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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ALINE COSTA DA SILVA O ENFERMEIRO NA CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO: invisível, mas essencial Rio de Janeiro 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ALINE COSTA DA SILVA

O ENFERMEIRO NA CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO: invisível, mas

essencial

Rio de Janeiro

2007

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ALINE COSTA DA SILVA

O ENFERMEIRO NA CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO: invisível, mas

essencial

Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Enfermagem do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Beatriz Gerbassi Costa Aguiar

Rio de Janeiro 2007

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ALINE COSTA DA SILVA

O ENFERMEIRO NA CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO: invisível, mas

essencial

Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Enfermagem do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Enfermagem

Aprovado em 27/11/07

BANCA EXAMINADORA

Profª. Drª. Beatriz Gerbassi Costa Aguiar Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO

Profª. Drª. Maria Virgínia Godoy da Silva Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

Profª. Drª. Enedina Soares Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO

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A graça de trabalhar não reside, por isto, nem na eloqüência do que se faz, nem no aplauso que se colhe pelos sucessos conseguidos, mas na intensidade espiritual com que fazemos, quem sabe, uma humilde cadeira.

(Frei Neylor J. Tonin)

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

AORN - Association of periOperative Registered Nurses

BVS - Biblioteca Virtual em Saúde

CC - Centro Cirúrgico

CCIH - Comissão de Controle de Infecção Hospitalar

CEP - Comitê de Ética em Pesquisa

CME - Central de Material e Esterilização

CNS - Conselho Nacional de Saúde

EPI - Equipamento de Proteção Individual

IH - Infecção Hospitalar

RDC - Resolução de Diretoria Colegiada

RE - Resolução

SOBECC - Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação

Anestésica e Centro de Material

UC - Unidade (s) Consumidora (s)

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RESUMO

Identificam-se neste estudo as concepções dos enfermeiros das Unidades Consumidoras (UC)

acerca do trabalho dos enfermeiros na Central de Material e Esterilização (CME). Discute-se, a

partir das idéias apresentadas nas falas, a importância desse trabalho enquanto cuidado de

enfermagem. Apresenta caráter descritivo com abordagem qualitativa apoiado em Lüdke &

André (1986) e Polit e Hungler (1995). A entrevista semi-estruturada foi utilizada na coleta dos

dados com 25 enfermeiros de dois hospitais gerais, sendo um da rede pública e outro da rede

privada de saúde, ambos localizados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Da análise

temática emergiram três categorias: Trabalho que envolve gerência ; Trabalho desconhecido,

mas fundamental ; O invisível que é essencial em sua simplicidade . Percebe-se que o

trabalho dos enfermeiros em CME é considerado basicamente gerencial, envolvendo atividades

de supervisão, coordenação e controle das etapas de reprocessamento dos produtos médicos.

Precisa ser mais valorizado entre as equipes de enfermagem como um todo, pois a alocação

freqüente de funcionários em final de carreira ou com problemas de saúde prejudica a imagem e a

credibilidade conferidas ao setor. As concepções apresentadas revelam diversos aspectos

relacionados ao trabalho do enfermeiro em CME que o caracterizam como cuidado, tais como a

segurança ao cliente e a preocupação com a qualidade do assistir. Evidencia-se a falta de

conteúdos sobre CME na formação dos enfermeiros. Conclui-se que a dicotomia entre cuidado

direto e cuidado indireto no ensino das escolas de enfermagem e a importância existente no fazer

para o cliente precisam ser mais discutidas. É necessário também promover a integração efetiva e

plena entre a CME e as UC. A seleção criteriosa de funcionários para atuarem na CME é uma

necessidade que precisa ser repensada pelos administradores de serviços de enfermagem, em face

aos avanços tecnológicos empregados no reprocessamento de produtos médicos e à exigência

cada vez maior da qualidade na assistência aos clientes.

Palavras-chave: Central de Material e Esterilização. Unidades Consumidoras. Trabalho do

enfermeiro.

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ABSTRACT

This study sought to identify assisting nurses perceptions of work in Central Supply Unit with

implications for Nursing care. A descriptive qualitative method by Lüdke & André (1986) and

Polit and Hungler (1995) was used to develop a semi-structured interview as instrument to collect

data from 25 nurses at two hospitals, a public and a private health administration, in the

Metropolitan Region of Rio de Janeiro. From the thematic analysis emerged three cathegories:

Trabalho que envolve gerência ; Trabalho desconhecido, mas fundamental ; O invisível que é

essencial em sua simplicidade . Nurses

work in Central Supply Unit is considered mainly

managerial, involving supervision, coordination and control of many components of medical

device reprocessing. The responsibilities are unknown among assisting nurses, and are not taught

at many Schools of Nursing. These findings may need to be addressed by nursing teams, because

the frequent over-allocation of nearly retired or inadequate human resources has done serious

damage to the Central Supply Unit's reputation. The conceptions reveal several concepts of

nurses work in the Central Supply Unit that characterizes it as care, including patients

security

and the preoccupation of quality in health assistance. The dichotomy between direct and indirect

care and the importance of doing things for the patient need to be further explored. It is also

necessary to promote the Central Supply Unit`s effectiveness to integrate with the Assistance

Units. Careful human resources recruitment in the Central Supply Unit is a necessity that must be

considered by nursing managers to facilitate medical devices reprocessing and improve the

quality of patient assistance.

KEY-WORDS: Central Supply Unit. Assistance Units. Nurse s work.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 08

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..............................................................................17

2.1 Centrais de Material e Esterilização: breve histórico......................................................17

2.2 O funcionamento da Central de Material e Esterilização ...............................................19

2.3 O enfermeiro no contexto da Central de Material e Esterilização ..................................25

2.4 A inter-relação entre a Central de Material e Esterilização e Unidades Consumidoras: cuidado visível x cuidado invisível .................................................................................30

3 METODOLOGIA .........................................................................................................34

3.1 Cenário ............................................................................................................................35

3.2 Sujeitos da pesquisa ........................................................................................................37

3.3 Coleta de dados ...............................................................................................................37

3.4 Procedimentos éticos e coleta de dados ..........................................................................38

3.5 Tratamento dos dados .................................................................................................... 39

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS........................................41

4.1 Dados de identificação dos sujeitos da pesquisa .............................................................41

4.2 Categoria 1: Trabalho que envolve gerência ...................................................................41

4.3 Categoria 2: Trabalho desconhecido, mas fundamental ..................................................48

4.4 Categoria 3: O invisível que é essencial em sua simplicidade .......................................60

5 CONCLUSÃO .................................................................................................................68

REFERÊNCIAS ..............................................................................................................72

GLOSSÁRIO ...................................................................................................................78

APÊNDICE A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ....80

APÊNDICE B - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ..................................81

APÊNDICE C TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS ..........................................82

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1 INTRODUÇÃO

Minha trajetória profissional como enfermeira teve início no ano de 2003 e foi marcada

por experiências na área de cuidado ao recém-nato e à criança. Inicialmente, atuei em distintos

turnos, em regime de plantão; e como bolsista de pesquisa em instituições de referência na

assistência infantil e neonatal.

Até o primeiro ano de atuação profissional, tive experiências essencialmente voltadas para

o cuidado direto aos clientes, sempre buscando a construção de conhecimento para os conteúdos

pertinentes àquela área específica de atuação da Enfermagem, o que me permitiu vivenciar

aspectos diversos do saber e do fazer em Enfermagem, porém sempre enfocados no cuidado

direto com os clientes, através dos diversos procedimentos.

Da mesma forma, até nas tarefas gerenciais pertinentes ao dia-a-dia do cuidado, minha

visão acerca do que este significava era ainda restrita ao contato direto profissional-cliente. Era

difícil associar o fazer e o cuidar a toda e qualquer atividade que não fosse exclusivamente

praticada junto aos clientes.

Esta situação pode ser entendida, em parte, pela formação acadêmica recebida, na qual as

tecnologias empregadas na assistência, o estar à beira do leito, o cuidar do ser humano por inteiro

era explicado aos alunos como sendo o cerne da profissão de enfermeiros. O cuidar estava

sempre vinculado a uma intervenção no corpo dos clientes; não sendo explicitado, entretanto, que

cuidar também é executar tarefas que promovam os meios para que se execute a intervenção.

Isto ficou claro quando a história de Florence Nightingale nos foi apresentada e, a partir

dela, toda a sua significativa contribuição para a consolidação da profissão de enfermeiro. O mais

comum era que nas aulas fosse enfocada a dedicação com que a precursora da Enfermagem

Moderna atendia prontamente aos enfermos soldados nos campos de batalha da Guerra da

Criméia (1854), durante a qual ela conseguiu salvar milhares de vidas.

No entanto, curiosamente, mesmo sendo apontados os grandes conhecimentos adquiridos

por Florence e o emprego dos mesmos na diminuição drástica da transmissão de infecções, na

minha formação de enfermeira eram destacadas com menor ênfase as medidas de planejamento e

gerenciamento. Não era explicitado que deveria haver a preocupação com tudo aquilo que

entraria em contato com os clientes para que, assim, o cuidado à beira do leito pudesse ser

prestado e que o enfermeiro tinha papel sine qua non neste processo.

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Durante o Curso de Graduação em Enfermagem, na Disciplina de Atenção à Saúde do

Adulto e do Idoso, destacou-se o cuidado perioperatório com os clientes, a importância dos

diferentes modelos de assistência tanto nas unidades cirúrgicas e no Centro Cirúrgico em si.

Vimos também que, em relação aos conhecimentos sobre o trabalho a ser desenvolvido pelos

enfermeiros em Central de Material e Esterilização (CME), o conteúdo não atendeu às nossas

expectativas. A CME era apenas citada como o local que esterilizava os instrumentais sem que,

em nenhum momento, fossem explicados os diversos processos que envolvem a esterilização e

como os enfermeiros aí se inserem.

O interesse por esta temática passou a fazer parte de minha prática profissional a partir do

momento em que me vi diante da busca por um crescimento em meus conhecimentos através da

especialização, quando então passei a atuar como Enfermeira Residente em uma CME de um

hospital de grande porte localizado no município do Rio de Janeiro. Este hospital se constituía

num dos campos de Treinamento em Serviço do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu, nos

Moldes de Residência em Enfermagem, nas áreas Clínica e Cirúrgica, da Universidade Federal

do Estado do Rio de Janeiro.

A CME era um dos setores nos quais os enfermeiros residentes deveriam cumprir parte da

carga horária obrigatória, mas que era reduzida em relação à dos outros setores das diversas

especialidades clínicas e cirúrgicas.

Foi a partir daí que me defrontei com uma realidade completamente diferente daquela até

então conhecida, já que a CME é um setor no qual o cuidado não é com os clientes, e sim para os

clientes.

O que vivenciei na prática é que a CME é um setor cercado de muitas limitações dentro

do hospital, limitações estas que passam pelo complexo processo de trabalho exigido para o seu

pleno funcionamento. Em muitas instituições, não é dada ao setor a devida atenção, no sentido de

modernizar e adequar a CME à demanda tecnológica atual. É comum a CME ser sub-valorizada

pelos administradores hospitalares e, mais gravemente, pelos próprios gerentes de enfermagem

que, infelizmente, continuam escalando para atuarem naquele setor funcionários com inúmeros

problemas de saúde ou que aguardam aposentadoria, para não falarmos daqueles com

dificuldades no relacionamento interpessoal.

Frente a essa problemática, foi possível observar situações adversas enfrentadas pela

enfermeira responsável pela CME (na qual atuei como Residente). Mesmo apresentando extrema

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competência profissional e fazendo o máximo possível para fornecer materiais de qualidade aos

diversos setores do hospital, aquela enfermeira se deparava com dificuldades para conseguir

viabilizar a implementação de programas de capacitação e atualização de seus funcionários, bem

como a aplicação de recursos na reforma e modernização da planta física do setor e de seus

equipamentos.

Esses fatos denotam o desinteresse pela CME naquela instituição, que só era lembrada

quando ocorria algum problema como, por exemplo, com a esterilização dos produtos médicos*

(fato não muito raro, já que as autoclaves eram obsoletas), que inviabilizava a realização de

cirurgias e /ou procedimentos diagnósticos.

Diante desse quadro, e a partir dos incentivos constantes da enfermeira preceptora do

campo de prática, senti-me impelida a buscar conhecimentos acerca da temática CME e entender

como o enfermeiro se insere neste contexto. Para tanto, utilizei-me de participações em eventos

relacionados ao setor e buscas bibliográficas.

Na consulta a diversas publicações, encontrei a abordagem de variados aspectos nos

estudos pertinentes a CME _ os processos de esterilização e limpeza, embalagens, validação dos

processos de esterilização, novos Equipamentos de Proteção Individual (EPI), recursos humanos,

reuso de materiais, informatização do controle dos produtos médicos, dentre outros.

Minhas pesquisas resultaram também na monografia de conclusão do Curso de Pós-

Graduação, a qual se constituiu em um estudo bibliográfico que utilizou como fonte primária o

acervo da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e foi um recorte temporal de 1993 a 2003 que

enfocava a produção científica acerca da esterilização de produtos médicos e sua importância

para a sociedade à luz dos registros noticiosos. O estudo apontou que foi pequena a produção de

Enfermagem sobre a temática CME _que ainda se encontra majoritariamente restrita aos

periódicos dessa especialidade_ e que nas notícias veiculadas nos jornais brasileiros, a

importância do trabalho dos profissionais em uma CME para o controle das infecções

hospitalares é pouco divulgada.

Como contribuição, o estudo ressalta ainda que as preconizações de Florence Nightingale,

reunidas em sua Teoria Ambientalista, serviram de ferramenta para compreender melhor como as

atividades realizadas em uma CME são vitais para que a assistência prestada aos clientes seja

livre de riscos de agravos, considerando-se a preocupação com todos os instrumentos que com

eles entrarão em contato.

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A partir desta pesquisa, ficou mais claro que o processo de trabalho em CME, na prática

de enfermagem, é uma forma de cuidado. Entretanto, esta temática ainda é pouco valorizada não

só no meio acadêmico, como também nas instituições hospitalares, haja vista a escassez de

estudos que abordam o cuidado em CME e, principalmente, as concepções dos trabalhadores de

outros setores em relação a essa prática, ou seja, a interface existente (e indiscutível) entre os

trabalhadores de CME e os das unidades que prestam assistência direta. Entendo que a

compreensão desta interface e dos ruídos nela existentes pode auxiliar a entender tamanha

desvalorização ainda atribuída ao trabalho em CME.

Um fato que serviu de reforço para constatar essa desvalorização foi uma outra

experiência profissional quando, mais tarde, ao prestar um concurso público para contrato de

trabalho temporário, fui lotada em uma CME de um hospital geral de grande porte no município

do Rio de Janeiro.

Aquela nova realidade configurou-se num grande desafio, já que a partir daquele

momento eu não teria mais as orientações de uma preceptora, sendo eu mesma a responsável em

comandar sozinha uma equipe e organizar as atividades no setor. Como agravantes, a ala do

hospital na qual a CME funcionava estava em reforma, e foi transferida temporariamente para um

espaço totalmente improvisado.

Durante aproximadamente nove meses atuei naquela CME improvisada e que não atendia

às exigências relacionadas à planta física, aclimatação e EPI, dentre outras, previstas nas

legislações vigentes. Tal fato sempre foi motivo de grande preocupação, pois sabia-se que era

difícil garantir que os produtos teriam o tratamento adequado.

Além disso, não foi oferecido aos novos funcionários o treinamento específico e adequado

para a execução das tarefas exigidas. Essas tarefas eram transmitidas através dos funcionários

mais antigos que, em raras exceções, demonstravam disponibilidade em fazê-lo e, mesmo porque,

muitos executavam procedimentos obsoletos demonstrando sua desatualização quanto ao

processamento de produtos médicos, comparando-se com os avanços técnico-científicos

propostos que devem estar incluídos na CME.

O treinamento pode minimizar possíveis falhas ocorridas nos processos de trabalho

(Tipple et al, 2005). Para os mesmos autores, o programa de treinamento oferecido numa

instituição em uma área específica facilita a inserção dos indivíduos e desenvolve a prática

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profissional no ambiente de trabalho, para que eles exercitem a reflexão sobre a importância de

seu trabalho no dia-a-dia.

O contingente majoritário de profissionais de enfermagem naquele setor tinha sido

composto por auxiliares de enfermagem e auxiliares de serviços operacionais diversos durante

aproximadamente vinte anos. Os plantões não contavam com enfermeiros, havendo somente uma

enfermeira responsável técnica pelo setor. Portanto, era possível compreender a falta que a

presença de enfermeiros em todos os turnos de trabalho fazia, haja vista a desordem na qual

aquela CME funcionava e a resistência que os antigos funcionários apresentavam em relação à

minha chegada.

A partir destas constatações, passei a compreender claramente a necessidade da presença

do enfermeiro em uma CME, no sentido de realmente enfocar os princípios científicos do fazer e

organizar as atividades. Além disso, sentia-me cada vez mais interessada em buscar

conhecimentos acerca dessa área de atuação dos enfermeiros, tão rica em fontes de pesquisa, e

que se descortina numa forma de cuidar muito importante e peculiar.

E, mesmo depois da reforma concluída e da instalação definitiva na nova unidade, ainda

puderam ser observadas diversas barreiras na tentativa de promover uma reeducação e

atualização dos funcionários. O remanejamento ou manutenção de profissionais com problemas

de saúde ou de relacionamento interpessoal, ou ainda próximos da aposentadoria demonstrava a

desvalorização ainda atribuída à CME. A referida unidade também só parecia ser lembrada

quando, por algum problema técnico ou operacional, o hospital se via obrigado a cancelar

cirurgias porque não havia materiais estéreis disponíveis para pronto uso.

Cruz (2003, p. 25) lembra que a CME:

[...] a despeito dos avanços técnico-científicos implementados, ainda não tem o seu valor reconhecido e, com isso, continua sendo alvo de discriminações, pelo fato de nele ser desenvolvido um trabalho considerado como habilidade manual, não diretamente relacionada ao cuidado assistencial.

No meu dia-a-dia na CME, vivenciei essa desvalorização em comparação com outros

setores do hospital, no tocante aos recursos materiais e humanos.

Foi partindo destas experiências que comecei a trilhar os caminhos desta pesquisa...

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A CME é definida como uma unidade de apoio técnico que visa fornecer produtos

médico-hospitalares adequadamente processados, proporcionando condições para o atendimento

direto e a assistência à saúde dos indivíduos enfermos e sadios (BRASIL, 2002).

Dentre as vantagens da centralização das atividades de reprocessamento dos produtos em

um único setor estão: a economia, o controle da qualidade e da quantidade necessárias; isto

porque se torna mais fácil sistematizar este reprocessamento e a distribuição dos produtos no

fluxo do atendimento hospitalar. Corroborando com Salzano (1990), isto certamente facilita o

atendimento adequado dos clientes e confere segurança para os mesmos e para as equipes.

É importante destacar também que a necessidade de centralizar as atividades de preparo e

esterilização dos produtos deu-se pelo grande avanço na sofisticação e na complexidade dos

equipamentos necessários para a realização das cirurgias, com técnicas cada vez mais

desenvolvidas e demandando, conseqüentemente, tanto o aprimoramento estrutural quanto de

recursos humanos (SOBECC, 2005).

Tipple et al (2005, p.174) reforçam esta idéia, afirmando que: a complexidade dos

processos de esterilização e alto custo na aquisição de instrumentais cirúrgicos cada vez mais

sofisticados exigem investimentos na qualificação do profissional.

Ademais, na literatura de enfermagem, outro enfoque bastante recorrente é quanto à

questão da desvalorização sofrida pelos profissionais e da CME como um todo (Pivelli et al,

1989; Silva, 1997). Sawada e Galvão (1995), por exemplo, afirmaram que a CME é um setor

hospitalar que historicamente tem sido relegado a segundo plano e que o trabalho dos

profissionais desta área parece desprestigiado.

O que se vê na história recente da alocação de recursos humanos em CME é que muitos

profissionais rejeitam a possibilidade de lá atuarem por não haver atividades junto aos clientes,

sem atentarem para o fato de que o que é feito em CME envolve diversos segmentos da estrutura

hospitalar e que, sem o qual, a mesma não consegue um funcionamento adequado (Silva e

Bianchi, 1988).

Não se pode perder o foco da importância de ter o enfermeiro em qualquer setor onde haja

atividade executada pela enfermagem, pois ele é o gerente que possui o conhecimento científico

que deve embasar o fazer da área da saúde e, em particular, da Enfermagem.

Pensando nisso, foi espantoso me deparar em minha prática com indagações que

questionavam o porquê da presença de enfermeiros numa CME. Segundo Cruz (2003, p. 18): O

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trabalho realizado em CME constitui-se em um dos fatores de segurança para o cliente e toda a

equipe de saúde envolvida, não só na prática assistencial, mas, em especial, no desenvolvimento

das atividades nesse setor e no Centro Cirúrgico .

A partir do contato com outras enfermeiras que também atuam em CME de diversas

instituições em diversos eventos da área e na troca de experiências de trabalho, foi possível

perceber que, majoritariamente nas instituições públicas, mas também em algumas instituições

privadas, os problemas enfrentados no setor são recorrentes. Os mais comuns dentre eles são:

recursos humanos insuficientes e/ ou desqualificados, carga excessiva de trabalho, planta física

inadequada e incompatível com as exigências das legislações, falta de recursos materiais, ruídos

excessivos, fatores que aumentam as chances de distúrbios ósteo-musculares decorrentes do

trabalho, bem como de aumento nas chances de comprometimento da qualidade dos produtos

reprocessados.

Ao longo de minha trajetória profissional, tanto na assistência direta quanto na assistência

indireta, conforma foi citado anteriormente, tive oportunidade de me deparar com situações

curiosas e preocupantes enfrentadas no desenvolvimento das atividades profissionais em CME,

situações essas ocasionadas por declarações descabidas vindas dos enfermeiros que atuavam nas

UC. Entre as declarações, os enfermeiros das UC referiam-se às atividades na CME como algo

fácil, menos importante, questionando constantemente sobre o que se fazia naquele setor que, nas

palavras deles, não tem nada para um enfermeiro fazer , era um local onde se dorme a noite

toda ou só se embala gaze , enfatizando que apenas eles prestavam cuidado, demonstrando que

a imagem do trabalho executado na CME era de pouco valor.

Paradoxalmente, quando algum problema operacional e/ ou técnico acontecia na CME e

dificultava ou interrompia o fornecimento de produtos reprocessados para as unidades nas quais

aqueles enfermeiros trabalhavam, rapidamente todos se lembravam de que havia enfermeiros

atuando ali e, curiosamente, exigiam junto à administração do hospital que fossem cobradas

providências imediatas à CME, alegando que sem ela o hospital poderia parar.

Estas situações foram geradoras de muitas reflexões sobre minha prática profissional

naquele setor, constituindo-se numa motivação para o desenvolvimento de uma pesquisa em que

pudesse detectar o porquê de interpelações tão negativas e que em muito me incomodavam.

Os aspectos subjetivos da prática profissional dos enfermeiros poderiam, em meu

entendimento, desvendar a visão dos que atuam na assistência direta acerca do trabalho em CME

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e permitir entender, de certa forma, como essas concepções repercutem em determinadas atitudes

e informações reproduzidas no cotidiano.

