traficantes do excêntrico

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TRAFICANTES DO EXCÊNTRICO os antropólogos no Brasil dos anos 30 aos anos 60 Mariza Corrêa "Perhaps the first thing that strikes the sociologist is that anthropologists are a tribe." (D. MacRae., 1974) "Plus généralement, la photographie peut être le prétexte à une libération de l'imagination, ou le plus souvent une tentative de compensation pour ceux qui ne peuvent plus ‘vivre que par le souvenir’, et la tentation du bovarysme lorsqu'on ne peut accéder au dépaysement en premiére personne." (R. Castel, em Bourdieu, 1965) Talvez seja uma ironia adequada a esta disciplina que se quer uma ciência do outro que ela tenha criado, em quase toda parte, tradições antropológicas nacionais fundadas por estrangeiros: Franz Boas nos Estados Unidos, Curt Nimuendaju no Brasil, Bronislaw Malinowski na Inglaterra. Seja como for que estrangeiro édefinido, de certa maneira, integrantes dessa tribo, somos todos estrangeiros (o que não é o mesmo que dizer, como Clifford Geertz, que "somos todos nativos"). Cada antropólogo que conta sua história pessoal relembra como veio de um outro campo do saber, de uma outra região de seu país, ou de outro, ou como perdeu qualquer outra referência inicial que possuía. Conta, em suma, como é um desenraizado, um ex-cêntrico (1). Ironias de uma tribo que talvez se defina, afinal, por pretender não pertencer a nenhuma outra que não a antropológica. No caso brasileiro, se acrescenta ainda a esta ambigüidade, às vezes uma harmonia, às vezes um descompasso, entre ‘como pensamos' e ‘como nos pensam'. A trajetória brasileira da disciplina é, mais do que costumamos registrar explicitamente, parte tanto de seu percurso internacional, quanto do imaginário dos antropólogos em geral: lembrando de novo o exemplo de Geertz, é de Lévi-Strauss que ele está falando quando escreve "mito brasileiro" ao invés de seu nome (1983, p. 150). E, assim como os antropólogos inventaram "tradições tribais" para povos entre os quais elas não faziam sentido (Cf. Ranger, 1984), costumam criar e re-criar as suas próprias: como diz Kuper, para toda uma geração, "a Antropologia Social nasceu em 1914 nas Ilhas Trobriand" (1978, p. 11). As tradições aqui inventadas, se não o foram apenas por estrangeiros, tiveram uma forte participação deles nessa invenção: se olharmos atentamente o mapa etnológico de Curt Nimuendaju, quase poderemos ver as sombras dos pesquisadores que as estudaram projetando-se sobre os contornos das comunidades indígenas por eles estudadas até a década de 40, projeção que nos ajudaria mais, entretanto, a entender a distribuição deles, pesquisadores, num território disciplinar comum, do que a de seus objetos de interesse. Mas isto seria ainda apenas um esboço dos inícios de uma disciplina que se apropria, talvez indevidamente, de uma história que não é exatamente, ou inteiramente, a sua. Ainda que grosseiro, este esboço ou rascunho indicaria que boa parte do conteúdo que se manteve em vigência no interior do que hoje chamamos de

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  • TRAFICANTES DO EXCNTRICO

    os antroplogos no Brasil dos anos 30 aos anos 60

    Mariza Corra

    "Perhaps the first thing that strikes the sociologist is that anthropologists are a tribe."

    (D. MacRae., 1974)

    "Plus gnralement, la photographie peut tre le prtexte une libration de

    l'imagination, ou le plus souvent une tentative de compensation pour ceux qui ne

    peuvent plus vivre que par le souvenir, et la tentation du bovarysme lorsqu'on ne peut

    accder au dpaysement en premire personne."

    (R. Castel, em Bourdieu, 1965)

    Talvez seja uma ironia adequada a esta disciplina que se quer uma cincia do

    outro que ela tenha criado, em quase toda parte, tradies antropolgicas nacionais

    fundadas por estrangeiros: Franz Boas nos Estados Unidos, Curt Nimuendaju no Brasil,

    Bronislaw Malinowski na Inglaterra. Seja como for que estrangeiro definido, de certa

    maneira, integrantes dessa tribo, somos todos estrangeiros (o que no o mesmo que

    dizer, como Clifford Geertz, que "somos todos nativos"). Cada antroplogo que conta

    sua histria pessoal relembra como veio de um outro campo do saber, de uma outra

    regio de seu pas, ou de outro, ou como perdeu qualquer outra referncia inicial que

    possua. Conta, em suma, como um desenraizado, um ex-cntrico (1). Ironias de uma

    tribo que talvez se defina, afinal, por pretender no pertencer a nenhuma outra que no a

    antropolgica.

    No caso brasileiro, se acrescenta ainda a esta ambigidade, s vezes uma

    harmonia, s vezes um descompasso, entre como pensamos' e como nos pensam'. A

    trajetria brasileira da disciplina , mais do que costumamos registrar explicitamente,

    parte tanto de seu percurso internacional, quanto do imaginrio dos antroplogos em

    geral: lembrando de novo o exemplo de Geertz, de Lvi-Strauss que ele est falando

    quando escreve "mito brasileiro" ao invs de seu nome (1983, p. 150). E, assim como os

    antroplogos inventaram "tradies tribais" para povos entre os quais elas no faziam

    sentido (Cf. Ranger, 1984), costumam criar e re-criar as suas prprias: como diz Kuper,

    para toda uma gerao, "a Antropologia Social nasceu em 1914 nas Ilhas Trobriand"

    (1978, p. 11).

    As tradies aqui inventadas, se no o foram apenas por estrangeiros, tiveram

    uma forte participao deles nessa inveno: se olharmos atentamente o mapa

    etnolgico de Curt Nimuendaju, quase poderemos ver as sombras dos pesquisadores

    que as estudaram projetando-se sobre os contornos das comunidades indgenas por eles

    estudadas at a dcada de 40, projeo que nos ajudaria mais, entretanto, a entender a

    distribuio deles, pesquisadores, num territrio disciplinar comum, do que a de seus

    objetos de interesse. Mas isto seria ainda apenas um esboo dos incios de uma

    disciplina que se apropria, talvez indevidamente, de uma histria que no exatamente,

    ou inteiramente, a sua. Ainda que grosseiro, este esboo ou rascunho indicaria que boa

    parte do contedo que se manteve em vigncia no interior do que hoje chamamos de

  • Antropologia, desde este incio mtico, o fez de certa forma incorporando as

    informaes a contidas, como se fosse um precipitado delas. No sem interesse

    lembrar que o outro ramo mtico da disciplina, o dos estudos sobre negros, tem como

    heri fundador Raimundo Nina Rodrigues: desse cruzamento entre nativos que se

    interessavam pelo estudo de estrangeiros (os "colonos negros" como os chamava o

    mdico maranhense) e estrangeiros que se interessavam pelos nativos, nasceu a tradio

    antropolgica no Brasil. Antes de avaliar a harmonia e o descompasso mencionados, de

    analisar o dilogo mantido pelos antroplogos entre si nesses anos todos, convm

    entender um pouco melhor como se distribuam no pas os integrantes dessa `tribo'.

    Algumas imagens podem ajudar a circunscrever os espaos e os personagens de

    uma histria difcil de recuperar no detalhe em todas as regies do pas: diferindo no

    singular, os antroplogos se reconheciam no plural em alguns momentos ou certas

    situaes que, certamente no por acaso, esto registrados nas (mesmas) fotografias que

    vrios deles exibiram no decorrer da pesquisa. Algumas dessas fotos vo ser lembradas

    aqui justamente porque expressam bem alguns daqueles momentos na histria da

    disciplina, de certa maneira concentrando instantes de uma realidade que s aos poucos

    pode ser recuperada por quem no a viveu. Os trs momentos so, eles mesmos,

    exemplares: nas dcadas de trinta e quarenta, com a chegada do cinema falado (como

    lembra Almir de Castro, 1977), entrou tambm no pas a modernidade da lngua inglesa

    belas cartas de amigos de Eduardo Galvo, dos Estados Unidos durante a Segunda

    Guerra, sugerem o impacto do modo de vida norte-americano sobre os brasileiros, assim

    como o registram os cronistas da poca; na dcada de cinqenta, o esprito de

    desenvolvimento vigente no pas se expressou tambm na institucionalizao ds

    cincias sociais e, na dcada seguinte, muitas das iniciativas dos anos anteriores

    amadureceram, no obstante os obstculos polticos conhecidos.

    Roberto Da Matta (1985) chamou a ateno recentemente para uma foto de 1939

    num artigo to interessante pelo que diz quanto pelo que deixa de dizer. Nela aparecem,

    da esquerda para a direita, Claude Lvi-Strauss, Ruth Landes, Charles Wagley, Helosa

    Alberto Torres, Lus Castro Faria, Raimundo Lopes e dison Carneiro (Foto 1). Tirada

    no Jardim da Princesa (2), no Museu Nacional, a foto parece emblemtica pela `troca de

    guarda' que sinaliza tanto quanto pela posio ocupada pelos retratados, enfatizada por

    Matta e levemente alterada em outra (Foto 2).

