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Inegável Desejo Cynthia Rutledge

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Page 1: Sabrina 1235 - Inegável Desejo - Cynthia Rutledge

Inegável Desejo

Cynthia Rutledge

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Um pequeno segredo...

A tímida, solitária e "gorducha" Trish nunca se esqueceu daquela noite de formatura, quando entregou sua inocência ao atraente Jack Krieger para depois descobrir que ele não a amava e, pior, descobrir em seguida que estava grávida.

Dez anos depois ela está de volta, transformada em outra mulher. Mais magra, elegante, com outro apelido e com um filho. A cidade inteira ficou alvoroçada com aquela história de Cinderela. Mas Trish estava interessada apenas na reação de um homem...

Por quanto tempo Trish conseguirá esconder seu segredo? E Jack? Não perceberá a marcante semelhança entre o menino e ele próprio? E o mais difícil, até quando ela resistirá às investidas românticas de Jack?

Título origi-nal: Trish's not-so-little secret

Disponibilização: Drika

Digitalização: Marina

Revisão: JosiFormatação: Edina

CAPÍTULO I

— Patty Bradley? É você?— Os dedos de Trish apertaram a haste do copo de cristal. Dez

anos se haviam passado desde a última vez em que ouvira aquela voz, mas reconheceu-a imediatamente.

Abafando o primeiro impulso de fugir, Trish tomou um gole de vinho e virou-se.

— Céus, Jack Krieger, que surpresa!

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Cinco anos trabalhando em relações públicas foram bons para Trish. Sua voz, forte e firme, não deu indicação do súbito aperto que sentira no peito ao vê-lo.

— Mal reconheci você. — Jack deu um passo atrás e fitou-a, abertamente admirado. — Está linda!

— Você também não está nada mau — disse Trish, falando com voz calma.

Durante todos aqueles anos ela dissera a si mesma que ele não era tão atraente como se lembrava. Mas estava absolutamente errada.

Os cabelos cor de café da juventude haviam mudado para um tom quente de castanho, e os olhos azuis, um dia da cor do céu de verão, agora brilhavam como safiras escuras. Os anos acrescentaram maturidade aos traços de menino. Se Jack havia sido atraente um dia, estava fantástico em seus vinte e oito anos.

A vida, sem dúvida, fora boa para Jack. Seu sorriso era autêntico e ele tinha a segurança de uma pessoa que conhecia seu lugar no mundo.

Ela devia odiá-lo. As mentiras de Jack, a trapaça, levaram o que restava de sua inocência. Mas não era fácil a Trish odiar quem quer que fosse muito menos Jack Krieger. Contudo, não era tola. Nunca se esqueceria de como a usara.

Trish insistiu no olhar.Jack tomou um gole de vinho e sorriu, pelo visto sem tomar

conhecimento do olhar dela.— Não posso acreditar de como você mudou — afirmou,

exibindo uma carreira de dentes perfeitos. -— Está muito linda!— Obrigada. — Trish aceitou o elogio com naturalidade. Mesmo

ela, que nunca tivera tanta confiança em sua aparência, tinha de admitir que naquela noite estava bastante bem. Muito atraente mesmo. Levara longo tempo aplicando a maquiagem, e vestira-se com cuidado especial, tentando recuperar sua confiança seriamente sacudida pela recente e inesperada perda do emprego.

Mas Trish sabia que o elogio de Jack tinha menos a ver com a maquiagem e a roupa que ela usava, e mais com o corpo esbelto embaixo do vestido de seda. Mentalmente ele enxergava a menina que fora na escola secundária, a menina bastante boa para com ela dividir a cama, em segredo, mas não boa o suficiente para ser a namorada, em público. Todos se lembravam da Gorda Patty.

Gorda Patty.Trish suspirou. Como aquele apelido ainda a machucava!

Mesmo os anos, a distância e o sucesso na vida, não conseguiram apagar por completo a lembrança do cruel apelido criado por seus colegas de classe.

Mas aquilo acontecera havia dez anos, e ela percorrera extenso caminho desde então. Trish Bradley provara ser uma vencedora.

— Nunca pensei vê-la de novo — Jack disse enfim. — Depois da formatura tive a impressão de que você evaporara da face da terra.

— Mal posso pensar que Washington seja fora da face da terra.

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— Para nós era como se fosse. Ninguém sabia por onde você andava. Nunca nem ao menos escreveu.

Trish sorriu e sacudiu os ombros, não por achar que cortar os laços com Lynnwood houvesse sido fato sem importância. Na realidade, fora a primeira das muitas decisões difíceis que tivera de tomar.

— Querida, não vai me apresentar? — Pete Minchow, o amigo que saíra com Trish naquela noite, aproveitou um minuto de silêncio para entrar na conversa.

— Pete, acho que você não conhece... — Trish começou a falar.— Não me lembro de nos termos visto antes. — Jack estendeu a

mão a Pete. — Meu nome é Jack Krieger, sou um velho amigo de Patty, da escola secundária.

Trish teve vontade de gritar. Lá vinha ele outra vez trazendo o passado com aquele apelido ridículo. Porém, não parecia tão ridículo quando ele o dizia. Enfim, nunca fora, no caso dele.

— Pete Minchow. — Pete apertou a mão de Jack. Natural do Texas, o rapaz tinha o aspecto de um bonachão homem do campo. Mas Trish sabia que, sob aquele exterior, batia o coração de um esperto homem de negócios. — E um prazer conhecê-lo — Pete acrescentou. — Qualquer amigo de Trish é meu amigo.

— Trish? — Jack franziu a testa. — Onde foi parar Patty?— Patty? Gosto desse nome — Pete comentou.— Bem, mas eu não gosto — Trish protestou. — E se você me

chamar por esse nome, será um homem morto.Pete primeiro arregalou os olhos e depois disse, rindo muito:— Tenho de me lembrar disso.— Você trabalha para o governo, Pete? — Jack perguntou como

se estivesse de fato interessado no que Pete iria responder. Tinha o mesmo olhar de quando se sentava no balanço do terraço da casa de Trish, em Lynnwood, e ela lhe contava tudo o que acontecera em seu dia.

Trish sentiu um aperto no coração ao se lembrar disso.— Pete é dono do próprio negócio. — Trish fitou o alto texano,

de súbito grata por ter um homem tão atraente a seu lado. — Não está na política nem dedica a vida inteira a esse jogo.

— Pensei que todos nesta cidade tivessem algo a ver com política.

— Céus, não! — Pete deu uma gargalhada. — Estou no negócio de carros. Carros novos, usados, compro, vendo, alugo, faço qualquer coisa com carros. Somos os maiores revendedores da GM da costa leste.

— Mesmo? — Jack comentou. — Impressionante.As palavras soaram sinceras, e Trish concordou com o fato.

Afinal de contas, estavam em uma cidade onde se comia, se dormia, se respirava política. Poucos pensariam em uma agência de carros como um bom negócio.

— Você e Patty namoram há muito tempo? — Jack perguntou.— Você quer dizer Trish? — Pete olhou-a, piscou e bebeu um

gole de vinho. — Quanto tempo, querida? Cinco, seis meses?

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— Mais ou menos isso — ela respondeu, grata a Pete por não dizer nada sobre a natureza do relacionamento deles. Eram apenas amigos que se entendiam bem. Acompanhava-o em algumas festas quando ele necessitava de sua companhia, e vice-versa.

Fora a necessidade de entrar em contato com pessoas que poderiam lhe arranjar um emprego o que fizera Trish cancelar a ida ao cinema com Tommy e aceitar o convite de Pete para comparecer a uma festa. A oportunidade era perfeita no sentido de fazer contatos e encontrar uma nova posição.

Havia dois meses perdera seu trabalho e logo que suas economias sumissem os cobradores bateriam à porta. Estava ansiosa, mas atravessara tempos mais difíceis e sobrevivera.

— Ela mudou de nome depois da separação. Isso foi há quanto tempo? Seis, sete anos? — Pete lançou a Trish um olhar de expectativa.

— Muito tempo — Trish respondeu.Pete com certeza repetia as mesmas mentiras que ela vinha

contando a todos durante anos: que se casara ao terminar a escola secundária e se divorciara logo depois. Era uma invenção que explicava facilmente a presença de um filho de nove anos de idade agora, e ela sem marido.

— Está divorciada? — Jack indagou, os olhos arregalados de surpresa. — Sua avó nunca me contou que você tinha se casado.

— Então aposto que nunca lhe contou que Trish tinha um filho, também? — Pete perguntou.

Quando iria Pete aprender a não falar demais? Trish teve vontade de dar-lhe um soco nas costelas.

Trish ergueu a cabeça na direção de Jack e disse:— De meu primeiro casamento.— Primeiro casamento? — Jack indagou atônito. — Casou-se

mais de uma vez?Ela nunca se casara, nunca planejara se casar. Mas não era da

conta dele o que fizera da própria vida.— Às vezes a vida não funciona do jeito que desejamos — Trish

baixou a voz para responder, de propósito fazendo-se misteriosa. — Mas nada disso é de sua conta.

— Querida, sei que você está apenas se divertindo, mas seu amigo aí acha que fala sério. — Pete pôs o braço em volta dela e deu-lhe um apertão. — Jack, conheço Trish há muitos anos e, pelo que sei, ela só se casou uma vez.

— Quer dizer que tem um filho, um pequeno garoto? — Jack sussurrou.

— Tommy é um menino lindo — Pete explicou, uma vez que Trish não respondia. — Mas ele não é mais um pequeno garoto.

— Que idade tem seu filho? — Jack olhou para Trish. Ela pensou um pouco antes de responder. Por acaso dissera a Pete que Tommy completara nove anos recentemente? E se dissera, ele se lembraria?

— Oito.— Tanto assim? Mas então você deve ter ficado grávida...— Um ano depois que saí de Lynnwood. Na primavera seguinte.

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Graças ao bom Deus, Jack nunca veria o menino. Alto para sua idade, Tommy poderia passar por dez anos.

— Você já morava em Washington?A pergunta poderia ter sido inocente, considerando-se que não

se viam havia muito tempo. Mas, quanto mais ela falasse, mais arriscaria dizer alguma bobagem.

— Isso aconteceu há tanto tempo!— Nunca teve saudade de Lynnwood? — Jack continuava

fitando-a.— Na verdade, não. Não há nada para mim lá.— Há amigos, família... — Jack parou de falar de repente.

Lembrou-se de que a avó de Trish era a única pessoa restante em sua família, e morrera no começo do ano. — Bem, e seus amigos? Não tem saudade deles?

— Ora, ora... — Trish sorriu. — Ambos sabemos que não fui uma das moças mais apreciadas da cidade. Na realidade, acho que não tenho nenhum amigo lá.

Trish ergueu a cabeça e os olhares dos dois se encontraram. Gostaria que Jack visse em seus olhos o que não poderia dizer na presença de Pete. Que um amigo nunca teria feito o que ele lhe fizera.

— Onde fica essa cidade de nome estranho, afinal? — Pete perguntou, ignorando a eletricidade que pairava no ar entre eles.

— Na realidade é Lynnwood — Jack corrigiu-o. — Trata-se de uma pequena cidade no Kansas, a vinte e cinco quilômetros mais ou menos ao noroeste de Kansas City. Patty, quer dizer Trish, e eu crescemos juntos lá.

— Adoro essas pequenas cidades na estrada. — Pete tomou o resto do vinho. — Às vezes penso em me mudar para o Texas, para minha cidade natal. Mas aí lembro-me de que há mais carros em meu pátio do que pessoas naquele lugar esquecido do mundo. E ponho de lado minha idéia inicial. — Ele riu e pediu outro drinque ao garçom. — Diga-me, Jack, você ainda mora em Lindwood?

Dessa vez Jack não se deu ao trabalho de corrigi-lo.— Lynnwood continua sendo minha cidade — disse Jack,

lançando um olhar a Trish. — Mas agora moro em Arlington.Uma onda fria percorreu o corpo de Trish. Ela e Tommy

moravam bem perto de Arlington.— Ótimo. Tem um cartão seu aí? — Pete sorriu. — Eu lhe

telefonarei e talvez possamos nos encontrar qualquer dia desses.— Eu adoraria. — Jack pôs a mão no bolso e tirou de dentro um

cartão de visita. Escreveu alguns números antes de entregá-lo a Pete. — A hora do almoço é em geral a melhor para mim.

— Muito bom. — Pete colocou-o no bolso. — Diga-me, você já esteve naquele pequeno restaurante grego em Dupont Circle?

Jack pensou por segundos, e respondeu negativamente.— Deixe-me então dizer-lhe uma coisa — Pete continuou —,

pode parecer um lixo, mas a comida é a melhor que já experimentei. Você vai adorar.

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— Estou certo que sim — disse Jack, olhando para Trish. Ela forçou um sorriso. Pelo que Trish sabia, Pete iria verificar tudo sobre as atividades de Jack no instante em que chegasse em casa.

Mas... de uma coisa Trish tinha certeza... Faria frio no inferno antes de ela querer ter qualquer relacionamento com Jack Krieger outra vez.

CAPÍTULO II

Bem, aqui estamos. — Trish fez um movimento com os braços, em um gesto que abrangia o espaço todo. Cheia de caixas e malas, a aparência da sala não tinha nada a ver com a ordem que sua avó insistia em manter naquele lugar reservado às visitas. Mas a claridade que penetrava pela janela dava ao ambiente um ar alegre e, embora fora de moda, o papel florido das paredes não tinha manchas. — O que você acha?

Trish virou-se para o filho e cruzou os dedos. A mudança para Kansas fora uma decisão nascida da necessidade. Sua conta bancária reduzira-se a zero e a possibilidade de outro emprego em Washington só surgiria em setembro. A única solução razoável seria voltar para Lynnwood onde ela e Tommy tinham um lugar para morar sem ter de pagar um único centavo.

Ao herdar a casa pela morte da avó, Trish planejara vendê-la, mas qualquer coisa a impedira. Embora os anos passados em Lynnwood não tivessem sido anos felizes, aquela casa fora o único lar que conhecera. Agora, com seu mundo caindo aos pedaços, a casa era como um farol que prometia abrigo contra mares revoltos.

E ao menos em Lynnwood não se preocuparia em poder encontrar Jack. O encontro em Washington dois meses atrás tornara mais fácil sua decisão de voltar. Trish achava divertido pensar que, agora que Jack estava em Washington, ela voltava para Lynnwood.

— Que lugar horrível! — exclamou Tommy, derrubando no chão uma caixa cheia de panelas.

Trish sentiu um aperto no coração. Todos os amigos lhe disseram que ele se ressentiria com a mudança, mas até o momento Tommy fora bastante compreensivo.

— Sei que é difícil mudar-se para um novo lugar. Porém, vai ficando mais fácil com o tempo. Juro.

— Não é tão difícil assim. Gosto daqui.— Mas você disse que o lugar era horrível.— O cheiro é horrível. — Tommy respirou fundo e tampou o

nariz. — Veja! Respire fundo.Trish seguiu o conselho do filho e inalou o ar. Espirrou em

seguida,— Eu não disse?

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— O cheiro não é tão mau. — Trish riu e puxou os cabelos dele. — A casa está com cheiro de mofo por ter ficado fechada durante tanto tempo. Logo que abrirmos todas as janelas, a coisa vai melhorar. Vamos, ajude sua mãe a abrir algumas janelas e a porta.

Ao fazer isso Tommy olhou para fora e viu uma quadra preparada para o jogo de basquete.

— Acho que posso tentar algumas cestas antes do jantar.— Sinto muito, mas essa quadra de basquete pertence aos

nossos vizinhos. — Trish lembrava-se de quando o Sr. Krieger arrumara aquilo tudo para Jack quando ele ingressara no curso secundário.

— Mas nossos vizinhos não se importariam se eu usasse, garanto.

Trish ficou hesitante. Mudar-se para a casa ao lado da casa da mãe de Jack fora sua única objeção em voltar a Lynnwood. Mas convenceu-se de que ela e Tommy estariam tão ocupados que não teriam tempo de se socializar com vizinhos.

— Querido, acabamos de nos mudar. Nem ao menos conheço essa gente. — Tratava-se de uma pequena mentira, mas de forma alguma Trish pediria qualquer coisa aos vizinhos.

— Posso pedir mamãe? Por favor, deixe!— Não! — Trish sofreu com a decepção do filho. — Que tal

irmos ao parque tão logo tirarmos tudo da van? Você encontrará lá alguns meninos jogando, talvez até basquete. E jogará com eles. Se não, poderemos colocar uma cesta em nosso quintal para você praticar.

— Obrigado, mamãe. — Ele abraçou-a. — Você é a melhor das mães.

Trish adorou ser abraçada pelo filho. Tommy não era mais um meninozinho. Estava crescendo rápido e ficando a imagem escrita de seu atraente pai.

Ela passara noites em claro receando que a Sra. Krieger percebesse a conexão de Tommy com o pai. Mas depois de algum tempo convenceu-se de que estava sendo ridícula. Para a família Krieger, ela e Jack mal se conheciam.

— Tommy, por que não pega suas malas no carro e as leva ao quarto? — ela sugeriu. — Quanto mais cedo tudo for descarregado, mais cedo iremos ao parque.

Tommy fez o que a mãe mandou e Trish começou a recolher as panelas que ele derrubara no chão da sala.

— Há alguém em casa? — Connie Krieger espiava pela porta dos fundos.

— Entre — disse Trish.Ela reconheceu a mãe de Jack imediatamente. Embora já com

quase sessenta anos de idade, ainda parecia bem jovem. Seus cabelos não eram nada grisalhos e apenas algumas rugas de expressão rodeavam os olhos muito azuis. De short e camisa pólo, poderia passar como irmã de Jack.

— Patty? — A mulher estava hesitante. — Não sei se se lembra de mim. Sou Connie Krieger, moro ao lado.

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— E claro que me lembro Sra. Krieger. — Trish estendeu a mão e apertou a da Sra. Krieger.

— Por favor, chame-me de Connie.— Só se me chamar de Trish.A porta da frente fechou-se com ruído. Ambas as mulheres

viram Tommy entrar e seguir para as escadas.— Meu filho Tommy — Trish apresentou-o de longe. — Ele tem

nove anos.— Meu neto Matt vai completar nove anos no próximo mês. Faz

tanto tempo que meu filho era pequeno que me esqueci de como são ativos naquela idade. — Connie riu e sacudiu a cabeça.

— Entendo — Trish riu. — Tommy me disse que quer jogar futebol, e basquete, e beisebol. Tento explicar-lhe que a maioria dos meninos escolhe apenas um esporte. Mas ele me disse que não sabe qual deles escolher, pois gosta de todos.

— Sei pelo que está passando — Connie comentou com um sorriso compreensivo. — Meu filho Jack era assim também. Felizmente em cidade pequena eles podem fazer tudo isso.

Um segundo mais tarde Tommy apareceu de novo.— Mamãe, esvaziei a van e abri... — Ele parou de falar.— Desculpe-me.— Tommy, esta é a Sra. Krieger, nossa vizinha. — Trish sorriu.

— Connie, este é meu filho Tommy.Tommy estendeu a mão à Sra. Krieger, dizendo:— Muito prazer em conhecê-la.Trish encheu-se de orgulho com as maneiras do filho. Desde

que ele era muito pequeno ensinara-lhe como se comportar, e colhia agora os resultados.

— Prazer em conhecer você também, Tommy. Moro aqui ao lado. Se desejar alguma coisa, é só pedir.

— Mora na casa onde há um cesto de basquete?— Isso mesmo. Soube por sua mãe que você gosta de esportes.— E verdade. A senhora se importaria se eu fosse acertar

algumas cestas de vez em quando, em sua propriedade? Serei muito cuidadoso, prometo não atingir seu carro.

— Querido! — Trish arregalou os olhos. — A Sra. Krieger estava apenas sendo amável...

— Naturalmente que você pode aparecer — disse Connie.— Claro, se sua mãe estiver de acordo.Trish olhava da face cheia de esperança de Tommy para a face

da avó do menino. Seria tão fácil dizer "sim".Mas Trish aprendera havia muito que o caminho mais fácil não

era sempre o mais certo. Permitir que Tommy praticasse basquete na propriedade de Connie Krieger seria pura loucura. Nada de bom resultaria daquela intimidade a não ser problemas.

E ela já tivera o suficiente, em problemas, que duraria até o fim de sua vida.

Jack entrou com o carro no jardim da casa de sua mãe e parou com um suspiro de alívio. O voo de Washington a Kansas City fora

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turbulento e ele sofrerá uma tempestade no trajeto pela estrada até Lynnwood.

Saiu do carro e espreguiçou-se. Era bom estar em casa. E ver o sol brilhar.

Esperou que a mãe aparecesse correndo a seu encontro, mas notou que a porta da frente estava fechada e que o carro dela não se encontrava em casa.

Aí lembrou-se de que era quarta-feira, o dia de Connie jogar golfe. Naquele caso ela levaria horas para voltar. Optar por um voo mais cedo parecera-lhe uma boa idéia, mas agora sentia-se sem saber o que fazer.

Poderia ir ver sua irmã. Mas com três filhos, todos menores de dez anos, a casa dela era muito barulhenta. E agora, relaxar em um ambiente calmo, lhe parecia muito mais convidativo do que brincar com sobrinhos.

Levou alguns minutos descarregando o carro. Após colocar as malas no terraço, pegou uma cerveja na geladeira e saiu.

A chuva passara deixando gotas de água pingando das árvores, e o ar tinha cheiro de primavera.

Jack sentou-se no balanço do terraço. Observava os sobrados da vizinhança. Todos bem cuidados, com gramados e abundância de flores. Crescera naquela área. Algumas de suas melhores recordações se prendiam à vizinhança, aos terraços das casas. Ou melhor, ao terraço de Patty, sua vizinha mais próxima.

Olhou um pouco para a esquerda e um movimento súbito chamou-lhe a atenção. Colocou o copo de cerveja no chão e foi para a grade divisória.

Sim, alguém se movia na casa da "vovó".A avó de Patty fora a "vovó" de todas as crianças do bairro.

Quando ela morreu, pouco depois da ida de Jack para Washington, não apenas Trish perdera a avó, mas toda a redondeza também.

Jack fixou o olhar um pouco além, mas por entre os arbustos e as árvores não pôde enxergar muita coisa. Em um ato impulsivo foi ao encontro de sua nova vizinha passando pelo espaço aberto da cerca, o mesmo que costumava usar no passado, anos atrás, para chegar mais depressa.

E viu que a vizinha era uma mulher, uma mulher atraente com um short que mal lhe cobria o traseiro, e um top reduzido. Tinha pernas longas e pele dourada. Subira em uma escada e limpava em volta das janelas, com uma faca amolada.

— Precisa de ajuda?Assustada, ela fez um movimento brusco e perdeu o equilíbrio.

Deu um grito de alarme.Jack atravessou o pátio correndo e alcançou-a um segundo

antes de ela atingir o solo.O último esforço de Jack o fez cair. Mas segurou o corpo de

Patty junto ao seu a fim de abrandar o choque. Esperou alguns minutos até recuperar o fôlego e até o ritmo das batidas do coração voltar ao normal.

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Porém as curvas suaves que o pressionavam tornavam sua tarefa quase impossível. A mulher moveu-se em seus braços e os olhos de ambos se encontraram.

O coração de Jack parou.Os familiares olhos verdes arregalaram.Por segundos Jack sentiu-se com dezoito anos, e o ar tinha mais

eletricidade do que durante o temporal de Kansas. Automaticamente arrumou uma mecha dos cabelos louros de Patty, que escapara do rabo-de-cavalo. Ela pulou para o chão.

— Você está bem? — Jack lhe perguntou.— O que faz aqui? — Patty indagou. Seus olhos expeliam

faíscas.— Eu poderia lhe fazer a mesma pergunta.— Moro aqui. — Patty ergueu a cabeça para responder.— Mudei-me há duas semanas.— Mas não disse nada sobre sua volta a Lynnwood na festa em

Washington.— Só decidi no mês passado.A frieza no tom de voz de Patty surpreendeu Jack. Atribuíra a

atitude fria dela na festa porque estava com um namorado, mas por que agora?