Partindo desse entendimento da pertinência de realizar uma investigação sobre aspectos

subjetivos, optei pela pesquisa de abordagem qualitativa, que teve como objeto de estudo: as

concepções dos enfermeiros das unidades consumidoras acerca do trabalho dos enfermeiros na

CME.

Todas as situações vividas mostraram-me a desvalorização sofrida pelos profissionais que

atuam em CME. Na prática cotidiana, essa opinião ficava evidenciada pelas falas dos enfermeiros

das UC ao se referirem ao trabalho: trabalhar aqui é mole, no ar condicionado , sem

preocupação com o paciente , quero ver ficar lá na enfermaria, aqui é só lavar ferro, embalar

gaze , enfermeiro aqui, eu hein, não vê ninguém , pra fazer isso pra quê enfermeiro? .

Esses comentários pareciam demonstrar a forma como os enfermeiros da assistência direta

supunham ser o trabalho em CME, que em nada tinha a ver com nossa realidade. A nossa

preocupação com os pacientes existia sim, e ela direcionava as ações para atingir as metas, que

eram fornecer produtos seguros para que aqueles indivíduos fossem assistidos com qualidade,

além de garantir que os profissionais manuseassem produtos que não lhes oferecessem riscos.

O incômodo frente a essas situações reforçou meu interesse em pesquisar as idéias que os

enfermeiros das Unidades Consumidoras (UC) faziam sobre a prática dos enfermeiros em CME.

Acredito, assim como Silva (1998), que essa maneira depreciativa desses enfermeiros se

referirem ao trabalho em CME se deva ao desprestígio relacionado às tarefas lá executadas, ou

devido ao desconhecimento do trabalho realizado.

O aparente desconhecimento da importância do trabalho executado pelos enfermeiros na

CME, evidenciado pela falta de investimentos em recursos materiais e humanos em diversas

instituições brasileiras até hoje, talvez possa estar relacionado à falta ou escassez de conteúdos

teóricos sobre CME no ensino das escolas de enfermagem brasileiras. Raramente estes conteúdos

são apresentados enquanto disciplina específica, ficando diluídos nos conteúdos das disciplinas

de centro cirúrgico ou de assistência ao cliente cirúrgico (SILVA, 1998; JOUCLAS, 1994;

GRAZIANO, 2004).

Outra causa possível pode ser o fato de muitas instituições terem CMEs pobres de

recursos tecnológicos e não suscitarem nos trabalhadores melhor qualificação ou interesse em

ampliar seus conhecimentos sobre os novos equipamentos e técnicas de limpeza e processamento

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de produtos, fazendo com que cada vez mais as atividades naquela unidade sejam consideradas

de menos valia dentro da assistência, ignorando a vital importância dos produtos ali processados

e esterilizados na garantia de um cuidado seguro para seus clientes.

Acreditamos que esse desconhecimento exista, talvez, por não haver comunicação e

integração efetivas entre os enfermeiros de CME e os enfermeiros das UC nas instituições, o que

faz com que a CME seja responsabilizada por muitos problemas inerentes à assistência.

Diante do incômodo que essas situações traziam, tentei desvendá-las investigando

questões que nortearam este estudo: Quais são as idéias que os enfermeiros que atuam em

Unidades Consumidoras têm acerca do trabalho dos enfermeiros numa CME e Qual a

importância desse trabalho como cuidado de Enfermagem?

Nesta perspectiva, o estudo teve como objetivos:

1. Identificar as concepções dos enfermeiros das unidades consumidoras acerca do

trabalho dos enfermeiros em CME.

2. Discutir, a partir das concepções apresentadas nas falas dos sujeitos do estudo, o

trabalho dos enfermeiros em CME quanto a sua importância enquanto cuidado de

enfermagem.

A relevância do estudo para a assistência é que, ao abordar a questão da relação dos

profissionais das UC com os da CME nos tempos atuais, mostrando o que se faz numa CME e

quão complexa é sua inserção no processo de cuidar, sejam dados subsídios para que medidas de

valorização dos recursos humanos e do setor sejam adotadas. Para o ensino, espero que este

estudo possa contribuir para mostrar a necessidade de incluir conteúdos teóricos e práticos sobre

CME nos cursos de Graduação em Enfermagem no Brasil, a fim de que o desconhecimento sobre

as atividades desenvolvidas nesse setor não seja motivo de rejeição ao setor pelos enfermeiros.

Do mesmo modo, acredito que os resultados deste estudo possam fortalecer, também, a

realização de investigações, nas instituições assistenciais e de ensino, colocando em evidência o

cuidado indireto. Para a pesquisa, a contribuição é que possa sinalizar que existem ainda vários

aspectos sobre CME que precisam ser investigados cientificamente.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Centrais de Material e Esterilização: breve histórico

A preocupação com o tratamento dos produtos médicos1 teve início com o aprimoramento

das técnicas cirúrgicas que, no início do desenvolvimento da Medicina, não faziam parte de seus

focos de estudo. Estes procedimentos eram realizados pelos práticos, também chamados

cirurgiões barbeiros , aqueles que possuíam maior habilidade manual, mas de menor valor

acadêmico, já que os tratamentos eram, em sua maioria, clínicos. Além disso, não havia ainda

estudos mais detalhados sobre as estruturas e o funcionamento do corpo humano (DELGADO,

2000).

As cirurgias, no início do século XIX, eram realizadas de forma meramente arcaica e

empírica, em ambientes de higiene precária e sem nenhuma preocupação com a assepsia. Além

disso, havia pouquíssimos (e grosseiros) instrumentais que se destinavam às intervenções

cirúrgicas, já que se receava explorar o corpo humano em suas estruturas mais profundas. Não

obstante serem grosseiros, os instrumentais eram limpos com qualquer pano ou até mesmo na

sobrecasaca dos cirurgiões (SILVA, 1998).

Porém, com a evolução de novos métodos anestésicos em 1846 e o desenvolvimento das

técnicas cirúrgicas, os cirurgiões viram-se necessitados em criar instrumentais que pudessem

ajudá-los a ter acesso aos diversos órgãos do corpo humano (Cruz, 2003). Dessa forma, foram

sendo criados cada vez mais instrumentais para as mais diversas finalidades e que atendessem aos

diversos tipos de intervenção cirúrgica.

Paralelamente, as descobertas evidenciadas nos estudos de Pasteur e Koch no início do

século XIX, tratavam da ação dos microrganismos sobre o corpo humano na transmissão de

doenças e na demonstração da resistência das bactérias à fervura prolongada das roupas e

materiais, respectivamente. A partir dali, percebeu-se a necessidade de elevar a temperatura

acima de 100° C, dando origem, então, aos primeiros tipos de esterilizadores (COUTO, 2003;

GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000).

Outra preocupação existente era garantir que tanto os cirurgiões (adotando medidas como

a lavagem das mãos e o cuidado com a limpeza das roupas e dos campos cirúrgicos) e os

1 Decidiu-se utilizar neste estudo o termo produtos médicos por esta ser a nomenclatura mais atualizada, segundo a Resolução nº 2.605/ 2006 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), vigente até a presente data.

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instrumentais estivessem livres de possíveis microrganismos, para que estes não fossem

transmitidos aos pacientes.

Com o surgimento de novos instrumentais cirúrgicos no início do século XIX, surge

também a necessidade de ser criado nos hospitais um local que realizasse a limpeza, conservação,

acondicionamento, esterilização, distribuição e controle desses instrumentais.

É importante ressaltar que a sistematização do processamento de produtos médicos num

setor específico do hospital está atrelada historicamente às descobertas da ciência nos estudos de

Microbiologia, acerca da transmissibilidade das doenças causadas por microrganismos através de

materiais utilizados em procedimentos invasivos, que foram viabilizados pela evolução das

técnicas cirúrgicas.

Sabe-se que, até a década de 1940, os materiais a serem esterilizados eram preparados nas

próprias unidades de internação, apesar da preocupação em ter nos hospitais um lugar que

centralizasse os equipamentos de esterilização dos produtos. Na década de 1950 surgiram as

chamadas CME parcialmente centralizadas, ou seja, parte do material era preparado nas unidades

de internação e parte na CME, mas com esterilização sendo feita em um único local (Salzano,

1990).

Era comum o fato da CME não existir como unidade independente e autônoma nas

instituições hospitalares, mas sim como sendo parte integrante do Centro Cirúrgico.

Porém, devido à crescente demanda de instrumentais cirúrgicos, a partir de 1970 as

instituições hospitalares começaram a centralizar a preparação dos instrumentais cirúrgicos em

um único local _ a CME centralizada _, chefiado por enfermeiros subordinados ao serviço de

enfermagem e totalmente independente do Centro Cirúrgico nas décadas de 1980 e 1990

(DELGADO, 2000; MOURA, 1996).

A implantação desse modelo de CME centralizada tornou-se coerente pelo fato de

viabilizar a padronização do preparo dos materiais, que não se restringiram somente aos

instrumentais cirúrgicos, mas hoje já englobam produtos para assistência ventilatória, exames

diagnósticos e para procedimentos invasivos não-cirúrgicos.

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2.2 O funcionamento da Central de Material e Esterilização

A CME é uma unidade que se articula com praticamente todos os setores do hospital, já

que fornece produtos médicos não só ao centro cirúrgico, mas também às unidades de internação,

ao ambulatório, à emergência, entre outras. A qualidade da assistência prestada nestes setores tem

relação direta com os produtos fornecidos pela CME, sem os quais não seria possível garantir os

cuidados adequados à clientela.

No entendimento de Oliveira; Miranda; Moreira (2000), a CME é peça

chave dentro na

estrutura hospitalar, estabelecendo inter-relação com inúmeras outras áreas da instituição, as

quais são denominadas Unidades Consumidoras. Silva apud Salzano e Silva (1995) vai além,

ressaltando que não se trata apenas de uma simples inter-relação, mas de uma interdependência,

já que a CME depende de todas as unidades e serviços do hospital, para que possa receber,

processar e distribuir os materiais hospitalares na quantidade e qualidade suficientes. Da mesma

forma, as UC dependem dos produtos processados e esterilizados pela CME para realizarem os

procedimentos junto aos clientes.

Diante disto, entende-se que para o funcionamento adequado de uma CME, este setor

necessita estar articulado com outros dentro do hospital, sendo o que mais interage

comparativamente com eles, já que lida no seu dia-a-dia com insumos, equipamentos e unidades

fornecedoras e, devido a esse fato, a CME convive com altas pressões externas (OLIVEIRA,

MIRANDA; MOREIRA, 2000).

Enquanto enfermeira que atuando em CME, vivenciei dificuldades no dia-a-dia, dentre

elas a grande demanda de materiais para serem usados em procedimentos cirúrgicos. Muitas

vezes, devido às características de alguns hospitais de possuírem serviços de emergências abertas

e/ ou terem atendimento cirúrgico, fica difícil para a CME reprocessar materiais de forma rápida,

para atender à demanda das UC. Isto se deve a várias questões, dentre elas o número insuficiente

de instrumentais cirúrgicos de reposição e os modelos obsoletos de equipamentos para preparo e

esterilização.

Entretanto, a demora em reprocessar os produtos, que é por vezes encarada pelos

funcionários de outros setores como incompetência do enfermeiro que trabalha na CME, se

justifica, principalmente, pelo fato de ser fundamental que todos os materiais contaminados sejam

preparados segundo protocolos e rotinas, desde sua chegada à CME até a distribuição de produtos

estéreis às UC.

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É importante ressaltar que os materiais encaminhados à CME devem seguir um

fluxograma unidirecional (Figura 1), tanto aqueles provenientes das UC e utilizados nos

procedimentos prestados aos clientes, bem como aqueles provenientes das unidades fornecedoras

(almoxarifado e lavanderia). Por isso, qualquer falha ocorrida durante o processamento implica

possível comprometimento na esterilidade dos produtos, possibilitando o aumento no risco de

casos de infecção trans ou pós-operatória. Isto nos ajuda a compreender a contextualização da

CME no processo de controle de infecção, basta atentar-se ao fato da utilização dos produtos

médicos sem o devido comprometimento dos serviços prestados ao cliente (TIPPLE et al, 2005).

Por vezes o que é classificado como demora ou ineficiência em distribuir os materiais às

UC, nada mais é do que o comprometimento da CME em garantir segurança aos profissionais das

equipes multidisciplinares e, principalmente, aos clientes.

FIGURA 1 Fluxograma dos produtos médicos processados na CME. Fonte: Silva, 1996.

O fluxograma nos permite identificar as distintas áreas e as principais atividades nelas

executadas, que são:

Unidades Consumidoras

Unidades Fornecedoras CENTRAL DE

MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO

Recepção de artigos sujos

Recepção de roupas

Limpeza e secagem dos artigos

Preparo e acondicionamento

Recepção de artigos limpos

Esterilização

Armazenagem dos artigos processados

Distribuição de artigos limpos e esterilizados

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Área de preparo e acondicionamento

local de inspeção dos produtos quanto a sua

integridade, presença de sujidades, embalagem de acordo com a padronização adotada pela

instituição, identificação e encaminhamento para as áreas de esterilização, armazenagem e

distribuição.

Unidades Consumidoras - compreendem as unidades de internação, ambulatório, centro

cirúrgico, centro obstétrico, endoscopia, laboratório, radiologia, farmácia, dentre outras.

Encaminham os artigos ou materiais a serem processados à CME.

Unidades Fornecedoras - compreendem a lavanderia e o almoxarifado; enviam à CME produtos

novos ou descartáveis para que sejam ou distribuídos, ou embalados para posterior esterilização,

armazenagem e distribuição.

Área de Recepção de artigos sujos ou expurgo - local onde os produtos são descontaminados,

limpos, secos, conferidos e separados conforme o tipo, e encaminhados à área de preparo e

acondicionamento.

Área de Esterilização - área onde estão localizados os equipamentos, isto é, autoclaves ou

esterilizadores por Óxido de Etileno, dentre outros, que vão esterilizar os artigos.

Área de Armazenamento - local onde são armazenados os produtos já estéreis, e que deve

possuir condições adequadas de refrigeração, umidade do ar e distribuição dos artigos nas

prateleiras.

Área de Distribuição dos artigos limpos e esterilizados - local de distribuição dos produtos

processados às Unidades Consumidoras.

A quantidade de materiais consumidos pelas UC e sua dinâmica de rotatividade e

abastecimento precisam ser discutidas entre o enfermeiro daquelas unidades e o enfermeiro da

CME que, a partir da previsão baseada em parâmetros como o volume e o tipo de procedimentos

que são realizados, vai então disponibilizar produtos suficientes para atender o consumo.

É importante, portanto, que este fluxograma seja seguido, a fim de que se possa assegurar

que todas as etapas do reprocessamento _ limpeza, desinfecção, preparo, esterilização,

armazenamento e distribuição _ sejam cumpridas, garantindo a segurança dos produtos

fornecidos.

Verifica-se que a primeira etapa a ser cumprida é a limpeza dos produtos, que pode ser

manual ou automatizada, e que deve ser realizada em todo material sujo, caracterizando-se pela

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remoção de sujidades visíveis presentes nos produtos médicos, com conseqüente redução da

carga microbiana (ANVISA, 2006).

Este procedimento tem como finalidades garantir a eficácia do processo de desinfecção e

esterilização, assegurar o reuso de materiais não-críticos que são submetidos apenas à limpeza,

preservar os materiais, remover e reduzir a carga microbiana presente.

Por tudo isso, considera-se que sem a limpeza prévia de um instrumental cirúrgico ou

outro produto, sua esterilidade fica comprometida, já que a carga microbiana presente nele

funciona como uma barreira à penetração de diversos agentes esterilizantes. Desta forma, é

fundamental que, ao chegarem na CME, os produtos sejam submetidos a um rigoroso processo de

limpeza, que possui dois tipos: a limpeza manual e a limpeza mecânica.

A limpeza manual emprega manualmente a remoção da sujidade por meio de ação física,

utilizando-se detergentes, escova e água. Na execução deste procedimento, vários aspectos

precisam ser observados: o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), de escovas,

detergentes, dosadores, cestos para escorrer a água, instalação correta de pias e torneiras,

qualidade da água, escovação interna de materiais com lúmens, desmontagem de produtos com

peças removíveis e secagem adequada. Além disso, é importante atentar para o registro do

procedimento realizado (no qual se identifique o nome do material, do profissional que o

preparou, a data e a hora).

A limpeza mecânica é o procedimento automatizado para remover a sujidade que se

utiliza de lavadoras com ação física e química, que podem ser as lavadoras ultra-sônicas, as

descontaminadoras, as desinfectadoras e as lavadoras esterilizadoras. Estes equipamentos

possuem diferentes mecanismos de ação na remoção da sujidade.

É necessário lembrar que alguns desses equipamentos precisam funcionar sob um projeto

de instalação adequado às normas vigentes. Outro aspecto importante é quanto à escolha

adequada dos insumos que abastecerão as lavadoras (detergentes enzimáticos e lubrificantes) e a

padronização dos parâmetros de temperatura e tempo de exposição dos produtos.

Cunha et al (2000) recomendam que, ao adquirir insumos (detergentes e lubrificantes), é

importante observar as suas especificações, que devem ser apresentadas nos seus respectivos

rótulos; além do número de registro nos órgãos públicos competentes (Conselho Regional de

Farmácia, Conselho Regional de Química e Ministério da Saúde), além do prazo de validade e

dados do fabricante, do distribuidor e / ou importador.

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Feita a limpeza, os produtos deverão ser encaminhados para outra área, a fim de serem

preparados e embalados para posterior esterilização.

Nesta etapa estão envolvidos quatro estágios: a inspeção, a seleção das embalagens, o

empacotamento propriamente dito e a selagem dos pacotes. Na etapa de inspeção, a qual visa

detectar falhas no processo de limpeza, deve-se estar atento para o uso de toucas nos cabelos,

iluminação adequada e instrumentos (lupas) que facilitem a inspeção e a verificação dos

materiais. A lavagem prévia das mãos ao manuseio dos materiais é um ponto de grande

importância.

Quanto à seleção das embalagens, deve-se compatibiliza-las com o processo de

esterilização e o material a ser preparado, mantendo sua integridade diante de riscos de danos

físicos e que apresente relação custo-benefício de acordo com a realidade da instituição.

Dentre as diversas embalagens disponíveis no mercado, existem os tecidos de algodão, o

papel grau cirúrgico e filme plástico, o papel crepado, o não-tecido e os contêineres rígidos,

dentre outras.

No empacotamento, devem ser aplicadas as técnicas adequadas que permitam proteção,

identificação, manutenção da esterilidade, transporte e manuseio do produto, facilitando a

abertura dos pacotes, a transferência com técnica asséptica que permita a utilização segura.

A selagem de embalagens de papel grau cirúrgico e filme plástico visa promover um

fechamento hermético garantindo sua integridade e mantendo a esterilidade do produto até o

momento do uso. Observar a temperatura das máquinas seladoras e a presença de rugas e canais

após o processo de selagem são aspectos importantes.

É oportuno lembrar que é imprescindível a identificação de cada pacote preparado na

CME, na qual deve constar a que setor pertence, as datas de preparo e de validade, o conteúdo e o

lote.

Por isso, quando se fala da esterilização propriamente dita, existem vários equipamentos

destinados a este processo e que se utilizam de diferentes mecanismos e parâmetros que se

aplicam aos diversos tipos de materiais, por exemplo, os instrumentais cirúrgicos e os produtos

termo-sensíveis. Dentre estes equipamentos estão as autoclaves e os esterilizadores por óxido de

etileno.

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Em todo processo de esterilização devem ser utilizados controles, chamados de

indicadores, que têm a finalidade de verificar se os parâmetros do equipamento e da esterilização

foram alcançados. Os tipos de indicadores são os físicos, os químicos e os biológicos.

Portanto, para que se possa legitimar o processo de esterilização e os parâmetros pré-

estabelecidos conferindo segurança na utilização dos produtos, deve-se proceder a validação

desse processo.

Essa validação é o conjunto de etapas denominadas qualificação. Para desenvolvê-la e

acompanhá-la, o ideal é haver em cada instituição um grupo composto pela (o) enfermeira (o) da

CME, um representante da administração da instituição, um representante da Comissão de

Controle de Infecção Hospitalar e um responsável pelo serviço de manutenção (Cunha et al,

2000). Durante o desenvolvimento do processo de validação devem ser criados protocolos e

impressos próprios a fim de que tudo fique documentado.

Basicamente, existem quatro etapas para o processo de validação: qualificação do projeto,

qualificação da instalação do equipamento, qualificação da operação do equipamento e

qualificação do desempenho do equipamento. Estas etapas referem-se às instalações elétricas,

hidráulicas, características dos equipamentos e uso de indicadores.

O armazenamento dos produtos na CME deve ser feito de modo a evitar riscos de

recontaminação, favorecer a movimentação e identificação rápida e fácil dos produtos.

A área de armazenagem obedece às seguintes recomendações tais como: não ser um local

de grande circulação de pessoas; possuir temperatura e umidade controladas entre 18º e 22º C e

entre 35% e 50%; as prateleiras devem ter distância de 5 cm das paredes, 25 cm do piso e 45 cm

do teto; realizar limpeza freqüente da área de estoque, dentre outras (SOBECC, 2005).

A observância dos prazos de validade dos produtos estéreis é um ponto importante como

fator de segurança na garantia de esterilidade. É importante ressaltar que não existe um consenso

sobre o tempo considerado seguro para a estocagem e utilização de materiais esterilizados.

Portanto, cada instituição de saúde precisa desenvolver estudos e estabelecer métodos para a

validação de seus processos.

Na distribuição e no transporte dos produtos, deve-se priorizar a adoção de um sistema

que evite a contaminação durante o transporte, além de um registro para controle de distribuição.

Além desse registro, todas as atividades, rotinas e procedimentos relativos ao reprocessamento

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dos produtos devem estar devidamente registrados: os processos propriamente ditos e as

manutenções realizadas.

No caso de haver suspeitas acerca de falhas no processo de esterilização, é preciso realizar

o chamado rastreamento de carga, que consiste na identificação e no recolhimento imediato dos

materiais suspeitos, para impedir que sejam utilizados nos clientes.

Um manual elaborado por Cunha et al (2000) mostra o fluxo unidirecional de

reprocessamento dos produtos médicos e os diversos aspectos a serem observados para a sua

correta execução apresentados nesta seção do estudo. Entender a adoção deste fluxo de trabalho é

necessário a fim de evitar que os produtos sofram um movimento retrógrado, ou seja, que depois

de terem passado por uma área limpa, voltem para outra suja, o que pode comprometer a

esterilização e, conseqüentemente, potencializar o risco de contaminação.

2.3 O enfermeiro no contexto da Central de Material e Esterilização

Para o funcionamento de uma CME, a presença do enfermeiro é de vital importância,

tanto para o gerenciamento de todo o processo quanto das medidas necessárias à previsão e à

provisão dos recursos para que clientes e equipes de saúde que utilizam os produtos estejam

protegidos de riscos de contaminação.

As atribuições dos profissionais em CME não são claramente divulgadas, fazendo com

que muitos funcionários não manifestem interesse em atuar no setor, segundo um estudo de

SILVA; PORTO (2006). Este estudo demonstrou que nos trabalhos publicados e que tratam da

visão dos profissionais de CME sobre sua prática, fica evidente que os mesmos julgavam na

muito importante para o contexto hospitalar e a reconhecem como cuidado legítimo de

enfermagem.

