vasco mariz - figuras da música brasileira contemporânea

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Versão digital do livro Figuras da Música Brasileira Contemporânea, de Vasco Mariz. (Esta versão está sem o catálogo de composições, inserido no final do livro.)

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  • 1

  • 2Obra publicada pela

    Universidade de Braslia

    FUNDAAO UNIVERSIDADE DE BRAStLIA

    Conselho Diretor:

    Prof. Calo Benjamin Dias Prof. Jlio de Castllhos Cachapuz de Medeiros Prof. Amadeu Cury Prof. Antnio Moreira Couceiro Prof. Pl!nio Cantanhede Prof. Jvan Luz Prof. Carlos San tos Jr. - Suplente Prof. Jos Carlos de Almeida Azevedo - Suplente

    REITOR: Prof. Caio Benjamin Dias

    EDITORA UNIVERSIDADE DE BRAS!LIA

    Conselho Editorial

    Presidente:

    Membros:

    Suplentes:

    Prof. Jos Carlos de Almeida Azevedo (Vice-Reitor)

    Prof. Ciro Verslani dos Anjos Prof. Luiz Carlos Gomes Prof. ROber to Lyra Filho ?ro. Rubem Borba de Morais Prof. Wladimir Lobato Paraense

    Pro! . Cassiano Nunes Botica Prof. Edson Nery da Fonseca Prof. Gilber to de Frel!as Prof. Jaswant Rai Marajan . . . Prof. Oswaldo Colatino de Arau;o CtS

    j

    V ASCO :MARIZ

    FIGURAS DA

    .MSICA BRASILEIRA

    CONTEMPORNEA

    2. edio

    atualizada e aumentada

    Universidade de Brasilia

    1970

  • 3UFES N_Jo.3Q.l f;p_ TO MR/93

    ., .. O(~ . . .2,

  • 4.

    '

    ('

    Introduo

    Frutuoso Viana Bra.silio Itiber Luis Cosme .Jos Siqueira Radames Gnattali

    Jos Vieira Brando

    SUMARIO

    11

    17

    25 31

    41

    47

    57

    Entreato Dodecafnico . . . . . . . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . . . . 65 Claudio Santoro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

    Csar Guerra Peixe .. . . ...... . .... . .. . ......... . ..

    Edino Krieger ... . . . . . . . . .... .. . .. . . . . . .. .. . . . ...... .

    Osvaldo Lacerda .... . . ............ . . .. ............

    Mrio Tavares .. . . ...... . ......................... .

    Alceu Bocchino ........ . ...........................

    Quatro compositores . ... ... . . . ... . . . ...... . ... ... .. Marlos Nobre .. . . .... . .... . .. . -........ . ......... .

    79

    83

    91

    95

    101

    105

    111

    Grupo Msica Nova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

    Concluso .. ........... .... .... - ........... .. .. . .. . 119

    Apndice: catlogos de obras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

  • 5' INTRODUAO

    O livro que o leitor tem nas mos uma segunda edio revista, aumentada e atualizada da publicao do mesmo ti-tulo que veio luz em Portugal, durante a minha estada no Prto, em 1948. A utilidade dste trabalho, tambm publica-do na imprensa do Rio de Janeiro, ficou comprovada pela freqncia de sua consulta feita por musiclogos, rc:dia-listas e amantes da msica em geral. A orientao na esc~ lha das personalidades a serem focalizadas obedeceu ento ao critrio de que, no desejando escrever uma histria formal, mais valia eliminar Vila Lbos, Lorenzo Fernndez, Francisco Mignone e Camargo Guarnieri, que tm merecido estudos mui-to mais aprofundados e em forma de livros. Meu propsito naquela poca foi de diuulgar a obra de compositores madu-ros de sensvel importncia e comentar um pouco do que se o.nunciava entre a nova gerao. Com sse critrio escolhera Frutuoso Viana, Braslio Itiber, Radams Gnattali, Lus Cos-me (os mais velhos) e Cludio Santoro simbolizando o movi-mento Msica Viva. Os leitores e a crtica parecem haver aprovado a seleo feita como representativa daquele perodo.

    Em 1956, antes de partir para Npoles, efetuei a primeira atualizao desta obra. Vi-me ento perante o problema da incluso de novos nomes e da eventual supresso de outros. Nessa altura acrescentei aos acima mencionados mais os se-guintes compositores: Jos Siqueira, Vieira Brando e Guerra Peixe, entre os maduros, e Edino Krieger, Alceu Bocchino, OS valdo Lacerda e Mrio Tavares englobados num s grande ca-ptulo sbre os jovens. Fatres que independeram da minha vontade impediram a sua publicao. Agora, oito anos de-pois, de regresso patria depois de larga estada na ItlU:- e nos Estados Unidos da Amrica, retomo contato com a musi-ca nacional vista sob um prisma talvez demasiadamente se-vero por algum que vive1i longe de u~a.nismos danin~ws. Honroso convite da Universidade de B rasilia para republicar ste livrinho foi a mola propulsara para reviso fundamental dos velhos artigos, j com 20 an8s de i.ade.

  • 612 VASCO MARIZ

    Muita gua passou debafa:o da ponte. O Brasil e o Rio cre.sceram desmes11radm'.1entc, em grau quase irreconhecvel. Criaram-se abismos estcticos entre o mundo urbano cosmo-polita e os confins rurais. Surgiu a msica de ntido sabor SOC1al, reflexo dos problemas scio-econmicos da Nao e de ciclo .semelhante na literatura e nas artes plsticas. A sse cresC1me'.!to demogrfico e econmico espetacular da dcada dos 50 nao correspondeu q11alq11er expanso das atividades do meio musical brasileiro. Pelo contrrio, houve estagnao e talvez ;etrocesso. Sociedades musicais que haviam florescido no apos-guerra entraram em declnio e, muitas delas, desapa-r eceram. A inflao devoradora aliada crise ca1nbial quase eliminaram a presena de grandes intrpretes. Colocado pe-rante uma ainda incipiente prata-da-casa, o pblico niusical / brasileiro. retraiu-se af11ger1tado tambm pelo exorbitante e sempre crescente preo dos ingressos. A mocidade que ainda enche os conservatrios (embora s para estudar canto e piano) no acha mais ocasio para assistir a concertos, debater assuntos musicais, preferindo a medocre t eleviso ou a msica PDP1tlar nacional e estrangeira irra-dia.da pews transistores, praga suprema. S h tempo ma-terial para atender ao colgio ou universidade, ir s praias, dise11tir futebol ou televiso, cantarolar bossa-nova, isso sem se falar nas horas improdutivas per-didas num trfego lentssimo. Se algum instrumer1to se estuda o acordeo au o violo, elevados hoje s alturas do piano at pelas _autoridade_s oficU:is. Fagot~tas, .o~oistas, s mesmo do interior, onde ainda ha vagar e dzsposiao para o estudo. Com as salas de concertos vazias, as instituies cul-turais fechando, as orquestras em nveis melanclicos, o lan criador do compositor brasileiro no poderia deixar de decli nar. Poucos resistiram ao derrotismo imperante, 01

  • 714 VASCO MARIZ

    A msica brasileira est em crise justamente no momento em que deveria tentar consolidar a voga que conseguiu no ex-terior. A morte de Vila Lbos teve impacto considervel na divulgao da msica brasileira no estrangeiro porque era le tamom um grande propagandista doo colegas em seus con-certos. No dispomos agora, com exceo de Eleazar de Car-valho e de Jacques Klein, de nenhuma personalidade com pe-netrao nas grandes platias internacionais, e o prestgio ds-ses dois artistas acima mencionados ainda est muito longe de se comparar com o de Vila Lbos. Ademais, o desaparecimen-to de Vila deixou caminho livre a Alberto Ginastera, que alm de excelente msico, possui qualidades persuasivas de poltica musical e goza de efetivo aP-OiO oficial, que lhe esto a.ssegu-rando a indiscutida liderana na msica latino-americana contempornea. Embora na.s condies atuais seja virtual-mente impossvel superar o volume e a qualidade das ativi-dades musicais de Buenos Aires, deveriam as autoridades cul-turais brasileiras envidar maiores esforos para que, pelo me-nos, o cetro da criao da msica erndita volte ao Brasil, on-de sempre estve desde Carlos Gomes a Vila Lbos.

    No coisa to difcil assim obter esfro conjunto do ltamarati e do Ministrio da Educao e Cultura, sobretudo se ste ltinw ministrio dividir-se em dois, para a edio e distribuio aqui e no exterior das obras principais da msi-ca brasileira de tdas as correntes. A participao de obras Mcionais e de artistas brasileiros nos principais festivais in-ternacionais de msica uma imposio, assim como hoje o Brasil j tem at um pavilho permanente na Bienal de Ve-neza. Basta de discriminao contra a msica! Por que os artistas plsticos ho de prosperar, enquanto os msicos con-tinuam com ar de parentes pobres? A realidade que no houve ainda um s artista plstico que tivesse obtido no ex-terior o renome permanente de um Carlos Gomes ou um Vila Lbos, de uma Bidu Sayo ou uma Guiomar Novais. A ver-dade que tda pessoa culta na Europa ou nos Estados Untdos i ouviu falar em Vila Lbos e quase sempre desconhece Por-tinari. Se h um setor em que o Brasil pode lanar-se com destemor o musical, mas cuidado com a seleo! Temos co-metido o pecado de distribuir ou exibir obras meno:~s" porqu.e as obras-primas habitualmente so grandes e de diftcil P_!!blt-cao ou execuo. Um esfro concentrado na dzmllgaao. e um grupo pequeno e seleto de trabalhos importantes certa-mente poder fazer frente mar platina.

    Existe, porm, inconveniente esttico ~igno de nota: a msica do tipo nacionalista mais direto esta encontrando a

    FIGURAS DA MSICA BRASILEIRA 15

    maior r esistncia do pblico e da critica sofisticados. Com exceo da rea socialista, onde o folc/.OriSmo encorajado, as partitttras nacionalistas tm difcil circulao. O festival lati-no-americano de msica realizado em Washington, 1962, dei-xou um travo de amargura nos brasileiros que o presenciaram, pois ficou patenteado o descrdito daquele tipo de mli$ica, que muitos compositores nacionais insistem em abordar. Reco-nheo que o m sico brasileiro hesitar em mudar de orienta-o s porque os crticos franceses ou norte-americanos dei-xaram de interessar-se por essa orientao folclorista. En-qua.nto o pblico nacional aplaudir com enttisiasmo traba-lhos como Ganguzama, de Mrio Tavares, 011 o Candombl, de Siqueira, no vivel que Les, msicos que vivem intensa-mente o populrio nordestino, embarquem em aventuras est-ticas para as quais o nosso pblico atrasado parece longe de estar p.-eparado para absorver e aprovar. De qualquer ma-neira, bvio o processo evolutivo do nacionalismo musical no Brasil no sentido de um dep-uramento maior, da busca do essencial. J vamos bem longe desde as primeiras experincias da dcada 1920-30. t de se augurar, porm, que, pelo menos, a nova gerao enverede por outros caminhos, atualizando-se nas pesquisas estticas dos grand.es centros internacionais. Se nossa msica quiser progredir, dever diversificar-se atua-lizando-se. A perspectiva da conjuntura musical de incmoda estagnao. Os governos federal e estaduais tm o dever de contribuir para essa rerwvao esttica e formal da msica erudita brasileira, por intermdio de concursos e blsas de es-tudo aos jovens promissores, a fim de que se aperfeicoem com os grandes mestres no exterior Sem ste esfro, s 1 estar resignarmo-nos com o retrocesso progressivo em que o presente marasmo nos vai precipitando. No fsse o entu-siasnw experimental de trs grupos de ;ovens: em So Pau-lo, no Rio e na Bahia, e terminaria esta apresentao em tom pessimista. Aps uma dcada de hesitao que se seg11i1t a morte de Vila Lbos, a mli$ica brasileira ensaia nOL'OS VOS.

    Washington, julho de 1969.

  • 81-'RL"TUOSO VIANA

    Um musiclogo fz-nos, h anos, observao digna de nota. Dizia le que, habitualmente, damos demasiada impo~tncia maioria dos compositores brasileiros. Sobrepondo a atividade de nossos msicos de nossos escritores, poetas ou prosadores, verificamos que s uma dzia deles mereceria ateno da musicologia. Os outros ficariam perdidos na mui tido de artistas de obra amadorstica e mui justamente.

    Na verdade, ste o fenmeno que se passa no Brasil. Uma parte maior do que se supe dos compositores brnslei ros, mesmo nos dias de hoje, constituda de amadores bem intencionados, mas talhos de mtier. Dai o carter pouco du radouro de seus trabalhos. A Sertaneja. de Braslio Itibere da Cunha, ou Tango Brasileiro, de Alexandre Le''Y. so peas muito "interessantes", marcos na histria da msica ptria, mas que virtuoso contemporneo ousar inclui-las em seus programas?

