as vivências da mulher durante a gravi dez

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JANETRO.06 MAïERí\IIDADE t Nucsns 1 7 As vivências da mulher durante a gravi dez ÍVIONUCTR T€RNRNDA NNRNGRNH€TR fI'IONFOSTC Licanciodo om enfermogom, a dasamponhor funçõas no Hospitol Farnondo Fonsaco, Serviço da Obstatrício - Int@rnom@nto de Puorperas; monuelo. [email protected] RNR r€Or{O8 SRRRTVR nntil€tfiO Licanciodo am Çnfarmogam, o dasampanhor funçÕes no Hospitol Gorcio da Orto,5Ê - Bloco da Portos laonorl 98.] @uohoo.com.br rrurnoouçÃo Todo o serhumano, no decorrer da vida, passa por transformações, independentemente da idade: a criança, o jovem, o adulto e o idoso, cada um a seumodo, experimentam mudanças. No entanto, existem certas épocas nas quais as modificaçoes que ocorrem nosnossos corpos e mentes, nos nossos relacionamentos e compromissos, sãoparticularmente importantes e rápidas. Nestas, certamente sesituaa gravidez, queconstitui uma etapa da vida, ondesevai processar profundas alterações na mulher e famítia, asquais constituem uma pontepara um projecto de uma vida, a maternidade/paternidade. Neste âmbito " A muther deve serencarada como alguém que necessita de cuidados, principalmente no campo da aprendizagem do queé a gravidez, pois sendo esta um estado, acima de tudo novoe diferente, surgem questões e premissas quedevem serresolvidas, orientadas e até reelaboradas com a própria grávida" (COUTO,2003, 38).

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Page 1: As vivências da mulher durante a gravi dez

JANETRO.06 MAïERí\IIDADE t Nucsns 1 7

As vivências da mulherdurante a gravi dez

ÍVIONUCTR T€RNRNDA NNRNGRNH€TR fI'IONFOSTCLicanciodo om enfermogom, a dasamponhor funçõas no Hospitol Farnondo Fonsaco,Serviço da Obstatrício - Int@rnom@nto de Puorperas;monuelo. [email protected] r€Or{O8 SRRRTVR nntil€tfiOLicanciodo am Çnfarmogam, o dasampanhor funçÕes no Hospitol Gorcio da Orto, 5Ê - Bloco da Portoslaonorl 98.] @uohoo.com.br

rrurnoouçÃo

Todo o ser humano, no decorrer da vida, passa portransformações, independentemente da idade: a criança, o jovem,o adulto e o idoso, cada um a seu modo, experimentammudanças. No entanto, existem certas épocas nas quais asmodificaçoes que ocorrem nos nossos corpos e mentes, nosnossos relacionamentos e compromissos, são particularmenteimportantes e rápidas.

Nestas, certamente se situa a gravidez, que constitui uma etapada vida, onde se vai processar profundas alterações na mulher efamítia, as quais constituem uma ponte para um projecto de umavida, a maternidade/paternidade. Neste âmbito " A muther deveser encarada como alguém que necessita de cuidados,principalmente no campo da aprendizagem do que é a gravidez,pois sendo esta um estado, acima de tudo novo e diferente,surgem questões e premissas que devem ser resolvidas, orientadase até reelaboradas com a própria grávida" (COUTO,2003, 38).

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1 8 rlr^='xro I MÂïERNIDADÊ

Íl mufhcr PÌoocupcì-se e Íesssnte-so am perc)et o suo outo-imogern, em ter do dcsistir do ontigos odoptoções o de relocionomontos

oquilibrodos em Íovor do novo scÌ, que se desenvolvs dootro do si.

Segundo CORREIA (1998) agravidez é um processo bemdefinÌdo no temoo, circunscritoen t reaconcepçãoeonascimento. Vai permi t i r que amãe se adapte psicologicamenteao novo papel que irádesemoenhar. estando apreparaçao psrcoroSrcaintimamente ligada às fases físicasda eravidez da mulher.Actúalmente, a gravidez éencarada como uma fase dedesenvolvimento e constitui umacrise de viragem e de adaptaçãoa novos estatutos/papéis - o demãe e de pai - e às novascondições corporais, psicológicase fami l iares.

Durante a gravidez, profundasmudanças somáticas epsicológicas se repercutem nocomoortamento, não só damulher, mas também dos que arodeiam, nomeadamente omarido. Os factoressócio-económicos e culturais têminfluência na forma como asravidez é vivida no interior daiamília e as alterações físicas epsicológicas podem tambéminfluenciar o relacionamentofami l iar .

