cristina maria relatório de trabalho de projeto alves ribeiro · 2018. 3. 5. · 1.3 teoria de...

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Cristina Maria Alves Ribeiro Relatório de Trabalho de Projeto “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde” Relatório de Trabalho de Projeto apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica, realizada sob a orientação científica da docente orientadora Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica Elsa Monteiro. Julho, 2016

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  • Cristina Maria

    Alves Ribeiro

    Relatório de Trabalho de Projeto

    “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na

    Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Relatório de Trabalho de Projeto apresentado

    para cumprimento dos requisitos necessários à

    obtenção do grau de Mestre em Enfermagem

    Médico-Cirúrgica, realizada sob a orientação

    científica da docente orientadora Mestre em

    Enfermagem Médico-Cirúrgica Elsa Monteiro.

    Julho, 2016

  • Cristina Maria

    Alves Ribeiro

    Relatório de Trabalho de Projeto

    “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na

    Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Relatório de Trabalho de Projeto apresentado

    para cumprimento dos requisitos necessários à

    obtenção do grau de Mestre em Enfermagem

    Médico-Cirúrgica, realizada sob a orientação

    científica da docente orientadora Mestre em

    Enfermagem Médico-Cirúrgica Elsa Monteiro.

    Setúbal, Julho de 2016

  • DECLARAÇÕES

    Declaro que este Relatório de Trabalho de Projeto é o resultado de investigação

    orientada e independente. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão

    devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia.

    O candidato, Cristina Maria Alves Ribeiro

    _________________________________________

    Setúbal, ___ de _________de ______

    Declaro que este Relatório de Trabalho de Projeto se encontra finalizado e em

    condições de ser apreciado pelo júri a designar.

    A orientadora, Elsa Monteiro

    _________________________________________

    Setúbal, ___ de _________de ______

  • Aqueles que passam por nós não vão sós

    não nos deixam sós

    deixam um pouco de si

    levam um pouco de nós…

    (Antoine de Saint-Exupéry)

  • AGRADECIMENTOS

    Quero agradecer…

    … antes de mais à minha querida avó Maria José, pelos seus pedidos divinos, que sempre

    acreditou serem facilitadores de todo este processo!

    … aos meus pais, Adelina e Jorge, que apesar da distância sempre me incentivaram na

    concretização desta etapa!

    … à docente Enfermeira Especialista e Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica Elsa

    Monteiro e à minha orientadora, Enfermeira Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica

    A.M. pela sua colaboração na orientação e acompanhamento!

    … aos meus colegas, que me facilitaram as trocas de turnos, para que a comparência nas aulas

    fosse mais frequente!

    … aos meus amigos, pela amizade, apoio e motivação demostradas nos momentos de

    desânimo neste percurso e pela sua compreensão nos períodos ausentes!

    …à Tânia, Lena e Sara, pela força transmitida e pelos momentos de gargalhadas a caminho do

    “Nosso Restaurante”!

    .... por último à pessoa que mais me acompanhou nesta caminhada, que esteve sempre ao meu

    lado e que me ajudou tantas vezes a ultrapassar as dificuldades sentidas e os obstáculos

    imprevistos, sem nunca me deixar desistir desta jornada! A ti Flávio, o meu enorme obrigado,

    tenho a certeza que sem a tua presença e auxílio tudo seria mais difícil!

    A todos vós, o meu SINCERO OBRIGADO!

  • RESUMO

    Este relatório traduz o caminho percorrido e as aprendizagens adquiridas ao longo

    dos estágios decorridos no Serviço de Especialidades Médicas de um Centro Hospitalar, no

    âmbito do Curso de 4ª Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola Superior de

    Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal, da qual resultou este trabalho de projeto. O

    documento retrata o desenvolvimento do Projeto de Intervenção em Serviço (PIS) e do

    Projeto de Aprendizagem Clínica (PAC), para além de expor uma reflexão crítica do

    desenvolvimento das competências comuns do enfermeiro especialista em Enfermagem

    Médico-Cirúrgica (EMC), das competências específicas do enfermeiro especialista em EMC

    em pessoa em situação crítica e/ou crónica e paliativa e das competências de Mestre em EMC.

    Ao longo dos estágios efetuados, e com base na Metodologia de Projeto, efetivamos

    o PIS em que, através da aplicação de grelhas de observação de procedimentos e da

    construção da Failure Mode and Effects Analysis, reconhecemos que a problemática incidia na

    falta de uniformização pela equipa de enfermagem no manuseamento dos cateteres venosos

    periféricos (CVP), de forma a prevenir as infeções associadas aos cuidados de saúde. A

    Metodologia de Projeto é composta pelas fases de diagnóstico de situação, planeamento,

    execução, avaliação e divulgação dos resultados, e o trabalho desenvolvido nestas fases

    resultou na elaboração de um procedimento setorial relativo à inserção, fixação e manutenção

    do CVP no cliente.

    No âmbito do PAC, e com o objetivo de adquirirmos as competências específicas do

    enfermeiro especialista em EMC em pessoa em situação critica e/ou crónica e paliativa, foi

    elaborado um artigo subjacente à temática da conspiração do silêncio e foram desenvolvidos

    estágios de observação no Serviço de Cuidados Intensivos e na Equipa Intra-Hospitalar de

    Suporte em Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar. A concretização destas atividades

    proporcionou oportunidades de formação e aprendizagem que aplicamos na prática diária de

    prestação de cuidados.

    Este relatório contempla ainda uma reflexão do desenvolvimento das competências

    de Mestre em EMC e de que forma os aportes teóricos obtidos ao longo do curso

    contribuíram para a sua aquisição.

    Palavras-chave: Enfermagem Médico-Cirúrgica, Metodologia de Trabalho de Projeto,

    Competências, Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde, Cateter Venoso Periférico e

    Intervenções de Enfermagem.

  • ABSTRACT

    This report reflects the progress made and the acquired knowledge along the stages

    occured in a Medical Specialities Service at a Hospital, under the 4th Master Course in

    Medical-Surgical Nursing at the Health Superior School of the Polytechnic Institute of

    Setúbal, which led to this project work. The document portrays the development of the

    Intervention Project in Service (IPS) and the Clinical Learning Project (CLP), besides exposing

    as well a critical reflection of the common skills development of a specialist nurse in Medical-

    Surgical Nursing (MSN), of the specific skills of the specialist nurse in MSN on a person in a

    critical situation and/ or chronic and palliative and of master’s skills in MSN.

    Along the stages and based on the Project Methodology, we applied the IPS in

    which, through the application of procedures observation grids and the construction of the

    Failure Mode and Effects Analysis, we recognized that the problem concerned on the lack of

    the nursing team standardization, handling the peripheral venous catheters (PVC), to prevent

    infections associated with healthcares. The Project Methodology is composed by the phases of

    situation diagnosis, planning, execution, evaluation and results divulgation. The developed

    work during this stages has resulted on the elaboration of a sectorial procedure concerning the

    insertion, fixation and maintenance of CVP on the patient.

    Under the CLP and in order to acquire the specific skills of a specialist nurse in MSN

    dealing with a person in a critical and/ or chronical and palliative situation, it was developed

    an article underlying the conspiracy of silence theme, and observation stages were developed

    at the Intensive Care Service with the Intra-Hospital Support Team in Palliative Caring of the

    Hospital Center. The implementation of these procedures, provided training and learning

    opportunities that we apply in care daily practice.

    This report also includes a reflection about the skills development of a master in

    MSN and in which way the theoretical contributions obtained along the course contributed to

    its acquisition.

    Keywords: Medical-Surgical Nursing, Project Methodology Work, Skills, Infections

    Associated to Healthcare, Peripheral Venous Catheter and Nursing Interventions.

  • LISTA DE SIGLAS

    CDC – Centers for Disease Control and Prevention

    CH – Centro Hospitalar

    CHS – Centro Hospitalar de Setúbal

    CVP – Cateter Venoso Periférico

    DGS – Direção Geral de Saúde

    DL – Decreto-Lei

    EIHSCP – Equipa Intra-Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos

    EMC – Enfermagem Médico-Cirúrgica

    ESS/IPS – Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal

    EUA – Estados Unidos da América

    EV – Endovenosa

    FMEA – Failure Mode and Effects Analysis

    GCLCIPRA – Grupo Coordenador Local de Controlo de Infeção e Prevenção da Resistência

    aos Antimicrobianos

    HICPAC – Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee

    IACS – Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde

    IH – Infeção Hospitalar

    IN – Infeção Nosocomial

    IP – Inquérito de Prevalência

    IPR – Índice de Probabilidade de Risco

    MS – Ministério da Saúde

    OE – Ordem dos Enfermeiros

    OMS – Organização Mundial de Saúde

    PAC – Projeto de Aprendizagem Clínica

    PIS – Projeto de Intervenção em Serviço

    REPE – Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros

    SEM – Serviço de Especialidades Médicas

    SCI – Serviço de Cuidados Intensivos

    UC – Unidade Curricular

    VE – Vigilância Epidemiológica

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    Enf.ª – Enfermeira

    n.º – Número

    p. – Página

    Sr.ª – Senhora

  • ÍNDICE

    INTRODUÇÃO 13

    1. ENQUADRAMENTO CONCETUAL 17

    1.1 ENFERMAGEM ATUAL 17

    1.2 QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE 19

    1.3 TEORIA DE ENFERMAGEM DE FAYE GLENN ABDELLAH 23

    2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO 29

    2.1 MARCOS NA HISTÓRIA DAS INFEÇÕES 29

    2.2 INFEÇÕES ASSOCIADAS AOS CUIDADOS DE SAÚDE 31

    2.3 CATETERES VENOSOS PERIFÉRICOS 32

    2.4 INFEÇÕES ASSOCIADAS AOS CATETERES VENOSOS PERIFÉRICOS 33

    3. PROJETO DE INTERVENÇÃO EM SERVIÇO 41

    3.1 DIAGNÓSTICO DE SITUAÇÃO 42

    3.2 PLANEAMENTO 50

    3.3 EXECUÇÃO 65

    3.4 AVALIAÇÃO 66

    3.5 DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS 69

    4. PROJETO DE APRENDIZAGEM CLÍNICA 71

    4.1 DIAGNÓSTICO DE SITUAÇÃO 71

    4.2 PLANEAMENTO 74

    4.3 EXECUÇÃO/AVALIAÇÃO 77

    5. ANÁLISE DAS COMPETÊNCIAS DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA

    ADQUIRIDAS 87

    5.1 COMPETÊNCIAS COMUNS DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA 87

    5.2 COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA EM

    ENFERMAGEM EM PESSOA EM SITUAÇÃO CRÍTICA 97

    5.3 COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA EM

    ENFERMAGEM EM PESSOA EM SITUAÇÃO CRÓNICA E PALIATIVA 105

    6. ANÁLISE DAS COMPETÊNCIAS DE MESTRE EM ENFERMAGEM MÉDICO-

    CIRÚRGICA 111

    CONCLUSÃO 122

    REFERÊNCIAS 128

  • [ANEXOS] 140

    ANEXO I – Autorização para utilização de dados relativos ao Inquérito de Prevalência da Infeção no