    Noventa por cento da msica brasileira executada atual mente, aqui ou no estrangeiro- so da lavra de autores vivos que, quase sempre, se empenham na realiza.'i dessas audi es. Os velhos vo sendo relegados ao esquecimento e, aos poucos, assumem o lugar merecido - o repouso eterno nos arquivos. Do vultoso conjunto de obras dos compositores antigos, o que resta hoje? Sobreviveram apenas o Guarani e o Escravo. de Carlos Gomes. algumas canes de Nepomu ceno e ... s. Nada de Jos Maurcio, de Francisoo Manu~l. de Brasilio Itiber da Cunha. de Alexandre Levy, de Leopoldo Miguez. de Glauco Velsquez. de Henrique 0.-wald, de Bar roso Neto. E. m~mo em caso de considervel aumento das atividades musicais no pas, o nico que tem possibilidades de reviver o sacerdote, cujas obras - desconhecidissimas mesmo da lite musicaJ brasleira - possuem sticiente fr a para resistir aos sculos.

    E qi;e interrogao cruciante se nos apresenta quando pen..

  • 918 VASCO MARIZ

    dess.'\ mar nacionalista daqui a cem anos~ Tomemos o caso russo. Do "grupo dos cinco", qu~m. na realidade, sobreviveu? Mussorgsky. o s outros compos1~res de nomeada .na poca, como Glinka, Balak!reff e Dargom1sky, pereceram 1rremectfa. velmente. Tchaikowsky, RimskyKorsakoff, Stravms~y e Pro-kofiefC verdadeiros gnios, aprove1ta~mS4'. do caminho des. bravaco e foram conseqncia dos nac1onahstas. Sem Glinka calvez hoje no existisse Stravinsky. Transportem o-nos, agora, para 0 Brasil. Vila Lbos foi o nosso Mussorg~ky, o ~(mio selvagem, propulsor da grande arte, quem_ comunicou a. cha. man s geraes mais novas. Tornarse-ao os compositores aqui analisados os msicos completos por que ansiamos? O tempo o clir.

    Perf:Unlamo-nos agora : de .Frutuoso Viana o que. pe_rm_a necer? Sua obra reduzida. hm1tada a pequenos painis, as pec;-as para piano solo e cant_o .e piano, mas Frutuoso j p~rt.-nce nossa histria da musica como o homem das ;\h rua-turas, da Dana de Negros, do Corta-Jaca. t dste compositor refinado e pianista virtuoso que vamos tratar neste escro critiro e biogrfico.

    Nascido em Itajub, E stado de Minas Gerais, a 6 de se-tembro de 1896, cresceu num ambiente acentuadamente mu-sic:1l. Seu pai, que possua bela voz de tenor, foi aluno pre d i!C'to de Joo Gomes de Arajo, enquanto cursava a Fac..ildade de Direito de So Paulo. Interessado em ter um acompanhador em casa, cultivou o pendor do filho pelo pia-no. e. quando o menino esta\a mais adiantado: costuma".~ eidgir que se exibissem juntos nos freqentes seroes mus1ca1:. daquela cidade m ineira . .

    No lhe faltou incentivo para vir aperfeioar-se n? ~10, e afinal. c:m 1917, transferiu-se para a capital da Repubhca e matriculouse no Instituto Nacional de Msica, nas classes. de piano

  • 120 VASCO MARIZ

    o nacionalismo musical na D:in~a de Nel:"ros, em 1924, s a partir das tertlias com o musiclogo-poeta sistematizaria seus esforos em prol da n ovel atitude esttica. Conhecera-o cm casa de Elsie Houston, em 1926, e, com o correr do tempo, essa influncia no diminuiu: muitas de suas composies contm temas arrancados ao Ensaio sf1hrc ;ltsica Brasikira. tais como as :Mini:Lturas e a Toada Gacha.

    A obra de Frutuoso Vfona se restringe ao repertrio d.i pl

  • 222 VASCO MARIZ

    lcuto, em louvvel condensao de linguagem musical, con-sei;uiu o autor envolver-nos numa atmosfera nacional, desu. sad:unente emotiva. Fazemos referncia ainda s T rs Ir. ms, ballet do repertrio do Conjunto Coreogrfico Brasilei-ro, de Vaslav Veltchek; Homenagem a Sinh, escrita no es. tilo dquele aplaudido compositor popular, mas, naturalmen te, com tcnica mais refinada; e Seresta, que est to divul-gada.

    A obra vocal de Frutuoso Viana de propores reduzi. das. mas bastante valiosa. Contm um pequeno tesouro do lied brasileiro - a Toada n. 3. com texto de Carlos Drum mond de Andrade. Aparen temente montona, de ritmo uni forme, ofrece-nos a imagem perfeita da nonchalancc tpica ao caboclo can tador. E Lus Heitor nela encontrou suges-tes "com seus acordes arpejados e as oitavas agudas, sinco-pe.das, das sonoridades da viola caipira de cordas de ara-me" (4). Uma referncia tambm s canes Sem Fim e Sa bi. A primeira modinha, na qual o autor aproveitou com habilidade o canto nostlgico do pssaro do mesmo nome co-mo motivo meldico vocal e ambiente tpico.

    Entre os seus trabalhos mais recentes, desejo ressaltar a excelen te modinha - um pouco sofisticada. verdade -, intitulada Desencanto, com versos de Manuel Bandeira. A melodia ficou lindamente construda e a obra est entre as melhores canes escritas no Brasil nos ltimos dez anos. Em 1951 Frutuoso Viana comps uma srie de cinco canes sbre o Cantar dos Cantares, de Guilherme de Almeida, no qui>l o poeta se props estudar a evoluo da lngua portu gusa. As peas escolhidas pelo compositor formam Cantar Galego, discreto estudo com o refro jubiliatrio tpico "Lo rilila", Partir e Ficar, a melhor do ciclo, sentida e bem am bientada maneira de Nuno Alvares. Bailia, dana bem lusi tana da poca manuelina, Cantiga dos Olhos que Choram, tambm muito lograda e recordando Garcia de Resende, e, para terminar, um Vilancete sem atrativo especial. P.ecente-mente. escreveu ou tra cano, Rel quia Ap no qual. o autor conseguiu notvel atmosfera mstica ':;' ~ 1mpress1ona desde uma primeira audio. Do mesmo ~ u um Madrigal universalista, com bom tratamento vocal e ~xto tr.aduz1do por Gmlherme de Almeida de uma obra de Pa-lestnna.

    Um!' referncia final sua oora para cro, eficazmente ~on~trmda'.. mas 1;1m pouco f~lha de importncia: Madrigal, Sal\ e Cu;qucntcnario, Os Amores da Semana e Cantiga de Ro. da, os tres ult1mos escritos em 1954 e 1955

    . Frutuoso. Viana. . compositor bem dotado, temperamen-~ !mo. e p1arust.a exu~10; no entanto, a exagerada timidez tem impedido a divulgaao maior de suas obras no Brasil e no exterior. Alguns de seus trabalhos, porm, foram includos no r_epertno de grandes virtuosi e esto correndo mundo. Pe na e que o atual marasmo na msica nacional no lhe d es t1mll lO para continuar a compor.

  • 3BRASiLIO ITIBER~

    Come> na maioria dos pases catlicos latinos. a m.ica coral. no Brasil, no goza de grande reputa.o. A obrii:ato-riedade dl participaft-0 direta nos ritos sagrados vem. h s culos. facilitando o gsto pela msica nas comunidades pro-testantes. tste hbito salutar do canto em comum se ~tende geralmente dos bancos dos templos s salas de concrto, com entusiasmo que surpreende. Nos Estados l;nidos. na Inglaterra. na Alemanha contam-se s centenas as asroc1a-es corais; nos paises latinos, e em especial no Brasil, con-tam-se pelos dedos. A disciplina moral, a elevao de SC'ntl-mentos. a crescente religiosidade com que o participante de conjuntos corais mais fcilmente se deixa impregnar, so te-souros inestimveis que o homem mdio latino tem de ad quirir por outros meios. E nft-0 nos esqueamos de outros benefcios que o canto coral nos pode dar. tais como a cons-truo de razovel base musical na juventude, a provvel ln clinaiio para a msica erudita, etc. No ser ousado a!ir mar que se. nos dias de hoje, uma percent:11?em to ele\"ada de familias europias e norte-americanas faz msica em seus lares. deve-o quase exclusivamente ao gsto pela boa arte ad quirido pelo canto em comum.

    Voltnda quase totalmente para sse ~lmero muical. a obra de Brasfo Jtilx>r . sem dvida. uma ct.-is mais fortes. no terrPno coral. da msica braileira. Pelo exato o;eno de eouilihrio. riqueza polifnica. aCPrtado empr~go da voz e ideal bmsilidade dC'purada, i

  • 426 VASCO MARIZ

    sua provncia audies de msica de cmara, executando trios e quarte'tos de Haydn, Mozart e Beethoven" (1 ).

    J Jugarcomum em musicologia .afirmar que fulano descende de familia tradicionalmente musical. '!'! entanto, no caso de Braslio Itiber, usamos dess~ expressao sem exa. gro. Numa poca em que Cunt1~a era cidade de pouco mais de dez mil habitantes, j seu avo tomava P.arte, como v1oh. nista, num quarteto que mantinh.a prpna custa: des-necessrio encarecer sse feito, ainda hoJe espordico e ad-mirvel. . . . Nesse mbito cresceu o jov~m Bras1lio, perfeito autodi data em msica. Vinte :anos atrs era apenasum amador talentoso; hoje, compositor distinto. Fizera da engell!'1aria ci vil sua profisso e dedicara suas horas de Jazer musica, ao jornalismo, a escrever novelas. Como cro.rusta, lutara pelo movimento modernista e tornara-se conhecido por suas cola-boraes na revista "Festa".

    Em 1934 transferiu-se para o Rio de Janeiro. A amiza-de com Vila Lbos incrementou-lhe o pendor pelos estudos

    folclrico~. e em 1938, ao ser criada a primeira ctedra daque-la matria n~ Universidade do Distrito Federal, foi nomeado para aqule posto. Quando foi organizado. Conserv~tMio Nacional de Canto Orfenico em 1942, tambm por in1ciat1va de Vila Lbos, foi-lhe entregue o ensino do folclore.

    Braslio Itiber comeou a compor com seriedade pouco aps a chegada capital da P..epblica. Sua suite para piano solo Invocao, Canto e Dana traz a data de 1934. E foi .com imenso prazer e incentivo importante que a viu prem1a~a, dois anos mais tarde. no concurso promovido pela Associa-o de Artistas Brasileiros. O autor da Orao da 1' oi te, co mo vemos, s se dedicou inteiramente msica em plena ma-turidade de esprito, e muito possvel que a completa soli dificao de sua cultura tenha impedido a influncia ntida de qualquer vulto musical, daqui ou do exterior. A antiga e considervel atrao pela obra de Ernesto Nazar quase no se refletiu em seus trabalhos. Professor de !olclore, sempre procurou fugir-lhe, esforando-se por elevar suas composi\.es a uma plano superior de transfigurao do populrio. Faz uso apenas de constncias, de clulas r tmicas e meldicas, en-fim. do ambiente variado que se lhe apresentou nas freqtien tes pesquisas e estudos, realizados sobretudo nos setores ca

    !l > Renato Almeida - Histria da Msica Brasileira (2.' edio, 1942. pgina 183l.

    FIGURAS DA MSICA BRASILEIRA 27

    rioca e paranaense. "Braslio Itiber uma sensibilidade voltada para as fontes musicais folclricas com o poder de se nutrir de suas man!fes~es peculiares autnticas, e, ao mes-mo tempo, um espmto 1mune aos atrativos do puro pitores co, no a fazendo circular na obra de arte como elemento de mera cr local. Mostra-se sempre, ao revs, em plano aristo-crtico de expresso" (2).

    O intersse da obra de Braslio no reside smente no terreno coral. Suas peas para piano solo bem merecem os louvores da crtica e a curiosidade que despertam entre os intrpretes. Quem recusar mrito ao Estudo n: 1 ou a Suite Li trgica Negra? Mas sigamos a ordem cronolgica do ca-tlogo. Ars o prmio recebido pela Invocao. Canto e Dan-a escreveu um Poema, verdadeiro momento de recolhimen to, uma rplica ao Soir de Schumann. Esta obra traz dedica-tria a Miecio Horzowski. Em 1937 produziu uma Toccata, estruturada maneira clssica, mas baseada em ritmos po-pulares. De 1938 a Inveno n: 1, para cravo solo, filha da admirao por Wanda Landowska.

