MARINHO

RUIDMAN FERNANDO POLINÁRIO

VÍTOR LUÍS PEDRÃO GOUVEIA

FERNANDÓPOLIS

2012

Page 2: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

EFEITOS AVERSOS DOS INIBIDORES DA CICLOOXIGENASE

BRUNO MARINHO SARAMBELE

RUIDMAN FERNANDO POLINÁRIO

VÍTOR LUÍS PEDRÃO GOUVEIA

Trabalho de conclusão de curso apresentado à

Banca Examinadora do Curso de Graduação em

Farmácia da Fundação Educacional de

Fernandópolis como exigência parcial para obtenção

do título de bacharel em farmácia.

Orientador: Prof. Dr. Marcos de Lucca Junior

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS

FERNANDÓPOLIS – SP

2012

Page 3: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

EFEITOS AVERSOS DOS INIBIDORES DA CICLOOXIGENASE

BRUNO MARINHO SARAMBELE

RUIDMAN FERNANDO POLINÁRIO

VÍTOR LUÍS PEDRÃO GOUVEIA

Trabalho de conclusão de curso aprovado como

requisito parcial para obtenção do título de bacharel

em farmácia.

Aprovado em: 10 de dezembro de 2012.

Banca examinadora Assinatura Conceito

Profª Dr. Marcos de Lucca Junior

(Orientador)

Prof° Esp. Vanessa Maira Rizzato

Silveira

Profº MSc Giovanni Carlos de

Oliveira

Prof. Dr. Marcos de Lucca Junior

Presidente da Banca Examinadora

Page 4: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

Dedicamos este trabalho primeiramente a Deus,

pois sem ele, nada seria possível, e nossos

sonhos não seriam concretizados.

Aos nossos pais, que sempre nos deram apoio e

estiveram presentes acreditando em nosso

potencial, nos incentivando na busca de novas

realizações e descobertas, aos nossos

professores do curso de farmácia que nos

passaram todo seu conhecimento e ao nosso

professor orientador Marcos de Lucca Jr.

Page 5: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

RESUMO

A busca para descobrir um anti-inflamatório perfeito que tenha ação sobre a enzima COX-2, e que não haja efeitos adversos é incansável e parece estar ainda longe de seu fim. Foi realizada uma revisão bibliográfica que objetivou relatar os fatores que levam a problemas cardiocirculatórios, gastrointestinais, neurológicos, renais e hepáticos, relacionado ao uso de anti-inflamatórios inibidores da enzima cicloxigenase. Foi visto que os anti-inflamatórios seletivos da COX-2 têm suas vantagens comparando-o com os preferenciais e não preferenciais da COX-2, porém vem causando algumas reações adversas graves como insuficiência renal crônica e problemas cardiovasculares, por esses motivos alguns medicamentos desta classe de anti-inflamatórios vem sendo retirado das prateleiras das farmácias e drogarias, por uma determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Ao final do estudo concluiu-se que a incidência e a gravidade dos efeitos colaterais dos anti-inflamatórios dependem da droga utilizada, da dose, da posologia, e, principalmente, da duração do tratamento.

Palavras-chave: Processo inflamatório; Anti-inflamatórios; Inibidores da COX-2; Efeitos adversos.

Page 6: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

ABSTRACT

The quest to find an anti-inflammatory that has perfect action on the COX-2 enzyme, and that there are no adverse effects is relentless and seems to be still far from over. We performed a literature review that aimed to report the factors that lead to problems cardiopulmonary, gastrointestinal, neurological, liver and kidney, related to the use of anti-inflammatory enzyme cyclooxygenase inhibitors. It was seen that the anti-inflammatory selective COX-2 have their advantages comparing it with preferential and non-preferential COX-2, but has caused some severe adverse reactions such as chronic renal failure and cardiovascular problems, for these reasons that some drugs class of anti-inflammatory has been pulled from the shelves of pharmacies and a determination by the National Health Surveillance Agency (ANVISA). At the end of the study concluded that the incidence and severity of side effects of anti-inflammatory depend on the drug used, the dose, the dosage, and mainly on the duration of treatment.

Keywords: Inflammatory process; Anti-inflammatory drugs, COX-2 inhibitors; adverse effects.

Page 7: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

LISTA DE ABREVIATURAS

AAS – ácido acetilsalicílico

a.C. – antes de cristo

AINEs – anti-inflamatórios não esteroides

APPROVe – Adenomatous Polyp Prevention on Vioxx

COX – cicloxigenase

d.C. – depois de cristo

INF – intérferons

NMDA – N-metil D-Aspartato

PG – prostaglandina

TX – tramboxano

VIGOR – Vioxx Gastrintestinal Outcomes Research

Page 8: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................08

1 PROCESSO INFLAMATÓRIO...............................................................................11

1.1 Inflamação.................................................................................................11

1.2 Mecanismo da inflamação.........................................................................12

1.3 Mediadores...............................................................................................14

1.4 Ácido araquidônico e as vias ciclooxigenases (COX-1 e COX-2)............17

2 ANTI-INFLAMATÓRIOS.........................................................................................20

2.1 Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)................................................20

2.2 Mecanismo de ação dos AINEs................................................................21

2.3 Inibidores seletivos da COX-2..................................................................22

3 EFEITOS ADVERSOS DOS INIBIDORES DA COX-2..........................................25

3.1 Efeitos adversos no sistema gastrointestinais..........................................25

3.2 Efeitos adversos no sistema renal............................................................26

3.3 Efeitos adversos no sistema cardiovascular.............................................27

3.4 Efeitos adversos no sistema hepático e pancreático................................28

3.5 Efeitos adversos no sistema nervoso.......................................................29

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................31

REFERÊNCIAS..........................................................................................................32

Page 9: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

8

INTRODUÇÃO

Processos inflamatórios acontecem como uma resposta imunológica a

ação ou invasão de um interferente. Essas respostas acontecem no organismo

através de um complexo desencadeamento biológico, físico-químico, e celular.

