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1 COMO LER UM LIVRO Mortimer J. Adler Charles Van Doren Sntese por Joªo Marcos B. Dantas Nota: Conforme colocado pelo prprio autor as regras apresentadas se aplicam aos livros em geral, porØm por motivos de interesse prprio, a abordagem desta sntese privilegia livros de cunho cientfico por ser minha Ærea de atuaªo, mas voltando a repetir, as regras sªo aplicÆveis de forma geral a todos os livros. Joªo Marcos B. Dantas PREFACIO: Para se atingir as metas da leitura, deve se ter a habilidade de ler coisas diferentes em velocidades diferentes e adequadas. O livro propıe uma leitura de velocidade variÆvel tendo como objetivo ler melhor.s vezes lento e s vezes rÆpido. PARTE I- AS DIMENSES DA LEITURA A atividade e a arte da leitura Ns nªo precisamos saber tudo sobre alguma coisa para entende-la, tanto informaªo demais, quanto de menos sªo obstÆculos para a compreensªo. As regras de leitura que veremos podem ser aplicadas a qualquer material impresso. Os contatos feitos entre leitura passiva e ativa sªo feitos durante o livro com a intenªo de chamar a atenªo para que a leitura pode ser mais ou menos passiva, e que quanto mais ativa, melhor serÆ. Apesar de nªo existir leitura totalmente passiva, pessoas pensam que ouvir e ler sªo passivos, porØm a coisa que foi escrita /lida Ø o objeto passivo e quem ouve ou lŒ Ø ativo. A arte da leitura consiste na habilidade de agarrar toda espØcie de informaªo, tªo bem quanto possvel. Uma comunicaªo bem sucedida Ø quando o que o escritor quer transmitir encontre seu caminho para ser recebido pelo leitor, a habilidade de ambos convergem para o mesmo fim. Um fragmento de texto Ø um objeto complexo, que pode ser recebido mais ou menos, variando de muito pouco totalidade que o escritor queria passar. Ler Ø uma atividade complexa, dado que ela consiste em vÆrios atos isolados e que todos eles devem ser bem executados durante a leitura. O sucesso na leitura depende do grau de recepªo daquilo que foi tentado comunicar. Se vocŒ entende, pode ter assimilado informaªo, mas pode nªo ter aumentado sua compreensªo. Se vocŒ nªo entende o livro perfeitamente, vocŒ pode mostrar a outra pessoa para que lhe explique, ou nªo se incomoda e fica sem entender, mas nªo Ø esta a

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COMO LER UM LIVRO

Mortimer J. Adler Charles Van Doren

Síntese por João Marcos B. Dantas Nota: Conforme colocado pelo próprio autor as regras apresentadas se aplicam aos livros em geral, porém por motivos de interesse próprio, a abordagem desta síntese privilegia livros de cunho científico por ser minha área de atuação, mas voltando a repetir, as regras são aplicáveis de forma geral a todos os livros.

João Marcos B. Dantas PREFACIO: Para se atingir as metas da leitura, deve se ter a habilidade de ler coisas diferentes em velocidades diferentes e adequadas. O livro propõe uma leitura de velocidade variável tendo como objetivo ler melhor.Às vezes lento e às vezes rápido. PARTE I- AS DIMENSÕES DA LEITURA A atividade e a arte da leitura Nós não precisamos saber tudo sobre alguma coisa para entende-la, tanto informação demais, quanto de menos são obstáculos para a compreensão. As regras de leitura que veremos podem ser aplicadas a qualquer material impresso. Os contatos feitos entre leitura passiva e ativa são feitos durante o livro com a intenção de chamar a atenção para que a leitura pode ser mais ou menos passiva, e que quanto mais ativa, melhor será. Apesar de não existir leitura totalmente passiva, pessoas pensam que ouvir e ler são passivos, porém a coisa que foi escrita /lida é o objeto passivo e quem ouve ou lê é ativo. A arte da leitura consiste na habilidade de agarrar toda espécie de informação, tão bem quanto possível. Uma comunicação bem sucedida é quando o que o escritor quer transmitir encontre seu caminho para ser recebido pelo leitor, a habilidade de ambos convergem para o mesmo fim. Um fragmento de texto é um objeto complexo, que pode ser recebido mais ou menos, variando de muito pouco à totalidade que o escritor queria passar. Ler é uma atividade complexa, dado que ela consiste em vários atos isolados e que todos eles devem ser bem executados durante a leitura. O sucesso na leitura depende do grau de recepção daquilo que foi tentado comunicar. Se você entende, pode ter assimilado informação, mas pode não ter aumentado sua compreensão. Se você não entende o livro perfeitamente, você pode mostrar a outra pessoa para que lhe explique, ou não se incomoda e fica sem entender, mas não é esta a

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leitura que o livro requer. Você deve então trabalhar no livro, de forma que ao manipula-lo você passe a entende-lo mais, fazendo uma leitura de alto nível. Estar informado é simplesmente saber da existência de algum caso. Ser esclarecido é saber tudo sobre o caso: motivos, conexões com outros fatos, etc. Só atinge o esclarecimento quando além de saber o que o autor diz, você sabe o que ele quer dizer e porque o faz. Na história da educação, sempre se fez a distinção entre aprender por instrução e aprender por descoberta. A instrução acontece quando uma pessoa ensina a outra através da fala ou da escrita. Descoberta é quando aprendemos algo pela pesquisa, investigação ou reflexão, sem que alguém nos ensine. Seria um erro dizer que a descoberta é ativa e que o aprendizado e a instrução são passivos. A descoberta pode ser colocada no contexto da leitura como �a arte de ler a natureza do mundo�, e a instrução seria �a arte de ler livros, ou de aprender com discursos� A arte da leitura também inclui atividades que fazem parte da descoberta sem ajuda: observação acurada, boa memória, imaginação, etc. Os níveis da leitura O autor divide em 4 os níveis de leitura:

1- Leitura elementar (básica ou inicial): Passagens do letrado ao basicamente letrado, onde em muitos casos voltamos a esta fase (leitura de algo em língua estrangeira que não dominamos)

2- Leitura Averiguativa: O objetivo deste tipo de leitura é extrair o máximo de um livro em um determinado tempo. Podemos chamar de garimpagem. Sabemos qual a estrutura ou sobre o que é um livro.