    Lvi-Strauss, e com ele muitos outros integrantes das vrias misses francesas

    que para c vieram na poca, estava deixando o Brasil, logo aps uma viagem de

    pesquisa que teria importncia marcante no seu trabalho e do qual participaram dois

    outros antroplogos, um deles presente na foto (Castro Faria) (3). Ao voltar por escrito,

    com o sucesso do estruturalismo na dcada de 60, teria passado por outra influncia

    decisiva no seu pensamento, em sua estada nos Estados Unidos durante e logo aps a

    Segunda Guerra, influncia que, a partir da, seria notvel tambm no Brasil (4). Os dois

    outros estrangeiros fixados pela cmera brasileira, Ruth Landes e Charles Wagley,

    vindos de Columbia, aparentemente atendiam a um apelo feito por dona Helosa a Boas

    (Wagley, 1977),no sentido de enviar pesquisadores treinados ao pas: no eram os

    primeiros antroplogos norte-americanos a chegar e no seriam os ltimos, mas foi

    nessa poca que a sua vinda se intensificou.

  • A presena de ambos e a do professor Donald Pierson, vindo da Universidade

    de Chicago, que comeou a trabalhar no ensino e na pesquisa em So Paulo no mesmo

    ano indica uma mudana de orientao metodolgica e terica que seria decisiva

    para os caminhos das cincias . sociais no pas, e para a antropologia em particular, at

    meados da dcada de 60. Inicialmente, e em termos institucionais, Columbia e Chicago

    deteriam esta influncia, s mais tarde compartilhada por Harvard e, depois,

    multiplicada.

    Convm lembrar tambm origem regional dos brasileiros fotografados:

    ladeando dona Helosa e Castro Faria, ela carioca, ele fluminense, esto o baiano dison

    Carneiro (1912-1972), principal guia de Ruth Landes nas suas pesquisas em Salvador e

    o maranhense Raimundo Lopes (1894-1941). Ambosevocam, com sua presena, a de

    outros maranhenses e baianos sempre lembrados quando se fala nas origens da

    disciplina no pas (5). Segundo Matta, a foto de maro de 1939 e poderamos

    conjeturar sobre os desencontros que impediram que outros pesquisadores estrangeiros,

    presentes no pas, figurassem nela. Alfred Mtraux (1902-1963),suo criado na

    Argentina, aluno de Mauss e Rivet, com um doutorado sobre os Tupi-Guarani e, at sua

    morte, representando a Unesco na Amrica Latina, viera desde Nova York no mesmo

    navio que trouxe Wagley e, em fevereiro, encontrou-se no Museu com dona Helosa,

    Veliard e Raimundo Lopes. Wagley, que se demorou um pouco mais no Rio, estudando

    o portugus e levantando fontes para a sua pesquisa com os Tapirap na biblioteca do

    Museu, menciona ainda, alm de Landes, William Lipkind, tambm de Columbia, e

    Buell Quain, que o acompanhou uma tarde ao Museu: os dois tinham chegado um

    pouco antes ao Brasil, tambm para estudar nossos ndios. Landes chegara no ano

    anterior e, por recomendao de Pierson, fora apresentada por Arthur Ramos a "amigos

    no Rio" (Acervo: correspondncia D. Pierson-Arthur Ramos). Dina Lvi-Strauss,

    primeira esposa do etnlogo, tendo adoecido durante a expedio ao Brasil Central,

    voltara um pouco antes para a Frana.

    Esses encontros e desencontros de antroplogos de regies e nacionalidades

    distintas, evocados pela foto de uma reunio certamente nada fortuita no Museu

    Nacional de onde dona Helosa; "usando seu grande prestgio e vasto crculo de

    amigos", guiava os visitantes pela "intrincada burocracia que exigia o registro de

    estrangeiros, a permisso para realizar uma expedio cientfica e vrios documentos

    oficiais" (Wagley, 1977) (6) sugere um dinamismo ,d disciplina naquela poca que

    desmente a imagem fixa desses personagens num antigo negativo. No s podemos v-

    los mover-se no contexto brasileiro como reaprendemos, acompanhando este

    movimento, a importncia dos laos internacionais para a nossa antropologia, e o

    alcance nacional dela. Visto da tica dos viajantes e pesquisadores de outros pases que

    o freqentavam h muito tempo, o pas parecia quase sem fronteiras internamente, como

    um imenso cenrio nico para suas expedies e mesmo seus limites externos eram

    tnues para quem, como era muitas vezes o caso, acompanhava grupos indgenas em

    seus prolongamentos dentro e fora do pas geopolitico (7). Os contatos que eles

    estabeleciam, a partir de seu conhecimento da realidade americana, tambm os

    ajudaram a formar uma rede social importante tanto para a antropologia internacional

  • quanto para a disciplina no pas: a relao entre Mtraux e Lvi-Strauss apenas um

    dos exemplos possveis disso.

    O isolamento regional, retrospectivamente enfatizado hoje por muitos

    antroplogos que viveram a dcada de 30 e 40 fora do eixo Rio-So Paulo parece ser

    tambm sublinhado por comparao acelerao das comunicaes na poca

    contempornea na prtica, ele nunca impediu a sua circulao e encontros como o

    registrado na foto do Museu. Mesmo os nativos cruzavam facilmente nossas fronteiras.

    Homens do Norte e do Nordeste ocuparam cargos no centro do cenrio institucional que

    nos interessa, o da antropologia, como Gilberto Freyre e Arthur Ramos, entre tantos

    mas s na dcada seguinte algumas poucas mulheres antroplogas foram para a capital

    do pas ainda que o inverso fosse menos comum. Nesse momento era bem maior

    tambm o nmero de estrangeiros que chegavam do que de brasileiros que saam do

    pas enquanto antroplogos.

    Na Universidade do Distrito Federal, Gilberto Freyre ocupou a cadeira de

    Antropologia Social e Cultural, alm da de Sociologia, entre 1935 e 1936, ficando

    Arthur Ramos com a de Psicologia Social: Ramos assumiu depois a cadeira de

    Antropologia Fsica e Cultural na Faculdade Nacional de Filosofia que reiniciava as

    atividades interrompidas, justamente nesse ano de 1939, da Faculdade de Cincias da

    Universidade do Distrito Federal com a criao da Universidade do Brasil. Com

    exceo de ambos, de dison Carneiro, de Roquette-Pinto e da prpria, dona Heloisa,

    todos os integrantes da comunidade antropolgica nacional nas trs dcadas seguintes

    eram, ento, estudantes (8). Em So Paulo, estudantes de Donald Pierson, Emlio

    Willems e Herbert Baldus, todos estrangeiros, na Escola de Sociologia e Poltica

    (fundada em 1933), ou dos professores franceses na Faculdade de Filosofia, Cincias e

    Letras da Universidade de So Paulo (fundada em 1934), onde tambm lecionava

    Willems e onde Roger Bastide (1898-1974) foi a influncia estrangeira mais duradoura,

    tendo permanecido l por dezesseis anos (Pereira de Queiroz, 1983). Herbert Baldos,

    desde este ano de 1939 catedrtico de Etnologia brasileira na Escola de Sociologia e

    Poltica, cargo que ocupou at morrer, foi, de certa forma, o contraponto indgena do

    africanista Bastide.

    Arthur Ramos morreria na dcada seguinte e o fotografado dison Carneiro

    nunca teve um posto acadmico, apesar (ou talvez por causa) de sua luta poltica pelos

    direitos dos negros e das associaes religiosas de origem africana em Salvador.

    Roquette-Pinto, embora tenha presidido a comisso organizadora da Primeira Reunio

    Brasileira de Antropologia, j falecera quando da organizao da Segunda em que a

  • Associao foi fundada. Os nomes mais conhecidos na antropologia no pas desde ento

    estavam ainda em incio de carreira: Castro Faria, a poca da foto, era naturalista

    voluntrio no Museu Nacional, para onde entrou por concurso em 1944, dois anos

    depois do de Eduardo Galvo (1921-1976), tambm `voluntrio' no final de 1939 e que

    estreou como antroplogo do mesmo modo que seu colega, numa expedio dirigida

    por Charles Wagley no ano seguinte. Darcy Ribeiro, que menciona a si mesmo como

    um dos trs antroplogos da segunda gerao da "famlia dos etnlogos brasileiros" (em

    Galvo, 1978), em 1939 ainda no tinha sado de Minas Gerais, de onde foi, pelas mos

    de Donald Pierson, para a Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo. Egon Schaden,

    recm-licenciado na Faculdade de Filosofia, ex-aluno de Lvi-Strauss, fundava com seu

    pai, Francisco Schaden, a revista Pindorama, onde publicou, no ano anterior, seu

    primeiro artigo etnolgico, em alemo, lngua em que era editada a revista. Lvi-Strauss

    publicara, dois anos antes, o seu primeiro artigo etnolgico, em portugus, na Revista do

    Arquivo Municipal. Futuros presidentes da ABA (Associao Brasileira de

    Antropologia) como Thales de Azevedo, na Bahia, e Ren Ribeiro, em Pernambuco,

    ainda publicavam apenas artigos mdicos nessa poca; Manuel Digues Jr. comeava a

    se interessar pela antropologia atravs de um curso de Gilberto Freyre na Faculdade de

    Direito do Recife e, no sul do pas; Loureiro Fernandes, (1903-1977) tambm se

    dedicava, com sucesso, a sua clnica mdica. O quadro certamente esquemtico, mas

    d uma idia dos componentes da tribo antropolgica para o ano de 1939.

