safo e horacio

46
Safo 137 L-P quero dizer-te uma coisa, mas me tolhe o pudor [ ... fosse, o teu, um desejo por algo nobre e bom não te estalassem na língua umas palavras feias, nenhum pudor velaria os teus olhos [e o que é certo tu dirias] Tradução: Joaquim Brasil Fontes Fonte: FONTES, J.B. Eros, tecelão de mitos. São Paulo: Iluminuras. 2002. 1 comentários Marcadores: Joaquim Brasil Fontes , literatura grega , lírica grega , Safo TERÇA-FEIRA, JANEIRO 26, 2010 Safo: fragmento 2 L-P Vem de Creta até este puro santuário, onde há para ti um querido bosque de macieiras, altares que se acen- -dem com incensos: Lá águas frescas murmuram através de ramos de macieiras, sombreia-se com rosas todo o solo, e de trementes folhagens derrama-se um feitiço: o sono. Lá viceja um prado, pasto de corcéis, com flores de primavera, e os ventos sopram docemente: Aqui, Cípris, tu conquistaste

Upload: rafael-rodrigues

Post on 12-Aug-2015

105 views

Category:

Documents


18 download

TRANSCRIPT

Page 1: Safo e Horacio

Safo 137 L-Pquero dizer-te uma coisa, mas me tolhe

o pudor [

...

fosse, o teu, um desejo por algo nobre e bom

não te estalassem na língua umas palavras feias,

nenhum pudor velaria os teus olhos

[e o que é certo tu dirias]

Tradução: Joaquim Brasil Fontes

Fonte: FONTES, J.B. Eros, tecelão de mitos. São Paulo: Iluminuras. 2002.

1 comentários

Marcadores: Joaquim Brasil Fontes, literatura grega, lírica grega, Safo

TERÇA-FEIRA, JANEIRO 26, 2010

Safo: fragmento 2 L-PVem de Creta até este puro santuário, 

onde há para ti um querido bosque

de macieiras, altares que se acen-

-dem com incensos:

Lá águas frescas murmuram através de ramos

de macieiras, sombreia-se com rosas

todo o solo, e de trementes folhagens

derrama-se um feitiço: o sono.

Lá viceja um prado, pasto de corcéis,

com flores de primavera, e os ventos 

sopram docemente: 

Aqui, Cípris, tu conquistaste 

néctar mesclado a festividades

vertendo-o com delicadeza

em nossos dourados cálices. 

Outras fontes do fragmento: 

Page 2: Safo e Horacio

Hermógenes, As formas do estilo, 2.34:

"E (sc. sobre os prazeres) pode-se descrever com simplicidade aqueles que não são torpes, como a beleza de uma

região, plantas diversas, a variedade dos rios e tantas outras coisas. É que estes incutem prazer aos olhos, ao serem

vistos, e aos ouvidos, quando alguém os anuncia, como fez Safo:

“ à sua volta, águas frescas murmuram através de ramos de macieiras”, e “das trementes folhagens derrama-se um

feitiço: o sono”. e o que mais é dito antes desses versos e depois. 

Ateneu, o Banquete dos eruditos:

E segundo a bela Safo:

“Vem, Cípris, 

Vertendo com delicadeza 

Em nossos dourados cálices

Néctar mesclado a festividades”

Aos meus e aos teus companheiros.

(Tradução de Rafael Brunhara)

0 comentários

Marcadores: literatura grega, lírica grega, Safo, traduções

SÁBADO, DEZEMBRO 12, 2009

'Safo': Antologia Grega1. (7.489)

Eis as cinzas de Timas: morta pouco antes de casar-se,

Perséfone a acolheu em seu quarto sombrio.

Assim que ela morreu, as amigas, tão jovens quanto ela,

cortaram-se os cabelos com ferro afiado.

2. (7.505)

Menisco, pai de Pelagon, pescador, deixou-lhe na tumba

rede e remo, mementos de sua vida mísera.

Page 3: Safo e Horacio

Tradução: José Paulo Paes. in: Poemas da Antologia Grega ou Palatina. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

0 comentários

Marcadores: antologia grega, José Paulo Paes, literatura grega, lírica grega, Safo

DOMINGO, NOVEMBRO 15, 2009

Safo: Fragmentos 49, 55, 102 e 13049

Eu te amava, Átis, outrora...

...parecias-me pequenina e sem encantos.

55

Morta, jazerás: e não mais memória de ti

haverá então, nem saudade; pois não tiveste parte nas rosas

da Piéria. Invisa no palácio de Hades

vaguearás, entre débeis cadáveres esvoaçante.

102

Doce mãe, já não posso mais tecer a trama

por desejo a um rapaz domada pela esguia Afrodite.

130

Eros, de novo, que os membros deslassa, perturba-me:

doce e amargo, invencível monstro.

0 comentários

Marcadores: literatura grega, lírica grega, Safo, traduções

SEGUNDA-FEIRA, NOVEMBRO 02, 2009

Safo 34 VAstros ao redor da bela lua

De pronto ocultam sua luz fanal

quando plena ela mais fulge

argêntea

sobre a terra.

0 comentários

Page 4: Safo e Horacio

Marcadores: literatura grega, lírica grega, Safo, traduções

SEXTA-FEIRA, NOVEMBRO 21, 2008

Safo - EpitalâmioAo alto o teto

hímen!

erguei, carpinteiros.

hímen!

Vem-se o esposo: rival

hímen!

é de Ares, e homem

mais alto do que alto!

hímen! 

Tradução: Pedro Alvim, in: Safo de Lesbos. SP: Ars Poética. 1993.

0 comentários

Marcadores: literatura grega, lírica grega, Pedro Alvim, Safo

SEXTA-FEIRA, FEVEREIRO 08, 2008

Safo 31 - Tradução de Elpino DurienseIgual aos Deuses me parece aquele

Que defronte de ti se assenta, e te ouve

De perto docemente conversando,

Docemente sorrindo.

Isto no peito o coração me assombra,

Que depois que te eu vi, jamais me veio

Voz alguma à garganta, antes quebrada

A língua se entorpece,

Eis já de veia em veia sutil fogo

Lavrando vai: c'os olhos nada vejo;

E sinto de contínuo em meus ouvidos

um túrbido zumbido.

Geladas bagas por meu corpo correm,

Um frígido tremor me toma toda;

O rosto amarelece (*), e quase morta

Nem respirar já posso.