    Centro Hospitalar de Setúbal, E.P.E. 141

    ANEXO II – Autorização cedida pela autora para utilização da grelha de observações. 142

    ANEXO III – Autorização para implementação do projeto de intervenção em serviço no Serviço de

    Especialidades Médicas do Centro Hospitalar. 143

    ANEXO IV – Certificado de participação no III Congresso Internacional de Enfermagem Médico-Cirúrgica.

    144

    ANEXO V – Declaração de presença na formação intitulada: “Morte Cerebral, Morte do Tronco Cerebral,

    Morte do Indivíduo”, desenvolvida pelo Serviço de Formação do Centro Hospitalar de Setúbal, E.P.E. 146

    ANEXO VI – Declaração de presença na formação intitulada: “Transporte do Doente Crítico”,

    desenvolvida pelo Serviço de Formação do Centro Hospitalar de Setúbal, E.P.E. 147

    ANEXO VII – Declaração da participação no Curso de Trauma e no Curso de Suporte Avançado de

    Vida, desenvolvidos pelo Instituto Politécnico de Setúbal. 148

    ANEXO VIII – Declaração da participação no Exercício Setlog, organizado pelo Serviço Municipal de

    Proteção Civil e Bombeiros de Setúbal. 150

    ANEXO IX – Declaração de frequência no Curso de Formação Contínua Obrigatória, desenvolvido pelo

    Serviço de Formação do Centro Hospitalar de Setúbal, E.P.E. 151

    [APÊNDICES] 152

    APÊNDICE I – Pedido de autorização para utilização de dados relativos ao inquérito de prevalência da

    infeção do Centro Hospitalar de Setúbal, E.P.E. 153

    APÊNDICE II – Grelha aplicada para observação das intervenções de enfermagem relativas à cateterização

    venosa periférica. 154

    APÊNDICE III – Pedido de autorização para implementação do Projeto de Intervenção em Serviço. 159

    APÊNDICE IV – Folha do consentimento livre e esclarecido. 160

    APÊNDICE V – Informação à equipa de enfermagem do primeiro período de observações. 161

    APÊNDICE VI – Tratamento de dados obtidos através da primeira aplicação da grelha de

    observações. 162

    APÊNDICE VII – Failure Mode and Effects Analysis. 188

    APÊNDICE VIII – Ficha de Diagnóstico de Situação do Projeto de Intervenção em Serviço. 191

  • APÊNDICE IX – Ficha de Planeamento do Projeto de Intervenção em Serviço. 198

    APÊNDICE X – “Procedimento de Inserção, Fixação e Manutenção do CVP”. 208

    APÊNDICE XI – Informação à equipa de enfermagem do segundo período de observações. 227

    APÊNDICE XII – Diapositivos da Sessão de Formação. 228

    APÊNDICE XIII – Plano da Sessão de Formação. 236

    APÊNDICE XIV – Cartaz de divulgação da Sessão de Formação e Convites fornecidos aos Enfermeiros.

    239

    APÊNDICE XV – Documento comprovativo de leitura do procedimento de inserção, fixação e manutenção

    do CVP. 241

    APÊNDICE XVI – Avaliação da sessão de formação. 242

    APÊNDICE XVII – Tratamento de dados obtidos através da segunda aplicação da grelha de

    observações. 258

    APÊNDICE XVIII – Artigo relativo ao Projeto de Intervenção em Serviço. 283

    APÊNDICE XIX – Ficha de planeamento do Projeto de Aprendizagem Clínica. 298

    APÊNDICE XX – Relatório do estágio de observação efetuado no Serviço de Cuidados Intensivos do Centro

    Hospitalar. 304

    APÊNDICE XXI – Manual orientador do simulacro de incêndio realizado no Serviço de Neurologia do

    Centro Hospitalar. 321

    APÊNDICE XXII – Artigo alusivo à “Conspiração do Silêncio”. 331

    APÊNDICE XXIII – Relatório do estágio de observação efetuado na Equipa Intra-Hospitalar de Suporte

    em Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar. 341

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 13

    INTRODUÇÃO

    A realização do presente Relatório de Trabalho de Projeto reflete o percurso

    efetuado no âmbito do Curso de 4º Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola

    Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal (ESS/IPS) e pretende ser objeto de

    discussão pública, para obtenção do Grau de Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica.

    O Decreto-Lei (DL) n.º 115/2013 de 7 de Agosto refere que o ciclo de estudos

    necessário ao grau de mestre enquadrado no ensino politécnico deve certificar a aquisição pelo

    estudante de uma especialização de natureza profissional. O artigo 20.º do mesmo documento,

    menciona ainda que o ciclo de estudos conducente ao grau de mestre integra um curso de

    especialização, constituído por um conjunto organizado de unidades curriculares, denominado curso de mestrado

    (…) e uma dissertação de natureza científica ou um trabalho de projeto, originais e especialmente realizados

    para este fim, ou um estágio de natureza profissional objeto de relatório final (…) (DL, 2013, p.4762).

    O relatório apresenta-se como um documento escrito pelo estudante no final de um

    semestre, onde é efetuado uma síntese do trabalho desenvolvido, sendo também um documento

    que descreve em detalhe um trabalho técnico, como uma experiencia científica ou a implementação de uma

    tecnologia (Vasconcelos, 2009, p.1).

    O texto exposto no relatório deverá ser conciso, claro e direto como tal, este

    relatório pretende espelhar de forma exata as aprendizagens desenvolvidas durante os estágios

    curriculares realizados e contemplados no plano de estudos do Curso de 4º Mestrado em

    EMC da ESS/ IPS, desde a observação, à análise e à posterior reflexão, que tiveram lugar no

    Serviço de Especialidades Médicas (SEM) de um Centro Hospitalar (CH). Os estágios

    dividiram-se em I, II e III e decorrem no período de 16 de Março de 2015 e 30 Janeiro de

    2016, num total de 864 horas, em que 376 horas corresponderam ao tempo do estudante em

    contacto de estágio e as restantes 488 horas equivaleram ao trabalho do estudante e à presença

    na escola para avaliação dos estágios. Ambos os estágios foram orientados pela enfermeira A.

    M., Enfermeira Especialista em EMC, que exerce funções no serviço onde decorreram os

    mesmos, e sob a supervisão da Professora Elsa Monteiro, Mestre e Especialista em EMC.

    A realização dos estágios foram encaminhados para o desenvolvimento do PIS, que

    refletiu uma problemática no âmbito da EMC identificada no serviço onde estes decorreram, e

    execução do PAC, que permitiu a aquisição e o desenvolvimento das competências comuns

    do enfermeiro especialista em EMC e das competências específicas do enfermeiro especialista

    em enfermagem em pessoa em situação crítica e da pessoa em situação crónica e paliativa.

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 14

    O PIS foi desenvolvido de acordo com a metodologia de projeto, sendo esta definida

    como, uma metodologia ligada à investigação, centrada na resolução de problemas (…) através dela,

    adquirem-se capacidades e competências de características pessoais pela elaboração e concretização do (s) projecto

    (s) numa situação real (Guerra, 1994 in Ruivo, et al., 2010, p.3).

    O principal objetivo da metodologia projeto é a resolução de problemas de uma

    situação real, desta forma a metodologia assume-se como uma ponte entre a teoria e a prática,

    uma vez que se suporta no conhecimento teórico para o aplicar na prática. Já as fases que

    compõem a metodologia de projeto são, a elaboração de um diagnóstico de situação com a

    definição dos objetivos, a planificação das atividades, a execução das atividades planeadas, a

    avaliação das atividades implementadas e por último a divulgação dos resultados (Ruivo, et al.,

    2010).

    Os estágios I e II permitiram-nos identificar a problemática no âmbito da EMC

    existente no SEM, que consistia na falta de uniformização pela equipa de enfermagem no

    procedimento de inserção, fixação e manutenção do CVP no cliente, de forma a prevenir as

    Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS). No decorrer do estágio III, tivemos a

    possibilidade de implementar as estratégias definidas nos estágios anteriores para minimizar o

    problema identificado e realizar a avaliação de todo o processo.

    Sabemos que a utilização do CVP se tornou um equipamento indispensável nas

    instituições de saúde para a administração de terapêutica Endovenosa (EV) aos clientes,

    constituindo assim um aspeto primordial no tratamento deste, exigindo competência e

    responsabilidade do enfermeiro que executa o procedimento. É por isso primordial que as

    intervenções de enfermagem relacionadas com o desenvolvimento desta técnica sejam as mais

    indicadas de forma a reduzir as IACS potencializadas pela presença destes dipositivos nos

    clientes.

