sao sebast rj terras fatos

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  • T E R R A S E F A T O SC I DA D E D E S O S E B A S T I O D O R I O D E J A N E I RO

  • P R E F E I T U R A D A CIDADE DO RIO DE JANEIROCesar Maia

    S E C R E TA R I A M U N I C I PA L DAS CULT U R A SR i c a rdo Macieira

    ARQUIVO GERAL D A CIDADE DO RIO DE JANEIROAntonio Carlos Austregsilo de Athayde

    DIVISO DE P E S Q U I S ASandra Hort a

    CONSELHO EDITO R I A L

    Antonio Carlos Austregsilo de Athayde (pre s i d e n t e )

    Afonso Carlos Marques dos Santos (in memoriam)Andr Luiz Vieira de Campos

    Antonio To rre s

    Carlos LessaEliana Rezende Furtado de Mendona

    Franco Paulino

    Jaime Larry BenchimolLana Lage da Gama Lima

    Luciano Raposo de Almeida Figueire d o

    Maurcio Abre uP e d ro Lessa

    Sandra Hort a

    Vera Lins

  • T E R R A S E F A T O SC I DA D E D E S O S E B A S T I O D O R I O D E J A N E I RO

    A u r e l i a n o R e s t i e r G o n a l v e s

    E d i o c o m e m o r a t i v a d o s 11 0 a n o s d oA r q u i v o G e r a l d a C i d a d e d o R i o d e J a n e i ro

    2 0 0 4

    P R E F E I T U R A D A CIDADE DO RIO JANEIRO

    S E C R E TA R I A DAS CULT U R A S

    ARQUIVO GERAL D A CIDADE DO RIO DE JANEIRO

    DIVISO DE PESQUISA

  • COLEO MEMRIA C A R I O C AVOLUME 04

    2004 by Aureliano Restier Gonalves

    D i reitos desta edio re s e rvados ao Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro da Secretaria Municipal das Culturas.P roibida a re p roduo, total ou parcial, e por qualquer meio, sem expressa autorizao.

    Printed in Brasil Impresso no BrasilISBN: ??????????

    O rganizao e edioSandra Hort a

    C o - o rg a n i z a d o re sAna Lucia Eppinghaus BulcoA l b e rto Taveira Eulalia JunqueiraMaria Celia Fern a n d e s

    A p re s e n t a oN i reu Cavalcanti

    P reparao dos textosSandra Hort aPaulo Roberto Arajo dos Santos

    Glossrio, quadro de logradouros e notas histricasA l b e rto Ta v e i r aEulalia JunqueiraMaria Celia Fern a n d e s

    Biografia do autorAna Lucia Eppinghaus Bulco

    Transcrio paleogrfica dos documentosGracilda Alves

    O rganizao da bibliografiaElza Elena Pinheiro dos Santos

    R e p roduo fotogrfica das imagensM a rco Bellandi

    Estagirios do laboratrio de fotografiaJoo Barbosa, Fabrine Mazelli, Ronald Nunes

    Digitalizao das imagensCarlos Henrique Bern a rd o

    Reviso de textoAndr Te l l e s

    P rojeto grfico e tratamento de imagens6D Estdio : Beto Mart i n s

    C o l a b o r a d o re sDomcia GomesCleide Ferraz FrazoJunia Gomes da Costa Guimares e SilvaE rclia Severina MendonaRegina Vilma Guill iodRita de Cssia de MattosRogrio Rodriguez Fernandez FilhoRosa Maria DiasSonia Maria Magalhes Neto

    C o n s u l t o r i aDiva Graciosa

    Ficha c atalogr fica

    Gonalves, Aureliano Restier, 1881-1967 G635 Cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro: terras e fatos / Aureliano Restier Gonalves. Rio de Janeiro:

    Secretaria Municipal das Culturas, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 2004.404p., il. (Coleo Memria Carioca, vol.4)

    1. Aforamento Rio de Janeiro(RJ). 2. Terras pblicas Rio de Janeiro(RJ). 3. Rio de Janeiro(RJ) Histria. I. Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. II.Ttulo. III. Srie.

    CDD 346.044CDU 333.1(815.41)

    ARQUIVO GERAL D A CIDADE DO RIO DE JANEIRORua Amoroso Lima, 15, Cidade Nova.2 0 2 11-120 Rio de Janeiro RJTelefax: (21) 2273-4582 / 2273-3141E-mail [email protected]. b rSite: www. r i o . r j . g o v. / a r q u i v o

  • s/a, s/d. Rua Visconde de Inhama.

  • Augusto Malta, s/d. Pao Municipal.

  • Se pensarmos na herana e nas tradies que formam e conformam o esprito e o ser carioca,estaremos falando de um patrimnio que nos singulariza mas, ao mesmo tempo, nos tornaparte integrante da Nao brasileira. Patrimnio que foi construdo, preservado e legado,atravs dos sculos, s geraes subseqentes e que nos permite saber hoje quem somos, apartir do conhecimento que acumulamos do que j fomos no passado.

    No entanto, esse conhecimento seria impossvel se homens e mulheres de todos os temposno se tivessem preocupado em guardar, cuidar e conservar para o futuro parte do que foicriado, erguido e desenvolvido pelas populaes que viveram no Rio de Janeiro desde a suafundao, por Estcio de S, em 1565, at os dias atuais.

    Lutando primeiro para conquistar a terra, nela fixar-se e sobreviver, posteriormente para v-la crescer e prosperar, os cariocas foram edificando um significativo patrimnio, do qual,apesar do esforo de muitos abnegados, muito se perdeu devido s invases estrangeiras, aincndios acidentais e criminosos, a intervenes urbansticas desastrosas e mesmo incria,indolncia ou descaso de seus administradores e de seus cidados.

    Atualmente, existe maior conscientizao sobre a necessidade de se preservar os smbolos,os valores e os bens culturais de uma sociedade, verdadeiros documentos de sua identidade.E por compartilhar a noo de que o inventrio das fontes documentais produzidas pelaadministrao pblica constitui uma iniciativa da maior importncia no s para preencherlacunas na nossa Histria, mas tambm para fornecer ao gestor pblico instrumentos einformaes que o ajudem a planejar e definir polticas para a coletividade, que nospreocupamos em dotar o Arquivo da Cidade de mecanismos que possibilitam identificar erecolher os documentos gerados pelos rgos municipais e dar um tratamento condigno a seuacervo.

    A lei 3404, de 6 de junho de 2002, que instituiu a Poltica Municipal de Arquivos Pblicose Privados e o decreto n 20.113, de 25 de junho de 2001, que criou o Sistema de Memriada Cidade conferiram ao rgo prerrogativas que o capacitam a orientar, coordenar eexecutar uma poltica abrangente de preservao documental e, conseqentemente, demanuteno da memria.

    As datas comemorativas constituem excelente oportunidade para despertar a ateno docidado e dos administradores sobre o fato ou acontecimento que est sendo celebrado.Assim, a publicao deste livro, nas comemoraes dos 110 anos da criao do Arquivo daCidade, constitui um atestado da importncia da pesquisa, do acesso e divulgao dosdocumentos para a anlise, interpretao e compreenso do nosso passado.

    Cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro Terras e Fatos, mais do que um ttulo queenriquece a literatura especializada sobre a cidade, um tributo que se presta a um antigofuncionrio dos quadros da instituio, Aureliano Restier Gonalves, pesquisador obstinadoe apaixonado pelo Rio de Janeiro.

    CESAR MAIAP refeito da Cidade do Rio de Janeiro

  • Augusto Malta, 31/8/1920. Morro do Castelo.

  • Esta edio comemorativa dos 110 anos do Arquivo da Cidade vem atender a umareivindicao antiga dos pesquisadores e estudiosos da histria do Rio de Janeiro. Obra quedescreve a trajetria dos principais e mais tradicionais logradouros de nossa cidade desdea sua abertura at a poca em que o livro foi escrito (1949/1964); os diferentes nomes queessas ruas adquiriram com o passar dos sculos; a origem, muitas vezes curiosa, dessasdenominaes; as querelas que se estabeleceram entre a municipalidade, que reivindicava osenhorio das terras, e os posseiros; os instrumentos legais e as artimanhas de toda sorte queacabavam por garantir aos legtimos donos ou aos usurpadores a posse dos terrenos.Minuciosa descrio elaborada durante 15 anos, presta um servio inestimvel queles quebuscam explicar como a nossa cidade surgiu, cresceu e se expandiu.

    Por outro lado, no poderia haver melhor escolha para comemorar uma data to auspiciosado que a publicao de um livro escrito por um funcionrio da Prefeitura, demonstrando ozelo de um servidor no s com a documentao que estava sob seus cuidados, procurandoreunir e sistematizar dados que poderiam perder-se com o passar do tempo, como a vocaode investigador criterioso e atento verdadeiro garimpeiro em busca das gemas preciosas ,que resultou neste belo livro.

    E no por acaso, mas por ter freqentado muitos arquivos, Aureliano Restier Gonalves faz,no decorrer da narrativa, inmeras referncias s dificuldades que se antepunham ao trabalhodo pesquisador, empecilhos colocados por atendentes pouco atenciosos, que o impediam deconsultar os documentos de que necessitava para corroborar suas anlises, o desaparecimentode sries documentais de grande valor ou mesmo o estado lamentvel em que se encontravammuitas das fontes consultadas, tornando impossvel decifrar o que ali deixaram escrito osnossos antepassados.

    Cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro Terras e Fatos uma obra que no podefaltar na estante dos aficcionados pela histria da cidade e da gente carioca, mas traz tambmuma inegvel lio para todos os que se preocupam com a preservao da memria: anecessidade vital de cuidar dos arquivos pblicos e dos seus acervos, torn-los acessveis atodos, sem nenhuma espcie de interdito, tornando transparentes os atos da administraopblica e facilitando ao cidado a comprovao de seus direitos.

    Temos trabalhado com afinco para que o Arquivo da Cidade preencha esses requisitos e sejacada vez mais o Arquivo do cidado carioca, cumprindo a sua misso de colocar ao alcancedo estudante, do pesquisador, dos amantes das coisas da cidade material de referncia paraestudo, para simples deleite ou, quem sabe, um estmulo para a formao de futuroshistoriadores e arquivistas que, como Restier Gonalves, no deixaro que a memria seesvanea nos fundos de armrios e gavetas.

    RICARDO MACIEIRAS e c retrio Municipal das Culturas

  • P R E F C I O

    Em boa hora, o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro publica o original manuscrito deAureliano Restier Gonalves antigo funcionrio dessa instituio , guardado, como jiaque , no cofre, e de acesso muito restrito consulta. Com essa publicao, o AGCRJ retomaa prtica de seus antigos dirigentes de democratizar seu acervo, incentiva seus funcionrios produo de textos sobre a documentao da instituio, e contribui para a pesquisa sobrea histria da cidade. Feliz iniciativa tomada bem no ano de comemoraes de 110 anos deexistncia do AGCRJ. Iniciativa que vem se somar do prefeito Alaor Prata (16/11/1922 a1 5 / 11/1926), pois foi em seu governo que, em 1925, se publicou o trabalho de RestierGonalves intitulado ndices e Extratos do A rchivo Municipal do Rio de Janeiro.

    A presente obra, que Restier Gonalves nomeou Cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro Terras e Fatos e que data de 1949, foi escrita em sete cadernos; talvez por isso tenha sidoconcluda pelo prprio autor em outra data: 29 de outubro de 1963. Provavelmente planejavaele public-la em 1949, mas no concretizou seu sonho, felizmente realizado, com atraso de54 anos. Portanto, devemos ler essa obra de Restier Gonalves contextualizada em seutempo, relevando as limitaes, fruto das dificuldades que o dedicado funcionrio pblicodeve ter enfrentado para produzi-la.

    Para esse seu novo trabalho, o autor utiliza fartamente a documentao que usou no anterior,acrescentando-lhe muitas outras e avanando na proposta do texto. Agora no se tratasimplesmente de um extrato de documentos; um texto de historiador-cronista sobre acidade do Rio de Janeiro. Historiador formado na pesquisa documental primria quecompilou, analisou e que tambm encontrou em muitos outros arquivos que no apenas o doAGCRJ onde era servidor responsvel pela organizao do acervo. Quem hoje for pesquisarno AGCRJ ir encontrar a assinatura de Restier Gonalves em inmeros documentoscatalogados por ele.