3- Leitura Analítica:Atividade mais completa e sistemática, é a melhor leitura possível. O leitor deve fazer muitas perguntas sobre o que lê. Essa leitura não é sempre necessária, depende do objetivo

4- Leitura sintópica: método mais complexo, para onde o leitor lê vários livros sobre o assunto e relaciona uns com aos outros . Uma leitura difícil, porém compensadora.

O primeiro nível de leitura: leitura elementar A aptidão para leitura inclui muitas formas diferentes de preparação para se aprender a ler. As aptidões físicas envolvem boa visão e audição. A aptidão intelectual envolve o nível mínimo de percepção visual para que a criança possa registrar uma palavra e as letras que a formam. A aptidão de linguagem envolve habilidade de usar diversas frases claras na ordem crescente. O primeiro estágio dessa leitura e a aptidão para leitura, que define se a criança está pronta para não parar leitura para a o segundo estágio refere-se a leitura de textos simples e sozinhas. O terceiro estágio é caracterizado pelo rápido progresso no vocabulário e maior capacidade de decifrar o sentido das palavras. O quarto estágio caracteriza-se pelo desenvolvimento das habilidades adquiridas, tornando-se maduro.

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A maioria das instituições de ensino superior não sabe instruir estudantes para leitura além do nível elementar. Os cursos de leitura dinâmica servem para remediar uma situação, compensar falhas dos níveis básicos.

O segundo nível de leitura: leitura averiguativa

Você só conseguirá ler no nível averiguativo se ler com eficiência no nível elementar, entendendo o significado das palavras sem se atrapalhar com a gramática e a sintaxe. Existem dois tipos de leitura averiguativa: Leitura averiguar ativa I: Garimpagem sistemática ou pré-leitura Este tipo de leitura deve ser usado quando você não sabe se o livro merece uma leitura analítica, o você dispõe de pouco tempo para obter as informações. O objetivo principal é descobrir se o livro requer uma leitura mais cuidadosa, ou você pode concluir que o que ele tem a lhe oferecer já foi pego na garimpagem. Eis algumas sugestões:

1 - Olhe a folha de rosto e o prefácio. Preste atenção no subtítulo ou outras indicações sobre o conteúdo e objetivo. 2 - Estude o índice para ter uma idéia geral da estrutura do livro, use-o como um mapa. 3 - Ao checar o índice onosmático faça uma estimativa da variedade de assuntos. Quando se deparar com temas importantes consulte algumas das passagens em que ele aparece. 4 - Leia o texto promocional da editora, muitas vezes eles não são apenas propaganda barata, e às vezes os próprios autores escrevem. 5 - Olhe os capítulos que pareçam centrais, e se estes capítulos começam e/ou terminam com considerações importantes, leia-as. 6 - Dê uma folheada geral parando em alguns pontos, buscando menções ao assunto principal. Muitos autores sintetizam o que é importante no seu trabalho antes do epílogo. É impossível realizar este tipo de leitura sem estar atento.

Leitura averiguativa II: leitura superficial Ao ler um livro difícil pela primeira vez, não se preocupe em parar todo o tempo para refletir sobre coisas que você não entendeu direito. Leia com atenção aquilo que você entende e o que não consegue entender de imediato, não se preocupe. O que você entender irá lhe ajudar, quando voltará atrás até as passagens mais difíceis. Mesmo que não volte, entender uma parte é melhor que não entender nada, o que aconteceria se interromper a leitura na primeira passagem difícil. Tentar entender estas partes prematuramente acaba impedindo a leitura. Um bom curso de leitura dinâmica deve ensinar a ler em velocidades diferentes e não apenas a ler mais rapidamente. Deveria ensina-lo a avaliar o ritmo de acordo com a natureza e complexidade do texto. Todo livro, por mais difícil que seja, contém trechos de transição que devem ser lidos rapidamente, assim como os bons livros têm trechos difíceis que devem ser lidos lentamente. Necessitamos corrigir as fixações e regressões que nos fazem ler devagar. Normalmente

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não é necessário nada mais além da própria mão, para que possamos acompanhar enquanto ela realiza os movimentos para guiar a leitura. Usada como guia, a mão (ou outro instrumento) aumenta concentração durante a leitura. Você não pode compreender um livro sem o ler analiticamente. Resumo da leitura averiguativa

- Não existe uma única velocidade adequada de leitura, a habilidade para ler várias velocidades, sabendo quando cada uma é adequada é o ideal. - Garimpar o livro é muito bom quando queremos saber se o livro merece uma leitura mais profunda. - Não tente entender palavra por palavra, ou cada página do livro numa primeira leitura. Leia sem interrupções, você estará preparado para lê-lo bem na segunda.

Como ser um leitor exigente Muitas pessoas que são capazes de distinguir lucro e prazer são incapazes de cumprir o plano de leitura devido a elas não saberem como ser um leitor exigente,como manter suas mentes concentradas daquilo que estão fazendo. A essência da leitora ativa: as quatro perguntas básicas que um leitor deve fazer Faça perguntas enquanto você lê, que você mesmo deve tentar responder. As perguntas básicas são: 1 - Sobre o que fala o livro? 2 - O que está sendo dito detalhadamente, e como? 3 - O livro é verídico? 4 - O que se pode extrair do livro? Estas perguntas constituem as regras básicas de leitura. O leitor não exigente não faz estas perguntas.Não basta apenas conhecer as perguntas e sim fazê-las quando lê. A posse total de um livro só existe quando você o transforma em parte de você mesmo, e a melhor maneira é escrevendo nele. Seguem algumas sugestões para se anotar no livro de forma eficaz: 1 - Sublinhar as partes mais importantes e as frases mais fortes. 2 - Linhas verticais nas margens para enfatizar o trecho já sublinhado é muito grande para sublinhar. 3 - Estrelas, asteriscos nas margens para enfatizar os pontos mais importantes. 4 - Números nas margens para indicar a seqüência das idéias. 5 - Número de outras páginas das margens indicando em que outro momento o autor aborda a idéia. 6 - Circular palavras/ frases chaves. 7 - Escrever nas margens perguntas ou sintetizar trechos. Existem três tipos básicos de anotação que são usadas conforme o nível que estiver lendo. Na leitura averiguativa você deve fazer anotações de suas respostas a perguntas na