Porém, não foram encontradas publicações que abordassem as concepções dos

enfermeiros das UC em relação às atividades dos enfermeiros em CME, nem tampouco que

abordassem as interfaces entre os profissionais que atuam nesses setores. Esses fatos me levaram

a fazer um estudo apresentando os aspectos subjetivos que compõem um conjunto de idéias dos

enfermeiros que atuam na assistência direta a respeito das atividades dos enfermeiros na

assistência indireta, mais especificamente na CME.

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Estudo de Tipple et al (2005) demonstrou que, tanto os enfermeiros que estão nas UC

quanto os que estão na CME tiveram na graduação noções sobre prevenção e controle de infecção

hospitalar, que devem nortear a política de formação dos profissionais da saúde. Estejam ou não

atuando numa CME, todos os enfermeiros devem ter conhecimentos atualizados acerca dos

processos de assepsia, anti-sepsia, microbiologia, biossegurança e medidas de prevenção e

controle de infecções hospitalares.

Para que tudo isto esteja a contento, a supervisão e o controle em cada área e etapa do

processo são fatores imprescindíveis. O processo de trabalho nessa unidade se assemelha, em

alguns aspectos, ao de uma indústria, pela forma seqüencial de processamento de materiais e a

necessária produtividade (Moura, 1996; Silva, 1998). Além disso, devido à grande demanda de

materiais, exige extrema atenção de quem executa essas atividades.

Os enfermeiros atualmente precisam também lidar com modernas tecnologias e produtos

que demandam além de conhecimentos de novos métodos e equipamentos para reprocessá-los,

qualificação e treinamento a fim de que sejam realizados serviços com qualidade e segurança,

mas também com menor custo e sem o desgaste excessivo desses profissionais.

A prática de enfermagem em CME é bastante complexa e com características bastante

peculiares, exigindo do enfermeiro grande capacidade de coordenação, orientação e supervisão de

todas as etapas do reprocessamento dos produtos (TIPPLE et al 2005 apud MOLINA 2005).

Ainda sobre essa temática, Cruz e Soares (2004) enfatizam que o que confere a

peculiaridade ao gerenciamento de uma CME é a existência da especificidade dos produtos e dos

processos lá existentes, que em muito se diferem das rotinas de unidades de internação.

Hodiernamente, as tecnologias que visam atender aos avanços das técnicas cirúrgicas incluem

equipamentos e anestésicos que exigem o conhecimento de novos métodos de esterilização,

avançados conceitos e novas opções de trabalho. Diante dessa realidade, percebemos que cada

vez mais esses enfermeiros precisam aperfeiçoar seus conhecimentos e buscar atualização.

Portanto, pode-se afirmar que a função dos enfermeiros em CME tem início na fase de

planejamento da unidade, cabendo-lhes a escolha adequada tanto de recursos materiais quanto

humanos, bem como a seleção e o treinamento de pessoal levando-se em conta o perfil do setor.

A questão do gerenciamento de recursos humanos em CME é uma preocupação constante

para os enfermeiros, haja vista a realidade que infelizmente ainda é observada em diversas

instituições hospitalares brasileiras, nas quais os profissionais lotados naquele setor, por vezes,

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são aqueles próximos à aposentadoria, os idosos, ou com problemas de saúde e/ ou problemas de

relacionamento com os colegas, ou ainda considerados não aptos para prestar assistência direta

aos clientes (DELGADO, 2000).

Entende-se que isto é um erro, já que para garantir a qualidade dos serviços e da própria

assistência nas UC, os enfermeiros precisam ter perfil adequado e capacitação teórico-prática

para atuar em CME.

A administração de recursos humanos pertence ao mundo denominado por Habermas

(1997) como Mundo do trabalho, no qual é gerado um conhecimento de natureza normativa,

visando produzir um instrumental que permita atingir fins propostos que, no caso do trabalho

produzido em CME, são a redução de riscos aos clientes e a redução dos casos de infecção

hospitalar.

O aperfeiçoamento na gerência de recursos materiais e humanos para o setor é uma

crescente necessidade para a enfermagem, a fim de que sejam adequados à realidade institucional

sem, contudo, esquecer da importância da adoção de medidas dinâmicas e planejadas na

organização do trabalho.

É importante que os enfermeiros designados para atuar na CME tenham capacidades

técnicas e de relacionamento interpessoal, a fim de que o processo de trabalho seja ativo e

valorize as potencialidades das equipes, contribuindo para a segurança dos produtos esterilizados

e para o estímulo à pesquisa.

Dentre as atribuições dos enfermeiros na CME está a capacitação dos demais

funcionários, por meio da educação continuada das equipes sob sua responsabilidade, na qual os

enfermeiros funcionem como facilitadores da aquisição de saber e atualização, com medidas de

incentivo à participação em eventos científicos.

É importante também sinalizar sempre, junto à administração dos hospitais, a necessidade

de se fazer a seleção de pessoal sob critérios rigorosos, para que a aquisição de hábitos de

reflexão e ação possa ampliar a qualificação desses profissionais, no sentido de contribuir para o

controle das infecções hospitalares e, conseqüentemente, a diminuição do tempo de internação e a

redução de custos diretos e/ ou indiretos.

O estudo de Mizusaki, Possari e Araújo (2004) faz uma importante observação acerca do

comportamento dos custos, que dizem ser extremamente interessante para os gerentes de

Enfermagem na tomada de decisões e no planejamento das atividades operacionais. Em outras

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palavras, a avaliação de custos permite viabilizar e otimizar a realização dos procedimentos junto

aos clientes e da assistência como um todo.

Matos (1995) vai além, afirmando que os profissionais que utilizam a avaliação de custos

como ferramenta no gerenciamento são os que desenvolvem uma gestão competente e compatível

com a missão de cuidar da saúde da população.

Os enfermeiros têm, também, grande responsabilidade quanto à integridade da equipe sob

sua supervisão, já que na CME há manipulação de materiais contaminados, fato que se constitui

num risco que se multiplica quando os demais elementos da equipe não têm noções de assepsia,

anti-sepsia, microbiologia e biossegurança.

No tocante aos aspectos materiais, as atividades do enfermeiro numa CME correspondem

aos aspectos que envolvem a gerência, mas não a gerência associada meramente às idéias de

previsão, aquisição, provisão, transporte, recebimento, armazenamento, conservação, distribuição

e controle. A gerência de enfermagem numa CME vai muito além, perpassa o entendimento de

que, segundo Motta (2002), se trata da arte de pensar, julgar, decidir e agir para obter resultados.

O enfermeiro de CME atualmente gerencia informações, a fim de manter as necessidades

de cuidado dos clientes e a utilização eficiente dos recursos de enfermagem, obviamente,

adequando o gerenciamento a sua realidade institucional.

É importante salientar que os enfermeiros que atuam na CME possuem uma grande

autonomia, por conseqüente domínio de uma área de saber bastante específica, que envolve o

conhecimento sobre a diversificação dos produtos e equipamentos e a forma de processá-los.

Compartilho com a idéia de Bartolomei (2003) de que o processo de trabalho do enfermeiro em

CME é diferente do realizado nas UC, mas se constitui também num processo de cuidar, num

processo de trabalho em saúde.

No início deste século XXI, por iniciativa da Association of periOperative Registered

Nurses (AORN), mais uma questão foi incorporada à realidade dos enfermeiros em CME: o

reprocessamento e a reutilização de produtos médicos rotulados para uso único, que tem sido uma

prática largamente encontrada nos serviços de saúde do Brasil e do exterior (ANVISA, 2006).

A evolução tecnológica de materiais e produtos que determinam novos recursos

diagnósticos e terapêuticos desencadeou esta prática, que envolve várias questões, dentre elas a

ética. Portanto, os enfermeiros que trabalham nesse setor precisam não somente conhecer as

legislações vigentes sobre o assunto _ a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 156, as

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resoluções nº 2.605 e nº 2.606 (RE) da ANVISA (2006) _ a fim de estarem respaldados para

atender a esta nova realidade, mas também observar aspectos como: a análise da real necessidade/

possibilidade de reutilizar tais artigos e a responsabilidade por essa decisão e o seu controle de

qualidade, segundo apontam Tonelli e Lacerda (2005).

Para tanto, é necessária a implementação, nas instituições hospitalares, de comissões que

sejam responsáveis pela análise desses aspectos, e o enfermeiro da CME se insere nesse contexto,

pelo fato de ser o responsável técnico por este setor.

Outra interface importante existente entre os enfermeiros de CME e os demais membros

da equipe é em relação à saúde ocupacional dos profissionais. Psaltikidis (2004) lembra bem que,

no que se refere principalmente ao risco biológico, esta é mais uma das atribuições do

enfermeiro: estabelecer rotinas bem determinadas de limpeza dos produtos a fim de evitar

acidentes pérfuro-cortantes, respingos de sangue ou fluidos corporais, além de ênfase adequada

ao uso de EPI.

O enfermeiro que atua numa CME precisa se relacionar com diversas áreas do hospital e

de fora dele, a fim de que os insumos sejam fornecidos e tudo funcione de maneira articulada. Já

é uma realidade hoje, dentro das CME de grandes instituições hospitalares, haver enfermeiros

participando efetivamente da administração de materiais, integrando comissões técnicas para

escolha de produtos e equipamentos, tanto nas instituições públicas como nas particulares,

testando seu uso e dando pareceres.

Destaco ainda que estes enfermeiros têm um profundo conhecimento de todas as

atividades realizadas naquele setor, administrando os recursos que serão empregados e

coordenando, agregando e conduzindo seus grupos de trabalho na elaboração de padronizações

que darão qualidade ao produto final, do material que será distribuído. Para Roman (2005), a

qualidade do produto final, por sua vez, está diretamente relacionada com a qualidade da

assistência prestada, intervindo tanto no grau de satisfação das equipes das UC quanto na dos

clientes, que são o foco principal de todas as ações no ambiente hospitalar .

Para se definir qualidade em CME é preciso que levemos em conta fatores como

recursos humanos e materiais, condições dos equipamentos, estrutura física, educação e objetivos

a serem alcançados pelo serviço... (Roman, 2005, p. 33). Com esta afirmação, a autora faz um

resumo das atividades dos enfermeiros numa CME, pois são justamente esses profissionais os

responsáveis em fazer com que tudo isso possa ser executado.

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Rodrigues et al (1995) destacam que a CME sobressai no contexto hospitalar por ser um

das principais responsáveis pela qualidade dos serviços prestados aos clientes, por contribuir

significativamente no controle das infecções hospitalares.

Brito et al (2002) referem que as infecções hospitalares representam um grave problema

de saúde pública, devido a sua complexidade e às implicações sociais e econômicas que

acarretam. A tentativa de fazer o controle deste tipo de agravo tem gerado esforços e estudos de

diversos segmentos do setor de saúde, tanto no serviço público quanto no privado a fim de propor

medidas para o controle das infecções hospitalares. Uma das mais eficazes conhecidas é o

reprocessamento de produtos médicos.

E, nesse contexto, esses autores reconhecem que os enfermeiros da Central de Material e

Esterilização (CME) são os profissionais responsáveis por gerenciar a elaboração de medidas de

controle que diminuem a possibilidade de ocorrência de casos de infecção hospitalar; tendo como

base o conhecimento dos diferentes métodos de esterilização e desinfecção.

Isto nos leva a dizer que as atividades dos profissionais de Enfermagem, coordenadas pelo

enfermeiro na CME, garantem a segurança não só das equipes que participam diretamente do

reprocessamento dos produtos, mas também das equipes multiprofissionais atuantes na

assistência direta.

E, diante do exposto, entende-se que as atividades que fazem parte do trabalho de um

enfermeiro numa CME têm um caráter desafiador.

2.4 A inter-relação entre a Central de Material e Esterilização e as Unidades Consumidoras: cuidado invisível x cuidado visível

É inegável a existência da relação CME x UC x clientela que, estabelecida de maneira

dialógica e participativa, resulta numa assistência de qualidade para os clientes.

Não basta que o controle das infecções hospitalares seja feito apenas em parte pela

adequada esterilização dos produtos médicos através de meios físico-químicos, nem tampouco

através do correto manuseio desses produtos pelos profissionais; é imprescindível que os

enfermeiros se conheçam e discutam suas práticas, que estão diretamente ligadas (GRAZIANO;

SILVA; BIANCHI, 1987).

É fundamental destacar também a importância dos enfermeiros das UC na supervisão da

conservação dos produtos, considerando que o manuseio delicado, o cuidado e o uso adequados

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contribuem muito para aumentar a vida útil dos mesmos, evitando gastos elevados com

manutenção ou com freqüentes aquisições. E, mais do que isto, o olhar atento aos materiais e a

colaboração dos enfermeiros das UC na detecção de possíveis falhas pode auxiliar muito na

redução de riscos.

Considerando que a Enfermagem é uma arte e, como tal, se define como uma atividade

voltada a uma meta que requer aplicação de conhecimentos e habilidades, na busca da satisfação

de uma necessidade de auxílio, vivenciada por um cliente-paciente (Torres, 1993); é possível

inferir que tanto o cuidado de enfermagem prestado pelo enfermeiro de CME quanto o dos

enfermeiros das UC têm o mesmo foco: os clientes.

Sobre esta temática, Waldow (2006, p. 88) refere que nas escolas de enfermagem, após o

conhecimento de uma patologia, segue-se uma lista de ações, denominadas, normalmente, de

cuidados de enfermagem . Na concepção da autora, a questão da intervenção no corpo biológico

acometido de uma doença é o que caracteriza o conceito de cuidado transmitido nas escolas que

formam os enfermeiros. Ela declara ainda que os cuidados de enfermagem têm sido usados

prioritariamente em referência à execução de técnicas e de procedimentos nos

pacientes, e não

para os pacientes.

Em sua tese de Doutorado, Bartolomei (2003, p.110) esclarece que a consideração do

trabalho em CME como um cuidado ao paciente depende do referencial conceitual do cuidado.

Em uma busca bibliográfica, a autora apurou que existem duas vertentes referenciais do cuidado

genérico: uma que admite que o cuidado ocorre apenas na inter-relação pessoal, e outra que vai

além dessa inter-relação, considerando também todos os atos que configurem conforto e

segurança física e material.

Daí poder-se entender que os referenciais de cuidado que os enfermeiros possuem são

distintos, mas não excludentes e servem de base na formação de suas concepções sobre o trabalho

dos enfermeiros em CME (TONELLI e LACERDA, 2005). Muitos profissionais podem não

demonstrar interesse ou julgá-lo uma atividade desinteressante, dependendo do referencial de

cuidado que possuam.

Erdmann et al (2005) lembram que o fenômeno do cuidado é historicamente construído,

sendo que circunstâncias particulares, ideologias e relações de poder criam condições sob as

quais o mesmo pode ocorrer, as formas que assumirá. As relações de poder na área das ciências

da saúde foram sendo focadas nas tecnologias utilizadas à beira do leito, nas diferentes técnicas

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de assistência intensiva, com foco hospitalocêntrico em detrimento da prevenção de agravos à

saúde.

O cuidado ficou muito associado às atividades executadas junto aos clientes, a alguma

intervenção que pudesse ser realizada no contato com esse cliente. Mas segundo nos lembram

também Erdmann et al (2005), para que o cuidado se efetue, muitas vezes, há a necessidade do

uso de produtos ou equipamentos que dependem das condições econômicas presentes e do

ambiente onde se encontram.

Em outras palavras, não se pode dicotomizar o cuidado porque, na verdade, ele é um

fenômeno único, e conta não somente com quem o executa, mas também com os produtos

necessários a essa execução. Por isso, entendo que a CME presta um tipo de cuidado bem

peculiar, que para muitos é invisível.

É preciso entender que os enfermeiros, lidam com algo definido por Bueno e Queiroz

(2006, p. 226) como ... uma esfera privilegiada na área da saúde, tanto do ponto de vista

científico como prático. , que é o cuidado. Então, faz-se necessário compreender que o cuidado,

independentemente do setor de atuação do enfermeiro, destina-se a um alvo único, que é o

cliente.

O trabalho da Enfermagem é um trabalho atento à segurança da vida realizado para ser

livre de riscos e que o cuidado dá idéia de realização de uma atividade, de executar algo

para

outro ser, de agir em benefício da saúde do outro (Erdmann et al, 2005). Esta idéia e é ainda mais

enfática quando se assegura que o cuidar é para o paciente. Cuida-se o paciente, com o paciente,

quando possível (WALDOW, 2006, p. 89).

O fazer do enfermeiro é desenvolver atividades que visem atender às necessidades dos

clientes e auxiliá-los para que se sintam melhores. Porém, essas atividades não precisam ser

realizadas em um único âmbito, de uma única maneira. A partir do momento em que se é

enfermeiro se é prestador de cuidados, seja à beira do leito (cuidado visível) ou numa CME

(cuidado invisível).

Apesar de toda a sua importância no âmbito hospitalar e da riqueza como campo de

pesquisa para a Enfermagem, freqüentemente os enfermeiros de CME são responsabilizados por

falhas ocorridas no funcionamento e pela falta de planejamento de outros setores (Oliveira;

Miranda; Moreira, 2000), sendo o colapso na realização de procedimentos cirúrgicos por falta de

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fornecimento de produtos estéreis um dos poucos momentos em que a interação que mantêm com

a CME é questionada.

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3 METODOLOGIA

Buscando obter mais informações acerca das concepções dos enfermeiros que atuam nas

UC sobre o trabalho dos enfermeiros na CME, a fim de que as mesmas pudessem ajudar a

identificar alguns aspectos que justifiquem a desvalorização ainda conferida a esse trabalho, foi

elaborado um estudo de caráter descritivo que, segundo Leopardi (2002), é indicado quando se

tem a necessidade de explorar uma situação desconhecida, da qual se necessita ter mais

informações.

A natureza descritiva favorece a obtenção de dados necessários para o desenvolvimento

da pesquisa, pois é através das descrições que se pode delinear acontecimentos, situações e

citações que favorecerão a interpretação e análise das informações (LÜDKE & ANDRÉ, 1986, p.

11).

Como expresso anteriormente, o objeto de estudo define-se como as concepções dos

enfermeiros das Unidades Consumidoras acerca do trabalho dos enfermeiros em CME. Para

identificar a complexidade dos aspectos da construção destas concepções e as relações com o

contexto na qual se produzem, utilizei a abordagem qualitativa, que está em consonância com o

estudo. Para Polit e Hungler (1995, p. 18) sua característica é que: não tenta controlar o contexto

da pesquisa, mas captar o contexto em sua totalidade . Minayo (1994, p. 21) descreve a pesquisa

qualitativa como a que "trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,

valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e

dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis".

A identificação das idéias que os enfermeiros têm acerca de sua categoria profissional

atuante na CME ajuda a discutir aspectos de como o processo de trabalho se insere no processo

de cuidar da Enfermagem e, mais ainda, discutir o quê para esses profissionais faz parte do

cuidar.

As concepções que os indivíduos possuem acerca de determinado assunto influenciam em

muito suas atitudes. Então, o que mais interessou neste estudo, foi exatamente obter informações

que servissem de subsídio para desvendar a tensão entre o saber-fazer na Enfermagem, entre o

cuidado direto e o cuidado indireto. Esta, de certa forma, pode fazer com que alguns enfermeiros

que atuam na assistência direta aos clientes, ainda hoje, desconheçam o trabalho dos enfermeiros

em CME, e se refiram de forma tão inaceitável a esse tipo de trabalho.

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Compartilhando com Bartolomei (2003) a idéia de que o estabelecimento de novos papéis

e relações sociais e, conseqüentemente, com o processo de cuidar em saúde pelos enfermeiros

poderá ser o caminho para a revalorização de seu papel, a abordagem qualitativa vem ao encontro

da proposta deste estudo. Segundo Minayo (2000, p. 10): As metodologias de pesquisas

qualitativas são aquelas capazes de incorporar a questão do significado e da intencionalidade

como inerentes aos atos, às relações e às estruturas sociais.

É para mim de grande importância identificar o contexto que envolve os enfermeiros da

assistência direta e os enfermeiros da assistência indireta _ em particular, da CME _ no dia-a-dia

hospitalar, para compreender quais são as experiências que os enfermeiros da assistência direta já

haviam tido em relação ao trabalho em CME, que tipo de contato havia sido estabelecido com

aquele setor. Para Polit e Hungler (1995) a abordagem qualitativa é uma forma de captar os

contextos, uma ferramenta para compreender as experiências pessoais.

3.1 Cenário

O estudo foi realizado em dois hospitais, um da rede pública e um da rede privada de

saúde localizados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

O primeiro é um dos maiores em volume de atendimentos, da rede do Ministério da

Saúde, em co-gestão com o Estado e o Município e com orçamento próprio. É um hospital de

média complexidade com alguns serviços de alta complexidade que conta com,

aproximadamente, 500 leitos em funcionamento e com uma estrutura pavilhonar (MINISTÉRIO

DA SAÚDE, 2006).

Possui um serviço de Emergência não regulada, aberta 24 horas, com capacidade de 10

leitos masculinos, 8 leitos femininos, 8 pediátricos, 1 isolamento de adulto e 1 isolamento

pediátrico. Considerando a grande demanda, é observado que são adicionados leitos extras que

chegam, em média, a 35 ou até mais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

Além disso, o hospital conta com serviços de maior complexidade, como a Maternidade

nível III (para gestações de alto risco, funcionando 24 horas), Oncologia, transplantes hepático,

renal e de córnea. É referência para a Região Metropolitana em todo o Estado do Rio de Janeiro

para os serviços de Nefrologia e Hepatologia, além de Oftalmologia e Cirurgia de Cabeça e

Pescoço. Portanto, trata-se de um hospital que realiza um grande volume de procedimentos

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cirúrgicos, diagnósticos e atendimentos pós-cirúrgicos, acrescido de uma demanda expressiva de

quantidade de materiais esterilizados.

As unidades de internação clínica e cirúrgica contam com enfermeiros atuando

diuturnamente, além dos diaristas e os enfermeiros envolvidos na administração de serviços de

enfermagem. Na CME todos os plantões contam com uma enfermeira plantonista e duas

enfermeiras diaristas.

O recolhimento e a distribuição dos materiais para as UC são feitos pelos auxiliares ou

técnicos de enfermagem, ou até mesmo pelos chamados maqueiros2. Este fato é um motivo de

grande preocupação, pois o transporte é realizado por profissionais que não recebem o devido

treinamento para tanto e que, por isso, estão mais expostos a riscos de acidentes com materiais

contaminados. Esta prática também coloca em risco a segurança dos clientes que são submetidos

a quaisquer procedimentos nos quais sejam utilizados os materiais, que devem ser protegidos de

modo a evitar a contaminação durante o transporte não interferindo na sua esterilidade

(SOBECC, 2005).

O hospital da rede privada é um hospital geral reconhecido no tratamento de casos de alta

complexidade e que conta com uma emergência aberta funcionando 24 horas do dia. Dispõe de

mais de 200 leitos distribuídos pelos setores de Internação, Terapia Intensiva, Semi-Intensiva,

Pediatria, Maternidade, Emergência

tanto para adulto quanto pediátrica, serviço de

Hemodinâmica, Centro Cirúrgico, Cirurgia Cardíaca, UTI Neonatal, e Pediátrica, além de um

setor para Métodos Diagnósticos e Radiologia Digital.

