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Sua Saúde - Espiritualidade na Qualidade de Vida Revista da Faculdade de Teologia Instituto teológico Franciscano Petrópolis - nº1 | 2011

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Resvita Eletrônica do Instituto Teológico Franciscano

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Sua Saúde -Espiritualidade naQualidade de Vida

Revista da Faculdade de Teologia Instituto teológico Franciscano

Petrópolis - nº1 | 2011

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SumárioEditorial ............................................................................................ 3

Conceito de saúde e simbolismo do corpo ....................................... 4

Comer, sorrir, beijar, falar... .............................................................. 5

Emoção ........................................................................................... 7

O Sentido da fé para a Saúde ........................................................... 8

O impacto do pecado sobre a qualidade de vida ............................ 10

Meditação, crescimento interior e saúde ........................................ 12

Música e Saúde .............................................................................. 14

Viver com saúde - envelhecer com sabedoria ................................ 16

Santos - pessoas integradas .......................................................... 18

Resiliência diante da doença, sofrimento, depressão ..................... 20

Morte, luto - busca de sentido ......................................................... 22

A Partida (filme) .............................................................................. 25

Imortalidade - um olhar integrado da vida ...................................... 26

Experiências de reintegração ......................................................... 29

Novos Cursos de Extensão

A PAlAvrA de deus nA vidA e nA Missão dA igrejA ........................... 32

esPirituAlidAde PArA uMA vidA virtuosA ............................................ 34

exPediente:

Revista da Faculdade de Teologia - ITFProvíncia Franciscana da Imaculada Conceição do BrasilInstituto Teológico FranciscanoRua Coronel Veiga, 550, centro - Petrópolis-RJ(24) 2243-9959 e 2231-6409E-mail:[email protected] Site: www.itf.org.br

Ministro Provincial: Frei Fidêncio Vanboemmel, OFMVigário Provincial: Frei Estêvão Ottenbreit, OFMDiretor ITF: Frei Sandro Roberto da Costa, OFM

Coordenadores do Curso de Extensão:Sua Saúde - Espiritualidade na qualidade de VidaIrmã Bernadete PinhoMaria Cristina Dinis Gonçalves EzequielFrei Antônio Everaldo P. Marinho, OFMFrei Fernando de Araujo Lima, OFM

Reportagens:Frei Rodrigo da Silva Santos, OFMFrei Alexandre Verardi, OFMFrei Marcel Freire da Silva, OFMFrei Osvaldo Maffei, OFM

Diagramação:Frei Maffei, OFM

Revisão:Frei Antônio Everaldo P. Marinho, OFMFrei Elói Piva, OFMFrei André Luiz da R. Henriques, OFMFrei Douglas Paulo Machado, OFMFrei Clauzemir Makximovitz, OFM

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Vida

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EditorialO Curso de Extensão “Sua Saúde – Espiritualidade na qualidade de vida”

se revelou uma idéia acertada, surgida e amadurecida nas reuniões da equipe organizadora, encabeçada por Frei Antônio Everaldo P. Marinho, OFM. O primeiro desafio a ser vencido foi o de estabelecer o ponto de relação entre estas duas áreas que, à primeira vista, pouco teriam em comum: saúde e espiritualidade/teologia. Mas, a partir das conversas desta comissão, conseguiu-se traçar o roteiro que, ao ser executado, revelou esta união das áreas. Por fim, a pergunta foi esta: conseguiu-se programar um curso que fosse de interesse para muitas pessoas?

Qual não foi a satisfação ao se constatar a resposta dos alunos inscritos! Pois este Curso de Extensão foi um dos mais bem sucedidos do Instituto Teológico Franciscano. A cada semana, um grupo de fiéis alunos se reunia para aprender e, melhor ainda, para dialogar com os temas propostos e apresentados pelos vários palestrantes, das mais diversas áreas profissionais. Percorreu-se junto o caminho, que foi desvelando a correlação entre o físico e o espiritual. Ficou mais evidente a importância do cuidado para com a saúde em sentido totalizante, permitindo perceber o ideal de plena integração de nosso ser. Falou-se sobre efeitos das emo-ções, a importância da meditação, o envelhecimento saudável, a morte... Uma verdadeira jornada pela existência humana!

Esta edição eletrônica tem o propósito de reunir, em resumo, todo o mate-rial produzido e apresentado durante o Curso. Assim, mais do que um catálogo de informações e dados, os que protagonizaram o Curso podem reviver a experiência que tiveram e receber um convite para que esta jornada, de alguma forma, possa continuar, pois, certamente, rumo à “vida em plenitude” ainda resta um longo percurso!

Curso de Extensão:

Sua saúde: espiritualidade na qualidade de vida

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Dia: 15/03

Palestrante: Pedro PAulo Monteiro*(Fisioterapeuta)

O Curso de Extensão “Sua Saúde - Espiritualidade na qualidade de Vida” teve seu início no dia 15 de março de 2011, com a aula inaugural do Prof. Pedro Paulo Monteiro, fisioterapeuta.

Pedro Monteiro, com seu jeito dinâmico conduziu os ouvintes a descobrirem um mundo novo, diferente e interessante, repleto de novos conceitos, cuja tônica maior foi a de levá-los a refletir que o ser humano é um ser formado de corpo e espírito unificados. Des-te modo, é preciso dar carinho e cuidado tanto ao corpo como ao espírito.

O palestrante trabalhou de modo particular e eficiente conceitos básicos relativos à saúde e discorreu sobre o sim-bolismo do corpo. Antes de tudo, o professor esclareceu que “muitos fisioterapeutas entendem o corpo pelo aprendizado da anatomia. Nas faculdades, a visão do corpo morto, inerte, equilibrado, ainda é o meio mais simples de explicá-lo. Em contrapartida, o corpo vivo é dinâ-mico, incerto, irregular e imprevisível. Qualquer interpretação é só um ponto de vista” (O Corpo e seus Segredos).

* Pedro Paulo Monteiro é autor de seis obras sobre o Envelhecer, é fisioterapeuta e Terapeuta Corporal, ele nasceu em Paraíba do Sul em 1967. É Mestre em Gerontologia pela PUC-SP, atual em Petrópolis (RJ), repartindo o seu tempo entre tarefas docentes na Universidade Católica de Petrópolis (UCP), atendimento domiciliário de pessoas acima de 60 anos, consultório particular e escrita profissional. Além disso ministra palestras no país todo sobre o novo paradigma do processo de envelhecer.

Acesse o site do Palestrante:www.pedropaulomonteiro.com

Corpo e espiritualidade

Conceito de Saúde e Simbolismo do Corpo

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Dia: 22/03

Palestrantes:irMã BernAdete Pinho (Psicóloga); Brigite olichon(Nutricionista);deize zirAndi PoMArico (Odontopediatra); FloriAno e. M. Filho (Dentista); gerAldo loPes de Menezes (Pediatra)

A boca é a porta de entrada e saída do Ser. Grande parte das expressões que en-volvem o ser de um indivíduo têm na boca seu canal, seja as funções mais básicas como o comer, o sorrir, o falar... como a vida soprada por Deus (Gn 2,7). A preo-cupação dos pa-lestrantes foi a de alargar a compre-ensão comum des-ta via oral e com-preendê-la como expressão do ser humano como um todo. Jesus afirma que “não é o que entra pela boca (alimento) que tor-na alguém impuro, mas o que sai da boca (expressões íntimas do indíviduo), isso é o que o torna impuro” (Mt 15,11).