    Portanto, a sua Histria calcada nas pesquisas realizadas, principalmente, no A r q u i v oNacional, no Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, na Biblioteca Nacional, noArquivo Judicirio, e na leitura dos principais autores que trataram da histria brasileira eda cidade do Rio, em especial Oliveira Lima, Francisco Adolfo de Varnhagen, Max Fleiuss,Gasto Cruls, Cnego Pinheiro, Simo de Vasconcelos, Roberto Southy, Luiz Gonalvesdos Santos (Padre Perereca), Baltazar da Silva Lisboa, Vieira Fazenda, Noronha Santos,Jos de Souza Azevedo Pizarro e Arajo, este, entre todos, o mais citado (M e m r i a shistricas do Rio de Janeiro) .

    Restier Gonalves limitou espacialmente a cidade do Rio, sobre a qual iria tratar em suahistria, principalmente, rea central, expandindo-a para os atuais bairros do Catumbi,Estcio, Cidade Nova, Sade e Gamboa, e para a direo Sul aos bairros da Lapa, SantaTereza, Glria, Catete, Flamengo, Laranjeiras, Cosme Velho, Botafogo, Humait, LagoaRodrigo de Freitas e Copacabana. Em geral adota um esquema: para todos os bairros traaum breve histrico, estuda os respectivos logradouros levantando minuciosamente osimveis da rea e seus proprietrios. O autor faz ainda estudos gerais sobre a histria daregio da Guanabara anterior fundao da cidade do Rio e sobre a ocupao dos francesesda Frana Antrtica e as aes luso-brasileiras para expuls-los da regio. Discorre com certadesenvoltura sobre a questo das sesmarias (legislao e sua aplicao no caso do Rio deJaneiro), sobre os terrenos de Marinhas e sobre a histria da implantao da iluminaopblica na urbe carioca.

  • verdade que falta obra de Restier Gonalves melhor sistematizao e adoo de regrasapropriadas escrita de histria urbana. Cabe ao leitor reconhecer o valor deste trabalhosobre a cidade, aproveitar as volumosas e variadas informaes inditas que soube incorporara seu estudo. Nele, o leitor encontrar, alm do histrico de muitos imveis importantes dacidade, como o do Palcio do Visconde do Rio Seco, do prdio do antigo Arquivo Nacionale dos demais que formam o quadriltero do campo de Santana, uma crtica do autor arquitetura do atual Palcio Duque de Caxias (prdio tombado).

    Enfim, a Cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro Terras e Fatos permanecer umafonte indispensvel a todo aquele que se interessa pelo estudo histrico da cidade do Rio deJaneiro. Portanto, as Notas que fao, ao longo do texto, visam apenas a ajudar o leitor amelhor entend-lo.

    NIREU CAVA L C A N T I (Rio de Janeiro, 25 de setembro de 2003)P rofessor e arquiteto Escola de A rquitetura e Urbanismo da UFF

    Imagem 11 s/a, s/d. Praa Jos de Alencar.Alm do monumento ao escritor, destaca-se o Hotel dos Estrangeiros, j demolido, onderesidiram ou se hospedaram vrias personalidades importantes, inclusive o senador gacho,Pinheiro Machado, assassinado no saguo do prdio.

  • N O TA S D O E D I TO R

    Publicar este livro significa concretizar um antigo anseio dos funcionrios do Arquivo daCidade, por inmeras razes. H muito tempo, os manuscritos originais encontravam-seencerrados no cofre da instituio, fato que, se lhes conferia o estatuto de obra rara, dificultavaque pesquisadores, estudantes e interessados na histria da cidade do Rio de Janeiro tivessemacesso s informaes preciosas, amealhadas por Aureliano Restier Gonalves ao longo de umavida totalmente dedicada pesquisa.

    Esta obra resulta de meticulosas investigaes em acervos documentais do Arquivo da Cidade edemais instituies afins, sediadas no Rio de Janeiro. Trata-se de estudo de um antigofuncionrio pblico do Arquivo da Cidade, e, como tal, representa a luta cotidiana de quantoslidam com a preservao da memria no pas, sob condies adversas j por demais conhecidase divulgadas. Se, por um lado, os obstculos, muitas vezes, acarretam perdas lastimveis, poroutro, constituem desafios que acabam por revelar o esprito empreendedor e criativo deadministradores, especialistas, intelectuais e tcnicos, quando se trata de restaurar, resguardar eproteger o nosso patrimnio.

    A edio de Cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro Terras e Fatos constitui, portanto,uma vitria do quadro funcional do Arquivo da Cidade. Resultado de um esforo coletivo,m u l t i d i s c i p l i n a r, da reunio de um conjunto de conhecimentos especficos, advindos daformao acadmica e tcnica de cada um; de muita paixo e persistncia para que esse legadono se perdesse ou permanecesse recluso e pudesse chegar a um pblico mais amplo,encontrando seu lugar nas bibliotecas e nas livrarias, ao lado das mais qualificadas anlises queengrandecem a literatura especializada sobre o Rio de Janeiro.

    A oportunidade para o tratamento dos originais com vistas publicao veio no bojo dascomemoraes dos 110 anos do Arquivo da Cidade. Assim, ao iniciarmos a tarefa de digitar ossete cadernos manuscritos, nos deparamos com a grande responsabilidade de trazer a pblicouma obra seminal no sentido das informaes que contm. A partir dessa constatao, seguiram-se as discusses de como apresent-la, tirando o melhor partido do seu contedo. Chegamos concluso de que seriam necessrias algumas pequenas intervenes, exigncias das tcnicascontemporneas de editorao. Acrscimos tambm deveriam ser introduzidos para auxiliarestudantes e pesquisadores iniciantes, a quem a obra tambm dirigida, democratizando o seuacesso. Obedecendo ao princpio de fidelidade aos manuscritos, fizemos algumas pequenasalteraes, sempre com o cuidado de no descaracterizar o texto, e que consideramos importantee s c l a r e c e r.

    De forma a tornar a leitura mais agradvel, dar uniformidade ao relato e tornar eficiente aabsoro dos conhecimentos difundidos, transformamos em notas, sempre que possvel, trechosbiogrficos os quais, do nosso ponto de vista, seccionavam o texto, dispersando a ateno doprincipal, e cujo deslocamento no corpo do livro no compromete o fio condutor da narrativa.Na verdade, demos seguimento proposta do prprio autor, que colocou em notas finais a maiorparte das biografias de personalidades citadas no decorrer de seu estudo, j que elas tm o papelde ilustrar o leitor, informando-o sobre a vida e obra de vultos da nossa histria, mas no soimprescindveis para o entendimento do tema.

    Atualizamos, em notas de p-de-pgina, denominaes de logradouros e localizaes deinstituies. Tambm aparecem em notas de p-de-pgina, identificados com as iniciais N.C., oscomentrios do prefaciador, professor Nireu Cavalcanti, convidado para apresentar este trabalhopor ser exmio pesquisador e notrio conhecedor da formao, evoluo e expanso das terrascariocas.

    Dentre as fotografias selecionadas por Restier para ilustrar o livro, optamos por no incluiraquelas j veiculadas em outras publicaes, portanto j muito contempladas e conhecidas, demaneira a destacar a originalidade de algumas dentre as que permaneceram.

  • Concomitantemente, selecionamos outras pertencentes ao acervo do Arquivo da Cidade, paraassegurar a distribuio equitativa das imagens, de acordo com os assuntos mencionados, umavez que Restier privilegiou alguns temas e regies com um nmero bem maior de ilustraes.Foram mantidos alguns dos croquis encomendados pelo autor ou elaborados por ele parafigurar no livro depois de submetidos a tcnicas de higienizao e restaurao dadas ascondies precrias em que se encontravam , pois os consideramos indispensveis peloineditismo das informaes que contm.

    Restier Gonalves selecionou alguns documentos para ilustrar pendncias com relao aheranas, pagamentos de foros e laudmios e direitos de propriedade, providenciando cpiascuja autenticidade foi atestada por arquivistas. Nesse caso, mantivemos a ortografia da poca,seguindo as normas da paleografia, e colocamos esses documentos nos apndices. Sero demuita utilidade para os que ainda no tiveram a oportunidade de consultar fontes primrias epara os que se dedicam aos estudos paleogrficos. Tambm mantivemos a forma grficautilizada pelo autor para expressar numerais e valores monetrios.

    Tendo em vista que esse livro foi iniciado na dcada 1940 e que Restier Gonalves usouinmeros termos extrados dos documentos a que teve acesso, inclusive de origem jurdica,muitos atualmente em desuso ou empregados com outro significado, elaboramos um Glossriopara definir a terminologia empregada. O mesmo critrio usamos com relao a instituies hojeextintas, existentes nos perodos colonial e imperial, conceituando-as nas Notas Histricas,segundo sua natureza, atribuies e alcance na poca. Titulares e nobres do Brasil Colnia e doBrasil Imprio, figuras de destaque na Repblica, apenas mencionados, foram includos nasNotas Biogrficas, de acordo com a proposta original de Restier Gonalves de apresentarpersonalidades que sobressaram no cenrio social, poltico e cultural brasileiro.

    Utilizando-nos da mesma estratgia do autor, introduzimos o leitor nos meandros de sua vidaprivada embora muito no se tenha conseguido saber sobre ela , e da sua trajetriaprofissional. Sem dvida, Aureliano Restier Gonalves, no incio modesto amanuense e,posteriormente, pesquisador e arquivista, mas sempre funcionrio pblico modelo, um org u l h opara a categoria, demonstrando do que capaz um profissional quando imbudo dos melhorespropsitos, extrapolando suas obrigaes rotineiras para concretizar seu objetivo de deixar paraa posteridade uma obra de peso.

    A despeito de tratar exaustivamente das ruas do Centro do Rio de Janeiro e de alguns bairros daZona Sul dando-nos data aproximada de sua abertura, nomeando os proprietrios anterioresdos terrenos por onde foram assentadas e as distintas denominaes que receberam , algumasvias, travessas, becos e elementos da topografia carioca mereceram, por parte do autor, apenasreferncias, sem detalhamento, motivo pelo qual organizamos o Quadro de Logradouros,descrevendo sua localizao e as diferentes nomenclaturas atravs dos tempos.

    Na transcrio das informaes reunidas para os cadernos, Restier, por distrao ou cansao,omitiu algumas palavras que acrescentamos, colocando-as entre parnteses, para destacar suaincluso. A bibliografia a que recorreu para escrever esta obra livros e peridicos foi por eleidentificada somente por ttulo e autor, exigindo consulta ao acervo bibliogrfico do Arquivo daCidade, de forma a incluir editora, data e local de edio, de acordo com as normas prescritaspela A B N T, que adotamos. Os ttulos utilizados para consulta pelas equipes de editorao epequisa, assim como as obras e artigos j publicados, de autoria de Restier, encontram-serelacionados na Bibliografia.

    Todas essas medidas foram efetuadas visando a facilitar a leitura, despertando no leitor inicianteo desejo de prosseguir, evitando obstculos que possam desestimul-lo, e fornecendo aosestudantes material de consulta obrigatria, caso almejem entender o contexto temporal eespacial analisado. Quanto aos pesquisadores familiarizados com esse universo, procuramosrepassar na ntegra o objetivo de Restier ao escrever este livro, ou seja, dar conta, na medida dasua formao, do seu potencial e dos recursos disponveis, da evoluo do patrimnio territorialda cidade do Rio de Janeiro, atravs da leitura exaustiva dos documentos. Esses cuidados

  • editoriais absolutamente no desmerecem o trabalho, pelo contrrio, destacam a sua importnciacomo obra de referncia para estudiosos de um assunto que at hoje polmico, que despertoue ainda desperta controvrsias, merecendo ter prosseguimento e dar origem a novas dissertaese teses de doutorado.

    Convm frisar que, at a concluso dessa obra, iniciada em 1947 e terminada em 1963 ou 1964, j que o autor cita, em momentos distintos, as duas datas como sendo os da sua finalizao ,algumas das principais fontes de renda do municpio eram obtidas por meio de pagamento deforos e laudmios e da arrecadao com a Dcima Urbana, atual IPTU. O Imposto sobre Servio(ISS), exclusivamente municipal, s foi criado nos fins da dcada de 1960, da a importncia alis at hoje do recebimento daqueles impostos, justificando a preocupao e as crticas deRestier Gonalves s usurpaes de terras municipais e s invases, que representaram sriasperdas para os cofres municipais e, indiretamente, para toda a populao carioca.