Segundo BURROUGHS (1 996);RATO ('1998) há íactores queinfluenciam / contribuem parauma resposta, tanto positiva comonegativa, da mulher em relação àgestação, tais como:

. O nível de maturidaoe epreparação da mulher para amaternidade;

. As alterações corporais;

. A segurança emocional;

. As expectativas; o apoio daspessoas próximas;

. O facto de a gestação serdesejada ou não;

. A situação financeira;r A estrutura da personalidade;. O grau de ajustamento ao

início da gravidez e ainda aconstelação familiar e seuen0uadramento.

De acordo com VELHO citado

por COUTO (2003, 3B) " ( . . . ) agravidez é um processo. Amulher vai engravidando.Engravida biologicamente numdado momento, mas depois temde percorrer um caminho, ondese conÍronta com uma tareía devida".

O desenvolvimento psicológicoao longo da gravidez pode serconceptualizado numa sequênciade fases, que "se iniciam,desenvolvem e terminam, criandosoluções para as tareíasantecedentes e oferecendo lugaraos conflitos e tarefas oosteriores"flUSTO cit. por CAMPOS, 2000,1 6 ) .

1' TRIMESTRE DA GRAVIDEZ|Para COLMAN&COLMAN (1994\o'lo trimestre da gravidezcorresponde à íase de integração,na qual há a aceitação da notíciada gravidez. E uma faseimportante quando há.umprojecto de gravidez. E umperíodo em que a mulher tem deintegrar a gravidez dentro de si,implicando mudança nos hábitosde vida, preparação da suapessoa, do organismo e da suaíamília para a chep,ada do novoser. É íundamentuiu aceitação darealidade da gravidez de forma aque a mulher possa in ic iar oDrocesso de maternidadeapropriado.

De acordo com os seguintesautores - CRUZ (1990);BRAZELT-ON (1992);BRMELTON e CRAMER (1993);coLMAN&COLMAN (1994);KITZINCER (1995); STERN eBRUSCHWEI LLER.STERN (2OOO)- a partir do momento em que háa percepção da gravidez instala-se a vivência básica da gravidezque é a ambivalência - entre oquerer e não querer estar grávida.Existe um conflito básico emtodos os pais em potencial - osdesejos contraditórios quanto ater ou não o bebé estão semprepresentes. A maioria dos íuturos

Duronte cr grcrvidez,protundcrsmudcrnçcrssomóticos anc i rn lon i rnq qa

raparculan ìo. ^ /n^^ r f^mô^f^lv r r r | . / v r Lu i l | ,9 r rLv ,

nõo so do mulhar,mcrs tcrmbóm dosat re. a raele. iam

nomocrdcrmen[a omcrrido, Os foctorossócio-oconómicos ecul[urois tôminíluôncio ncr formocOmO Cì grC'vidOZ t2

vÌvido no inlarior doÍomílio e crsalferae ì;e.< tí<irn< e

psicologicos podemtombám influoncioro rolocionomontotcrmìlior.

JANETRO.Os

.pais sentirá que deve negar odesejo de não terem o filho,sendo então o deseio traduzidoem medos mais aceitáveis, taiscomo medo pela segurança esaúde do bebé. A mãe oodesentir receio de que alguns dosseus pensamentos negativospossam prejudicar o seu fi lho eque qualquer trauma,/anomalia noseu fi lho seja culpa sua. A mulherpreocupa-se e ressente-se emperder a sua auto-imagem/ em terde desistir de antigas adaptaçõese de relacionamentoseouilibrados em favor do novoser. oue se desenvolve dentro desi. Por seu lado, o homempreocupar-se-á com o aumentode responsabil idade e com asalterações necessárias nos seusrelacionamentos, causadas pelobebé. Cera-se ansiedade. ouedeverá ser construtiva, entre odesejo de escapar desta situaçãoe "livrar-se" do trebé e, apreocupação pelo bem estardeste. No entanto, estaspreocupações tendem a serreprimidas e a expressar-se naforma de medo pelo bebé. Estesmedos reílectem a enormeadaptação que tem de ser íeitapor parte dos pais, ao longo dagravidez, aumentando o senso deresponsabil idade e preocupaçãooelo bem-estar do bebé(annzrlroN , 1992; KLAUSlet al.l, 2000).

