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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE – UNIVALE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FACS. CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM IMPLANTODONTIA Daniel Bruno Portuense BIOMECÂNICA DE IMPLANTES Governador Valadares 2009

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE – UNIVALE

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FACS.

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM IMPLANTODONTIA

Daniel Bruno Portuense

BIOMECÂNICA DE IMPLANTES

Governador Valadares

2009

DANIEL BRUNO PORTUENSE

BIOMECÂNICA DE IMPLANTES

Monografia apresentada ao curso de Especialização em Implantodontia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Vale do Rio Doce, como requisito para obtenção do título em especialista em Implantodontia. Orientador: Prof. Ms. Renato Álvares Cabral

Governador Valadares

2009

DANIEL BRUNO PORTUENSE

BIOMECÂNICA DE IMPLANTES

Monografia apresentada ao curso de Especialização em Implantodontia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Vale do Rio Doce, como requisito para obtenção do título em especialista em Implantodontia.

Governador Valadares, ____ de outubro de 2009.

Banca Examinadora

__________________________________________ Prof. Ms Renato Álvares Cabral Universidade Vale do Rio Doce

__________________________________________ Prof. convidado

Universidade Vale do Rio Doce

__________________________________________ Prof. convidado

Universidade Vale do Rio Doce

Dedico este trabalho primeiramente a Deus,

presença constante em minha vida.

Aos meus queridos pais José Portuense da Rocha

e Maria Martha Portuense, pelo amor;

A minha querida e amada esposa Ferrarine

Martins Ferrarez Portuense, pelo total apoio e

dedicação e, principalmente por estar sempre

presente nos momentos mais importantes da

minha vida.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela oportunidade e privilégio concedido em compartilhar tamanha

experiência junto aos demais colegas.

Aos meus pais José Portuense da Rocha e Maria Martha Portuense e, a toda minha

família por compreender meus momentos de ausência;

A minha esposa Ferrarine Martins Ferrarez Portuense, que sempre deu força para que eu

não desistisse de alcançar meus objetivos.

A todos os colegas e amigos, pelo incentivo e amizade;

A todos os Mestres do Curso de Especialização pelo apoio e amizade e, em especial ao

orientador deste estudo Prof. Ms.Renato Alvares Cabral, pela dedicação e compreensão.

"Leva tempo para alguém ser bem sucedido

porque o êxito não é mais do que a

recompensa natural pelo tempo gasto em fazer

algo direito".

Joseph Ross

6

RESUMO

O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão da literatura para verificar sobre as vantagens e desvantagens dos implantes de hexágono interno, através de uma visão biomecânica. Trata-se de um excelente produto para casos unitários e múltiplos. Como desvantagem, esta foi observada em relação à conexão tipo morse, com presença de perda óssea marginal, menor estabilidade dos tecidos gengivais, menor redução do gap com diminuição da possibilidade de invasão bacteriana na interface implante intermediário, pior estética, menor estabilidade mecânica da conexão protética. Entretanto, vantagens, desvantagens e a influencia biomecânica ainda devem ser melhor examinadas. Dessa forma, percebe-se que, para evitar falhas nas conexões, parâmetros clínicos e mecânicos são importantes para que obtenha-se uma melhor previsibilidade na distribuição dos implantes e na distribuição das cargas ao longo eixo axial controlado. O implantodontista deve sempre desenvolver um planejamento criterioso para cada caso, levando em consideração o sistema a ser utilizado, buscando refazer uma melhora na saúde, função e estética do paciente. Concluiu-se que as conexões de hexágono interno são clinicamente mais favoráveis nas próteses unitárias e parciais; O hexágono interno aumenta a resistência mecânica da união entre o implante e o pilar intermediário; Favorece o reabilitador a oferecer maior longevidade protética, biomecânica e redução do “stress” do parafuso de retenção do componente, uma vez que o componente protético se adapta dentro do implante a 2,6mm. Palavras- chave: Implante. hexágono interno. Biomecânica.

7

ABSTRACT

The aim of this study was to review the literature to check on the advantages and disadvantages of internal hexagon implants through a viewing biomechanics. This is an excellent product for individual and multiple cases. On the downside, this was observed in relation to the connection type Morse, with the presence of marginal bone loss, less stability of the gingival tissues, the smaller the gap reduction with decreased possibility of bacterial invasion in the implant interface intermediary worst aesthetics, lower mechanical stability of the connection prosthetic. However, advantages, disadvantages and impact biomechanics still must be better addressed. Thus, we see that, to avoid failures in the connections, clinical and mechanics are important to get to a better predictability in the distribution of implants and distribution of loading along axial controlled. The implantodontista should always develop a careful planning for each case, taking into account the system being used, trying to redo an improvement in health, function and aesthetics of the patient. It was concluded that the internal hexagon connections are clinically more favorable in the unit and partial dentures; The internal hexagon increases the mechanical strength of the union between the implant and the middle pillar, favors the rehabilitation to offer greater longevity prosthetic biomechanics and reduce stress "the screw component, since the prosthetic component fits within the implant to 2.6 mm. Keywords: Implant. inner hexagon. Biomechanics.

8

LISTA DE ABREVIATURAS

CM Cone Morse FF Força fratura FMD Força máxima de deformação GAP Espaço entre o intermediário-implante HI Hexágono interno MEV Microscópio eletrônico de varredura

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Energia superficial....................................................................................... 17

Figura 2 - Superfície Tratada........................................................................................ 18

Figura 3 - Superfície Lisa............................................................................................. 18

Figura 4 - Implantes Cônicos (lado esquerdo) e cilíndricos (direito).......................... 19

Figura 5 - Implante hexágono externo com pilar protético personalizável sob

carregamento oblíqua de 100 N.....................................................................................

21

Figura 6 - Implante hexágono externo com pilar protético personalizável sob

carregamento vertical de 100 N.....................................................................................

21

Figura 7 - Implante Cone Morse com pilar protético para prótese cimentada sob

carregamento vertical de 100 N.....................................................................................

21

Figura 8 - Implante Cone Morse com pilar protético para prótese cimentada sob

carregamento oblíquo de 100 N.....................................................................................

21

Figura 9 - Implantes 3i com diferentes diâmetros e corte apical (corte ICE) foram

criados para suprir as necessidades de repor dentes de diferentes anatomias................

23

Figura 10 - Direção da força x Resistência do osso cortical......................................... 26

Figura 11 - Distribuição de Von Mises equivalente ao estresse em torno de

implantes com diferentes diâmetros...............................................................................

27

Figura 12 - Distribuição de Von Mises equilavente ao estresse em torno de

implantes com diferentes comprimentos........................................................................

27

Figura 13a – Radiografia do implante antes da reabertura........................................... 29

Figura 13b – Radiografia da coroa cimentada.............................................................. 29

Figura 13c – Fotografia do conjunto de implante + coroa após a perda da

osseointegração..............................................................................................................

29

Figura 14 – Esquema mostrando os contatos oclusais primários ao longo eixo do

implante.........................................................................................................................

31

Figura 15a - Redução da mesa oclusal em prótese sobre implante na região

posterior (Coroas metalocerâmicas no modelo)............................................................

32

Figura 15b - Redução da mesa oclusal em prótese sobre implante na região

posterior (Radiografia mostrando implantes curtos e redução da mesa oclusal) Raio

10

– X.................................................................................................................................. 32

Figura 16 – Coroa sobre implante mandibular com apenas a cúspede vestibular

ocluindo na fossa antagonista........................................................................................

33

Figura 17 – Cúspede palatina superior ocluindo na fossa central da coroa

mandibular sobre o implante..........................................................................................

33

Figura 18 – Implantes 3i com diferentes desenhos (cilindros e cônicos) e

plataformas de assentamento (hexágono externo, Cone Morse e hexágono interno),

melhorando assim as resoluções cirúrgicas e Biomecânica das próteses......................

37

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Comprimento de implantes.......................................................................... 19

Tabela 2: Forma ou desenho do implante.................................................................... 20

12

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 13

2 REVISÃO DE LITERATURA....................................................................................

16

2.1 BIOMECÂNICA DOS IMPLANTES.......................................................................... 16

2.1.1 Design do Implante.................................................................................................. 16

2.1.1.1 Microestrutura....................................................................................................... 16

2.1.1.2 Macroestrutura...................................................................................................... 17

2.1.1.3 Considerações Protéticas..................................................................................... 19

2.1.1.4 Considerações oclusais em tratamento com implantes........................................ 24

2.1.1.5 Tipo de conexão..................................................................................................... 36

2.2 AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS IMPLANTES DE HEXÁGONO

INTERNO...........................................................................................................................

38

3 DISCUSSÃO..................................................................................................................

46

4 CONCLUSÃO...............................................................................................................

50

REFERÊNCIAS................................................................................................................

51

13

1 INTRODUÇÃO

Historicamente, a substituição destas estruturas dentárias tem sido um grande desafio

para os profissionais da área odontológica. É por isso que a cada dia o desenvolvimento de

novo material e novas técnicas vêm-se acentuando no universo odontológico (ADELL et al.

1981).

A consolidação da osseointegração como modalidade de tratamento, observada nas

pesquisas realizadas por, gerou a possibilidade de substituir as estruturas dentárias nos

pacientes totalmente edêntulos, melhorando as funções do sistema estomatognático e

conseqüentemente a qualidade de vida; mas possibilitou também que desdentados parciais

fossem reabilitados com a utilização de implantes osseointegrados. A osseointegração foi

definida como uma conexão direta, estrutural e funcional entre o osso vital organizado e a

superfície de um implante de titanio capaz de receber carga funcional (BRANEMARK et al.,

1985).

Os altos índices de sucesso clínico com implantes osseointegrados em pacientes total e

parcialmente edêntulos levaram ao desenvolvimento e à introdução de técnicas e componentes

protéticos para sua utilização em restaurações unitárias; e este tipo de restauração é

considerada uns dos maiores desafios da odontologia reabilitadora, pois além dos requisitos

técnicos e biomecânicos é necessária uma localização ideal do implante para que a

restauração acompanhe o contorno dentário e gengival dos dentes vizinhos e se obtenha uma

estética adequada (FRANCISCHONE e VASCONCELOS, 1998).