    Este livro consiste, na realidade, de uma narrativa na qual os fatos, extrados dos documentos,so encadeados cronologicamente e dispostos espacialmente, sem problematizao, semformulao de hipteses ou cotejo de interpretaes, que seriam esperadas de um profissionaldo ramo. Desvendar a lgica interna de um documento depende das perguntas que lhe fazemos,da problemtica que propomos e do instrumental cientfico que empregamos.

    Evidentemente, e nem podia ser de outra forma, esta pesquisa no foi empreendida com o rigorterico-metodolgico exigido do historiador, at porque Restier Gonalves no o era. Porm,seus mritos so indiscutveis, revelando-se na pertincia do investigador que no se contentacom os ensaios de gabinete e busca, qual explorador incansvel, o seu tesouro no campo daspossibilidades.

    Por outro lado, se a Histria a disciplina do contexto e do processo, como afirma E.P.Thompson, a no insero dos acontecimentos em um quadro maior fruto da articulao entreas condies sociais, econmicas, polticas, institucionais e mentais de uma sociedade situadaem um determinado tempo histrico , atentando-se para suas recprocas articulaes ecorrelaes, acarretou distores.

    Se Restier Gonalves jamais teve a veleidade de agir como historiador ao abordar o seu objeto,sua anlise resulta compartimentada e de certa forma maniquesta, pois focaliza somente osproprietrios, sejam eles foreiros ou posseiros, como se a sociedade brasileira fosse homognea,sem relaes de classe e conflitos, a no ser os estabelecidos entre os donos de terras e aadministrao pblica. Os escravos submetidos ao trabalho compulsrio so mencionadosapenas quando se refere a testamentos e heranas que arrolam, entre os bens imveis a seremlegados, os semoventes, empalidecendo a realidade de uma sociedade hierarquizada eexcludente, cuja produo e reproduo baseavam-se, quase que exclusivamente, no instituto dae s c r a v i d o .

    Outra questo assenta na transposio de modelos construdos para explicar formaes sociaissituadas em outro tempo e lugar, como o caso do conceito de feudalismo utilizado por Restierquando se refere doao de terras e s obrigaes que delas decorriam na poca colonial,refletindo uma generalizao que no encontra respaldo nas instituies adotadas no Brasil paragarantir a ocupao e a explorao das novas terras e para reforar os laos de fidelidade aoreino e ao monarca.

    Voltamos a reafirmar que essas lacunas no diminuem o brilho do trabalho de RestierGonalves. Apesar das limitaes, os atributos de Cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro Terras e Fatos so inquestionveis. Rene e sistematiza informaes sobre o patrimnioimobilirio da cidade, reconstituindo sua trajetria desde a doao por Estcio de S de duassesmarias, uma para a instalao da cidade, em 16 de julho de 1565, e outra aos jesutas,passando pelas lutas entre estes e a municipalidade ocorridas por dvidas com relao aoslimites entre as terras foreiras Cmara e as doadas aos padres da Companhia , e pelasprincipais querelas estabelecidas entre a Cmara Municipal e os que se apossavam dos terrenos

  • municipais recusando-se a aceitar o domnio direto da municipalidade. As anlises do autorestendem-se at meados do sculo XX, referindo-se sempre s artimanhas de toda sorte de quelanavam mo os pretensos donos dos terrenos, alertando para o progressivo encolhimento dopatrimnio pblico ao longo dos sculos.

    Eis o principal motivo do enfoque dado ao que Restier considerou cho carioca terrasaforadas municipalidade por ocasio de sua fundao fato que explica porque restringiu-sea analisar o Centro e alguns bairros da Zona Sul da cidade, excluindo a Zona Norte e ossubrbios, situados para alm dessas fronteiras iniciais e cuja ocupao s passou a adensar-se com a criao da Estrada de Ferro Pedro II, depois Central do Brasil.

    Alm disso, o tratamento preferencial dado s questes de distribuio e posse de terras noexcluiu uma abordagem pitoresca dos fatos ocorridos no nosso passado. A descrio dasprincipais famlias responsveis pela construo e expanso da cidade, com suas chcaras, casasresidenciais e demais bens imveis que possuam nas terras foreiras ao municpio, bem como orelato das profisses e artes que exerciam constituem fonte de grande valor para os que sededicam aos estudos genealgicos. Alm disso, o autor fornece inmeros dados sobrecordeamento, evoluo e nomenclatura dos logradouros, sobre a destinao de terrenos para aformao de rossios e loteamentos. Define os terrenos acrescidos de marinha, os encravados, ossalgados e sapais, as terras enxutas e alagadas, detendo-se na luta da populao e dosadministradores do Rio de Janeiro para conquist-los e torn-los habitveis e combater asepidemias resultantes de clima e situao geogrfica desfavorveis. Tudo isso entremeado porrelatos de aspectos prosaicos do cotidiano da cidade e sobre os personagens que fizeram parteda nossa histria.

    Aureliano discorre, ainda, sobre os locais destinados a cada tipo de atividade profissional,explicando as causas dessa tendncia de se aglutinarem trabalhadores de determinado ofcio emcertas reas da cidade, como o caso dos ourives. Descreve as mais afamadas lojas, osrestaurantes e teatros freqentados pelos habitantes do Rio de Janeiro, as festas populares, asdanas mais difundidas, os meios de transportes existentes, ou seja, traa um painel dinmico ecurioso dos hbitos e costumes da gente carioca.

    Entregamos, portanto, ao pblico vido de informaes sobre o Rio de Janeiro, o resultado daaventura de Restier Gonalves no mundo dos documentos e que passa a integrar a C o l e oMemria Carioca, reunio de ttulos imprescindveis para quem deseja conhecer a cidade apartir de vrios ngulos e sob distintos aspectos, que a pluralidade de etnias, credos, atividadeseconmicas, culturas e paisagens permite.

    Cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro Terras e Fatos obra de um hbilarteso, incansvel na busca da pea que faltava para compor um imenso quebra-cabeas.M e rgulhado em um cipoal de papis, imagens e mapas, nem sempre organizados e fceis del o c a l i z a r, Restier saiu-se vitorioso da espinhosa misso que se atribuiu: traar o relato maisfidedigno possvel das batalhas travadas pela posse e usufruto do cho carioca, nas quais seenvolveram os mais diferentes personagens, numa empreitada, muitas vezes, de legitimidaded i s c u t v e l .

    S A N D R A H O RTAD i retora de Pesquisa A G C R J

  • Retrato de Aureliano Restier Gonalves

  • U M P E R F I L D E A U R E L I A N O R E S T I E R G O N A LV E S

    A incumbncia de apresentar aos leitores um antigo funcionrio do Arquivo daCidade constituiu uma tarefa instigante e gratificante. bom lembrar que mesmoconvivendo diariamente com uma pessoa ela nos surpreende.

    Aureliano foi um brasileiro comum e a Histria desconhece os homens comuns,permanecendo estes, assim, annimos, sem Histria. A maioria dos bigrafos reclamadas dificuldades enfrentadas para descrever seus personagens, porm exaltam ofascnio que a tarefa proporciona.

    Filho de Joaquim Pedro Gonalves e Carolina Maria Restier Gonalves,Aureliano nasceu a 8 de abril de 1881 no ento distrito de Barra do Pira, onde cursouo primrio na primeira escola da cidade, emancipada do municpio de Pira em 1890.Foi um autodidata. Graas ao seu esforo e sua dedicao, progrediu nofuncionalismo ao mesmo tempo em que se transformaava em um estudioso da Histriada cidade do Rio de Janeiro. Tornou-se um de seus memorialistas, narrando ao queassistiu e o que lhe contaram, pois, alm de familiares e amigos, entre seuscontemporneos contavam-se os mais destacados cronistas e memorialistas do Rio deJaneiro: Vieira Fazenda, Ferreira Rosa, Mello Morais Filho, Max Fleiuss, LuizEdmundo, Joo do Rio, Noronha Santos. Este foi seu colega e chefe no Arquivo doDistrito Federal. Uma convivncia muito rica, j que todos eram homens do sculoXIX que tinham assistido e participado das mudanas polticas, econmicas, sociais eurbanistas da virada do sculo XX na cidade do Rio de Janeiro.

    Entre 1904 e 1909 trabalhou na administrao municipal como extranumerrio,exercendo a funo de auxiliar de escrita, lotado na Diretoria Geral de Obras e Vi a o .Sendo extranumerrio, s recebia quando realizava alguma tarefa; contudo, o tempo deservio contava como o de qualquer funcionrio efetivamente contratado. Em outubrode 1909, a Diretoria teve ampliado seu quadro funcional com a nomeao de quatorzeamanuenses, entre eles Aureliano, ento com 28 anos.1

    Hoje poucos conhecem o termo, que dir a funo que o amanuense exercia.Essa desapareceu do Servio Pblico com a introduo da mquina de escrever e dafotocpia. O amanuense se responsabilizava pela escrita de todos os documentosnecessrios ao servio. Tudo era manuscrito. O aparecimento do datilgrafo no o fezdesaparecer de imediato, j que inmeros documentos por sua tipicidade ou cartersigiloso continuaram a ser manuscritos. Quem desconhece o acervo documentalmanuscrito existente nos cartrios e nos arquivos e convive cotidianamente com xerox,fax, computador e internet dificilmente avalia a importncia dos amanuenses e ovolume de sua contribuio.

    O amanuense situava-se na posio inferior na hierarquia do funcionalismo. Asubalternidade do cargo atraiu a verve dos escritores do sculo passado, e mesmo dosculo XIX, motivando-os na produo de vrios textos. Ciro dos Anjos destacou-secom sua obra O amanuense Belmiro. Arthur Azevedo escreveu vrios contos usando-os como tema central. Em De cima para baixo, satiriza a burocracia do ServioPblico, ao mesmo tempo em que ressalta a relevncia da atividade do amanuense,apesar de sujeitos aos mandos e desmandos dos superiores. Alguns dos "colegas"amanuenses foram: Cruz e Souza na Estrada de Ferro Central do Brasil, Luiz Gama naSecretaria de Polcia, Lima Barreto, Orestes Barbosa.

    Aureliano exerceu a funo na Diretoria de Obras ao longo de quase vinte anos,tendo sido promovido a 2 oficial em 1919, o que resultou na escalada de um degrau

  • na hierarquia funcional,2 contudo, as atividades continuaram semelhantes.As Diretorias da Prefeitura funcionavam no Pao Municipal na praa da

    Repblica n 140; certamente, esta proximidade facilitava a troca de informaes entreelas; por isso suponho que a transferncia de Aureliano para a Diretoria de Estatsticae Arquivo, ocorrida em 1924, se deu devido ao reconhecimento pelos superiores do seuempenho e do seu interesse pela pesquisa documental, visto que, em 1925, anoseguinte a nomeao de sua transferncia,3 foi reiniciada a publicao do Arquivo doDistrito Federal, interrompida h trinta anos, com um trabalho dele Extratos emanuscritos sobre aforamentos. No ano seguinte novo nmero foi lanado com maisum texto sobre aforamento, dando continuidade ao anterior, tambm de autoria deAureliano. Em 1929, foram publicados pelo Arquivo, tambm de sua lavra: Extratos emanuscritos sobre vacina, uma coletnea de documentos sobre a vacina contra avarola, e outro sobre aforamentos, continuao dos dois editados anteriormente.

    Em 1934, a promoo, a 1 oficial,4 e, em 1935, a mais importante, ao cargo dechefe de seo, apesar de ser em carter de interinidade.5 Em 1937, foi nomeado chefede seo, chefia que corresponde atual Diretoria do Arquivo da Cidade.6

    A aposentadoria, em 20 de abril de 1948, no o afastou das pesquisas, nem daproduo de textos. Ao longo dos anos prosseguiu seus estudos, suas pesquisas eredigiu vrios artigos e coletneas de documentos, alguns publicados na Revista doArquivo do Distrito Federal, quando esta voltou a ser relanada em 1950: Carnesverdes em So Sebastio do Rio de Janeiro 1500/1900; Pao Municipal da Cidadedo Rio de Janeiro; A governana de Luiz Vahia Monteiro cartas recebidas eexpedidas.