Felizmente para o bebé,existem fantasias e esperançasprotectoras, que ajudam a mãe aencarar a gravidez de íormapositiva; desejo de ser completa eomniootente, de fusão e uniãocom o outro, de se rever no Íilho,de renovar velhas relações e darealização de ideais eoportunidades perdidas(BRAZELTON e CRAMER, 1993).

No 1" trimestre, as alteraçõesdo esquema corporal são ténuese, em termos físicos, correspondeao aparecimento das náuseas evómitos, os quais segundo

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JANETRO.T6 XÂïãRf,i,PÂnfi I NuesrNr; 19

0 prcporoçõo do mulher poÌo o oquisiçõo do novo popel de ser mõc obsorvo-lhe gronde porte do scu tempo. Duronto csto Íose,

o mulhcr gróvido diminui o scu investimcnto no meio ombicntc G contÍo-se sobro si Íncsmo.

BRAZELTON e CRAMER (1993)estão relacionados com aambivalência da íutura mãe íaceà criança e à maternidade.O feto não é ainda sentido, noentanto como refere BISCAIA(1994, 126), já influencia a mãe,modificando-lhe "(.".) ossentimentos, o eouilíbriohormonal, os gostos, os desejos".A mãe é modificada pelapresença do íeto, que dialogacom ela através de múltiplos evariados mecanismos hormonaise enzimáticos.

COLMAN&COLMAN (1994)referem que psicologicamente,nesta fase, a futura mãerelaciona-se com o bebé comosendo uma parte de si própria,formando-se uma relação desimhriose entre eles. No início dagravidez os pensamentos da mãecentram-se sobre si mesma e narealidade imediata da gravidez(BOBAK let a l . ] , 1999).

A preparação da mulher para aaquisição do novo papel de sermãe absorve-lhe grande parte doseu tempo. Durante esta fase, amulher gráv ida d iminui o seuinvestimento no meio ambiente ecentra-se sobre si mesma. É umafase de grande introspecção paraa mulher, vislumbrando osfenómenos oue ocorrem no seucorpo, tendendo a desviar a suaatenção e energia em torno dofuturo bebé, retirando-se para omundo dos sonhos, falandomenos, estando menos viradapara o relacionamento com ooutro.

lsso manifesta-se em váriasáreas do comoortamento atravésdo aumento da necessidade dedormir; do incremento doshábitos alimentares; dadiminuição da actividade social edo trabalho e da redução dafrequência do relacionamentosexual do casal, reduzindo o seurelacionamento natural com afamília e com as suas tarefashabituais, aumenta o seu

investimento narcísico Dor si eoela unidade mãe-feto(BRAZELTON, 1 992; CAMPOS,2000).

STERN e BRUSCHWEILLER.-STERN (2000); CANAVARRq(2001 ) consideram que ter umacriança obriga a muiher arepensar as suas preferências egostos, a reconsiderar alguns dosseus valores; vai influenciar osseus relacionamentos anteriores eÍorçáJa a reavaliar as suasrelações mais próximas e aredefinir o seu papel no seio dasua família. A mulher irá transitardo papel de Íilha para o de mãe.

"A qravidez é um momentoevoluiivo fundamental dodesenvolvimento da identidadefeminina. durante o oual amulher revive, elabora e resolveconflitos iníantis. (...) A gravidez éum momento de reflexão do seupassado e de relançamento doseu íuturo" (AMMANITI [et al.]referenciado por NASCIMENTO,2003,48).

De acordo com COLMAN eCOLMAN (1994,19) "a gravidezdimensiona os papéis e asrelações da mulher num novocontexto, torna-a maisdependente da ajuda de umsistema social de apoio, e cria-lhenecessidades intensas de apoioamoroso, atenção e aceitação poroafte dos outros".A futura mãeprecisa de receber mais do quedar apoio emocional. Ela temnecessidade de mais afecto ecarinho, para que, mais tarde,possa transferi-los ao bebé.

BRAZELTON (1992);CARNETRO (1993);COLMAN&COLMAN(994);STERN eBRUSCHWEI LLER-STERN (ZOOO);CANAVARRO (2001 ) referem quea perspectiva da paternidadeprojecta os pais para a suaprópria iníância. A mulher podesentir necessidade de visitar,observar e mesmo questionar asua mãe, acerca da sua infância,

C tato nÕo é crindcrsantido, no anlcìn[ocomo rofaroBls(rltÊ ( I 994,126), 1a inÍluancicrcì mÕ@,modiÍÌccrndo-lha( . . . ) os

s@niim@ntos, ooquilíbrio hormonol,w> gw>Lv>, w>

ele.<a,ia<' À mõe. e.

