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NIVALDO FRANCISCO NEVES
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
NIVALDO FRANCISCO NEVES
FILME: A HISTÓRIA DAS COISAS. LEONARD, A. EUA:2006
A Supremacia e o Poder da Imagem na Vida:
Um olhar de inquietação, de esperança e conscientiz ação.
Campinas, S.P.
2011
FILME: A HISTÓRIA DAS COISAS. LEONARD. A. EUA:2006
A Supremacia e o Poder da Imagem na Vida:
Um Olhar de inquietação, esperança e conscientizaçã o.
.
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade
Estadual de Campinas como requisito
parcial para a obtenção do título de
Especialista em História e Cinema.
Orientador: Professor Breno de Souza Juz
Campinas, SP
2011
2
DEDICAÇÃO
Um força maior, que chamamos de Deus, que tudo proporciona na vida.
Dedico este trabalho a minha esposa, Márcia Abrinhosa Neves, amor que brilha na minha vida, pela tolerância com que encarou com serenidade as minhas ausências durante os vários momentos na realização desse curso de especialização. Foi um tempo a mais além das outras obrigações.
A minha doce e encantadora filha, Victória, nela vejo a esperança e a ternura,
ao Fábio pela sua amizade, e a Mari, pela sua determinação, ousadia e por
estar vivendo um momento mágico e encantador: o de “Ser Mãe”. (Filhos do
Coração).
Ao meu pai Fidelsino (In Memoriam), quem me ensinou o senso de justiça e
honestidade, minha mãe, Maria, que sempre nos orienta e indica o caminho do
altruísmo e do respeito. É uma gratidão grandiosa e cheia de ternura.
As minhas irmãs, que se fizeram presente em vários momentos da minha vida,
uma mais, mas todos juntos, na coragem, sempre solidárias, meu porto seguro.
Enfim, para todos meus sobrinhos e familiares, que mesmo longe dos meus
olhos estão no meu coração para sempre, em especial, minha afilhada Gabi.
E, finalmente, aos meus alunos e por todos aqueles que vem sendo enganado e
não consegue construir uma visão mais realista e concreta da sociedade, já que
são manipulados ideologicamente com argumentos falaciosos pela mídia, que
distorce a realidade e os transforma em mercadoria / cliente. A eles, o meu
compromisso de levar o conhecimento para além da escola, numa linguagem
simples, acolhedora e humana.
A presença marcante dessas pessoas na minha vida e de outras tantas tornou-
se possível de realização deste sonho, que contribuíram e torceram para mais
uma batalha vitoriosa, que passa ser dessas pessoas maravilhosas.
3
AGRADECIMENTOS
Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera, (...)
(Alberto Caeiro, in “O Guardador de Rebanhos”.)
Se há uma força maior que regem todas as forças cósmicas deste lugar
chamado Terra, então em meus devaneios, penso.
Quando penso, sinto algo indescritível.
Então, tudo é possível quando se volta o olhar com ternura para esta
“energia cósmica” que transcende palavras....Então sou grato!
Sou grato, porque hoje tenho a oportunidade de poder
contemplar as belezas indescritíveis que estão vivas na natureza.
Sou grato, porque sou uma pessoa que tem um lar, uma família, onde
partilhamos tudo o que é inerente ao ser humano.
Sou grato por ter belas amizades.
Sou grato porque posso desfrutar do encanto das águas, da beleza das
florestas e das flores e do sorriso de crianças brincando nos jardins.
Sinceramente, não quero deixar de contemplar essas belezas
como também não quero que as futuras gerações não contemplem as
inúmeras belezas do nosso planeta.
Não vamos deixar o nosso planeta pedindo socorro e
nem vamos deixar crescer o número de pessoas que são colocadas
como caminhantes nas estradas sem rumo, sem pátria, sem nada.
Você, pensa, assim, então, somos irmãos.
4
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. José Alves de Freitas Neto, Coordenador do Curso de
Especialização em História para o Ensino Médio da Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP), pela participação ativa e direta
neste passo singelo a caminho do nosso engrandecimento e
aprimoramento profissional e a equipe da Redefor fica meus
agradecimentos.
Ao orientador do Trabalho de Conclusão de Curso, Prof. Breno de
Souza Juz, que mesmo não conhecendo pessoalmente se mostrou
dedicado e prestativo em passar informações significantes, que
possibilitaram a realização deste trabalho, minha eterna gratidão.
Agradeço à todos os tutores, que ao longo dessa jornada, se
mostraram atenciosos, solidários e que nos incentivaram chegar até
aqui, nos apoiando de forma indescritível, o meu sincero
agradecimento.
Agradeço, também, aos colegas professores - educadores, pelas
nossas trocas de esperanças e pelas nossas lutas para espantar o
desencanto, que às vezes invade o nosso fazer pedagógico.
Enfim, a todas as pessoas que participaram, contribuindo para a
realização deste trabalho, direta ou indiretamente. Viver é uma eterna
novidade e uma eterna paixão.
A todos o meu mais profundo reconhecimento e gratidão.
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O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos"
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RESUMO
Este artigo tem como base a discussão sobre o processo de extração,
produção, consumismo, descarte e os desdobramentos em torno de questões
ambientais, sociais e a crise de valores ligados ao lugar da “pessoa” no
planeta terra. O apito inicial do nosso trabalho reflexivo fundamenta-se num
primeiro momento um olhar com nitidez e sensibilidade no filme: “História das
Coisas”, de LEONARD, A. 2006: EUA.
Nesse caminho, faremos uma abordagem simplificada de como a mídia no geral
vem influenciando as pessoas ao consumo desenfreado, em especial as novas
gerações. Para tanto, com base no filme trataremos como as corporações
mundiais pensam o processo de produção, apresentando a obsolescência
planejada e perceptiva, como um desastre ambiental no futuro do nosso planeta,
por conta do esgotamento dos nossos recursos naturais, senão houver uma
alfabetização ambiental imensa das pessoas como um todo na pós-modernidade.
E, como toda essa conexão da extração até venda dos produtos vai intensificando
o aumento da desigualdade e a degradação tanto humana como ambiental.
Posteriormente, faremos algumas considerações a partir do pensamento de
autores da pós – modernidade, que vem fazendo inúmeras considerações e
questionamentos sobre o uso irresponsável de recursos da natureza bem das
críticas objetivas que colocadas de forma coerente sobre a lógica de exclusão dos
andarilhos numa sociedade pautada pelas incertezas, flexibilidade e fragilidades
dos vínculos de humanização.
Palavras-chave : Sociedade de Consumo – Globalização – Degradação
Ambiental – Obsolescência - Mídia – Conscientização.
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SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS..................................... ............................................ 4
RESUMO.................................................................................................... 7
1. INTRODUÇÃO........................................................................................... 9
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................... ......................................13
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................ .......................................... 34
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................... ................................... 38
5. ANEXOS................................................................................................... 41
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1. INTRODUÇÃO
“Vivemos em um mundo dominando por imagens e sons obtidos “diretamente” da realidade, seja pela encenação ficcional, seja pelo registro documental por meios de aparatos técnicos cada vez mais sofisticados” (NAPOLITANO: 2005 p.235.)
Com essa argumentação marcante de NAPOLITANO é inegável querer
desconsiderar o quanto somos influenciados por vários tipos de imagens e sons
obtidos em nosso cotidiano, que sequer paramos para pensar nos reflexos e nos
desdobramentos que as mesmas exercem em nossa memória e em nosso
inconsciente. Contudo, há várias pesquisas que demonstram como elas vão
moldando o nosso pensamento, os nossos valores e como, transformam uma
imagem ou várias imagens do cotidiano, seja do movimento social ou qualquer
situação normal do dia a dia num emaranhado de palavras que muitas vezes não
contempla a realidade em si.
Por conseguinte, quando afirmarmos que as imagens veiculadas na
mídia em geral em todas dimensões muitas vezes não contemplam, a realidade
em si, quero afirmar que o resultado na maior parte das vezes é sempre de
acordo com os interesses das grandes corporações que estimulam a passividade
e o consumismo com a intenção clara de obter inúmeras vantagens e ainda
buscam ir além do trabalho excedente e do acumulo do capital. Contudo, o nosso
interesse com este artigo, é mostrar como os cidadãos podem dar conta destas
questões postas na sociedade em toda sua amplitude.
