“eu li no facebook” 5 - editora...

111
GERAÇÕES DO PROJETO JORNALÍSTICO DO FACEBOOK “EU LI NO FACEBOOK” 5 Lilian Cristina Monteiro França Criação Editora

Upload: others

Post on 02-Feb-2021

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 1

    GERAÇÕES DO PROJETO JORNALÍSTICO DO FACEBOOK

    “EU LI NO FACEBOOK”

    5

    Lilian Cristina Monteiro França

    Criação Editora

  • “EU LI NO FACEBOOK”

    CONSELHO EDITORIAL

    Ana Maria de MenezesFábio Alves dos SantosJorge Carvalho do NascimentoJosé Afonso do NascimentoJosé Eduardo FrancoJosé Rodorval RamalhoJustino Alves LimaLuiz Eduardo Oliveira MenezesMaria Inêz Oliveira AraújoMartin Hadsell do NascimentoRita de Cácia Santos Souza

    Lucas Aribé Alves(Parecerista de acessibilidade)

    www.editoracriacao.com.br

    Título: “EU LI NO FACEBOOK”: AS CINCO GERAÇÕES DO PROJETO JORNALÍSTICO DO FACEBOOK

    Autora:Lilian Cristina Monteiro França

    ISBN: 978-65-80067-65-7

    Pesquisa Financiada pelo CNPq, através do Edital Univer-sal/2016.

  • Criação EditoraAracaju | 2019

    GERAÇÕES DO PROJETO JORNALÍSTICO DO FACEBOOK

    “EU LI NO FACEBOOK”

    5

    Lilian Cristina Monteiro França

  • França, Lilian Cristina MonteiroF814m “Eu li no Facebook”: as cinco gerações do projeto jor-

    nalístico do Facebook / Lilian Cristina Monteiro França. – 1. ed. – Aracaju, SE: Criação Editora, 2019.

    114 p., 27 cm. ISBN. 978-65-80067-65-7

    1. Facebook 2. Jornalismo Online 3. Negócios 4. Redes So-ciais. I. Título II. Assunto III. França, Lilian Cristina Monteiro

    CDD 070:004.678CDU 07:004.738.5

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8/8846

    ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO1. Jornalismo; Internet; Propaganda.2. Jornalismo; Internet.

    Copyright by 2019 Lilian Cristina Monteiro França

    É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, com finalidade de comercialização ou aproveitamento de lucros ou vanta-gens, com observância da Lei de regência. Poderá ser reproduzido texto, entre aspas, desde que haja expressa marcação do nome do autor, título da obra, editora, edição e paginação. A violação dos direitos de autor (Lei nº 9.619/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código penal.

    Projeto gráfico e capa: Adilma MenezesCapa ilustração: newspaper kalhh por Pixabay

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    - Agradeço à Profa. MSt. Acássia Araújo Barreto pela interlocução e profícuo diálogo;

    - Agradeço a Adilma Menezes, Presidente e designer da Editora Criação pelo apoio na publicação deste livro;

    - Agradeço às instituições que apoiaram a presente pesquisa:

    - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/ CNPq

    - Universidade Federal de Sergipe/ UFS

  • “O Facebook quer ser para as notícias

    o que a Amazon tem sido para os livros”

    Ravi Somaya (The New York Times, 2014).

  • Sumário

    “EU LI NO FACEBOOK” 9

    A PRIMEIRA GERAÇÃO DO PROJETO JORNALÍSTICO DO

    FACEBOOK – A FASE FACEBOOK FOR MEDIA - 2010/2014 14

    O JORNAL PERSONALIZADO E A SEGUNDA GERAÇÃO DO

    PROJETO JORNALÍSTICO DO FACEBOOK – A FASE FACEBOOK

    MEDIA - 2014/2015 39

    A TERCEIRA GERAÇÃO E O MODELO FACEBOOK INSTANT

    ARTICLES – 2015/2017 48

    QUARTA GERAÇÃO – O PROJETO JORNALÍSTICO DO FACEBOOK –

    2017/2019 65

    O INÍCIO DE UMA QUINTA GERAÇÃO 77

    REFERÊNCIAS 90

    GLOSSÁRIO 103

    ÍNDICE REMISSIVO 109

    SOBRE A AUTORA 111

  • 8

  • 9

    “EU LI NO FACEBOOK”

    Essa frase foi se tornando cada vez mais presente em nosso cotidiano. Em 2010, quando comecei a pesquisar sobre as relações entre o consumo de notícias e o Face-book, era visível que o público estava migrando acelera-damente dos sites dos grandes jornais para a plataforma e, com menor velocidade, trocando os telejornais pelos feeds de notícias.

    Acompanhando o processo de transformação do jorna-lismo, do impresso para o “Digital First” e depois para o “Mobile First”, a caminho de um “API First”, “Bussines First” ou mesmo um “Facebook First” é possível verificar uma grande transformação no consumo de notícias.

    Um projeto de pesquisa aprovado no Edital Universal do CNPq (2016), intitulado “O modelo de negócios Facebook - Instant Articles no financiamento do jornalismo online no Brasil” previa um meticuloso acompanhamento do processo de implantação dos Instant Articles, o que le-vou a um detalhado monitoramento da mídia especiali-zada, uma vez que não existem dados oficiais.

    Para realizar este estudo, uma das metodologias utiliza-das foi a pesquisa bibliográfica, englobando teses, disser-tações, artigos científicos e artigos publicados pela mídia especializada. Nesse último segmento, constituíram o corpus da pesquisa, newsletters, artigos e relatórios dis-

  • 10

    ponibilizados por: Columbia Journalism Review, Nieman-Lab, Pew Research Center, Forbes, Tow Center, Business Wire, MITSloan, TechCrunch, IJNET, Marketing Land, Buzz-Feed, Vox, Fast Company, Campaign, Digiday, Poynter, The Verge, VB – Venture Beat, Hor@ Digital, Olhar Digital, Meio e Mensagem, The New York Times, The Washington Post e The Guardian.

    A partir dos dados coletados, foi possível encontrar indí-cios de que o Facebook desenvolvia um projeto jornalísti-co próprio, assim nomeado apenas em 2019, mas paula-tinamente estruturado desde 2010.

    Esse processo impactou o universo do jornalismo e da produção/distribuição de notícas, gerando uma série de transformações que terminaram por agravar a crise que o setor atravessava desde o advendo da web – 1990 – com o surgimento das publicações online.

    Compton e Benedetti, em 2010, fizeram uma análise acerca das principais mudanças na indústria jornalís-tica, mostrando que esta vivia “tempos incertos” e que as previsões eram ousadas e obscuras. A explosão das redes sociais, em especial com o Facebook, doravante, FB, ameaçava a sobrevivência da maioria dos jornais e mesmo os mais tradicionais viam-se num momento crí-tico, precisando reduzir custos e força de trabalho e, ao mesmo tempo, ampliar a base de assinantes.

    O consumo de notícias nas redes sociais foi se intensifi-cando, e, segundo Mitchell, Gottfried, Barthel e Shearer (2016), 36% dos americanos preferiam consumir notí-

  • 11

    cias online – redes sociais, websites/app e 72% desses o faziam através de dispositivos móveis.

    A conjuntura era caótica, com as formas clássicas de narrativa sendo postas em xeque, bem como as regras e normas de objetividade. Por outro lado, o universo digital obrigava, ainda, à revisão das bases do capitalismo, fun-damentalmente dos modos de obtenção de lucros a par-tir da venda de bens e serviços que migravam de átomos para bits, nas palavras de Negroponte (1995).

    Os anos que se seguiram foram tempestuosos, levando a uma série de experiências, entre elas, a de maior sucesso, em que pesem todas as críticas, a criação de paywalls, sistemas de assinaturas digitais, mais ou menos poro-sos, adotados por importantes veículos jornalísticos do mundo. Em contraponto, a exemplo do britânico The Guardian, vários jornais ainda resistem e contam com a colaboração espontânea dos leitores e outros modelos de negócios.

    Compton e Benedetti (2010) ressaltaram, ainda, que o que eles observavam, naquele momento, era um pro-gressivo aumento da capacidade de interação e conversa no âmbito das redes sociais, abrindo espaço para uma maior participação dos jornais que poderiam, ali, apre-sentar as suas notícias e rapidamente observar a recep-tividade do público.

    Atento, o FB foi construindo a sua história e criando con-dições para aproveitar o momento e encampar algumas das práticas jornalísticas. Desde 2010, criou páginas pró-

  • 12

    prias para discutir a questão da mídia: “Facebook for me-dia” (2010), “Media on Facebook” (2014) e “Facebook Me-dia” (2014). A esse momento, chamo de primeira geração do projeto jornalístico do FB.

    A segunda geração começa no final de 2014, quando o al-goritmo do FB estava suficientemente desenvolvido para poder passar a vender a ideia de um “jornal personaliza-do” para cada um de seus seguidores, dando início a uma nova versão de seu projeto jornalístico.

    Como parte de suas estratégias de crescimento, o FB se-guiu investindo em jornalismo e criou, em 2015, os Ins-tant Articles (IA), formato de publicação que, além do carregamento rápido, permitia que o internauta se man-tivesse no FB e deveria remunerar também o editor, dan-do início à terceira geração do projeto jornalístico do FB. De acordo com Rodriguez (2017, p. 4):

    Embora o Facebook negue ser uma empresa de mídia, o Facebook está se transformando na indús-tria do jornalismo - alterando fundamentalmente a maneira como os jornalistas reúnem histórias e fontes e depois espalham as notícias para a comu-nidade.

    Em 2017, o FB formulou de modo mais sólido um projeto para o jornalismo, a sua quarta geração, com o Facebook Journalism Project, fundado, conforme esclarece Simo (2017), na perspectiva de construção de um sistema eco-logicamente saudável de notícias, estruturado em três eixos centrais: Desenvolvimento colaborativo de novos

  • 13

    produtos (novos formatos de narrativas, notícias locais, modelos de negócios emergentes, hackathons e contato constante com todos os envolvidos); Treinamento e Fer-ramentas para jornalistas e para a sociedade como um todo, no que tange ao consumo de notícias de qualidade.

    Nesse contexto os IA continuam funcionando em bases experimentais e sofrendo ajustes técnicos para melhor atender aos editores, além de terem de enfrentar a con-corrência das AMP – Acelerate Mobile Pages, recurso si-milar no qual a Google vem investindo fortemente.

    O ano de 2019 dá início a uma quinta geração, com a re-modelação e ampliação do Facebook Journalism Project e desenvolvimento de novas ferramentas voltadas para o aprimoramento do uso da rede social FB por jornalistas.

    O principal objetivo deste livro é reunir e sistematizar uma série de informações dispersas e permitir que, sob certo ponto de vista, seja contada a história de como uma rede social surgida para fomentar a comunicação pessoal terminou por afetar todo o ambiente das empre-sas jornalísticas e da produção de notícias.