    Aureliano empenhou quinze anos na elaborao do livro Cidade de SoSebastio do Rio de Janeiro Terras e Fatos, que se constitui na obra de ummemorialista. Assistiu ainda menino Abolio da Escravatura, Proclamao daRepblica, Revolta da Armada. Na juventude de seus vinte anos conviveu com aRevolta da Vacina, quando comeava sua atividade de extranumerrio. Presenciou astransformaes urbanas produzidas pela Prefeitura do Distrito Federal, como aabertura da avenida Central, da construo da avenida Beira Mar, a transferncia dodesembarque dos viajantes que aportavam na praa Quinze para o per da praa Mau,devido construo do porto do Rio de Janeiro. Provavelmente acompanhou aconstruo do aeroporto Santos Dumont na ponta do Calabouo; ao desmonte do morrodo Castelo; ao nascimento da Cinelndia . Conviveu com a construo da Esplanada doCastelo, atual avenida Presidente Antonio Carlos, com seus ministrios da Fazenda, doTrabalho, da Educao, visto que desembarcava na praa Quinze, quando vinha deNiteri, onde morava, e, obrigatoriamente, tinha que passar pelo canteiro de obras queficava praticamente ao lado. Foi contemporneo do desaparecimento do Convento daAjuda. Deve ter sido impossvel ter deixado de presenciar a demolio das igrejas deSo Domingos e de So Pedro dos Clrigos, assim como do Pao Municipal, ondetrabalhava h mais de trinta anos, para a abertura da avenida Presidente Va rg a s .

    Por fora dos "melhoramentos" urbanos o Arquivo mudou-se para o prdio denmero onze da rua Santa Luzia. Tal fato deve ter preocupado Aureliano, visto quedefendia h anos a instalao do Arquivo em uma sede prpria com condiesadequadas para a preservao da documentao e ao trabalho de pesquisa.7

    Este livro resulta, principalmente, do amor e dedicao da filha de criao deAureliano, Neir Elisa Senna Gualda Dantas, que doou seus trabalhos ao Arquivo daCidade para compor uma coleo dedicada a seu pai.

    A adoo permitiu que Aureliano conhecesse as alegrias de ser pai e de ser avde Fernando Jos, Maria Elisa e Claudia Mrcia, filhos de Neir e Fernando Gualda

  • Dantas, que, at hoje, lembram com carinho do av. Contam que era metdico, sempreestudando e escrevendo, muito cuidadoso com a apresentao. Portava sempre terno,chapu e bengala, mesmo quando saa para pequenos passeios perto de casa.

    Aureliano faleceu a 31 de maio de 1967 aos 86 anos, trs anos aps terconcludo seu manuscrito sobre a cidade do Rio de Janeiro. Foi sepultado no cemitriode Maru em Niteroi, cidade onde residiu ao longo de sua vida.

    Seu livro vem trazer ao pblico importantes revelaes sobre a cidade,focalizando essencialmente a formao dos principais logradouros cariocas, alm denos permitir ter contato com dados documentais que, dificilmente, podero serlocalizados em arquivo ou cartrio, visto que no devem mais existir. Ele mesmo alertapara o precrio estado de conservao de muitos dos que consultou. Teve sempre ocuidado de ilustrar seus textos, desde o de 1929 sobre aforamentos, o que noconformava uma prtica muito usual nas publicaes. Esta edio fornecer imagens,muitas inditas, sobre locais, lamentavelmente, desaparecidos. Sua obra como todarealizao humana tem imperfeies, uma delas diz respeito prodigalidade com queemprega o adjetivo rico, j que a concepo de riqueza varia muito de conformidadecom a poca e o meio. Ricao e milionrio apresentam-se deslocados, fora docontexto. Outro engano relaciona-se ao modo de enfatizar o progresso material de ummorador da cidade, quando explica que possui uma "casa nobre" sem dar qualquerindicao do que venha a ser, impossibilitando ao leitor visualizar a "casa nobre" quee l o g i a .

    Concordo com Duby, famoso medievalista francs, quando valoriza asnarrativas como inesgotveis reservas de material acerca das mentalidades, dasideologias, e quanto ao mximo aproveitamento de trabalhos de historiadores que nosprecederam, pois fornecem contribuies valiosas sobre a poca e o meio em queviveram; dessa maneira que devemos receber e ler a obra de Aureliano RestierGonalves: como um testemunho nico de um tempo e de uma cidade que j no sepode encontrar mais.

    Ana Lucia Eppinghaus Bulco(Doutora em Histria; Pesquisadora do A G C R J )

    .

    Ana Lucia Eppinghaus BulcoPesquisadora do A G C R J

  • N O TA S

    1 Boletim da Prefeitura de 1909.

    2 Boletim da Prefeitura de 1909; Boletim da Prefeitura de 1928: decreto n 2.770 doutra denominao ao amanuense, que passa a ser designado como 3 oficial.

    3 Boletim da Prefeitura de 1924, p.267.

    4 Boletim da Prefeitura de 1934.

    5 Cdice 51.1.83A.

    6 Boletim da Prefeitura de 1937.

    7 Cdice 51.1.83A.

  • Imagem 48. Augusto Malta, s/d. Rua Visconde de InhamaO novo aspecto da rua Visconde de Inhama, depois das obras de alinhamento e ligao com a avenida Marechal Floriano.

  • S u m r i o

  • P re f c i o. Pgina. xx

    Notas do Editor. Pgina. xx

    Um perfil de A u reliano Restier G o n a l v e s. Pgina. xx

    CIDADE DE SO SEBASTIO DO RIO DE JANEIROTERRAS E FATO S

    E x r d i o. Pgina 36

    Captulo I

    Conquista e Fundao do Rio de Janeiro. Pgina 40Baa de Guanabara. Pgina 41Estabelecimento de Villegaignon. Pgina 41Desbarato da Colnia. Pgina 42Estcio de S Combate de Uruumirim. Pgina 42

    Captulo II

    S e s m a r i a s. Pgina 47Terras do Rio de Janeiro. Pgina 48Sesmarias de Sobejos.Pgina 49

    Captulo III

    M a r i n h a s. Pgina 51

    Captulo IV

    B o t a f o g o. Pgina 55Terrras de Botafogo. Pgina 56Praia de Botafogo Jardins Particulares Pgina. 62Praia de Botafogo 1856. Pgina 62Praia de Botafogo 1857/1908. Pgina 62Praia de Botafogo 1857/1908. Pgina 63

  • Praia de Botafogo 1858/1908. Pgina 63Praia de Botafogo 1865/1930. Pgina 63Praia de Botafogo 1873/1911. Pgina 63Praia de Botafogo 1898/1927. Pgina 64Praia de Botafogo 1906/1907. Pgina 64Praia de Botafogo 1910/1919. Pgina 64Praia de Botafogo 1917/1925. Pgina 64Rua So Clemente 1819/1858. Pgina 64Rua So Clemente 1820/1854. Pgina 65Rua So Clemente 1856/1858. Pgina 65Rua So Clemente 1857. Pgina 65Caminho Velho de Botafogo. Pgina 66Caminho Novo de Botafogo. Pgina 66Rua Paissandu 1858. Pgina 67

    Captulo V

    C o p a c a b a n a. Pgina 68Lugar da Copacabana 1818/1895. Pgina 70Lugar da Copacabana 1844. Pgina 70Estrada de Copacabana 1808/1847. Pgina 70Rua de Copacabana 1860. Pgina 71Lagoa Rodrigo de Freitas. Pgina 71

    Captulo V I

    Cosme Ve l h o. Pgina 74Quinta de Cosme Velho. Pgina 75Lugar do Cosme Velho 1806/1844. Pgina 76Lugar do Cosme Velho 1809/1882. Pgina 76Lugar do Cosme Velho 1823/1851. Pgina 77Lugar do Cosme Velho 1825/1846. Pgina 77Estrada do Cosme Velho 1826/1847. Pgina 77Estrada do Cosme Velho 1830. Pgina 79Estrada do Cosme Velho 1835/1860. Pgina 79Estrada do Cosme Velho 1836-1849. Pgina 80Estrada do Cosme Velho 1836/1866. Pgina 81Estrada do Cosme Velho 1836/1870. Pgina 81Estrada do Cosme Velho 1838/1872. Pgina 81Estrada do Cosme Velho 1841/1843. Pgina 82Rua Cosme Velho 1854/1855. Pgina 82Rua Cosme Velho 1855. Pgina 82

  • Captulo V I I

    L a r a n j e i r a s. Pgina 83Chcara de Ana Rodrigues. Pgina 84Chcara do Areal. Pgina 85Chcara do Velasco. Pgina 86Chcara do Hermogneo. Pgina 87Chcara do Ramos. Pgina 87A Ilhota. Pgina 87Rua das Laranjeiras Beco do Miranda 1908/1837. Pgina 88Rua das Laranjeiras 1822/1870. Pgina 88Rua das Laranjeiras 1845/1847. Pgina 90Rua dasLaranjeiras 1853/1876. Pgina 90Rua das Laranjeiras 1860. Pgina 90Rua das Laranjeiras 1862. Pgina 90Rua das Laranjeiras 1862. Pgina 92Rua das Laranjeiras 1863/1872. Pgina 92Stio das Laranjeiras 1823/1845. Pgina 92

    Captulo V I I I

    C a t e t e. Pgina 94Chcara da Ponte do Catete. Pgina 100Chcara do Desembarg a d o r. Pgina 100Chcara do Machado. Pgina 102Chcara da Sacramento. Pgina 102Chcara do Assca. Pgina 103Chcara do Lisboa. Pgina 104Chcara do Pedreira. Pgina 105Chcara do Cnsul. Pgina 107Estrada do Catete 1784/1838. Pgina 107Rua do Catete 1796/1846. Pgina 107Rua do Catete 1808/1843. Pgina 109Rua do Catete 1816/1831. Pgina 109Rua do Catete 1818/1844. Pgina 109Rua do Catete 1818/1854. Pgina 110Rua do Catete 1823/1843. Pgina 110Rua do Catete 1845/1864. Pgina 111L a rgo do Machado 1829/1857. Pgina 111L a rgo do Machado 1856/1872. Pgina 112L a rgo do Machado 1871. Pgina 112

    Captulo IX

    Glria e Lapa. Pgina 114Rua Santa Cristina 1854. Pgina 116

  • Praia da Glria -1857/1859. Pgina 116Rua da Glria 1831/1843. Pgina 119Rua da Glria 1844. Pgina 119Rua da Glria 1845. Pgina 120Rua da Glria 1846/1850. Pgina 120Rua Dona Luiza 1842/1851. Pgina 120Rua Dona Luiza 1851/1855. Pgina 122Rua Dona Luiza 1854. Pgina 122Rua Dona Luiza 1854. Pgina 122Rua Dona Luiza 1858. Pgina 123Rua Dona Luiza 1861/1903. Pgina 123Rua Dona Luiza 1862. Pgina 123Rua Dona Luiza 1864/1865. Pgina 123Rua Dona Luiza 1866. Pgina 123Rua Dona Luiza 1871/1872. Pgina 124Praia da Lapa. Pgina 124Rua da Lapa 1839/1865. Pgina 125Rua da Lapa 1842/1860. Pgina 125Rua da Lapa 1844/1892. Pgina 125Rua Nossa Senhora do Desterro 1840/1847. Pgina 126Travessa do Desterro 1868. Pgina 126

    Captulo X

    A j u d a. Pgina 127Chcara da Floresta. Pgina 132Convento da A j u d a. Pgina 132Rua da Ajuda 1787/1826. Pgina 135Rua da Ajuda 1815. Pgina 135Rua da Ajuda 1818-/1856. Pgina 135Rua da Ajuda 1826. Pgina 136Rua da Guarda Velha . Pgina 136Beco do Propsito. Pgina 139

    Captulo XI

    M i s e r i c rd i a. Pgina 149Rua da Misericrdia 1774/1828. Pgina 151Rua da Misericrdia 1790. Pgina 151Rua da Misericrdia 1792/1835. Pgina 152Rua da Misericrdia 1810/1827. Pgina 152Rua da Misericrdia 1834/1836. Pgina 152Rua da Misericrdia 1867. Pgina 153L a rgo da Misericrdia 1861. Pgina 153Travessa do Guindaste 1819/1869. Pgina 156Travessa do Guindaste 1853/1854. Pgina 156Beco da Fidalga 1650/1860. Pgina 156

  • Beco dos Ferreiros 1810/1830. Pgina 157Beco dos Ferreiros 1818/1833. Pgina 158Beco dos Ferreiros 1819/1843. Pgina 158Praia de Dom Manoel. Pgina 159Praia de Dom Manoel 1816/1856. Pgina 159Praia de Dom Manoel 1830/1840. Pgina 159Praia de Dom Manoel 1833/1869. Pgina 159L a rgo da A s s e m b l i a. Pgina 160Rua da Cadeia. Pgina 160Rua da Cadeia 1782/1853. Pgina 161Rua da Cadeia 1824/1863. Pgina 162