Nessas situações o organismo apresenta o que é conhecido como “os sintomas

clássicos da inflamação”, sendo eles descrito por Celsius em séculos passados,

classificados por: dor, rubor, calor, e eritema, mais tarde acrescentou-se por

intermédio de outras pessoas o sintoma que também foi considerado um dos tais,

que é a perda da função (KUMMER; COELHO, 2002).

A partir de uma lesão a nível tecidual, seja por fatores: químicos

(substâncias corrosivas), físicos (queimaduras, lesões, ou traumas), biológicos

(reações imunológicas, micoorganismos). O organismo tende a desenvolver

mecanismos para combater aos agentes lesivos, e também reparar os danos

causados por essa invasão (CARVALHO; LEMÔNICA, 1998).

Essas ações combatentes e também reparadoras envolvem uma série de

mediadores que modulam, e controlam essas intervenções. As ativações desses

mediadores ocorrem através da indução dos sistemas séricos, de células que

habitam o endotélio, e leucócitos. Em decorrência dessas ativações, acontece a

síntese ou liberação de moduladores endógenos ( citocinas, reativos do oxigênio e

do nitrogênio, e mediadores lipídicos) (BENJAMIN, 2001).

Em processos inflamatórios tissulares ocorre a liberação de mediadores

como por exemplo a Prostaglandina, tromboxanos ou mediadores químicos, como a

serotonia. Resulta na sensibilização periférica da dor (nociceptores). Esses

nociceptores sensibilizados enviam por vias nervosas, estímulos que chegam ao

sistema nervoso central, e por sinapses instalam a chamada “sensibilização central

da dor”. Foi proposto que a ação terapêutica e também a adversa de anti-

inflamatórios não-esteroidais, fosse resultado da inibição das enzimas

ciclooxigenase. Assim esses compostos diminuiriam a produção de prostaglandina,

reduzindo a intensidade dos processos inflamatórios (KUMMER; COELHO, 2002).

Page 10: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

9

As prostaglandinas (PG2) fazem parte do grupo chamado eicosanoides,

substâncias produzidas a partir da cascata do ácido araquidônico, que é sintetizado

através da ação das enzimas ciclooxigenases (COX1 e COX-2), além das

lipoxigenases, que produzem além das PG2, outras substâncias como, leucotrienos

e tromboxanos, que atuam na mediação de processos inflamatórios (BARREIRO e

FRAGA, 1999).

Apesar da descoberta da COX ter ocorrido há alguns anos atrás, o

entendimento das suas funções começou a acontecer posteriormente,

principalmente pelo conhecimento da ação dos anti-inflamatórios não-esteroidais. Os

impulsos que motivaram as pesquisas é o fato dos bons resultados terapêuticos

apresentados por esses fármacos, como também os eventos adversos que por eles

ocorrem, principalmente os gastrintestinais. Propõe-se que a COX possua duas

isoformas sendo COX-1 que age fisiologicamente, e também a COX-2 que age

através de estímulos. Cogita também a possibilidade de existir uma terceira COX,

sendo essa responsável, ao contrario das outras duas isoformas, essa produziria

substâncias anti-inflamatórias. A COX-1 produz, prostaglandina atuante na

regulação hemodinâmica glomerular, importante modulador do tônus vascular e

equilíbrio hídrico dos mamíferos, secreção de renina e reabsorção da secreção

tubular de água e sódio. Os anti-inflamatórios de forma geral inibem os dois tipos de

COX (1 e 2), sendo essa a possível razão pela ocorrência de efeitos adversos. Para

que se reduzissem tais transtornos, foram criados anti-inflamatórios com ação

preferencial na COX-2 sendo chamados de coxibs, esses medicamentos são

chamados de inibidores seletivos da COX-2, entretanto apesar de reduzidos níveis

de adversidades gastrintestinais, esses medicamentos também apresentaram

complicação a nível cardiovascular (KUMMER; COELHO, 2002).

Os efeitos adversos causados pelos anti-inflamatórios não-esteroidais de

um modo geral, podem principalmente ocorrer nos sistemas: gastrintestinais, renais,

neurológicos, cardiovasculares, hepáticos e pancreáticos. Entretanto eles podem ser

grandes auxiliadores no tratamento do câncer através, da inibição da COX-2 que se

apresentam elevadas em locais onde existem tumores, e a inibição dessas enzimas

poderiam contribuir para o tratamento (MONTEIRO et al., 2008).

Page 11: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

10

O objetivo geral desse trabalho é demonstrar os efeitos adversos dos

inibidores da ciclooxigenase. E temos como objetivo específico entender como

ocorre o processo inflamatório diante uma lesão, como agem os anti-inflamatórios

não-esteroidais, além de compreender quais, e como ocorrem os seus principais

efeitos adversos. Realizamos uma revisão bibliográfica como método do trabalho e

os materiais utilizados foram livros da biblioteca e artigos científicos do site scielo e

google acadêmico.

Page 12: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

11

1 PROCESSO INFLAMÁTORIO

1.1 Inflamação

A inflamação foi relatada desde os primórdios, por volta do ano (3000

a.C.). No primeiro século d.C. o escritor romano Celsius foi o primeiro a relatar os

sintomas clássicos dos processos inflamatórios: rubor (eritrema), calor (temperatura

elevada), tumor (edema), e dor (algia). O principio básico da inflamação é eliminar o

agente lesivo e remover os componentes do tecido lesado. O consiste em uma série

de eventos que auxiliam a recompor a estrutura do processo tecido e o retorno das

funções normais podem levar a formação de tecido fibrótico (RUBIN; FARBER,

1999).

Para Cotran, Kumar e Colins (2000), a inflamação é fundamentalmente

uma resposta protetora do organismo , que tem por finalidade livrar-se tanto da

causa inicial da lesão do tecido, quanto das consequências dessa agressão. Sem os

processos inflamatórios as infecções não seriam eliminadas, as feridas não

cicatrizariam e os órgãos iriam se transformar em feridas purulentas. Entretanto, as

inflamações podem exercer papeis perigosos dependendo da intensidade com que

ela ocorre, se a lesão for grande pode ocorrer à perda do órgão ou a função do

tecido.