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página do índice que a folha de rosto, uma vez que estas notas dizem respeito a estrutura do livro. Durante a leitura analítica você precisará responder perguntas sobre a veracidade o significado livro (anotações conceituais), e quando for leitura sintopica a anotação pode se referir a outros livros. Não existe outra maneira de adquirir o hábito a não ser praticando. Conhecer as regras de uma arte não é o mesmo que praticar, portanto leia e usa as regras. PARTE II: O TERCEIRO NÍVEL DE LEITURA: LEITURA ANALÍTICA Classificando um livro As instruções deste livro se aplicam a qualquer coisa que se queira ler,apesar de, em muitos momentos abordamos leitura de livros completos (se depara com os problemas mais sérios). Regra 1 da leitura analítica: Você precisa saber que tipo de livro está lendo, o mais cedo possível, de preferência antes de começar a leitura. Para saber que tipo de livro recomenda-se uma leitura averiguativa. Um caminho indispensável para a discussão sobre um livro é saber que tipo de livro é e ler um título e o prefácio é uma boa dica para obter esta informação. Os textos introdutórios de cada capítulo tem o propósito de ampliar o significado do livro. Se o autor não é capaz de responder à perguntas da 1 regra não é capaz de responder diversas outras sobre o livro. Porém é necessário um conhecimento das categorias existentes. A principal distinção é entre os trabalhos de ficção (história, filosofia,etc)e os que lidam com conhecimento (matemática, ciência, etc), porem ainda não dispomos de princípios de classificação. Aquilo que é prático tem realmente a ver com o que funciona, enquanto o teórico diz respeito a algo que deve ser visto ou interpretado, livros práticos ensinam como fazer algo, e teóricos ensinam qual é o caso. Um trabalho ético por exemplo nos ensina como viver nossa vida, por isto é um livro prático. Muitas vezes você reconhece um livro prático pelo título, podendo o mesmo até classificar a área. Quando isto não for suficiente deve-se ler os trechos que pareça ser uma síntese Um livro prático usa freqüentemente palavras como �deve�, �bom�, �mau�, "objetivo".Já o livro teórico usa palavra como �é�, mostrando que algo é verdadeiro, e que fatos são de certa forma. É possível termos livros meio práticos e meio teóricos. A subdivisão tradicional ou clássica como História, Ciência e Filosofia. No caso da História o segredo habitualmente esta no título. Se a palavra história não aparecer no título é possível que o restante da folha de rosto nos informa se é sobre algo que aconteceu no passado. A ciência não se interessa apenas pelo passado, e sim por qualquer época, e por descobrir como as coisas aconteceram. Sem título é menos revelador e algumas vezes aparece a palavra ciência. A filosofia busca verdades gerais, mais que um conjunto de acontecimentos. Se um livro teórico enfatizar coisas que fogem do padrão, da normalidade, é um trabalho científico, do contrário é filosófico. O livro refere-se a fatos próximos ao homem

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comum. A ciência é experimental e depende de pesquisas, e a Filosofia é um sistema de pensamento. O livro de História, apresenta uma narrativa, e é escrito poeticamente. Radiografando um livro O conhecimento da necessidade de se enxergar a estrutura de um livro leva à descoberta da segunda e terceira regras para se ler qualquer livro. Regra 2: Resuma a unidade do livro em uma única fase ou no máximo em um parágrafo pequeno. Dizer sobre o que é o livro é diferente de dizer que tipo é. Você precisa ser capaz de contar a si mesmo ou a outra pessoa a unidade do livro em poucas palavras. Regra 3: Identifique as partes principais do livro que mostram como elas formam um conjunto organizado. Um bom livro, como uma boa casa, é um arranjo ordenado de partes, onde cada parte maior tem certa independência, mas precisa estar ligada a outras partes. Sobre a segunda regra, nem sempre você tem que encontrar a unidade de um livro sozinho, porque muitas vezes o autor ajuda através do título, do seu plano no prefácio. E neste caso os livros expositivos diferem da ficção, pois no primeiro caso não é necessário manter o leitor em suspense, e pelo contrário. Porem não se recomenda confiar plenamente no prefácio, e sim guiar-se por ele e encontrar a unidade por si. Freqüentemente pode-se esperar de um bom autor o resumo do plano do livro. Uma unidade de diversas maneiras, e não há uma forma certa de faze-lo. A terceira regra está ligada à segunda: Uma unidade bem sintetizada indica as partes principais que compõem o conjunto, e você não entende o conjunto sem entender as partes. É mais fácil assumir uma unidade complexa em 2 passos. A segunda regra orienta para a unidade e a terceira para a complexidade, onde implica em resumir as partes, cada uma com sua unidade própria, definindo a abordagem de cada parte e suas idéias principais. Você não precisa seguir a estrutura aparente do livro como está indicando na divisão dos capítulos. Seu resumo das partes do livro e sua demonstração de como elas exemplificam e desenvolvem o tema principal é um suporte para sua síntese do livro. Regra 4: Descubra quais foram os problemas do autor. O autor de um livro começa com uma ou mais perguntas, às quais o livro dará a resposta. É tarefa do leitor formular esta perguntas. Esta regra reproduz o que você fez também na 2 e 3 regras. As primeiras quatro regras apresentadas estão interligadas a um objetivo comum, que é de propiciar o conhecimento da estrutura de um livro, e quando você aplica-las, terá atingido o primeiro estágio da leitura analítica. Não é necessário ler o livro inteiro para aplicar as quatro regras e depois ler o novo para aplicar as próximas. O leitor experiente atinge todos os estágios simultaneamente, mas deve ter em mente que conhecer a unidade do livro é o primeiro estágio. Chegando a um acordo com o autor