    Neste final da dcada de 30,era freqente tambm o cruzamento das fronteiras

    institucionais: Mrio Wagner Vieira da Cunha, formado na Faculdade de Filosofia, fez

    seu doutorado em Chicago, estimulado por Donald Pierson, e depois trabalhou com ele

    na Escola de Sociologia e Poltica; Florestan Fernandes, tambm vindo da Faculdade,

    fez seu mestrado na Escola, com Baldus, defendendo o doutorado na Faculdade de

    Filosofia; Gioconda Mussolini, uma dos trs primeiros mestres da Escola, foi trabalhar

    na Faculdade e assim por diante. Como os exemplos sugerem, as fronteiras

    disciplinares eram facilmente atravessadas. A distino entre antropologia e sociologia

    era bem menos marcada do que parece s-lo atualmente; ver, por exemplo, a lista dos

    integrantes da Sociedade de Sociologia e a dos da Sociedade de Etnografia e Folclore:

    como sugere Llia Soares (1983), havia uma sobreposio de ambas. A rede social dos

    intelectuais parecia cruzar-se em muitas direes, em cada regio ? a dos cientistas

    sociais, inovao recente, em muitas mais e j num sentido nacional.

    A instituio acadmica no era, tambm, o nico ponto de cruzamento das

    biografias de estudantes e professores naquele momento: um dos professores da Escola

    de Sociologia, por exemplo, Sergio Milliet, trabalhava tambm no Departamento

    Municipal de Cultura, dirigido por Mario de Andrade, e foi quem ofereceu espao do

    Departamento, num prdio ao lado do Mercado Municipal, para ser ocupado por

    Pierson e seus jovens assistentes de pesquisa (Nogueira, Depoimento). Outra iniciativa

    do Departamento foi a criao, por Mrio de Andrade, de um curso, dado por Dina

    Lvi-Strauss, com a durao de um ano, sobre folclore, de onde se teria originado a

    Sociedade de Etnografia e Folclore, que encerrou suas atividades no ano de 1939, dois

    anos depois de ter-se iniciado. Do curso resultou tambm a publicao de um

    manual, Instrues Prticas para Pesquisas de Antropologia Fsica e

  • Cultural, primeiro do tipo a ser publicado em portugus, pelo Departamento, em 1936

    (9). Sobre a Sociedade, diz Mario Wagner Vieira da Cunha:

    "Constitumos um pequeno grupo que queria, antes de tudo, voltar-se para o trabalho

    de campo. Nesse perodo, organizou-se com Mario de Andrade o Departamento de

    Cultura, dando o apoio material necessrio ao que se chamou, primeiro, Clube de

    Etnografia. Era chamado Clube justamente para ficar bem claro que no tinha nada do

    convencionalismo de sociedade. Acabamos caindo nas amarras do convencionalismo e

    transformamos aquilo numa sociedade mesmo. Mas nunca teve mais vida do que nas

    reunies que se faziam, s segundas-feiras, na Escola de Comrcio lvares Penteado,

    no sto, onde havia mesmo um museu de etnografia, organizado desde logo pela Diva

    Lvi-Strauss, onde ela tinha reunido muitos cacos de cermica, muita palha" (Citado

    em Soares, 1983).

    Quase em seguida, em 1941, Arthur Ramos criou no Rio de Janeiro a Sociedade

    Brasileira de Antropologia e Etnologia, da qual se tem escassa notcia: deveria estar

    ainda em funcionamento no final da dcada, pois em 1947 Ramos apresenta o livro de

    Nunes Pereira (1979) como o primeiro volume das publicaes da Sociedade e em

    1948, segundo Florestan Fernandes (1975, p. 167), saiu o livro do padre Albisetti sobre

    os Bororo, tambm sob sua chancela. Em 1984, Nunes Pereira lembrava apenas de outra

    publicao dela, um livro de Luisa Gallet, companheira de Ramos. Arthur Ramos

    convidou Donald Pierson a fazer uma palestra para seus alunos no Rio, logo aps a sua

    chegada ao Brasil manteve com ele uma correspondncia regular at morrer. Sua

    assistente e sucessora, Marina So Paulo Vasconcelos, seria, juntamente com dona

    Helosa, eleita para a primeira diretoria da ABA, como integrante de seu Conselho

    Cientfico.

    O outro antroplogo carioca reconhecido na poca e autor de um antigo Guia de

    Antropologia (1915), Edgard Roquette-Pinto, que fora diretor do Museu Nacional antes

    de dona Helosa (de 1926 a 1935), tambm mantinha relaes com os intelectuais

    paulistas: Mrio de Andrade recomendava o uso de sua "maquininha" em 1938, para

    expedies etnogrficas, e Fernando de Azevedo escreveu um sentida necrolgico, em

    que lembrava os passeios de ambos no "pequeno e velho Ford" de Roquette, a procura

    de um lugar para o Instituto de Educao (10). Mas, nessa poca, ele estava j

    interessado e muito envolvido com o projeto do Instituto nacional de Cinema Educativo

    que organizou em 1937 e do qual foi o primeiro diretor.

    Fora do eixo central do pas, em regies onde as Faculdades de Filosofia se

    instalariam mais tarde, seguindo aqueles modelos, e dependendo da regio, a

    concentrao daqueles que seriam depois definidos ou reconhecidos como antroplogos

    estava em torno de um museu (caso do Museu Paraense Emilio Goeldi, por exemplo, de

    tradio antiga), de um personagem (como Gilberto Freyre, j nessa poca personagem

    nacional em Pernambuco), ou de um movimento (o da defesa do folclore, de Cmara

    Cascudo, em Natal, ou os Congressos Afro-Brasileiros, no Recife, em 1934, organizado

    por Gilberto Freyre, e na Bahia, em 1937, organizado por dison Carneiro). Que essas

    instituies, pessoas ou grupos eram os pontos de referncia de uma territrio

    antropolgico implicitamente reconhecido so testemunhos os depoimentos daqueles

    que vinham de fora dele, como os antroplogos estrangeiros, ou os antroplogos nativos

  • em sua circulao interna: esses pontos, mencionados por todos, vo assim desenhando

    o perfil de um grupo que se reconhecia, ainda que no se definisse explicitamente como

    tal, nos anos trinta e quarenta.

    Essa explicitao se faria na dcada de cinqenta, com a fundao da Associao

    Brasileira de Antropologia, durante a Segunda Reunio Brasileira de Antropologia., em

    Salvador, em 1955 (11). Diz a apresentao de seus Anais:

    Em dois aspectos diferiu nitidamentea primeira da segunda Reunio. Enquanto aquela

    forainiciativa do Museu Nacionale se realizara sob o patrocnio do Ministrio de

    Educao e Cultura por intermdio da Reitoria da Universidade do Brasil, a ltima j

    foi uma iniciativa dos prprios antropologistas ali reunidos, marcando a tendncia

    constituio de um rgo profissional que no se organizou formalmente na ocasio

    devido a dificuldade de encontrar uma frmula satisfatria, mas que veio a constituir-

    se na reunio da Bahia. (...)

    "Apesar de funcionar, em parte, com o carter de congresso, a Reunio no se perdeu

    em formalismos ou convencionalidades que, tantas vezes, afetam as assemblias

    cientficas; teve, antes, o cunho de um seminrio, de uma troca informal de

    experincias e conhecimentos, de um esforo de colaborao, entre os participantes,

    para o progresso dos estudos antropolgicos e para a criao de uma conscincia

    profissional entre os antropologistas brasileiros" (Anais, 1957, nfase adicional).

    Estavam na reunio "47 antropologistas e estudantes", alguns presentes na foto

    de uma das sesses (Foto 3). Na primeira fila, da esquerda para a direita, estavam

    Thales de Azevedo, Camilo Cecchi, Froes da Fonseca, Castro Faria e Darcy Ribeiro; na

    segunda, Herbert Baldus, Charles Wagley, Carlos Eduardo da Rocha e Consuelo Pond;

    na terceira, Harry Hutchinson, Carmelita Junqueira Alves Hutchinson, Josildeth da

    Silva Gomes (Consorte) e Egon Schden. Nessa foto meio apagada, o professor Thales

    de Azevedo reconheceu ainda Maria Thetis Nunes e Lygia Estevo "de Oliveira (12). O

    grupo se ampliara desde 1939, mas s a partir da Terceira Reunio (1958), seus

    integrantes passariam a se definir como antroplogos, ao invs de antropologistas, um

    indicador, na linguagem, da influncia norte-americana na disciplina.

    Alm das instituies existentes no perodo anterior - o Museu Nacional, o

    Museu Paulista, o Museu Paraense, a Faculdade de Filosofia e a Escola de Sociologia e

    Poltica de So Paulo, outras estavam presentes na lista das que enviaram representantes

    a Reunio: o Museu do ndio, criado em 1953; o Centro Brasileiro de Pesquisas

    Educacionais, oficialmente criado em dezembro de 1955, e representado por Wagley, B.

    Hutchinson e Josildeth Gomes; o Instituto Joaquim Nabuco de Cincias Sociais, criado

    em 1949, representado por Ren Ribeiro; a Faculdade de Filosofia da Bahia, criada em

    1943, entre outras. Basicamente, as ampliaes se fizeram seguindo o pontilhado

    esboado pelos ncleos regionais ou institucionais presentes antes, com duas inovaes

    importantes que sero, por isso, tratadas em outro texto: a forte ligao das Cincias

    Sociais com a Educao, atravs dos centros de pesquisas educacionais do Instituto

    Nacional de Estudos Pedaggicos, rgo do Ministrio da Educao, e da influncia de

    Ansio Teixeira e Darcy Ribeiro, e a participao de antroplogos brasileiros e

    estrangeiros em projetos de longo alcance. Isto , os grandes museus tradicionais

    continuaram abrigando o trabalho de antroplogos e, em alguns casos, com Baldus no

  • Museu Paulista desde 1949 e Galvo no Museu Paraense a partir de 1955, ampliaram

    suas sees de Antropologia; as faculdades de filosofia continuaram a seguir o

    parmetro estabelecido pela USP e depois pela Nacional de Filosofia (13), at que o

    novo padro, configurado com a criao da Universidade de Braslia, comeasse a ter

    vigncia na dcada de 70 e a influncia terica e metodolgica mais importante

    continuou a ser a da Antropologia norte-americana, quase hegemnica at o final da

    dcada de 60.