As reações inflamatórias podem, por exemplo, dar origem a reações de

hipersensibilidade que se tornam uma ameaça a vida, como picadas de insetos,

toxinas e drogas, assim como algumas doenças crônicas comuns como

aterosclerose, artrite reumatoide e enfisema pulmonar. Essas doenças causam uma

resposta forte e que podem ser nocivas, deste modo justifica-se a quantidade de

medicamentos anti-inflamatórios existentes com o objetivo de minimizar os efeitos

indesejáveis da inflamação e deixar prevalecer seus efeitos benéficos (COTRAN;

KUMAR; COLLINS, 2000).

Page 13: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

12

1.2 Mecanismos da Inflamação

A inflamação inicia-se através de mecanismos responsáveis por localizar

e eliminar tecidos lesados e substâncias estranhas, sendo estimulado pelo

reconhecimento da ocorrência de lesão tecidual. O aumento da resposta

inflamatória acompanha a identificação da lesão e ativação dos mediadores

químicos e dos sistemas celulares inflamatórios. O final da resposta inflamatória é

quando o agente lesivo já foi removido através da ação dos inibidores ativados pelos

seus específicos mediadores (RUBIN; FARBER, 1999).

De acordo com Carvalho e Lemônica (1998), no processo inflamatório há

complexo desencadeamento bioquímico envolvendo a saída dos canais atuais de

substâncias, migração de células, liberação de mediadores, sensibilização e

ativação de receptores, para o rompimento dos tecidos e reparo. É um contexto

histórico, as inflamações são denominadas agudas ou crônicas, dependendo dos

sintomas, persistência da lesão, e a natureza da resposta inflamatória (RUBIN;

FARBER, 1999).

Na fase aguda da inflamação ocorre uma resposta sistêmica sendo

caracterizada por febre, leucocitose, produção de vários hormônios e produção de

proteínas hepática. Considerada a fase de resposta antecipada e imediata ao agente

invasor, envolve dois principais agentes de defesa contra microrganismo (leucócitos

e anticorpos) presentes normalmente na corrente sanguínea. Fenômenos vasculares

também desempenham um importante papel na inflamação aguda (BILATE, 2007).

Ainda segundo Cotran, Kumar e Collins (2000), A inflamação aguda

apresenta três fatores principais: 1)Aumento do fluxo sanguíneo através da

vasodilatação; 2)Alterações na estrutura dos microvasos que permitem a saída da

circulação de proteínas plasmáticas e leucócitos; 3)Emigração dos leucócitos da

circulação para sequente acúmulo no foco da tecido lesionado.

Pouco após a lesão ocorrem alterações nos fluxos vasculares em

velocidades variáveis, de acordo com a seguinte ordem: 1).Após a uma diminuição

do calibre das arteríolas que dura alguns segundos, ocorre uma vasodilatação,

sobrevinda à abertura de arteríolas e novos leitos capilares na área resultando em

Page 14: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

13

um aumento expressivo da quantidade de sangue no local causando calor e rubor;

2).A diminuição da velocidade da circulação é decorrente do aumento da

permeabilidade da microvasculatura, com a saída de líquidos ricos em proteínas

plasmáticas para dentro dos tecidos adjacentes do sistema vascular. A perda de

plasma resulta na concentração de hemácias nos capilares deixando o sangue mais

viscoso, sendo este distúrbio denominado estase; 3).Após o desenvolvimento da

estase começa acontecer um fenômeno chamado de marginação leucocitária, que é

o direcionamento periférico dos leucócitos, principalmente do neutrófilo ao longo do

endotélio vascular. Esse processo do leucócito da circulação acontece através de

uma quimiotaxia (orientação através de sinais químicos), onde esse vem no fluxo

sanguíneo, começa a rolar pela parede arteriolar e migra-se através da parede do

vaso para o tecido intersticial (COTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000).

Quando com estímulos leves, torna-se evidente após 15 a 30 minutos. E

conforme a lesão seja mais intensa essa estase pode ocorrer em poucos minutos. A

permeabilidade vascular aumentada resultando em um extravasamento de um

líquido rico em proteína chamado exsudato, que consiste da marca da inflamação

aguda.

A fase crônica pode ser uma resposta imunológica contra um antígeno

estranho ou a sequela da inflamação aguda. A inflamação se torna crônica, quando

o organismo não consegue eliminar o agente invasor ou o tecido lesado não é

levado ao seu estado normal. A inflamação crônica serve inicialmente para remover

um agente invasor ou processo patológico intratecidual (RUBIN; FARBER, 1999).

As células que participam na resposta inflamatória crônica são (RUBIN;

FARBER, 1999):

Macrófagos: envolvido na regulação das reações que evoluem para

inflamações crônicas, funciona como mediador inflamatório e imunológico. O

acumulo dos macrófagos contribui para o recrutamento de monócitos circulantes por

meio de estímulos quimiotáticos e diferenciação dos tecidos.

Plasmócitos: também participam de reações inflamatórias, sendo os

principais produtores de anticorpos. A presença dos anticorpos contra antígenos

específicos são necessários para neutralizar o antígeno.

Page 15: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

14

Linfócitos (em certas condições): os linfócitos T funcionam para o

recrutamento de macrófagos, com a liberação de mediadores como as linfocinas, e

também modulam a produção de anticorpos e citotoxicidade.

Eosinófilos: atuam em algumas ocasiões nas quais estão envolvidos

processos alérgicos ou infestações parasitárias.

Quando o processo de inflamação aguda não é suficientemente resolvido,

leva a fase crônica, como no caso de doenças autoimunes ou por microrganismo

que conseguem fugir da resposta imune. Esse tipo de processo inflamatório ocorre

quando macrófagos e células T são constantemente ativadas, estimulando a

reconstrução tecidual, aumentando fibroblastos, consequentemente havendo

aumento de colágeno que resulta em fibrose, comum em inflamações crônicas

(BILATE, 2007).

