inibidores da bomba de prótons

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ISSN 22365843 19 Inibidores da bomba de prótons: Revisão e análise farmacoeconômica Muriele Picoli Braga*, Cristiane de Bona da Silva**, Andréa Inês Horn Adams*** RESUMO: Os inibidores da bomba de prótons (IBPs), são medicamentos que inibem a enzima H + ,K + ATPase (ou bomba de prótons) realizando a supressão ácida gástrica. Atualmente, são comercializados seis representantes desta classe: omeprazol, lansoprazol, pantoprazol, rabeprazol, esomeprazol e dexlansoprazol. Um novo IBP, tenatoprazol, está ainda em fase de desenvolvimento. O presente estudo propõese a revisar os estudos disponíveis a fim de expor informações sobre os IBPs e realizar um estudo farmacoeconômico entre dosespadrão desses medicamentos para o tratamento da úlcera péptica gastroduodenal. Evidências atuais sugerem que os IBPs possuem eficácia semelhante no tratamento de várias desordens gástricas e no protocolo de erradicação do Helicobacter pylori. A partir da análise farmacoeconômica ora realizada, constatouse que o lansoprazol apresenta perfil mais favorável. Descritores: Inibidores da bomba de prótons, Estudo farmacoeconômico. Proton Pump Inhibitors: Review and Analysis Pharmacoeconomic ABSTRACT: The proton pump inhibitors (PPIs) are drugs that inhibit the enzyme H+, K+ATPase (or proton pump), by performing gastric acid suppression. Currently, there are five marketed drugs of this class: omeprazole, lansoprazole, pantoprazole, rabeprazole and esomeprazole. A new PPI, tenatoprazole, is still under development. This study aims to review the available studies in order to reveal information about the PPIs and to perform a pharmacoeconomic study between standard doses of these drugs, employed in the treatment of gastroduodenal peptic ulcer. Current evidence suggests that PPIs have similar efficacy in the treatment of various gastric disorders and in the eradication of Helicobacter pylori. Through the pharmacoeconomic analysis done, it was found that lansoprazole presents a more favorable profile. Descriptors: Proton pump inhibitors; Pharmacoeconomic study. *Mestranda no Programa de pósgraduação em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. **Pósdoutora em Ciências da Saúde (Nanotecnologia) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rio Grande, RS, Brasil e professora adjunta no Departamento de Farmácia Industrial da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. ***Doutora em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rio Grande, RS, Brasil e professora adjunta no Departamento de Farmácia Industrial da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil.

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  • ISSN 22365843 19

    Inibidores da bomba de prtons: Reviso e anlise farmacoeconmicaMuriele Picoli Braga*, Cristiane de Bona da Silva**, Andra Ins

    Horn Adams***RESUMO: Os inibidores da bomba de prtons (IBPs), so medicamentos que inibem a enzima H+, K+ATPase (ou bomba de prtons) realizando a supresso cida gstrica. Atualmente, socomercializados seis representantes desta classe: omeprazol, lansoprazol, pantoprazol, rabeprazol,esomeprazol e dexlansoprazol. Um novo IBP, tenatoprazol, est ainda em fase de desenvolvimento. Opresente estudo propese a revisar os estudos disponveis a fim de expor informaes sobre os IBPse realizar um estudo farmacoeconmico entre dosespadro desses medicamentos para o tratamentoda lcera pptica gastroduodenal. Evidncias atuais sugerem que os IBPs possuem eficciasemelhante no tratamento de vrias desordens gstricas e no protocolo de erradicao do Helicobacterpylori. A partir da anlise farmacoeconmica ora realizada, constatouse que o lansoprazol apresentaperfil mais favorvel.Descritores: Inibidores da bomba de prtons, Estudo farmacoeconmico.

    Proton Pump Inhibitors: Review and Analysis PharmacoeconomicABSTRACT: The proton pump inhibitors (PPIs) are drugs that inhibit the enzyme H+, K+ATPase (orproton pump), by performing gastric acid suppression. Currently, there are five marketed drugs of thisclass: omeprazole, lansoprazole, pantoprazole, rabeprazole and esomeprazole. A new PPI,tenatoprazole, is still under development. This study aims to review the available studies in order toreveal information about the PPIs and to perform a pharmacoeconomic study between standard dosesof these drugs, employed in the treatment of gastroduodenal peptic ulcer. Current evidence suggeststhat PPIs have similar efficacy in the treatment of various gastric disorders and in the eradication ofHelicobacter pylori. Through the pharmacoeconomic analysis done, it was found that lansoprazolepresents a more favorable profile.Descriptors: Proton pump inhibitors Pharmacoeconomic study.