Jack sentou-se antes, para depois se levantar do chão. Sua camisa branca ficara cheia de relva e alguns gravetos e folhas grudaram nas mangas. Limpou tudo com a palma da mão e em seguida, com o melhor de seus sorrisos, disse:

— Seja bem-vinda, Patty.— Obrigada. Mas ainda não me disse o que faz aqui.— Acabei de chegar. Estou matando tempo enquanto aguardo a

chegada de minha mãe.— Quer dizer que está só de visita? — Trish sentiu um alívio

imenso.— Na verdade, estou me mudando para cá. — Jack sorriu feliz.

— Que coincidência! Você e eu juntos mais uma vez.Coincidência?Trish ficou horrorizada. Jack na mesma cidade significava

complicações que ela não antecipara. Sentiu um aperto no estômago.— Vai morar com sua mãe?— Já passei dessa idade, não acha? — Jack gargalhou. — Tenho

minha casa.— Em Kansas City? — Trish só esperava que não fosse em

Lynnwood.— Por que compraria eu uma casa em Kansas City? — ele

perguntou. — Trabalho em Lynnwood.Trish entrou em desespero. Não tinha dinheiro para uma nova

mudança. Mas, se tivesse, para onde iria?— Comprei a velha mansão dos Armbruster — Jack continuou

com a explicação.— Comprou a mansão?— Comprei. Lembra-se da casa, não?— Vagamente — ela respondeu.

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Como ela poderia ter se esquecido? A velha mansão vitoriana, conhecida pelos residentes da cidade como "a mansão", tinha sido o orgulho do local durante anos.

Quando os Armbruster moravam lá, o lugar estava sempre feericamente iluminado e ao som de risadas. Em muitas noites, com o céu estrelado e o ar quente, ela e Jack passeavam pelas calçadas escuras até o fim da quadra, parando para apreciar a mansão.

Trish muitas vezes se perguntara o que havia naquele lugar, para torná-lo tão tentador. Seria o fato de a casa estar sempre cheia de gente, enquanto ela se sentia sempre isolada e só? Ou a atração pela casa residia na estabilidade da mesma? Afinal, a mansão permanecera no mesmo lugar por cem anos. Era um castelo, uma fortaleza e parte importante da cidade.

Certa vez, quando Jack forçara-a fazer um pedido a uma estrela, Trish desejara que a mansão um dia fosse dela. Naturalmente, na ocasião, seu sonho de juventude incluíra Jack a seu lado.

Que louca fora!— Quer ver a casa por dentro? — Jack lhe perguntou, tirando

um molho de chaves do bolso. — Eu adoraria mostrá-la a você.Por um segundo, Trish sentiu-se tentada. Embora tendo jurado

manter Jack a distância, sempre se perguntara se o lugar era tão lindo por dentro como por fora.

Jack sorriu, balançando as chaves na mão.— Vamos, Patty?!O nome "Patty" foi como uma ducha de água gelada, trazendo-

a de volta à realidade. Por que Jack fizera o convite? Por um momento louco sentira-se tentada a ir com ele. Mas precisava lembrar-se de que Jack Krieger era um camaleão, um homem que podia mudar de cor em segundos. Um homem que podia sussurrar palavras de amor em um minuto e rir dela no minuto seguinte. Um homem que provara não ser confiável.

— Sinto muito, mas não quero ir, Jack. — Seguindo a etiqueta ela deveria ter acrescentado: "outro dia, talvez", ou qualquer frase para abrandar a recusa. Em vez disso, Trish ergueu uma sobrancelha e repetiu: — Não quero.

Por um momento Trish sofreu ao ver o desaponto no olhar de Jack. Ela não podia entender como Jack conseguia ser tão sincero e tão falso ao mesmo tempo. Felizmente, não precisava entender. Apenas precisava se lembrar.

— Meu nome é Trish — ela disse. — Patty não existe mais há muito tempo.

— Pode ter mudado de nome, mas ainda é a mesma pessoa.— Aí é que você se engana, Jack.A doce e inocente Patty morrera quando ele traíra sua

confiança naqueles anos passados. A mesma pessoa? A mesma idiota perdida de amor? Não mais. Nunca mais.

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CAPÍTULO III

Estou tão contente por você estar enfim em casa! — Connie Krieger sorriu para o filho e colocou massa de panqueca na chapa. — Achei que tinha ido embora para sempre.

— Como pode achar que um ano seja para sempre? — Jack retribuiu-lhe o sorriso.

Connie dissera ao filho antes de ele partir que receava que fosse gostar tanto de Washington a ponto de nunca mais querer voltar a Lynnwood. Mas Jack garantira à mãe que não precisava se preocupar. Apesar de o tempo que passara trabalhando em uma Comunidade Bancária ter sido valioso, isso solidificara ainda mais sua convicção de que o Meio Oeste era o lugar onde desejava viver.

— E tão bom estar em casa! — Jack acrescentou.Ele pôde notar que suas palavras haviam alegrado a mãe.Só naquele instante os dois tiveram chance de sentar e

conversar sozinhos. Connie voltara tarde do golfe, e Julie, a irmã mais velha de Jack, passara por lá com o marido e os filhos. A maior parte da tarde se passara com a mãe alimentando os netos e Jack brincando com os sobrinhos e a sobrinha.

— Falando sobre casa, aposto que está ansioso por se mudar para a nova casa.

— Mal posso esperar... Pensei em começar a levar algumas de minhas coisas hoje.

Há mais ou menos cem anos, a "nova" casa de Jack erguia-se tal qual sentinela nos limites da cidade. Ele a comprara em um ato impulsivo, em leilão, pouco antes de sair de Lynnwood. E, enquanto esteve fora, construtores restauraram a mansão devolvendo-lhe seu original esplendor.

— Gostaria muito de ajudar você — a mãe dissera ao colocar diante dele um prato de panquecas fumegantes com molho de morango, e uma xícara de café. — Sinto muito por vovó Irene estar fazendo parte de um torneio de bridge que a ocupará o dia inteiro, do contrário estaria em sua casa agora. Mas vovô chegará ao meio-dia. Os membros do clube dele estão fazendo palestras para crianças esta semana.

Jack sorriu ao pensar em seu avô cercado de alunos da escola local. Embora tendo ele sido bom para Jack quando em idade de crescimento, o antigo Presidente do Banco sempre se sentira mais confortável conversando sobre assuntos bancários com homens de certa idade do que com seus próprios netos.

O filho, o pai de Jack, fora idêntico. Supervisionar bancos fora sua prioridade número um e, desde tenra idade, Jack havia sido orientado para seguir a carreira do pai.

Quando o pai morrera em acidente de carro, Jack ainda estudava, e apenas Patty entendera a pressão que ele sentira, isto é,

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o medo de se ver lançado cedo demais em uma carreira que não tinha certeza se realmente desejava seguir.

Jack comeu um pedaço de panqueca e pensou sobre a primeira vez em que realmente se dera conta da existência de Patty Bradley.

Frequentavam a mesma escola desde os treze anos de idade. Mas entre esportes, sair com amigos, e trabalhar no banco, Jack nunca encontrara tempo de dar atenção à moça que morava ao lado. Até um sábado à noite, ao voltar de uma festa. Lutava por abrir a porta de sua casa, sem sucesso, quando ouviu uma voz feminina chamá-lo pelo nome.

Orientado pelo som, viu Patty sentada nos degraus do terraço da casa da avó com um saco de batata frita em uma das mãos e um refrigerante na outra. Seus cabelos louros estavam presos por um elástico em um rabo-de-cavalo. De corpo arredondado, usava camiseta folgada e calça de ginástica.

Jack havia tido uma briga com a namorada, e pretendia logo fazer as pazes. Mas o saco de batata o tentou, e o fez perguntar se podia sentar-se lá com ela.

Depois de curta hesitação Patty convidou-o. Conversaram até as três horas da madrugada.

Patty não deixou de impressioná-lo. Jack viu logo que a garota sabia ouvir e era boa na troca de confidencias. Ficaram amigos... em vários aspectos.

Na escola, tudo continuara do mesmo jeito. Ele preferia viver rodeado de amigos, enquanto Patty preferia ficar só. Ou ao menos ele imaginara que fosse assim. Jack nunca se sentira culpado por isso. Até vê-la naquela festa dois meses atrás, nunca se considerara seu único amigo.

Mas agora, quando pensava no caso, percebia que ela estava sempre disponível. Sempre esperando por ele. Passavam quase todas as sextas feiras e sábados juntos. Bem tarde da noite, depois que sua mãe e a avó de Patty iam para a cama, sentavam-se e conversavam.

Fizeram disso um ritual... Ele voltava para casa, ela o aguardava no terraço. Havia sempre uma lata de refrigerante esperando por ele.

Depois daquela primeira noite, Jack nunca se perguntara se Patty era bonita ou feia. Se era magra ou gorda. Ela era apenas Patty, sua amiga e confidente.

— Jack? — A voz da mãe interrompeu seus pensamentos. — Você ouviu o que eu acabei de dizer? — Ela sacudiu a cabeça e riu. — Eu perguntei se você não achava maravilhoso o fato de a casa da "vovó" estar novamente ocupada.

— E eu lhe contei que a vi em Washington?— Quem? — Connie indagou confusa.— Patty Bradley.— Você a viu?— Mal pude acreditar. Como já deve saber, ela atende pelo

nome de Trish agora e não se parece nada com a velha Patty.De repente Jack percebeu por que se perturbara tanto ao vê-la.Patty estava linda.

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Patty estava sofisticada.Patty não era a mulher da qual se lembrava.— A velha Patty? Jack, você mal a conhecia. Durante todos os

anos em que ela morou ao lado não o ouvi dizer duas palavras sobre a moça.

Jack começou a discutir, quis contar que ele e Patty haviam sido amigos íntimos. Mas parou ao perceber que a mãe nunca acreditaria nele.

— Na verdade, conversamos mais do que você imagina — ele apenas disse. — Patty é uma grande mulher. Você teria gostado dela.

E Patty gostaria de sua mãe, também. Patty lhe dissera tantas vezes como sentia falta da mãe! E o que fizera ele para ajudá-la?

Jack não precisava fazer a pergunta a si mesmo. Sabia a resposta.

Sua fome havia passado, colocou o garfo de lado e afastou a travessa de panquecas.

— Estou ansiosa em fazer amizade com ela — a mãe de Jack comentou. — E com o filho.

— Eu não lhe garanto que isso seja possível. — Jack pegou os pratos e colocou-os na pia. — Quando falei com Patty ontem, ela mal me deu cinco minutos para uma conversa mais longa. Penso que não esteja interessada em amizade com vizinhos.

— Oh, meu Deus, não seja absurdo! — Connie riu. — Só porque ela não caiu em cima de você como muitas mulheres o fazem, isso não significa que não quer ser amiga. Trish é uma pessoa maravilhosa, e tenho a impressão de que vamos ser boas amigas.

Jack olhou pela janela da cozinha. Talvez sua mãe tivesse razão. Talvez ele houvesse esperado demais de Patty. Ou talvez estivesse certo e Patty guardasse alguma mágoa do passado contra ele.

Voltou a olhar pela janela. Embora não conhecesse todas as crianças da vizinhança pelo nome, Jack as conhecia de vista. Porém, o menino moreno que tentava acertar o cesto do basquete no quintal não lhe era familiar.

— Quem é aquele garoto? — ele perguntou à mãe. Connie foi até a janela.

— É Tommy Bradley. Ele vem aqui todos os dias para praticar.— É o filho de Patty? — Dessa vez Jack não pôde esconder sua

surpresa. — Esse menino é grande demais para ter apenas oito anos.— Oito? Trish me disse que ele tinha nove — Connie declarou.— Ele não pode ter nove! — Jack protestou.— Talvez eu tenha escutado mal. Mas você me parece

interessado demais em meu novo vizinho. Mas isso não pode ter nada a ver com o fato de a mãe dele, antes um patinho feio, ter agora se transformado em um cisne. Tem?

— Não tem nada a ver com aparências — Jack comentou. — E Patty nunca foi feia.

A mãe parou de sorrir, desapontada com o protesto veemente do filho.

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— Desculpe mãe. Não sei o que me deu para falar assim com você.

Jack não era o mesmo desde a noite da festa em Washington.A noite em que vira Patty.A noite em que velhos sentimentos e emoções voltaram à tona.— Jack? Eu estava brincando. Gosto de Trish. Não quis dizer

nada de desagradável sobre ela.— Tudo bem, mãe. Sabe, faz anos que não acerto uma bola

sequer na cesta.— Tommy adoraria sua companhia. O menino não se queixa,

mas sei que se sente só.Jack olhou mais uma vez para o vulto solitário. Sem pensar nas

caixas esperando por ele no jipe, para serem enchidas, saiu pela porta dos fundos.

Tommy fitou-o com certa preocupação em seus olhos azuis. E disse:

— A Sra. Krieger falou que eu poderia praticar aqui.O menino segurava a bola contra o peito, com medo de que

Jack a tirasse dele.— Relaxe. — Jack sorriu. — Não vim aqui para expulsá-lo. Sou

Jack, filho da Sra. Krieger, e velho amigo de sua mãe. Achei que gostaria de um companheiro de jogo.

— Claro. — O olhar do menino se iluminou.Após trinta minutos observando Tommy atirando a bola e

encestando em jogadas difíceis, Jack concluiu que o menino tinha talento. Possuía bom equilíbrio e mãos grandes, além de natural atletismo.

— Chega — Jack sentou-se em um degrau. — Vamos descansar um pouco.

— Depois do descanso, podemos jogar mais? Minha mãe não terminará de fazer o almoço tão cedo.

— Mas é que eu preciso ir — Jack declarou.— Que tal amanhã?— Não posso, estarei me mudando. Quem sabe seus amigos...— Não tenho amigos. Não ainda, de qualquer forma. Mas tudo

bem. Estou acostumado a jogar sozinho.Embora o menino não fosse fisicamente semelhante à mãe,

naquele particular Jack pôde enxergar qualquer coisa de Patty em sua solidão.

— Eu posso chegar aqui às quatro horas. — Jack só pensava em Patty. Em tudo que ela lhe oferecera e no nada que lhe dera de volta. — Você conhece meu sobrinho, Matt Cullen? Acho que ele tem mais ou menos sua idade.

— Conheço. Ele está na minha turma de natação.— Pensei em convidá-lo, e ao pai, para jogarem também.

Embora seu cunhado viesse depois do trabalho a fim de ajudá-lo na mudança, Dan era um homem de família, e Jack sabia que ele gostaria de mudar seus planos se isso significasse jogar basquete com o filho.

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— Eu adoraria — Tommy confessou. — Mas, e se eles disserem "não"?

— Se isso acontecer, então, seremos apenas nós dois. O que acha?

O sorriso aberto de Tommy foi a resposta de que Jack precisava.Ele retribuiu o sorriso e uma sensação de prazer o invadiu.

Nunca se sentira tão bem outras vezes na vida quando fizera o que considerara certo.

Trish cobriu melhor o filho.— Divertiu-se hoje? — perguntou.Ela não sabia por que perguntara. Mas do momento em que o

chamara para almoçar, percebeu qualquer coisa no menino, no rosto, no andar, no modo como lhe pedira para repetir a comida. Pela primeira vez desde que se mudaram Trish teve a distinta sensação de que tudo iria ser melhor.

— Foi o melhor dia desde que cheguei aqui — ele respondeu, afundando a cabeça no travesseiro.

— Encontrou um novo amigo? — Trish tentou se manter indiferente, como se não se importasse. Acima de tudo, não queria que ele pensasse que saber se encontrara ou não amigos era fato importante para ela.

Como acontecia com minha avó.Sua avó era uma mulher maravilhosa, mas queria

desesperadamente que a neta tivesse amigos.— Não, mas... — Tommy pensou um momento.Trish esperou. Aprendera a não apressar o filho. Com o tempo,

Tommy diria tudo, mas tinha de ser na hora certa para ele.— Matt Cullen poderá aparecer por aqui amanhã à tarde.— Matt? — Uma vaga imagem de um menino louro surgiu na

mente de Trish. — Para a aula de natação?— É.— Parece ser um bom menino. — Era a primeira vez, desde que

se mudaram para Lynnwood há três semanas, que Tommy ia receber um amigo em casa. — Está ansioso?

— Acho que sim.— Frequentei a escola com um Cullen. Ele era três ou quatro

anos mais velho do que eu. — Trish fez uma pausa.— Será o pai desse menino?— Não sei. — Tommy sacudiu os ombros.— E também não importa. Farei alguns biscoitos para vocês e...

— ela parou de falar, de repente lembrando-se.— Oh, não, não estarei aqui à tarde.— Quer dizer que Matt não pode vir? — Tommy ficou

terrivelmente aborrecido.— Pode, sim. Claro que ele pode vir. — Patty só rezou para que

a moça de dezesseis anos, que contratara a fim de tomar conta de Tommy enquanto ela estivesse fora, não se importasse de tomar conta de dois. Afinal, isso até tornaria seu trabalho mais fácil. — Só

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preciso falar com Samantha. Ela vai ficar com você enquanto eu for a minha entrevista. Não é maravilhoso a mamãe ter um emprego?

Trish não lhe contou que o trabalho era em Kansas City. Ela precisava pagar suas contas e essa posição tinha uma infinidade de vantagens: muitos benefícios extras, um salário igual ao de Washington, e a descrição do emprego parecia boa demais para ser verdade.

— Você acha que Matt vai trazer a própria bola?— Não sei, querido. — Trish decepcionou-se. Esperava que o

filho ficasse mais contente com a notícia do emprego.— Se ele não trouxer a bola — Tommy disse —, nós dois

podemos usar a minha.Trish sentiu o coração apertado. Tommy sempre adorara sair

com a mãe, e ela o arrastava por toda a cidade. E pela primeira vez percebeu como ele necessitava um amigo.

— Sabe como eu amo você, não sabe, meu filho? Tommy riu da pergunta familiar. Tornara-se um ritual noturno.

— Montes e montes?— Isso mesmo. — Trish abraçou-o com força. — E nunca se

esqueça disso.Ela sentou-se na beirada da cama até o filho adormecer. Ele era

tão jovem, tão inocente! Aquela longa noite com Jack anos atrás mudara o curso de sua vida. Mas lhe dera um grande tesouro.

Tommy estava sendo um menino bom até o presente. E se achava falta em um pai, nunca mencionara. Não revelar a Jack que ele iria ser pai fora a decisão certa.

Mas, se Jack a amava na mesma intensidade com que ela o amava, Tommy teria ambos, uma mãe e um pai.

Trish suspirou. Por que ela se torturava com pensamentos do que poderia ter sido? Viviam em um mundo real, não em um mundo de contos de fadas, com final feliz. Um mundo onde, mesmo você amando alguém, esse alguém não necessariamente a amava. Um mundo onde às vezes era preciso aprender a duras penas que o Príncipe Encantado pode ser encontrado apenas nas páginas de um livro de histórias.

CAPÍTULO IV

Esse menino é um verdadeiro pugilista. — A voz de Dan Cullen soou cheia de admiração.

— Ele tem muita energia. — Jack esticou-se em uma das cadeiras preguiçosas que tirara da garagem de sua mãe. — Fico cansado só em olhá-lo jogar.

— Não me venha com essa — disse Dan. — Você ainda estaria lá competindo comigo, se minha perna não me tivesse dado problemas.

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Durante a última hora Jack e o cunhado jogaram futebol com os dois meninos. Depois que Dan machucara o joelho no ano anterior, em um acidente de esqui, ele começara a ter problemas com a perna.

— Acredite no que lhe digo — Jack falou, tomando um gole de chá gelado. Concentrou sua atenção em Matt e Tommy e comentou: — Esses meninos estão gastando energia demais.

Jack pulou de sua cadeira no instante em que a bola de Matt atingiu Tommy.

Jack atravessou o pátio em três passadas, porém não foi suficientemente rápido para impedir que Tommy caísse.

— Tommy! — Jack ajoelhou-se ao lado dele. — Você está bem?Lágrimas escorriam dos olhos de Tommy, mas ele as enxugava

depressa com as mãos. Jack podia ver que o menino fazia de tudo para não chorar.

— Ele está machucado? — Matt perguntou, preocupado.— Não quis derrubá-lo.— Tommy está bem. Mas acho que chega de basquete por hoje.— Você tem razão. Matt e eu temos de ir — disse Dan.— Julie já deve ter posto o almoço na mesa.— Sinto mesmo muito, Tommy — Matt se desculpou. — Talvez

quando você se sentir melhor poderemos jogar de novo...— Claro — Tommy respondeu, mordendo o lábio. Jack esperou

até que Dan e o filho saíssem e virou-se para Tommy, dizendo:— Seu joelho parece bem machucado.— E dói muito. — A voz de Tommy tremia.Jack sentiu o coração apertado. Detestava ver uma pessoa

chorar, em especial uma criança. Mas expressar muita compaixão poderia apenas tornar a coisa pior.

— Sei que dói. — Jack viu o ferimento no joelho de Tommy. — Acho que precisamos colocar um curativo aí.

— E vai doer mais ainda.— Farei com muito cuidado.Tommy fitou Jack durante algum tempo para só depois fazer um

sinal afirmativo com a cabeça e se levantar.Samantha, a moça que fora lá para tomar conta de Tommy,

arregalou os olhos quando o viu entrar.— Oh, meu Deus, o sangue está escorrendo pela perna dele! —

ela gritou.— Isso sempre acontece quando se machuca o joelho — disse

Jack, lançando à moça um olhar de censura.— Não sou boa quando vejo sangue — comentou Samantha,

enquanto acompanhava os dois até o interior da casa.— Desmaiei uma vez na aula de Biologia.— Não precisa fazer nada, cuidarei de tudo. — Onde Patty

estava com a cabeça ao contratar aquela moça para tomar conta do filho? — Pode ir embora. Eu fico aqui até a mãe dele chegar.

Samantha ficou em dúvida. Hesitava entre cumprir sua missão de governanta e o desejo de ir embora.

— Ele é um velho amigo de minha mãe — disse Tommy, repetindo as palavras que ouvira de Jack da véspera.

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— Está bem, então. Diga à Sra. Bradley que pode me pagar amanhã.

Jack tirou do bolso uma nota de vinte dólares e lhe deu.— Isso é suficiente? — perguntou.— E a quantia exata — a moça respondeu e pôs o dinheiro no

bolso.— Até logo, Samantha — Tommy sussurrou.— Fique calmo — Samantha recomendou. — E não deixe esse

senhor machucá-lo muito.Jack engoliu um protesto. Assim que Samantha saiu ele pegou

uma toalha úmida e sabão. Notou o olhar preocupado de Tommy e tentou acalmá-lo:

— Vai arder um pouco, mas precisamos limpar essa ferida.— Eu sei. Posso aguentar.Quinze minutos mais tarde o ferimento estava limpo,

desinfetado, enrolado em uma gaze que Jack encontrara no armário do banheiro.

Havia acabado de colocar Tommy em uma cadeira preguiçosa com um copo de laranjada na mão quando a porta da frente abriu.

— Samantha, cheguei.— Estamos aqui, mamãe.Trish foi até a entrada da sala e parou. Olhou de Tommy para

Jack.— O que você faz aqui? — ela perguntou a Jack. — E onde está

Samantha?— Ela teve de sair. — O sorriso acolhedor de Jack sumiu.— O Sr. Krieger disse que cuidaria de mim — Tommy respondeu

depressa, pois o menino percebera tensão no ar. — Tudo bem, não, mamãe?!

— Claro que sim, querido. Só que essa era responsabilidade de Samantha, não do Sr. Krieger.

— Aquela moça era jovem demais para ficar cuidando dele por tantas horas — Jack explicou.

— Acho que sou melhor juiz para o caso do que você — Trish revidou, de mau modo.

— Não concordo. Ela pode servir para cuidar de Tommy enquanto você vai fazer algumas compras ou coisa parecida...

O sangue de Trish ferveu. Quem era Jack para insinuar que ela não era boa mãe? Que não sabia o que era bom para o próprio filho? Ele não estivera presente quando, ainda bebê, Tommy chorava à noite, nem quando tivera catapora. Ela trabalhava e era mãe ao mesmo tempo.