O frouxamento do parafuso que retém a prótese ao trazem muitos problemas

relacionados a este tipo de complicação traduzem-se como sobrecarga e danos aos implantes e

tecidos de suporte, além de maior tempo clínico consumido e altos custos. A freqüente

visualização destas complicações tem levado a procura de mecanismos que minimizem estes

problemas (PRIEST, 1999).

A biomecânica é uma das partes mais importantes, dentro do contexto prótese sobre

implantes, envolvendo resposta dos tecidos biológicos às cargas aplicadas, tanto na função

mastigatória normal como nas parafuncionais. Portanto é essencial ter um bom conhecimento

14

sobre biomecânica de implantes para que seja estabelecida uma estratégia de tratamento em

que as forças oclusais sejam dissipadas da melhor maneira possível (MENDONÇA, 2006).

Portanto é essencial ter um bom conhecimento sobre biomecânica de implantes para

que seja estabelecida uma estratégia de tratamento em que, as forças oclusais sejam dissipadas

da melhor maneira possível (BARBOZA et al., 2007).

A biomecânica é um novo espaço para pesquisa odontológica, com o desenvolvimento

dos implantes osseointegrados, utilizados em reabilitação oral. Estes dispositivos permitem

fixar, de forma definitiva ou permanente, os componentes protéticos e ortodônticos ao osso

maxilar e mandibular (BARBOZA et al., 2007).

Dentro das evoluções da Implantodontia a conexão de hexágono interno tornou-se

uma das mais significativas; seu dispositivo anti-rotacional de 3,0 mm, em média, propicia

maior facilidade de adaptação, maior área de contato, retenção friccional, gerando assim

maior proteção e passividade ao parafuso interno (ANDRÉ e AMARAL, 2007).

Do ponto de vista clínico, não há dúvidas de que a retenção interna leva vantagem sob

os outros tipos de retentores de prótese, destacando-se o hexágono interno que tem 3,2 mm de

profundidade, proporcionando assim, uma vantagem significativa da retenção interna sob o

ponto de vista protético, garantindo que o parafuso de retenção do abutment¹ não se solte

dando estabilidade às coroas, entretanto, falhas neste procedimento podem estar associadas a

fatores biomecânicos (BINON, 2000).

Assim, questiona-se: De um ponto de vista biomecânico, quais são as vantagens e

desvantagens dos implantes de hexágono interno?

Complicações causadas por carregamento oclusal podem influenciar o prognóstico das

reconstruções protéticas parciais e unitárias. A carga oclusal pode ultrapassar a capacidade de

tolerância mecânica e biológica das próteses ou dos implantes osseointegrados, causando

falhas mecânicas ou falha na osseointegração. Se isso ocorrer, a carga pode ser definida como

sobrecarga. O implante osseointegrado (anquilose funcional) tem contato direto com o osso,

isto é, ausência de ligamento periodontal, consequentemente, não existem receptores

periodontais, mas sim nociceptores ósseos (osseopercepção). Isso influencia a sensibilidade

táctil quando implantes orais são carregados oclusalmente, sendo redobrada ao longo do

tempo nas próteses implanto-suportadas. Complicações técnicas, como perda de algum

_____________________________________ ¹ Abutments são as porções do anel implantar qxaue provê suporte para uma prótese fixa, semi fixa ou removivel

15

componente da supra-estrutura (parafuso do abutment e/ou da prótese), que podem tornar-se

frouxos devido à flexão e/ou momento de força, são relativamente comuns em overdenture

(média de 3,5%), no período de cinco anos, e média de 48% para próteses parciais e/ou

unitárias (JAYME, 2002).

Estudos experimentais e clínicos indicaram que a perda óssea marginal pode estar

associada com sobrecarga oclusal, principalmente em áreas de qualidade óssea pobre. Tem

sido sugerido que implantes com superfícies rugosas podem ter um risco reduzido de falhas

por sobrecarga devido ao aumento da área de superfície de osseointegração, apesar da falta de

existência de estudos prospectivos demonstrando a direta relação entre estresse oclusal

(sobrecarga) e perda da osseointegração dos implantes orais (JAYME, 2002).

No planejamento das próteses unitárias, parciais e/ou múltiplas, deve-se optar primeiro

em escolher o tipo de sistema de retenção ideal que melhor se adapte à situação clínica, como

fator decisivo de sucesso a longo prazo.

Considerando que para a obtenção da resposta adequada dos implantes dentários

quando são utilizadas numa variedade crescente de situações clínicas, condições dos aspectos

biomecânicos do conjunto prótese-implante-osso são necessárias, e as vantagens,

desvantagens e a influencia biomecânica ainda devem ser melhor examinadas. Dessa forma,

para que seja possível evitar falhas nas conexões, parâmetros clínicos e mecânicos são

importantes para que se obtenha uma melhor previsibilidade na distribuição dos implantes e

na distribuição das cargas ao longo eixo axial controlado.

Diante deste contexto, este estudo tem por objetivo, através de uma revisão de

literatura, descrever as vantagens e desvantagens dos implantes de hexágono interno, por

meio de uma visão biomecânica.

16

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 BIOMECÂNICA DOS IMPLANTES

Hall 1993, conceitua Biomecânica como o estudo da estrutura e da função dos

sistemas biológicos por meio de métodos da mecânica.

Segundo Sykaras et al. (2000), a grande variedade e constante evolução dos implantes,

impulsionada pelas descobertas científicas e estudos de investigação, refletem as tentativas de

incorporar com sucesso uma estrutura artificial dentro de um sistema biológico. Os

conhecimentos celulares moleculares e biomecânicos são essenciais para a otimização da

osseointegração.

Ainda de acordo com os mesmos autores, os implantes devem ser cuidadosamente

selecionados, observando-se, tanto a qualidade e quantidade óssea, bem como a biomecânica

(comprimento, tensão, diâmetro, textura).

O sucesso das próteses dentárias, suportadas por implantes osseointegrados, depende

de um equilíbrio dinâmico, entre os aspectos mecânicos e biológicos e, tem despertado

necessidades de novos sistemas de inserção (NARY FILHO, 2007).

2.1.1 Design do Implante

O design do implante tem demonstrado ser fundamental para o aumento das taxas e

sucesso dos implantes. O critério design pode ser dividido em 5 parâmetros (INOUE et

al.,1987):

17

2.1.1.1 Microestrutura

Composição química: material do qual é confeccionado o implante. Em um estudo

comparativo entre titanio, tântalo, hidroxiapatita e cerâmica, o titanio obteve o melhor

resultado, porque apresentou uma biocompatibilidade semelhante aos melhores materiais,

além de um custo de produção menor, baixa condutividade, maior facilidade de fabricação,

excelente estabilidade estrutural junto aos biofluidos e, principalmente, domínio da técnica de

confecção do parafuso por vários fabricantes em todo o mundo, com histórico de sucesso

comprovado há mais de 40 anos (INOUE et al.,1987).

Energia superficial: Influencia diretamente a capacidade de um líquido em se

esparramar sobre uma determinada superfície (molhabilidade) (Fig. 1). E essa superfície

precisa apresentar energia superficial compatível com biofluido (INOUE et al.,1987).

Figura 1 - Energia superficial: de 1 a 4 a superfície possui mais molheabilidade

Fonte: (INOUE et al., 1987).

Rugosidade: Variação do grau de aspereza de uma superfície. A rugosidade

superficial é o fator de maior importância na estruturação das propriedades superficiais dos

implantes, já que a interação do biomaterial (metal) com os biofluidos e o tecido, parece ser

18

fortemente afetada por diferenças nas superfícies de um mesmo material, quando as

superfícies são diferentemente tratadas. É consenso que a superfície tratada seja a de primeira

escolha para os ossos tipos 1, 2, 3 e 4, e que a estabilidade secundária do implante com

superfície tratada (Fig. 2) seja superior ao implante de superfície lisa (Fig. 3) (INOUE et al.,

1987).

Fonte: (INOUE et al., 1987).

Entre os diferentes tratamentos de superfície, os mais conhecidos são: duplo ataque

ácido, plasma spray, ionização e jateamento com óxido de alumínio. A superfície rugosa

melhora significativamente a adesão celular e consequentemente a osteogênese de contato,

com um contato ósseo maior nos primeiros meses. O desenho do implante influencia na

obtenção da estabilidade inicial, enquanto o tratamento de superfície influencia na

estabilidade secundária (TARNOW et al., 2003).

Os tratamentos de superfícies podem otimizar os processos biológicos iniciais do

fenômeno da osseointegração, o qual Davies (1999) denominou de osteogênese de contato,

diferindo da osteogênese a distância que ocorre nos implantes de superfície lisa ou

“maquinada” (TARNOW et al., 2003).

Qualidade e disponibilidade óssea definem em último caso o tipo de implante a ser

usado. Tipos ósseos, I, II, III, IV². Em ossos tipos I e II, podem-se usar implantes sem

superfície tratada. Contudo em ossos tipos III e IV, implantes revestidos tem uma

performance melhor (EL ASKARY, 2004).

Figura 2 - Superfície Tratada

Figura 3 - Superfície Lisa

_________________________________________ ² Osso tipo I é formado por osso compacto homogêneo. Tipo II apresenta uma camada de osso compacto envolvendo osso trabecular denso. Tipo III apresenta uma camada espessa de osso cortical envolvendo osso trabecular denso. Tipo IV apresenta uma camada fina de osso cortical envolvendo um osso trabecular de pouca densidade.

19

A distribuição mecânica das tensões ocorre primariamente onde o osso está em contato

com o implante. Os espaços medulares amplos ou as zonas de tecido fibroso não organizado

não permitem a dissipação das forças nem os aumentos fisiológicos controlados na densidade

do osso de suporte (VIDIGAL JR., 2007).