    *Mestranda no Programa de psgraduao em Cincias Farmacuticas pela Universidade Federal de Santa Maria(UFSM), Santa Maria, RS, Brasil.**Psdoutora em Cincias da Sade (Nanotecnologia) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),Rio Grande, RS, Brasil e professora adjunta no Departamento de Farmcia Industrial da Universidade Federal deSanta Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil.***Doutora em Cincias Farmacuticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rio Grande, RS,Brasil e professora adjunta no Departamento de Farmcia Industrial da Universidade Federal de Santa Maria(UFSM), Santa Maria, RS, Brasil.

  • Sade (Santa Maria), Ahead of Print, v.37,n.2, p. 1932, 2011.

    Inibidores da bomba de prtons: Reviso e anlisefarmacoeconmica

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    IntroduoO reconhecimento de que a enzima H+, K+ Adenosina TriFosfatase (H+, K+ATPase oubomba de prtons) constitui a etapa final da secreo cida levou ao desenvolvimento deuma classe de frmacos, a dos inibidores da bomba de prtons (IBPs), usados no tratamentode distrbios gastrintestinais.1Atualmente, existem sete representantes desta classe, dos quais seis socomercializados (Figura 1): omeprazol, lansoprazol, pantoprazol, rabeprazol, esomeprazol(ismero S do omeprazol), dexlansoprazol (enantimero do lansoprazol, ainda nocomercializado no Brasil) e o tenatoprazol.2,3

    Figura 1 Estrutura qumica dos inibidores da bomba de prtons.

    O tenatoprazol est em fase de desenvolvimento e caracterizase por possuir um anelimidazopiridnico no lugar do anel benzimidazlico, o que aumenta seu tempo depermanncia no organismo, sendo importante, principalmente, para o controle da acidezdurante a noite.4 Porm, ainda se desconhece a importncia clnica dessa caractersticafarmacocintica.5 Todos compartilham da mesma estrutura, um anel piridilmetilsulfinil

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    benzimidazol substitudo, mas variam em termos de substituies nos grupos piridina oubenzimidazol. Eles tambm tm em comum os mecanismos inibitrios e so todos basesfracas protonveis em pKa de cerca de 4 a 5, o que faz com que eles se acumulemseletivamente no espao cido das clulas parietais secretoras.1Muitos frmacos diferentes, como os antagonistas dos receptores H2, tambm inibem asecreo cida. Mas os inibidores da bomba de prtons tm sido considerados maiseficazes, pois bloqueiam a etapa final da secreo cida.68 Atualmente, os inibidores dabomba de prtons so a segunda classe de medicamentos mais comumente prescritos nosEstados Unidos.2Esse trabalho propese a revisar estudos disponveis na literatura sobre os IBPs bemcomo, realizar um estudo farmacoeconmico entre dosespadro utilizadas no tratamento dalcera pptica gastroduodenal, por ser uma indicao comum dos mesmos.