A distribuição dos enfermeiros é um pouco diferenciada da que vigora no hospital

público: há uma única enfermeira que chefia todas as unidades de internação, tanto clínicas

quanto cirúrgicas. Cada andar dessas unidades é dividido em duas alas, mas em alguns deles há

um enfermeiro plantonista responsável.

Nessa instituição o sistema de recolhimento de produtos médicos das UC a serem

reprocessados na CME e a distribuição de outros estéreis a essas unidades é feito por funcionários

exclusivamente designados e treinados para essas atividades. Vale ressaltar que o transporte dos

materiais é feito em recipientes e/ ou carrinho separados, e registrado de forma rigorosamente

protocolada e implementada pela enfermeira responsável pela CME.

2 Funcionário treinado no processo de conduzir os clientes em macas ou cadeiras de rodas para os diversos setores do hospital (Centro cirúrgico, raio X, ambulatórios, unidades de internação, dentre outros).

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Da mesma forma, no caso do transporte de materiais consignados, o registro também é

rigorosamente protocolado. Tais medidas, aliadas ao treinamento oferecido pela chefia da CME

aos profissionais responsáveis por tais atividades, permite que seja conferida maior garantia de

esterilidade aos materiais fornecidos às UC, bem como maior segurança aos clientes e aos

profissionais que os manuseiam.

3.2 Sujeitos da pesquisa

Os sujeitos deste estudo foram os enfermeiros que atuam nas unidades de internação

clínica e cirúrgica. Foram adotados como critérios de inclusão: aceitar participar da pesquisa e

estar trabalhando no setor há pelo menos um ano, tempo considerado necessário à vivência da

dinâmica de trabalho e da interação com a CME.

Foram excluídos do estudo os enfermeiros plantonistas com atividades em mais de um

setor, ou no mesmo setor, em caráter de substituição, pois isso acarretaria uma repetição de

depoentes.

Participaram da pesquisa 25 enfermeiros que atuam em unidades de internação clínica e

cirúrgica, sendo 09 da instituição pública e 16 da instituição privada.

3.3 Coleta de dados

Neste estudo, a fim de apreender a complexidade do objeto de pesquisa, foi utilizada a

entrevista semi-estruturada que, segundo Minayo (1994, p. 121), nos permite enumerar de forma

mais abrangente possível as questões que o pesquisador quer abordar no campo, a partir de suas

hipóteses ou pressupostos, advindos, obviamente, da definição do objeto de investigação.

Foi permitido aos sujeitos do estudo que abordassem os mais diversos aspectos

relacionados ao objeto sem, contudo, perder de vista minha intenção em estar sempre

concentrados nas concepções sobre o trabalho dos enfermeiros na CME. Por tudo isto, a escolha

deste tipo de entrevista se adequa perfeitamente à proposta de estudo já que à luz de Triviños

(1992), nesta técnica o sujeito tem liberdade necessária para expressar-se e o investigador não

perde o foco principal.

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Para Bartolomei apud Thiollent (2003) essa liberdade proporcionada ao entrevistado

através da entrevista semi-estruturada propicia encontrar maior qualidade de dados significativos.

3.4 Procedimentos éticos e coleta de dados

Inicialmente, após a aprovação dos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) das instituições,

fiz contato com as chefias de Enfermagem das UC nas quais realizei as entrevistas, a fim de que

pudesse agendá-las junto com os enfermeiros nas datas e horários de sua preferência.

A receptividade dos profissionais para a realização das entrevistas é um aspecto muito

importante para o desenvolvimento de uma relação adequada entre o pesquisador e os

entrevistados, permitindo criar um espaço de comunicação apropriado para discorrer o mais

tranqüilamente possível sobre o tema tratado (ANGULO-TUESTA, 1997).

Após receber a autorização dos CEP, pude ter acesso aos cenários da pesquisa e falar

diretamente com os sujeitos em potencial, cuidando de comunicar as suas chefias imediatas a

minha presença no setor. A partir daí, comecei a interagir com os enfermeiros acerca do porquê

de minha presença no setor e fazendo esclarecimentos sobre a pesquisa.

O desenvolvimento das entrevistas, na maioria dos casos, deu-se num ambiente reservado,

permitindo abordar com tranqüilidade as questões do roteiro. Os horários das entrevistas foram

determinados pelos participantes do estudo, pois era o de menos atividades.

As entrevistas aconteceram nas próprias unidades de trabalho dos enfermeiros, nos meses

de novembro e dezembro de 2006 e junho e julho de 2007. A média de duração de cada entrevista

foi de 20 minutos, variando entre 15 e 40 minutos. A coleta de dados foi encerrada quando

ocorreu a saturação das respostas.

A fim de cumprir os preceitos ético-legais impostos pela Resolução 196/96 (CNS),

forneci todas as informações sobre a pesquisa aos sujeitos antes das entrevistas, e entreguei o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A) e o Termo de Autorização (Apêndice

A), confirmando o aceite da participação e seu direito em desistir em qualquer fase da mesma.

Desta forma, os entrevistados tiveram sua autonomia respeitada, contando com o

comprometimento em lhes garantir seu anonimato, a confidencialidade dos dados fornecidos e a

privacidade nos procedimentos de investigação científica, conforme as exigências da referida

Resolução 196/96.

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Para validar a proposta do estudo foi realizado um teste do instrumento de coleta de

dados. Na primeira versão do roteiro, que continha duas questões (O que você pensa sobre o

trabalho do enfermeiro na CME? e Que importância você atribui a esse trabalho?) foram

entrevistados três enfermeiros da instituição. Esse teste teve por objetivos: em primeiro lugar,

verificar a utilização de uma linguagem apropriada que facilitasse a compreensão das perguntas,

e em segundo lugar, observar se as perguntas propostas estavam adequadas à proposta do estudo.

Como resultado desse teste, foi excluída do roteiro a segunda questão, pois verificou-se que os

entrevistados, quando questionados sobre o que pensavam acerca do trabalho do enfermeiro em

CME, já contemplavam em suas respostas se, na visão deles, o mesmo era importante ou não.

Esta redução no número de perguntas permitiu que muitas respostas não se tornassem

redundantes.

Dessa forma, ficou definido o roteiro final (Apêndice B) e iniciei as entrevistas. Estou

certa de que o fato do roteiro contar com apenas uma questão não empobreceu a coleta de dados.

Ao contrário, o que foi verificado é que os entrevistados puderam falar mais livremente acerca de

suas idéias, pois é sabido que não é o número de questões que enriquece a pesquisa. Minayo

(2000) recomenda que o roteiro de entrevista para pesquisa qualitativa deve constar de poucas

questões, visando obter o ponto de vista dos atores sociais previstos nos objetivos da pesquisa.

Por sugestão dos participantes, a sua identificação poderia ser feita pela ordem numérica

Entrevistado 1 (E1). E a identificação das instituições seria determinada pelas letras A e B. Sendo

assim, a instituição pública foi denominada instituição A e a privada, B. utilizando-se esse

critério, os enfermeiros foram identificados por E1A, E1B e assim sucessivamente, até o último.

Todas as entrevistas foram transcritas para análise, terminando após um mês de

encerradas as visitas aos cenários da pesquisa.

3.5 Tratamento dos dados

Para análise do material coletado foi utilizada a técnica de Análise Temática, proposta por

Minayo (2000), segundo a qual pude descobrir os núcleos de sentidos que compõem uma

comunicação cuja presença ou freqüência signifiquem algo para o objeto analítico visado.

Creio que esta técnica foi adequada à proposta da pesquisa porque, qualitativamente, a

presença de determinados temas denota os valores de referência e os modelos de comportamento

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presentes no discurso. Minayo (2000) propõe realizar a análise temática em três etapas: pré-

análise, exploração do material e tratamento dos dados obtidos.

A pré-análise inclui a escolha dos documentos a serem analisados: a retomada dos

objetivos iniciais da pesquisa e a elaboração de indicadores que orientem a interpretação final.

Nessa fase pré-analítica determinam-se a unidade de registro (palavra-chave ou frase), a unidade

de contexto (a delimitação do contexto de compreensão da unidade de registro), os recortes, a

forma de categorização, a modalidade de codificação e os conceitos teóricos mais gerais que

orientarão a análise.

A exploração do material consiste essencialmente na transformação dos dados brutos

visando alcançar o núcleo de compreensão do texto. Nesta fase, faz-se o recorte (escolha das

unidades de significação) do texto em unidades de registro, tal como foi estabelecido na pré-

análise; depois, escolhem-se as regras de contagem e posteriormente realiza-se a classificação e a

agregação dos dados (categorização), escolhendo as categorias teóricas que comandarão a

especificação dos temas.

Numa análise temática, o tema é a unidade de significação, que se libera naturalmente de

um texto analisado. Logo, fazer uma análise temática consiste em descobrir os temas, que são as

unidades de registro nesse tipo de análise e que corresponde a uma regra para o recorte. Após o

recorte, as unidades de significação foram classificadas.

Na fase de tratamento dos resultados obtidos, na inferência e na interpretação,

optou-se

por trabalhar na linha qualitativa, por meio de significados (ao invés de inferências estatísticas).

Ou seja, para apresentar os resultados, foram feitas inferências e interpretações previstas no

quadro teórico.

As falas foram transcritas, organizadas e, em seguida, submetidas à análise, na qual os

dados coletados foram devidamente interpretados e classificados em três categorias denominadas:

Trabalho que envolve gerência ; Trabalho desconhecido, mas fundamental e O invisível que

é essencial em sua simplicidade , que serão apresentadas na seção seguinte.

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4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Na busca de atender aos objetivos do estudo por meio das entrevistas com os enfermeiros

das UC, foi possível evidenciar temáticas emergentes que respondem aos questionamentos da

pesquisa. A partir das leituras das respostas, os textos foram reunidos conforme os núcleos de

sentido que apresentavam, os quais foram aproximados à temática, compondo as categorias de

análise.

Considerando-se que os significados surgem no processo de interação dos seres humanos,

na maneira como eles agem um com o outro em relação a uma determinada coisa ou evento

(TEIXEIRA et al, 2006), os significados trazidos pelos enfermeiros das UC acerca do trabalho

dos enfermeiros em CME deram suporte à discussão das categorias.

4.1 Dados de identificação dos sujeitos da pesquisa

Dentre os enfermeiros que participaram do estudo, a maioria é do sexo feminino o que,

segundo Bartolomei (2003, p. 68), corresponde à própria característica dessa profissão,

composta predominantemente de mulheres .

Os entrevistados concentram-se nas faixas etárias entre 20 e 30 anos e 30 e 40 anos, têm um

tempo de formados menor do que 05 anos e estão atuando em sua maioria em clínicas cirúrgicas,

sendo que duas entrevistadas ocupam cargos de chefia.

4.2 Categoria 1: Trabalho que envolve gerência.

Esta categoria, em que se incluiu a qualidade na assistência aos clientes, surgiu a partir

das frases retiradas das falas dos entrevistados, as quais revelam que uma das concepções acerca

do trabalho dos enfermeiros que atuam na CME é de que o mesmo consiste no cuidado à

execução do reprocessamento dos produtos médicos. Neste contexto, significa garantir os meios,

as condições adequadas para que o cuidado direto aos clientes possa ser realizado.

Para grande parte dos entrevistados, significa essencialmente o desenvolvimento de

gerência de Enfermagem, a partir das ações de supervisão, controle, fiscalização e coordenação

do trabalho dos outros membros da equipe:

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... então ele tem que estar gerenciando, observando como estão sendo

feitos os procedimentos, como é que estão sendo feitos os processamentos

de material.

E6A

... ele tem que supervisionar o trabalho dos outros membros da equipe,

ele supervisiona o trabalho, vê se aquele pacote está sendo bem feito;...

E1A

... enfermeiro tem que supervisionar, administrar e fiscalizar, então ele

é importante também na Central de Material...

E3B

Eu acho fundamental ter um enfermeiro lá para coordenar, controlar,

padronizar as rotinas,... controlar o funcionamento e a qualidade do

funcionamento das autoclaves, aquilo tudo tem que ter alguém que fique

realmente observando... Eu acho que seja só supervisão. E5B

O que os depoimentos revelam é que as atividades que os enfermeiros das UC consideram

ser as mais comuns na rotina de trabalho dos enfermeiros da CME são aquelas relacionadas com

a administração de recursos materiais e humanos, ou seja, consistem em dar as diretrizes para o

preparo dos produtos/ materiais e o seu fornecimento aos diversos setores do hospital. Por isso,

infere-se que quando se fala em trabalho de um enfermeiro numa CME, automaticamente se fala

em gerência.

Ao analisarmos o corpus dos discursos, as referências são feitas basicamente à supervisão

do trabalho, que está entre os diversos tipos de funções envolvidos na gerência de enfermagem

que incluem também: planejamento; elaboração de instrumentos administrativos e operacionais

(manuais, normas, rotinas, regulamentos, regimentos); administração de recursos materiais e a

administração de pessoal (BARTOLOMEI, 2003).

Acho que a atuação do enfermeiro na Central de Material fica

basicamente na gerência... Eu acho que a ação do enfermeiro no setor é

bem mais gerencial... E10B

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43

É importante porque a gente tem que gerenciar diretamente o serviço,

existem rotinas a serem cumpridas. E14B

Quando se pensa em gerência de enfermagem, associam-se as idéias de previsão,

aquisição, transporte, recebimento, armazenamento, conservação, distribuição e controle. Esta

definição de Sanches, Christovam e Silvino (2006) coincide justamente com a atribuída à CME,

quando se quer descrevê-la.

Chiavenato (2004) apresenta três habilidades fundamentais para os gerentes: habilidade

técnica, habilidade humana e habilidade conceitual; as quais requerem competências pessoais

distintas, as quais traduzem qualidades de quem é capaz de analisar uma situação, apresentar

soluções e resolver os assuntos ou problemas. Unidas, essas habilidades constroem o maior

patrimônio pessoal do administrador - seu capital intelectual.

Esta idéia é revolucionária quando falamos em atividades do enfermeiro em CME, já que

o trabalho naquele setor é freqüentemente associado a atividades manuais e repetitivas

(DELGADO, 2000; CRUZ, 2003).

Sabe-se que administrar recursos materiais, por meio de atividades de provisão e previsão

é algo inerente aos enfermeiros. Ao classificar o gerenciamento como um dos processos de

trabalho usados pela enfermagem, afirma-se que o administrar-gerenciar é privativo do

enfermeiro, diferindo neste aspecto dos demais, que poderiam ser feitos por outros profissionais

de saúde. Desta forma, o gerenciamento deve ser considerado imprescindível, estando tão

imbricado nos demais que se torna difícil separá-lo como um processo isolado. O processo

gerenciar tem, na verdade, como objetos de trabalho o trabalho cuidar e o trabalho educar, além

de ter por tarefa o seu próprio aperfeiçoamento. (KIRCHHOF 2003, p. 673).

O fato do trabalho dos enfermeiros da CME ser visto como gerencial não se configura,

porém, num aspecto negativo, na visão dos entrevistados. Ao contrário, para eles esta atividade é

de extrema importância pois, devido a algo que é próprio do enfermeiro, ele se torna

insubstituível naquele setor, tal como demonstram os depoimentos a seguir:

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... Não estou dizendo que auxiliar e técnico não sabe fazer esse

trabalho, mas eu digo assim, o enfermeiro ele tem o conhecimento

científico para poder planejar, coordenar, organizar, etc. E3A

Se ele não fiscalizar, quem vai fazer? E4A

... é um trabalho super importante porque a gerência é um trabalho

importante em si, você tem que ter um controle, através do controle você

estabelece um fluxo, através desse fluxo você pode ter essa organização e

o hospital em todos os setores tem que ter organização e para funcionar é

preciso a organização.

E10B

... o enfermeiro tem um papel essencial dentro da Central de Material

por isso, porque ele é a pessoa X, a pessoa chave que vai controlar tudo

isso, além, ele... não é só um trabalho de fiscalização, ele também está ali

com a equipe, ele vai trabalhar junto com a equipe. E9B

No dizer desses respondentes, a atuação do enfermeiro na CME representa um diferencial

pela forma como os materiais são preparados, e o fato dos depoimentos o apontarem como um

agente fiscalizador não acontece de forma negativa, mas sim como algo que é necessário para

que haja qualidade na assistência que será prestada aos clientes, como revela o depoimento a

seguir:

Se não tiver fiscalização não tem uma boa qualidade. Ele busca uma

boa produção e uma grande qualidade no serviço dele. E4A

... é um serviço de grande responsabilidade que exige uma

especificidade devido ao setor, e que diretamente está ligado à qualidade

do serviço que vai ser prestado ao cliente. E14B

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As atividades dos enfermeiros em CME constituem-se num sistematizado processo de

trabalho, o qual possui fases distintas de produção que permitem pouca possibilidade de variação,

a qual depende somente do tipo de material e de embalagem (Bartolomei, 2003). Esta pouca

variação constitui-se numa condição para o controle de qualidade da produção, aspecto que

aparece nos depoimentos dos enfermeiros das UC:

... comecei a perceber como era importante o controle da

qualidade do trabalho... E2A

... então, você observar se esses parâmetros estão sendo

cumpridos, você tem que garantir o padrão de qualidade da

esterilização dentro desse local,... E9A

A qualidade da assistência prestada aparece como ponto de convergência nas idéias dos

enfermeiros das UC em torno daquilo que imaginam ser a finalidade das ações dos enfermeiros

na CME.

O discurso consensual é de que existe a vinculação da qualidade dos produtos

reprocessados na CME com a qualidade de assistência direta, ou seja, a todo o momento os

enfermeiros entrevistados associavam a importância do trabalho do enfermeiro de CME atuando

no controle de qualidade do preparo dos materiais.

Definir um conceito de qualidade é algo difícil, pois abrange parâmetros muito relativos;

mas como bem esclarece Costa (2003, p. 67): Traz consigo o sentido de perfeição, do melhor

assistir possível, do assistir ideal, a busca do bem viver; assumindo, portanto, nesta concepção, a

sua dimensão ética.

Os enfermeiros das UC explicitaram em suas falas a influência do trabalho do enfermeiro

da CME no trabalho dos enfermeiros nas demais atividades realizadas em outros setores do

hospital, ou seja, eles reconheceram que se o primeiro não for executado de forma eficiente, a

qualidade da assistência nos demais setores ficará seriamente comprometida:

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... nas cirurgias o paciente vai ter contato direto com aquele material,

então é muito importante o trabalho do enfermeiro, o enfermeiro que

atua ali, e vendo as falhas, o que está faltando... E1A

... se você pensar, no final todos chegam a um denominador comum, ...o

paciente cirúrgico, ele vai precisar,...

E8A

... eu acho a Central uma parte importantíssima da Enfermagem,

porque qualquer coisa de errado ali tem toda contaminação para o

paciente e várias complicações. E6B

... se não acontecer exatamente como deve ser, o paciente é totalmente

prejudicado, principalmente em relação à parte cirúrgica...

E6B

Estas falas reforçam a relação de interdependência que as UC têm com a CME, cujas

atividades convergem para o mesmo ponto, que é o cliente. A finalidade do trabalho nesses

setores é assistir o cliente da melhor forma possível.

No depoimento de um dos enfermeiros que demonstrou ter algum conhecimento técnico

sobre os equipamentos utilizados no reprocessamento dos produtos, ficou explicitada sua

preocupação com a qualidade não só na finalidade do trabalho, mas a qualidade em cada etapa

dele, em seus diferentes aspectos como, dentre outros, a limpeza e a esterilização propriamente

dita:

Eu acredito que um enfermeiro dentro de uma Central de Material ele

deve trabalhar principalmente na manutenção dos padrões adequados

para esterilização, ele tem que controlar os parâmetros da autoclave,

controlar os parâmetros dos materiais... Tem aquela termo-

desinfectadora... Então, você observar se esses parâmetros estão sendo

cumpridos, você tem que garantir o padrão de qualidade da esterilização

dentro desse local,... E9A

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Essa visão vem ao encontro do estudo de Silva (1995), segundo o qual numa CME é

preciso definir e garantir padrões de qualidade para funcionamento. A autora ressalta também que

é exatamente o produto do trabalho da CME que a articula com as outras unidades do hospital e

que por isso, suas falhas técnicas assumem maior abrangência, afetando toda a clientela atendida.

A noção de qualidade sempre esteve intimamente ligada à prática de enfermagem, sendo

Florence Nightingale considerada a pioneira neste sentido, por ter implantado o primeiro modelo

de melhoria contínua da qualidade em saúde (Nogueira, 1996, p. 2).

Um enfermeiro demonstrou ter conhecimento sobre este aspecto histórico, como revela

seu depoimento:

... é importante porque uma vez que a história da Enfermagem já

começa pela... toda estrutura de provisão, prevendo o material hospitalar

e hoje em dia, com a diversificação do sistema de hotelaria, de...

organização dos hospitais, é necessário sempre ter um enfermeiro em

determinadas áreas do hospital. Sendo assim, tem que ter enfermeiro

responsável pela parte de rouparia, responsável pela parte do material

que vai ser usado diretamente no paciente e, no caso, a Central de

Material. E11B

Nessa área, Cruz e Soares (2004) referem que a qualidade é entendida como o resultado

positivo esperado na saúde do cliente, influenciado pela atenção dada, a partir dos recursos

utilizados.

A partir dessa visão, que os depoimentos dos sujeitos vêm corroborar, infere-se que as

atividades gerenciais dos enfermeiros na CME só contribuem para que TODOS os elementos da

equipe de saúde possam prestar assistência de qualidade aos clientes, através dos produtos

médicos corretamente reprocessados.

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4.3 Categoria 2: Trabalho desconhecido, mas fundamental

Esta categoria foi elaborada a partir da concepção de que o trabalho dos enfermeiros em

CME é, em sua essência, desconhecido entre os enfermeiros que atuam nas UC. Para a quase

totalidade dos entrevistados, significa algo que é muito importante para o funcionamento

hospitalar. É um trabalho que confere segurança aos procedimentos realizados junto aos clientes

através do controle das infecções hospitalares. Porém, os materiais e os meios para que esse

trabalho seja executado ainda não são, entre os enfermeiros das UC, algo familiar, ou seja, não se

tratam de atividades de conhecimento geral desses profissionais. Algumas falas evidenciam esta

afirmativa:

... agora, assim, o funcionamento dentro do Centro de Material ... eu

conheço pouca coisa, ... E1A

... olha, eu não tenho, é... Eu não sei como expressar isso mas eu não

consigo, é, por estar muito ligada à prática, em atendimento nas

enfermarias, ou até em unidades mais fechadas, ... eu não consigo

entender muito bem o serviço do enfermeiro na Central de Material,...

E6A

... o que a gente percebe é que... a gente não conhece o serviço dele,...

E6A

... não tenho maiores informações de como funciona lá dentro, eu sei o

básico que todo mundo aprende: lavou, esterilizou, colocou; essas coisas...