    So do nosso especial agrado os seis Estudos para piano solo. Se houve alguma reminiscncia de Nazar na obra de Brasilio Itiber, ei-la, enriquecendo ainda mais o valor destas peas to felizmente realizadas. Nesta srie o msico para. naense explorou as dificuldades ~nicas da msica brasilei ra. O Estudo n: 1, to divulgado e, indubitvelmente, das melhores pginas da nossa literatura pianistica, pesquisa rit-mos e, em especial, a sncopa; o n : 2, os arpejos desdobra-dos; o n : 3, as tras alternadas; o n: 4 fantasioso, quase uma toccata; o n . 5 focaliza o ch ro com cantos largos na mo direita e movimentos rtmicos tpicos na esquerda; o n. 6 retrata as emboladas, com notas rebatidas e oitavas.

    Logo no ano seguinte, Brasilio ltiber produziria outros trabalhos de mrito para piano solo: a Suite Litrgica Ne-gra, que, no dizer de Andrade Muricy, "exorbita da msica e vai atingir o mbito da pintura e o da dana numa evoluo complexa da celebrao ritual primitiva" (3). Consta a sui te de t rs movimentos: Xang, lento; Ogum, rpido e em for ma de toccata e Protetor Exu. lento. Bons instantneos da magia negra, da macumba carioca - os dois primeiros com temas folclr icos autnticos e o ltimo, do prprio campo-

    (2) Eurico Nogueira Frana - l\'lsica Pi:.m!'tica Brastin.

  • 528 VASCO MARIZ

    sitor - . tmse mantido na p0sio, que to_ merecidamen. te conquisl:lram, de estudos consagrados da influncia ar ..

    1 n cana na alma bras1 eira. Ainda para o mesmo ins~rumento, desta vez a quatro

    m:os, escreveu O Cra\'o Tr_o1>1cal, .qi:e teve a honra especial de ser executado em primeira aucliao por artistas da fra de Toms Tern e Arnaldo Estrla. Trata-se de um estudo do "cravo sob o sol carioca", para usar as pala\Tas do autor l:\es.

  • 6LUIS COSME

    A contribuio do Estado do Rio Grande do Sul para a msica brasileira tem sido bastante valiosa. S na segun. da gerao nacionalista deu-nos dois compositores de vulto: Radams Gnattali e Lus Cosme. N o vamos aqui comparar-lhes os estilos, to diferentes, todavia justo reconhecer que Lus Cosme se tomou autor representativo daquele Estado sulino, quer pelo aproveitamento do folclore natal, quer pela aceitao que sua msica tem merecido dos conterrneos. Tanto o bailado Salamanca do Jarau quanto as canes - e em especial A Ganchinha, hoje com foros de folclore - ex-pressam com desusada felicidade a alma da gente gacha.

    Lus Cosme nasceu em Prto Alegre, Estado do Rio Gran-de do Sul, a 9 de maro de 1908. Pertencia a uma famlia de msicos: seus irmos Vlter e Sotero seio, respectivamente, pianista e violinista. Lus iniciou aos oito anos de idade os es. tudos musicais. Dedicou-se ao violino e recebeu as primei ras lies de harmonia de Assuero Garritano, no Conservat-rio de Prto Alegre.

    Em 1927 embarcou para os Estados Unidos, onde se can didatou a uma blsa de estudos. Bem sucedido, freqentou o Conservatrio de Cincinnati, Ohio, durante dois anos. Fo-ram seus p rofessres naquele estabelecimento de ensino Ro-bert Perutz e Wladimir Bakaleinikoff, o primeiro de violino e o segundo de composio. Passou. logo aps, uma tempora-da de quatro meses em Paris, observando o intenso movi-mento artstico daquela capital. De volta ao Brasil, dedicou--se ao magistrio no Instituto Musical e no Colgio America-no de Prto Alegre.

    Da tam dessa poca os primeiros ensaios de composio. J em 21 de outubro de 1931. numeroso pblico encheu a Sa la Beethoven, da capital gacha, para assistir a uma "Noite Brasileira de Radams Gnattali e Lus Cosme", em que fo-ram interpretadas as canes de sua autoria Balada para os Carrcteiros, Aquela China e Acalanto, as peas para piano so-

  • 7VASCO MARIZ 32

    e -0 do Tio Barnab e Saci P erer, o quarteto Sam'-10 ana V " 'I " , uinteto para cordas e piano amo," a~uca 0). A 10 lcle e 0 q bro do mesmo ano, no quarto concerto oficial do

    de tdezt etomN~"ional de Msica, do Rio de Janeiro, num pro. Jns 1 u '"" 1 te d oompositores brasi eiros con mporaneos, foram grama ~ cantadas em pblico Acalanto e Aquela China. novamen d Em 1932, transferiu Luis Cosm_e sua resi enc1a para 0

    . de Janeiro. Em 1935, por o.casrn.o das comemoraes do Rw . .0 Farroupilha seu bailado Salamanca do Jarau ia Centenan ' - dr d P to

    1 ado cena no Teatro Sa.o Pe o, e r Alegre, pe. ser ev de Lia Bastian Meyer; em virtude, porm, de mo. las alunas di - f b t't 'd . lticos aquela primeira au ao 01 su s i w a por

    tivos po to d'e musica de cmara com peas de sua lavra um concer - d b 1 d M n.o tardaria a apresentaao o ai a o como suite ~ 'm outubro de 1936, sob a batuta de Heitor Vila orquest e uestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro Lbos, anhorqer ao pblico carioca a Salamanca do Jarau. A deu a co ec . f b de 1937 Francisco Mignone azia o mesmo 6 de ;iovem d' No mes~o ano, Georg Wach, regente alem_?. em Sa.o Paul Be J'm 0 Preldio para orquestra, e a Canao exec~tou. em '. r 1 mente in~trurnentada. Quando foi im-do Tio Ba~;be, ~:C;~~sica Brasileir Moderna", destinado presso. o_ a I~rnacional de Arte e Tcnica, realiz~a ei;n Pa Ei..-pos1ao . r . u com a pea l\fae d Agua ris em 1937,. Lms Co~me0 ~~~dez autores selecionados canta para v10lmo e pian . para aquela pequena antologia. . .1 . de

    . . b da Academia Brasi eira Lus Cosme foi eleito mem ro _ lho de 1945 e Msica por ocasio de sua fundaao, em bom Pedro I. No ocupou a cadeira n. 9, qu.e .tem por P3;_tronodo Estado do Rio mesmo ano, sob os ausp1c10s do gove;no como bai Grande do Sul, foi apresentada em Porto Ale.,[:;; rimiu por lado, a Salamanca do Jarau, cuja partitura se P determinao do Interventor Ernesto Dornelles. . .

    . s da h istria A obra de Lus Cosme das mais pequena elador, um

    da msica brasileira. Estamos perante um cmz

    (1) Salbalel e Vitto, Manica foram destndos pelo autor. . te ( t' 1 teve o sei:um (2) Realizado a 19 de setembro de 1935,_ sse e~ i_va /. e f alao do

    programa: Me d'Agua Canta, Ora.a.o a T~m';'lgua - Cano do Anhan~-Pit (Carlos Barone ao violino); Saci Pere~ piano); l; Tio Barnab e Dana do Fo::areiro (Vlter Cosme ,\quela CJU Quarteto de Cordas; e as canes Colonial, Acaiant0 . ~arreteiros e na

  • 8VASCO MARIZ 34

    ento propriamente dto da narrativa, bem do de part.e o and_alll de quadros e d.as cenas dela constantes, como a vmculaao substanciais da lenda, na concepo elevase aos elemento~ to cm 1935 e refundido definitlvainen do seu trabalho. Es~~ constou. a princpio, de dez partes, te em 1940, o ba~~ para nove, pois o autor uniu as duas atualmente "'._dUZI . r-; Rastro do Boi Barroso: ~'somhraprimeiras. Sao elas. .? p ana d os E squeletos: 1.m~as de o; Panl!'r:"-~ ~ Pu.m "n on.da d:\S ;\l~as; Tropa de Anes e Fo~o: A n o1c10inga. '~m os fantasmas, nem a cascavel, nem Desencantamento. N.,, nnnidclwn ( 8) fizeram fraquejar

    . cm das 1,.um - " D a carne JOV forte e cora:io sereno . a. coragem Bla.u Nunes. "de ~ma heri encontrouse com "uma velha surgiu a Ubertaao._ e 0 mo prmio da sua coragem, salisfa. bruxa que lhe propos. co 1 u no se decidia e a bruxa suge-zer sete desejos seus. B a ouos de azar, sorte nos amres riulhe ganhar semprejnos ~~a coiS Pionl.itca Brasileira - Diviso Cultural do Minlstrlo dns Relaes Exteriores, ruo d~ Janeiro, 1948.

  • 136 VASCO MARIZ

    Talvez o trabalho mais popular de Lus Cosme se pea para violino e piano Me d' Agua Canta. Na verdJad obteve uma reputao bem merecida. Em andamento le te, logo no primeiro compasso o autor fz o violino atacar n melodia sinuosa e eletrizante, que nos transporta imedi~ mente atmosfera criada pelos versos de Heine. a Lar:: lei a pentear, serena, seus cabelos dourados, enquanto 0 po-bre pescador, enfeitiado, contempla, inerme, sem despregar os ?lhos daquela viso divina._ o seu batel d~spedaar-se nos recifes. Lorele1, Ondma, Sereia, IemanJ, Mae d' gua. . . A obra termina em pianssimo, mas permanece a lembrana da tragdia . E o terra-a-terra quotidiano afasta a imagem do rochedo de Lorelei, daquele cotovelo do Reno de barrancos escarpados, castelos em rui nas e margens verdejantes ...

    A Pequena Suite, para dois violinos, viola, ceio e piano uma obra da juventude e de relativa importncia. Const~ de trs partes: Remexido, Acalanto e Final, e seu carter nitidamente popular. J o 1. Quarteto. para cordas, merece estudo acurado. Deixamos a Arnaldo Estrla o privilgio de coment-lo: "Custa a crer que apenas um ano medeie a Suit.e e o l. Quarteto ele Cordas ( 4 tempos: r esoluto, vivo. lento e vivo). Bastante dissonante, embora no elimine inteiramen te a ambincia tonal, ste quarteto evidencia uma grande evo luo, que se processou num prazo espantosamente curto Notvel, no 2. tempo, a recherche de efeitos de timbres. A linha meldica plstica, espiritual. Caracterstica no autor uma certa agitao que se manfesta nas mudanas fre qentes de compasso, de andamento (registradas com min cias de indicaes metronmicas), de tal modo que se po deria dizer das suas idias, que se manifestam em tempo ru bato" ( 11). Acreditamos conveniente salientar a sonoridade quase orquestral do Vivo, a beleza meldica do Lento e, em conjunto, a excelente feitura do trabalho.

    A obra vocal de Lus Cosme iniciou-se, em 1931, com as Trs Manchas Gachas (Colonial, Aquela China e Balada P_ ra os Carreteiros), para voz mdia. As duas primeiras sao meras pe3S delicadas. de construo singela, mas eficaz, ao passo que a balada j constitui aprecivel contribuio para o lied nacional. No andamento lento das carretas, o cantor interpreta as palavras sentidas de Augusto Meyer:

    (11) ARNALOO ESTR.ltl.A - Op. cit.