Page 5: Safo e Horacio

(*) Nota do tradutor: O texto diz: "Estou mais verde que a erva"; mas esta imagem por muito vulgar não sairia bem

em nossa língua; como já notou o douto tradutor português de Longino, pelo que lhe substituímos o rosto

amarelece, lembrando-nos da Eglóga X, dos Segadores de Ferreira, que nos diz na altepenúltima oitava: "A mão te

treme, o rosto amarelece,"

2 comentários

Marcadores: Elpino Duriense, literatura grega, lírica grega, Safo

SEGUNDA-FEIRA, DEZEMBRO 24, 2007

Safo: fragmentosNão minto: eu me queria morta.

Deixava-me, desfeita em lágrimas:

"Mas, ah, que triste a nossa sina!

Eu vou contra a vontade, juro,

Safo". "Seja feliz", eu disse,

"E lembre-se de quanto a quero.

Ou já esqueceu? Pois vou lembrar-lhe

Os nossos momentos de amor.

Quantas grinaldas, no seu colo,

— Rosas, violetas, açafrão —

Trançamos juntas! Multiflores

Colares atei para o tenro

Pescoço de Átis; os perfumes

Nos cabelos, os óleos raros

Da sua pele em minha pele!

[...]

Cama macia, o amor nascia

De sua beleza, e eu matava

A sua sede" [...}

Cai a lua, caem as plêiades e

É meia-noite, o tempo passa e

Eu só, aqui deitada, desejante.

— Adolescência, adolescência,

Você se vai, aonde vai?

— Não volto mais para você,

Page 6: Safo e Horacio

Para você volto mais não. 

Tradução: Décio Pignatari

0 comentários

Marcadores: Décio Pignatari, literatura grega, lírica grega, Safo

QUARTA-FEIRA, DEZEMBRO 19, 2007

Safo 50 DO amor - súbita brisa

que nas folhas tropeça -

meu coração deixou tremente.

[Tradução de Jorge de Sena]

0 comentários

Marcadores: Jorge de Sena, literatura grega, lírica grega, Safo

DOMINGO, DEZEMBRO 16, 2007

Safo - fr.170Morrer é um mal – assim decidiram os deuses

eles que não morrem.

[Tradução: Joaquim Brasil Fontes]

0 comentários

Marcadores: Joaquim Brasil Fontes, literatura grega, Safo

Safo- fr. 2 L-PHá um murmúrio de águas frescas, através

dos ramos das macieiras, as rosas ensobram

todo o solo, e das folhas trémulas

escorre o sonho. 

[vv.5-8. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira]

Page 7: Safo e Horacio

0 comentários

Marcadores: literatura grega, lírica grega, Maria Helena da Rocha Pereira, Safo

QUARTA-FEIRA, NOVEMBRO 28, 2007

Safo 105 L-PTal uma doce maçã rubra, que brilha no alto dos ramos,

mesmo no cimo de tudo, esquecida dos que andavam na colheita,

- esquecida não, é que não conseguiram antingi-la.

[Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira]

0 comentários

Marcadores: literatura grega, lírica grega, Maria Helena da Rocha Pereira, Safo

SEXTA-FEIRA, OUTUBRO 12, 2007

Safo: gênese do poemavem

lira quelônia

divina:

vira

sompoema

(Tradução: Haroldo de Campos)

0 comentários

Marcadores: Haroldo de Campos, literatura grega, lírica grega, Safo

Safo 5Morto o doce adônis

e agora citeréia

que nos resta?

lacerai os seios donzelas

dilacerai as túnicas

(Tradução Haroldo de Campos)

Page 8: Safo e Horacio

0 comentários

Marcadores: Haroldo de Campos, literatura grega, lírica grega, Safo

TERÇA-FEIRA, SETEMBRO 18, 2007

Safo, fr. 31 - Outra traduçãoDitosa que ao teu lado só por ti suspiro!

Quem goza o prazer de te escutar,

quem vê, às vezes, teu doce sorriso.

Nem os deuses felizes o podem igualar.

Sinto um fogo sutil correr de veia em veia

por minha carne, ó suave bem querida,

e no transporte doce que a minha alma enleia

eu sinto asperamente a voz emudecida.

Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.

Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;

E pálida e perdida e febril e sem ar,

um frêmito me abala... eu quase morro... eu tremo.

Tradução: Décio Pignatari

Tradução de Jaa Torrano.

0 comentários

Marcadores: Décio Pignatari, literatura grega, lírica grega, Safo

Safo - fr.55 LPQuando morreres, hás-de jazer sem que haja no futuro

Memória de ti nem saudade. É que não tiveste parte

Nas rosas de Piéria. Invisível, andarás a esvoaçar

No Hades, entre os mortos impotentes. 

Tradução: Maria Helena da Rocha Pereira.

0 comentários

Marcadores: literatura grega, lírica grega, Maria Helena da Rocha Pereira, Safo

Page 9: Safo e Horacio

SEGUNDA-FEIRA, SETEMBRO 10, 2007

Safo Fr.34Em torno a silene esplêndida

os astros

recolhem sua forma lúcida

quando plena ela mais resplende

alta

argêntea

[Fr.34 LP]

Tradução: Haroldo de Campos

0 comentários

Marcadores: Haroldo de Campos, literatura grega, lírica grega, Safo

DOMINGO, MAIO 20, 2007

Safo - Ode a AnactóriaDizem: O renque de carros ou de soldados

ou de navios é sobre a terra negra

a suprema beleza. Digo: é aquilo que

se ama.

Muito fácil fazer isto compreensível

a todos: - Helena, a que superou

toda beleza de humanos, ao mais nobre

marido

deixou atrás e foi a Tróia num navio.

Nem da filha nem dos pais queridos

nada se recordou, mas seduziu-a

Cípris.

Nas mãos de Cípris, é maleável a mente.

Eros faz nosso pensamento revirar-se

leve e faz-me lembrar agora Anactória

longe.

Quisera eu ver o encanto de seu andar

e a luz brilhante de seu rosto,

não carros da Lídia ou guerreiros

com armas.

Page 10: Safo e Horacio

(Tradução de Jaa Torrano)

0 comentários

Marcadores: Jaa Torrano, literatura grega, lírica grega, Safo

QUINTA-FEIRA, MAIO 10, 2007

Safo - Hino a AfroditeAfrodite imortal de faiscante trono

filha de Zeus tecelã de enganos peço-te:

a mim nem mágoa nem náusea domine

Senhora o ânimo

Mas aqui vem - se há uma vez

a minha voz ouvindo de longe

escutaste e do pai deixando a casa

áurea vieste

atrelado o carro. Belos te levavam

ágeis pássaros acima da terra negra

contínuas asas vibrando vindos do céu

através do ar,

e logo chegaram. Tu ó venturosa

sorrindo no rosto imortal indagas

o que de novo sofri, a que de novo

te evoco,

o que mais desejo de ânimo louco

que aconteça. "Quem de novo convencerei

a acolher teu amor?" "Quem, Safo, te faz sofrer?"

