mariza correa - os traficantes do excêntrico

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  • 8/13/2019 Mariza Correa - Os traficantes do excntrico

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    TRAFICANTES DO EXCNTRICOos antroplogos no Brasil dos anos 30 aos anos 60Mariza Corra"Perhaps the first thing that strikes the sociologist is that anthropologists are a tribe."(D. MacRae., 1974)"Plus gnralement, la photographie peut tre le prtexte une libration de l'imagination, ou le plus souvent une tentative de compensation pour ceux qui ne peuvent plus vivre que par le souvenir, et la tentation du bovarysme lorsqu'on ne peut accder au dpaysement en premire

    personne."(R. Castel, em Bourdieu, 1965)

    Talvez seja uma ironia adequada a esta disciplina que se quer uma cincia do outro que ela tenha criado, em quase toda parte, tradies antropolgicas nacionais fundadas por estrangeiros: Franz Boas nos Estados Unidos, CurtNimuendaju no Brasil, Bronislaw Malinowski na Inglaterra. Seja como for que estrangeiro definido, de certa maneira, integrantes dessa tribo, somos todos estrangeiros (o que no o mesmo que dizer, como Clifford Geertz, que"somos todos nativos"). Cada antroplogo que conta sua histria pessoal relembra como veio de um outro campo do saber, de uma outra regio de seu pas, ou de outro, ou como perdeu qualquer outra referncia inicial que possua.Conta, em suma, como um desenraizado, um ex-cntrico (1). Ironias de uma tribo que talvez se defina, afinal, por pretender no pertencer a nenhuma outra que no a antropolgica.

    No caso brasileiro, se acrescenta ainda a esta ambigidade, s vezes uma harmonia, s vezes um descompasso, entre como pensamos' e como nos pensam'. A trajetria brasileira da disciplina , mais do que costumamosregistrar explicitamente, parte tanto de seu percurso internacional, quanto do imaginrio dos antroplogos em geral: lembrando de novo o exemplo de Geertz, de Lvi-Strauss que ele est falando quando escreve "mito brasileiro" aoinvs de seu nome (1983, p. 150). E, assim como os antroplogos inventaram "tradies tribais" para povos entre os quais elas no faziam sentido (Cf. Ranger, 1984), costumam criar e re-criar as suas prprias: como diz Kuper, paratoda uma gerao, "a Antropologia Social nasceu em 1914 nas Ilhas Trobriand" (1978, p. 11).

    As tradies aqui inventadas, se no o foram apenas por estrangeiros, tiveram uma forte participao deles nessa inveno: se olharmos atentamente o mapa etnolgico de Curt Nimuendaju, quase poderemos ver as sombrasdos pesquisadores que as estudaram projetando-se sobre os contornos das comunidades indgenas por eles estudadas at a dcada de 40, projeo que nos ajudaria mais, entretanto, a entender a distribuio deles, pesquisadores, numterritrio disciplinar comum, do que a de seus objetos de interesse. Mas isto seria ainda apenas um esboo dos incios de uma disciplina que se apropria, talvez indevidamente, de uma histria que no exatamente, ou inteiramente, asua. Ainda que grosseiro, este esboo ou rascunho indicaria que boa parte do contedo que se manteve em vigncia no interior do que hoje chamamos de Antropologia, desde este incio mtico, o fez de certa forma incorporando asinformaes a contidas, como se fosse um precipitado delas. No sem interesse lembrar que o outro ramo mtico da disciplina, o dos estudos sobre negros, tem como heri fundador Raimundo Nina Rodrigues: desse cruzamentoentre nativos que se interessavam pelo estudo de estrangeiros (os "colonos negros" como os chamava o mdico maranhense) e estrangeiros que se interessavam pelos nativos, nasceu a tradio antropolgica no Brasil. Antes deavaliar a harmonia e o descompasso mencionados, de analisar o dilogo mantido pelos antroplogos entre si nesses anos todos, convm entender um pouco melhor como se distribuam no pas os integrantes dessa `tribo'.

    Algumas imagens podem ajudar a circunscrever os espaos e os personagens de uma histria difcil de recuperar no detalhe em todas as regies do pas: diferindo no singular, os antroplogos se reconheciam no plural emalguns momentos ou certas situaes que, certamente no por acaso, esto registrados nas (mesmas) fotografias que vrios deles exibiram no decorrer da pesquisa. Algumas dessas fotos vo ser lembradas aqui justamente porqueexpressam bem alguns daqueles momentos na histria da disciplina, de certa maneira concentrando instantes de uma realidade que s aos poucos pode ser recuperada por quem no a viveu. Os trs momentos so, eles mesmos,exemplares: nas dcadas de trinta e quarenta, com a chegada do cinema falado (como lembra Almir de Castro, 1977), entrou tambm no pas a modernidade da lngua inglesa belas cartas de amigos de Eduardo Galvo, dos EstadosUnidos durante a Segunda Guerra, sugerem o impacto do modo de vida norte-americano sobre os brasileiros, assim como o registram os cronistas da poca; na dcada de cinqenta, o esprito de desenvolvimento vigente no pas seexpressou tambm na institucionalizao ds cincias sociais e, na dcada seguinte, muitas das iniciativas dos anos anteriores amadureceram, no obstante os obstculos polticos conhecidos.

    Roberto Da Matta (1985) chamou a ateno recentemente para uma foto de 1939 num artigo to interessante pelo que diz quanto pelo que deixa de dizer. Nela aparecem, da esquerda para a direita, Claude Lvi-Strauss, RuthLandes, Charles Wagley, Helosa Alberto Torres, Lus Castro Faria, Raimundo Lopes e dison Carneiro (Foto 1). Tirada no Jardim da Princesa (2), no Museu Nacional, a foto parece emblemtica pela `troca de guarda' que sinalizatanto quanto pela posio ocupada pelos retratados, enfatizada por Matta e levemente alterada em outra (Foto 2).

    Lvi-Strauss, e com ele muitos outros integrantes das vrias misses francesas que para c vieram na poca, estava deixando o Brasil, logo aps uma viagem de pesquisa que teria importncia marcante no seu trabalho e doqual participaram dois outros antroplogos, um deles presente na foto (Castro Faria) (3). Ao voltar por escrito, com o sucesso do estruturalismo na dcada de 60, teria passado por outra influncia decisiva no seu pensamento, em suaestada nos Estados Unidos durante e logo aps a Segunda Guerra, influncia que, a partir da, seria notvel tambm no Brasil (4). Os dois outros estrangeiros fixados pela cmera brasileira, Ruth Landes e Charles Wagley, vindos deColumbia, aparentemente atendiam a um apelo feito por dona Helosa a Boas (Wagley, 1977) , no sentido de enviar pesquisadores treinados ao pas: no eram os primeiros antroplogos norte-americanos a chegar e no seriam osltimos, mas foi nessa poca que a sua vinda se intensificou.

    A presena de ambos e a do professor Donald Pierson, vindo da Universidade de Chicago, que comeou a trabalhar no ensino e na pesquisa em So Paulo no mesmo ano indica uma mudana de orientao metodolgicae terica que seria decisiva para os caminhos das cincias . sociais no pas, e para a antropologia em particular, at meados da dcada de 60. Inicialmente, e em termos institucionais, Columbia e Chicago deteriam esta influncia, smais tarde compartilhada por Harvard e, depois, multiplicada.

    Convm lembrar tambm origem regional dos brasileiros fotografados: ladeando dona Helosa e Castro Faria, ela carioca, ele fluminense, esto o baiano dison Carneiro ( 1912- 1972), principal guia de Ruth Landes nas suaspesquisas em Salvador e o maranhense Raimundo Lopes ( 1894-1941). Ambosevocam, com sua presena, a de outros maranhenses e baianos sempre lembrados quando se fala nas origens da disciplina no pas (5). Segundo Matta, afoto de maro de 1939 e poderamos conjeturar sobre os desencontros que impediram que outros pesquisadores estrangeiros, presentes no pas, figurassem nela. Alfred Mtraux ( 1902- 1963) , suo criado na Argentina, aluno deMauss e Rivet, com um doutorado sobre os Tupi-Guarani e, at sua morte, representando a Unesco na Amrica Latina, viera desde Nova York no mesmo navio que trouxe Wagley e, em fevereiro, encontrou-se no Museu com donaHelosa, Veliard e Raimundo Lopes. Wagley, que se demorou um pouco mais no Rio, estudando o portugus e levantando fontes para a sua pesquisa com os Tapirap na biblioteca do Museu, menciona ainda, alm de Landes,William Lipkind, tambm de Columbia, e Buell Quain, que o acompanhou uma tarde ao Museu: os dois tinham chegado um pouco antes ao Brasil, tambm para estudar nossos ndios. Landes chegara no ano anterior e, porrecomendao de Pierson, fora apresentada por Arthur Ramos a "amigos no Rio" (Acervo: correspondncia D. Pierson-Arthur Ramos). Dina Lvi-Strauss, primeira esposa do etnlogo, tendo adoecido durante a expedio ao BrasilCentral, voltara um pouco antes para a Frana.