    FIGURAS DA MSICA BRASILEl'RA

    A carreta avana parada no tempo Gemendo a mgoa da ~-

    E rvua tagarosa

    termina com 0 pungente aboio O

    37

    Trata-se de um trabalho b . .. .. a. de,"..er Cancin dei Carreterem reahzado, que nada fica Canao do Carreiro, de Vila L~ de. Lpez Buchardo ou motivos de outra re"ia-o d . os, mspirada, todavia por L ' "'opa1s ,

    ws Cosme escreveu aind Clamado de efeito muito a .um Acalanto com trecho de-licad d sugestivo a can- G . a o e as graciosas filhas d Rc ao auchmha., de. to onomatopaico Bombo 0 no Grande do Sul, e 0 = do para as vozes graves i 1~a ~~;;~st1ca de xito garanti dos pampas no deu a conhe a 1947, o comp0sitor ta data comps Trs Mane ~er nenh=. trabalho vocal. Nes-Chorinho e Canti"a ~;ndab. s: de Ceciha Meireles: Modinha

    t ~ ~ meditas e per est s mm1a uras, cheias do bom t . . rear. o belas das de acompanhamento J1s ~ \i.pico de Lus Cosme, dota to agradaro em sua rim"' e e icado q;ie certament.e mui co. De 1948 temos a :ncan~~o~pr;s_ent~~o ao grande pbli est por ser impress3. na A " ~ . ladn1~acla no Campo. que de Ceclia Meireles e se ~;:1~ ~ por Curt. Lange. A letra Em 1946 Lus Cosme comp' e ~a mwto lrgrada. to - o bailado Lambe-Lambe (~~,mais um trabaJho de vul

    , , para orquestra. Conhe-

    (12) LU!S HEITOR em arU b 1 .. 5, assim se maOirestou: pu 1 cado na revista "'Mslca Viva", n.o

    Bomho, sbre um texto d A veladora da sensibilidde .por deu:istos_ Damasceno Ferreira. bem re-t~r. Nesses 32 comPassos eh i vezes .estr~a do jovem compos1-nao h lugar para o mai r' . e os de v1vac1dade e de mordat1dade ado colorido potico. ../uJ~~~o e~terneelmento, . para o mais disfar: condescendncias. Apenas no c~r:P~ ~: ?f:rg13 scc-.n, rispida, sem pouco irnico) 0 desenho do b . sso nto-quase falado e um na e mais repo~sante a v r day

  • 238 VASCO MARIZ

    cemos apenas a reduo para piano solo, que nos deixou im. press:"io definitiva. Trata-se de uma obra buffa, irnica, ex. terior. Todavia, como em nenhuma out~3: pea, o autor nela imprimiu toda a sua personalidade versat1l. No Lamb1>L:un. be, Lus Cosme empregou o res~tado de seus estudos das partituras dos autores contemporaneos e obteve, justo re-conhecer, efeitos sedutores. Ressaltamos o chorinJ10 buiio. so da entrada do LambeLambe e ? ~mal do bailado ( 14), com restries ao contraponto dos ultrmos compassos do i. movimento. A Novrna a Nossa Senhora da Graa (Teodo-miro Tostes) das obras mais recentes e foi composta de 1947 a 1950. Buscou o aut~r um retrno a Monteverdi, usan. do at a tcnica dos doze sons como meio para encontrar a unio ideal de poesia, msica e dana. O narrador n o che-

    (14) NllS palavrns do autor (Aui:usto Rodrigues>. eis o cenrio e 0 ar-gumento do bailado Laml).,-Lambi':

    "Painel de fundo verde-claro. Bailarinas da seguinte maneira: braos e perna' pintados de marrom, sendo que outra perna e a cami-sa e,to pintadns de branco com listas verdes. Saio1e br::inco com con-torno verde-escuro. Uma bacia branca com supor te azul-claro. A mquina com trips. Um ba.nco de jardim cr-de- rosa. 1. Movi-me;,to: Entrada do Lambe-Lambe com a mquina e trips desmonta-dos. Montagem da mquina. Dana com o pano prto. Depois. abre um embrulho e come po. O po est embrulhado num papel bran-co e a cena realizada no centro do palco, devendo ser uma provoca-o. O pblico deve f1rnr na du,ida se assiste a um bailado ou se presencia "o verdadeiro Lambe-Lambe comendo um po". Depois, o Lambe-Lambe delta-se no banco e dorme. As rvores se movem len-tamente. sugerindo um embalo. 2 Movimento: Entrada dos namora-dos Cum casal do .Meyer>. Danam os dois no primeiro plano e de-pois descobrem a mquina e o fotgrafo. Acordam-no para o retra-to. O Lambe-Lambe ::ii:ora o artista: vai fazer o milagre. Esmera--se na composio do quadro, junta o casal, ajeita a cabea do nnm

  • 3JOS SIQUEIRA

    Um dos grandes problemas da msica brasileira parece ser o amadorismo de considervel parte dos chamados com-positores "famosos". Escrevem um punhado de peas deva-lor relativo, as quais, por favor de crticas parciais ou puro acaso, chegam a agradar ao pblico nacional e ... eilos con-sagrados ad aet.ernum. O tempo, felizmente, um grande peneirador, e alguns dos compositores que, ontem, julgva-mos definitivos, hoje esmaecem pouco a pouco, muitos dles vivos ainda. Qual o principal motivo dessa transitoriedade da fama? Falta de mticr. Amadores dotados de precria base musical se arvoram, com xito, em compositores, favo-recidos pela absoluta escassez de msicos em um pas de qua-se noventa milhes de habitantes e, evidentemente, por algum talento criador mal desenvolvido. O aplauso inicial que ob-tm no se confirma, justamente porque lhes falta mtier, ou seja, prtica da profisso, construda sbre fundamentos slidos de estudos completos e aperfeioados. Quantos com-positores de talento tm malogrado ou esto tropeando com tais dificuldades? Muitos, at mesmo alguns dos mencio-nados neste livro. J se tem dito bastante contra as quali-dades musicais de Jos Siqueira; no entanto, le dos pou-cos compositores brasileiros que realmente conhecem o of-cio. Tem mti

  • 442 VASCO MARIZ

    ciou sua verdadeira instmo musical. Estudou na Escola Nacional de Msica com Paulo Silva, Burle :Marx, Francisco Braga e Lus Amabile, respectivamente teoria, regncia, com. posio e piano, terminando o curso, em 1933, com brilhan. tismo. Em 1937, aps haver prestado concurso, conquistou naquele mesmo estabelecimento de ensino, a ctedra de Har'. monia. autor das seguintes obras didticas: Regras ele Har. m onfa, Modulao Passageira , Curso de Instrumentao, Can. t o dad o e m 14 lies. Curso ele Cultura Musical e Formas !\tu. sicais, trabalhos despretensiosos mas de evidente utilidad~ em um pas onde quase nada se publica sbre msica. Foi ainda crtico musical da Re\'ista ela Semana, de 1936 a 1940.

    Ai comeou verdadeiramente a salientarse no meio mu-sical brasileiro o nordestino Jos Siqueira. Havia dez anos que o Rio de Janeiro estava sem orquestra sinfnica per-manente e as ath;dades musicais cariocas tinham descido a um n~el incompatvel com a significao cultural da capi tal de um pas corno o Brasil. Surgiu ento, em 1940, uma nova organizao, qual se deu o nome de Orquestra Sinf-nica Brasileira, ou OSB mais familiarmente. Lutando contra dificuldades de tda sorte, inclusive o conhecido derrotismo carioca, Jos Siqueira conseguiu impor no s sociedade local, mas tambm juventude e s massas heterogneas, uma conscincia musical que formaria uma gerao com men talidade artstica voltada para a arte dos sons. O p restgio e o virtuosismo de Eugen Szenkar foi, sem dvida, fator pre-ponderante para a fastgio da OSB, mas quem poder negar haver sido Jos Siqueira a verdadeira mola propulsora de todo o empreendimento? Lws Heitor comparou-O mui jus tamente. em :'\lsica Bra.ilt'na Contempor.nea (! ), a Fran cisco Manuel e a Lepoldo Miguez como um dos apstolos da boa msica e dos organizadores da nossa vida musical. E foi tambm graas a Siqueira que Eleazar de Carvalho pde rea lizar seu aprendizado na OSB e viajar aos EUA para aperfei coar.se em Tanglewood. Presidente e regente daquela arques tra at 1948, o compositor paraibano fundou no ano seguin te a Orqu~str~ Sinfnica do Rio de Janeiro, a qual, infeli:ir mente, tena Vida efmera. Em 1944. visitara os EUA e o Ca nad. dirigindo concertos em Filadlfia, Rochester, Detroit e Montreal.

    U l Msica Brasileiia C-Ont.empornt-a Rosario 1952 pmn~ 190. Em C&SIA!lhano. ' ' ' .. - -

    FIGURAS DA MOSICA BRASILEIRA 43

    Em 1954 Jos Siqueira e sua espsa Alice Ribeiro um de nossos melhores sopranos, viajaram para a Europa, onde se demorariam dois anos e meio em constanUi tourne com quartclgenera! cm Pans. Exibiram.se com xito em Portu gal,. Itaha, GruBrctruJ!1a: Holanda, Blgica, Polnia e Unio Sovitica em repertrio 1.nternacio;.ia1 e, especialmenUi, apre-

    s~ntando obras suas .e musica brasileira. O xito dessas tour nccs poder ser afcrid~ pelos quatro discos long.playing gra-vados em Par!s e reeditados no Brasil. De volta ao Rio, J em 1956,

  • 544 VASCO MA R IZ

    bastante primrio, verdade, mas etapa indispensvel Para atingir a fase de maturidade que ora atravessa. A produo seria nwnerosa, talvez pelo estimulo de poder execut-la na OSB: os poemas sinfnicos Cuni1_1ir_a, Ucremm, Acau, Jaci t:aru, Cena.'! do_ Nordeste B~asilc1.ro, Ca!1to do Tabajara, Alvorada Brasileira, duas Su1lcs 1' o_rdcslmas, seis Danas Rrasilriras, Senzala (com coros> Bailado das Garas, l:ma Fls ta na Roa etc. O xito foi bastante encora jador, mas ta l-vez pelo c\idente folclorismo dessas peas e facilidade de exp'resso do autor, criaram uma reputao nociva de super-ficialidade que Siqueira vai lev:i r tempo para desfazer, mes-mo aps a divulgao de seus trabalhos mais recentes. Por infelicidade e at certo ponto injustamente, o msico parai-bano continua a ser julgado com severidade na base dessas obras de transio.

    convm salientar que, durante a sua estada na Europa, freqentou Siqueira a SOrbonnc duran~. dois anos e fz cur-sos de aperfeioamento no Conservatono de Pans. Estudou regncia com Eugene Bigot, composio com Tony Auban, contraponto e fulll!. com Charles Chailler. Agora, que dever aposentar-se com~ professor de compos~o da Escola Nacio-nal de Msica, candidatou -se a uma bolsa de estudos para efetuar pesquisas no Nordeste e e~ Portu gal, para apresen tao de uma tese Sorbonne rel~t1va ao s1stem.a modal na msica folclrica brasileira. Continua, neste penodo .de m~turidade fiel sua busca do nacionalismo essencial, 1mpos1 o de ~u temperamento fortemente marcado pelo impacto da msica folclorica nordestina, regio natal. Considera-se hoje muito prximo das idias estticas . de B~la Bartok e vem escrevendo abundantemente nessa on entaao.

    A rase atual, indiscutivelmente superior que acabo de comentar, pela maturidade de estilo e refinamento no uso do folclore de sua terra, j produziu frutos dignos de nota:. a saber: trs Sinfonias, dentre as qu:s saliento a terceira, a cantata negra Xaog para soprano, coros e orquestra, o bailado tipo pot.-pourri Bumba meu Boi Pernambuca no (1954), quatro suites Sa.ci Prrer (1955). a cantata de tichista O Cavalo dos Deuses, do mesmo ano, para soprano, dupla orquestra de cordas, percussflo, celcsta, piano e harpa, duas Sonatas para violino, etc. Escreveu uma espcie de com plementao ao Bumba, isto , um estudo da msica pernarn bucana moderna em trs partes ( caboclinho, maracatu. e fre vo>, intitulada Carnaval no Recife, de muito intersse ms~rumental. Para o IV Centenrio da cidade do Rio de Janeiro, est compondo wn bailado que se chamar Carnaval Carioca.

    FIGURAS DA MOSICA BRASIU:lR.A 45

    guisa de retribuio cidadania carioca que lhe foi outor-gada pela Assemblia do Estado da Guanabara.

    Dentre as numerosas obras escritas na ltima d~ fi. guram alguns d_os melhor~ trabalhos de Jos Siqueira nos quais o compositor nordestino muito se esforou para ~efor

    m~r. o conceito apressado que o publico brasileiro rnz de sua musica. Escreveu as peras A Compadecida. baseada no fa. m_oso. auto e e~trcacla em 1961 com boa aceitao no Rio, e G1mba, cm dois at?s e u;n prlogo, sbre versos de Gi:m francesco. Guarnleri. Mwto interessantes so os concertos para .v1ohno e orquestra e ceio e orquestra, j:i gravados co-mercialmente. Trata-se de dois trabalhos de alento, inspiraf1o ~uente e de ~oa gua, alicerados em desenvolta tcruca de m;;trumentaao. Grande xito de publico, embora pane da mtica o te~a julgado demasiado direto, o oratrio fetichista Candomblc, em treze p"lrtes, para solistas. grande orquestra, dois cor~s mistos. ~ seis vozes, cro infantil e pcrcussft0. A

    c~ncepao _amb1c1osa, a execuo difcil, mas o efeito cer-teiro, e constitui tentativa lograda de realizar uma \"erdadcira r:iissa fetichista. E n.o esqueamos valiosa obra recente: Os Sapos.

    Pontos altos na obra do msico paraibano so as duas coletneas de canes sbre poemas de Manuel Bandeira, quase tdas dignas de nota e que situam decididamente o autor dentro do licd nacional. Essas duas sries datam de 1947 e talvez, com exceo de O Rei Oxal, Rainha Itman,j 0949) ainda permanecem como a sua melhor contribuio para a cano de cmara brasileira. Dessas coletneas salien-to um l\ladrii:al de primeira ordem. A linha meldica nu.i espontnea. sentida, com aoento tipico nordestino, que. tah-ez pela primeira \ez, Siqueira conseguiu extravasar sem ba.n3 !idade. A cano singela, enquadrada num ambiente muito nosso, imperceptivelmente armado pelo acompanhamento, despretensioso, sem contudo baixar vulgaridade. Recente-mente, Siqueira harmonizou oito canes populares, inclusi-ve nova verso de Foi numa Noite Calmosa e mais trs can-tos folclricos, dentre os quais a "sua" l\tulhrr Rendeira. Re-ferncia final aos Cantos Espirituais dos Nein-os cio Brasil, para soprano e piano, com melodias e letras folclricas um pouco manei ra dos spirituals norte-americanos.