    Fisiopatologia da lcera ppticaA lcera pptica uma das principais indicaes clnicas para reduzir a secreo desuco gstrico.9 Uma lcera pptica uma ferida bem definida, circular ou oval, formada norevestimento do trato gastrintestinal. Os nomes das lceras identificam a sua localizaoanatmica ou as circunstncias em que se desenvolvem. A lcera duodenal, o tipo maiscomum de lcera pptica, surge no duodeno. As lceras gstricas normalmente situamse naparte alta da curvatura do estmago.10A fisiopatologia da lcera pptica pode ser considerada um desequilbrio entre os fatoresde defesa da mucosa (bicarbonato, mucina, prostaglandina, xido ntrico, outros peptdios efatores de crescimento) e fatores agressivos (cido e pepsina).11 A regulao da secreo decido pelas clulas parietais especialmente importante na patognese da lcera pptica econstitui um alvo para a ao de frmacos. A secreo das clulas parietais uma soluoisotnica de HCl (150 mmol/L) com pH abaixo de 1. De modo bastante simplificado, onscloreto (Cl) so transportados ativamente do plasma para a clula parietal. Esta secreo deons Cl acompanhada por ons K+, que so, ento, trocados por ons H+ pela K+H+ATPase. Temse ento a combinao de ons hidrognio (H+) e cloreto (Cl), seguido de sualiberao pelas glndulas secretoras gstricas.9O desenvolvimento de lceras ppticas est relacionado infeco da mucosa doestmago por Helicobacter pylori (bacilo gramnegativo que causa gastrite crnica), bemcomo ao uso de certos medicamentos (sobretudo o cido acetilsaliclico, o ibuprofeno eoutros antiinflamatrios noesterides), os quais provocam eroses e lceras no estmago,especialmente nas pessoas de idade avanada. Esses efeitos, no entanto, so revertidospela interrupo do tratamento, sendo a recidiva pouco provvel, a menos que se reinicie omesmo tratamento.10 As prostaglandinas (principalmente E2 e I2), sintetizadas na mucosagstrica principalmente pela enzima ciclooxigenase1 (COX1), estimulam a secreo demuco e de bicarbonato, diminuem a secreo de cido e causam vasodilatao. Todas essasaes servem para proteger o estmago contra leses. Isto, provavelmente, explica acapacidade de muitos antiinflamatrios noesterides (AINEs) inespecficos de causarsangramento e eroses gstricas, visto que so inibidores da COX1.9A terapia da lcera pptica alia a reduo da secreo de cido gstrico usando

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    antagonistas dos receptores H2 (cimetidina, ranitidina, nizatidina e famotidina) ou IBPs, bemcomo a neutralizao do cido secretado com anticidos (hidrxido de magnsio, hidrxidode alumnio e bicarbonato de sdio) e protetores da mucosa, como o sucralfato. Embora osanticidos tenham sido utilizados ao longo do tempo e tenham provado ser relativamenteeficazes, o uso dos mesmos inconveniente devido necessidade de vrias doses dirias etambm pela associao a efeitos colaterais indesejados.10 No caso de infeco por H. pylori,so associados antisecretores e antibiticos (claritromicina, amoxicilina, metronidazol,tinidazol, tetraciclina e fluorquinolonas, como levofloxaxino e moxifloxacino). O tratamentoconhecido como terapia trplice (combinao de um IBP, claritromicina e amoxicilina)comeou a apresentar evidncias de resistncia microbiana por volta do ano 2000, com taxasde cura inferiores a 80%. Atualmente, os estudos apontam para a eficcia de terapiaconcomitante (associao de amoxicilina, claritromicina, tinidazol ou metronidazol e IBP, por1014 dias), terapia seqencial (amoxicilina + IBP/5 dias, seguida de claritromicina e tinidazolou metronidazol + IBP/5 dias), terapia concomitantecombinada (combinao das duascitadas anteriormente) ou ainda, terapia com bismuto (associao de bismuto, tetraciclina,metronidazol + IBP). A terapia trplice ainda permanece como alternativa quando hevidncias de susceptibilidade claritromicina.12

    Inibidores da bomba de prtonsUsos

    Em 1989 foi introduzido na teraputica o primeiro inibidor da bomba de prtons, oomeprazol. Aps surgiram outros frmacos, com propriedades fsicoqumicas efarmacolgicas semelhantes: pantoprazol, rabeprazol, esomeprazol e mais recentemente odexlansoprazol. Os frmacos desta classe so considerados muito eficazes e relativamenteequivalentes durante o tratamento, reduzindo em at 95% a produo diria de cidogstrico. 13Os IBPs produzem uma supresso cida significativamente mais eficaz e prolongada doque os antagonistas dos receptores H2 e so capazes de manter o pH intragstrico superior a4 por at 16 a 18 h/dia. Foi demonstrado que a cura de doenas relacionadas com o excessode cido est diretamente relacionada com o grau e a durao da supresso cida e com adurao do tratamento.14,15 Dessa forma, seu uso recomendado em diretrizes atuais para otratamento da doena do refluxo gastroesofgico13, para a preveno de lcera pptica empacientes recebendo agentes inflamatrios no esterides (AINEs), em protocolos deerradicao da Helicobacter pylori,5 na sndrome de ZollingerEllison, gastrinomas, esofagitee gastrite.16A Tabela 1 expe de maneira sucinta evidncias contemporneas sobre a eficcia dotratamento com inibidores da bomba de prtons.5