    Esses encontros e desencontros de antroplogos de regies e nacionalidades distintas, evocados pela foto de uma reunio certamente nada fortuita no Museu Nacional de onde dona Helosa; "usando seu grande prestgio evasto crculo de amigos", guiava os visitantes pela "intrincada burocracia que exigia o registro de estrangeiros, a permisso para realizar uma expedio cientfica e vrios documentos oficiais" (Wagley, 1977) (6) sugere umdinamismo ,d disciplina naquela poca que desmente a imagem fixa desses personagens num antigo negativo. No s podemos v-los mover-se no contexto brasileiro como reaprendemos, acompanhando este movimento, aimportncia dos laos internacionais para a nossa antropologia, e o alcance nacional dela. Visto da tica dos viajantes e pesquisadores de outros pases que o freqentavam h muito tempo, o pas parecia quase sem fronteirasinternamente, como um imenso cenrio nico para suas expedies e mesmo seus limites externos eram tnues para quem, como era muitas vezes o caso, acompanhava grupos indgenas em seus prolongamentos dentro e fora do pas

    geopolitico (7). Os contatos que eles estabeleciam, a partir de seu conhecimento da realidade americana, tambm os ajudaram a formar uma rede social importante tanto para a antropologia internacional quanto para a disciplina nopas: a rela o entre Mtraux e Lvi-Strauss apenas um dos exemplos possveis disso.

    O isolamento regional, retrospectivamente enfatizado hoje por muitos antroplogos que viveram a dcada de 30 e 40 fora do eixo Rio-So Paulo parece ser tambm sublinhado por comparao acelerao das comunicaesna poca contempornea na prtica, ele nunca impediu a sua circulao e encontros como o registrado na foto do Museu. Mesmo os nativos cruzavam facilmente nossas fronteiras. Homens do Norte e do Nordeste ocuparam cargosno centro do cenrio institucional que nos interessa, o da antropologia, como Gilberto Freyre e Arthur Ramos, entre tantos mas s na dcada seguinte algumas poucas mulheres antroplogas foram para a capital do pas ainda

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    que o inverso fosse menos comum. Nesse momento era bem maior tambm o nmero de estrangeiros que chegavam do que de brasileiros que saam do pas enquanto antroplogos.Na Universidade do Distrito Federal, Gilberto Freyre ocupou a cadeira de Antropologia Social e Cultural, alm da de Sociologia, entre 1935 e 1936, ficando Arthur Ramos com a de Psicologia Social: Ramos assumiu depois a

    cadeira de Antropologia Fsica e Cultural na Faculdade Nacional de Filosofia que reiniciava as atividades interrompidas, justamente nesse ano de 1939, da Faculdade de Cincias da Universidade do Distrito Federal com a criao daUniversidade do Brasil. Com exceo de ambos, de dison Carneiro, de Roquette-Pinto e da prpria, dona Heloisa, todos os integrantes da comunidade antropolgica nacional nas trs dcadas seguintes eram, ento, estudantes (8).Em So Paulo, estudantes de Donald Pierson, Emlio Willems e Herbert Baldus, todos estrangeiros, na Escola de Sociologia e Poltica (fundada em 1933), ou dos professores franceses na Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras daUniversidade de So Paulo (fundada em 1934), onde tambm lecionava Willems e onde Roger Bastide (1898-1974) foi a influncia estrangeira mais duradoura, tendo permanecido l por dezesseis anos (Pereira de Queiroz, 1983).Herbert Baldos, desde este ano de 1939 catedrtico de Etnologia brasileira na Escola de Sociologia e Poltica, cargo que ocupou at morrer, foi, de certa forma, o contraponto indgena do africanista Bastide.

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    Arthur Ramos morreria na dcada seguinte e o fotografado dison Carneiro nunca teve um posto acadmico, apesar (ou talvez por causa) de sua luta poltica pelos direitos dos negros e das associaes religiosas de origemafricana em Salvador. Roquette-Pinto, embora tenha presidido a comisso organizadora da Primeira Reunio Brasileira de Antropologia, j falecera quando da organizao da Segunda em que a Associao foi fundada. Os nomes

    mais conhecidos na antropologia no pas desde ento estavam ainda em incio de carreira: Castro Faria, a poca da foto, era naturalista voluntrio no Museu Nacional, para onde entrou por concurso em 1944, dois anos depois do deEduardo Galvo (1921-1976), tambm `voluntrio' no final de 1939 e que estreou como antroplogo do mesmo modo que seu colega, numa expedio dirigida por Charles Wagley no ano seguinte. Darcy Ribeiro, que menciona a simesmo como um dos trs antroplogos da segunda gerao da "famlia dos etnlogos brasileiros" (em Galvo, 1978), em 1939 ainda no tinha sado de Minas Gerais, de onde foi, pelas mos de Donald Pierson, para a Escola deSociologia e Poltica de So Paulo. Egon Schaden, recm-licenciado na Faculdade de Filosofia, ex-aluno de Lvi-Strauss, fundava com seu pai, Francisco Schaden, a revista Pindorama, onde publicou, no ano anterior, seu primeiroartigo etnolgico, em alemo, lngua em que era editada a revista. Lvi-Strauss publicara, dois anos antes, o seu primeiro artigo etnolgico, em portugus, na Revista do Arquivo Municipal . Futuros presidentes da ABA (AssociaoBrasileira de Antropologia) como Thales de Azevedo, na Bahia, e Ren Ribeiro, em Pernambuco, ainda publicavam apenas artigos mdicos nessa poca; Manuel Digues Jr. comeava a se interessar pela antropologia atravs de umcurso de Gilberto Freyre na Faculdade de Direito do Recife e, no sul do pas; Loureiro Fernandes, (1903-1977) tambm se dedicava, com sucesso, a sua clnica mdica. O quadro certamente esquemtico, mas d uma idia doscomponentes da tribo antropolgica para o ano de 1939.

    Neste final da dcada de 30,era freqente tambm o cruzamento das fronteiras institucionais: Mrio Wagner Vieira da Cunha, formado na Faculdade de Filosofia, fez seu doutorado em Chicago, estimulado por Donald Pierson,e depois trabalhou com ele na Escola de Sociologia e Poltica; Florestan Fernandes, tambm vindo da Faculdade, fez seu mestrado na Escola, com Baldus, defendendo o doutorado na Faculdade de Filosofia; Gioconda Mussolini, umados trs primeiros mestres da Escola, foi trabalhar na Faculdade e assim por diante. Como os exemplos sugerem, as fronteiras disciplinares eram facilmente atravessadas. A distino entre antropologia e sociologia era bem menosmarcada do que parece s-lo atualmente; ver, por exemplo, a lista dos integrantes da Sociedade de Sociologia e a dos da Sociedade de Etnografia e Folclore: como sugere Llia Soares (1983), havia uma sobreposio de ambas. Arede social dos intelectuais parecia cruzar-se em muitas direes, em cada regio ? a dos cientistas sociais, inovao recente, em muitas mais e j num sentido nacional.

    A instituio acadmica no era, tambm, o nico ponto de cruzamento das biografias de estudantes e professores naquele momento: um dos professores da Escola de Sociologia, por exemplo, Sergio Milliet, trabalhavatambm no Departamento Municipal de Cultura, dirigido por Mario de Andrade, e foi quem ofereceu espao do Departamento, num prdio ao lado do Mercado Municipal, para ser ocupado por Pierson e seus jovens assistentes de

    pesquisa (Nogueira, Depoimento). Outra iniciativa do Departamento foi a cria o, por Mrio de Andrade, de um curso, dado por Dina Lvi- Strauss, com a durao de um ano, sobre folclore, de onde se teria originado a Sociedade de

    Etnografia e Folclore, que encerrou suas atividades no ano de 1939, dois anos depois de ter-se iniciado. Do curso resultou tambm a publicao de um manual, Instrues Prticas para Pesquisas de Antropologia Fsica e Cultural,primeiro do tipo a ser publicado em portugus, pelo Departamento, em 1936 (9). Sobre a Sociedade, diz Mario Wagner Vieira da Cunha:"Constitumos um pequeno grupo que queria, antes de tudo, voltar-se para o trabalho de campo. Nesse perodo, organizou-se com Mario de Andrade o Departamento de Cultura, dando o apoio material necessrio ao que sechamou, primeiro, Clube de Etnografia. Era chamado Clube justamente para ficar bem claro que no tinha nada do convencionalismo de sociedade. Acabamos caindo nas amarras do convencionalismo e transformamos aquilo numasociedade mesmo. Mas nunca teve mais vida do que nas reunies que se faziam, s segundas-feiras, na Escola de Comrcio lvares Penteado, no sto, onde havia mesmo um museu de etnografia, organizado desde logo pela Diva