No ponto de vista sociedade informatizada, temos a : “TIC” - tecnologia
de informação e comunicação - que, através de rede de relacionamentos, como
“Facebook, Orkut, E-mails Pessoais e Similares”, vem bombardeando nossas
mentes e pensamentos através de imagens com frases curtas dos benefícios de
comprar este ou aquele produto, o que acaba cumprindo o mesmo papel de
incentivo ao consumo permanente. Tal afirmação é notória, pois uma vez que são
apresentados para as pessoas os bens e os produtos prontos essas pessoas
9
passam a ser meros consumidores tanto de produtos como de ideias. É lógico,
que estamos nos referindo especialmente no que diz respeito à questão do papel
da publicidade voltada essencialmente para a proposição do capitalismo que
incentiva o consumismo como caminho para conquistar a felicidade.
Enfim, diante deste contexto de inquietação, o nosso propósito é pensar
meios que sejam eficazes para despertar um olhar de esperança e de
conscientização individual e coletiva dos fenômenos sociais, econômicos e
ambientais que permeiam esta realidade da pós-modernidade do qual estamos
totalmente inebriados nesta sociedade pós-moderna.
Nesta dimensão será transcrito abaixo um breve relato do filme: “A
História das Coisas”; LEONARD, A. EUA, 2006 - Título Original: The Story off
Stuff .
O que é a História das Coisas?.... É um filme que nos apresenta o
processo de produção, da extração e produção até a venda, consumo,
disposição e descarte. E, ainda nos apresenta como todos os produtos
que usamos em nossa vida afetam comunidades em diversos países, a
maior parte delas ficam longe de nossos olhos, que são escondidos de
forma proposital pelas grandes corporações e políticos. Este filme tem a
duração de 20 minutos, direto, e nos mostra passo a passo, o sistema de
extração, produção, consumo até chegar nos aterros sanitários ou lixos.
Este filme abre discussões relevantes sobre o uso irresponsáveis de
recursos ambientais e os problemas sociais que vem abrindo ao longo dos
anos. Por outro lado, revela a necessidade de criarmos com urgência um
mundo mais sustentável e justo para todos e para a vida de todas as
espécies a nossa mãe terra.
História das Coisas nos ensina muita coisa, nos sensibiliza, nos faz pensar
sobre as mazelas e falcatruas criadas pelas grandes corporações. Enfim,
esse filme poderá mudar para sempre a forma como vemos os produtos
que consumimos em nossas vidas. (Zepter: 2006 – Grifo Nosso)
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Por si só, a sinopse acima nos mostra quais são as temáticas abordadas
no transcorrer deste filme, a saber: processo de produção, extração de
recursos,consumismo (venda), degradação ambiental, produção de lixo, exclusão
social, descartabilidade, as mídias, tecnologia de informação, saúde e
sustentabilidade.
Em nosso artigo sobre este filme vamos voltar nossas reflexões em torno
de três questões básicas: meio ambiente, humanização e saúde. E, como, as
empresas que concentram poderes midiáticos vão manipulando, seduzindo e
influenciando pessoas em torno dos ideais de consumo exacerbado.
Neste aspecto é interessante, em oposição ao pensamento de
Descartes, que afirma: “penso, logo existo”, podemos dizer: “consumo, logo
existo” ou então dentro da vertente do filme “A História das Coisas”, a
sociedade, através das diversas tecnologias de informação (Tv, Internet, Rádio,
Celulares, Ipod, etc.) vão demonstrando para as pessoas de todas as classes
sociais que o conceito de status e celebridade ocorre conforme o grau de
consumo e da rapidez que elas tem no ato de consumir. Portanto, a equação
máxima é “consumo, logo viro celebridade”. Mas, por trás de toda esta
publicidade, LEONARD: 2006, demonstra que no fundo está enriquecendo os
donos das grandes corporações e destruindo a natureza.
Contudo, a nossa pesquisa procura dar alguns embasamentos
científicos do que escreveram alguns autores sobre os desdobramentos e os
impactos que vão acontecendo a partir das conexões; da extração, produção,
consumo, obsolescência planejada e perceptiva, degradação ambiental e
humana.
Em especial buscamos referências a partir das reflexões de HALL
Stuart, que faz abordagens significantes sobre as transposições de identidades
fora do lugar; na obra de BAUMAN, Zygmunt., que apresenta uma concepção de
homem na sociedade fragilizado, já que tudo que é líquido flutua no ar das
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incertezas e dos medos; e de SENNENT, Richard., que enfatiza como ocorre a
corrosão do caráter nesse capitalismo flexibilizado, onde as leis são construídas
conforme os interesses das grandes corporações.
No artigo de BRUNE, F. , que nos mostra como a pós – modernidade
passa a ser um era de passividade. E, no texto de LEAL FILHO, Laurindo L., que
enfatiza como a tv passa a ter um poder colossal na sociedade mundial.
Já nas reflexões do BETO, frei., fica evidente a transformação do profano
em sagrado, especialmente com a justaposição do deus mercado. Enquanto,
MATOS, Olgária de., nos mostra como a mídia atua com perversidade, quando
incentiva as pessoas ao consumo e depois humilham. Por fim, a simplicidade de
BOFF, Leonardo, que mostra alguns caminhos que devem “sulear” ¹ as nossas
ações como cidadãos e amantes do nosso planeta terra. Enfim, daremos um
destaque especial sobre a importância de nos conscientizarmos, para depois,
conscientizarmos o outro, o próximo, rompendo com a celebração do consumo
para criar uma celebração do cuidar, cuidar da nossa mãe terra, nosso habitat
cósmico
E, para fechar esse trabalho de reflexão, o pensamento de SARAMAGO,
José, que defende a ideia de fazer um grande debate sobre o que é democracia
de fato, para que depois, de alguma forma possa ser desenterrada a justiça.
_________________________________________________________________
1. O termo “sulear” não é novo história, pois tive a oportunidade de ouvir pela primeira vez numa palestra proferida pelo Professor da PUC – Campinas / SP e Padre Benedito Ferraro na década de 1990, na comunidade religiosa Nossa Senhora Auxiliadora no Jardim Garcia em Campinas /SP que apresentava esse termo fazendo justificativa da nossa localização geográfica, invertendo a lógica norte x sul. A nossa intenção com o uso deste termo é mostrar que as ações humanas tem mais pertinência e respaldo usando esse termo, pois estamos localizando geograficamente no hemisfério sul.
.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.
O filme “História das Coisas” da cineasta e produtora norte-americana
LEONARD: 2006., procura mostrar com ideias simples como ocorre o processo
de produção de bens e produtos na sociedade contemporânea. Para tanto, ela
utiliza recursos tecnológicos, denominado como animação gráfica, o que facilita a
compreensão de leitores médios e outros.
Como foi transcrito anteriormente, o filme nos mostra as várias etapas da
produção, do consumo de produtos industrializados, a função dos meios de
comunicação de massa e sobre as ações das diversas campanhas publicitárias,
que incentiva o consumo exageradamente de produtos e bens. E, ainda,
apresenta, como os desdobramentos deste consumismo desenfreado, vão
gerando uma quantidade desproporcional de lixos.
Por outro lado, o filme nos apresenta como vem sendo construindo e
estruturando na sociedade contemporânea, a organização de grandes
corporações capitalistas e como estas vão submetendo governos e países aos
seus interesses, além de transformar pessoas em mercadorias e clientes.
A cineasta não deixa por menos e vai mostrando como as grandes
corporações se apropriaram de recursos naturais em seus respectivos países e
como vem se apropriando dos recursos naturais nos países mais pobres,
denominado por ela, no filme, como ”terceiro mundo”, mas que atualmente, com a
nova “(des) ordem política”, são denominados como países periféricos.
Dentro deste tema, a cineasta desenha, como está ficando a nova
divisão internacional do trabalho, onde a “pessoa” é sujeitada a trabalhar em
qualquer tipo de serviços, muitas vezes se expondo em citações de riscos até
para a própria saúde.
Como é citada pela cineasta em seu filme. Vejamos as informações
significativas:
“Há atualmente no comércio, mais de 100.000 químicos sintéticos,apenas um punhado foi testado para avaliar o seu impacto na saúde, e nenhum foi testado em relação aos impactos sinérgicos na saúde, ou seja, à interação com todos os outros químicos aos quais estamos expostos diariamente. Por
isso, desconhecemos o impacto total deles na saúde e no ambiente.