1.3 Mediadores

Mediadores são estímulos capazes de desencadear um processo

inflamatório. São variáveis, podendo ser produzidos por células locais ou podem

estar livres no plasma (sintetizado pelo fígado), devendo ser ativados posteriormente

diante de uma lesão, ou diante de um patógeno no organismo. Os mediadores

vindos do plasma, ficam circulando como percursores esperando serem ativados

(sistema complemento). Essas ativações ocorrem, em geral, por uma série de

clivagens proteolíticas, a fim de obter suas propriedades biológicas. Esses

mediadores celulares estão dispostos em grânulos intracelulares que precisam ser

excretados, como ocorre com a histamina, que estão presentes nos grânulos dos

mastócitos. Existem também os mediadores que não são sintetizados originalmente,

como exemplo as prostaglandinas e as citocinas que respondem a um estímulo. As

células que atuam como principais fontes dessas substâncias são: neutrófilos,

plaquetas, monócitos/macrófagos e mastócitos, células mesenquimais (endotélio,

músculo liso, fibroblastos). Sendo que a maioria dos tecidos também podem ser

levados a produzir mediadores (ROBBINS, 2008).

Page 16: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

15

As maiores partes dos mediadores exercem sua função orgânica, ligando-

se a receptores específicos nas células – alvo. Porém, existem outros que atuam de

forma direta através de atividades enzimáticas, como as proteases e os lisossomos.

Há também algumas dessas substâncias que podem intermediar uma lesão

oxidativa, como exemplo, os metabólitos do oxigênio (ROBBINS, 2008).

O mediador químico pode fazer com que a própria célula-alvo libere

mediadores, como os intérferons (INF), que são citocinas que se destacam

impedindo a propagação de algumas infecções virais, sendo produzidas por células

infectadas ou células T (linfócitos). Esses mediadores posteriores podem ser

idênticos ou parecidos com os mediadores iniciais, mas por outro lado podem ter

ação oposta. Eles têm mecanismos que, em alguns casos aumentam a ação de

mediadores iniciais, já em outras situações eles neutralizam essas ações. Esses

mediadores podem exercer atividades em um dos vários tipos de células-alvos, ter

alvos disseminados, ou podem até ter diferentes ações de acordo com o tipo de

células ou tecidos. Quando liberados, têm vida curta, pois podem estar ligados a:

decomposição rápida, como os metabólitos do ácido araquidônico; serem inativados

por enzimas, como por exemplo, a bradicinina e cininase; serem removidos, tais

como os antioxidantes fazem com os metabólitos tóxicos do oxigênio; ou podem ser

inibidos, como por exemplo, os inibidores do sistema complemento (ROBBINS,

2008).

Em alguns casos, esses mediadores podem, em determinadas situações

causar danos nocivos, como por exemplo, excesso nas respostas alérgicas/

inflamatórias, como a anafilaxia e redução do fluxo de ar (asma), causadas pela

histamina. Em outras situações as proteínas, além de destruir o agente agressor,

também causam a destruição dos glóbulos vermelhos do sangue (hemácias),

causando hemólise e também as enzimas liberadas pelos neutrófilos mortos levam a

digestão dos tecidos, produzindo pus (LAMANO, 2008).

A ampla variação de mediadores, tanto de origem celular quanto aqueles

encontrados livres no plasma sanguíneo podem ser vistos na figura 1.

Page 17: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

16

Figura 1. Mediadores químicos ligados à respostas inflamatórias. a: mediadores de

origem inflamatória; b: mediadores derivados de células.

Figura 1a. Mediadores plasmáticos

Figura 1b. Mediadores derivados de células

FONTE: (ARAÚJO et al., 2012)

Page 18: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

17

1.4 Ácido araquidônico e as vias de ciclooxigenase (COX-1 e COX-2)

Quando ocorre a ativação das células por diferentes estímulos, as

membranas celulares são rapidamente remodeladas para gerarem mediadores

lipídicos, biologicamente ativos, que são sinalizadores intracelulares ou

extracelulares. As substâncias liberadas pelo ácido araquidônico, após o seu

metabolismo influenciam em uma série de processos biológicos, que incluem

inflamação e homeostasia. Essas substâncias são conhecidas como autacóides, ou

hormônios locais de curto alcance, formando-se de forma rápida no local e sendo

degradados espontaneamente por ação enzimática. Os metabólitos do ácido

araquidônico, também chamados de eicosanóides, são produzidos por duas

principais classes de enzimas sendo elas: ciclooxigenase, e lipoxigenase. Esses

eicosanóides atuam em praticamente em todas as etapas do processo inflamatório,

são encontrados em exsudatos da inflamação, e sua produção é aumentada nesses

locais. Agentes de estruturas diferentes podem extinguir a atividade de

ciclooxigenase, como os anti-inflamatórios não esteróides, que também inibem a

inflamação. As vias de ciclooxigenase são mediadas por duas enzimas distintas

(COX1 e COX2), que sucedem na geração de prostaglandinas (ROBBINS, 2008).

Segundo Lins e colaboradores (2007), as prostaglandinas derivam da

metabolização do ácido araquidônico, pela via ciclooxigenase diante da secreção e

ativação da enzima fosfolipase A2. Essas prostaglandinas se dividem de acordo com

a sua forma e códigos sendo diferenciadas por letras (p. ex. PGE, PGG, PGD, PGF

e PGH), e um numeral subscrito de acordo com a quantidade de duplas ligações

contida em sua estrutura. As mais importantes no processo inflamatório são: a

prostaciclina (PGE2, PGD2, PGI2) e o tromboxano (TxA2), sendo cada uma delas

oriundas de ações de enzimas específicas. Essas enzimas estão presentes em

diferentes tecidos. Por exemplo, o tromboxano-sintetase é uma enzima contidas nas

plaquetas, cujo seu principal produto é o TxA2, responsável pela agregação

plaquetária e vasoconstrição. Não tem estabilidade e se converte de maneira rápida

em sua forma inativa TxB2. A parede do vaso não possui tromboxano-sintetase,

entretanto possui prostaciclina-sintetase que leva a formação de protacilina(PGI2),

um potente inibidor da agregação plaquetária e vasodilatador. Essas características

Page 19: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

18

opostas entre o TxA2 e a PGI2 são grandes participantes no processo de

homeostase.