    Lvi-Strauss, onde ela tinha reunido muitos cacos de cermica, muita palha" (Citado em Soares, 1983).Quase em seguida, em 1941, Arthur Ramos criou no Rio de Janeiro a Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia, da qual se tem escassa notcia: deveria estar ainda em funcionamento no final da dcada, pois em 1947

    Ramos apresenta o livro de Nunes Pereira (1979) como o primeiro volume das publicaes da Sociedade e em 1948, segundo Florestan Fernandes (1975, p. 167), saiu o livro do padre Albisetti sobre os Bororo, tambm sob suachancela. Em 1984, Nunes Pereira lembrava apenas de outra publicao dela, um livro de Luisa Gallet, companheira de Ramos. Arthur Ramos convidou Donald Pierson a fazer uma palestra para seus alunos no Rio, logo aps a suachegada ao Brasil manteve com ele uma correspondncia regular at morrer. Sua assistente e sucessora, Marina So Paulo Vasconcelos, seria, juntamente com dona Helosa, eleita para a primeira diretoria da ABA, como integrantede seu Conselho Cientfico.

    O outro antroplogo carioca reconhecido na poca e autor de um antigo Guia de Antropologia (1915), Edgard Roquette-Pinto, que fora diretor do Museu Nacional antes de dona Helosa (de 1926 a 1935), tambm mantinharelaes com os intelectuais paulistas: Mrio de Andrade recomendava o uso de sua "maquininha" em 1938, para expedies etnogrficas, e Fernando de Azevedo escreveu um sentida necrolgico, em que lembrava os passeios deambos no "pequeno e velho Ford" de Roquette, a procura de um lugar para o Instituto de Educao (10). Mas, nessa poca, ele estava j interessado e muito envolvido com o projeto do Instituto nacional de Cinema Educativo queorganizou em 1937 e do qual foi o primeiro diretor.

    Fora do eixo central do pas, em regies onde as Faculdades de Filosofia se instalariam mais tarde, seguindo aqueles modelos, e dependendo da regio, a concentrao daqueles que seriam depois definidos ou reconhecidoscomo antroplogos estava em torno de um museu (caso do Museu Paraense Emilio Goeldi, por exemplo, de tradio antiga), de um personagem (como Gilberto Freyre, j nessa poca personagem nacional em Pernambuco), ou de ummovimento (o da defesa do folclore, de Cmara Cascudo, em Natal, ou os Congressos Afro-Brasileiros, no Recife, em 1934, organizado por Gilberto Freyre, e na Bahia, em 1937, organizado por dison Carneiro). Que essasinstituies, pessoas ou grupos eram os pontos de referncia de uma territrio antropolgico implicitamente reconhecido so testemunhos os depoimentos daqueles que vinham de fora dele, como os antroplogos estrangeiros, ou osantroplogos nativos em sua circulao interna: esses pontos, mencionados por todos, vo assim desenhando o perfil de um grupo que se reconhecia, ainda que no se definisse explicitamente como tal, nos anos trinta e quarenta.

    Essa explicitao se faria na dcada de cinqenta, com a fundao da Associao Brasileira de Antropologia, durante a Segunda Reunio Brasileira de Antropologia., em Salvador, em 1955 (11). Diz a apresentao de seusAnais:

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    Em dois aspectos diferiu nitidamentea primeira da segunda Reunio. Enquanto aquela forainiciativa do Museu Nacional e se realizara sob o patrocnio do Ministrio de Educao e Cultura por intermdio da Reitoria daUniversidade do Brasil, a ltima j foi uma iniciativa dos prprios antropologistas ali reunidos, marcando a tendncia constituio de um rgo profissional que no se organizou formalmente na ocasio devido a dificuldade deencontrar uma frmula satisfatria, mas que veio a constituir-se na reunio da Bahia. (...)"Apesar de funcionar, em parte, com o carter de congresso, a Reunio no se perdeu em formalismos ou convencionalidades que, tantas vezes, afetam as assemblias cientficas; teve, antes, o cunho de um seminrio, de uma trocainformal de experincias e conhecimentos, de um esforo de colaborao, entre os participantes, para o progresso dos estudos antropolgicos e para a criao de uma conscincia profissional entre os antropologistas brasileiros"(Anais, 1957, nfase adicional).

    Estavam na reunio "47 antropologistas e estudantes", alguns presentes na foto de uma das sesses (Foto 3). Na primeira fila, da esquerda para a direita, estavam Thales de Azevedo, Camilo Cecchi, Froes da Fonseca, CastroFaria e Darcy Ribeiro; na segunda, Herbert Baldus, Charles Wagley, Carlos Eduardo da Rocha e Consuelo Pond; na terceira, Harry Hutchinson, Carmelita Junqueira Alves Hutchinson, Josildeth da Silva Gomes (Consorte) e EgonSchden. Nessa foto meio apagada, o professor Thales de Azevedo reconheceu ainda Maria Thetis Nunes e Lygia Estevo "de Oliveira (12). O grupo se ampliara desde 1939, mas s a partir da Terceira Reunio (1958), seusintegrantes passariam a se definir como antroplogos, ao invs de antropologistas, um indicador, na linguagem, da influncia norte-americana na disciplina.

    Alm das instituies existentes no perodo anterior - o Museu Nacional, o Museu Paulista, o Museu Paraense, a Faculdade de Filosofia e a Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo, outras estavam presentes na lista dasque enviaram representantes a Reunio: o Museu do ndio, criado em 1953; o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, oficialmente criado em dezembro de 1955, e representado por Wagley, B. Hutchinson e Josildeth Gomes; oInstituto Joaquim Nabuco de Cincias Sociais, criado em 1949, representado por Ren Ribeiro; a Faculdade de Filosofia da Bahia, criada em 1943, entre outras. Basicamente, as ampliaes se fizeram seguindo o pontilhado esboado

    pelos ncleos regionais ou institucionais presentes antes, com duas inovaes importantes que sero, por isso, tratadas em outro texto: a forte ligao das Cincias Sociais com a Educao, atravs dos centros de pesquisaseducacionais do Instituto Nacional de Estudos Pedaggicos, rgo do Ministrio da Educao, e da influncia de Ansio Teixeira e Darcy Ribeiro, e a participao de antroplogos brasileiros e estrangeiros em projetos de longoalcance. Isto , os grandes museus tradicionais continuaram abrigando o trabalho de antroplogos e, em alguns casos, com Baldus no Museu Paulista desde 1949 e Galvo no Museu Paraense a partir de 1955, ampliaram suas seesde Antropologia; as faculdades de filosofia continuaram a seguir o parmetro estabelecido pela USP e depois pela Nacional de Filosofia (13), at que o novo padro, configurado com a criao da Universidade de Braslia, comeassea ter vigncia na dcada de 70 e a influncia terica e metodolgica mais importante continuou a ser a da Antropologia norte-americana, quase hegemnica at o final da dcada de 60.

    Se a organizao da Segunda Reunio distribuda em sesses sobre Arqueologia, Antropologia Fsica, Lingstica, Antropologia Cultural, Aculturao e Ensino da Antropologia mostra como os antroplogos definiam adisciplina naquele momento, o ndice dos trabalhos apresentados constitui um pequeno lxico dos interesses e orientaes dos pesquisadores. Os estudos de "Etnologia Indgena", alm de uma sesso, mereceram duas conferncias,uma feita por H. Baldus, a outra por Darcy Ribeiro; as outras duas conferncias trataram de "Cultura e Personalidade" (Ren Ribeiro) e de "Aculturao" (Egon Schaden). Os termos mais freqentes, a denotar os temas e/ouorientao da Antropologia em geral, na poca, eram aculturao e comunidade, mas havia lugar tambm para contato inter-racial, possesso, messianismo e imigrao, indicativos, todos, do que.foi publicado pelos antroplogos nadcada de 50.