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    Alm da atividade antisecretora, os IBPs demonstram uma importante atividade antiHelicobacter pylori in vitro, tendo um efeito sinrgico com antibiticos.18 O mecanismo para oefeito sinrgico ainda no totalmente claro, mas pode ser devido inibio da enzimaurease bacteriana, um importante fator de proteo contra o meio cido, ou devido ligao enzima H+, K+ATPase da bactria, a qual auxilia na manuteno do gradientetransmembrana.19,20Farmacocintica

    Todos os inibidores da bomba de prtons so prfrmacos que necessitam ativaoem ambiente cido. Os frmacos dessa classe entram na clula parietal a partir do sangue eacumulamse nos canalculos secretores cidos da clula parietal, onde so ativados por umprocesso catalisado por prtons, que resulta na formao de uma sulfenamida tioflica oucido sulfnico. Essa forma ativada reage por meio de ligao covalente com o grupo sulfidrilde cistenas do domnio extracelular da H+,K+ATPase, as quais so essenciais para ainibio da produo cida.11O resultado a inibio irreversvel da secreo cida da bomba de prtons.21 Porcausa da ligao covalente, os efeitos inibitrios dos IBPs duram muito mais tempo do quesua meiavida plasmtica.2 A meiavida plasmtica dos IBPs varia em torno de 1 a 2 horas, eo efeito sobre a secreo cida pode durar at 24 horas, at que ocorra a sntese de novaenzima. Todo o potencial inibidor do cido pode levar at 3 a 4 dias.21 Por exemplo, arestaurao da biossntese da enzima H+, K+ATPase ocorre cerca de 96 horas aps a doseoral de pantoprazol.22De acordo com o mecanismo de ao, os anis piridina e benzimidazol, bem como acadeia CH2SO so essenciais para a atividade dos IBPs. Os substituintes em ambos osanis so importantes para determinar a velocidade de converso forma ativa e diminuir atoxicidade.23,24So rapidamente absorvidos, altamente ligados s protenas e geralmente bemtolerados, mas de modo semelhante a alguns bloqueadores H2, interagem com algumasenzimas microssomais do citocromo P450, podendo reduzir o catabolismo alguns frmacos,como varfarina e fenitona.25,11 Uma vez que causam inibio profunda e duradoura dasecreo cida gstrica, teoricamente possvel que possam interferir na absoro defrmacos em que o pH gstrico seja um fator importante para a biodisponibilidade (p. ex.:cetoconazol, steres da ampicilina, sais de ferro, digoxina).26

    Eficcia comprovadaTratamento sintomtico e cicatrizao de lceras ppticas induzidas por uso crnico de AINEs.

    Preveno de leses gastrintestinais induzidas pelo uso crnico de AINEs.Coadjuvante na preveno de recorrncia de lceras ppticas induzidas por H. pylori.Tratamento de esofagite ou sintomas associados doena do refluxo gastresofgico.

    Provvel eficciaTratamento da dispepsia com pirose e regurgitao.

    Sugerida ineficciaTratamento do sangramento digestivo alto causado por lcera pptica.

    Profilaxia primria de sangramento digestivo alto causado por lcera de estresse.