"Se bem agora fuja, logo te perseguirá,

se bens teus dons recuse, virá te dar,

se bem não ame, logo amará - ainda que

ela não queira."

Vem junto a mim ainda agora, desfaz

o áspero pensar, perfaz quanto meu ânimo

anseia ver perfeito. E tu mesma - sê

minha aliada.

Page 11: Safo e Horacio

(Tradução de Jaa Torrano)

0 comentários

Marcadores: Jaa Torrano, literatura grega, lírica grega, Safo

SÁBADO, MAIO 05, 2007

SafoParece-me par dos deuses

ser o homem que ante de ti

senta-se e de perto te ouve

a doce voz

e o riso desejoso. Sim isso

me atordoa o coração no peito:

tão logo te olho, nenhuma voz

me vem

mas calada a língua se quebra,

leve e sob a pele um fogo me corre,

com os olhos nada vejo, sobrezum-

bem os ouvidos

frio suor me envolve, tremo

toda tremor, mais verde que relva

estou, pouco me parece faltar-me

para a morte.

Mas tudo é ousável e sofrível...

(Tradução de Jaa Torrano)

Horácio, Ode II, 16Surpreso no amplo mar Egeu, o nauta,

logo que nuvem atra esconde a lua

e estrela alguma arde no céu, aos deuses

pede descanso;

Page 12: Safo e Horacio

descanso pede a furibunda Trácia,

pede-o o meda de aljavas enfeitado,

Grosfo, porque, com gemas e ouro, nunca

podem comprá-lo.

Pois o ouro e o consular litor não tiram

as agitações míseras do espírito 

e os cuidados que os tetos sobrevoam,

ricos de ornatos.

Vive com pouco e bem aquele a quem

pátrio saleiro esplende à mesa simples

e não lhe rouba o sono, o medo e a inveja,

sórdido vício.

Por que, assim, tanto, intrépidos, visamos,

se a vida é breve? Buscar outra terra,

sob outro sol? Mas quem, fugindo a pátria,

foge a si mesmo?

Navios de bronze o mórbido cuidado

escala; equestre esquadrões persegue,

mais rápido que o cervo, mais veloz

que Euro soprando.

Alegre no presente, que a alma odeie

os cuidados futuros, e a amargura,

adoce-a, a rir: felicidade inteira,

essa não há.

Morte precoce arrebatou Aquiles,

longa velhice consumiu Titono,

talvez o fado me conceda aquilo

que te negou.

Cercam-te cem rebanhos a mugir

de vacas sículas, relincha-te a égua,

a quadriga apta, lãs três vezes tinta

de áfrico múrice

para o teu uso tens; a mim, me deu

pequeno campo, o sopro das camenas

gregas e o dom de desprezar o vulgo,

Parca veraz.

Page 13: Safo e Horacio

Tradução de Bento Prado de Almeida Ferraz.

Fonte: FERRAZ, Bento Prado de Almeida; PRADO, Anna Lia Amaral de Almeida (org.) Horácio: Odes e Epodos, SP:

Martins Fontes, 2003.

0 comentários

Marcadores: Bento Prado de Almeida Ferraz, Horácio, literatura latina

SEXTA-FEIRA, OUTUBRO 30, 2009

Horácio, IV. 2Pindarum quisquis studet aemulari,

Iulle, ceratis ope Daedalea

nititur pinnis, uitreo daturus

nomina ponto.

Monte decurrens uelut amnis, imbres 5

quem super notas aluere ripas,

feruet inmensusque ruit profundo

Pindarus ore,

laurea donandus Apollinari,

seu per audacis noua dithyrambos 10

uerba deuoluit numerisque fertur

lege solutis,

seu deos regesque canit, deorum

sanguinem, per quos cecidere iusta

morte Centauri, cecidit tremendae 15

flamma Chimaerae,

siue quos Elea domum reducit

palma caelestis pugilemue equomue

dicit et centum potiore signis

munere donat, 20

flebili sponsae iuuenemue raptum

plorat et uiris animumque moresque

aureos educit in astra nigroque

inuidet Orco.

Multa Dircaeum leuat aura cycnum, 25

tendit, Antoni, quotiens in altos

Page 14: Safo e Horacio

nubium tractus; ego apis Matinae

more modoque

grata carpentis thyma per laborem

plurimum circa nemus uuidique 30

Tiburis ripas operosa paruus

carmina fingo.

Concines maiore poeta plectro

Caesarem, quandoque trahet ferocis

per sacrum cliuum merita decorus 35

fronde Sygambros;

quo nihil maius meliusue terris

fata donauere bonique diui

nec dabunt, quamuis redeant in aurum

tempora priscum. 40

Concines laetosque dies et urbis

publicum ludum super impetrato

fortis Augusti reditu forumque

litibus orbum.

Tum meae, si quid loquar audiendum, 45

uocis accedet bona pars, et: 'O sol

pulcher, o laudande!' canam recepto

Caesare felix;

teque, dum procedis, io Triumphe!

non semel dicemus, io Triumphe! 50

ciuitas omnis, dabimusque diuis

tura benignis.

Te decem tauri totidemque uaccae,

me tener soluet uitulus, relicta

matre qui largis iuuenescit herbis 55

in mea uota,

fronte curuatos imitatus ignis

tertius lunae referentis ortum,

qua notam duxit niueus uideri,

cetera fuluus. 

Aquele que pretende emular Píndaro,

Page 15: Safo e Horacio

Em penas com dedálea cera unidas,

Se estriba, ó Julo, que há de dar o nome

Ao vítreo pego.

Solto rio da serra, a quem as chuvas

Sobre as sabidas margens empolaram,

Tal ferve, e com profunda boca rue

Píndaro imenso. 

Digno por certo da Apolínea láurea,

Ou por audazes ditirambos novas

Palavras volve, e com seus ritmos corre

De regras soltos:

Ou deuses canta, e reis de deuses sangue,

Pelos quais os centauros com merecida

Morte caíram; caiu da tremenda

Quimera a flama. 

Ou conta aqueles que da élea palma a casa

Torna divinos, e o cavalo e o atleta,

E os brinda com uma dádiva mais nobre

Que cem estátuas:

Ou à flébil esposa o jovem chora

Roubado, e o valor e o espr'ito e os áureos

Costumes leva aos astros, e os ressalva

De Orco escuro.

Muita aura eleva, Antônio, ao Dirceu cisne,

Quando ele às altas regiões das nuvens

Desprega o voo: e eu da matina abelha

com gênio e arte,

Que com muita fadiga em torno ao bosque

E às ribas do orvalhado Tibur colhe

Gratos tomilhos, trabalhosos versos

Pequeno formo.

