dom de línguas

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Dom de Línguas

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  • 1. Prof. Alessandro LimaO Dom das Lnguas 1a. Edio 2

2. Direitos do AutorLima, Alessandro Ricardo. 1975-O Dom das Lnguas.Braslia: 2008(1 edio, 44 pginas)Bibliografia.1. Teologia; 2. Cristianismo; 3. Doutrina da Igreja; I. Lima, Alessandro Ricardo; II. TtuloCDD 230.0ndices para Catlogo Sistemtico: 1. Cristandade: teologia crist 230.0 2. Padres da Igreja: literatura crist primitiva 281.1Capa: Slvio Medeiros.Copyright 2008. Todos os direitos reservados.Livre cpia e difuso via Internet, em forma EXCLUSIVA de e-book, desdeque reproduza o texto integral, sem quaisquer alteraes, acrscimos,omisses ou interpretaes no autorizados, preservando-se sempre osdireitos do Autor. Cpia do e-book original pode ser encontrada em http://www.veritatis.com.br. Proibida a reproduo e distribuio total ou parcialpor material impresso e sistemas grficos, microfilmticos, fotogrficos,reprogrficos, fonogrficos e videogrficos ou quaisquer outros sem aprvia autorizao do Autor. Estas proibies aplicam-se, inclusive, scaractersticas grficas da obra e sua editorao. A violao dos direitosautorais punvel como crime (art. 184 e pargrafos, do Cdigo Penal, cf.Lei n 6.895, de 17.12.1980), com pena de priso e multa, conjuntamentecom busca e apreenso e indenizaes diversas (artigos 102, 103 pargrafonico, 104, 105, 106 e 107 itens 1, 2 e 3, da Lei n 9.610, de 19.06.1998[Lei dos Direitos Autorais]).3 3. "E virei para reunir os homens de todas as naes e de todasas lnguas; todos viro e vero minha glria" (Is 66,18). 4 4. Dedicatria,A Deus, minha esposa Mnica e ao nosso filho Pedro Henrique, aos meus pais Zilda e Jos Estlio (in memorian),aos meus irmos de Apostolado, e a todos os meus leitores.5 5. SumrioSobre o Autor ............................................................7Introduo .................................................................8Captulo 1 ................................................................10O Esprito Santo como Dom de Deus.....................................10Captulo 2 ................................................................13O Dom das Lnguas...............................................................13Captulo 3 ................................................................27O falso dom de lnguas..........................................................27Captulo 4 ................................................................33Resolvendo as dificuldades....................................................33Concluso ................................................................41Outras informaes ................................................446 6. Sobre o AutorA lessandro R. Lima, casado e pai, nasceu em Braslia/DF. Vindo deuma famlia de classe mdia de quatro filhos, o pai (falecido)funcionrio pblico e me dona de casa. Formado em Tecnologia em Processamento de Dados pela UnioEducacional de Braslia (UNEB/DF) e ps-graduado em Gerncia deProjetos em Engenharia de Software pela Universidade Estcio de S/RJ.Trabalha como Professor Universitrio e Consultor de Engenharia deSoftware. Desde 1999 dedica-se ao estudo da F Crist dos primeirossculos; pelo qual foi levado a deixar o protestantismo e ingressar na IgrejaCatlica, no final de 2000. Em 2002, juntamente com Carlos Martins Nabeto fundou oapostolado catlico Veritatis Splendor (http://www.veritatis.com.br) considerado um dos maiores stios catlicos em lngua portuguesa - ondedesde ento, alm das suas atribuies familiares e seculares, dedica-se publicao de artigos referentes ao Cristianismo primitivo e defesa da FCatlica nas questes mais difceis. autor da obra O Cnon Bblico A Origem da Lista dos LivrosSagrados editado pela Ed. COMDEUS e muito elogiado1 pelo mongebeneditino D. Estvo Bettencourt considerado o maior telogo brasileiro.Tambm de sua autoria o ebook A Graa, a F, as Obras e a Salvao 2e mais de 180 artigos publicados na internet pela defesa e promoo da fcatlica.1Revista Pergunte e Responderemos ano XLVIII, julho 2007. No. 541.2LIMA, Alessandro. Apostolado Veritatis Splendor: A GRAA, A F, AS OBRAS E ASALVAO. Disponvel em http://www.veritatis.com.br/article/4552. Desde 10/1/2007. 7 7. IntroduoAps a comemorao da Pscoa do Senhor que a festa mais importante da Igreja - pois celebra a vitria de Cristo sobre a Morte e pela qual Ele se tornou nosso Salvador- vem a comemorao doPentecostes, dia da inaugurao da Igreja atravs do derramamento doEsprito Santo sobre os primeiros fiis, conforme Cristo mesmo haviaprometido (cf. At 1,4-8). Porm esta eminente festa do calendrio litrgico cristo deorigem judaica. Nela os judeus comemoravam o recebimento da Lei deDeus por meio de Moiss, aps este ter subido no Monte Sinai. Eratambm conhecida como Festa das Colheitas cuja instituio se encontraem Ex 23,14-17; 34,18-23.Acredita-se que o nome Pentecostes s foi dado aps o domniogrego, acerca de 300 anos A.C. Com efeito, no Antigo Testamento sencontramos referncia a esse nome no Segundo Livro dos Macabeus 3 (cf.2Mc 12,32) quando entre os judeus j havia forte inculturao do mundogrego. Os gregos chamavam a Festa das Colheitas de Pentecostes, por essaser realizada cinqenta dias aps a Pscoa. Para os cristos a Festa de Pentecostes a nova Festa da Colheita, o novo Monte Sinai. Se para os judeus o recebimento da Lei significavaum marco na sua histria e religio, o mesmo vale para o Pentecostes emrelao aos cristos. Se no Monte Sinai os judeus receberam em tbuas depedra a Lei que no podia justific-los mas apenas acus-los (cf. Rm 3,20),no cenculo em Jerusalm os primeiros fiis receberam em tbuas decarne a Lei da Graa que era capaz de justific-los. Sobre isso ensinou S.Paulo: "No h dvida de que vs sois uma carta de Cristo, redigida pornosso ministrio e escrita, no com tinta, mas com o Esprito de Deus vivo,no em tbuas de pedra, mas em tbuas de carne, isto , em vossoscoraes" (2Cor 3,3).3 Este livro s se encontra em edies catlicas da Bblia, assim como os livros de Judite,Sabedoria, Eclesistico, Baruque, 1Macabeus, Tobias e adies gregas de Daniel e Ester. 8 8. Especialmente nos ltimos quarenta anos a Igreja inteira tem sevoltado para este tema, principalmente por causa do crescimento dosmovimentos pentecostais tanto fora quanto dentro da Igreja Catlica. Nota-se claramente que tanto fiis quanto clrigos possuem vriasdvidas quanto autenticidade das manifestaes ocorridas nestesmovimentos. Muitos acreditam que os fenmenos l ocorridoscorrespondem ao derramamento do Esprito Santo, como acontecera nosprimeiros anos da Igreja. Sobre isso o que dizer? Por faltar-nos autoridade e pelo tema ser bastante complexo, noser objeto deste trabalho emitir qualquer opinio ou julgamento emrelao aos movimentos ditos carismticos ou pentecostais. Afinal,somente a autoridade da Santa Igreja Catlica pode emitir qualquer juzoneste sentido; como tambm verdade que todo juzo das legtimasautoridades eclesisticas no pode contradizer o que a Igreja sempreensinou. Apresentar e defender o ensinamento perene do SagradoMagistrio, alm de ser um direito de todo fiel catlico 4 um dever que onosso batismo e crisma nos impem. E neste sentido que oferecemos apresente obra aos nossos leitores e aos pastores de almas.Cabe lembrar que este trabalho no tem a pretenso de esgotar oassunto que complexo, mas to somente colaborar no debate atual "atque todos tenhamos chegado unidade da f e do conhecimento do Filho deDeus, at atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade deCristo" (Ef 4,13). Aproveito para agradecer a todos os meus irmos e irms deapostolado que me ajudaram muito na reviso da presente obra, emespecial o Carlos Nabeto. dele o estudo sobre o uso da expressolnguas estranhas nas mais variadas verses bblicas que apresento noCaptulo 2. Sou muito grato ainda ao meu carssimo amigo RodrigoSantana de Andradas-MG, que muito me ajudou no desenvolvimento dotema e me deu grande motivao para continuar em frente. No poderia deixar de agradecer tambm minha querida esposaMnica pelo seu grande apoio, especialmente nos muitos momentos emque cuidou sozinha do nosso filho e de nossa casa para que eu pudesseme dedicar a esta empresa.4cf. cnon 225,1 do Cdigo de Direito Cannico e Lumen Gentium 83; 979 9. Captulo 1 O Esprito Santo como Dom de DeusE nsina o Catecismo da Igreja Catlica que o Amor o primeiro dom.Ele contm todos os demais (cf. CIC 733). So Joo ensina queDeus Amor (cf. 1Jo 4,8.16). Por isso Deus entregou-Se emsacrifcio na Cruz por ns na pessoa de Jesus Cristo, ato do Seu deextremo amor por ns (cf Jo 15,13; Mt 26,26-28). O Deus que venceu a Morte o mesmo que nos insere na Vida. Poresta razo o Esprito Santo prometido para santificar e curar os fiis deseus pecados e males. Sobre isso ensina o Catecismo: Pelo fato deestarmos mortos, ou, pelo menos, feridos pelo pecado, o primeiro efeito dodom do Amor a remisso de nossos pecados. a comunho do EspritoSanto (2Cor 13,13) que, na Igreja, restitui aos batizados a semelhanadivina perdida pelo pecado. [...] por este poder do Esprito que os filhos deDeus podem dar fruto.5.A Igreja ensina que o Esprito Santo tambm dom dado aos fiispara que estes dem frutos que so "caridade, alegria, paz, pacincia,afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperana" (Gl 5,22-23).Muita gente confunde os frutos do Esprito Santo com os dons doEsprito Santo. Os dons do Esprito Santo so disposies permanentesque tornam o homem dcil para seguir as inspiraes divinas. [...] Os frutosdo Esprito Santo so perfeies plasmadas em ns como primcias da glriaeterna.6Os Dons do Esprito Santo Desde o AT o Senhor anunciava pela boca de seus santos profetas oadvento do Esprito Santo. Por exemplo, disse o Profeta Ezequiel: Porei em5cf. Catecismo da Igreja Catlica (CIC) pargrafos 734-736.6cf. Compndio do Catecismo da Igreja Catlica n. 389-390; CIC 1832.10 10. vs o meu esprito e vivereis (cf. Ez 37, 6). A vida que recebemos atravsdo Esprito Santo no foi merecida por ns, mas puro presente de Deus,e por isso mesmo chamado de dom. Quantos e quais so estes dons? A primeira pista que Deus nos deu veio bela boca do Profeta Isaas: "Um renovo sair do tronco de Jess, e um rebento brotar de suas razes. Sobre ele repousar o Esprito do Senhor, Esprito de sabedoria e de entendimento, Esprito de prudncia e de coragem, Esprito de cincia e de temor ao Senhor. (Sua alegria se encontrar no temor ao Senhor.) Ele no julgar pelas aparncias, e no decidir pelo que ouvir dizer" (Is 11, 1-3). Por isso a Igreja ensina que so sete os dons do Esprito Santo:sabedoria, inteligncia, conselho, fortaleza, cincia, piedade e temor deDeus7.Entretanto encontramos o seguinte ensino de S. Paulo aoscorntios: "A respeito dos dons espirituais, irmos, no quero que vivais naignorncia. Sabeis que, quando reis pagos, vos deixveis levar, conformevossas tendncias, aos dolos mudos. Por isso, eu vos declaro: ningum,falando sob a ao divina, pode dizer: Jesus seja maldito e ningum podedizer: Jesus o Senhor, seno sob a ao do Esprito Santo. H diversidadede dons, mas um s Esprito. Os ministrios so diversos, mas um s oSenhor. H tambm diversas operaes, mas o mesmo Deus que operatudo em todos. A cada um dada a manifestao do Esprito paraproveito comum. A um dada pelo Esprito uma palavra de sabedoria; aoutro, uma palavra de cincia, por esse mesmo Esprito; a outro, a f, pelomesmo Esprito; a outro, a graa de curar as doenas, no mesmo Esprito;a outro, o dom de milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimentodos espritos; a outro, a variedade de lnguas; a outro, por fim, ainterpretao das lnguas. Mas um e o mesmo Esprito distribui todosestes dons, repartindo a cada um como lhe apraz" (1Cor 12,1-11). Pode-se observar que existe uma notvel diferena entre o que dizSo Paulo e o que diz o Profeta Isaas sobre os dons do Esprito Santo.Porm, estaramos cometendo um grave erro se achssemos que estes doisservos de Deus esto em contradio. Alis, devemos lembrar que aEscritura no se contradiz, pois Palavra de Deus.7cf. CIC 1831.11 11. Esta aparente contradio se resolve pelo fato de que cada um estfalando sobre dons de categorias diferentes. A Igreja ensina que os dons ougraas do Esprito Santo se dividem em:a) graa santificante ou habitual: A graa santificante um domhabitual, uma disposio estvel e sobrenatural para aperfeioar a prpriaalma e torn-la capaz de viver com Deus, agir por seu amor8. Este tipo degraa trata-se da vida infundida pelo Esprito Santo em nossa alma, paracur-la do pecado e santific-la e recebida no Batismo9.b) graa atual: designa as intervenes divinas, quer na origem daconverso, quer no decorrer da obra da santificao (Ibidem). A conversode S. Paulo que se deu no caminho para Damasco por interveno deCristo um exemplo deste tipo de graa (cf. At 9,1-8).c) graa sacramental: so dons que o Esprito nos concede, paranos sociar sua obra, para nos tornar capazes de colaborar com a salvaodos outros e com o crescimento do corpo de Cristo, a Igreja. So os donsprprios dos diferentes sacramentos10.d) graa especial ou carisma: As graas especiais, chamadastambm carismas, segundo a palavra grega empregada por S. Paulo e quesignifica favor, dom gratuito, benefcio. Seja qual for seu carter, s vezesextraordinrio, como o dom dos milagres ou das lnguas, oscarismas se ordenam graa santificante e tm como meta o bemcomum da Igreja. Acham-se a servio da caridade, que edifica a Igreja.Entre as graas especiais, convm mencionar as graas de estado, queacompanham o exerccio das responsabilidades da vida crist e dosministrios no seio da Igreja11.Agora ficou simples resolver a aparente divergncia entre o ProfetaIsaas e o Apstolo Paulo. O primeiro est tratando dos dons que dizemrespeito graa santificante ou habitual, aquela que recebemos nobatismo e nos demais sacramentos. O segundo refere-se aos donscarismticos que dizem respeito graa especial, tambm chamada graapessoal.8 cf. CIC n. 2000.9Ibidem n. 1999.10 Ibidem n. 2003.11 Ibidem n. 2003-2004. 12 12. Captulo 2 O Dom das LnguasA Igreja ensina que o dom de lnguas faz parte dos dons carismticos, isto , dos dons especiais e particulares que so extraordinrios, pois os dons carismticos ordinrios so aqueles que dizem respeitoao exerccio das responsabilidades da vida crist e dos ministrios no seioda Igreja12, como por exemplo o ministrio dos aclitos, diconos,presbteros e bispos. Este ensino do Novo Catecismo est em plena continuidade com ocatecismo anterior, onde encontramos: Alm das graas [santificantes,habituais e sacramentais], que tornam os homens justos e agradveis aDeus, so tambm comuns a todos as graas gratuitas [gratis dadas ouespeciais], entre as quais figuram a cincia, a profecia, o dom de lnguas ede milagres, e outras da mesma natureza (cf. 1 Cor 12,8)13. Logo pretender transformar o que extraordinrio em ordinrio, ouespecial em comum contrapor-se vontade e ordem divinas.O Texto Bblico fala de lnguas estranhas ou estrangeiras?Algumas pessoas defendem a tese de que o dom de lnguas umdom onde as pessoas falam lnguas estranhas, isto , lnguasdesconhecidas do homem, lnguas no deste mundo. Fundamentam estatese principalmente no seguinte trecho da Escritura: "E quando Paulo lhesimps as mos, o Esprito Santo desceu sobre eles, e falavam em lnguasestranhas e profetizavam" (At 19,6). Porm, a expresso lnguas estranhas estranha ao texto originalque traz to somente lnguas.12 cf. CIC 2004; 1Tm 4,14.13 Catecismo Romano ou Tridentino 1-10-25. 13 13. Atravs de uma pequena anlise no texto de At 19,6 nas versesbblicas mais conhecidas podemos identificar trs linhas de traduo:1) O texto no qualifica as lnguas faladas, isto , se eramestranhas ou estrangeiras. Seguem essa linha as seguintes versesbblicas: Nova Vulgata (NV), Bblia de Jerusalm (BJ), Bblia do Peregrino(BP), Bblia Sagrada da CNBB (BSC), Bblia Sagrada Vozes (BSV), BbliaSagrada de Aparecida (BSA), Bblia Sagrada Edio Pastoral (BEP), BbliaSagrada Palavra Viva (BPV), Traduo Ecumnica da Bblia (TEB),Almeida Revista e Corrigida (ARC), Almeida Corrigida e Fiel (ACF), AlmeidaEdio Contempornea (AEC), Nova Verso Internacional (NIV); e Traduodo Novo Mundo (TNM). 2) O texto qualifica as lnguas como diversas, no sentido de vriosidiomas humanos. Seguem esta linha a Vulgata de Matos Soares (VMS),Vulgata de Antonio Pereira de Figueiredo (VPF), Vulgata de Dom Vicente(VDV), Bblia Mensagem de Deus (BMD). 3) O texto qualifica as lnguas faladas como estranhas, no sentidode no conhecida dos homens. Segue essa linha as verses Bblia SagradaAve-Maria (BAM), Bblia na Linguagem de Hoje (BLH), Nova Traduo naLinguagem de Hoje (NTLH).A maioria dos biblicistas concordam que as melhores tradues eportanto, as mais fiis ao texto original se encontram nas linhas denmeros 1 e 2, porque so baseadas no texto latino da Vulgata, traduofeita por S. Jernimo no sc. IV a partir de manuscritos originais que noesto mais disponveis hoje ou porque so tradues realizadas porespecialistas a partir dos manuscritos que chegaram at ns. Sendo asverses apontadas no nmero 2 consideradas pelos especialistas asmelhores. Logo, segundo os melhores hermeneutas bblicos, o textosagrado estaria se referindo a lnguas diversas e no lnguasdesconhecidas dos homens ou de outro mundo.Porm, mesmo que algum adotasse como oficial a traduo quefala de "lnguas estranhas", bom recordar que o termo "estranho" podeser perfeitamente traduzido como "estrangeiro", como demonstram osdicionrios de lngua portuguesa (Aurlio, Ruth Rocha, Melhoramentos,Silveira Bueno). O mesmo aponta dicionrios de idiomas estrangeiros: a)Espanhol: extrao extranjero; b) Italiano: estraneo straniero.14 14. De qualquer forma uma leitura atenta do texto sagrado poderesclarecer facilmente a questo. A primeira referncia que encontramos naSagrada Escritura quanto ao carisma do dom de lnguas est no livro dosAtos dos Apstolos: Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do cu um