  • 14

    A PRIMEIRA GERAÇÃO DO PROJETO JORNALÍSTICO DO FACEBOOK – A FASE FACEBOOK FOR MEDIA - 2010/2014

    De modo mais sistematizado, a partir de 2010, o FB pas-sou a intensificar a sua preocupação com as questões jornalísticas. A página “Media + Facebook” ou “Facebook for media” (Figura 1), @fbmedia, foi criada em seis de ju-lho de 2010, para aproximar ainda mais o FB das empre-sas de mídia e jornalismo.

    Figura 1 – Screen shot da tela da página do Facebook for media, criada em 06/07/2010

    Fonte: Facebook for media (2010).

  • 15

    O primeiro post na página que balizava as ações da em-presa nesse sentido (Figura 2) vinculava-se a um texto de Justin Osofsky, então líder do Facebook Development, intitulado: “Making News and Entertainment More Social in 2011“ (2010a), apresentando algumas ações já imple-mentadas, em especial parcerias firmadas com outras empresas de mídia.

    Figura 2 – Screen shot do primeiro post da página do Facebook for media

    Fonte: Facebook for media (2010).

    O layout da página (Figura 3) deixa evidente a preocupa-ção com a disseminação de notícias, portando um logo-tipo da forma de antena de broadcast com o logo do FB no topo.

  • 16

    Figura 3 – Print do primeiro post da página do Facebook for media

    Fonte: Osofsky (2010a).

    Sobre esse lançamento, pondera Garber (2010, online):

    Ontem à noite, o Facebook lançou um projeto em andamento há algum tempo: uma página de mídia dedicada, ele diz, a jornalistas, desenvolvedores e outros “parceiros de mídia”. A Facebook + Media é dedicada a “ajudar os parceiros de notícias, TV, ví-deo, esportes e música a usar o Facebook” - em particular, ajudando-os a “aprender sobre as me-lhores práticas e ferramentas para ajudar a dire-cionar tráfego de referência, aumentar o engaja-mento, e aprofundar as percepções dos usuários.

    A fala de Osofsky evidencia a preocupação com a condu-ção de um projeto jornalístico bem como com o engaja-

  • 17

    mento de diferentes setores da mídia, demonstrando a in-tenção de se aproximar de todo o ecossistema de notícias.

    Em outro artigo, Osofsky (2010c) dirige-se aos desenvol-vedores com uma narrativa voltada para a importância do Facebook como plataforma de direcionamento de trá-fego e de construção de social news:

    Pequenos blogs de grandes organizações de mídia se concentram na produção de ótimos conteúdos e na divulgação para as pessoas certas. A Plata-forma do Facebook oferece a capacidade de com-plementar esse conteúdo, tornando a experiência mais social - permitindo que as pessoas descu-bram o conteúdo que seus amigos e outros leito-res recomendam e com os quais se preocupam (OSOFSKY, 2010c, online).

    Sua fala ressalta três eixos principais de atuação: 1) im-pulsionar o crescimento do público e do tráfego, 2) au-mentar o engajamento e 3) obter informações valiosas acerca do perfil dos clientes. Quanto ao direcionamento do tráfego, a implementação do “botão curtir” ajudou a aumentar o engajamento, assim como o uso do Activity Feed 1, do feed de recomendações - Recommendations2,

    1 O plugin Active Feed exibe a atividade recente mais interessante no site, usando ações (como curtidas) de amigos ou outras pessoas (FACEBOOK FOR DEVELOPERS, 2010a). Deixou de ser utilizado depois da criação do Graph API v2.3.2 O feed de recomendações (Recommendations) exibe o conteúdo mais re-comendado no seu site, usando ações (como curtidas) de seus amigos ou outras pessoas. É diferente do feed de atividade que exibe ações recentes no seu site (FACEBOOK FOR DEVELOPERS, 2010b). Deixou de ser utilizado depois da criação do Graph API v2.3.

  • 18

    dos recursos de live streaming - à época era usado o Live Stream Box3 - e, ainda, a search API 4. O FB mostrava-se, desde então, fortemente motivado a estruturar um pro-jeto jornalístico e a fazer isso em parceria com majors do setor.

    Osofsky (2010b) cita três principais parcerias para conso-lidar o projeto jornalístico do FB naquele momento: Spor-ting News, The Washington Post e Cracked.com.

    A Sporting News era uma plataforma especializada em notícias sobre esportes, derivada da TSN (antes chamada The Sporting News), revista clássica na área, criada em 1886 por Alfred H. Spink, conhecida, também como a “Bí-blia do Basebol” (Figura 4), estreou na internet em 2010 e encerrou a versão impressa em 2012, após 26 anos. Osofsky (2010a, online), justifica a iniciativa:

    Uma empresa de multimídia que atende a fãs de esportes, integrou profundamente o Facebook à sua experiência online para oferecer aos usuários a capacidade de curtir artigos, vídeos e equipes em todo o site. Nos cinco meses desde a implementa-ção dos plugins sociais, o Facebook cresceu de me-nos de um por cento do tráfego para o domínio de referência nº 1 do SportingNews.com. Além disso, o

    3 O live stream havia sido utilizado pela CNN na posse do Presidente Obama e gerado um grande engajamento.4 Atualmente Graph API, v. 6.0 – “Principal forma dos aplicativos lerem e gravarem no gráfico social do Facebook. Todos os nossos SDKs e produtos interagem com a Graph API de algum modo, e nossas outras APIs são ex-tensões da Graph API. Por isso, é crucial entender como ela funciona” (FACE-BOOK FOR DEVELOPERS, 2010c).

  • 19

    Sporting News descobriu que o conteúdo compar-tilhado no Facebook recebeu mais envolvimento, com o compartilhamento diário médio de até 65% e comentários com mais de 18%.

    Figura 4 – Screen shot da primeira edição da Sporting News, em 17 de março de 1886

    Fonte: Thorn (2014).

    Após dois anos de parceria, em 2012, a Sporting News ga-nhou um aplicativo para leitura dentro do FB (Figura 5).

  • 20

    Figura 5 – Screen shot de post sobre aplicativo a ser lançado para a Sporting News

    Fonte: Facebook Media (15/02/2012).

  • 21

    No post foram listadas as seguintes companhias que teriam apps em parceria: Buzzfeed, CBS, CMT, The Daily Show, GetGlue, Huffington Post, Mashable, MSNBC.com, MTV News, Pixable, TODAY Show e Sporting News, esta última com lançamento previsto para março do mesmo ano, como adverte o autor (OSOFSKY, 2012).

    Esses novos apps somaram-se a outros que já existiam, como o do The Guardian e o Washington Post Social Rea-der, por exemplo, com o objetivo de oferecer aos editores oportunidades para alcançar novos públicos, a partir de notícias e conteúdos que integram o repertório dos usuá-rios (OSOFSKY, 2012).

    O FB destacava a presença de companhias de mídia na in-ternet por meio de apps específicos: Yahoo! – 25 milhões de pessoas aderiram ao Social Bar e 2 milhões o utilizam todos os dias; Rockmelt – adiciona 15 novos artigos por dia através da rede social, dirigindo 20% do tráfego e dos no-vos usuários para o site; The Guardian – seu aplicativo foi baixado mais de 5 milhões de vezes, em grande parte por jovens com menos de 24 anos, atraindo um novo público para o veículo; Digg – após a instalação do Digg Social Rea-der o número de page views subiu 35% (OSOFSKY, 2012).

    Em fevereiro de 2012, portanto, todas as condições pa-reciam mostrar-se mais favoráveis à utilização de social readers, fortalecendo as associações entre grupos de mí-dia. A esse respeito, esclarece Junqueira (2012, online):

    De acordo com o Facebook, os aplicativos de notí-cia aumentam o tráfego e levam veículos de mídia

  • 22

    para um público jovem pouco acostumado a eles. A rede social também mostrou alguns números dos aplicativos que já estão disponíveis para os usuários. O do The Guardian, por exemplo, foi insta-lado por 5 milhões de usuários, sendo que metade deles tem menos de 24 anos.

    A segunda parceria foi firmada com o The Washington Post, segundo Osofsky (2010, online):

    Em abril, o Washington Post integrou a Plataforma do Facebook para criar uma experiência social em todo o site com o “Network News”. O Washington Post registrou um aumento de mais de 280% no tráfego de referência ano após ano, à medida que as notícias se tornam instantaneamente relevan-tes e como os leitores respondiam ao que seus amigos gostaram ou qual a parte mais recomen-dada das notícias de hoje.

    O The Washington Post foi um dos pioneiros no jorna-lismo em redes sociais, tanto que, em 22 de setembro de 2011, laçou o The Washington Post Social Reader for Facebook (Figura 6), um dia antes do britânico The Guar-dian lançar o seu (THE WASHINGTON POST, 2011). Em 22 de janeiro de 2014, o The Washington Post Social Reader (WP Social Reader) foi transformado no Trove (Figura 7) e lançado como aplicativo (app) agregador de notícias para iOS, Android e Fire Phone. O Trove surgiu em decor-rência das mudanças no algoritmo do FB, que fez com que uma série de falhas (links que não funcionavam, se-leção de notícias sem organicidade, necessidade de fa-

  • 23

    zer login constantemente, entre outras) começassem a ocorrer com o Washington Post Social Reader. Em 2015, o Trove encerrou as suas atividades. Figura 6 – Screen Shot da publicidade do WP Social Reader

    Fonte: Hor@ Digital (20/02/2012).

  • 24

    Figura 7 – Screen Shot do logo do Trove

    Fonte: Wikipedia.

    Para Longhi e Flores (2017), o The Washington Post ino-vou ao disponibilizar em seu aplicativo para leitura den-tro do Facebook não só o seu conteúdo, mas o conteú-do de mais de 50 outros veículos (The Associated Press, Reuters, Mashable, GlobalPost, SB Nation, Slate, The Post Express, para citar só alguns).

    As notícias acessadas eram incluídas também no feed dos amigos, o que contrariava, à época, as tendências, uma vez que a maioria dos jornais temia a leitura fora de suas plataformas proprietárias.

    Uma terceira parceria foi estabelecida com a Cracked.com, empresa de mídia especializada em divulgar fatos com humor. Criada em 1958 na forma de revista (Figura 8), deixou de circular em 2007, após algumas tentativas de reformulação para manter a edição impressa, perma-necendo apenas como plataforma digital.

  • 25

    Figura 8 – Capa da revista Cracked no.1, 1958.

    Fonte: Craked Fandom (2019).

    A Demand Media adquiriu a Cracked em 2007 e focou, sobretudo, no aumento do tráfego através do YouTube e do FB:

  • 26

    A Demand Media ajudou a impulsionar o cresci-mento da Cracked, uma marca líder de humor em mídia digital, desde a aquisição da proprieda-de em 2007. Em particular, o público em vídeo da Cracked cresceu substancialmente ao longo desse tempo. Atualmente, a Cracked tem mais de 1 mi-lhão de inscritos no YouTube e mais de 20 milhões de visualizações mensais de vídeos no YouTube e no Facebook. A Scripps é líder na construção e no crescimento de negócios de notícias, informações e entretenimento. Possui e opera um portfólio de marcas de televisão, rádio e mídia digital. A ven-da da Cracked para a Scripps representa a próxima fase na trajetória de seu crescimento (BUSINESS WIRE, 2016, online).