As prostaglandinas também estão envolvidas em processos que resultam

em dor e febre. A PGE2 faz com que a pele se torne hipersensível a estímulos

dolorosos (hiperalgia). A PGD2 é o principal produto da via ciclooxigenase nos

mastócitos; atuando concomitantemente com PGE2 e PGFD2, causando a

vasodilatação e potencializando a formação de edema (ROBBINS, 2008).

Figura 2. Cascata do ácido araquidônico

FONTE: (ARAÚJO et al., 2012)

Há alguns anos foi descoberta a COX-3, sendo expressa por uma

variante do gene COX-1. Expressa em altos níveis no sistema nervoso central,

sendo também encontrada no coração e na aorta. Essa enzima pode ser de forma

seletiva, inibida através de fármacos antipiréticos, analgésicos, possivelmente a

dipirona, e acetomifeno ou paracetamol e também potencialmente inibida com

alguns tradicionais AINEs. Essa inibição pode representar uma reação primária ao

Page 20: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

19

fármaco, diminuindo a dor e possivelmente a febre. A importância dessa forma

enzimática ainda esta para ser totalmente desvendada (MONTEIRO et al., 2008).

Entretanto, para Kummer e Coelho (2002), a via COX-3, ao contrário das

outras COXs, ela não produziria substâncias prostanóides, mas sim produtos anti-

inflamatórios. Isso poderia ser explicado pelos períodos de remissão vistos em

casos de doenças inflamatórias crônicas como a artrite reumatoide.

Page 21: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

20

2 ANTI-INFLAMATÓRIOS

2.1 Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)

Para Silva (2006), durante séculos a dor e a febre, associadas ou não a

processos inflamatórios têm preocupado a humanidade. Desde o séc. XVIII, o chá

de Salix Alba vulgaria (casca-do-salgueiro), tem sido usado como antipirético. No

ano de 1827, Leroux isolou a substância da casca do salgueiro, chamada salicilina,

que por hidrólise, libera glicose e álcool-salicílico (saligenina). Já em 1838, Piria

isolou um ácido da salicilina, que chamou de ácido salicílico. Em 1844, foi isolado do

óleo de gaultéria (wintergreen), por Cahours o ácido salcílico, e enfim no ano de

1860, Kolbe e Lautemann, conseguiram produzir o ácido salicílico de forma sintética.

Já em 1899, Dreser inseriu no uso clínico o ácido acetil-salicílico. Desde então

vários produtos com ação semelhante vêm sendo introduzidos no mercado, com

propriedades analgésicas, anti-inflamatórias e antipiréticas, que continuam em

grande desenvolvimento.

Os analgésicos, antipiréticos, e anti-inflamatórios não esteróides (AINEs),

compõem um grupo com diversas ações e compostos estruturalmente químicos

diferentes um dos outros, podendo ser subdivididos em classes de acordo com a

natureza química a que pertencem, tendo bons resultados, inclusive em sua

administração em processos pós-operatórios, reduzindo a dor, e podendo ser

utilizado associado com outros compostos, por exemplo, opióides nesses casos

(KUMMER; COELHO, 2002).

Os AINEs são chamados assim por não serem hormonais e diferirem dos

esteroides que também possuem propriedades anti-inflamatórias. Os AINEs têm sido

eficazes no tratamento da dor associada à inflamação e lesões teciduais. Tratando-

se de um processo com muitos mediadores, vários mecanismos da reação

inflamatória poderiam ser interceptados pela ação dos anti-inflamatórios. Um dos

principais pontos de ação poderia ser após a instalação de um processo

Page 22: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

21

inflamatório, com a sucessiva liberação de células e mediadores responsáveis pela

sensibilização dos nociceptores primários da dor (SILVA, 2006).

2.2 Mecanismo de ação dos AINEs

Segundo Silva (2006), Jhon Vane em 1971, propôs o mecanismo de ação

dos AINEs. Embora sejam estruturalmente diferentes, eles tem ação semelhante,

agindo principalmente no bloqueio da biossíntese de prostaglandina.

Acredita-se que a prostaglandina (PG) produzida pela via COX-1 seja

participante na formação da mucosa gástrica, manutenção da função renal, e a

homeostasia. Por outro lado, aquelas, produzida pela COX-2 esteja relacionadas á

processos inflamatórios e outros eventos patológicos(MINOSSI et al., 1998).

De acordo com Monteiro e colaboradores (2008), as prostaglandinas são

oriundas da clivagem do ácido araquidônico, o qual é proveniente da dieta ou do

ácido linoleico, exercendo diversas funções em todos tecidos animais. Fazem parte

de um grupo químico chamado eicosanóides, são liberados de fosfolipídios de

membranas de células lesadas, através da ação catalítica da fosfolipase a2. As

enzimas COX-1 e COX-2 catalisam os eventos sequenciais sintetizando

prostaglandinas clássicas e tromboxano, e as lipoxigenases transformam o ácido

araquidônico em leucotrienos e outros compostos.

De acordo com Monteiro e colaboradores (2008) a principal ação dos

AINEs é inibir a ciclooxigenase, consequentemente impedindo a transformação de

ácido araquidônico em prostaglandina. Em reações interferidas pelas COXs o ácido

araquidônico produz PGG2, que através da ação da peroxidase forma PGH2, sendo

convertidas em prostaglandinas, tromboxanos (TXs) e prostaciclinas. A figura 2

mostra uma série de inibidores do sistema enzimático da COX.

As PGs agem aumentando o calibre vascular. A PGD2 é liberada através

dos mastócitos sendo ativadas por estímulos alérgicos ou outros. A PGE2 inibe as

respostas inflamatórias ou alérgicas dos linfócitos. Além de ocasionar vasodilatação,

Page 23: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

22

sensibilização dos nociceptores causando uma hiperalgesia, e estimulam os centros

hipotalâmicos de termorregulação (SILVA, 2006).

A prostaciclina (PGI2) predomina no endotélio vascular causando

vasodilatação, e inibindo a adesividade plaquetária. O TX age induzindo a

agregação plaquetária e vasoconstrição sendo predominante ativado nas plaquetas.