A densidade óssea na qual o implante é colocado influencia diretamente a magnitude e

o caráter do implante-osso. Trabéculas ósseas espaçadas frequentemente encontradas na

porção posterior da maxila oferecem menores áreas de contato osso-implante do que um osso

altamente compacto mineralizado como constantemente encontrado na região anterior da

mandíbula, na sínfise mentoniana. Quanto menor for a área óssea em contato com o implante,

maior será a tensão. Implantes com tratamento de superfície aumentam a área de superfícies.

Carga progressiva altera a quantidade e a qualidade do contato osso-implante, e melhora o

mecanismo do sistema de suporte total (VIDIGAL JR., 2007).

Potencial químico: É a capacidade que a superfície do implante tem em interferir

quimicamente no processo de osseointegração, sinalizando para que os osteoblastos cresçam

em sua direção. É consensual que uma superfície com excelente potencial químico melhore a

estabilidade secundária do implante (INOUE et al., 1987).

2.1.1.2 Macroestrutura

Comprimento: É a distância entre o ápice do implante e a plataforma protética em

linha reta (seguir orientação do fabricante). Algumas conclusões baseadas em estatística estão

expressas na Tabela 1 abaixo. Os implantes curtos apresentam uma relação coroa-implante

desfavorável, um maior risco de perda e, em média, necessitam de um maior tempo para a

ativação (INOUE et al., 1987).

Curto: 7 à 9 mm Relação

coroa-implante

Risco

Tempo de

ativação

Médio: 10 à 12 mm Relação

coroa-implante

Risco

Tempo de

ativação

Longo: 1 à 18 mm Relação

coroa-implante

Risco

Tempo de

ativação

Tabela 1 - Comprimento de implantes - Fonte: INOUE et al. (1987).

20

Vários tamanhos de implantes podem ser encontrados no mercado, variando entre 7

mm e 20 mm. Porém, seu uso está condicionado à altura óssea remanescente. O sucesso a

longo prazo dos implantes depende da quantidade óssea existente entre osso-implante, e que é

proporcional ao comprimento e superfície dos implantes (tratamento de superfície) e à

quantidade e qualidade ósseas disponíveis. Por outro lado, as falhas podem aumentar à

medida que a ancoragem óssea diminui. Portanto, não é recomendável colocar implantes

curtos onde a estrutura óssea permite implantes mais longos (EL ASKARY, MEFFERT e

GRIFFIN, 1999 a; 1999 b).

A literatura relata um melhor resultado na utilização dos implantes osseointegrados

quando o maior contato possível entre a área total da superfície do implante e o osso alveolar

é alcançado, por isso há a procura por implantes maiores tanto em comprimento quanto em

diâmetro (LEE et al., 2006).

Forma ou desenho do implante: Foram apresentadas diversas formas de implantes,

mas apenas duas (cilíndrica e cônica) foram analisadas por terem sido utilizadas em mais de

90% dos casos em Implantodontia. Na maioria dos casos, o implante cônico tem um tempo de

fresagem menor que o cilíndrico e pode ser instalado em osso de menor espessura devido à

capacidade de auto expansão. Consegue-se melhor estabilidade em osso de baixa densidade e,

consequentemente, uma estabilidade inicial maior (Tabela 2) (INOUE et al., 1987).

Cônico Densidade

Óssea

Tempo

de Fresagem

Ancoragem

Primária

Espessura

óssea

Cilíndrico Densidade

Óssea

Tempo

de Fresagem

Tempo de

ativação

Espessura

óssea

Tabela 2 - Forma ou desenho do implante Fonte: INOUE et al. (1987).

No inicio da década de 2000 surgiram os implantes cônicos, indicados para áreas

anatômicas com pouco osso e espaços pequenos, impossíveis de serem reabilitadas com os

implantes cilindros. Esses implantes perderam em área de superfície de contato com o tecido

21

ósseo, mas ganharam em estabilidade primaria e facilidade de inserção (Fig. 4). O desenho do

implante influencia na obtenção da estabilidade inicial, enquanto o tratamento de superfície

influencia na estabilidade secundária. (BRANEMÄRK et al., 1969; DAVIES 1999;

TARNOW et al., 2003).

Figura 4: Implantes Cônicos (lado esquerdo) e cilíndricos (direito) Fonte: Fonte: Cunha (2005).

O macrodesenho, formato do implante, representa importante parâmetro na

previsibilidade do desempenho mecânico do tratamento. Os implantes do tipo hexágono

externo apresentam uma concentração de tensões no pescoço do implante próximo à

plataforma de assentamento, conforme figuras 5 e 6. Já a distribuição do estresse no implante

Cone Morse ocorre de modo distinto ao hexágono externo, como pode ser observado nas

Figuras 7 e 8. (BRANEMARK et al., 1969; DAVIES, 1999; TARNOW et al., 2003).

22

Figura 5: Implante hexágono externo com pilar protético personalizável sob carregamento oblíqua de 100 N. Nota-se pico de estresse na região do pescoço do implante, resultado de simulação pelo método dos elementos finitos tridimensionais.

Figura 6: Implante hexágono externo com pilar protético personalizável sob carregamento vertical de 100 N. Nota-se pico de estresse na região do pescoço do implante, resultado de simulação pelo método dos elementos finitos tridimensionais.

Figura 7: Implante Cone Morse com pilar protético para prótese cimentada sob carregamento vertical de 100 N; distribuição de tensões distinta em relação à Figura 6 (hexágono externo), elementos finitos tridimensionais.

Figura 8: Implante Cone Morse com pilar protético para prótese cimentada sob carregamento oblíquo de 100 N; distribuição de tensões distinta em relação à Figura 5 (hexágono externo), elementos finitos tridimensionais.

Fonte: Cunha (2005).

Diâmetro: No início da década de 1990 os implantes tiveram modificações no

diâmetro, pois havia necessidade de reposição dos dentes com diferentes desenhos

anatômicos. Foi nesse momento em que foram criados os implantes de calibres estreitos e

largos (Fig. 9). Ao mesmo tempo as roscas externas dos implantes passaram de roscas não

cortantes para cortantes, facilitando a inserção e diminuindo o tempo de inserção e trauma

cirúrgico (TARNOW et al., 2003).

23

São consideradas as seguintes medidas: Pequena - 3,25 a 3,8 mm de diâmetro; Média -

4,0 a 4,5 mm de diâmetro; Grande - 4,8 a 6.0 mm de diâmetro (CUNHA, 2005).

Figura 9: Implantes 3i com diferentes diâmetros e corte apical (corte ICE) foram criados para suprir as necessidades de repor dentes de diferentes anatomias. Fonte: TARNOW et al. (2003).

O diâmetro do implante deve ser relacionado ao diâmetro da raiz perdida no nível da

emergência óssea e não no da junção cemento-esmalte, que é um pouco maior (ASKARY,

2004). Implantes com diâmetros menores tendem a se fraturarem mais que os implantes de

largo diâmetro, principalmente quando colocados em regiões posteriores, onde as cargas

oclusais são maiores. Implantes de 5 mm, são três vezes mais resistentes que implantes de

3,75 mm e implantes de 6 mm, chegam a ter até 6 vezes mais resistência que os implantes de

3,75 mm. Outra vantagem dos implantes de largo diâmetro é que são biomecanicamente mais

apropriados para substituição dos dentes posteriores, além de ampliarem a área de superfície

de contato osso/implante (GREEN et al., 2002).

Um dos fatores que contribuem tanto para o sucesso quanto para falhas dos implantes

é o seu diâmetro, que deve estar diretamente relacionado com: a espessura óssea disponível, o

espaço entre dentes vizinhos, a necessidade estética, a análise de carga e o estresse requerido

24

(tipo de dente e oclusão). Quando usa-se implantes de largo diâmetro em estrutura óssea

estreita, restando menos de 1 mm de espessura das tábuas ósseas vestibulares ou linguais,

pode-se ter deiscência óssea, em função da precária irrigação ali existente ou por estresse,

após a conclusão dos trabalhos protéticos (COULTHARD et al., 2003).

A área de superfície funcional de um implante está diretamente relacionada às

dimensões desses implantes. A área de superfície de um implante pode também ser

aumentada pelo tamanho do implante (CAÚLA, BARBOZA e MACHADO, 2008).

2.1.1.3 Considerações protéticas

Embora os princípios básicos de oclusão devam ser aplicados ao paciente,

independente do tipo de prótese a ser confeccionada, as próteses colocadas sobre implantes

osseointegrados devem ser analisadas com cautela, pois existe uma diferença biomecânica

entre dente natural e implante que deve ser observada. Nos dentes naturais a mastigação

produz uma força de compressão que, devido ao ligamento periodontal, é transformada em

tração, sendo benéfica ao sistema, uma vez que esta tração ajuda na osteogênese. Sabe-se que

forças de compressão são deletérias ao periodonto. Nas próteses sobre implantes as forças

oclusais são transmitidas diretamente ao osso alveolar, continuando como força de

compressão pela ausência do ligamento periodontal (HOBO, ICHIDA e GARCIA, 1991;

GARTNER et al., 2000).

A biomecânica das próteses implanto-suportadas é um sistema complexo. A resposta

biomecânica às cargas aplicadas durante a função ou até mesmo durante a parafunção é

dependente de vários fatores, tais como: propriedades mecânicas e morfológicas do osso,

tipos de implantes, componentes, peça protética, dentes e das propriedades dessas interfaces.

Assim, o número, tamanho e forma dos implantes; a localização dos implantes em relação ao

osso e outras estruturas de suporte; a qualidade do osso; o esquema oclusal; a distribuição dos

implantes ao longo da arcada; a escolha dos componentes e o nível de retenção das próteses

aos pilares e o desenho da prótese, são fundamentais na análise da biomecânica dessas

25

próteses implanto-suportadas e, consequentemente, no prognóstico das mesmas

(MCALARNEY e STAVROPOULOS, 1996).