    Em 2016, a Cracked foi adquirida por US$39 milhões pela The E. W. Scripps Company, um conglomerado de mídia que opera empresas de broadcasting, jornais e mídia digital.

    A parceria com a Cracked.com, para Osofsky (2010, online),

    Usando plug-ins sociais, a Cracked facilita o com-partilhamento de conteúdo com os amigos e o acesso a recomendações personalizadas com base nas coisas que eles gostam. Nos últimos cinco me-ses, o Facebook indicou mais visitantes únicos para a Cracked do que qualquer outro site na web. Ano após ano, a Cracked registrou um crescimento de mais de 450% nas visitas dos usuários do Face-book. A Cracked também descobriu que as refe-

  • 27

    rências do Facebook estão mais envolvidas em seu site - eles comentam, compartilham e leem mais.

    As três empresas apresentam forte presença no Face-book: a Sporting News tem 1,5 milhão de seguidores, o The Washington Post supera a casa dos seis milhões e a Cracked a dos três milhões (dados de novembro de 2019).

    Segundo Primo (2011), discutindo os primórdios do jorna-lismo em redes sociais: “As práticas jornalísticas de hoje [2011] envolvem um número maior de produtores e dis-tribuidores de notícias, sendo que uma importante par-cela destes não faz parte de organizações jornalísticas” (p. 132) e, tal fato, obrigava a reorganização da indústria de notícias naquele momento.

    No período posterior a 2011, o jornalismo nas redes so-ciais se fortaleceu e passou a tornar a crise no setor jor-nalístico mais complexa. O FB passou a ser a principal fonte de notícias da maioria das pessoas com acesso às redes sociais e a mudança em seu algoritmo levou ao colapso dos social readers para FB.

    O Editor da Atlantic Media Company, David Bradley, em entrevista ao então Diretor do The New York Times, David Carr (2014), relata que:

    Cada vez mais, as pessoas preferem que suas notí-cias sejam curadas por amigos, em vez de editores [...] A tecnologia do Facebook pode criar uma me-lhor experiência de leitura do que os editores po-dem oferecer - páginas que carregam um design

  • 28

    cada vez melhor. [...] Meu trabalho é navegar a The Atlantic para manter boas relações com as plata-formas [...] Na minha última viagem ao vale, as me-lhores mentes estavam falando sobre o mesmo problema: a próxima disputa entre plataformas e editoras é uma ameaça existencial ao jornalismo? Pelo menos no Vale, em grande parte a respos-ta que ouvi foi ‘Sim’. (BRADLEY, 2014, apud CARR, 2014, online).

    Por melhor que fossem as relações entre veículos e o Facebook, o temor de perda de espaço ou mesmo de absorção em larga escala da indústria jornalística pelo FB era uma constante. Os Social Readers não tiveram o êxito esperado.

    Os aplicativos entraram em colapso: Bercovici (2012, on-line) afirma que o Washington Post Social Reader que ti-nha receita de 17,4 milhões de dólares/mês em março, baixou para 9,2 milhões em abril de 2012. Outros veícu-los também caíram drasticamente: The Guardian, Daily-motion, por exemplo (HERMANN, 2012, online). O quadro era de um colapso completo, acompanhado pelo desa-pontamento dos leitores:

    Os Social Readers sempre pareciam um pouco exa-gerados, mesmo para o Facebook; eles pareciam mais o tipo de serviços frios, descritivos, invisíveis e ainda obrigatórios que estamos acostumados a ver no Google, em vez de ferramentas genuina-mente novas e úteis para divulgar informações. E eles se sentem, eu não sei, meio que quebrados

  • 29

    agora? Meu cérebro já associa esses pequenos blocos de histórias alimentadas automaticamen-te a conteúdos de segunda classe. Quero dizer, eu sei que meus amigos não quiseram mostrar isso para mim. Por que eu clicaria? E Deus, por que eu me inscrevi na coisa que parece ter entrado na mi-nha linha do tempo? É um aplicativo que transmi-te analfabetismo da Internet para todo mundo ver (HERMANN, 2012, online).

    O FB, por sua vez, preocupado em o segmento de mídia e jornalismo, fez outras modificações: em janeiro de 2014 mudou o nome para “Media on Facebook” (30/01/2014), depois, em agosto do mesmo ano, para “Facebook for Media” (26/08/2014) e, finalmente, em setembro, para “Facebook Media” (11 de setembro de 2014).

    Em 24 de abril de 2014, o FB anunciou a criação do FB Newswire (Figura 9), cujo objetivo era ajudar os jornalis-tas a encontrar, compartilhar e incorporar o conteúdo produzido dentro do Facebook (MITCHELL, 2014, online). O FB Newswire foi desenvolvido pela Storyful, uma agên-cia irlandesa de inteligência e monitoramento de mídia, criada em 2010, na forma de startup, por Mark Little, jor-nalista da RTE (Rádio e Televisão da Irlanda) e comprada em 2013 pela Rupert Murdoch’s News Corp,

  • 30

    Figura 9 – Shot Screen do post da página Facebook Media sobre a parceria com a FB Newswire

    Fonte: Facebook Media (24/04/2014).

    Outro lançamento importante para o projeto jornalístico do FB foi a FB Techwire (Figura 10), também em parceria com a Storyful, voltada para jornalistas e com o objetivo de ajudá-los a descobrir conteúdo original, furos, fotos e vídeos postados no FB entre outras possibilidades.

  • 31

    Figura 10 – Shot Screen do post da página do FB Techwire no Face-book

    Fonte: Lerner (2014).

    O analista de mídia e jornalista Mason Lerner (2014, onli-ne), na ocasião do lançamento, ressaltou que:

    O Facebook lançou o Facebook Newswire em abril como um recurso para jornalistas que agrega con-teúdo social digno de nota, compartilhado publica-mente no Facebook por organizações de notícias e usuários individuais. O Facebook ainda não está criando seu próprio conteúdo de notícias, mas está se tornando cada vez mais influente no que se torna uma história. E só porque eles não estão

  • 32

    criando conteúdo não significa que eles não estão dispostos a controlar o máximo possível.

    A fala de Lerner (2014) destaca, também, que a iniciativa faz parte de um conjunto de ações oferecidas à mídia tradicional, como por exemplo, hospedar as notícias em seu próprio aplicativo e dividir a receita com o produtor.

    Em matéria escrita para o The New York Times, Somaiya (2014) compara o FB a Amazon, afirmando que o “FB quer ser para as notícias o que a Amazon tem sido para os livros”. Somaiya (2014, online) chama a atenção para o modo como o FB vem mudando o hábito de consumir notícias, dirigindo 20% de seu tráfico para os sites de notícias: “Agora o leitor busca a informação nas mídias sociais, publicadas por uma fórmula matemática – um algoritmo – que adivinha o que as pessoas poderiam gostar de ler. É um mundo de fragmentos, filtrados por um código e entregue sob demanda”.

    No artigo, Somaiya (2014) cita Greg Marra, um dos princi-pais formatadores do algoritmo do News Feed do FB, que esclarece, quando perguntado acerca do impacto sobre o jornalismo:

    Tentamos nos ver explicitamente como não edi-tores [...] Não queremos ter julgamento editorial sobre o conteúdo que está no seu feed. Você fez seus amigos, se conectou às páginas às quais de-seja se conectar e é o melhor candidato para as coisas de que gosta (MARRA, 2014, apud SOMAIYA, 2014, online).

  • 33

    A postura de Marra (2014) talvez tenha contribuído para uma mudança no universo das notícias, cujo impacto ain-da segue sendo avaliado.

    De toda forma, o FB seguia trabalhando no News Feed de seus usuários, ajustando as métricas que definiam o que deveria aparecer para cada um, buscando identificar as preferências individuais e formatar o conteúdo de modo quase personalizado.

    É possível verificar a estruturação de uma aliança entre empresas jornalísticas, publicitários e o FB, tentando criar o melhor negócio possível para todos, atraindo mais público para o FB e, consequentemente, para notícias e propagandas.

    Em 18 de outubro de 2016, o FB encerrou a parceria sem entrar em detalhes acerca dos motivos. Especula-se que talvez tivesse a ver com a proeminência da Storyful ou dada a opção do FB por encerrar as curadorias de notí-cias feitas por humanos (YEUNG, 2016).

    É interessante notar que num primeiro momento o FB tentou trazer o conteúdo da mídia tradicional para “dentro” de sua plataforma e, num segundo momento, levar o conteúdo do FB para a mídia tradicional. Essa fase experimental ajudou a acertar algumas bases da produção jornalística suportada pelo FB, mas não conseguiu chegar a um resultado que satisfizesse todas as partes envolvidas.

    Stassen (2010, p. 128), em um estudo sobre o site jor-nalístico mais importante da África do Sul na época, o

  • 34

    News24, analisava o potencial das redes sociais para o universo da notícia:

    Os receios sobre a mídia social substituir o jorna-lismo são infundados. Embora as organizações de notícias a usem para enviar notícias, a ferramenta como está no momento não pode gerar relatórios bem pesquisados, imparciais e informados - e não é para isso. O valor real da mídia social para o jor-nalismo reside em sua interconexão. Ao acessar os canais certos, uma organização de notícias pode ter um “informante interno” em todas as esferas da sociedade, ajudando-as a encontrar as informa-ções mais recentes, ao mesmo tempo em que for-nece uma plataforma na qual pode conversar com seu público sobre o tópico.

    Naquele momento, portanto, ainda não havia certeza so-bre o futuro das redes sociais, embora parecesse promis-sor, nada levava a crer que poderiam crescer do modo como cresceram. Stassen (2010) informou, em seu arti-go, que o News24 possuía, em 2009, 670 fãs ligados ao seu perfil no Facebook; hoje são 6.956.646 seguidores (Figura 11), o que indica um crescimento da ordem de um milhão de vezes em dez anos, índices jamais esperados por ocasião do estudo em tela.

  • 35

    Figura 11 – Shot Screen da página do News24 em dezembro de 2019

    Fonte: Pagina do News24 no Facebook (26/12/2019)

    Segundo Fung (2013), o Facebook era, sobretudo, um lu-gar para compartilhar a vida pessoal e não estava claro que pudesse ser reconhecido como espaço para busca de notícias. O autor apresenta um estudo da Pew Resear-ch Center, datado de agosto/setembro de 2013 (Figura 12), mostrando que 64% dos estadunidenses adultos usavam o FB e, destes, 30% consumiam notícias no FB, ou seja, dos 316 milhões de estadunidenses, 221 milhões usavam o FB e 66 milhões o utilizavam como fonte de notícias. Se comparado com dados de 2018 (Figura 13), também da Pew Research Center, dos 327 milhões de estadunidenses, 140 milhões consomem notícias através do Facebook. Isso indica que o número mais do que do-brou em cinco anos, mesmo com uma série de proble-mas enfrentados pelo FB com relação às fake news.