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O estagio seguinte contem também quatro regras, e a primeira chamamos de chegar a um acordo com o autor, e é o primeiro passo depois do resumo. Regra 5: Encontre as palavras importantes e descubra como o autor às esta empregando. O objetivo é compreender/ interpretar o conteúdo ou mensagem do texto. Esta regra requer dois passos: o primeiro lidando com a linguagem e o segundo atravessando a linguagem para chegar a seu sentido. Uma palavra pode ser veículo para muitos termos, e um termo pode ser expresso por muitas palavras.A ambigüidade das palavras prejudica ou impede a comunicação, e so será eficaz quando pensarmos na palavra da mesma forma. Palavras podem ser mais ou menos importantes. O leitor geralmente já estará familiarizado com ambigüidade de palavras do cotidiano, quando o autor usar de forma comum, mais ao ler livros do passado será mais difícil identificar estas palavras, pois muitas vezes são utilizados significados arcaicos. Você não pode identificar as palavras chaves sem fazer um esforço para compreender a passagem que ela aparecem, pois compreendendo o texto você saberá quais são as palavras importantes.Do ponto de vista do leitor as palavras importantes serão as que representam um problema, porem estas podem não ser as importantes para o autor, assim como palavras importantes para o autor podem não incomodar você, e assim terá chegado a um acordo com o autor. Existem indicativos que nos apontam quais são palavras importantes, e um deles é a ênfase que o autor coloca em uma palavras.Porém muitas vezes será necessário que o autor tenha um conhecimento prévio para identificar estas palavras quando tiverem significado técnico. Necessariamente o leitor deve buscar as palavras que não compreende para localizar as palavras importantes. O maior pecado do leitor não ativo e pouco exigente é a pouca atenção que dedica às palavras. Ao identificar as palavras que lhe incomodam, o autor pode usar em apenas um sentido ou em mais de um durante o livro.Portanto primeiramente devemos verificar se as palavras t6m um ou mais significados,e se tiver mais de um, ver como eles se relacionam, e posteriormente identifique os lugares que as palavras são usadas nos diferentes sentidos, observando se o contexto lhe da alguma pista sob o significado, e você deve obter o significado destas palavras observando o significado das demais no contexto. Porem se toda palavra de um livro que você esta lendo é estranha você não fará nenhum progresso. O fato de um livro lhe oferecer novos esclarecimentos ou revelações implica em conter palavras que você pode não entender de imediato. Entendendo as palavras pelo seu próprio esforço e trabalhando no livro é possível você passar a entender mais do mesmo. Uma palavra em um lugar específico é um termo, e ao usa-las você e o autor devem compartilhar seu sentido,e as palavras que forem restando devem encontrar seu lugar.Você faz isto através de tentativa, onde cada palavra no seu lugar facilitará a seguinte até completar o quadro. A medida que praticar você saberá quando estará certo. Definindo a mensagem de um autor

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Uma proposição de um livro também é um declaração, uma expressão do julgamento do autor sobre alguma coisa. O leitor precisa chegar a um acordo com o autor antes de descobrir o que esta propondo, e por isto a quinta regra envolve palavras e termos, e a sexta regra envolve sentenças e proposições. A sétima regra lida com argumentos de todos os tipos. Um argumento é sempre um conjunto de afirmações que fornece as bases ou razões pelas quais algo deve ser concluído.São necessários um parágrafo ou pelo menos algumas sentenças para expressar um argumento.Você chega às proposições e argumentos dividindo um livro em suas partes,e então observe como os argumentos são feitos de proposições ou termos. Nem todas sentença expressam proposições. Algumas expressam perguntas ou propõe problemas ao invés de resposta. Outras sentenças expressam desejos ou intenções, nos dando idéia dos propósitos do autor, mas não abordam o conhecimento que ele quer transmitir. A menos que você identifique as diferentes proposições de uma sentença complicada, você não poderá fazer um julgamento adequado daquilo que esta dizendo. Mesmo uma sentença gramatical simples pode expressar mais proposiçòes, assim como uma mesma proposição pode ser expressa em mais sentenças Dizer que só existe um número pequeno da sentença chave em um livro não significa que você deva prestar menos atenção ao resto. As sentenças mais importantes são aquelas que você e mais lentamente e dispende maior esforço em entende-la,e nestas você deve dar mais atenção. Se você já identificou as palavras mais importantes elas podem conduzi-lo às sentenças importantes e o inverso também funcionam. Se você localizar sentença que parecem formar uma seqüência que tem começo e fim,você terá localizado as seqüências mais importantes. A sexta regra requer outro passo: você precisa descobrir a proposição ou as proposições que cada sentença contem, ou seja, você deve saber o que a sentença quer dizer interpretando as palavras. Você não ira completar a interpretação de uma sentença importante até identificar as proposições diferentes. Na sétima regra da leitura analítica requer que o leitor trabalhe com um conjunto de sentenças.Localize os parágrafos de um livro que contem seus argumentos importantes, e se estes não estiverem claros você deve construí-los através de sentenças de parágrafos diversos. Após descobertas as sentenças principais deve-se construir os parágrafos com as mesmas, onde já foi recomendado anotar nas margens a seqüência das sentença.Bons autores deixam bem claras as sentença. Se o autor resume os argumentos ao final da seção você pode voltar e encontra-las no texto. Existem algumas dicas para seguir bem estas regras.Primeiramente lembre que todo argumento envolve um conjunto de seqüências, onde algumas expressam as razões do autor.Diferencie os argumentos de fato particulares dos que abordam afirmações gerais. Observe aquilo que o autor considera como dado, aquilo que demonstra e aquilo que pode ser provado,e o que é evidente por si Estas três últimas regras (termos proposições e argumentos) podem ser reunida na oitava regra como último passo para interpretação ligando o resumo a interpretação do conteúdo.Você deve conferir o que descobriu fazendo a si perguntas adicionais, tais como: Quais dos problemas o autor resolveu? Surgiram novas questões?