Os leucotrienos aumentam a permeabilidade vascular e atraem leucócitos para o

sítio da lesão. A histamina e a bradicinina ativam os receptores nocigênicos e

aumentam a permeabilidade capilar (SILVA, 2006).

O ácido-acetilsalicílico (AAS) e os demais AINEs inibem a produção das

PGs devido à inativação das COXs. O AAS inativa de forma irreversível e não-

seletiva as COX-1 e COX-2, através de uma acetilação nessas isoenzimas,

covalentemente. As maiores partes dos AINEs agem inativando de forma reversível

essas enzimas. Entretanto, deve ficar claro que tanto o AAS quanto os AINEs não

bloqueiam as vias COXs, não inibindo consequentemente a produção de

leucotrienos. Ou seja, os AINEs e AAS reduzem porem não eliminam os sintomas da

inflamação e da febre. A inibição da prostaglandina é um dos principais carreadores

de efeitos adversos desses fármacos, pois a prostaglandina produzida pela COX-1 é

responsável pela manutenção homeostática, como exemplo conservação do muco

gástrico, atua regulando a função normal das plaquetas e regulando o fluxo de

sangue nos rins (MONTEIRO et al., 2008).

FIGURA 3. Classificação de inibição dos AINEs

FONTE: (MONTEIRO et al., 2008).

Page 24: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

23

2.3 Inibidores específicos da COX-2

Desde o isolamento do ácido salicílico em 1844, e mais tarde em 1899

por Dresser, a introdução clínica do ácido-acetilsalicílico (AAS), continua em pleno

desenvolvimento a criação de novos AINEs, em vários países do mundo. Embora

exista grande efetividade desses fármacos contra inflamação, dor e febre, o uso

destes compostos por longos períodos podem acarretar grandes danos

gastrointestinais como, úlceras, dispepsia, dor abdominal, sangramentos, e

perfuração gástrica ou duodenal. Nos rins também há complicações tão sérias que

antigamente denominavam-se nefropatia analgésica, caracterizada por necrose

papilar, hipertensão arterial até chegar á insuficiência renal. Os efeitos adversos dos

AINEs foram atribuídos a baixa seletividade na inibição das enzimas

ciclooxigenases, sendo a COX-1 geradora de maiores prejuízos quando inibida

(MONTEIRO et al., 2008).

Para Carvalho e colaboradores (2004), os efeitos tóxicos dos inibidores

dos AINEs, tem se atribuído a inibição da COX-1, consequentemente a baixa da

prostaglandina, resultando em danos gastrointestinais. Para que não ocorram tais

efeitos adversos, autores citam que a inibição da COX-1 não pode ser superior a

10% (MORICHIN FILHO; RAHAL, 2008).

Devido à rapidez e simplicidade, são feitos testes in vitro para avaliar a

seletividade dos inibidores específicos da COX-2. Os testes para verificar a

especificidade de ação do anti-inflamatório são feitas por avaliações sanguíneas da

quantidade de troboxano e agregação plaquetária diante de um processo de

coágulo, atribuídos à atividade da COX-1, enquanto a síntese de PGE2

(prostaglandina principalmente dos monócitos), é atribuída a atividade da COX-2 em

sangue exposto a lipolissacarídeos. Considera-se um valor de ação inibitória dos

AINEs sobre as COXs quando acima de 50% e então é verificada a

proporcionalidade de ação COX-1/COX-2. Ou seja, quanto maior for à ação inibitória

da COX-2 em relação a COX-1, mais seletivo é esse fármaco. Os resultados obtidos

nesses testes poderiam, teoricamente, prever a predisposição de eventos adversos

gastrintestinais causados por esses fármacos, além de permitirem a verificação da

potência da droga. Deve-se lembrar que esses testes são feitos de maneira

Page 25: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

24

laboratorial e não podem ser enquadrados como resultados precisos de testes

clínicos in vivo (MONTEIRO et al., 2008).

A avaliação clínica desses casos é feita por meio de exames como

endoscopia para visualização de úlceras gastroduodenais. Entretanto, é preciso

considerar a variabilidade genética na expressão dessas enzimas, que conduzem a

respostas diferentes, tanto para efeitos terapêuticos, quanto para efeitos

tóxicos(CARVALHO et al., 2004).

As adversidades causadas por esses AINEs não-seletivos, assiduamente

observadas desde a metade do século passado, deram início a uma incessante

busca por um fármaco que fosse eficaz, e seguro, para que se evitasse tais

situações desagradáveis. Pensando nesses atributos, o primeiro fármaco

desenvolvido para atingir essas características foi o meloxican, que tem ação

preferencial nas COXs-2. Outros AINEs comercializados, como a nimesulida e o

etodolaco tem ação seletiva sobre a COX-2. Hoje em dia temos alguns inibidores

mais seletivos da COX-2 (p. ex. celocoxibe, etoricoxibe, lumiracoxibe) como pode

ser visto na Fig. 2. Esse grupo é caracterizado por não possuir uma hidroxila

presente em outros anti-inflamatórios, fazendo com que ele se oriente de forma mais

precisa em realação a COX-2 (MONTEIRO et al., 2008).

Page 26: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

25

3 EFEITOS ADVERSOS DO INIBIDORES DA COX-2

3.1 Reações adversas no sistema gastrointestinal

Todos AINEs tem potencial efeito adverso principalmente ao nível

gastrointestinal, que podem gerar desde dispepsias até sangramentos estomacais e

duodenais, além de induzir inflamações intestinais em repouso e causar lesões

teciduais como úlceras, no gastrointestinal baixo, principalmente após longo período

de uso (MONTEIRO et al., 2008).

Os riscos de perfuração gastrointestinal são de 3 a 4 vezes maior, com o

uso de anti-inflamatórios convencionais. A COX-1 parece exercer função em manter

a estrutura glandular estomacal. Sendo encontrada de forma única na mucosa

gástrica intestinal de animais e seres humanos normais, e estar diretamente ligada a

prevenção de erosões e ulcerações. Entretanto, quando há ulcerações gástricas já

formadas, como exemplo por Helicobacter pylori, nota-se maior presença de COX-2

nas células do epitélio estomacal induzindo a produção de prostaglandina

contribuindo para a cicatrização dessas lesões. Essas prostaglandinas,

principalmente a PGE2, fazem com que seja estimulada a produção cloretos e

fluidos pela mucosa, impedindo que os microrganismos invadam a circulação.