    Se a foto de 1939 sugere que os temas dominantes na disciplina eram ento os estudos indgenas (Wagley e Lvi-Strauss) e as questes raciais (Landes e Carneiro), a de 1955 indica, que esses temas permanecem, com umantida preeminncia agora dos primeiros (H. Baldus, Darcy Ribeiro, Egon Schaden) e um deslizamento sutil dos estudos de relaes raciais, que estavam passando do terreno dos mdicos antroplogos para o dos socilogos esaindo do mbito do nordeste inflexo cuidadosamente anotada por Gilberto Freyre (1943), e que comear, a ser apresentados de maneira mais

    reiterada os estudos de comunidades rurais ou tribais. A Antropologia Fsica, ainda presente, tender a atenuar cada vez mais sua participao nessas reunies enquanto que o ensino da Antropologia, j problematizado (Schaden,1954; Durham e Cardoso, 1961), reaparecer com razovel freqncia desde ento nos debates da associao.

    Uma avaliao geral, ainda que sumria, sobre essas reunies, mostra que aquela definio e a configurao temtica, apesar da mudana de terminologia e de nfase, tm se mantido constantes desde a fundao da ABA.. Seisde seus doze presidentes so, ou eram a poca da eleio, especialistas em assuntos indgenas e todos os outros mantiveram o tema em primeiro plano em suas gestes (14).

    Quanto a circulao de antroplogos nacionais e estrangeiros pelo pas, ela continuou a ocorrer, agora com maior freqncia. No ano anterior criao da ABA, por ocasio do IV Centenrio de fundao da cidade de So

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    Paulo, pelo menos dois encontros importantes permitiram a reunio de vrios dos personagens dessas fotos, e outros que nelas no aparecem: o I Congresso de Sociologia, em junho, e o XXXI Congresso Internacional deAmericanistas, em agosto. Como que rememorando as relaes estreitas entre socilogos e antroplogos desde a dcada de trinta, Fernando de Azevedo, presidente do Congresso e tambm da Sociedade Brasileira de Sociologia,citava vrias vezes a ambos como seus interlocutores preferenciais na sua "orao inaugural": deveriam estar a ouvi-lo, pelo menos, Egon Schaden, Herbert Baldus (ambos do Conselho Fiscal da Sociedade), Castro Faria, Helosa A..Torres, Eduardo Galvo e dison Carneiro, a julgar pelos registros da poca (15), mas apenas dois dos oradores da reunio da Bahia apresentaram trabalhos no congresso, Egon Schaden e Maria Isaura Pereira de Queiroz. FernandoHenrique Cardoso, Octavio Ianni e Renato Jardim Moreira, que no se apresentaram neste Congresso, no entanto enviaram reunio de Salvador comunicaes sobre suas pesquisas a respeito das relaes raciais no sul do Brasil.

    J no Congresso dos Americanistas, estiveram presentes quase todos os que participaram da fundao da ABA e muitos dos que estavam apenas no congresso de Sociologia. Florestan Fernandes e Charles Wagley, presidente evice-presidente do encontro, organizaram um "Simposium Etno-Sociolgico sobre Comunidades no Brasil" confirmando a importncia do tema para socilogos e antroplogos, entre os 18 grupos de trabalho, apenas este e o sobrearqueologia sul-americana tiveram duas reunies. S foram superados pelo grupo sobre Etnologia Brasileira que, sempre presidido por estrangeiros, se reuniu trs vezes. Os "estudos afro-americanos" mereceram uma sesso. J estava

    presente ao congresso David Maybury- Lewis numa das sesses (chamado de David Maybury) que, graas ao conhecimento com Baldus no congresso anterior, em 1952 na Inglaterra, decidira pesquisar no pas.Isto indica que tambm neste momento as fronteiras institucionais e disciplinares (com mais nfase no caso da Sociologia, mas incluindo a Lingstica e a Arqueologia) eram ainda facilmente atravessadas. Darcy Ribeiro, no

    Rio desde 1947, foi responsvel pela ida de muitos paulistas para l, ex-colegas de seu tempo de estudante em So Paulo, como pesquisadores e/ou professores dos cursos de aperfeioamento e treinamento que, desde 1955,promoveu, primeiro no Museu do ndio e depois no CBPE e que, de certa forma, tiveram continuidade nos cursos oferecidos no Museu Nacional desde 1960 (Castro Faria, 1957; Cardoso de Oliveira, 1962). Esses cursos foramassistidos por muitos jovens pesquisadores de outros estados (da Bahia, do Paran, de Minas Gerais) onde o ensino da Antropologia se dava apenas na graduao das faculdades de Filosofia (em cadeiras ocupadas muitas vezes porum velho mdico que, no obstante conseguia interessar os estudantes, vagamente, na Antropologia, como relembra Roque Laraia de sua experincia em Minas), e vrios desses estudantes so hoje professores nas universidades

    brasileiras. No s a formao profissional no estava ainda associada definitivamente universidade, como o financiamento de pe squisas se fazia, com mais freqncia, fora dela, como foi o caso dos centros regionais de pesquisaseducacionais e dos projetos financiados por agncias internacionais, acoplados ou no a agncias nacionais, no necessariamente ligadas rea acadmica: a CAPES ofereceu bolsas aos estudantes dos cursos mencionados, no Rio,assim como financiava, indiretamente, atravs do CBPE, pesquisas em So Paulo, e o ento Conselho Nacional de Pesquisas patrocinou alguns estudos e pesquisadores ? mas a atual Fundao SESP (Servios Especiais de SadePblica), na dcada de 40 e a Companhia do Vale do So Francisco, na dcada de 50, por exemplo, tambm financiaram projetos de pesquisa (16).

    Isto no significa que o treinamento universitrio no tenha sido importante para a maioria desses pesquisadores/professores mas sim que, sendo ainda restrita a formao especializada na dcada de cinqenta (neste momento,e apenas desde 1947,s a USP oferecia o ttulo de mestre e doutor em Antropologia, Sociologia e Cincia Poltica; a Escola de Sociologia e Poltica e a Universidade do Brasil ofereciam o ttulo de mestre e doutor em CinciasSociais), aqueles que a obtinham faziam o papel de multiplicadores desse conhecimento no pas, sendo ou no nativos dele, e no apenas nas instituies acadmicas. Nesta dcada, Charles Wagley teve, na Bahia e no Rio, um papelequivalente ao de Donald Pierson na dcada anterior em So Paulo. Formado em Chicago, Pierson ainda representava a confluncia da Sociologia e da Antropologia e foi estimulador do desenvolvimento de ambas as disciplinas;Wagley, decididamente um antroplogo, ou antropologista, como dizia, ao chegar, trouxe a influncia de Columbia e de Sinton para as pesquisas feitas na Bahia e no Rio, no mbito dos projetos Bahia-Columbia(Azevedo, 1964; Wagley,1970)e da colaborao com o CBPE, alm de sua mais conhecida contribuio aos estudos sobre a Amaznia (ver, por exemplo, Margolis & Carter, 1979).

    Sendo tambm um grupo reduzido este que atendi pelo nome de cientistas sociais, muitos deles estavam presentes nas vrias instituies concomitantemente ou sucessivamente criadas para desenvolver essas pesquisas. Entreos antroplogos, Darcy Ribeiro o exemplo mais flagrante nesse momento, por sua mltipla atuao, docente (na Escola de Administrao Pblica da Fundao Getlio Vargas, na Faculdade Nacional de Filosofia, no Museu dondio, no CBPE onde, intermitentemente deu cursos de "Etnografia Brasileira" e de "Antropologia Cultural"), administrao (no Servio de Proteo aos ndios, no CBPE, no Instituto de Cincias Sociais) e de pesquisa. Estamultiplicidade, no entanto, ainda que em menor escala, foi assumida por quase todos os personagens centrais das comunidades antropolgicas, a nvel nacional e estadual, na dcada de 50.

    O investimento desses multiplicadores na formao de pesquisadores para as Cincias Sociais nem sempre foi bem-sucedido no sentido de torn-los profissionais de umadisciplina: no Rio de Janeiro, entre os doze alunoscitados por Darcy Ribeiro como "orientandos com pesquisa de campo" na dcada de 50, s um ocupa hoje a posio de professor de Antropologia numa universidade (17) os outros tendo se tornado professores de Sociologia,administradores, diplomatas, burocratas.. Em So Paulo, na Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras, seis ttulos de mestrado e doutorado (18) foram obtidos at o final da dcada na rea das Cincias Sociais e nenhum em

    Antropologia.A situao se alteraria um pouco nos anos seguintes, mas o grande crescimento do nmero de profissionais titulados se daria no final dos anos sessenta e incio dos setenta. Este descompasso entre a atuao prtica dos

    antroplogos como docentes, pesquisadores, orientadores de pesquisa de campo e administradores, e a sua titulao quase impensvel trinta anos depois sugere que os parmetros universitrios s passaram a ser decisivos paraa profisso com a quase recriao da universidade que representou a reforma instituidora dos cursos de ps-graduao num novo formato, em 1968. A transio perfeitamente legvel tambm nos nomes eleitos para a diretoria e oconselho cientfico da ABA, a partir da dcada de 70 ainda que, ao invs de uma ruptura tenha havido uma confluncia entre os representantes de um e outro momento expressa tambm pela permanncia, naquelas posies, athoje, daquele que dirigiu a I Reunio Brasileira de Antropologia.