  • 36

    Figura 12 – Percentual de estadunidenses que consumiam notícias no Facebook em 2013

    Fonte: Pew Researche Center (2013).

  • 37

    Figura 13 –Percentual de estadunidenses que consumiam notícias no Facebook em 2018

    Fonte: Pew Researche Center (2018).

    Para Fung (2013), os dados indicam um desafio para o Facebook e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para as empresas de mídia, que poderiam encontrar uma for-ma de utilizar a rede social para disponibilizar as suas notícias.

    Desde cedo, o FB se preocupa em compreender a dinâ-mica da rede e a disseminação de conteúdo. Em 2009, um estudo desenvolvido em conjunto pelo Facebook e pela Universidade de Stanford buscava compreender como um determinado evento se disseminava pela rede, atingindo laços e nós suscetíveis. Sun et al. (2009) inicial-mente partiram da teoria do contágio na forma de casca-ta para, a seguir, buscar dados empíricos nos 175 milhões de usuários da época. Partindo do News Feed, analisaram

  • 38

    as mensagens que viralizavam e identificaram o grau de influência das postagens dos amigos, percebendo que alguns usuários podem servir de ponte e ajudar na dis-seminação.

    Tal fato indica que em páginas com muitos fãs, um grupo (cluster) se une a outro para formar uma cascata global, em geral, entre 14% e 16% dos clusters iniciam as ca-deias que, segundo os autores, começam com um gran-de número de nós que derivam para cadeias curtas (SUN et al., 2009, p. 7). Sun et al. (2009) destacam, ainda, que essas cadeias poderiam ser mais longas e envolventes do que outros fenômenos da “vida real”, como por exem-plo, a comunicação “boca a boca”.

    Esses estudos iniciam parecem ter balizado as primei-ras experiências com a divulgação de notícias através do News Feed do Facebook, com base na forma de funciona-mento do algoritmo adotado naquele momento.

    Os ajustes no algoritmo, ao longo dos anos, permitiram uma estratégia mais sofisticada de difusão de notícias, com a criação de jornais personalizados, que marcam a passagem para a segunda geração de seu projeto jorna-lístico.

  • 39

    O JORNAL PERSONALIZADO E A SEGUNDA GERAÇÃO DO PROJETO JORNALÍSTICO DO FACEBOOK – A FASE FACEBOOK MEDIA - 2014/2015

    A segunda geração, de acordo com a nossa proposta de cronologia, começa em 2014 com uma mudança sutil, mas significativa: passa da fase “Facebook for media” para a fase “Facebook Media” (Figura 14), ou seja, altera a perspectiva de trabalhar “para a mídia”, passando a traba-lhar com/como mídia.

    Figura 14 – Shot Screen do post de lançamento do Facebook Media, em setembro de 2014

    Fonte: Facebook Media (2014).

    O post destaca que o objetivo é ajudar pessoas públicas e organizações de mídia a aumentarem o seu impacto através do FB. Naquele momento, o algoritmo do FB es-tava suficientemente desenvolvido para poder passar a vender a ideia de um “jornal personalizado” para cada um

  • 40

    de seus seguidores, como recorda Kim (2014, online), que entrevistou o CEO do FB na ocasião:

    Zuckerberg disse que cada usuário é exposto a mais de 1.500 histórias por dia, mas um usuário comum só consegue ver cerca de 100 por dia no feed de notícias. Para maximizar essa experiência, Zuckerberg está trabalhando com uma equipe de engenheiros para aprender o comportamento do usuário e captar sinais que mostrem o tipo de con-teúdo em que cada usuário está mais interessado.

    O próprio Zuckerberg disse a Kim (2014, online) sobre a personalização:

    Isso significa que, se as empresas estiverem com-partilhando conteúdo que possa ser útil para elas (usuários do Facebook), mostraremos isso. Mas se isso significa que as empresas estão comparti-lhando conteúdo que não vai ser útil para elas, tal-vez não mostremos isso, porque é provavelmente mais importante que elas leiam sobre um amigo que teve um bebê e o bebê é saudável .

    As principais características desse “jornal persona-lizado” do FB (Figura 15) foram:

    -Menos confusão na página inicial-Design consistente em todos os dispositivos (PC, celular, tablet)-Imagens mais amplas e mais “imersivas”-Navegação global em todo o site

  • 41

    -Agrupamento de conteúdo compartilhado (e su-gestões de conteúdo)-Separação de feeds para maior controle do usuá-rio (STERLING, 2013, online).

    Figura 15 – Imagens do protótipo de “jornal personalizado” do FB lançado em 2014

    Fonte: (STERLING, 2013, online).

    O crescimento do FB deve-se, fundamentalmente à di-versificação de suas ações, buscando cobrir os mais diferentes campos, desde a Inteligência Artificial até a realidade virtual. Tanto que, em dezembro de 2014, fo-ram lançadas várias ferramentas novas para editores (Figura 16).

  • 42

    Figura 16 – Shot Screen do post de lançamento de novas ferramentas

    Fonte: Facebook Media (2014).

    A ferramenta chamada de Interest Targeting, por exem-plo, permitia que o público alvo fosse diretamente alcan-çado, a partir da seleção dos interesses indicados nos perfis dos seguidores. Loom (2015) realizou um experi-mento, investindo US192 dólares no uso do recurso, em janeiro de 2015, logo após o lançamento, portanto, e con-seguiu obter resultados que, a seu ver, compensaram o investimento, aumentando tanto a taxa de engajamento quanto a taxa de conversão dos seguidores.

    Mullin (2015, online), por sua vez, destaca:

    No cenário de mídia desagregado de hoje, em que as organizações de notícias dividem e segmentam seu público com boletins, aplicativos, contas de mí-dia social, o Facebook deu aos editores outra ferra-menta para segmentar seus seguidores: a interest targeting.

    A segmentação por interesses, que podia ser utilizada gratuitamente pelos editores, permitia encontrar nichos

  • 43

    de público, aumentar a visibilidade de suas matérias. Mullin (2015) ressalta a ação do The New York Times no uso da interest targeting, que segmentou os seguidores do jornal que tinham também interesse pela série The Walking Dead, e conseguiu um aumento no engajamento da ordem de 30% a 40%.

    Na ocasião, a editora de mídia social do The New York Times, Cynthia Collins, afirmou: “Nossa hipótese é que, apesar de estreitarmos nosso alcance geral, potencial-mente, a ferramenta parece colocá-lo na frente das pes-soas certas” (COLLINS, 2014, apud MULLIN, 2015, online).

    Em novembro de 2015, Marcus Ho escreve uma maté-ria para o Search Engine Journal, lida por mais de 27 mil interessados, em que destaca a capacidade similar a de um laser que o FB desenvolveu para “identificar” a sua audiência. Para Ho (2015), saber quais os interesses e as atividades de seu público-alvo permite uma melhor seg-mentação e um maior retorno.

    A ferramenta segue sendo utilizada, com seus recursos aperfeiçoados.

    Outra ferramenta que compunha a estrutura de perso-nalização era o Post End Date, um recurso que permi-tia dar uma duração para um determinado post, evitan-do que ficasse desatualizado no feed dos usuários mas permaneceria na página de quem o publicava. Conteúdo relativo a índices, resultados de campeonato, datas co-memorativas, seriam visíveis apenas enquanto fossem realmente relevantes.

  • 44

    O Smart Publishing foi outra ferramenta importante para a aproximação do FB da mídia tradicional, uma vez que funcionava como uma espécie de “piloto-automáti-co” capaz de reconhecer as notícias mais importantes e republicá-las no feed dos leitores. Segundo Finn (2014), esse era um benefício para os profissionais de marketing, posto que a ferramenta conseguia “adivinhar” o que iria atrair o público e ampliar o ciclo de vida da notícia. Figura 17 – Shot Screen do post do The New York Times utilizando a ferramenta Smart Publishing

    Fonte: Finn (2014).

  • 45

    A grande questão era a perda de controle do feed de no-tícias do leitor por parte do veículo de mídia, mas a ideia era unir conteúdo de qualidade e tecnologia de ponta e, para tanto, a experiência incluia apenas algumas empre-sas parceiras, a exemplo do The New York Times.

    Ao comentar as novas funcionalidades voltadas princi-palmente para o setor de notícias, Kafka (2014) desta-ca que: “[...] o mais importante não são as notícias mas o contexto”, que, naquele momento, indicava a intenção de aumentar a quantidade de conteúdo a ser distribuído através do FB.

    De modo crítico, Chittum (2014, online) argumentava:

    Um leitor que recebe suas notícias pelo Facebook é um leitor passivo que, na melhor das hipóteses, está influenciando o algoritmo que seleciona as notícias que “o vê” escolhendo o que “gosta”, o que comentar e de quem ele é amigo. As organizações de notícias precisam, da melhor maneira possível, cultivar leitores ativos - aqueles que os procuram regularmente.

    A preocupação com a migração dos sites proprietários para as redes sociais vem fazendo com que os meios tradicionais de produção de notícias tentem encontrar formas de estabelecer parcerias, monetizando os seus conteúdos.

    Segundo o vice-presidente de operações globais do Face-book, em 2014, Blake Chandlee:

  • 46

    60% dos nossos usuários retornam diariamente, o que significa que temos um público enorme, maior que a escala da rede de televisão. As empresas podem começar a conversar com as pessoas como indivíduos, com base no comportamento real de compra ou em qualquer comportamento que a marca considere importante. Isso é marketing verdadeiramente personalizado em escala (CHANDLEE, 2014).

    A partir dessa capacidade de coletar dados, processar e aplicar técnicas de inteligência artificial, o Facebook con-seguiu atingir um grau jamais visto de personalização, alterando a lógica de funcionamento do sistema de pro-dução e divulgação de notícias.

    Em um evento público do FB, Mark Zuckerberg afirmou: “Nossa meta é construir o jornal personalizado perfeito para todas as pessoas do mundo.[...] Nós estamos tentan-do personalizá-lo e mostrar que as coisas serão mais inte-ressantes para você” (ZUCKERBERG, 2014, apud KIM, 2014).

    De acordo com Cory Haik, diretor sênior do The Washing-ton Post, o FB leva a uma era de desagregação do jorna-lismo, comparando a indústria jornalística à indústria da música: “o público deixou de comprar álbuns para com-prar músicas” (HAIK, 2014, apud SOMAIYA, 2014, online), e esse seria o futuro dos grandes jornais, apontando para uma crescente tendência de personalização.

    Começa a ser discutida a curadoria de notícia por algorit-mos ao invés de editores experientes, gerando uma onda

  • 47

    de incertezas que vem perdurando até os nossos dias. Um dos principais desenvolvedores do feed de notícias do FB e de seus algoritmos foi Greg Marra, que achava ser de responsabilidade de cada um escolher o que deve-ria aparecer na sua timeline.