Tu cantarás poeta com mor plectro

A César merecido louro ornado,

Quando pelo sagrado outeiro arraste

Feros sicambros:

Nada maior,nem melhor que ele ao mundo

Page 16: Safo e Horacio

Os fados e os propícios deuses deram;

Nem hão de dar, inda que os tempos volvam

Ao ouro antigo.

E os ledos dias cantarás, e os jogos

Solenes da cidade, quando a vinda

Do forte Augusto conseguir, e o foro

livre de pleitos.

Então de minha voz grã parte soe

(se mereço que se ouça): Ó sol formoso,

De louvor e digno, eu cantarei, já tendo

Feliz a César.

E enquanto ele passar; viva ó Triunfo,

Diremos muita vez; toda a cidade

Dirá: viva ó Triunfo, e incensaremos

Os pios deuses.

A ti dez touros, e outras tantas vacas,

Desempenhem; a mim, tenro novilho,

Que a mãe deixando, em largos pastos cresce

Para meus votos;

Na fronte imita os encurvados fogos

Da lua, que ao terceiro dia nasce:

Aonde a mancha tem, níveo parece,

No mais é louro.

Tradução: Elpino Duriense

0 comentários

Marcadores: Elpino Duriense, Horácio, literatura latina, lírica latina

SEXTA-FEIRA, JUNHO 05, 2009

Horácio, III. 2Angustam amice pauperiem pati

robustus acri militia puer

condiscat et Parthos ferocis

uexet eques metuendus hasta

uitamque sub diuo et trepidis agat 

Page 17: Safo e Horacio

in rebus. Illum ex moenibus hosticis

matrona bellantis tyranni

prospiciens et adulta uirgo

suspiret, eheu, ne rudis agminum

sponsus lacessat regius asperum 

tactu leonem, quem cruenta

per medias rapit ira caedes.

Dulce et decorum est pro patria mori:

mors et fugacem persequitur uirum

nec parcit inbellis iuuentae

poplitibus timidoue tergo. 

Virtus, repulsae nescia sordidae,

intaminatis fulget honoribus

nec sumit aut ponit securis

arbitrio popularis aurae. 

Virtus, recludens inmeritis mori

caelum, negata temptat iter uia

coetusque uolgaris et udam

spernit humum fugiente pinna.

Est et fideli tuta silentio 

merces: uetabo, qui Cereris sacrum

uolgarit arcanae, sub isdem

sit trabibus fragilemque mecum

soluat phaselon; saepe Diespiter

neglectus incesto addidit integrum, 

raro antecedentem scelestum

deseruit pede Poena claudo. 

Robusto moço na milícia forte

Aveze-se à pobreza estreita, amigos; 

E com a lança temível cavaleiro

Vexe os ferozes partos;

Viva ao relento, e em trepidos trabalhos:

A ele das hostis muralhas vendo

A matrona do rei beligerante

Suspire, e a adulta virgem:

Ah! não provoque o régio esposo, rude

Page 18: Safo e Horacio

Nas guerras, ao leão, feroz se o tocam;

A quem cruentas iras arrebatam

Por meio das matanças.

Pela pátria morrer é doce, e honroso.

Segue a morte o varão também, que foge;

Nem aos moços perdoa, que covardes

Timídas costas voltam.

A virtude com não manchadas honras

De sórdida repulsa isenta, brilha;

Nem de aura popular a arbítrio toma,

Ou depõe as machadas.

Abrindo o ceú aos que morrer não devem

Tenta a virtude insólito caminho;

Turba vulgar e úmida terra engeita

Com as fugitivas azas.

Tem o fiel silêncio também prêmio

Seguro: quem revela o sacrifício

Da arcana Ceres, não consinto, viva

Na mesma casa, ou solte

Comigo o batel frágil; ofendido

Os bons aos maus ajuntou às vezes Jove;

Raras vezes a pena com pé tardo

Deixou inulto o crime.

0 comentários

Marcadores: Elpino Duriense, Horácio, literatura latina, lírica latina

SÁBADO, JANEIRO 03, 2009

Horácio, I,20Vile potabis modicis Sabinum

cantharis, Graeca quod ego ipse testa

conditum leui, datus in theatro

cum tibi plausus,

care Maecenas eques, ut paterni 

fluminis ripae simul et iocosa

redderet laudes tibi Vaticani

Page 19: Safo e Horacio

montis imago.

Caecubum et prelo domitam Caleno

tu bibes uuam; mea nec Falernae 

temperant uites neque Formiani

pocula colles. 

Ordinário sabino por pequenas

taças, claro Mecenas cavaleiro,

tu beberás, que eu mesmo sigilara

guardado em talha grega;

quando o teatro te aplaudiu de modo

que as ribas do paterno rio, e o eco

engraçado do Monte Vaticano

te repetiu louvores.

Cécubo, e uva no lagar Caleno

bebe embora espremida, que meus copos

nem falernas videiras os temperam,

nem formiano outeiro.

Tradução de Elpino Duriense.

Fonte: 

A lyrica de Quinto Horacio Flacco. Lisboa: Imprensa régia, 1807.

0 comentários

Marcadores: Elpino Duriense, Horácio, literatura latina, lírica latina

SÁBADO, JULHO 26, 2008

Horácio II.7O saepe mecum tempus in ultimum

deducte Bruto militiae duce,

quis te redonauit Quiritem

dis patriis Italoque caelo,

Pompei, meorum prime sodalium, 

cum quo morantem saepe diem mero

Page 20: Safo e Horacio

fregi, coronatus nitentis

malobathro Syrio capillos?

Tecum Philippos et celerem fugam

sensi relicta non bene parmula, 

cum fracta uirtus et minaces

turpe solum tetigere mento;

sed me per hostis Mercurius celer

denso pauentem sustulit aere,

te rursus in bellum resorbens 

unda fretis tulit aestuosis.

Ergo obligatam redde Ioui dapem

longaque fessum militia latus

depone sub lauru mea, nec

parce cadis tibi destinatis. 

Obliuioso leuia Massico

ciboria exple, funde capacibus

unguenta de conchis. Quis udo

deproperare apio coronas

curatue myrto? Quem Venus arbitrum 

dicet bibendi? Non ego sanius

bacchabor Edonis: recepto

dulce mihi furere est amico. 

Ó tu, comigo muita vez exposto,

Sob mando de Bruto, ao lance extremo,

Quem te tornou Quirite aos pátrios deuses,

E aos céus da Itália, Varo,

De meus sócios primeiro? com que muitas

Vezes gastei bebendo o tardo dia,

Coroado os cabelos luzidios

Com os aromas sírios.

Contigo a filipense guerra, e a fuga

Veloz segui, deixando torpe o escudo,

Quando os minaces, rota a hoste, ó pejo!