^ ^ - l t Ê i - ^ - l ^ ^ - l ^f ruvi l LLruLr iJgrLlÕro.<e.^a^ eln te.lo

n i r a r J i n l n n o r n m

alo crtrcrvós demúltipios o vcrriodosm@ccìnismoshormonois eanzimcr[ìcos.

podendo reviver antigos conílitosrelacionais com a sua mãe. e.ainda assim, descobrir-se aobservar ansiosamente e anecessitar da mãe novamente. Agravidez constitui um período deaprendizagem, tanto quantopossível sobre si mesma e sobre onovo papel de ser mãe.A mulherquestiona a mãe, amigas evizinhas sobre a exoeriência donascimento e procura outrasmulheres que tenham dado à luzrecentemente. Esta partilha dei nformações e experiênciasajudam a mulher a explorar osseus medos e a começar aidentificar os seus instinros efunções maternas. São uma formada mulher se inser i rprogressivamente num gruposocial a que pertencem asmães - aprendizagem sobre onovo papel de ser mãe - e vaifornecer à mulher pontos dereÍerência e de comparação, emrelação aos quais forma opiniõese pré-conceitos que regem comfrequência a sua conduta. Há poroarte da mulher uma necessidadede ter ideias mais concrerasacerca do que se vai passar,sobretudo relativamente aosaspectos que lhe podem causarmais sofrimento. As suasexpectativas surgem com base noque lê, no que conversa comoutras mulheres. no oue lhedizem. Como ainda não passoupor esta experiênciaanterioÍmente/ as suas apreensõese os seus medos são o alicerce dasua íantasia. Segundo VELLAY(1998); COUTO (2003) o medoda mulher face ao parto éal i mentado fundamental mentepor tabus e mitos, provenientesde uma tradição oral e escrita.

2" TRIMESTRE DA GRAVIDEZO 2o trimestre da gravidezcorresponde à fasõ dediferenciação, a qual coincidecom o início dos movimentosíetais (1 6-20 semanas de

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poÌcspçõo dos movimcatos fetois o mulhsr ssnte pElo primeiro vcr ô Íoto Gomo uÍno reolidods concÍoto dcntro da si. Hó umo certo

diÍereocioçõocntreomõeooÍoto;elef iozportodesi mosédiÍerente;omõereconhoceoÍstocoínoumsordist intoeindcpenc,bntodelo.

2O lrr-,*rnrc I MAïERÌ{IDADE

gestação). É considerado o maisestável do ponto de vistaemocional, no oual é elaborado osignifìcado da gravidez nocontexto da vida conjugal. Atarefa do 2" trimestre consiste nadiferenciação psicológica mãe-feto, à medida que prossegue adiferenciação biológica(CAMPOS,2000).

Nesta fase, com a percepçãodos movimentos fetais, a mulhertoma consciência de que háuma vida indeoendente adesenvolver-se dentro dela e arelação de simbiose que tinhacom o feto vai dar lugar ao inícìode uma relação verdadeira, comnecessidades recíprocas. A partirdo momento em que a mulhertoma consciência do bebé, estadiferenciação entre o bebé e o euda mulher permite o iniciar darelação mãe-filho (CANAVARRO,2001 ) .

Como reÍerem JUSTO (1990);COLMAN&COLMAN (1994);CAMPOS (2000), com apercepção dos movimentos fetaisa mulher sente pela primeira vezo feto como uma realidadeconcreta dentro de si. Há umacerta diferenciação entre a mãe eo feto; ele faz parte de si mas édiíerente; a mãe reconhece o fetocomo um ser distinto eindependente dela. Começa avivenciar a autonomia do feto,apercebendo-se de que odesenvolvi mento deste segueritmos e regras próprias, os quaisa mãe não pode controlar.

Durante o 2o trimestre, surgeentão, o bebé lmaginário: a mãecomeça a perceber que o bebéreage de íorma diferente adeterminados estímulos einterpreta isso comocaracterísticas i ndividua is,atribui-lhe uma personalidade eidealiza-o, no decorrer dagravidez. A medida que estaconstrução se vai desenvolvendo,

o bebé vai ganhando autonomia.A mulher começa a imaginarcomo será o seu bebé, os seustraços de personalidade e adesenvolver sentimentos iniciaisde formação de vínculo. A mãepode interpretar os movimentosfetais e atribui r-lhes característicaspessoais: o bebé pode serimaginado carinhoso, se osmovimentos forem percebidoscomo suaves, ou agressivo sepercebìdos com impressão desobressalto. As própriastransformações corporais ebiológicas maternas e osmovimentos fetais tornam a vidaimaginária do bebé mais rica eactuante na mãe (BRMELTONe CRAMER, 1993; BISCAIA,1994; STERN eBRUSCHWEILLER.STERN, 2OOO).