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    Apesar de pertencerem mesma classe teraputica, existem algumas diferenas emseus perfis farmacolgicos. Ao contrrio do omeprazol e do lansoprazol, o pantoprazol temum perfil farmacocintico linear (e, portanto mais previsvel), biodisponibilidade menosvarivel e um rpido incio de ao.27Por ser uma base mais forte, o rabeprazol convertese mais rapidamente formasulfenamida, resultando em uma rpida inibio da enzima. Isto se deve ao valor de pKa donitrognio do seu anel piridnico (pKa= 5), enquanto que o dos demais apresentam valor emtorno de 4.19,28Outra diferena em relao atividade antiHelicobacter pylori, onde o rabeprazolmostrou ser 10 vezes mais potente que omeprazol e lansoprazol na inibio da enzimaurease bacteriana. Este efeito provavelmente devido formao de pontes dissulfeto nostio ativo da enzima.29 Alm disso, rabeprazol e seu metablito tioter possuem marcadaatividade inibitria sobre a motilidade de H. pylori, a qual importante para colonizao damucosa gstrica.30Seguindo nas diferenas farmacocinticas dos IBPs, temse o esomeprazol (ismero Sdo omeprazol), considerado o primeiro inibidor de bomba de prtons desenvolvido como umnico ismero para o tratamento de doenas cidorelacionadas.31 A justificativa para odesenvolvimento de ismeros nicos dos IBPs decorre do fato de que a quiralidade defrmacos pode ter um significado clnico considervel, uma vez que as enzimas e receptoresgeralmente tm uma preferncia estereoqumica de um ismero ptico. Isso pode resultar emdiferenas importantes no perfil farmacocintico e farmacodinmico dos ismeros pticos, e,portanto, na sua eficcia clnica.32 O esomeprazol possui uma depurao mais lentacomparado com a forma racmica e, portanto, o esperado que se atinja um maior nvelsanguneo e melhor efeito inibitrio da bomba de prtons. Em dois estudos que compararamos efeitos do pH intragstrico do esomeprazol com omeprazol, foram encontradas pequenasdiferenas, mas estatisticamente significativas entre os dois.33,34O dexlansoprazol foi aprovado em 2009 pelo FDA e ainda no comercializado noBrasil, sendo o primeiro inibidor da bomba de prtons com uma formulao de liberao lentaque contm dois tipos de grnulos com revestimento entrico, resultando em picos deconcentrao em 1 a 2 horas aps a administrao e novamente em 4 a 5 horas.35Estudos farmacocinticos mostraram que o tenatoprazol exibe um longo tempo de meiavida (9 horas para a administrao repetida de 40 mg, isto , de 5 a 7 vezes maior que osoutros IBPs disponveis atualmente) e investigaes farmacodinmicas tm mostrado umaumento do pH intragstrico com tenatoprazol (pH 4,6) significativamente mais elevado doque o observado com o mesmo regime de esomeprazol (pH 4,2). Evidenciouse tambm queo efeito inibitrio da supresso cida com tenatoprazol mais duradouro, o que foi atribudo estrutura qumica diferente de tenatoprazol e/ou s caractersticas resultantes da interaocom o stio da cistena ou stios da H+, K+ATPase.28,36Apesar de diferenas e/ou vantagens farmacocinticas, todos os IBPs inibem fortementea secreo de cido gstrico, no demonstrando diferenas teraputicas significativas entresi.5

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    Formas farmacuticas e estabilidadeTodos os inibidores da bomba de prtons so instveis quando expostos a meio cido,como o meio do estmago. Portanto, eles so formulados com revestimento entrico queprotege o frmaco do ambiente cido gstrico.37,38 As formas farmacuticas disponveis nomercado so: injetveis, comprimidos com revestimento entrico de liberao prolongada,comprimidos de desintegrao rpida, cpsulas com grnulos com revestimento entrico deliberao normal e prolongada.Os comprimidos com revestimento entrico ou grnulos com cobertura entrica (pelletsgastrorresistentes), encapsulados em uma camada externa de gelatina, passam peloambiente cido do estmago intactos. O revestimento entrico dissolvese quando entra noambiente alcalino do intestino delgado, onde o frmaco absorvido, sendo assim evitada adegradao dos frmacos pelo cido do esfago e estmago.21Desse modo, devese ter cuidado na administrao oral quando se torna necessriouma preparao lquida, como no caso de crianas ou de pacientes hospitalizados. Muitasvezes realizada uma preparao extempornea a partir do contedo de uma cpsula (ospellets) solubilizado em solvente adequado. Porm, ao esmagar os pellets, a camadaprotetora destruda, expondo o frmaco para o pH gstrico e, dessa forma, promovendo suadegradao. Do mesmo modo, uma formulao intravenosa no ativa quando administradapor via oral.39Avaliouse a estabilidade de omeprazol oral lquido (2mg/mL) preparado a partir docontedo de cpsulas de omeprazol, o qual foi dissolvido em bicarbonato de sdio parainjeo 8,4%. As amostras preparadas permaneceram estveis por 30 dias a 20C e 4C,apresentando menos de 3% e 5% de perda, respectivamente. Alm disso, no houvealterao no aspecto do lquido armazenado nestas temperaturas. No entanto, as amostrasarmazenadas temperatura ambiente apresentaram perda de 8% em 14 dias e perda de14% em 18 dias e a cor da preparao mudou de branco para marrom durante oarmazenamento.39Recentemente foi introduzido na clnica comprimido de desintegrao oral, umaformulao alternativa de lansoprazol. fcil de engolir e pode ser tomado com ou sem gua.Este recurso melhora o cumprimento da terapia quando os pacientes esto fora de casa (equando a gua no est prontamente disponvel), em doentes com disfagia ou odinofagia,bem como distrbios de deglutio. A farmacocintica de lansoprazol oral aps aadministrao do comprimido essencialmente idntica observada aps a dose comcpsulas de grnulos.40