Com o rosto o chão te tocaram.

A mim salvou-me de entre imigos pávido

Page 21: Safo e Horacio

Por densos ares o veloz Mercúrio,

A ti sorveu-te a onda em nova guerra

por estuosos mares.

A Jove presta pois o prometido

Banquete, e o corpo em longa guerra lasso

Sob o meu louro estende, nem perdões

Às talhas, que te esperam.

Do Mássico, por quem já tudo esquece,

As lisas taças enche: de amplas conchas

Cheiros entorna: quem traz presto crôas

De úmido aipo, ou mirto?

Quem fará Vênus árbitro do vinho?

Eu não menos bacante, que os edonios,

com furor beberei, com o amigo salvo,

Enlouquecer é doce.

Tradução: Elpino Duriense

0 comentários

Marcadores: Elpino Duriense, Horácio, literatura latina, lírica latina

SEXTA-FEIRA, MAIO 09, 2008

Horácio, I, 1.Maecenas atauis edite regibus,

o et praesidium et dulce decus meum,

sunt quos curriculo puluerem Olympicum

collegisse iuuat metaque feruidis

euitata rotis palmaque nobilis 

terrarum dominos euehit ad deos;

hunc, si mobilium turba Quiritium

certat tergeminis tollere honoribus;

illum, si proprio condidit horreo

quicquid de Libycis uerritur areis. 

Gaudentem patrios findere sarculo

agros Attalicis condicionibus

numquam demoueas, ut trabe Cypria

Myrtoum pauidus nauta secet mare.

Luctantem Icariis fluctibus Africum 

mercator metuens otium et oppidi

Page 22: Safo e Horacio

laudat rura sui; mox reficit rates

quassas, indocilis pauperiem pati.

Est qui nec ueteris pocula Massici

nec partem solido demere de die 

spernit, nunc uiridi membra sub arbuto

stratus, nunc ad aquae lene caput sacrae.

Multos castra iuuant et lituo tubae

permixtus sonitus bellaque matribus

detestata. Manet sub Ioue frigido 

uenator tenerae coniugis inmemor,

seu uisa est catulis cerua fidelibus,

seu rupit teretis Marsus aper plagas.

Me doctarum hederae praemia frontium

dis miscent superis, me gelidum nemus 

Nympharumque leues cum Satyris chori

secernunt populo, si neque tibias

Euterpe cohibet nec Polyhymnia

Lesboum refugit tendere barbiton.

Quod si me lyricis uatibus inseres, 

sublimi feriam sidera uertice.

De reis avós Mecenas descendente,

Ó meu amparo, ó doce glória minha:

A uns apraz alevantar no circo

Olímpica poeira, e das ferventes

Rodas a meta salva, e a palma nobre,

Que os alça aos Deuses árbitros da terra:

A este, se dos móbiles Quirites

Porfia a turba erguê-lo às mores honras:

Àquele, se guardou em seu celeiro,

Quanto das eiras líbicas se varre.

A quem folga com a enxada os pátrios campos

Fender nunca moveras com as atálicas

Fortunas, a que em cíprio lenho corte

o mar Mirtôo pavoroso nauta.

Temendo o mercador ábrego em luta

Com o mar icário, louva o ócio e os campos

Do ninho seu: mas logo os rotos vasos

Concerta indócil a sofrer pobreza.

Um do Massico anejo os copos ama,

E tirar parte ao dia inteiro, uma hora

Jazendo sob o verde medronheiro,

Ora à branda matriz da sacra linfa.

A muitos o arraial, e o som da tuba

Page 23: Safo e Horacio

Com os clarins misturado apraz, e as guerras

ódios das mães. Atura ao frio Jove

O caçador, e a tenra esposa esquece;

Ou vissem fiéis cães a corça, ou Marso

Javardo entrasse nas torcidas malhas.

A ti, das doutas frentes prêmio, as eras

Com os Deuses supernos me misturam;

A mim gélido bosque, e leves coros 

Das ninfas, e dos sátiros, me extremam

Do povo: se nem tolhe Euterpe as frautas,

Nem foge de afinal Polínia a lira

Lésbia. Se aos vates líricos me ajuntas,

Ferirei com a sublime frente os astros.

Tradução: Elpino Duriense.

0 comentários

Marcadores: Elpino Duriense, Horácio, literatura latina, lírica latina

DOMINGO, ABRIL 13, 2008

Horácio, Ode III.1Odi profanum uolgus et arceo.

Fauete linguis: carmina non prius

audita Musarum sacerdos

uirginibus puerisque canto.

Regum timendorum in proprios greges, 

reges in ipsos imperium est Iouis,

clari Giganteo triumpho,

supercilio mouentis.

Est ut uiro uir latius ordinet

arbusta sulcis, hic generosior 

descendat in campum petitor,

moribus hic meliorque fama

contendat, illi turba clientium

sit maior: aequa lege Necessitas

sortitur insignis et imos,

omne capax mouet urna nomen. 

Destrictus ensis cui super impia

Page 24: Safo e Horacio

ceruice pendet, non Siculae dapes

dulcem elaboratum saporem,

non auium citharaequecantus 

Somnum reducent: somnus agrestium

lenis uirorum non humilis domos

fastidit umbrosamque ripam,

non Zephyris agitata tempe.

Desiderantem quod satis est neque 

tumultuosum sollicitat mare,

nec saeuus Arcturi cadentis

impetus aut orientis Haedi,

non uerberatae grandine uineae

fundusque mendax, arbore nunc aquas 

culpante, nunc torrentia agros

sidera, nunc hiemes iniquas.

Contracta pisces aequora sentiunt

iactis in altum molibus: huc frequens

caementa demittit redemptor

famulis dominusque terrae 

fastidiosus: sed Timor et Minae

scandunt eodem quo dominus, neque

decedit aerata triremi et

post equitem sedet atra Cura. 

Quod si dolentem nec Phrygius lapis

nec purpurarum sidere clarior

delenit usus nec Falerna

uitis Achaemeniumque costum,

cur inuidendis postibus et nouo 

sublime ritu moliar atrium?

Cur ualle permutem Sabina

diuitias operosiores? 

Aborreço o profano vulgo e afasto.

Calai-vos: eu das musas sacerdote

Às virgens, e aos meninos versos canto,

Nunca até agora ouvidos.

Page 25: Safo e Horacio

Sobre o próprio rebanho os reis tremendos,

Nos mesmos reis tem Jove império,claro

Com giganteo triunfo, que o universo

Com o sobrolho abala.

Disponha um mais árvores à linha

Do que outro: ao campo desça um candidato

com mor nobreza: este mais pretenda

Por costumes, e fama:

Outro tenha mor turba de clientes:

Com lei igual sorteia a fatal morte

Os altos, e os pequenos; a grande urna

Revolve os nomes todos.