— ...mas não tem bastante idade para agir em uma emergência como esta — Jack terminou a sentença interrompida.

Emergência.— Que emergência? — Trish indagou. Olhou para o filho e pela

primeira vez notou a bolsa de gelo no joelho. — Querido, o que houve?

— Caí. Nada de tão grave assim, mamãe.

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— Como aconteceu isso? — Ela olhou para Jack, aguardando uma resposta.

— Os meninos correram um de encontro ao outro. — Jack sacudiu os ombros.

— Os meninos?— Matt Cullen — Tommy respondeu. — O da aula de natação.— Lembro-me agora. — Trish fitou Jack. — Mas isso ainda não

explica o que você faz aqui.— Jogávamos basquete — Tommy disse, o rosto tenso de

preocupação. — Foi divertido, mamãe.— Tudo está bem, Tommy. Sua mãe só tenta saber como

aconteceu. — Jack procurava acalmar o menino. Mas antes que Trish dissesse que ela podia muito bem acalmar o próprio filho, ele continuou: — O pai de Matt é meu cunhado Dan. Achamos que seria interessante jogarmos os quatro.

— Raspei meu joelho — Tommy explicou. — E o Sr. Krieger fez o curativo.

— Foi grave? — Trish perguntou a ele, dessa vez amavelmente, pois reconhecia que Jack cuidara de seu filho.

— Não muito grave. Embora ache que a perna vá ficar dolorida por alguns dias.

— Nesse caso, não haverá mais jogo para você, Tommy. Ao menos por enquanto.

— Ah, mamãe. Não foi nada assim tão ruim. Matt não pode vir aqui e...

Trish franziu a testa e Tommy parou de falar.— Patty... quer dizer, Trish — Jack sorriu. — Matt é um bom

menino. Não machucou Tommy de propósito. Foi uma dessas coisas de criança.

— Acontece que Tommy é meu filho, Jack, e eu decido com quem ele joga e quando.

— Mas, mamãe... — Tommy gemeu.Trish fez o menino parar de falar com um olhar. Às vezes ela se

considerava severa demais com Tommy, mas vira tantas vezes mães solteiras perder o controle dos filhos, e não queria que isso sucedesse consigo.

— Não faço oposição a que Matt venha aqui — ela disse, dirigindo-se ao filho. — Apenas não acho conveniente neste fim de semana. Quero arrumar tudo na casa antes de começar a trabalhar, e vou precisar de você para me ajudar. Posso contar com isso?

Tommy concordou, embora com relutância.— Conseguiu o trabalho? — Jack lhe perguntou. — Tommy me

contou que você ia ter uma entrevista.Apesar da vontade de dizer a Jack que sua vida pessoal não era

da conta dele, hesitou, pois a pergunta lhe parecera mais cortês do que produto de curiosidade.

— Penso haver muita chance — Trish respondeu.— Acho que mamãe vai trabalhar em um banco — Tommy

comentou.— Mesmo? Que banco? — Jack quis saber.

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— Primeiro Banco Comercial de Kansas City. Estão expandindo alguns departamentos.

— Primeiro Banco Comercial? — Jack repetiu, sorrindo.— Um amigo de meu avô é membro da diretoria. Terei muito

prazer em pedir a meu avô que a ajude a conseguir o emprego. Às vezes uma palavrinha é...

— Obrigada. — Trish forçou um sorriso. — Prefiro conseguir por mim mesma.

— Não haveria nenhum problema — Jack insistiu.— Mesmo assim, quero obter o emprego por mim mesma— Trish repetiu, com olhar firme e direto. Embora quisesse o

emprego e precisasse muito dele, não queria Jack envolvido em nenhuma parte de sua vida.

Cometera esse erro uma vez.

CAPÍTULO V

Trish desligou o telefone tentada a se beliscar para ter certeza de que não estava sonhando. Na véspera, lhe telefonaram do banco informando-a de que não contratariam novos funcionários por várias semanas. No dia seguinte, ou melhor, naquele momento, o gerente do Departamento de Recursos Humanos telefonara, oferecendo-lhe a posição.

Por um instante ela se perguntara se Jack havia interferido, mas logo descartou a idéia, pois tinham conversado sobre o assunto apenas na noite anterior. Não teria havido tempo para isso.

O cargo era tudo o que Trish sempre desejara. E, mais importante ainda, queriam que ela começasse imediatamente.

Segunda-feira pela manhã receberia orientação. Assim, teria apenas aquele fim de semana para ter a casa em ordem e... para encontrar uma companhia para Tommy, durante o dia.

E se não encontrasse? O que faria?Logo pôs esse pensamento de lado lembrando-se de que havia

dezenas de adolescentes desejando algum dinheiro extra trabalhando como babás durante certas horas. Apenas precisava encontrar uma boa. E seria interessante começar imediatamente essa procura.

Pegou o telefone e ligou para Samantha.Meia hora mais tarde Trish deu um suspiro de desânimo. Todo o

mundo em Lynnwood estava no baile do parque?Tommy lhe dissera que haveria uma competição entre

veteranos e alunos da escola antes do baile, e que se tratava de um grande evento. Ela não acreditara. Até o presente instante.

Olhou o relógio. O jogo devia estar quase terminando. Se ela fosse até o local, encontraria Samantha e conversaria com ela pessoalmente. No mínimo poderia apanhar Tommy, que fora ao jogo com Matt e a família.

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Ainda na esperança de que encontraria antes do fim do dia uma pessoa para ficar com Tommy, Trish saiu de casa.

As arquibancadas estavam cheias e os dois times ainda jogavam quando Trish chegou ao campo de beisebol. Viu logo Samantha e as amigas interessadas na conversa com um grupo de jogadores e achou não ser aquela a melhor hora para se aproximar das garotas.

Mesmo não sendo grande fã de esportes, Trish decidiu assistir ao jogo para passar o tempo. Encontrou um lugar vazio quase na última fila da arquibancada.

Subiu os degraus, ignorando os olhares curiosos. Embora estando em Lynnwood há quase um mês, não saíra muito. Não encontrara muita gente conhecida e, quando encontrava, essas pessoas não a reconheciam. E, algumas vezes, quando a reconheciam, preferia que isso não tivesse acontecido.

A Sra. RusselI, gerente de uma loja, e nada magra, anunciara a todos que "a moça gorda agora não era mais gorda". A caixa de um banco jurava que Trish não podia ser a neta da Sra. Watson, porque essa tal neta era muito gorda e nada bonita.

Deveria ficar contente com os comentários, mas não ficava. Embaraçava-a saber que todos haviam comentado sobre ela às suas costas.

Com a sensação de que estivesse acontecendo naquele momento, Trish ouvia as palavras de Jack seguidas das risadas dos amigos: "Como se algum dia eu pudesse ter um relacionamento amoroso com ela". Sofria só em se lembrar.

Uma boa jogada no beisebol tirou Trish de seu sonho. A multidão aplaudia de pé. Trish virou-se a tempo de ver Jack no campo.

Fora a jogada dele que pusera seu time na frente. Jack era o homem do momento. Mais uma vez.

Jack sempre fora popular. Orador da turma. Presidente dos veteranos. Zagueiro no futebol.

Trish deu um suspiro e foi ocupar um espaço mais na ponta da arquibancada. Sorriu para a menina a seu lado.

— Como vai? — perguntou.— Agora tenho três. — A menina ergueu três dedos.— Kaela, a senhora não perguntou quantos anos você tem — a

mãe sorriu. — Não pode dizer "vou bem"?— Vou bem — a garota disse, e escondeu o rosto na saia da

mãe.— Não frequentamos a escola secundária juntas? — a mãe da

menina de súbito perguntou a Trish. — Sou Missy Campbell. Naquela época meu sobrenome era Andrews. Missy Andrews. Lembra-se?

Se me lembro? Como poderia me esquecer?Pareceu a Trish que uma faca lhe atravessava o coração.

Famosa, com enorme quantidade de amigos e admiradores, Missy Andrews era o tipo de mulher que Trish sempre desejara ser, e que nunca fora.

— E você era...

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— Patty Bradley — disse Trish, sentindo-se estranha e com dezessete anos de novo.

Trish amaldiçoou sua insegurança que a fizera hesitar ao dizer seu antigo nome.

— Vizinha de Jack Krieger, não é? — Missy sorriu. — Achei que era você, mas não tinha muita certeza. Está tão diferente!

— Passaram-se dez anos já.— E está linda — disse Missy. — Nada igual à Patty de que me

lembro.— Mudei meu nome para Trish agora.— Gosto desse nome — comentou Missy. — Combina com você.

Venho pensando também em mudar meu apelido.Mesmo que faltem ainda alguns anos para eu completar trinta.

Não consigo me imaginar atendendo pelo apelido de Missy com essa idade.

— Mudei meu nome depois que terminei o curso secundário. Logo depois — Trish explicou. — Enquanto morei em Washington fui sempre Trish, mas aqui algumas pessoas ainda me chamam de Patty.

— Dê-lhes tempo. Chegarão lá. Há quantos meses está em Lynnwood? Surpreendo-me não a ter encontrado antes.

— Estamos aqui há pouco mais de um mês — disse Trish.— Seu marido foi transferido para esta área? — Embora tendo

contado para todos, durante anos, que se casara ao terminar o curso secundário, ficado grávida logo depois e se divorciado em seguida, por qualquer razão que não saberia explicar, não conseguiu contar a velha mentira mais uma vez.

— Somos só eu e meu filho — Trish falou isso apenas.— Como Kaela e eu, também. — Missy remexeu nos cabelos da

menina. — Derek e eu nos separamos no ano passado. Morávamos em Kansas City, mas depois do divórcio decidi voltar para cá. Não tinha muita certeza se iria me acostumar, porém Jack e meus outros amigos têm sido maravilhosos.

— Jack? — Trish sabia que tinham sido namorados na escola, portanto o fato de continuarem amigos agora não a devia ter surpreendido. Mas surpreendeu-a.

— Jack Krieger — Missy disse. — Sei que vocês dois não eram muito ligados, mas não me diga que não se lembra dele.

— Lembrar-se de quem? — Uma voz grave soou ao lado de Trish e ela virou-se. — Alô, Trish — Jack disse, lançando o olhar para os ombros nus dela.

— Tio Jack! — Kaela abraçou Jack na altura dos joelhos.— Alô, princesa. — Jack carregou Kaela no colo e sorriu. — Você

parece uma abóbora com esse vestido.A menina gargalhou e Trish sorriu.— Kaela foi formidável durante o jogo — Missy comentou.— Nós duas gritamos quando você fez aquela jogada. Se eu

ainda estivesse na escola, teria organizado uma equipe para aplaudi-lo.

E pensar que tivera esperança de que Missy poderia ter mudado!, Trish disse a si mesma.

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— É melhor que eu me vá — ela falou. — Se for começar a trabalhar na segunda-feira, não terei muito tempo para organizar minha vida, incluindo encontrar uma babá que cuide de Tommy.

— O lugar é seu — Jack declarou.— Eu sei. O gerente do Departamento de Recursos Humanos do

Banco me telefonou esta manhã.— Parabéns. — Jack cumprimentou-a. — Isso é maravilhoso. Eu

sabia que tudo iria dar certo.— Parabéns — disse Missy. Ela levantou-se, foi para o lado de

Jack e deu-lhe o braço. — Você está pronto para ir ao piquenique? Kaela e eu estamos morrendo de fome.

Trish percebeu que Missy queria afastá-la de Jack. Riu ao pensar que Missy Andrews estava com ciúme. Se alguém devia ter ciúme, esse alguém teria de ser ela. Porém Trish não tinha. Porque ter ciúme implicaria em desejar Jack Krieger. E não o desejava. Não em sua vida. E certamente não em seu coração.

Jack esperou até que Missy e Kaela entrassem em casa, antes de partir. Embora Lynnwood fosse uma comunidade segura, Missy jurara que o ex-marido a seguira quando fora fazer compras em Kansas City, no último fim de semana. Vivia em espinhos desde então, assim dizia.

Quando Missy o convidara para entrar, ele quase aceitara. Mas isso até enxergar o brilho nos olhos dela e se dar conta de que o convite tinha mais a ver com solidão do que com medo do ex-marido.

Jack não estava interessado em novo relacionamento amoroso com Missy. Considerava-se bom amigo e adorava Kaela... mas, qualquer fogo que no passado queimara entre os dois, havia muito se extinguira.

Sua irmã lhe dissera que, se queria mesmo uma família grande, precisava encarar a vida seriamente.

Mas era fácil para Julie falar. Ela e Dan Cullen se conheceram na escola e Dan era o homem de sua vida. Casaram-se quando ainda estavam na escola, e nunca pensaram em se separar. Jack desejava esse mesmo tipo de amor. Mas não se preocupava com isso ainda. Havia coisas muito mais importantes em que pensar.

Seus pensamentos se voltaram para Trish e para como se sentia com o novo emprego. Jack disse a si mesmo que não poderia se esquecer de agradecer ao amigo de seu avô pela ajuda que dera.

Trish precisava de uma compensação. Apesar de não haver dito nada, Jack sabia que a perda do emprego em Washington fora um tremendo golpe em sua autoconfiança. Obter outro emprego era um bom passo para restabelecer a confiança em si.

O próximo passo seria encontrar uma babá para Tommy. Quando ele mencionara o fato a Julie, ela lhe dissera que a maioria das alunas que faziam esse trabalho eram contratadas com meses de antecedência.

Jack parou em um semáforo e decidiu que daria a Trish um prazo até o dia seguinte para encontrar uma babá. Se ela não tivesse sucesso, veria o que poderia fazer no sentido de ajudá-la. Trish querendo ou não.

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— Temos de ir à igreja? — Tommy puxou com força sua corrente. — Não podemos em vez disso ir só comer fora?

— Almoçaremos depois da igreja. — Trish olhou no espelho retrovisor do carro e limpou uma mancha de batom do rosto. — Além disso, já estamos na igreja.

— Aposto que sua mãe não mandava você ir à igreja quando tinha minha idade.

— Na verdade, era eu quem queria ir à igreja. Ainda não tinha a idade de Tommy quando ela e a mãe se mudaram para a casa da avó. E o que dissera a Tommy era a pura verdade. Fora à igreja todas as semanas. Cada semana cruzava as mãos, baixava a cabeça e rezava para que o câncer de sua mãe fosse curável e para que seu pai voltasse.

Mesmo depois da morte da mãe, Trish continuara a rezar. Até o dia em que a avó lhe contara que seu pai se casara de novo e se mudara para a Califórnia.

Com a nova esposa.Sem ela, sua filha.Trish não pôs mais os pés em uma igreja até se encontrar

sozinha e grávida, sem ter para onde ir. Mas com o tempo começara a achar que tudo o que acontecia tinha uma razão de ser. Por ter se mudado para Lynnwood encontrara Jack. Por causa de Jack tivera Tommy.

— Amo tanto você — ela disse abruptamente, sorrindo para o filho.

— Está bem, mamãe. — Tommy abrira a porta do carro mas logo fechou-a de novo. — Tudo bem você dizer isso em casa, mas não fale se alguém estiver ouvindo.

— Está bem, prometo. — Trish deu um dramático suspiro. — Mas ao menos diga se me ama também.

— Mamãe! — Tommy resmungou e revirou os olhos.— Talvez seja melhor eu abrir a porta, assim todos podem

ouvir...— Eu amo você. — As palavras de Tommy vieram como um

turbilhão. — Está bem?— Perfeito. — Trish sorriu. — Vamos entrar.Pelo bem de Tommy, Trish procurou agir com confiança, mas

preocupava-se em como seria voltar àquela pequena igreja após ter estado afastada por tanto tempo.

Porém no instante em que viu o pastor Williams, todo o seu medo evaporou-se. Ele sorriu ao vê-la e quando Trish aproximou-se para cumprimentá-lo, abraçou-a.

— Patty Bradley! E tão bom estar com você de novo — ele exclamou. — Seja bem-vinda.

Lágrimas inesperadas correram de seus olhos ante a sincera recepção.

— Esse deve ser seu filho. — E virando-se para Tommy, ele continuou: — Sua avó me contou tudo sobre você.

— Mesmo? O que foi que ela disse?

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— Que você gostava muito de esportes. Temos uma liga de basquete que pratica no Centro Recreativo da igreja nas noites de quinta-feira. Gostaríamos que se juntasse a nós.

— Não sei... — Tommy respondeu.— O time de Matt Cullen está precisando de outro jogador.— Matt frequenta esta igreja?— Sim, ele frequenta. — O pastor apontou para alguns bancos

mais atrás. — Na verdade, ele está sentado com a família lá no fundo, à direita.

— Vou lhe dizer "alô". — Tommy foi ao encontro do amigo, sem hesitar.

— Matt é um menino maravilhoso, Patty — disse o pastor. Trish não se importou em corrigi-lo. Tinha a impressão de que seria sempre Patty para ele.

— Sinto-me muito feliz agora — ela confessou ao pastor.— Houve uma época em que não era.— Eu sei. Mas amadureci desde então. Espero que o senhor

entenda por que não voltei para o funeral de minha avó. Quis, mas Tommy e eu estávamos doentes com...

— Não precisa me explicar. — O pastor colocou a mão sobre braço dela. — Sei que estaria aqui se pudesse.

— A morte foi tão repentina. — As vezes Trish tinha dificuldade em acreditar que a avó se fora. — Quando a visitei no verão passado parecia ótima.

— Nenhum de nós sabia que ela estava tão doente — ele disse. — Até ser tarde demais.

— Eu a amava muito.— E você era o sol da vida dela.— É bom ouvi-lo dizer isso, mas... — Trish hesitou.— Mas o quê?— Sei que minha avó me amava. Mas também sei que fui um

grande desapontamento para ela. Não era bonita, nem magra, nem querida na cidade.

— Sua avó apenas queria que você fosse feliz. Às vezes era um pouco severa demais.

— Ela sempre fez o que achava o melhor para mim — Trish simplesmente disse.

— Agora que está de volta, se precisar de alguma coisa...— Saberei a quem pedir. — Trish sorriu. — E melhor que eu

procure um lugar e deixe o senhor continuar com seu trabalho.Embora Trish preferisse se sentar bem atrás, Tommy já havia se

sentado ao lado de Matt. Com relutância ela atravessou a nave sentindo que olhares curiosos a seguiam.

— Guardei um lugar para você, mamãe. Venha cá. Trish sentou-se e sorriu para os pais de Matt. O organista apenas executara a primeira nota quando alguém tocou no ombro dela.

— Há lugar para mais um?Ela virou-se e deparou com Jack, muito bem vestido de terno e

gravata.Tommy respondeu antes dela:

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— Claro, há muito lugar aqui.Infelizmente "muito lugar" fora um exagero. No espaço livre mal

cabia uma criança. Quando Jack se sentou Trish ficou espremida entre ele e Tommy. Não estivera tão perto de Jack desde aquela noite no depósito.

Trish estremeceu só em se lembrar. Pegou o livro de orações com mãos trêmulas.

— Seu perfume é delicioso — ele disse. Trish lançou-lhe um olhar de censura. E Jack riu.

— Não vai cantar? — ele lhe perguntou.O tom da voz de Jack era de caçoada, e Trish achou que devia

responder no mesmo tom, mas não conseguiu. Toda a situação era íntima demais. Sentava-se ao lado de Jack na igreja. Usavam o mesmo hinário. O filho deles estava ao lado. A família de Jack bem perto.

Trish sentiu o coração apertado. Aquela era a vida que desejara e rezara para ter. Sonhara com isso durante tantos anos! Mas não se tratava da realidade agora, porque o homem ao lado dela não era quem aparentava ser. Não era seu marido.

Se não tivesse ouvido a conversa entre ele e os amigos, poderia ter seguido na vida beijando o chão que Jack Krieger pisava.

Mas seus olhos se abriram naquela distante noite da formatura. Aprendera sua lição sobre o que acontecia quando o amor era cego.

Trish olhou para o homem a seu lado. Por mais charmoso, atraente, tentador que fosse, não permitiria que ele a ferisse de novo.

CAPÍTULO VI

No minuto em que o pastor Williams terminou com as orações e deu a bênção, Trish agarrou sua bolsa para sair. A última coisa que desejava era ficar conversando com Jack Krieger.

Mas na fúria de fugir esquecera-se de que Jack estava entre ela e a saída. Quando se moveu, ele imediatamente levantou-se e disse:

— Bom dia. — Pelo olhar de Jack, Trish percebeu que lhe vedara a saída de propósito. — Fiquei surpreso ao vê-la aqui.

— Nesse caso a surpresa foi mútua — Trish respondeu. — Eu poderia jurar que sua família frequentava a igreja metodista em Elm.

— A igreja fechou há cinco anos já.— Fechou? Nunca ouvi falar em uma igreja fechar.— O ministro partiu. Os paroquianos se dispersaram. — Jack

sacudiu os ombros. — Foi isso.Trish ia começar a indagar por que ele escolhera frequentar a

igreja do pastor Williams, mas pensou melhor e não disse nada. Não queria conversar com Jack um minuto mais do necessário.

— Sim, vai ser legal! — Ela ouviu Tommy dizer. — íamos comer fora mesmo.

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— O que vai ser legal? — Trish perguntou ao filho.— Matt convidou-nos para almoçar com ele e a família —

explicou Tommy. — Não é maravilhoso?— Sinto muito — Trish retrucou depressa — mas vai ser

impossível. Tenho várias coisas a fazer e...— Mas íamos comer antes, de qualquer maneira — protestou

Tommy.— Aceite, Sra. Bradley — insistiu Matt. — Vamos ter

hambúrguer e salada de batata.— Parece muito bom -— Trish murmurou. — Mas...— Minha mãe até assou um bolo — Matt acrescentou. — Com

cobertura de chocolate.— Minha cobertura preferida — comentou Tommy. — Vamos,

mamãe.Trish olhava do filho para Matt. Queria que Tommy tivesse

amigos, e Matt era um ótimo menino, mas também sobrinho de Jack.— Nós gostaríamos muito que fossem. — Julie Cullen olhou para

Trish com um sorriso amigo. — Lamento você ter estado na cidade há tanto tempo já sem termos chance de nos ver.

— Não quero incomodar — Trish apresentou como desculpa.— Julie sempre faz comida para um exército — comentou o Sr.

Cullen. — Vocês vão nos fazer um favor dizendo "sim". Do contrário, teremos de comer restos a semana inteira.

Trish olhou para Julie e Dan, e pensou. Eles nunca entenderão o porquê de minha resposta negativa.

— Nesse caso — disse Trish —, vamos.— Ótimo! — A voz de Jack soou atrás dela. — Vamos já para

acender o fogo da grelha.— Acender a grelha? Você? — Trish perguntou atônita.— Não sabia? — Jack disse com expressão inocente. — O

almoço de domingo é por minha conta esta semana.— Você sabe cozinhar? — Tommy não teria ficado mais

espantado se Jack tivesse dito que podia voar.— Sei claro.— É difícil?— Nada — disse Jack. — Se quiser, pode me ajudar e eu lhe

mostrarei como é fácil.— Eu quero — Tommy respondeu imediatamente.— Posso ajudar também, tio Jack? — Matt perguntou.— Claro que pode. Quanto mais ajuda eu tiver, melhor. — Jack

lançou um olhar para Trish.Trish fitou-o com frieza. Não tinha intenção de ficar tão perto

dele em uma grelha, naquele dia ou em qualquer outro dia.— Estacionei meu carro bem na porta. Por que não vão os dois

comigo? — Jack convidou-os.— Não, obrigada. Meu carro está no estacionamento.— Eu sei — disse Jack. — Mas se você for comigo teremos

chance de pôr nossa conversa em dia.— Prefiro ir em meu carro.

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— Trarei você e Tommy de volta quando quiserem. Trish não se sentia nem ao menos tentada. Ela podia imaginar Tommy querendo ficar mais tempo conversando com Matt antes de sair e ela sendo obrigada a permanecer sozinha com Jack.

— Eu vou com você — Tommy declarou com um sorriso feliz nos lábios.