Agora, como é realmente no setor eu não tenho uma idéia bem formada

não,... E9A

Entretanto, compreende-se que ainda pode parecer confuso para os enfermeiros que

prestam assistência direta aos clientes associarem o que os enfermeiros fazem numa CME com o

cuidado genuíno. Em nenhum momento aparece nos depoimentos o uso da palavra cuidado para

fazer referência a esse trabalho mas, ao o relacionarem a aspectos de segurança aos clientes e

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prevenção de infecções, os sujeitos do estudo já estão expressando sua concepção acerca do

cuidar.

Pelo fato de não terem aprendido como se dá o funcionamento da CME, os elementos que

a compõe, qual o papel dos profissionais que lá atuam e sua posição no organograma hospitalar,

os enfermeiros das UC afirmam ser difícil compreender o que realmente se faz numa CME.

Segundo eles, a parte prática poderia amenizar este quadro, mas ou este aspecto é pouco

contemplado nos cursos de graduação em Enfermagem, ou simplesmente é inexistente nas

propostas curriculares.

Percebemos nas falas que os entrevistados consideram não ter subsídios para falar sobre o

trabalho dos enfermeiros na CME, refletindo possuir um conhecimento apenas superficial do

processo de cuidar naquele setor. Contudo, os sujeitos do estudo reconhecem que se trata de um

trabalho de extrema relevância, cujo ponto mais importante é o objetivo ou a finalidade a que se

destina, fato que fica explicitado em alguns depoimentos:

... do que os enfermeiros da Central de Material fazem... mesmo

não conhecendo, eu dou importância,... E6A

... eu preciso do trabalho dela. No final, vai todo mundo chegar

num denominador comum. E8A

A falta de subsídios que, conseqüentemente, ocasiona o desconhecimento acerca do

trabalho executado pelos enfermeiros em CME e do funcionamento do setor é atribuído, segundo

os próprios entrevistados, a vários fatores. Um deles, sendo o que aparece em praticamente todos

os depoimentos, é a inexistência de conteúdos teórico-práticos sobre a CME nas disciplinas dos

cursos de Graduação em Enfermagem.

A única vez que eu passei na Central de Material foi na faculdade, no

estágio. Então do que eu me lembro mais ou menos é a enfermeira tem

que organizar todas aquelas bandejas do Centro Cirúrgico, ver se

realmente estão completas, que cirurgias iriam acontecer naquele dia _

isso em contato com a enfermeira do Centro Cirúrgico , que ela ia

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providenciar as bandejas, os kits cirúrgicos, os lençóis, essas coisas...

capote... Eu lembro mais ou menos isso. E8A

Agora, como é realmente no setor eu não tenho uma idéia bem formada

não, nunca passei por lá, não... E9A

É que eu não tive nenhum tipo de contato, foi só na graduação, então foi

uma coisa muito básica, muito superficial... E15B

O meu estágio foi muito rápido, não era diariamente, e como a turma

era grande e a Central tem essa coisa de não poder ficar entrando e

saindo, era semanal, então o que deu pra ver foi muito pouco... bem

rápido. E12B

Retomando o que foi descrito na Introdução deste estudo, verificamos que este aspecto já

havia sido contemplado por vários autores, tais como Silva, A. (1998), Jouclas et al. (1994) e

Graziano et al. (2004), que atribuem o desconhecimento à falta ou escassez de conteúdos teóricos

sobre CME no ensino das escolas de enfermagem brasileiras, nas quais raramente estes conteúdos

são apresentados enquanto disciplina específica, ficando diluídos em outras disciplinas. As

afirmativas dessas autoras aproximam-se muito dos resultados encontrados.

A exposição desses dados nos leva a uma reflexão de que, se estes conteúdos não são de

conhecimento dos alunos, é porque os professores nem sequer os apresentam, ou o fazem de

forma maçante. Sendo assim, recai sobre os enfermeiros docentes a responsabilidade em tornar o

ensino sobre CME mais interessante.

O que se pode verificar é que somente os profissionais que já tiveram a oportunidade de

atuar em CC (setor que possui íntima ligação com a CME) têm a exata idéia de como funciona o

trabalho. Apesar de não se ter encontrado entre os entrevistados alguém com alguma experiência

prévia em CME enquanto funcionário, alguns já haviam atuado em CC ou feito visitas ou

estágios de curta duração durante a formação profissional e, por isso, tiveram condições de se

aproximar fidedignamente da realidade de trabalho de um enfermeiro numa CME, como mostram

as falas apresentadas a seguir:

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Eu já trabalhei em centro cirúrgico durante muitos anos (como técnica

de enfermagem), então eu acho que o trabalho do enfermeiro em CME é

de suma importância;... o enfermeiro é que vai validar os testes

biológicos, a questão da esterilização, o tamanho da embalagem, a

espessura, é ele que vai estar organizando isso para o técnico estar

executando,... ele é que vai estar orientando os técnicos nesse sentido.

E8B

o que eu sei um pouquinho é porque antes eu tive um contato com

centro cirúrgico, como instrumentadora, então foi o primeiro contato que

eu tive com CME e conheci mais detalhadamente isso, porque a gente

trabalhava com material cirúrgico. E14B

Analisando alguns depoimentos infere-se que a questão do desconhecimento, na visão dos

entrevistados, também possui uma origem no fato de a CME ser um setor fechado e, por este

motivo, fazer com que os funcionários fiquem um tanto isolados dos demais setores do hospital.

Uma das falas revela que este isolamento se traduz na falta de divulgação sobre o trabalho feito, e

isto ocasiona uma dificuldade para os profissionais das UC em conhecer o que se faz em CME:

... eles ficam tão isolados que os próprios colegas não sabem que... qual

o trabalho que eles desenvolvem lá. Não sabem, não sabem o quê que ele

coordena, o que ele supervisiona, não sabem. Eu acho que isso deveria

ser, sei lá, divulgado, deveria ser mostrado pro hospital. Mostrar pros

outros colegas como funciona isso... mas quem fica nesses setores mais

fechados, como, Centro Cirúrgico e a Central de Material pior ainda,

porque não tem paciente lá. Então fica um pouco... por isso que eu acho

que fica até difícil para as pessoas identificarem qual o trabalho do

enfermeiro na Central de Material. E8A

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... acho que é uma área até por estar não tão próxima às clínicas entre

outros setores também acho que não é muito divulgado; eu acho que tem

que ser mais divulgado o trabalho do enfermeiro dentro de uma

Central. E10B

Esta concepção nos leva a pensar sobre algumas questões. Uma delas é que nos hospitais

há outros setores fechados, mas o papel técnico de um enfermeiro naquelas unidades é mais

facilmente descrito, inclusive devido à presença dos clientes. Portanto, deve partir do próprio

enfermeiro de CME o hábito de interagir com as UC, por meio de ações presenciais naquelas

unidades como, por exemplo, a orientação de como os produtos reprocessados devem ser

acondicionados para a manutenção das condições de esterilidade.

Outra questão é que a responsabilidade pela divulgação do trabalho do enfermeiro na

CME deve ser feito por ele mesmo, quem mais sabe sobre o seu ofício. Poucas áreas de

conhecimento evoluíram tanto quanto a esterilização e o reprocessamento de materiais/ produtos.

Sendo assim, é preciso que o enfermeiro manifeste a vontade de promover eventos voltados para

CME na instituição onde atua, a fim de que os demais enfermeiros conheçam essas evoluções.

Uma visão interessante sinalizada em uma das falas é que o nível de conhecimento sobre a

CME influencia na valorização recebida pelo setor entre os enfermeiros das UC:

... eu só fui começar a valorizar a partir do momento em que eu fui

adquirindo conhecimento e eu comecei a valorizar mais, porque antes eu

achava que não, que Central de Material não tinha... A gente acha que o

enfermeiro na assistência direta é mais a sua área, mas não; hoje eu já

vejo a importância dele... E2A

De maneira enfática, fica evidenciado que a construção do conhecimento, a bagagem

teórica sobre essa área é o caminho para que ela seja valorizada, ou seja, tenha sua importância e

sua relevância reconhecidas entre os profissionais das outras unidades já que, conforme os

estudos de Silva (1995) e Delgado (2000), entre os profissionais da CME já o são.

Este viés de certa forma é interessante e emerge dos depoimentos, na medida em que

encontro neles a concepção de que o trabalho do enfermeiro na CME é muito importante porque

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é desenvolvido com base em conhecimentos científicos. As falas são marcadas por expressões,

por exemplo: o enfermeiro é aquele que tem o conhecimento científico ; o enfermeiro tem uma

formação maior , o que enfatiza a concepção de que, na CME, a presença do enfermeiro é

imprescindível.

Sabe-se da obrigatoriedade de se ter um enfermeiro responsável pelas atividades de

planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços de assistência de

enfermagem (Ministério da Saúde, 1986), mas a visão dos depoentes do estudo não quer apenas

assinalar este fato como uma exigência legal do exercício da profissão, mas também, acima de

tudo, apontá-lo como uma justificativa para se designar enfermeiros para gerenciar os serviços de

CME, ou seja, o trabalho executado por estes enfermeiros possui, na concepção dos sujeitos do

estudo, um caráter de pertinência e insubstituível.

Na visão dos sujeitos do estudo, este conhecimento científico é o que credencia o

enfermeiro a ocupar uma posição privilegiada em relação à dos profissionais de enfermagem de

nível médio que, apesar de participarem da rotina de execução do preparo dos materiais, o fazem

de maneira considerada repetitiva e que não envolve atividades de supervisão e coordenação

apresentadas na categoria anterior e que necessitam do conhecimento científico que o enfermeiro

detém.

... a responsabilidade de planejar, coordenar,... é do enfermeiro e no

Centro de Material você não pode ter somente pessoal de nível médio e

auxiliar, porque o enfermeiro é que vai ter conhecimento científico sobre

os produtos que serão utilizados, os produtos químicos, é... o grau de

necessidade da, digamos assim, o grau de necessidade da utilização do

material, o enfermeiro é aquele que tem o conhecimento científico... .o

enfermeiro ele tem o conhecimento científico para poder planejar,

coordenar, organizar, etc. E3A

... a gente entende que o enfermeiro tem uma formação maior do que a

equipe de nível médio, então ele tem que estar gerenciando, observando

como estão sendo feitos os procedimentos, como é que estão sendo feitos

os processamentos de material, ... E às vezes o profissional de nível

médio não vai ter a complexidade da visão do enfermeiro... Ver as

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contas, a necessidade de algumas coisas acontecerem dentro das

normas. E6A

O conteúdo das falas revela ainda que a presença de um enfermeiro numa CME é

considerado um diferencial positivo para o reprocessamento dos produtos/ materiais, pelo

conhecimento que esse profissional detém, dando-lhe condições para verificar erros e acertos e

ajustar os pontos críticos nesse processo de cuidar:

... é importante o enfermeiro estar lá porque e enfermeiro tem o

conhecimento e está à frente de observar se foi feita a limpeza adequada

do material, se foi feito o procedimento da esterilização corretamente, se

o tempo... tudo... validou a esterilização;... tudo isso é de controle do

enfermeiro E2A

o enfermeiro sabe melhor o que é preciso, o que tem que ser feito E16B

Neste sentido, uma enfermeira aponta um viés importante e que assinala o oposto, ou seja,

ela traz a discussão de que a falta de preparo do enfermeiro na CME ou a má execução do seu

trabalho na supervisão e coordenação do reprocessamento pode significar uma conseqüência

negativa na assistência direta:

Se tem uma série de erros em cadeia, aí eu acabo ferindo essa coisa

aqui do meu processo de assistência, por exemplo, o curativo, em função

daquele mau processamento, daquela falta de orientação, daquela má

orientação do enfermeiro da CME. E5A

A limpeza, a desinfecção e a esterilização adequadas dos diversos produtos médicos são

alicerces essenciais na prevenção das infecções relacionadas ao uso destes itens. Ou seja, a CME

interfere significativamente no controle das infecções hospitalares, visto que o paciente

hospitalizado dificilmente não experimenta um procedimento invasivo, o qual, por mais simples

que seja, pode provocar o rompimento de barreiras naturais ou penetrar em cavidades estéreis.

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Se o instrumental a ser utilizado tiver sido reprocessado inadequadamente, o mesmo se tornará

automaticamente, uma fonte de contaminação e transmissão de microrganismos (TIPPLE et al,

2005, p. 174).

Portanto, concordamos com Couto (2003) quando diz que é fundamental que o

profissional responsável pelo reprocessamento de materiais esteja habilitado a definir

criteriosamente a que processo submeter cada tipo de produto ou material. Nesse contexto, a

visão do autor ratifica os depoimentos, que trazem à tona exatamente a concepção de que o

enfermeiro é o profissional, na CME, mais habilitado a traçar as melhores diretrizes com vistas a

garantir a esterilidade e confiabilidade do uso dos materiais junto à clientela.

... estar vendo aquele material, estar vendo a forma como ele está sendo

esterilizado, estar buscando novos empreendimentos, novos materiais,

sempre ele está em busca de alguma coisa nova... Isso pra proteger o

cliente, ele está sempre em busca da proteção... E4A

O enfermeiro tem uma percepção melhor das coisas, de tudo, do

material, com certeza é de suma importância. E7B

Então, são muitos detalhes pra pessoa ver e ter uma pessoa bem

informada, especializada para estar verificando se tudo está sendo

esterilizado mesmo, para não originar infecção hospitalar e sem

danificar o material, senão vai ter prejuízo também para o hospital.

E5B

Eu acho que é um papel fundamental, acho que ali é a parte em que a

gente pode evitar muitos problemas, tipo uma infecção... e outros

problemas mais, ... o enfermeiro ele sabe melhor o que é preciso, o que

tem que ser feito e às vezes não é bem descrito por qualquer outro setor.

E16B

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Os enfermeiros das UC reconhecem que a confiabilidade do material contribui como um

fator de segurança para a assistência. Ou seja, a aplicação do conhecimento científico é

fundamental no custo-benefício dos serviços de esterilização de materiais, sendo os saberes e

fazeres do enfermeiro de CME uma prática voltada aos fatores de segurança para os clientes

(SILVA, 2006).

Ora, considerando que se compreende como cuidado de enfermagem as ações que visam

proporcionar segurança aos indivíduos, pode-se entender que, para os entrevistados, o trabalho do

enfermeiro na CME possui uma natureza de cuidar genuína pois, mesmo não sendo realizado

diretamente junto aos clientes, este trabalho vai fornecer os meios para que eles possam ser

assistidos sem riscos:

Olha, é muita responsabilidade, acho que até mais que a minha, que

lido direto com o cliente, porque está ali por conta dele que ele não vai

transferir várias infecções para outros pacientes,... E4A

porque qualquer coisa de errado ali tem toda contaminação para o

paciente e várias complicações. E6B

...eu acho que é o centro de tudo, você tem que estar ligado em tudo,

porque um material mal esterilizado reflete em sérias conseqüências para

tudo: para o curativo, para o centro cirúrgico... E7B

Alguns aspectos da Teoria Ambientalista de Florence Nightingale deram origem à

implementação, nas instituições hospitalares, dos conceitos de prevenção de doenças, de

antissepsia e de cuidados com a limpeza do ambiente e dos materiais que entrariam em contato

com os doentes (Silva; Porto, 2006). Florence, precursora da Enfermagem Moderna, construiu

um conhecimento para uso da enfermagem que é baseado na relação: limpeza/ prevenção das

doenças/ taxas de mortalidade.

A limpeza envolvia tanto a dos profissionais quanto do cliente e de tudo que entraria em

contato com a pele, objetivando remover do sistema a matéria nociva o mais rapidamente

possível (NIGHTINGALE, 1859, p. 107). Isto é, as preconizações da Teoria de Nightingale

nada mais são do que as precursoras dos princípios adotados nas CME dos estabelecimentos de

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saúde como medidas de tratamento dos produtos que são manuseados e até do ambiente. O

conceito de cuidar deixado por Florence perpassa o reprocessamento desses produtos.

Vários depoimentos destacaram a importância do trabalho em CME em vários aspectos e

a influência que os produtos médicos fornecidos por este setor tem não só no funcionamento das

UC, mas do hospital em geral:

... é um dos principais trabalhos dentro de um hospital... gera... para as

outras clínicas, a esterilização de todo material, porque lá é importante a

esterilização do material, que dali nas cirurgias o paciente vai ter

contato direto com aquele material,... E1A

É o coração, pra mim, é o coração do hospital porque ele sai

distribuindo material para todos os setores. Ou seja, num centro

cirúrgico, se não tiver o material esterilizado, o que pode acontecer:

suspender cirurgia, você não poder realizar o procedimento com o

paciente; centro cirúrgico, CTI, seja qualquer lugar. E4B

Os entrevistados consideram que as etapas de reprocessamento de produtos só são

realizadas com excelência e confiabilidade devido à presença dos enfermeiros na CME, ou seja,

que o fato de haver um enfermeiro supervisionando o reprocessamento faz com que os produtos

realmente sejam considerados seguros para uso na assistência aos clientes.

É importante destacar, também, que o desconhecimento acerca do trabalho dos

enfermeiros na CME se dá, em alguns casos, pela falta de comunicação, pela não interação entre

CME e UC, e também pela escassez de eventos científicos e de atualização sobre CME nas

instituições hospitalares, conforme apontado pelos depoimentos que se seguem:

... mas eu acredito que seja muito importante, sim. Eu acho que a gente

tinha que compartilhar experiências. O que a gente percebe é que o

profissional de enfermagem que está na Central de Material ele não

conhece o serviço da assistência, e a gente não conhece o serviço dele,

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apesar dos dois serem importantes. Então eu acho que a gente tem que

compartilhar as experiências. E6A

... eu gostaria de saber o resultado da sua pesquisa e também se tiver

uma oportunidade da gente realmente conhecer o trabalho do enfermeiro

(na CME), também acho que é interessante, através de palestras, da

educação continuada... A educação continuada não fala nada sobre a

Central de Material, aborda todos os outros aspectos, mas a CME fica

jogada meio que de lado. Então de repente até mesmo o

desconhecimento, tanto meu quanto de outros, também que possam

também não conhecer. E15B

O que esta visão explicita é que, apesar do vínculo operacional existente entre CME e CC,

que se configura no fornecimento de produtos/ materiais de uma a outra, o mesmo não se estende

até uma dimensão macro, na qual exista realmente uma relação dialógica, um interesse em

conhecer e saber do outro para uma finalidade comum, que é prestar uma assistência com

segurança aos clientes.

Um dos depoimentos mostra claramente como, ainda hoje, pensa-se que CC e CME

fazem parte de um mesmo setor, de uma mesma estrutura. A idéia de uma CME com chefia,

organização e espaço físico próprios ainda é algo que não parece completamente claro entre

alguns enfermeiros das UC:

...então você tem muitas cirurgias, então deve ter uma movimentação

enorme naquele centro cirúrgico, apesar de ter uma idéia de quem está

no centro cirúrgico não faz nada,... pessoal normalmente deve achar que

centro cirúrgico é uma moleza, que o pessoal vai lá para dormir, mas a

gente sabe que a realidade não é essa. E9A

Com efeito, a história mostra que a CME só assumiu esta condição no Brasil a partir da

década de 1950, quando então passaram a ser gerenciadas pelos serviços de enfermagem e

adquiriram autonomia na estrutura organizacional hospitalar. Hodiernamente, em muitas

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instituições ainda é uma prática comum se ter a CME compartilhando o mesmo espaço físico do

CC e sendo gerenciadas pelo enfermeiro que responde pela chefia de ambos os setores.

Entendo que isto é uma prática equivocada que precisa ser revista e modificada, pois é

importante que se tenham nos hospitais CME autônomas e centralizadas, cujas vantagens já

foram apresentadas anteriormente neste estudo.

Diante do que foi exposto nesta categoria, o que se pode inferir é que o trabalho do

enfermeiro na CME é fundamental para a segurança e a confiabilidade atribuídas ao cuidado

prestado aos clientes assistidos nas UC, concepção que ratifica a sua posição de responsável

técnico pela CME. Contudo, as características técnicas de seu trabalho naquela unidade não são

ainda conhecidas.

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4.4 Categoria 3: O INVISÍVEL QUE É ESSENCIAL EM SUA SIMPLICIDADE

Nesta categoria, foram englobadas as unidades temáticas nas quais os entrevistados

especificaram, a partir de suas concepções, os diversos aspectos que caracterizam uma

desvalorização sofrida pelo trabalho do enfermeiro em CME, entre os profissionais de

enfermagem das instituições hospitalares.

Na verdade, essa desvalorização traduz-se como uma valoração negativa comumente

atribuída ao trabalho em CME, o que ratifica a idéia apresentada na introdução deste estudo.

Na tese de doutorado de Bartolomei (2003), um dos resultados encontrados foi que as

enfermeiras que trabalham em CME valorizavam positivamente seu trabalho. Porém, quando

questionadas sobre a percepção sobre a valorização dada a este trabalho pelos profissionais em

geral, houve uma homogeneidade em afirmarem que ele não era bem valorizado ou sua

importância não era bem reconhecida.

Nota-se que o suporte teórico aponta uma convergência de percepções acerca do trabalho

em CME. Segundo os enfermeiros das UC participantes deste estudo essa desvalorização não

corresponde à percepção deles próprios, pois todos foram enfáticos em afirmar que atribuem

grande importância ao trabalho executado pelos enfermeiros na CME, como visto na primeira

categoria de análise.

A ênfase na valorização apontada nas falas se descortina como uma questão muito mais

atribuída ao setor em si do que ao trabalho do enfermeiro na CME especificamente, apesar de ter

sido bem esclarecido durante as gravações dos depoimentos que o enfoque do estudo era o

trabalho do enfermeiro. Pode-se inferir que este trabalho funciona como um meio para que o

cuidado possa ser realizado, como se o trabalho do enfermeiro na CME fosse uma chave que faz

com que toda a engrenagem mais complexa possa funcionar de forma adequada.

Ainda seguindo este raciocínio, a desvalorização apresentada também não se restringe

especificamente ao enfoque desta pesquisa - o trabalho dos enfermeiros, mas se estende a todo o

setor. Partindo dos depoimentos, inferimos que a CME é estigmatizada negativamente como um

setor do hospital no qual trabalham profissionais problemáticos , fisica ou

comportamentalmente:

... inclusive o Centro de Material tem a fama de ser depósito de ter

funcionário problemático, funcionário com problema de coluna e

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funcionário idoso. Eu acho que não tem que ser assim; eu acho que você

tem que distribuir; claro, lá dentro você vai colocar as pessoas que têm

certas limitações pela idade, que têm que trabalhar, mas eu acho que tem

que acabar um pouco com isso de Central de Material ser depósito de

funcionário problema ... E7A

... a imagem que as pessoas mais ou menos têm é que só vai velho pra

lá,; vai velho, debilitado,... E9A

... pelo que a gente sabe a Central de Material é um setor onde se

pegam as pessoas no final de carreira, os aposentados, as pessoas que

ficaram muito tempo em licença do INSS, as pessoas que já estão

cansadas da Enfermagem. Então pegam essas pessoas que também dão

trabalho, né, são pessoas de difícil comunicação, difíceis de trabalhar

nos setores, tiram as pessoas de lá e põem na Central de Material;...