BISCAIA (1994, 127) refere queaos seis meses de gravidez osistema nervoso do íeto "(...)começa a captar, a registar, amemorizar a alegria, a fadiga, aansiedade da mãe(...)" e começaentão a reagir ao meio, enviandoà mãe mensagens/ que ela senteatravés dos movimentos fetais.Assim, depois do modo inicial decomunicar com a mãe, atravésdas trocas fisiológicas, vai-seestabelecendo esta segundacomunicação comportamental.

A partir desta altura, asfantasias relacionais da grávidaintensiíicam-se: a mãe começa afalar oara o bebé, a cantar-lhe e aacariciar-lhe a barriga.LEDERMAN citado oorCANAVARRO (2001 ) acreditaque as manifestações decomunicação verbal e tácti l como feto, são o sinal exterior, daocorrência dos orocessos deaceitação intrapsíquica.

RIBEIRO (1997) refere que àmedida oue a mãe vaiconstruindo o seu bebéimaginário, este ocupaprogressivamente a sua vida

Duronlo o 2"lr imo.<fro. <t r^e,

antõo, o bobéImoginorio: o mõa(ornaçcr a percoborquo o batcó roogoda formo drfarqntoo datarminodosestímulos aint@rpralcì isso comoccrrcrcierÍsIiccrsindividuoìs,otribui-lho umcrnel<analielaele. o.

ideoiizo-o, noôaÇorror Õagrovidoz.

JANETRO.06

psíquica, polarizando o seuafecto. O bebé imaginário éportador dos sonhos, esperançase ilusões da mãe

À medida que a mãe vaireconhecendo a i ndividual idadedo seu filho, coloca-seinconscientemente/ no seu lugar.Nesta altura, desenvolve-se umadupla identificação materna, porum lado com o seu filho, poroutro lado, com a sua mãe. "Écomo.se, por intermédio do filhoque arnoa nao nasceu, a maeoudesse recuar e ir buscar osaspectos gratificantes das suasprimeiras relações com a mãe,para se retemperar e revitalizar"(BRMELTON e CRAMER,1 9 9 3 , 3 5 ) .

Com a nova gravidez "os novosprogenitores deixam de serfundamentalmente filhos - dosseus pais - para passarem a serfundamentalmente pais - dosseus próprios filhos'" (RELVAS;LOURENçO, 2001 , 122-123).Com eÍeito, a partir do segundotrimestre de gravidez, a energiapsíquica é canalizada no sentidode repensar o seu relacionamentocom os pais, desde a infância atéà adolescência. É essencial queconsiga integrar as experìênciaspositivas e negativas que teveenquanto fìlha já que ao reflectirsobre as suas vivências está aafastar-se de posicionamentosextremos ("Vou ser exactamenteigual à minha mãe", "Vou ser ocontrário da minha mãe") e aaorender a lidar com osinsucessos da mãe. Por outrolado, adquire a capacidade de seidentificar com algunscomportamentos da mãe, eadoptar os que considerapositivos e adequados, rejeitandoaqueles que consideradisfuncionais (CANAVARRO,2001) .

RATO (1998) refere que aambivalêncìa, neste segundo

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JANETRO.06

O noscimento do um filho Gonstitui um desoÍio ò dinômico e oo rclocionomcnto conjugol, doí quo CRNRVR0RO (2001) enfotize

o importôncio do roestruturoçõo do reloçõo do cosol no dimensõo ofectivo, soruol s dos rotinos quotidionos.

trimestre, pode manifestar-se nainterpretação dos movimentosfetais de várias formas: pelo alíviode sentir os movimentos, sinaisde que o feto está vivo. eansiedade, quando a mulher nãoconsegue perceDer osmovimentos/ surgindo o temor deque algo não esteja bem.

Segundo BOBAK let al.] (1999),à medida que o bebé se tornacada vez mais real, pelapercepção dos movimentos íetais,pela observação das ecograÍias eapesar da gravidez evoluirnormalmente, a ansiedade dospais centra-se no medo epossibil idade da existência dedeficiências/malÍormações nobebé.