A importância da via oral já se mani-festa desde o nascimento do ser humano, quando, através da amamentação, ao sugar o alimento materno, o bebê estabelece um vínculo de afeto com a mãe, que vai ser, aos poucos, substituído pelo ato da fala (também

via oral); a criança então, nesta fase, neces-sita compreender o que acontece com seus pais e a amamentação não é mais suficien-te. A partir daí, com o amadurecimento, o in-divíduo pode estabelecer relações de afeto

com o beijo. Por tudo isso, cuidar da boca é manter aber-to os caminhos do ser integral.

É possí-vel estabelecer uma ligação entre o que se come e o que o próprio indi-víduo é. O ali-mento ingerido se torna um com a pessoa.

Ter uma vida saudável, uma alimentação saudável, é ter cuidado consigo mesmo. O mesmo pode ser dito de um tratamento esté-tico nos dentes, que pode influir na autoesti-ma e na qualidade de vida. O que acontece na boca, não fica apenas na boca. Doenças e infecções podem partir desta entrada e contaminar todo o organismo.

Corpo e espiritualidade

Comer, sorrir, beijar, falar...

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O papel dos pais na educa-ção dos filhos é fundamental, tan-to neste quesito, como também no relacionamento afetivo que mantém com suas crianças. Frente a uma sociedade de consumo, a falta de carinho entre pais e filhos só ten-de a gerar um ciclo vicioso, onde as crianças criam, em substituição ao amor que deveria ser recebido dos pais, ídolos comerciais que visam preencher um espaço não suprido pelo carinho. Os pais devem cons-cientizar-se de que a omissão frente a esta realidade é, de fato, pior que fazer algo e errar.

É responsabilidade dos pais ensinarem seus filhos

a cuidar da saúde bucal. Noções de uma higieniza-

ção correta de uma criança devem visar, já de antemão,

um adulto saudável.

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Dia: 29/03

Palestrante:Frei FernAndo de ArAújo liMA, oFM*

(Psicólogo)

Por muitos séculos, as emo-ções foram ignoradas pelos cien-tistas, filósofos e eruditos. Os as-cetas dos primeiros séculos viam nelas impedimentos para uma vida equilibrada. Numa visão do senso comum, elas estiveram em contraposição à razão por muito tempo. Hoje, tudo isso mudou. Percebeu-se que são as emoções que completam e per-mitem um real equilíbrio ao ser humano.

A ciência das emoções estuda as ex-pressões da subjetividade emotiva. São es-tas expressões, como a fala, o movimento, que permitem um estudo teórico-prático das emoções. Emocionar-se é, de fato, ser to-cado por algo que motiva, que significa algo para alguém. As emoções têm papel impor-tante na adaptação de um indivíduo ao meio; elas têm ligação com a história de cada pes-soa. Isso explica por que algum determina-do fato pode sensibilizar uma pessoa e outra não. A capacidade de se emocionar é natu-ral e universal, o objeto que incita a emoção é que varia conforme o contexto histórico e social de cada indivíduo.

As emoções têm influência direta na vida de uma pessoa. Sua intensidade e fre-quência determinam se elas têm efeito po-sitivo ou incorrem em transtorno. A tristeza, por exemplo, em níveis normais, pode acon-tecer em certos momentos, mas normalmen-te é inofensiva. Já uma tristeza profunda, que se ligue a um caso de depressão, pode afetar o sistema imunológico do indivíduo

tornando-o propenso a doenças. O mesmo pode-se dizer da raiva, que devido à intensi-dade e frequência, pode tornar um indivíduo propenso à doenças coronárias. “A raiva é um veneno que eu tomo, esperando que o outro morra” (Shakespeare).

Percebe-se que, para induzir uma emoção em alguém, mais importante do que representar um fato, um objeto ou uma pes-soa é a forma como estas realidades são representadas. Ao invés de dizer que algo emociona você, diga que você se emocio-na com algo. Isto favorece que você tenha consciência sobre seu papel no dinamismo das emoções e que você possa controlá-las melhor. Só você pode se fazer feliz! Aprovei-te a presença das pessoas e das coisas que estão ao seu redor e se faça feliz!

*Frei Fernando de Araújo Lima é da Ordem dos Frades Menores, graduado em psico-logia e atualmente leciona Teologia Pastoral, Psicologia Pastoal, Administração e Pas-toral na Faculdade de Teologia - ITF, sendo ele secretário geral da mesma instituição.

Corpo e espiritualidade

Emoção

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Dia: 05/04

Palestrante:Frei celso Márcio teixeirA, oFM*

(teólogo esPirituAl)

Utilizando uma metodologia dialogal, Frei Celso foi “costurando” sua exposição a partir das respostas apresentadas pela as-sembleia. Como pano de fundo estiveram as seguintes questões: É possível falar de espi-ritualidade da saúde? É possível estabelecer um nexo entre uma e outra? Para que estas questões fossem respondidas, precisamos, todavia, abordar os conceitos básicos da es-piritualidade: O que é espiritualidade? O que é fé?

A participação da assembleia foi unâ-nime no “descortinar” desses pressupostos básicos. No que tange à espiritualidade, esta deve ser compreendida como uma maneira humana de interagir, de ser, de viver, de lidar, de pensar, de relacionar-se, de compreender a vida. A espiritualidade se desenvolve por meio da harmonia da alma e do corpo. Com essa sensibilidade, percebe-se que a espiri-tualidade sempre pode unir as pessoas. Os elementos da união são: amor, misericórdia, solidariedade, compaixão, sensibilidade, per-dão etc. Por meio destes elementos, o ser humano é espiritual, ou seja, possui uma es-piritualidade. A espiritualidade independe da religião. A pessoa até pode não ter religião, mas tem espiritualidade.

O mesmo acontece com a segunda per-gunta: O que é fé? Não é apenas um saber

que Deus existe, não é aceitar dogmas, não é uma espécie de conhecimento, não nos dá nenhuma certeza absoluta. A fé está na or-dem do coração, do sentimento, do amor, da misericórdia, do perdão. Essas qualidades acontecem sem uma explicação do intelec-to, pois a fé não tem a pretensão de explicar os fenômenos naturais, essa função é da ci-ência; a fé apenas tem a intenção de dar o sentido da vida. Com isso, a fé é aceitar uma relação que nos é proposta por Deus.

Para tanto, a espiritualidade assume forma dentro da corporeidade de cada indiví-duo. Mas como fica a questão “espírito e cor-po”? São realidades opostas? Frei Celso nos lembrou a história do cristianismo, que apre-sentava a espiritualidade em contraposição ao corpo. Neste contexto, o corpo não me-recia cuidados, mas castigos, penitências, jejuns, macerações. Ao longo da história do cristianismo, tais penitências foram conside-radas sinônimo de santidade.

Corpo e espiritualidade

O Sentido da Fé para a Saúde

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*Frei Celso Mário Teixeira é da Ordem dos Frades Menores, doutor em Espiritualidade atualmente leciona Teologia Espiritual e Espiritualidade Franciscana na Faculdade de Teologia - ITF.

Sexo era algo do de-mônio. A vida religiosa aju-dou muito para divulgar esse caminho depreciativo da se-xualidade, criando costumes opostos a uma vida saudável. Para exemplificar que essas questões são ainda vigentes em nossos dias, lembrou-se a acerba crítica ao cristianismo feita pelo filósofo Nietzsche:

“A noção de Deus foi in-ventada como antítese da vida – nela se resume, numa uni-dade aterradora, tudo o que é nocivo, venenoso, caluniador, todo o ódio da vida. A noção de ‘além’, de um mundo verdadeiro, só foi inventada para depreciar o único modo que há, a fim de não mais conservar para nossa reali-dade terrestre nenhum objetivo, nenhuma razão, nenhuma tarefa! A noção de alma, de espírito e, no fim das contas, mesmo da alma imortal, foi inventada para des-prezar o corpo, para torná-lo do-ente – sagrado –, para conferir a todas as coisas que merecem seriedade na vida – as questões de alimentação, de moradia, de regime intelectual, os cuidado aos doentes, a limpeza, o clima – a mais aterradora indiferença! Em vez de saúde, a salvação da alma, isto é, uma loucura circular que vai das convulsões da penitência à histeria da re-denção! A noção de pecado foi inventada ao mesmo tempo que o instrumento de tortura que a completa; a noção de livre--arbítrio, para confundir os instintos, para fazer da desconfiança com relação aos instintos uma segunda natureza”.