rudo, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes ento uma espcie de lnguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Esprito Santo e comearam a falar em lnguas, conforme o Esprito Santo lhes concedia que falassem. Achavam-se ento em Jerusalm judeus piedosos de todas as naes que h debaixo do cu. Ouvindo aquele rudo, reuniu-se muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua prpria lngua. Profundamente impressionados, manifestavam a sua admirao: No so, porventura, galileus todos estes que falam? Como ento todos ns os ouvimos falar, cada um em nossa prpria lngua materna? Partos, medos, elamitas; os que habitam a Macednia, a Judia, a Capadcia, o Ponto, a sia, a Frgia, a Panflia, o Egito e as provncias da Lbia prximas a Cirene; peregrinos romanos, judeus ou proslitos, cretenses e rabes; ouvimo-los publicar em nossas lnguas as maravilhas de Deus! Estavam, pois, todos atnitos e, sem saber o que pensar, perguntavam uns aos outros: Que significam estas coisas? (At 2,1-12). Aqui o testemunho da Escritura clarssimo: no dia de Pentecostesos apstolos e os discpulos de Jesus por obra do Esprito Santo falavamem lnguas, isto , nas lnguas dos estrangeiros, de forma que podiam serentendidos por eles.Dizem ainda alguns que os apstolos estariam falando em suaprpria lngua e sendo entendidos por pessoas de outras lnguas, comonuma espcie de traduo simultnea. Esta tese completamente desfeitapelo maior Doutor da Igreja, Santo Tomas de Aquino ao comentar 1Cor14,1-4: "[...] o Senhor deu-lhes o dom de lnguas, para que a todos ensinassem, no de modo que falando uma s lngua fossem entendidos por todos, como alguns dizem, mas sim, bem 15 15. literalmente, de maneira que nas lnguas dos diversos povos, falassem as de todos. [...]"14. Voltemos ao texto de At 19, 6. Dissemos que aqui o texto originalno traz lnguas estranhas, mas somente lnguas, como em At 2,4. Istoparece indicar que os doze homens (cf. At 19,7) que falavam em lnguasdepois que Paulo lhes imps as mos (cf. At 19,6), falam em lnguasestrangeiras. Talvez a soluo desta questo esteja na seguinte profecia doProfeta Zacarias: "A palavra do Senhor dos exrcitos foi-me dirigida nestes termos: eis o que diz o Senhor, dos exrcitos: o jejum do sexto ms como tambm os do quinto e do nono sero doravante para Jud dias de regozijo e de alegria, dias de festa. Eis o que diz o Senhor dos exrcitos: viro ainda muitos povos e habitantes de grandes cidades: os habitantes de uma cidade convidaro os habitantes de outra, dizendo: Vamos e roguemos ao Senhor! Busquemos o Senhor dos exrcitos! - Tambm eu irei. - Viro muitos povos e poderosas naes buscar o Senhor dos exrcitos em Jerusalm, e implorar a face do Senhor. Eis o que diz o Senhor dos exrcitos: naquele dia dez homens de todas as lnguas das naes tomaro um judeu pela orla de seu manto, e diro: queremos ir convosco, porque soubemos que Deus est convosco" (Zc 8,18-23). O Profeta anuncia que Deus ir reunir as pessoas de todas aslnguas e que este dia ter incio em Jerusalm. Ora, foi exatamente emJerusalm que o Esprito Santo no dia de Pentecostes deu o dom de falarem lnguas estrangeiras aos apstolos e discpulos. Notem que o profetadiz que por este dom dez homens de todas as lnguas das naes tomaroum judeu pela orla de seu manto, e diro: queremos ir convosco, porquesoubemos que Deus est convosco. No interessante que este nmero seassemelha ao nmero de doze discpulos que fez So Paulo (cf. At 19,7)? Outro detalhe que h de se notar que quando o Apstolo enumeraos dons carismticos, refere-se ao dom de lnguas como variedade delnguas (cf. 1Cor 12,10), isto , no sentido das vrias lnguas existentes. Diante de tantas evidncias, fica praticamente impossvel sustentarque Atos 19,6 o texto bblico se refira a lnguas estranhas, desconhecidas14Comentrio de Santo Toms de Aquino Primeira Carta aos Corntios. Disponvel emhttp://www.veritatis.com.br/article/4974. 16 16. do homem. Tudo aponta que o texto trata de lnguas estrangeiras,variedade de idiomas, fazendo uma ponte direta para Atos 2,4. Para termos certeza se estamos indo na direo certa, devemosrecorrer aos Santos e Doutores da Igreja. Afinal, so eles os maisautorizados intrpretes da Sagrada Escritura.O Dom de Lnguas na Doutrina dos Santos e Doutores da IgrejaOs Santos e Doutores da Igreja no creram e nem sustentaramuma doutrina diferente daquela que apresentamos at aqui. Todos dosgrifos nas citaes abaixo so meus:Santo Ireneu (sc. II) um dos mais antigos Pais da Igreja sobre odom de lnguas assim ensinou:" este Esprito que Davi pediu para o gnero humano, ao dizer:Confirma-me pelo teu Esprito que dirige (cf. Sl 51,14). E ainda esteEsprito que Lucas nos diz ter descido, depois da ascenso doSenhor, sobre os discpulos no dia de Pentecostes, com o poder defalar em todas as lnguas dos povos e abrir-lhes um novotestamento. Eis por que, na harmonia de todas as lnguas,cantavam hinos a Deus, enquanto o Esprito Santo reunia naunidade as raas diferentes e oferecia ao Pai as primcias detodas as naes. Foi por essa razo que o Senhor prometera enviar oParclito que nos faria dignos de Deus. Assim como a farinha secano pode, sem gua, tornar-se uma s massa, nem um s po,tambm ns no poderamos tornar um s em Cristo, sem a guaque vem do cu."15.Por isso o Apstolo [Paulo] diz: Falamos de sabedoria entre osperfeitos, chamando perfeitos os que receberam o Esprito de Deus eque falam todas as lnguas graas a este Esprito, como ele faziae como ainda ouvimos muitos irmos na Igreja, que possuem ocarisma proftico e que, pelo Esprito, falam em todas as lnguas,revelam as coisas escondidas dos homens para sua utilidade eexpem os mistrios de Deus16.15cf. Contra as Heresias 3,17,2.16 Ibidem 5,6,1.17 17. So Joo Crisstomo (sc. IV): "Ele desceu sobre aqueles que o Senhor Jesus havia reunido porque creram nEle. Ele desceu sobre a Igreja. Certamente um dom pessoal, que cada um recebeu em particular, mas porque estavam unidos, em comunho - e justamente no dia de Pentecostes estavam todos reunidos no mesmo lugar (At 2, 1) - e sofreram uma transformao radical: repentinamente tomaram conscincia da Palavra de Deus em seu seio e puseram-se a comunicar em todas as lnguas as maravilhas de Deus. Donde o discurso de Pedro anunciando com audcia a Ressurreio do Crucificado queles mesmos que O crucificaram"17. Um autor africano (sc. IV): Falavam todas as lnguas. Assim aprouve a Deus manifestar a presena do Esprito Santo: fazer com que falassem todas as lnguas aqueles que o tivessem recebido. Porquanto preciso compreender, carssimos irmos, que o amor infundido em nossos coraes por meio do Esprito Santo. Pela caridade que a Igreja teria de congregar-se em todo o mundo. Por isso o que podia, ento, uma pessoa ao receber o Esprito Santo isto , falar todas as lnguas pode agora a prpria Igreja, j unida e congregada pelo Esprito Santo. por isso que fala todas as lnguas. [...] Com razo, pois, quando se ouviu que falavam todas as lnguas, alguns disseram: Esto bbados de vinho doce (At 2, 13). De fato, j se tinham tornado odres novos, renovados pela graa da santidade a fim de que, cheios de vinho novo, isto , do Esprito Santo, fermentassem, falando todas as lnguas e prefigurassem, por aquele milagre evidente, a Igreja catlica, que haveria de estar no meio das lnguas de todos os povos.18. Santo Agostinho (sc. IV-V): Depois de ter passado quarenta dias com seus discpulos, subiu ao cu o Senhor ressuscitado. E no qinquagsimo dia, que hoje17 Homilia sobre 1 Corntios.18 Sermo 8, 1-3. Patrologia Latina 65, 743-744. Disponvel em http://www.osb.org.br/lectio_04junho06.html.18 18. celebramos, enviou o Esprito Santo, como est escrito: De repente,veio do cu um rudo semelhante ao soprar de impetuoso vendaval.E apareceram umas como lnguas de fogo, que se distriburam eforam pousar sobre cada um deles. E comearam a falar emoutras lnguas, conforme o Esprito os impelia a falarem (At2,2.3.4).Aquele vento purificava os coraes da palha da carne. Aquele fogoconsumia o fogo da velha concupiscncia. Aquelas lnguas faladaspelos que estavam repletos do Esprito Santo prefiguravam afutura Igreja, que haveria de estar entre as lnguas de todosos povos. De fato, aps o dilvio, a impia soberba dos homensconstruiu uma torre elevada contra o Senhor, e o gnero humanomereceu ser dividido em lnguas diversas, comeando cada povoa falar sua lngua para no ser entendido pelos outros povos. Agora,ao invs, a humilde piedade dos fiis recolheu a diversidadedestas lnguas na unidade da Igreja, onde a caridade reuniuaquilo que a discrdia tinha espalhado. E os membros dispersos docorpo humano, como membros de um nico corpo, voltam a serunificados na nica cabea que Cristo, fundidos na unidadede seu santo corpo pelo fogo do amor.