Implantes mal posicionados: Frente a um processo alveolar com reabsorção intensa,

resta ao cirurgião somente três opções: a) Fazer um enxerto prévio, para posterior colocação

dos implantes na posição adequada; b) Instalar os implantes em uma posição mais angulada;

c) Usar abutments angulados, para alcançar o alinhamento desejado tanto no que se refere ao

arco antagonista quanto com relação aos dentes vizinhos. O enxerto prévio, realizado com o

intuito de otimizar a posição ideal dos implantes e evitar cargas não axiais, é o recomendado

(RENOUARD e RANGERT, 2001).

Quando as cargas são dirigidas em direção lateral, o estresse é transmitido diretamente

para a crista óssea. Quando esta angulação for maior que 25°, certamente o implante falhará,

principalmente nos casos de dentes unitários posteriores, onde as forças oclusais são maiores

(WATANABE et al., 2002).

Segundo Green et al. (2002), implantes colocados em regiões posteriores, tanto de

mandíbula quanto maxila, tem maior predisposição a fraturas, principalmente na região de

primeiro molar inferior, em função de sobrecarga oclusal. Nesta área, além da excessiva carga

axial, há também forças dirigidas lateralmente, em função dos movimentos mandibulares.

Portanto, um bom posicionamento do implante nessa fase pode reduzir os riscos de fraturas,

além de minimizar a reabsorção óssea ao redor dos implantes.

Quanto maior for a angulação da direção da força em relação ao longo eixo do

implante, menor será a resistência do osso cortical: O componente primário da força oclusal

deve estar o mais próximo possível do longo eixo do implante e não angulado ou paralelo a

uma conexão angulada, o que certamente transmitirá um momento de força significativo tanto

para o ápice do implante quanto para as regiões cervicais, proporcional ao seu ângulo de

inclinação (Fig. 10, 11 e 12) (MISCH e BIDEZ, 1994).

26

Figura 10 - Direção da força x Resistência do osso cortical Fonte: (MISCH e BIDEZ, 1994).

27

Figura 11 - Distribuição de Von Mises equivalente ao estresse em torno de implantes com diferentes diâmetros. O vermelho representa a região de tensão máxima em torno do pescoço do implante. A: Modelo computadorizado de implantes com diâmetro de 2,9 mm. B: Modelo computadorizado de implantes com diâmetro de 6,5 mm. A Área de tensão máxima é mais ampla com implantes com diâmetro de 2,9 mm. Os Valores de tensão máxima nas respectivas escalas são maiores para B. Fonte: Cunha (2005).

Figura 12 - Distribuição de Von Mises equilavente ao estresse em torno de implantes com diferentes comprimentos. A: modelo computadorizado calculado por FEA de implantes com comprimento de 8 mm. B: Modelo computadorizado de implante com comprimento de 17 mm e 3,6 mm de diâmetro. Tem-se a mesma visão que a figura (12). O vermelho representa o local onde atua-se a tensão máxima. Existe uma pequena diferença na área afetada pelo estresse máximo com implantes curtos (A) e implantes longos (B). OBS: os valores são semelhantes no intervalo. Fonte: Cunha (2005).

28

Número de implantes: Por meio do enceramento de diagnóstico, obtém-se a extensão

protética da região a ser reabilitada com implantes e quantos elementos protéticos (dentes)

serão utilizados na reabilitação. É consenso entre a maioria dos autores de que um número

maior de implantes para um determinado espaço protético, suportaria melhor as cargas

mastigatórias dissipando no osso, o estresse de forma mais efetiva. Todavia, espaços muito

próximos entre implantes podem levar a comprometimentos biológicos, em função do

superaquecimento e pouca vascularização do remanescente ósseo entre implantes, além da

dificuldade de higiene após a construção da prótese (COULTHARD et al., 2003).

Na necessidade de colocar implantes curtos e/ou conexões pré-anguladas, é

aconselhável planejar implantes adicionais para diminuir as tensões e a magnitude das

deformações nas interfaces. O número de pônticos deve ser reduzido e o número de suportes

aumentado, sempre que as forças são aumentadas em comparação a um plano de tratamento

ideal (MISCH e BIDEZ, 1994).

Implantes unidos a dentes naturais: A união de elementos de uma prótese sobre

implantes a dentes naturais é um fator de risco, uma vez que os dentes apresentam mobilidade

dez vezes maior que os implantes. A percepção oclusal em dentes naturais é em torno de 20

μm, já em união dente-implante, a percepção de detectar uma interferência gira em torno de

40 μm. E quando a oclusão ocorre apenas entre implantes, a percepção das interferências são

de aproximadamente 64 μm. Portanto, a união dente-implante deve ser bem analisada

(CARDOSO e GONÇALVES, 2002; FRANCISCONE, et al., 2002).

Extensões protéticas (Cantilevers): Em qualquer situação clínica, uma extensão

protética (cantilever) aumenta os riscos de uma sobrecarga sobre os implantes. Sempre que

possível, deve-se abrir mão de extensões protéticas. Porém, quando sua utilização se fizer

necessária, deverão ficar para mesial aos implantes colocados. Nos casos de protocolo

inferior, em que os cantilevers são obrigatórios e paradistal, estes deverão ter a menor

extensão possível (FRANCISCONE, et al., 2002).

Altura excessiva da restauração: Quando a altura do complexo pilar-coroa é

exagerada o braço de alavanca de força para o implante é maior. Caso aumentem-se as forças

laterais, aumentam-se os riscos de fratura de parafusos e componentes ou mesmo a perda da

osseointegração poderá acontecer (Figs. 13a, 14b e 14c). Portanto, torna-se imprescindível um

alívio nas excursões laterais (RENOUARD e RANGERT, 2001).

29

Figura 13a – Radiografia do implante antes da reabertura

Figura 13b – Radiografia da coroa cimentada

Figura 13c – Fotografia do conjunto de implante + coroa após a perda da

osseointegração

Fonte – ASHLEY et al. (2003)

A altura da coroa tem uma influencia muito grande na quantidade de forças

distribuídas no sistema prótese-implante, principalmente na presença de cantilever e forças

30

laterais. Quanto maior a coroa, maior o momento da força principalmente sob forças laterais

(VIDIGAL JR., 2007).

O aumento da coroa pode multiplicar essa tensão rapidamente. Para cada 1 µm de

aumento de coroa, uma força pode aumentar em 20%. A altura da coroa é medida a partir do

plano oclusal até a crista óssea. Se a perda óssea ocorrer ao redor de um implante, a altura da

coroa será aumentada, assim como a proporção coroa-implante. Considerações sobre a técnica

de regeneração óssea guiada devem ser discutidas na fase de planejamento como solução

clínica (VIDIGAL JR., 2007).

2.1.1.4 Considerações oclusais em tratamento com implantes

As forças que atuam sobre o implante são denominadas de grandezas vetoriais, isto é,

possuem magnitude e direção, e são basicamente de tração, compressão e cisalhamento. São

forças tridimensionais com componentes direcionados ao longo de um ou mais eixos (MISCH

e BIDEZ, 1994).

A análise tridimensional tem demonstrado que quase toda tensão ocorre na porção

mais coronária do implante e do osso. A mesma magnitude de força pode ter efeitos

drasticamente diferentes sobre a interface osso-implante, apenas devido à mudança na direção

de aplicação da carga (MISCH e BIDEZ, 1994).

As forças oclusais em próteses sobre implantes agem em dois locais específicos: bic –

interface osso-implante – e interface abutment-implante. Diferente da resposta de

amortecimento do ligamento periodontal - presente nos dentes naturais – os implantes

apresentam respostas distintas frente à presença de um trauma oclusal: ausência de hiperemia,

de dor e de sinais radiográficos imediatos e quando presentes, as alterações ósseas são de

caráter irreversível (RENOUARD e RANGERT, 2001; FRANCISCONE, et al., 2002).

Um ajuste oclusal criterioso é indispensável nas reabilitações com implantes,

principalmente nos casos de pacientes portadores de disfunção articular ou hábitos

parafuncionais, onde as cargas oclusais indesejáveis estão presentes. Caso a parafunção não

seja diagnosticada, interceptada e tratada adequadamente, poderão ocorrer complicações, tais

31

como fratura de: componentes protéticos, de material de cobertura, supraestruturas metálicas e

do próprio implante, além da possibilidade de perda da osseointegração. O problema pode ser

atenuado com ajustes e balanceamento oclusal, ou ainda, com uso de placas de mordida. Para

amenizar os riscos, a prótese implanto-suportada deve ser planejada da seguinte forma:

contato oclusal na fossa central, baixa inclinação das cúspides e tamanho reduzido da

plataforma oclusal (conexão externa) (Figs. 14; 15a e 15b) (ASHLEY et al., 2003).

Figura 14 – Esquema mostrando os contatos oclusais primários ao longo eixo do implante. O deslocamento deste contato primário para as cúspides de contenção cêntrica promoverá o desenvolvimento da força-movimento.

Fonte – ASHLEY et al. (2003).

32

Figura 15a - Redução da mesa oclusal em prótese sobre implante na região posterior (Coroas metalocerâmicas no modelo).

Figura 15b - Redução da mesa oclusal em prótese sobre implante na região posterior (Radiografia mostrando implantes curtos e redução da mesa oclusal) Raio –X.

Fonte - ASHLEY et al. (2003)

Leung et al. (2001) demonstraram severa reabsorção óssea ao redor de dois implantes,

tipo Bränemark de 3,3mm de diâmetro, duas semanas após a instalação das coroas na região

de segundo pré-molar e primeiro molar. Após a redução das mesas oclusais o defeito ósseo ao

redor dos implantes, correspondente a 4 e 7 roscas respectivamente, regenerou-se

completamente.

Em overdentures e prótese tipo protocolo, a oclusão deve ser muito bem distribuída

(força mastigatória sobre todos os implantes) e os cantilevers, segundo Spiekermann et al.

(2000) teriam 20 mm para a mandíbula e 10 mm para maxila.