    Em sua obra pianistica do periodo tri-modal, sali~ntarei um Chorinho. as Dan~as Frenticas e Herica. as Ca~tigas de Cego n.os 2 e 3 e trs Valsas. tdas gravadas em disco por Vladimir Rudzinski, alm de dez Sona.tinas (1964).

  • 646 VASCO MARIZ

    Jos Siqueira festejou, em junho de 1963, seus trinta anos de composio com uma srie de oito concertos no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, duas conferncias a um livro sbre a sua obra e exposif10 na Biblioteca Nacional. Nessa srie de audies foram apresentadas suas obras principais como o Candombl, com xito ineg:\vel. Numerosas grava'. es comerciais esto divulgando a sua msica no Brasil e no exterior. Sua atuafO como organizador, desde a !unda-iio da OSB at a da O rdem dos Msicos, muito agrega personalidade do artista, temperamento arrebatado e persis ten te. figura marcante e discutida na msica contempornea brasileira. Seu entusiasmo e atividade no arrefecem, embo-ra o msico j esteja nos sessenta anos. No tenho dvi-das de que Siqueira continuar ainda por muito tempo a im-primir sua marca pessoal s atividades musicais em nossa tern.

    R ADA:'l'TS GNAT T ALI

    O Jazz o deus onipotente da msica contempor.1nea. Todos os compositores de tdas as origens vm sofrendo a sua influncia. A le se atribuem lodos os defeitos e r.da~ as loucuras dos msicos de hoje. Haver exagro nisso? Acreditamos que sim. Est bastante generalizada a marua de descobrir ritmos, melodias ou instrumentaes de jazz em tda parte. t tempo, pois, de tentar colocar alguns pmj!'os nos . Tomemos o caso brasileiro. H trinta anos a nos~ msica popular apresentava acentuado grau de pureza. As melodias e os ritmos eram nossos, a instrumentao, paupr rima, nossa tambm. Veio o cinema sonoro. veio o rdlo. veio a necessidade de estudar aquela musica buliosa e atra-ente. O imperativo de fazer arranjos da msica de jazz des-tinados s pequenas orquestras brasileiras especializadas. recmnascidas, mas entusiastas e entusiasmando. obrigou alguns msicos a travar conhecimento direto com a mcc nica do jazz, a fim de melhor ganhar o po de cada dia. O poder eletrizante do jazz contagiou-Os, e, admiradores da ins trurnentaiio ianque, puseram-se a enriquecer a msica popu lar brasileira, dotando-a de orquestraes cativantes, muitas vzes de sabOr aliengena.

    E a msica popular brasileira evoluiu. Mas a evoluc;iio foi, sobretudo, interna. O samba de Sinh no o samba de Ari Barroso. O Idioma musical de Ari est muito longe d'I bossa-nova . A era do tambOrim, das escolas de samba afetou at a sincopa caracteristica da msica popular nacional. O lundu, a modinha solidlficaram-se. O samba ainda est em evoluo. O clssico grupamento semicolc'"'ia, colcht'ia, semicolcheia hoje quase uma te:rcina.

    Radams GnaU.nli. como Guerra Peixe, raz questo de estabelecer um marco definido entre os dois setores da sua produo. Escreve para si prprio e para o povo. Esta linha divisria, todavia, nf10 estava t o clara quanto lhe parece. Todo homem sofre a Influncia do meio ambiente. Por Isso

  • 748 VASCO MARIZ

    admit.imos que, apesar de seu~ _escrpulos evidentes, Racta. m_s Gnattah, ao abordar a musica sna, no perodo inicial nao pde evitar que nela se introduzisse, sorrateiro ste o aqule caracterstico do jazz. Trata-se, porm, de ' uma in. fluncia consciente e ultrapassada. Continuar a insistir neste ponto equivaleria a afirmar que Prudente de Morais Neto mau crt.ico literrio, porque comenta as corridas de cavalos Repudiamos, pois, que a obra do msico gacho a.inda estej~ sob a in!lunc~a direta do jazz. tempo de frisar isto, de uma vez por todas.

    Mas o compositor que estamos estudando, mau grado a pecha que lhe querem imputar, conseguiu lugar de destaque excepcional no panorama. da msica brasileira. hoje um dos criadores mais ativos da msica erudita. Nasceu a 27 de janeiro de 1906, na rua Fernandes Vieira, em Prto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul. Iniciou os estudos de piano com sua me, aos 6 anos de idade. O pai, Alexandre Gnatlalli, j falecido, foi professor de Msica em Prto Alegre. Desde criana, Radams fz-se notar pela musicalidade, sendo, certa vez, premiado pelo Cnsu.I da Itlia numa resta em que diri giu uma orquestra iniantH. Contava 9 anos de idade e foi o nico que a timidez no dominou durante a execuo. Ingres-sou no conservatrio de msica aos 14 anos, aperfeioando-se com o professor Guilherme Fontainha, que mais tarde viria a ser diretor da Escola Nacional de Msica, no Rio de Janeiro. Antes de receber o diploma, exibiu-se no Rio, em 1924, como pianista. De volta a Prto Alegre, Radams prestou o exame final, encerrando o curso com brilho desusado. Ainda em 1924, concorreu ao Prmio Arajo Viana e mereceu o grau mximo, pela primeira vez alcanado no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Foi-lhe concedida, por esta ocasio, uma medalha de ouro.

    De 1924 a 1926 realizou diversos concertos na cidade na-tal, no Rio e em So Paulo. Fz tournes como violista do Quarteto Henrique Oswald e fixou sua residncia na capital da Repblica, onde se aperfeioaria em harmonia com Agnelo Frana, na Escola Nacional de Msica.

    A partir de 1931, Radams Gnatta li dedicou-se afincada-mente composio. Sua primeira obra de vulto, a RaP-sl\dia Brasileira, traz essa data. Regente da orquestra da Rdio Nacional, do Rio de Janei ro, h anos vem gozando merecida reputao de melhor instrumentador de msica po-pular no Brasil. Em 1941 passou oito meses em Bueno~ Ai-res, contratado pela "Hora do Brasil", da Rdio Municipal,

    FIGURAS DA MSICA BRASILEIRA 49

    daquela capital. Apresentou obras suas na Escuela de Arte Cristiano Beato Anglico < 3 poemas, para canto e piano), no Grupo Renovac1n (Sonata para ceio e piano> e no Insti-tuto Argentino de Cultura Integral (Rapsdia Brasileira, Can cs e t!uartcto n. l ). Este ltimo concrto, realizado con-juntamente com uma conferncia de Gastn Talamn sbre msica brasileira, foi repetido na Asociacin Sinfnica de Rosario com a substituio da rapsdia e do quarteto pelo Concrto n. l para piano e orquestra. Regeu o maestro Berrini e foram solistas Cristina Maristany e o autor.

    J em 1939 a orquestra da rdio de Berlim, sob a direo de Georg Wach, executara o seu Poema, para violino e or-questra, e o pianista espanhol Jos Arriola fizera o mesmo com o Concrto n. l. O Concrto n." 2, para piano e orquestra, foi interpretado em Chicago, Washington e Filadlfia por Arnaldo Estria ( 1943) e por Nise Obino, em Montevidu (1935). A Brasiliana foi executada e gravada pela sinfnica da B .B.C., dirigida por Clarence Reybould. Em 1945 fo~ i:1ei-to membro fundador da Academia Brasileira de Musica. Grande parte de sua obra est gravada comercialmente e j foi interpretada no estrangeiro.

    Alm da divis das obras de Radams Gnattali em eru ditas e populares, convm distinguir dois perodos. em suas composies srias - o primeiro de 19~1 a 1940, CUJOS car~ctersticos so: folclorismo diret-0, resqmc1os do estilo de Gneg e tambm um pouco de jazz .. No. segun~o peno~o~ a partir de 1944, observamos progress1".a hbertaao d~ musica norte -americana folclorismo transfigurado essencial, menos vir-tuosismo, ~xce\ente instrumentao. No trataremos aqui de seus trabalhos populares; lembraremos apenas. a populanda de da Fantasia fasiJcira, para piano ~ JalZs1nforuco, pe; de fcil compreenso e de extraordinano efeito para um P blico heterogneo. di

    No primeiro perodo desejamos ressaltar a Rap~o a Brasileira ( 1931 l para pi~o solo. obra fluente, armadda num

    . . . ' Q t motivos foram aproveita os. um nac1onahsmo s1gelo. ua ro . M Boi Mor~ viuvinha original e trs do folclore, sab~ R e~a A harmonizao Bota Luto e Anda Roda. Oesan a. 0 . A pea muito eficiente e j apresenta um cunho -~r e~~~a suficientemente pianstica - talvez demais. - e ~apa que Gnattali venceu. ao clat lisztiano. Esta foi uma. . 1- 0 e ceio escrito

    . . .. 1 para piano, vto m O Tno em _Do-... aior. d Folclorismo direto o seu em 1938. tambem f01 supera 0 mento rural no ltimo. Os carter: urbano no segundo movi '

  • 850 VASCO MARIZ

    d COnMrtos para piano e orquestra representa- 1 1" " d d "' nctubt v!'lrncnte os pontos ultos esse peno o. Ambos so muito 1 nlslicos, mas divergem quanto ao tratamento da orqucstraP1a. n. !, composto. para a ~rquestra cio Teatro M~eipaJ do P. dt J;ineiro, ent ao def1c1c n te, tem mst~ment aao SlnJlel ~o Coru:rrto 11 . 2 a orqu.eslr~ ganha em.importncia, obte~ct No autor aprecivel eqwhbno entro o instrumento solist 0 o conjunto orquestral. A Sonata para ceio e piano tem e o ndnde atraC'nte. e revela o bom gsto do compositor. Os~~~ primeiros movimentos, delicados e sonhadores, aproximam 0 autor da escola francesa moderna e de Grieg, ao passo

    1 b d Que 0 terceiro, mais ongma , encerra a o ra e maneira gil e brilhante.

    o Quartcto n. 1 -. na ~pin_i:i? de Lus Heitor - "const.a de quatro tempos, em hgaao c1chca entre s1. O tempo lento o segundo. A ambincia francamente no tonal; uma es-cala hdia d origem aos principais motivos meldicos. As harmonias s;io as mais avanadas e pitorescas. Entretanto ape~ar des!'a harmonizao no conformista e do emprgo d~ um modo extico, a maneira de Radams Gnattali soa aos nossos ouvidos despida de tda agressividade. saborosa. ma-cia. se a.>Sim nos podemos exprimir". Ao sub

  • 152 VASCO MARIZ

    :~s~ltamos, no segundo movimento, o tema cantado com P ici~a~c Pelo ceio e s uas sete variaes, muito en Cnh

    sas. O ultimo, allrgro, inicia-se com um tutti eficaz e gtran O ~?;;_e m0\'1mentado at o final. Escreveu ainda um 3. . para grande or queo;tra. compreende trs quadros. conduzidos - no dizer de Eurico Nogueira Frana - por "poderosa virilidade de con rrpiio musical". A Brai;iliana n. 2 ( 1948) um samba em trs movimentos: samba de morro, samba-caniio e sam ba de batucada, j gravado come rcialmente. Fixa um mo mento da msica popular brasileira. em estudo para piano e orquestra, um pouco maneira dos pianistas ele ouvid": Obra de efeito considervel e que. certamente, permanecem no repertrio de concrto. A Bra~iliana n. 3 ( 1948) foi cs

    FIGURAS DA MStCA BRASILEIRA 53

    truturada para grande orquestra e pode ser considerada uma verdadeira sinfonia. Trata-se de um trabalho de Cleoo ad mirvelmente instrumentado e acal)ado com esmro ~ de-monstrar 3: vaha de sua m.

  • 2'54 VASCO MARIZ

    problemas de aproveitamento dsse instrumento com a or-questra. em autntico ambiente nacional.

    0A seguir, m~is.dois concertos para piano e orquestra (2. e 3. >. send~ o ultimo de 1963, bastante importante, que te-ve. sua estreia no Ri;c1fe sob a batuta de Vicente Fittipaldi, e d1s. Concertos Cariocas. Destacamos dois Concertos para V1ohno e orquestra, de grande virtuosismo e inegvel sabor bras1le1ro, a atestar a_ fluncia da inspiraiio do mestre ga. cho. O primeiro esta gravado em disco Festa e o seaundo ( 1962) foi estreado por Oscar Borgerth com a orquesb-a do Teatro Municipal dirigida por Alceu Bocchino. Nle o autor experimentou curiosos efeitos da bossa-nova. Finalmente mais trs Concertinos para piano e orquestra, o ltimo dos quais escrito em 1963 especialmente para um pequeno solis-ta de dez ou doze anos apenas.