[...] Vs, porm, irmos, membros do corpo de Cristo, germes deunidade, filhos da paz, celebrai este dia alegres, celebrai-o seguros.Porque em vs se realiza aquilo que era prefigurado nos dias em queveio o Esprito Santo. Porque, como outrora quem recebia o EspritoSanto, embora fosse um homem s, falava todas as lnguas,assim agora fala todas as lnguas, atravs de todos os povos, aprpria unidade. Estabelecidos nela, possuis o Esprito Santo, os queno estais separados por nenhum cisma da Igreja de Cristo quefala todas as lnguas.19.Quando desceu o Esprito Santo sobre os discpulos, estes falaramas lnguas de todos e por todos foram entendidos. As lnguasdivididas se uniram em uma. Logo, se todavia ensinam e so gentis, conveniente ter diversas lnguas. Dizem ter uma lngua? Vejam aIgreja, porque em meio da diversidade de lnguas de carne, existeuma s na f do corao.20.19Santo Agostinho, Sermo 271. Disponvel em http://www.osb.org.br/lectio14.htm.20Ennarrationes in Psalmos, 2,54,BAC, Madrid, 1965, p.344. Texto retirado do LivroCarismas Coleo Paulo Apstolo vol.3 RCC. Pg 87.19 19. So Gregrio Magno (sc. V):Os que tentaram edificar uma torre contra os desgnios de Deus,perderam o uso da mesma lngua, e nos que temiam humildemente aDeus foram unidas todas as lnguas da terra. Neste dia ahumildade recebeu por prmio esta graa; na construo da torre, asoberba recebeu como castigo a confuso.21.A apostolicidade deste ensinamento se comprova pelo fato de quetambm as igrejas catlicas de rito bizantino tambm o repete:"Tambm em Babel as lnguas foram divididas! Exatamente! O quese passa no Pentecostes exatamente o contrrio do que sepassou em Babel. Em Babel, por orgulho, foram as lnguas doshomens que se dividiram, de modo que eles no se compreendiammais e foram, por isso, divididos, separados, dispersos. EmPentecostes o dom de Deus que se divide para estender-se acada um e reuni-los a todos: a partir desse momento os homensque receberam o Esprito Santo anunciam todos a mesmapalavra, a Palavra de Deus, e fazem-se compreender por todos oshomens pois falam todas as lnguas. As barreiras lingsticas soultrapassadas pela Palavra do Deus nico, tornada compreensvel atodos pelo dom das lnguas. o que nos explica o kondakion dePentecostes"22."Ele desceu sobre aqueles que o Senhor Jesus havia reunido porquecreram nEle. Ele desceu sobre a Igreja. Certamente um dom pessoal,que cada um recebeu em particular, mas porque estavam unidos, emcomunho - e justamente no dia de Pentecostes estavam todosreunidos no mesmo lugar (At 2, 1) - e sofreram uma transformaoradical: repentinamente tomaram conscincia da Palavra de Deusem seu seio e puseram-se a comunicar em todas as lnguas asmaravilhas de Deus. Donde o discurso de Pedro anunciando comaudcia a Ressurreio do Crucificado queles mesmos que Ocrucificaram"23.21 Homilia sobre os Evangelhos, livro II, 10(305) sobre So Joo, 14,23-31, ObrasCompletas. BAC, Madrid, 1.958, p.686 - texto retirado do Livro Carismas Coleo PauloApstolo vol.3-RCC. Editora Santurio. Pg 85-86.22 Troprio de Pentecostes, Tom. 8. Disponvel emhttp://www.ecclesia.com.br/ekklisia/biblioteca/liturgia/a_festa_de_pentecostes.htm.23 Kondakion de Pentecostes, antigo canto catlico oriental. Ibidem nota 19.20 20. Santo Toms de Aquino (sc. XIII), o Doutor Anglico, o mais santodos doutores e o mais doutor dos santos, cuja doutrina foi recomendadapor tantos Papas, deixou-nos o seguinte ensino sobre o dom carismticoextraordinrio das lnguas: os primeiros discpulos de Cristo foram escolhidos para percorrerem o mundo pregando a sua f a todos, como se l no Evangelho de Mateus: Ide e ensinai a todos os povos. Ora, no era conveniente que aqueles que eram enviados para instruir os outros, precisassem ser instrudos por eles sobre a maneira de lhes falar ou de compreender sua linguagem. Sobretudo por que estes enviados eram da mesma nao, da Judia como havia predito Isaas: Aqueles que sairo impetuosamente de Jac encheram com sua raa a face da terra. Alm disso, os discpulos enviados eram pobres e sem poder; eles no teriam encontrado facilmente, desde o comeo, intrpretes fiis para traduzir suas palavras ou lhes explicar as dos outros, principalmente por terem sido enviados a povos infiis. Por esta razo, era necessrio que Deus lhes viesse em socorro com o dom das lnguas, a fim de que, como se havia introduzido a diversidade de lnguas, quando os homens comearam a dar-se idolatria, como se l no livro de Gnesis, assim se desse o remdio a essa diversidade, quando tivessem que ser convertidos ao culto de um s Deus. [...] Uma Glosa de Gregrio [Papa] assim comenta: O Esprito Santo apareceu sobre os discpulos em lnguas de fogo e lhes deu o conhecimento de todas as lnguas24. Porquanto o dom de lnguas devemos saber que como na Igreja primitiva eram poucos os consagrados para ensinar pelo mundo a f de Cristo, a fim de que mais facilmente e a muitos anunciassem a palavra de Deus, o Senhor deu-lhes o dom de lnguas, para que a todos ensinassem, no de modo que falando uma s lngua fossem entendidos por todos, como alguns dizem, mas sim, bem literalmente, de maneira que nas lnguas dos diversos povos, falassem as de todos. Pelo qual disse o Apstolo: Dou graas a Deus porque falo as lnguas de todos vs (1Co 14,18). E em Atos 2,4, se disse: Falavam em vrias lnguas, etc. E na Igreja primitiva muitos alcanaram de Deus este dom. [...] Pois os corntios, que eram de indiscreta curiosidade, preferiam esse dom que o da profecia. E aqui por falar em lngua, o Apstolo entende que em lngua24Summa Teolgica 2-2. Q176. Disponvel em http://hjg.com.ar/sumat/c/c176.html.Traduzido por Rodrigo Santana.21 21. desconhecida e no explicada: como se algum falasse em lngua teutnica a um gals, sem explic-la, esse tal fala em lngua.25. A Igreja desde os tempos mais remotos sempre ensinou que o domcarismtico de falar em lnguas, consiste no falar em lnguas estrangeirase no estranhas ou ininteligveis. Este ensinamento perene mudou depoisdo Conclio Vaticano II?O Magistrio recente da Igreja sobre o Dom de Lnguas O Magistrio Vivo da Igreja ao contrrio do que alguns pensam,durante o Conclio Ecumnico do Vaticano II e mesmo depois dele, no seafastou, mas, reafirmou a doutrina tradicional sobre o dom de lnguas: O Esprito Santo [...] no dia de Pentecostes desceu sobre os discpulos para permanecer eternamente com eles; que a Igreja foi publicamente manifestada ante a multido; que pela pregao se iniciou a difuso do Evangelho entre as naes; que enfim foi prefigurada a unio dos povos na catolicidade da f mediante a Igreja da Nova Aliana que fala todas as lnguas, compreende e abraa na caridade todos os idiomas e assim supera a disperso de Babel26. "[...] luz da f, a comunicao humana deve ser considerada como um percurso de Babel a Pentecostes, ou seja, o empenho, pessoal e social, de superar o colapso da comunicao (cf. Gn11,4-8) abrindo-se ao dom de lnguas (cf. At 2,5-11), comunicao restabelecida pela fora do Esprito, enviado pelo Filho."27. "Alm destas razes, a Igreja tem motivos prprios para se interessar dos meios de comunicao social. Considerada luz da f, a histria da comunicao humana pode ser vista como uma longa viagem desde Babel, lugar e smbolo da decadncia da comunicao (cf. Gn 11,4-8), at ao Pentecostes e ao dom das lnguas (cf. Act 2,5-11) a comunicao restabelecida pelo poder do Esprito transmitido pelo seu Filho. Enviada ao25 Ibidem nota 11. Comentrio de 1Cor 14,1-4.26cf. Conclio Vaticano II, Decreto Ad Gentes n. 4.27cf. Compndio da Doutrina Social da Igreja, n. 562. 22 22. mundo para anunciar a boa nova (cf. Mt 28,19-20; Mc 16,15), a Igreja tem a misso de proclamar o Evangelho at ao fim dos tempos. [...]"28. "No dia de Pentecostes, teve a sua mais exata e direta confirmao aquilo que fora anunciado por Cristo no discurso da despedida; em particular, o anncio de que estamos a tratar O Consolador [...] convencer o mundo quanto ao pecado. Nesse dia, sobre os Apstolos congregados no mesmo Cenculo em orao, juntamente com Maria, Me de Jesus, desceu o Esprito Santo prometido, como lemos nos Atos dos Apstolos: Todos ficaram cheios de Esprito Santo e comearam a falar em outras lnguas, segundo o Esprito lhes concedia que se exprimissem (cf. At 2,4) reconduzindo desse modo unidade as raas dispersas e oferecendo ao Pai as primcias de todas as naes29. [...] E no dia de Pentecostes esse anncio realiza-se com toda a exatido. Agindo sob o influxo do Esprito Santo, recebido pelos Apstolos quando estavam em orao no Cenculo, So Pedro apresenta-se e fala diante de uma multido de pessoas de diferentes lnguas, reunidas para a festa.30. No foi diferente o Magistrio dos ltimos Papas da Santa IgrejaCatlica: [...] no dia de Pentecostes [...] os Apstolos reunidos no cenculo de Jerusalm ficaram todos cheios do Esprito Santo (At 2, 4). Isto deu-se de forma invisvel, mas estava simultaneamente unido a um sinal expressivo. Era o sinal do vento impetuoso e do fogo: ...veio do cu um rudo, como se soprasse um vento... e encheu toda a casa onde estavam (At 2, 2). E, ao mesmo tempo, apareceram-lhes uma espcie de lnguas de fogo, que se repartiram e pousaram sobre cada um deles (At 2, 3). Cheios do Esprito Santo... comearam a falar em outras lnguas conforme o Esprito lhes concedia que se exprimissem(At 2, 4).28 PONTIFCIO CONSELHO PARA AS COMUNICAES SOCIAIS, tica nas ComunicaesSociais n.3. Em 04 de julho de 2000.29 cf. Sto. Ireneu de Lio em Contra as Heresias III, 17,2.30 Papa Joo Paulo II, Dominum et vivificantem n.30. 