— Tudo bem comigo — falou Jack. — Se sua mãe consentir.— Está bem, mamãe? — Tommy encarou a mãe, com olhar

suplicante.Trish quis dizer "não". Não queria de forma alguma Tommy

perto de Jack. Mas calara a boca. Aprendera havia muito a aceitar as batalhas. E aquela, afinal, constava só de um trajeto de carro. Não se tratava de uma longa viagem de pai com filho.

— Está bem, Trish? — Era Jack falando.— Apenas verifique se ele aperta o cinto — Trish recomendou

com calma.Ela só pensava no que mais viria naquele dia. Sentara-se ao lado

de Jack na igreja. Iria jantar na casa da irmã dele. O que aconteceria depois? Contudo, quanto mais longe de Jack Krieger ficasse, melhor.

Jack recolheu o restante dos hambúrgueres e baixou a chama. Entre o pedido dos meninos para mais sanduíches e a insistência da avó para que ele preparasse o frango de maneira especial, Jack passara tempo demais em frente ao fogo.

E o que de fato desejara fora conversar com Trish. E ela mantivera distância o tempo todo. Jack tinha a impressão de que Trish o evitava, o que não fazia sentido para ele, considerando-se como haviam sido unidos no passado.

Na realidade, tinham sido os melhores amigos um do outro até o dia da formatura. Jack sentia-se culpado. O que acontecera no armário do depósito fora culpa sua. Mas não fizera nada de propósito. Deus sabia que ele não era o tipo de homem que se aproveitava de quem quer que fosse. Jamais planejara roubar a inocência de Patty.

Ele jogou a faca de lado e ficou olhando para o espaço, lembrando-se...

— Olhe quem apareceu! — Ron Royer gritara. — E com um namorado, nada menos que isso.

Chip Lindermann olhou para trás, porém Jack não ficou nem mesmo tentado a olhar.

— Nada de novo — Jack murmurou. — Vi Missy dez minutos atrás.

Jack se perguntava por que permitira que Chip e Ron se metessem em sua vida, convencendo-o a ficar sozinho, sem a namorada. Sim, ele brigara com Missy, mas, de qualquer forma, estavam constantemente brigando. Tudo o que ele tinha a fazer depois das brigas era mandar-lhe flores e ela voltaria a seus braços em um segundo. Mas agora queria mostrar que estava cansado desses joguinhos.

— Não estou falando de Missy — Ron explicou. — Dê uma olhada.

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Jack ergueu a cabeça e olhou para a entrada do ginásio. Não por estar interessado em quem aparecera, mas por saber que Ron não o deixaria em paz até ele olhar. Arregalou os olhos e exclamou:

— Meu Deus, é Patty!— Sabia que você se surpreenderia — Ron comentou com um

sorriso.— Mal posso acreditar — Chip arregalou os olhos também, cheio

de surpresa. — Até a gorda Patty tem namorado.— Não a chame de gorda — Jack censurou-o. E se perguntava:

com quem estava Patty? E por que não lhe dissera que viria ao baile naquela noite? — Não reconheço o rapaz.

— Com certeza algum caipira — disse Ron com desprezo. — Veja como está vestido.

— Patty parece bem hoje — Chip comentou.Jack olhou de novo para Patty. Chip errara, ela estava... linda.Durante todos os anos em que a conhecera, raramente a vira

com outra roupa além de jeans e camisetas muito largas. E naquela noite, em vez de ter puxado os cabelos para trás em um rabo-de-cavalo, deixara-os soltos, caindo sobre os ombros. E, embora o vestido não lhe caísse sobre o corpo como o da maioria das moças do baile de formatura, o tecido verde fazia sobressair o tom esmeralda de seus olhos.

A única coisa que faltava era um sorriso nos lábios dela. De contrapartida, o rapaz que a acompanhava sorria para todas as moças. Quando ele deixou-a sozinha para ir conversar com Kammie Parker, uma garota bem inferior a Patty em simpatia, Jack franziu a testa.

— Esse rapaz é um canalha — ele sussurrou. — Patty não merece ser tratada assim.

— Nunca pensei que você se importasse com ela. — Ron sorriu.Jack percebeu qualquer coisa estranha no comentário de Ron, e

achou melhor medir suas palavras. Fez um gesto de que falara por falar, e explicou:

— Ela é minha vizinha, por isso.— Não penso que seja só por isso — Ron murmurou, cutucando

Chip com o cotovelo. — Acho que Jack gosta da gorda.Jack rangeu os dentes, mas ficou quieto, sabendo que Ron

bebera um pouco demais.— Acho que faz muito tempo que Jack não tem uma namorada.

Mas nem mesmo uma beldade é boa para ele — Ron continuou.— Vocês aí estão falando bobagem — disse Jack. — Vou dar

uma volta pelo ginásio.— Eu disse a você que o que ele tinha eram "chifres" — Ron

disse a Chip e o som de gargalhadas ecoou pelo ginásio.Jack vagou através da multidão, conversando com amigos, e

ocasionalmente dando uma olhada em Patty e no amigo dela. Mais ou menos uma hora após o baile haver começado, Jack viu o companheiro de Patty na porta da saída. Sozinho.

Portanto não ficou surpreendido quando Ron lhe disse mais tarde que tinha visto Patty chorando no corredor. Ron não hesitou

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quando Jack insistiu que o acompanhasse até o local e levou o amigo para uma área da escola tão longe do ginásio que o som da música nem chegava até lá.

— Tem certeza de que ela estava aqui tão longe? — Jack indagou.

— Claro que Patty não queria que ninguém a visse — Ron declarou. Ele parou na frente de um enorme depósito, onde eram guardados os equipamentos de esporte. — Ela está aí. Entre. Fale com ela.

Jack hesitou. Havia algo de errado.— Jack, é você? — Patty falou de dentro do depósito. Jack

entrou. Patty estava ao lado de uma pilha de caixotes, com expressão ansiosa no olhar.

— Você está bem? — Jack lhe perguntou.— Eu ia lhe perguntar a mesma coisa — ela gaguejou.— Ia? Por quê?— Ron disse que você queria muito falar comigo — Patty

explicou. — Ele estava bastante insistente sobre isso.De repente, tudo fez sentido. Jack virou-se, mas não foi

suficientemente rápido. A porta fechou-se em seu rosto. Ouviu-se uma gargalhada do lado de fora.

Jack tentou girar o trinco, mas descobriu que a porta fora trancada. Bateu com força na porta.

— Ron! Isso não tem graça! — Jack gritou. — Deixe-nos sair daqui.

— Divirtam-se! — Jack reconheceu a voz de Chip. — Vejo-os amanhã de manhã.

— Amanhã? — Jack dava pontapés na porta. — Vá para os diabos com amanhã. Abra essa porta agora!

O silêncio foi completo. E Jack percebeu que estavam sozinhos. Presos em um depósito. Conhecendo os amigos como conhecia, tinha certeza de que ficariam lá até o dia seguinte, quando os dois rapazes voltassem. Porém Jack não era homem de desistir facilmente.

— Se fizermos bastante barulho alguém nos ouvirá — ele disse a Patty, que permanecia de olhos arregalados, com as costas pressionadas contra uma pilha de caixotes.

— Não acredito. — Ela sacudiu a cabeça. — Este pavilhão fica bem longe de tudo. Podemos gritar e gritar quanto quisermos, e não fará a mínima diferença.

— Como pode estar tão calma? — Jack lhe perguntou.— Já pensou que pode ficar aqui a noite inteira?— Pensei. Mas o que podemos fazer? — Sua voz era resignada.— Sua avó terá um enfarte se você não voltar esta noite.— Ela foi passar o fim de semana em St. Louis. A irmã dela saiu

do hospital hoje e precisa de ajuda. Minha avó só voltará amanhã à noite. E sua mãe?

— Eu ia passar a noite na casa de Chip — Jack sorriu.— Ela não me espera.— Por que acha que seus amigos fizeram isso? — Patty

perguntou.

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Jack fez uma pausa. Embora não tivesse muita certeza, suspeitava qual seria a razão para Ron e Chip terem trancado os dois juntos.

— Estão bêbados e são uns idiotas — disse Jack, como se isso explicasse tudo.

Trish aceitou a explicação sem comentários.— Gostaria que tivessem escolhido um lugar mais limpo — disse

Jack, franzindo a testa à vista do vestido lindo de Trish, agora todo empoeirado.

— Sinto muito — Jack sussurrou. — Odeio o fato de eles terem estragado sua noite, Patty.

— As coisas não ia muito bem, de qualquer jeito. — Patty baixou a cabeça. — Nem mesmo tive chance de dançar.

— Aquele moço foi um tolo.— Tem razão — declarou Patty, fitando-o com seus enormes

olhos verdes. — Que tipo de homem aceita um encontro com uma mulher sem a conhecer antes? Devia saber que uma moça, mesmo com muita personalidade, podia ser gorda e feia.

— Não diga isso, Patty. Eu quis dizer que ele era um tolo por a ter abandonado. Você é linda!

Patty corou.— Você é — Jack repetiu. — E, antes que a noite acabe, vai

dançar.— É uma boa idéia, mas não funcionará. Temos aqui bolas e

tacos e esteiras, mas não uma banda à vista.Jack sorriu. Pelo visto, Patty não sabia nem um pouco que nada o

impediria de fazer o que ele desejava.— Faremos nossa música — Jack sugeriu.Ele estendeu a mão a Patty. Ela fitou-o, duvidosa por segundos,

mas depois tomou-a. Mas Jack não a deixou se mover. Em vez de dançar, segurou-a mais perto de si, surpreendendo-se pela naturalidade com que Patty se sentia em seus braços.

Embora passassem todas as noites de sexta-feira e sábado juntos, nunca se haviam tocado. Portanto, Jack não estava preparado para aquela onda de emoção que abatera sobre ele quando Patty encostou a cabeça em seu ombro.

Um aroma de baunilha flutuou no ar, e sem pensar Jack encostou o nariz nos cabelos dela, inalando o perfume.

— Você tem um cheiro delicioso. Patty estremeceu.Jack deu um passo atrás.— Está com frio? — perguntou.Ele pensou em lhe oferecer o paletó. Mas, ao fitar bem os olhos

cor de jade, enxergou tudo, menos frio.— Não estou com frio — ela respondeu.Patty passou a língua pelos lábios e Jack sentiu o incontrolável

desejo de prová-los, de descobrir por si mesmo se eram mesmo tão suaves como pareciam.

— Não estou com frio — Patty repetiu. — Nem um pouco. — Ela acariciou-lhe o rosto com a mão, e sussurrou: — Posso beijá-lo?

— Eu adoraria se o fizesse.

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Sem pensar uma segunda vez, foi Jack quem a beijou. Beijou-a vagarosa e demoradamente, descobrindo no processo que os lábios dela eram tão suaves e doces como pareciam.

Quando terminou de beijar, beijou-a de novo. E de novo. Naquela última vez Patty abriu os lábios, e o beijo foi mais profundo. Jack beijara uma infinidade de moças, mas aquele beijo fora diferente. Um fogo queimava-lhe as veias, e de repente beijar não foi suficiente. Segurou-lhe um seio, contornando o mamilo com o polegar...

— Jack? — A voz de Trish soou em seu ouvido. Assustado, ele inclinou o corpo para trás e a faca voou pelos ares. Seu coração bateu com mais força no peito.

— Você está bem? — Trish inclinou-se e apanhou a faca que caíra na grama espessa.

— Menino! Desça já dessa árvore. Vai cair e quebrar o pescoço! — A voz da avó Irene ecoou no ar.

Trish olhou para a avó, no meio do pátio, sacudindo um dedo na direção do alto carvalho.

Trish viu então o próprio filho no alto da árvore, mas ele ainda subia. O vento, que não existira quando saíram da igreja, agora fazia as folhas se agitarem e os galhos balançarem perigosamente. Como uma leoa, Trish deixou escapar um rugido. Foi para o meio do pátio, o coração aos saltos, mal notando que Jack a seguia.

— Tommy! — ela gritou. — Pare com isso.Tommy ignorou-a, e foi para um galho ainda mais alto. A fúria

tomou o lugar da apreensão.— Tommy, pare com isso imediatamente. Tommy parou de

subir, e olhou para baixo.— Não posso descer mamãe. Oreo precisa de mim. Pela

primeira vez Trish notou uma gata preta e branca em um galho um pouco acima do de Tommy.

— Essa maldita gata! — Jack murmurou inconformado.— Tenho certeza de que ela pode descer sozinha — declarou

Trish, agora com bastante calma.Porém Tommy não se moveu.— Tommy, Oreo não precisa de sua ajuda. Ela sobe naquela

árvore o tempo todo — Jack falou. — Obedeça a sua mãe e desça.Tommy olhava de Jack para a gata, esta lambendo uma pata

sentada em um galho bem perto mas ainda não ao alcance dele.— Tem certeza? — perguntou.— Absoluta — Jack respondeu.A essas horas a família inteira estava sob a árvore, incluindo

Matt, observando a movimentação desusada.— O que está acontecendo? — Matt indagou.— Seu amigo decidiu subir em uma árvore. Que acha disso? —

Jack falou.— Ele está na árvore? — Matt olhou para cima. — É valente

mesmo.Trish estremeceu, e Jack bateu no ombro dela.

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— Tudo vai sair bem — animou-a. — Eu costumava subir naquela árvore até o topo, quando era menino.

Ele mal acabara de falar quando Tommy escorregou. Uma exclamação coletiva saiu do grupo. Trish agarrou no braço de Jack, enterrando as unhas.

Durante segundos o menino balançou no ar. Mas em questão de minutos encontrou apoio para o pé.

— Vou subir atrás dele — Trish disse.— Não, você não vai — Jack protestou. — Eu vou.— Acontece que a mãe dele sou eu. E posso tomar conta de

meu filho.— Sei que pode Trish. Mas sou mais forte.Embora Tommy tivesse apenas nove anos, era um menino

grande. Se perdesse o pé, ela não conseguiria segurá-lo.— Está bem. — Trish conformou-se. — Vá, mas não o deixe cair.— Não deixarei. Confie em mim.Trish sentiu um frio na espinha. Porém, que outra escolha

tinha? Seus olhos estavam grudados em Tommy, e ela mal podia respirar enquanto Jack ia ao encontro do menino. Embora aquilo parecesse uma eternidade, em poucos minutos Tommy estava no chão.

Trish abraçou o filho até ele se contorcer, para afastá-la. Depois disso, Tommy correu e foi jogar com Matt, com instruções para não chegar perto das árvores. Trish foi procurar por Jack. Encontrou-o na cozinha, mexendo na geladeira.

— Quer alguma coisa? — ele lhe perguntou.— Quero lhe dizer "obrigada". Não imagina quanto eu... Jack

sorriu e colocou um dedo nos lábios dela. Disse então:— Não precisa me agradecer. Gostei de fazer o que fiz. O toque

nos lábios espalhou uma corrente elétrica pelo corpo de Trish que se aproximou mais, como se o alívio e a gratidão tivessem provocado um curto circuito em sua normal reserva. Colocou as mãos nos ombros de Jack e impulsivamente roçou os lábios no rosto dele.

Trish pretendera que o beijo fosse impessoal, de agrade-cimento. Um beijo que daria a um irmão, ou a um amigo de sua avó. Mas Jack moveu-se e ela atingiu-lhe os lábios. Aí, ao invés de empurrá-lo, envolveu-lhe o pescoço com os braços.

Foi um beijo delicioso, uma carícia mais que um beijo. E quando a língua de Jack forçou-lhe os lábios em uma persuasão tentadora, ela abriu a boca. No calor do momento não fez uma pausa para considerar as consequências do ato. Na verdade, parou de pensar. Colou seu corpo ao dele em um abandono completo.

Ouviu um gemido rouco e, atordoada pelo desejo, não sabia se viera dos lábios de Jack ou dos dela.

Por uma fração de segundo entregou-se à fantasia de que ele realmente a desejava, talvez até a amasse.

— Oh, Patty! Veja o que fez comigo! Patty?Jack inclinou a cabeça para beijá-la de novo, mas Trish agora

afastou-se, com o coração acelerado.

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— Jack, preciso de mais... — Julie parou à porta ao ver Jack e Trish, e seus olhos brilharam de espanto. — Espero não ter interrompido nada.

— Nada, nada — Trish respondeu, resistindo à necessidade de arrumar suas roupas. — Na verdade, eu estava de saída. Tommy e eu precisamos ir. Amanhã terei um longo dia.

— Trish...— Obrigada pelos hambúrgueres... — ela interrompeu Jack e

depois dirigiu-se a Julie — e por tudo. Foi um dia maravilhoso.Para evitar que alguém a interrompesse, ela saiu. A última coisa

que desejava era falar com Jack sobre o que acontecera.Onde estivera com a cabeça? Como pudera tão facilmente se

esquecer daquela valiosa lição que ele lhe dera anos atrás? Embora querendo pensar de outra maneira, tinha de se lembrar que a felicidade jamais seria encontrada nos braços de Jack Krieger.

CAPÍTULO VII

Jack sentou-se em uma cadeira da cozinha e tomou um gole de chá gelado. A segunda-feira estava sendo um dia trabalhoso mas, inexplicavelmente, ele saíra do escritório mais cedo. Em vez de ir direto à sua casa, passara pela casa da irmã.

— Como vai indo seu trabalho de babá? Arrependida de ter aceito?

— De forma alguma. — Julie sorriu. — Tommy é um bom menino. E cuidar de um garoto de nove anos não significa tanto trabalho assim.

— Oito anos, não nove — Jack corrigiu-a.— Como?— Tommy tem oito anos — Jack insistia.— Está errado. O menino tem nove anos — Julie protestou com

a autoridade de irmã mais velha.— Oito. — Jack sorriu. — Ele tem oito anos.— Vamos resolver isso já — disse Julie. Ela abriu a porta da

cozinha e gritou: — Tommy venha aqui um instante.Um minuto mais tarde Tommy e Matt entraram na cozinha e

riram ao ver Jack.— O que houve? — Matt perguntou.— Tommy, você disse que seu aniversário era em fevereiro? —

Julie lhe perguntou.— Não. E em janeiro.Jack lançou à irmã um olhar de vitória. E depois fez a pergunta:— E quantos anos você fez?— Nove — Tommy respondeu. — Sou mais velho do que Matt.— Só por alguns meses — Matt explicou.— Mas continuo sendo mais velho.

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— Meninos, agora chega. Por que não vão brincar de novo? A mãe de Tommy deve chegar logo a fim de apanhá-lo.

Para surpresa de Jack, os garotos não discutiram. Pegaram alguns biscoitos que estavam sobre a mesa e correram para fora.

— Então, eu estava certa ou não estava? — Julie disse.— Ele não pode ter nove anos.— Jack, ele tem nove. Admita que errou.— Isso não faz sentido — Jack insistia. — Se nasceu em janeiro,

Patty, quer dizer Trish, ficou grávida enquanto estava na escola.— E daí? — Julie franziu a testa. — Não seria a primeira garota

em Lynnwood na mesma situação. Embora, se pensar no caso, não me lembro de a ter visto com um namorado.

— Eu vi uma vez — Jack declarou, pensando naquela longa noite. — Ela compareceu à festa de formatura com um namorado.

— Então! — disse Julie. — Foi quando aconteceu. As datas coincidem.

— Coincidem, é verdade. — Jack sentiu um aperto no coração a ponto de quase não poder respirar.

Santo Deus, e teria Patty ficado grávida naquela única noite em que dormiram juntos? Porém ela afirmara que havia se casado. Até o amigo Pete, de Washington, confirmara que Patty havia se divorciado. Devia haver uma explicação lógica. Patty nunca teria guardado segredo se ele fosse o pai de Tommy.

Jack procurava loucamente por uma explicação. Não houve homens na vida de Patty antes da longa noite. Contudo, o que acontecera depois que ela saíra de Lynnwood era um mistério. Embora jovem e vulnerável, Jack duvidava que Patty tivesse pulado na cama do primeiro homem que visse a sua frente.

— Preciso ir — Jack disse à irmã.— Por que não fica para jantar? — Julie convidou-o.— Obrigado, mas não estou com fome.— Desde quando o fato de não estar com fome o impede de

comer? Quando você era jovem, mamãe e papai diziam, brincando, que seu estômago era um saco sem fundo. Afirmava que estava satisfeito, depois de enorme refeição, mas comia uma torta inteira de sobremesa.

— Está inventando isso, Julie.— John Thomas Krieger — Julie disse o nome dele completo,

para pôr mais ênfase —, Deus está ouvindo você mentir para sua irmã!

Julie continuava falando, porém Jack mal a ouvia. John Thomas.Formou-se um nó em sua garganta. Foi à janela e ficou olhando

para o menino de cabelos escuros. Não, Tommy não poderia ser seu filho. Não poderia. Poderia?

Trish parou o carro em frente à casa de Julie e desligou o motor. Recostou-se por alguns instantes e relaxou, pela primeira vez desde que saíra da cama às cinco horas da madrugada.

Não dormira quase a noite toda. A lembrança dos beijos de Jack afastaram seu sono, impossibilitando-a de dormir.

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Estaria Tommy disposto a comer algo comprado fora? Embora gostasse de preparar refeições nutritivas para o filho, naquele momento uma pizza resolveria seu problema. Ao terminar de comer jogariam fora os pratos de papel. Nada de limpeza na cozinha.

Terminado seu planejamento para o jantar, Trish saiu do carro. Assim que chegou ao portão viu Jack sentado no balanço do terraço.

Corou até o pescoço.— Jack, que surpresa. — Ela forçou um tom amável. — Não

esperava vê-lo de novo.— Não esperava ver-me de novo?— Eu quis dizer, esta noite.— Precisamos conversar Trish.— Eu gostaria muito. Sinto, mas estou muito cansada. Outro

dia, talvez.Jack levantou-se do balanço e em um segundo se encontrava ao

lado dela.— Agora. Nem um minuto mais tarde — disse.Trish ergueu a cabeça. Não tinha intenção de discutir, estava

cansada e com fome. Porém, acima de tudo, estava sem jeito.— Já lhe disse Jack, agora não posso. Tommy precisa jantar...— Pode comer enquanto conversarmos. — Trish quis in-

terrompê-lo, mas Jack ergueu a mão. — Já disse a Julie para se ocupar de Tommy um pouco mais de tempo porque nós dois precisamos conversar.

— Não temos nada a conversar. E você não tem direito de tomar decisões a respeito de meu filho.

— Não tenho? Tem certeza disso?— Absoluta.— Tão absoluta que entraria e arriscaria permitir que todos,

incluindo Tommy, ouvissem o que tenho a dizer?Qualquer coisa no tom de voz de Jack a fez ceder.— Está bem, uma vez que se trata de assunto grave, suponho

que posso lhe dar alguns minutos. Mas diga de que se trata.Jack sacudiu a cabeça.— Não. Nossa conversa tem de ser em particular. A escolha é

sua. Poderemos andar até o parque ou ir a minha casa.Sua escolha? Estaria sozinha com ele em ambos os casos, a

menos que houvesse outras pessoas no parque...— Vamos ao parque — ela disse. — Mas não poderemos nos

demorar muito. Sua irmã já ficou com Tommy o dia inteiro hoje.— Vamos. Quero terminar com isso logo.De repente, tudo fez sentido para Trish. Ele queria pedir

desculpas pelo seu comportamento da véspera, e não desejava que ninguém o ouvisse. Pelo visto, ela não era a única a estar sem jeito.

A tensão de Trish diminuiu. Talvez fosse melhor esclarecer as coisas. Assim, não haveria embaraços quando seus caminhos cruzassem futuro.

Ao chegarem ao parque, o coração de Trish já estava bastante leve.

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— Este banco me parece limpo — disse Jack indicando um banco de pedra, dentro do coreto.

— Parece limpo — Trish concordou, mas passou a mão pelo banco antes de se sentar. O vestido que usava naquele dia era um de seus favoritos e não queria sujá-lo. — O que há, afinal?

— Sinto-me como um idiota.Bom começo, Trish pensou. Ao menos ambos concordavam que

se comportaram como idiotas. Embora soubesse que Jack gostara dos beijos tanto quanto ela brincaram com fogo. E não podiam permitir que a experiência se repetisse.