    O elaboração do PAC teve igualmente por base a metodologia de projeto e o seu

    desenvolvimento abarca um conjunto de estratégias e atividades desenvolvidas nos estágios e

    orientadas por enfermeiros especialistas, que possibilitaram a aquisição das competências

    específicas do enfermeiro especialista em enfermagem em pessoa em situação crítica e as

    competências específicas do enfermeiro especialista em enfermagem em pessoa em situação

    crónica e paliativa.

    Com a redação deste relatório pretendemos que ele transmita os momentos de

    aprendizagens vivenciados enquanto estudantes em contexto de estágio e as atividades

    realizadas no âmbito das competências científica, técnica e humana, que nos permitiram

    desenvolver o processo de aquisição das competências comuns do enfermeiro especialista, as

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 15

    competências específicas do enfermeiro especialista em EMC e as competências de Mestre em

    EMC.

    Perante o exposto, estabelecemos como objetivos para este documento:

    Apresentar o enquadramento concetual e teórico que conduziu o nosso trabalho;

    Explicitar o desenvolvimento do PIS, através da análise das etapas que constituem a

    Metodologia de Projeto;

    Expor o desenvolvimento do PAC, através da análise das etapas que constituem a

    Metodologia de Projeto;

    Efetuar uma análise crítica-reflexiva das competências comuns e específicas do

    enfermeiro especialista em EMC;

    Analisar a aquisição das competências de Mestre em EMC.

    O presente relatório encontra-se organizado em sete partes distintas. Na primeira

    parte surge o Enquadramento Concetual, onde apresentamos de uma forma sumária o

    percurso da enfermagem, definimos o conceito da qualidade nos cuidados e realizamos ainda

    uma abordagem à Teoria de Faye Glenn Abdellah, cujos princípios serviram de suporte tanto

    ao desenvolvimento do relatório, nomeadamente ao PIS e PAC, como à execução dos

    estágios. Na segunda parte do trabalho é apresentado o Enquadramento Teórico, onde se

    definem conceitos implícitos na cateterização venosa periférica e que nos ajudam a

    compreender melhor o presente relatório. Neste capítulo fazemos também alusão à

    problemática das IACS e apresentamos as diretrizes emanadas pelo Programa Nacional de

    Prevenção e Controlo das IACS relativas às recomendações para a prevenção das infeções

    associadas à presença de dispositivos intravasculares nos clientes. A terceira parte consiste no

    desenvolvimento do PIS, onde abordamos a sua definição a as fases que o compõem segundo

    a Metodologia de Projeto (diagnóstico de situação, planeamento, execução, avaliação e

    divulgação dos resultados), cuja temática incide nas intervenções de enfermagem no decorrer

    do procedimento de cateterização venosa periférica no cliente de forma a prevenir as IACS.

    Na quarta parte do relatório expomos o diagnóstico de situação, planeamento, execução e

    avaliação respeitante ao PAC, sendo este realizado com a finalidade de adquirirmos as

    competências específicas do enfermeiro especialista em EMC no âmbito da pessoa em

    situação crítica e/ou crónica e paliativa. Neste capítulo fazemos também uma descrição crítica-

    reflexiva das intervenções realizadas para aquisição dessas competências. A quinta parte é

    composta por uma análise acerca das atividades desenvolvidas no decorrer dos estágios para

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 16

    aquisição das competências do enfermeiro especialista em EMC. Na sexta parte encontra-se a

    descrição e análise das competências de Mestre em EMC adquiridas ao longo deste curso de

    mestrado. Por fim, e na sétima parte é apresentada a conclusão, onde fazemos uma avaliação

    dos objetivos delineados, salientamos os contributos da realização do trabalho de projeto nas

    aprendizagens alcançadas, tanto a nível pessoal, como a nível profissional, e de que forma as

    mesmas resultaram em processos de melhoria da qualidade dos cuidados prestados aos

    clientes. Neste capítulo fazemos ainda uma breve referência às dificuldades sentidas e aos

    aspetos facilitadores deste longo percurso, assim como às perspetivas futuras enquanto

    enfermeiros especialistas em EMC.

    A elaboração deste documento baseia-se no novo acordo ortográfico português, à

    exceção das citações, em que mantemos o texto original dos autores, e o mesmo encontra-se

    referenciado segundo a Norma Portuguesa 405. A sua redação segue as indicações do Guia de

    Curso do 1º, 2º e 3º Semestres do Departamento de Enfermagem da ESS/IPS, do Guia

    Orientador dos Estágios 2º e 3º Semestres do Departamento de Enfermagem da ESS/IPS e

    do Guia de Fundamentos, Enquadramento e Roteiro Normativo do Trabalho de Mestrado,

    do Departamento de Enfermagem da ESS/IPS.

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 17

    1. ENQUADRAMENTO CONCETUAL

    O termo “concetualizar” refere-se a um processo, a uma forma ordenada de formular ideias,

    de as documentar em torno de um assunto preciso, com vista a chegar a uma concepção clara e organizada do

    objecto de estudo (Fortin, 1999, p. 39). Assim, o enquadramento concetual tem como objetivo

    fornecer respostas aos problemas identificados através da aquisição de variados

    conhecimentos que serão abordados no projeto ou estudos desenvolvidos.

    Neste primeiro capítulo apresentamos o enquadramento concetual em que se baseou

    o nosso trabalho ao longo deste percurso. Nele descrevemos de forma sumária o percurso da

    enfermagem, o conceito de qualidade de cuidados em saúde, a certificação das competências e

    a individualização das especialidades e por último abordamos a teoria de enfermagem que

    conduziu o desenvolvimento do nosso trabalho.

    1.1 ENFERMAGEM ATUAL

    Colliére (1999, p. 25) coloca a seguinte questão: A compreensão do mundo actual exige o

    conhecimento da História? Não se, fechado sobre si mesmo, esse passado for apenas reconstituído, como um

    objecto exótico. A prespectiva muda se esse passado for analizado e confrontado com o tempo presente, a fim de

    identificar sobrevivência e rupturas.

    Todos os seres vivos precisam de alguém que cuide deles, o ser humano não é

    exceção porque precisa de cuidados para viver. É fácil entender que sempre que exista vida,

    existam cuidados a serem prestados para que a vida se possa manter (Colliére, 1999).

    Nunes (2003) é da mesma opinião, ao referir que a enfermagem é tão antiga como a

    existência da humanidade.

    A origem da enfermagem moderna remonta à segunda metade do século XIX, com

    Florence Nightingale, onde a promoção da saúde e a prevenção da doença já eram elementos

    chave da sua conceção (Fortin, 1999). Ao longo das décadas e com marcos importantes no seu

    percurso a enfermagem foi evoluindo até à realidade em que a conhecemos atualmente.

    Em Portugal, o exercício da profissão de enfermagem organizada remonta a finais do

    século XIX, mas é a partir da segunda metade do século XX que se tem assistido ao seu

    desenvolvimento, numa prática profissional cada vez mais complexa, diferenciada e exigente

    (Ordem dos Enfermeiros, 2010a).

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 18

    O DL n.º 305/81, relativo ao Diploma da Carreira de Enfermagem veio consagrar

    uma carreira única para todos os enfermeiros e definiu cinco categorias profissionais, entre as

    quais a de enfermeiro especialista (OE, 2010a).

    Mais tarde, o DL n.º 437/91 de 8 de Novembro, veio definir uma nova Carreira da

    Enfermagem, estabelecendo que os enfermeiros passariam a ter três áreas de atuação:

    prestação de cuidados, gestão e assessoria (OE, 2010a).

    No nosso país, só em 1996 é que foram consagrados pela primeira vez em lei, os

    direitos e deveres do enfermeiro, através da criação do Decreto-Lei n.º 161/96 de 4 de

    Setembro, que definia os princípios gerais respeitantes ao exercício profissional dos

    enfermeiros, este documento intitulava-se, Regulamento do Exercício Profissional dos

    Enfermeiros (REPE).

    O referido documento, (…) clarificava conceitos, procede à caracterização dos cuidados de

    enfermagem, especifica a competência dos profissionais legalmente habilitados a prestá-los e define a

    responsabilidade, os direitos e os deveres dos mesmos profissionais (…) (OE, 2015 p. 97).

    Segundo o REPE, a profissão de enfermagem foi definida pelo artigo 4.º do capítulo

    II como, (…) a profissão que, na área da saúde, tem como objectivo prestar

    cuidados de enfermagem ao ser humano, são ou cliente, ao longo do ciclo vital, e aos

    grupos sociais em que ele está integrado, de forma que mantenham, melhorem e

    recuperem a saúde, ajudando-os a atingir a sua máxima capacidade funcional tão

    rapidamente quanto possível (OE, 2015, p.99).

    Dois anos mais tarde, em 1998 o DL n.º 104/98 de 21 de Abril, veio estabelecer a

    criação da OE, com o intuito de regulamentar e fiscalizar o exercício profissional da

    enfermagem em Portugal.

    Segundo o Estatuto da OE, artigo n.º 1, a OE, é a associação pública representativa dos

    enfermeiros inscritos com habilitação académica e profissional legalmente exigida para o exercício da respectiva

    profissão (OE, 2015, p. 15).

    Finalmente em 2009, pela Lei n.º 111/09 de 16 de Setembro era publicado o

    Estatuto da OE, que consagrava o Código Deontológico dos Enfermeiros, em que o

    cumprimento das normas deontológicas definiam, em primeiro lugar o comportamento que a

    comunidade espera de nós e têm sempre por referência o cuidado que é devido a cada cidadão, no respeito pelos

    seus direitos e necessidades (Germano, et al., 2003, p. 14).