    A.dcada se encerra com uma nota triste, que ainda, assim mesmo, um eco das relaes estreitas entre a Antropologia, e a Sociologia: a Sociedade Brasileira de Sociologia e o Museu Paulista, representados por H. Baldus, F.de Azevedo, F. Altenfelder Silva, Antonio Candido, E. Schaden, D. Moreira Leite, Aziz Simo, F. H. Cardoso, O. Ianni e Renato Jardim Moreira, recebiam, em abril de 1958, os despojos do pai mitolgico da Antropologia, exumados

    por Harald Schultz na Amaznia (Revista do Museu Paulista, N. S. XI, 1959). Seu nome, no entanto, seria ainda ressuscitado muitas vezes para legitimar posies opostas no campo da Antropologia, ou para indicar umainsubordinao em relao a posies vigentes, fossem quais fossem como o exemplifica a votao que recebeu para o Conselho da ABA em 1984 (19). A frase que parece melhor retratar Nimuendaju est numa carta enviada pordona Helosa a Eduardo Galvo, ento no campo, acompanhando os pesquisadores James e Virgnia Watson, mencionando o curso que ele estava dando trs vezes por semana no Museu: "Ele recomenda muito que vocs deixem todainiciativa sobre decises de negcios indgenas aos prprios ndios" (Acervo: HAT a EG, 7.10.1943). Posio difcil de manter nas dcadas seguintes, ela servir no obstante como forte ponto de referncia para os etnlogos

    brasileiros.O terceiro momento dessa histria de trinta anos poderia ser expresso de vrias maneiras h, por exemplo, duas fotos escolhidas por Carlos Guilherme Mota (1977) para retratar, entre outras, as vicissitudes da cultura

    brasileira nos anos 60, e que nos dizem respeito diretamente: a foto de Darcy Ribeiro abraado a sua me, deixando o pas, e a do prdio da Faculdade de Filosofia da USP em chama s. A que est aqui representa, entretanto, cercostraos ausentes ou diludos, nas fotos anteriores, e tambm uma certa continuidade entre os trs momentos, mais do que rupturas. certo que, ao deixar o pas, Darcy Ribeiro rompeu com uma cadeia de acontecimentos nos quais a

    sua figura teve importncia central, mas nem tudo o que fora construdo desmoronou com a sada das lideranas carismticas. Ao queimar, a Maria Antonia (como era conhecido o corao da universidade e bem de acordo com aconcepo de seus fundadores) deixou um ressaibo amargo em muitos dos personagens centrais da dcada anterior na histria das Cincias Sociais. Florestan Fernandes, dos ltimos a sair do prdio, parecia pressentir em sua tristezao que aquela queima simbolizava (20). Ela sinalizou tambm uma aproximao talvez difcil antes, de integrantes de uma gerao cujo empenho nas lutas pela transformao educacional do pas no pode ser exagerada: alguns anosdepois, Florestan Fernandes evocava o esprito de certas frases de Darcy Ribeiro, ditas alguns anos antes (21). A amargura verbal, e tantas vezes por escrito, que ambos expressaram, ao voltarem cena intelectual, sugere que elesenfatizavam, como as fotos mencionadas antes, mais as rupturas do que as continuidades entre as dcadas de 60 e 70.

    Se uma parte da estrutura educacional montada pelos responsveis por ela desde o incio dos anos 50 ficou em p e certas propostas foram lentamente digeridas pelos novos empresrios da educao, tambm muitas iniciativastomadas antes, ao amadureceram no final dos anos 60, foram ironicamente assimiladas a uma nova ordem quando eram expresso de uma mais antiga (22). Menos do que pela continuidade institucional, no entanto, o trao pelo qualse distingue a constituio da Antropologia como disciplina no perodo, definido por caractersticas, por assim dizer externas (metodologia, abordagem terica), tanto quanto pelo seu contedo. Isto , a partir da dcada de 30, cadavez que um novo impulso terico ou metodolgico foi dado Antropologia, ele se expressou em pesquisas, depois tornadas exemplares tambm para outras reas, cujo objeto so as sociedades indgenas (23). Tambm por isso, a fotoescolhida para expressar um terceiro momento dessa constituio de Biorn, filho do antroplogo ingls David Maybury-Lewis, junto a um Xavante no Brasil Central, em 1958 (Foto 4).

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    Ela bem poderia ser a ilustrao do livro em que aparece ( O Selvagem e o Inocente ), apesar da legenda irnica ("ameaando a cmera", quando talvez esta que ameaasse o ndio em segundo plano), no fosse o empenho de

    Maybury-Lewis ao longo do texto em desmontar cuidadosamente qualquer resduo das noes romnticas sobre quem selvagem e quem inocente nesta histria toda das relaes entre ndios e pesquisadores. Maybury-Lewispublicou suas impresses da viagem a o Brasil em 1965, antes de editar a monografia mais tradicional sobre o grupo que estudou (1967). O primeiro sinal de continuidade que a foto estabelece com a nossa histria banal: h muitotempo viajantes estrangeiros registram suas impresses de nossa terra e nossa gente (ainda que poucos com tanto gusto literrio); os outros tinham sido at agora tocados s, de passagem. A personagem central do livro, mais do que oetngrafo, Pia, sua mulher, e so suas reaes e sua atuao ? numa situao quase inverossmil vista de hoje (ou talvez nem tanto, conforme o relato de outros antroplogos que nunca registraram por escrito suas experincias) oque primeiro nos chama a ateno. Alguma coisa j tem sido escrita sobre a importncia das esposas dos etngrafos em situao de pesquisa, mas este relato, antes que tal citao entrasse na moda, de certa maneira lana luz sobreuma participao que parece ter sido mais constante do que ns acostumamos a registrar (24).

    Se, com o trabalho que ento iniciava, Maybury-Lewis comeava a romper com uma tradio de anlise das sociedades J que vinha desde Nimuendaju (Da Matta, 1981), ao mesmo tempo continuava outra que, desde ostrabalhos dos naturalistas alemes, passando pelos franceses e chegando at os norte-americanos numa linha quase contnua antes de se multiplicar depois dos anos 70, assinala a importncia do trabalho orientado, em pessoa ou distncia, por pesquisadores estrangeiros no nosso pas, particularmente com relao s sociedades tribais (25). Sua colaborao com o Museu Nacional, quando j estava trabalhando em Harvard, e particularmente com RobertoCardoso de Oliveira e seus estudantes, atravs do projeto Harvard-Brasil Central, de certa forma o equivalente, na dcada de 60, da relao estabelecida na dcada, anterior entre Columbia e a Universidade da Bahia, atravs deCharles Wagley e Thales de Azevedo. Este tipo de colaborao que, no caso do Museu, e em carter mais informal vinha sendo posto em prtica h mais tempo por dona Helosa e, conforme Castro Faria (1977), j antes dela, porRoquette-Pinto, parece ter sido especialmente bem-sucedido, em termos da formao profissional de antroplogos brasileiros, por ter coincidido com a reformulao legal dos programas de ps-graduao no pas e sua instituio noMuseu Nacional. Como Gerholm e Hannerz (1982) observam para a cena internacional, tal colaborao ainda se expressava num nmero maior de estrangeiros vindo para ensinar, ou pesquisar, e de brasileiros saindo para estudar,mas foi a partir da que a situao, se no se inverteu, comeou a mudar, com a participao, cada vez mais freqente, de antroplogos brasileiros em seminrios internacionais e, em alguns casos, como professores visitantes deuniversidades em outros pases. Isto , desde meados da dcada de 70, a Antropologia brasileira tem sido considerada como um interlocutor no plano internacional

    A ligao de Maybury-Lewis com o Brasil comeara cinco anos antes daquela foto ser tirada, quando ele chegou a So Paulo para dar aulas de ingls e estudar, durante dois anos, com H. Baldus, na Escola de Sociologia ePoltica (26). Justamente naquele ano, Roberto Cardoso de Oliveira, que estudara na USP, estava saindo de So Paulo, a convite de Darcy Ribeiro, que tambm havia sido aluno de Baldus, para trabalhar no Museu do ndio no Rio deJaneiro iniciativa de Darcy no mbito do ento Servio de Proteo aos ndios: ambos sairiam de l em 1956, para o CBPE (27). Cardoso de Oliveira, a partir de 1960 e at incios dos anos 70, quando transferiu-se para Braslia,ficou no Museu Nacional; Darcy Ribeiro deixaria a Diviso de Estudos e Pesquisas Sociais do Centro, para trabalhar na implantao da Universidade de Braslia, em 1962.