    Doses e PosologiaDosespadro de IBPs podem reduzir a secreo de cido gstrico em at 98% porinativao irreversvel da bomba de prtons da clula parietal gstrica. Recomendase quesejam administrados aproximadamente 1 hora antes das refeies, para aumentar abiodisponibilidade.21 A alimentao reduz o pico de concentrao do lansoprazol e suaabsoro em aproximadamente 50%.26 No entanto, a ingesto concomitante de alimento noinflui significativamente na biodisponibilidade do pantoprazol em dose simples em pessoassaudveis.41

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    Estudos envolvendo omeprazol (20mg), pantoprazol (40 mg), lansoprazol (30 mg),rabeprazol (20 mg) e esomeprazol (20 mg) apontam a equivalncia clnica destes frmacosnestas dosagens.2 Para o tratamento da maior parte dos distrbios relacionados, essesfrmacos so administrados em nica dose diria.Efeitos adversos

    Os IBPs so geralmente bem tolerados pelos pacientes. Dor de cabea, dor abdominal,nusea e diarria so os efeitos colaterais mais comuns. A incidncia de diarria aumentacom a idade e dosagem. Efeitos secundrios pouco freqentes incluem erupo cutnea,coceira e constipao. A incidncia global de efeitos secundrios inferior a 5%, fazendo ouso de IBPs ideal para a terapia de curto prazo no entanto, continua a existir preocupaessobre o impacto a longo prazo. O efeito de primeira passagem e a depurao renal somnimos, portanto, a reduo da dose no necessria para pacientes com insuficinciarenal.42Na dose habitual (20 a 40 mg/dia) o omeprazol inibe acima de 90% da secreo cidade 24 horas na maioria dos pacientes, tornando muitos destes pacientes quase aclordricos.Devido a esta potncia, h dvidas na segurana do seu uso em longo prazo. O cidogstrico, por um mecanismo de "feedback", inibe a secreo endcrina da gastrina pelasclulas G localizadas nas glndulas antrais (pilricas). Se a acidez gstrica nitidamentereduzida, as clulas G secretam quantidades aumentadas de gastrina, levando hipergastrinemia. A gastrina um hormnio trfico, estimula a proliferao e crescimento decertas clulas e tecidos. A utilizao em longo prazo de omeprazol em humanos podepossivelmente produzir proliferao de clulas e tumores carcinides, porm no foram aindaclaramente estabelecidos como uma conseqncia do uso crnico do medicamento.25A administrao de pantoprazol em longo prazo (24 meses) em animais (ratos ecamundongos) causou a inibio da secreo cida gstrica, levando a hipergastrinemia,resultando na hiperplasia das clulas e observandose tumores carcinides do estmago eclon nos animais testados. Estes fenmenos no foram constatados em seres humanos.43Embora a segurana do uso dos IBPs j tenha sido comprovada, relatos recentes tmchamado a ateno para potenciais efeitos secundrios ou interaes medicamentosas.Estudos apontam para absoro deficiente de alguns frmacos quando administradosjuntamente com os IBPs, tais como: cetoconazol, itraconazol e astranavir, bem comoaumento na absoro de medicamentos como nifedipino e digoxina.13Alm disso, estudos recentes levantaram a questo de que, quando usados em terapiaconjunta, os IBPs levam a uma reduo na converso de clopidogrel em sua forma ativa,reduzindo assim a eficcia do tratamento com clopidogrel, que um importante agenteantiagregante plaquetrio. Dessa forma, os IBPs estariam contribuindo para a ineficcia dotratamento de cardiopatias e eventos aterotrombticos.13,44 Por outro lado, autores citam queos estudos existentes apresentam resultados inconsistentes e discordantes. Mesmo assim,em novembro de 2009, o FDA emitiu um alerta aos profissionais de sade sobre o potencialde interao entre clopidogrel e omeprazol ou esomeprazol, limitando o alerta apenas para ouso desses dois IBPs.44Recentemente, tambm foi levantada a questo de que o uso de IBPs poderia induzirm absoro de clcio pelos ossos e, dessa forma, levar osteoporose e aumentar o risco da