33

Spiekerman et al. (2000) preconizaram que, quando o implante na mandíbula for

posicionado mais para vestibular a coroa deve apenas ter uma cúspide vestibular, ocluindo

contra a fossa central do superior (Fig. 16). Numa outra situação, se o implante ficar

posicionado mais para lingual, a cúspide palatina do dente superior deve ocluir na fossa

central da coroa sobre implante (Fig. 17).

Figura 16 – Coroa sobre implante mandibular com apenas a cúspide vestibular ocluindo na fossa antagonista - Gráfico adaptado de Misch (2005).

Figura 17 – Cúspide palatina superior ocluindo na fossa central da coroa mandibular sobre o implante - Gráfico adaptado de Misch (2005).

Fonte - Spiekerman et al. (2000)

34

Hobo et al. (1991) resumiram o conceito de oclusão para próteses sobre implantes da

seguinte maneira:

a) Em próteses extensas sobre implantes, onde um esquema de oclusão tem

que ser empregado, a oclusão mutuamente protegida com desoclusão dos

dentes posteriores em movimentos excursivos é a melhor opção.

b) Nas próteses totais, tipo sobredentadura sobre dois implantes, deve-se usar

a oclusão balanceada bilateral. Entretanto, como os dentes anteriores estão

retidos pelos abutments nos implantes e os posteriores apoiados na

mucosa, o conceito de desoclusão posterior também pode ser usado.

c) Quando o canino é substituído por uma prótese sobre implante, a

desoclusão pode ser feita pelo canino e lateral, sendo o lateral um dente

natural.

Jimenez-Lopes (1995) estabeleceu alguns critérios sobre oclusão em próteses sobre

implantes quando da utilização de dois estágios cirúrgicos muito semelhantes aos propostos

por Hobo et al. (1991):

a) Reabilitação fixa ou removível com antagonista em dentes naturais: é

recomendado a oclusão de proteção mútua, com desoclusão dos dentes posteriores nos

movimentos excursivos. Em máxima intercuspidação os contatos nos dentes posteriores

devem ser mais fortes que nos anteriores, protegendo-os das cargas mastigatórias.

b) Reabilitação fixa ou removível em dentes naturais contra uma prótese fixa ou

removível sobreimplantes: recomenda-se também a oclusão de proteção mútua, porque,

assim, elimina-se qualquer possibilidade de contato posterior em movimentos de lateralidade.

Em casos de próteses removíveis é importante que a sela acrílica esteja bem adaptada para

uma boa estabilidade e retenção. Nos movimentos excursivos a resiliência da fibromucosa

evita sobrecargas nos implantes. No caso de se usar uma oclusão balanceada bilateral é muito

difícil diferenciar os contatos fisiológicos daqueles que se comportam como interferências.

Portanto, a oclusão mutualmente protegida é a mais fisiológica para o sistema mastigatório,

tanto para prótese sobre dentes naturais quanto para próteses sobre implantes. A existência da

35

guia anterior evita desgaste dos dentes posteriores e auxilia na manutenção dos músculos

elevadores em repouso, não sobrecarregando o sistema.

c) Reabilitação fixa ou removível sobreimplantes com prótese total convencional

como antagonista: esta talvez seja a única situação onde a oclusão balanceada bilateral é

recomendada. Entretanto, durante a mastigação o bolo alimentar separa as superfícies oclusais

e a oclusão em balanceio é anulada. Contudo, com alimentos mais pastosos e macios, os

dentes acabam se tocando e, principalmente, durante hábitos parafuncionais, a oclusão

balanceada bilateral proporciona uma maior estabilidade das próteses totais.

d) Oclusão em implantes unitários: dentes unitários sobre implantes na região

posterior devem ser deixados sem contato oclusal. Quando os dentes naturais adjacentes

entram em contato na função mastigatória, sofrem uma pequena intrusão fazendo com que a

prótese sobre implante também entre em contato. É aconselhável colocar dois implantes na

região molar para suportar a coroa protética. Na região anterior a prótese unitária sobre

implante participa do guia anterior, desocluindo os dentes posteriores no movimento

protrusivo.

Num trabalho, Jimenez-Lopes (2005) estabeleceu alguns critérios de oclusão quando

se coloca implantes com carga imediata. O autor enumerou-os da seguinte forma:

a) Oclusão em prótese unitária sobreimplantes com carga imediata: no caso de

dente unitário na região anterior e pré-molares, deve ser colocado um dente provisório com

função puramente estética, sem contato com o antagonista. Quando da colocação do dente

definitivo em porcelana, o contato será feito em máxima intercuspidação, evitando contato

nos movimentos de lateralidade. No caso de pré-molares superiores com carga imediata,

aconselha-se que o provisório seja confeccionado com uma forma de canino, evitando a

cúspide palatina.

c) Próteses fixas posteriores sobreimplantes com carga imediata: deve-se manter

contatos mais fortes nos dentes naturais e bem suaves na prótese sobre implantes, com a

intensidade diminuindo de pré-molares para molares. Na prótese definitiva em

metalocerâmica, os contatos devem ser idênticos aos dentes naturais nos casos em que a

prótese sobre implantes restabelece todo um quadrante. Assim, deve-se promover uma

desoclusão dos dentes posteriores nos movimentos excursivos.

36

d) Protocolo superior ou inferior sobreimplantes com carga imediata: quando se

coloca de quatro a seis implantes na região anterior com reabilitação fixa, a oclusão é muito

importante e deve ser estabelecida com a máxima intercuspidação dos dentes coincidente com

a relação cêntrica (ótima posição condilar). O esquema oclusal deve ser de proteção mútua,

com uma dimensão vertical de oclusão que permite um espaço funcional livre de

aproximadamente 3 mm. Também é importante observar os quesitos de estética e fonética

durante a prova dos dentes que, juntamente com a oclusão, formam a tríade para o sucesso da

prótese.

e) Reabilitação fixa superior e inferior sobreimplantes com carga imediata: são

raras as ocasiões em que se faz simultaneamente o protocolo em ambas as arcadas, com carga

imediata dupla. O protocolo superior é mais sensível devido à qualidade óssea; um osso mais

esponjoso e difícil de se conseguir uma estabilidade primária suficiente para carga imediata.

O ideal seria uma carga imediata superior tendo como antagonista uma prótese total, pelo

menos nos quatro primeiros meses. É aconselhável também, nestes primeiros meses, que o

paciente remova a prótese antagonista ao dormir. No caso excepcional de se fazer dois

protocolos simultaneamente é preferível a adoção da Escala de Proteção Mútua, evitando

contatos dos dentes posteriores nos movimentos de lateralidade. Ao se fazer a prótese

definitiva numa situação de reabilitação superior e inferior em porcelana, é aconselhável fazer

uma placa de proteção noturna para estes pacientes, pois podem ocorrer eventos de

parafunção ao longo da vida do paciente e, desta forma, é interessante proteger a prótese sobre

implantes de sobrecargas ou parafunções.

2.1.1.5 Tipo de conexão

Outro desafio é melhorar a retenção protética, principalmente para reabilitações

unitárias onde há uma exigência de torção maior da prótese. Surgiram, então, no final da

década de 90 e inicio dos anos 2000, os implantes com hexágono interno, Cone Morse (esse

tipo de retenção alguns sistemas já apresentavam há mais tempo). Nesse momento as próteses

passaram a ter menos problemas com desrosqueamento (Fig. 18) (CUNHA, 2005).

37

Figura 18 - Implantes 3i com diferentes desenhos (cilindros e cônicos) e plataformas de assentamento (hexágono externo, Cone Morse e hexágono interno), melhorando assim as resoluções cirúrgicas e Biomecânica das próteses. Implantes com hexágono interno melhoraram a retenção das próteses, diminuindo falhas nas mesmas. Fonte: Cunha (2005).

Em análise realizada dos três tipos de conexões foram verificadas as vantagens e

desvantagens que cada uma oferece (INOUE et al., 1987).

Conexão externa: primeira a ser utilizada, apresentou maior número de opções

protéticas e o maior número de profissionais com o domínio da técnica. Porém, sua melhor

indicação seria para os casos de próteses múltiplas, incluindo os protocolos de carga imediata.

Quando bem utilizada pode-se realizar todo tipo de tratamento, com um custo inferior das

demais conexões (INOUE et al., 1987).

Conexão interna: esta opção apresenta um excelente resultado para os casos de

prótese unitária parafusada ou cimentada, mas também, pode ser utilizada em próteses

múltiplas, com bom paralelismo ou utilizando intermediários semelhantes aos do hexágono

externo (INOUE et al., 1987).

Cone Morse: uma das alternativas de conexão que tem como ponto forte as próteses

unitárias cimentadas, porque após o torque o componente protético dificilmente afrouxará.

Apresenta, porém, menos soluções protéticas, um custo relativamente maior e um menor

domínio da técnica por parte dos profissionais. Indicação principal para as próteses

cimentadas unitárias posteriores. É fato que a perda óssea ao redor da plataforma protética não

38

está relacionada apenas com o gap (espaço entre intermediário- implante), mas

principalmente com a diminuição do intermediário em relação ao implante, proporcionando

um ganho de espessura gengival nessa região, levando a um aumento das defesas naturais

(INOUE et al.,1987).

Diante deste contexto, neste estudo serão analisadas as vantagens e desvantagens das

conexões dos implantes com hexágono interno.