    As estratégias do FB não agradavam completamente as empresas jornalísticas. O editor do The New York Times, David Carr, havia ponderado, em outubro de 2014:

    A empresa esteve em uma fase de escuta com os editores, discutindo maneiras melhores de colabo-rar. A rede social está ansiosa para ajudar os edi-tores a fazer um trabalho melhor de atendimento aos leitores no feed de notícias, incluindo a melho-ria de sua abordagem para dispositivos móveis de várias maneiras. Uma possibilidade mencionada foi para os editores simplesmente enviarem pági-nas ao Facebook que seriam publicadas no aplica-tivo móvel da rede social e seriam hospedadas por seus servidores; dessa forma, eles carregariam rapidamente os anúncios que o Facebook vende. A receita seria compartilhada (CARR, 2014, apud CHITTUM, 2014, online).

    Essa tratativa vai desembocar na criação de um meca-nismo que poderia atender tanto aos editores quanto ao FB: os Instant Articles, que seriam lançados em 2015 (no Brasil em 2016), dando início, segundo nossa cronologia, à terceira geração do projeto jornalístico do Facebook.

  • 48

    A TERCEIRA GERAÇÃO E O MODELO FACEBOOK INSTANT ARTICLES – 2015/2017

    Embora não seja uma empresa jornalística, ao menos não nos moldes tradicionais, o FB seguiu investindo em jornalismo e criou, em 2015, os Instant Articles, focado no carregamento rápido e na permanência do internauta no FB e na possibilidade de gerar monetização tanto para o editor quanto para a rede social (Figura 18), dando iní-cio à terceira geração do projeto jornalístico do FB.

    Figura 18 – Exemplo de Instant Articles na timeline de um seguidor a partir do app do FB para iPhone

    Fonte: Página do Instant Articles no Facebook, post de 2015.

  • 49

    Os Instant Articles são recursos obtidos através da utili-zação da programação em HTML5 (Figura 19), que permi-te o carregamento rápido de conteúdo dentro da própria plataforma do FB, sem, portanto, ser necessário que o usuário se desloque para o site que o publicou, caracte-rizando uma mudança de estratégia que passa da prio-rização de sites proprietários para plataformas abertas, tentando fugir de modelos de negócios baseados em sis-temas de paywall, crowdfunding ou nas teorias da cha-mada “cauda longa”.

    Figura 19 – Shot Screen de programa em HTML5 para publicação dos Instant Articles

    Fonte: Facebook for Developers (2016).

    A proposta do Facebook era a de remunerar os veículos jornalísticos parceiros, acelerar o tempo de leitura e for-talecer a cultura de busca por notícias em redes sociais.

  • 50

    Quando Owen (2015) entrevistou Michael Reckhow, respon-sável pelos Instant Articles, perguntou acerca do que os editores realmente gostariam de obter do Facebook e ele respondeu que esperam, sobretudo, alcançar e engajar no-vas audiências e foi isso que o FB tentou oferecer com os IA.

    Para caracterizar os IA, um pequeno símbolo de raio era colocado abaixo do título no link, prática que nem sem-pre foi utilizada, impossibilitando a completa diferencia-ção dos posts.

    Michael Reckhow, respondendo a Owen (2015, online), se posicionou diante da tarefa complexa que aguardava a equipe do FB:

    Queremos ir devagar e ter certeza de que acerta-mos. Estamos fornecendo um “contêiner” para as pessoas contarem histórias em dezenas de idio-mas. Temos que garantir que o “contêiner” seja apropriado em termos de, por exemplo, o formato da data na parte superior do artigo - os formatos de data variam em todo o mundo. À medida que expandimos para idiomas que não são grafados da esquerda para a direita, e outras coisas assim, esse é um conjunto de desafios que requer desen-volvimento. Mas o Facebook já atende pessoas e idiomas em todo o mundo, por isso temos alguma experiência em garantir que [o conteúdo] corres-ponda à experiência local.

    As empresas tradicionais encontram nas redes sociais, particularmente no FB, Twitter e Instagram, o ambiente

  • 51

    perfeito para acessar o público e distribuir maciçamente notícias. Sendo a rede social mais frequentada, com mais de 2 bilhões de seguidores cadastrados, parece inevitável criar estratégias para a distribuição das notícias no FB.

    Acerca do lançamento dos IA, Benton (2015) avaliou que eles representavam uma forte resposta do FB a mídia, que demandava mais retorno para o seu conteúdo publi-cado nas timelines.

    O modelo de negócios aqui denominado Facebook-Ins-tant Articles propõe uma reorganização no financia-mento da indústria jornalística, em especial no que diz respeito ao jornalismo online, propondo a sua migração de plataformas fechadas, proprietárias, para as platafor-mas das redes sociais, em certo sentido abertas, posto que não se encontram “debaixo” de paywalls.

    O Facebook observou que os hábitos de consumo de no-tícias estavam se modificando e o público cada vez me-nos visitava o site dos jornais ou portais de notícias acos-tumando-se a focar a sua leitura no conteúdo que surgia nas timelines das redes sociais, em especial na do FB.

    Um artigo de Mat Yurow, datado de 2015, faz uma analogia entre a indústria editorial e a indústria da música, chaman-do a atenção para a mudança de paradigma que a passa-gem do consumo de álbuns para o de músicas avulsas ge-rou e, ainda mais desestabilizador, o fato dessas músicas serem adquiridas em plataformas como o iTunes. O autor afirma: “As plataformas estão ´comendo‘ nossos negócios e nós estamos deixando” (YUROW, 2015, online).

  • 52

    O que antes formava a edição diária de um jornal, por exem-plo, passou a ser fragmentado num conjunto de artigos, disponibilizados nas redes sociais e agregando a sensação de que as notícias são “de graça”, reforçava Yurow (2015).

    Como havia dito um dos editores do The New York Ti-mes, David Carr (2014), diante da crise no segmento das notícias, “O Facebook oferece o bote salva-vidas, mas os editores são cuidadosos”. Compreensivelmente, o porte do FB assusta os editores, que temem ser engolidos e ver seus negócios perdendo espaço a cada dia.

    O consumo regular de notícias nas redes sociais, de cer-ta forma, termina por apagar os traços mais evidentes do jornalismo de qualidade e mascara o custo elevado desse tipo de produção. A competição injusta com pro-dutos que chegam no feed sem a devida apuração, com conteúdo falso ou incorreto, formatos feitos para gerar monetização sem medir consequências, sempre assus-taram a mídia tradicional.

    Carr (2014, online), sobre o FB, enfatiza que:

    O tráfego que eles enviam é espantoso e tem sido ótimo que eles tenham se esforçado para alcançar e melhorar o conteúdo de qualidade, disse um exe-cutivo de uma publicação digital, que se recusou a ser identificado para não gerar melindres. Mas todos nós sabemos que a queda é inevitável´

    Para destacar a fragilidade da relação entre o FB e a in-dústria midiática, Carr (2014) lembra dos problemas que

  • 53

    os aplicativos do tipo Social Readers do The Guardian e do The Washington Post geraram (como vimos no capí-tulo 1).

    Os primeiros parceiros da criação dos IA foram The New York Times, NBC News, The Atlantic, The Wall Street Jour-nal, The Guardian, BBC News, National Geographic, BBC, Spiegel Online e Bild.

    Na lista do segundo grupo encontravam-se: The Wash-ington Post, The Blaze,  Bleacher Report,  Business Insid-er, Bustle, CBS Interactive, Complex, IJ Review, Daily Mail/Elite Daily,  The,  Gannett,  Hearst,  The Dodo, Huffington Post,  Major League Baseball, National Basketball, Mash-able, Mic, Moviepilot, MTV, Association, Refinery29, Time Inc. e  Vox Media.

    Entretanto, o modelo Facebook Instant Articles encon-trou problemas de adesão entre seus parceiros, com questões relativas a entraves técnicos, à divisão dos lu-cros e ao controle do conteúdo, obrigando a empresa a rever suas metas e estratégias.

    Os problemas técnicos, estavam ligados ao Content Ma-nagement System – CMS (Sistema de Gerenciamento de Conteúdo), como informa Bassi (2015, online), em artigo publicado alguns meses após o lançamento:

    O Facebook anunciou, em um post publicado em seu blog oficial, que está liberando documentação para que qualquer publisher possa publicar artigos nos Instant Articles diretamente das suas plata-

  • 54

    formas de gestão de conteúdo (CMS, ou Content Management System). “Projetamos os Instant Ar-ticles para facilitar ao máximo que os publishers usassem seus CMS para publicar diretamente na plataforma. Não há ferramentas novas para apren-der”, escreve no post o engenheiro de software VR Vishwanath, do Facebook. [...]. Hoje vamos compar-tilhar mais dados sobre o sistema de publicação dos Instant Articles, que é baseado em padrões abertos [leia-se HTML5 e RSS] usados na web e es-tamos liberando documentação para os publishers e provedores de ferramentas, afirma Vishwanath.

    Mark Silverstein, do Huffington Post, ao contrário dos executivos dos demais veículos que reclamavam dos IA, deu um depoimento, em 2016, informando que os IA ge-ravam 42% da receita de exibição de aplicativos para dis-positivos móveis da HuffPost (SILVERSTEIN, 2016).

    Em 2016, o FB lançou o Facebook’s Third-Party Fact-Che-cking Program, ligado ao IFCN (International Fact-che-cking Network), do Instituto Poynter. A parceria envolve, principalmente, ações voltadas para a remoção de dis-curso de ódio, relativo ao terrorismo e contas falsas de sua plataforma; reduzir a desinformação e informar so-bre como distinguir entre fatos falsos, verdadeiros, dis-torcidos e como escolher fontes confiáveis de notícias.

    O objetivo do FB era o de atuar na redução de notícias fal-sas em suas plataformas, a partir da análise do conteúdo postado (texto, dados, fotos e vídeos), uma vez que a ex-pansão das chamadas fake news passou a afetar as rela-

  • 55

    ções sociais, com a interferência em diversos segmentos da vida. Questões políticas, entretanto, não são passíveis desse tipo de verificação, como explica o FB:

    Em geral, publicações e anúncios de políticos não são submetidos à verificação de fatos. Ao avaliar os casos em que isso se aplica, pedimos que nos-sos parceiros de verificação de fatos analisem os políticos em todos os níveis. Isso inclui candidatos concorrendo a eleições, representantes eleitos e, por extensão, muitos de seus indicados, além de partidos políticos e seus líderes. Em alguns casos, solicitamos aos verificadores de fatos que usem o conhecimento e o discernimento deles para deter-minar se um indivíduo é um político, como no caso de um representante eleito que trabalha meio pe-ríodo (FACEBOOK FOR BUSINESS, 2016, online).