Essa compreensão negativa do cor-po não vem da Bíblia, que, ao contrário, afirma que o corpo é bom, é imagem e semelhança de Deus, é morada (templo) de Deus. Esta nefasta compreensão pro-vém do neoplatonismo, que influenciou o cristianismo até nos dias hodiernos. Para

que a saúde faça parte da busca do humano, precisa-mos entender que Espírito e corpo são caminhos para uma espiritualidade da saú-de. E o próprio Deus quis se fazer corporeidade por meio da encarnação de Je-sus Cristo.

Portanto, entendemos que na ma-nifestação de Deus há o respeito pelas duas liberdades, ou seja, a liberdade do ser humano com a liberdade de Deus. Essa liberdade se transforma em relação que pode ser rompida, mas da parte de Deus nunca há um fechamento.

Na manifestação de Deus há respeito por duas liberdades, a liberdade do ser humano com a liber-dade de Deus.

E o Tabu da Sexualidade?

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Dia: 12/04arte de Cuidar da Vida

O pecado não é um tema bonito de ser tratado. É uma dimensão difícil de nossa natureza. Como ele se liga à quali-dade de vida? De uma forma mais óbvia, pelos malefícios que alguns atos como o alcoolismo, o ódio, a ambição podem tra-zer à pessoa. Mas, pre-tende-se dar atenção também às formas mais sutis do pecado, quando ele, revesti-do de uma aparência cativante, tentadora, ludibria o indivíduo a entrar num processo de desumanização.

A modernidade promoveu uma alte-ração na escala de valores que continuou na contemporaneidade. O que antes era dado por certo, hoje não é tão óbvio. O próprio homem já não se vê da mesma forma. A crise da autoridade tornou-se evidente. Cada um busca encontrar a sua

verdade. Neste contexto, o que a Igreja Católica ou qualquer outra deno-minação religiosa pregar sobre a moral, passa de-pois pelo filtro pessoal de cada indivíduo, que acolhe como certo o que entende sê-lo.

*Frei Antônio Moser é Diretor Presidente da Editora Vozes, professor de Teologia Moral e Bioética no Instituto Teológico Franciscano (ITF) em Petrópolis/ RJ, Membro do Conselho Administrativo da Diocese de Petrópolis/ RJ, Pároco da Igreja de Santa Clara, Diretor do Centro Educacional Terra Santa, Membro da Comissão de Bioética da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Coordenador do Comitê de Pesquisa em Ética da Univer-sidade Católica de Petrópolis (UCP), além de conferencista no Brasil e no exterior. Escre-veu 25 livros, participou como co-autor e colaborador de inúmeros e publicou incontáveis artigos científicos em revistas nacionais e internacionais. Atualmente desenvolve intensa atividade pastoral, sendo um dos principais especialistas brasileiros em Pastoral Familiar e Bioética.

Palestrante:Frei Antônio Moser, oFM*

(teólogo MorAl)

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A posição que Jesus as-sume quanto à realidade do pecado torna-se evidente em diversas situações de sua vida. Ele convive com os pecadores, come com eles, promete a feli-cidade a eles, pois ele veio para os doentes, e não para os sãos. Jesus também critica e conde-na a atitude daqueles que se vêem como bons, fiéis à Lei. A consciência da própria peque-nez é louvada por Jesus.

O pecado não depende apenas do indivíduo, mas da sociedade na qual ele vive. O mal é produzido em sociedade, e as pessoas são empurradas, conduzidas a situações de pe-cado. Melhor que impor sobre alguém os pontos negativos que se vê dele, exalte suas qualida-des, sua riqueza. Ajudar o outro a ter uma autoconsciência posi-tiva e encontrar um modo de ter uma vida saudável.

Acesse o site do Palestrante:www.antoniomoser.com

Melhor que impor sobre alguém os pontos negativos que se vê dele, exalte suas quali-dades, sua riqueza.

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arte de Cuidar da Vida

Dia: 19/04

Q u a n d o pensamos em saúde, o pri-meiro que nos vem à mente é saúde física: bem estar, au-sência de dor. Um olhar mais amplo, porém, sugere que saúde é resultado da conjuga-ção de diversos fatores, que incluem aspec-tos mentais ou emocionais.

Na dimensão emocional, nossa forma de reagir às situações que a vida nos apre-senta pode ser uma fonte de muitos dis-sabores e sofrimento. Por exemplo: é fácil sermos educados e respeitosos com quem nos trata bem. Mas, e quando não acontece desta forma? E quando “o sangue sobe à cabeça”? Na verdade, o comum é que nos-sas reações sejam na mesma sintonia que as dos nossos interlocutores. Muita gen-te chega até a dizer: “Eu trato as pessoas da forma como me tratam”. Mas o resulta-do disso é que, muitas vezes, digo ou faço coisas que deterioram minhas próprias re-lações. Principalmente relações próximas, familiares. Como todos já observaram, há palavras e atitudes cujos efeitos podem ser irreversíveis. Podem resultar na perda da confiança, e até do amor... Efeitos tão pro-fundos que nem o arrependimento os pode

corrigir.Mudar minhas formas negativas, pas-

sionais, de reagir à determinadas circuns-tâncias é uma meta que, sem dúvida algu-ma, trará grandes benefícios a mim, aos meus familiares, meus amigos, enfim. à mi-nha vida. Mas é legítimo se perguntar: será que isso é possível? A resposta é “SIM!”. Para quem duvida, a história de vida de muitos santos ilustra isso claramente. Mas... como fazer para realizar essa mudança in-terior? Como aprender a manter-se íntegro e sereno, sem deixar-se levar por “ondas” de emoções negativas? Como crescer (inte-riormente) para ser capaz de criar e manter minha saúde emocional?

Mudar minha forma de ser é possí-vel. Mas não é fácil. Exige disposição para ingressar em uma luta feroz contra mim mesmo. Nessa luta, precisarei de duas fer-ramentas: consciência do que precisamos mudar, e força de vontade para empreender essa mudança.

Palestrante:André rivolA*(Plantador de árvores e instrutor de meditação)

*André Rivola é plantador de árvores e professor de meditação. Atua constante mente no ensino e motivação em grupos de meditação.

Meditação, Crescimento Interior e Saúde.

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INTOxICaDOS PElO EuPor Martha Medeiros

“Desconfio que já tenha acontecido com você também: de vez em quando, sentir os efeitos da overdose da própria presença”

Outro dia acordei com uma espécie de ressaca existencial, sentindo necessidade de me desintoxicar, e era óbvio que o alívio não seria com um simples gole de Coca-cola. Precisava, antes de tudo, descobrir o que é que estava me pesando, e logo percebi que não era excesso de álcool, nem de cigarros, nem de noitadas, os bodes expiatórios clás-sicos do mal-estar, e sim excesso de mim.

Desconfio que já tenha acontecido com você também: de vez em quando, sentir os efeitos da overdose da própria presença. Desde que nascemos, somos condenados a um convívio inescapável com a gente mes-mo. Quando penso na quantidade de tempo que estou presa a essa relação, fico pasma de como consegui suportar tamanho grude. Eu e eu, dia e noite; no único relacionamento que é verdadeiramente para sempre.