A quem sobre a cerviz ímpia a espada

Nua pende, nem siculos banquetes

Darão doce sabor, nem cantos de ave,

Ou doce lira trará sono.

O sono brando dos agrestes homens

Os humildes alvergues não desdenha,

Nem as umbrosas ribas, nem os Tempes

Dos Zéfiros movidos.

A quem deseja quanto lhe é bastante,

Nem o revolto mar lhe dá cuidado,

Nem seva força do cadente Arturo,

Ou do nascente Capro:

Nem do granizo as vinhas açoitadas,

Ou mendaz a terra, a árvore culpando

Ora água, ora astros, que as campinas torram,

Ou iníquios invernos.

Com os molhos lançados no alto pego

O peixe sente os mares estreitados:

Aqui contino com os serventes lança

Cimentos o empreiteiro,

E da terra o senhor enfastiado:

Mas sobe o medo, e as ameaças, onde

O dono: nem da brônzea nau se arreda,

Com cavaleiros de ancas

Page 26: Safo e Horacio

Monta o escuro cuidado: se ao doente

Nem frígio jaspe abranda, nem a púrpura,

Mais que os astros brilhante, nem falerna

Vide, ou aquimênio nardo;

Por que alçarei com pórticos, que invejem,

E por um novo estilo, átrio sublime?

Por que o sabino vale por riqueza

Trocarei mais penosas?

Tradução: Elpino Duriense in: Obras completas de Horácio.São Paulo: Edições Cultura. 1941.

1 comentários

Marcadores: Elpino Duriense, Horácio, literatura latina, lírica latina

SEGUNDA-FEIRA, JANEIRO 21, 2008

Horácio 4, 7: Outra traduçãoDiffugere nives, redeunt iam gramina campis

arboribusque comae;

mutat terra vices et decrescentia ripas

flumina praetereunt;

Gratia cum Nymphis geminisque sororibus audet

ducere nuda choros.

immortalia ne speres, monet annus et almum

quae rapit hora diem.

frigora mitescunt zephyris, ver proterit aestas

interitura, simul

pomifer autumnus fruges effuderit, et mox

bruma recurrit iners.

damna tamen celeres reparant caelestia lunae;

nos ubi decidimus,

quo pius Aeneas, quo Tullus dives et Ancus,

pulvis et umbra sumus.

quis scit an adiciant hodiernae crastina summae

tempora di superi?

cuncta manus avidas fugient heredis, amico

quae dederis animo.

cum semel occideris et de te splendida Minos

fecerit arbitria,

non, Torquate, genus, non te facundia, non te

restituet pietas;

Page 27: Safo e Horacio

infernis neque enim tenebris Diana pudicuni

liberat Hippolytum,

nec Lethaea valet Theseus abrumpere caro

viucula Pirithoo.

Já fugiram as neves, torna aos campos

A relva, e a grenha às àrvores:

Muda a terra a estação, no leito correm

os rios já minguados:

Com as ninfas e irmãs gêmeas ousa a graça

Guiar despida os coros,

O ano, e a hora, que o almo dia rouba,

Te avisam, que não esperes 

Coisa imortal: os frios se amaciam

Com os zéfiros, o estio

A primavera calca, precedeiro,

Quando espalhar os frutos

O pomífero outono: eis volta o inverno

Inerte; mas as luas

Presto reparam os celestes danos.

Nós mal caímos, onde

Éneas pio, rico Tulo e Anco

Já somos pó e sombra.

Quem sabe, os tempos de manhã se ajuntam

Aos de hoje os altos deuses?

Foge às àvidas mãos do herdeiro, quanto

Dás a teu gênio amigo.

Como uma vez morreres, e a esplendente 

Sentença te der Minos,

Nem linhagem, Torquato, nem facúndia,

Nem virtude te livra;

Que nem das trevas infernais Diana

Casto Hipólito salva,

Nem as prisões de letes Teseu pode

Quebrar ao seu Piritôo.

[Tradução: Elpino Duriense]

0 comentários

Marcadores: Elpino Duriense, Horácio, literatura latina, lírica latina

Page 28: Safo e Horacio

SEXTA-FEIRA, JANEIRO 18, 2008

Horácio 4,7Vão-se as neves e torna a grama aos campos

E as árvores as folhas;

O ano muda a terra,volta o rio

às margens, decrescendo.

graças e ninfas, gêmeas, ousam nuas

reger coros de dança.

Nada esperes do eterno, os anos fogem,

dias, horas te advertem.

Menos frios, mais zéfiros, Verão

expulsa primavera

por sua vez defunta às mãos do Outono,

que, com todos seus frutos,

pelo estéril Inverno é sucedido.

Céleres meses os celestes males

vão reparando; e nós

lá onde estão Enéias, Anco, Tulo...

Sombra e pó somos.

Mas quem sabe darão os deuses outro

tempo, esgotado o nosso?

-Ao menos salvarás de teus herdeiros

Torquato, o que gozaste:

Quando Minos esplêndido julgar-te

após morreres, não

te ressuscitarão tua eloquência,

tua estirpe, teus dotes:

Nem Diana do inferno arranca seu

Hipólito pudico,

Nem forças Teseu tem para livrar

seu Piritôo querido.

[Tradução: Mário Faustino]

0 comentários

Marcadores: Horácio, literatura latina, lírica latina, Mário Faustino

QUINTA-FEIRA, DEZEMBRO 20, 2007

Horácio, I.27Natis in usum laetitiae scyphis

pugnare Thracum est; tollite barbarum

morem uerecundumque Bacchum

Page 29: Safo e Horacio

sanguineis prohibete rixis.

Vino et lucernis Medus acinaces 

immane quantum discrepat; impium

lenite clamorem, sodales,

et cubito remanete presso.

Voltis seueri me quoque sumere

partem Falerni? Dicat Opuntiae 

frater Megyllae quo beatus

uolnere, qua pereat sagitta.

Cessat uoluntas? Non alia bibam

mercede. Quae te cumque domat Venus

non erubescendis adurit

ignibus ingenuoque semper 

amore peccas. Quicquid habes, age,

depone tutis auribus. A! miser,

quanta laborabas Charybdi,

digne puer meliore flamma. 

Quae saga, quis te soluere Thessalis

magus uenenis, quis poterit deus?

uix inligatum te triformi

Pegasus expediet Chimaera. 

Entre os copos brigar ao prazer dados,

É dos trácios:tirai bárbara usança,

E comedidos resguardai a Baco

de sanguinosas rixas.

Quão longe está do vinho, e das lucernas,

O medo alfange! Moderai, ó sócios,

Esse alarido ímpio e recostados

ficai ao curvo braço.