    O impulso dado Antropologia no Rio de Janeiro com os cursos dados por ambos no Museu do ndio, primeiro, no CBPE depois continuados por Cardoso de Oliveira no Museu e, por um perodo extremamente curtoestimulados por Darcy Ribeiro em Braslia fez com que repercutissem mais l do que em So Paulo as influncias das instituies paulistas, j que muitos dos formados sob esta influncia foram convidados a participar daquelasexperincias. Em So Paulo, dada a grande expanso da Sociologia do que um bom ndice o nmero de teses de mestrado e doutorado defendidas na dcada de 60 (35, por contraste com as 5 de Antropologia) a disciplina sedesenvolveu, a nvel institucional, mais lentamente. Se observarmos o elenco da diretoria e do Conselho da ABA hoje, no entanto, veremos que boa parte de seus integrantes cariocas que passaram pelos cursos promovidos nasdcadas de 50 e 60 ou, mais tarde, pela ps-graduao do Museu Nacional, ou completaram a sua formao no exterior ou se doutoraram pela USP na dcada de 70. Isto , na dcada de 60, os profissionais nascidos entre os anos 30 e40 estavam ento iniciando sua carreira como estudantes; os docentes e pesquisadores nascidos entre os anos 20 e 30 concluam sua formao, mais freqentemente no pas do que no exterior (28). Eduardo Galvo (1921-1976) pareceter sido o nico antroplogo de sua gerao a obter o ttulo de Doutor fora do pas (em Columbia, em 1952), o que, na gerao de seus alunos, tornou-se mais comum (29). Wagley em Columbia e MayburyLewis em Harvardestimularam e apoiaram a ida de estudantes brasileiros para esses centros ? estmulo que se ampliou para outros centros, fosse pela presena de Wagley, a partir dos anos 70 na Flrida, fosse pela de seus ex-alunos em outrasuniversidades norte-americanas (30). Com a exceo de casos isolados, isto se deu, no entanto, com mais freqncia depois que o novo sistema de ps-graduao se instituiu no pas.

    O grande acontecimento da dcada; no mbito do ensino, foi a criao, e quase imediato desmantelamento, da Universidade de Braslia, o que fez tambm com que voltassem para, suas instituies de origem vrios docentes e

    pesquisadores da rea da Antropologia l reunidos. O resultado do t rabalho de representantes de duas geraes em centros mais antigos, como o Museu Paraense, para onde voltou Galvo ou a Universidade da Bahia, para onde foiPedro Agostinho da Silva, ento estudante em Braslia, ou nas novas faculdades de Filosofia, criadas com o impulso das reformas educacionais de 1968, ainda est para ser avaliado. Na Associao de Antropologia, da qual DarcyRibeiro tinha sido eleito presidente em 1959, o impacto dessas reformas, aliado ao grande crescimento do nmero de estudantes nas universidades brasileiras no final da dcada, se far sentir bem mais tarde, a partir da reunio de1974, quando elas retomam tambm a periodicidade das reunies das dcadas de 50 e 60. como se tivesse havido um hiato, nessas reunies, entre a efervescncia poltica de 1963 (Durham; 1963) e a lenta retomada dos trabalhosem 1974: a reunio de 1966, programada para ocorrer em Braslia, acabou sendo realizada dentro do Simpsio sobre a Biota Amaznica, organizado pela Associao de Biologia Tropical, em Belm e contou com a presena deapenas doze scios; em 1971, o professor Egon Schaden fez um esforo para reunir os antroplogos em So Paulo, por ocasio de outro encontro, promovido pelo Instituto de Estudos Brasileiros da USP, mas s na reunio seguintese fez a eleio de um presidente, no realizada desde 1966, isto , num perodo de oito anos. Em 1980 a, presidncia seria, pela primeira vez, ocupada por uma mulher e, tambm pela primeira vez, por uma docente da Universidadede So Paulo Eunice Durham (31). s a partir da que a presena paulista seria visvel na Associao. Na dcada de 60, com a exceo da Universidade de Braslia, as instituies em que eram realizadas pesquisas antropolgicaseram as mesmas que abrigavam na dcada anterior: desde ento os grupos se multiplicaram e a avaliao das contribuies de pesquisas individuais ou institucionais em Antropologia melhor feita quantitativamente o que temsido levado a cabo pelas agncias federais de financiamento e administrao dos programas de ps-graduao no pas (32).

    O que parece claro para o perodo dos anos trinta aos anos sessenta que, se houve uma profissionalizao crescente dos antroplogos no pas, ela se expressou na sua aglutinao em torno de uma identidade profissionalcomum, definida atravs da ABA e, se houve uma especializao crescente da disciplina no mbito das Cincias Sociais, ela se expressou pela nfase dada aos assuntos indgenas, na pesquisa tanto quanto na ateno poltica de partedos antroplogos ao tema. Aqui, como em outros pases, o trao distintivo da Antropologia em relao s outras disciplinas das Cincias Sociais tem sido a pesquisa de campo e esta, seja pela nfase que lhe foi atribuda pelos

    professores/pesquisadores internacionais na sua atuao no pa s, seja pelo lugar que ocupou nas instituies que tm formado antroplogos, parece ser mais amplamente posta em prtica entre os grupos indgenas nacionais. Nenhumaoutra rea da disciplina ocupa, sozinha, a dimenso simblica e poltica que tem esta: a distino que lhe atribuem os antroplogos pode ser medida tambm por ser a nica, para a qual existe uma bibliografia sistematicamenteatualizada desde que Baldos a iniciou (Baldos, 1954), a nica, que mereceu dos antroplogos o investimento de trabalho coletivo numa outra entidade que no a sua Associao (a Comisso Pr-ndio, criada em 1978, em So Paulo)

    e, ainda por ser a questo indgena a que tem hoje concentrado a maior contribuio da ABA aos trabalhos da Assemblia Nacional ConstituinteA foto de Biorn com o Xavante evoca assim alguns traos distintivos da atuao dos antroplogos no Brasil que tinham ficado atenuados no acompanhamento sumrio que se fez aqui da constituio de uma comunidade, ou

    uma tribo, antropolgica nacional: o trabalho de campo e a forte presena do ndio na definio da disciplina. As sombras de Lry e Staden, percebidas por Lvi-Strauss numa praia deserta e s quais ele acrescentava o nome deMtraux,e ns podemos acrescentar o seu prprio, podem ser somados vrios outros nomes, alguns lembrados aqui e todos inseparveis dos grupos que estudaram com a condio de que tenhamos claro que, ao falar sobre essesgrupos, seus pesquisadores esto tambm, ou esto com mais freqncia, falando uns com os outros. O que traz de volta a forte presena de pesquisadores estrangeiros no pas, evocando a questo sempre ilusria da nacionalidade.Como observa Milton Singer: "As etiquetas nacionais esto deslocadas, j que o britnico Radcliffe-Brown deriva seu trabalho do de Morgan e da escola sociolgica francesa, enquanto que os antroplogos culturais americanos oderivam de Tylor e,via Boas, dos difusionistas alemes" (1968) No preciso lembrar que Radcliffe-Brown tambm passou por aqui ou que, sob as mesmas influncias sofridas por Boas, mas distncia, o sergipano Tobias Barretofazia reflexes muito semelhantes s dele sobre a cultura no sculo passado, ou acrescentar que somos todos estrangeiros em relao ao objeto privilegiado de nossa disciplina, para sublinhar um descentramento to entranhado em suahistria que o que a define, para bem ou para mal. No exemplo brasileiro da disciplina, um certo cosmopolitismo que est na moda (33), foi-nos quase impingido desde o incio de sua histria: vejamos como isto se expressa no seuuniverso textual.