    Se a organizao da Segunda Reunio distribuda em sesses sobre

    Arqueologia, Antropologia Fsica, Lingstica, Antropologia Cultural, Aculturao e

    Ensino da Antropologia mostra como os antroplogos definiam a disciplina naquele

    momento, o ndice dos trabalhos apresentados constitui um pequeno lxico dos

    interesses e orientaes dos pesquisadores. Os estudos de "Etnologia Indgena", alm de

    uma sesso, mereceram duas conferncias, uma feita por H. Baldus, a outra por Darcy

    Ribeiro; as outras duas conferncias trataram de "Cultura e Personalidade" (Ren

    Ribeiro) e de "Aculturao" (Egon Schaden). Os termos mais freqentes, a denotar os

    temas e/ou orientao da Antropologia em geral, na poca, eram aculturao e

    comunidade, mas havia lugar tambm para contato inter-racial, possesso, messianismo

    e imigrao, indicativos, todos, do que.foi publicado pelos antroplogos na dcada de

    50.

    Se a foto de 1939 sugere que os temas dominantes na disciplina eram ento os

    estudos indgenas (Wagley e Lvi-Strauss) e as questes raciais (Landes e Carneiro), a

    de 1955 indica, que esses temas permanecem, com uma ntida preeminncia agora dos

    primeiros (H. Baldus, Darcy Ribeiro, Egon Schaden) e um deslizamento sutil dos

    estudos de relaes raciais, que estavam passando do terreno dos mdicos antroplogos

    para o dos socilogos e saindo do mbito do nordeste inflexo cuidadosamente

    anotada por Gilberto Freyre (1943), e que comear, a ser apresentados de maneira mais

    reiterada os estudos de comunidades rurais ou tribais. A Antropologia Fsica, ainda

    presente, tender a atenuar cada vez mais sua participao nessas reunies enquanto que

    o ensino da Antropologia, j problematizado (Schaden, 1954; Durham e Cardoso,

    1961), reaparecer com razovel freqncia desde ento nos debates da associao.

  • Uma avaliao geral, ainda que sumria, sobre essas reunies, mostra que aquela

    definio e a configurao temtica, apesar da mudana de terminologia e de nfase,

    tm se mantido constantes desde a fundao da ABA.. Seis de seus doze presidentes

    so, ou eram a poca da eleio, especialistas em assuntos indgenas e todos os

    outros mantiveram o tema em primeiro plano em suas gestes (14).

    Quanto a circulao de antroplogos nacionais e estrangeiros pelo pas, ela

    continuou a ocorrer, agora com maior freqncia. No ano anterior criao da ABA,

    por ocasio do IV Centenrio de fundao da cidade de So Paulo, pelo menos dois

    encontros importantes permitiram a reunio de vrios dos personagens dessas fotos, e

    outros que nelas no aparecem: o I Congresso de Sociologia, em junho, e o XXXI

    Congresso Internacional de Americanistas, em agosto. Como que rememorando as

    relaes estreitas entre socilogos e antroplogos desde a dcada de trinta, Fernando de

    Azevedo, presidente do Congresso e tambm da Sociedade Brasileira de Sociologia,

    citava vrias vezes a ambos como seus interlocutores preferenciais na sua "orao

    inaugural": deveriam estar a ouvi-lo, pelo menos, Egon Schaden, Herbert Baldus

    (ambos do Conselho Fiscal da Sociedade), Castro Faria, Helosa A.. Torres, Eduardo

    Galvo e dison Carneiro, a julgar pelos registros da poca (15), mas apenas dois dos

    oradores da reunio da Bahia apresentaram trabalhos no congresso, Egon Schaden e

    Maria Isaura Pereira de Queiroz. Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni e Renato

    Jardim Moreira, que no se apresentaram neste Congresso, no entanto enviaram

    reunio de Salvador comunicaes sobre suas pesquisas a respeito das relaes raciais

    no sul do Brasil.

    J no Congresso dos Americanistas, estiveram presentes quase todos os que

    participaram da fundao da ABA e muitos dos que estavam apenas no congresso de

    Sociologia. Florestan Fernandes e Charles Wagley, presidente e vice-presidente do

    encontro, organizaram um "Simposium Etno-Sociolgico sobre Comunidades no

    Brasil" confirmando a importncia do tema para socilogos e antroplogos, entre os

    18 grupos de trabalho, apenas este e o sobre arqueologia sul-americana tiveram duas

    reunies. S foram superados pelo grupo sobre Etnologia Brasileira que, sempre

    presidido por estrangeiros, se reuniu trs vezes. Os "estudos afro-americanos"

    mereceram uma sesso. J estava presente ao congresso David Maybury-Lewis numa

    das sesses (chamado de David Maybury) que, graas ao conhecimento com Baldus

    no congresso anterior, em 1952 na Inglaterra, decidira pesquisar no pas.

    Isto indica que tambm neste momento as fronteiras institucionais e disciplinares

    (com mais nfase no caso da Sociologia, mas incluindo a Lingstica e a Arqueologia)

    eram ainda facilmente atravessadas. Darcy Ribeiro, no Rio desde 1947, foi responsvel

    pela ida de muitos paulistas para l, ex-colegas de seu tempo de estudante em So

    Paulo, como pesquisadores e/ou professores dos cursos de aperfeioamento e

    treinamento que, desde 1955, promoveu, primeiro no Museu do ndio e depois no CBPE

    e que, de certa forma, tiveram continuidade nos cursos oferecidos no Museu Nacional

    desde 1960 (Castro Faria, 1957; Cardoso de Oliveira, 1962). Esses cursos foram

    assistidos por muitos jovens pesquisadores de outros estados (da Bahia, do Paran, de

    Minas Gerais) onde o ensino da Antropologia se dava apenas na graduao das

    faculdades de Filosofia (em cadeiras ocupadas muitas vezes por um velho mdico que,

  • no obstante conseguia interessar os estudantes, vagamente, na Antropologia, como

    relembra Roque Laraia de sua experincia em Minas), e vrios desses estudantes so

    hoje professores nas universidades brasileiras. No s a formao profissional no

    estava ainda associada definitivamente universidade, como o financiamento de

    pesquisas se fazia, com mais freqncia, fora dela, como foi o caso dos centros

    regionais de pesquisas educacionais e dos projetos financiados por agncias

    internacionais, acoplados ou no a agncias nacionais, no necessariamente ligadas

    rea acadmica: a CAPES ofereceu bolsas aos estudantes dos cursos mencionados, no

    Rio, assim como financiava, indiretamente, atravs do CBPE, pesquisas em So Paulo,

    e o ento Conselho Nacional de Pesquisas patrocinou alguns estudos e pesquisadores ?

    mas a atual Fundao SESP (Servios Especiais de Sade Pblica), na dcada de 40 e a

    Companhia do Vale do So Francisco, na dcada de 50, por exemplo, tambm

    financiaram projetos de pesquisa (16).

    Isto no significa que o treinamento universitrio no tenha sido importante para

    a maioria desses pesquisadores/professores mas sim que, sendo ainda restrita a

    formao especializada na dcada de cinqenta (neste momento, e apenas desde 1947,s

    a USP oferecia o ttulo de mestre e doutor em Antropologia, Sociologia e Cincia

    Poltica; a Escola de Sociologia e Poltica e a Universidade do Brasil ofereciam o ttulo

    de mestre e doutor em Cincias Sociais), aqueles que a obtinham faziam o papel de

    multiplicadores desse conhecimento no pas, sendo ou no nativos dele, e no apenas

    nas instituies acadmicas. Nesta dcada, Charles Wagley teve, na Bahia e no Rio, um

    papel equivalente ao de Donald Pierson na dcada anterior em So Paulo. Formado em

    Chicago, Pierson ainda representava a confluncia da Sociologia e da Antropologia e foi

    estimulador do desenvolvimento de ambas as disciplinas; Wagley, decididamente um

    antroplogo, ou antropologista, como dizia, ao chegar, trouxe a influncia de Columbia

    e de Sinton para as pesquisas feitas na Bahia e no Rio, no mbito dos projetos Bahia-

    Columbia (Azevedo, 1964; Wagley,1970)e da colaborao com o CBPE, alm de sua

    mais conhecida contribuio aos estudos sobre a Amaznia (ver, por exemplo, Margolis

    & Carter, 1979).

    Sendo tambm um grupo reduzido este que atendi pelo nome de cientistas

    sociais, muitos deles estavam presentes nas vrias instituies concomitantemente ou

    sucessivamente criadas para desenvolver essas pesquisas. Entre os antroplogos, Darcy

    Ribeiro o exemplo mais flagrante nesse momento, por sua mltipla atuao, docente

    (na Escola de Administrao Pblica da Fundao Getlio Vargas, na Faculdade

    Nacional de Filosofia, no Museu do ndio, no CBPE onde, intermitentemente deu cursos

    de "Etnografia Brasileira" e de "Antropologia Cultural"), administrao (no Servio de

    Proteo aos ndios, no CBPE, no Instituto de Cincias Sociais) e de pesquisa. Esta

    multiplicidade, no entanto, ainda que em menor escala, foi assumida por quase todos os

    personagens centrais das comunidades antropolgicas, a nvel nacional e estadual, na

    dcada de 50.