Ando escutando uma banda uruguaia chamada Cuarteto de Nos, cujas canções têm letras divertidas e sarcásticas, entre elas, "Me amo", uma crítica bem-humorada a essa era narcisista em que estamos vi--vendo. O personagem da mística não ouve ninguém e não consegue imaginar como se-ria o mundo sem a sua presença. Tem mui-tas garotas, porém, nenhuma é digna dele. Está muito bem acompanhado a sós, "Soy mi pareja perfecta."

Intoxicação talvez seja isso: conside-rarmos que somos um par. Só que, no meu caso, sou um par em conflito. Um eu que deseja fugir e outro eu que deseja ficar. Um eu que sofre e outro eu que disfarça. Um eu que pensa de uma forma e outro eu que dis-corda. Um eu que gosta de estar sozinho e outro eu que precisa amar. Nada de pareja perfecta, e sim caótica.

Uma relação tranquila consigo mesmo talvez passe pela conscientização de que não devemos dar tanto ouvido às nossas vo-zes internas e que mais vale nos reconhe-cermos ímpares e imperfeitos por natureza. A vida só se tornará mais leve e divertida se pararmos de nos autoconsumir com tanta ganância e dermos uma olhadinha para fora. A gente perde muito tempo pensando na nossa imagem, no nosso futuro, nos nossos problemas, nas nossas vitórias, no nosso umbigo. Até que um dia acordamos asfixia-dos, enjoados, sem ânimo e sem paciência para continuar sustentando a pose, corres-pondendo às expectativas, buscando metas irreais, vivendo de frente pro espelho e de costas pro mundo.

É a era do egocentrismo, somos víti-mas de um encantamento por nós mesmos, mas, como toda relação, essa também des-gasta. Fazer o quê? Esquecer um pouco de quem se é, esquecer da primeira pessoa do singular, das nossas existências isoladas, e pensar mais no que representamos todos juntos. Ando cansada de tantos eus, inclusi-ve do meu.

Email: [email protected]

A prática de atividades ditas “medita-tivas” dá início a uma caminhada de cresci-mento interior que, por sua vez, é caminho seguro para o almejado equilíbrio emocio-nal. Há muitas formas de alcançar o estado meditativo. Todas têm uma característica em comum: são capazes de nos afastar do uni-verso pessoal, particular, em que normalmen-te vivemos imersos. Um verdadeiro mundo de compromissos, preocupações, lembran-ças, planejamentos, afazeres, com os quais nos mantemos permanentemente ocupados.

Quando conseguimos sair desse nosso mun-do, quando o silêncio interior se estabelece em nós, então começamos a perceber mun-dos até então desconhecidos. Os mundos das outras pessoas. E, acima deles, e do meu próprio mundo, sem esforço, gradualmente, vai se tornando visível a obra do Criador: o Universo.

Meditar, portanto, é sair da reclusão do seu próprio mundo, sair da cegueira que esta reclusão provoca, e perceber a riqueza do Outro e do Universo.

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arte de Cuidar da Vida

Dia: 26/04

*Frei Ademir José Peixer é da Ordem dos Frades Menores, graduado em música e atualmente leciona na Faculdade de Teologia - ITF.

A proposta da palestra foi estudar a música que atua na vida das pessoas e no organismo, em seu interior pessoal. Primeiramente, a escuta dis-tingue-se da visão por não distinguir diretamente as coisas. A escuta depende de associações, refe-rências. Quando escutamos algo, não escutamos uma única coisa, mas todo um universo, uma con-fluência de sons. O modo como estes sons nos influenciam são diversos.

Após situações de stress, um ambiente de relaxamento com música pode ter efeito calmante nas pessoas. O cortisol (hormônio produzido em resposta ao stress) se reduz drasticamente quan-do uma pessoa escuta músicas com harmonia equilibrada, com características de lentidão. Este efeito acontece independente do gosto pessoal de cada indivíduo. Uma pessoa pode não gostar da música, mas, mesmo assim, se sentir relaxada. Músicas mais agitadas, com mui-tas dissonâncias, não produzem o mesmo efeito. Portanto, nem toda música tranquiliza.

Palestrante:Frei AdeMir josé Peixer, oFM*

(Músico)

após situações de stress, um ambiente de relaxamento com música pode ter efeito calmante nas

pessoas.

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Além deste efeito relaxan-te. A música cumpre um papel na sociedade. Ela é, na verdade, re-flexo de um pensamento cultural. Muitos pensam na música apenas como entretenimento, como pro-duto mercadológico. Um resultado desta visão está na amusia, que se caracteriza pela falta de sen-sibilidade musical, de percepção dos sons da natureza (confundin-do-os com o silêncio), pelo deixar--se de se importar com sons ou músicas em volumes muito altos. Neste quesito, a sensibilidade de deficientes auditivos impressiona. Eles conseguem sentir a beleza dos sons pelas vibrações que estes emitem nas cordas vocais ou nos instrumentos, como nos tubos de um ór-gão. Desenvolvem a percepção de um sentido que nós usamos sem nos dar conta.

Neste cenário, é de se perguntar, se o gosto musical se perdeu, se a cul-tura de massa impõe a preferência mu-sical na sociedade. Muitos acreditam que sim. A música é uma forma de com-

preender a realidade, de se comunicar com ela. É um fenômeno social. Confor-me o mercado dela se apropria, ela vai perdendo seu significado. Não passa de mercadoria.

Assim, propõe-se uma dieta musi-cal para promover a qualidade de vida: seja seletivo com a música que você escuta – a consciência musical começa em casa; evite música alta; crie o hábi-to de cantar ou entoar para si – use a própria voz: ela é única; dedique um pe-ríodo do dia ao silêncio absoluto; e, por fim, escute música em seus momentos de meditação.

“Escute música em seus momentos de meditação”

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Dia: 03/05

arte de Cuidar da Vida

Palestrante:MAriA cristinA d. g. ezequiel*(Médica)

Temos conhe-cimento que desde a antiguidade existe a preocupação com o envelhecimento e seus efeitos sobre as pessoas; existe igualmente o sonho de se reverter este processo ou de se manter por maior tempo a juventude. Há uma resistência em se compreender o envelhecimento como ri-queza e sabedoria, assim como Buda a com-preendeu: “Que tristeza, que os fracos e ig-

norantes, embriagados pelo orgulho de sua juventude, não vejam a velhice!” O envelhe-cimento é um processo universal, inexorá-vel, mas tem efeito diferente sobre cada in-divíduo, de acordo com sua história cultural,

emocional e pessoal.A população mundial vive

um processo de envelhecimen-to, onde a expectativa de vida tende a crescer cada vez mais. Busca-se, então, chegar à ter-ceira idade numa situação de normalidade, sem decréscimo da qualidade de vida. Normali-dade, não entendida como au-sência de doenças, mas como performance de vida encon-trada e experimentada apesar delas. Um idoso bem-sucedido neste processo assume papel ativo na vida e na sociedade.

*Maria Cristina Diniz Gonçalves Ezequiel, sergipana, 54 anos, é médica formada pela Faculdade de Medicina de Petrópolis-FMP em 1981. Especialista em Gastroenterologia pela PUC do RJ, em Terapia Intensiva pela Associação Médica Intensiva do Brasil (AMIB), Clínica Médica pela UFRJ, Geriatria pela UFF, Educação Médica pela UNIFESP, e Mestre em Ensino em Ciências da Saúde pela UNIFESP-São Paulo, cursando a Pós-graduação de Neuropsiquiatria Geriátrica pelo IPUB-UFRJ. Professora de Clínica Médica da FMP.

Viver com Saúde:Envelhecer com Sabedoria

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Diante do cenário caracterizado pelo aumento da expectativa de vida, pela per-petuação de um sistema de distribuição de renda desigual, pelo sistema de saúde precário, pelo despreparado familiar e po-lítico, que perspectivas temos em relação ao futuro?