    A linha investigativa do FB acerca dos fatos e sua veraci-dade ou não, mereceria uma análise à parte, que não cabe no escopo do presente estudo, mas cabe, aqui, apresentar qual a classificação que o FB apresenta para os produtos auditados (FACEBOOK FOR BUSINESS, 2016, online):

    1. Falso: uma ou mais das afirmações principais do conteúdo são factualmente imprecisas. Em geral, cor-responde a classificações do tipo “falso” ou “na maior parte, falso” nos sites dos verificadores de fatos. 2. Parcialmente falso: uma ou mais das afirmações do conteúdo são uma mistura de fatos precisos e imprecisos ou a afirmação principal é enganosa ou está incompleta.

  • 56

    3. Verdadeiro: uma ou mais das afirmações prin-cipais do conteúdo são factualmente precisas. Em geral, isso corresponde a classificações do tipo “verdadeiro” ou “na maior parte, verdadeiro” nos si-tes dos verificadores de fatos.4. Título falso: uma ou mais das afirmações princi-pais do conteúdo do corpo do artigo são verdadei-ras, mas a afirmação principal no título é factual-mente imprecisa.5. Não qualificado: o conteúdo inclui uma afirma-ção que não é comprovável, que era verdadeira quando foi escrita ou que vem de uma Página ou de um site cujo objetivo principal é expressar a opi-nião ou a agenda de uma figura política. 6. Sátira: o conteúdo é publicado por uma Página ou por um domínio que faz publicações de sátira conhecidas ou que uma pessoa sensata entende-ria como conteúdo de ironia ou humor com uma mensagem social. Ainda assim, seria melhor se o conteúdo apresentasse contexto adicional.7. Opinião: o conteúdo defende ideias e tira conclu-sões com base na interpretação de fatos e de da-dos, informando ao público o que o autor ou cola-borador pensa sobre determinado evento ou tema. As opiniões podem incluir citações ou fatos relata-dos, mas enfatizam o pensamento, as preferências pessoais e as conclusões do autor. Elas também podem incluir editoriais, apoios ou conteúdo com a palavra “opinião” no título, escritos por um colu-nista conhecido por compartilhar opiniões ou com-partilhados de um site ou de uma Página cujo ob-jetivo principal é expressar as opiniões ou agendas

  • 57

    de figuras públicas, think tanks, ONGs e empresas.8. Gerador de pegadinhas: sites que permitem que os usuários criem suas próprias histórias de notí-cias com pegadinhas para compartilhar em sites de redes sociais.9. Sem classificação: esse é o status padrão an-tes de um conteúdo ser verificado ou se a URL não estiver funcionando. Deixar o conteúdo nes-se status (ou retorná-lo para essa classificação depois que outra já tiver sido dada) indica que não devemos tomar providências com base na classificação (FACEBOOK FOR BUSINESS, 2016, online).

    Além do Facebook’s Third-Party Fact-Checking Program, o projeto jornalístico do Facebook disponibiliza os pro-gramas (FACEBOOK FOR BUSINESS, 2016, online):

    - Accelerator – programa de três meses destinado ao de-senvolvimento de expertise para o enfrentamento de desafios empresariais específicos do setor de notícias e de estratégias colaborativas para melhorar negócios dentro e fora do Facebook, com vistas a: facilitar a co-laboração entre editores de notícias, dimensionar lições compartilhadas e construir sustentabilidade;

    - Community Network – Programa em parceria com o Lenfest Institute for Journalism para financiamento de programas e pesquisas na área do jornalismo;

    - Grants – Programa que oferece subsídios para organi-zações de notícias e para apoiar jornalistas;

  • 58

    - IG Local News Fellowship – Oferece bolsas para estu-dantes de jornalismo.

    O Facebook procurou oferecer, também, uma série de ferramentas para melhorar o desempenho dos jorna-listas, como: o News Page Registration, que permite o registro e o acompanhamento de páginas de notícias; o Groups, que amplia a conexão com a comunidade local e o Video, voltado para aumentar o engajamento a partir de novos formatos de reportagens.

    Uma das ferramentas de uso de vídeo é o Facebook 360 (Figura 20).

    Figura 20 - Screen shot do post de lançamento do Facebook 360

    Fonte: Facebook for media (06/01/2017).

  • 59

    O site do Facebook 360 (2017) explica que a ferramenta foi criada especialmente para atender a jornalistas e a criadores de conteúdo que queriam compartilhar expe-riências imersivas com seu público.

    Um outro aspecto que vale a pena mencionar é que o Facebook 360 prioriza o uso de dispositivos móveis, smartphones e óculos de realidade virtual, indicando que o objetivo é focar no mobile first, uma vez que 2/3 dos lucros do FB já provinham de dispositivos móveis desde 2014 (GOEL, 2014).

    Os problemas técnicos, segundo Daftari (2017), são ine-rentes a esse processo de migração de conteúdos para dispositivos móveis e os Instant Articles poderiam resol-ver essa questão, mas existem alguns entraves, como detalha o autor:

    Uma redação onde eu trabalhei, o site de jornalis-mo de dados IndiaSpend, viu métricas chaves subir após a implementação do FB Instant e AMP. Em particular, depois de adotar o FB Instant, os cliques de link e o tempo gasto em uma página da web au-mentaram muito [...]. Começar a usar o FB Instant é tão simples como fazer com que sua equipe téc-nica copie um snippet de código em seu CMS. No entanto, como eu descobri, a implementação des-ta ferramenta pode ser mais complicada se você trabalha em uma redação onde a versão desktop de um site não funciona bem -- e muito menos a versão mobile. As coisas podem ficar confusas ra-pidamente (DAFTARI, 2017, online). 

  • 60

    Outros aspectos são mencionados por Newton (2017, online):

    Em discussões com executivos do Facebook, ex--funcionários, editores e observadores do setor, surge um retrato de um produto que nunca aten-deu às expectativas do gigante da mídia social ou das empresas de mídia. Depois de se esforçarem para reconstruir seus fluxos de trabalho em tor-no dos Instant Articles, os grandes editores fica-ram com um sistema que falhou em aumentar o público ou a receita. O Facebook diz que a adoção dos Instant Articles está crescendo rapidamente e que as próximas mudanças na plataforma atrairão de volta algumas das principais empresas de mídia que a abandonaram. Mas, dadas as outras priori-dades do Facebook, o futuro dos Instant Articles é mais incerto do que nunca.

    Mas não é possível negar que a questão técnica impac-tou negativamente o uso dos IA. Para Lytyvnenko (2018), os Instant Articles estavam sendo abandonados pela grande mídia, mas a sua efetividade não podia ser ques-tionada, uma vez que, segundo análises realizadas pelo BuzzFeed, site em que trabalha, pelo menos 29 páginas estavam utilizando a ferramenta para disseminar fake news através da web.

    Provavelmente, o principal obstáculo mesmo tenha sido a questão da monetização.

    Em um estudo realizado pela Tow Center, em 2018, dos 72 parceiros iniciais do Facebook para a implementação

  • 61

    dos Instant Articles, 381 deixaram de utilizá-los (BROWN, 2018) (Figura 21). Figura 21 – Gráfico indicativo do uso dos Instant Articles segundo estudo da Tow Center

    Fonte: Tow Center (BROWN, 2018).

    Brown (2018, online) argumenta, ainda, que:

    Os Instant Articles foram criticados por monetizar abaixo do esperado, oferecer dados limitados do usuário e opções abaixo do esperado para veícu-

    1 As 38 empresas, segundo Brown (2018), foram: Billboard, Brit + Co, CBS News, CBS Sports, Cosmopolitan, Country Living, Curbed, E! News, Eater, En-tertainment Weekly, Fox Sports, Good Housekeeping, The Guardian, Harper’s Bazaar, Hollywood Life, The Hollywood Reporter, Marie Claire, moviepilot.com, National Geographic, NBA.com, NBC News, The New York Times, The Onion, People, Polygon, Racked, Recode, Refinery29, Rolling Stone, SB Nation, Seventeen, UPROXX, Us Weekly, Variety, The Verge, Vox, The Washington Post, and The Weather Channel.

  • 62

    los baseados em assinaturas. No entanto, mesmo com nossos novos dados, é complicado argumentar que os Instant Articles são um produto com defei-to, porque o Facebook ainda pode apontar para o seu crescimento e com grandes números. Em junho passado, a empresa se gabou de ter “10.000 publi-cadores em todo o mundo usando Instant Articles, crescendo mais de 25% nos últimos seis meses”.

    O autor segue discutindo as razões que teriam levado os veículos a se afastarem, ou, mesmo, a não se aproxima-rem, dos IA, ponderando que, apesar de sua efetividade tecnológica, o recurso não agradou aos editores. A Figura 21 mostra três casos de declínio na utilização: The New York Times, Vox e The Washington Post.

    Figura 22 – Gráfico indicativo do uso dos Instant Articles segundo estudo da Tow Center

    Fonte: Brown (2018).

  • 63

    Os estudo da Tow Center mostra que houve uma varia-ção na postura dos veículos com relação ao uso dos IA:

    Desde abril de 2016, o estudo de conteúdo de pla-taformas e editores do Tow Center acompanha uma amostra do uso de Instant Articles por 14 edi-tores. Durante esse período, vimos nosso quinhão de idas e vindas. Não vimos adoção entusiástica do formato; nem vimos abandono em larga escala. No entanto, rastreamos mais saídas do que entradas: uma falta persistente de crescimento e uma traje-tória descendente de uso. Durante o primeiro ano de nossa análise, em 2016, o uso de Instant Arti-cles seguiu um padrão familiar: • Os nativos digitais (BuzzFeed, BuzzFeed News, Hu-ffPost e Vox) permaneceram todos dentro, assim como The Washington Post e Fox News;• O uso do The New York Times e da CNN flutuou;• O New York Daily News publicou uma pequena proporção de artigos no formato nativo do Face-book, assim como o Wall Street Journal;• Os títulos baseados em assinatura (Chicago Tribu-ne e Los Angeles Times) evitaram completamente o formato, assim como o Vice, refletindo a antipatia de seu CEO pelas tentativas do Facebook de controlar a distribuição do jornalismo (BROWN, 2018, online).

    Como já foi discutiro em um estudo anterior (FRANÇA, 2018, p. 85):

    Os Instant Articles é um recurso que pode alterar a ecologia do sistema de notícias, concentrando no

  • 64

    Facebook os principais canais de distribuição de notícias. Entretanto, é possível perceber que ain-da são necessários ajustes tanto de ordem técni-ca quanto no que diz respeito à negociação com as empresas para adequar as margens de lucro e, que, muito provavelmente não sobreviva nem esse nome e nem com esse modelo de negócios.

    Em 2017, foi realizado um pocesso de remodelação dos Instant Articles, que passaram a trabalhar integrados ao Google AMP e ao Apple News. Southern (2018) afirma que, segundo o FB, são cerca de nove mil editores utili-zando os Instant Articles, embora grande parte diga que já abandonou o seu uso.