    O investimento desses multiplicadores na formao de pesquisadores para as

    Cincias Sociais nem sempre foi bem-sucedido no sentido de torn-los profissionais

    de uma disciplina: no Rio de Janeiro, entre os doze alunos citados por Darcy Ribeiro

    como "orientandos com pesquisa de campo" na dcada de 50, s um ocupa hoje a

  • posio de professor de Antropologia numa universidade (17) os outros tendo se

    tornado professores de Sociologia, administradores, diplomatas, burocratas.. Em So

    Paulo, na Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras, seis ttulos de mestrado e doutorado

    (18) foram obtidos at o final da dcada na rea das Cincias Sociais e nenhum em

    Antropologia.

    A situao se alteraria um pouco nos anos seguintes, mas o grande crescimento

    do nmero de profissionais titulados se daria no final dos anos sessenta e incio dos

    setenta. Este descompasso entre a atuao prtica dos antroplogos como docentes,

    pesquisadores, orientadores de pesquisa de campo e administradores, e a sua titulao

    quase impensvel trinta anos depois sugere que os parmetros universitrios s

    passaram a ser decisivos para a profisso com a quase recriao da universidade que

    representou a reforma instituidora dos cursos de ps-graduao num novo formato, em

    1968. A transio perfeitamente legvel tambm nos nomes eleitos para a diretoria e o

    conselho cientfico da ABA, a partir da dcada de 70 ainda que, ao invs de uma ruptura

    tenha havido uma confluncia entre os representantes de um e outro momento

    expressa tambm pela permanncia, naquelas posies, at hoje, daquele que dirigiu a I

    Reunio Brasileira de Antropologia.

    A.dcada se encerra com uma nota triste, que ainda, assim mesmo, um eco das

    relaes estreitas entre a Antropologia, e a Sociologia: a Sociedade Brasileira de

    Sociologia e o Museu Paulista, representados por H. Baldus, F. de Azevedo, F.

    Altenfelder Silva, Antonio Candido, E. Schaden, D. Moreira Leite, Aziz Simo, F. H.

    Cardoso, O. Ianni e Renato Jardim Moreira, recebiam, em abril de 1958, os despojos do

    pai mitolgico da Antropologia, exumados por Harald Schultz na Amaznia (Revista do

    Museu Paulista, N. S. XI, 1959). Seu nome, no entanto, seria ainda ressuscitado muitas

    vezes para legitimar posies opostas no campo da Antropologia, ou para indicar uma

    insubordinao em relao a posies vigentes, fossem quais fossem como o

    exemplifica a votao que recebeu para o Conselho da ABA em 1984 (19). A frase que

    parece melhor retratar Nimuendaju est numa carta enviada por dona Helosa a Eduardo

    Galvo, ento no campo, acompanhando os pesquisadores James e Virgnia Watson,

    mencionando o curso que ele estava dando trs vezes por semana no Museu: "Ele

    recomenda muito que vocs deixem toda iniciativa sobre decises de negcios

    indgenas aos prprios ndios" (Acervo: HAT a EG, 7.10.1943). Posio difcil de

    manter nas dcadas seguintes, ela servir no obstante como forte ponto de referncia

    para os etnlogos brasileiros.

    O terceiro momento dessa histria de trinta anos poderia ser expresso de vrias

    maneiras h, por exemplo, duas fotos escolhidas por Carlos Guilherme Mota (1977)

    para retratar, entre outras, as vicissitudes da cultura brasileira nos anos 60, e que nos

    dizem respeito diretamente: a foto de Darcy Ribeiro abraado a sua me, deixando o

    pas, e a do prdio da Faculdade de Filosofia da USP em chamas. A que est aqui

    representa, entretanto, cercos traos ausentes ou diludos, nas fotos anteriores, e tambm

    uma certa continuidade entre os trs momentos, mais do que rupturas. certo que, ao

    deixar o pas, Darcy Ribeiro rompeu com uma cadeia de acontecimentos nos quais a sua

    figura teve importncia central, mas nem tudo o que fora construdo desmoronou com a

    sada das lideranas carismticas. Ao queimar, a Maria Antonia (como era conhecido o

  • corao da universidade e bem de acordo com a concepo de seus fundadores) deixou

    um ressaibo amargo em muitos dos personagens centrais da dcada anterior na histria

    das Cincias Sociais. Florestan Fernandes, dos ltimos a sair do prdio, parecia

    pressentir em sua tristeza o que aquela queima simbolizava (20). Ela sinalizou tambm

    uma aproximao talvez difcil antes, de integrantes de uma gerao cujo empenho nas

    lutas pela transformao educacional do pas no pode ser exagerada: alguns anos

    depois, Florestan Fernandes evocava o esprito de certas frases de Darcy Ribeiro, ditas

    alguns anos antes (21). A amargura verbal, e tantas vezes por escrito, que ambos

    expressaram, ao voltarem cena intelectual, sugere que eles enfatizavam, como as fotos

    mencionadas antes, mais as rupturas do que as continuidades entre as dcadas de 60 e

    70.

    Se uma parte da estrutura educacional montada pelos responsveis por ela desde

    o incio dos anos 50 ficou em p e certas propostas foram lentamente digeridas pelos

    novos empresrios da educao, tambm muitas iniciativas tomadas antes, ao

    amadureceram no final dos anos 60, foram ironicamente assimiladas a uma nova

    ordem quando eram expresso de uma mais antiga (22). Menos do que pela

    continuidade institucional, no entanto, o trao pelo qual se distingue a constituio da

    Antropologia como disciplina no perodo, definido por caractersticas, por assim dizer

    externas (metodologia, abordagem terica), tanto quanto pelo seu contedo. Isto , a

    partir da dcada de 30, cada vez que um novo impulso terico ou metodolgico foi dado

    Antropologia, ele se expressou em pesquisas, depois tornadas exemplares tambm

    para outras reas, cujo objeto so as sociedades indgenas (23). Tambm por isso, a foto

    escolhida para expressar um terceiro momento dessa constituio de Biorn, filho do

    antroplogo ingls David Maybury-Lewis, junto a um Xavante no Brasil Central, em

    1958 (Foto 4).

    Ela bem poderia ser a ilustrao do livro em que aparece (O Selvagem e o

    Inocente), apesar da legenda irnica ("ameaando a cmera", quando talvez esta que

    ameaasse o ndio em segundo plano), no fosse o empenho de Maybury-Lewis ao

    longo do texto em desmontar cuidadosamente qualquer resduo das noes romnticas

    sobre quem selvagem e quem inocente nesta histria toda das relaes entre ndios e

    pesquisadores. Maybury-Lewis publicou suas impresses da viagem ao Brasil em 1965,

    antes de editar a monografia mais tradicional sobre o grupo que estudou (1967). O

    primeiro sinal de continuidade que a foto estabelece com a nossa histria banal: h

    muito tempo viajantes estrangeiros registram suas impresses de nossa terra e nossa

  • gente (ainda que poucos com tanto gusto literrio); os outros tinham sido at agora

    tocados s, de passagem. A personagem central do livro, mais do que o etngrafo, Pia,

    sua mulher, e so suas reaes e sua atuao ? numa situao quase inverossmil vista

    de hoje (ou talvez nem tanto, conforme o relato de outros antroplogos que nunca

    registraram por escrito suas experincias) o que primeiro nos chama a ateno.

    Alguma coisa j tem sido escrita sobre a importncia das esposas dos etngrafos em

    situao de pesquisa, mas este relato, antes que tal citao entrasse na moda, de certa

    maneira lana luz sobre uma participao que parece ter sido mais constante do que ns

    acostumamos a registrar (24).

    Se, com o trabalho que ento iniciava, Maybury-Lewis comeava a romper com

    uma tradio de anlise das sociedades J que vinha desde Nimuendaju (Da Matta,

    1981), ao mesmo tempo continuava outra que, desde os trabalhos dos naturalistas

    alemes, passando pelos franceses e chegando at os norte-americanos numa linha

    quase contnua antes de se multiplicar depois dos anos 70, assinala a importncia do

    trabalho orientado, em pessoa ou distncia, por pesquisadores estrangeiros no nosso

    pas, particularmente com relao s sociedades tribais (25). Sua colaborao com o

    Museu Nacional, quando j estava trabalhando em Harvard, e particularmente com

    Roberto Cardoso de Oliveira e seus estudantes, atravs do projeto Harvard-Brasil

    Central, de certa forma o equivalente, na dcada de 60, da relao estabelecida na

    dcada, anterior entre Columbia e a Universidade da Bahia, atravs de Charles Wagley

    e Thales de Azevedo. Este tipo de colaborao que, no caso do Museu, e em carter

    mais informal vinha sendo posto em prtica h mais tempo por dona Helosa e,

    conforme Castro Faria (1977), j antes dela, por Roquette-Pinto, parece ter sido

    especialmente bem-sucedido, em termos da formao profissional de antroplogos

    brasileiros, por ter coincidido com a reformulao legal dos programas de ps-

    graduao no pas e sua instituio no Museu Nacional. Como Gerholm e Hannerz

    (1982) observam para a cena internacional, tal colaborao ainda se expressava num

    nmero maior de estrangeiros vindo para ensinar, ou pesquisar, e de brasileiros saindo

    para estudar, mas foi a partir da que a situao, se no se inverteu, comeou a mudar,

    com a participao, cada vez mais freqente, de antroplogos brasileiros em seminrios

    internacionais e, em alguns casos, como professores visitantes de universidades em

    outros pases. Isto , desde meados da dcada de 70, a Antropologia brasileira tem sido

    considerada como um interlocutor no plano internacional

    A ligao de Maybury-Lewis com o Brasil comeara cinco anos antes daquela

    foto ser tirada, quando ele chegou a So Paulo para dar aulas de ingls e estudar,

    durante dois anos, com H. Baldus, na Escola de Sociologia e Poltica (26). Justamente

    naquele ano, Roberto Cardoso de Oliveira, que estudara na USP, estava saindo de So

    Paulo, a convite de Darcy Ribeiro, que tambm havia sido aluno de Baldus, para

    trabalhar no Museu do ndio no Rio de Janeiro iniciativa de Darcy no mbito do

    ento Servio de Proteo aos ndios: ambos sairiam de l em 1956, para o CBPE (27).