BRAZELTON (1 992); KLAUSlet al.l (2000) referem que nodecorrer da gravidez, é inevitávelo questionar-se como será obebé. Será rapaz ou rapariga?Será parecido com quem? Seráque o bebé vai ser normal? Estasperguntas, receios/medos sãomuito comuns, são medosnormais e saudáveis, epreenchem o pensamento dospais, o qual é influenciado porsuperstições e pela cultura decada um. Estas preocupações sãoum sinal do quanto os pais já sesentem responsáveis e sepreocupam com o bebé. Estasquestões universais são sempreadaptativas/fazem parte de umprocesso adaptativo, com oìntuito de mobil izar toda aenergia disponível dos pais paralazer o enorme aluste àmaternidade e à íormação clovínculo com o bebé.

O nascimento de um Íi lhoconstitui um desafio à dinâmica eao relacionamento conjugal, daíque CANAVARRO (2001) enfatizea importância da reestruturaçãoda relação do casal na dimensãoafectiva, sexual e das rotinasquotidianas. Para tal, é necessário

que adquira alguma flexibil idadeno que respeita à partilha, àtomada de decisão e, sobretudo,ao anoio emocional.

Nesta fase há um aumento dorelacionamento sexual. Emtermos Íísicos surgem grandesalterações corporais.Decorrentes delas, a forma comoa mulher se sente oode ser degrande alegria, e a alteraçãoda imagem corporal não lhecausar importância, podendosentir-se até orgulhosa pelo corpográvìdo; ou, no extremo oposto,ter a sensação de que o corpoestá deíormado, sentir-se feia egorda e poder gostar menos deestar grávida(cf . BURROUCHS, 1995). Agrávida, frequentemente, sentedificuldade no controle do seucorpo e o seu desconforto físicocausa muitas vezes grandeansiedade. Pode sentir que todasas suas atracções físicas estão adesaoarecer e ter medo deperdèr o amor do'marido e queeste já não a deseja em viftudede um coroo como o seu.Precisa mais do que nunca queele lhe demonstre afecto. Podesentir-se muito sozinha eindesejada, a menos que omarido se interesse e partilhecom ela a gravidez e todos ospreparativos para o parto(CF. KITZINCER, 1995). "Quergoste quer não as alteraçõesfísicas do coroo durante agravidez são uma grande ajudana preparação mental damaternidade. Durante novemeses ela vive com a realidadeconstante de um coroo emmudança(...). Tais alteraçõesdestabil izam a imagem íísicade uma mulher e preparam oterreno para uma novaorganização da suaidentidade" (STERN eBRUSCHWEI LLER-STERN, 2OOO,63 e 64).

Segundo BOBÍìHfet cr l . ] ( ì999) , òmedidcr quo o babása [orno codcr vazmois rool, polcraerre.acãa ào<

movimanlos fatois,^alô ôhqan/naõô

da< eraaraFra< e.

cìp@scrr dcì grcìvid@z@voturr normot-m@nt@, cì onsiadoderJnç nniç ae.ìlr^-<e.

no modo opossibilidcrdo dcraxistôncio dedefici,èocias/^ ^ l ç ^ - ^ ^ - x ^ - ^ ^i I t ! i l r v Í t I r L r \ u g > | t v

óeóÓ.

MAïERNIDADE tNuesxs 21

3' TRIMESTRE DA GRAVIDEZO 3o trimestre corresoonde à faseda separação do objectomaterno. Começa-se a pensar notrabalho de parto, a mulherprepara-se para a separação queocorre no momento do parto.Segundo BRAZELTON e CRAMER('l 993); COLMAN&COLMAN(1 994) antes da separaçãobiológica a grávida deve sercapaz oe uma separaçaopsicológica do seu bebé. Osúltimos meses de gravidez sãocruciais para concretizar aseparação do feto, como ser reale distinto da mãe. Observa-se uminvestimento na personificaçãodo bebé, para que não seja umestranho no momento donascimento. É nesta altura que amulher começa a fazer planosconcretos para o bebé (ex.:.preparação do enxoval e doquarto do bebé) e a pensar emnomes.

COLMAN&COLMAN (1994)referem que durante este períodoa mulher fala continuamentesobre o bebé, como é que eleserá e como cuidará dele, comose o bebé fosse agora uma pessoareal com sua própria identidade.