Porém se for administrado um inibidor seletivo da COX-2, pode haver inibição da

cicatrização de úlceras pré-formadas, ou ainda a redução da capacidade de defesa

diante de invasores, mesmo que estas úlceras foram formadas anteriormente por

outros AINEs. A utilização de AINEs intestinais está relacionada a uma série de

riscos gastrintestinais, incluindo complicações com sangramentos gastrointestinais,

ulcerações e erosões. Essas lesões estão relacionadas à inibição da COX-2, que

impede a formação de prostaglandina, produtora da PGE2 e PGI2, citoprotetoras do

estômago (KUMMER; COELHO, 2002).

Page 27: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

26

3.2 Reações adversas no sistema renal

Segundo Monteiro et al (2008), os AINEs, ao inibirem a síntese de

prostaglandinas, podem gerar uma insuficiência renal aguda (IRA), por duas

maneiras: por nefrite intersticial (geralmente acompanhada com síndrome nefrótica)

ou hemodinamicamente-mediada (MONTEIRO et al., 2008).

Os rins representam o segundo órgão do corpo mais afetado por efeitos

adversos do AINEs, pois recebem 25% de todo débito cardíaco, portanto, qualquer

droga que caia na circulação sanguínea passará pelos rins. Caso haja um grande

acúmulo dessas drogas na luz dos túbulos renais pode haver o comprometimento do

néfron e isso desencadeia respostas inflamatórias e pode haver queda na filtração

glomerular. As prostaglandinas (PGE2 E PGI2) mantêm o fluxo sanguíneo renal e a

taxa de filtração glomerular, sendo produzidas pelos próprios rins. Causam

vasodilatação e assim diminuem a resistência vascular com melhora da perfusão

renal, redistribuindo o fluxo sanguíneo do córtex para região justamedular.

Adicionalmente, a PGD2 que causam vasodilatação, deprimindo a liberação de

norapinefrina. A PGE2, além de ter papel semelhante a PGD2, antagoniza a

vasoconstrição causada pela angiotensina II (MELGAÇO et al., 2010).

Quando ocorre hipovolemia é ativado o sistema renina-angiotensina-

aldosterona, causando um vasoconstrição, que contribuem para a reabsorção de

sódio e água, para que sejam mantidos os níveis tensionais adequados.

Simultaneamente, a angiotensina provoca a produção de prostaglandina, pela COX-

1, presente no glomérulo e dutos coletores renais. Existe um aumento no tônus

vascular, resultante do sistema simpático. Nessas ocasiões as prostaglandinas

ocasionam uma vasoconstrição compensatória da arteríola eferente, promovendo

uma perfusão glomerular satisfatória evitando danos a filtração glomerular e função

renal (KUMMER; COELHO, 2002; MELGAÇO et al., 2010).

Sendo assim, uma inibição da atividade da prostaglandina nos rins pode

levar a uma queda de perfusão renal, especialmente em pacientes já propensos. Os

transtornos renais, relacionados ao uso dos AINEs, são por ordem decrescente

Page 28: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

27

fator, desde distúrbios renais de moderados até graves e, às vezes, irreversíveis

como necrose papilar e outros.

3.3 Reações adversas no sistema cardiovascular

No ano de 2000, a partir de estudos feitos para avalição dos riscos

gastrintestinais e outros, causado pelo uso dos AINEs, foi descoberto risco

cardiovascular para uma classe de inibidores específicos da COX-2, ao comparar

Rofecoxib a Naproxeno. Embora tenham sido levantados dados controversos sobre

o eminente risco cardiovascular do rofocoxib e da classe de inibidores específicos da

COX-2, o medicamento foi retirado do mercado em setembro de 2004 (ARAUJO et

al., 2005).

A manutenção adequada da circulação sanguínea, assim como a

apropriada resposta trombogênica à lesão vascular, dependem de um rigoroso

equilíbrio entre o tromboxano A2 (TxA2) produzido pelas plaquetas, e a

prostaciclina (PGI2) da célula endotelial. As plaquetas por não possuírem núcleo,

não conseguem produzir enzimas em situações de ativação, tendo apenas um

suprimento da COX-1, que por sua vez origina o TxA2. Isso facilita a agregação

plaquetária, causando vasoconstrição, e estimulando a proliferação de músculo liso.

Em contrapartida a produção de eicosanóides em síndromes de ativação plaquetária

parecer promover uma maior atuação da COX-2 na produção de PGI2 pelas células

endoteliais, a qual possui ação vasodilatadora, antiagregaria, e impede a

proliferação do músculo liso. Na presença de ácido-acetilsalicílico que é inibidor

irreversível da COX-1 plaquetária, não ocorre a formação de TxA2, e ao mesmo

tempo não há interferência na biosíntese da PGI2 basal, o que justifica a eficácia

dessa substância na redução significativa de infarto agudo do miocárdio, e mortes

súbitas por acidentes vascular encefálico em pacientes com altos riscos de tais

complicações (KUMMER e COELHO, 2002).

O estudo Vioxx Gastrintestinal Outcomes Research (VIGOR), mostrou

aumento significativo de 3,9 vezes na ocorrência de efeitos tromboembólicos

adversos no grupo recebendo rofecoxibe, comparado ao grupo recebendo placebo.

Page 29: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

28

Posteriormente, foi também detectado aumento significativo de risco cardiovascular

com o uso de celecoxibe comparado ao placebo. Um outro estudo Adenomatous

Poly Prevention on Vioxx setembro de 2004 (APPROVe) é um dos maiores

influenciadores por parte de órgãos fiscalização, empresas farmacêuticas,

comunidades científicas e opinião pública, promoveu a retirada do mercado do

rofecoxib pela empresa que o produzia. Constatou-se que em pacientes que faziam

uso desse medicamento foi notado um aumento da taxa de mortes por evento

cardiovascular, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico, ou

insuficiência cardíaca (ARAUJO et al., 2005).