    Radams Gnattali, Que atravessou um perodo de inten-sa e proficua produo, escreveu, ainda recentemente, as se-guintes obras: Sona tina Coreogrfica (Marcha, samba-can-o, valsa e baio) e Sonata n. 2, ambas para piano solo, dois Poemas para violino e orquestra, wna Sonat ina para flauta e viol o gravada nos EUA por Laur inda de Almeida, wn Quarteto Popular , tambm gravado em disco Colmbia, e o bailado Ncg-rinho do Pastoreio, baseado na histria de Simes Lopes Neto, ainda por estrear. Atualmente trabalha numa pea para cro e orquestra intitulada Umbanda.

    Eritre a msica para piano solo salientamos a Toccata (1944) virtuosstica e bitonal, as Valsas (a melhor das quais a 1:>'. e os Choros. j gravados em disco Sinter. As canes no apresentam intersse especial e, com exceo do exce-lente Azulo (1940), perdem significao comparadas. con-tribuio de Gnattali no setor orquestral. Escreveu ate o pre-sente momento treze canes: quatro em 1931 com sotaque sulista. seis em 1940141, nacionalistas tambm, mas sem re-gionalismo estreito.

    Os trs poemas de Augusto Meyer prometiam mu.ito., mas no chegaram a popularizar -se. Ressaltamos a excelencia do acompanhamento de Violo, a ~elicadeza e cr local da Ora o da Estrla Boieira e os curiosos efeitos da gaita na can-o do mesmo ttulo, que tell'. por tema o conhecido !11t~vo gacho Prenda Minha . Valonzou amda com harmomzaoes Casinha Pequenina, Prenda Minha, Morena, Moren_:i e Tayc-ras Foi muito feliz no comentr io do famoso Azulao de Ma nu~! Bandeira. No sabemos o que mais apropriado po_e sia, se a simplicidade quase banal de Ovale, se a rique~a n t-

    FIGURAS DA MSICA BRASILEIRA 55 mica e a melodia mais senti

  • 3JOS \' IEIRA BRA:\D \0

    Jos Vieira Brando. nascido em Cambuquira, l\lin:is Ge-rais, a 26 d~ .setembro _de 1911, fi11;ura de relvo no pano-rama da musica brasileira contempornea. Virtuoso do pia-no, composit'lr distinto e regente coral de larga experiincia, h anos vem tirmando sua reputao de artta consciencio-so. Filho espiritual e intrprete oficial de Vila Lbos, mais de uma vez foi obrigado a pr de lado a composio a fim de bem preparar o repertrio de concrto. No entanto, os anos v:lo pasAAndo, e cada dia que pasa ganh:i em esiatura artstica, podendo-se hoje falar no compositor Yieira Bran do, que tambm bom pianista, e nilo no pianista que tam-bm compositor ...

    N'o conjunto de sua obra destacam-se os lit'der, embora estejam em franco progresso a msica de cmara e o setor orquestral. No tem preocupao direta de fa1.er mica na-cionalista, que, no entanto, brota espontneamente aqui ou acol com muita facilidade. Sua obra pode ser di\;d1da em dois perodos: o primeiro, at 1947, peca pelo amadorismo tpico a tantos compositores brasileiros de certo renome. Em 1948. todavia. aps o regreso da segunda viagem aos Esta dos Unidos da Amrica, dedicou-se ao estudo e comp0si-o. Prosseguiu na srie dos liN!cr e tomou alento para obras de m:iior flego. dentre as quais um sedutor Quarteto de Cor das e uma surpreendrnte Sonata para ceio e piano. at a pera l\l;scaras que comentaremos mais adiante.

    Jos nasceu em Cambuquira e veio para o Rio i:iuito jo-vem ainda tentar a sorte na ento capital da Republica. Aos 16 anos dva o seu primeiro concrto como pianisttt na Es-cola Nacional de Msica e, no ano seguinte. compunha 8 sua Primeira cano (Sabi l\l:mnieira. de Alva~o l\Iorey~l e sua primeira obra para piano solo. uma sonatma. Tam em em 19?0 termina o curso de piano na classe do pr~rcssor

    -

    0 . o pren110 e Custdio Fernandes Gis, conqUJstando o pnmeir

    medalha de ouro.

  • 458 VASCO MARIZ

    No ano seguin te era nomeado para exercer interinamen. te a cadeira de professor de msica e canto em estabeleci-mentos de ensino profissional da Prefeitura do Distrito Fe-deral. Em 1930 realizou concertos nas cidades de veraneio de Minas e So Paulo , S dois anos depois comearia a sua nssociao com Vila Lbos, como membro do Orfcao de Pro. !essres, e que seria tC10 til aos dois artistas e tambm pa. ra a msica brasileira, aqui e no estrangeiro. No mesmo ano tomou parte ativa nas conferncias de interpretao e virtuo-sidade de Marguerite Long, na Escola Nacional de Msica e deu mais concer tos nas cidades termais. Em 1933 termino~ o curso de canto orfcnico com grande brilho e foi nomeado para o cargo de professor efetivo de canto orfenico nas es-colas primrias e secundrias da Prefeitura do Rio. F. hoje tcnico de educao do 1\1.inistrio da Educao e Cultura.

    O nome de Jos Vieira Brando comeou a projetar-se decididamente com a fundao do Madrigal Vox, em 1934, que dirigiu du rante muitos anos. ? primeiro conci!rto, _de-dicado a obras de Gallet, na Associaao Bras1le1ra de Musi-ca constituiu xito considervel. Na mesma temporada exer-ce fune~ de auxiliar direto de Vila Lbo_s nos espetculos de Serge Lirar, como ensaiador de coros e p1arusta, para n;_on. ta"em dos "ballets" Jurupari, Choros 10, Amazon~s e t:u-a. pt~ru do grande compositor carioca. No ano segum~c. tam-bm 'no Teatro Municipal, apresentou-se como solista. ~a Suite para piano e orquestra de Vila Lbos e da Ra11so~a Azul de Gershwin. Mencionaria ainda outras apresen~aoes no Paran Sergipe. Pernambuco e Paraba, com.o solista e professor oral. Em 1938 vemo-lo em Belo Honzon~ para dois concertos e j designado coordenador geral do cnsmo de canto orfenico no Rio de Jane1ro.

    O Compositor Vieira Brando s se apresentaria ~ pde d es Juc1ra biice carioca em 1939. com uma sene e-~ ;.,,.iu de in

    Albuquerque Lima foi a intrprete, e o cxtto se xiblu-se no centivo para mais trabalho. A 27 de novembro e . ,

    75 primeiro recital Vila Lbos._ tocando _e"? primeira r~~d~~~~as. peas do Guia Prtico, o Ciclo Bras1Je1ro e as. T mo mem Em 1940 viajava para a Argentina e o Uruguru, co Nos bro da Embaixada Artst ica dirigida por Vila L_1:i~o com anos seguintes apresentou-se diversas vzes em pu d car obras dsse compositor para, em 1943, .?exonerar-~ ~eme go que ocupava na P refeitura, ~r adm1t1do em fun lhante no Ministr io da Educaao.

    FIGURAS DA MOSICA BRASILEIRA 59

    Perodo lmPOrtante na vida de Jos Vieira Brando rol a sua permanncia nos Estados Unidos da Amrica de mar-o de 1945 a abril de 1946. Pde estudar e apre~iar o ex-traordinrio movimento musical daquele grande pais; am-plaram-se-lhc os horizontes; a!innouselhc a vocao para compor. Tinha 34 anos, nes

  • 560 VASCO MARIZ

    1953 dirigiu a concentra - .. res com a p~rt . _ ao civico-0rfenica de 2.500 escola-

    . 1c1paao de ba d 'J' Sinfnica BrasHeira. n as m1 1tares e da Orquei;tra Como compositor t

    auclito do se ' eve O prazer de assistir primeira Haych, de $- u ;1uatuor de cordas. em 1951, pelo Quarteto

    cialme~ ao aulo .. No ano seguinte se apresentava ori-trocniot~ co: l~m festival de obras suas, reali zado sob o pn-bro tit 1 ca em1a Brasileira de Msica, de que mcm-n . u _ar. Foram executadas onze peas para canto e pia-. o I'.. ( horo para quarteto de madeira

  • 6G2 VASCO MARIZ

    brasHiro. Agrada pela sua musicalidade sadia e mclod P

  • 764 VASCO MARIZ

    l'arfrase tle Ronsard (1962), tambm de Bandeira Sb poema do difcil comentrio musical, entusiasma m~no. rc n ois Amit. de Nelson Vaz 0963), brejeira e despretens5 ' e A tod d ta - d . tosa o o mrus e quaren canoos: ois ex1tos ind1scutvei excelentes poss1b1hda.des para outras peas de fatura m 5 .e sria. ais

    . Vicirn Bran~CO j~ tem se1;1 nome !irt?ado como compo. s1tor, embora nao seJa dos criadores mrus prohlicos. Este-ttcamente, parece.me numa encruzilhada, pois est alerta pa. ra as tendncias modernas e reconhece a superaflO e 0 es. gotamento de nacionalismo.

    E:-\TREATO OODECAF:-\ICO

    A teoria dos doze sons de Arnold Schoenberg, de tanta repercusso na msica contempornea, no ti\'era, prtica-mente, qualquer renexo no Brasil at 1937, data da chegada ao Rio de Janeiro de Hans-Joa.ch.lm Koollreuter. Vila Lbos adicionara sua prodigiosa inveno efeitos debusslstas e so-lidificara o senso rltmco com o Sacre du J'rintemps, de Stra-winsky. Mignone voltara da Europa disposto a aroi:ar o re-cm-adquirido estilo italiano moderno nwn nacionalismo que s dana frutos dez anos depois, na Fcsla das Igr~jas. Lo-renzo Fcrnndez, jovem ainda. preferia xitos !ceis luta pelos ideais artsticos de vanguarda. Camargo Guameri e R.adams Gnattall comeavam a aparecer .. , Mas nenhum usara os processos do compositor austriaco.

    Seriam hoje maiores esses compositores brasileiros? Cremos que no. A personalidade de cada um desenvolveu-se vontade. O jovem Vila Lbos, na sua incultura musical, em "ez de escrever peas tradicionais, seguiu uma !ra in tcrior que o impelia a produzir as obras que fizeram os cri ticos Borgongino e Guanabarino sapatear de raiva nos con-certos de novembro de 1915, no salo do "Jornal do Comr cio". Do mesmo modo Santoro. ao se aproximar de KoeUreu ter, j escre\ia em um idioma pessoal bem prximo de Schoenbcrg. No entanto, Vila Lbos e Santoro bem podiam ter comeado com valsinhas romnticas, como fizeram Mi gnone e tantos outros. Esta seria a evoluo natural. Ao contrrio, quando um temperamento singelo e romntico, co-mo o de Guerra Peixe, se deixou atrair por eitercicios tcnl cos da dodeca!onln, a mensagem quase sempre decaiu em sincericlndc e, portanto, em valor artlstico.

    A tcnlca dos doze sons abriu largos horizont

  • 866 VASCO MARIZ

    ainda, que at agora a teoria de Schoenberg ainda n-controu nenhum adt'pto genial que, empolgando as 0 en-c os cnt.cndlclos, a imponha definitivamente. O msi~ traco foi um chefe de escola, um grande compositor US-sem a cnve~gadura de um Wagner ou de um Debussy_' mas

    . se a !f!~S1ca de Koe~reuter, o mais das vz.es, nos dei.' Luls Heitor - "M1htca Viva", n.0 6, 194-0.

    FIGURAS DA MOSICA BRASILEIRA 67

    no Rio, na Bahia e em So Paulo, grupos de alunos que se dedicaram composio com entusiasmo. S audies anuais de msica orquestral e de cmara dos pupilos do mestre ger-mnico Coram esforos Isolados, a fim de que o msico inex-periente pudesse ouvir e aperfciOar seus trabalhos. Os m-todos de ensino foram tambm revolucionrios, baseados nos seguintes pontos: a) liberdade de expresso; b) desenvolvi-mento da personalidade; e> conhecimento de todos os pro-cessos de composio musical, e d) aquisio de um m~tirr que correspondesse s eidgncias da composio moderna, justificadas pela evoluo da expresso musical. Seguindo sses princlp!os, os clisclpulos de Koellreuter, baseados nas leis Imutveis da acstica e da esttica musical e antes de terminarem os cursos de harmonia, contraponto e ruga, de clicaram-se composio livre. Acreditava o professor que, com e~

  • 1CLAl."DIO SA:STORO

    Cludio Santoro nasceu em Manaus, Estado do Amazo. nas, a 23 de no\embro de 1919. De ascendncia italiana, do k"\do paterno, e francesa, do lado matemo, o garto, mw na-turalmente, se dedicou arte dos sons. estudando violino com afinco. To apreciveis foram os seus progressos, que as au-toridades do Estado natal resolveram conceder-lhe um estl-

    ~ndio. a fm de que se aperfeioasse no Rio de Janeiro. Contava treze anos de idade quando se transferiu para a ca-pital da Repblica.