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Regra 8: Descubra as soluções do autor, o que conseguiu resolver e o que não conseguiu. Criticando razoavelmente um livro Agora estamos prontos para o último estágio da leitura analítica. A leitura de um livro deve ser como uma conversa, onde o leitor tem a última palavra. Um bom livro merece uma leitura ativa. A leitura não termina quando compreender o que o livro diz, onde deve ser completada pela crítica/ julgamento do livro. Responder de volta ao autor faz parte do terceiro estágio da leitura analítica, e assim como os outros, existem regras. O leitor mais ensinável, o que responde a um livro tirando conclusões é o mais crítico, ele portanto precisa saber como julgar um livro da mesma forma que precisa saber como compreender seu conteúdo. A habilidade retórica está em saber como reagir a alguém que tenta lhe convencer. Você deve responder ao livro, porém não comece a responder até ter ouvido tudo com atenção e ter compreendido. Regra 9: Você precisa ser capaz de dizer que compreende antes de dizer se concorda ou discorda. Existem 2 motivos para expormos estas regras. Primeiro porque muitos erram ao identificar crítica e discordância, onde mesmo a crítica construtiva é discordância, a segunda é que por mais óbvia que seja esta regra, poucas pessoas a seguem na prática. Quando você não entende um livro deve-se observar que a culpa pode não ser do autor, onde o livro depende de outros para seu entendimento. Regra 10: Quando você discordar, faça de forma racional, e não agressiva ou polêmica. O que importa á aprender a verdade e não ganhar uma discussão, e o leitor que se aproxima do livro com o intuito de ganhar uma discussão lê apenas para encontrar algo a contestar. É necessário admitir quando o autor tem razão. Esta última regra recomenda que você entenda os desacordos como passíveis de ser resolvidos. O desacordo se torna uma polêmica fútil a menos que haja uma esperança de que exista alguma solução para ele. Ele pode ser resolvido pela eliminação dos mal entendidos ou da ignorância, desde que a pessoa esteja preparada para mudar de opinião, tanto para mudar a opinião do outro. O desacordo não pode resultar de má interpretação, assim como o leitor deve diferenciar o conhecimento genuíno, da mera opinião. O leitor deve sempre dar motivos para seus julgamentos. Regra 11: Respeite a diferença entre conhecimento e opinião pessoal, dando razões para qualquer julgamento que você fizer. Sabemos algo porque temos algumas evidências, porém podem surgir sempre evidências que invalidam nosso pensamento. Concordando com um autor ou discordando dele Se o problema é do livro, e não do leitor, ele precisa localizar as fontes mostrando que tem uma estrutura desordenada, que suas partes não se encaixam, etc., e na medida que provou que o livro é ininteligível, ele não tem mais obrigações como crítico. O bom leitor deve estar preparado para uma boa argumentação, conduzindo uma polêmica de forma civilizada e inteligente.

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Existem três condições que precisam ser cumpridas para que uma polêmica seja bem conduzida. É necessário estar consciente das emoções que carrega nas discussões, pois em muitos casos você pensar que tem razão e na verdade ter emoção. Segundo, você precisa estar consciente de seus preconceitos para que possa fazer uma avaliação justa do que o autor expôs. Terceiro, uma tentativa de imparcialidade é um bom antídoto contra a cegueira que é quase inevitável quando se toma um partido, e cada leitor deve se colocar um pouco no ponto de vista do autor. O objetivo é que o leitor não faça críticas baseadas na emoção ou preconceito, sempre fornecendo motivos ao que discordar. Para justificar uma crítica você deve ser capaz de expor o conhecimento que falta ao autor, e mostrar como ele faz diferença para chegar à conclusão. Desde que seja relevante frente às conclusões do livro, deve-se apontar os pontos errados apontados como certo pelo autor, e assim mesmo você deve apresentar as evidências do fato. Um autor pode ser ilógico por duas maneiras: a conclusão apresentada não decorre das razões apresentadas, ou as coisas que o autor diz são incompatíveis (inconsistência). Se você não foi capaz de provar que o autor está desinformado, mal informado, ou que está sendo ilógico, você simplesmente não pode discordar. Dizer que um livro é incompleto somente pode ocorrer se você definir o motivo, seja pelo seu próprio conhecimento, seja por outros livros. Livros relacionados de uma mesma área podem ser comparados utilizando estes critérios, e o melhor livro é o que cometeu menos erros. Existem muito livros que valem a pena ler, porém existem muito mais livros que merecem apenas uma inspeção. Ajudas à leitura Entendemos por leitura intrínseca a leitura de um livro isolado dos demais, e como leitura extrínseca a leitura de um livro à luz de outros. A ajuda extrínseca em muitos casos é bastante útil para compreensão total de um livro. O motivo de não falarmos muito de ajuda extrínseca até aqui é que muitas pessoas tornam-se dependentes e escravas dela, e isto é ruim. Existem quatro tipos de ajuda extrínseca: experiências relevantes, outros livros, comentários e abstrações, e livros de referência. A experiência comum é disponível a todos os homens e mulheres, porém a experiência especial deve ser buscada ativamente e só é acessível àqueles que se esforçam para adquiri-la. Ambos os tipos são importantes para os diferentes tipos de livro. A experiência comum é mis útil para a ficção, e a experiência especial é mais relevante para trabalhos científicos. Para livros de história ambas são importantes pois ela tem a ver com ambos os lados, científico e fictício. Para saber se você está fazendo uso de sua experiência para entender um livro, você deve apresentar exemplos sobre os aspectos supostamente aprendidos na leitura. Nosso conselho se refere principalmente à leitura dos chamados grandes livros. Grandes livros muitas vezes tem uma relação entre si, ou tem uma certa ordem a ser seguida. Um escritor mais recente foi influenciado por um mais antigo, e se você ler o mais antigo antes pode ajuda-lo a compreender mais fácil o mais novo. Ler livros relacionados entre