2.2 AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS IMPLANTES DE HEXÁGONO

INTERNO

Nizinick (1991) denominou a conexão implante/pilar como a chave do sucesso

protético. Segundo o autor, o sistema Screw Vent introduzido desde 1986 com um desenho de

hexágono interno combina um bisel interno de 1,7mm de profundidade com roscas internas

abaixo deste bisel, que aceita pilares do tipo cimentados e rosqueados. Em sistemas com este

tipo de conexão a interdigitação dos hexágonos é um fator para obter uma conexão estável e

uma precisão na transferência, porém variações na fabricação podem resultar em 0,1mm de

espaço entre as partes. Esse problema foi resolvido nos sistemas Spectra e o Swede-Vent pela

conformação de uma conexão cônica dos hexágonos, o que permite uma interdigitação com

rotação zero e uma adaptação friccional que aumenta a estabilidade durante a função. Para

esse autor a vantagem de utilizar uma conexão de hexágono interno é o aumento da

resistência, a qual reduz a possibilidade de complicações como afrouxamento ou fraturas dos

parafusos. O centro de fixação do parafuso que é unido às paredes do implante é protegido

pelo 1,7mm de hexágono do pilar. Dessa forma, forças laterais são transmitidas diretamente

às paredes do implante devido ao comprimento e ao íntimo contato dos hexágonos; a

diferença dos pilares segmentados unidos à conexão de hexágono externo, onde as forças

laterais são transmitidas ao parafuso de retenção, no ponto em que este entra no implante,

assim como no ombro do implante, pode provocar afrouxamento ou fratura deste parafuso.

Balfour e O’Brien (1995) em um estudo comparativo entre diferentes implantes e seus

pilares para restaurações unitárias concluíram que os implantes com hexágono interno,

39

apresentam maior grau de estabilidade, atribuído ao maior comprimento do abutment na

região de conexão e ao 1º grau de convergência das paredes internas.

Binon (1996) desenvolveu 5 grupos de implantes com 10 intermediários por cada e a

diferença entre os grupos se deu na dimensão do hexágono interno. Foram criados

intermediários com dimensões crescentes do hexágono, objetivando determinar a influencia

da liberdade rotacional entre o hexágono do intermediário e o hexágono do implante na

estabilidade do parafuso protético. Os intermediários foram presos aos implantes com um

torque de 30 Ncm nos parafusos. As amostras foram fixadas na máquina de ensaio, onde se

aplicou uma carga de 133 N a uma frequência de 1150 ciclos por minuto, até a falha da

conexão determinada pelo afrouxamento do parafuso. Os resultados mostraram que quanto

menor a liberdade rotacional, mais resistente é a conexão e menor é a probabilidade de

afrouxamento dos parafusos. O autor concluiu que a presença do hexágono aumenta de forma

significativa a resistência ao afrouxamento dos parafusos e que a diminuição do desajuste

rotacional tornou a conexão mais rígida e mais resistente ao afrouxamento.

Arvidson et al. (1998) constataram que o implante do sistema hexágono interno, o

hexágono para posicionamento da prótese fica abaixo da plataforma protética, não permitindo

ao profissional a visualização do posicionamento do implante de forma direta durante o

procedimento cirúrgico. Essa verificação é feita através da chave de instalação que possui

marcação sincronizada com o hexágono do implante. Nessa configuração de implante não é

necessária à utilização de montador, pois a própria chave de transporte do implante para o

alvéolo cirúrgico também faz a inserção do mesmo, diminuindo assim o tempo cirúrgico e a

possibilidade de contaminação do implante.

Binon (2000) afirmou que sob o ponto de vista clínico, o hexágono interno leva

vantagem sob os outros tipos de retentores de prótese. Em próteses parciais e unitárias essa

interface e seu parafuso estão mais expostos a diversos tipos de cargas, sendo os braços de

alavanca e as forças laterais, as mais danosas. Nestes casos, o poder de retenção friccional do

hexágono interno de aproximadamente quatro vezes maior, faz com que esse problema não

ocorra, evitando assim, o afrouxamento do parafuso e a consequente remoção das próteses

para o seu reaperto. Concluiu que há uma vantagem significativa da retenção interna sob o

ponto de vista protético, garantindo que o parafuso de retenção do abutment não se solte

dando estabilidade às coroas.

40

Costa (2001) realizou um estudo para mostrar que implantes e elementos protéticos

devem evoluir conjutamente, para que se obtenha o máximo de aproveitamento biomecânico

da prótese sobre implantes dentro da reabilitação oral. O autor acredita que os pilares

protéticos considerados de última geração são aqueles que: a) são inseridos no implante por

fricção, garantindo retenção e estabilidade horizontal e vertical; b) por si só permaneçam em

posição sem o auxílio de parafusos; c) possuam um dispositivo antirotacional especialmente

importantes nos caso unitários, dispensando o agente cimentante e parafusos para

embricamento mecânico. Assim sendo, concluiu que o design interno do implante

osseointegrado, deve permitir estas características biomêcanicas dos pilares devendo possuir

na sua porção cervical um hexágono interno: a) suficientemente alto e largo, permitindo

segurança em relação a possíveis movimentos horizontais e verticais, além da característica

antirotacional, permitindo que a peça protética tenha um padrão biomecânico ótimo quando

colocada em função; b) de paredes praticamente paralelas, o que permite que os pilares

possuam um hexágono externo extremamente semelhante em dimensões ao hexágono interno

do implante, tipo encaixe macho-fêmea, possibilitando a fricção entre ambos. c) que permita

um assentamento passivo com adaptação horizontal e vertical perfeitos, sem solução de

continuidade entre implante e componente protético.

Através de análise não linear pelo método do elemento finito bidimensional, Húngaro

(2002) analisou a distribuição das tensões internas e nas estruturas de suporte, em dois

sistemas diferentes de implantes: o primeiro implante com 3,75 mm de diâmetro, cilíndrico,

rosqueável, com hexágono externo na conexão com seu pilar intermediário, da Nobel

Biocare®; o segundo implante com 3,80 mm de diâmetro, cônico escalonado, rosqueável,

com hexágono interno em sua conexão com seu pilar intermediário, da Friadent®. Sobre

ambos foram confeccionadas coroas protéticas com mesmas dimensões, e sobrepostos à

mesma condição óssea, utilizando-se uma imagem radiográfica de um modelo da região

posterior de mandíbula. Foi aplicada uma carga axial de 100 N, dividida em dois pontos com

50 N cada, na cúspide vestibular nas seguintes condições: (1) implante osseointegrado de 3,75

mm e coroa; (2) implante osseointegrado de 3,80 mm e coroa. As observações foram

realizadas nas regiões referentes aos tecidos de suporte, coroa protética e componentes dos

sistemas dos implantes. Os resultados mostraram que existiu maior tensão no pescoço do

parafuso de titanio que prendeu o pilar intermediário, para o sistema de hexágono externo. A

concentração de tensões foi elevada no pescoço do parafuso de ouro que suportou a coroa

protética, para o conjunto com hexágono externo. Nos componentes do sistema com

41

hexágono interno, as tensões foram menores comparativamente. Junto ao tecido ósseo a

distribuição das tensões geradas pelos dois sistemas se procedeu de maneira similar.

Kharaisat et al. (2002) concluíram que tanto em relação à resistência á fratura e

desaperto do parafuso de fixação, os hexágonos externos tem maior índice de problemas em

relação aos hexágonos internos. Uma vez que a falha mecânica tende a ocorrer no parafuso de

fixação, se este não quebra ou solta, a força é transmitida toda para o tecido ósseo. Acrescenta

ainda que hexágonos externos tem maior índice de problemas, que ficam restritos ao parafuso

de fixação, que pode ser substituído, conferindo vantagens ao hexágono externo.

Lorenzoni et al. (2002) relataram o índice de sucesso de 12 implantes com hexágono

interno, do tipo usinado, com superfície jateada com areia e atacada com ácido da marca

Frialit-2 Synchro, submetidos à carga imediata, 12 meses após sua colocação na região

ântero-posterior de nove pacientes, baseados na estabilidade clínica, avaliada pelo aparelho

Perio-test, e na mudança no nível ósseo coronário do implante, após 12 meses. Todos os

implantes foram inseridos com um torque final entre 32 N/cm2 a 45 N/cm2 e foram

restaurados com coroas provisórias cimentadas, prevenindo qualquer contato cêntrico e

excêntrico e evitar qualquer pressão exercida pela língua. Foi confeccionada uma placa

oclusal para ser usada durante as oito semanas seguintes à inserção dos implantes, em tempo

integral. Entre o 4º e o 6º mês foram confeccionadas as próteses definitivas. Foram feitos

controles mensais para observar a estabilidade clínica. A mudança do nível coronal pelo

exame radiográfico mostrou no 6º e 12º mês uma alteração média de 0,45mm ± 0,66mm e

0,75mm ± 0,5mm, respectivamente. O valor do Perio-test no 6º mês após a inserção foi -2,

com um mínimo de -5 e uma máxima de +2, para os implantes submetidos à carga imediata,

valores esses similares para implantes de dois estágios cirúrgicos publicados na literatura.

Uma das poucas complicações que ocorreram foi a perda da coroa provisória ou da

restauração final. Nenhum dos implantes falhou no período de um ano.

Butkevica-Zvaigzne et al. (2003) avaliaram, por meio de um estudo in vitro com

simulação de carga mastigatória, o torque necessário para remoção dos parafusos de retenção

das próteses. Implantes do tipo hexágono externo, hexágono interno e Cone Morse receberam

pilares protéticos aos quais foram aplicados torques iniciais em seus parafusos de retenção.

Foram então medidos os torques de remoção imediatos. Depois disso, foram submetidos a

ciclos de carga e novamente avaliados os torques de remoção dos parafusos de retenção.

Concluiu-se que os implantes de conexão Cone Morse tiveram um aumento em seu torque

42

para remoção após os ciclos de carga, enquanto os implantes de hexágono externo e interno

tiveram uma redução progressiva em seus torques. Dessa forma fica evidenciada a maior

estabilidade das próteses confeccionadas sobre os implantes Cone Morse.

Dibart et al. (2005) realizaram um estudo in vitro avaliando o selamento bacteriano da

interface implante-abutment nos implantes com conexão Cone Morse. Foi concluído que o

selamento promovido pelo sistema de conexão do tipo Cone Morse foi suficientemente

hermético para impedir a invasão bacteriana in vitro. Segundo os autores, em implantes que

apresentam gap na interface implante-pilar protético como hexágono externo e interno, a

infiltração bacteriana pode causar inflamação dos tecidos periimplantares e perda óssea

marginal. Dessa forma é importante minimizar a presença bacteriana no interior e na junção

implante/abutment.