— Penso que ambos deixamos que os hormônios dominassem o bom senso — Trish comentou.

— Do que está falando? — Jack perguntou, franzindo a testa.— Da última noite, na cozinha. E você, do que está falando,

Jack?— Estou falando de Tommy — ele disse. — Sobre a pos-

sibilidade de ele ser meu filho.Trish sentiu o sangue gelar nas veias. Teve dificuldade em

respirar.— Tommy? Seu filho? Onde foi buscar essa idéia louca?— As datas coincidem — ele respondeu com voz tensa.— O que quer dizer com isso?— Fizemos amor em abril. Tommy nasceu em janeiro.Foi exatamente com isso que Trish se preocupou quando

decidiu voltar para Lynnwood. Felizmente se preparara para a contingência e veio com uma história plausível.

— Tommy foi prematuro — ela falou. — Nasceu quase três meses antes do tempo. Os médicos disseram que foi um milagre ele ter sobrevivido.

— Naquele caso você deve ter conhecido o pai de Tommy...— Foi logo que eu cheguei em Washington. Eu era nova lá e ele

também. Ambos nos sentíamos muito solitários. Acho que por isso as coisas caminharam assim depressa.

Jack achou a explicação lógica. Mas, e o nome? Tommy dissera que seu nome era John Thomas.

— Por que lhe deu o nome de John Thomas? É um nome que vem passando em minha família de pai para filho há cinco gerações.

— O pai de Tommy sumiu antes de ele nascer. Sempre gostei do nome John Thomas, e não pude pensar em outro de que gostasse mais... Espero que você não se importe.

— Não, e entendo bem. Confesso que fui um idiota.— Mas aposto que está aliviado agora — Trish disse.— Em termos — Jack admitiu. — Mas Tommy é um menino

muito interessante. Se eu tivesse um filho, gostaria que fosse exatamente como ele. — Olhou para Trish. Em seguida levantou-se e apertou-lhe a mão. — Obrigado por ter sido honesta comigo.

Ele sabia que fora duro para Trish admitir que se casara com o primeiro homem que propusera vida em comum, mas ficou contente por Trish lhe ter contado a verdade. Isso porque a honestidade sempre fora importante para ele. E, se o relacionamento entre os dois

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se transformasse em algo sério, com certeza não queria mentiras perturbando essa amizade.

Trish colocou Tommy na cama, abraçou-o, e veio a costumeira pergunta:

— Sabe como amo você, não sabe?— Montes e montes. — E a costumeira resposta.— Certo. — Ela beijou-o na testa. — E nunca se esqueça disso.

— Saiu do quarto.Se eu tivesse um filho, gostaria que fosse exatamente como

Tommy.As palavras de Jack seguiram-na até a cozinha. Lá, pegou um

copo de leite e sentou-se à mesa.Errara em não ter contado a verdade a Jack? Depois de todos

aqueles anos, a negação fora automática. Jurara a si mesma, tempos atrás, jamais ter qualquer ligação com o homem que destruíra sua vida com mentiras, fazendo-a aprender da maneira a mais dura como a aparência podia enganar.

A lembrança do passado voltou-lhe à mente...Patty colava o corpo contra o de Jack, a pele quente e suave

dele junto a sua. Embora um depósito não pudesse ser considerado um esconderijo romântico, Patty não podia se lembrar de ter sido tão feliz antes.

— E melhor nos vestirmos. — Jack levantou-se da "cama" improvisada e pegou sua calça.

Patty segurou-o pelo pulso e puxou-a para seu lado.— Por que a pressa?Ele beijou-lhe a mão e rindo, disse:— São quase seis horas e não quero arriscar que alguém nos

surpreenda.Fazia sentido, mas a noite fora tão maravilhosa, tão cheia de

magia, que Patty não desejava vê-la terminada. Rolou o corpo roçando os seios no tórax de Jack.

— Oh, Patty! — Em um movimento rápido Jack colocou-a em cima dele. — O que vou fazer com você?

Ela sorriu e respondeu:— Tenho algumas ideias.Fizeram amor de novo e, enquanto Jack a acariciava Patty teve

de lançar mão de toda sua força de vontade para não confessar seu amor. Queria que ele falasse primeiro. Mas como as palavras não vieram, consolou-se admitindo que às vezes atos falavam mais alto do que palavras. E durante a próxima hora ele demonstrou de várias maneiras como a amava.

Vestiram-se em silêncio, alisando as roupas amassadas e trocando sorrisos embaraçosos. Olhando para Jack, Patty imaginava que uma dúzia de mulheres daria qualquer coisa para ser namorada dele. E ainda não podia acreditar que fora a escolhida.

— Não posso crer que já seja manhã — Patty sussurrou.— Ontem à noite pareceu-me que o amanhã jamais chegaria, e

agora está aqui.— Nossa noite foi linda — disse Jack tomando-lhe a mão.

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— Mas quero que você...Soaram risadas do lado de fora e o trinco da porta moveu. Jack

largou a mão de Patty como se fosse uma batata quente e afastou-se dela.

Ron e Chip entraram. Usavam jeans, camiseta e riam a valer.— Divertiram-se? — perguntaram.Jack respondeu, com voz cheia de sarcasmo:— Tentem dormir em uma cama de concreto, e depois digam-

me se é bom.Os três rapazes conversaram durante algum tempo ignorando

por completo a presença de Patty. Foi como se ela não existisse, como se a noite não tivesse significado nada para Jack.

— Vou ao banheiro — ela disse, os olhos cheios de lágrimas.Depois de se refrescar, voltou para o depósito. Ao chegar à

porta, viu Jack, de costas para ela, falar aos amigos:— O que vocês pretendiam com essa brincadeira? Tenho uma

namorada, e sabem disso, não sabem?Ron sussurrou qualquer coisa, em seguida ele e Chip riram.— Estão loucos? — Jack retesou o corpo. — Como se eu pudesse

ter qualquer coisa com ela.Por um segundo, tolamente, Patty supôs que ele se referisse a

Missy. Até ouvir seu nome. Chip e Ron riram de novo.Patty sentiu as pernas fraquejarem e por um momento achou

que iria desmaiar. Mas depois de respirar várias vezes, melhorou.Disse a si mesma que devia ter sabido que Jack não podia

gostar dela. Ele queria sexo apenas. E a situação fora conveniente.Deus, como estivera "acesa". Corou lembrando-se do que

fizera. Praticamente suplicara que Jack fizesse amor com ela... e de todas as maneiras possíveis.

Patty controlou as lágrimas e endireitou os ombros. Ao se encontrar com os rapazes de novo seus olhos estavam secos.

— Vim buscar meus sapatos — disse.— Levo-a para casa — Jack declarou.— Não se incomode. Já me aguentou a noite toda.— Mas quero... — Jack insistia.— Jack, meu amigo, deixe-a andar. — Ron olhou para o corpo

avantajado de Patty com indisfarçável desdém. — Só Deus sabe como precisa de exercício.

— Chega! — Jack protestou.Embora a falta de sensibilidade de Ron não fosse nada de novo,

seus comentários ainda machucavam. Porém ao menos ela sabia como Ron e Chip eram. Muito mais perigosas eram pessoas como Jack. Pessoas que fingiam ser amigas. Pessoas que diziam uma coisa em sua frente e que riam de você em suas costas.

— Ron tem razão. — Patty ergueu a cabeça. — Preciso de exercício.

— Deixe-me levá-la a casa — Jack repetiu. — É o mínimo que posso fazer.

— Obrigada, mas não. Já fez muito.

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Patty segurou as lágrimas até estar de volta em seu quarto, em sua própria cama. Deu socos e mais socos no travesseiro até os soluços dilacerarem seu corpo todo.

Como pôde ser tão idiota?Seu próprio pai não a amara.Como pôde pensar que um homem como Jack a amaria?— Mamãe? Você está bem?Havia uma ruga na testa de Tommy e seus olhos azuis

demonstravam preocupação.Trish esfregou os olhos com o dorso da mão.— Estou bem, querido — disse.— Mas esteve chorando.— Quando mamãe fica muito cansada às vezes tem vontade de

chorar. Depois fica melhor.— E está melhor agora?— Sim, estou. — Trish se deu conta de que dissera a verdade.

Achou que estivera certa em não dizer a Jack que ele era o pai de Tommy.

Jack era charmoso. Um homem que podia fazer uma mulher perder a cabeça com um sorriso seu. Mas Trish era uma adulta agora, não uma menina ingênua e sua tarefa com Tommy consistia no número um de suas atividades. Queria que o filho se transformasse em um bom homem. Um homem que nunca abandonaria sua família quando os tempos ficassem difíceis ou que nunca fizesse amor com uma mulher para depois deixá-la de lado.

Naqueles anos passados Jack demonstrara que não era confiável. Por isso seria uma tola se confiasse o filho a ele.

Ou se confiasse a ele seu coração.

CAPÍTULO VIII

Tommy parece ótimo — disse Jack. — Está jogando muito bem. Trish fitou-o, surpresa. Ela estava assistindo ao jogo de Tommy por duas semanas já, sendo aquela a primeira vez em que vira Jack. Na realidade, a primeira vez depois que ele lhe perguntara se Tommy era seu filho.

— O que faz você aqui? — Trish lhe perguntou. — Vim assistir ao jogo. Segure isto, por favor.Ele deu a Trish uma lata de soda e colocou sua cadeira ao lado

da dela, na beirada do campo.— Mas, por que assistir ao jogo? — Trish insistiu.— Por que... há uma pessoa aqui que desejo ver.Por um breve instante Trish teve a ilusão de que Jack fora vê-la,

até ele concentrar o olhar no sobrinho que esquentava o corpo um pouco mais adiante.

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Naturalmente. Ele fora ver Matt jogar. Trish devolveu-lhe a lata de soda.

— Olhe — disse.— Quer tomar alguma bebida? — Jack lhe perguntou ao pegar a

lata.— Não, obrigada. Não bebo soda.— Minha irmã também não gosta de soda.— O gosto da bebida não é mau. Evito por causa das calorias.— Você não precisa se preocupar com calorias — ele disse.— Sim, tem razão — Trish caçoou. — Sou uma verdadeira

beleza.Naquele dia, ela se vestira rapidamente. Puxara os cabelos para

o alto da cabeça, pusera um top e um short bege, e se achara bem.Jack examinou-a da cabeça aos pés.— Para mim, está linda — ele comentou. — Tive saudade de

você. Teria telefonado, mas...— Não me deve explicações, Jack. — Trish riu.— Mesmo que não tenha tido saudade de mim — disse ele —,

eu tive. Na verdade, estava pensando se você e Tommy gostariam de ir comigo a Kansas City esta noite. Poderíamos jantar? Talvez ir a um cinema?

— Sinto muito, mas Tommy tem de ir a uma festa de aniversário. Na verdade, vai passar a noite na casa do aniversariante.

— Que tal você, então?O fato de ter tido saudade dele impediu Trish de mentir

dizendo, talvez, que já fizera planos para a noite. Enfim, o que haveria de tão errado em passarem o fim do dia juntos?

— Um cinema me soa bem — ela sugeriu. — Vamos escolher um filme?

Ela e Jack discutiram sobre que filme assistir, durante o resto do jogo e o trajeto até a casa onde deixaram Tommy. Seguiram depois para Kansas City. Trish escolheu o filme e Jack o resto do programa da noite.

Foram a um local onde se servia excelente sorvete, no Plaza.— Achei que você gostava de sorvete — disse Jack. — Por isso

quis vir aqui.— Eu adoro sorvete. Porém tomo um pouco mais de cuidado do

que antes. Quando estava na escola, comia uma enorme porção todas as noites. Não mais agora.

— Você sempre teve o apetite de pessoa saudável — Jack comentou.

— No passado, comida era o que me ajudava a continuar vivendo.

— Você deve ter passado por momentos bem difíceis — Jack comentou. — Perder a mãe quando era tão jovem!

— Não pode imaginar como foi difícil.— Lembro de você me contar como tinha saudade de sua mãe

— disse Jack.— Sendo filha única, ela não era apenas minha mãe, mas minha

melhor amiga. Quando meu pai nos deixou, foi horrível. Mas quando

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minha mãe morreu... — Trish sentiu um nó na garganta e vontade de chorar — ...senti-me terrivelmente só.

— Mas tinha sua avó.— Sim, tinha. E ela fez o melhor que pôde, apesar das

circunstâncias.— Circunstâncias?— Era uma mulher idosa que devia estar jogando bridge em vez

de se ocupar cuidando de uma adolescente. Sei que vovó desejava que meu pai fosse mais atuante, mas ele não estava interessado em mim. Quando minha mãe morreu, meu pai já tinha se casado pela segunda vez e havia um bebê a caminho. Portanto minha avó não teve outro remédio senão ficar comigo. Eu tentava não incomodá-la. Estudava muito, ajudava-a na casa e... comia. Comida ficou sendo minha melhor amiga.

— Sabia que sua vida não era boa, mas não pensei que fosse tão má. — Jack segurou-lhe a mão. — Sinto muito você ter passado por tudo isso.

Trish ficou com os olhos cheios de lágrimas.— Como é o velho ditado? O que não mata, engorda. E isso?— Eu gostaria de ter estado a seu lado, Trish.— E estava. Todas aquelas noites em que nos sentávamos e

conversávamos no terraço da casa de minha avó significaram muito para mim.

— Você está sendo amável — Jack disse. — Olhando para trás, não penso que eu tenha sido muito bom amigo para você.

— Por que diz isso?— Primeiro, sabia que estava achando muita falta de sua mãe e

nunca a convidei para ir conhecer a minha.— Sua mãe já tinha um filha. Não precisava de outra.— Contudo...— Jack, é verdade — Trish interrompeu-o. — Não pense mais no

caso.— Sinto muito. Realmente sinto.— Como já disse, tudo bem, Jack.— Nada de tudo bem. Quero compensar pelo que não fiz.— Compensar? De que está falando?— Quero que você me dê outra chance de lhe mostrar o que um

bom amigo pode fazer — ele disse. — Podemos começar tudo de novo. Dessa vez não a desapontarei.

Já me desapontei uma vez, por culpa dele. Se me desapontar uma segunda vez, será por culpa minha.

Trish se perguntava se iria ser tão louca em levar em consideração o pedido dele.

Mas, todos não mereciam uma segunda chance? E, de qualquer maneira, estaria de sobreaviso.

Não, ele não a faria de boba de novo, porque dessa vez não permitiria.

— Não sei por que Jack não vai conosco — Tommy disse pela centésima vez. — Ele gosta de montanha-russa, também.

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O estacionamento do Parque de Diversões estava repleto. O sol brilhava e o céu azul prometia um lindo dia.

— Já lhe disse, Tommy, este é um dia especial para nós. Jack tem sua vida, nós temos a nossa.

— Mas ele poderia...— Tommy, chega! Nem mais uma palavra.Tommy arregalou os olhos e Trish respirou fundo. Não havia

necessidade de ela ficar tão irritada. O fato de Jack não lhe telefonar durante toda a semana não era razão para responder mal ao filho. Julie lhe dissera que ele estava fora da cidade, mas Trish sabia que voltara na véspera, pois vira o jipe dele estacionado em frente ao banco, na sexta-feira.

Mas não ia pensar sobre aquilo agora. Tentaria se concentrar em se divertir com o filho. Durante toda a semana cuidara da limpeza da casa, da lavagem de roupa, por isso no sábado poderia se concentrar em Tommy. Levantaram-se cedo para passar oito horas no Parque de Diversões em Kansas City.

— Vamos ter um dia muito agradável. — Trish forçou um sorriso. — Posso até ir com você na roda-gigante. O que acha disso?

— Mas você sempre vomita — Tommy falou. — Na última vez que fomos a um parque vomitou em cima daquele homem...

— Foi porque eu tinha acabado de comer — Trish se defendeu, já sentindo enjoo só em se lembrar do que acontecera. — Algodão doce e roda-gigante nunca foram uma boa combinação.

Trish não viu necessidade de confessar que em outras ocasiões andara de roda gigante com estômago vazio e sentira-se mal também.

Uma hora mais tarde Trish ficou olhando para um terrível inimigo: o Expresso Oriente. O aspecto era ainda mais assustador do que a roda gigante. Os gritos das pessoas dentro dos carros provocaram calafrios em sua espinha. Seu coração acelerou e gotas de suor surgiram-lhe na testa.

— Céus! — Tommy exclamou. — Vai ser uma delícia. Vamos entrar na fila depressa.

— Tem certeza de que quer esperar? A fila está longa demais, Tommy.

— Mas anda rápido. — Uma voz masculina, familiar, soou atrás de Trish.

— Jack! — Tommy gritou e sorriu.— Que surpresa — disse Trish.— Surpresa mesmo — Jack concordou. — Quem diria que nos

encontraríamos aqui?Certamente não Trish. Vestira-se sem se preocupar muito com

seu aspecto. Usava short e camiseta, enquanto Jack lhe pareceu impecável.

— Você está linda como sempre — ele disse, com um sorriso de apreciação.

Trish, naturalmente, não acreditou. Na pressa de sair usara o mínimo de maquiagem e puxara os cabelos para cima. Linda? Impossível.

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— Jack, tem certeza de que deseja viajar naquela coisa? — Missy surgiu do meio da multidão, com um sorvete. Parou. — É você, Trish? Que surpresa.

Trish teve vontade de desaparecer em um buraco. Apesar do calor, Missy estava elegante com seu short verde limão e sandálias. Seus cabelos bem penteados tocavam-lhe os ombros.

— Missy. Que prazer em vê-la — Trish sorriu. — Kaela está com você?

— Devia estar, mas ficou doente ontem à noite — Missy respondeu. — Minha irmã ficou cuidando dela hoje.

Você deixou sua filha doente em casa? Trish engoliu as palavras. Embora nunca tivera deixado Tommy em casa doente, sabia que muitas mães faziam isso.

— Minha mãe sempre fica comigo em casa quando estou doente — Tommy se manifestou. — Não é verdade, mamãe?

— Bem, eu...— Uma vez até perdeu um compromisso importante. Eu tinha

febre muito alta. Quase quarenta, acho. Não foi, mamãe?— Trinta e oito — Trish corrigiu-o. — Mas estava bastante

doente, Tommy.— Kaela não tinha febre — Missy explicou. — Bem, talvez muito

pouca. Mas isso é comum em infecções.— E sua irmã cuidará bem dela, claro — Trish disse.— Sei que cuidará. — A tensão do rosto de Missy sumiu.— Sabia que você entenderia, sendo também uma mãe sozinha.

Jack e eu tínhamos planejado este passeio havia muito. Não quis cancelar.

— Porém foi mais para Kaela do que para nós — Jack comentou logo. — E eu lhe disse que entenderia se você preferisse ficar em casa com ela.

— Mas eu não quis cancelar. Estou cansada de passar todos os fins de semana em casa, sem fazer nada. Embora não adore viajar naquele monstro.

— Eu adoro montanha-russa — Tommy opinou. — Mamãe prometeu que dessa vez iria comigo.

Jack olhou para Trish e, sorrindo, perguntou:— Eu não sabia que você gostava de montanha-russa.— Ela detesta — Tommy respondeu antes que Trish tivesse

chance de abrir a boca. — Na última vez vomitou na careca de um homem. Ele ficou tão furioso. Você...

— Tommy! — Trish sacudiu o filho pelos ombros. — Chega!— Se ele quiser, pode ir comigo, a meu lado — Jack se ofereceu.

— A menos que você queira mesmo ir — ele perguntou a Missy.— Não faço a mínima questão — Missy riu. — Vão vocês dois.

Trish e eu nos sentaremos à sombra daquela árvore e relaxaremos. Venham nos buscar quando terminarem.

— Divirtam-se — disse Trish... mas Tommy já conversava alegremente com Jack e talvez nem tivesse ouvido nada.

Trish e Missy sorriram e sentaram-se no banco mais próximo.

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— Quer tomar um gole de meu suco de frutas? — Missy perguntou.

— Não, obrigada.Durante a próxima meia hora as duas mulheres conversaram

sobre tudo e sobre todos... exceto sobre Jack.Enfim, Trish não pôde aguentar mais. Mesmo não sendo de sua

conta, queria saber o que havia entre Missy e Jack. Por isso, quando Missy mencionou o nome dele, aproveitou a oportunidade, e perguntou:

— O relacionamento entre vocês dois é sério?Missy demorou para responder. Tomou mais um gole do suco e

olhou a distância. Finalmente, quando Trish já não esperava mais uma resposta, ela disse:

— Acabo de sair de um casamento infeliz, muito infeliz.Reconheço que é cedo demais para pensar em outro. Mas se de

fato me decidir dar esse passo, tem de ser com um homem como Jack. É o melhor que já conheci até hoje. Tenho certeza de que já sabe disso.

Trish limitou-se a sorrir. Tinha certeza de que muita gente concordaria com Missy. Jack tinha reputação de ser trabalhador, um dedicado voluntário para o bem da comunidade, enfim, um grande homem, como Missy dera a entender.

Talvez, tendo chance, seria até um bom pai.— Você acredita que uma pessoa possa mudar? — Trish

perguntou, abruptamente.— Em que sentido? — Missy perguntou, com uma ruga na testa.— Digamos, uma pessoa que é egoísta e egocêntrica quando

jovem. Acha que uma pessoa assim pode mudar? Ou acredita que essas características sejam parte da personalidade básica do indivíduo?

— Acredito que as pessoas não apenas podem mudar como mudam. Algumas para melhor, outras para pior. Com o passar dos tempos, mostram suas verdadeiras cores. E só dar-lhes corda para se redimir ou se enforcar. Veja meu ex-marido, por exemplo. Ele tinha um temperamento quando nos conhecemos, mas com o decorrer dos anos ficou simplesmente mesquinho, maldoso.

A mente de Trish voou longe enquanto Missy continuava a falar.Missy lhe dera muito em que pensar. Talvez Jack não fosse o

mesmo homem egocêntrico que destruíra seu coração. Tommy o adorava. Mas antes de deixar que Jack fizesse parte da vida de seu filho, ela faria o que Missy sugerira e passaria mais tempo com Jack. Procuraria conhecê-lo melhor, verificar se realmente mudara.

Afinal, o que teria a perder? O quê?

CAPÍTULO IX

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Que bom que você telefonou. — Trish limpou a boca com um guardanapo de papel. — A idéia da pizza vem a calhar.

— Com Tommy jogando neste fim de semana, achei que você estaria sem companhia — Jack sorriu. — Afinal, o que faria com todo esse tempo livre?

— Acho que poderia encontrar alguma coisa para fazer — Trish respondeu.

Jack não pôde evitar de pensar em como Trish estava linda naquela noite. Embora seu vestido não fosse exageradamente curto, dava para se ver boa parte do colo e muito da pele cor de mel.

Desde o instante em que a apanhara, tudo o que desejara era tocá-la. Quando abriu a porta do carro e ela entrou, quis carregá-la nos braços ali mesmo. Mas aquele encontro tinha por finalidade renovar a amizade, não beijar.

E Trish gostava de conversar. Havia muito não rira tanto. Mas entre o convidativo aroma do perfume dela e a maneira sensual com que passava a língua nos lábios tentadores, Jack estava tendo dificuldade em se concentrar.

— E muito bom termos a chance de renovarmos nosso conhecimento — ela disse. — Naturalmente nos conhecemos na escola secundária, mas as pessoas mudam.

— Não acho que mudamos muito. Ainda gostamos de passar tempo juntos, como quando tínhamos dezoito anos — Jack disse.

— Se gostava tanto de passar tempo comigo naquela época, por que nunca me convidou para sair? — Trish inclinou-se sobre a mesa, os olhos brilhando com intensidade.

A pergunta apanhou Jack de surpresa. Dizer que nunca pensara em convidá-la para sair soava ridículo. Infelizmente, era a verdade.