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si na ordem cronológica, é um regra básica da leitura extrínseca para ajuda na compreensão. Esta necessidade se aplica muito mais à história e à filosofia que à ciência e ficção. Os grandes autores foram grandes leitores, e uma forma de compreende-los é ler os livros que eles leram. É extremamente importante afirmar que estes trabalhos devem ser utilizados com moderação, pois os comentários muitas vezes podem não estar certos (opinião do leitor que os escreveu), e muitas vezes pontos importantes de um livro podem não ter sido percebidos pelo autor do resumo. Apesar disto este tipo de leitura é muito útil para se fazer um exame. Além disto um resumo pode refrescar sua memória posteriormente sobre o conteúdo do livro, e também será útil quando você estiver trabalhando em uma leitura sintópica sobe um assunto. Na leitura extrínseca, você só deve ler um comentário após concluir a leitura, para que não possa distorcer a sua interpretação do livro. Um resumo ou condensação nunca poderá substituir a leitura de um livro, mas às vezes ela pode informar uma pessoa se ela precisa ou não ler o livro. Um livro de referência (enciclopédia, dicionário, etc.) é um antídoto para a ignorância de efeitos limitados, pois ele não cura a ignorância total, nem pode pensar para o leitor. Para usa-lo você deve ter uma idéia do que quer. Você precisa conhecer os livros de referência a ponto de saber qual e como usa-lo. Não tente usar um livro de referência antes de saber o que o editor recomenda para usa-lo. Estes livros só são úteis ao ponto que você saiba quais perguntas eles podem responder, e quais não. PARTE III: ABORDAGEM DE DIFERENTES TIPOS DE LEITURA Como ler livros práticos As 15 regras de leitura, na forma que foram apresentadas não se aplicam à leitura de ficção e poesia. O resumo é feito de forma diferente, o conteúdo fundamental não é lógico, portanto a crítica de trabalho deve ser diferente. A abordagem a ser feita em diferentes tipos de livros deve ser baseada em perguntas diferentes, e diferentes tipos de resposta a se esperar. No campo expositivo, observamos que a divisão é feita entre o prático e o teórico, livros que envolvem questões de ação e livros que expõe algo que só precisa ser conhecido. Os livros teóricos podem ser divididos em história, ciência (e matemática) e filosofia, e os livros práticos eliminam todas as fronteiras. O livro prático nunca pode em si resolver os problemas práticos que aborda. O livro não pode resolver o problema por você, apenas lhe ajudar. Livros práticos podem contudo estabelecer regras que se aplicam a uma série de situações particulares do mesmo tipo. O próprio leitor deve acrescentar algo ao livro para que ele se torne aplicável na prática, somando o conhecimento da situação particular ao julgamento de como aplicar a regra. Um tipo de livro prático (assim como este), dita as regras para serem aplicadas, o outro está preocupado com os princípios que geram as regras (livros de economia, moral, política), mas um mesmo livro pode conter as duas definições. Na leitura de livros com regras as principais proposições são as regras, que é expressa por uma sentença no imperativo. Busque sempre os argumentos que mostram que as regras funcionam, e exemplos concretos das mesmas. Nos livros que mostram os princípios que geram as

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regras são muito parecidos com os de um livro teórico. As preposições e argumentos irão procurar mostrar que algo funciona de determinada forma, e provar que de fato é assim. Ao julgar um livro teórico, o autor deve julgar a identidade ou discrepância entre seus princípios básicos e os do autor. Ao julgar um livro prático o que importa são os objetivos. Duas perguntas que você deve fazer a qualquer livro prático: �Quais os objetivos do autor?� e �Quais os meios que ele propõem para alcança-los�. O autor tentará jogar com suas emoções para persuadi-lo a pensar e agir de determinada maneira. A personalidade do autor é muito mais importante nos livros práticos do que nos teóricos. A pergunta sobre o que é o livro não muda pois o livro é expositivo, devendo fazer o resumo de sua estrutura para se responder. Você deve descobrir o que o autor quer fazer, pois o que ele quer fazer, ele quer que você faça. Você também deve identificar as proposições, temos e argumentos para encontrar o significado ou contudo do livro. Você precisa entender os meios que o autor recomenda para atingir o que ele propõe. Se o livro se enquadra com sua experiência com as coisas, você deve concordar pelo menos em parte com o autor, pois suas metas e os meios se encaixam em sua própria concepção sobre o que e como fazer. O acordo com um livro prático implica em ação por sua parte, pois significa que você deve passar a agir da forma descrita. Como ler leitura imaginativa As regras anteriores referiam-se a livros de não ficção, e seria confuso ter exposto simultaneamente as regras para livros expositivos. A habilidade para leitura da ficção é aprendida mais facilmente, e ela diverte mis do que ensina. Não podemos ler da mesma forma uma leitura imaginativa da não imaginativa. Livros imaginativos tentam comunicar a experiência em si, e se bem sucedidos dão sensação de prazer ao leitor, enquanto livros expositivos tentam transmitir conhecimento. Devemos nos abrir às histórias de ficção, deixar que ela nos toque para que cause o efeito desejado. Um texto expositivo deve explicitar claramente tudo que for relevante, enquanto o imaginativo depende tanto do que é dito quanto do que fica subentendido. Também podemos aprender com as experiências fictícias produzidas pelos livros em nossa imaginação, portanto os livros expositivos primariamente ensinam, e os imaginativos secundariamente ensinam. Um livro de ficção não deve ser criticado pela consistência que aplicam à transmissão de conhecimento. Regras gerais para ler leitura imaginativa Regras para resumo da estrutura: 1 � Você precisa classificar um trabalho de literatura imaginativa pelo gênero. 2 � Você precisa assimilar a unidade do conjunto. Você não terá assimilado até que possa resumir brevemente sua trama. 3 - Numa história de ficção as partes devem se encaixar numa ordem temporal, de forma que você saiba onde é o começo, meio e fim. Deve-se conhecer as várias crises que conduzem ao clímax, onde ele acontece e o que acontece em seguida. As partes de um livro de ficção são muito mais dependentes que de um livro expositivo.