23 23. 2. A Igreja nascia no dom das lnguas. As lnguas significavama multiplicidade e variedade dos povos, que ao longo dossculos deviam entrar na mesma comunidade da Igreja de Cristo.Como ento todos ns os ouvimos falar, cada um em nossa lnguamaterna? (At 2, 8), perguntavam os peregrinos presentes diante docenculo, vindos para a festa em Jerusalm. Os Atos dos Apstolosdescrevem nominalmente os habitantes dos stios que tomaramparte diretamente no nascimento da Igreja pelo sopro do EspritoSanto. Eis que todos: ouvimo-los anunciar em nossas lnguas asmaravilhas de Deus (At 2, 11).31."A festa dos santos Apstolos Pedro e Paulo ao mesmo tempo umagrata memria das grandes testemunhas de Jesus Cristo e umasolene confisso em favor da Igreja una, santa, catlica e apostlica. antes de tudo uma festa da catolicidade. sinal do Pentecostesa nova comunidade que fala em todas as lnguas e une todos ospovos num nico povo, numa famlia de Deus e este sinal tornou-se realidade"32."[...] As imagens que So Lucas usa para indicar o irromper doEsprito Santo o vento e o fogo recordam o Sinai, onde Deus se tinharevelado ao povo de Israel e lhe tinha concedido a sua aliana (cf. x19, 3ss). A festa do Sinai, que Israel celebrava cinqenta dias depoisda Pscoa, era a festa do Pacto. Falando de lnguas de fogo (cf. Act2, 3), So Lucas quer representar o Pentecostes como um novoSinai, como a festa do novo Pacto, na qual a Aliana com Israel sealarga a todos os povos da Terra. A Igreja catlica e missionriadesde a sua origem. A universalidade da salvao significativamente evidenciada pelo elenco das numerosas etniasa que pertencem todos os que ouvem o primeiro anncio dosApstolos (cf. Act 2, 9-11).O Povo de Deus, que tinha encontrado no Sinai a sua primeiraconfigurao, hoje ampliado a ponto de no conhecer qualquerfronteira de raa, cultura, espao ou tempo. Diferentemente do quetinha acontecido com a torre de Babel (cf. Jo 11, 1-9), quando oshomens, intencionados a construir com as suas mos um caminho31 Papa Joo Paulo II, Homilia na Solenidade de Pentecostes. Em 7 de Junho de 1992,32 Papa Bento XVI, Homilia na solenidade dos Santos Apstolos Pedro e Paulo, na Quarta-feira dia 29 de Junho de 2005.24 24. para o cu, tinham acabado por destruir a sua prpria capacidadede se compreenderem reciprocamente. No Pentecostes o Esprito,com o dom das lnguas, mostra que a sua presena une etransforma a confuso em comunho. O orgulho e o egosmo dohomem geram sempre divises, erguem muros de indiferena, dedio e de violncia.O Esprito Santo, ao contrrio, torna os coraes capazes decompreender as lnguas de todos, porque restabelece a ponte dacomunicao autntica entre a Terra e o Cu. O Esprito Santo Amor."33."A Igreja catlica, porque o Evangelho se destina a todos os povose por isso, j desde o incio, o Esprito Santo faz com que ela faletodas as lnguas"34.Como era de se esperar, mesmo depois do Conclio Vaticano II, adoutrina da Igreja sobre o dom de lnguas continua a mesma. Afinal, aIgreja possuiu um corpo doutrinrio perene.O dom de lnguas no TanquereyPor Tanquerey, conhecido o renomado Compndio de TeologiaAsctica e Mstica de Adolph Tanquerey, riqussimo em contedo efirmssimo na sua doutrina35. Nele encontramos a seguinte doutrina sobreo dom de lnguas:1514. As revelaes, de que acabamos de falar, so dadassobretudo para utilidade pessoal; as graas gratuitamente dadasso no principalmente para a utilidade dos outros. So,efetivamente, dons gratuitos extraordinrios e transitrios,conferidos diretamente para bem dos outros, posto que podemindiretamente servir tambm para santificao pessoal. So Paulomenciona-os com o nome de carismas; na Epstola aos Corntiosdistingue nove, que provm todos do mesmo Esprito:33 Papa Bento XVI, Homilia na Solenidade de Pentecostes. 4 de Junho de 2006.34 Papa Bento XVI, REGINA CAELI, Solenidade de Pentecostes, no Domingo de 27 de Maiode 2007.35 TANQUERY, Adolf. Compndio de Teologia Asctica e Mstica. Anpolis: AMEM AlianaMissionria Eucarstica Mariana, 2007. Prefcio Edio Brasileira, pg [15]. 25 25. 1515. [...] 8) O dom das lnguas, que, em So Paulo, o dom de orar em lngua estranha com certo sentimento de exaltao; segundo os telogos o dom de falar vrias lnguas36. Primeiro devemos notar que o Tanquerey afirma que os carismasso extraordinrios e transitrios, conforme vimos antes atravs doCatecismo da Igreja. Quando refere-se especificamente sobre o dom delnguas, pontua que no entendimento dos telogos (conforme vimos nadoutrina dos Santos e Doutores da Igreja) o falar lngua estranha que sepode entender nos textos paulinos o falar em vrias lnguas.36 Ibidem, pg. 785.26 26. Captulo 3O falso dom de lnguasP ara discernirmos se os fenmenos msticos so de origem divina, oudiablica, quais normas deveramos usar? As manifestaes deorigem demonaca so marcadas pela soberba, vaidade e peloespetculo. J as de origem divina so marcadas pela beleza e harmoniacom "Depsito da F". Tudo o que no coincide com este Depsito suspeito de interferncias indbitas.O Diabo trabalha sem descanso para ridicularizar a obra de Deus,principalmente com falsificaes. Misteriosamente Deus permite que eleinterfira mesmo em assemblias onde todos esto reunidos para louvar eadorar a Deus. Citaremos alguns testemunhos da Sagrada Escritura a esterespeito: Em J 1,6 lemos que "um dia em que os filhos de Deus seapresentaram diante do Senhor, veio tambm Satans entre eles" (J1,6). No episdio da aliana entre os Reis Acabe (de Israel) e Jeosaf (deJud) para atacar o Rei Ramot de Gallad, Deus permitiu que um espritoenganador se colocasse na boca dos profetas de Israel: Miquias replicou: Ouve o orculo do Senhor: Eu, vi o Senhor sentado no seu trono e todo o exrcito dos cus ao redor dele, direita e esquerda. O Senhor disse: Quem seduzir Acab, para que ele suba e perea em Ramot de Galaad? Um disse uma coisa e outro, outra. Ento um esprito adiantou-se e apresentou-se diante do Senhor, dizendo: Eu irei seduzi-lo. O Senhor perguntou: De que modo? Ele respondeu: Irei e serei um esprito de mentira na boca de seus profetas. - isto, replicou o Senhor. Conseguirs seduzi-lo. Vai e faze como disseste. O Senhor ps um esprito de mentira na boca de todos os profetas aqui presentes, mas a tua perda que o Senhor decretou (1Rs 22,19-23 ; ver tambm 2Cr 18, 21-22).27 27. necessrio dizer que nem toda interferncia indbita origemdemonaca, mas pode ser tambm meramente humana. Muitas vezesaqueles que se dizem guiados por Deus e que fazem crer aos outros queesto anunciando orculos do prprio Deus, esto na verdade anunciandoto somente frutos do seu prprio imaginrio e vontade. Disto tambm aSagrada Escritura nos d testemunho:Entre os profetas samaritanos vi absurdos: profetizaram emnome de Baal e desencaminharam meu povo de Israel. Mas, entreos profetas de Jerusalm vejo coisas hediondas: adultrio ehipocrisia. Encorajam os maus, para que nenhum se converta damaldade. A meus olhos so todos iguais a Sodoma e seuscongneres semelhantes a Gomorra. [...] Eis o que diz o Senhor dosexrcitos: no escuteis os profetas que vos transmitem vosorculos; so vises do prprio esprito que vos divulgam, eno as palavras do Senhor.No cessam de proclamar aos que me desprezam: Orculo doSenhor: tudo ir bem para vs! e aos que seguem, obstinadamente,as tendncias do corao dizem ainda: Nada de mal vos acontecer.Mas qual deles assistiu deliberao do Senhor? Quem o viu, e lheescutou a palavra? Quem a ouviu e lhe prestou ateno?[...] No enviei tais profetas: so eles que correm; nem jamaislhes falei; e, no entanto, proferiram orculos. Houvessem elesassistido minha deliberao, e seriam minhas as palavras quehaveriam de proferir, fazendo que meu povo renunciasse perversidade de seu procedimento.[...] Ouo o que dizem os profetas que proferem em meu nomefalsos orculos. Tive um sonho. Tive um sonho! Quanto tempo vaidurar isso? Julgam esses profetas, ao proferirem mentiras e asimposturas de seus coraes, que iro, pelos sonhos que contamuns aos outros, tornar meu nome esquecido do povo, assim comoaconteceu a seus pais, que esqueceram o meu nome por causa do deBaal?