Ele demorou para responder, e Trish acrescentou:— Tinha vergonha de ser meu amigo? Foi isso?— Não, claro que não.— Naquele caso, por que nunca me apresentou a ninguém

como sua amiga? Por que nunca saímos como namorados?Depois de todos aqueles anos, Jack não entendia por que isso

era tão importante para ela. Mas pelo visto, era. Acomodou-se melhor na cadeira e disse:

— Na verdade, para ser honesto, nunca pensei no caso.— Nunca pensou? — Trish arqueou uma sobrancelha.— É verdade. — Jack duvidava ser possível fazê-la entender

algo que ele também não entendia. — Eu tinha meus amigos, pensei que você tivesse os seus.

— Ah, sei. — Ela sacudiu os ombros.Jack encheu-se de vergonha ao pensar que falhara.— Eu faria qualquer coisa que pudesse para voltar ao passado.Ficaram sentados em silêncio durante muito tempo. Jack

pensava como sua vida teria sido diferente se Trish houvesse feito parte dela no passado. Seria sua esposa agora? E Tommy, seu filho?

— Não podemos rodar os ponteiros do relógio para trás, mas podemos começar de novo — Trish observou.

Jack refletiu por uns segundos. Havia infinitas possibilidades.

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— Gosto da idéia de começar de novo — ele disse enfim.— Esta noite poderia ser um novo começo para nós. Um tipo de

primeiro encontro.— E o que aconteceria com a última semana, quando jantamos

e fomos ao cinema em Kansas City?— Está bem. Então este seria nosso segundo encontro — Jack

disse, continuando com a idéia.Trish concordou e, assim que terminou de comer a pizza, foram

a um campo de esportes em Lynnwood a fim de "jogar boliche ao luar".

Bem depressa Jack viu que Trish não era uma profissional. Quando quase saiu da cancha com a bola, ele insistiu em segurá-la pela cintura para ajudá-la.

Infelizmente não conseguiu muito sucesso. Trish não conseguia manter a bola na cancha. Mas parecia não se importar com isso. Tampouco Jack. Ele divertia-se provocando-a e principalmente gostava de tê-la nos braços. Tiveram a impressão de que haviam apenas começado quando o jogo acabou.

— Talvez eu deva me sentir feliz por não termos ficado mais vezes juntos no passado — Trish falou sorrindo, enquanto desamarrava os sapatos de boliche. — Você é o tipo do homem exigente.

— Não viu nada ainda — Jack replicou. Foram para o carro.— Adorei as horas que passamos juntos, Jack. Se os encontros

de namorados no tempo da escola eram assim, sinto muito ter perdido todos eles.

— A noite está só começando. — Jack abriu a porta do jipe para ela e sorriu. — Ainda teremos outra parada.

— Mesmo? E quase meia-noite. O que mais está aberto nesta cidade?

— Não é na cidade. Vamos ao Grogan's Point.— Fala sério? Todos sabem que só se vai a Grogan's Point para

concluir alguma coisa começada.— Tem razão. E lá que vamos.— Foi onde você levou Missy? Jack fitou-a, intrigado.— Algumas vezes — ele disse. — Mas geralmente eu estava

sempre com tanta pressa para ver você, que Missy teve de se contentar com um ou dois beijos na porta da casa dela.

— Teve de se contentar? — Os lábios de Trish tremeram. Jack concentrou sua atenção na rodovia. Na próxima esquina virou e entrou em uma estrada de pedregulho.

— Falou sério? Está mesmo me levando lá? — Trish perguntou.— A menos que você não queira...— Podemos ir. — As faces dela pegavam fogo. — Nunca estive

naquele lugar à noite.Jack sorriu e acelerou o jipe.Com os dedos entrelaçados atrás da cabeça, Trish olhava

preguiçosamente para o céu.Pensava no que Jack tinha em mente quando abrira a porta e

tirara um cobertor do banco traseiro. Porém, quando explicara que

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conhecia uma área gramada mais adiante que fornecia melhor vista das estrelas, Trish relaxou e soltou o ar dos pulmões. Não sabia que estava segurando a respiração.

Sentaram-se por alguns minutos e conversaram, mas no instante em que Jack sugeriu que se deitassem, seu coração começou de novo a bater com toda a velocidade.

Contudo até aquele momento tudo o que haviam feito fora relaxar. E, naturalmente, olhar as estrelas.

— Em que está pensando? — Jack lhe perguntou, quebrando o silêncio.

— Pensava no que consistia o grande programa de vir aqui.— Não está gostando? — Jack ergueu o corpo, apoiando-se em

um cotovelo.— É bom. Mas um tanto cansativo.— Ah, agora entendo. Madame quer ação.Sem outra palavra, Jack estendeu o braço e puxou-a para mais

perto.Trish riu, sentindo-se como uma colegial de novo. Aconchegou-

se bem, respirando o aroma dele.— Assim está melhor? — Jack sussurrou-lhe ao ouvido.— Abraçar é bom. — Havia certa impaciência na voz de Trish.— Bom? Só bom? Trata-se de nosso primeiro encontro amoroso.

Eu estava tentando ser cortês — Jack se explicou.— E nosso segundo encontro amoroso. E não precisa ser tão

cortês. Pode me beijar se quiser. Não me importo.— Não precisa me pedir duas vezes.— Eu não ia pedir...Os lábios de Jack abafaram-lhe as palavras, e Trish decidiu não

se importar sobre quem pedira, porque conseguira o que desejava.Os lábios de Jack estavam quentes e suaves contra sua boca, e

Trish relaxou nos braços dele, saboreando a proximidade. Jack beijou-a como se tivessem todo o tempo do mundo.

Ela se tornara muito experiente com homens através dos anos, mas o fato de passar algumas horas com Jack naquela noite a fizera se dar conta do quanto perdera estando longe. Como achara falta dele.

Virou a cabeça e sentiu os lábios de Jack em seu pescoço.— Ainda está achando cansativo? — ele indagou.— Só um pouco. — Trish mentia. — Trata-se de jogo muito

lento.Jack fitou-a por alguns minutos e com sua enorme mão

segurou-lhe o rosto. Os olhos de ambos se encontraram.— Quero fazer tudo certo desta vez. Não quero me apressar. O

que Jack falara fazia sentido. Porém passara os últimos dez anos longe daquele homem e agora ele estava de volta, sacudindo suas emoções com um beijo e suaves carícias. Talvez aquilo não fizesse sentido... porém, no calor dos braços dele, acharia que tudo estava certo.

— Quem falou em se apressar? — Trish sussurrou. — Temos uma noite inteira.

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— Tem razão. Temos todo o tempo do mundo. Enterrando os dedos na cabeleira de Jack, Trish abriu a boca em uma atitude convidativa. Beijaram-se até o hálito quente de Jack aquecer-lhe o rosto. Até os seios dela ficarem intumescidos. Até tudo o que desejava ser apenas ele.

Como se pudesse ler-lhe os pensamentos, Jack pôs a mão sob o vestido de Trish e segurou-lhe os seios. E quando ela pensou que iria morrer de paixão, Jack contornou os mamilos com o polegar. Trish arqueou o corpo, a dor interior traduzia agora uma necessidade ardente.

Jack sorriu. Ergueu-lhe o vestido e com a boca seguiu o movimento dos dedos.

Foi descendo a mão...— Eles devem estar em algum lugar por aí. — Uma voz de

homem se fez ouvir.A mão de Jack pareceu congelar. Trish enrijeceu o corpo.— Criaturas tolas. — A voz vinha da direção do carro.— Você tem uma lanterna? Em pânico, Trish encarou Jack.Santo Deus, não havia apenas um homem, mas dois.Bem lentamente, Jack e Trish sentaram-se. Ela arrumou o

vestido e os cabelos. Jack alisou o cobertor e apertou-lhe a mão no instante em que dois policiais apareceram.

A luz da lanterna incidiu sobre Trish e depois mudou para Jack.— Ora, ora, Jack Krieger. Vi o jipe, mas não pensei que fosse o

seu. Não esperava vê-lo aqui.— Eu também não esperava vê-lo aqui, Fred — Jack disse, rindo.

— Trish e eu viemos a este lugar para apreciar as estrelas. Espero que não haja nenhuma lei contra isso.

— Claro que não — Fred respondeu. — Mas em geral são adolescentes que aparecem por aqui. E a maioria deles tem na cabeça algo mais do que apreciar as estrelas.

— É verdade — o policial mais jovem confirmou. — Por sinal, na semana passada deparamos com um casal nu e...

— Howie! — Fred repreendeu-o. — O assunto é confidencial.— Incrível! — Jack exclamou. — Difícil de acreditar! Fazer isso

em uma área pública?!Trish corou ao se lembrar de como estivera exposta minutos

atrás.Fred riu muito.— Quando os hormônios entram em ação as pessoas fazem isso

em qualquer lugar. Juro.— Difícil de acreditar — Trish fez eco às palavras de Jack. Ela se

perguntava até onde teriam ido se os policiais não houvessem aparecido.

— Bem. Desculpem-nos por termos perturbado vocês. — Fred tocou a aba do boné. — Aproveitem o resto da noite.

Trish esperou até os policiais sumirem de cena para dizer:— E melhor irmos também.— Tem certeza de que não quer apreciar as estrelas um pouco

mais? — ele perguntou.

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— Querer ou não querer não é o problema.Trish lembrou-se do juramento que fizera sentada sozinha em

um minúsculo apartamento, com um bebê recém-nascido. Jurou não ter nunca mais sexo antes do casamento. Durante todos aqueles anos não lhe fora difícil conservar o juramento... até agora.

— Não, não é o problema — Jack confirmou, beijando-a e ajudando-a a se levantar.

— Para onde iremos daqui? — Trish quis saber, acabando de alisar o vestido.

— Vou levá-la para casa. Mas, como já disse, não há pressa. Gosto de você, Trish Bradley. Dessa vez vamos fazer as coisas da maneira certa.

Dessa vez vamos fazer as coisas da maneira certa.Trish pôs na pia a louça do café da manhã, incapaz de acreditar

como tudo mudara desde a noite em que ouvira essas palavras.Continuaram se encontrando, tentando um novo relacio-

namento. Quando Tommy tinha de praticar algum esporte, Jack se encontrava com ela no campo de esportes e assistiam ao jogo juntos. Nos fins de semana, ela e Jack iam a concertos ou a um cinema.

Embora não conservassem seus encontros em segredo, Trish duvidava que alguma pessoa em Lynnwood soubesse que namoravam. Apesar de Jack ser carinhoso com ela, depois daquela noite das estrelas nunca mais nem mesmo segurara-lhe a mão em público.

Suas dúvidas foram confirmadas quando Trish encontrou Missy em um supermercado, e Missy mencionou que precisava telefonar para Jack a fim de combinarem um encontro.

Trish não dissera nada. Como poderia dizer que ela e Jack estavam comprometidos quando não houvera real com-prometimento? Enfim, não falara em se casarem e o dedo da aliança continuava nu.

Trish olhou para sua mão esquerda. O que diria se Jack a pedisse em casamento?

Durante as semanas seguintes o comportamento de Jack mudara muito. Embora Trish não conseguisse entender como um dia ele pudera ser tão cruel, agora acreditava que o homem mudara mesmo.

Tommy apareceu na cozinha.— O que houve? — a mãe lhe perguntou, notando a expressão

excitada do menino.— Recebi uma carta — ele disse. — De Washington.— De quem? — Trish indagou.— De Peter.Peter Wessel havia sido o melhor amigo de Tommy desde o

curso primário. Logo depois que se mudara para Lynnwood, Tommy falava constantemente sobre seu velho amigo. Mas ao conhecer Matt, pouco mencionara Peter.

— Há uma carta para você também, mãe. De Washington. — Tommy entregou-lhe um envelope.

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Trish esperara se tratar de algum pagamento a fazer. Consultora Carlyle.

A muito respeitada firma de consultoria em Washington havia sido sua escolha número um na procura de emprego. Na ocasião em que saíra da cidade, não havia vaga para a posição que pleiteava.

Trish abriu o envelope e leu a carta. Arregalou os olhos. Leu tudo mais uma vez e riu.

— O que diz a carta, mamãe? — Tommy ficou apreensivo. — Algo errado?

— Não, ao contrário. — Trish sacudiu a cabeça, incapaz de acreditar na ironia da vida. Três meses atrás teria dado pulos de alegria a essa oferta: ganhar duas vezes seu antigo salário com o direito ao uso de um carro? — E uma oferta de emprego em Washington.

— Não vamos voltar para lá, vamos, mamãe? — Tommy perguntou, preocupado. — Gosto daqui.

— Eu também. — Sorrindo, Trish dobrou o papel e o recolocou no envelope. Mais tarde, quando tivesse tempo, escreveria uma nota rápida declinando a oferta. A posição oferecida só estaria à disposição dela em algumas semanas. Haveria, portanto, bastante tempo para contratar outra pessoa.

— Não vamos a parte alguma, Tommy. — Lynnwood era seu lar, e todas as pessoas que ela amava estavam ali mesmo.

CAPÍTULO X

Achei que você tinha dito que estaria livre no sábado. — Trish fazia esforço para se manter calma, sabendo que a irritação não a levaria a nada.

— Sei que eu disse. — Jack deu uma mordida no sanduíche que Trish lhe preparara, e mastigou por alguns segundos. — Mas isso foi antes de Larry Ketterer desistir de ser o mestre-de-cerimônias do jantar anual da Câmara de Comércio.

— Mas por que tem de ser você o indicado? — Trish detestava pressioná-lo, mas havia planejado semanas atrás se reunirem com alguns de seus companheiros de trabalho, e ela aguardava o evento com ansiedade.

— Vai de acordo com as posições ocupadas anteriormente. E o último presidente da câmara fui eu.

O olhar dele suavizou-se e Trish viu que Jack percebera sua tentativa de esconder o desapontamento.

— Estou muito aborrecido com isso, Trish. Queria muito conhecer seus companheiros de trabalho. Espero que eles entendam — Jack disse enfim, quando Trish não protestou.

— Tenho certeza de que entenderão. Mas queria que se conhecessem antes da grande competição de golfe.

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— Quando será?— De sábado a uma semana. Ainda está planejando ir, não é

mesmo? — ela perguntou um tanto alarmada.— Não perderia essa oportunidade por nada no mundo. — Jack

sorriu. — Quero muito conhecer seus amigos. Trish relaxou. Por um breve momento suas velhas inseguranças ressurgiram, e ela teve a impressão de que Jack procurava evitar ser visto com sua "namorada".

— Você não pode adivinhar quem eu vi no banco?! Ron Royer.— Verdade? — Jack fez uma pausa. — Como vai ele? Trish

surpreendeu-se por Jack ter se mostrado tão indiferente.— Acho que bem. Quer dizer, ao menos me pareceu. Con-

versamos por alguns minutos. Ele e a mulher moram em Overland Park. Têm dois meninos.

— Isso quer dizer que ele e Jane ainda estão juntos — Jack murmurou.

— Se você quiser, poderemos todos nós...— Não penso que seja boa idéia — Jack interrompeu-a. — Ron e

eu fomos amigos na escola secundária. Mas isso foi há muito tempo atrás.

Embora o fato não fizesse sentido para Trish, ela deixou o assunto morrer. Afinal, Ron nunca fora muito seu amigo. E por que dar importância à resolução de Jack de não querer se encontrar com ele? Tudo o que desejava era que Jack ainda fosse ao golfe.

Seria o primeiro grande acontecimento dos dois juntos como amigos especiais. A menos que ele a convidasse para o jantar da Câmara de Comércio.

Trish hesitou. Mesmo depois de todo aquele tempo ainda se sentia insegura.

— Naquele evento da câmara o participante pode levar sua parceira? — Trish tentou falar com naturalidade, como se para ela não fizesse nenhuma diferença ser de uma maneira ou de outra. — Se puder, não seria nada complicado para eu cancelar meus planos. Claro, se você quiser que eu vá.

— Eu adoraria que fosse comigo, mas uma vez que serei o mestre-de-cerimônias, não teremos muito tempo de ficar juntos. Portanto, vá adiante com seus planos.

— Tudo bem. Você irá gostar e se divertirá como mestre-de-cerimônias garanto.

— Você me parece bem conhecedora desses eventos — Jack disse, em tom de caçoada.

— Mas falando sério, se quiser que eu vá, eu irei.— Você é muito compreensiva. — Jack tomou-lhe a mão. — Mas

não lhe pediria para desistir de uma noite com seus amigos. Já é bastante ruim eu ter de cancelar meus planos com você.

Trish ficou terrivelmente desapontada. Jack não queria mesmo que ela fosse junto?

— A única inconveniência de ir com meus amigos — ela explicou a Jack, é que todos devem levar um par.

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Assim que falou Trish esperou uns minutos para que Jack a convidasse. Porém ele se manteve silencioso.

— Acho que posso convidar um dos rapazes do escritório para ir comigo — Trish disse enfim. — Alguém me falou que Joe, da contabilidade, poderia estar interessado em... ir.

Ela esperou que Jack protestasse, mas ele tomou outro gole de chá e declarou:

— É sempre bom conhecer pessoas de outras áreas da companhia. Por que não pede a ele?

Trish fitou-o por longo tempo e respondeu:— Por que não?Em vez de ir ao banco depois de ter saído da casa de Trish, Jack

foi para casa e tirou da garagem o cortador de grama. Apenas após duas voltas pelo jardim convenceu-se de que estava definitivamente louco. Que outra explicação para seu ato?

Como pudera convencer a mulher que amava a ter encontro com outro homem?

E por que ter se apaixonado por Trish Bradley fora para ele um choque tão tremendo? Trish era tudo o que sempre desejara encontrar em uma mulher.

Por que, então, dera sua aprovação quando ela mencionara convidar Joe da contabilidade para ser sua companhia?

Porque não se tratava de um encontro de namorados, ele explicou a si mesmo. Nada mais do que um grupo de funcionários da mesma firma indo tomar uns drinques em uma sexta-feira à tarde. Além disso, embora tendo Trish sido amável, Jack podia ver como a moça gostava de sair com seus companheiros de trabalho.

Bem, acertara ao encorajá-la a estar com seus amigos. De qualquer maneira, seria a última vez em que o relacionamento dos dois com amigos giraria em torno dele apenas. Não aconteceria de novo.

Quando tivesse certeza de que Trish estava pronta a ouvir o que tinha a lhe dizer, falaria o que sentia por ela. E por Tommy. Pois sabia que os dois pertenciam ao mesmo pacote. E isso estava muito bem para ele.

Tommy era um bom menino, um menino que qualquer homem desejaria ter como filho.

— Jack.O som de seu nome acordou-o do sonho. Virou-se e deparou

com Missy em pé na calçada, linda com seu vestido de pequenas flores azuis e amarelas. Ela acenou com a mão.

— Pode vir até aqui um minuto?Jack desligou o aparador de grama e atravessou o pátio.— O que há?— Novidades. Vou ao jantar da Câmara de Comércio esta noite.

Vou representar meu pai.— Mesmo? — O pai de Missy havia sido um dos membros

fundadores da câmara de comércio de Lynnwood, e Jack não se lembrava da vez em que o homem perdera uma reunião, muito menos o jantar anual. — Onde estará seu pai?

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— Ele e minha mãe foram a Denver esta tarde — Missy explicou. — Minha irmã deu à luz.

— Dê-lhe parabéns em meu nome. — Jack nem sabia que a irmã de Missy estava grávida. — O marido de Jenny é militar, não é?

— É. Está na Croácia agora... ou em algum lugar parecido. Meus pais foram ajudá-la e acho que ficarão lá por algumas semanas. Derek não me ajudou muito quando Kaela nasceu, mas foi melhor com ele do que sozinha. Não poderia me imaginar cuidando de tudo.

Uma imagem de Trish passou pela mente de Jack. Devia ter sido difícil para ela, uma adolescente, sozinha em uma cidade grande, com um bebê recém-nascido.

— Gostaria de saber se você pode me ajudar dando-me condução. — Missy aguardava a resposta com ansiedade.

— Talvez — ele respondeu.— Talvez? Que tipo de resposta é essa? Você ou pode me levar

ao jantar ou não pode.— Naturalmente que posso apanhá-la — Jack disse

amavelmente. — Mas diga-me por que precisa de condução?— Por que... Meu carro está na oficina para regulagem dos

freios, e não quero andar dois quilômetros com salto alto.— Não se preocupe — Jack riu. — Eu a levarei.— E Trish?— O que tem Trish? — Jack franziu o sobrolho.— Fala-se que você e ela vivem um romance. Tem certeza de

que Trish não se importará de você me levar?— Trish não vai — Jack explicou.— Verdade? Não me diga que já brigaram.— Eu por acaso disse isso? — Jack ficou irritado e sua voz soou

mais áspera do que tencionara.— Não disse com muitas palavras, mas se estão juntos por que

ela não vai ao jantar com você?— Por que... ela tem planos em Kansas City com amigos.— Kansas City. — Missy fingiu tremer. — E bom ser ela e não

eu.— O que há de errado com Kansas City? — perguntou Jack. —

Quando você estava na escola praticamente morava no Plaza.— O Plaza perdeu seu charme. Mas cada vez que vou lá agora

fico apavorada, com medo de encontrar Derek em cada esquina.— Mas ele portou-se muito bem na última vez em que

estivemos em Kansas City.— Isso porque eu estava com você.— Ele continua ameaçando-a?— Quer saber se ele continua me telefonando usando telefones

públicos? Aqueles que a polícia diz que não pode fazer nada para impedir? Continua, todas as semanas.

— Você o tem visto?— Não. Não o vejo há meses. Não desde o dia em que ele me

seguiu por toda Kansas City. Detesto quando meus pais não estão aqui. Não confio nele. Nem um pouco.

— Chame a polícia, se for necessário.

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— Acredite-me, Jack, se Derek quer se encontrar comigo, ele se encontrará com ameaça da polícia ou não.

— Se ele aparecer, chame o delegado.— Fred? — Missy deu uma gargalhada. — Ele é bom para

resgatar gatos das árvores e terminar com as festas, mas não conte com ele em situações críticas. Howie não é muito melhor.

Missy aparentava calma, mas Jack podia ver que ela tentava se controlar. Tremia apesar de procurar ser valente, e Jack sabia como Missy sofrera depois do último encontro que tivera com o marido. Fora parar em um hospital.

Que tipo de homem era o que batia em uma mulher? Jack jamais toleraria tal comportamento, e por isso terminara sua amizade com Ron Royer. A razão pela qual a esposa continuava a morar na casa ia além de sua compreensão. Por isso não queria amizade com Ron.

— Eu lutarei e vencerei — Missy disse. — Saberei como agir.Jack se perguntava se ela tentava convencê-lo ou convencer a

si própria.— Se precisar de ajuda — ele insistiu —, telefone-me.— Você tem sua vida, não posso esperar que deixe tudo para...— Telefone-me a qualquer hora — Jack disse com firmeza,

cortando os protestos dela. — Tem o número de meu celular. Se precisar de ajuda, telefone-me. Entendido?

— Está certo de que não se importa? Será só enquanto meu pai estiver fora da cidade.

— Missy. — Com dois dedos sob o queixo dela Jack a fez erguer a face. — Nós dois somos amigos. Se precisar de mim, telefone-me. E algo assim simples.

— Está bem. — Missy disse finalmente. — Mas pode me fazer um favor?

— Depende — Jack respondeu com um sorriso de caçoada.— Pode não dizer nada sobre nossa conversa a sua irmã? Ou a

qualquer outra pessoa?— Por quê? Não há nada de que se envergonhar.— Eu sei. Mas mesmo assim é embaraçoso.— Se é o que você quer... — Ele não entendia a razão, porém

respeitava a vontade dela.— Muito obrigada por tudo. — Missy inclinou-se para frente, os

lábios à espera do beijo.Jack contava com um beijo no rosto, um beijo de amigo para

amiga.Em vez disso, ela pressionou os lábios contra os dele e

envolveu-lhe o pescoço com os braços.Atônito, Jack esperou que Missy terminasse com o beijo e

depois deu um passo atrás.— Por que isso, Missy? — perguntou.— Por você ser um amigo assim tão bom. — Ela sorriu, um

pouco sem jeito. — Nunca fez oposição a que eu o beijasse.— Isso foi há muitos anos atrás.

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— Sim, antes de Trish. É interessante pensar sobre o caso. Nos tempos de escola, eu tinha tudo, Trish não tinha nada. Agora ela é a pessoa que possui tudo.