E13B

as pessoas têm aquela concepção de que em Central de Material tem

que trabalhar aquelas pessoas que não têm mais condições de assistência

direta, aquelas pessoas que são aposentadas,... E7B

Conforme já descrito anteriormente, a CME muitas vezes é considerada um setor menos

importante e, conseqüentemente, desvalorizado pelos administradores hospitalares. Deste fato

decorreria a prática comum de se designar para lá atuarem os profissionais de enfermagem com

problemas de saúde e/ ou de relacionamento interpessoal e que, por isso, são considerados

inaptos para atuarem na assistência direta junto aos clientes.

Entretanto, neste estudo percebe-se um viés crítico interessante quando, em um dos

depoimentos, a compreensão é completamente contrária: o fato de ainda serem escalados para a

CME os profissionais problemáticos , ou seja, a falta de critérios na seleção de recursos

humanos é que seria a causa para que ao setor seja atribuído menos valor dentro do processo

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assistencial. O depoimento revela o entendimento de que a valoração positiva de um setor está

associada aos recursos humanos que dele fazem parte:

... sabendo que o profissional que está na Central de Material é um

profissional que já teve problema em vários setores, é aquele que está no

final da carreira,... e aí, o que acontece? Você acaba atribuindo menos

valor à Central de Material. Porque, se esses profissionais é que vão pra

lá, é porque lá pode receber um profissional que não é cem por cento,

vamos dizer assim. E6A

Esta posição vai ao encontro do pensamento de Tipple et al (2005, p. 177), segundo os

quais Agregar mão de obra desqualificada a um serviço de alta complexidade, que envolve

diversos segmentos da estrutura hospitalar pode implicar descrédito nas ações de enfermagem em

geral...

Entretanto, discordo do ponto de vista trazido no depoimento supracitado, que se refere

aos enfermeiros com mais tempo na profissão como os que estão em final carreira , expressão

empregada com sentido negativo. A razão para a divergência é que não podemos utilizar o tempo

para determinar a capacidade produtiva de um indivíduo. Muitas vezes enfermeiros mais

experientes apresentam ainda um comprometimento com a assistência e o processo de cuidar.

Muitos deles têm muito a nos ensinar e estão no auge de sua potencialidade intelectual. Estar no

final da carreira pode significar possuir uma bagagem de extremo valor para a profissão, que não

pode ser desprezado e tampouco sub-valorizado.

A questão da alocação de recursos humanos em CME foi bastante enfatizada nas falas dos

sujeitos do estudo, que sinalizaram este como talvez sendo o grande problema quando se fala em

CME. Os enfermeiros das UC mostraram-se bastante preocupados com a percepção de que esta

questão muitas vezes prejudica em muito a imagem e a credibilidade da CME entre os outros

enfermeiros e entre as equipes de Enfermagem como um todo.

Entende-se que alocar num setor de alta complexidade como a CME profissionais com a

saúde debilitada, problemas de relacionamento com os colegas e/ ou defasados em

conhecimentos é um equívoco já que, para garantir a qualidade dos serviços e da própria

assistência nas UC, os profissionais precisam ter perfil adequado e capacitação teórico-prática.

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Assim, deve haver entre os enfermeiros que atuam na CME a preocupação com a

capacitação dos funcionários, e a reivindicação junto à administração dos serviços de

Enfermagem sobre a necessidade de se fazer a seleção de pessoal sob critérios rigorosos, para que

a aquisição de hábitos de reflexão e ação possa ampliar a qualificação dos profissionais de

enfermagem, no sentido de contribuir para o controle das infecções hospitalares através do

fornecimento de materiais confiáveis às UC.

Acredito que uma forma de alcançar esse objetivo está na ação conjunta dos gerentes de

enfermagem de CME e dos serviços de Educação Continuada, a fim de que sejam implementadas

medidas de formação permanente dos profissionais do setor, sempre pautada na atualização dos

conhecimentos sobre as novas tecnologias empregadas no reprocessamento dos materiais.

Para Deluiz (1997, p. 13) o papel da educação precisa ser rediscutido pois, segundo este

autor o mercado passa a exigir do profissional capacidade de diagnosticar e solucionar

problemas, de tomar decisões, de intervir nas atividades, de atuar em equipe, de auto organizar-se

e de enfrentar situações em constante mudança .

Além disso, é preciso que haja uma sensibilização no tocante à necessidade da seleção e

treinamento de pessoal para atuar na CME, o que precisa ser feito de forma criteriosa, buscando

os profissionais capazes de refletir sobre a importância do trabalho para a assistência e que

estejam aptos _ física, técnica e interpessoalmente _ a acompanhar o funcionamento do setor,

visando sempre atingir a segurança na assistência aos clientes.

Também é muito importante incentivar o comportamento criativo e crítico dos

enfermeiros, de forma que estes sintam-se sempre mais motivados e valorizados no trabalho que

executam.

A este respeito, Silva (2003) ressalta que a coordenação de recursos, humanos e materiais,

é uma das categorias de ações de enfermagem, que faz parte do cuidado indireto, caracterizado

pelas atividades técnicas e administrativas realizadas para facilitar a realização de um cuidado de

qualidade.

As falas revelam, porém, que os entrevistados sabem da importância desta ação de

enfermagem executada pelos enfermeiros na CME no cuidado, mas admitem que esta não é uma

visão compartilhada por muitos profissionais que atuam nas UC. Abordam a questão da rejeição

que muitos profissionais têm ao trabalho indireto, não desenvolvido junto aos clientes:

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as pessoas podem até pensar que é um trabalho sem valor porque não

está direto ligado ao paciente, que não está na beira do leito... Porque

ainda tem aquela... a pessoa ainda tem aquela idéia de achar que o que

mais vale é aquele que está na beira do leito, CTI, que entende de muita

coisa. Não, eu acho importante o trabalho da enfermeira na Central de

Material por ela coordenar isso tudo, ela tem que... E8A

... é o enfermeiro que está lá dentro mesmo, tendo que coordenar aquilo

tudo, porque, erroneamente, todo o resto do hospital acha que como lá

não é assistencial, que aquilo lá é tudo muito fácil, e na verdade, não: é

muito difícil, é muita pressão que a pessoa sofre lá dentro, porque ela é

responsável por fornecer material pra todo o hospital, e todo tipo de

material pra todo tipo de paciente. E5B

Uma outra questão que emerge das falas dos sujeitos é a que trata do preparo dos

produtos/ materiais que, mesmo que seja aparentemente algo simples e se pode denominar

atividade micro, pode acarretar conseqüências significativas nos procedimentos ou intervenções

realizados junto aos clientes, que são atividades macro. O depoimento abaixo, que se refere ao

preparo de pacotes com gaze, exemplifica isto:

... cada um tem que fazer a sua etapa, como por exemplo dobrar as

gazesinhas, empacotar, separar determinados materiais, pinças,... vem

assim dentro do pacote de curativo, do pacote de gaze, do pacote estéril...

se tem uma série de erros em cadeia, aí eu acabo ferindo essa coisa aqui

do meu processo de assistência, por exemplo, o curativo,...

E5A

Esta fala nos remete à reflexão feita por Delgado (2000, p. 138), que coincidentemente

comparou o micro e o macro exemplificando-os com o gesto de se preparar um pacote com gaze

para ser usado num curativo:

[...]na CME convive-se com o micro em quase todas as tarefas ali realizadas. O micro é suposição, não é visível, não denota comprometimento no fazer, mas

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pode causar danos irreparáveis à nossa existência, exigindo de cada um compromisso, respeito e ética com o fazer cotidiano daquele setor. O macro é completamente visível e percebido facilmente por outras pessoas, como o é a realização de um curativo... pois são fatos que podem ser corrigidos, enquanto nas atividades da esterilização não posso perceber um material contaminado com microrganismos patogênicos.

Neste sentido, a concepção trazida no depoimento da enfermeira associa-se à idéia do

autor e ambas reforçam a compreensão de que, por mais simples que possam parecer as

atividades envolvidas no trabalho em CME, como por exemplo o ato de dobrar algumas gazes

para um pacote para curativos, o seu caráter é sempre essencial. Isto porque o micro, que aqui é

dobrar a gaze, faz uso de uma série de fatores e tipos de conhecimento: microbiologia, fisiologia,

química. Quando se vai preparar um pacote com gazes para um curativo, precisa-se pensar como

aquele curativo será realizado, a fim de que o pacote seja preparado de forma a não ferir os

princípios científicos.

[...] a essência que há por trás do processo de dobrar é uma essência do processo científico. Quando se dobra corretamente, evita-se... a penetração dos microrganismos. O técnico, o científico e o prático são igualmente fundamentais num aparentemente simples dobrar. (DELGADO, 2000, p. 139)

Diante disso, evidencia-se que os procedimentos de enfermagem na assistência direta, que

são o visível, convivem com o não visível, mas que é essencial: o trabalho do enfermeiro em

CME. É por esta razão que se pode inferir que para os entrevistados é atribuía grande importância

a esse trabalho, já que conseguem compreender que os clientes dele dependem para recuperar a

saúde.

Em contrapartida, Cruz (2003, p. 25) afirmou que a CME continua sendo alvo de

discriminações pelo fato de nele ser desenvolvido um trabalho considerado como habilidade

manual, não diretamente relacionada ao cuidado assistencial.

Ou seja, essa autora demonstra que

é comum o trabalho em CME ser considerado uma prática mecânica. Este viés aparece em um

dos depoimentos:

... mas também é um trabalho maçante, porque você faz sempre a

mesma coisa e está sempre com as mesmas pessoas, não tem a

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rotatividade de pacientes como tem numa clínica médica, numa pediatria,

então a diferença é essa, ... pode ser ruim. E13B

Conforme exposto no estudo de Cruz (2003), esta forma de caracterizar o trabalho em

CME contribui para que esta ainda não tenha o seu valor reconhecido, fazendo com que seja

considerado uma atividade secundária. Diante disto, a autora enfatiza que as atividades devem ser

sempre fundamentadas em um conhecimento científico específico transmitido formalmente, a fim

de gerar um fazer profissional.

A visão de CME como indústria, trazidas pelos depoimentos e discutida por Moura

(1996), está embasada no próprio processo de organização, que se dá em um fluxo contínuo,

exigindo que o trabalho seja realizado sob processo de supervisão e controle em cada área e

etapa.

Então, você observar se esses parâmetros estão sendo cumpridos, né,

você tem que garantir o padrão de qualidade da esterilização dentro

desse local, você tem que coordenar mesmo, saber se a linha de

produção está sendo adequada... E9A

Porque, por você ter muitas mãos trabalhando você tem que ter um

fiscal, é produção. Se não tiver fiscalização não tem uma boa qualidade.

Ele busca uma boa produção... E4A

As falas destacam que a semelhança na forma seqüencial de como os produtos são

reprocessados e na produtividade necessária exigem, por parte dos enfermeiros, um rigor técnico

em CME, tanto quanto o de uma fábrica. Porém, não se trata de atribuir ao trabalho dos

enfermeiros em CME uma visão fria e reducionista na execução do cuidado indireto. Ao

contrário, o que se quer dizer com esta comparação é que se trata de algo que exige rigor técnico-

científico com vistas à qualidade da assistência.

Acredito que a questão da valoração positiva do trabalho em CME só se dará efetivamente

quando houver o entendimento de que é preciso aliar medidas educativas que enfoquem o cuidar

indireto e o gerenciamento. Acrescento ainda, respaldada por Silva (2003), que quando a

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enfermagem começar a assumir totalmente seu papel assistencial no cuidado indireto, por meio

do gerenciamento com mais autonomia e segurança, fazendo uso da liderança e do pensamento

crítico, ela alcançará o seu reconhecimento profissional.

Nesse contexto, tanto nas instituições de saúde públicas quanto privadas, é premente a

necessidade da implantação de programas de gerenciamento da qualidade, que incluam medidas

tais como a seleção criteriosa de profissionais privilegiando o conhecimento.

Júnior (2007) reforça esta idéia ao lembrar:

Hospital é de fato uma empresa como outra qualquer e tem todos os seus aspectos e dificuldades relacionadas a questões administrativas, que passam pelas áreas financeira, de logística, de insumos, de desenvolvimento de recursos humanos, além dos processos técnico-assistenciais. Tudo isso requer conhecimento muito específico.

Os depoimentos dos enfermeiros das UC, quando destacam como algo recorrente a visão

negativa que a CME ainda possui entre muitos profissionais das instituições hospitalares,

reforçam a necessidade de se investir na capacitação dos profissionais. Mas, felizmente, este

quadro vem se transformando aos poucos nas instituições de assistência à saúde que já

implementam uma administração de serviços comprometida com a valorização desse tipo de

atividade que, não pretende minimizar a importância dos fatores subjetivos da assistência, mas

que encara o serviço de saúde como qualquer outro prestado a cidadãos que, como tais, merecem

respeito e segurança.

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5 CONCLUSÃO

Ao iniciar este estudo, havia muitas indagações que me impeliam cada vez mais a

mergulhar nos significados que o trabalho que os enfermeiros executam na Central de Material e

Esterilização poderia ter para aqueles enfermeiros que estão fora dela.

No momento em que comecei a ter contato com os sujeitos do estudo, deparei-me com

depoimentos que revelam uma visão bastante crítica sobre o trabalho do enfermeiro em CME e

sobre o setor em si. E esta não se mostrou imprópria, diferente do que eu havia vivenciado em

meu dia-a-dia na prática, conforme exposto em seções anteriores desta pesquisa.

Entretanto, os entrevistados admitem que a opinião deles não parece ser aquela

compartilhada por muitos profissionais das instituições hospitalares, que ainda atribuem uma

desvalorização ao trabalho em CME como um todo, não só o do enfermeiro.

Este estudo mostrou-me que o trabalho do enfermeiro na CME é percebido pelos

enfermeiros das UC como um trabalho de gerenciamento das atividades executadas pelos

membros da equipe de enfermagem. As palavras como supervisão, controle e fiscalização,

definidoras desse trabalho, em nenhum momento tiveram enfoque negativo. Ao contrário,

revelaram que a concepção trazida pelos enfermeiros da assistência direta é de que o enfermeiro

executa na CME um trabalho complexo e essencial na segurança dos clientes e no funcionamento

do hospital.

Revelou-me também a necessidade de se pôr em prática novas maneiras de formação dos

futuros enfermeiros e do pensar o cuidado em enfermagem, pois se desconhece no que realmente

consiste o trabalho do enfermeiro em uma CME.

Isto ficou explícito quando na análise dos dados foi descrito que no ensino de Graduação

em Enfermagem os conteúdos acerca da CME são escassos, freqüentemente reduzidos a algumas

visitas ao setor ou agregados aos tópicos de Centro Cirúrgico, como se fossem a mesma unidade.

Isto significa que esses conteúdos não recebem o devido aprofundamento de que necessitam para

capacitar os enfermeiros na execução dos aspectos gerenciais peculiares que o setor demanda.

O que se percebe é que nas escolas de enfermagem a questão do cuidado envolve a

assistência direta ao cliente, mas pouco se discute a assistência para o cliente, que é o tipo de

assistência prestada pelo enfermeiro que atua na CME. A discussão sobre o significado de

cuidado para a profissão, abordado nas diversas disciplinas dos cursos de graduação perpassa o

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enfoque em aspectos relacionais e holísticos, em detrimento da inclusão da importância também

do planejamento, do gerenciamento de recursos materiais e humanos e da preocupação com o

ambiente, fornecendo os meios para se prestar cuidado.

Um aspecto mais preocupante dessa realidade se encontra no fato de que, desconhecendo

o real funcionamento da CME, os futuros enfermeiros já podem criar algum tipo de pré-

concepção errônea em relação a este setor, desconhecendo que ele é um rico campo de prática e

de pesquisas para a Enfermagem.

É preciso, portanto, que os cursos de Graduação em Enfermagem brasileiros adotem em

suas propostas curriculares metodologias que enfoquem o gerenciamento em CME, incorporando

ao processo de formação dos futuros enfermeiros informações de como a CME se insere na

estrutura hospitalar, como se dá o seu funcionamento e que aspectos são necessários se considerar

para que se alcance, neste âmbito, a razão maior do trabalho da Enfermagem, que é o cuidado.

Para tanto, torna-se fundamental que a construção do conhecimento nesta área do saber seja

baseada em aspectos não só técnicos ou somente de relacionamentos interpessoais, mas que

aborde cada vez mais uma concepção ampla do cuidar, não restrita apenas ao contato direto, mas

que se estenda a toda atividade que tenha como objetivo garantir as condições para que os

clientes tenham o direito a uma assitência eficaz e eficiente.

Tenho consciência de que o cuidar/cuidado é um dos aspectos que mais caracterizam o

fazer do enfermeiro. E, mesmo sabendo de todos estes esforços são direcionados para o objeto de

trabalho da Enfermagem, acredita-se que é desnecessária a dicotomia existente entre cuidado

direto e cuidado indireto. O cuidado é algo único e a esta dicotomia dificulta a consolidação da

autonomia profissional do enfermeiro.

Ademais, incluir conteúdos sobre CME nos currículos das escolas de Enfermagem é um

ganho para a profissão, já que cada vez mais as instituições hospitalares estão voltando seus

olhares para a compreensão da assistência em saúde como uma prestação de serviços a clientes e

cidadãos que, como tais, merecem receber um cuidado de qualidade. Diante dessa realidade, os

responsáveis pelos atendimentos precisam ser cada vez mais conscientizados de seu papel legal e

ético enquanto prestadores de serviços.

Para tanto, um outro ponto revelado pelo estudo se faz pertinente: o adequado preparo e a

criteriosa alocação de recursos humanos para atuar em CME. A desvalorização que lhe é

atribuída, citada entre os depoimentos que compuseram esta pesquisa, está diretamente

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relacionada à prática freqüente de se colocar funcionários inaptos para atuarem em um setor de

alta complexidade e que demanda conhecimento científico, capacitação técnica e

comprometimento com os clientes.

Esta prática administrativa é equivocada e precisa ser modificada, pois por mais

desprovidas de recursos que algumas CME possam ser, elas são necessárias para o

funcionamento dos hospitais. Portanto, os administradores de serviços hospitalares devem

designar para o trabalho em CME profissionais da área de enfermagem, e com capacitação

técnica e integridade física. A alocação adequada de recursos humanos em CME perpassa a

compreensão da própria missão do serviço.

A grande demanda por produtos esterilizados das UC e a falta de interação com essas

unidades muitas vezes faz com que a CME nem sempre receba a devida importância, atribuindo-

se aos profissionais que lá atuam a responsabilidade por todas as falhas ocorridas na instituição

relacionadas com casos de infecção hospitalar.

Porém, acredito que essas pressões possam ser administradas com a aplicação de medidas

imperativas: a implementação de programas de integração social entre os setores hospitalares,

mostrando aos usuários dos produtos médicos que, para que esses produtos cheguem até eles

adequadamente reprocessados, é necessário o cumprimento de diversos protocolos, sem os quais

seria impossível o seu fornecimento imediato.

A saída pode estar na comunicação efetiva e plena entre a CME e as UC no recebimento e

no fornecimento de produtos médicos. É preciso que se conheça o que se faz numa CME e quão

complexa é sua inserção no processo de cuidar. O próprio enfermeiro de CME precisa divulgar

seu trabalho, através de publicações científicas e de eventos na instituição onde atua. Além disso,

ele precisa fazer-se conhecer nas UC, sair do isolamento e estar permanentemente integrando o

fazer da CME com o fazer daquelas unidades. Só assim a CME e os enfermeiros e demais

elementos da equipe de enfermagem receberão o valor que lhes é devido, o que infelizmente

ainda não vivenciamos em nosso cotidiano.

Sob tal perspectiva, proponho que outras discussões e reflexões sobre o trabalho em CME

possam ser realizadas a partir do que foi apresentado neste estudo, para que o embasamento

científico nessa área se solidifique cada vez mais. Concordo com alguns entrevistados que

destacaram que um bom começo é que os eventos científicos e os serviços de educação

continuada das instituições hospitalares abordem temáticas relacionadas à CME e como ela se

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insere no contexto do controle das infecções hospitalares.

Um aspecto muito positivo revelado é saber que os enfermeiros que atuam na assistência

direta conseguem compreender que o invisível (ou não visível), representado pelo fazer do

enfermeiro em CME, é essencial para o visível que permeia o cotidiano de sua prática. Esta

percepção reafirma o trabalho do enfermeiro como reconhecido cuidar por aqueles que dele

fazem uso e sinaliza que se pode ter expectativas positivas acerca de um esforço coletivo para o

crescimento dos serviços de enfermagem brasileiros e, mais ainda, para esta área do

conhecimento e dos profissionais que nela estão inseridos.

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GLOSSÁRIO

DESINFECÇÃO - Processo físico ou químico que elimina a maioria dos microrganismos

patogênicos de objetos inanimados e superfícies.

EMBALAGEM - Envoltório, recipiente ou qualquer forma de acondicionamento destinado a

cobrir, empacotar, envasar, proteger ou manter produtos dos quais trata este regulamento.

EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI) - Dispositivo ou produto de uso

individual destinado à proteção contra riscos à saúde e à segurança no trabalho.

ESTERILIZAÇÃO - Processo físico ou químico que elimina todas as formas de vida microbiana,

incluindo os esporos bacterianos.

LIMPEZA - Consiste na remoção de sujidades visíveis e detritos dos artigos, realizada com água

adicionada de sabão ou detergente, de forma manual ou automatizada, por ação mecânica, com

conseqüente redução da carga microbiana. Deve preceder os processos de desinfecção ou

esterilização.

PRODUTO MÉDICO - produto para a saúde, tal como equipamento, aparelho, material, artigo

ou sistema de uso ou aplicação médica, odontológica ou laboratorial, destinado à prevenção,

diagnóstico, tratamento, reabilitação ou anticoncepção e que não utiliza meio farmacológico,

imunológico ou metabólico para realizar sua principal função em seres humanos, podendo

entretanto ser auxiliado em suas funções por tais meios.

PROTOCOLO DE REPROCESSAMENTO - É a descrição dos procedimentos necessários à

realização do reprocessamento do produto médico. Deve ser instituído por meio de um

instrumento normativo interno do estabelecimento e validado pela equipe por meio da execução

de protocolo teste.

PROTOCOLO TESTE - É a descrição dos procedimentos necessários ao teste da metodologia

proposta para o reprocessamento do produto médico.

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REPROCESSAMENTO DE PRODUTO MÉDICO - Processo de limpeza e desinfecção ou

esterilização a ser aplicado a produtos médicos, que garanta o desempenho e a segurança.

SERVIÇO DE SAÚDE - estabelecimento destinado ao desenvolvimento de ações de atenção à

saúde da população, em regime de internação ou não, incluindo atenção realizada em consultórios

e domicílios.

VALIDAÇÃO - Validação é um processo estabelecido por evidências documentadas que

comprovam que uma atividade específica apresenta conformidade com as especificações

predeterminadas e atende aos requisitos de qualidade.

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APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Como pesquisadoras responsáveis pelo desenvolvimento da pesquisa denominada O

enfermeiro na Central de Material e Esterilização: invisível, mas essencial nós, ALINE COSTA

DA SILVA e BEATRIZ GERBASSI COSTA AGUIAR, informamos que esse estudo pretende

conhecer as concepções dos enfermeiros das Unidades Consumidoras acerca do trabalho dos

enfermeiros na CME. Desta forma os objetivos do estudo são: 1) Identificar as concepções dos

enfermeiros das unidades consumidoras acerca do trabalho dos enfermeiros em CME; 2) Discutir,

a partir das concepções apresentadas nas falas dos sujeitos do estudo, o trabalho dos enfermeiros

em CME quanto a sua importância enquanto cuidado de enfermagem.