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Mas sabemos uma coisa: os tóxicos entram e saem. Enquanto continuarmos a introduzí-los nos nossos sistemas de produção industrial, continuaremos a inserir estes tóxicos nos produtos que levamos para nossas casas, trabalho e escolas, e claro para nossos corpos. Como os BFRs, ou retardantes de incêndio à base de brometo, que tornam as coisas mais resistentes ao fogo, mas são super tóxicos. São neurotóxicos, ou seja, tóxicos para o cérebro. O que é que estamos fazendo usando estes químicos? Apesar disso, os usamos em nossos computadores, eletrodomésticos, sofás, colchões e até alguns travesseiros. Sim, pegamos nossos travesseiros, os revestimos com neurotoxinas, os levamos para casa e dormimos por 8 horas com eles!?! Não sei... mas acho que num país com tanto potencial, poderíamos ter uma maneira melhor de evitar que as cabeças peguem fogo a noite. Sabia que essas toxinas se vão acumulando ao longo da cadeia alimentar e se concentram nos nossos corpos?” (LEONARD:2006)
Mas, o que dizer sobre os B. F.Rs? Confesso que não tinha esse
conhecimento e provavelmente a maioria das pessoas também não tem. Qual é o
problema de tudo isso apresentada pela cineasta? Em primeiro lugar, pelos
malefícios que o uso de produtos que tenham tais substâncias perigosas para a
saúde humana, já que os mesmos causam sérios distúrbios no sistema hormonal
e no processo de recomposição dos neurônios ao longo da vida. Em segundo
lugar pela divulgação e conscientização lenta da mídia e do próprio governo,
ficando a desejar no contexto social como um todo.
Dentro desta perspectiva ainda temos as pessoas que ainda trabalham
na produção, já que nem sempre sabem sobre os efeitos destas substâncias no
seu organismo.
Sobre a sujeição da pessoa, trabalhar em qualquer serviço, deixamo-nos
BAUMAN sensibilizarmos, ao afirmar que:
“(...) A preferência, entre os empregadores, por empregados “flutuantes”, descomprometidos, flexíveis, “generalistas” e, em última instância, descartáveis (do tipo “pau-pra-toda obra”, em vez de especializados e submetidos a um treinamento estritamente focalizado), foi o mais seminal de seus achados”.(BAUMAN: 2008, p.17)
Considero relevantes as argumentações de BAUMAN, de modo que,
completa e vai além do que LEONARD demonstra com clareza em seu filme.
Não há dúvida da preferência dos empregadores em contratar empregados sem
nenhum vínculo com suas empresas, já que ficam livres de assumir os encargos
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sociais e trabalhistas com seus empregados, o que evidência a velha regra do
capitalismo, a mão de obra no mercado de trabalho numa proporção maior e
fundamental para seu avanço na sociedade. Agora mais do que nunca fica claro
que “flutuação”, a “efemeridade” são as novas faces da pós-modernidade.
Mas, BAUMAN é bem mais objetivo quando se refere ao mercado do
trabalho, pois:
“O mercado de trabalho é um dos muitos mercados de produtos em que se inscrevem as vidas dos indivíduos; o preço de mercado da mão-de-obra é apenas um dos muitos que precisam ser acompanhados, observados e calculados nas atividades da vida individual. Mas em todos os mercados valem as mesmas regras. Primeira: o destino final de toda mercadoria colocada à venda é ser consumida por compradores. Segunda: os compradores desejarão obter mercadorias para consumo se, e apenas se, consumi-las for algo que prometa satisfazer seus desejos. Terceira: o preço que o potencial consumidor em busca de satisfação está preparado para pagar pelas mercadorias em oferta dependerá da credibilidade dessa promessa e da intensidade desses desejos”. (BAUMAN: 2008, p.18)
Por assim dizer, BAUMAN nos mostra que o mercado de trabalho é mais
um dos mercados que existem e são regulamentados, mas a validade e a crença
ocorrem quando há sintonia entre necessidades e desejos, pois o ato de desejar é
um movimento contínuo e alimentador da economia. Já que fica sempre a ideia
de consumir para se sentir bem, para obter satisfação e realização.
Porém, podemos dizer que é um “bem“ estar, uma “satisfação” e uma
“realização” provisória que evapora no ar, em decorrência do surgimento de
novos desejos voltados para o consumo, mas que deixa sequelas imensas nos
aspectos sociais, econômicos e ambientais.
Nesse sentido, BAUMAN nos apresenta, que maior templo de consumo
surgido no século XX fez e ainda continua fazendo uma função essencial para
suprimir os desejos de consumo, pois:
“Os shopping centers muito têm feito para reclassificar o labor da sobrevivência a como diversão e recreação. O que costumava ser sofrido e suportado com uma mistura de ressentimentos e repulsa, sob a pressão refratária da necessidade, tem adquirido os poderes sedutores de uma promessa de prazeres incalculáveis sem a adição de riscos igualmente incalculáveis”. (BAUMAN:2004, p.40).
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Com arquiteturas moderníssimas, os Shopping Centers, então, vem para
facilitar o ato de consumir, pois oferece segurança e a tranquilidade na hora da
compra. Sedução, fascínio, encantamento sãos traços marcantes que envolvem
as pessoas e apagam a noção de tempo e são embutidas as noções de lugar, o
lugar do sagrado, mas em torno do consumismo. Tudo é beleza, tudo é bonito,
as vitrines são decoradas de forma esplendida, mas as garras vorazes da
publicidade que são desenvolvidas por profissionais desta área vão incentivando
ao consumismo. E, nessa perspectiva, as campanhas publicitárias transmitidas,
especialmente pela “TV” já embutiram esta ideologia de consumo nestes templos
faraônicos de consumo.
Então, voltamos o nosso olhar e a nossa reflexão sobre o que escreve
LEAL FILHO sobre o papel da Tv na atualidade:
“Impondo vontades (...), a Tv se sobrepõe aos poderes da República (...).
Ora, a televisão tornou-se hoje em dia um poder colossal; pode mesmo
dizer-se que é potencialmente o mais importante de todos, como se
estivesse substituído a voz de Deus”. (LEAL FILHO:2008)
Com esses argumentos LEAL FILHO, nos mostra que o poder da Tv está
consolidado na sociedade a tal ponto que às “vezes” tem a “pretensão” de ocupar
o lugar de “Deus”. A expressão que conta é impressão deixada pela Tv entre as
pessoas, que vai maquiando e impondo desejos de e para o consumo.
Nesta mesma perspectiva, temos o entendimento de NAPOLITAMO que
afirma:
“(...) a televisão interfere na concepção de tempo histórico e mas
formas de fixação da memória social sobre os eventos passados e
presentes”.(NAPOLITANO:2005,p.252).
No caso, trata-se da construção e consolidação da ideia de consumo,
que ocorre a partir da repetição de propagandas de produtos que vão
incentivando mais e mais o ideal de consumo. Tais ideias acabam sendo
introjetadas no inconsciente coletivo das pessoas e ficam latentes na
memorização social.
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As estratégias impostas pela pós – modernidade criam mecanismos para
despertar nas pessoas o encanto e assim vão induzindo-as ao esquecimento
dos problemas e das consequências no que tange ao ritual de consumo, pois
toda a beleza contemplada desperta a vontade de consumir. As pessoas buscam
a beleza, querem a beleza, vivem em função de conquistar a beleza e o papel das
campanhas publicitárias que são veiculadas na mídia em geral usam destes
artifícios para despertar o desejo de consumir.
Mas, o que dizer sobre desejo?
“Desejo é vontade de consumir. Absorver, devorar, ingerir e digerir
aniquilar...” (BAUMAN:2008, p.12).
Por conseguinte, fica evidente a relação entre a afirmação de BAUMAN
que insinua com a ideia consumir o produto e depois aniquilar, destruir, o que
esbarra direto no problema crucial mostrado no filme por LEONARD, mas que não
é novidade da história da humanidade. É um assunto polêmico e gigantesco que
já foi debatido em outros momentos da história, isto é, estamos tratando da
questão em torno da obsolescência planejada e perceptiva, ou seja, uma
produção e consumo voltado para o descarte, o que não é novidade na história.
Produzir e jogar fora não é uma novidade, mas é um legado marcante que
veio conquistando espaço significativo nas prerrogativas de consumo de forma
intensa na sociedade capitalista, especialmente depois da segunda metade do
século XX e atualmente essa prática é preocupante, pois nessa proporção de
consumismo o futuro da vida no planeta terra estará ameaçado.