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Regras interpretativas: 1 � Você deve assimilar com seus personagens até que tenha vivido seus episódios para eu possa assimilar uma história 2 � Sinta-se em casa neste mundo imaginário, comporte-se como observador da ação, torne-se uma parte deste mundo. 3 � Você deve acompanhar os personagens em sua aventura. A trama é a alma da história, e você deve ser sensível a seu ritmo. O bom leitor de ficção não questiona o mundo que o autor cria. Não se pode concordar ou discordar da ficção, ou se gosta ou não. Ao final da leitura seu julgamento será se gosta ou não de um livro, e porquê, além de dizer o que é bom e o que é ruim. Sugestões para ler histórias, peças e poemas As regras que vimos , mesmo sendo gerais tem de sofrer algumas adaptações dependendo do gênero da literatura imaginativa, e neste capítulo iremos sugerir as adaptações necessárias. No caso da literatura imaginativa ela não leva você a nenhuma ação após a leitura, porém elas sempre podem influenciar nossas ações de alguma forma. Textos imaginativos podem levar à ação mas não são feitos para isso. O primeiro conselho que gostaríamos de lhe dar é este: leia rapidamente e com concentração total, pelo menos aproximando-se do ideal. Faça um esforço para viver no mundo do livro, e lá as coisas parecerão ter mais lógica. Não precisamos nos preocupar em lembrar de todos os personagens, apenas dos personagens fundamentais para a história. Os autores em geral enfatizam os trechos essenciais para a trama, portanto não se preocupe se isso não se acontecer no início do livro. O autor nas histórias cuida para que eles tenham o que merecem, apesar disto causar a maior ansiedade em todos nós. Como ler ciências e matemática Neste capítulo iremos orienta-lo na leitura dos grandes clássicos científicos e matemáticos, e dos modernos livros de divulgação científica. Hoje as ciências são escritas por especialistas e para especialistas, e isto por um lado é muito bom pois rapidamente a ciência fará progresso, porém ficam poucas oportunidades de transferência de conhecimento para os médios leitores, que para se tornar especialista em todas as áreas precisa recorrer a livros de divulgação científica. A regra mais importante para aplicarmos neste caso é definir claramente o que o autor quer resolver. O problema científico é descrever tão precisamente quanto possível o fenômeno, e traçar suas interconexões. Você deve diferenciar aquilo que o autor presume daquilo que ele argumenta. Os termos principais são expressos por palavras técnicas ou pouco usuais e de fácil identificação. O cientista dificilmente busca escapar as delimitações de espaço e tempo. A ciência é basicamente indutiva, ou seja, seus argumentos primários são aqueles que estabelecem uma proposição geral através da referência uma evidência observável. Para entender a estas argumentações você deve ser capaz de acompanhar as evidências apresentadas como base, e muitas vezes isso não é possível contando apenas com o livro que se tem em mãos. Os clássicos da ciência se tornam mais fácil para

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aqueles que viram e fizeram o que o cientista descreve como o procedimento para suas descobertas. A matemática é uma linguagem, e podemos aprende-la como qualquer outra. Ela tem seu vocabulário próprio, sua gramática e sua sintaxe, que os iniciantes devem aprender. A proposição determina a relação de �se-então�, ou seja, se algo é verdadeiro e se determinadas coisas são válidas, então algo mais também é verdade (conclusão). Se sua intenção é ler um livro de matemática em si, você deve lê-lo do início ao fim, e tomando notas dos trechos importantes. Mas se sua intenção não for esta, e sim ler um livro científico que contenha matemática você pode saltar algumas partes. Cientistas usam com muita freqüência a matemática por causa de sua precisão, clareza e pela capacidade de definir limites, e em geral você não precisa ir fundo na matemática para entender estes textos. Em muitos livros a ausência da matemática seria problemática. Uma nota sobre a divulgação científica: Por definição tratam-se de textos escritos para audiência ampla, e não apenas para especialistas, e se você leu alguns clássicos científicos não terá problemas com estes. Eles evitam descrições de experiências e vão direto as conclusões, e além disto contém pouca matemática. Artigos científicos populares são geralmente mais fáceis de ler que livros de divulgação científica. PARTE IV: AS METAS FINAIS DA LEITURA O quarto nível de leitura: leitura sintópica Saber que é importante ler mais de um livro sobre uma questão em particular é a primeira exigência de qualquer projeto de leitura sintópica. Saber que livros devem ser lidos é a segunda exigência que é mais difícil de satisfazer que a primeira. Uma necessidade da leitura sintópica é identificarmos e delimitarmos claramente o tema a ser abordado pelas bibliografias, pois na mesma palavras encontramos sentidos bastante diferentes. Por exemplo a palavra amor tem vários sentidos e diversas formas de amar, e mesmo delimitando bem teremos uma enorme referência bibliográfica, e mesmo assim lendo apenas uma parcela encontraríamos um enorme leque de referência. Embora este nível de leitura seja definido como a leitura de dois ou mais livros sobre um mesmo tema, o que implica em dizer que a identificação do tema ocorre antes de iniciarmos a leitura, também é verdade dizermos que a mesma pode ocorrer depois da leitura de um livro, e neste caso pode concluir que boa parte dos livros não fala sobre o tema que lhe interessa. Garimpar ajuda a preparar você para o primeiro passo da leitura analítica. Você identifica o tema do livro, o gênero a que pertence e resume sua estrutura. Embora a leitura superficial também coopere para o primeiro nível da leitura analítica, é primariamente uma preparação para o segundo passo, quando você precisa interpretar o conteúdo do livro chegando a um acordo com o autor, identificando suas proposições e acompanhando seus argumentos. Tanto a leitura averiguativa quanto a analítica podem ser consideradas preparações para a leitura sintópica. Suponhamos que você tenha uma lista de cem ou mais livros sobre um tema. Se você ler cada um analiticamente vai ganhar uma visão clara sobre o tema, porém vai chegar à

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conclusão de quais livros você leu foram irrelevantes a sua necessidade. Portanto alguns atalhos são realmente necessários em face do paradoxo que mencionamos sobre a leitura sintópica. Este atalho depende da sua habilidade na leitura averiguativa. A primeira coisa a fazer quando se tem uma bibliografia nas mãos é averiguar todos os livros da sua lista. Primeiramente esta leitura irá dar a você uma idéia suficientemente clara do tema, de forma que a leitura analítica subseqüente seja mais produtiva. A leitura averiguativa permitirá que você reduza sua lista bibliográfica a um tamanho razoável. Ao ler o livro de forma averiguativa você deve concluir se irá voltar a ele mais tarde ou ele não merece ser lido novamente. Após identificar os livros que livros são importante para seu tema, você pode começar a lê-los sintopicamente. Nunca se deve esquecer que a arte da leitura analítica é útil quando necessitamos compreender apenas o livro em questão. O objetivo da leitura sintópica é diferente. Presumimos que, após averiguar uma lista de livros, você já tem uma razoável do tema que une parte deles. Existem cinco passos na leitura sintópica:

1- Localizar os trechos relevantes, presumindo que você saiba ler analiticamente. Na leitura sintópica você e suas necessidades são a prioridade, e não os livros que você lê. Assim o primeiro passo é outra averiguação dos livros que julgou relevantes, e o objetivo agora é encontrar os trechos destes livros mais úteis às suas necessidades. Este passo não é dado quando feita a primeira averiguação dos livros pois você teria que separar inicialmente os livros interessantes e depois os trechos para que o processo não ficasse confuso. É importante diferenciar os que você leu no início dos que foram lidos no fim pois estes últimos você provavelmente já tinha uma visão mais clara do tema.