    Captulo XII

    B a i rro Comerc i a l. Pgina 163Rossio do Carmo. Pgina 166Ribeira do Mar. Pgina 166Rua Direita. Pgina 167Arco do Te l e s. Pgina 171Beco ou Travessa dos A d e l o s. Pgina 171Rua do Ouvidor. Pgina 172Rua Nova do Ouvidor. Pgina 176Rua da Quitanda. Pgina 176Rua de So Bento. Pgina 177Ruas Visconde de Inhama e Tefilo Otoni. Pgina 177Rua dos Ourives. Pgina 180Rua do Cano. Pgina 181

    Captulo XIII

    Litoral Norte ou Recncavo da Cidade. Pgina 182P r a i n h a. Pgina 183Rua do Aljube 1779/1837. Pgina 184Rua da Prainha 1826/1848. Pgina 185Stio da Prainha 1810/1902. Pgina 185Stio da Prainha 1817/1877. Pgina 186Rua So Francisco da Prainha 1834. Pgina 186Sade Valongo Gamboa. Pgina 186Praia da Sade 1821/1850. Pgina 187Praia da Sade 1840/1856. Pgina 189Va l o n g o. Pgina 189Quinta do Livramento. Pgina 190Quinta da Madre de Deus. Pgina 190Gamboa ou Camboa. Pgina 192O Forno Grande da Cal. Pgina 194

  • Captulo XIV

    So Domingos. Pgina 195L a rgo do Rosrio 1705/1840. Pgina 198O Jogo da Bola. Pgina 198A D a n a. Pgina 199L a rgo do Rosrio 1813/1830. Pgina 200Rua do Fogo 1785/1840. Pgina 200Rua do Fogo 1808/1844. Pgina 200Rua do Fogo 1808/1850. Pgina 201Rua do Fogo 1844. Pgina 201Chcara da Conceio. Pgina 202Chcara da Mitra. Pgina 202L a rgo de So Francisco de Paula 1725/1841. Pgina 203L a rgo de So Francisco de Paula 1747/1860. Pgina 204L a rgo de So Francisco de Paula. Pgina 204Rua da Lampadosa 1721/1782. Pgina 207Rua da Lampadosa 1818/1846. Pgina 207Rua da Lampadosa 1855. Pgina 207Rua da Lampadosa 1861/1872. Pgina 207Rua da Lampadosa. Pgina 208Rua do Sacramento 1798/1859. Pgina 209Rua do Sacramento 1803/1859. Pgina 209Campo de So Domingos 1714. Pgina 215L a rgo de So Domingos 1849/1870. Pgina 217L a rgo de So Domingos 1884. Pgina 217Rua de So Joaquim 1827/1877. Pgina 218Rua de So Joaquim 1827. Pgina 218Rua de So Joaquim. Pgina 219Chcara do Coqueiro. Pgina 219Igreja de So Joaquim. Pgina 220Rua So Jorge 1820/1852. Pgina 220Rua So Jorge 1856. Pgina 221Rua So Jorge 1860. Pgina 221Igreja de So Jorg e. Pgina 221Rua dos Ferradores 1787. Pgina 222Rua dos Ferradores 1808/1856. Pgina 222Rua da Alfndega 1762/1840. Pgina 222Rua da Alfndega 1799/1854. Pgina 223Rua da Alfndega 1801/1858. Pgina 223Rua da Alfndega 1803/1855. Pgina 223Rua da Alfndega 1804/1839. Pgina 223Rua da Alfndega 1805/1830. Pgina 224Rua da Alfndega 1806/1848. Pgina 224Rua da Alfndega 1806/1858. Pgina 224Rua da Alfndega 1808/1856. Pgina 225Rua da Alfndega 1810/1843. Pgina 225Rua da Alfndega 1811 / 1 8 5 0. Pgina 225Rua da Alfndega 1811 / 1 8 5 2. Pgina 226Rua da Alfndega 1813/1836. Pgina 226

  • Rua da Alfndega 1816/1858. Pgina 226Rua da Alfndega 1818/1841. Pgina 227Rua da Alfndega 1818/1846. Pgina 227Rua da Alfndega 1819/1834. Pgina 227Rua da Alfndega 1820/1840. Pgina 228Rua da Alfndega 1822/1844. Pgina 228Rua da Alfndega 1823/1836. Pgina 229Rua da Alfndega 1825/1834. Pgina 229Rua da Alfndega 1826/1849. Pgina 229Rua da Alfndega 1829/1852. Pgina 229Rua da Alfndega 1830/1848. Pgina 230Rua da Alfndega 1835/1848. Pgina 230Rua da Alfndega 1836/1850. Pgina 231Rua da Alfndega 1836/1837. Pgina 231Rua da Alfndega 1836/1840. Pgina 231Rua da Alfndega 1843. Pgina 231Rua da Alfndega 1844. Pgina 232Rua da Alfndega 1841/1844. Pgina 232Rua da Alfndega 1845. Pgina 232Rua da Alfndega 1856. Pgina 232Rua da Alfndega 1858. Pgina 233Rua da Alfndega 1859. Pgina 234Rua da Alfndega 1859. Pgina 234Rua da Alfndega 1860. Pgina 234Rua da Alfndega 1865. Pgina 234Rua da A l f n d e g a. Pgina 234Rua Senhor Bom Jesus 1782. Pgina 237Rua do Sabo 1830/1859. Pgina 238Rua So Pedro 1820/1874. Pgina 238Rua So Pedro 1830/1845. Pgina 238Rua So Pedro 1833/1843. Pgina 239Rua So Pedro 1846/1851. Pgina 239Rua So Pedro 1862. Pgina 239Rua So Pedro. Pgina 239Rua da Carioca 1877/1879. Pgina 240Rua da Carioca Pgina 242Chcara de So Domingos. Pgina 243L a rgo do Rossio Grande 1807/1873. Pgina 244L a rgo do Rossio Grande 1813/1842. Pgina 245L a rgo do Rossio Grande 1822/1845. Pgina 245L a rgo do Rossio Grande 1836. Pgina 245Rua do Conde da Cunha 1806/1807. Pgina 246Rua do Conde da Cunha 1807/1859. Pgina 246Rua do Conde da Cunha 1807/1859. Pgina 246Rua do Conde da Cunha 1807/1892. Pgina 247Rua do Conde da Cunha 1807/1892. Pgina 247Rua do Conde da Cunha 1807/1892. Pgina 247Rua do Conde da Cunha 1808/1892. Pgina 248Rua do Conde 1811 / 1 8 2 0. Pgina 248Rua do Conde 1817/1859. Pgina 249Rua do Conde 1840. Pgina 249

  • Rua do Conde 1856/1867. Pgina 249Rua do Conde da Cunha. Pgina 249Rua dos Ciganos. Pgina 250Rua dos Ciganos 1807/1877. Pgina 250Rua dos Ciganos 1807/1878. Pgina 250Rua dos Ciganos 1807/1893. Pgina 250Rua dos Ciganos 1807/1893. Pgina 250Rua dos Ciganos 1807/1893. Pgina 251Campo de Santana. Pgina 251Campo de Santana Face Oriental 1759/1878. Pgina 254Campo de Santana Face Oriental 1806/1858. Pgina 254Campo de Santana Face Oriental 1807/1858. Pgina 254Campo de Santana Face Oriental 1807/1858. Pgina 255Campo de Santana Face Oriental 1809. Pgina 255Campo de Santana Face Oriental 1816. Pgina 255Campo de Santana Face Oriental 1817/1866. Pgina 255Campo de Santana Face Oriental 1817/1878. Pgina 256Campo de Santana Face Ocidental 1789/1893. Pgina 256Campo de Santana Face Ocidental 1809-1880. Pgina 258Campo de Santana Face Norte 1811 / 1 8 5 8. Pgina 259Campo de Santana Face Sul 1819/1848. Pgina 261Campo de Santana Face Sul 1827/1872. Pgina 262Campo de Santana Face Sul 1832/1859. Pgina 262Campo de Santana Face Sul 1859. Pgina 262Rua do Areal 1825/1880. Pgina 262Rua do Areal 1830. Pgina 263Rua do A r e a l. Pgina 263

    Captulo XV

    M a t a c a v a l o s. Pgina 264Chcara do Caetano. Pgina 266Chcara do Silva Manoel. Pgina 266Chcara do Padre Leite 1817/1844. Pgina 267Caminho de Matacavalos 1816/1908. Pgina 267Caminho de Matacavalos 1817/1844. Pgina 269Estrada de Matacavalos 1818/1845. Pgina 269Rua Matacavalos 1819/1912. Pgina 270Rua Matacavalos 1820/1850. Pgina 270Rua Matacavalos 1830/1883. Pgina 270Rua Matacavalos 1836/1844. Pgina 271Rua Matacavalos 1839/1843. Pgina 271Rua Matacavalos 1840/1849. Pgina 271Rua Matacavalos 1843/1845. Pgina 272Rua Matacavalos 1843/1853. Pgina 272Rua Matacavalos 1845. Pgina 272Rua Matacavalos 1845. Pgina 272Rua Matacavalos 1845/1847. Pgina 272Rua Matacavalos 1845/1859. Pgina 273

  • Rua Matacavalos 1845/1868. Pgina 273Rua Matacavalos 1845/1870. Pgina 273Rua Matacavalos 1847. Pgina 274Rua Matacavalos 1847/1848. Pgina 274Rua Matacavalos 1847/1869. Pgina 274Rua Matacavalos 1848/1855. Pgina 274Rua Matacavalos 1853/1865. Pgina 275Rua Matacavalos 1855/1856. Pgina 275Rua Matacavalos 1855/1861. Pgina 275Rua Matacavalos 1857/1858. Pgina 275Rua Matacavalos 1860. Pgina 276Rua Matacavalos 1860/1861. Pgina 276Rua Matacavalos 1862. Pgina 276Rua Matacavalos 1862/1863. Pgina 276Rua Matacavalos 1864/1865. Pgina 276Rua Mau. Pgina 277Ladeira do Meireles 1860. Pgina 277Ladeira do Meireles 1861/1873. Pgina 277Ladeira do Meireles 1861. Pgina 277Ladeira do Meireles 1862/1886. Pgina 277Rua Dona Josefa 1854. Pgina 278Rua Dona Josefa 1855/1857. Pgina 278Rua Dona Josefa 1855/1857. Pgina 278Rua Dona Josefa 1857. Pgina 278Rua Paula Matos 1857. Pgina 278Rua Paula Matos 1858/1865. Pgina 279Rua Paula Matos 1869. Pgina 279Rua do Riachuelo 1879/1880. Pgina 279Rua do Senado 1823/1837. Pgina 279Rua do Senado 1840. Pgina 279Pantanal do Pedro Dias. Pgina 281Rua do Resende 1810/1867. Pgina 283Rua do Resende 1812/1825. Pgina 283Rua do Resende 1844/1859. Pgina 284Rua do Resende 1846/1872. Pgina 284Rua do Resende 1846. Pgina 284Rua do Resende 1846/1848. Pgina 284Rua do Resende 1846/1860. Pgina 285Rua do Resende. Pgina 285Rua do Resende 1861. Pgina 285Chcara do Desterro. Pgina 286Chcara da Alagoinha. Pgina 286

    Captulo XVI

    Catumbi, Cidade Nova e A d j a c n c i a s. Pgina 291C a t u m b i. Pgina 292Terreno do Papa-couves. Pgina 293Cidade Nova. Pgina 294

  • Adjacncias Mangues. Pgina 294Chcara do Capueruu. Pgina 296Chcara do Machadinho. Pgina 296O Canal do Mangue da Cidade Nova. Pgina 297Campo de Marte. Pgina 301Arraial de Mataporcos. Pgina 302E s c r a v o s. Pgina 302P r o g r e d i m e n t o. Pgina 302Chcara de Mataporcos. Pgina 302Mangue de So Diogo. Pgina 303Pedreira de So Diogo. Pgina 304Praia Formosa. Pgina 304So Diogo. Pgina 305Iluminao Pblica. Pgina 306Questes sobre Te r r e n o s. Pgina 307Patrimnio Territorial da Municipalidade do Rio de Janeiro. Pgina 307

    N o t a s. Pgina 310

    A p n d i c e s. Pgina 328

    B i b l i o g r a f i a. Pgina 339

    Obras do autor. Pgina 340

    Bibliografia citada pelo autor. Pgina 340

    Bibliografia utilizada para esta edio. Pgina 343

    G l o s s r i o. Pgina 348

    Q u a d ro de logradouro s. Pgina 359

    Notas histricas. Pgina 371

    Notas biogrficas. Pgina 392

    Ao Leitor,

    No fato, na pesquisa e no documento fundamenta-se a Histria. O fato obriga o raciocnio e a reflexoque determinam a pesquisa e o estudo minucioso dos documentos. Assim orientou-se este nosso modestotrabalho. Em verificando uma documentao guardada nos nossos arquivos, conseguimos reviveraspectos e fatos do antigo passado da cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro, e em cuja interpretaopusemos toda a probidade histrica. Outro valor no traz este livro.

    memria dos meus pais e dos meus irmos.