    Mesmo enfraquecido, os Instant Articles seguem na pau-ta do Facebook, mas outras ações reposicionam o seu projeto jornalístico, abrindo espaço para uma quarta ge-ração.

  • 65

    QUARTA GERAÇÃO – O PROJETO JORNALÍSTICO DO FACEBOOK – 2017/2019

    Em janeiro de 2017, o FB formulou de modo mais sólido e explícito um projeto para o jornalismo, lançando o Facebook Journalistm Project (FJP), em nossa cronologia, o que equivaleria a sua quarta geração, fundado, conforme esclarece Simo (2017) na perspectiva de construção de um sistema ecologicamente saudável de notícias, estruturado em três eixos centrais:

    - Desenvolvimento colaborativo de novos produtos (no-vos formatos de narrativas, notícias locais, modelos de negócios emergentes, hackathons e contato constante com todos os envolvidos);

    - Treinamento e Ferramentas para jornalistas (treina-mento, ferramentas e ajuda para lidar com fontes) e,

    - Treinamento e Ferramentas para todas as pessoas (promoção da alfabetização para as notícias, esforços contínuos para o combate de boatos (hoax)).

    A esse respeito, o combate à informação falsa, Lytvynenko (2018) aponta dados que indicam que os IA estariam sendo indevidamente utilizados para distribuir fake news.

  • 66

    Nesse contexto, os IA continuaram funcionando em ba-ses experimentais e sofrendo ajustes técnicos para me-lhor atender aos editores, além de terem de enfrentar o recurso das AMP – Acelerate Mobile Pages.

    De acordo com o site do Projeto Jornalístico do Facebook (FACEBOOK JOURNALISM PROJECT, 2017, online):

    O Projeto de Jornalismo do Facebook trabalha com editores de todo o mundo para fortalecer a cone-xão entre jornalistas e as comunidades que eles servem. Também ajuda a enfrentar os principais desafios de negócios do setor de notícias. Nossos treinamentos, programas e parcerias funcionam de três maneiras: Construir comunidade por meio de notícias; treinar redação globalmente e qualida-de por meio de parcerias (FACEBOOK JOURNALISM PROJECT, 2017, online).

    As ações desenvolvidas envolvem o treinamento de profissionais e a alfabetização para a leitura de notí-cias (news literacy). Sobre o treinamento, o programa informa:

    Treinamos presencialmente mais de 13.000 jor-nalistas em 46 países desde o início de 2017. Ou-tras 100.000 pessoas participaram dos cursos que criamos com o Instituto Poynter, apresenta-dos em 14 idiomas diferentes, para saber como aproveitar a tecnologia para alcançar melhor os leitores (FACEBOOK JOURNALISM PROJECT, 2017, online).

  • 67

    Os treinamentos acontecem em parceria com o SPJ Training Program, desenvolvido pela Society of professio-nal Journalists, com foco na melhor utilização das ferra-mentas do Facebook e do Instagram, para uma conexão mais próxima das audiências, adequação de conteúdo e construção de comunidades (SPJ, 2018).

    Kerwin Speight, que fez o treinamento entre 2018 e 2019, relata que pode compreender como melhor uti-lizar a plataforma e como lançar mão de recursos im-portantes, a exemplo de: aprendizagem das ferramen-tas disponíveis e funcionalidades do FB, novos modelos e formatos de narrativas, estratégias de engajamento e as “melhores práticas” no exercício da profissão (SPEI-GHT, 2019, online).

    Em janeiro de 2018, Mark Zuckerberg publicou um post (Figura 23) em sua página do Facebook, informando que a empresa estaria mais atenta à qualidade das notí-cias, apoiando-se sobre três pilares: notícias provenien-tes de fontes que a comunidade considerasse confiável; notícias que as pessoas considerassem informativas e, notícias relevantes para as comunidades locais. Em re-sumo: fontes confiáveis, conteúdo informativo e notí-cias locais.

  • 68

    Figura 23 – Screen shot de post de Mark Zuckerberg sobre jornalis-mo de qualidade

    Fonte: Mark Zuckerberg´s Facebook (19/01/2018)

  • 69

    A partir dessa preocupação, o projeto jornalístico do Fa-cebook faz uma parceria em 2018 com o The News Lite-racy Project (NLP), um viés educativo que visa a ensinar a buscar e a consumir notícias (BROWN, 2018a).

    Um estudo realizado pela Edelman (2018), voltado para verificar em que como a sociedade estava lidando com a questão das informações falsas e das fake news, indicou que 63% da população entrevistada, compreendendo in-divíduos do mundo todo, concordava que a maioria das pessoas não era capaz de distinguir o bom jornalismo de boatos e notícias falsas. A partir de tais resultados, o NLP estabeleceu como público alvo os adolescentes, nos EUA, mais especificamente, os alunos da middle e da high school, com vistas a um projeto educativo que “al-fabetizasse” desde cedo para a leitura das notícias com discernimento.

    O projeto de news literacy utilizava a plataforma Checko-logy (Figura 24) para ajudar os participantes a melhor distinguir fatos de ficções.

  • 70

    Figura 24 – Screen shot da tela de abertura da plataforma Checkology

    Fonte: Checkology (2019).

    No mesmo ano, 2018, o Facebook criou um programa de artigos financiados para o Facebook Watch, servi-ço de vídeos sob demanda do FB, lançado em 2017, como explica o então Diretor de Parcerias Globais do FB, Campbell Brown (que já foi âncora do noticiário da NBC) (2018b):

    No início deste ano, assumimos o compromisso de mostrar notícias confiáveis, informativas e locais no Facebook. Como parte desse compromisso, estamos criando uma seção específica no Watch para novos programas produzidos exclusivamente para o Facebook por publishers de notícias que re-ceberão suporte de marketing no Feed de Notícias. Com essa iniciativa, estamos testando um destino para conteúdo de notícias oportunos e de alta qua-lidade na plataforma. Hoje, estamos anunciando a primeira lista desses programas de notícias finan-ciados para o Facebook Watch.

  • 71

    O primeiro programa de notícias financiadas, relata Brown (2018b), envolveu programas da mídia tradicio-nal e nativos digitais, apresentadores premiados e novos talentos, conteúdo nacional (dentro dos EUA) e local, a exemplo de: “Anderson Cooper Full Circle” da CNN, “Fox News Update” da FOX News, “Quartz News” da Quartz e “Real America with Jorge Ramos” da Univision.

    O Facebook Watch deveria funcionar como o destino na-tural para quem gosta de vídeos, de um jornalismo mais dinâmico e de alta qualidade.

    O Facebook Journalism Project também oferece bolsas de estudos em parceria com outras instituições, a exem-plo da estabelecida com a AAJA (Asian American Journa-lists Association), totalizando US$ 250.000, para serem utilizadas durante cinco anos (AAJA, 2018).

    Uma avaliação realizada após o primeiro ano de lança-mento do Facebook Journalism Project, segundo Moses (2018), mostra diferentes níveis de satisfação por parte dos editores, especialmente porque cada um tem as pró-prias expectativas, os modelos de negócios são diferen-tes, muito embora o Facebook tenha mantido um diálogo próximo com uma boa parte dos editores envolvidos no projeto.

    Algumas das principais críticas apresentadas referem--se a: dificuldades em remodelar o jornalismo local, em atender a demanda por mais transparência com relação ao uso dos produtos do FB e em evitar a disseminação de fake news, além da demanda por uma forma mais jus-

    https://facebook.com/AndersonCooperFullCirclehttps://www.facebook.com/2170575949831354https://www.facebook.com/2170575949831354https://www.facebook.com/QuartzNewsShowhttps://www.facebook.com/RealAmericaWithJorgeRamoshttps://www.facebook.com/RealAmericaWithJorgeRamos

  • 72

    ta e confortável de partilhar os lucros com os editores. Moses (2018) resume a situação dizendo que os edito-res querem do Facebook mais dados, tráfego e dinheiro, e nenhum desses pontos obteve bons resultados nesse primeiro ano.

    Outro ponto importante é que o FB quer que a moneti-zação aconteça através do uso dos Instant Articles, mas a ferramenta já vinha sendo descontinuada pela maio-ria dos veículos que inicialmente participaram de sua implantação, como discutido no terceiro capítulo, o que inviabilizava a parceria proposta. Moses (2017) contem-poriza que:

    Muitos editores estão profundamente desconten-tes com a monetização dessas páginas, com gran-des parceiros como o The New York Times jogando a toalha e muitos outros reduzindo a quantidade de conteúdo enviado para a plataforma de IA. Em resposta, o Facebook está fazendo concessões para os editores, incluindo novas opções de assina-tura, em uma rara demonstração de fraqueza para o grande concorrente da plataforma.

    Importante ressaltar que no FJP, no item que se refere à monetização, aparecem duas ferramentas: o In-Stream Ads, que insere propagandas antes e durante a exibição de conteúdo e os Instant Articles and Subscription (Fi-gura 25), que oferecem a possibilidade do editor postar matérias que irão carregar mais rapidamente e de modo mais interativo.

  • 73

    Figura 25 – Screen shot da tela que exemplifica o uso dos Instant Articles and Subscription

    Fonte: FJP (2018).

    Isso mostra que o FB não quer abandonar o modelo dos IA, mesmo com todos os problemas que vem enfrentan-do desde o início. A equipe parece entender que esta é a melhor solução para as parcerias entre a mídia e a pla-taforma.

    Outro recurso disponibilizado é o CrowdTangle, adquirido em 2016 pelo FB, uma ferramenta que permite acompa-nhar o modo como uma notícia se dissemina pela rede. Casey (2016, online) explica que:

    Ao mostrar a seus assinantes uma espécie de pulso da web em tempo real, o CrowdTangle de-senvolveu uma influência descomunal, mas princi-palmente oculta, nas histórias que você vê apare-cendo em seus feeds de notícias ao longo do dia.

  • 74

    A medida mostra que o Facebook continua a julgar editores em um momento de incerteza contínua sobre como criar negócios sustentáveis e lucrati-vos quando a maioria das notícias é consumida em plataformas que os editores não possuem.

    O CrowdTangle passou de um instrumento de organiza-ção do ativismo digital, para um importante mecanismo capaz de identificar as postagens mais importantes do ponto de vista de sua repercussão na rede: “O CrowdTan-gle usa a conexão da API ao Facebook, Twitter, Instagram e Reddit para fornecer informações sobre o desempenho de Páginas, perfis verificados do Facebook, contas públi-cas e subreddits, além do conteúdo público proveniente deles” (FACEBOOK BLUEPRINT, 2019, online).

    Em uma análise do recurso, Kessler (2015) enfatizava que o CrowdTangle não se preocupava em tentar descobrir a fórmula mágica para ter algo visto no site, apenas mos-trava o que estava funcionando:

    Os fundadores da empresa, Brandon Silverman e Matt Garmur, criaram uma versão do produto que eles testam com organizações de mídia. Ele fornece um painel que monitora o desempenho das posta-gens em suas próprias páginas, nas páginas de seus concorrentes ou em qualquer outro grupo de pá-ginas que você deseja criar em relação à média de engajamento nessa página (KESSLER, 2015, online).