[...] Conte o profeta o sonho que tiver! Mas, a quem for dado ouvir-mea palavra, que fielmente a reproduza. Que vem fazer a palha com ogro? - orculo do Senhor.28 28. [...] Eis por que - orculo do Senhor - vou lanar-me contra os profetas que imitam minhas revelaes falando a outros. Vou pedir contas aos profetas, cujas lnguas no vacilam em proclamar: orculo do Senhor. Irei contra os profetas de sonhos enganadores que, ao narr-los, ludibriam com mentiras e fatuidade o meu povo, quando nem misso lhes outorguei, nem mandato algum, e de nenhuma valia so para esse povo - orculo do Senhor (Jr 23,13-32).Falso dom de lnguas no cristianismo primitivo Santo Ireneu em sua eminente obra Contra as Heresias relata queum sujeito de nome Marcos com o auxlio de demnios fazia mulheresincautas pensarem que estavam profetizando em nome de Deus: Ele [Marcos] d a entender que teria um demnio como assistente que o faz profetizar, a ele e a todas aquelas mulheres que julgar dignas de participar de sua Graa. [...] Ento ele repete algumas invocaes que arrebatam a infeliz seduzida e diz: Abre a boca, dize qualquer coisa e profetizars. E aquela excitada por estas palavras e sentindo ferver na alma a iluso de comear a profetizar e o corao pulsar mais forte do que de costume, anima-se e se pe a profetizar todas as tolices que lhe vm cabea, sem sentido e sem hesitar, justamente por ser inflamada por esprito vazio. [...] Quem manda maior e mais poderoso de quem mandado, porque aquele governa e este obedece. Se um Marcos qualquer ou outro do ordens, como costuma fazer nos seus jantares, toda essa gente brincando de orculos, ordenando uns aos outros profetizarem coisas que so do seu desejo, ento aquele que manda deve ser maior e mais poderoso do que o Esprito proftico, mesmo homem, o que impossvel. Mas os espritos que recebem ordem deles, que falam quando eles querem, so terrenos e fracos, temerrios e irreverentes, so enviados por Satans para seduzir e arruinar aos que no sabem guardar firmemente a f que receberam no princpio da Igreja37.37 cf. Contra as Heresias 1,13,3-4.29 29. Para Santo Ireneu, esses espritos que faziam as pessoas dizeremcoisas sem sentido e sem hesitar eram terrenos e fracos, temerrios eirreverentes [...] enviados por Satans para seduzir e arruinar. Eusbio, Bispo de Cesaria na Palestina e historiador da Igreja, emsua obra Histria Eclesistica (sc. IV) nos traz relatos de outro casosemelhante. No livro V da referida obra, ele transcreve o combate deApolinrio (sc II), Bispo de Hierpolis, contra a heresia de Montano,chamada montanista ou catafrgia. Diz o Bispo Apolinrio que:Recentemente eu estava em Ancira da Galcia e encontrei a Igrejalocal perturbada pela novidade, no da profecia, conforme elesdizem, mas antes da pseudo-profecia, como ser demonstrado. medida que pude, com o auxlio do Senhor, discutimos em todas asocasies a respeito deles e dos argumentos que apresentavam,durante vrios dias, em comunidade. Assim, a Igreja se alegrou efortificou na verdade; os adversrios foram na oportunidade batidose nossos inimigos se contristaram38. Que novidade era esta que confundiu a Igreja de Ancira naGalcia? Que embuste foi apresentado nesta Igreja como o legtimocarisma da profecia e que mereceu o combate do zeloso Bispo?Diz-se haver na Msia, nos limites da Frigia, uma aldeia chamadaArdabu e ali, em primeiro lugar, um dos novos crentes, chamadoMontano, quando Grato era procnsul da sia, deu acesso aoinimigo, levado pela ambio imoderada de ocupar os primeiroslugares. Como um possesso, em falso xtase, ps-se a falar em seusexcessos, a proferir palavras estranhas e a profetizar de formainteiramente oposta ao uso tradicional conservado pelaantiga tradio da Igreja39. Assim, como Santo Ireneu, Apolinrio (que era seu contemporneo)nos d mais um testemunho bem antigo, de que o proferir palavrasestranhas como se estivesse profetizando por Graa de Deus, naverdade obra de Satans e inteiramente oposta ao uso tradicionalconservado pela antiga tradio da Igreja. Continua Apolinrio:38 cf. Histria Eclesistica 5,16,4.39 cf. Histria Eclesistica 5,16,6. 30 30. Entre os ouvintes destes discursos corruptos, uns, no suportando essa espcie de energmeno, demonaco, possesso do esprito do erro, que perturbava as multides, censuravam-no e impediam-no de falar, lembrados da exposio do Senhor e da advertncia sobre a vigilncia acerca da vinda dos falsos profetas (Mt 7,17). Outros, ao invs, como que exaltados por causa do Esprito Santo e do carisma proftico [isto , pensando ser obra de Deus], sobretudo inchados de orgulho e esquecidos da exortao do Senhor, estimulavam o esprito insensato, lisonjeiro e sedutor do povo, encantados e enganados por ele a ponto de se tornar impossvel fazer com que se calasse. Por algum artifcio ou antes por tais malefcios, o diabo planejava a perdio dos que no lhe obedeciam e de modo indigno fazia-se cultuar por eles. Excitava e inflamava o esprito deles j entorpecido, longe da verdadeira f. Suscitou ainda duas mulheres, repletas de um esprito bastardo, que se puseram a falar insensatamente e a contratempo, de modo estranho, semelhante a ele [...]40.Origenes (sc. III), considerado o pai da cincia bblica, nos dtestemunho de seu combate contra o mesmo tipo de pretensa-profecia porcarisma do Esprito Santo: [...] a estas presunes [de se achar falando movido pelo Esprito Santo] eles [os falsos profetas] acrescentam termos desconhecidos, incoerentes, totalmente obscuros, cuja significao nenhum homem razovel seria capaz de descobrir por estarem por demais desprovidos de clareza e de sentido [...] Os profetas, segundo a vontade de Deus, disseram sem nenhum sentido oculto tudo o que se podia ser compreendido de imediato pelos ouvintes como til e proveitoso para a reforma dos costumes. Mas, tudo o que era mais misterioso e mais secreto, dependendo de contemplao que ultrapassa os ouvintes comuns, eles revelaram em formas de enigmas, alegorias, discursos obscuros, parbolas ou provrbios[...]41.40 cf. Histria Eclesistica 5,16,8-9.41 cf. Contra Celso 7,9-10. 31 31. Este o testemunho de alguns dos eminentes defensores daortodoxia dos primeiros sculos. E segundo o testemunho deles, oprofetizar ou falar em xtase ininteligvel no corresponde ao da Graade Deus que se d nos carismas. Cabe lembrar que as palavras deles, soum testemunho confivel, tanto pela sua antiguidade quanto pelo louvorque outros escritores e santos da Igreja lhe deram posteriormente. Devemos lembrar que vrios grupos herticos que viveram durantea Idade Mdia como os jansenistas (sc VIII), os profetas de Cevennol queviveram na Frana (sc XVI), os tembladores ou Shakers e os irvingites(sc XIX), todos eles foram adeptos da prtica do falar ininteligvel como sefosse dom do Esprito Santo. E ainda hoje essa prtica muito difundidaentre os protestantes pentecostais e neo-pentecostais. Portanto, se o embuste de Satans aconteceu no passado bemprovvel que acontea hoje, afinal este inimigo de Deus trabalhar para adanao dos homens at o fim dos tempos (cf. Lc 22,31). 32 32. Captulo 4Resolvendo as dificuldadesConforme demonstramos, no h fundamento na doutrina perene da Igreja para se afirmar que o dom carismtico de lnguas seja um falar ininteligvel. Provavelmente muita confuso se d por causa decertos pontos difceis de entender nas cartas paulinas. Por isso, devemosnos lembrar do alerta do primeiro Papa, So Pedro: "Nelas [nas cartas de S. Paulo] h algumas passagens difceis de entender, cujo sentidoos espritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a suaprpria runa, como o fazem tambm com as demais Escrituras" (cf. 2Pd 3,16). As lnguas mencionadas em todos os textos bblicos e no Magistrioda Igreja se referem ao dom carismtico de lnguas como idiomas e nolnguas desconhecidas ou estranhas. No Pentecostes est claro que aslnguas eram idiomas variados (cf. Atos 2, 1-13, 2,7-11). Depois que apresentamos a doutrina perene da Igreja sobre o domde lnguas, conforme o fundamento da Escritura e da Tradio,procuraremos agora eliminar dvidas legtimas que possam impedir o fielde cumprir com seu dever de aderir sem reservas perene DoutrinaCatlica, respondendo s seguintes objees:Objeo 1: Em Marcos 16,17 Jesus diz que os fiis que recebero oEsprito Santo falaro novas lnguas, dando a entender lnguas que aindano so conhecidas pelos homens. Resposta: O texto de Mc 16,17 : "Estes milagres acompanharo osque crerem: expulsaro os demnios em meu nome, falaro novas lnguas".Aqui Nosso Senhor referindo-se a "novas lnguas" usa o termo grego kainsglossa, que significa "novo idioma" quanto ao uso e no quanto aoconhecimento no sentido de jamais visto. Ademais, se Cristo estivesse sereferindo a lnguas no conhecidas na terra, suas palavras estariam emdesacordo com o anncio dos Profetas e do prprio testemunho dePentecostes. 