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    ocorrncia de fraturas, principalmente no quadril. No entanto, os dados apresentados noso uniformes. Alguns estudos conseguem demostrar que h uma pequena, masestatsticamente significativa, associao entre o uso de IBPs e o risco de fraturas, pormno demonstram significncia clnica pelo fato do risco ser baixo. Mesmo com as limitaesmetodolgicas dos estudos, o FDA anunciou em maio de 2010, que deveria existir umamudana na bula dos IBPs, contendo a informao de indicar um possvel risco de fraturacom o uso desses medicamentos.44

    Anlise farmacoeconmica dos inibidores da bomba de prtonsFarmacoeconomia um termo relativamente recente que se refere aplicao daeconomia ao estudo dos medicamentos. Surgiu em pases desenvolvidos no final dos anos80 e seu corpo de conhecimento encontrase fundamentado na economia da sade, que visamelhorar a eficincia dos gastos nos sistemas de sade.45Os estudos farmacoeconmicos abrangem a identificao, o clculo e a comparaodos custos (recursos consumidos), riscos e desfechos (clnicos, econmicos e humansticos)de programas, servios ou terapias e a determinao de alternativas que produzam osmelhores resultados diante dos recursos utilizados.46 Esses estudos podem tambm serutilizados para avaliar procedimentos, produtos mdicohospitalares e outros itens utilizadoscom fins teraputicos.47Autores clssicos categorizam quatro tipos de anlises farmacoeconmicas, que tmem comum o elemento custo e diferem quanto unidade de desfecho, sendo elas: anlisede minimizao de custo (AMC), anlise de custoefetividade (ACE), anlise de custoutilidade (ACU) e anlise de custobenefcio (ACB).46,48 Tendo em vista que o objetivo desteestudo avaliar os custos de um certo tratamento com a aplicao dos diferentes IBPsdisponveis no mercado, foi utilizada a anlise de minimizao de custo.A AMC o tipo de anlise farmacoeconmica mais simples, que utiliza como meio decomparao nica e exclusivamente o custo, tendo em vista que as opes teraputicas soigualmente efetivas. Esta abordagem justificada quando as alternativas de programas outerapias comparadas produzem resultados clnicos equivalentes, como em tomadas dedecises de guias teraputicos.49,50 Assim, o primeiro passo crtico antes de conduzir a AMC determinar a equivalncia teraputica das intervenes.50Dessa forma, analisouse a posologia habitualmente recomendada para obteno dacicatrizao da lcera pptica gastroduodenal. Foram utilizados os custos relativos aosmedicamentos de referncia, pois rabeprazol e esomeprazol ainda no possuem o seumedicamento genrico correspondente, e, ainda, foram selecionadas as embalagens quecontinham o maior nmero de formas farmacuticas disponveis no mercado, visando umamaior reduo dos custos e padronizao da anlise. Analisaramse somente os dadosrelativos aos medicamentos comercializados no Brasil.Para comparar o custo da terapia necessrio considerar a quantidade de cpsulas oucomprimidos utilizados por dia, a durao mdia da terapia, e a aquisio desse material.49A Tabela 2 ilustra a comparao das opes teraputicas. Os dados relacionados sestratgias teraputicas foram retirados das bulas dos medicamentos de referncia.