    Cardoso de Oliveira, a partir de 1960 e at incios dos anos 70, quando transferiu-se

    para Braslia, ficou no Museu Nacional; Darcy Ribeiro deixaria a Diviso de Estudos e

    Pesquisas Sociais do Centro, para trabalhar na implantao da Universidade de Braslia,

    em 1962.

  • O impulso dado Antropologia no Rio de Janeiro com os cursos dados por

    ambos no Museu do ndio, primeiro, no CBPE depois continuados por Cardoso de

    Oliveira no Museu e, por um perodo extremamente curto estimulados por Darcy

    Ribeiro em Braslia fez com que repercutissem mais l do que em So Paulo as

    influncias das instituies paulistas, j que muitos dos formados sob esta influncia

    foram convidados a participar daquelas experincias. Em So Paulo, dada a grande

    expanso da Sociologia do que um bom ndice o nmero de teses de mestrado e

    doutorado defendidas na dcada de 60 (35, por contraste com as 5 de Antropologia) a

    disciplina se desenvolveu, a nvel institucional, mais lentamente. Se observarmos o

    elenco da diretoria e do Conselho da ABA hoje, no entanto, veremos que boa parte de

    seus integrantes cariocas que passaram pelos cursos promovidos nas dcadas de 50 e 60

    ou, mais tarde, pela ps-graduao do Museu Nacional, ou completaram a sua formao

    no exterior ou se doutoraram pela USP na dcada de 70. Isto , na dcada de 60, os

    profissionais nascidos entre os anos 30 e 40 estavam ento iniciando sua carreira como

    estudantes; os docentes e pesquisadores nascidos entre os anos 20 e 30 concluam sua

    formao, mais freqentemente no pas do que no exterior (28). Eduardo Galvo (1921-

    1976) parece ter sido o nico antroplogo de sua gerao a obter o ttulo de Doutor fora

    do pas (em Columbia, em 1952), o que, na gerao de seus alunos, tornou-se mais

    comum (29). Wagley em Columbia e MayburyLewis em Harvard estimularam e

    apoiaram a ida de estudantes brasileiros para esses centros ? estmulo que se ampliou

    para outros centros, fosse pela presena de Wagley, a partir dos anos 70 na Flrida,

    fosse pela de seus ex-alunos em outras universidades norte-americanas (30). Com a

    exceo de casos isolados, isto se deu, no entanto, com mais freqncia depois que o

    novo sistema de ps-graduao se instituiu no pas.

    O grande acontecimento da dcada; no mbito do ensino, foi a criao, e quase

    imediato desmantelamento, da Universidade de Braslia, o que fez tambm com que

    voltassem para, suas instituies de origem vrios docentes e pesquisadores da rea da

    Antropologia l reunidos. O resultado do trabalho de representantes de duas geraes

    em centros mais antigos, como o Museu Paraense, para onde voltou Galvo ou a

    Universidade da Bahia, para onde foi Pedro Agostinho da Silva, ento estudante em

    Braslia, ou nas novas faculdades de Filosofia, criadas com o impulso das reformas

    educacionais de 1968, ainda est para ser avaliado. Na Associao de Antropologia, da

    qual Darcy Ribeiro tinha sido eleito presidente em 1959, o impacto dessas reformas,

    aliado ao grande crescimento do nmero de estudantes nas universidades brasileiras no

    final da dcada, se far sentir bem mais tarde, a partir da reunio de 1974, quando elas

    retomam tambm a periodicidade das reunies das dcadas de 50 e 60. como se

    tivesse havido um hiato, nessas reunies, entre a efervescncia poltica de 1963

    (Durham; 1963) e a lenta retomada dos trabalhos em 1974: a reunio de 1966,

    programada para ocorrer em Braslia, acabou sendo realizada dentro do Simpsio sobre

    a Biota Amaznica, organizado pela Associao de Biologia Tropical, em Belm e

    contou com a presena de apenas doze scios; em 1971, o professor Egon Schaden fez

    um esforo para reunir os antroplogos em So Paulo, por ocasio de outro encontro,

    promovido pelo Instituto de Estudos Brasileiros da USP, mas s na reunio seguinte se

    fez a eleio de um presidente, no realizada desde 1966, isto , num perodo de oito

  • anos. Em 1980 a, presidncia seria, pela primeira vez, ocupada por uma mulher e,

    tambm pela primeira vez, por uma docente da Universidade de So Paulo Eunice

    Durham (31). s a partir da que a presena paulista seria visvel na Associao. Na

    dcada de 60, com a exceo da Universidade de Braslia, as instituies em que eram

    realizadas pesquisas antropolgicas eram as mesmas que abrigavam na dcada anterior:

    desde ento os grupos se multiplicaram e a avaliao das contribuies de pesquisas

    individuais ou institucionais em Antropologia melhor feita quantitativamente o que

    tem sido levado a cabo pelas agncias federais de financiamento e administrao dos

    programas de ps-graduao no pas (32).

    O que parece claro para o perodo dos anos trinta aos anos sessenta que, se

    houve uma profissionalizao crescente dos antroplogos no pas, ela se expressou na

    sua aglutinao em torno de uma identidade profissional comum, definida atravs da

    ABA e, se houve uma especializao crescente da disciplina no mbito das Cincias

    Sociais, ela se expressou pela nfase dada aos assuntos indgenas, na pesquisa tanto

    quanto na ateno poltica de parte dos antroplogos ao tema. Aqui, como em outros

    pases, o trao distintivo da Antropologia em relao s outras disciplinas das Cincias

    Sociais tem sido a pesquisa de campo e esta, seja pela nfase que lhe foi atribuda pelos

    professores/pesquisadores internacionais na sua atuao no pas, seja pelo lugar que

    ocupou nas instituies que tm formado antroplogos, parece ser mais amplamente

    posta em prtica entre os grupos indgenas nacionais. Nenhuma outra rea da disciplina

    ocupa, sozinha, a dimenso simblica e poltica que tem esta: a distino que lhe

    atribuem os antroplogos pode ser medida tambm por ser a nica, para a qual existe

    uma bibliografia sistematicamente atualizada desde que Baldos a iniciou (Baldos,

    1954), a nica, que mereceu dos antroplogos o investimento de trabalho coletivo numa

    outra entidade que no a sua Associao (a Comisso Pr-ndio, criada em 1978, em

    So Paulo) e, ainda por ser a questo indgena a que tem hoje concentrado a maior

    contribuio da ABA aos trabalhos da Assemblia Nacional Constituinte

    A foto de Biorn com o Xavante evoca assim alguns traos distintivos da atuao

    dos antroplogos no Brasil que tinham ficado atenuados no acompanhamento sumrio

    que se fez aqui da constituio de uma comunidade, ou uma tribo, antropolgica

    nacional: o trabalho de campo e a forte presena do ndio na definio da disciplina. As

    sombras de Lry e Staden, percebidas por Lvi-Strauss numa praia deserta e s quais ele

    acrescentava o nome de Mtraux,e ns podemos acrescentar o seu prprio, podem ser

    somados vrios outros nomes, alguns lembrados aqui e todos inseparveis dos grupos

    que estudaram com a condio de que tenhamos claro que, ao falar sobre esses

    grupos, seus pesquisadores esto tambm, ou esto com mais freqncia, falando uns

    com os outros. O que traz de volta a forte presena de pesquisadores estrangeiros no

    pas, evocando a questo sempre ilusria da nacionalidade. Como observa Milton

    Singer: "As etiquetas nacionais esto deslocadas, j que o britnico Radcliffe-Brown

    deriva seu trabalho do de Morgan e da escola sociolgica francesa, enquanto que os

    antroplogos culturais americanos o derivam de Tylor e,via Boas, dos difusionistas

    alemes" (1968) No preciso lembrar que Radcliffe-Brown tambm passou por aqui

    ou que, sob as mesmas influncias sofridas por Boas, mas distncia, o sergipano

    Tobias Barreto fazia reflexes muito semelhantes s dele sobre a cultura no sculo

  • passado, ou acrescentar que somos todos estrangeiros em relao ao objeto privilegiado

    de nossa disciplina, para sublinhar um descentramento to entranhado em sua histria

    que o que a define, para bem ou para mal. No exemplo brasileiro da disciplina, um

    certo cosmopolitismo que est na moda (33), foi-nos quase impingido desde o incio de

    sua histria: vejamos como isto se expressa no seu universo textual.

    Notas Biogrficas

    1 - Em sua Histria da Teoria Etnolgica, Lowie. lembra a intolerncia de Malinowski

    para com os "traficantes do excntrico", o que ele considerava fruto de sua imaginao:

    comentrio adequado de um alemo na Amrica do Norte sobre um polons na

    Inglaterra.