    A evolução da sociedade tornou-a cada vez mais exigente na procura da satisfação

    das suas necessidades de saúde. A enfermagem é uma profissão que presta cuidados ao seres

    humanos como vimos anteriormente, desta forma é também afetada pela sucessiva evolução

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 19

    científica e técnica verificada na área da saúde, sendo essencial uma atualização constante por

    parte dos enfermeiros. Para dar resposta à variedade de situações que os enfermeiros se

    deparam diariamente, eles necessitam de adquirir e consolidar determinadas competências,

    com a finalidade de prestar cuidados de segurança e qualidade aos clientes (OE, 2012).

    1.2 QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE

    O ato de cuidar é intrínseco ao ser humano, ele torna-se indispensável à manutenção

    da vida humana, estando sempre presente entre nós desde os tempos mais remotos. A

    premissa que, garantir a continuidade da vida do grupo e da espécie tendo em conta o que é indispensável

    para garantir as funções vitais (…), está presente desde o início da história da humanidade

    (Colliére, 1999, p. 28).

    Foi nos últimos vinte anos que a palavra “qualidade” passou a ser incluída nas

    conversas do quotidiano das pessoas do ocidente. Os termos de “qualidade de vida”,

    “qualidade dos alimentos”, “qualidade do ensino”, entre outras, eram facilmente utilizados em

    estudos desenvolvidos na época, sendo também por esta altura que a qualidade na área da

    saúde teve uma evolução significativa (Abreu, 2003).

    Na opinião de Mezomo (2001, p. 72-73) a qualidade em saúde, deve ser entendida como

    uma extensão da própria missão da organização, que é a de atender e exceder as necessidades e expectativas de

    seus clientes. O autor acrescenta ainda que a qualidade na saúde implica também a explicitação e

    incorporação dos direitos fundamentais da pessoa humana que devem ser garantidos e preservados em sua

    integridade. Quer isto dizer, que a organização implícita deverá reconhecer e respeitar a

    dignidade, o valor e a saúde da pessoa.

    Segundo o Plano Nacional de Saúde 2011-2016, emitido pela Direção Geral de Saúde

    (DGS), a qualidade em saúde é definida como, a prestação de cuidados de saúde acessíveis e equitativos,

    com um nível profissional óptimo, que tenha em conta os recursos disponíveis e consiga a adesão e satisfação do

    cidadão. Implica ainda, a adequação dos cuidados de saúde às necessidades e expectativas do cidadão e o melhor

    desempenho possível (DGS, 2013a, p. 2).

    Cada vez mais as instituições de saúde estão empenhadas e reúnem esforços para que

    os enfermeiros prestem cuidados aos clientes de elevada qualidade que vão de encontro à

    superação das suas necessidades. Contudo, e relembrando que estes profissionais trabalham

    em equipas multidisciplinares, eles devem também desenvolver estratégias de garantia de

    qualidade ao cliente enquanto elementos de uma equipa, para que todos eles respondam da

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 20

    mesma maneira às necessidades dos clientes, prestando desta forma cuidados e serviços de

    qualidade (Sale, 2000).

    Para a OE (2001, p. 6), a qualidade em saúde é tarefa multiprofissional e tem um contexto de

    aplicação local. (…). Claramente nem a qualidade em saúde se obtém apenas com o exercício profissional dos

    enfermeiros, nem o exercício profissional dos enfermeiros pode ser negligenciado, ou deixado invisível, nos esforços

    para obter qualidade em saúde.

    A qualidade em saúde pressupõe cuidar com qualidade, mas o que realmente

    constitui a alta qualidade é o identificar e o reconhecer as situações que careçam de resposta às

    necessidades dos clientes. No âmbito da melhoria contínua da qualidade dos cuidados de

    saúde, tem-se associado a designação de “prática baseada na evidência”, que significa não só

    fazer as coisas de forma eficaz e com elevados padrões, mas acima e tudo significa “fazer bem

    as coisas certas” (Craig e Smyth, 2004).

    Para Hesbeen (2001, p. 42), cuidar da pessoa, constituiu um todo coerente indivisível no qual

    todos os componentes se interligam, se interrelacionam e no qual o que é importante e o que é secundário

    depende da percepção da própria pessoa cuidada e em função do sentido que esse todo faz para a singularidade

    da sua vida.

    Na opinião do mesmo autor, a designação de qualidade é entendida como a

    excelência, o que há de melhor, ou ainda a perfeição nos cuidados prestados em que, uma

    prática de cuidados de qualidade é aquela que faz sentido para a situação que a pessoa está a viver e que tem

    como perspectiva, que ele, bem como os que a rodeiam alcancem a saúde (Hesbeen 2001, p. 52).

    Desta forma, e com a finalidade de melhorar a qualidade dos cuidados em saúde, em

    2001, são definidos os Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem pela OE. Neste

    documento estão descritos o enquadramento concetual e os enunciados descritivos de

    qualidade do exercício profissional dos enfermeiros.

    Os enunciados descritivos visam explicitar a natureza e englobar os diferentes aspectos do

    mandato social da profissão de enfermagem. Pretende-se que estes venham a constituir-se num instrumento

    importante que ajude a precisar o papel do enfermeiro junto dos clientes, dos outros profissionais, do público e

    dos políticos (OE, 2001, p. 13). Foram definidas seis categorias de enunciados descritivos que

    abrangem a satisfação do cliente, a promoção da saúde, a prevenção de complicações, o bem-

    estar e o autocuidado, a readaptação funcional e a organização dos cuidados de enfermagem

    (OE, 2001).

    No ano de 2003 a OE, criou um documento que define o perfil de Competências do

    Enfermeiro de Cuidados Gerais, reestruturado pela OE em 2012, num novo documento, em

    que a apresentação em domínios das 96 competências foi reorganizada, foram mantidas todas

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 21

    as competências definidas mas reagruparam-se numa nova estrutura. Estes domínios das

    competências são três e serão apresentados de seguida (OE, 2012).

    No domínio da responsabilidade profissional, ética e legal, estão incluídos as

    competências relativas ao desenvolvimento de uma prática profissional com responsabilidade

    e o exercício desta, de acordo com os quadros éticos, deontológicos e jurídicos. No domínio

    da prestação e gestão de cuidados, estão abrangidas as competências relativas à atuação de

    acordo com os fundamentos da prestação e gestão de cuidados, a contribuição para a

    promoção da saúde, a utilização do processo de enfermagem, o estabelecimento de

    comunicação e relações interpessoais eficazes, a promoção de um ambiente seguro, a

    promoção de cuidados de saúde interprofissionais e a delegação e supervisionamento de

    tarefas. O último domínio diz respeito ao desenvolvimento profissional, em que estão

    incluídas as competências de contribuição para a valorização profissional, a contribuição para

    a melhoria contínua da qualidade dos cuidados de enfermagem e o desenvolvimento dos

    processos de formação contínua (OE, 2012).

    Em 2009 a OE concebe um documento que define o Modelo de Desenvolvimento

    Profissional que constitui, uma nova resposta para os desafios emergentes em termos de regulação e de

    desenvolvimento profissional (OE, 2009, p. 1). Este modelo tem como bases fundamentais o

    Sistema de Certificação de Competências e o Sistema de Individualização das Especialidades.

    O Sistema de Certificação de Competências está relacionado com a atribuição por

    parte da OE de um título profissional de enfermeiro ou enfermeiro especialista quando esta

    reconhece competência científica, técnica e humana para a prestação de cuidados de

    enfermagem ao indivíduo, à família e à comunidade, nos três níveis de prevenção (OE, 2009).

    O Sistema de Individualização de Especialidades permite individualizar as diferentes

    áreas de especialização de enfermagem através da construção de referenciais de competências

    do enfermeiro especialista. Este sistema permite também criar condições para o

    desenvolvimento de novas especialidades de enfermagem de acordo com os diferentes alvos

    de intervenção dos processos de resposta em saúde (OE, 2009). Destas especialidades faz

    parte a Especialidade em EMC, que inclui os cuidados de enfermagem especializados à pessoa

    em situação crítica e os cuidados de enfermagem especializados à pessoa em situação crónica e

    paliativa.

    Em 2010 a OE emitiu um documento que continha o Regulamento das

    Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem em Pessoa em

    Situação Crítica, e um ano depois em 2011 a OE define o Regulamento das Competências

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 22

    Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem em Pessoa em Situação Crónica e

    Paliativa.

    Em Outubro de 2011, a OE aprova o Regulamento dos Padrões de Qualidade dos

    Cuidados Especializados em Enfermagem em Pessoa em Situação Crítica, proposto pelo

    Colégio da Especialidade de EMC. Este documento constitui um referencial para a prestação

    de cuidados especializados do enfermeiro especialista à pessoa em situação crítica. Os

    enunciados descritivos dos cuidados de enfermagem especializados à pessoa em situação

    crítica incluem sete categorias referentes aos padrões de qualidade dos cuidados de

    enfermagem, que são: a satisfação do cliente, a promoção da saúde, a prevenção de

    complicações, o bem-estar e o auto cuidado, a readaptação funcional, a organização dos

    cuidados especializados e a prevenção e controlo da infeção associada aos cuidados (OE,

    2011a).

    Mais tarde em Janeiro de 2014, a OE veio apresentar uma Proposta de Regulamento

    dos Padrões de Qualidade dos Cuidados Especializados em Enfermagem em Pessoa em

    Situação Crónica e Paliativa, proposto pelo Colégio da Especialidade de EMC. Este

    documento, à semelhança do anterior deverá servir de referencial para a prestação de cuidados

    especializados do enfermeiro especialista à pessoa em situação crónica e paliativa. Os

    enunciados descritivos dos cuidados de enfermagem especializados à pessoa em situação

    crónica e paliativa incluem cinco categorias referentes aos padrões de qualidade dos cuidados

    de enfermagem que são: a satisfação do cliente e família, promoção da qualidade de vida, bem-

    estar e alívio do sofrimento, a prevenção de complicações, a (re) adaptação funcional às perdas

    sucessivas e a organização dos cuidados de enfermagem especializados (OE, 2014).