Segundo CRUZ (1990); STERNe BRUSCHWEILLER-STERN(2000) é ao longo da gravidezoue a mulher deve fazer aindividualização do seu bebé,para que no momento dadiferenciação do pafto, aseparação física e emocional seintegrem e o nascimento não sejasentido como perda de parte de simesma e o fi lho considerado umaprojecção ou extensão de siprópria. A mãe "terá de aceitarum fi lho diferente daqueleimaginado e aprender aprotegê-lo, a satisfazê-lo e aceitaras exigências do bebé na suadependência total que faz dosmeses seguintes ao parto umacontinuação da gravidez, agora

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22 Nrr*r'xrç MAïER.NIDÂDE

De ocordo com JOCOUIM (1983); COUTO (2003), oindo hoic, opesoÌ dos ovonços tecoológicos, os nosscrs vidos corrcgom o psso

de umo horonço culturol, ò quol cstó ligodo o ideio de quo o noscimeoto do umo crionço c)eva set com dor.

nos braços da mãe" (MARTINS eMOLEIRO, 1994,26) .

"A progressão desde aaceitação da gravidez, a umaconsciência do íeto, a umaligação ao bebé, é umaprogressão da separaçãocrescente. à medida oue aindividualidade da criançaaumenta (...)"(COLMAN&COLMAN,1994, 187).

Devido à proximidade com opafto há um aumento oaansiedade e novo oeríodo deambivalência. Por um lado,instala-se o desejo de ver o Íi lhoe terminar com a gravidez, maspor outro lado há vontade de aprolongar, para adiar anecessidade de novas adaptaçõesexigidas pelo nascimento dobebé (CRUZ, 1990;CANAVARRO,2001). Omomento do parto é encaradopela grávida sob duas formasopostas: "representa um ganhorelacional (...) e ao mesmo temporepresenta uma perda, na medidaem que retira à mãe os benefíciosde estar grávida" UUSTO cit. porCAMPOS, 2000, 18). Também aproximidade das potenciais"dores de Dafto". é indutora deangústia difíci l de gerir.

De acordo com JOAQUIM(1983); COUTO (2003), a indahoje, apesar dos avançostecnológicos, as nossas vidascarregam o peso de uma herançacultural, à qual está l igada a ideiade que o nascimento de umacriança deve ser com dor. Estaideia é culturalmente transmitidae assimilada, muito cedo nanossa vida. Desde a infância quea mulher ouve descriçõesdramatizadas de partos difíceis edolorosos. Esta transmissãocultural contribui oara o aumenroda ansiedade e dos meoosinconscientes da erávida e muitasmulheres pensam que o pafto

será doloroso. lsto faz com que agrávida tema a dor do trabalho departo.

STERN eBRUSCHWEI LLER-STERN (2OOO)referem que o receio da chegadado momento culminante dagestação - o pafto - e os receiosacerca da saúde do bebé,dominam os pensamentos damaioria das grávidas durante esteoeríodo.

Há uma certa ansiedaoe eaneústia relativamente aonaicimento do bebé, pois o partoé vivido como momentoi rreversível, i mprevisível edesconhecido, sobre o qual nãose tem controle. A ambivalênciacrescente é acompanhada porqueixas somáticas. A mulheroode demonstrar maiori rritabi I idade. oueixar-se qosdesconíortos Íísicos. Ao mal estarprovocado pela dimensão dofeto, associa-se a íantasia acercadas dores e sofrimentos queooderão ocorrer durante onascimento do bebé. Sentimentosnegativos podem ser facilmentedisfarçados em desconforto físicoe possíveis expectativasdesagradáveis da experiência doparto. E vulgar ocorrerempesadelos, os quais permitemexteriorizar medos e receios, quesão positivos, ajudando a mulhera preparar-se para o parto enascimento. E exoresso otemor/medo à morte no oarto. àdor, ao parto traumático, porfórceps, ventosa ou cesariana, aofi lho disforme, à morte do fi lho(COLMAN&COLMAN,1994; KITZINCER, 1995; RATO,1998; STERN eBRUSCHWEILLER.STERN, 2OOO;KLAUS let al.], 2000).

Segundo BOBAK let al.](1999), a ansiedade face ao partopode surgir íruto de umapreocupação sobre o que iráacontecer à mãe e fi lho durante o

Dovldo crarav tmi r la r lo ram n

pcrrto hcr umoumanlo dcronsiodcrde @ novoqzríodo docrmbivolêncicr. Porum lcrdo, ins[olcì-s@Õ cla<e.iÕ rk>. ve.r a- - - ' - ) -f i lho e [erminor como grovrcr@Z, mcìs poroutro lodo hcrvontcìd@ 0@ cìnrnlnnnnr nnrn

odicrr onocassidado danô\/ôq ôaiôôfô.õ?.<

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ncrscimento dobaba (CRUZ, ì990;CÍìNÍìVíìRRO,200r ) .