    Notas Biogrficas

    1 - Em suaHistria da Teoria Etnolgica, Lowie. lembra a intolerncia de Malinowski para com os "traficantes do excntrico", o que ele considerava fruto de sua imaginao: comentrio adequado de um alemo na Amrica do Norte sobre um polons na Inglaterra.2 - Roberto Cardoso de Oliveira reconheceu o local da foto, explicando que seu nome deriva da histria de que toda a loua quebrada no Palcio da Quinta da Boa Vista era recolhida e seus cacos serviam para decorar esse recanto, agora, como na poca da foto, acessvel pela ala da

    antropologia. Segundo Mtraux (1978), o escritrio de dona Helosa ficava na capela da Imperatriz. Escrevendo em fevereiro de 1939, ele descreve suas impresses do Museu e de sua diretora.3 - O outro era o tambm mdico Jehan Vellard que publicara um livro sobre os Guayaki (UneCivilisation du Miel). Noseu prefcio a este livro; Paul Rivet conta que Vellard adotara uma menina ndia, cujos progressos Mtraux registra. Para integrantes de outras missesfrancesas (diplomtica, militar) no pas, na poca, ver tambm Maugu (1982).4 - Um. dos nomes que teve esta influncia, Franz Boas (1858-1942), tinha construdo boa parte da base institucional sobre a qual se apoiava a antropologia no momento em que Lvi-Strauss esteve naquele pas e talvez seja tambm indicativo dos laos de relaes entre a nossa e aantropologia em geral que Boas tenha morrido nos braos de dois etnlogos franceses o prprio Lvi- Strauss e Paul Rivet (Cf. Lesser, 1981) ambos personagens da histria da disciplina no Brasil.5 - O baiano dison Carneiro sempre negara, contra Arthur Ramos, a existncia de uma escola baiana de Antropologia, que teria tido Nina Rodrigues como chefe. Este, que passou sua vida profissional na Bahia, era maranhense. Arthur Ramos, embora tendo nascido em Alagoas, foi

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    sempre considerado baiano por seus contemporneos (Madureira de Pinho, 1960). Sobre sua inimizade com Ruth Landes, ver Carneiro (1964). A amizade entre Landes e Carneiro rememorada por ela (1967, 1970). Quanto a Raimundo Lopes da Cunha, que deixou muitos trabalhos sobreo Maranho, era nascido em Portugal. Na reedio de seu conhecido Urna Regio Tropical (1916),uma nota parece indicar a influncia de sua estada no Museu: "Os Canelas, na regio serrana do Mearim, so mais rudes e esquivos, ao mesmo tempo agressivos e covardes". Nota: "Assim

    pensvamos em 1916, e pensa ainda muita gente. Mas preciso renunciar a julgar o ndio segundo os seus inimigos, pelo menos..." (1970, p. 68).6 - Filha de Alberto Torres, poltico e intelectual importante da Repblica Velha, dona Helosa (1895-1977), como foi sempre chamada pelos que trabalharam com ela, foi tambm personagem de um romance, premiado em 1932 e sobre o qual Roberto Cardoso de Oliveira chamou minhaateno:No Pacoval do Carimb,de Bastos de vila. Ver Castro Faria (1978).7 - Observe-se, por exemplo, a no transio nos carnets de Mtraux em suas viagens pela Amrica do Sul, ao passar de um pais para outro (ele em geral entrava e safa do pas via Belm-Paramaribo). Anos depois, Baldos daria a um jovem candidato a etnlogo o conselho de comearseus estudos sobre os ndios brasileiros pela fronteira com a Guiana Inglesa, para evitar a burocracia que dona Helosa ajudava a vencer. (Maybury-Leveis, 1965). Em sua orao de despedida a Mtraux, em 1963, Lvi-Strauss relembraria seu primeiro encontro, em fevereiro de 1939, emSantos, borrando tambm as fronteiras nacionais: "... 'um txi nos levou s praias desertas mas que ainda estavam, para ns, habitadas pelas sombras dos ndios com que viveram Jean de Lry e Hans Staden e dos quais Mtraux foi o inesquecvel historiador" (Mtraux, 1978, p. 42).8 - Seria injusto no mencionar Manuel Nunes Pereira (1895-1985) como um dos integrantes da tribo dos antroplogos nesse perodo, j que suas pesquisas na Amaznia o tornaram justamente conhecido: como no caso de Curt Nimuendaju, originalmente Curt Unkel, antes de adotar onome que recebeu em sua longa permanncia entre os ndios brasileiros, trata-se defree-lancers cujo impulso a disciplina vinha de fora do sistema acadmico e bem antes de ele se formar. Neste trecho, tento acompanhar alguns dos integrantes dessa comunidade empenhados naconstruo institucional, na montagem dos aparelhos de reproduo de um saber especifico em que, hoje, so formados os antroplogos. O prprio Gilberto Freyre tem uma passagem rpida por este contexto a nvel nacional, empenhado, ele, na construo de uma instituio regional9 - Dina, que foi `Secretrio' do Boletim .publicado pela Sociedade (ver os fac-smiles em Soares, 1983), tambm registrou em filme a vida cotidiana dos Boro ro. Os . primeiros passos de Lvi-Strauss na anlise de material indgena podem ser acompanhados nesses poucos nmeros do

    Boletim. Egon Schaden discorda de Mario Wagner na lembrana e afirma que o que havia no sto da Escola era um laboratrio de antropologia social, criado por Claude Lvi-Strauss. Ver Lvi-Strauss, Depoimento.10 - Mrio de Andrade (22.3.1938), em Duarte (1977) e Fernando de Azevedo (1973). Referindo-se a ento projetada expedio de Lvi-Strauss pelo Brasil Central, de 1938, diz Mrio: "No estou fazendo nada, a no ser as caceteaes que tive com essas viagens etnogrficas bestas doLvi-Strauss e do Oto Leonardos. (...) J com Lvi-Strauss, agora tarde para voltar atrs. Chega amanh aqui e conversarei com ele e o atirarei nas costas de voc e do Sergio. Se arranjem que preciso sossego". (Idem, 3.4.1938).11 - Sobre a ABA ver Cardoso de Oliveira (1986). A comisso organizadora da Primeira Reunio: Roquette-Pinto, presidente, Castro Faria, secretrio e Helosa A.. Torres, Eduardo Galvo, Darcy Ribeiro, dison Carneiro, J. Bastos de vila, Maria Julia Pourchet Passos, Manuel DiguesJr., Jos Bonifcio Rodrigues e L.A.. Costa Pinto. A mesa que presidiu os trabalhos: Herbert Baldus (SP), presidente, acidentado e substitudo por Thales de Azevedo (BA), Jos Loureiro Fernandes (PR), Manuel Diges Jr. (RJ) e Ren Ribeiro. Para a composio da diretoria eleita emSalvador e nos encontros subseqentes, ver o quadro em anexo. Dos 47 registrados na lista dosAnaisda Bahia, 31 eram homens e 16 mulheres.12 - Boa parte dos nomes listados, como acontece em todas as reunies, era de pesquisadores locais, como Consuelo Pond, Josildeth Gomes, hoje professora em So Paulo, Maria T. Nunes e Lygia E. de Oliveira, de Pernambuco, filha de Estevo de Oliveira, diretor do Museu Paraense.Carmelita J. Ayres, de famlia baiana, casara-se com Hutchinson depois da pesquisa que ambos fizeram para o projeto Bahia-Columbia e no voltou profisso depois desses anos. A verso final desta pesquisa dever conter uma informao biogrfica mais detalhada dos personagensaqui mencionados rapidamente.13 A lei que instituiu nacionalmente a cadeira de Etnografia Brasileira e Lngua Tupi foi sancionada pelo governo Caf Filho, em 1954, mas em So Paulo esta cadeira j existia desde os anos trinta e seu primeiro ocupante foi Plnio Ayrosa.14 - A contribuio dos lingistas e dos arquelogos tem sido feita tambm predominantemente no terreno dos estudos de grupos indgenas; a dos antroplogos fsicos tambm o foi em boa parte. Sobre os mdicos antroplogos, ver Azevedo (1979), ele prprio e Ren Ribeiro formadosem medicina, mas em Ribeiro (e.g. 1952) que esta formao mais evidente. Sobre a Antropologia Fsica, ver Castro Faria (1952, 1963) e M. J. Pourchet, citada por Melatti (1984): ela, J. Bastos de vila, Froes da Fonseca, Renato Locchi e Jos Loureiro Fernandes, dos citados, eramantroplogos fsicos, os quatro ltimos formados em medicina.15 - Um resumo das apresentaes feitas nos dois congressos est naRevista de Antropologia, 2(2), 1954 ela tambm iniciada este . ano por Egon Schaden; ver tambm os Anaisdo XXXI Congresso Internacional de Americanistas, Anhembi, SP, 1955 e os Anais do I CongressoBrasileiro de Sociologia, Grfica Saraiva, SP, 1955.16 - Sobre a SESP, ver Wagley (1953, 1977b) e Peanha (1976); sobre o Vale do So Francisco, Pierson (1987). A avaliao dessa participao de rgos pblicos, e agncias internacionais, nas pesquisas de Antropologia da poca ser feita em conjunto com a anlise dos projetos delongo alcance.17 - Eram: Marcelo Moretzhon de Andrade, Maria Las Mousinho Guidi, Maria David de Azevedo (Brando), Carlos Moreira Neto, Dalton Moreira de Araujo, Jorge Guimares de Oliveira, Lygia Estevo de Oliveira, Maria Helosa Fnelon Costa, Ursula Albersheim, Klaas Woortmann ?hoje antroplogo na Universidade de Braslia Roberto Las Casas e Olmar Paranhos Montenegro.18 - Os ttulos foram obtidos por Gilda Rocha de Mello e Souza (doutorado, 1950), Florestan Fernandes (doutorado, 1951), Fernando Henrique Cardoso (mestrado, 1953), Antonio Candido de Mello e Souza (doutorado, 1934), Octavio Ianni (mestrado, 1957) e Marialice Foracchi(mestrado, 1959) todos em Sociologia. Defenderam a livre- docncia Florestar Fernandes (1953) e Egon Schaden (1954), este em Antropologia.19 Curt Nimuendaju (1883-1945) deixou um rastro de curiosidade depoi de sua morte ? ver os comentrios de Nunes Pereira, citados por Mtraux e os dele mesmo (1978) ? e no menos curioso que tendo tido tanta vinculaes com o Museu Nacional e com o Museu Paraense, seusrestos mortais acabassem no Museu Paulista onde iniciou sua carreira. Ver tambm a polmica entre Darcy Ribeiro e Roberto Da Matta em 1979 em torno da publicao dos trabalhos de Nimuendaju, entre outras coisas. Luiz Henrique Passador encontrou notcia de Tekla Hartmann