Por conseguinte, é relevante buscar a definição dos termos
obsolescência planejada e perceptiva, para fundamentar melhor nosso propósito
de reflexão. Num primeiro momento, vamos entender o que é obsolescência
planejada:
“Obsolescência planejada é a condição que ocorre a um produto que deixa de ser útil, mesmo estando em perfeito estado de funcionamento. Ou seja, são produtos deliberadamente projetados para deixar de funcionar em um curto espaço de tempo. São as porcarias industrializadas que consumimos em nosso dia-a-dia crentes que estamos adquirindo produtos de uma boa qualidade. Entretanto, a qualidade deles são boas para quem os produz, pois, esses produtos são fabricados visando a minimização dos custos
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e a maximização dos lucros. Por isso os produtos precisam ser baratos e frágeis, tendo sua obsolescência planejada para serem trocados seguidamente. Sendo caros, as pessoas não aceitariam sua má qualidade”.(ARAUJO:2010)
Podemos dizer em outras palavras que é obsolescência planejada é a
criação de um produto ou mercadoria com projeção para ser descartado num
prazo inferior a dois anos para não ser mais cético, pois a produção foi planejada
para não funcionar com qualidade. Como exemplo, podemos dizer: celulares,
computadores, máquinas fotográficas e outros. E, nesse planejamento é claro, os
produtos precisam baratos e frágeis
E, no que diz respeito à definição conceitual de obsolescência perceptiva
pode-se dizer que a publicidade acaba tendo uma função essencial, pois através
da:
“obsolescência perceptiva, que nos faz adquirir algum bem simplesmente por ser de aparência mais moderna, mais bonita, se adapta melhor à nova tecnologia (ex: TV digital), e está na moda. Desta forma nos desfazemos de coisas que são perfeitamente úteis, para estarmos sempre “atualizados”. A moda tem uma grande culpa nisso tudo, as coisas entram e saem de moda, basicamente para fazer esse sistema de “compra e troca” girar de uma forma assustadora”.(Ramos: 2009)
Por assim dizer a mídia no geral procura nos convencer trocar o produto
velho pelo novo, o produto com tecnologia ultrapassada com a tecnologia
moderna e assim por diante. A persuasão é forte, pois muitas vezes nos
convence jogar fora bens e produtos que estão funcionando normalmente. Mas
que estratégias usam? Simplesmente mudam a aparência dos produtos. Então,
nesse sistema a mídia geral induz as pessoas trocar o feio pelo belo.
Um exemplo clássico foi o discurso de SUZUKI, na Conferência das
Nações Unidas em 1992 no Rio de Janeiro que fez a seguinte afirmação, entre
tantas, uma que nos chamou atenção foi a respeito da obsolescência perceptiva,
pois naquela ocasião ela disse que já era uma prática comum entre pessoas em
relação ao consumo. É óbvio, seguindo os impulsos vindos das grandes
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corporações, que financiavam campanhas publicitárias que incentivavam o
consumismo. O que ela disse literalmente foi: “compre e jogue fora”.,
(SEVEM:1992). O que ainda é uma realidade dramática em nosso tempo
histórico.
O impulso para o consumo é um dado real e concreto na sociedade pós-
moderna para tanto, vejamos, o que BRUNE., deixou registrado sobre essa
mesma temática:
“O mundo do consumo eufórico, onipresente, impõe-se a cada um como
lugar natural da vida social e meio essencial para dar rédeas soltas à
personalidade (...). Existir é consumir, eis tudo. Escolher uma marca é
conferir-se uma identidade, como indica esta pequena antologia: “Meu
creme, sou eu”, “Meu corsa, sou eu” (...) sem esquecer o “clássico” do
pensamento pessoal oferecido a todos “Seja diferente: pense Pepsi”...(..)
Isso não passa de mais um exemplo banal da interiorização pelos
dominados do modelo dominante”. (BRUNE:2000)
A euforia como elemento motivador para o consumismo é uma
característica visível na sociedade pós - moderna, contudo, BRUNE, indica uma
proximidade de surgir uma patologia insidiosa no meio social, pois o sujeito acaba
se confundido no objeto. Daí, podemos mais uma vez inverter a máxima
cartesiana na seguinte proposição: Consumo, logo existo. Se existo a minha é
mais visível quando o “eu” , sujeito pensante, perde sua identidade e passa a ser
escravizado pelo objeto, pois, as coisas passam a ser interiorizado pelo sujeito,
sendo que, o sujeito passa a viver em função do querer ter cada vez mais e mais.
Muitas vezes as campanhas publicitárias têm a função passar a ideia que a
pessoa será melhor ou mais moderna se ter este ou aquele produto.
Nesta dimensão é interessante se plasmar com a descrição de LEBOW,
Victor., analista de venda e “guru” de economia, que disse após segunda
guerra mundial e que está presente no filme analisado:
“Nossa economia altamente produtiva exige que façamos o consumo
nosso meio de vida, que devemos converter a compra e o uso desses
bens em rituais, que busquemos nossa satisfação espiritual, a satisfação
19
do nosso ego, (...) em consumo. Precisamos ter coisas consumidas,
queimadas, substituídas e descartadas de modo mais e mais
acelerada”.(LEONARD:2006)
A cineasta, enfatiza bem o papel dos EUA no cenário mundial em relação
ao comércio, conforme o que foi dito por LEBOW após o final da segunda
mundial. Neste sentido, ela afirma que essas ideias vão tomando forma e corpo
aos longos dos anos, o que está levando as pessoas na sociedade fazer escolhas
equivocadas, o que infelizmente poderá num futuro não muito distante o planeta
ao caos e a desordem cósmica, isto porque esta ideologia foi e vem sendo
espalhada por todos os continentes.
No que tange a outra ideia de obsolescência perceptiva, que se faz
presente na ideologia liberal no Ocidente, onde as pessoas precisam ficar
conectadas com as novidades do mercado, comprando e usando os bens e
produtos mais avançados e melhores, mesmo que já tenham este ou aquele
produto. Vejamos como vem sendo moldado culturalmente, na visão de
BERARDI, o Ocidente:
“A ideologia ocidental liberal é baseada em uma fantástica dupla ligação
ou injunção contraditória ao mundo dos excluídos. Esta injunção pode ser
enunciada assim: 1. Todos devem ser como nós ricos, consumistas e
felizes; 2. A condição pela qual somos ricos, consumistas e fazemos de
conta que somos felizes está justamente no fato de que todos os outros
não o sejam”.(BERARDI:2002)
Com esta premissa de alinhar consumismo com felicidade, BETTO, Frei
é mais enfático, quando transcreve os mandamentos da era do consumo.
Vejamos seus argumentos:
1º) Adorar o mercado sobre todas as coisas . Tudo se vende ou se troca: objetos, cargos públicos, influências, idéias etc. (...) Segundo o mercado, tombam os seres humanos, mas seguram-se os preços e “aumentam o lucro”. 2º) Não profanar a moeda, desestabilizando-a. Dizem que outrora povos indígenas sacrificavam vidas humanas para aplacar a ira dos deuses. Abominável? Nem tanto. O ritual prossegue; mudaram-se apenas os métodos. (....). 3º) Não pecar contra a globalização. Graças às novas tecnologias de comunicação, o mundo se transformou numa pequena aldeia. De fato, o
20
Planeta ficou pequeno frente às imensuráveis ambições das corporações transnacionais. Por que investir na proteção do meio ambiente se isso não aumenta o valor das ações na Bolsa? (...)
5º) Prestar culto aos sagrados objetos de consumo. Percorremos aceleradamente o trajeto que conduz da esbeltez física à ostentação pública de celulares, da casa de veraneio ao carro importado, fazendo de conta que nada temos a ver com a dívida social. Expostos à má qualidade dessa mídia eletrônica que nos oferta felicidade em frascos de perfume e refrigerante, alegria em maços de cigarro e enlatados, já não há espaço para a poesia nem tempo para curtir a infância. Perdemos a capacidade de sonhar sem ganhar em troca senão o vazio, a perplexidade, a perda de identidade.(...)”. (BETTO, Frei: 2001)
Enfim, aqui nos resta refletir como o profano vai se transformando em
sagrado na vida das pessoas de forma acentuada, já que a base da felicidade tem
de estar alinhado com as premissas de consumo, portanto, pode-se dizer que o
“ser feliz” conforme modelo liberal é: “Consumo, logo sou feliz”. É claro que tal
prerrogativa é absurda, mas, no entanto, se faz presente no imaginário social.