  • Ex rdi o

  • Aos destinos da humanidade abriram-se novos caminhos e rasgaram-se mais vastos horizontes,com a descoberta da plvora, da bssola e da imprensa. Esses trs notveis acontecimentos operaramradical transformao dos costumes e idias da Idade Mdia, realando o sculo XV na histria dacivilizao. Livre das cadeias que o acorrentavam aos escolsticos princpios doutrinrios medievais, oesprito humano pde criar e propagar novas e adiantadas doutrinas e estabelecer outras fontes deatividades mais produtivas que serviram de alicerce civilizao moderna. O homem, desvendando osegredo dos mares, nunca dantes navegados, descobriu outras terras que conquistou; desenvolveu ocomrcio, as indstrias e as artes, e espalhou o progresso, abrindo a luta da liberdade contra odespotismo e da igualdade contra o privilgio; que , em resumo, a histria da civilizao, no dizer deOliveira Lima.

    Alm de outras causas, o esprito de aventura da poca, a propaganda religiosa e as circunstnciascomerciais atuaram grandemente para as descobertas geogrficas do sculo XV. Em Sagres, a sudoestede Portugal, montou-se um pequeno observatrio astronmico, onde se praticaram os estudos quedeterminaram a conquista dos mares, abrindo-se o chamado caminho para as ndias. O genovsCristvo Colon ou Colombo, a 12 de outubro de 1492, valendo-se dos roteiros conhecidos, mostrou Europa um novo continente, a Amrica. Seis anos depois, a 20 de maio de 1498, Vasco da Gama aportou ndia. Finalmente, a 22 de abril de 1500, luz da civilizao, surgiu uma nova terra: o precioso achadodo navegante lusitano Pedro lvares Cabral, o qual ia por capito-mor de uma armada portuguesa quenavegava para as ndias, ao tempo do venturoso rei dom Manoel I. E a terra que, surgindo de relanceno Oceano, se abstrara a todos os clculos e previses, seqestrava todas as atenes e a que se atribuadiversas conjecturas, era o Brasil: e essa terra que ao longe se desenhava ao ocidental e que um dia,depois de rodados trs sculos de escravido e ignomnia, seria uma portentosa realidade, avultando, emuito, as demais que se assentam no hemiciclo da Amrica, era o pas da Vera Cruz, duramenteconquistado ao gentilismo, por aqueles que, arrojando-se cavalheiros frica e sia a quebrar lanas depaladinos, correriam de aventuras essa terra a ceifar vidas, com o ardimento da cobia...* Logo a El-rei, o Venturoso, mandou-se a nova do achamento da terra, em tal maneira graciosa, que querendo-aaproveitar, dar-se- nela tudo, por bem das guas que tem. No tardou a ganncia dos aventureiros aassentar tendas nas virgens terras, cata de lendrios tesouros, e pelos nossos mares a velejar corsriospara a prtica do comrcio clandestino do pau-brasil: imirapiranga ou pau vermelho. A frota de Pedrolvares Cabral permaneceu at o ltimo de abril em observaes terra descoberta, julgada ilha. Nasexta-feira, primeiro de maio, desembarcou toda a gente da expedio e assistiu missa cantada face daCruz, erguida como padro da soberania de Portugal sobre a terra que seria o bero de uma grandenacionalidade.

    No dia seguinte, abandonando solido das selvas misteriosas dois infelizes degredados, partiu aesquadra para o seu destino, rumo sueste, exceo do navio de Andr Gonalves que voltou Europa,levando a boa nova da descoberta. So duvidosas, variando de autor para autor, as notcias relativas sprimeiras expedies portuguesas ao Brasil. Historiadores abalizados do, pelo menos como provveis,a vinda de duas frotas logo depois de conhecido o feito de Cabral. A primeira deixou as guasportuguesas, em maio de 1501, sob o comando de dom Manoel Nuno, favorito do rei, e trazendo porpiloto o cosmgrafo Amrico Vespucci: veio avistar terra a 16 de agosto daquele precitado ano, nasproximidades de um cabo que ficou denominado de So Roque, por ser esse o dia do santo, eprosseguindo a sua derrota foi avistando outros pontos da costa, batizando a todos, e passou barra danossa famosa baa, a 1 de janeiro de 1502, a qual tida por foz de rio, recebeu o nome de Rio de Janeiro.Chegou a So Vicente no dia 22 do mesmo ms e, depois de alcanar a boca do rio que chamou da Prata,voltou a Portugal. O afamado navegador Gonalo Coelho dirigiu a segunda expedio, que saiu deLisboa em meados de 1503 e na qual veio, de novo, Amrico Vespucci, no comando de uma caravela,que se afastou, e mais uma outra da frota expedicionria, quando a capitnia naufragou por bater em umpenedo. Esses dois navios arribaram Bahia, foram a Cabo Frio e da voltaram para Portugal, onde, emLisboa, j se encontrava, a 18 de junho de 1504, Gonalo Coelho, que se transportara para outracaravela, conduziu a frota rumo sul at o Rio de Janeiro, onde desembarcou, e fez levantar alojamentopara descanso, junto a um rio, que se supe tenha sido o Carioca,1 Cari-oca ou casa de pedra,** dizVarnhagen. Depois de vrias exploraes, fez-se de volta ao reino, onde chegou em 1506.

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    * Jos Joaquim Machado de Oliveira Revista do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, Tomo 18. (N.A.)** A Casa de Pedra s foi construda em agosto de 1531, na atual praia do Flamengo, perto do Morro da Viva, pela expedio de Martim Afonsode Souza e seu irmo Pero Lopes de Souza. (Nota N.C.)

  • A principio, as informaes sobre o Brasil eram desencontradas e duvidosas. Por esse motivo ouporque lhe interessassem mais as ndias, o certo que Portugal, durante trinta anos, deixou a sua colniada Amrica entregue sanha de corsrios e de aventureiros. Entretanto, os franceses, que comearam afreqentar o Brasil, foram angariando a amizade dos seus naturais e com os quais entraram a comerciar,e do recncavo de Cabo Frio fizeram o reduto para as suas naus. Portugal reclamou providncias Frana, em 1516, mas, a despeito da reclamao, maior foi sendo o trato do comrcio dos armadoresfranceses. Em 1526, dom Joo III determinou a vinda da flotilha guarda-costas de Cristvo Jacques,que usou de bastante represlia sobre as naus francesas. Ao chegar a Portugal, Cristvo Jacques logoprocurou convencer ao rei dom Joo III das vantagens da diviso do Brasil em capitanias e teve acircund-lo nessa idia o professor Diogo de Gouva, ilustre portugus residente em Paris, onde dirigiao colgio Santa Brbara. A 3 de dezembro de 1530, fez-se de vela do Tejo a armada de Martim Afonsode Souza, grande valido do rei e alcaide-mor de Bragana. A Pero Lopes de Souza, irmo de MartimAfonso e comandante da caravela Rosa, deve-se o famoso dirio dessa expedio que avistou terrabrasileira, a 31 de janeiro de 1531, na altura do cabo de Santo Agostinho, e logo comeou a perseguir asnaus francesas, apresando algumas. Ancorou Bahia em 13 de maro e a 30 de abril ainda daquele ano,aos olhos deslumbrados da sua tripulao, descortinou a baa de Guanapar ou Guanabara: maravilhaque a Providncia traou neste contorno do mundo. At agosto do precitado ano, refazendo foras eprovendo necessidades, esteve Martim Afonso no Rio de Janeiro, partindo a 31 do dito ms paraCanana, onde permaneceu mais de quarenta dias sempre sob um sol encoberto. De volta do rio daPrata, entrou no porto de So Vicente, a 25 de janeiro de 1532, e a, onde encontrou o celebre JooRamalho, Martim Afonso, pela amenidade do clima, o pitoresco da paragem e outras boas condiesnaturais, decidiu-se a estabelecer uma colnia, no que empregou todo o zelo e toda a atividade. Ospoderes que trazia permitiram ainda mais a Martim Afonso tomar posse, em nome do rei de Portugal,das terras pelas quais fosse passando, levantando os padres, e conced-las por sesmarias a quem asquisesse, pudesse e soubesse aproveit-las; dispor de modo geral sobre a administrao, sobre a justiae a prover, enfim, sobre todos os negcios da governana em terra e mar. Ao regressar Europa, em1535, o ilustre fundador de So Vicente j conhecia da diviso do Brasil em capitanias hereditrias.

    Os acordos que resultaram das negociaes diplomticas entre Portugal e a Frana, sobre anavegao para o Brasil, muito pouca vantagem trouxeram aos interesses do comrcio e da polticacolonial do reino portugus. No perdendo de vistas o nosso pas, a Frana, secretamente, continuou adispensar proteo aos seus armadores, sempre em atividade comercial do pau-brasil e outras madeirasraras. O que a este propsito relatou Pero Lopes em Lisboa, apressou a diviso do Brasil em diferentesquinhes, doados queles que se mostrassem aptos a promover o cultivo das terras, o seu povoamento esegurana. Aos donatrios, alm do direito de juros e herdade, o rei garantiu-lhes o do ttulo e mandodas suas terras, e obrigados apenas a preito e homenagem Coroa. Arremedos de feudalismo foi essacolonizao, operada desastrosamente. Porque, se na verdade, para o povoamento do nosso ptrio solo,veio gente boa e honrada, tambm no menos verdade a vinda de muita gente ruim, considerando-seo Brasil um couto e homizio onde ningum seria perseguido, em virtude de crimes e de delitosanteriores.

    Ao tempo dessa primeira diviso no havia ainda seguro conhecimento corogrfico do Brasil,explorado apenas em uma estrita faixa do seu litoral, o que contribuiu, alm de outras causas de ordemmaterial e moral, para a imediata decadncia das donatarias. No ano de 1548, Luiz de Ges,* em carta,apelou para o rei, dizendo: ... se com tempo e brevidade Vossa Alteza no socorrer estas capitanias ecosta do Brasil, ainda que ns percamos as vidas e fazendas, Vossa Alteza perder a terra. No padecedvida que dom Joo III, instituindo as capitanias hereditrias, procurou diligenciar em beneficio daextensa terra entregue pela fortuna a Portugal; mas, pelas razes j expendidas, provado est o desacertodessa medida, prontamente, alis, corrigida pelo solcito soberano. Estabeleceu-se, ento, um governode centralizao administrativa e poltica que, em nome do rei, ministrasse a justia e atendesse a todosos negcios do servio real e ao bem das partes. Tom de Souza, escolhido para primeiro governadorgeral do Brasil, pelas suas reconhecidas qualidades de administrador operoso e de homem enrgico enobre, chegou Bahia em 29 de maro de 1549. A unidade de governo que se implantou no nosso pas,em 1549, encontrou fortes obstculos a vencer. Alm da vastido do desconhecido territrio, da

    * Luiz de Ges da Silveira, irmo de Pero de Ges da Silveira, donatrio este da capitania da Paraba do Sul (N.A.)

    3 8 | T E R R A S E FAT O S

  • diversidade do seu clima e da dos costumes da sua gente, houve, outrossim, a inobservncia dos capitese proprietrios das antigas capitanias s ordens do poder central.

    Tom de Souza, fazendo o reconhecimento das terras das capitanias para coloniz-las e defend-las contra as incurses de inimigos, usou mtodos discricionrios que acumularam dificuldades governana do seu sucessor Duarte da Costa. Esse segundo governador, na sua agitada administrao,teve a luta com os ndios sublevados contra os portugueses, as desavenas com o bispo e a invasofrancesa, a que no pode opor resistncia por falta de elementos. Mem de S, terceiro governador geral(1557/1573) reprimiu os desmandos, apaziguou o gentio, fundou povoados, e expulsando, em 1567, osfranceses do Rio de Janeiro, assegurou a soberania de Portugal na terra carioca, onde deixou consolidadaa obra da fundao da cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro, cuja histria o objeto do nosso livro.

