CAVALGADA DOS TAMBORES INSENSATOS

De Jeremias Brasileiro

Poema Coreográfico encenado em outubro de 1986 no Teatro Rondon Pacheco, pelo Grupo de Teatro Gruta, de Uberlândia-MG.

BLAM! BLAM! BLAM!Fim da terra, fim da gente, fim do mundoFim do fim do fim de tudoFim do fim antes do fim do fim do mundoBLAM! BLAM! BLAM!Na vida das águas ferventesA morte das águas friasNa vida das águas geladasA morte das águas quentesOs guerreiros do universoTamborilando seus tamboresAnunciam o fim do mundoAnunciam o fim de tudoOs tambores do PaísVão marchando cegamentePisam em tudo, matam tudoSó não matam seu pensar.BLAM! BLAM! BLAM!O povo gemente, o povo orando, o povo assimSem mais alegria, sem mais esperança, espera o fim.Os sinos tocando, os canhões vão chegandoOs meninos lá estãoEstão lá na rua, estão nos jardinsBLAM! BLAM! BLAM!E bombas caindoBalas dançando nos peitos dos homensAnjos pintados de anjinhosCom suas espadas de sangueVão sangrando as criançinhasBLAM! BLAM! BLAM!Bíblia esperando, cristão esperandoBotas festejando, fardas sorrindo.Deputados,senadores, vão em fila discursandoE agora seu Ulisses, e agora seu SarneyJá que Tancredo morreuMorreu de morte morridaMorreu de morte matadaJá era morte sabidaE não contou a ninguém?BLAM! BLAM! BLAM!Ombros estrelados torturando inocentesOs tambores vão marchandoVão pisando em nossas floresE a gente não é genteE a gente só é gente

Quando a gente é o poderQuando o poder é do povoSe o poder não for do povoO poder é do tenente, general, do marechal.E os tambores vão chegandoArrancando as nossas floresSão tambores militaresSão soldados comandadosPor comandos idiotasOs tambores são soldadosE as flores povo sãoE o BLAM! BLAM! BLAM!É sinal de atacarrrrrrrrrrrrrrrrrrrrE se ataca guerrilheiro e se ataca mercenáriosSe mata inocentes, se mata qualquer umSe suspeito for de olharPolítica é coisa boaPolíticos às vezes não prestamMas pra dinheiro desviado o ladrão sempre é culpado.É fácil ser coleguinha! Chamar o outro de irmão!Difícil é ser companheiro sem olhar para dinheiroBLAM! BLAM! BLAM!Os tratores matam as matasAs indústrias matam os riosE os tambores vão marchandoNem sequer vão perguntandoVão matando sem pensarSão arrogantes, só querem a guerraSó querem a conquista, só querem matarNão amam a paz, não tem ideal, só querem o poder.BLAM! BLAM! BLAM!Vai a cavalgada dos tambores insensatosPelos campos e montanhasPelos rios e florestasComo tratores de esteirasEmpurrando pobres e freirasSem pai nosso e ave MariaJogando-os em valas comuns.BLAM! BLAM! BLAM!São tambores, são fuzis, metralhadoras.Estas botas, estas fardas quais estátuas.Soldados só de comandoNão podem por si pensarMatam sem saber razão, matam sem saber motivo.