    Embora tenha sido adquirido em 2016, o CrowdTangle integrou-se mais diretamente ao JFP a partir de 2018,

  • 75

    como parte do rol de recursos disponíveis gratuitamente para jornalistas. O CrowdTangle permite acompanhar o desempenho de notícias através da rede. Dollo e Smith (2019) descrevem as funcionalidades da ferramenta:

    O CrowdTangle oferece várias opções para notifi-cações, incluindo resumos e alertas virais, depois de estabelecer suas listas e pesquisas salvas. Se você estiver procurando por um resumo diário ou semanal de conteúdo relacionado de acordo com seu ritmo, opte pelo recurso Digest, que envia uma lista de conteúdo com desempenho superior ou as principais postagens - dependendo da configu-ração - para o seu e-mail. (DOLLO e SMITH, 2019, online).

    O processo de newsgathering pode ser mais facilmente executado e com o monitoramento necessário para cada situação. O Facebook não permite acesso irrestrito aos dados publicados. A pesquisa interna apresenta algumas limitações, o Graph Search, criado em 2013, foi praticamente descontinuado em 2019, restando o CrowdTangle como melhor alternativa de monitoramento da plataforma.

    Outra ferramenta voltada para auxiliar na monetização do conteúdo é o Creator Studio, um conjunto de funções para publicar, acompanhar e analisar, incluindo filtros para pesquisa de textos, fotos, vídeos e links. O Creator Studio permite a otimização das ações e ainda permite o acompanhamento de questões relativas ao Direito Auto-ral do que foi publicado.

  • 76

    Todas essas etapas demonstram o interesse do FB em avançar suas estratégias quanto ao setor jornalístico. O fato da a rede social ser o terceiro site mais visitado (atrás do Google e do YouTube), com seus lucros aumen-tando, os acessos se concentrando em dispositivos mó-veis (88%) e o número de internautas que utilizam o FB para o consumo de notícias crescendo (COOPER, 2018), o consolida como o maior concentrador de tráfego da internet.

  • 77

    O INÍCIO DE UMA QUINTA GERAÇÃO

    Os dados de 2018 anunciavam uma queda histórica na cir-culação dos jornais diários, atingindo níveis abaixo dos da década de 1940 (Figura 26), indicando 28,6 milhões para os dias da semana e 30,8 milhões para os domingos.

    Figura 26 – Circulação de jornais diários nos EUA

    Fonte: Pew Research Centre (2019)

  • 78

    Mal eram computados os índices de 2018 e o FB anuncia-va um investimento de US$ 300 milhões no segmento de notícias, com ênfase nas produções locais (SCHMIDT, 2019) e, ainda, apresentava estatísticas significativas so-bre a sua plataforma: 2,8 bilhões de usuários ativos por mês; 1,6 bilhão de usuários ativos por dia; 88% dos usuá-rios acessam por meio de dispositivos móveis; 58 minu-tos de média diária de tempo na plataforma; são criadas cinco novas contas por minuto; 300 milhões de fotos por dia são enviadas para a plataforma (upload) e 8 bilhões de vídeos são visualizados por dia (STOUT, 2019, online).

    Esses índices mostram a robustez do FB e o tornam ain-da mais atraente para um mercado que seguia perdendo público. Schmidt (2019), que entrevistou Campbell Brown, um dos principais responsáveis pelo FJP, escreveu:

    Este ano, a plataforma está se reestruturando para apoiar ainda mais as notícias locais - fora da plata-forma. Hoje o Facebook está anunciando que gas-tará US$300 milhões nos próximos três anos em parcerias e na organização de notícias. (Não que seja uma competição, mas é a mesma quantia que a Iniciativa do Google News destinou para o mesmo período.) Até agora, foram destinados US$20 mi-lhões para expandir seus parceiros locais de notí-cias e aceleradores de assinaturas no ano passado e US$ 16 milhões distribuídos entre vários jornalis-tas apoiar organizações e organizações sem fins lucrativos: Pulitzer Center, Report for America, Kni-ght-Lenfest News, Local Media Association, Local Media Consortium, American Journalism Project e Community News Project (SCHMIDT, 2019, online).

  • 79

    O texto de Schmidt (2019) mostra que a competição não ocorre apenas entre as empresas da mídia e o FB, mas entre as Big Five (Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft), que concorrem para ampliar a sua partici-pação no segmento de notícias. Brown, a esse respeito, ressalva que:

    Queremos que os editores encontrem sucesso no Facebook ou em uma plataforma diferente ou onde quer que esteja. É por isso que eu acho que devemos abordar este trabalho de forma holística e analisar diferentes áreas de foco. Os acelerado-res não se concentram apenas nos produtos do Facebook, eles analisam o campo de ação para um editor local e onde estão suas áreas de necessi-dade específicas. Também queremos oferecer su-porte local a produtos. Não quero sugerir que não faremos isso. O produto com assinatura do tipo paywall em que trabalhamos no ano passado é ex-tremamente importante, pois esse é o modelo de negócios que muitos editores estão adotando. Co-meçamos a ver resultados reais lá no teste inicial que estamos fazendo. Agora está na versão beta e esse trabalho continuará muito agressivo, porque queremos que funcione. Mas também sabemos que é uma combinação de muitas coisas. Não exis-te um tamanho único para todas as soluções. Os editores estão abordando isso de maneiras dife-rentes e queremos poder ir para onde eles são, em vez de tentar oferecer alguma solução que [não] funcione para todos. (BROWN, 2019, apud SCHMI-DT, 2019, online).

  • 80

    Muito embora o compartilhamento de notícias através das redes sociais venha gerando cada vez mais descon-fiança, com as fake news e o conteúdo deep fake, elas permanecem sendo a principal fonte de notícias de uma parcela da população com acesso à internet.

    Segundo Shearer e Grieco (2019), no que diz respeito aos estadunidenses, 68% acredita que as redes sociais pos-suam muito controle sobre as notícias que as pessoas leem e 55% entende que o conjunto de notícias dispo-nibilizadas não é bom. Tais dados foram obtidos a partir de uma pesquisa realizada pelo Pew Researche Center, com 5.107 estadunidenses adultos. As autoras destacam o pessimismo com relação a essa modalidade de veicu-lação, mas, por outro lado, indicam que as redes sociais já compõem a dieta de notícias, com três em cada dez estadunidenses tendo as redes como fonte principal.

    Assim, cabe considerar que:

    As maiores plataformas de mídia social controlam o conteúdo de seus feeds usando algoritmos de computador que classificam e priorizam postagens e outro conteúdo adaptado aos interesses de cada usuário. Esses sites permitem que os usuários per-sonalizem essas configurações, embora pesquisas anteriores tenham constatado que muitos esta-dunidenses sentem-se inseguros sobre por que certas postagens aparecem especificamente em seu feed de notícias no Facebook. As empresas de mídia social também foram a público para contar sobre seus esforços para combater informações

  • 81

    falsas e contas falsas em seus sites (SHEARER e GRIECO, 2019, online).

    Em estudo publicado em 2017, Sara Rodriguez argumenta que o Facebook transformou o jornalismo, particularmen-te a partir de uma série de ferramentas disponibilizadas para jornalistas, a exemplo dos Instant Articles (2015), Fa-cebook Live (2016), além de estratégias de networking e crowdsourcing e de técnicas que aceleraram o processo de escrita, formatação e distribuição das notícias.

    A partir de 2019, algumas medidas do FB indicam o início de uma quinta geração de seu projeto jornalístico (Figura 27). O fato que determina essa guinada é a possibilida-de do Facebook começar a remunerar os jornalistas e os editores pelo conteúdo.

    Figura 27 – Screen shot da tela da página do Facebook (2019), re-cursos para a Mídia

    Fonte: FACEBOOK (2019).

  • 82

    Timberg (2019) publicou que o Facebook anunciou o lan-çamento de uma aba de notícias oferecendo conteúdo de diversas organizações de notícias:

    A medida, que colocará a gigante da mídia so-cial de volta aos negócios de entrega de notí-cias depois de desenfatizá-la no ano passado, é vista no setor de notícias como um passo em direção ao objetivo de empresas de tecnologia pagarem pelo conteúdo que eles entregam aos usuários. A aba News também colocará o Face-book em concorrência direta com os serviços de agregação de notícias oferecidos pelos rivais do Vale do Silício, Google e Apple (TIMBERG, 2019, online)

    O serviço deverá contar com curadoria humana, além do trabalho dos algoritmos, e com uma equipe enxuta de jornalistas, que selecionaria algumas matérias principais, em especial nos tópicos de esportes, saúde, tecnologia e entretenimento. Mas a ação central seguirá sendo a se-leção através de sistemas de recomendação automatiza-dos (TIMBERG, 2019).

    Os editores têm lutado para que o Facebook pague pelo conteúdo que oferece aos seus seguidores, gerando mui-ta reclamação por parte da indústria de notícias. Kafka (2019) conta que recentemente Robert Murdoc, fundador da News Corp, tornou-se ainda mais incisivo ao reivindi-car que as empresas de tecnologia, em especial o Face-book, paguem pelo trabalho que os jornalistas realizam e que eles distribuem.

  • 83

    Mark Zuckerberg, segundo Kafka (2019), parece ter resol-vido ceder, ao menos em parte, às demandas, depois de ter dito em 2018 que não tinha interesse em pagar pelas notícias.

    O CEO do Facebook acreditava que o melhor modelo de negócios para as empresas de mídia era o baseado no retorno publicitário (conhecido como advertising model, ou seja, remunerando matérias que alcançam determi-nados públicos alvo).

    Mas, na apresentação que consta do site do Facebook, Brown (2019) reitera que o FB acredita no papel essencial do jornalismo para a democracia, o que demanda boas fontes e confiabilidade, daí a iniciativa de lançar o Face-book News:

    Hoje, estamos iniciando os testes do Facebook News, um espaço dedicado a notícias no Facebook, para uma parcela das pessoas na plataforma nos Estados Unidos. A nova aba de notícias dá às pes-soas mais controle sobre as reportagens que elas veem, e a habilidade de explorar sobre uma ampla gama de interesses noticiosos, dentro do aplica-tivo do Facebook. O produto também destaca as histórias de alcance nacionais mais relevantes do dia. Posts de veículos de notícias vão continuar a aparecer no Feed de Notícias como acontece atual-mente (BROWN, 2019, online).

    Essa alternativa deriva de um processo de escuta dos editores:

  • 84

    Para desenvolver um espaço onde as pessoas podem encontrar mais notícias no Facebook, mudamos nossa abordagem e dialogamos com jornalistas e publishers antes de começarmos a trabalhar no produto. Como disse Mark Zuckerberg em uma conversa com Mathias Döpfner, presidente-executivo do maior grupo de mídia da Europa, a Axel Springer, queríamos co