Desse modo, há conexões no que está transcrito com um trecho do filme, quando
a cineasta LEONARD, afirma que:
“(...) as pesquisas atuais mostram que a felicidade dos norte-americanos
estão entrando num processo de declínio, a felicidade teve seu pico na
década de 1950, engraçado, a mesma época que a febre consumista
explodiu, temos mais coisas,porém menos coisas que realmente nós
fazem felizes: amigos, passeios, piqueniques, contemplar o por do sol, se
encantar com o brilho das estrelas e do luar, boas conversas regadas com
humor e alegria, mais encontros reais menos virtuais....” (LEONARD:2006
- Grifo nosso)
Há um alinhamento claro das proposições deste filme na contramão do
consumismo, como também dos autores que estamos utilizando para
fundamentar nossa discussão, principalmente não só em relação a vivência plena
da condição humana, mas também da pessoa em sua integridade para construir
de fato uma realização plena, mas fora do consumo para ser feliz.
Contudo, é importante lembrar que o consumo tem de ser comedido e
responsável em pro do bem estar de todas as formas de vida que existe no
21
planeta terra. Enfim, não dá para pensar que o conceito de felicidade deve estar
vinculado ao consumismo.
Vejamos o que BAUMAN têm a nos dizer sobre as gerações de
pensadores anteriores, no que tange ao trabalho e consumo:
“Se os nossos ancestrais filósofos, poetas e pregadores morais refletiram se o homem trabalha para viver ou vive para trabalhar, o dilema sobre o qual mais se cogita hoje em dia é se é necessário consumir para viver ou se o homem vive para poder consumir. Isto é, se ainda somos capazes e sentimos a necessidade de distinguir aquele que vive daquele que consome”. (BAUMAN:1999, p.88 -89)
Num outro trecho de filme, a cineasta se apropria de um discurso do
Dwight D. Eisenhow para mostrar como a economia norte-americana foi
estruturada após segunda guerra mundial, citado por LEONARD, “O objetivo
último da economia americana é produzir mais de bens de
consumo”.(LEONARD:2006)
E, assim, no decorrer do filme, a cineasta LEONARD:2006., afirma num
tom de eufemismo:
“Como assim? E, a educação? A Saúde? Transporte Seguro? Sustentabilidade? Justiça? Como conseguiram adotar bens de consumo?” (LEONARD:2006).
Podemos dizer que é um trecho marcante do filme, quando a cineasta
diz: “Bens de Consumo”? E as outras coisas importantes? Talvez, podemos
imaginar que a história do Ocidente teria sido diferente e o futuro da humanidade
não seria tão assombroso como parece ser se os governos e corporações não
tivessem assumido essa proposição de consumismo.
Mas, o maior problema deste princípio, é justamente a expansão deste
modelo para outros países, como, no caso, o Brasil, onde a mídia no geral em
parceria, com as empresas produtoras de bens e empresas produtoras de ideias
vão impregnando a mente das pessoas com as ideias de compra fácil, através de
22
financiamento, compra a longo prazo e crediários. Isso cria uma bola de neve nas
sociedades contemporâneas e, essa é a ordem imposta pelas grandes
corporações, mas para as pessoas, especialmente as que possuem menos
recursos representa concretamente, o caos, a desordem, o conflito.
É, justamente, o que HALL, nos mostra neste trecho do seu livro :
“As pessoas que moram em aldeias pequenas, aparentemente remotas, em países pobres, do "Terceiro Mundo", podem receber, na privacidade de suas casas, as mensagens e imagens das culturas ricas, consumistas, do Ocidente, fornecidas através de aparelhos de TV ou de rádios portáteis, que as prendem à "aldeia global" das novas redes de comunicação”. (HALL:2006. p.74)
Por assim dizer, os argumentos de HALL vem de encontro com as
proposições de LEONARD, Annie, que estabelece conexões de venda e consumo
em todos lugares e para todas as classes sociais. No entanto, aquele que não é
levado ao consumismo conforme os moldes padronizados ou mesmo aqueles que
não podem ficam excluídos literalmente da sociedade e não podem participar da
festa de adoração ao “deus mercado”.
E, ainda sobre essa temática, HALL Stuart é mais direto quando afirma
que:
“Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de
estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens
da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais
as identidades se tornam desvinculadas —desalojadas —de tempos,
lugares, histórias e tradições específicos e parecem "flutuar livremente".
(HALL:2006, p.75)
Ao que tudo indica, fica evidenciado com HALL, como ocorre o
desajolamento das pessoas pelas regras criadas pelo mercado global e como
ocorre a substituição por novos padrões culturais do fazer e do agir das pessoas
nesta sociedade pós-moderna. Pode-se dizer, numa loucura descomunal, que
tudo isso é o começo do fim do lado sublime da cultura e de elementos idílicos
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locais numa velocidade intensa. E, no lugar vão moldando uma cultura
globalizante, amoral, hedonista e imediatista para o consumo de forma fervorosa
e voraz. Como afirma HALL, “a homogeneização cultural”.1 Neste modelo, as
pessoas e os grupos de menor poder e até mesmo a sociedade em si são apenas
“depósitos”, na perspectiva de educação bancária, (FREIRE:1987) de
informações que vão “corroendo o caráter” (SENNENT:2009) e distorcendo seus
gostos e interesses estéticos.
A cultura unificada estruturada pela globalização econômica molda as
pessoas por um modelo único e isso impede as pessoas de ser pensantes e
analíticas, pois:
“tudo é banalizado para neutralizar a análise critica. É o “pronto-
para- o- consumo” com o qual o público não avança de modo
algum na compreensão do mundo”. (BRUNE:2000)
Isso é o conflito entre o local e o global, que as vezes oculta criatividade,
que rompe a diversidade cultural numa única cultural, ou então colocando
elementos novos de acordo com os ideais de consumo.
Dentro dessa conjuntura, é fundamental voltar mais uma vez o nosso
olhar com nitidez no que diz respeito a dicotomia entre cultural local e global, que
é apresentada por HALL:
“(...) globalização está tendo efeitos em toda parte, incluindo o ocidente, e a “periferia” também está vivendo seu efeito pluralizador, embora num ritmo mais lento e desigual.(...), “pois”, (grifo nosso) a globalização é um processo desigual e tem sua própria geometria do poder” (HALL:2006 p.80)
Não há com negar que essa infiltração cultural da globalização vem
solapando as estruturas e os valores, intensificando as desigualdades e gerando
novas linguagens, mas totalmente desvinculadas de qualquer reflexão crítica,
inventiva e criativa.
No entanto, retomamos nossa reflexão com BAUMAN, que afirma que é
necessário ter a clareza de que o que acontece num lugar pode acontecer em
2.HALL, Stuart. A identidade Cultural na pós-modernidade.In: O global, o Local e o retorno da Etnia. Rio de Janeiro: DP&A Editora,2002, p.77
24
outros. Mas, vamos deixar o trecho selecionado ecoar em nossa reflexão:
“(...) ... num planeta aberto à livre circulação de capital e mercadorias, o
que acontece em determinado lugar tem um peso sobre a forma como as
pessoas de todos os outro lugares vivem, esperam ou supõem viver. Nada
pode ser considerado com certeza num "lado de fora" material. Nada pode
verdadeiramente ser, ou permanecer por muito tempo, indiferente a
qualquer outra coisa: intocado e intocável. O bem-estar de um lugar,
qualquer que seja, nunca é inocente em relação à miséria de outro. No
resumo de Milan Kundera, essa "unidade da espécie humana", trazida à
tona pela globalização, significa essencialmente que "não existe nenhum
lugar para onde se possa escapar". (BAUMAN: 2007- p.12)
Julgo que essas indagações são extremamente pertinentes ao nosso
objeto de estudo, pois com certeza se não houver uma mudança de paradigma
para romper com a obsolescência planejada ou perceptiva, as gerações futuras
não terão como escapar do colapso social e ambiental.