— Você tem Kaela, Missy. Tem seus amigos, tem sua família. Chama isso de nada?

— Tem razão, eu sei — Missy concordou depois de longa pausa.— Qualquer dia encontrará um homem que a mereça. Alguém

que a ame tanto quanto eu amo Trish.— Eu desisti de esperar pelo meu Príncipe Encantado há muito.

— Missy deu um longo suspiro. — Mas você está tão perto de meu coração como sempre esteve, e quero lhe dizer que tenho esperança de que esteja ainda disponível quando eu começar a namorar seriamente de novo.

Jack limitou-se a sorrir e a sacudir os ombros. Ele e Missy haviam sido amigos durante tantos anos que, se alguma coisa tivesse de surgir desse relacionamento, já teria surgido. E Missy devia saber disso tanto quanto ele.

Não, ele e Trish pareciam ser destinados um ao outro. O que tinha a fazer agora era ter paciência, até Trish descobrir tudo por si mesma.

CAPÍTULO XI

O balanço do terraço rangeu quando Trish se inclinou para pôr a última camada de esmalte nas unhas dos pés. A brisa da tarde acariciava-lhe as faces e com uma das mãos ela empurrou para trás os cabelos que caíam nos olhos.

Em vez de sair conforme fora decidido, passara a tarde com o filho fazendo pizza e jogando xadrez. Apesar de ter ficado um pouco triste ao cancelar os planos com seus companheiros de trabalho, a alegria de Tommy ao saber que ela não sairia apagou qualquer tristeza.

Ela observava-o durante o tempo todo. Em geral considerava-o um homenzinho, mas às vezes comparava-o a um menino, como naquele instante, na hora de ir para a cama, suplicando-lhe que o deixasse ficar acordado durante mais uma hora, embora estivesse caindo de sono.

Enfim, quando se deitou, dormia antes mesmo de pôr a cabeça no travesseiro. Trish sorriu. Embora algumas vezes Tommy lhe causasse problemas, não trocaria sua vida por qualquer outra que pudesse ter.

Aos dezoito anos tudo o que ela obtivera da vida fora mal: um pai que saíra de casa e nunca mais voltara, uma mãe que não conseguira cumprir a promessa de não morrer, e uma avó a qual jamais pudera satisfazer. Ao entrar naquele avião após sua formatura, grávida e só, convencera-se de que sua vida se acabara antes mesmo

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de ter iniciado. Agora, ela começava a acreditar que seus sonhos poderiam se transformar em realidade. Um dia, talvez, os três seriam uma verdadeira família. Antes de isso acontecer, Jack e Tommy precisavam saber a verdade. Mas quando e como lhes contar?

O caso a perturbava havia dias. Parte de sua hesitação residia no fato de que ficariam zangados por ela ter mentido.

Trish suspirou. Poderia lidar com a ira, mas, e se pai e filho recusassem perdoá-la? E se perdesse ambos...?

O desespero ameaçou tomar conta dela, mas Trish afastou a idéia. Não havia nada que pudesse fazer no momento. Quando chegasse a hora, a única maneira de agir era ser honesta e esperar que eles entendessem.

Por enquanto, procuraria usufruir todo o prazer a que tinha direito. Continuou tomando sua soda balançando-se bem devagar, ouvindo o canto dos pássaros e o cricrilar dos grilos.

Olhou para o céu cheio de estrelas. Embora reconhecendo ser um ato infantil, não pôde deixar de fazer um pedido à primeira estrela que lhe chamara a atenção.

— Tem algumas batatinhas para acompanhar a soda?— Jack! — Trish exclamou. Pelo modo como ele estava vestido

concluiu que viera direto do jantar da câmara de comércio a seu terraço. — O que faz aqui?

— Alguém me disse que este era o lugar certo para tomar uma soda e comer batatinhas.

— Pensei que o horrível frango que servem naqueles jantares tivesse deixado você satisfeito — Trish comentou, sabendo que daria qualquer coisa para comer o tal frango com ele.

— Afinal não foi frango mas um delicioso filé — declarou Jack. — Contudo, não tive prazer em comer sozinho.

— Porém não comeu sozinho. Devia haver cinqüenta pessoas naquele jantar.

— Mas você não estava lá. — Os olhos de ambos se encontraram.

Trish se desmanchou em um sorriso que, de acordo com sua impressão, foi do rosto até a ponta dos dedos dos pés de unhas pintadas.

E continuou rindo para si mesma quando saiu a fim de buscar uma soda para Jack e um saco de batatas fritas.

Jack sentou-se no balanço ao lado dela. Conversaram e uma sensação agradável e conhecida sua envolveu-a. Aquela noite a fazia lembrar-se do passado, quando ela e Jack viviam separados. Quando tudo o que sabia de Jack viera através das histórias contadas sobre ele. Quando fora amiga de um homem que imaginara ser íntegro...

Afastou esse pensamento idiota. O que acontecera no passado não tinha nada a ver com o relacionamento dos dois no presente.

Nada.Jack colocou os braços em torno dos ombros de Trish e ela

aconchegou-se melhor, inalando o aroma da colônia masculina.

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— Como foi seu dia em Kansas City? — ele perguntou, roçando os lábios nos cabelos de Trish que logo sentiu um tremor percorrendo-lhe o corpo todo.

— Eu não fui — ela respondeu.— Não foi? Por que não?— Quando cheguei em casa, estava exausta. — Ela não viu

necessidade de contar a Jack que parte de seu cansaço fora por ter discutido com Joe sobre contabilidade a semana inteira. A última coisa que desejava, portanto, seria ir ao jantar como namorada de Joe. — Decidi que a melhor coisa que tinha a fazer era ficar em casa com meu companheiro favorito.

Jack deu mostras de ciúme. Trish teve intenção de deixá-lo sofrer um pouco, mas desistiu.

— Falei algum dia a você que meu companheiro favorito estava no quarto ano primário? Que tinha um metro e vinte de altura, cabelos castanhos...

— Entendi. — Jack deu uma gargalhada de alívio.— Fale-me mais sobre como foi sua noite. Divertiu-se?— Foi bem. Meu trabalho como mestre-de-cerimônias pareceu-

me ter sido muito bom. — Os dois riram. Porém, quando Jack esfregou a palma da mão dela com o polegar, a risada morreu nos lábios de Trish. — Falando sério, senti sua falta esta noite.

Em tal caso, por que não me pediu para ir com você?— Sabe, quando vim sentar aqui mais cedo, lembrei-me das

noites em que me sentava neste mesmo balanço e esperava por você.

— Quando entrei, pensei a mesma coisa — Jack confessou.— Conversávamos durante horas. — Trish deu um profundo

suspiro. — Eu achava que o conhecia melhor do que conhecia a mim mesma.

— Imaginava-me melhor do que eu na realidade era. Naquela época, eu não tinha certeza de como eu era e do que queria.

— E agora? — A voz de Trish soou sufocada, até para ela. — Sabe o que quer?

Na quase escuridão do terraço a expressão dele suavizou-se. Segurou o rosto de Trish com ambas as mãos.

— Sei exatamente o que quero — ele respondeu em um sussurro.

E cobriu-lhe os lábios com os seus. Trish passou os braços em torno do pescoço dele e retribuiu o beijo.

Jack era quase um menino naqueles dias. Agora era um homem. E a queria. Ela errara ao duvidar do amor dele. Entreabriu os lábios e Jack aprofundou o beijo. A noite ficou silenciosa.

— Vamos entrar — ele pediu.— Não gosta de ficar aqui fora?— Há mais privacidade no interior.Havia muito que ela não estivera tão perto de Jack daquela

maneira, como agora. Um surpreendente desejo surgiu, e Trish não desejava nada mais do que tomá-lo pela mão e levá-lo escada acima, em seu próprio quarto.

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E fazer amor a noite toda.Essas palavras soavam eu sua mente como o estribilho de uma

canção.— Oh, Trish. Tudo poderia ser tão bom! — Jack balbuciou no

ouvido dela.Somos ambos adultos, Trish refletia. O que há de errado em lhe

mostrar como o amo?A mente dela estava completamente confusa com pensamentos

e emoções. Era difícil resolver qualquer coisa com Jack tão perto. Tão perto que Trish podia sentir o calor do corpo, o aroma da colônia, a doçura do beijo dele.

Trish umedeceu os lábios com a língua. Os olhos de Jack brilharam.

— Deixe-me te amar — ele pediu, segurando-lhe as mãos. Essas palavras estavam muito perto do que Trish queria ouvir. Mas a questão era suficientemente perto?

— Algo errado? — Jack perguntou.— Não, não há nada de errado — Trish mentiu. — É que eu tive

uma semana longa demais. Estou exausta.Como poderia ela dizer-lhe que não era muito o que ele dissera

comparado com o que não dissera? O que ele nunca dissera?— Quer ir para a cama? Sozinha? — Em qualquer outra ocasião

o olhar confuso de Jack teria sido quase trágico.Trish sentiu o coração apertado. Se ao menos sua resposta

pudesse ser diferente. Mas quando deixara seu coração conduzi-la, ele terminara partido.

Agora estava bem mais velha.Mais prudente.Não podia fazer o mesmo erro de novo. Não podia.

CAPÍTULO XII

Jack tinha acabado de colocar a bolsa de tacos de golfe na traseira do jipe quando seu celular tocou. Ele sorriu.

Trish já lhe havia telefonado duas vezes, e não eram ainda nove horas. Embora ainda faltassem cinco minutos para chegar à casa dela, não tinha dúvida de que seria dela o telefonema, querendo saber se ele estava a caminho. Pegou o telefone e disse:

— Estou saindo.— Jack. Aqui é Missy. Derek acabou de telefonar. Encontra-se na

cidade e disse que está vindo para cá.— Você ligou para o delegado?— Sim, mas ele não deu muita esperança de vir já. — O tom da

voz de Missy não escondia seu pavor. — Fred e Howie estão ocupados com um grave acidente na estrada. Fred me perguntou se Derek

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havia me ameaçado e eu disse que não. Ao menos não dessa vez. Ele disse então que viria para cá assim que pudesse, mas...

— Missy?— Fred parece não entender que Derek não me ameaçou antes,

e viu o que aconteceu? — A voz de Missy tremia. — Sinto-me apavorada, Jack. Kaela e eu estamos sozinhas.

— Irei para aí já.— Tem certeza de que vem já?— Tenho.Ele entrou no jipe e partiu.Jack pensou logo no campeonato de golfe. Sabia que Trish

queria ir. Porém haveria outras ocasiões, e agora tratava-se de uma emergência. Com certeza Trish entenderia que ele não poderia deixar uma amiga em necessidade.

Na sede do clube, bem aquecida, Trish se perguntava que interesse podiam ter os golfistas em dar tacadas em uma pequena bola em campo gelado.

— Por onde anda seu namorado? — Joe chegou bem perto dela na fila do bufê e perguntou.

— Ele não pôde vir.Depois de três horas ouvindo a mesma pergunta, Trish já

respondia automaticamente. Por que mencionara que Jack estaria com ela?

— Alguns de nós já pensávamos que você inventara esse negócio de ter um namorado — Joe insistia.

Trish forçou um sorriso, embora não achasse a situação nada engraçada.

— Não, ele é real — respondeu com naturalidade, como se a ausência de Jack fosse apenas uma pequena inconveniência, nada mais. Quando ele lhe telefonara naquela manhã com o absurdo de uma emergência envolvendo uma amiga, Trish respondera da mesma maneira, com naturalidade. Apesar de desapontada, bem no fundo não se surpreendera.

— Trish. Venha cá.Ela virou-se e viu Ron Royer perto de uma mesa cheia de gente.

Ele sorriu e apontou para uma cadeira vazia.Trish deu um suspiro. A última coisa que desejava agora era

sentar-se com o velho amigo de Jack. Mas que outra escolha tinha? Sentar-se com Joe?

Fazendo sua decisão, disse adeus ao desapontado Joe e atravessou o salão repleto.

Ron apresentou-a rapidamente a todos. O nome de Jack não foi mencionado até quase o fim da refeição. Então Jane Royer, que até aquele momento deixara o marido dirigir toda a conversa, trouxe o nome de Jack em cena.

— Alguém me disse que você iria trazer Jack Krieger como seu par hoje. Ele decidiu não vir?

— Jack planejara vir. — Trish se perguntava quantas vezes mais iria ter de usar a palavra emergência antes que o dia terminasse. — Mas então...

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— Não precisa explicar — disse Ron. — Contei a Jane na semana passada que Jack e Missy haviam voltado a se entender. Pelo visto, ela não registrou o fato. Sinto muito Jane ter trazido o assunto.

Trish mal podia respirar.Jack e Missy? Juntos de novo? Ela sacudiu a cabeça. Impossível.Jane encarou o marido.— Você nunca me contou que Jack e Missy estavam namorando.— Sem dúvida contei. Ontem à noite fui ao jantar da Câmara de

Comércio em Lynnwood, e vi Jack lá com Missy.— Você disse que Missy estava presente e que Jack era o

mestre-de-cerimônias — Jane explicou. — Mas não falou nada sobre o namoro dos dois.

— Disse que chegaram juntos, não disse? E que saíram juntos, não disse?

— Bem, disse — Jane declarou com relutância.— Como poderia ter feito as coisas mais claras? Diga-me como.Jane não respondeu.Um estranho silêncio caiu sobre a mesa. Embora Trish não

devesse se surpreender por ser traída uma segunda vez, se surpreendera. E se esperara que se machucaria menos na segunda vez, se enganara.

Enganara-se redondamente.— Jack! — Sua mãe chamou-o da mesa da sala de jantar,

surpreendida. — Pensei que você e Trish estivessem em Kansas City agora, no clube de golfe.

— Ela está lá. — Jack puxou uma cadeira e sentou-se. — Mas surgiu um imprevisto e precisei cancelar minha ida.

— Espero que tenha sido importante — disse a mãe. — Trish esperava muito que você fosse com ela.

— Sei disso — Jack falou com um suspiro. — Mas não tive outro jeito.

Derek comportara-se muito bem, mas Jack não lamentara a escolha que fizera. Missy tinha boas razões para ter medo de seu ex-marido. E embora nada houvesse acontecido dessa vez, quem poderia saber o que Derek poderia fazer se Missy estivesse sozinha?

Mesmo que a visita de Derek tivesse sido breve, na hora em que Jack saíra da casa de Missy era tarde demais para se encontrar com Trish. Sentindo-se meio perdido, fora ver a mãe para persuadi-la a tomar uma xícara de café com ele.

— O que está fazendo? — Jack olhou para a mesa sempre em ordem, agora cheia de álbuns de fotos e de caixas abertas.

— Tommy está me ajudando a organizar minhas fotografias. Ele se encontra aqui agora. — Jack se esquecera completamente de que sua mãe tomava conta de Tommy naquele dia. — Teve dificuldade em encontrar as fotos? — ela perguntou ao menino que acabava de entrar na sala.

— Não. Estavam no sótão, perto da máquina de costura, conforme você disse.

Tommy olhou para Jack, intrigado, e perguntou:— Você não devia estar no clube de golfe com minha mãe?

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— Aconteceu um imprevisto — Jack disse, encolhendo os ombros.

— Você tem tempo para acertar algumas cestas de basquete comigo?

Jack apontou para a pilha de fotografias que Tommy trouxera do sótão.

— Tenho tempo — disse —, mas parece que vocês dois têm muito trabalho pela frente.

— E que prefiro jogar basquete com você — declarou Tommy.— Não prometeu ajudar minha mãe?Tommy lançou um olhar de súplica a Connie Krieger, porém ela

pareceu nem notar. Sua atenção estava concentrada na foto que tinha na mão.

— Jack foi um bebê tão lindo! — ela exclamou, sorrindo.— Deixe-me ver — Tommy pediu, inclinando-se para ver

melhor.— Lindo? — Jack olhou para a foto e riu. — Com toda essa

gordura, como se pode saber?— Você não era gordo — a mãe protestou. — Era um menino

grande. O que esperava? Pesava cinco quilos quando nasceu.— Eu pesava quatro quilos e meio quando nasci. — Tommy

sorriu para Jack.— Pensei que você tivesse sido prematuro. — Jack franziu a

testa.— O que quer dizer prematuro? — Tommy perguntou.— Nascido antes do tempo — Connie explicou.— Não nasci antes do tempo — Tommy protestou. — Ao

contrário, custei para nascer. Minha mãe disse que tiveram de lhe dar remédio para que eu viesse ao mundo.

— Tem certeza? — Jack perguntou.— Bem... foi o que ela disse — Tommy falou, após certa

hesitação.— Jack, deixe o menino — sua mãe disse com firmeza. — Cedo?

Tarde? O que importa, afinal?Jack teve vontade de dizer a sua mãe que importava, sim, e

muito. Se Tommy tivesse nascido na época certa, podia ser seu filho. E neto dela. Mas Jack não disse nada. Tommy podia estar enganado, e ele não diria nada até ter certeza dos fatos.

— Olhe para esta foto, Jack — Connie pegou outra fotografia em uma tentativa de mudar de assunto. — Você devia estar com a idade de Tommy nesta foto. Sempre gostei de vê-lo com farda de escoteiro.

Jack sabia exatamente quando aquela foto fora tirada. Ele estava cheio de medalhas que recebera no dia seguinte ao de seu aniversário, ao completar dez anos de idade.

Tinha os cabelos bem curtos, como os de Tommy agora.Jack olhava da foto para o menino ali diante dele. Sua

semelhança com Tommy era inacreditável.Naquele instante, quaisquer dúvidas que ainda tivesse sobre

sua paternidade, sumira.

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— Deixe-me ver. — Tommy pegou a foto. — Puxa, quantas medalhas!

— Sim, recebi muitas. — Jack não parava de olhar para Tommy e admirava-se de sua mãe não ter notado a semelhança.

— Eu fui lobinho um dia — Tommy comentou. — Mas nunca cheguei a ser escoteiro. E gostava do escotismo.

— Se gostava tanto, porque desistiu? — Jack teve curiosidade em saber.

— Não sei. — Tommy deu de ombros.— Mas você deve ter tido uma razão. — De repente, qualquer

detalhe da vida passada de Tommy ficou sendo importante para Jack. Ele queria saber tudo.

— Acho que foi porque os pais começaram a acompanhar os filhos nos acampamentos. E eu não tinha pai.

Mas você tem pai, Jack teve vontade de gritar. Um pai que daria tudo para ir a esses acampamentos com você.

Remorso misturava-se com raiva na mente de Jack. Perdera tanto! Foram anos que não voltariam mais. Tempo precioso perdido para ambos, para ele e para Tommy. Por que teria Trish escondido isso? Nada fazia sentido.

Quando ela voltasse de Kansas City, teria explicações a lhe dar. Até então, conservaria a boca fechada.

Jack desejava dizer já a Tommy que era seu pai e garantir-lhe que nunca mais ele iria se preocupar por não ter pai. Porque estaria presente na vida do filho sempre, pois era exatamente onde gostaria de estar.

Nada nem ninguém os separaria nunca mais.

CAPÍTULO XIII

Trish mal acabava de abrir a porta da frente quando Jack apareceu, vindo de um lugar qualquer, e com suas passadas longas foi diretamente à sala.

Atônita com tanta audácia, Trish seguiu-o. Como ousava ele pensar que podia entrar em sua casa na hora que bem entendesse?

— Não concordo com sua atitude — Trish falou, em pé na porta da sala, os braços cruzados sobre o peito, mas sentindo-se vulnerável ante o olhar insistente de Jack. — O que está acontecendo aqui? Por onde anda Tommy?

Jack recostou-se no sofá, porém estava tudo menos relaxado.— Tommy está na casa da avó — ele informou.— Da avó? Minha mãe morreu.— A minha não. — Embora a voz de Jack fosse suave e baixa,

uma onda gelada percorreu o corpo de Trish.— Sinto muito, mas não entendi.— Sim, entendeu muito bem — Jack insistia.

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— Ah, agora entendo. — Trish deu uma risada nervosa. — Naturalmente sua mãe tem sido uma verdadeira avó para Tommy...

— Ela é avó de Tommy porque sou o pai de Tommy. — A voz de Jack era como aço. — Eu nunca pude imaginar por que você teve tanta pressa em sair de Lynnwood depois da festa de formatura. Agora sei. Estava grávida.

Trish sentiu a garganta fechada, quase não podia se expressar. Jack não falava mais como antes com referência a Tommy, fazendo perguntas. Agora afirmava.

Apesar de ela ter intenção de contar tudo a ele, não queria que fosse daquele jeito.

— Vamos, vamos, Jack. Já conversamos sobre isso antes. O pai de Tommy e eu nos conhecemos em Washington...

— Outra mentira. Você também me afirmou que Tommy era prematuro.

— Ele foi prematuro. — Trish só esperava que o desespero que tomava conta de si não aparecesse na face. — Nasceu dois meses mais cedo.

— E pesava quase cinco quilos, Trish. Tommy me contou que o parto foi difícil porque passou do tempo.

— Foi isso que você ficou fazendo enquanto eu estava fora? Interrogando meu filho? — Trish perguntou, quase gritando.

— Por Deus, Trish. Eu sei a verdade. Ao menos seja honesta agora.

Resignada ao inevitável, ela fez com a cabeça um gesto afirmativo. Mas Jack continuou:

— Diga-me uma coisa. Depois de tudo o que compartilhamos, como pôde fazer isso? Como pôde ter meu filho e nem me contar?

— Depois de tudo o que compartilhamos? — Trish repetiu, lembrando-se de que não tinha razão para se sentir culpada. — Eu não signifiquei nada para você.

— Como pode dizer isso, Trish? Éramos amigos, bons amigos. E...

— Eu não era sua amiga. Fui apenas uma pessoa conveniente. Era uma gorda solitária, bastante tola para passar meu último ano de escola rastejando para conseguir as migalhas de sua atenção. Naturalmente apenas o conheci de verdade depois de você se ter divertido com seus amigos à minha custa. Tinha vergonha de ser visto comigo.

Os olhos dela encheram-se de lágrimas. Com raiva, Trish enxugou-as.

— Nunca tive vergonha de você... -— Os olhos de Jack faiscaram —... ou de nossa amizade.

— Não sou tola, Jack. — Trish deu um passo para trás. A negativa veemente de Jack a tomou de surpresa. — Ouvi-o da porta, dizendo a seus amigos... — A voz dela falhou, jamais imaginando que tivesse coragem de revelar aquilo... que nunca se rebaixaria para se relacionar com mulher como eu.

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Jack fez uma pausa, tentando se recordar do que dissera. Trish pôde quase ver o momento em que Jack se lembrou. Lutando contra as lágrimas, ela disse:

— Talvez eu não fosse a mais linda das mulheres. Porém era uma boa pessoa, uma boa amiga para você. E não merecia ser usada daquele jeito.

— Você entendeu tudo errado — disse Jack. — Eu apenas tentava protegê-la.

— E o que me diz sobre Missy? — A voz de Trish soou cheia de sarcasmo. — Entendi aquilo errado, também?

— Do que está falando?— Nega que a levou ao jantar da câmara?— Ela precisava de uma carona.— Precisava de um beijo também?— Missy e eu somos apenas amigos.— E hoje? — Trish perguntou, surpreendida por falar com tanta

calma quando seu coração estava em pedaços.— Vai negar que estava com ela?— Deixe-me explicar-lhe...— Não se dê ao trabalho. — Trish foi até a porta e abriu-a com

força. — Saia e não volte nunca mais.Jack continuou sentado.— Trish, você precisa me ouvir.— Eu não preciso fazer nada.— Tudo bem, então. — Com um suspiro de raiva, Jack levantou-

se. Atravessou a sala e foi até a porta. — Quando você se acalmar, falaremos.

— Fique fora de minha vida, Jack. — Ela começou a fechar a porta. — E fora da vida de meu filho.

Jack segurou a porta com o pé e disse:— Deixe-me tornar uma coisa bem clara. Você pode ter mantido

Tommy longe de mim até agora, mas não mais. Goste ou não, eu serei uma parte da vida dele. Passarei por aqui em outra ocasião e conversaremos.