Gostaríamos de esclarecer que a entrevista que vamos realizar com o (a) senhor (a) será

gravada, e que o local onde esta ocorrerá assegura que outras pessoas não irão saber o que será

respondido. Também não serão citados o nome do (a) senhor (a) ou nenhuma outra forma que

possa identificá-lo (a). As informações adquiridas serão utilizadas somente para atender os

objetivos da pesquisa.

Ressaltamos ainda que a sua participação não trará quaisquer prejuízos associados a

gastos com dinheiro ou ocupação de seu tempo fora do horário desta entrevista. Caso não deseje

responder ao formulário, não haverá nenhuma forma de imposição para o mesmo. É assegurado o

seu direito de desistir da participação na pesquisa em qualquer fase da mesma. Para tanto

deixamos disponíveis endereço eletrônico para correspondência e telefone para contato:

xxxxxxxxxxxx; (21) yyyy-yyyy.

Aline Costa da Silva __________________________________________________ Beatriz Gerbassi Costa Aguiar __________________________________________

AUTORIZAÇÃO

Eu, ___________________________________ concordo voluntariamente, a participar da pesquisa acima descrita, na condição de sujeito investigado por meio de entrevista gravada tendo garantido meu anonimato. Autorizo, ainda, a mestranda de enfermagem Aline Costa da Silva (autora) a utilizar as informações por mim fornecidas, somente para atender aos fins da pesquisa e para divulgação de seus respectivos resultados no meio acadêmico (eventos e/ ou publicações).

Data: / / Assinatura da entrevistadora : _______________________________

Assinatura do entrevistado:__________________________________

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APÊNDICE B INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DOS SUJEITOS:

Iniciais:

Sexo: ( ) F ( ) M

Idade: ( ) 20- 30 anos ( ) 30-40 anos ( ) 40-50 anos ( ) 50 anos ou mais

Setor onde trabalha: _________________ Cargo de chefia? ( ) SIM ( ) NÃO

Tempo de formado (a): ( ) até 05 anos ( ) 05-10 anos ( ) 10-15 anos ( ) 15 anos ou mais

Já atuou em CME? ( ) SIM ( ) NÃO

ROTEIRO DE ENTREVISTA:

1) O que você pensa sobre o trabalho do enfermeiro na Central de Material e Esterilização?

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APÊNDICE C - TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS3

INSTITUIÇÃO A

Questão 1: O que você pensa sobre o trabalho do enfermeiro na CME?

E1A:

Olha, eu acho que o trabalho do enfermeiro dentro de um Centro de Material é um trabalho muito... é um dos principais trabalhos dentro de um hospital. Porque nele a gente gera para as outras clínicas a esterilização de todo material, porque lá é importante a esterilização do material, que dali nas cirurgias o paciente vai ter contato direto com aquele material, então é muito importante o trabalho do enfermeiro, o enfermeiro que atua ali, e vendo as falhas, o que está faltando... Eu acho um trabalho muito importante porque o material tem que ser esterilizado, a gente tem que receber um material, quer dizer, lá na Central de Material... receber o material a contento: é a bandeja que a gente precisa para uma subclávia, é uma pequena cirurgia. E então acho que é um trabalho muito importante dentro do hospital. Às vezes a gente sabe que falta algum material, mas que logo é providenciado. O Centro de Material é bem atuante, ... não tem reclamações graves aqui do hospital; agora, eu não conheço outros... O funcionamento dentro do Centro de Material eu conheço pouca coisa. O que eu posso dizer é que a gente recebe o material... O enfermeiro é importante porque ele tem que supervisionar o trabalho, dos outros membros da equipe, ele supervisiona o trabalho, vê se aquele pacote está sendo bem feito; é importante sim, tanto que aqui (no hospital) tem a equipe de enfermeiros do Centro de Material, cada plantão tem um enfermeiro supervisionando esse trabalho e atuando também junto com a equipe.

E2A:

Olha, a minha visão do trabalho do enfermeiro de um tempo para cá mudou. Eu passei a valorizar mais o trabalho exercido por ele pelo conhecimento que eu fui adquirindo*. Antes, eu valorizava menos, mas com o aprendizado que eu fui tendo eu comecei a ver a importância realmente do trabalho do enfermeiro na Central. Aí eu comecei a ver a atuação dele realmente, comecei a perceber como era importante o controle da qualidade do trabalho dele influenciando todo o restante do trabalho da gente no hospital, entendeu? Toda utilização de material nosso aqui nos procedimentos e em Centro Cirúrgico... Eu vi como é importante que ele controle bem o trabalho dele lá em cima para que a gente tenha sucesso também nos outros procedimentos que a gente realiza aqui em baixo. Eu vejo agora assim: todo material que a gente recebe e que a gente utiliza num paciente, uma bandeja que venha incompleta, um material que venha em mau estado, o procedimento de limpeza do material... Tudo isso interfere para o paciente. Então

3 Os vícios de linguagem que apareceram nas entrevistas foram retirados durante a transcrição, a fim de garantir a clareza de seu conteúdo, sem alterar o seu sentido. Decidimos adotar este procedimento em todas as entrevistas, de ambas as instituições que serviram de cenário para este estudo.

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agora eu já vejo que é importante o enfermeiro estar lá porque e enfermeiro tem o conhecimento e está à frente de observar se foi feita a limpeza adequada do material, se foi feito o procedimento da esterilização corretamente, se o tempo... tudo... se validou a esterilização... tudo isso é de controle do enfermeiro. Então eu comecei a ver a importância dele ali dentro. É aquela rotina do fluxo, o enfermeiro tem essa visão. Eu só fui começar a valorizar a partir do momento em que eu fui adquirindo conhecimento e eu comecei a valorizar mais, porque antes eu achava que não, que Central de Material não tinha... A gente acha que o enfermeiro na assistência direta é mais a sua área, mas não; hoje eu já vejo a importância dele... Antes de eu iniciar esse curso, eu tinha uma visão diferenciada, e agora como eu estou vendo a importância, estudando mais a fundo toda essa questão de infecção, de controlar...; aí eu estou tendo a oportunidade de ver a colocação direta deles lá em cima, como é importante para nós, mesmo que seja no procedimento mínimo. É importante que tudo seja bem feitinho para que no final a gente tenha um resultado adequado ao paciente, porque às vezes uma falha que você tenha no processo vai ter um resultado, pro paciente, negativo. Aí eu comecei a ver que realmente o enfermeiro lá em cima é importante. Ele ter essa visão dos passos corretos, ele saber se foi feito tudo certinho, se não foi; se não foi não pode ser utilizado, tem que refazer. Aí eu comecei a valorizar mais. Eu comecei a pós-graduação tem seis meses, mas antes eu já tinha assistido algumas palestras aqui no hospital ou fora e a gente já começa a abrir pra essas coisas novas, porque eu fiquei algum tempo que parada. E quando a gente tem o estímulo de buscar coisas novas, buscar o conhecimento. A gente começa a valorizar o trabalho dos nossos colegas mais. Porque a gente às vezes tende a achar que importante é só o trabalho do enfermeiro na enfermaria, não: é importante em todos os setores.

* Curso de Pós-Graduação em CCIH

E3A:

Eu penso que é um trabalho de suma importância porque o material que não estiver bem esterilizado vai causar danos para o paciente, vai ter um gasto de material; cirurgia, por exemplo, que você vai fazer vai gastar material, pessoal, horário, tempo, vai ser tudo desperdiçado em conseqüência de uma infecção que poderá causar no paciente; então eu acho e suma importância o trabalho do enfermeiro numa Central de Material, tanto que eu sou contra colocar pessoas, assim, que já estão reabilitadas em CME; eu acho que tem que ser profissional de ponta. Tem a responsabilidade de planejar, coordenar, etc é do enfermeiro e no Centro de Material você não pode ter somente pessoal de nível médio e auxiliar, porque o enfermeiro é que vai ter conhecimento científico sobre os produtos que serão utilizados, os produtos químicos, o grau de necessidade da... digamos assim, o grau de necessidade... da utilização do material, o enfermeiro é aquele que tem o conhecimento científico. Não estou dizendo que auxiliar e técnico não sabem fazer esse trabalho, mas eu digo assim, o enfermeiro ele tem o conhecimento científico para poder planejar, coordenar, organizar, etc.

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E4A:

Olha, é muita responsabilidade, acho que até mais que a minha, que lido direto com o cliente,

porque está ali por conta dele que ele não vai transferir várias infecções para outros pacientes, ele vai... estar vendo aquele material, estar vendo a forma como ele está sendo esterilizado, está buscando novos empreendimentos, novos materiais, sempre ele está em busca de alguma coisa nova. Isso para proteger o cliente, ele está sempre em busca da proteção... Eu acho que é muito importante porque ele também tem papel de fiscalizador. Porque, por você ter muitas mãos trabalhando você tem que ter um fiscal, é produção. Se não tiver fiscalização não tem uma boa qualidade. Ele busca uma boa produção e uma grande qualidade no serviço dele. Se ele não fiscalizar, quem vai fazer? Quem sabe se aquele fulano que vai empacotar a gaze não lavou a mão? Se ele vai empacotar a gaze do jeito que tem que ser feito? Se vai colocar todas as pinças adequadas naquela bandeja? Tudo bem que o pessoal trabalha com a relação de material,; eu trabalho em Centro Cirúrgico (em outra instituição), então eu tenho uma visão muito próxima da Central de Material, entendeu? Ele tem a importância de fiscalizador de uma produção; é um setor produtivo, ele trabalha muito com produção porque o hospital em peso depende da CME... Em outra instituição eu trabalho muito junto com a enfermeira da Central de Material; então e tenho uma visão um pouquinho ampla, de unidades diferentes.

E5A:

Eu acho que é um trabalho... Na realidade, o trabalho do enfermeiro em qualquer setor deveria ser voltado pra visão do trabalho da Enfermagem em equipe, coisa que não acontece na minha visão. Pra mim, parte tudo da educação em saúde, e daí tudo... você começa a estruturar toda a Enfermagem partindo dali do início mesmo, que é a educação em saúde e trabalho em equipe. Por exemplo, o que acontece? Por exemplo, eu acredito que em dado momento do trabalho, você consegue fazer um trabalho fracionado, cada um tem que fazer a sua etapa, como por exemplo dobrar as gazes, empacotar, separar determinados materiais, pinças, mas em determinados momentos você tem que ter a participação do grupo, da união. Não dá para você ouvir frases como eu trabalho dessa forma , o meu trabalho é assim , o meu trabalho é assado , se você está numa equipe que o trabalho apesar de ser fracionado, apesar de ser partilhado, ele tem que ser compartilhado, e não é. As pessoas têm essa mania de ah, porque eu faço dessa forma... . Não, você está fazendo um trabalho em prol de uma comunidade, seja ela qual for, não pode ser, você não pode colocar somente o seu...a sua impressão pessoal em relação àquilo, não é, tem que ser a impressão de um todo, de uma equipe como um todo e isso, de um modo geral, independente de ser CME ou não, na Enfermagem, isso é pouco visualizado; de um modo geral, as pessoas prestam pouca atenção nisso, então colocam muito ah, porque eu faço assim . Ora, o que você faz pode ser importante mas, em determinados momentos isso aí, e´... não vou dizer que seja irrelevante, mas é pouco relevante em meio a um todo maior. O enfermeiro é o ponto de partida mesmo da equipe de Enfermagem, é ele que tem que sinalizar, é ele que tem que estar observando tudo, além de outros componentes da equipe, mas o enfermeiro, infelizmente é ele que tem que ser o ícone de observação de tudo: de autoclave, de estufa, de processamento de todo material dentro da CME, e também para estar integrando a equipe de enfermagem com a equipe multidisciplinar, porque interdisciplinaridade para mim não existe no Brasil. Agora, eles não tão comprando a gaze, eles estão processando aqui na CME. Eu

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nunca vi isso, na minha época de acadêmica: a gaze vem assim, dobrada dentro do pacote. Entendeu? Como é que a gente... Quer dizer, cadê a enfermagem?Eu fico assim: o enfermeiro lá, o que está acontecendo pra essa questão (da gaze erradamente embalada) estar chegando assim aqui comigo? Eu estou com esse problema aqui, eu estou com problema, porque nós que somos enfermeiros, que somos detentores do conhecimento científico, a gente sabe que aquilo ali é um erro brutal, grave, a gaze assim, ó, vem assim dentro do pacote de curativo, do pacote de gaze, do pacote estéril... Eu nuca vi isso... E aí, o quê que acontece? Tem uma série de erros em cadeia, aí eu acabo ferindo essa coisa aqui do meu processo de assistência, por exemplo, o curativo, em função daquele mau processamento, daquela falta de orientação, daquela má orientação do enfermeiro da CME. Falta de orientação por talvez, estou aqui conjecturando, não sei, falta de conhecimento científico ou a falta de compromisso mesmo, falta de educação em saúde, falta de visão holística, porque a gente sempre fala isso, já virou frase feita... mas é, porque se você olha de forma global, você evita alguns erros, porque você sabe que isso vai repercutir sério numa punção profunda, de uma veia profunda, por exemplo.

E6A:

Olha, eu não tenho, é... Eu não sei como expressar isso mas eu não consigo, por estar muito ligada à prática, em atendimento nas enfermarias, ou até em unidades mais fechadas, eu não consigo entender muito bem o serviço do enfermeiro na Central de Material. O que eu já tive de contato com auxiliares de Enfermagem que me falaram, aí eles me perguntavam o que eu fazia, aí eu expliquei o que eu fazia; e aí eles me diziam que era completamente diferente do que as enfermeiras da Central de Material faziam. Elas checavam material, equipamentos, ... Não tinha, enfim, ...Essa é a informação que eu tenho do que os enfermeiros da Central de Material fazem. É, mesmo não conhecendo, eu dou importância, porque a gente entende que o enfermeiro tem uma formação maior do que a equipe de nível médio, então ele tem que estar gerenciando, observando como estão sendo feitos os procedimentos, como é que estão sendo feitos os processamentos de material. E às vezes o profissional de nível médio não vai ter a complexidade da visão do enfermeiro: ver as contas, a necessidade de algumas coisas acontecerem dentro das normas. O profissional de nível médio ele não vai ter porque ele não tem muito compromisso, já o enfermeiro ele é fundamental estar lá, apesar de eu não conhecer o serviço dele. Mas eu acredito que seja muito importante, sim. Eu acho que a gente tinha que compartilhar experiências. O que a gente percebe é que o profissional de enfermagem que está na Central de Material ele não conhece o serviço da assistência, e a gente não conhece o serviço dele, apesar dos dois serem importantes. Então eu acho que a gente tem que compartilhar as experiências. E uma coisa que eu acho um pouco ruim, _ não sei se você está abordando isso em algum momento da sua pesquisa_ é que a gente acaba...é, por hábito, sabendo que o profissional que está na Central de Material é um profissional que já teve problema em vários setores, é aquele que está no final da carreira e aí, o que acontece? Você acaba atribuindo menos valor à Central de Material. Porque, se esses profissionais é que vão pra lá, é porque lá pode receber um profissional que não é cem por cento, vamos dizer assim. E eu acho isso complicado, porque ali é a nossa segurança de trabalho, é saber que ali os materiais estão sendo bem processados, que a gente vai ter ruma troca de material com a freqüência e a demanda que a gente necessitar. Então eu acho que esses profissionais não deviam ser encaminhados para esse setor, vista a importância do setor.

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E7A:

Olha, na minha concepção, esse trabalho de um enfermeiro dentro da Central de Material é

fundamental, é tudo ali para o funcionamento do Centro de Material e para o funcionamento do hospital como um todo, porque toda a parte de organização, a partir de... acompanhamento da técnica, acompanhamento da preservação, da organização de tudo; é fundamental, é necessário, é muito importante o enfermeiro dentro da Central de Material, até porque é ele que lida diretamente com o material de todo o hospital. Então, se o Centro de Material não anda bem, setor nenhum vai andar bem. Então é fundamental, a presença efetiva mesmo, a presença atuante do enfermeiro no Centro de Material, porque sem ele as coisas não vão andar. Aqui fora, também não vão andar, nada vai funcionar, o hospital inteiro vai sucumbir se não existir a enfermagem do Centro de Material. Tem que haver realmente uma interação, porque se não tiver um funcionamento perfeito lá dentro tudo aqui fora também não vai funcionar. Por exemplo, o circuito do respirador que eu recebo com defeito, eu tenho que passar para o enfermeiro de lá, e esse material tem que ser realmente revisado. Se o enfermeiro de lá, se a equipe toda não estiver atenta a isso, não colocar tudo na ordem, eu fatalmente numa situação de emergência eu vou receber o mesmo circuito quebrado. Então por isso é muito importante a participação e a luta... É um tipo de material que é frágil e, dependendo da época, o hospital faz compras e se ele não comprar _eu cito o macronebulizador_ se você compra um macronebulizador de vida curta, então realmente você tem que tirar de circulação, você tem que organizar, você tem que cuidar da parte de todo o pessoal lá dentro... Eles têm que atuar _ assim como todo o hospital _ 24 horas, tem que ter... eu acredito que não tenha... inclusive o Centro de Material tem a fama de ser depósito de ter funcionário problemático, funcionário com problema de coluna e funcionário idoso. Eu acho que não tem que ser assim; eu acho que você tem que distribuir; claro, lá dentro você vai colocar as pessoas que têm certas limitações pela idade, que têm que trabalhar, mas eu acho que tem que acabar um pouco com isso de Central de Material ser depósito de funcionário problema . Isso quando ocorre é muito ruim para toda a instituição, porque você não consegue

nada. Você... teu trabalho todo aqui em baixo é triplicado, porque as coisas lá não funcionam corretamente. Então é fundamental uma enfermagem atuante, um enfermeiro que cuide realmente daquele setor, porque todo o hospital depende dele.

E8A:

Olha, eu nunca havia pensado sobre isso, mas eu acho que o trabalho do enfermeiro na Central de Material, não sei se eu estou errada, acho que é importante e... será que eu estou errada? Ele deve coordenar as esterilizações, a parte dele que em todo... o trabalho de um hospital, as bandejas, Centro Cirúrgico... Eu acho importante. Eu acho que a Central de Material é um setor importante dentro do hospital porque cuida da esterilização de vários materiais, que vão para o hospital todo: Centro Cirúrgico, clínica cirúrgica, clínica médica e, sendo um setor importante, a enfermeira também tem um papel importante. Eu acredito que o papel da enfermeira seja coordenar as autoclaves, todo esse material que tem que ser esterilizado que vá servir pro hospital todo. Ainda mais um hospital desse grande, que tem maternidade, que tem emergência, eu acho que é mais ou menos isso... A única vez que eu passei na Central de

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Material foi na faculdade, no estágio. Então do que eu me lembro mais ou menos é a enfermeira tem que organizar todas aquelas bandejas do Centro Cirúrgico, ver se realmente estão completas, que cirurgias iriam acontecer naquele dia _ isso em contato com a enfermeira do Centro Cirúrgico_ , que ela ia providenciar as bandejas, os kits cirúrgicos, os lençóis, capote... Eu lembro mais ou menos isso. E, assim, se levar em consideração os outros setores, as pessoas podem até pensar que é um trabalho sem valor porque não está direto ligado ao paciente, que não está na beira do leito... Porque a pessoa ainda tem aquela idéia de achar que o que mais vale é aquele que está na beira do leito, no CTI, que entende de muita coisa. Não, eu acho importante o trabalho da enfermeira na Central de Material por ela coordenar isso tudo, tudo influencia. Dependendo do trabalho da Central de Material, como os instrumentos, as coisas feitas lá vão influenciar em todo o trabalho aqui. No caso, no meu trabalho na clínica cirúrgica que... eu pego no caso do hospital que está sem gaze, a gente pega gaze lá em cima, eles têm que esterilizar gaze... Eu acho que cada um tem o seu valor, e se você pensar, no final todos chegam a um denominador comum, porque eu preciso desse trabalho que ela faz lá em cima na Central de Material, para poder funcionar, para eu poder desenvolver o meu trabalho aqui na clínica cirúrgica, eu preciso do trabalho dela. Ainda mais paciente cirúrgico, ele vai precisar, ele veio do Centro Cirúrgico então é tudo... é como se fosse... é como se ela estivesse no topo. Então eu preciso do trabalho dela. No final, vai todo mundo chegar num denominador comum. Eu acho que importância todos têm. Ela não está em contato com paciente, mas tem importância, sim. No começo eu até tinha falado que eu não sabia muito bem qual era o trabalho do enfermeiro, porque eu acho que esse tipo de trabalho do enfermeiro na Central de Material às vezes não é reconhecido pelos próprios colegas. Eles ficam tão isolados que os próprios colegas não sabem que... qual o trabalho que eles desenvolvem lá. Não sabem, não sabem o quê que ele coordena, o que ele supervisiona, não sabem. Eu acho que isso deveria ser divulgado, deveria ser mostrado para o hospital. Mostrar para os outros colegas como funciona isso. Porque todo mundo sabe a enfermeira do CTI o que desenvolve, a enfermeira que trabalha numa clínica cirúrgica, numa clínica médica, mas quem fica nesses setores mais fechados, como Centro Cirúrgico e a Central de Material pior ainda, porque não tem paciente lá. Então, fica pensando: enfermeiro, ué, enfermeiro lá trabalha com o quê? Não tem paciente lá! Então fica um pouco... por isso que eu acho que fica até difícil para as pessoas identificarem qual o trabalho do enfermeiro na Central de Material.