33 33. Objeo 2: Em At 2,13 o texto parece indicar tambm a existnciada glossolalia (idioma sem sentido, ininteligvel) por causa do comentrio dealguns que estavam presentes. Resposta: Em At 2,13 lemos: Outros, porm, escarnecendo, diziam:Esto todos embriagados de vinho doce". Este versculo aparece logo aps otexto sagrado testemunhar que os apstolos e discpulos estavam falandona lngua de outros povos, de tal forma que eram entendidos por eles (vs1-12).O prprio texto diz que por causa da solenidade de Pentecostes"achavam-se ento em Jerusalm judeus piedosos de todas as naes queh debaixo do cu" (vs 5). Logo, seria totalmente normal que um judeurabe no entendesse o que um dos apstolos estava falando em grego,ainda mais sabendo que a lngua deles era o aramaico. De outra forma,poderia um judeu grego estar ouvindo Tom falando em srio, sabendo quesua lngua natal era o aramaico. Ora, quem iria pensar que aqueleshomens simples e sem instruo estariam falando outros idiomas? Claroque achariam que estavam bbados, e no sob a ao miraculosa doEsprito Santo.Objeo 3: So Paulo em 1 Cor 14,1-4 reconhece existir um tipo dedom de lnguas que ininteligvel aos homens que usado para se falarsomente a Deus. Resposta: So Paulo no diz que o dom de lnguas ininteligvelaos homens, mas que "ningum o entende, pois fala coisas misteriosas, soba ao do Esprito" (cf. 1Cor 14,2). Santo Toms comentando este trechoensinou: Tambm falar em lngua o falar de vises somente, sem explic-las. [...] Mas o que s a Deus falado, compreende-se que o prprio Deus fala. Pelo qual disse: Mas o Esprito de Deus fala mistrios, isto , coisas ocultas (1Cor 14,2). Porque no sereis vs que falareis, seno o Esprito de vosso Pai que falar em vs. (Mt 10,20).42.42 AQUINO, Santo Toms de. COMENTRIO DE SANTO TOMS DE AQUINO 1A. CARTADE SO PAULO AOS CORNTIOS. http://www.veritatis.com.br/article/4974. 34 34. Logo, quando se fala a Deus em lnguas, fala-se coisas misteriosase no palavras sem sentido. Objeo 4: So Paulo difere o dom de lnguas das oraes emlnguas. Resposta: O Apstolo no difere o dom de lnguas das oraes emlnguas. Na verdade a diferena que h somente na sua aplicao,conforme nos ensina Santo Toms comentando 1Cor 14,13-17: "J mostra acima o Apstolo a excelncia do dom da profecia sobre o dom das lnguas, com razes tomadas da parte da exortao, e agora demonstra o mesmo com razes tomadas da parte da orao, pois, em efeito, estas duas coisas, a orao e a exortao, s exercitamos com a lngua. [...] [S. Paulo] Disse que o dom de lnguas sem o dom da profecia carece de valor, e pelo mesmo, como o interpretar prprio da profecia, que mais excelente que aquele, o que fala em lnguas desconhecidas ou estranhas, ou de ocultos mistrios, pea, claro que a Deus, o dom de interpretar, ou seja, que lhe seja dada a graa de interpretar. Orai para que Deus nos abra uma porta (Colos. 4,3).[...] E a orao pblica quando se ora frente ao povo e pelos demais; eem ambas as oraes pode usar-se do dom das lnguas e dodom da profecia. E se trata de demonstrar que em uma e outraorao vale mais o dom da profecia que o dom das lnguas". A orao em lnguas no um carisma diverso do dom de lnguas,mas apenas uma aplicao deste ltimo na orao. Note que S. Tomstambm aplica o dom da profecia orao. Caso contrrio, teramostambm a orao em profecia. No entanto, o dom de lnguas e o dom daprofecia podem ser aplicados na exortao ou na orao. Objeo 5: O dom de lnguas falar em lnguas ininteligveis, tantoque S. Paulo ensina que este dom complementado por outro que interpretasua mensagem. Resposta: Quando Paulo fala que deve haver intrprete, a palavrapara "intrprete" aqui (1 Cor. 12,10; 14,26-27) "diermeneutes"(), que, no grego, refere-se interpretao de um idioma. 35 35. Ainda, S. Toms (conforme vimos na resposta objeo 3) ensinou que ofalar em lnguas tambm o falar coisas misteriosas, logo preciso que talmistrio tambm seja explicado para que traga proveito a todos.Objeo 6: Falar em lnguas o mesmo que falar na lngua dosanjos Resposta: Essa objeo tem origem numa especulao indevidadas seguintes palavras de S. Paulo: Ainda que eu falasse as lnguas doshomens e dos anjos, se no tiver caridade, sou como o bronze que soa, oucomo o cmbalo que retine (1Cor 13,1).S. Toms de Aquino comentando 1Cor 13,1-3 nos ensina:[...] Vejamos agora o que se entende por lngua dos anjos, poissendo a lngua um membro do corpo, a cujo uso pertence o dom delngua, que s vezes se chama lngua - como se ver mais abaixo(captulo XIV) - nem uma coisa nem outra parece ter a ver comos anjos, que no possuem membros. Pode-se dizer ento que poranjos deve-se entender os homens com ofcio de anjos, isto ,os que anunciam as coisas divinas a outros homens, como dizMalaquias: Nos lbios do sacerdote deve estar o depsito da cinciae de sua boca ser aprendida a Lei, visto que ele o anjo do Senhordos exrcitos (2,7), de maneira que, neste sentido, se diz: se eufalasse as lnguas de todos os homens ou a lngua anglica, ou seja,se falasse como aqueles que ensinam os outros, no apenasos mestres das primeiras letras, mas tambm os doutores.Pode-se tambm entender o texto: fazes com que teus anjos sejamcomo os ventos (Salmo 103), que os anjos incorpreos, ainda semlngua material, a possuem por semelhana - podemos assim dizer -na fora com que manifestam a outros o que guardam na mente43. O doutor anglico nos ensina que falar na lngua dos anjos falarem termos mais elevados. como se o Apstolo tivesse dito : ainda que eufalasse a lngua dos simples e dos doutores. S. Paulo refere-se ao nvel doaprofundamento do anncio e no a um pseudo-idioma dos anjos.43Comentrio de Santo Toms Primeira Carta aos Corntios. Disponvel emhttp://www.clerus.org/bibliaclerusonline/es/dc2.htm#cv. Traduo por RodrigoSantana. 36 36. Objeo 7: So Paulo est se referindo ao dom de lnguas quandofala em gemidos inefveis na Carta aos Romanos. Resposta: Se fosse verdade o Apstolo teria abordado o tema emsua primeira carta aos corntios, quando ensina exatamente sobre o domde lnguas. A palavra usada por S. Paulo que foi traduzida por gemidos stenagmos (). tambm usada em At 7,34: "Considerei aaflio do meu povo no Egito, ouvi os seus gemidos () e desci paralivr-los. Vem, pois, agora e eu te enviarei ao Egito". O termo stenagmos refere-se a manifestaes do corao, comosofrimento, angstia, saudade etc. Emprego do termo grego no deixadvidas de que o Apstolo estava falando das manifestaes do coraohumano, da linguagem prpria que vem do corao.Santo Toms, comentando Rm 8,26 nos ensina:"E diz-se que esses gemidos so inexplicveis, ou porque so poralgo que inexplicvel, como o a gloria celestial (as palavrasinexplicveis que no so dadas ao homem para se expressar: 2Co12,4); ou porque os prprios movimentos do corao no se podemexplicar suficientemente, enquanto que procedem do EspritoSanto."44. O que se expressa bela boca, mesmo que sejam palavras semsentido, exprimvel, caso contrrio no seriam expressas pela boca. Mas,o que vem do corao, isso sim inexprimvel. Em Rm 8,26 S. Paulo ensina que o Esprito Santo nos ajudar arezar como se deve: com o corao e no somente com palavras (cf. Mt15,8). Isso porque no sabemos o que devemos pedir, nem orar comoconvm.44Comentrio de Santo Toms Carta aos Romanos. Disponvel emhttp://www.clerus.org/bibliaclerusonline/es/df3.htm#bt. Traduo por Carlos Nabeto. 37 37. Este socorro do Esprito Santo havia sido anunciado pelo ProfetaEzequiel: "Dar-vos-ei um corao novo e em vs porei um esprito novo; tirar- vos-ei do peito o corao de pedra e dar-vos-ei um corao de carne" (Ez 36,26). Objeo 8: Santo Agostinho se refere a um dom de lnguas compalavras sem sentido em seu comentrio ao Salmo 32. Resposta: No referido comentrio ao Salmo 32 de Santo Agostinho,lemos: "[O Senhor] te d um estilo para cantar. No procures palavras como se pudesse explicar em que Deus se compraz. Canta com jbilo. Cantar bem a Deus cantar com jbilo. O que quer dizer: cantar com jbilo? Entender, no poder explicar com palavras o que se canta no corao. Pois aqueles que cantam na colheita, na vinha, em algum trabalho pesado, comeando a exultar de alegria por meio das palavras dos cnticos e estando repletos de tanta alegria que no podem exprim-la, deixam as slabas das palavras e emitem sons jubilosos. O jbilo som significativo de que o corao est concebendo o indizvel. E diante de quem conveniente tal jbilo seno diante do Deus inefvel? Inefvel aquilo de que impossvel falar. E se no podes falar e no deves calar, o que resta seno jubilar? O corao rejubila sem palavras e a imensido do gudio no se limita a slabas. Cantai-lhe bem com jbilo". Como vimos anteriormente Santo Agostinho ao falar do dom delnguas refere-se ao falar vrias lnguas (ver Cap. 2). Logicamente que estegrande Santo e Doutor da Igreja no poderia estar se contradizendo agora.Cabe notar, que no comentrio acima, ele no se refere ao dom de lnguas,mas a um tipo de louvor a Deus muito especial, o louvor que brota dasentranhas do nosso corao. Alm disto, Santo Toms comentando 1Cor 14,13-17, explica que odom de lnguas se aplica somente exortao e orao (ver resposta objeo no. 4). Aqui Santo Agostinho trata de louvor.38 38. Embora o jbilo possa ter como causa uma ao do Esprito Santo,esta alegria mxima no pode ser confundida com o carisma do dom delnguas. Santo Agostinho ao falar do jbilo o relaciona s alegrias do nossocotidiano, ensinando que at aqueles que antam na colheita, na vinha, emalgum trabalho pesado, comeando a exultar de alegria por meio daspalavras dos cnticos e estando repletos de tanta alegria que no podemexprimi-la, deixam as slabas das palavras e emitem sons jubilosos. Exemplos de sons jubilosos, isto , sons que no possuem sentidonas palavras, mas que expressam grandes emoes: urraaaa!, Uau!,Aheeeeee! Ruaiiiiii! etc.Os carismas so dons especiais dados por Deus atravs do