Trish bateu a porta. Inclinando o corpo contra a pesada madeira, escorregou até o chão enterrando o rosto nas mãos.

Durante todos aqueles meses se convencera de que Jack havia mudado. Mas não. Continuava sendo o mesmo homem arrogante, egocêntrico. E agora ele sabia que Tommy era seu filho.

Lágrimas quentes escorreram-lhe pelas faces. Por que saíra de Washington? Tivera amigos lá. Pessoas que gostavam dela. E se houvesse demorado um pouco mais, teria tido até um emprego fantástico.

Trish suspirou e levantou-se do chão. Foi para perto da escrivaninha.

Remexeu em uma das gavetas. Encontrou lá o cartão com o nome e o telefone do gerente de Recursos Humanos. Embora não esperasse encontrar alguém em um sábado à noite, ligou para o número do cartão e deixou recado. Satisfeita por ter feito tudo o que fora possível no momento, sentou-se.

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Até o fim do mês ela e Tommy estariam de volta a Washington, e Jack Krieger para ela não seria mais do que uma má recordação.

Segunda-feira pela manhã Trish recebeu um telefonema confirmando que o lugar era dela. Fez planos para se mudar imediatamente. Embora seu trabalho não começasse por alguns meses ainda, com as economias que conseguira fazer desde que fora morar em Lynnwood, poderia viver até o início do novo emprego.

Apagou todos os recados encontrados na secretária eletrônica. Na véspera Jack telefonara duas vezes. Achava que ainda precisavam conversar. O que mais havia para se dizerem? ela se perguntou.

Se ao menos pudesse fazer suas malas e sair no mesmo instante em vez de esperar até o fim da semana... Mas consolava-se sabendo que uma vez longe dali, nunca mais veria Jack Krieger ou a cidade de Lynnwood.

Tommy sem dúvida não iria ficar contente com isso. Viera a amar Lynnwood. Quando ela o apanhou na casa de Julie, tudo o que ele falou foi sobre um campo de basquete que ele e Matt pretendiam frequentar. E Trish não teve coragem de lhe dizer que teriam partido de Lynnwood antes de ele começar a frequentar o campo.

— Vou encestar algumas bolas enquanto espero o jantar — ele disse ao entrar em casa.

Trish hesitou. Seria aquela uma boa hora para falar com o filho?— Espere. — Trish enxugou as mãos suadas na blusa.— Preciso falar com você.— Já lhe pedi desculpas, mamãe, não pedi?Trish fitou-o, intrigada. Depois lembrou-se de que o repreendera

por ele ter deixado o ar condicionado ligado o tempo todo, enquanto estiveram fora de casa.

— Não é do ar condicionado que quero falar.— Do que é, então? — Tommy encarou-a com impaciência.— Tenho boas notícias. Decidi aceitar o emprego com a tal

firma em Washington.Tommy franziu a testa e naquele momento ficou tão parecido

com o pai que Trish estremeceu.— Vão deixar você trabalhar daqui?— Não! — Trish forçou um sorriso. — O melhor de tudo é que

você e eu vamos nos mudar para Washington.— Gosto daqui.— Sei que você gosta. Mas gostava de lá também. Lembra-se?— Matt e eu temos planos. Já descobrimos um campo de

basquete e vamos pertencer ao mesmo time de futebol. Não quero me mudar.

— Sinto muito, mas não tem escolha. Nós dois temos de estar juntos. Onde eu for você irá. Portanto, comece a arrumar suas coisas. Voaremos para lá depois de amanhã.

— Mas você gosta daqui, mamãe. Disse isso muitas vezes.— Disse. Mas as coisas mudaram.— Bem, é que eu ainda gosto. E não vou me mudar. E você não

pode me forçar.— Sou sua mãe. E fará o que eu mandar.

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— Não vou embora daqui. — Ele deu-lhe as costas e entrou em casa. Em alguns minutos o som da porta do quarto dele que batia com força ecoou pela casa toda.

Trish ergueu os ombros, apertou os dentes e subiu as escadas. Mas ao chegar em cima, já havia se acalmado. Parou à porta do quarto de Tommy e se perguntou se não seria interessante dar-lhe algum tempo para pensar. Com um suspiro resignado, voltou para a sala.

Tommy não atendeu ao chamado dela para jantar, mesmo depois que Trish lhe dissera que havia feito o prato preferido dele, espaguete com almôndegas. Embora não estando com fome, Trish fez esforço para comer. Tentou ler mas não conseguia se concentrar, lembrando-se da conversa que tivera com Jack.

Olhou para o telefone. Deveria lhe telefonar? Dar-lhe uma chance de se explicar?

E depois o quê? Apesar da evidência do contrário, iria ainda acreditar nele?

Seria ela a mulher mais idiota do mundo? Não aprendera sua lição no referente a Jack Krieger? Não aprendera que, apesar do sorriso incrível e do rosto honesto ela não poderia acreditar em nenhuma palavra que ele dissesse?

Com um suspiro resignado, Trish foi para o quarto. No caminho parou na porta do quarto de Tommy. Ela e Tommy nunca haviam ido para a cama brigados, e não queria iniciar um novo costume.

— Tommy. — Trish bateu suavemente na porta. — Posso entrar?

Não obtendo resposta, bateu de novo.— Querido? Apenas queria lhe dar boa-noite.Dessa vez não esperou pela resposta. Entrou no quarto e foi à

cabeceira da cama. Abriu a colcha mas encontrou apenas travesseiros muito bem arrumados na forma de um corpo. De propósito Tommy tentara fazer com que a mãe pensasse que ele estava na cama, dormindo.

Trish lançou um olhar por todo o quarto. E viu logo uma folha de papel sobre a cômoda. Apavorada, agarrou o papel. Imediatamente reconheceu os garranchos de Tommy.

Mamãe,Sinto muito mas não vou sair daqui. Não se preocupe. Posso

cuidar de mim mesmo. Com amor,Tommy.Trish sentiu um aperto no peito, quase não podendo respirar.

Leu a nota de novo e amassou-a. Onde poderia ele ter ido? Notou que a janela estava aberta.

Aí o pânico tomou conta dela. Seu menino estava fora, na escuridão da noite, sozinho.

Santo Deus, o que poderia ela fazer agora?

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CAPÍTULO XIV

Trish desceu as escadas correndo e olhou para a rua. A casa de Connie Krieger estava às escuras, mas tocou a campainha assim mesmo e bateu na porta.

Quando ninguém deu sinal de vida, voltou correndo a sua casa e telefonou para a polícia. Alguém atendeu ao primeiro toque.

— Escritório do delegado, seção de emergência.— Quero informar o caso de uma criança desaparecida. — Um

soluço abafou-lhe a voz. Santo Deus, o que faria ela se não encontrassem Tommy?

Enquanto procurava auxílio com os outros vizinhos, Fred chegava acompanhado de seu assistente. A pergunta dele foi direta.

— Existe a possibilidade de o pai de Tommy estar envolvido?Assustada, Trish disse não, sem pensar. Mas depois que o

delegado se foi, começou a admitir que talvez Tommy tivesse ido para a casa de Jack.

Ligou para Jack, porém a linha estava ocupada. Pôs o celular no bolso e pegou as chaves do carro. Em cinco minutos estava na casa de Jack, grata por ver as luzes acesas. Ao menos ele se encontrava em casa

A campainha ainda não tinha acabado de tocar quando a porta se abriu.

— Trish, que bom que você veio! — Jack exclamou, encantado.— Quer dizer que ele está aqui?— Ele, quem? — Jack perguntou.— Tommy. — Ela esticou o pescoço para ver atrás de Jack.— O que a faz pensar que ele esteja comigo?— Vamos, Jack. — A voz de Trish tremia. — Apenas diga-me. Ele

está aqui ou não?Jack começou a se preocupar.— Não o vejo desde sábado.Trish se desesperou. Embora não tivesse achado provável que

Tommy estivesse lá, ainda tinha esperança. Pensava aonde ir agora. O delegado dissera que telefonaria se conseguisse notícias.

Ela tirou o celular do bolso para ter certeza de que estava ligado.

— Obrigada de qualquer forma — disse a Jack. Virou-se para sair, mas ele agarrou-a pelo braço.

— Não tão depressa assim. O que está acontecendo? Que fim levou Tommy?

— Não sei. — Os olhos dela encheram-se de lágrimas. — Ele... ele fugiu.

— Fugiu? — Jack empalideceu. — Tem certeza?— Sim. Deixou um recado.— Mas, por quê?

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— Estava aborrecido. — Trish mal podia encarar Jack. Mesmo sabendo que não fizera nada errado, a sensação de culpa a perseguia. — Mas nunca pensei que ele fizesse algo assim.

— Ligou para o delegado?— Sim. E verifiquei com todos os vizinhos e amigos de Tommy.

Mas... nada. Não pode imaginar como tive esperança de que ele estivesse aqui.

— Quer dizer que lhe contou que eu era seu pai. E ele não recebeu bem a notícia. Foi isso?

— Não foi isso — Trish disse. — Ele ainda não sabe nada sobre você.

— Nesse caso, por que estava aborrecido?— Comuniquei-lhe que íamos voltar para Washington. Jack

arregalou os olhos.— Não pode estar falando sério. Quer levar meu filho para

assim tão longe? — Jack parou de falar de repente. — Mas isso não é importante agora, precisamos encontrá-lo.

Trish não protestou quando Jack passou um braço por seus ombros e conduziu-a à cozinha. Sentando-se à mesa diante dela, ouviu-a atentamente enquanto narrava os acontecimentos do dia.

— Minha primeira idéia foi que ele tivesse ido à procura de sua mãe. Porém ela não estava em casa.

— Minha mãe foi passar uns dias em Topeka, com a irmã. Admiro-me ela não ter lhe contado isso.

— Talvez tenha tentado — Trish respondeu, lembrando-se dos telefonemas que não retornara.

— Não importa. A única coisa importante agora é encontrar nosso filho.

Jack tinha razão, ela pensou. Nada era importante, exceto Tommy.

— Vamos encontrá-lo, não é mesmo? — Trish perguntou.— Naturalmente que vamos. Ele estará em sua cama antes da

meia-noite.Mas a meia-noite veio e foi. Quando o sol nasceu, a preo-

cupação tomou o lugar da confiança no olhar de Jack.Trish retornou para casa decidida a seguir a recomendação do

delegado, "para o caso de o menino decidir voltar".Mas Jack continuou procurando o filho pela redondeza. Ficaria

louco se apenas se sentasse, esperando.Às oito horas a porta de tela dos fundos fez um ruído ao se

abrir. Trish virou-se. Um raio de esperança sumiu no instante em que ela viu Missy.

— Posso entrar? — Missy perguntou.— Claro. Mas se está procurando por Jack, ele não está aqui.— Por que estaria eu procurando por ele? Estou apreensiva por

você e por Tommy.— Vou buscar um café. — Trish levantou-se e colocou sobre a

mesa uma xícara de café para Missy. Não podia ser rude. Não era culpa de Missy o fato de Jack gostar mais dela. E Missy estava sendo

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uma das voluntárias que passara a noite procurando por Tommy pela cidade. Soubera de tudo por Jack.

— Já descobriu alguma coisa? — Missy perguntou a Trish.Com o coração apertado, Trish respondeu:— Nem uma palavra.— Ele deve estar bem. Lynnwood é uma cidade segura.— Eu sei, mas Tommy não passa de uma criança. E eu o amo

tanto!— Sei que você o ama — Missy sussurrou, com suavidade.— Desculpe. — Lágrimas corriam agora pelas faces de Trish. Ela

enxugou-as com um guardanapo de papel. — Não quero ficar aqui sentada me lamentando em vez de conversar naturalmente com você.

— Olhe, também sou mãe. Entendo tudo. A gente faz qualquer coisa para proteger os filhos. Por isso me apavorei quando Derek apareceu de repente no sábado.

Trish não entendia por que Missy falara aquilo e estava cansada demais para perguntar.

— Não foi só por minha causa que me preocupei — Missy prosseguiu: — Havia Kaela. Quando Derek fica furioso é capaz de tudo. Com meu pai fora da cidade, eu não saberia o que fazer. Graças a Deus consegui falar com Jack. Espero que ele tenha lhe contado como fiquei aborrecida por estragar seus planos.

— O jogo de golfe? Foi isso? — De repente, tudo fez sentido.— Ele queria muito ir, mas disse que você entenderia. Não sei

se eu seria tão compreensiva. — Missy sorriu. — Mas acho que é por isso que ele ama você e não a mim.

— Jack me ama? — Trish fitou-a, atônita. — Onde encontrou essa idéia?

— Jack me disse.— Quando?— Ele me disse que te amava no dia do jantar da câmara. Foi

no dia em que ele me deu uma carona porque meu carro estava na oficina. Depois, levou-me para casa.

— Isso foi antes ou depois do beijo? — Trish desejou saber.— Que ele me disse que te amava? — Missy ficou rubra de

embaraço. — Jack é um bom rapaz, e não é segredo que sempre gostei dele. Porém o beijo foi minha idéia, não dele. E nunca mais farei isso. Jack deixou bem claro que não está interessado em mim.

Ele tentou me contar isso, mas eu fui uma idiota em não querer ouvi-lo, Trish pensou. Ela enterrou o rosto nas mãos. Como pude ser tão teimosa?

Missy levantou-se da mesa e abraçou-a.— Tudo vai ficar bem — disse.Como por milagre, a porta de tela da cozinha abriu naquele

instante.— Veja quem eu encontrei! — Jack exclamou.— Tommy! — Trish levantou-se da cadeira e abraçou o filho

com força. — Oh, Tommy, tive tanto medo!

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— Desculpe mamãe. — O menino tinha os olhos cheios de lágrimas. — Não quis preocupar você.

— Preciso ir para casa — Missy disse, pegando a bolsa e tomando o caminho da porta.

— Missy! Obrigada por tudo — disse Trish.— De nada. Afinal, para que servem os amigos?— Talvez possamos nos encontrar logo. Poderemos almoçar

juntas.— Eu adoraria. — Missy sorriu.— Gosto tanto de você, meu filho — Trish repetia sem parar,

abraçando-o de novo. — Nunca mais faça isso. Juntos, poderemos resolver todos os problemas. Entendeu?

— Eu adoro você, mamãe.— Agora, meu querido, acho que precisa de um banho quente e

comer alguma coisa. O que acha?— Vamos ainda nos mudar? — ele perguntou.— Conversaremos sobre o caso mais tarde — Trish respondeu.— Mas...— Tommy — Jack disse firmemente, soando como um pai —,

sua mãe disse mais tarde.Jack riu para Tommy enquanto ele subia as escadas. Depois

virou-se para Trish.— Falei com o delegado dando-lhe a boa notícia. Ele ficou de

comunicar o fato à turma que o ajudou.— Você pode ficar aqui por mais algum tempo? — Trish lhe

perguntou. — Quero saber todos os detalhes.— Não sei como não pensei nisso antes. — Jack puxou uma

cadeira e sentou-se. Parecia exausto. — Algumas semanas atrás eu mostrei a Tommy e a Matt uma velha cabana que eu e alguns amigos construímos perto de um lago. Os meninos ficaram fascinados. Quando fui lá esta manhã vi Tommy dormindo no local.

— Não sei como posso lhe agradecer — Trish confessou. — Eu sei. Não volte para Washington.Trish procurou as palavras com cuidado, e respondeu: —

Surpreendo-me por você ainda querer que eu fique. Depois do modo como o tratei...

— Eu devia ter lhe contado que Missy estava no jantar, em lugar do pai. E que depois fui protegê-la contra Derek.

— Eu é que fui teimosa e voluntariosa. Quando você se dispôs a explicar, recusei ouvi-lo. Fiz a mesma coisa quando tinha dezoito anos.

— Trish, sobre o dia do depósito...— Jack, não precisa me explicar nada.— Não quero que haja mais segredos e mal-entendidos entre

nós dois.— Também não quero — Trish concordou.— Então desejo que ouça, sem me interromper. Está bem? Trish

não tinha muita certeza se queria ouvi-lo, mas devia-lhe um favor. E Jack prosseguiu:

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— Ron e Chip nos trancaram naquele depósito esperando que fizéssemos amor.

— Então, foi planejado?— Você disse que me ouviria, Trish. Não se esqueça de que eles

me induziram, me enganaram, como induziram você.— Mas, por que eu?— Você estava disponível.— Naturalmente. Mesmo meu parceiro não quis ser visto com a

gorda Patty.— Não fale assim. Você estava linda. Você era linda. Aquele seu

amigo é que era um idiota.— Se me achou linda, por que falou tudo aquilo com seus dois

amigos?— Tentava proteger você — Jack explicou. — Se eu tivesse dado

a eles uma idéia de que algo acontecera naquele depósito, Chip e Ron destruiriam sua reputação.

— Quer dizer que não tinha vergonha de mim? — Trish perguntou, mal ousando ter esperança de uma resposta agradável.

— De forma alguma. Dei-me conta, naquela noite, de como você era importante para mim.

— Mas não me procurou depois daquilo. Nunca mais apareceu.— Porque você me disse que estava muito ocupada para

continuar me vendo nas noites de sexta e sábado. Pude notar que ficara brava, e resolvi dar-lhe um tempo. Logo depois soube que partira da cidade.

Trish reconheceu, com dor no peito, que Jack tinha razão. Ela estivera de fato brava e magoada dez anos atrás, e evitara-o totalmente.

— Bem, mas agora acho que são águas passadas — disse Trish com um suspiro. — Ao menos agora está tudo claro.

— Não tudo. Por que não me contou que estava grávida?— Por causa daquilo tudo que ouvi da conversa com seus

amigos.— Deve ter havido algo mais além disso. — Jack sacudiu a

cabeça. — Você me conhecia e sabia que eu estaria a seu lado em tal caso.

— Eu não sabia nada disso. E mesmo que você ficasse a meu lado, porque desejaria em minha vida alguém que tivesse vergonha de mim?

— Tem razão. — Jack suspirou. — Não lhe dei razão para confiar em mim. Foi como no caso de Missy...

— Não precisa me explicar nada. Ela me contou tudo.— Contou?— E eu acreditei — disse Trish. — Exceto na parte em que você

me amava.— Mas é verdade — Jack confessou. — Eu te amo, Trish.— Se é verdade, por que nunca me falou?— Esperava pela hora certa. E acho que essa hora deve ser

agora.Jack a fez se levantar.

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— Percebi esta noite como a vida é preciosa, como você e Tommy são preciosos para mim. Não posso refazer o passado mas quero construir o futuro com você. Nós três seremos uma família. Quer se casar comigo, Trish?

— Se ficou preocupado com receio de que eu separe Tommy de você, não fique. — Seu coração disparava, mas Trish procurou medir bem suas palavras.

— É o pai dele e Tommy precisa de você. Vejo isso agora. Não vou me mudar de volta para Washington... Portanto, se foi por isso que me pediu...

— A razão pela qual quero me casar com você é o amor. Eu te amo, querida. — Jack fitou-a bem nos olhos.

Enfim vieram aquelas palavras há muito esperadas? Seria mesmo verdade?, Trish se perguntava.

— Trish?Ela enxergou nos olhos de Jack tanto amor que se surpreendeu

por não ter notado isso antes. Ergueu então a mão e acariciou-lhe o rosto.

— Eu também te amo querido.— Então, vai se casar comigo?— Naturalmente que vou me casar com você.— Eu a farei feliz, Trish, prometo. Ele tocou-lhe os lábios com os

seus. Ouviram-se sons de passos.Trish e Jack olharam para a porta.— Será verdade? — Tommy estava no corredor, os olhos azuis

parecendo maiores em seu rosto pálido. E perguntou: — Você é mesmo meu papai?

— O que acha disso? — Jack lhe perguntou.— Quer dizer que não vamos mais nos mudar? — O menino quis

saber.— Vamos nos mudar para um pouco mais adiante da esquina. O

que acha?A expressão tensa de Tommy relaxou em um sorriso, e Trish só

então percebeu que estivera segurando a respiração.— Posso contar tudo a Matt? — Tommy pediu.— Naturalmente que pode. Conte a quem quiser.— Legal! — Tommy subiu as escadas correndo, sem olhar para

trás.— Ele pareceu concordar — disse Trish. Embora não fosse

aquele o modo que ela teria escolhido para contar a Tommy, apavorara-se havia tanto tempo por aquele momento, que sentiu um alívio imenso pelo fato de tudo ter terminado. — O motivo de Tommy querer contar a outras pessoas é um bom sinal.

— Sei como ele se sente. Eu também mal posso esperar para contar a todos. Se fosse possível, anunciaria a novidade gritando de cima do telhado — Jack comentou.

Trish riu ao imaginar Jack em cima do telhado. Mas moderou o riso ao visualizá-lo escorregando...

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— Nada de telhado. E perigoso — ela protestou, segurando-o por um botão da camisa. — Não quero que algo mal aconteça a meu futuro marido.

— Promete que se casará comigo logo? — ele perguntou, beijando-lhe a mão.

A resposta de Trish foi um sorriso. E beijaram-se de novo. Trish decidiu que um casamento rápido viria a calhar. Afinal, esperara tanto pelo seu Príncipe Encantado! E agora que estava nos braços dele, não iria perder nem mais um minuto de seu precioso tempo, separada dele.

EPÍLOGO

Flores decoravam cada recanto do salão, e o som da música misturava-se às risadas e à conversa.

— Não tenho palavras para lhe dizer como apreciei sua enorme ajuda no arranjo desta festa, com tão pouco tempo de antecedência. — Trish sorria para a nova sogra. — Foi um verdadeiro milagre.

Apenas duas semanas se haviam passado desde o dia em que Jack a pedira em casamento. Trish olhava para a aliança agora, mal acreditando que seus sonhos se transformaram em realidade.

— Eu me diverti muito — Connie Krieger respondeu, tirando um fiapo do vestido de noiva que Trish vestia. Embora Trish tivesse sido igualmente feliz casando-se com um vestido simples e apenas na companhia da família, Connie insistira que ela merecia um casamento adequado. — E sinto-me alegre por você ter permitido que eu fizesse parte disso.

Graças a Connie, o casamento adequado fora também tal qual um conto de fadas: desde a igreja e o salão cheios de flores, ao vestido de noiva de cetim e rendas, à obra de arte em três camadas que o confeiteiro local chamara de bolo.

Trish e Jack fizeram os votos em uma igreja cheia de familiares e amigos. Respirava-se amor por toda parte. Depois do beijo tradicional, ambos abraçaram o filho.

Trish sorriu, lembrando-se de como Tommy aceitara bem a notícia de que Jack era seu pai. Quando o chamara de "papai" pela primeira vez no jantar pré-nupcial, considerara esse o melhor presente que poderia ter recebido.

— Em que está pensando? — Jack perguntou a Trish ao vê-la tão calada, passando o braço pela cintura dela.

— Estava pensando em como sou feliz. Consegui tudo que sempre desejei na vida.

— Posso pensar em mais uma coisa.— No quê?— Sra. Krieger, quer me dar o prazer dessa dança? — Jack

conduziu-a à pista. A orquestra começou a tocar e os dois se moveram no assoalho de madeira brilhante, ao ritmo da música.

— Já se deu conta de que nunca havíamos dançado antes?— Trish sussurrou não ainda familiarizada com a intimidade do

momento. — Ao menos não dançamos a música propriamente dita.

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— Há muitas outras coisas que nunca fizemos antes. — Jack disse suavemente, com a boca colada ao ouvido dela.

— Muitas coisas que eu gostaria de fazer.— Esqueceu-se, Jack? Já fizemos amor. Lembra-se? Trish sentiu

a mão dele em suas costas nuas, fazendo movimentos sensuais de baixo para cima.

— E claro que me lembro. Mas há um limite do que se pode fazer em um depósito.

— E fora de um depósito? — Trish fitou-o maliciosamente, com um tremor de antecipação.

— Vai descobrir esta noite. — Ele afastou alguns fios de cabelo do rosto de Trish. — E não se esqueça. Temos uma vida pela frente.

Jack beijou-a, e Trish teve a distinta impressão de que "uma vida" nos braços daquele homem nunca seria suficientemente longa.

Fim

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