    Hspede df' parentes bondosos, IO!!O se matriculou no Conservatrio do Msica do Distrito Federal. aperfeioando--se em violino sob a orientao de Edgard Guerra. Foram tambm seus professores Nadile Barros (harmonia) e Au-gusto Lopes Gonalves (matrias musicolgicas) . Aos 17 anos terminava o curso com aproveitamento to bom, que foi imcdlatamente escolhido para professor adjunto da ctedra de violino e. mais tarde, nomeado professor de harmonia su-perior.

    Os primeiros ensaios de composio datam de 1938. Es-'boQou ento um quarteto, uma sonata para violino e algumas peas para piano. que mereceram elogio de Francisco Bra-l(a. tava escrevendo a 1: Sinfonia. para duas orquestras de cordas. quando comeou a estudar com Hans-Joachim Kocllreuter. A tcnica dos doze sons ainda lhe era desconhe-cida: todavia. a disposio de suas obras deixava perceber acentuada inclinao. absolutamente espontnea. para aqu-lo mtodo de composio. A obra que acabamos de mencio-nar um espcime curioso, pois o primeiro movimento -elaborado sem a in!luncia de Koellreuter - revela uma in-quietao singular, decididamente moderna. enquanto que o segundo movimento j uma tentaf-a de aplicao do m-todo dodecafnico. A srie contm mais de um som repe-t Ido, mas o desenvol\'imento est bem integrado na tcnica

  • 270 VASCO MARIZ

    de Schoenberg. o movimento finlll prima pela considervel l1bt'rdade poh!rucn. . .

    Datam t.runbm de 1940 a Sonata para vtolmo sol~ e a l: Sonat.a para violino e plano, quo forma entre as pnme1-ras obras de Cludio Santoro dadas. ~ conhecer ao grnnd: publico. A crtica, refletindo o espmto d?S .conccrtgocrs, franziu a t.cst.a escandalizada. O mesmo pubhco e o~ m1>s mos comentar;tas que apuparam e agora apla~dc~ Vila L-bos Iniciavam um novo ciclo. Mas ,01temos as Sonatas e, em 'especial, escrita para violino solo. Este t~balho, ela-borado livremente mais ou menos dentro da tcnica dos do ze sons, granjeou ~o compositor o apoio de Curt Lnnge, o a.ti

    ~issimo cliretor do Instituto Interamencano de Musicologia, que editou a Sonata no ano imediato. A l.' Sonata para vio-lino e piano situa, porm, o seu autor mnis intimamente no seio do dodccafonismo. O segundo movimento bem re-presentativo, monotemtko; est disposto da seJ:l;nte ma-neira: tema !undamenl.al, Inverso, retrgrado do mverso e retrgrado do fundamental.

    Em 1941 escreveu o m~ico =onense a 2.' Sonat:i pa-ra violino e piano, a Sonata para flauta e piano, rii;:orosamen-te na tcnica dos do1e sons, o Di,ertimento para sete instru-mentos, tentativa inacabada para obter sonoridades e ritmos originais, e a Sinfonia de Cf1mara, com dois pianos, tambm incompleta e na trnfca dodecafnica. De 1942 snlientamos ainda a Sonatina a tn"'s. no,1clssica, os quatro t:pii;ramas. para flauta solo, e a Toccata. para piano solo.

    Na obra de Cludio Sanloro mister distinguir trs pe-rodos. O ano e meio de estudo com Koellreuter. de 1940 a meados de 1941, muito contribuiu para a cristalizao de seu estilo, orientando-o para a mtisica pura. Em 1943 sofreu, po-rm, sria transformao. De mtisico rigoro=ente abstra-to, pa-;sou a lrico. to subjetivo quanto possvel. Essa evolu-o levou-o a procurar maior simplicidade, maior aproxima o do ptiblico, maior construo formal, menos experincia, mais msica. Alis. a opiniiio de Charles llfnch s ~'iria a afirmar o novo estilo. Todavia, ao lado de

  • 372 VASCO MARIZ

    siderurgia nacional No an . do de recursos !i . 0 5egUJ.nl, achando-se ne . filho, decidiu ref~:f:l~OS, ror Ocasio do nascimento ~~S~ ao concurso instituido i~~a a obra menor, a !i1!1 de competir da qual fazia parte co . rquestra _S1nforuca Brasileira nas a id ia centr mo prune1ro v1ohno. Conservou a cientemen te. Na ~~r~!~nvo~vendo-a e instrumentando-a ~ to mais do que o de Mo~s~o;~bal~o d~ Santo_ro agrada mui-rulhento e melhor 0 t _mais mus1ca1, menos ba. imitaes das mqui~~~e! rado. . Sao realmente eficazes as liquido correndo ara o m m ovimento, a sugesto do ao ele uma Us ina de PA f s gigantescos caldeires. l mpressN> pblico em 1946 oi~ o1 pre~ada e; ao ser apresentada ao r a de u m b is "Fo v_e sensaciona l ex1to, merecendo a hon-certa noite, com;o~i~:ca vez que me vendi .. . ", d isse-nos,

    p reciso salien tar , todavia, que sse trabalho significa apen a-:' a ~presentao de Santoro ao grande pblico e 0 seu ?nme1ro ex1to popula r. Nada representa. porm no con Jun to da o?ra d o m sico de Manaus. Muito m ais mportan-

    ~ ~ a Mus1~a Con certante. para piano e orquestra, t ranspo.. s1ao do estilo das peas para piano solo para 0 terren o or questral. . Com pe-se de q uatro movimentos curtos, com a p rec1ve1s recursos de sonoridade, contraponto e pouca har-morua . A destacar tambm a Sona tina para obo e p iano de c onstruo slida, se bem que um p ouco cereb rina. '

    A 2 : Sinfonia, te rmina d a em novembro de 1945, uma das obras mais importantes d e Cludio Santo ro . Elaborada e m trs movimentos . tem p o r carter principal o emp rgo de grandes unssonos, formand o b locos p oderosos . e uma p oli-fo nia por vze s a trs vozes. Os d ois prim ei ros movimen-tos so m a is vivos do que o terceiro, bem mais simples. Sa. lientam o s ainda. neste ltimo movim ento, o es plndido c-n o n . iniciado p e los celos e reforado p elos fagotes. E rich Kleiber gos tou tanto dste trabalho, que solicitou ao au tor lhe reservasse a primeira audi o para rege r .

    E m 1946 Santo ro escreveu duas peas de rel vo: a srie de seis peas para piano solo, n o m esm o estilo e com a mes-ma exce len te sonoridade da prim eira srie, da tada de 194'3, e a Ms ica para Cordas. Alis, con vm ressaltar na Sonata para trompete e piano e no ad gio da Msica para Cordas carac teres nacionalistas . Na Sonata so ritmos bras ileiros, n o adgio, um sen timen to naconal diluido_, es pontne

  • 474 V ASCO MARIZ

    ~iente brasileiro . . tico do e . propiciaram crise dificuldad~~~rm.essa.no de Praga, sobre~~~'m ?,,.;~oque pou. to ceiras quase ~-~ poca de esr~d A ne-::essidade de' rever a estancou . proctuo de San.

    ar mais detidamente . sua maneira de escrever de nunca havia merecido gran~ musica_ folclrica brasileira, 'que apenas as obras terminadas e atenao sua, reduziram a duas no solo e N a Serra da Ma .em ~949150: a Batucada para Pia-q.ualquer significao no c~~qucira, para viol!no e piano, sem s1co. Nesse periocto tent Junto da produao do jovem m-ra marionetes, mas fico~ i~s;~:;;;fe;:;1 pera, Z Brasil, pa-

    O a.no de 1950 foi de recu - trabalhar na Radio Tu . peraao. Voltou ao Rio para fantiL Sua a - p1, .onde elaborava um programa in-isto ao des t:n~o prendia-se sobretudo instrumentao tro d , . eJo e encontrar um novo idioma musial den'. trans?~cionaI~mo. A Primeira obra depois dessa poca de m . - o anto de Amor c Paz - bem revela o trau a~ismo que lhe causou o regresso ao Brasil Usando 0~ meios que melhor maneja (a orquestra de cordas) Santoro impruruu a essa ~bra um .tom lancinante, de uma sinceridade que impre;;s.1ona J na pnmeira audio. Estamos diante da g:ande musica que raras vzes apareceu no Brasil. Todo 0 ruvel .da obra se mantm nas alturas, e os momentos finais entusiasmam pela serenidade grandiosa. evidente que ste trabalho tem programa poltico tambm, mas a lembrana que deixa no ouvinte me pareceu to elevada e universal, a ponto de esquecer aquele aspecto menos artistico. Canto de Amor e Paz foi premiado pelo Conselho Mundial da Paz e ~st gravado em disco Iongplay "Independncia". No dizer de Katchaturian, essa obra se assemelha a "uma grande can o em forma de sinfonia".

    Seguiram-se diversos trabalhos de alguma importncia, como a Sonata n. 3 para ceio e piano e a Sonata n. 4 para violino e piano, primeiras tentativas do autor em seu novo estilo nacionalista. So do mesmo ano vrias partituras pa-ra cinema e rdio, que lhe deram, em 1950 e 51, o ttulo de melhor compositor daquelas temporadas, escolhido pela As-sociao Brasileira de Crticos Teatrais. Outra obra de evo Juo o Concrto para violino e orquestra.

    J em 1951 chegamos ao i.o Concerto para piano e or-questra, tocado no Rio, em 1953, por Heitor Alimonda no Teatro Municipal. Trata-se de uma obra assaz importante, de cunho brasileiro, embora no seja o piano o campo em que San toro se move com maior desenvoltur.a. A_ orquestra-o agradou em cheio, embora tenha parecido tao diferen

    PIG'IJR.AS DA MOSICA BRASILEIRA 75

    te do que estvamos habituados a ouvir do compositor. Sem ser uma obra mest ra, ste co.ncrto merece outras audies e representa um ponto s1gni.f1cativo na evoluo de Cludio Santoro para a msica nacionaUsta. Da mesma poca so o "ballet" Anticocos, feito em colaborao com Silveira Sam-paio, stira contra os micrbios, e o Chro para saxofone e orquestra. O Chro. positivamente no me impressionou, pelo que tem de precioso e rebuscado: creio que o autor no tem afinidade com a atmosfera da msica rural carioca e rea-lizou algo indiscutivelmente brilhante e virtuoslstico mas a meu ver, sem a autenticidade desejvel. Referncia ' parti tura de Saci, elaborada para um filme infantil com o mesmo nome e posteriormente transformado em Suite para orques-tra ou "ballet". Foi premiada no Rio como a melhor msi ca para filme em 1954. Excelente contribuio nesse perio-do foi a srie das Paulistanas ( 1954) para piano solo e sete ao todo, num total de vinte minutos, que se popularizaram bastante.

    Da R.'\dio Tupi Cludio passou Rdio Clube do Bra-sil, como diretor, mas a querela politica entre Samuel Wa.i ner e Carlos La.cerda f-lo deixar essa emissora. Em 1953 visitava Moscou pela primeira vez, ma.is para tomar contacto do que para exibirse como compositor ou regente, o que s sucederia em dezembro do ano seguinte. quando se apresen tou com muito xito nos pases da chamada "cortina de fer ro" e privou com todas as sumidades musica.is daquela re-gio.