É necessário cuidado com a forma como que lidamos com as dificuldades e os medos relativos ao envelhecimento. Um idoso que não se preparou para esta etapa e que não se vê realizado torna-se vítima de sua própria discriminação; sua autopercepção o afeta negativamente. Cada um se vê a partir do espelho da vida que levou. Envelhecer com sabedoria requer acomodar o estilo pessoal e social de vida à sua nova realidade, reconhecendo seus novos limites potencialidades e, acima de tudo, mantendo a vontade de continuar a viver. “Não retoquem minhas ru-gas, eu levei tempo para cultivá--las” (Anna Magnani). O apoio familiar também é imprescindí-vel.

Muitos estudos, hoje pu-blicados em revistas científi-cas, garantem que a espiritu-alidade influencia diretamente na saúde e na qualidade de vida. A religião/espiritualidade torna-se fonte de conforto, segurança e força, necessária para pas-sar pelo processo do envelhecimento e pelas doenças que com ele surgem.

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Dia: 10/05Palestrante:Frei elói PivA, oFM*

(Historiador)

*Frei Elói Piva é da Ordem dos Frades Menores, Mestrado e Doutorado em História Eclesiástica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália. Autalmente le-ciona na Faculdade de Teologia - ITF e é o responsavel pela biblioteca da mesma.

No último dia 10, Frei Elói D. Piva abordou o tema “Santos: pessoas integra-das”, palestra que faz parte do Curso de Extensão “Sua Saúde - Espiritualidade na qualidade de Vida”. Acompanhe a síntese!

Um dos nossos grandes desejos é sermos saudáveis. Entendemos que saú-de compreende uma extensa gama de di-mensões que requerem ser satisfeitas para sermos considerados, de fato, saudáveis. Estas diversas dimensões que envolvem cada indivíduo estão em estreita interrela-ção, onde uma influencia a outra. Assim, ser saudável é bem interrelacionar o ser humano.

É interessante que a palavra “saúde” mantenha ligação etimológica com a pala-vra “santo”. Seguindo por este caminho, en-tendemos que uma pessoa “santa” é uma pessoa saudável. Dado que, por natureza, o ser humano é uma criatura complexa, en-contrar e atingir harmoniosa integração de suas dimensões básicas, como a física, psi-

cológica, individual, social, histórico-cultu-ral, espiritual é um percurso que nunca tem um fim definitivo. Trata-se de um percurso de toda a vida.

O ser humano não consegue saciar--se consigo mesmo, muito embora também não o consiga na relação com nenhum ou-tro indivíduo. Ele sempre sentirá um espaço não preenchido, se buscar apenas nas coi-sas visíveis, materiais ou mesmo só as es-pirituais. Por outro lado, positivamente fa-lando, ele também mantém um desejo vivo do infinito, do transcendente, do divino, de Deus. Ele sente a necessidade, natural, de construir pontes ou relação entre sua pes-soa e o segredo que a habita. Esta sensa-ção ou percepção pode ser definida como um sentir-se ou perceber-se estrangeiro a si mesmo e ao mundo. Ele tem a consciên-cia de que aqui não está seu destino final e que algo maior lhe dá sentido, como tam-bém que este algo maior o habita!

Santos - pessoas integradas

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Em meio a este processo, podemos nos perguntar: al-guém pode ser santo, se não atender à in-tegração de alguma dimensão humana? O Concílio Vaticano II afirma que todos somos vocacionados à santidade, ou seja, a sermos plenamen-te saudáveis, inte-grados em perfeita relação conosco mesmos, com as outras pes-soas, com a variedade da criação e do uni-verso, com Deus. Somos chamados a atender ao chamado de Jesus ao pedir que sejamos santos como o Pai celeste é santo.

Mas, consegue ou é dado a alguém estar tão bem integrado que se possa dizer que ter alcançado a perfeição, a santidade? A respos-ta só é aproximativa, porque só Deus é santo. Mas, temos muitos exemplos de pessoas ad-miráveis, realizadas, felizes, saudáveis, consi-deradas santas e que, por isso, nos inspiram na busca de uma vida saudável.

Estas considerações foram preliminares para abordar, mais detalhadamente, seis pro-tótipos de pessoas saudáveis ou que alcan-çaram, às vezes por não poucas peripécias, alto grau de integração, de santidade de saú-de integral. Foram “visitados”: São Camilo de Lellis, São João de Deus, a bem-aventurada Irmã Dulce (22/05/11), São Vicente de Paulo, a bem-aventurada Irmã Tereza de Calcutá e o bem-aventurado João Paulo II.

São pessoas que, entre outros, se des-tacaram por sua atividade social e hospitalar (de modo particular), recentes, com seguido-res em Petrópolis. Eles testemunham uma for-

ça irresistível que os impulsionou a uma vida de entre-ga total a um ideal de vida, a um pro-pósito maior. Po-demos constatar como seu modo de viver influenciou as pessoas com quem conviveram e como uma ins-piração originária

arrastou seguido-res a percorrerem o mesmo caminho. Podemos perceber como conseguiram bem relacionar cor-po e espírito, como conseguiram rela-cionar o cuidado com sua vida pes-soal com o cuidado com das pessoas, na mediação do corpo. Admiramos

como passaram por situações de rompimento, de conflitos conservando o encanto de sua do-ação e como se perceberam na “noite escura” e nela reafirmaram sua fé. No entanto e nos paradoxos humanos, conseguiram irradiar fe-licidade, relacionar-se admiravelmente com as pessoas e com Deus, romper situações me-nos saudáveis, inovar, provocar em função de um modo de vida saudável, em sentido abran-gente. Portanto, seu caminho de integração é um admirável espelho que orienta e incentiva a uma vida saudável.

Frei Antônio Everaldo lembrou no final do encontro uma frase de Andre Rivola (profes-sor de meditação):

”Quando você não encontrar um sentido na vida: leia a vida

dos santos”.

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Dia: 17/05

Palestrante:Frei FernAndo de ArAújo liMA, oFM*

(Psicólogo)

*Frei Fernando de Araújo Lima é da Ordem dos Frades Menores, graduado em psico-logia e atualmente leciona Teologia Pastoral, Psicologia Pastoal, Administração e Pas-toral na Faculdade de Teologia - ITF, sendo ele secretário geral da mesma instituição.

Dando continuidade ao Curso de Ex-tensão “Sua Saúde – Espiritualidade na Qualidade de Vida”, na última terça-feira (17/05), o psicólogo Frei Fernando Aráu-jo Lima, professor do Instituto Teológico Franciscano (ITF), abordou o tema “Resi-liência diante da doença, sofrimento e de-pressão”.

Resiliência é o processo empreen-dido por uma pessoa para retornar a seu estado de equilíbrio após uma situação de crise, tragédia ou trauma, após o que o indivíduo atinge um amadurecimento/crescimento interior no enfrentamento e superação da situação adversa.

Diante deste conceito, podemos compreender como a resiliência se con-trapõe à resignação, que é a aceitação

acomodada frente a uma situação adver-sa. Não há lamentação, nem queixa, mas uma profunda tristeza e sentimento de im-potência que podem levar à depressão.

O lamento diante de uma perda sig-nificativa para a pessoa torna-se positivo porque a pessoa admite a perda, sofre mas tem a consciência de seu sofrimento. A lamentação é constitutiva do luto, uma etapa expressa do sofrimento, que tende a ser compartilhado com as pessoas pró-ximas.