    2 - Roberto Cardoso de Oliveira reconheceu o local da foto, explicando que seu nome

    deriva da histria de que toda a loua quebrada no Palcio da Quinta da Boa Vista era

    recolhida e seus cacos serviam para decorar esse recanto, agora, como na poca da foto,

    acessvel pela ala da antropologia. Segundo Mtraux (1978), o escritrio de dona

    Helosa ficava na capela da Imperatriz. Escrevendo em fevereiro de 1939, ele descreve

    suas impresses do Museu e de sua diretora.

    3 - O outro era o tambm mdico Jehan Vellard que publicara um livro sobre os

    Guayaki (UneCivilisation du Miel). Noseu prefcio a este livro; Paul Rivet conta que

    Vellard adotara uma menina ndia, cujos progressos Mtraux registra. Para integrantes

    de outras misses francesas (diplomtica, militar) no pas, na poca, ver tambm

    Maugu (1982).

    4 - Um. dos nomes que teve esta influncia, Franz Boas (1858-1942), tinha construdo

    boa parte da base institucional sobre a qual se apoiava a antropologia no momento em

    que Lvi-Strauss esteve naquele pas e talvez seja tambm indicativo dos laos de

    relaes entre a nossa e a antropologia em geral que Boas tenha morrido nos braos de

    dois etnlogos franceses o prprio Lvi-Strauss e Paul Rivet (Cf. Lesser, 1981)

    ambos personagens da histria da disciplina no Brasil.

    5 - O baiano dison Carneiro sempre negara, contra Arthur Ramos, a existncia de uma

    escola baiana de Antropologia, que teria tido Nina Rodrigues como chefe. Este, que

    passou sua vida profissional na Bahia, era maranhense. Arthur Ramos, embora tendo

    nascido em Alagoas, foi sempre considerado baiano por seus contemporneos

    (Madureira de Pinho, 1960). Sobre sua inimizade com Ruth Landes, ver Carneiro

    (1964). A amizade entre Landes e Carneiro rememorada por ela (1967, 1970). Quanto

    a Raimundo Lopes da Cunha, que deixou muitos trabalhos sobre o Maranho, era

    nascido em Portugal. Na reedio de seu conhecido Urna Regio Tropical (1916), uma

    nota parece indicar a influncia de sua estada no Museu: "Os Canelas, na regio serrana

    do Mearim, so mais rudes e esquivos, ao mesmo tempo agressivos e covardes". Nota:

    "Assim pensvamos em 1916, e pensa ainda muita gente. Mas preciso renunciar a

    julgar o ndio segundo os seus inimigos, pelo menos..." (1970, p. 68).

    6 - Filha de Alberto Torres, poltico e intelectual importante da Repblica Velha, dona

    Helosa (1895-1977), como foi sempre chamada pelos que trabalharam com ela, foi

    tambm personagem de um romance, premiado em 1932 e sobre o qual Roberto

  • Cardoso de Oliveira chamou minha ateno: No Pacoval do Carimb, de Bastos de

    vila. Ver Castro Faria (1978).

    7 - Observe-se, por exemplo, a no transio nos carnets de Mtraux em suas viagens

    pela Amrica do Sul, ao passar de um pais para outro (ele em geral entrava e safa do

    pas via Belm-Paramaribo). Anos depois, Baldos daria a um jovem candidato a

    etnlogo o conselho de comear seus estudos sobre os ndios brasileiros pela fronteira

    com a Guiana Inglesa, para evitar a burocracia que dona Helosa ajudava a vencer.

    (Maybury-Leveis, 1965). Em sua orao de despedida a Mtraux, em 1963, Lvi-

    Strauss relembraria seu primeiro encontro, em fevereiro de 1939, em Santos, borrando

    tambm as fronteiras nacionais: "... 'um txi nos levou s praias desertas mas que ainda

    estavam, para ns, habitadas pelas sombras dos ndios com que viveram Jean de Lry e

    Hans Staden e dos quais Mtraux foi o inesquecvel historiador" (Mtraux, 1978, p.

    42).

    8 - Seria injusto no mencionar Manuel Nunes Pereira (1895-1985) como um dos

    integrantes da tribo dos antroplogos nesse perodo, j que suas pesquisas na Amaznia

    o tornaram justamente conhecido: como no caso de Curt Nimuendaju, originalmente

    Curt Unkel, antes de adotar o nome que recebeu em sua longa permanncia entre os

    ndios brasileiros, trata-se de free-lancers cujo impulso a disciplina vinha de fora do

    sistema acadmico e bem antes de ele se formar. Neste trecho, tento acompanhar alguns

    dos integrantes dessa comunidade empenhados na construo institucional, na

    montagem dos aparelhos de reproduo de um saber especifico em que, hoje, so

    formados os antroplogos. O prprio Gilberto Freyre tem uma passagem rpida por este

    contexto a nvel nacional, empenhado, ele, na construo de uma instituio regional

    9 - Dina, que foi `Secretrio' do Boletim .publicado pela Sociedade (ver os fac-smiles

    em Soares, 1983), tambm registrou em filme a vida cotidiana dos Boro ro. Os .

    primeiros passos de Lvi-Strauss na anlise de material indgena podem ser

    acompanhados nesses poucos nmeros do Boletim. Egon Schaden discorda de Mario

    Wagner na lembrana e afirma que o que havia no sto da Escola era um laboratrio

    de antropologia social, criado por Claude Lvi-Strauss. Ver Lvi-Strauss, Depoimento.

    10 - Mrio de Andrade (22.3.1938), em Duarte (1977) e Fernando de Azevedo (1973).

    Referindo-se a ento projetada expedio de Lvi-Strauss pelo Brasil Central, de 1938,

    diz Mrio: "No estou fazendo nada, a no ser as caceteaes que tive com essas

    viagens etnogrficas bestas do Lvi-Strauss e do Oto Leonardos. (...) J com Lvi-

    Strauss, agora tarde para voltar atrs. Chega amanh aqui e conversarei com ele e o

    atirarei nas costas de voc e do Sergio. Se arranjem que preciso sossego". (Idem,

    3.4.1938).

    11 - Sobre a ABA ver Cardoso de Oliveira (1986). A comisso organizadora da

    Primeira Reunio: Roquette-Pinto, presidente, Castro Faria, secretrio e Helosa A..

    Torres, Eduardo Galvo, Darcy Ribeiro, dison Carneiro, J. Bastos de vila, Maria

    Julia Pourchet Passos, Manuel Digues Jr., Jos Bonifcio Rodrigues e L.A.. Costa

    Pinto. A mesa que presidiu os trabalhos: Herbert Baldus (SP), presidente, acidentado e

    substitudo por Thales de Azevedo (BA), Jos Loureiro Fernandes (PR), Manuel

    Diges Jr. (RJ) e Ren Ribeiro. Para a composio da diretoria eleita em Salvador e

  • nos encontros subseqentes, ver o quadro em anexo. Dos 47 registrados na lista

    dos Anais da Bahia, 31 eram homens e 16 mulheres.

    12 - Boa parte dos nomes listados, como acontece em todas as reunies, era de

    pesquisadores locais, como Consuelo Pond, Josildeth Gomes, hoje professora em So

    Paulo, Maria T. Nunes e Lygia E. de Oliveira, de Pernambuco, filha de Estevo de

    Oliveira, diretor do Museu Paraense. Carmelita J. Ayres, de famlia baiana, casara-se

    com Hutchinson depois da pesquisa que ambos fizeram para o projeto Bahia-Columbia

    e no voltou profisso depois desses anos. A verso final desta pesquisa dever conter

    uma informao biogrfica mais detalhada dos personagens aqui mencionados

    rapidamente.

    13 A lei que instituiu nacionalmente a cadeira de Etnografia Brasileira e Lngua Tupi

    foi sancionada pelo governo Caf Filho, em 1954, mas em So Paulo esta cadeira j

    existia desde os anos trinta e seu primeiro ocupante foi Plnio Ayrosa.

    14 - A contribuio dos lingistas e dos arquelogos tem sido feita tambm

    predominantemente no terreno dos estudos de grupos indgenas; a dos antroplogos

    fsicos tambm o foi em boa parte. Sobre os mdicos antroplogos, ver Azevedo (1979),

    ele prprio e Ren Ribeiro formados em medicina, mas em Ribeiro (e.g. 1952) que

    esta formao mais evidente. Sobre a Antropologia Fsica, ver Castro Faria (1952,

    1963) e M. J. Pourchet, citada por Melatti (1984): ela, J. Bastos de vila, Froes da

    Fonseca, Renato Locchi e Jos Loureiro Fernandes, dos citados, eram antroplogos

    fsicos, os quatro ltimos formados em medicina.

    15 - Um resumo das apresentaes feitas nos dois congressos est na Revista de

    Antropologia, 2(2), 1954 ela tambm iniciada este . ano por Egon Schaden; ver

    tambm os Anais do XXXI Congresso Internacional de Americanistas, Anhembi, SP,

    1955 e os Anais do I Congresso Brasileiro de Sociologia, Grfica Saraiva, SP, 1955.

    16 - Sobre a SESP, ver Wagley (1953, 1977b) e Peanha (1976); sobre o Vale do So

    Francisco, Pierson (1987). A avaliao dessa participao de rgos pblicos, e

    agncias internacionais, nas pesquisas de Antropologia da poca ser feita em conjunto

    com a anlise dos projetos de longo alcance.