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    Inibidores da bomba de prtons: Reviso e anlisefarmacoeconmica

    28 ISSN 22365834

    Omeprazol(20 mg)

    Lansoprazol(30 mg)

    Pantoprazol(40 mg)

    Rabeprazol(20 mg)

    Esomeprazol(20 mg)

    Preoda

    embalagem*

    R$ 57,54

    R$ 22,01

    R$ 182,55

    R$ 183,68

    R$ 148,01

    Unidadespor

    embalagem

    28 cps.

    14 cps.

    28 comp.

    28 comp.

    28 comp.

    Preounitrio

    R$ 2,05

    R$ 1,57

    R$ 6,52

    R$ 6,56

    R$ 5,28

    Tempo detratamento

    6 semanas

    6 semanas

    4 semanas

    6 semanas

    6 semanas

    Custo do tratamento(se houver

    fracionamento)

    R$ 86,10

    R$ 66,04

    R$ 182,56

    R$ 275,52

    R$ 221,76

    Custo dotratamento

    (embalagemfechada)R$ 115,08

    R$ 66,04

    R$ 182,56

    R$ 367, 36

    R$ 296,02

    Tabela 2 Anlise de minimizao de custo dos IBPs.

    * Preos referentes pesquisa de mercado realizada em farmcias locais. mdia do tempo total de tratamento (4 a 8 semanas) estimado de acordo com a posologia diria recomendada (1 comp. ou 1 cp. por dia, para todos os IBPs)

    A anlise da Tabela 2 aponta que o preo unitrio e o custo dirio da terapia so maiscaros com a utilizao do rabeprazol e, alm disso, o custo do tratamento por embalagem cerca de 6 vezes mais caro com o emprego do rabeprazol comparado ao tratamento demenor custo, o lansoprazol. Ainda, neste caso, o paciente necessita comprar duasembalagens fechadas para a realizao do tratamento por completo e h sobra decomprimidos, o que tornaria a terapia com lansoprazol novamente mais vantajosa onde, aoadquirir trs embalagens fechadas para o cumprimento da terapia, o paciente conta com onmero exato de cpsulas utilizadas em todo o tratamento, sem sobra de medicamento esem gastos desnecessrios.

    Consideraes finaisOs inibidores da bomba de prtons consistem em medicamentos usados muitas vezesempiricamente (por prescrio ou automedicao) para tratamento das manifestaesdigestivas que lembram as das doenas j referidas ou na preveno do surgimento de taissintomas. So considerados o maior avano no tratamento de doenas gstricas. Quandousados corretamente, os IBPs so sem dvida os mais potentes inibidores da secreo cidagstrica disponveis e, portanto, tornaramse essenciais na terapia de vrias doenas cidorelacionadas.Evidncias atuais sugerem que os IBPs possuem eficcia semelhante. Estudosrealizados com o tenatoprazol (fase prclnica) sugerem maior eficcia no controle dasupresso da secreo gstrica noturna. Porm, estudos clnicos ainda so necessrios paraconfirmar esta hiptese e tornlo disponvel para uso.

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    Com base na anlise farmacoeconmica realizada, comparando os custos dos IBPsdisponveis aplicados no tratamento da lcera pptica gastroduodenal, o lansoprazol forneceum perfil mais favorvel de farmacoeconomia. Portanto, a substituio de frmacos maisantigos por representantes mais novos acarreta, no mnimo, em custo desnecessrio.O levantamento bibliogrfico realizado apontou a baixa incidncia de efeitos adversos dotratamento a curto prazo no entanto, a segurana e ausncia de toxicidade a longo prazoainda no est devidamente documentada. Sendo assim, o uso indiscriminado dessa classede frmacos deve ser evitado.

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    Andra Ins Horn AdamsEndereo para correspondncia Departamento de Farmcia Industrial, Prdio 26, Centro de Cinciasda Sade Campus UFSM.Santa Maria, RS, Brasil CEP: 97110970Email: [email protected] lattes: http://lattes.cnpq.br/6872246935204149Recebido em 30 de abril de 2011.Aprovado em 26 de novembro de 2011.

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    Inibidores da bomba de prtons: Reviso e anlisefarmacoeconmica

    32 ISSN 22365834