    So justamente de 1953 trs obras significativas para a msica brasileira: a 4: Sinfonia, com coros, o 3.0 Quarteto de Cordas e o Ponteio. tambm para orquestra de cordas. O primeiro dsses trabalhos tem grande envergadura e pode ser considerado como a sua obra-prima at agora. Pea de efeito considervel. dotada de coros manejados um pouco maneira de Prokofieff, impressionou sobremaneira na au-dio dirigida por Pablo Komlos, no Teatro Municipal do Rio, em dezembro de 1954. Creio n:o incorrer em rro ao filila corrente do Canto do Amor e Paz, tanto esttica quanto formalmente. pois que reconhecemos a mesma fra cria dora que impulsionou o msico amazonense. A 4." Sinfonia tampouco apresenta preocupaes nacionalistas. o que me faz supor certa persistncia de sua atitude esttica anti~. Renegara a teoria de Schoenberg, mas inconscientemente continuava alrgico ao simples aproveitamento de constn eia

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    mais represcntaUvas . no populrio naciona~~ Cludio. Santoro no so baseadas versa.is, com os quais se~ insp1.ram em temas gerais, uni. ~tuai parcco repousar na maior ~UUdade. Seu .idioma S::tntoro usa fr""' t construao da linha meldi vzcs _,, en emente temas lon 1 ca:

    , ' no Jh'\sso que Vila Lbos .gos, Ongussimos por margo Cuamieri se inclina hab. mrus um rapsdico e C1-

    A 5 .. . 1tualmente para as variae Smton1a ( 1955) t da s.

    i>ela orquestra do Teatr , ~~s r~a a 28 de maro de 1956 Que traduz ~mais com l~t urucipa~ do Rio de Janeiro, a ciOnalismo folclrico" Pse r~dlca_ao do compositor no na-sse critico considere-~ ~ o ~ires de Andrade. Embora luiio do compositor" cont. m f' U:U estac3: mestra na eva. ampla cone .- . '!mo 1e _smforua antenor, cuja dad . cpao esttica, riqueza de inspirao e grandiosi . - e n~ instrumentao a elevam ao primeiro plano da cria:

    .io nacional. verdade que ambas as sinfonias apresentam por vezes

  • 678 VAsco MARIZ

    RicorcU dcnt da da For r re ~ quais se destaca litder CO~ Pl"l.'lgao da Saudade e Ac~I A mor que Partiu Bala. e a avras f " anto da Rosa o ompositor r fllJ'lCCSas e sb . 1versos Infantis a 2. 3

    1ir:;am no catlogo. Re~:rre~ do prprio em canes de ro:zes Para cro misto e ~~ aos 60 corais

    Aps o . mas com temas do to mino, baseados Santo PenOdo de r eUr au r. , . ro teve intensa ah~~- 0 na f~nda paulista, Cludio

    '.1a,iou com freqncia ......,ao no meio musical brasileiro e ~!1vop e Variaes foi P~~~or. Em 19.59 _sua obrn Rcci :.io aulo; no ano se . pela Com1ssao Estadual de

    orquestra recebeu our'inte ~u Conci'rto n. 2 para piano e concurso nacional ins~~uf~crruo e .'-. 1'infonia venceu o para comemorar 8 .

    0 _pelo ?111rustri~ da Educao

    do Jri de concurso~llgtlraao da no"a capital. Fz parte de governos estrangeir~t

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    ~f: rfo~icular do professor Newton Pdua . aptrfcloa~~crvatrto Drasilciro de Msica m~do de-

    . cm contraponto, fuga e com . _o Rio, Para se q~~~~n~;.o;md~9~~d~:i0do Cludio s~~~ :~4;> C'Ont.ato com Ir J Koell rusmo, Guerra Peixe ent qua. ;~~deem ~~fsc m"uslcaJ r:~~;;t~~~ 0~~~~0 ~= a

    3pe0

    r~~~~ d urante o perodo ant~rto h anos de ti e ~ndt'ncla clssica, embora com mrelo~'la bcon:posto obras

    r .

  • 882 VASCO MARIZ

    saltam quase d" tam . 1me ia ente: estamos perante um l"

    vez por ii::iposio racial. H:i anos passa todo o mco. tal. nas. cstaoes ?e rdio, manejando orquestraes d~~~;:1p0 Pc1e, sem deixar-se cont.agiar pela doena do jazz Se es. se assemelha muito ao de Radams Gnattali com a di!u caso do qu t 1 ' ercna

    . e es e u limo, em certo perodo. foi siriamente infl c!ado. pelo. meio ambiente. Na realidade, custa a crer ue~(,uena Peixe, arranjador de sambas e baics. tenha escritoe ao mesmo tmpo, peas de um cerebralismo atroi:. ' . Sua obra, talvez por sua mltipla atividade. no dema.

    siado numerosa. Rasgou quase tudo que havia feito antes de .1~44 e ai?~ra anda com vontade de fazer o mesmo com a musica escrita durnnte o perodo dodecafnico. Violinista. seu forte a msic't de cmara. A paleta orquestral tambm o tentou diversas vzes, ao passo que a msica vocal pratica. mente no o interessou. :t um excelente instrumcmtador, um dos melhores que possui o Brasil. e s isso quase ba.~tou para impor a sua obra. Podemos dividir a sua produo em quatro perodos bem distintos: o primeiro. neoclssico com tintas nacionais, vai at 1944 e tem ~eu expoente mximo na Suite Jnrantil n.0 J para piano solo. A se1?Unda etapa, que nn realidade o fz conhecido. Sf'ria dodecafnica. Tal perodo n iio podia prolonl(ar-se por mais de dois anos e ~ produziu o l\loncto como obra importante e bem representativa dessa orientao. I!ermann Scherchen incluiu.o no seu repertrio e interpretou-o em dlver5os centros europeus. J em 1945 o autor niio podia conter o tempe1amento e a inspirafio. e CO meou a buscar um compromisso entre os ensinamentos de Koellreuter e as constncias nacionais que brotavam do seu talento. Aqui aparecem algumas do su-as obras mais apre-ciadas e que lhe i?ranjearam um lugar invejvel n~ nov_a ge~ rao de compositores brasileiros. Destacamos a Sinfonia n. J para pequena orquestra. executada pela BBC de Londres, o J . Oua rte to etc Corrias. publit"l!do po.r Curt Lan ge em Mon-tevidu. as Miniaturas para piano. editadas nos E !-J.A . . e~ Trio para flauta. clarinete e fagote. tambm publt~ado ~ Lnnge pm Mcndoza. Em 1949 chegou pre~ente .onenta~~'. nitidamente nacionalista. baseada na pesquisa direta e P . sonl do folclore bra.~ileiro. S 1?.ora comea.m . ser ~om~~s tadas pl'lO 1minde nhlico as nov1dadl'S mus1ca1s au;~i~enque pretende introduzir no terreno erudito. com o apa t to de seu livro e a Interpretao de suas obras recen es.

    d B sil" que "A carta aberta aos msicos e crit1cos o ra . _

    Camargo Guarnieri p u blicou em n ovembro de 1950, veio por

    F!Gl1RAS DA MOSICA BRASILEIRA 83

    0 dedo na chaga da orientao esttica da nova gerao mu scal. O aparecimento do grupo "Msica Viva" havia causado sensao nos meios musicais, que, de ccrtO modo, ansiavam por uma rcnovaao dos mtodos de aproveitamento do !ol-clorc ptrio. Clucllo Santoro e Guerra Peixe se destacaram como per encanto. sobretudo pela simptica pos'.10 de com-bate que a.

  • 184 V ASCO MARIZ

    ~~lico estaria . sendo en contrado agora por Santoro tou ao senahsmo mas sem a rigidez ex.irnda 1 ' que mestre. .,. Pe o antigo

    . Guer_ra Peixe, depois .do largo perodo no Recife, radi se em Sao Paulo, onde fez logo Ctegorizado crculo de CQu. gos. Retomou sua atividade rad.iofnica, sem todavia ~mi.

    ~w~r-se dos estudos folclricos e da composio. Regres:U t.epois ao Rio, dando preferncia ao setor popular, e nos l imos anos. pro~uziu pouco, dedicando-se orquestra como ~e~ente e v1olmista. So obras relativamen te recentes duas Smt.es par~ piano solo, uma nordestina e outra paulista, qua-torze canoes em trs grupos de Trovas popu lares capixabas

    a~al?oanas e paulistas (j publicadas) e as duas Suites Sin'. fon rcas e o Ponteado que m encionei antes. Ressalto finnl-

    me~te sua valiosa Sinforua Brasia (1960), talvez o trabalho mais maduro do compositor fluminense. Representa o apri. moramento de tda a sua arte de criador e de instrumenta dor, muna f eliz unio de mtier e inspirao, baseados em slida cultura musical.

    A contribuio de Guerra Peixe poder ser importants-sima para eventual renovao da corrente nacionalista, j to fatigada de repisar os m esmos estudos e pesquisas feitos h anos e de auten ticidade por vzes duvidosa. E speremos que supere ste perodo de desalento criador e defenda sua posio de compositor de vanguarda. O Brasil n o se pode dar ao luxo de desperdiar um talento como Guerra Peixe. Seu maior inimigo, porm, o prprio temperamento, inse-guro e descoruiado ao p0nto de fazEDINO KRIEGER

    A msica brasileira est em plena crise. No setor popu. lar, a jazzificao do samba e da marchinha vem causando

    estragos talvez irreparveis; na musica erudita a situao no menos sria, pois, pela primeira vez na histria das nossas atividades musicais, as duas ltimas geraes de composito-res nacionais foram exguas. Os poetas queixam-se de falta de intersse pela sua produo, mas somos ns os music-logos que desesperamos cliante da ausncia quase absolu ta de talentos musicais em um pais de perto de noventa milhes de habitantes. A gerao de 1940 j foi bastamo pobre: deu-nos apenas Cluclio Santoro, que se vai firmando pa11!atinamente aq11i e no estrangeiro, Guerra Peixe, excelente msico prejudicado por sua timidez, e Alceu Bocchino, re-gente e compositor interessante. Eunice Catunda foi uma promessa que, infelizmente, no se confirmou. Da gerao de 1950 no nos chegou muito mais: Edino Krieger, Mrio Tavares, Osvaldo Lacerda e Teodoro Nogueira, msicos ora na casa dos trinta, ainda por consagrar apesar de seu evi-dente talento. O primeiro dles, rapaz dotado de forte per-sonalidade e bom mtier de msico. indubitvelmente mere-ce o destaque que lhe desejo dar neste livro. Est bem orien-tado esteticamente, ao corrente do dernier cri europeu, um dos expoentes da !Jmdncia que advoga o encerramento defi nitivo do ciclo verde-amarelo na msica brasileira.

    Edino Krieger nasceu a 17 de maro de 1928 na pequena cidade de Brusque. em Santa Catarina. Seus pais so brasi leiros natos tambm. um de origem ltaloalem. outra de an-cestrais lusitanos. Desde jovem, o pai ensinou-lhe a tocar violino, e um concrto em Florianpolis. aos 14 anos de idade, valeu-lhe uma blsa de estudos concedida pelo Dr. Nereu Ramos, ento Governador do Estado. Em 1943 j estava no Rio. a praticar violino com Edith Reis, da Escola Lambert Ribeiro, no Conservatrio Brasileiro de Msica. No ano se-

  • 286 VASco MARIZ

    guinte abordou a com . -II. J. Koellrcuter. Posiao e matrias complementares com to Os Progressos do ra .

    que, em 1945 apena paz catarmense foram sensveis tan ~~~i:u!cto o Pr~io MJsf~amv~~o e pouco. de estudos, foi-Ih~ tinha apenas namorad a _pe!o Trio de Sopros. At

    a Partir dessa data a 0 ~;i1ca dos doze sons. mas, rcsUltactos prticos' fo~rnou ?ecididamentc essa teoria. Os do artista jamais tenh:n1 arumacto_res, embora a convico blsa de estudos do B k s~do perfeita; concorreu para uma uma firma de trato er 5 ire Music Center. patrocinada por Henry Cowell , res, e obteve o Prmio. Cilbert Chase viram de . . , Aaron Copland e Carleton Sprague Smith ser: para fia tJUl?.Cs: ~ as obras apresentadas foram Pea Lenta questr~ uda, ~ 'I no de cordas e o !\lo,imento 1\li~to para or-" e camara.

    . o. estgio nos Estados Unidos da Amrica teria conse-qlicnc1a..c; e_stticas considerveis. Sua conJiana limitada no d?ocafomsmo a_inda ficou mais abalada depois das aulas co-lct1vas com Danus Milhaud e das lies particulares com Aaron Copland. O que ali aprendeu como orqeustrao e composio lhe seria muito til, e registam-se ento as pri melras evases da camisa-de-fra dodecafnica: a Melopia para canto e con junto de cilmara e a Fantasia para orquestra completa. Daquele admirvel centro organizado por Kousse-vitsky foi para Nova York, onde tomou aulas de composio e violino com Peter Menin e W. Nowinsky. respectvamente. Frequentou a famosa Julliard School or Music e. em 1949, teve a honra de repres!'ntar essa academia no Symposium de Boston quando foi interpretada sua Msica de Cmara para flaut, trumpete, violin? e ti~pani: _A crtica. apesar d~ sua juventude e inexperincia. !01-lhe i:1tidamente favorvel_. uEdino Krieyer's quartet, though the p1ece was not_ lhe ~s1-est to grasp at first hearing, has never_theless ~~1stamed moo-rest partly because of unusual rhythm1c figure

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    a sua obra mais popul f .. tistas e de carte . ar, . requentemente tocada pelos flau C:tn nica para d~~mfi~~ss1orusta; seguiu-se-Ih~ uma S onatirui: para mod 1 _ tas, onde se nota decisiva tendncia do dodcc~aoes,