Quereis que eu também parte do severo

Falerno beba? De Megila Opuncia

Diga o irmão, com que golpe, com que seta,

Afortunado morra.

Não quer? Pois eu não bebo de outra sorte:

Qualquer que seja o teu amor, não ardes

Em vergonhosas chamas; sempre pecas

Por um amor decente.

Page 30: Safo e Horacio

Eia tudo que tens, em meus ouvidos

fiéis depõe! Ah! Mísero mancebo,

Em qual Caribde lidas afanado,

Digno de melhor chama!

Qual bruxa, ou mago com os tessálios filtros,

Qual Deus soltar-te poderá! Apenas 

Te livrará, o Pégaso, ligado

à triforme Quimera.

[Tradução: Elpino Duriense]

0 comentários

Marcadores: Elpino Duriense, Horácio, literatura latina, lírica latina

Horácio, Ode I.8Lydia, dic, per omnis

te deos oro, Sybarin cur properes amando

perdere, cur apricum

oderit Campum, patiens pulueris atque solis,

cur neque militaris 

inter aequalis equitet, Gallica nec lupatis

temperet ora frenis.

Cur timet flauum Tiberim tangere? Cur oliuum

sanguine uiperino

cautius uitat neque iam liuida gestat armis 

bracchia, saepe disco

saepe trans finem iaculo nobilis expedito?

quid latet, ut marinae

filium dicunt Thetidis sub lacrimosa Troia

funera, ne uirilis 

cultus in caedem et Lycias proriperet cateruas?

Ó Lídia, dize, pelos Deuses todos

Te rogo, por que a Sibaris te apressas

perder com teus amores?

Por que aborrece o campo descoberto,

Afeito ao pó e ao sol? por que soldado

Com os iguais não cavalga,

Page 31: Safo e Horacio

Nem com os dentados freios doma as bocas

Galezas? Por que teme o flavo Tibre

Tocar? E por que cauto

Mais que o vipéreo sangue, o óleo evita?

Nem traz os braços já das armas roxos

Ilustre arremessando

Ora o disco, ora o dardo além da meta?

Por que se encobre como o filho, dizem,

Fez da marinha Tétis,

Perto dos lacrimosos fins de Tróia;

Por que o traje viril o não lançasse

à morte, e às lícias tropas?

[Tradução: Elpino Duriense]

0 comentários

Marcadores: Elpino Duriense, Horácio, literatura latina, lírica latina

DOMINGO, DEZEMBRO 16, 2007

Horácio I.5Quis multa gracilis te puer in rosa

perfusus liquidis urget odoribus

grato, Pyrrha, sub antro?

cui flavam religas comam

simplex munditiis? Heu quotiens fidem

mutatosque deos flebit et aspera

nigris aequora ventis

emirabitur insolens,

qui nunc te fruitur credulus aurea,

qui semper vacuam, semper amabilem

sperat, nescius aurae

fallacis. Miseri, quibus

intemptata nites. Me tabula sacer

votiva paries indicat uvida

suspensisse potenti

Page 32: Safo e Horacio

vestimenta maris deo.

Que delicado moço, em muitas rosas,

Banhado em cheiros líquidos te afaga,

Ó Pirra, sob a bela gruta? A flava

coma para quem atas,

Singela nos enfeites? Ai que vezes

A fé, e os Deuses chorará mudados,

E estranhará novel de ver os mares

com negro vento irosos.

O que ora de ti bela goza crédulo;

Que doutro sempre isenta, sempre amável

Te espera, e ignora, quanto a aura engana.

Desgraçados aqueles,

A quem tu brilhas não tratada: sacra

Parede no votivo amostra,

Que eu pendurei ao Deus, senhor dos mares,

os úmidos vestidos.

[Tradução: Elpino Duriense]

Transcriação de Haroldo de Campos

0 comentários

Marcadores: Elpino Duriense, Horácio, literatura latina, lírica latina

Horácio I.11Tu ne quaesieris - scire nefas -, quem mihi, quem tibi

finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios

temptaris numeros. Ut melius, quidquid erit, pati,

seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam,

quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare

Tyrrhenum: sapias! Vina liques et spatio brevi

spem longam reseces. Dum loquimur, fugerit invida

aetas: carpe diem, quam minimum credula postero.

Saber não cures, (é vedado) os deuses

A ti qual termo, qual a mim marcaram,

Nem consultes, Leuconoe,os babilônios

Page 33: Safo e Horacio

Cálculos, porque assim melhor já sofras

Tudo quanto vier, ou te dê Jove

Muitos invernos, ou só este, que ora

o Mar tirreno nas opostas rochas

Quebra. Tem siso, o vinho côa, e corta

em vida breve as longas esperanças.

Ínvida idade foge: colhe o dia,

Do de amanhã mui pouco confiando.

[Tradução: Elpino Duriense]

0 comentários

Marcadores: Elpino Duriense, Horácio, literatura latina, lírica latina

QUARTA-FEIRA, OUTUBRO 17, 2007

Horácio I.14O nauis, referent in mare te noui

fluctus. O quid agis? Fortiter occupa

portum. Nonne uides ut

nudum remigio latus,

et malus celeri saucius Africo 

antemnaque gemant ac sine funibus

uix durare carinae

possint imperiosius

aequor? Non tibi sunt integra lintea,

non di, quos iterum pressa uoces malo. 

Quamuis Pontica pinus,

siluae filia nobilis,

iactes et genus et nomen inutile:

nil pictis timidus nauita puppibus

fidit. Tu, nisi uentis 

debes ludibrium, caue.

Nuper sollicitum quae mihi taedium,

nunc desiderium curaque non leuis,

interfusa nitentis

uites aequora Cycladas. 

Ó nau, ao mar te tornam novas ondas!

Page 34: Safo e Horacio

O que fazes? Com força o porto aferra.

Por ventura não vês, que as amuradas

Estão de remos nuas?

Que pelo ligeiro Àbrego ferido

O mastro geme, gemem as antenas?

E sem amarras mal as quilhas podem

sofrer soberbos mares?

Não tens velas inteiras, não tens deuses,

Que em novo perigo sossobrada invoques,

Inda que tu, ó Pôntico pinheiro,

De nobre selva filho,

Inútil geração e nome ostentes:

Tímido nauta nas pintadas popas

não se afiança. Aguarda, se não queres

ser ludíbrio dos ventos.

Tu, que tédio solícito me deste

Há pouco, ora saudade e grão cuidado,

Dos mares foge aparcelados entre

As Cicladas luzentes.