Inibidores específicos da COX-2 suprimem a produção de PGI2, enquanto

não apresentam ações sobre a produção do TxA2 plaquetário. O conseqüente

desequilíbrio em favor dos pró-trombóticos pode levar a agregação plaquetária e

vasoconstrição, para maior incidência ao bloqueio vascular provocando isquemia

tissular. Entretanto para os inibidores não-específicos da COX-2, os impactos são de

igual para igual tanto para pró quanto para anti-antrombóticos, e por conta da sua

ação reversível para COX, não se constituem para agentes cardioprotetores ideais.

Pacientes que necessitam de prevenção cardiovascular devem ser tratados com

baixas doses de ácidoacetilsalicílico (KUMMER e COELHO, 2002).

3.4 Reações adversas no sistema hepático e pancreático

Os AINEs, particularmente o diclofenaco de sódio tem sido associados a

impactos hepatotóxicos graves. Em revisão sobre casos clínicos em 7400 pacientes,

foi constatada disfunção hepática em 0,8% dos pacientes que fizeram uso

celocoxibe, 0,9% dos pacientes que fizeram uso do placebo, e 3,75% dos que

utilizaram o diclofenaco (KUMMER; COELHO, 2002).

Segundo Bessoni (2011) o a taxa de hepatotoxacidade pelo uso do ácido

acetilsalicílco (AAS) é muito baixa. Considerado que o AAS foi substituído por

Ibuprofeno e paracetamol em crianças com distúrbios reumáticos. O Sulindaco foi

relatado há mais de 50 anos em eventos de hepatotoxicidade induzida, sendo ele

relacionado as lesões hepáticas mais citadas. O Ibuprofeno talvez seja o mais

Page 30: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

29

seguro dentre os AINEs e não causa danos hepáticos graves relatados em estudos.

O Paracetamol assim como o Ibuprofeno e o AAS, não representam riscos hepáticos

graves, sendo os AINEs livres de prescrição, mais vendidos no mundo. Os Coxibes

substituiram vários AINEs devido sua maior seletividade, entretanto alguns deles,

como o rofecoxibe foi retirado do mercado pelos seus riscos cardiovasculares, e

também não muito atrás seus potencial de causar danos hepáticos. Outro

medicamento desta mesma classe é o Lumiracoxib que também foi retirado do

mercado em vários países, por causa de eventos de hepatotoxicidade graves

gerados por ele. O etorocoxibe, outro importante medicamento dentro os coxibes,

parece ser hepatotoxicamente mais seguro, pois ainda não foi relatado dano

hepático grave relacionado ao mesmo. A Nimesulida é um medicamento que possui

resultados conflitantes pois, apesar de ter sido retirada do mercado em vários países

devido os danos hepáticos graves relatados clinicamente, vários estudos

epidemiológicosa não comprovaram essa tese. Entretanto, é recomendado o uso da

nimesulida por curto período de tempo, e com doses não superiores a 200mg/dia.

Relatos mostraram que o celocoxibe foi referido ao desenvolvimento de

pancreatite e hepatite. O que explicaria essa situação seria a presença da

sulfonamida na estruturas química do medicamento, que poderia desencadear uma

alergia aos pacientes com hipersensibilidade a essa molécula, devendo o celocoxibe

ser evitado por eles. O que talvez pudesse ocorrer também seria uma interação

medicamentosa com outros medicamentos que também possuem (p. ex.

antibóticos), já que a sulfa presente no celocoxibe não possui estruturas aromáticas,

maior causador de resposta alérgica. O uso dos AINEs associados a casos de

pancreatites seria estudos que apontam proteção da prostaglandina em células

pancreáticas nos animais (KUMMER; COELHO, 2002).

3.5 Reações adversas no sistema nervoso

Os efeitos do uso dos AINEs em relação ao sistema nervoso central

(SNC) compreendem: psicose, disfunção cognitiva, e meningite asséptica. Sendo

que psicose e disfunção cognitiva estão geralmente ligadas a idosos,

Page 31: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

30

particularmente com o uso da indometacina. E a meningite asséptica esteja

relacionada a paciente com lúpus eritematoso sistêmico sendo tratados com AINEs

(geralmente ibuprofeno e naproxeno). Os AINEs também podem sem relevância

clínica e raramente ocasionar distúrbios oculares, com o desenvolvimento de edema

córneo (MONTEIRO et al, 2008).

A prostaglandina além de estar envolvida com mediações a febre e

reações inflamatórias no tecido neural, elas também atuam na função cerebral. Além

disso, foi descoberto o papel da COX-2 no desenvolvimento do sistema nervoso e

como importante modulador da resposta neural na vida adulta. Níveis dessa

isoforma encontraram-se aumentados após convulsões e atividades ligadas ao

receptor N-metil D-Aspartato (NMDA). O papel da COX-2 e de inibidores específicos

da prostaglandina na função cerebral humana ainda é desconhecido. Apesar de

indícios clínicos afirmarem que os usuários de AINEs, terem um reduzido número de

mal-de-alzheimer em sua população, estudos mais aprofundados são necessários

para indicação terapêutica desses agentes (KUMMER; COELHO, 2002).

Page 32: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

31

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Utilizando do método de revisão bibliográfica, podemos concluir que os

AINEs podem gerar grandes transtornos, entretanto é válido lembrar que apesar dos

prejuízos, eles ainda são bastante eficazes no tratamento dos processos

inflamatórios. E que as razões para que os mecanismos da inflamação e mediadores

que atuam nessa ocorrência, foram melhor estudados graças, a eficácia do

medicamento, e o interesse crescente na descoberta dos seus mecanismos de

ação. E também que aumentando a seletividade do fármaco, ainda assim tem por

outro lado, pode haver outras complicações. Devemos levar em consideração o

custo-benefício e os prováveis pontos negativos que a administração dos AINEs

possa gerar ao nosso organismo.

Page 33: Efeitos adversos dos inibidores da ciclooxigenase

32

REFERÊNCIAS

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