Nery (2005) esclarece que as conexões podem ser internas e externas, no entanto, as

internas se destacaram, e dentro destas, o Cone Morse por tratar-se de uma conexão

impermeável que proporciona um melhor contato, quase que uma superfície única entre o

intermediário e o implante, por isso deve ser de primeira escolha para a reposição de dentes

unitários. Vários são os seus benefícios tais como: melhor distribuição e transmissão da força

ao longo do implante com o tecido ósseo, redução do gap com diminuição da possibilidade de

invasão bacteriana na interface implante intermediário, ausência do afrouxamento de

parafusos e maior praticidade de encaixe nos momentos de moldagem.

Bernardes et al. (2006) analisaram a distribuição de tensões sobre implantes da mesma

forma externa, diferindo apenas nas junções, hexágono externo e hexágono interno. Estas

peças foram inseridas em modelos fotoelásticos e submetidas a duas cargas compressivas:

axial e deslocada 6,5 mm do centro. Foram analisados 61 pontos sobre o corpo do implante,

nos quais os valores de tensões cisalhantes máxima foram determinados. Concluiu que

quando sujeito a uma força axial as junções analisadas não apresentam diferenças para a

distribuição de tensão ao redor dos implantes, porém para o carregamento excêntrico os

implantes de hexágono interno apresentaram os melhores resultados e os hexágonos externos,

os piores.

Soares et al., (2006) esclareceram que o implante do sistema hexágono interno

apresenta como ponto forte sua alta resistência mecânica. Possui uma grande variedade de

componentes protéticos facilitando a escolha da solução adequada para cada caso. Outra

43

grande vantagem é o fato de não possuir montador sendo que o transporte e a instalação do

implante são feitos pelo mesmo modelo de chave. Esse modelo confere maior resistência ao

torque durante o procedimento de inserção do implante no alvéolo cirúrgico, os autores

afirmam que elas também aumentam a estabilidade.

Drago e O‘Connor (2006) realizaram estudo clínico em 45 pacientes desdentados

parciais tratados com 83 implantes (Osseotite Certaina). A reabilitação protética foi instalada

após oito semanas, e estas foram confeccionadas individualmente. E em seguida, foi realizado

acompanhamento de 1, 6, 12, 24 e 36 meses após a instalação da prótese. Durante todo esse

período apenas um implante pareceu sem estabilidade enquanto que todos os demais se

encontraram osseiontegrados em 18 semanas. Eles ressaltaram a eficiência da conexão interna

no sucesso das reabilitações.

De acordo com Coppedê (2007) as conexões em Cone Morse foram desenvolvidas

para melhorar as propriedades biomecânicas e reduzir os problemas mecânicos encontrados

nos sistemas de hexágono externo e interno. O autor apresentou os resultados de dois estudos

que investigaram as propriedades biomecânicas da conexão implante/pilar protético em

implantes do sistema Cone Morse. A proposta do primeiro estudo foi avaliar o efeito do

carregamento mecânico na perda de torque de pilares protéticos do sistema Cone Morse, e o

efeito de ciclos sucessivos de inserção/remoção no torque de remoção destes pilares. 69

implantes cônicos foram utilizados. Todos os resultados foram significativamente diferentes.

A comparação do número de ciclos mostrou que, com o aumento do número de ciclos de

inserção/remoção, houve uma tendência de aumento na perda de torque, para todos os tipos de

pilares e grupos. Concluiu-se que o carregamento mecânico aumentou o torque de remoção

dos pilares carregados em comparação a pilares não-carregados, e que os valores dos torques

de remoção decaíram conforme o número de ciclos de inserção/remoção aumentou. O

objetivo do segundo estudo foi verificar se as diferenças estruturais entre os sistemas de

implantes com conexão em hexágono internos e em Cone Morse influenciam sua resistência à

fratura. Vinte implantes cônicos com dimensões de 4,4mm de diâmetro por 13 mm de

comprimento foram utilizados: 10 com conexão em hexágono interno (HI) e 10 com conexão

em Cone Morse (CM) de 11,5°. Vinte pilares foram utilizados, 10 para os implantes HI (com

um parafuso trespassante de fixação), e 10 para os implantes CM (sólidos). Os testes foram

realizados em uma máquina universal de ensaios, com uma célula de carga de 500 kgf,

deslocamento de 1mm/min, numa inclinação de 45° a força máxima de deformação (FMD) e

44

a força de fratura (FF) foram analisadas. As informações coletadas foram analisados com um

teste paramétrico (teste "t" de Student, p ≤ 0,05). A média da FMD para os implantes CM

[90.58 (6.72) kgf] foi estatisticamente superior à média da FMD para os implantes HI [83.73

(4.94) kgf] (p=0.0182). A média da FF para os implantes HI foi 79.86 (4.77) kgf. Nenhum dos

implantes CM fraturou. Por meio de microscopia óptica, verificou-se que as fraturas nos

implantes HI sempre ocorreram no parafuso de fixação. Embora os implantes CM não tenham

fraturado, eles sofreram deformações permanentes em sua plataforma e no pilar protético. É

possível concluir que o desenho sólido dos pilares CM proporciona maior resistência à

deformação e à fratura em comparação aos pilares HI.

Segundo Oliveira (2007) o sucesso da restauração protética suportada por implantes

osseointegrados e a saúde dos tecidos circundantes estão intimamente relacionados à precisão

e adaptação dos componentes, a estabilidade da interface implante/pilar, assim como à

resistência desta interface quando submetida a cargas durante a função mastigatória. A

restauração unitária é biomecanicamente mais complicada quando se trata da substituição de

elementos dentários nas áreas de pré-molares e molares, devido às forças oclusais serem

maiores nestas áreas, podendo levar a elevados níveis de tensão. Foi realizado um trabalho

com o objetivo de rever todos os aspectos diretamente ligados aos sistemas de implantes

osseointegraveis com conexões protéticas do tipo hexágono externo, interno e Cone Morse,

apontando suas vantagens e desvantagens, enunciando seus índices de sucesso. A utilização

de sistemas de implantes com conexão protética Cone Morse tem sido cada vez mais estudada

e será, sem dúvida, a mais utilizada na implantodontia futura em regiões sem prioridade

estética, uma vez que demonstra índices de previsibilidade e sucesso superiores a 90%. Esse

sistema apresenta vantagens cirúrgicas e protéticas significativas sobre outros sistemas

convencionais (hexágonos externos e internos), principalmente em elementos unitários, além

de apresentar qualidades biológicas, clínicas e biomecânicas superiores, por causa da

eliminação da emenda (gap) entre implante e componente protético, não havendo

comunicação do interior do implante com o meio externo. Com esse sistema há também a

ausência do risco de afrouxamento do parafuso protético, que em conexão como o Cone

Morse para realizar o destorque necessita de 7% a 24% a mais da força de torque, portanto

estes fatores são primordiais para um alto índice de sucesso e longevidade das peças

protéticas e uma maior previsibilidade de manutenção das condições periimplantares.

45

Lanza e Lanza (2008) enfatizaram que as complicações relacionadas aos fatores

mecânicos, tal como perda e/ou afrouxamento dos parafusos, estão diretamente relacionadas

com a interface abutment/implante, pela criação de micromovimentos entre as duas

superfícies quando carga extrema é aplicada. As fixações com implante de hexágono interno

apresentam uma maior e melhor distribuição de forças que implantes de hexágono externo.

Perda ou afrouxamento de parafuso podem resultar em deslocamento da prótese, causando

perda de função. Isso ocorre mais frequentemente nas restaurações unitárias parafusadas em

regiões posteriores em implantes de hexágono externo. Conclui-se que conexões de hexágono

interno são clinicamente mais favoráveis nas próteses unitárias e parciais.

Bergamim et al. (2009) avaliaram e quantificaram o grau de liberdade rotacional na

interface implantes/componentes protéticos usinados, em implantes com hexágono interno de

diferentes sistemas, com aplicação de torque controlado. Foram utilizados 75 conjuntos de

amostras (implantes de hexágono interno, pilares protéticos preparáveis com altura gengival

de 2 mm, com seu respectivo parafuso de retenção) de cinco marcas comerciais (Frialit, 3i,

Conexão, SIN e Neodent). As dimensões das amostras de implantes variaram entre 4,0 mm a

4,5 mm de diâmetro externo por 13 mm de comprimento. Utilizou-se um dispositivo para

avaliação da liberdade rotacional e um microscópio eletrônico de varredura (MEV) para

verificação da integridade física das paredes internas dos hexágonos envolvidos, antes e após

aplicação de torque controlado. Com as médias obtidas aplicamos os testes estatísticos com

Anova e Tukey (p<0,05). Na análise ao MEV obteve-se registro de deformações tanto na

parede interna do hexágono (deformações tipo arranhões), como também nos ângulos

externos dos pilares protéticos (deformações tipo amassamento dos ângulos). Todos os grupos

apresentaram média de desajuste rotacional inferior a 5º, indicando adequada estabilidade das

conexões estudadas. Os valores médios individuais antes do torque foram: 3i (1,45º), Frialit

(1,77º), Neodent (3,88º), SIN (3,95º), Conexão (4,23º), e após o torque obtivemos os seguintes

valores: 3i (1,70º), Frialit (1,98º), SIN (4,20º), Neodent (4,28º), Conexão (4,52º). Não houve

diferença estatisticamente significante na média de desajuste entre Frialit e 3i, tampouco entre

Conexão, SIN e Neodent. Houve diferença na média, estatisticamente significante (p<0,05),

na liberdade rotacional dos componentes Frialit e 3i quando comparada aos componentes

Conexão, SIN e Neodent.