    Por tudo o que foi descrito anteriormente, terminamos este subcapítulo acentuando

    que um dos principais indicadores da qualidade nos cuidados de saúde, é a satisfação do

    cliente, também reconhecida pelo OE e descrito da seguinte maneira numa das categorias dos

    enunciados descritivos da qualidade nos cuidados de enfermagem, na procura permanente da

    excelência profissional, o enfermeiro persegue os mais elevados níveis de satisfação dos clientes (OE, 2001, p.

    13-14).

    É na procura desta satisfação constante dos clientes que damos início ao subcapítulo

    seguinte, onde abordamos uma filosofia de cuidados compostos por problemas e

    competências (vinte e um problemas de enfermagem), centrados unicamente nos clientes e

    possíveis de serem identificados pelos enfermeiros com o propósito final que visa a sua

    resolução.

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 23

    1.3 TEORIA DE ENFERMAGEM DE FAYE GLENN ABDELLAH

    O pensamento sobre a natureza da enfermagem não é recente. Já em 1958, Florence

    Nigthingale escreveu um livro intitulado Notes on Nursing, e apesar de ser escrito no século

    XIX, algumas das suas perspetivas são adequadas ao mundo atual (Roper, Logan e Tierney,

    2001).

    Este documento é considerado o início do desenvolvimento da teoria e do

    pensamento teórico na enfermagem, uma vez que apresenta a primeira teoria de enfermagem

    que dá enfase à manipulação do ambiente em prol do benefício do cliente (Hickman, 2000).

    Por esta altura as pessoas consideravam a enfermagem como resultado de várias

    tarefas desenvolvidas pelos enfermeiros. Nesta representação de tarefas o processo de

    raciocínio, conhecimento e atitudes necessários e desenvolvidos antes, durante e após a

    realização de uma tarefa não era valorizado (Roper, Logan e Tierney, 1995).

    Com o passar dos anos foram desenvolvidos os modelos concetuais de enfermagem,

    que permitiram identificar os conceitos principais que se consideram ser únicos na

    enfermagem, e ainda reconhecer que o conhecimento é essencial para fundamentar a prática

    de enfermagem (Roper, Logan e Tierney, 2001).

    Ainda a propósito da perspetiva de Florence Nightingale, sobre a enfermagem o

    desenvolvimento da teoria de enfermagem evoluiu rapidamente nas últimas quatro décadas, o que levou,

    finalmente, ao reconhecimento da enfermagem como disciplina académica com um considerável corpo de

    conhecimentos (Tomey e Alligood, 2004, p.5).

    Fawcett (1984) cit. in Roper, Logan e Tierney (1995, p.13), está de acordo com o

    pensamento anterior e considera que o desenvolvimento dos modelos conceptuais e a classificação dos mesmos

    como tal foi um avanço importante nesta disciplina. Esta autora acrescenta que os modelos concetuais

    procuram uniformizar conceitos da prática de enfermagem, que até ai eram compreendidos de

    forma individual, tendo em conta a interpretação que cada um fazia das suas decisões e ações

    (Roper, Logan e Tierney, 1995).

    Foi durante o último século que a enfermagem foi reconhecida como uma disciplina

    académica e uma profissão, tendo contribuído para esse reconhecimento a concretização da

    enfermagem durante esse período, contribuindo de forma positiva para o seu desempenho.

    Sendo a teoria utilizada muito importante, tanto para a enfermagem como disciplina, como

    enquanto profissão (Tomey e Alligood, 2004).

    A teoria de enfermagem é constituída por um grupo de conceitos relacionados entre

    si e que provêm dos modelos de enfermagem. As teorias de grande alcance são mais abstratas

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 24

    e mais abrangentes, já as teorias de médio alcance são o nível menos abstrato do

    conhecimento teórico, tendo um foco de interesse mais limitado (Tomey e Alligood, 2004).

    Segundo Hickman (2000, p. 11), a unidade básica na linguagem do pensamento teórico é o

    conceito.

    Webster (1991) cit. in Hickman (2000, p. 11) define o conceito como, algo concebido na

    mente – um pensamento ou uma noção. Os conceitos são palavras que representam a realidade e facilitam a

    nossa capacidade de comunicação sobre ela. Os conceitos podem ser empíricos, se são observados

    pelo mundo real e abstratos se não forem observáveis.

    Para compreender uma teoria é importante conhecer as definições dos conceitos

    utilizados, desta forma e enfermagem baseia-se em quatro conceitos principais, a pessoa, a

    saúde, o ambiente e a enfermagem. Estes conceitos reunidos formam o metaparadigma da

    enfermagem e este identifica o conteúdo de uma disciplina. No caso do metaparadigma da

    enfermagem, cada um dos quatro conceitos é apresentado como uma abstração (Hickman,

    2000).

    Kerlinger (1973) cit. in Hickman (2000, p. 12) define a teoria como, um conjunto de

    conceitos inter-relacionados, definições e proposições que apresentam uma forma sistemática de ver os

    factos/eventos, pela especificação das relações entre as variáveis, com a finalidade de explicar e prever o

    facto/evento. Já Meleis (1991) cit. in Hickman (2000, p. 12) define a teoria como, (…) uma

    conceitualização articulada e comunicada da realidade inventada ou descoberta (fenómeno central e

    relacionamentos) na enfermagem com a finalidade de descrever, explicar, prever ou prescrever o cuidado de

    enfermagem. A definição desta teoria acrescenta a importância da comunicação na teoria de

    enfermagem e a finalidade da prescrição em enfermagem.

    As teorias são compostas por conceitos e proposições, sendo estas últimas que

    explicam a forma como se relacionam os conceitos (Hickman, 2000).

    Na opinião de Barnum (1994) cit. in Hickman (2000), uma teoria de enfermagem só

    está completa quando contém contexto (ambiente onde o ato de enfermagem se desenrola),

    conteúdo (assunto da teoria) e processo (método de atuar do enfermeiro ao usar a teoria).

    As teorias podem ser distinguidas por níveis ou por categorias. Quando nos

    referimos ao nível de uma teoria focamos o âmbito ou a variação dos fenómenos aos quais ela

    se aplica. Quando abordamos as categorias de uma teoria referimo-nos aos quatro tipos de

    categorias às quais as teorias podem pertencer, que são as categorias de

    necessidades/problemas, interação, sistemas e campo de energia (Hickman, 2000).

    Por forma a orientar o nosso percurso nos estágios I, II e III e o desenvolvimento do

    PIS, escolhemos a Teoria de Faye Glenn Abdellah, centrada nos vinte e um problemas de

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 25

    enfermagem, já que esta teoria se encontra incluída na categoria de necessidades/problemas,

    uma vez que a teórica dá enfase às necessidades e aos problemas apresentados pelos clientes, e

    procura resolvê-los com base no processo de enfermagem.

    Como já referimos anteriormente, as Notes on Nunsing de Nightingale apresentam a

    primeira teoria de enfermagem, tendo sido um trabalho que orientou a prática da enfermagem

    por mais de 100 anos. Faye Abdellah, juntamente com outros teóricos, foram formandos das

    primeiras concetualizações teóricas da ciência da enfermagem ao frequentarem programas

    educacionais de graduação, desenvolvidos pelo Teachers College da Universidade de Columbia

    nos anos 50 (Falco, 2000).

    Abdellah percebeu que para a enfermagem obter o estatuto e autonomia profissional

    necessitava de conquistar uma base sólida de conhecimentos. Para a autora, a enfermagem

    precisava de se aproximar de uma filosofia de cuidados alargados e centrados no cliente

    (Tomey e Alligood, 2004).

    Escolhemos a teoria centrada nos problemas de Faye Gleen Abdellah, como suporte

    ao trabalho desenvolvido, uma vez que Abdellah descreveu a enfermagem como uma acção para

    indivíduos, famílias e, portanto para a sociedade (Falco, 2000, p. 119).

    De acordo com teórica, a enfermagem é baseada na arte e na ciência moldada nas atitudes, na

    competência intelectual e nas habilidades técnicas individuais da enfermeira (…),

    e a sua teoria de enfermagem afirma que, a enfermagem é o uso do método

    de solução de problemas com os problemas-chave de enfermagem relacionados às

    necessidades de saúde das pessoas (Falco, 2000, p. 119-120).

    Abdellah define a saúde como um modelo dinâmico de funcionamento, que integra a

    presença contínua de uma interação de forças internas e externas, que resulta no uso adequado

    dos recursos necessários, servindo para minimizar as vulnerabilidades. O enfoque deve ser

    colocado na prevenção e na reabilitação, tendo como meta a atingir o bem-estar para toda a

    vida. O enfermeiro ao desempenhar as ações de enfermagem contribui para que o cliente

    adquira um estado de saúde, mas para desempenhar essas ações ele deve identificar as faltas ou

    as deficiências relativas à saúde que o cliente apresenta, desta forma elas constituem as

    necessidades de saúde do cliente (Falco, 2000).

    A teórica refere que estas necessidades de saúde do cliente podem ser tratadas como

    problemas, sendo que estes problemas apresentados pelo cliente são uma condição suportada

    por ele ou pela sua família e que o enfermeiro através do desempenho das suas funções

    profissionais pode ajudar a resolver (Tomey e Alligood, 2004). O uso do termo “problemas de

    enfermagem” por esta teórica tem vindo a ser substituído pela designação de “funções de

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 26

    enfermagem”, já que a orientação é mais centrada na enfermagem do que no cliente (Falco,

    2000).