Por conseguinte, é sempre bom lembrar que, conforme as palavras de
NAPOLITANO que:
“(...) é muito importante perceber as estratégias de informação,
sensacionalismo, (...) e glamorização em torno de “produtos” diversos
(ídolos musicais, sabonetes, carros, bebidas, empresas), imprimindo-lhes
um sistema de valores morais, ideológicos, sociais e culturais. Apesar de
curtos, esses dois tipos de materiais televisuais condensam muitas
problemáticas e linguagens complexas, canais diretos com valores sociais
de segmentos específicos da sociedade ...”. (NAPOLITANO:2005 – p.280)
Neste sentido, caberá ao pesquisador e ou professor – educador ou
mesmo pessoas interessadas de “Organizações não Governamentais ou mesmo
segmentos do Poder Público” se apropriar dos discursos midiáticos e se colocar
como o interlocutor para desconstruir as falácias e os arranjos maquiados pelos
donos das grandes corporações que vão e vem abalando os princípios éticos e
humanísticos na pós-modernidade, onde tudo que é liquido flutua no ar.
Mas, independente da liquidez, fragilidade, efemeridade, fruição ou
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flexibilidade que permeia a sociedade pós-moderna, é preciso pensar, re-pensar,
criar, re-criar e reinventar formas e estratégias para a atuar neste contexto de
degradação da vida, que vem sendo demonstrado a mais de três décadas por
vários pesquisadores e ONGs
Por conseguinte, nos valemos das palavras de BOFF:
“Se não cuidarmos do planeta como um todo, podemos submetê-lo a graves riscos de destruição de partes da biosfera e, no seu termo, inviabilizar a própria vida no planeta. Basta que (...) continue irresponsavelmente poluindo as águas, envenenando os solos, contaminando a atmosfera e agravando as injustiças sociais entre o Norte e o Sul para se provocar um quadro apocalíptico” (BOFF:2009 – p.12)
Neste trecho, de seu livro, Ética da Vida, BOFF procura nos sensibilizar
sobre a importância de mudar as formas de se apropriar dos recursos da
natureza bem como outros autores, pois do contrário será prenúncio do fim, o
começo da agonia, o que completa e vem de encontro com a reflexão de
BAUMAN, que afirma categoricamente que o ser humano diante da desordem
não terá como escapar.
Mesmo que estes questionamentos tenham sido há mais de um ano, tais
questionamentos e argumentos, continuam bem atuais, pois pouco foi feito de
concreto para pensar uma nova maneira de romper com este ciclo, pelo contrário,
houve um aumento significativo desta cadeia que foi elencada pela cineasta em
seu filme.
Nesta linha de pensamento, sobre a exclusão, a filósofa Olgária Matos,
nos mostra como essa massa de caminhante é tratada pelos donos das grandes
corporações que dão as ordens e coordenam as ações em boa parte do comércio
mundial, que alimenta e sugere o consumo para todos, mas nem todos podem
fazê-lo. No entanto, deixam rastros de humilhação, por não poder consumir.
“Encontra-se aqui o mal-estar contemporâneo que se expressa em um
sentimento de monotonia ou “tédio crônico”, monotonia que conduz a um
desinvestimento em valores. Tudo isso se passa em uma temporalidade
26
monótona, específica de uma sociedade organizada, também, de maneira
específica - e que é uma desorganização da consciência social pelo
sentimento de desvalorização de si e de humilhação: “a privação
específica de si, a questão do sentimento mais do que o da consciência da
humilhação, do não reconhecimento de si pelo outro, encontra-se no cerne
da humilhação nas sociedades contemporâneas”18. Tanto mais humilhante
é uma situação quanto mais cada um é chamado a consumir e quanto
menos poderá fazê-lo. Desprezo dos dominantes, por um lado,
humilhação dos excluídos do luxo e da abundância, de outro, resultam em
apatia e hiperatividade - ambos os sintomas de excessos - de frustração,
de possibilidade de consumir efetivamente o que o que quer que seja.
Esse tempo patológico é preenchido por esportes radicais, obesidade
mórbida, anorexia, bulimia, terrorismos e guerras contemporâneos. Esta
agitação permanente é a expressão do empobrecimento psíquico e da
perda de qualquer sentido da vida - de onde a “desvalorização de todos os
valores”. A contemporaneidade é a do “crepúsculo do dever”, pois requer
tão somente uma “ética indolor” à qual corresponde ausência de
normatividade na vida pública, a descrença nas instituições, na
aplicabilidade e na eficácia das leis”.(MATOS:2008)
O que MATOS nos mostra é uma análise clara e objetiva sobre as
artimanhas das grandes corporações que estão atuando praticamente em boa
parte da sociedade mundial, por conta da globalização econômica que vai se
apropriando de recursos, expulsandos os moradores de suas comunidades.
O lamentável são as contradições, expulsa e transforma em andarilhos
errantes, fazem promessas hilariantes, induzem ao consumo, mas nem todos têm
e não podem para participar desta “Santa Ceia do Consumo”. Resultado:
humilhação, desprezo, alguns resistem e não entram em depressão, já outros
ficam totalmente apáticos a tudo e a todas as coisas. É a descrença nas
instituições.
A “mídia” e a “tic” vão bombardeando, as massas ao consumo de tudo e
todas as coisas, desde bebidas até celulares ultramodernos, mas depois de seis
meses são obsoletos, pois já tem um melhor esperando por você na vitrine, isto é
um jogo de sedução. As pessoas não podem comprar tudo, então veem à
27
descrença em tudo e em todos. E , nesse jogo de sedução, as pessoas deixam
ser contaminadas pelos vírus do consumismo exagerado e esquecem de pensar
na amplitude da questão e se realmente aquele produto é necessário, já que as
campanhas publicitárias vão gerando a necessidade de comprar coisas que não
se precisa.
Mas, retomando o pensamento de BOFF, veremos que caminhos são
indicados em relação a temática muito bem estruturada no filme pela cineasta
norte americana:
“1. Cuidado com o nosso único planeta Cuidado todo especial merece nosso planeta Terra. (...), pois, o assalto predador do processo industrialista dos últimos séculos esse equilíbrio está prestes a romper-se em cadeia. (...) Parca é a consciência que pesa sobre o nosso belo planeta. Os que poderiam conscientizar a humanidade desfrutam gaiamente a viagem em seu Titanic de ilusões. Mal sabem que podemos ir ao encontro de um iceberg ecológico que nos fará afundar celeremente.(...)”
“3. Cuidado com a sociedade sustentável Atualmente quase todas as sociedades estão enfermas. Produzem má qualidade de vida para todos, seres humanos e demais seres da natureza. E não poderia ser diferente, pois estio assentadas sob modo de ser do trabalho entendido como dominação e exploração da natureza e da força do trabalhador.(...) Não se trata somente de impor “Limites ao Crescimento” (título da primeira solução apresentada em 1972 pelo Clube de Roma) mas de mudar o tipo de desenvolvimento. Diz-se que o novo desenvolvimento deve ser sustentável. Ora, não existe desenvolvimento em si, mas uma sociedade que opta pelo desenvolvimento que quer e que precisa. Dever-se-ia falar de sociedade sustentável ou de um planeta sustentável como pré-condições indispensáveis para um desenvolvimento verdadeiramente integral. Sustentável é a sociedade ou o planeta que produz o suficiente para si e para os seres dos ecossistemas onde ela se situa; que toma da natureza somente o que ela pode repor; que mostra um sentido de solidariedade generacional, ao preservar para as sociedades futuras os recursos naturais de que elas precisarão. Na prática a sociedade deve mostrar-se capaz de assumir novos hábitos e de projetar tipo de desenvolvimento que cultive o cuidado com os equilíbrios ecológicos e funcione dentro dos limites impostos pela natureza. Não significa voltar ao passado, mas oferecer um novo enfoque para o futuro comum. Não se trata simplesmente de não consumir, mas de consumir responsavelmente.
5. Cuidado com os pobres, oprimidos e excluídos Um dos maiores desafios lançados à política orientada pela ética e ao modo-de-se-cuidado é indubitavelmente o dos milhões e milhões de pobres, oprimidos e excluídos de nossa sociedade. Esse antifenômeno resulta de formas altamente injustas da organização social hoje mundialmente integrada.
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Com efeito, graças aos avanços tecnológicos, nas últimas décadas verificou-se um crescimento fantástico na produção de serviços e bens materiais, entretanto, desumanamente distribuídos, fazendo com que 2/3 da humanidade viva em grande pobreza. Nada agride mais o modo-de-ser-cuidado do que a crueldade para com os próprios semelhante. Como tratar esses condenados e ofendidos da Terra? A resposta a esta pergunta divide, de cima a baixo, (...) Cresce mais e na convicção de que as estratégias meramente assistencialistas e paternalistas não resolvem como nunca resolveram os problemas pobres e dos excluídos. Antes, perpetua-os, pois os mantêm na condição de dependentes e de esmoleres, humilhando-os pelo reconhecimento de sua força de transformação da sociedade. (BOFF:1999.)