46

3 DISCUSSÃO

Com o aumento da aplicabilidade dos implantes orais para restaurações unitárias as

conexões passaram a desenvolver o papel de impedir a rotação da prótese. Isso estimulou os

fabricantes a desenvolverem maiores valores de torque sobre o parafuso, alterações no tipo de

material do parafuso, maior precisão no encaixe do hexágono e criação de novos desenhos de

interface pilar/implante. Junções internas seriam conexões mais estáveis que os do hexágono

externo (ARVIDSON, et al., 1998), pois promove excelente relação implante-componente,

favorecendo a biomecânica e a longevidade protética; indicado para implantação unitária e

múltipla em todas as regiões (LORENZONI et al., 2002; DRAGO e O‘CONNOR, 2006; e

SOARES et al., 2006).

Costa (2001) concluiu que o design interno do implante osseointegrado, deve permitir

estas características biomecânicas dos pilares devendo possuir na sua porção cervical um

hexágono interno: a) suficientemente alto e largo, permitindo segurança em relação a

possíveis movimentos horizontais e verticais, além da característica antirotacional, permitindo

que a peça protética tenha um padrão biomecânico ótimo quando colocada em função; b) de

paredes praticamente paralelas, o que permite que os pilares possuam um hexágono externo

extremamente semelhante em dimensões ao hexágono interno do implante, tipo encaixe

macho-fêmea, possibilitando a fricção entre ambos. c) que permita um assentamento passivo

com adaptação horizontal e vertical perfeitos, sem solução de continuidade entre implante e

componente protético.

Ao indicar indicar que diversos estudos comparativos analisando a transmissão de

forças entre os implantes de conexão interna e externa, Nizinick (1991); Balfour e O’Brien

(1995); Húngaro (2002); Kharaisat et al. (2002); Butkevica-Zvaigzne et al. (2003); Dibart et

al. (2005); Nery, 2005; Bernardes et al. (2006); Coppedê (2007) e Lanza e Lanza (2008)

realizaram estudos avaliando a incidência de cargas longitudinais e laterais em implantes

unitários, através de metodologias diversas como: fotoelasticidade, elementos finitos fadiga

de componentes por compressão cíclica. Coppedê (2007) e Lanza e Lanza (2008) compararam

a transmissão de forças entre os implantes de conexão externa e interna e mostraram que a

força é mais bem distribuída ao longo dos implantes de conexão interna.

47

Nizinick (1991) concluiu que a conexão tipo hexágono interno apresenta maior

resistência o que reduz a possibilidade de complicações mecânicas como o afrouxamento ou

fratura dos parafusos. O que corrobora com o estudo de Binon (1996). De acordo com

Nizinick (1991), isso decorre do fato da conexão tipo hexágono interno proteger o parafuso

através da extensão do pilar que se conecta no interior do implante. Assim, o comprimento

maior do hexágono e o encaixe mais íntimo entre os hexágonos permitem que as forças sejam

transmitidas às paredes laterais do implante. A análise realizada com o sistema Screw-Vent

com hexágono interno com 1,7 mm de profundidade e um bisel mostrou que a conecção era

estável, mas com variações entre os componentes.

Binon (2000) concluiu que as conexões de hexágono interno, mais conceituadas como

Frialit e Master Conect possuem um dispositivo anti-rotacional de aproximadamente 3,0 mm,

sendo em média, quatro vezes maior do que a conexão de hexágono externo, que apresenta

0,7 mm de dispositivo anti-rotacional. O hexágono interno propicia maior facilidade de

adaptação, maior área de contato, portanto maior proteção e passividade ao parafuso interno,

protegendo assim, o parafuso de retenção do carregamento excessivo. Destaca que os

componentes restauradores podem ter altura reduzida, distribuição profunda das cargas

laterais dentro do implante, proteção do parafuso do abutment, alta resistência ao

afrouxamento da união, vibração diminuída devido ao íntimo contato das paredes do implante

e abutment, e um potencial de selamento bacteriano. Já, Balfour e O’Brien (1995) concluíram

que estas características são inerentes ao tipo de conexão abutment/implante de hexágono

interno, que sugere uma maior proteção dos parafusos de fixação do abutment.

Costa (2001) constatou ser de suma importância que se utilizem implantes e

componentes protéticos de última geração, em favorecimento da estética e da função. Estes

pilares por si só não oferecem a estética. Neste caso, a habilidade do profissional no manuseio

de tecidos moles com o auxílio da própria provisória, com a formação do arco gengival

côncavo e da papila interimplantar assumem uma posição estético importante na reabilitação

oral com implantes, posto que os dentes naturais apresentam diferentes formas nas suas

porções cervicais, difíceis de serem conseguidas somente com os cicatrizadores.

Húngaro (2002) esclareceu que o hexágono interno contribui efetivamente para a

proteção do parafuso do pilar intermediário e redução das tensões no parafuso, demonstrando

que tal sistema não necessita de alto torque para fixação do abutment.

48

Quanto à quantificação do o grau de liberdade rotacional na interface

implantes/componentes protéticos usinados, em implantes com hexágono interno de

diferentes sistemas, com aplicação de torque controlado, Bergamim et al. (2009) concluíram

que na análise ao MEV obteve-se registro de deformações tanto na parede interna do

hexágono (deformações tipo arranhões), como também nos ângulos externos dos pilares

protéticos (deformações tipo amassamento dos ângulos). Todos os grupos apresentaram média

de desajuste rotacional inferior a 5º, indicando adequada estabilidade das conexões estudadas.

Os valores médios individuais antes do torque foram: 3i (1,45º), Frialit (1,77º), Neodent

(3,88º), SIN (3,95º), Conexão (4,23º), e após o torque obtivemos os seguintes valores: 3i

(1,70º), Frialit (1,98º), SIN (4,20º), Neodent (4,28º), Conexão (4,52º). Não houve diferença

estatisticamente significante na média de desajuste entre Frialit e 3i, tampouco entre

Conexão, SIN e Neodent. Houve diferença na média, estatisticamente significante (p<0,05),

na liberdade rotacional dos componentes Frialit e 3i quando comparada aos componentes

Conexão, SIN e Neodent.

Segundo Kharaisat et al. (2002) os hexágonos externos tem maior índice de problemas

em relação aos hexágonos internos quanto ao parafuso de fixação, que pode ser substituído,

conferindo vantagens ao hexágono externo. Já Bernardes et al. (2006) concluíram que no caso

de implantes da mesma forma externa, diferindo apenas nas junções, hexágono externo e

hexágono interno, quando sujeito a uma força axial as junções analisadas não apresentam

diferenças para a distribuição de tensão ao redor dos implantes, porém para o carregamento

excêntrico os implantes de hexágono interno apresentaram os melhores resultados e os

hexágonos externos, os piores.

Butkevica-Zvaigzne et al. (2003) concluíram que os implantes de conexão Cone

Morse tiveram um aumento em seu torque para remoção após os ciclos de carga, enquanto os

implantes de hexágono interno tiveram uma redução progressiva em seus torques,

evidenciando, assim, a maior estabilidade das próteses confeccionadas sobre os implantes

Cone Morse. Coppedê (2007) constatou que o desenho sólido dos pilares Cone Morse

proporciona maior resistência à deformação e à fratura em comparação aos pilares hexágono

interno.

Dibart et al. (2005); Oliveira (2007) observaram que o alto índice de sucesso clínico

dos implantes com conexão Cone Morse é atribuído à ausência de gap na interface implante-

abutment e saúde dos tecidos moles periimplantares. Dibart et al. (2005) constatou que a

49

ausência do gap é responsável por promover um aumento na estabilidade dos tecidos moles

periimplantares e dessa forma manter a estética gengival ao longo dos anos. Destacaram que,

em implantes que apresentam gap na interface implante-pilar protético como hexágono

interno, a infiltração bacteriana pode causar inflamação dos tecidos periimplantares e perda

óssea marginal, sendo importante minimizar a presença bacteriana no interior e na junção

implanteabutment.

Ao comparar dois tipos de encaixes de implantes, um com hexágono externo e outro

com hexágono interno longo, Binon (1996) atribuiu ao hexágono interno longo superioridade

sobre o externo por distribuir as forças mastigatórias pelo interior do implante ao contrário do

externo, cujas forças são direcionadas para a periferia cervical, por poupar o parafuso de

fixação dos pilares de esforços excessivos e por eliminar os efeitos desestabilizadores

vibratórios oclusais.

50

4 CONCLUSÕES

Após revisão da literatura a fim de analisar as vantagens e desvantagens dos implantes

de hexágono interno, através de uma visão biomecânica concluiu-se que:

As conexões de hexágono interno são clinicamente mais favoráveis nas próteses

unitárias e parciais;

O hexágono interno aumenta a resistência mecânica da união entre o implante e o pilar

intermediário; favorece o reabilitador a oferecer maior longevidade protética, biomecânica e

redução do “stress” do parafuso de retenção do componente, uma vez que o componente

protético se adapta dentro do implante a 2,6mm;

Trata-se de um excelente produto para casos unitários e múltiplos;

Como desvantagem, esta foi observada em relação à conexão tipo morse, com

presença de perda óssea marginal, menor estabilidade dos tecidos gengivais, menor redução

do gap com diminuição da possibilidade de invasão bacteriana na interface implante

intermediário, pior estética, menor estabilidade mecânica da conexão protética;

Para evitar falhas nas conexões, parâmetros clínicos e mecânicos são importantes para

que seja possível se obter uma melhor previsibilidade na distribuição dos implantes e na

distribuição das cargas ao longo eixo axial controlado;

Entretanto, vantagens, desvantagens e a influencia biomecânica ainda devem ser

melhor examinadas. Dessa forma, percebe-se que, para evitar falhas nas conexões, parâmetros

clínicos e mecânicos são importantes para que obtenha-se uma melhor previsibilidade na

distribuição dos implantes e na distribuição das cargas ao longo eixo axial controlado;

O implantodontista deve sempre desenvolver um planejamento criterioso para cada

caso, levando em consideração o sistema a ser utilizado e buscando uma melhora na saúde,

função e estética do paciente.

51

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