EspritoSanto para a utilidade de toda Igreja, alm de serem transitrios. Jbilo a expresso mxima do que est em nosso corao, seja provocado peloEsprito Santo ou por alegrias meramente terrenas.Objeo 9: Muitos dizem que Santa Teresa DAvila possua o domdas lnguas.Resposta: O renomado Compndio de Teologia Mstica e Ascticade Adolf Tanquerey distingue bem entre os fenmenos msticoscontemplao infusa e os carismas. O fenmeno contemplao infusa uma vista simples e intuitiva de Deus e das coisas divinas que procede doamor e tende ao amor. So Francisco de Sales define-a: uma atenoamorosa e permanente do esprito s coisas divinas` (TANQUEREY1386)45 ; j os carismas so as graas gratuitamente dadas so noprincipalmente para a utilidade dos outros. So, efetivamente, donsgratuitos extraordinrios e transitrios, conferidos diretamente para bemdos outros, posto que podem indiretamente servir tambm para santificaopessoal. (TANQUEREY 1514)46. Santa Teresa DAvila no experimentou o carisma do dom delnguas, mas vrias modalidades da contemplao infusa. Sua experinciamais conhecida neste tipo de fenmeno mstico o da unio esttica emsua primeira fase (possui trs fases: xtase simples, o arroubamento e ovo do esprito cf. TANQUEREY 1458).45 TANQUEREY, Adolf. Compndio de Teologia Mstica e Asctica. Anpolis: Ed. AMEM Animao Missionria Eucarstica Mariana, 2007. Pg 716.46 Ibidem pg 785. 39 39. Durante o xtase espiritual a pessoa perde os sentidos para omundo material, envolvendo-se totalmente na experincia mstica:Ouamos a Santa Teresa; Sente (a alma) ser feridasaboriosissimamente, mas no atina como, nem quem a feriu, masbem conhece ser coisa preciosa, e jamais quereria ser curadadaquela ferida. Queixa-se com palavras de amor, aindaexteriormente, sem poder fazer outra coisa a seu Esposo, porqueentende que est presente mas no se quer manifestar de maneira,que deixe gozar-se, e grande pena, posto que saborosa e doce; eainda que queria no t-la, no pode, mas isto no quereria jamais.Muito mais a satisfaz que o embebecimento saboroso, que carece depena, da orao de quietude (TANQUEREY 1458)47Em seus escritos Santa Teresa relata ter seu corao transpassadopor uma espada de um anjo, o que lhe causava grandes dores. Esta suaexperincia mstica ficou muito famosa e foi retratada na famosa esculturado artista Bernini48.47 Ibidem pg. 757.48 Disponvel emhttp://www.telecable.es/personales/angel1/escbar/bernini/extasis.htm. 40 40. ConclusoA doutrina da Igreja sobre o dom de lnguas expressa em seus documentos, no catecismo e no testemunho dos seus Santos e Doutores muito clara quanto a ser uma manifestaoextraordinria do Esprito Santo, onde se concede quele que o recebefalar em lnguas diversas ou falar coisas misteriosas na lngua em quetodos entendem. Tudo que Deus dispensa em Sua Igreja para a utilidade de todos.Por isso S. Paulo ao falar dos carismas preferia o dom de profecia ao domde lnguas (cf. 1Cor 14,5.39). Manifestaes que visam mais o espetculodo que a utilidade dos membros da Igreja, com toda certeza no segundoa vontade de Deus. Por isso, ao falar dos carismas extraordinrios, oApstolo sempre dava instrues que desencorajassem a indiscrio e oespetculo: "Se h quem fala em lnguas, no falem seno dois ou trs, quando muito, e cada um por sua vez, e haja algum que interprete" (1Cor 14,27). "Suponhamos, irmos, que eu fosse ter convosco falando em lnguas, de que vos aproveitaria, se minha palavra no vos desse revelao, nem cincia, nem profecia ou doutrina?" (1Cor 14,6). "Mas prefiro falar na assemblia cinco palavras que compreendo, para instruir tambm os outros, a falar dez mil palavras em lnguas" (1Cor 15,19). Cabe as movimentos e grupos que se dizem carismticos oupentecostais cumprirem esta santa e sbia recomendao do apstolo. Emtempo: [...] os grandes msticos so unnimes em ensinar que no se deve nem desejar nem pedir estes favores extraordinrios. que, de fato, no so meios extraordinrios. que, de fato, no so meios necessrios para chegar unio divina; e s vezes at, por causa das nossas tendncias ms, so antes obstculos unio divina. o que mostra em particular So Joo da Cruz o qual afirma que este desejo de revelaes tira a pureza da f, desenvolve uma curiosidade perigosa que fonte de iluses, embaraa o41 41. esprito com vos fantasmas, denota muitas vezes falta de humildade e submisso vontade de Deus Nosso Senhor, que, pelas revelaes pblicas, nos deu tudo quanto nos necessrio para nos conduzir ao cu. E assim, insurge-se com fora contra esses diretores imprudentes que favorecem este desejo de vises. H alguns, diz o Santo, que levam tal modo e estilo com as almas que tm as tais coisas, que ou as fazem errar ou as embaraam com elas, ou no as levam por caminho de humildade, e lhes do mo a que ponham muito os olhos de alguma maneira nelas, que a causa de no caminhar pelo puro e perfeito esprito da F, e no lhes edificam a F nem as fortalecem nela, prestando-se a longas conversas acerca daquelas coisas. No qual lhes do a sentir que gostam e fazem muito caso daquilo e, por conseguinte o fazem elas, e ficam-se-lhes as almas postas naquelas apreenses, e no edificadas na F, e vazias e despojadas e desprendidas daquelas coisas, para voarem em alteza de F obscura ... E daqui saem muitas imperfeies pelo menos; porque a alma j no fica to humilde, pensando que aquilo alguma coisa e que tem alguma coisa boa e que Deus faz caso dela, e anda contente e algum tanto satisfeita de si, o que contra a humildade ... (Alguns confessores), como vem que as ditas almas tm tais coisas de Deus, pedem-lhes roguem a Deus lhes revele ou diga tais ou tais cosias tocantes a elas ou a outras, e essas almas so to nscias que o fazem, pensando que lcito querer sab-lo por aquela via ... e a verdade que Deus nem gosta disse nem o quer. (TANQUEREY 1496). Neste sentido vale a pena tambm lembrar a exortao do ConclioVaticano II sobre este tema: [...] No devemos pedir temerariamente estes dons, nem esperar deles com presuno os frutos das obras apostlicas; aos que governam a Igreja que pertence julgar da sua genuinidade e da convenincia do seu uso, e cuidar especialmente de no extinguir o esprito, mas tudo ponderar, e reter o que bom (cf. lTs 5,12-21 e 19-21).49.49 cf. Lumem Gentium n. 12. 42 42. Com efeito, o Conclio lembrou muito bem que cabe somente Igreja julgar a autenticidade das manifestaes que se dizem carismticas.Porm, este julgamento s pode ocorrer segundo "o fundamento dosapstolos e profetas, tendo por pedra angular o prprio Cristo Jesus" (cf. Ef2,20). o que tambm nos lembra o Compndio do Catecismo da IgrejaCatlica: Os carismas so dons especiais do Esprito Santo concedidos acada um para o bem dos homens, para as necessidades do mundo e emparticular para a edificao da Igreja, a cujo Magistrio cabe discerni-los(CCIC n. 160).Meditando nas palavras da primeira Carta de S. Paulo aosCorntios, nos dias atuais qual carisma extraordinrio traria maiorproveito para a Igreja: lnguas ou profecia? O Apstolo quando ensinousobre estas coisas falou por si mesmo ou por Deus? Vejamos: "Se algumse julga profeta ou agraciado com dons espirituais, reconhea que as coisasque vos escrevo so um mandamento do Senhor" (1Cor 14,37).Poderia Deus ter mudado de opinio? Cabe aos fiis refletir e aospastores julgar com sabedoria, fundamentados no s na doutrina pereneda Igreja, mas tambm no seu juzo: "Quem em nossos dias, espera que aqueles a quem so impostas as mos para que recebam o Esprito Santo, devem portanto falar em lnguas , saiba que esses sinais foram necessrios para aquele tempo. Pois eles foram dados com o significado de que o Esprito seria derramado sobre os homens de todas as lnguas, para demonstrar que o Evangelho de Deus seria proclamado em todas as lnguas existentes sobre a Terra. Portanto o que aconteceu, aconteceu com esse significado e passou"50. Posto isso, no , absolutamente, admissvel excogitar-se ou guardar uma segunda, mais ampla e fecunda apario ou revelao do Esprito Divino; a que atualmente se efetua na Igreja deveras perfeita, e nela permanecer incessantemente at que a Igreja militante, aps o percurso do seu perodo de lutas, seja transplantada para as alegrias da Igreja triunfante no cu.51.50 Santo Agostinho -Homilias em 1 Joo 6 10; NPNF2, v. 7, pp. 497-498.51 Papa Leo XIII, Encclica Divinun Illud Mnus, n10.43 43. Outras informaesContatos com o autor:[email protected] pelo stio http://www.veritatis.com.br.Doaes:Titular: Alessandro Ricardo LimaBanco: Banco do BrasilAgncia: 1003-0Conta-corrente: 688.104-1Sua ajuda proporcionar que outras obras do autor possam serdistribudas de forma totalmente gratuita auxiliando a evangelizao e adefesa da Verdade. Que Deus recompense a sua generosidade.Visite o stio Veritatis Splendor: http://www.veritatis.com.br Do mesmo autor conhea tambm o livro O Cnon Bblico A Origem da Lista dos Livros Sagrados. Informaes em http://www.veritatis.com.br/article/4091. A Resenha da obra elaborada por D. Estevo veja em http://www.veritatis.com.br/article/4516.44