Como podemos perceber BOFF:1999., é ainda mais direto e nos convida
a cuidar mais de perto do nosso belo planeta, com paixão e entusiasmo bem
como de usar os recursos da natureza com mais responsabilidade e
principalmente nos convida a cuidar da massa de caminhantes excluídos do
sistema e da regra imposta pelas grandes corporações.
Enfim, BOFF, nos mostra caminhos relevantes que devem ser
analisados, tais como cuidar ternamente do nosso planeta, das nossas águas, do
nosso solo, de usar com responsabilidade nossos recursos, alinhando sobretudo
e principalmente com a questão da sustentabilidade como um ético.
Diante deste contexto e de toda a explanação teórica sobre esta
temática, o que se pode fazer? A globalização econômica é real, a exclusão é um
dado real e concreto, queria não afirmar, mas senão afirmar estarei entre aqueles
que concordam com as injustiças, a opressão e demais adjetivos perversos
criados pela globalização econômica.
Dessa forma, vejamos o que nos tem a dizer SARAMAGO, sobre esta
brutal realidade:
“(...)se não interviermos a tempo, isto é, já, o rato dos direitos humanos acabará por ser implacavelmente devorado pelo gato da globalização econômica...”.(SARAMAGO:2002)
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Faço das palavras de Saramago as minhas, pois não dá para ficar de
braços cruzados, o que está em questão: é a vitória ou derrota da vida em todos
os aspectos, isto é, uma paixão humanizadora e descomunal com a nossa mãe
terra, com a massa de caminhantes, que estão sendo privados de direitos
básicos, nós todos sabemos, só sabemos e nada mais.
E, como deve ser a nossa intervenção, o próprio SARAMAGO, indica o
caminho, o seu caminho, o nosso caminho de pessoas que tivemos e estamos
tendo a ainda a oportunidade de frequentar um seleto grupo de pessoas bem
conscientes e portadores de conhecimentos que vão além do senso comum, um
conhecimento mais elaborado que não se deixa ser levado por babados
dominicais ou mesmo de programas enlatados que nos transforma em “objeto” de
manipulação, mas que infelizmente nos deparamos muito no cotidiano do nosso
trabalho.
Contudo, não podemos radicalizar afirmando que as pessoas podem
ficar alienadas assistindo alguns programas dominicais ou então alguns enlatados
que nos moldam de acordo com esta ou com aquela ideologia. A questão
principal são as escolhas. As escolhas feitas podem determinar mais qualidade de
vida ou não. Entre assistir programas que defende a vida plena ou ficar perdendo
tempo com programas pouco educativos, fico com a primeira opção. Enfim, o
melhor é fazer sempre as escolhas certas.
Mas, então, o que SARAMAGO sugere:
“Que fazer? Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute. Ora, se não estou em erro, se não sou incapaz de somar dois e dois, então, entre tantas outras discussões necessárias ou indispensáveis, é urgente, antes que se nos torne demasiado tarde, promover um debate mundial sobre a democracia e as causas da sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os Estados e o poder econômico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, ou, falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos
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juntos. Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo”.(SARAMAGO:2002)
É, novidade? Não! Mas que alternativa temos? Socialismo? Uma
terceira via? Qual? Bom, particularmente, considero um encaminhamento
instigante a proposta de SARAMAGO, que coloca como premissa maior um
repensar mais significativo do ser e do viver do ser humano numa sociedade
democrática. Enfim, considero instigante pensar uma sociedade democrática,
onde os discursos deixam de ser palavras mortas, mas que sejam carregadas de
ações concretas pelo fim da exclusão social e do uso irresponsável dos recursos
da natureza. As pessoas no mundo estão indignadas com tantas falcatruas e
corrupção. É uma realidade, grande parte da população mundial, estão afirmando:
“os governos não estão representando os interesses das pessoas”.
É preciso pensar novas estratégias sociais de combate as injustiças
sociais, como afirma Zygmunt Bauman:
“Precisamos urgentemente de novos conceitos, para acomodar e organizar nossas experiências de uma forma que permita perceber sua lógica e ler as mensagens escondidas”. (BAUMAN:2010,p.80)
Procurando alinhar com as necessidades de pensar novas possibilidades
de ações políticas que possam garantir mais inclusão social se faz necessário
buscar uma nova cultura política, fora dos moldes vivenciados em todas
sociedades. Então, é necessário aprofundar com mais ética o conceito de
democracia na atualidade. Como fazer? Mobilizando, engajando-se em
movimentos sociais e ambientais, nos sindicatos, associações de moradores, nas
cooperativas, enfim, em todos os segmentos sociais, e principalmente nas
escolas, todas as escolas precisam ir além do seu muro, tornar “a escola na vida
e a vida na escola”.
Mas, quando afirmamos da importância de ter uma escola na vida e a
vida na escola, não é na concepção defendida pelas grandes corporações, como
é apresentado por Moacir Gadotti:
“(...) O neoliberalismo concebe a educação como uma mercadoria, reduzindo nossas identidades a meros consumidores...” (GADOTTI: 2009, p.27.)
31
Mas, uma escola , onde professores e gestores priorizam uma formação
para a vida, longe obviamente dos moldes neoliberais, mas perto, bem perto, de
uma educação humanista e democrática. Onde tudo que é ensinado seja
carregado de significado. É inaceitável uma educação que prioriza uma formação
de meros consumidores, pelo contrário, precisamos pensar uma educação que
faça abordagens humanistas e que possa qualificar as pessoas no sentido critico
e analítico. Existem muitas pessoas dispostas para fazer do nosso mundo um
lugar melhor para se viver, mais justo, e com mais dignidade.
Mas, por que antes de refletir sobre a democracia falamos de educação?
Porque somente pessoas bem conscientes, dotadas de saberes e conhecedoras
de uma quantidade imensa de conceitos e palavras terão mais condições de
participar do processo de discussão e reflexão sobre essa nova maneira de
pensar a democracia, pois se trata de uma democracia planetária.
De uma coisa todos temos certeza, precisamos ter esperança e sonhos. É
fácil promover um debate sobre o conceito de Democracia? Não...! Mas, o que é
fácil na vida marcada com ética e justiça? Nada...! Então, todo começo, começa,
começando, assim como jogo de futebol começa como o apito do juiz.
Em primeiro lugar vejamos o que Paulo Freire nos deixou escrito sobre o
regime democrático:
“precisamos de uma democracia onde o Estado deixa de assumir
posições silenciosas ou autoritárias, passe a respeitar realmente a
liberdade dos cidadãos e dar condições para que os cidadãos
possam democraticamente enquanto responsável pelo
desenvolvimento econômico seja também capaz de promover a
solidariedade social e a justiça com dignidade” (FREIRE:2000 –
Grifo Nosso)
Para tanto, faço-me das palavras de FREIRE, Paulo, as minhas quando
renunciou os princípios da democracia liberal, pois tais princípios com certeza
fogem dos moldes da alegria do aprender a ser mais.
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Nessa linha de pensamento que abraço, o sonho e a esperança
precisam acontecer e fazer parte ação humana em toda a sua dimensão. Mas,
sonho regado com luta e crença na capacidade dos homens, mas homens de boa
vontade. Tal afirmação vem de encontro com afirmação que foi escrita pelo
sociólogo polonês:
“...Existe, porém, uma terceira atitude possível: a esperança, da
confiança na capacidade que o ser humano tem de ser sensato e
digno. Acredito que o mundo que habitamos pode ser melhor que
hoje e podemos fazer com que ele seja mais “amigável”, mais
hospitaleiro, para a dignidade humana...”.(BAUMAN: 2010, p.81)
Pensamento de Bauman que pode ser comparado com a linha de
pensamento de Paulo Freire que afirma:
“O futuro não nos faz. Nós é que nos refazemos na luta para fazê-
lo”. (FREIRE: 2000, p.27)
Enfim, o homem se quiser pode transforma a humanidade e agir em pro
da ética e da cidadania, afinal ele faz a história e a história de inclusão somente
poderá acontecer se houver um querer, um agir e um movimento “para” e “com” o
outro, com a intenção clara de tirar os andarilhos da estrada sem rumo.