2- Fazendo os autores chegar a um acordo. Você está diante de diferentes autores e agora é você que deve estabelecer os termos e guiar os autores até eles, pois autores diferentes podem empregar palavras diferentes. Este passo é difícil pois você irá forçar o autor a usar sua linguagem, e não a dele pois se isto acontecer ficaremos perdidos sem compreender os demais livros. A leitura sintópica é um exercício de tradução para nossa linguagem.

3- Tornando as questões claras. Devemos estabelecer proposições neutras, formulando um grupo de perguntas que iluminem o problema através de respostas dos autores. Essas perguntas devem ser feitas de forma que nos ajudem a resolver nosso problema inicial. E mesmo que um autor não discuta a questão explicitamente, poderemos encontrar a resposta implícita em seu livro, sem por palavras em sua boca.

4- Definindo as questões. Se a pergunta é clara, e está claro para nós que os autores respondem de diferentes maneiras, então foi definida a questão. Respostas em conflito precisam ser ordenadas em relação umas com as outras, e os autores classificados conforme a visão do problema. Questões relativas a grupos de perguntas conectadas podem dizer respeito a controvérsias, e cabe ao leitor apresenta-las de forma ordenada e perspicaz, mesmo que o autor não faça isto.

5- Analisando a discussão. Os primeiros quatro passos correspondem aos dois primeiros grupos de regras da leitura analítica. A partir daí estamos preparados para formular perguntas sobre a discussão. A solução para o problema consiste na discussão ordenada, e não em um grupo isolado de preposições ou teses sobre o tema. Precisamos fazer as perguntas em determinada ordem e devemos ser capazes de justificar esta ordem. Precisamos mostrar como as perguntas são respondidas de forma diferente e tentar explicar porquê, além de apontar os

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trechos do livro que justificam a nossa classificação das respostas. Feito isso podemos dizer que analisamos a discussão do nosso problema, e podemos dizer que o compreendemos.

Uma análise completa da discussão pode fornecer a base para um trabalho produtivo posterior sobre o mesmo problema, e talvez chegar a uma descoberta revolucionária. Entre opiniões conflitantes, é claro que podemos ter uma verdadeira e as outras falsas, porém podemos também ter em todas uma parcela de verdade, e até ter todas como falsas. O que deve ser feito é uma contribuição diferente à busca da compreensão, e esta exige sermos objetivos e isentos. O Sintopicon é um livro de referência que lhe diz onde encontrar os trechos relevantes sobre um vasto número de temas de interesse. Ele facilita a leitura de grandes obras habilitando as pessoas a ler livros específicos sobre os temas que estão interessadas, e dentro destes, os trechos relacionados. O tópico com o qual o trecho que estamos lendo está relacionado serve para orientar o leitor na interpretação deste trecho, mas não explica o significado do trecho. O leitor precisa descobrir que relevância tem em relação ao tópico, e isto é adquirir uma habilidade importante. A reunião de diversos trechos sobre o mesmo tópico retirados de vários livros, servem para aguçar a interpretação de um leitor de cada trecho lido. O fato de um mesmo trecho ser citado no Sintopicon em vários tópicos, mostra que o trecho tem uma amplitude de significados, e o leitor perceberá na medida que interpreta-los. Leitura e ampliação da mente Como dissemos, se o leitor de um livro prático como este, aceita os objetivos que ele propõe e concorda que os meios para atingi-lo são eficazes, então ele deve agir da maneira proposta, e deve fazer um esforço para ler maior do que nunca fez antes. Que benefícios os livros trazem para nós O método como foi exemplificado sobre a leitura analítica e sintópica, não se aplica a qualquer livro, pois alguns livros simplesmente não o exigem. Você não progredirá como leitor se tudo que ler estiver dentro de seus limites de capacidade. Ler para obter informação (jornais, revistas, etc.) e ler para entretenimento não ampliam sua mente. Ler um livro ruim também é difícil, por outras razões: ele o desafia a se esforçar para analisa-lo, mas escorrega em seus dedos quando você achar que entendeu algo. Existem dois tipos de recompensa para a leitura: O aprimoramento da capacidade de leitura com o uso das regras a um bom e difícil livro; e um bom livro pode ensinar-lhe coisas sobre o mundo e sobre você mesmo. Além de informações, o livro amplia seu conhecimento, o torna mais inteligente e esperto. A pirâmide de livros Se um livro lhe dá a impressão de que ao voltar a ele, seu conteúdo é menor que o que você se lembrava, é porque você evoluiu neste meio tempo, e sua compreensão aumentou, portanto muitas vezes uma volta a um livro pode ser frustrante. Porém se o livro pertence a uma categoria mais elevada (os livros inesgotáveis), ao voltar ao livro você irá descobrir que ele cresceu com você, pois perceberá coisas que não tinha visto

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antes. Sua compreensão anterior não é invalidada, mas sim enriquecida. É importante a busca destes livros, pois lhe trarão maiores ensinamentos, tanto sobre leitura quanto sobre a vida, e você sempre irá querer voltar a eles pois eles o ajudam a crescer. Ler bem, o que significa ler ativamente, é, portanto não apenas um bem em si, nem tampouco um meio de avançarmos em nosso trabalho ou em nossa carreira. Ler bem também ajuda a manter nossas mentes vivas e em crescimento.