A resiliência promove o emprego da energia acumulada destinada à amargura e sofrimento e liberta a pessoa para uma vida saudável novamente. Ela é uma ca-racterística que não é inata, mas desenvol-vida durante nosso crescimento. Políticas públicas de saúde podem ser adotadas para que se garanta um adulto resiliente: relações intrafamiliares não agressivas, autoestima, criatividade, humor e autono-mia, promover o protagonismo da criança em alguma responsabilidade que ela seja capaz de assumir. Todas as pessoas re-silientes tiveram, durante a etapa de seu desenvolvimento, um adulto que lhes ofe-recesse suporte e apoio.

“Resiliência diante da doença, sofrimento e depressão”

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Uma pessoa resiliente é capaz de se responsabilizar pela resolução de seus pró-prios problemas. Isso não a impede de pe-dir conselhos ou ajuda, mas é necessário que ela seja o protagonista neste processo. Ela deve buscar se adaptar às mudanças cotidianas, enfrentar seus problemas e, principalmente, estabelecer relações sa-dias com as outras pessoas.

Uma pessoa, de fato, que desenvolveu a resi-liência poderá dizer com convicção:

Eu tenho: pessoas em quem confio e que me aceitam; que se interessam por mim e me impõem limites; que me dão bons exemplos e se empenham no meu desenvolvimento e autonomia; que me aju-dam quando preciso aprender a viver melhor e en-frentar minhas crises e doenças.

Eu sou: uma pessoa que desperta o carinho e apreço dos que me conhecem; feliz quando de-monstro bons afetos e faço o bem para os outros; conservador da minha própria integridade e da dos outros.

Eu estou: disposto a me responsabilizar pelos meus atos, confiante no sucesso de tudo que em-preendo.

Eu posso: expressar minhas inquietações e medos; procurar solução para os meus problemas; controlar a vontade de fazer algo destrutivo; escolher o momento certo para falar sobre algo importante.

De fato, a canção entoada pelo cantor Peninha não poderia expressar de melhor forma o que é ser resiliente:

“Tenho um sonho em minhas mãos.Amanhã será um

novo dia.Certamente vou ser mais feliz”

(SONHOS)

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Dia: 24/05

Palestrante:irMã MAriA BernAdete gonçAlves de Pinho*

(Psicóloga)

Na noite do dia 24 de maio (2011), o curso de extensão “Sua Saúde – Espiri-tualidade na qualidade de vida” teve como tema: Morte, luto, busca de sentido. Irmã Maria Bernadete Gonçalves de Pinho apre-sentou o tema da noite, fundamentando-o em sua própria experiência profissional.

O sentido da vida é uma constante preocupação existencial do ser humano. No entanto, este sentido toma cores diferentes quando a própria vida sente-se ameaça-da pelo desconhecido, ou seja, quando o ser humano, no seu vir-a-ser cotidiano, vai palmilhando sua história até ser arrebatado pela morte. Portanto, um de seus traços ca-racterísticos é o da finitude. E é justamente a

partir desta condição que a psicóloga Maria Bernadete assegura ser necessário compre-ender a morte.

É possível “experienciar” a morte? A partir desta pergunta, a palestrante afirmou que a morte só pode ser conhecida a par-tir de alguma experiência que fazemos dela, como seja: por ocasião da morte dos outros e através das próprias experiências de morte que acontecem durante a vida. “A vida só se faz vivendo, como a morte só se faz morren-do”, afirmou Ir. Bernadete. Assim, quando vi-vemos o novo de cada dia experimentamos coisas novas e de jeito novo.

*Irmã Maria Bernadete Gonçalves de Pinho é religiosa da Companhia das Filhas da Carida-de de São Vicente de Paulo, reside em Petrópolis, atua no Hospital Casa da Providência, além de pertencer à equipe de coordenação do Curso de Extensão “Sua Saúde – Espiritua-lidade na qualidade de vida”, é formada em Psicologia, Mestre em Ciências da Saúde e atua profissionalmente na área da Psicologia hospitalar.

Morte, Luto, Busca de Sentido

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A história da humanidade apresenta a compreensão da morte de acordo com cada período histórico. Na anti-guidade, a morte costumava acontecer em casa. Por isso, não tinha um caráter estranho, pois era muito “mais co-mum” do que hoje. Na Idade Média, com a presença de doenças infectocontagiosas e sem cura, a morte, próxi-ma, era um evento quotidiano, tornando a perda advinda com ela constante e quase banal. Na segunda meta-de do século XIX, a morte passa a não acontecer mais

em casa, ao alcance dos olhos da família, mas sim, no hospital. Na contemporaneida-de, a morte passa a incomodar mais as pessoas, visto que em sua maior parte, os óbitos acontecem nos leitos de hos-pitais, longe da família. A família passa, então, a experimentar a morte através de um vidro, ou seja, de uma maneira relati-vamente distante. E cada pessoa lida com ela de acordo com sua própria história de vida pessoal, com os vínculos que manti-nha com a pessoa agora falecida, com seu contexto de vida.

É nessas horas de intensa experiência com a mor-te que o ser humano busca novo sentido. Este sentido, quase sempre, vem por meio de duas indagações: ‘por quê?’, e ‘para quê?’ A primeira indagação situa-se no âmbito da ciência, enquanto processo de falência da materialidade humana; a segunda, no âmbito da fé, en-quanto sentido da existência humana. Cada um, a seu

modo, busca transpor a barreira do luto e da dor.Irmã Maria Bernadete, ao atuar como psicóloga

no CTI do hospital, percebe que cada ser humano vive a experiência de morte de um jeito próprio. E, deu um exemplo: disse que em sua comunidade religiosa existe uma irmã de idade avançada, que, por ter um problema na coluna, anda inclinada, mas que, quotidianamente, co-labora na arrumação do refeitório, carregando pratos. Ao ser perguntada se sentia dor, ela respondeu que “sim”; e, ao ser indagada se tomava remédio para se livrar dela, sua reposta foi “não”. Admirada, Irmã Bernadete perguntou-lhe então o que fazia com a dor. Maior ainda foi sua admira-

ção ao ouvir: “eu não faço nada, apenas guardo a dor”. Ao relatar este fato, a conferencista destacou que cada um lida com a dor e o sofrimento de uma forma própria, como esta sua coirmã. A irmã de congregação dava um sentido para sua dor. E quando se dá sentido ao sofrimento e à dor, as cores da existência mudam.

“O homem é um ser condenado a buscar sentido, a captar que há algo que lhe transcende – isto é, a dimensão espiritual” (Dulcinéa da Mata Ribeiro Monteiro - analista jungiana).

Perguntada, se era feliz trabalhando no hospital, Irmã Bernadete respondeu que “no início foi um desafio, como continua sendo, mas que se sente feliz, muito feliz. A gente sofre junto com os pacientes e familiares, mas sofrer não tira a felici-dade de ninguém”.