    Indubitavelmente, ingente obra foi a da integridade do territrio brasileiro que nos legaram osnossos maiores, e mant-la, mesmo a custo de sacrifcios, trabalhar pela grandeza do Brasil. O notvelhistoriador cnego Fernandes Pinheiro deu tal magnitude unidade do Brasil, que a considerou obra deDeus e no dos homens. E se assim, de fato, parece ser, que neste sculo de graves perturbaes morais,polticas e sociais, o delicado conceito daquele nosso ilustre patrcio viva sempre como sentimentounnime dos brasileiros.

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  • C A P T U L O I

    Conquista e Fundao do Rio de Ja n e i ro

  • Baa de Guanabara

    A frota portuguesa do comando de dom Manoel Nuno e pilotada por Amrico Vespucci, que faziao reconhecimento da costa dessa parte das Amricas, descobriu, a 1 de janeiro de 1502, a baa deGuanapar ou Guanabara seio do mar a qual, devido a um erro cosmogrfico, foi considerada um rioque recebeu o nome de Janeiro, pelo ms da descoberta. Alguns historiadores emprestam o sucesso aAndr Gonalves e outros a Gonalo Coelho. O visconde de Porto Seguro Francisco Adolfo Varnhagen quando alude a esse arrojado navegante Gonalo Coelho diz: ... segundo revelaes deduzidas deantigos portulanos, se recolhera nada menos que baa do Rio de Janeiro e assentara em terra umarraial. Quando em viagem de inspeo costa sul, Tom de Souza, primeiro governador geral doBrasil, visitou a Guanabara e vendo-a ficou entusiasmado, e, em carta ao rei descreveu as magnficascondies naturais da nossa bela baa e lembrou o aproveitamento da terra, povoando-a de gente boa ehonrada, porque nesta costa no h rio em que entrem franceses seno neste. Portugal se mostrouindiferente a essa sensata ponderao, deixando o Rio de Janeiro esquecido. Entretanto, os armadoresfranceses, nas contnuas entradas no nosso porto, conseguiram cativar a confiana dos indgenas e comeles comearam a comerciar o pau-brasil ibirapitanga , o gengibre, a hortel-pimenta e outrosprodutos da nossa rica flora.

    Estabelecimento de Villegaignon

    As monarquias sucedneas das baronias feudais procuraram dilatar os seus domnios com asguerras de conquistas, as aventuras coloniais e as alianas matrimoniais entre as casas reinantes. Duranteum largo perodo, o destino da Europa esteve merc dessa poltica que se prestou bastante aos planosde dois poderosos rivais: Carlos V da Espanha, ambicionando a soberania universal, e Francisco I daFrana, levantando-se contra aquele audacioso monarca. essa rivalidade o mundo espiritual da pocadeu mais instigao, abrindo a luta religiosa. Lutero, frade dominicano da Alemanha, tornando pblicoo seu protesto contra o papado e queimando em praa pblica a bula da sua condenao, trouxe aReforma, cisma religioso de graves conseqncias polticas. Circunstncias decorrentes dos ditos fatosforaram a Frana a abandonar as suas empresas de colonizao, para melhor cuidar dos seus interessesna Europa. No padece dvida que, nas suas derrotas pelos mares da Amrica, os corsrios francesesfizeram-se os mais audazes freqentadores das costas do Brasil, e que foram os primeiros noticiaristasdo nosso pas no Velho Mundo. Os seus razoados influram bastante sobre os homens e empresas quebuscavam aventuras, trazendo-os s nossas plagas. Sob tal influncia, organizou-se a expedio deNicolau Durand de Villegaignon. Quando esse notvel marujo planeou a Frana Antrtica, a sua ptria,sob o governo maquiavlico de Henrique II, joguete de mulheres e de partidos polticos, estava s portasda guerra civil, a que deram causa as perseguies religiosas das cmaras ardentes de Paris.Oportunidade teve, ento, Villegaignon de levar avante o seu projeto de estabelecer no Rio de Janeirouma colnia francesa, conseguindo, como conseguiu, o assentimento do almirante Gaspar de Coligny,juiz supremo dos negcios nuticos da Frana, grande amigo do rei e chefe dos huguenotes. Nessaocasio, Coligny fazia empenho por conseguir um asilo seguro, fora da Europa, para os seuscorreligionrios. Villegaignon soube aproveitar-se dessa circunstncia para convencer o almirante eobter a sua proteo. Tambm, com habilidade, Villegaignon fez-se protegido dos catlicos, garantindo-se, assim, contra qualquer eventualidade da luta religiosa que ameaava a Frana. Afinal, com doisnavios bem artilhados e municionados e carregando todos os aprestos construo de um forte, formou-se a expedio que, a 12 de julho de 1555, deixou o porto do Havre rumo ao do Rio de Janeiro, ondeancorou a 10 de novembro do precitado ano. Feito o reconhecimento da baa, Villegaignon escolheu apequena ilha de Serigipe atual Villegaignon, para a sede do governo da colnia, em cujo arranjo edefesa ele demonstrou o propsito de obra duradoura, obra que, na verdade, causou entusiasmo, teceuesperanas e moveu o trfego mercantil no porto do Rio de Janeiro.

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  • Desbarato da Colnia

    Villegaignon, sem meditar as conseqncias, ps em ventura os amigos, os emigradosvoluntrios, os mercenrios e os condenados que o acompanharam ao Rio de Janeiro, onde a toda essagente o destino reservou uma existncia bem diversa da que sonhara cheia de conforto e tranqilidade,prspera e rica. Em menos de um ano, o clima e as privaes amoleceram o nimo; a continncia e asevera disciplina criaram a rebeldia e por fim as desavenas religiosas. Embora ilustrado, Villegaignonno possua qualidade de administrador e pensou vencer com a tirania, fazendo-se, assim, odiado. Afragilidade do seu carter levou-o a fomentar a luta religiosa entre os colonos e procurou tirar vantagensdessa situao, declarando-se sincero calvinista, como havia sido fervoroso catlico. Acabou, afinal, dizGaffarel, odiado pelos protestantes e desprezado pelos catlicos. Prevendo o malogrado e prximo fimda colnia, preferiu abandon-la, embarcando para a Europa em 1558. A ttica guerreira de NicolauDurand de Villegaignon e a sua bravura impuseram sempre receios ao inimigo, para um ataque deofensiva. A partida, portanto, do cavaleiro de Malta e vice-almirante de Bretanha, fez romper logo ashostilidades das foras portuguesas contra o estabelecimento francs, cujo governo ficara entregue aBois le Comte, outro tirano que no teve o bom entendimento de aliar os elementos valiosos aindaexistentes na Colnia e com os quais teria podido defender a sua segurana. A 15 de maro de 1560,deram os portugueses o ataque decisivo que lhes trouxe a vitria, aps dois dias e trs noites de lutaherica. Assediados, sem gua e sem munies, os franceses e os indgenas abandonaram a cidadela aoslusitanos. Logo a seguir, mandou Mem de S arras-la e que o mesmo se procedesse no continente, ondeo fogo destruiu toda a prspera Colnia. Em carta a Catarina da ustria, regente de Portugal, Mem deS, prestando contas do seu feito, lembrou dita soberana o povoamento do Rio de Janeiro.

    Estcio de S Combate de Uruumirim

    Os franceses voltaram a ocupar o Rio de Janeiro, onde levantaram novas fortificaes emUruumirim depois praia do Flamengo, junto aguada da Carioca e na ilha de Maracai chefeindgena. Essa ilha a atual Governador. Por toda a costa, desde o Esprito Santo at So Vicente, osfranceses instigaram os indgenas contra os portugueses, cujas feitorias foram destrudas pelas legiesguerreiras dos ndios tamoios. So Vicente escapou destruio, porque a tempo de um armistciochegaram os jesutas Manoel da Nbrega e Jos de Anchieta que negociaram a paz entre os beligerantes,firmada na aldeia de Iperoig onde aqueles religiosos tinham desembarcado, a 4 de maio de 1563, e foramhspedes do cacique Caoquira. Entretanto, porque parecesse favorvel a ocasio de povoar o Rio deJaneiro, senhoreando a terra com a completa expulso dos franceses, Portugal mandou Estcio de S,por capito de efeito, com duas naus de guerra, que chegaram Bahia em 1563, onde o governador geral,vendo-se com to hbil capito e socorro, agregou a ele os navios da costa e alguma gente militar, avioua frota com a maior presteza que pde e a despediu no comeo do ano de 1564. O regimento daexpedio mandava que o capito demandasse a barra do Rio de Janeiro e nela entrasse ao som deguerra, observasse as disposies do inimigo e, se contasse com a vitria, procurasse tir-lo ao mar altoe a rompesse com ele. Para diligenciar auxlios empresa, veio da Bahia com Estcio de S o ouvidorBrs Fragoso, e no Esprito Santo embarcou o capito provedor Belchior de Azevedo, e aliaram-se frota, com as suas velozes canoas, os ndios temimins, sob a direo do seu valente cacique o famosoAraribia. Em chegando Guanabara, nos primeiros dias de fevereiro de 1564, a expedioconquistadora, logo entrada da barra, fez a tomadia de uma nau francesa que carregava carne, po evinho e cuja tripulao se ps em fuga para a terra. O profundo antagonismo das duas raas no podiapermitir entre o branco europeu e os livres filhos da Amrica uma paz duradoura e esse foi o principal,se no nico, embarao conservao do tratado de Iperoig, que Estcio de S j encontrou rompido aochegar ao Rio de Janeiro, onde os seus batis foram recebidos a flechas pelos tamoios. Em taiscircunstncias, mandando o regimento da expedio todo o zelo pela paz com o gentio e a audincia dopadre Nbrega nas ocasies difceis, resolveu Estcio de S pedir a presena do notvel jesuta no Rio