    Para que se realizem as ações de enfermagem de qualidade, os enfermeiros deverão

    ser capazes de identificar os problemas de enfermagem, quer os mais evidentes, como os mais

    encobertos. O processo de identificação desses problemas inclui a identificação do problema,

    a seleção de dados, a formulação das hipóteses, a experimentação e a revisão das hipóteses, se

    necessário (Tomey e Alligood, 2004). Algumas das etapas descritas coincidem com as etapas

    do processo de enfermagem, nomeadamente, a investigação, o diagnóstico, o planeamento, a

    implementação e a avaliação (Falco, 2000).

    O elemento decisivo na Teoria de Abdellah centra-se na correta identificação dos

    problemas de enfermagem, e estes podem ser classificados em três categorias principais: as

    necessidades físicas, sociológicas e emocionais do cliente, o tipo de relações interpessoais entre

    o enfermeiro e o cliente e os elementos comuns de cuidados ao cliente (Falco, 2000).

    Após a realização de diversas pesquisas e estudos, foram identificados 21 grupos de

    problemas, que constituem os 21 problemas de enfermagem de Abdellah e que são:

    1. Manter boa higiene e conforto físico;

    2. Promover a atividade ideal: exercício, repouso e sono;

    3. Promover a segurança através da prevenção de acidentes, ferimentos ou outros

    traumatismos e através da prevenção da disseminação da infeção;

    4. Manter a boa mecânica do corpo e prevenir e corrigir as deformidades;

    5. Facilitar a manutenção de um suprimento de oxigénio para todas as células do corpo;

    6. Facilitar a manutenção da nutrição de todas as células do corpo;

    7. Facilitar a manutenção da eliminação;

    8. Facilitar a manutenção do equilíbrio hídrico e eletrólito;

    9. Reconhecer as reações fisiológicas do corpo às condições da doença – patológicas,

    fisiológicas e compensatórias;

    10. Facilitar a manutenção dos mecanismos e das funções reguladoras;

    11. Facilitar a manutenção da função sensorial;

    12. Identificar e aceitar as expressões positivas e negativas, os sentimentos e as reações;

    13. Identificar e aceitar o inter-relacionamento de emoções e doenças orgânicas;

    14. Facilitar a manutenção efetiva da comunicação verbal e não-verbal;

    15. Promover o desenvolvimento de relacionamentos interpessoais produtivos;

    16. Facilitar o progresso em direção à obtenção de metas espirituais pessoais;

    17. Criar e/ou manter um ambiente terapêutico;

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 27

    18. Facilitar a consciencialização de si mesmo como indivíduo com necessidades físicas,

    emocionais e de desenvolvimento variadas;

    19. Aceitar as metas ideais possíveis à luz das limitações físicas e emocionais;

    20. Usar os recursos comunitários como um auxílio na resolução dos problemas que

    surgem com a doença;

    21. Compreender o papel dos problemas sociais como fatores influentes no caso de

    doença (Falco, 2000).

    A teórica não especifica de forma clara os conceitos de pessoa, saúde, ambiente e

    enfermagem, necessários à compreensão de uma teoria como foi descrito anteriormente. Ela

    considera o indivíduo/pessoa, como recetores das ações de enfermagem, sem negligenciar as

    suas crenças ou pressupostos sobre a sua natureza, considera a saúde como a finalidade das

    ações de enfermagem, a sociedade/ambiente são incluídos no planeamento da saúde nos

    níveis locais, nacionais e internacionais, e por último a enfermagem é contemplada nos vinte e

    um problemas referidos atrás, e servem para orientar os cuidados de enfermagem e promover

    o uso do julgamento da enfermagem (Falco, 2000).

    Perante o descrito podemos salientar que Abdellah foca a sua teoria no cuidar, nas

    necessidades do cliente segundo os problemas de enfermagem identificados e ao delinear quais

    são estes problemas ela direciona as funções do enfermeiro no sentido da sua resolução.

    De todos os problemas de enfermagem identificados pela teórica, verificámos que o

    ponto 3, “Promover a segurança através da prevenção de acidentes, ferimentos ou

    outros traumatismos e através da prevenção da disseminação da infeção”, se encontra

    relacionado com o nosso PIS. Uma vez que o mesmo se centra no âmbito do controlo de

    infeção, mais propriamente nos procedimentos de inserção, fixação e manutenção do CVP, de

    forma a prevenir as IACS, desta forma decidimos utilizar esta teoria, visto que a mesma dá

    ênfase aos aspetos científicos da enfermagem centrando-se nas ações de enfermagem dirigidas

    aos outros e não depende dos comportamentos demostrados pelos clientes.

    Acreditamos que a informação obtida através da exposição teórica abordada nos

    subcapítulos apresentados anteriormente, e que compõem o enquadramento concetual, é uma

    mais-valia para a compreensão do projeto em análise. Inicialmente abordamos a origem da

    profissão de enfermagem e os documentos que servem não só para a definir, mas também

    para clarificar conceitos que lhe estão associados, como é o caso da qualidade dos cuidados em

    saúde. Posteriormente, e para atingirmos a desejada qualidade nos cuidados prestados com

    vista à satisfação do cliente, expusemos um conjunto de problemas que na opinião Abdellah

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 28

    servem como guia orientador do enfermeiro na identificação e resolução dos problemas

    presentes nos clientes.

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 29

    2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

    Neste segundo capítulo abordamos o enquadramento teórico em que se baseou o

    nosso trabalho e que orientou o desenvolvimento do mesmo. Este capítulo é formado pela

    definição e explicação de conceitos que nos ajudam a compreender melhor o presente

    relatório. O capítulo é constituído pelos subcapítulos: marcos na história das infeções,

    infeções associadas aos cuidados de saúde, cateteres venosos periféricos e infeções associadas

    aos cateteres venosos periféricos.

    2.1 MARCOS NA HISTÓRIA DAS INFEÇÕES

    Hoje em dia, a utilização do termo de Infeção Hospitalar (IH) ou Infeção

    Nosocomial (IN), tornou-se uma prática comum nas unidades de prestação de cuidados de

    saúde. Esta designação na atualidade é utilizada não só por profissionais de saúde, mas

    também, e cada vez mais por aqueles que procuram cuidados de saúde seguros e de qualidade.

    Foi com Francastorius, médico italino de Verona, que na Idade Média se iniciaram as

    suspeitas que haveria alguma coisa que pudesse transmitir doenças de uma pessoa para outra.

    No seu livro De Contagione, o autor fez referência às doenças epidémicas, ao contágio das

    doenças e mencionou ainda que as doenças surgiam através de microorganismos que podiam

    ser transmitidos de pessoa a pessoa. Em 1546, Francastorius defendeu a teoria de que certas

    doenças se transmitem através de corpúsculos e descreveu também o mecanismo de

    transmissão das doenças infeciosas (Fontana, 2006).

    Entre 1300 e 1650 com o período do Renascimento, surgiu a imprensa e associado a

    ela foram publicados e difundidos vários livros sobre as doenças existentes. Por esta altura

    estudava-se também a varíola e a escarlatina e no século XVIII que já se pensava em maneiras

    de evitar a propagação de doenças, em que os clientes eram restritos a certos hospitais e

    triados consoante o seu diagnóstico, tais como a febre de tifoide e a tuberculose. Estes

    hospitais eram locais que possuíam condições de higiene muito precárias, o que possibilitava a

    transmissão de microorganismos entre os clientes (Fontana, 2006).

    O avanço dos estudos sobre a microbiologia e sobre as infeções foram decorrendo e

    em 1794, Jonh Hunder associou as infeções a processos inflamatórios, através do

    desenvolvimento de um método experimental. Mas foi no decorrer do século XIX, que

    importantes contribuições foram dadas ao estudo das infeções hospitalares e da epidemiologia,

    através das descobertas efetuadas no campo da microbiologia importantes para a prevenção

    das infeções hospitalares (Fontana, 2006).

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 30

    Na opinião de Martins (2001, p. 3), desde que existem os hospitais existem as infecções

    hospitalares. As questões relacionadas com a infeção hospitalar começaram a ter enfoque pelos

    profissionais de saúde na primeira metade do século XIX (Martins, 2001).

    Foi Ignaz Phillip Semmelweis, um obstetra húngaro, que em 1847 publicou um

    trabalho que veio confirmar a transmissão de doenças intra-hospitalares através das mãos

    contaminadas como fonte de transmissão de doenças e preconizou a lavagem das mãos com

    uma solução clorada antes de cada cliente observado (Martins, 2001).

    A invenção das luvas cirúrgicas no final do século XIX e início do século XX é outra

    importante contribuição para a prevenção das infeções (Fontana, 2006).

    A participação da enfermeira Florence Nightingale, em 1863 foi notória na

    prevenção das infeções, através da padronização dos procedimentos de enfermagem,

    relacionados com o cliente e o ambiente, dando enfoque às questões relacionadas com a

    higiene e a limpeza dos hospitais, que até esse momento eram negligenciados, com a finalidade

    de diminuir os riscos associados à infeção hospitalar (Martins, 2001).

    O aparecimento dos antimicrobianos feitos por Paul Ehrlich em 1910 e

    simultaneamente a evolução da tecnologia e o seu aperfeiçoamento trouxeram vários

    benefícios e tornaram-se no século XX, revolucionários no tratamento das infeções (Fontana,

    2006).

    Passadas quatro décadas, em 1950 surgem estirpes de staphylococcus resistentes à

    penicilina, anteriormente descoberta por Fleming em 1942, o que provocou um aumento da

    incidência das IH, causando elevadas taxas de mortalidade (Martins, 2001).

    Em 1946 foram criados os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) nos Estados

    Unidos da América (EUA), que recomendavam a vigilância epidemiológica das IH de forma

    rotineira em todos os hospitais, com a finalidade de obter dados epidemiológicos para

    implementar medidas de controle.

    Em 1958 a American Hospital Association, recomenda a vigilância das IH e a criação das

    comissões de controlo de infeção nos hospitais (Martins, 2001).