Nessa mesma perspectiva de mudança e consciência temos um trecho
selecionando da obra de Moacir que nos mostra:
“Não se pode mudar o mundo sem mudar as pessoas: mudar o mundo e mudar as pessoas são processos interligados.Mudar o mundo depende de todos nós: é preciso que cada um tome consciência e se organize em coletivos, redes e multidões. Educar para outros mundos possíveis é educar para superar a lógica desumanizadora do capital que tem no individualismo e no lucro seus fundamentos, é educar para transformar radicalmente o modelo econômico e político atual.Educar para outros mundos possíveis exige dos educadores um compromisso pela desmercantilização da educação e uma postura ecopedagógica de escuta do universo (...),considerando a todos e a todas como cidadãos e cidadãs da mesma Mátria.(GADOTTI: 2004. p.31e32)
33
Penso ser de grande relevância que a proposição de mudança tem como ponto de partida, o sair do singular para chegar no plural no contexto político, social e humano com a intenção clara de romper com os ideais das grandes corporações, que vem estimulando numa velocidade imensa o consumismo patético de bens e produtos, as vezes produtos supérfluos e que estão em pleno funcionamento. Nesse sentido, podemos dizer que o resultados serão significativos, contudo, retomo a ideia da importância das pessoas receber uma excelente formação escolar, mas uma formação fora dos moldes da democracia liberal.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Bom, antes de qualquer coisa, acredito que as indagações sobrepostas
até o momento nos deram inúmeras possibilidades de reflexão. Mas, todos nós
sabemos que tudo que falamos e escrevemos, sempre nos sensibiliza e sempre
sensibiliza os outros. Uma questão crucial que deve fazer parte da nossa vida é
ver “o ser humano”, na sua condição de pessoa, de ser gente, de olhar para o
outro não com indiferença, mas com alteridade, no sentido de colocar-se no lugar
do outro numa relação interpessoal, tentando imaginar o que o outro sente
quando é excluído e colocado como um andarilho sem rumo conforme os
requisitos da globalização. Imaginar na pele e no coração, o que outro sente,
dialogar com o outro, quando o outro é banido da convivência social e humana e
principalmente se fazendo amigo, partilhando o pão alimento e o pão da alegria
com ternura no jardim da cidadania e da solidariedade. Uma alegria que envolve
cumplicidade por um mundo melhor, que levará certamente o ser humano a
consciência do dever cumprido e da responsabilidade partilhada.
Mas, o que tudo isso tem a ver com a nossa reflexão? Nada e Tudo.
Nada, se ficarmos reproduzindo o besterol que foi e vem sendo criado por
gatunos e espertalhões de vem tirando proveito dos privilégios da globalização
econômica. Tudo, se começarmos a pensar uma outra realidade, que seja
pautada pela ética, pela solidariedade ativa, pela construção e vivência da
cidadania, no dizer de BOFF:
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“(...)conceder a cidadania à nossa capacidade de sentir o outro, de ter
compaixão com todos os seres que sofrem, humanos e não humanos, de
obedecer mais à lógica do coração, da cordialidade e da gentileza do que
à lógica da conquista e do uso utilitário das coisas...” (BOFF:1999)
O ser humano somente poderá conseguir realizar melhor as coisas e
com uma amplitude maior quando nas relações sociais, agir na medida e na justa
proporção de deixar de lado, tudo aquilo, que fere, que exclui e brutaliza o outro
para agir numa interação entre coração e razão, mas sem jamais querer
comover ou tirar proveito pessoal.
Neste aspecto ao colocar essa interação, entre razão e coração, a
invisibilidade torna-se mais nítida aos nossos olhos, a invisibilidade do que está
por trás das intenções e proposições das grandes corporações que controlam o
comércio mundial. Por conseguinte, este filme é uma celebração para a
conscientização em oposição ao consumismo exagerado e irresponsável, que não
canalisa energias para um fazer mais ético e pautado na cidadania.
No decorrer desta nossa reflexão procuramos mostrar como são as
estratégias de produção de bens e mercadorias bem como procuramos relacionar
tais mercadorias e bens com os mecanismos de divulgação na sociedade,
principalmente com a consolidação da indústria cultural e com a chegada da tic =
tecnologia de informação e comunicação. Isso é o enredo do filme, pois o filme
criar um grande impacto para as pessoas se plasmar e a partir desses caminhos
abrir possibilidades para reinventar níveis elevados de conscientização.
Nesta perspectiva, a ideia do belo, de viver como celebridades e
conquistar o sucesso é colocado como um movimento permanente, que estão
vinculadas diretamente com os ideais de consumo. Com isso, repete uma velha
forma do capitalismo: a geração de riqueza e acumulo de capital nas mãos de
uma minoria em detrimento da exploração da maioria, que estão indo cada vez
mais para o submundo dos “sem nada”. Isso nos incomoda.
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Como já foi transcrito este filme mostra como as grandes corporações,
numa relação de interação e aliança - empresários, produtores de mercadoria e
bens de consumo - e de ideias, se unem para que tudo seja vendido e ambos
tenham lucros e mais lucros.
Enfim, como registra NAPOLITANO
“este filme em questão traduz uma realidade preocupante com o
futuro da vida, mostrando fatos no presente mas resgatando
elementos no passado, já que o presente é o resultado de um
passado recente. Como afirma, Eduardo Moretin, ao dizer que: o
filme é um resgate do passado e um testemunho do presente, mas
ao mesmo tempo é um prenúncio do futuro.” (NAPOLITAN:2005 -
p.243, 244- Grifo Nosso)
No que tange ao prenúncio do futuro, a cineasta é bem contundente
quando apresenta as consequências drásticas em relação à obsolescência
planejada pelas grandes corporações que induzem a permanente
descartabilidade. Enfim, ela mostra como é nova face do capitalismo na
sociedade pós-moderna e como o sistema linear de produção vem prejudicando o
nosso planeta.
Finalmente, o que devo deixar registrando como considerações finais?
Mais uma vez quero voltar no texto do SARAMAGO que afirma categoricamente:
“Não tenho mais que dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um
instante de silêncio. O camponês de Florença acaba de subir uma vez
mais à torre da igreja, o sino vai tocar. Ouçamo-lo, por favor”
(SARAMAGO:2002)
O que tem de ser escrito, já está mais do que escrito, ditado e re-editado,
cabe a nossa ação para encontrar alternativas e estratégias que sejam eficazes
diante de todo este contexto dramático apresentado no filme e amplamente
refletido, especialmente nos textos de BAUMAN, HALL, NAPOLITANO, MATOS,
SARAMAGO, BOFF, BRUNE, BETTO E LEAL.
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Assim, neste exato momento que acabo de escrever “TCC” até o dia da
apresentação do mesmo, infelizmente, teremos um aumento significativo de
andarilhos sem rumo, sem pátria, pedindo uma pequena oportunidade de catar os
restos, as migalhas da “Santa Ceia dos Ricos” , proprietários das grandes
corporações, onde nenhum quer lavar o pé do outro. No entanto temos algumas
pessoas, algumas empresas , diversas ongs, diversas comunidades religiosas e
inúmeros educadores querendo quebrar os elos da corrente da globalização
econômica. Meus respeitos.
Para finalizar, parafraseando SARAMAGO, quero pedir um instante de
silêncio: Um andarilho está fazendo inúmeros malabarismos e acrobacias para
ter nem seja apenas um dia de reconhecimento e valorização pela pessoa que é,
hei é só um dia, e esse mesmo andarilho está nos chamando para juntos
desenterrar, tirar toda a terra, o óculos escuro, a venda que está escondendo a
“justiça”. Ele não é nenhuma celebridade, é apenas um querendo ser visto como
gente, como pessoa e como cidadão.
A ele e tantos outros que sabemos que estão nesta situação, o nosso
silêncio e a certeza que nada será em vão. Ele não está sozinho, tem muita gente
querendo inverter a lógica da exclusão, pois é preciso urgentemente resgatar
valores humanos significativos, como o que foi afirmado por BAUMAN,:“(...) o
mais precioso dos valores humanos, (...) é uma vida de dignidade, não a
sobrevivência a qualquer custo”.³
Então, que juntos possamos pensar em construir um mundo como sendo
um lugar melhor para se viver, mais justo, com fraternura, na solidariedade social
e planetária.
_________________________________________________________________
3. BAUMAN. Zygmunt. Capitalismo parasitário. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. p.44.
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Anexos
A Falta de Emprego.
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Lixos Eletrônicos.
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