[Tradução: Elpino Duriense]

0 comentários

Marcadores: Elpino Duriense, Horácio, literatura latina, lírica latina

SEXTA-FEIRA, OUTUBRO 12, 2007

Horácio, 1.9Garçom, faça o favor,

nada de luxos persas.

Nem me venha com estes

enfeites de tília.

Rosas? Não quero rosas,

Se alguma ainda esquiva

Page 35: Safo e Horacio

Resta da primavera.

Para mim basta o mirto.

O simples mirto.

O mirto com você

também combina,

Puer, garçom-menino,

ministro do meu vinho,

Que o vai servindo,

enquanto eu vou bebendo

Sob a cerrada vinha.

[Tradução: Haroldo de Campos]

0 comentários

Marcadores: Haroldo de Campos, Horácio, literatura latina, lírica latina

SÁBADO, SETEMBRO 15, 2007

Horácio I, 3Sic te diua potens Cypri,

sic fratres Helenae, lucida sidera,

uentorumque regat pater

obstrictis aliis praeter Iapyga,

nauis, quae tibi creditum 

debes Vergilium; finibus Atticis

reddas incolumem precor

et serues animae dimidium meae.

Illi robur et aes triplex

circa pectus erat, qui fragilem truci 

commisit pelago ratem

primus, nec timuit praecipitem Africum

decertantem Aquilonibus

nec tristis Hyadas nec rabiem Noti,

Page 36: Safo e Horacio

quo non arbiter Hadriae 

maior, tollere seu ponere uolt freta.

Quem mortis timuit gradum

qui siccis oculis monstra natantia,

qui uidit mare turbidum et

infamis scopulos Acroceraunia? 

Nequicquam deus abscidit

prudens Oceano dissociabili

terras, si tamen impiae

non tangenda rates transiliunt uada.

Audax omnia perpeti 

gens humana ruit per uetitum nefas;

audax Iapeti genus

ignem fraude mala gentibus intulit;

post ignem aetheria domo

subductum macies et noua febrium 

terris incubuit cohors

semotique prius tarda necessitas

leti corripuit gradum.

Expertus uacuum Daedalus aera

pennis non homini datis; 

perrupit Acheronta Herculeus labor.

Nil mortalibus ardui est;

caelum ipsum petimus stultitia neque

per nostrum patimur scelus

iracunda Iouem ponere fulmina. 

Assim a deusa poderosa em Chipre,

Assim os irmãos de Helena, brilhantes

Astros, e o rei dos ventos, só com jápis,

Prendendo os mais, te reja,

Ó nau, que és de Vergílio devedora,

Que a ti se confiou, rogo-te, o ponhas

Salvo nas terras áticas e guardes

Metade de minha alma.

Enzinho e tresdobrado bronze havia

Em torno ao peito, quem ao pego iroso

O baixel frágil cometeu primeiro;

Nem já temeu o ábrego.

Com os aquilões brigando impetuoso,

Híadas tristes, nem de Noto a raiva;

Que é de Adria o mor senhor, ou erguer queira,

Page 37: Safo e Horacio

Ou amainar as ondas.

Que gênero temeu de morte aquele,

Que a olhos secos viu nadantes monstros,

Que viu túrgido mar, e Acroceraunos

Infamados cachopos?

Em vão, próvido Deus com o oceano

As terras retalhou insociáveis,

Se contudo os baixéis ímpios trespassam

Os não tocandos mares.

Audaz a sofrer tudo, a gente humana

Por defesas maldades se despenha;

Audaz a prole de Jápeto às gentes

Com fraude iníqua o fogo

Trouxe: depois que o fogo à casa etérea

Se furtou, a magreza e nova tropa 

De febre sobreveio à terra e o fado

Vagaroso da morte,

Dantes remota, apressurou o passo

Tentou com penas ao mortal não dadas,

Dédalo o ar vazio: o Aqueronte

Rompeu trabalho hercúleo.

Nada aos mortais é árduo: cometemos 

Loucos o mesmo céu; e não deixamos

Com os nossos crimes, que deponha Jove

Os iracundos raios.

(Tradução: Elpino Duriense)

0 comentários

Marcadores: Elpino Duriense, Horácio, literatura latina, lírica latina

SÁBADO, MAIO 05, 2007

Horácio # 3Ode III, 30

Mais perene que o bronze um monumento

Page 38: Safo e Horacio

ergui, mais alto e régio que as pirâmides,

nem o roer da chuva nem a fúria

de Áquilo o tocarão, tampouco o tempo

ou a série de anos. Imortal

em grande parte, a morte só de pouco

de mim se apossará. Que eu semprenovo,

acrescido em louvor, hei de crescer

enquanto ao Capitólio suba o Sumo

sacerdote e a calada vestal. Aonde

violento o Áufido espadana, aonde

depauperado de água o Dauno agrestes

povos regeu, de humilde a poderoso

dirão que eu passei: príncipe, o primeiro

em dar o eólio canto ao modo itálico.

Assume os altos méritos, Melpómene:

cinge-me a fronte do laurel de Apolo.

(Tradução de Haroldo de Campos).

0 comentários

Marcadores: Haroldo de Campos, Horácio, literatura latina, lírica latina

Horácio # 2Ode I, 5

Quem, Pirra

agora

se lava em rosas

(pluma e latex)

na rosicama do

teu duplex?

Quem,

onda a onda,

do teu cabelo

desfaz a trança

platino-blonda?

Pobre coitado

inocente inútil

vai lamentar-se

para toda a vida.

Um deus volúvel

mais do que a brisa

Page 39: Safo e Horacio

muda em mar negro

seu lago azul.

Pensava que eras

dócil-macia

toda ouro mel.

Não és. Varias

(Ah quem se fia

no fútil brilho

desse ouropel!)

Eu, por meu turno,

todo ex-aluno,

esta oferenda

ao deus Netuno

padripotente

no teu vestíbulo

deixo suspensa

(vide a legenda):

VMIDA AINDA

A TVNICA

(Tradução de Haroldo de Campos)

0 comentários

Marcadores: Haroldo de Campos, Horácio, literatura latina, lírica latina

DOMINGO, ABRIL 29, 2007

HorácioOde I, IX (Tradução de Paulo Leminski)

Não me perguntes

Saber não presta

Leuconoe

Que fim os deuses nos preparam

Nem arrisque

Números de Babel

Como se fosse o máximo – o que vier: fature

Se o pai te concedeu vários invernos

Ou o último

Agora o mar Tyrrheno cepilha pedras de naufragar

Filtre o vinho

Sorva os coos

Page 40: Safo e Horacio

Prazo breve

Corta

A espera

A era já era

Antes do tempo de dizer

Estamos conversados

Pega este dia

Crer no próximo

Não vale um nihil

0 comentários

Marcadores: Horácio, literatura latina, lírica latina, Paulo Leminski