    Em 1959 cria-se a primeira comissão de controlo de infeção na Inglaterra e foi

    também nomeada a primeira enfermeira de controlo de infeção (Silva, 2013).

    Na década de 1960, o uso indiscriminado de antibióticos fomentou o aparecimento

    de estirpes resistentes a esses antibióticos e o papel da enfermagem na Vigilância

    Epidemiológica (VE) tornou-se mais visível. Em 1965 nos EUA, assistiu-se pela primeira vez

    ao pagamento que um hospital foi obrigado a pagar, por uma indeminização a um cliente por

    danos sofridos por este em consequência de uma IH (Martins, 2001).

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 31

    Os CDC durante a década de 60 emitiram várias normas e recomendações relativas à

    IH, e na década de 70 estudos feitos demonstravam que a VE proposta pelos CDC fosse

    realizada por enfermeiros de controlo de infeção, com formação e treino especializado nesta

    área (Silva, 2013). Nesta altura, foi também recomendado pelos CDC que existisse um

    enfermeiro de controlo de infeção a tempo inteiro, por cada 250 camas ocupadas nos

    hospitais (Martins, 2001).

    Este enfermeiro deteria a responsabilidade de garantir o cumprimento do programa

    de controlo de infeção estabelecido para cada instituição de saúde, através da articulação com

    elementos de outros serviços ou unidades de saúde. Este profissional especializado, teria

    também a função de intervir junto de clientes e respetivas famílias com base em resultados

    laboratoriais existentes e dados relevantes para cada situação de controlo de infeção (Wilson,

    2003).

    Com a criação e o aperfeiçoamento das comissões de controlo de infeção por todo o

    mundo, associado ao desenvolvimento de múltiplas campanhas e estratégias emancipadas,

    quer pelos CDC quer pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o controlo de infeção

    passou a fazer parte da política de segurança dos clientes, integrando a área da qualidade dos

    cuidados.

    2.2 INFEÇÕES ASSOCIADAS AOS CUIDADOS DE SAÚDE

    Uma IH é uma infeção adquirida no hospital por um cliente que foi internado por

    outra complicação que não essa infeção. Esta infeção é também caracterizada por ocorrer num

    cliente internado numa instituição de saúde e que não estava presente no momento da

    admissão deste. Estão também incluídas nestas infeções, as infeções adquiridas pelos

    profissionais de saúde no decorrer da sua atividade profissional (Ministério da Saúde, 2007).

    Atualmente a designação de IH ou IN tem vindo a ser substituída pela denominação

    de IACS. As IACS podem ser causadas por diversos microrganismos como as bactérias, vírus,

    fungos e parasitas. No entanto são as bactérias e os fungos que constituem os princípios

    responsáveis pelas IACS. Estes microrganismos encontram-se nas instituições de saúde, mais

    propriamente no local de prestação de cuidados ao cliente, designado o ambiente envolvente

    do cliente, mas também nos próprios clientes, fazendo parte da flora de cada indivíduo

    (Franco, 2010).

    O risco de transmissão de microrganismos envolve contacto físico direto entre os

    profissionais de saúde e os clientes, desta forma, está presente em todos os momentos da

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 32

    prestação de cuidados, especialmente em clientes imunodeprimidos ou com presença de

    dispositivos invasivos (Franco, 2010).

    Taxas de incidência e prevalência das IACS relatam que atualmente a nível mundial,

    estima-se que mais de 1,4 milhões de clientes sofrem infeções adquiridas em instituições de

    saúde. Nos EUA entre 5 a 10% dos clientes admitidos em hospitais desenvolve uma IACS,

    causando diretamente cerca de 100000 mortes por ano (Dias, 2010).

    Os estudos de prevalência relativos às IACS e realizados no nosso país identificaram

    como taxas de prevalência a presença de dispositivos invasivos nos clientes, entre eles inclui-se

    o CVP (Pina, Silva e Ferreira, 2010).

    Nos nossos dias as IACS acarretam um acréscimo na morbilidade e mortalidade nos

    clientes, custos económicos adicionais para as instituições de saúde, sofrimento físico e

    emocional para o cliente e suas famílias, integrando um indicador de qualidade dos cuidados

    prestados. As guidelines emancipadas internacionalmente, no âmbito da prestação de cuidados

    de saúde, constituem uma mais-valia para os profissionais de saúde e deverão servir como

    conduta no seu comportamento no ambiente de prestação de cuidados ao cliente (Dias, 2010).

    2.3 CATETERES VENOSOS PERIFÉRICOS

    A Terapia Endovenosa teve inico com o médico William Harvey, com a sua

    descoberta da circulação sanguínea. O conhecimento dos vasos sanguíneos e a utilização da

    terapêutica EV remonta à época de Galileu, na tentativa de reposição da volémia a

    combatentes nos períodos das guerras, sendo na década de 40 que o cateter vascular foi

    introduzido nos hospitais (Phillips, 2001). Desde essa altura, muitas foram as pessoas que

    contribuíram para o desenvolvimento deste procedimento e o aperfeiçoaram ao longo dos

    tempos, para o utilizarmos tal como o conhecemos hoje em dia.

    O avançar dos anos, a par do avanço tecnológico, resultou num aumento de

    administração de terapêutica por via EV, sendo esta a via de eleição, relativamente à via oral

    ou intramuscular, pelo aumento de eficácia da terapêutica administrada no organismo, devido

    ao rápido efeito de concentração e absorção deste, mas também porque existem determinados

    medicamentos que só podem ser administrados por esta via (Phillips, 2001).

    A punção venosa periférica é um procedimento invasivo que consiste em puncionar

    uma veia num cliente, através do rompimento da pele, pela transposição das suas camadas,

    com o auxílio de vários tipos de dispositivos, como butterfly, cateteres ou ainda através de uma

    agulha conectada a uma seringa. Assim, torna-se fácil perceber que se trata de um

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 33

    procedimento invasivo, que exige do profissional que o realiza (maioritariamente o

    enfermeiro), a adoção da técnica assética no desenrolar do mesmo (Marteleto et al., 2010).

    Atualmente os CVP fazem parte indispensável do equipamento clínico utilizado nas

    instituições de saúde para administração de terapêutica EV, transfusão de hemoderivados,

    fornecimento de um suporte nutricional e sempre que é necessário o acesso direto à corrente

    sanguínea ao cliente. Esta via pode ser utilizada em situações urgentes como não urgentes, já

    que está comprovado a sua viabilidade na administração de terapêutica EV nas situações de

    paragem cardiorrespiratória nos clientes (Carlotti, 2012).

    Nos EUA anualmente, são utilizados cerca de 150 milhões de dispositivos

    intravasculares em hospitais e clínicas, sendo que os mais utilizados são os CVP (Maki, 1992,

    cit. in Phillips, 2001).

    A administração de terapêutica EV constitui assim um aspeto essencial no

    tratamento do cliente, exigindo do enfermeiro competência e responsabilidade no

    procedimento executado. Esta responsabilidade do enfermeiro deverá estar presente durante

    todas as fases do procedimento, quando avalia e seleciona o cateter vascular, quando explica o

    procedimento ao cliente, durante o desenvolvimento da técnica de inserção do cateter no

    cliente e quando vigia a perfusão da medicação (Elkin, Perry e Potter, 2005).

    Wilson (2003) refere que, mais de 60% dos clientes hospitalizados recebem

    terapêutica EV, desta maneira os CVP e a própria terapêutica administrada por eles, estão

    muitas vezes associados ao desenvolvimento de complicações infeciosas, quer localmente ou

    sistémica, sendo que as infeções mais importantes relacionadas com o CVP são as da corrente

    sanguínea, devendo os enfermeiros estar despertos para estas situações.

    A correta manutenção do local de inserção do CVP poderá prevenir ou minimizar

    essas complicações, desta forma e para que exista um bom resultado da administração de

    medicação por via EV, existem alguns fatores que não deverão ser negligenciados, como a

    preparação do cliente para a técnica, a seleção da veia, a seleção do cateter adequado e a sua

    correta inserção (Elkin, Perry e Potter, 2005).

    2.4 INFEÇÕES ASSOCIADAS AOS CATETERES VENOSOS PERIFÉRICOS

    A colocação de um CVP para administração de terapêutica EV, é um dos

    procedimentos invasivos mais frequentes da prática diária em meio hospitalar. Tendo em

    conta a frequência de vezes que estes dispositivos são utilizados, torna-se importante que as

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 34

    intervenções de enfermagem associadas a esta sucessiva manipulação sejam as mais adequadas,

    com a finalidade de prevenir a infeção (MS, 2013).

    Segundo Pose et al. (2005), referido por Augusto (2013, p. 22), a complicação vascular mais

    frequente nos clientes puncionados com cateteres venosos periféricos (CVP) é a Flebite e aproximadamente 25%

    a 35% que têm em perfusão terapia endovenosa desenvolvem flebites.

    Em ambiente hospitalar, a flebite é uma das complicações mais frequentes nos

    clientes e está associada ao desenvolvimento de um processo inflamatório da camada íntima

    das veias causado por irritação mecânica, química ou infeções bacterianas, cuja sintomatologia

    passa pela dor, edema, rubor e calor à palpação do local (Magerote et al., 2011).

    Segundo o mesmo autor, os fatores que poderão levar ao desenvolvimento das

    flebites ainda não é conclusivo, contudo existem alguns que podem aumentar o risco do seu

    progresso como: o material e o calibre do CVP, o tempo de permanência do CVP, o local de

    punção e a terapêutica EV administrada ao cliente. Martins et al., (2008) vêm acrescentar a

    estes fatores de risco, a técnica e a assepsia utilizada na inserção do CVP, assim como a prévia

    e a correta higienização das mãos do profissional que insere o cateter ou o manuseia, além de

    fatores relacionados com o cliente, como a idade e presença de patologias associadas.