E9A:

Eu acredito que é um trabalho complexo, principalmente num hospital como esse, em que você tem um aporte de cirurgia muito grande, é muito complexo. Quer dizer, eu nunca entrei, nunca vi as dependências, mas eu creio que deve ser bem grande, parece até que fizeram uma reforma recentemente; e eu acho que é um local muito importante dentro da nossa estrutura, não tenho maiores informações de como funciona lá dentro, eu sei o básico que todo mundo aprende: lavou, esterilizou, colocou, ... Agora, como é realmente no setor eu não tenho uma idéia bem formada não, nunca passei por lá, não... Eu acredito que um enfermeiro dentro de uma Central de Material ele deve trabalhar principalmente na manutenção dos padrões adequados pra esterilização, ele tem que controlar os parâmetros da autoclave, controlar os parâmetros dos materiais... Eu não sei que tipo de esterilizador eles têm por aqui mas deve ser estufa, autoclave, óxido de etileno não sei se tem, ou só tem na BIOXXI, tem aquela termo... termo-desinfectadora tem aí em cima, compraram recentemente também. Então, você observar se esses parâmetros

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estão sendo cumpridos você tem que garantir o padrão de qualidade da esterilização dentro desse local, você tem que coordenar mesmo, saber se a linha de produção está sendo adequada... Se a linha de produção está adequada. E está sempre... Eu acho que é o local que se eu não me engano você tem que estar sempre se especializando, eu acho que eles devem oferecer bastante, é, cursos pra você se especializar, olhar em outras centrais de material o que está dando certo, tem que trabalhar assim e... É um local muito importante. Eu acho até que tinha que ser mais valorizado. A imagem que as pessoas mais ou menos têm é que só vai velho pra lá; vai velho, debilitado, e quando chega lá a realidade é diferente porque é uma coisa que você vai fazer movimentos repetitivos muito mais. Então se você pega uma pessoa que tem, sei lá, uma síndrome do túnel do Carpo e manda pra lá, a pessoa vai ficar dobrando, dobrando, dobrando, vai piorar... hoje em dia eu acho que não é assim, pelo menos aqui muita gente nova entrou no último concurso agora e foi muita gente nova pra lá, bastante funcionário; isso eu acho que eles não podem reclamar, tem bastante gente lá. A presença do enfermeiro lá é fundamental. Não só lá, como em qualquer lugar, mas lá, devido à complexidade é muito importante, é um ambiente fechado. Ele é muito importante tanto pro hospital, porque se der uma coisinha errada, não for bem esterilizado um material daquele imagina como é que vão ficar essas cirurgias aqui? O índice de infecção aqui já é relativamente alto com o trabalho sendo bem feito, imagine se não fosse,... e a demanda aqui é enorme. Você observa que aqui a gente tem... aqui é uma unidade de cirurgia, quem entra aqui é pra fazer cirurgia, e a gente tem uma rotatividade muito grande... então você observa como aquele centro cirúrgico deve ser atarefado e como a central de material deve ser também um fluxo, uma entrada e saída de material... O fluxo de cirurgias é muito grande. Aqui é um hospital que tem muitas áreas cirúrgicas, então você tem muitas cirurgias, então deve ter uma movimentação enorme naquele centro cirúrgico, apesar de ter uma idéia de quem está no centro cirúrgico não faz nada. O pessoal normalmente deve achar que centro cirúrgico é uma moleza, que o pessoal vai lá pra dormir, mas a gente sabe que a realidade não é essa.

INSTITUIÇÃO B

E1B:

A idéia que eu faço do enfermeiro dentro da Central de Esterilização seria basicamente a pessoa responsável em lidar diretamente com o material. Então, não tem ninguém melhor para falar sobre o material de esterilização do que o próprio enfermeiro que lida no dia-a-dia, com o material, toda hora está utilizando de alguma outra forma. Se não usa diretamente, vai auxiliar o médico com esse material, então é... Central de Esterilização é um setor onde... requer um cuidado, uma previsão muito maior, e o enfermeiro é responsável por essa parte. A forma como eu vejo o enfermeiro atuando na parte de esterilização é exatamente lidar vigiando a forma como está sendo tratado o material. O enfermeiro ele é de extrema importância, na Central de Esterilização, por que? É a pessoa principal que vai lidar com o material

o que eu já havia falado anteriormente

uma pessoa de frente para poder lidar com esse material, digamos assim, um fiscal para ver como é que está o trabalho dessa... como é está sendo feita a esterilização, como é que está o material. Porque eu não tenho contato direto com a Central de Esterilização,

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mas a gente trabalha aqui, a gente que lida no dia-a-dia, a Central de Esterilização vem desempenhando um papel importante, e eu acho que o enfermeiro ele é responsável por tudo isso,... é a pessoa que está lidando diretamente no dia-a-dia, então o material tem que estar muito bem trabalhado, até pra evitar algum risco de contaminação... eu acho que é o principal.

E2B:

Eu não tive ainda na Central de Material e Esterilização, nem trabalhando, nem visitando, então eu penso, que deve ser importante porque ali ele está separando todo o material que vai ser usado. Dali tudo que vai passar vai passar por ele, no caso o enfermeiro, e ele tem que estar tomando conta de tudo. Tudo que vier é pra ele. Aqui funciona da seguinte maneira: a gente não tem contato direto com o pessoal da Central de Esterilização, porque tem o rapaz que é responsável pelo material de arsenal. Então o que a gente faz? Por exemplo, se a gente está precisando de uma punção profunda, um procedimento todo estéril, ligo pra ele e ele pega pra mim e é ele que leva pra mim quando eu termino. Quando ele não está, tem uma escala de um técnico que vai e que volta com esse material. A gente não tem contato direto com eles lá em baixo, então fica mais complicado porque, se você tem um contato direto, é diferente: você entra, você vê, você sai com material. Aqui não. Por vezes falta esse contato, mas por vezes também é bom ter esse funcionário (o funcionário do arsenal), porque às vezes o plantão está agitado, a gente não tem tempo.

E3B:

Penso em autoclave, eu acredito que ele deve estar todo paramentado para poder manusear os materiais esterilizados, tem alguns que são autoclavados, não tem necessidade, mas tem alguns, principalmente esterilizados, com certeza, eles são preparados para isso... Acho que Central de Material é o coração... tirando o Centro Cirúrgico e o CTI, é o coração do hospital, porque ela é que fornece tudo para as outras pessoas, para o hospital inteiro. E com certeza, o papel do enfermeiro é importante em qualquer setor hospitalar, porque se o enfermeiro tem que supervisionar, administrar e fiscalizar, então ele é importante também na Central de Material, porque ele também não está ali só para supervisionar, está ali também para atuar, então é importante o papel do enfermeiro ali, porque em conjunto com a equipe vai conseguir desempenhar um bom papel e dar um adiantamento no serviço.

E4B:

Para mim, o trabalho do enfermeiro dentro da Central de Esterilização é muitíssimo importante, até pelo fato de supervisionar o material que está ali e ali é o quê? É o coração do hospital porque ele sai distribuindo material pra todos os setores. Ou seja, num centro cirúrgico, se não tiver o material esterilizado, o que pode acontecer: suspender cirurgia, você não poder realizar o procedimento com o paciente; centro cirúrgico, CTI, seja qualquer lugar. Então, a fiscalização, a atuação do enfermeiro também é importante por conta disso. Eu nunca atuei na CME, fora o estágio da faculdade, eu nunca atuei ali na Central de Esterilização. Então a partir

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do momento que nós, ... é um pouco vago falar por conta de rotina, até porque cada instituição é uma rotina diferente dentro do setor. Então, é complicado falar, eu não estou dentro, estou falando como uma pessoa de fora... Bom, o meu ponto de vista é o seguinte: a pessoa que está atuando ali no setor e tem experiência, é claro, sabe discorrer sobre tudo ali, porque está vivenciando aquilo. É bem diferente quando é um setor em que você não atua, que você passou somente na faculdade; é totalmente diferente até porque, se eu fosse falar do meu setor, eu ia falar a noite inteira sobre isso... Se eu fosse falar de outra unidade de assistência seria mais fácil porque na CME é tudo questão de você saber como funciona uma autoclave, as datas de validade de tudo, o controle de tudo, quanto dura é... de quanto em quanto tempo você faz aquela pesquisa na autoclave, na estufa, ... isso depende também de cada instituição... Na CME são esses detalhes, até porque você não pode ter erro, claro, qualquer lugar não pode ter erro, porque causa dano ao cliente, mas na CME é um pouco diferente por causa disso.

E5B:

Eu acho que só quem tem noção da verdadeira responsabilidade do quanto dá trabalho, do quanto pode ser complicado e é complicado, é o enfermeiro que está lá dentro mesmo, tendo que coordenar aquilo tudo, porque, erroneamente, todo o resto do hospital acha que como lá não é assistencial, que aquilo lá é tudo muito fácil, e na verdade, não: é muito difícil, é muita pressão que a pessoa sofre lá dentro, porque ela é responsável por fornecer material para todo o hospital, e todo tipo de material para todo tipo de paciente. Quanto maior o hospital, hospital geral, fica bem mais complicado. Então eu acho que é muita responsabilidade você fornecer todos os materiais para todos os tipos de cirurgia, ainda mais se o hospital for um hospital de grande porte, como um hospital geral, e ainda por cima pra todos os outros andares do hospital. Eu acho que é um trabalho muito estressante. Eu acho fundamental ter um enfermeiro lá para coordenar, controlar, padronizar as rotinas, as atividades todas que têm que ser feitas, todo o controle da esterilização, se o material está sendo devidamente esterilizado, todos aqueles testes específicos que existem pra controlar o funcionamento e a qualidade do funcionamento das autoclaves, aquilo tudo tem que ter alguém que fique realmente observando, e negociar com fornecedores de materiais e dos locais que forneçam esses testes para verificar a qualidade de infecção. É um trabalho muito importante e fundamental pro hospital todo, até pro controle das infecções, porque o enfermeiro tem que estar lá, vendo o material, se cada tipo de material... Porque cada um tem uma matéria, não podem ser todos esterilizados da mesma forma, então cada um vai ter um tempo para ser esterilizado, vai ter um tipo de substância que pode ou não ser usada pra não danificar o material, tem materiais muito delicados. Então, são muitos detalhes para pessoa ver e ter uma pessoa bem informada, especializada para verificar se tudo está sendo esterilizado mesmo, para não originar infecção hospitalar e sem danificar o material, senão vai ter prejuízo também para o hospital para ter que comprar outros materiais daqueles caríssimos porque você não esterilizou da forma correta.

E6B:

Eu vejo mais assim como uma supervisão dos técnicos, porque eu acho a Central uma parte importantíssima da Enfermagem, porque qualquer coisa de errado ali tem toda contaminação para o paciente e várias complicações. Eu acho que seja só supervisão, até porque o estágio que

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eu fiz, a gente fez um estágio de supervisão. A gente ficava observando, e aí via se o pessoal estava mexendo na autoclave direito, se a lavagem dos instrumentos antes de ir para esterilização estava sendo feita direitinho, eu vejo mesmo essa questão mais de supervisão, organização, preparar as bandejas... Se não acontecer exatamente como deve ser, o paciente é totalmente prejudicado, principalmente em relação à parte cirúrgica, as bandejas todas realmente esterilizadas, a limpeza do material antes de ir para autoclave, isso é importante, eu acho que é importante que tenha uma enfermeira para ser coordenadora de tudo isso.

E 7B:

Eu acho que é importante... as pessoas têm aquela concepção de que em Central de Material tem que trabalhar aquelas pessoas que não têm mais condições de assistência direta, aquelas pessoas que são aposentadas, e na verdade não é isso, eu acho que é o centro de tudo, você tem que estar ligado em tudo, porque um material mal esterilizado reflete em sérias conseqüências pra tudo: para o curativo, para o centro cirúrgico... Então, é fundamental, é essencial esse trabalho. O enfermeiro tem uma percepção melhor das coisas, de tudo, do material, com certeza é de suma importância. Aqui você até passa a conhecer porque eles te dão oportunidade. Se você quiser visitar a Central de Material, você visita a hora que você quiser.

E 8B:

Eu já trabalhei em centro cirúrgico durante muitos anos, como técnica de enfermagem na época, então eu acho que o trabalho do enfermeiro em CME é de suma importância; a gente costuma subestimar um pouco o trabalho das pessoas na CME, mas se a CME parar o hospital inteiro pára, vai parando, parando, e vai ter uma hora que não vai ter mais nada funcionando. Acho que é muito importante. Eu acho que o enfermeiro é que vai validar os testes biológicos, a questão da esterilização, o tamanho da embalagem, a espessura, é ele que vai organizando isso para o técnico executar, para esterilizar, e para embalar também, ele é que vai estar orientando os técnicos nesse sentido.

E 9B:

Eu acho que é muito importante o trabalho do enfermeiro porque, além dele estar prevendo e provendo também os materiais necessários para aquela cirurgia, ali tem que ter um controle máximo de todo aquele material utilizado. Se não tiver aquela cautela, aquele rigor, o que vai acontecer? A gente vai utilizar aquilo numa cirurgia e vai contaminar aquele paciente, vai contaminar aquela cirurgia, então todo aquele trabalho no pré-operatório, o intra-operatório em si e o pós-operatório vão ser por água abaixo , porque você já infectou aquilo tudo... Então eu acho que o enfermeiro tem um papel essencial dentro da Central de Material por isso, porque ele é a pessoa X, a pessoa chave que vai controlar tudo isso. Não é só um trabalho de fiscalização, ele também está ali com a equipe, ele vai trabalhar junto com a equipe. Eu vejo muito isso... não adianta também você só chegar numa Central de Material e você ficar ali só fiscalizando: você não fez isso, você não fez aquilo... ; para ele ser um bom enfermeiro ele tem que estar integrado com a equipe, junto com a equipe mesmo. Hoje em dia o que muito acontece é que infelizmente muitos enfermeiros não trabalham junto com a equipe, não reconhecem o técnico como sua

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equipe, reconhecem o técnico como uma pessoa que vai fazer as funções, fica mandando, e não é isso. Pra gente ter uma equipe em que o trabalho dê certo mesmo, tem que trabalhar em conjunto, eu penso assim. Eu acho que a Enfermagem é um trabalho muito difícil. Ser enfermeiro hoje em dia tem que gostar mesmo, não é fácil, infelizmente o nosso trabalho ele depende de todo mundo. Não só o nosso trabalho, mas a Enfermagem ainda não tem a autonomia, ela deveria ter. Na faculdade a gente tem uma autonomia que quando a gente cai no campo de trabalho não é bem assim... depois a gente enfrenta a realidade ... Só uma mensagem pros enfermeiros: eu acho que a gente tem que continuar lutando, e eu acho que pra gente mudar esse quadro, conquistar a nossa autonomia e o reconhecimento, a gente tem que estudar bastante,... Ser enfermeiro é você estudar bastante e ter a visão da equipe, porque você tendo a equipe do seu lado você vai ter em quem se apoiar, sabe, vai estar todo mundo lutando pelo direito da Enfermagem...

E 10B:

Acho que a atuação do enfermeiro na Central de Material fica basicamente na gerência, eu acho que o enfermeiro tem que estar ciente da quantidade de material, do que precisa, do que não precisa, onde você está levando o material, cuidar da organização do tempo, do material que vai passar naquela área, certificar que não vai ter a mistura do material limpo com o material contaminado.... Eu acho que a ação do enfermeiro no setor é bem mais gerencial do que de fato prática; do que prática propriamente dita. Eu acho fundamental, é um trabalho super importante porque a gerência é um trabalho importante em si, você tem que ter um controle, através do controle você estabelece um fluxo, através desse fluxo você pode ter essa organização e o hospital em todos os setores tem que ter organização e para funcionar é preciso a organização, então é fundamental, é muito importante, eu acho muito importante. Eu acho que até que para uns enfermeiros..não têm ainda o conhecimento todo como funciona, o papel do enfermeiro em si mesmo dentro da área, acho que é uma área que até por estar não tão próxima às clínicas entre outros setores também acho que não é muito divulgado; eu acho que tem que ser mais divulgado o trabalho do enfermeiro dentro de uma Central.

E 11B:

É importante porque uma vez que a história da Enfermagem já começa por toda estrutura de provisão, prevendo o material hospitalar e hoje em dia, com a diversificação do sistema de hotelaria, de... organização dos hospitais, é necessário sempre ter um enfermeiro em determinadas áreas do hospital. Sendo assim, tem que ter enfermeiro responsável pela parte de rouparia, responsável pela parte do material que vai ser usado diretamente no paciente e, no caso, a Central de Material que é a esterilização, uma vez que hospitais grandes como esse, uma grande instituição, demanda uma grande quantidade de material durante as 24 horas para ser usada, então é de extrema importância essa parte do enfermeiro, uma vez que ele está acostumado, durante sua formação, todo o processo de... internação do paciente, o que demanda utilização dos materiais; então é muito importante. Numa instituição em que existir um setor sem o enfermeiro vai ser um trabalho mais demorado, vai ter uma certa dificuldade, uma vez que o profissional que vai estar lá não vai ter uma noção do hospital como um todo, como o enfermeiro é formado para ver o hospital como um todo. Então, pode até existir, mas seria um pouco mais complicado.

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E12B:

O papel do enfermeiro é controlar a entrada e saída dos materiais, tanto em rede pública como

em rede privada, para controlar o material que está sendo esterilizado, e é importante realmente para manter o material esterilizado, limpo, livre de qualquer bactéria, qualquer microrganismo, de qualquer material desse tipo que possa ser transmitido ao paciente. O problema é que a gente não tem a convivência para falar qual seria a importância do enfermeiro trabalhando nessa área, mas é realmente é uma área interessante pra gente estar mais por dentro do assunto. O meu estágio foi muito rápido, não era diariamente, e como a turma era grande e a Central tem essa coisa de não poder ficar entrando e saindo, era semanal, então o que deu pra ver foi muito pouco... bem rápido.

E13B:

Bom, é um setor de grande responsabilidade, porque o enfermeiro, além de ser responsável pelo trabalho dele na Central de Material, é responsável também pelo trabalho da Enfermagem, por nossa equipe de uma maneira propriamente dita; então eu acho que é um setor de grande responsabilidade, porque através de um bom trabalho, de uma boa eficácia no serviço, você evita alguns episódios de infecção,... Eu acho um trabalho de grande importância, é de vital importância, ... tem algumas pessoas que têm excelência em trabalhar em Central de Material por desenvolverem um bom trabalho, uma boa dinâmica com os empregados porque, pelo que a gente sabe a Central de Material é um setor onde se pegam as pessoas no final de carreira, os aposentados, as pessoas que ficaram muito tempo em licença do INSS, as pessoas que já estão cansadas da Enfermagem. Então pegam essas pessoas que também dão trabalho, são pessoas de difícil comunicação, difíceis de trabalhar nos setores, tiram as pessoas de lá e põem na Central de Material; isso é o que a gente sabe, não sei se ocorre aqui, porque normalmente no hospital público ocorre muito, e o que a gente vê no estágio quando a gente está visitando e conhecendo a Enfermagem como um todo. Pra mim, isso é uma faca de dois gumes, porque quando a pessoa está cansada de trabalhar, ela está cansada de trabalhar em qualquer setor,... mas também é um trabalho maçante, porque você faz sempre a mesma coisa e está sempre com as mesmas pessoas, não tem a rotatividade de pacientes como tem numa clínica médica, numa pediatria, então a diferença é essa, pode ser bom como pode ser ruim.

E14B:

Eu acho que é uma grande responsabilidade, porque a gente sabe que a partir dali são utilizados insumos, materiais e vai acarretar diretamente na assistência dos pacientes nos outros setores, então eu vejo que é algo que tem... é um serviço de grande responsabilidade que exige uma especificidade devido ao setor, e que diretamente está ligado à qualidade do serviço que vai ser prestado ao cliente. É importante porque a gente tem que gerenciar diretamente o serviço, existem rotinas a serem cumpridas, é lógico que existem algumas coisas que podem ser executadas por profissional de nível técnico, mas como é um serviço que... como qualquer serviço tem que ter a presença do enfermeiro, se é executado pela Enfermagem, tem que a

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supervisão do enfermeiro. Eu acho que o pouquinho que eu sei não é nem devido à graduação, a gente passou muito rápido realmente ... o que eu sei um pouquinho é porque antes eu tive um contato com centro cirúrgico, como instrumentadora, então foi o primeiro contato que eu tive com CME e conheci mais detalhadamente isso, porque a gente trabalhava com material cirúrgico e tal...depois, na graduação, eu achei que foi um pouco deficiente sim, é, foi passado muito rápido; a gente via, acho que se não me engano, foi um dia de visita e teve a disciplina teórica, onde a gente estudou direitinho como fazia a esterilização de cada material, preparo e tal, mas eu acho que ficou muito a desejar; hoje o que eu sei é bem básico, acho que muito pouco. Eu acho até que eu sei mais do que algumas colegas que passaram na graduação por conta dessa experiência, porque quem passou mais em centro cirúrgico, eu acho que ficou mais próximo dos procedimentos da CME; agora, quem não passou é difícil mesmo.

E 15B:

Eu tinha uma visão que era... como eu posso dizer? Uma visão que eu tinha... eu entrei nesse setor apenas no estágio curricular na época da faculdade,... Então, depois que eu me formei, fui trabalhar em outros setores, eu via a correria que era nos outros setores e eu tinha a idéia de que na Central de Material era tranqüilo de trabalhar, trabalhava muito menos que na unidade de internação, por exemplo. Então, eu pensava desse jeito; hoje aqui no hospital que eu trabalho, como a gente vai muito na Central de Material pegar bandeja pra realizar um procedimento,... Eu não entrei lá para ver a rotina do setor, não conheço, mas a gente percebe, quando vê as pessoas trabalhando, o quantitativo de material. Também não sei pelo número de cirurgias, porque aqui é um hospital grande, a gente vê que lá também é uma correria, só que lá não estão trabalhando diretamente com pessoas como nós das unidades de internação, mas é isso. Eu pensava, até já pensei em trabalhar em Central de Material, até vendo anúncio de vagas de empregos, eu queria ter uma experiência em Central de Material por pensar que era um trabalho muito mais tranqüilo, que eu não ia me cansar tanto no meu dia-a-dia, que ia ser mais fácil. É que eu não tive nenhum tipo de contato, foi só na graduação, então foi uma coisa muito básica, muito superficial,... eu não entrei no setor e vi a rotina do dia-a-dia, eu passei lá alguns dias só, e mesmo assim a gente sabe que não é esquema de plantão, a gente fica só algumas horas ali, então a enfermeira que estava lá mostrava o básico pra gente, o ela podia mostrar. Não tinha muitas cirurgias, muitos procedimentos por ser um hospital de interior, então eu atribuía que era um serviço tranqüilo porque era aquilo que eu via no meu dia-a-dia. Eu vim pro Rio de Janeiro e trabalho num hospital de grande porte... Eu não entrei lá (na CME da instituição onde trabalha atualmente), mas a gente está vendo que a coisa não é tão simples assim, não é fechar bandeja, como eu falei, tem muito mais por trás... Em qualquer serviço na área da saúde envolvendo pessoas o enfermeiro é importante. E ali, apesar de não estar diretamente no cuidado com o paciente, está pensando, sim, no paciente, está envolvendo realmente o cuidado, porque se você não esterilizar da forma correta, não ficar o tempo correto que tem que ficar vai influenciar no cuidado, então... Eu gostaria de saber o resultado da sua pesquisa e também se tiver uma oportunidade da gente realmente conhecer o trabalho do enfermeiro (na CME), também acho que é interessante, através de palestras, da educação continuada... A educação continuada não fala nada sobre a Central de Material, aborda todos os outros aspectos, mas a CME fica jogada meio que de lado. Então de repente até mesmo o desconhecimento, tanto meu quanto de outros, também que possam também não conhecer.

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E16B:

Eu acho que é um papel fundamental, acho que ali é a parte em que a gente pode evitar muitos

problemas, uma infecção... e outros problemas,... o enfermeiro ele sabe melhor o que é preciso, o que tem que ser feito e às vezes não é bem descrito por qualquer outro setor. Eu acho que o enfermeiro se dividir entre a assistência e qualquer outro papel e estar na esterilização ele não vai fazer um trabalho bem feito, ele não vai estar ali cem por cento; ou seja, um minuto que ele não esteja ou, assim, se distraia, pode haver um erro porque o ser humano é falho mesmo, pode errar, ele estando cem por cento pode errar, ainda mais não estando... Infelizmente, o que acontece é que ele acaba respondendo, até pela ausência dele... Eu acho que todos os lugares, por menor que fosse a Central, teria que ter uma pessoa exclusiva ali pra evitar maiores complicações, infecções em cirurgias e outras coisas mais.

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