    (Revista do Museu Paulista, NS, vol.XXVIII, 1981/82) sobre o enterro de Nimuendaju em 1981.20 - Ainda est por ser feita uma iconografia dos locais em que as Cincias Sociais se abrigaram, e a sua histria: o prdio da rua Maria Antonia abrigou inicialmente o Centro de Pesquisas Educacionais d So Paulo.21 - Comparar Fernandes (1974 ) e Ribeiro (1962), por exemplo.22 - Darcy Ribeiro foi responsvel, por exemplo, pela vinda do Summer Institute of Linguistic ao Brasil, em 1959, para estimular a pesquisa das lnguas indgenas, assim como ele e Ansio Teixeira propiciaram a vinda de muitos outros tcnicos norte-americanos ao pas, num contexto demodernizao educacional que inclua o estmulo s pesquisas em Cincias Sociais e que, lido de outro ngulo depois de 1968, adquiriu novo significado. Basta lembrar que Charles Wagley integrava a primeira comisso da USAID, em 1963 (Cunha 1996) que, assim como a presena doSummer, se tornou alvo da crtica das geraes mais jovens logo depois de 68. Sobre o Summer, ver o nmero 7 (1981) deReligio e Sociedadee, para uma auto-avaliao de sua atuao no perodo anterior, as cartas de Darcy -Ribeiro a Ansio Teixeira no CPDOC da Fundao GetlioVargas do Rio de Janeiro.23 - Aqui, tentando acompanhar minimamente as trajetrias dos personagens principais dessa histria nesse perodo, impossvel avaliar tambm a sua produo -intelectual objeto de outro texto.24 - Um captulo ainda a ser escrito, este, na histria da Antropologia e que bem poderia levar o ttulo de `Lvi-Strauss et sa femme', que como Maug reiteradamente se referia Dina e Mtraux s outras esposas do antroplogo. Ver as observaes de K. Dwyer (1979) sobre a divisode trabalho entre marido e mulher em vrias pesquisas de campo. D. Pierson (1987) menciona tanto a contribuio de Helen, sua esposa, como a das esposas dos outros pesquisadores em seus projetos; Charles Wagley registra seu uso do dirio mantido por Ceclia numa das viagens aosTapirap (1977) e Da Matta descreve sua mulher Celeste como "uma pesquisadora notavelmente humana e disposta" (1981). Ver tambm o engraado pastiche dos inevitveis agradecimentos s esposas nos textos antropolgicos em GERTRUDE, "Postface a quelques prfaces", Cahiersd'tudes Africaines/65, XVII(1).25 - Esta tradio tem se mantido razoavelmente constante na histria da disciplina no pas. Ao falar sobre as "possibilidades de desenvolvimento autnomo do ensino e da pesquisa" em Etnologia no pas, Florestan Fernandes, escrevendo em 1956, comeava observando: "`A Etnologiase desenvolveu no Brasil, at o primeiro quartel do presente sculo, principalmente atravs das obras e das realizaes de investigadores estrangeiros''. (1975:119). Seu artigo , ele mesmo, um bom indicador de que as coisas no tinham mudado muito na dcada de 50. Alm do fato deque alguns pesquisadores estrangeiros publicaram aqui e em portugus seus primeiros estudos e de que alguns brasileiros publicaram seus primeiros em outras lnguas no deixa de ser irnico que o trabalho do alemo Curt Unkel tenha recebido o apoio do alemo Robert Lowie nosEstados Unidos: sua correspondncia, parte em alemo, parte em portugus e ingls expressa bem esta ironia. Ver Lowie (1959). Uma listagem muito preliminar dos estrangeiros presentes no pais, nesses trinta anos, apresentada em anexo; E. Schaden (1980), Thekla Hartmann (1977)e Damy e Hartmann (1986); acrescentam muitos nomes lista.26 Em 1965, Maybury-Lewis descrevia Baldus, sem citar seu nome, como "a german professor of great personal charm who now holds a chair in Brazil". Darcy Ribeiro definia Baldus corno "poeta-cientista, teutnico, mulherengo, prussiano, romntico e anti-fascista. (em Galeo,

    1978)27 Eduardo Galeo, que tambm trabalhara l, j havia sado no ano anterior, para o Museu Paraense, junto com outros pesquisadores do CBPE (como Klaas Woortmann, Roberto Las Casas e Carlos Moreira Neto) ou do Museu do ndio. Com exceo de um breve perodo em quecoordenou o Instituto de Cincias Humanas em Braslia; Galeo passaria no Museu o restante de sua carreira Ele deve ter sido dos poucos, seno o nico, pesquisador brasileiro na rea das Cincias Sociais a ter a sua atividade profissional inteiramente financiada, desde ento, pelo CNPq.Sobre os cursos do CBPE e a relao entre Educao e Cincias Sociais; ver Corra (1986).28 Para os primeiros, ver as reminiscncias de Da Matta sobre seu tempo como estudante (1981); para os outros, ver os depoimentos de Cardoso de Oliveira, Florestan Fernandes, Maybury-Lewis.29 A ABA est realizando um cadastramento de seus scios, o que permitir estabelecer com mais preciso a origem institucional dos ttulos dos antroplogos brasileiros como um todo.30 - Talvez seja um exagero a afirmao de Margolis e Carter (1979) de que os ex- alunos de Wagley dominavam ento o campo de "estudos brasileiros", mas a lista dos que pesquisaram no Brasil e sua distribuio nas universidades dos Estados Unidos impressionante. Wagley presidiua American Ethnological Society no final dos anos 50 e a American Anthropological Association no incio dos 70. Maybury-Lewis criou e preside desde a dcada de 70 o Cultural Survival, secretariado por Pia, e um empreendimento internacional de apoio a grupos sociais que tm suasobrevivncia ameaada no mundo contemporneo; com sede em Harvard.31 - At ento, o nico presidente da Associao vindo de So Paulo tinha sido H. Baldos (em 1961) que, como se sabe, nunca obteve lugar na USP. A reunio de 1980 foi tambm quase uma recriao da ABA: alteraram-se os estatutos, para permitir eleies diretas e a ampliao doscritrios para associar-se, incluindo estudantes de ps-graduao, e iniciou-se a criao de suas regionais, atualmente em nmero de trs. (So Paulo, Braslia e Nordeste).32 Ver a srieAvaliao. & Perspectivaspublicada pelo CNPq desde o incio dos anos 70.33 - P. Rabinow prope o cosmopolitismo como sada para os impasses da interpretao e da autoridade dos autores: "Let us define cosmopolitanism as an ethos of macro-interdependencies, with an acute consciousness (often forced upon people) of the inescapabilities and particularitiesof places, characters, historical trajectories, and fates. Although we are all cosmopolitans, Homo sapiens has done rather poorly in interpreting this condition. We seem to have trouble with the balancing act, preferring to reify local identities or construct universal ones. We live in-

    between". (1986, p. 258)Esse texto parte de um trabalho em andamento sobre a Histria da Antropologia no Brasil nesse perodo: tentei explicitar os trechos que remetem a outros textos, o que nem sempre consegui. Agradeo a todos os entrevistados do projeto o generoso emprstimo de fotos e o

    estmulo constante, aos pesquisadores da UNICAMP que vm trabalhando comigo desde 1984, equipe do projeto Histria das Cincias Sociais do IDESP a leitura crtica e o apoio da FAPESP, do CNPq e da FINEP.

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    - Correspondncia Eduardo Galvo, cortesia Clara Galvo.

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