JANETRO.06

pafto. A primípara poderá estartemerosa e apreensiva por nãosaber o que vai acontecer, nâotendo conhecimento orévio dodesenlace do parto.

Nas últimas semanas degravidez, a mulher encontra-senum estado dehipersensìbil idade, em quedesinveste tudo em reoor oara seconcentrar nela e no bebé. o ouelhe vai permitir o estabelecimentode um iaço afectivo com orecém-nascido que visa aadaptação e identificação totalda mãe às necessidades do seuf i l h o - é a q u i l o a q u eWINNICOTT chama a"Preocupação Materna Primária"(KENNELL, 1995; KLAUS let a l . ] ,2000).

Tal como refere BRAZELTON(1992), neste trimestre há umareorganização psicológica quepermite à mulher grávidacontrolar e aoroveitarsaudavelmente a ansiedadeprópria desta fase dedesenvolvimento. A agitaçãoe a ansiedade são oartesinevitáveis da gravidez, surgemcomo um processo depreparação da energia emocionaloos novos pars para o passomais importante - o de apegar-seao novo bebé. A energiaemocional mobil izada durante agravidez permite que areorganização aconteça. Aagitação da gravidez tem comoprincipal f inalidade preparar osfuturos pais para o apego aobebé e oara o seu novorelacionamento como pais, nãosó ao nível da esfera pessoal mastambém social. As fantasiasmaternas, bem como a ansiedadepré-natal, constituem assimmecanismos saudáveis ouepermitem à mulher reajustar-se aesta nova realidade.

Os nove meses da gravidezpreparam a mulher de uma forma

Page 7: As vivências da mulher durante a gravi dez

JANEtRO.*6 i"i..1,ï*fr.hinÂÜi: NueslNo 23

Tendo prescnte que o vivêncio do motcrnidods é uma <onstruçõo pessool, que roflecte todo o vido possodo do mulher, ontsrior oo noscimento do

belxá, evidenciou-sc o importôncio de conhccer olgumos dos vivêncios do mulher, oo longo dc umo otopo iínpoÍtontc do seu ciclo do vido, o gÍoüdoz.

absolutamente indispensável àmaternidade que se aproxima:" . . .cada mulher v ive a suagravidez tanto física epsicologicamente como social eculturalmente, na medida em queverif icam mudanças na suaimagem corporal, alteraçoeshormonais, confusão de apoiosem mudança e expectativasculturais que se vão reflectir nasua vida mental; também asmudanças na identidadeacompanham as mudançascorporais e os papeis sociais,pelo que, sem dúvida que oprocesso quer seja mais suaveou mais violento, quer lhetransmita confiança ou sejaassustador, quer seja feliz outriste, é com certeza,

indubitavelmente íonte demudança" (COLMAN&COLMAN,1994ì':

CONCLUSÃOTendo presente que a vivência damaternidade é uma construçãopessoal, que reflecte toda a vidaDassada da mulher. anterior aonascimento do bebé,evidenciou-se a imoortância deconhecer algumas das vivênciasda mulher, ao longo de umaetaoa imoortante do seu ciclo devrda/ a Sravtdez.

A experiência da maternidadeenvolve sentimentos 0uesimultaneamente podem sergratificantes e coníusos, mas noseu cerne ela é uma experiênciacriativa, uma vez oue leva ao

Ês fonlcrsicrsmcrt@rnos, OAmComO Cì Cìnsiadod@pré-ncrtcrl,conslitue,m cìssimmaccrnismos- ^ , - l ^ , , - , - ^ , , ^) L r u 9 ! r v 9 r > l l u 9

pormitom cr mulhorraôir r<fôr-qa ô aqfô' " . - J " - _ ' - '

novo reolÌdoda.

nascimento de uma nova vida,envolvendo desafios tanto para aonovos pais como para o bebéacabado nascer e para osProfissionais de Saúde comopromotores da homeostasia nesteperíodo em que a mãe seencontra envolta por váriosdesaíios de Íorma a contribuirmospara uma vivência da forma maissaudável possível desta Íase,permitindo e contribuindo para oseu desenvolvimento intra einteroessoal indo de enconrro assuas exoectativas. estebelecendoprocesso de relação de ajuda,devendo ser uma intervençãoprioritária da enÍermagem demodo a contribuir oara apromoção da saúde e bem-estardas famílias. r

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