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“A morte não é o fim de tudo. Ela não é senão o fim de uma coisa e o começo de outra. Na morte o homem acaba, e a alma começa. Que digam esses que atravessam a hora fúnebre, a última alegria, a primeira do luto. Digam se não é verdade que ainda há ali alguém, e que não acabou tudo? Eu sou uma alma. Bem sinto que o que darei ao túmulo não é o meu eu, o meu ser. O que constitui o meu eu, irá além. O homem é um prisioneiro. O prisioneiro escala penosamente os muros da sua masmorra. Coloca o pé em todas as saliências e sobe até ao respiradouro. Aí, olha, distingue ao longe a campina, Aspira o ar livre, vê a luz. Assim é o homem. O prisioneiro não duvida que encontrará a claridade do dia, a liberdade. Como pode o homem duvidar se vai encontrar a eternidade à sua saída? Por que não possuirá ele um corpo sutil, etéreo. De que o nosso corpo humano não pode ser senão um esboço grosseiro? A alma tem sede do absoluto e o absoluto não é deste mundo. É por demais pesado para esta terra. O mundo luminoso é o mundo invisível. O mundo do luminoso é o que não vemos. Os nossos olhos carnais só veem a noite. A morte é uma mudança de vestimenta. A alma, que estava vestida de sombra, vai ser vestida de luz. Na morte o homem fica sendo imortal. A vida é o poder que tem o corpo de manter a alma sobre a terra, pelo peso que faz nela. A morte é uma continuação. Para além das sombras, estende-se o brilho da eternidade. As almas passam de uma esfera para outra, tornam-se cada vez mais luz. Aproximam-se cada vez mais e mais de Deus. O ponto de reunião é no infinito. Aquele que dorme e desperta, desperta e vê que é homem. Aquele que é vivo e morre, desperta e vê que é Espírito.”

victor hugo

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Filme: A Partida

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Dia: 31/05 “Todo fim é uma

oportunidade para recomeçar”

Por Angélica Bitoa Partida é o tipo de filme que nunca

chegaria aos cinemas brasileiros se não car-regasse na bagagem o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2009. Isso porque é um drama pequeno, cuja beleza está bastante ligada ao entendimento da essência da cultura japone-sa. A surpresa, portanto, fica na forma como ele conquistou a Academia de Hollywood a ponto de lhe conceder uma estatueta à produ-ção. Há mais de 30 anos um filme do Japão não vencia nesta categoria; o último foi em 1975, com Dersu Uzala, de Akira Kurosawa.

Com roteiro escrito por Kundo Koyama em sua estreia no trabalho num longa-metra-gem, A Partida acompanha Daigo Kobayashi (Masahiro Motoki), um devotado músico es-pecializado no violoncelo. Ele trabalha numa orquestra em Tóquio, mas o desinteresse no trabalho do grupo é evidente. Sem atrair público, a orquestra é dissolvida, levando o protagonista de volta à cidade onde foi cria-do, no interior do Japão. Acompanhado da sempre solícita esposa, Mika (Ryoko Hirosue, de Wasabi), ele tenta reconstruir a vida onde a mãe morava. Ele responde a um anúncio nos classificados no qual se lê “partidas”, cujo significado é ambíguo: pode ser partidas ou despedidas. Imaginando ser uma agência de

turismo, Kobayashi se candidata ao cargo na empresa, mas descobre que o cargo dispo-nível é numa funerária, como o profissional que prepara os corpos dos mortos antes de serem enterrados, ritual conhecido no Ja-pão como nokanshi. Aos poucos, ele mesmo torna-se cada vez mais orgulhoso da função, tomando gosto pelo aperfeiçoamento na arte do nokanshi, agindo como um guardião dos portões que dividem a vida e a morte.

O conflito entre o Japão moderno e o tra-dicional permeia toda a trama de A Partida. Seja no desinteresse do público em relação à orquestra, seja na decadência da casa de banhos, que há muito deixou de despertar o interesse na cidade de Daigo. E, principal-mente, a prática do protagonista, a de condu-zir o último ritual antes da cremação do mor-to, uma cerimônia tão repleta de simbologias e, principalmente, respeito por um corpo que está prestes a ser transformado em cinzas. O protagonista, tão apático no início do filme, ganha forças na medida em que entende seu novo trabalho; é como se ele ganhasse vida, deixasse de lado tanta apatia na ironia de lidar com corpos mortos.

A Partida tem um toque de humor mui-to peculiar, uma forma do diretor lidar com o assunto tão complicado como a morte. No entanto, quando assume o viés dramático e dá mais força ao protagonista, é o momento no qual o filme também cresce e ganha uma forma mais madura e desenvolta. Existe esse distanciamento no tratamento, uma aparente frieza típica da cultura do país, dissolvida pelo respeito presente na cerimônia que o protago-nista passa a conduzir. Em meio a essa más-cara fria, existe uma trama desenvolvida de forma extremamente emocionante. Desta for-ma, trata-se de um sensível retrato de como japoneses e sua tradição tão peculiar são ca-pazes de lidar com a morte, bem como um objeto de reflexão em relação a essa questão tão recorrente no Japão, o embate entre as tradições do país e a modernidade.

(fonte: http://cinema.cineclick.uol.com.br/tvcineclick/index/titulo/a-partida/id/3376)

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Dia: 07/06

Palestrante:Frei Antônio everAldoP. MArinho , oFM*(Professor de Sagrada Escritura)

Na apresentação da aula sobre: Imor-talidade – um olhar integrado da vida, o Expositor, Frei Antônio Everaldo Palubiak Ma-rinho abordou um tema de viva atualidade e de suma importância para quem reflete a fundo sobre o sentido da vida humana e da morte. Trata-se de uma questão que inquieta o ser humano desde a antiguidade, desperta a refle-xão de filósofos e teólogos e tem obtido respostas diferentes nas diversas épocas, culturas e religiões. Qual o destino do ser humano após a morte? Ímpios e justos estão fadados à mesma sorte? A vida do justo atribulado se extinguiu em vão?

Todo o esforço da exposição se concentrou na tentativa de aproximar os ouvintes do alcance semântico do significado da “imortalidade” – a)qanasi/a – no Livro da Sabedoria, especialmente na perícope de Sb 3,1-9.1a. A vida dos justos está nas mãos de Deus,1b. e nenhum tormento os atingirá (tocará).2a. Aos olhos dos insensatos pareceram morrer,2b. e sua saída foi considerada como uma pena (um castigo)3a. e sua partida (do meio) de nós como um aniquilamento,3b. eles, porém, estão em paz.

4a. Ainda que aos olhos humanos pareciam cumprir um castigo (pena),4b. (no entanto) a esperança deles era plena de imortalidade;5a. e estes, por um breve sofrimento, receberão grandes benefícios,5b. porque Deus os pôs a prova5c. e os achou dignos dele mesmo;6a. purificou-os como o ouro no crisol 6b. e aceitou-os em sacrifício, como um holocausto.

7a. No tempo da sua visita, esses resplandecerão7b. e correrão como centelhas no meio da palha;8a. julgarão as nações e dominarão os povos,8b. e o Senhor reinará sobre eles nos séculos.9a. Os que confiaram nele compreenderão a verdade,9b. e os fiéis no amor permanecerão junto a ele;9c. porque graça e misericórdia são para os seus santos,9d. e a (sua) visita é para seus eleitos.

Imortalidade - um olhar Integrado da Vida

Thomas Cole 1840-1842 - A viagem da vida

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*Frei Antônio Everaldo Palubiack Marinho é da Ordem dos Frades Menores, Doutor em Exegese Biblica e atualmente é Professor de Sagrada Escriturana Faculdade de Teologia - ITF.

No uso que Autor bíblico faz do termo a)qanasi/a// // imortalidade, é de suma impor-tância ter presente que as relações entre Alexandria (no Egito, onde foi composto o li-vro - na virada do I séc aC. e o I séc. dC) e a Judeia eram constantes e que os doutores palestinos (sobretudo os fariseus, que acre-ditavam na ressurreição) se esforçavam sempre mais por ganhar os judeus da diás-pora para suas ideias. Mas, sabemos tam-bém que a exegese alexandrina, além de

preservar a tradição bíblica judaica, evo-luíra de maneira original, essencialmente nos seus conceitos, porque buscava tor-nar a Bíblia acessível aos espíritos marca-dos ou formados pela cultura grega. E isto se constituiu num ensaio de interação cul-tural e religiosa – o que seria interessante desenvolver em outra oportunidade!