    17 - Eram: Marcelo Moretzhon de Andrade, Maria Las Mousinho Guidi, Maria David

    de Azevedo (Brando), Carlos Moreira Neto, Dalton Moreira de Araujo, Jorge

    Guimares de Oliveira, Lygia Estevo de Oliveira, Maria Helosa Fnelon Costa, Ursula

    Albersheim, Klaas Woortmann ? hoje antroplogo na Universidade de Braslia

    Roberto Las Casas e Olmar Paranhos Montenegro.

    18 - Os ttulos foram obtidos por Gilda Rocha de Mello e Souza (doutorado, 1950),

    Florestan Fernandes (doutorado, 1951), Fernando Henrique Cardoso (mestrado, 1953),

    Antonio Candido de Mello e Souza (doutorado, 1934), Octavio Ianni (mestrado, 1957) e

    Marialice Foracchi (mestrado, 1959) todos em Sociologia. Defenderam a livre-

    docncia Florestar Fernandes (1953) e Egon Schaden (1954), este em Antropologia.

    19 Curt Nimuendaju (1883-1945) deixou um rastro de curiosidade depoi de sua morte

    ? ver os comentrios de Nunes Pereira, citados por Mtraux e os dele mesmo (1978) ? e

    no menos curioso que tendo tido tanta vinculaes com o Museu Nacional e com o

    Museu Paraense, seus restos mortais acabassem no Museu Paulista onde iniciou sua

    carreira. Ver tambm a polmica entre Darcy Ribeiro e Roberto Da Matta em 1979 em

  • torno da publicao dos trabalhos de Nimuendaju, entre outras coisas. Luiz Henrique

    Passador encontrou notcia de Tekla Hartmann (Revista do Museu Paulista, NS,

    vol.XXVIII, 1981/82) sobre o enterro de Nimuendaju em 1981.

    20 - Ainda est por ser feita uma iconografia dos locais em que as Cincias Sociais se

    abrigaram, e a sua histria: o prdio da rua Maria Antonia abrigou inicialmente o Centro

    de Pesquisas Educacionais d So Paulo.

    21 - Comparar Fernandes (1974 ) e Ribeiro (1962), por exemplo.

    22 - Darcy Ribeiro foi responsvel, por exemplo, pela vinda do Summer Institute of

    Linguistic ao Brasil, em 1959, para estimular a pesquisa das lnguas indgenas, assim

    como ele e Ansio Teixeira propiciaram a vinda de muitos outros tcnicos norte-

    americanos ao pas, num contexto de modernizao educacional que inclua o estmulo

    s pesquisas em Cincias Sociais e que, lido de outro ngulo depois de 1968, adquiriu

    novo significado. Basta lembrar que Charles Wagley integrava a primeira comisso da

    USAID, em 1963 (Cunha 1996) que, assim como a presena do Summer, se tornou alvo

    da crtica das geraes mais jovens logo depois de 68. Sobre o Summer, ver o nmero 7

    (1981) deReligio e Sociedade e, para uma auto-avaliao de sua atuao no perodo

    anterior, as cartas de Darcy -Ribeiro a Ansio Teixeira no CPDOC da Fundao Getlio

    Vargas do Rio de Janeiro.

    23 - Aqui, tentando acompanhar minimamente as trajetrias dos personagens principais

    dessa histria nesse perodo, impossvel avaliar tambm a sua produo -intelectual

    objeto de outro texto.

    24 - Um captulo ainda a ser escrito, este, na histria da Antropologia e que bem poderia

    levar o ttulo de `Lvi-Strauss et sa femme', que como Maug reiteradamente se

    referia Dina e Mtraux s outras esposas do antroplogo. Ver as observaes de K.

    Dwyer (1979) sobre a diviso de trabalho entre marido e mulher em vrias pesquisas de

    campo. D. Pierson (1987) menciona tanto a contribuio de Helen, sua esposa, como a

    das esposas dos outros pesquisadores em seus projetos; Charles Wagley registra seu uso

    do dirio mantido por Ceclia numa das viagens aos Tapirap (1977) e Da Matta

    descreve sua mulher Celeste como "uma pesquisadora notavelmente humana e disposta"

    (1981). Ver tambm o engraado pastiche dos inevitveis agradecimentos s esposas

    nos textos antropolgicos em GERTRUDE, "Postface a quelques prfaces", Cahiers

    d'tudes Africaines/65, XVII(1).

    25 - Esta tradio tem se mantido razoavelmente constante na histria da disciplina no

    pas. Ao falar sobre as "possibilidades de desenvolvimento autnomo do ensino e da

    pesquisa" em Etnologia no pas, Florestan Fernandes, escrevendo em 1956, comeava

    observando: "`A Etnologia se desenvolveu no Brasil, at o primeiro quartel do

    presente sculo, principalmente atravs das obras e das realizaes de investigadores

    estrangeiros''. (1975:119). Seu artigo , ele mesmo, um bom indicador de que as coisas

    no tinham mudado muito na dcada de 50. Alm do fato de que alguns pesquisadores

    estrangeiros publicaram aqui e em portugus seus primeiros estudos e de que alguns

    brasileiros publicaram seus primeiros em outras lnguas no deixa de ser irnico que o

    trabalho do alemo Curt Unkel tenha recebido o apoio do alemo Robert Lowie nos

    Estados Unidos: sua correspondncia, parte em alemo, parte em portugus e ingls

    expressa bem esta ironia. Ver Lowie (1959). Uma listagem muito preliminar dos

  • estrangeiros presentes no pais, nesses trinta anos, apresentada em anexo; E. Schaden

    (1980), Thekla Hartmann (1977) e Damy e Hartmann (1986); acrescentam muitos

    nomes lista.

    26 Em 1965, Maybury-Lewis descrevia Baldus, sem citar seu nome, como "a german

    professor of great personal charm who now holds a chair in Brazil". Darcy Ribeiro

    definia Baldus corno "poeta-cientista, teutnico, mulherengo, prussiano, romntico e

    anti-fascista. (em Galeo, 1978)

    27 Eduardo Galeo, que tambm trabalhara l, j havia sado no ano anterior, para o

    Museu Paraense, junto com outros pesquisadores do CBPE (como Klaas Woortmann,

    Roberto Las Casas e Carlos Moreira Neto) ou do Museu do ndio. Com exceo de um

    breve perodo em que coordenou o Instituto de Cincias Humanas em Braslia; Galeo

    passaria no Museu o restante de sua carreira Ele deve ter sido dos poucos, seno o

    nico, pesquisador brasileiro na rea das Cincias Sociais a ter a sua atividade

    profissional inteiramente financiada, desde ento, pelo CNPq. Sobre os cursos do CBPE

    e a relao entre Educao e Cincias Sociais; ver Corra (1986).

    28 Para os primeiros, ver as reminiscncias de Da Matta sobre seu tempo como

    estudante (1981); para os outros, ver os depoimentos de Cardoso de Oliveira, Florestan

    Fernandes, Maybury-Lewis.

    29 A ABA est realizando um cadastramento de seus scios, o que permitir

    estabelecer com mais preciso a origem institucional dos ttulos dos antroplogos

    brasileiros como um todo.

    30 - Talvez seja um exagero a afirmao de Margolis e Carter (1979) de que os ex-

    alunos de Wagley dominavam ento o campo de "estudos brasileiros", mas a lista dos

    que pesquisaram no Brasil e sua distribuio nas universidades dos Estados Unidos

    impressionante. Wagley presidiu a American Ethnological Society no final dos anos 50

    e a American Anthropological Association no incio dos 70. Maybury-Lewis criou e

    preside desde a dcada de 70 o Cultural Survival, secretariado por Pia, e um

    empreendimento internacional de apoio a grupos sociais que tm sua sobrevivncia

    ameaada no mundo contemporneo; com sede em Harvard.

    31 - At ento, o nico presidente da Associao vindo de So Paulo tinha sido H.

    Baldos (em 1961) que, como se sabe, nunca obteve lugar na USP. A reunio de 1980 foi

    tambm quase uma recriao da ABA: alteraram-se os estatutos, para permitir eleies

    diretas e a ampliao dos critrios para associar-se, incluindo estudantes de ps-

    graduao, e iniciou-se a criao de suas regionais, atualmente em nmero de trs. (So

    Paulo, Braslia e Nordeste).

    32 Ver a srie Avaliao. & Perspectivas publicada pelo CNPq desde o incio dos

    anos 70.

    33 - P. Rabinow prope o cosmopolitismo como sada para os impasses da interpretao

    e da autoridade dos autores: "Let us define cosmopolitanism as an ethos of macro-

    interdependencies, with an acute consciousness (often forced upon people) of the

    inescapabilities and particularities of places, characters, historical trajectories, and fates.

    Although we are all cosmopolitans, Homo sapiens has done rather poorly in interpreting

    this condition. We seem to have trouble with the balancing act, preferring to reify local

    identities or construct universal ones. We live in-between". (1986, p. 258)

  • Esse texto parte de um trabalho em andamento sobre a Histria da

    Antropologia no Brasil nesse perodo: tentei explicitar os trechos que remetem a outros

    textos, o que nem sempre consegui. Agradeo a todos os entrevistados do projeto o

    generoso emprstimo de fotos e o estmulo constante, aos pesquisadores da UNICAMP

    que vm trabalhando comigo desde 1984, equipe do projeto Histria das Cincias

    Sociais do IDESP a leitura crtica e o apoio da FAPESP, do CNPq e da FINEP.

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