    A presença de flebite num cliente aumenta o risco de infeção e o dispositivo deverá

    ser removido de imediato. Contudo, estas situações nem sempre são fáceis de diagnosticar

    (Elkin, Perry e Potter, 2005).

    Têm sido várias as recomendações publicadas sobre os procedimentos invasivos e

    estratégias de implementação de boas práticas, com o objetivo de reduzir a incidência das

    infeções associadas a esses procedimentos e aos dispositivos intravasculares. A OMS, emitiu

    em 2006, um conjunto de recomendações “Prevenção da Infeção Nosocomial Associadas a

    Dispositivos Intravasculares”, que foram elaboradas por um grupo de trabalhos

    multidisciplinar, com base nas recomendações emanadas pelos Centers for Disease Control anf

    Prevention - Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee, United States (CDC – HICPAC,

    USA) (MS, 2006). Entre estas recomendações, encontram-se as que são relativas à

    cateterização venosa periférica e incluem a técnica de inserção do CVP (normas de assepsia),

    locais de inserção, tipos de pensos utilizados na fixação do CVP ao cliente, inspeção diária do

    local de inserção e a troca dos materiais utilizados rotineiramente (Martins, 2001).

    De seguida abordaremos de forma sumária, os princípios a reter na cateterização

    venosa periférica.

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    Cristina Ribeiro Página 35

    Lavagem das mãos

    Os enfermeiros envolvidos na inserção e manutenção dos CVP deverão ser

    detentores de conhecimento e competências para dar resposta aos protocolos relacionados

    com a otimização do CVP de forma a prevenir as infeções. A prevenção tem início nos

    conhecimentos relacionados com as técnicas para controlar as infeções. Essas técnicas

    incluem entre outras, o procedimento adequado da lavagem das mãos e o conhecimento

    daquilo que está contaminado, limpo, desinfetado e esterilizado (Phillips, 2001).

    A inserção de um CVP num cliente prevê um conjunto de medidas que os

    enfermeiros deverão realizar previamente, com o objetivo de prevenir complicações como já

    foi referido anteriormente. Entre essas medidas encontra-se a higienização das mãos do

    profissional (Oliveira e Parreira, 2010).

    As mãos dos profissionais de saúde são consideradas o veículo mais comum para a

    transmissão de microrganismos de cliente para cliente, estando muitas vezes implicadas na via

    de transmissão de surtos de infeção, sendo a higiene das mãos essencial para remover os

    microrganismos (Wilson, 2003).

    O procedimento da higiene das mãos faz parte das precauções básicas do controlo de

    infeção, na norma emancipado pela DGS, “Precauções Básicas do Controlo da Infeção”

    (DGS, 2013b). A higienização eficaz das mãos, utilizando preferencialmente soluções

    contendo antisséptico, como é exemplo a Solução Antissética de Base Alcoólica, deverá

    preceder sempre procedimentos que visam o contacto com sangue, como é o caso da inserção

    do CVP, devendo ser também efetuada sempre que se preveja o contacto com o CVP ou com

    os dispositivos de administração de terapêutica (Phillips, 2001).

    A higiene correta das mãos, utilizando as soluções adequadas e cumprindo os tempos

    de lavagem indicados para cada produto, reduzem o risco de transmissão de microrganismos

    entre enfermeiros e clientes (DGS, 2013b).

    A DGS preconiza ainda que todos os profissionais de saúde usem luvas limpas

    sempre que seja previsível o contacto com sangue, contudo a sua utilização não deverá

    substituir nunca a higienização das mãos. Como tal, recomenda-se a utilização de luvas limpas

    previamente à inserção do CVP.

    Preparação da pele

    Sendo a pele a camada protetora do corpo, ela constituiu uma das fontes de infeção

    primárias relacionadas com o cateter, pela possibilidade de desenvolvimento de uma infeção

    no local de inserção do CVP, quando o dispositivo entra na pele (Wilson, 2003).

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    Cristina Ribeiro Página 36

    A técnica de cateterização de uma veia periférica consiste na introdução de um

    cateter numa veia periférica e preparado para esse fim. Esta técnica poderá introduzir na veia

    bactérias que estão presentes na própria pele do cliente, que poderão ser do próprio

    (resultante da sua flora), ou das mãos do profissional que está a executar a técnica.

    A preparação da pele tem como finalidade remover as bactérias, prevenindo a

    possível colonização microbiana. Após a seleção da veia a puncionar, a limpeza do local

    deverá ser à base de cloro-hexidina, com movimentos circulares, no sentido proximal para o

    distal, deixando a área desinfetada secar completamente. Após esta desinfeção não se deverá

    voltar a tocar no local a puncionar pois existe o risco de contaminação do mesmo (Carlotti,

    2012).

    Wilson (2003, p. 238), com base num estudo desenvolvido por Maki et al., (1991)

    aponta que, a limpeza da zona de punção com clo-hexidina antes da inserção de um cateter central arterial

    está associado a uma taxa de infeção inferior à da limpeza com iodopovidona a 10% ou com álcool a 70%.

    Mendonça et al., (2010) defende que o álcool a 70º tem sido utilizado como

    desinfetante da pele na punção periférica, a sua utilização justifica-se pelo seu baixo custo e

    pela boa eficácia neste procedimento. O álcool a 70º é o desinfetante que usualmente se

    encontra nos serviços de internamento para utilização na desinfeção da pele na cateterização

    venosa periférica, contudo a sua utilização já está a ser abandonada para dar lugar a um

    desinfetante que contenha na sua composição cloro-hexidina.

    Inserção do cateter venoso periférico

    A finalidade da colocação do CVP já foi descrita anteriormente, e o resultado da sua

    inserção centra-se na minimização das complicações que decorrem da administração da

    terapêutica EV e do desconforto para o cliente. Existem vários tipos de cateteres periféricos,

    que permitem um rápido acesso à rede venosa do cliente.

    Após a seleção da veia a puncionar e sua desinfeção, insere-se o cateter escolhido na

    veia, com o bisel voltado para cima, formando um ângulo entre 5º-30º. Quando o cateter se

    introduz na veia provoca um refluxo de sangue, este facto comprova que a agulha e o cateter

    de plástico se encontram no lúmen da veia, nesta fase avança-se com o cateter na direção da

    veia e retira-se simultaneamente a agulha da veia. O garrote é removido do cliente quando o

    cateter estiver totalmente introduzido na veia (Carlotti, 2012).

    Depois da inserção do CVP é necessário confirmar se este se encontra permeável,

    para tal injeta-se soro fisiológico através dele, observando possíveis alterações da pele, como

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

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    rubor, edema, tumefação, extravasamento de líquido em redor do local de inserção do CVP ou

    desconforto manifestado pelo cliente (Carlotti, 2012).

    Posteriormente à inserção do CVP no cliente é muito importante que este fique bem

    fixado para não existir o risco de ele se mover, já que esta situação poderá arrastar

    microrganismos para dentro da ferida, provocada pela inserção do cateter na pele e aumentar

    o risco de flebite (Wilson, 2003).

    Pensos utilizados na fixação do cateter venoso periférico

    O método utilizado para proteger o local de inserção do CVP é o penso, mas o que

    verifica nos serviços de saúde é que não existe um consenso entre os profissionais de saúde

    sobre o tipo de penso mais eficaz a ser utilizado nestas situações (Wilson, 2003).

    A finalidade de utilizar um penso de fixação no local de inserção do CVP é prevenir

    o trauma no local de inserção no vaso sanguíneo e prevenir a contaminação da ferida

    provocada pela inserção do CVP (Phillips, 2001). A acrescentar a estas razões, Silva e Zanetti

    (2004) apontam como complicação da não utilização do penso de fixação, o deslocamento do

    CVP do sítio onde foi inserido.

    Hoje em dia a oferta existente no mercado de pensos para fixação de CVP é vasta e

    os materiais mais utilizados para fixação dos CVP são os adesivos, os pensos de gaze estéril e

    as peliculas transparentes (Silva e Zanetti, 2004).

    Os adesivos são utilizados para fixar o CVP, através de várias técnicas de fixação.

    Contudo, estudos realizados com clientes que possuíam esta forma de fixação verificaram que

    42,3% apresentavam pelo menos uma manifestação de trauma vascular. A acrescentar a estas

    razões, é de salientar que este tipo de adesivo não é esterilizado e a sua manipulação poderá

    ocasionar a contaminação da técnica (Silva e Zanetti, 2004).

    Os pensos de gaze esterilizada não protegem o local da humidade, nem permitem

    uma visualização fácil do local de inserção do CVP. Importa acima de tudo, que a escolha do

    penso pelo profissional que executa a técnica seja um penso esterilizado, pelas razões

    apontadas atrás, e que o mesmo permita uma visualização do local de inserção do CVP, sem

    que para isso seja necessário retirar o penso. Existem pensos com películas transparentes que

    permitem visualizar o local de inserção e assim detetar sinais precoces de flebite. Este tipo de

    penso permite também que o cliente faça a sua higiene, sem haver um risco acrescido de

    humidade do penso, uma vez que ele é impermeável, nem de descolamento deste (Wilson,

    2003).

  • “Procedimentos de Enfermagem da Cateterização Venosa Periférica na Prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde”

    Cristina Ribeiro Página 38

    Na impossibilidade de colocar um penso esterilizado no local de inserção do CVP, o

    princípio a seguir deverá ser o de minimizar o risco de desenvolvimento de infeção, desta

    forma poderá ser utilizado uma compressa esterilizada por cima do cateter e utilizar adesivo

    para a fixar à pele do cliente (Elkin, Perry e Potter, 2005). Esta modalidade de penso requer

    uma atenção mais frequente, uma vez que deverá ser substituído sempre que se encontrar