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  • de Janeiro, mandando ligeira embarcao para conduzi-lo. Em expectativa de mais de trinta dias estevea expedio, fazendo-se de vela, afinal, em demanda de So Vicente. Porm, os ventos desfavorveisfizeram-na retroceder ao Rio de Janeiro, onde veio encontrar os jesutas Nbrega e Anchieta, chegados meia noite da sexta feira santa de 31 de maro de 1564.* No dia seguinte volta da expedio,Domingo da Pscoa, aps a missa solene na ilha de Villegaignon, combinaram os jesutas com o capito-mor a partida da expedio para So Vicente em busca de reforos. Pela segunda vez, diz Varnhagen, acapitania de So Vicente se prestava, mais do que lhe permitiam as suas foras, para o Brasil no serdilacerado. Armaram-se todas as canoas prestveis, juntou-se o mantimento para o sustento durante trsmeses e reuniu-se quanta gente pudesse combater. A expedio, reforada, ficou composta de seis nausgrandes, de vrias embarcaes pequenas e de muitas canoas de ndios temimins. Segundo o padreAnchieta a nau capitnia saiu na dianteira, zarpando do porto a 22 de janeiro de 1565, para chegar nomesmo dia ilha de So Sebastio, onde aguardou a chegada da frota, que dias depois comeou anavegar rumo ao Rio de Janeiro, em cujo porto, entrada e com o cansao e o constrangimento de todos,escreve o mesmo Anchieta, teve que esperar a capitnia, s aparecida a 28 de fevereiro, vinda da ilhaGrande, onde, desarvorada, fora arribar. No dia seguinte, 1 de maro de 1565, ordenou Estcio de S odesembarque que se fez tomando terra junto a um penedo altssimo e outra penedia que por outro ladocercava, com que ficava em parte defendido, e, nesse lugar de abrigado porto e matas ao redor, Estciode S lanou os fundamentos da cidade a que chamou de So Sebastio do Rio de Janeiro, honrando aorei de Portugal dom Sebastio. Varnhagen, com o qual estamos de acordo, tem o dito local como sendoa praia Vermelha e o bero da cidade do Rio de Janeiro.** Entretanto, uma corrente contrria, cuja opinioest oficialmente aceita, pe o bero da cidade entre o morro de So Joo antigo Cara de Co e o doPo de Acar. E assim que nesse lugar, a 20 de janeiro de 1916, levantou-se um padro comemorativo.H na histria do Rio de Janeiro enganos oriundos de uma viso superficial dos acontecimentos e pelopouco interesse que ainda despertam as pesquisas histricas. O local da fundao da cidade do Rio deJaneiro se nos afigura um desses enganos. A chamada vrzea de So Joo era estreita faixa de terra entredois mares encrespados e sem porto abrigado, por conseguinte, no permitindo segura ancoragem e nemfcil desembarque. Como ttica de guerra, inconcebvel tambm, porque estaria a expedio por alvo doinimigo. Tampouco o interesse econmico, poltico e social poderia ter levado Estcio de S adesembarcar no istmo do Cara de Co. Consideremos agora sobre a praia Vermelha. Em voltando de SoVicente, Estcio de S(2) ancorou a sua frota no porto de Martim Afonso, j bem conhecido dosnavegantes pelo abrigo que oferecia, e desembarcou na praia de areias avermelhadas, entre um penedoaltssimo o Po de Acar e outra penedia que so penedos juntos pejando o lugar: Urca, Babilnia,Pasmado e So Joo Batista. Todos esses morros, cobertos e rodeados de mata, foram o baluarte naturalque Estcio de S encontrou para guardar-se durante dois anos fora das vistas do inimigo, acampado noUruumirim praia do Flamengo. Por detrs dessa forte cortina o primeiro capito-mor do Rio deJaneiro ps o bero da Sebastianpolis e pde, sem perigo, balizar a terra que pisara e que os seus forampenetrando, abrindo caminhos at o Socopenap, no oceano bravo. E desses caminhos so vestgios asruas General Severiano primitivamente, caminho da Azinhaga, Passagem, Mariana, General Polidoroe Real Grandeza e as ladeiras do Leme e do Barroso. O porto de Martim Afonso, assim conhecido desde1531, quando a ancorou a frota da expedio colonizadora, chefiada por Martim Afonso de Souza osbio e prudente, no dizer de Luiz de Cames, era muito movimentado, fazendo-se por ele, em largaescala, um comrcio clandestino de madeira e especiarias. Ainda no sculo XIX, na praia Vermelha, nolugar do porto, era feito o contrabando de bebidas.*** Depois da derrubada da mata, os expedicionriosda frota de Estcio de S acharam gua de lagoa, mas to grossa e nociva, escreve o erudito Simo deVasconcelos, que recearam causasse doenas aos soldados. Jos Alonso e Pedro Martins Namoradotomaram a sua conta fazer uma cacimba da qual beberam boa gua doce. As guas perenes dasmontanhas formavam as encharcadas ou lagoas por toda a plancie de Botafogo. Forte tranqueira foilevantada pela gente da expedio, construdas cabanas maneira selvagem; levantada a capela dopadroeiro, e at um raio de seis lguas para cada lado, marcado foi o termo da cidade que recebeu porarmas um molho de flechas. Estcio de S nomeou as autoridades e concedeu muitas terras aosprincipais e aptos da expedio, e nas quais logo comearam as plantaes. Enfim, na administrao

    * Anais da Biblioteca Nacional, 02/1877 (N.A.)** Os documentos da poca, principalmente a narrativa do padre Jos de Anchieta, afirmam que a frota entrou na baa de Guanabara e que a cidadefoi fundada no sop do morro Cara de Co. (N.C.)*** Vide neste livro o capitulo sobre o bairro de Botafogo. (N.A.)

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  • civil, na justia, nos costumes e em tudo que praticou, o capito-mor procurou dispor de modo a garantira estabilidade da colnia, onde se manteve por dois anos em defensiva, at que, em chegando Mem deS, a 18 de janeiro de 1567, com muita tropa, pde enfrentar o inimigo em Uruumirim, onde se travouo decisivo e terrvel combate de 20 de janeiro de 1567 dia de So Sebastio, padroeiro da cidade.Vitoriosos foram os portugueses, depois de mortfera peleja que fez tremer a terra na contingncia dequem havia de possu-la.* No Instrumento dos seus servios, a propsito da tomada da ilha de Maracai Governador, atualmente , Mem de S diz o seguinte: Da a poucos dias mandei dar em outrafortaleza do Paranapocu, onde havia mais de mil homens de guerra e muita artilharia e trs dias acombateram continuamente, at que entraram com muito trabalho e maior riscos e mortes de algunsbrancos e depois de se defenderem esforadamente se renderam e foram todos cativos, e estando prestespara ir a outra fortaleza mais forte em que estavam muitos franceses, no ousaram esperar e deixaram afortaleza, a qual tinha trs cercas fortssimas, muitos baluartes e casas-fortes, e logo me vieram pedirpazes e lhas outorguei, sob ficarem vassalos de sua alteza.

    Sobre a conquista do Rio de Janeiro pelas foras portuguesas, em 1567, escreve Roberto Southey:Jamais guerra em que to pequenos esforos se fizessem e to poucas foras se empregassem de partea parte foi to frtil de importantes conseqncias. A Corte de Frana andava por demais ocupada emqueimar e trucidar huguenotes para poder pensar no Brasil; e Coligny vendo abortar os seus projetos pelavil tradio de Villegaignon, j no atendia a Colnia. O dia de emigrar j era passado e os que deviamcolonizar o Rio de Janeiro, empunhavam armas contra um inimigo sanguinrio e implacvel na defensode quanto caro ao homem. Portugal estava to desatento como a Frana. A morte de dom Joo III forapara o Brasil irremedivel perda; porquanto, posto que a rainha regente algum tempo seguisse aspegadas do finado monarca, era com menos zelo e diminudo poder; e quando se viu forada a resignara administrao nas mos do cardeal dom Henrique, revelou este a mesma falta total de resoluo eatividade que mais tarde manifestou no seu curto e triste reinado. Tivesse sido Mem de S menosenrgico no cumprimento dos seus deveres, ou Nbrega menos hbil e menos incansvel, e esta cidade,que hoje a capital do Brasil, seria francesa agora.

    Antigos dominadores de quase toda a costa, desde a Bahia at So Vicente, os tamoios noquiseram permanecer na terra em que foram vencidos, e penetrando o serto em direo ao norte, dizJoaquim Norberto, seguiram as mesmas veredas por onde tinham trilhado os seus antepassados, e nessatriste retirada deixaram-se guiar pelos tobixras, que seguiam os pajs ao sussurro misterioso do marac.Em conseqncia dos ferimentos que recebera no combate de Uruumirim, Estcio de S veio a falecerum ms depois, em 20 de fevereiro de 1567, sendo o seu corpo sepultado no prprio aldeamento a quemuito mais tarde se denominou Vila Velha,2 e da levado para o morro do Castelo. Agora, arrasada atradicional colina, os restos mortais do fundador da cidade de So Sebastio do Rio de Janeirodescansam em condigno jazigo na suntuosa baslica de So Sebastio, rua Hadock Lobo. Terminada aluta e assegurado o domnio portugus sobre a terra carioca, Mem de S transferiu o solar primitivo dacidade para outro local mais conveniente beira mar, olhando o oriente e onde havia um outeiro cobertode espessa mata que a custo e trabalho se derrubou. No alto desse monte, chamado do Descanso, aprincpio, e depois do Castelo, levantou-se a cidadela bem cercada e fortificada. Construram-se a igreja,a casa dos jesutas, a Casa do Conselho ou Cmara, sobradada, telhada e grande, a cadeia, os armaznsda Fazenda Real, com varandas, e as casas de morada particulares. Depois dessas e outras providncias,Mem de S voltou Bahia. Indiscutivelmente, a ao militar de Mem de S e os atos que praticou, coma autoridade de governador geral do Brasil, deram-lhe certa projeo nos acontecimentos da fundaoda cidade do Rio de Janeiro mas nunca o ttulo de fundador. A cidade de So Sebastio do Rio deJaneiro veio a ser a capital da capitania deste mesmo nome, capitania que abrangeu extenso territrioentre as capitanias de Porto Seguro e do Esprito Santo ao norte, e a de So Vicente, ao sul.

    * Rocha Pitta, Histria da Amrica Portuguesa. (N.A.)

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  • Augusto Malta, 15/1/1922. Lpide que cobria a urna do tmulo de Estcio de S.

  • Augusto Malta, 15/1/1922. Abertura do tmulo de Estcio de S.Augusto Malta, 20/1/1922. Traslados dos restos mortais de Estcio de S prefeito Carlos Sampaio e autoridades frente do prstito.

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  • C A P T U L O I I

    Se s m a r i a s

  • Na fase da formao social dos agrupamentos humanos, quando o homem passou de pastor aagricultor, vamos encontrar a origem da sesmaria, palavra que aceitamos como corruptela de semear.Todavia, muitos a consideram oriunda de sesma, a sexta parte, porque na sua origem as sesmariaspagavam de penso a sexta parte dos frutos da terra. Nas organizaes econmicas dos mais antigospovos, como incentivo ao trabalho do campo, as terras de sesmaria s eram doadas aos capazes decultiv-las. Em Portugal, na forma das Ordenaes Afonsinas (Liv. 4 tt. 43), as sesmarias no tinhamoutra finalidade seno a da cultura dos campos, abandonados pelas aventuras das guerras. Dom AfonsoII (1211/1223) mostrou-se sbio ao resolver a grave crise do seu reino, quando atraiu o homem,novamente, ao trabalho agrcola, doando-lhe terras de sesmaria. Primitivamente, s ao rei competianomear os sesmeiros. No decorrer dos anos esta competncia foi sendo atribuda aos Conselhos, deforma que aos poucos o Estado passou a intervir nos negcios concernentes s sesmarias at chegar auma interveno absoluta. Desde ento, ficaram sujeitas inspeo dos almoxarifes e criaram-se nusaos donatrios alm do direito reservado ao rei de exercer o domnio iminente em benefcio dacomodidade e da utilidade pblicas. No Brasil, terras de sesmaria foram dadas pelos donatrios dascapitanias, esquecidos, porm, j estavam os seus princpios fundamentais e da a pouca ou nenhumavantagem trazida ao desenvolvimento das donatarias. Com o governadores, que foram prdigosconcedendo terras, o pouco que se providenciou teve carter administrativo-judicirio, apenas. Muitotarde, no Brasil, procurou-se corrigir os erros e regulamentar com acerto sobre as sesmarias, e s em1795, pelo alvar de 5 de outubro, estabeleceu-se um novo regimento. Por fim, com o abandono dasterras, que foram sendo desmembradas e povoadas, extinguiram-se naturalmente as antigas sesmarias.Os atos administrativos praticados, considerando-as extintas, fundamentaram-se na Ordem Rgia de 16de maro de 1662, e firmados, portanto, na ordenao supressiva, revogvel e intransfervel pordeterminado perodo. Alm disto, o ttulo da sesmaria obrigava o aproveitamento das terras pela cultura,e queria nas mesmas a residncia dos concessionrios o que muito pouco aconteceu no Brasil.

    Terras do Rio de Janeiro

    Extenso territrio, entre as capitanias de Porto Seguro e do Esprito Santo, ao norte, e a de SoVicente, ao sul, compreendeu a capitania do Rio de Janeiro, e nesse territrio, em cerca de milquilmetros quadrados, da donataria de Martim Afonso de Souza, est assente a cidade de So Sebastiodo Rio de Janeiro, cuja fundao, em 1565, por Estcio de S, em nome do rei de Portugal, obedeceu naordem poltica e econmica ao processo histrico das cidades portuguesas.

    margem ocidental da baa de Guanabara espraiou-se a cidade do Rio de Janeiro, guarnecida demontanhas, umas distanciadas e outras prximas, num conjunto alcantilado e encantador. A plancieonde repousa, no seu aspecto primitivo, apresentava acidentes curiosos, com os extensos mangues, asgrandes e pequenas lagoas de guas doces e salgadas, marnis e terras enxutas cobertas de mata espessa.O litoral de recncavos pitorescos e belas praias.

    As terras doadas Cmara, em 16 de julho de 1565 e 18 de agosto de 1567, constituram os bensprprios do seu patrimnio e os bens do uso comum, regendo-se pelas regras (ttulo 46, Livro 1) daOrdenao Manoelina. Das duas citadas doaes deriva-se o direito da municipalidade ao senhoriodireto a uma grande parte do cho da cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro. certo, porm, quenesse mesmo cho se fez sentir o domnio particular, por ocupao intrusa. Esse fato chegou a causarclamor pblico e levou o Senado da Cmara a tomar enrgicas providncias contra os intrusos, muitosdos quais se decidiram a legalizar a situao. Tambm, ainda certo a ausncia at hoje de um estudocompleto, consciencioso e perfeitamente documentado, que prove a legitimidade do domnio particularno Rio de Janeiro.* No Parcelamento Cadast