Da análise do texto de Sb 3,1-9 e dos textos (1,15; 2,23; 8,17c; 15,3;) de que se fez uso para elucidar o tema da imortalida-de emana uma “força vital” que, embora se mantenha no condicionamento tempo-ral da existência do ser humano (3,5-6),

se afirma e triunfa sobre morte, porque, por meio desta, se vislumbra a “origem da vida” dos justos em plena harmonia com seu Criador-Deus (3,1.3b.9b). E, note-se, tudo isso se dá, não numa abstração teórica do pensamento, mas numa linguagem concre-ta que se aproxima da realidade áspera da vida cotidiana de seus destinatários, em Alexandria.

A vidA segundo os íMPios

Nós nascemos por acaso E logo passaremos como quem não existiu... Sb 2,2

“O passar de uma sombra é a duração de nossa vida, e não existe retorno quando chega o nosso fim, uma vez colocado o selo (lacre) ninguém voltará mais”. Sb 2,5

“Oprimamos o justo pobre,Não poupemos a viúva,nem respeitemos os cabelos brancos do ancião.Submetamo-lo à prova por ultraje e torturapara conhecer a sua mansidãoe experimentar a sua tolerância.Condenemo-lo a uma morte vergonhosa,porque, nas suas palavras, haverá uma visita para ele...” Sb 2,10.19-20

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Ao perceber a necessidade de seus des-tinatários, o Autor bíblico revela o sentido da imortalidade, chamando a atenção deles para o fato de que “Deus criou o ser humano para a incorruptibilidade – a)fqarsi/a – e o fez imagem de sua própria natureza” (eterna) (Sb 2,23). É reconhecido, pois, ao ser humano o direito hereditário à imortalidade, como se afirma em 8,17c: “no parentesco – sugge/neia – com a Sabedoria [isto é, com Deus] existe a imorta-lidade – a)qanasi/a”. E, em 1,13-15, se afirma que “Deus não fez a morte... (Ele) tudo criou para que (o ser humano) subsista..., porque a ‘justiça é imortal’” (é a dikaiosu/nh tou= kuri/ou). Por isso, em 15,3 se diz: “conhecer-te (a Deus) é justiça – dikaiosu/nh – perfeita, e re-conhecer tua soberania – kra/toj – é a raiz da imortalidade – r(i/za a)qanasi/aj”. “Fazer parte desta soberania significa participar da mesma eternidade do reino que é – kra/toj ai)w/nion governado por aquele que possui a imortalida-de – o( mo/noj e)/xwn a)qanasi/an (1 Tm 6,16)” Neste horizonte, “os justos vivem para sempre, e no Senhor está a sua recompensa” (5,15-16). Cf. Jo 17,2-3.

Sb 3,9d (“e a (sua) visita é para os seus eleitos”), retomando o significado de 3,7 (“No tempo da visita, esses resplandecerão”), indi-ca que na visita misericordiosa de Deus acon-tece a eleição dos justos, ou seja, confirma a “imortalidade da Vida”, e, deste modo, os justos serão transformados e resplandecerão na luz de Deus. É, portanto, só no descortinar dessa nova realidade da vida, “que é eterna”, que se compreende a frase do Autor bíblico em Sb 3,4: “Ainda que aos olhos humanos pareciam cum-prir um castigo (pena), (no entanto) a esperan-ça – e)lpi/j – deles (justos) era plena de imor-talidade – a)qanasi/a”. Imortalidade que é vida, a única que começa já na terra e que continua para sempre.

A imortalidade não quer dizer imortalidade da alma, segundo a cosmovisão dualista gre-ga, mas vida plena do ser humano “enquanto pertencente à essência do sujeito”. Os justos, mesmo tendo uma morte aparentemente igno-miniosa (Sb 2,19-20) aos olhos dos insensatos (3,2b), têm a “vida” resgatada em sua integri-dade e são acolhidos por Deus, ou seja, “estão nas mãos de Deus” (3,1). A expressão “vida” (dos justos 3,1) traduz o pensamento hebraico que está contido na palavra $epen, isto é, o indi-víduo todo, a pessoa na sua totalidade é que subsiste para a vida eterna, excluindo absolu-tamente qualquer tormento ou prova dolorosa,

isto é, a ideia do Xeol ou Hades (3,1b).A partir deste ponto de vista, pode-se de-

duzir que, na compreensão de imortalidade do Autor bíblico, não se morre. “Deus não fez a morte... Tudo criou para que (o justo) subsista” Sb 1,13-15. Assim, o corpo humano (material), com o qual se recebe a vida de Deus –, que é o rosto e a expressão de nosso ser após a morte –, se desfaz na terra, mas o corpo, enquanto sujeito, subsiste, transformado em condição de eternidade (3,7). E tudo aquilo que faz parte da individualidade, que é experimentado, constru-ído e marcado no condicionamento temporal e material, expresso pelo Autor bíblico como “prova” (((o(/ti o( qeo\j e)pei/rasen au)tou/j – 3,5b), será salvo para a eternidade. Assim é que o ser humano será reconhecido. Neste sentido, con-firma-se o valor salvífico da “prova”.

Portanto, é nesta constelação de signifi-cados que se pode inferir que a afirmação da imortalidade da vida dos justos, contida no li-vro da Sabedoria, especialmente na perícope de Sb 3,1-9, abre novas perspectivas para se compreender o dado revelado da ressurreição: ressurreição do indivíduo como um todo, da pessoa na sua totalidade, sendo esta concep-ção o patrimônio da fé judaico-cristã.

Assim, sendo a imortalidade um dom de Deus, o ser humano já é imortal. A imortalida-de não se refere, pois, à sobrevivência que o justo tem na memória dos seres humanos. O ser humano já é imortal, embora em sentido escatológico. Portanto, pode-se compreender o sentido das palavras de São Paulo em Rm 6,4.11 e 2Tm 1,10:

“...nós já somos ressuscitados”... ou seja, “vi-vos para Deus”.“Ele não só destruiu a morte, mas fez também brilhar a vida e a Imortalidade pelo Evangelho”

A título de exemplo, foi lembrado um trecho do prefácio da missa em sufrágio dos fiéis faleci-dos, onde se aglutina muito bem tudo o que tudo o que foi dito:

Nele brilhou para nósa esperança da feliz ressurreição.E, aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola.

Senhor, para os que crêem em vós,a vida não é tirada, mas transformada.E desfeito o nosso corpo mortal,nos é dado, nos céus, um corpo imperecível.

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Dia: 14/06

Painelcom

Convidados

Neste penúltimo encontro foi feita uma conclusão de todo o cur-so através de uma mesa redonda com quatro convidados: Padre José Carlos Medeiros Nunes, conhecido como Padre Quinha; Doutora Kycia Maria Rodrigues do Ó; Doutor Anto-nio Luís Chaves Gonçalves; e Doutor Frei Celso Márcio Teixeira.

A noite começou com a espiri-tuosa e profunda fala do Padre Qui-nha. Sacerdote diocesano da Dioce-se de Petrópolis, há 15 anos ele é incentivador do Grupo Assistencial SOS VIDA e da Pastoral da AIDS na diocese de Petrópolis e fundador da Associação Oficina de Jesus. Atuou também nas Paróquias de Corrêas, Itamaraty e Catedral. Mas seu traba-lho, hoje muito reconhecido, iniciou

na simples visitação aos doentes em hospitais da região. Ao fazer esta experiência, Padre Quinha percebeu, aos poucos, que a visita deveria ser a mesma que Nossa Senhora fez à sua prima Isabel, ou seja, com pressa de chegar, mas sem pressa de ir embora, pois “Maria foi para amar”. Daí nasceu a luz para um grande questionamento: “Como lidar com o trau-ma dos enfermos? “Simplesmente ouvir”? “Como visitar a todos? Simplesmente visitando a um, plenamente, pois a visita a um enfermo é a visita a Jesus, e Jesus visita a todos os pre-sentes!”. E assim, através de várias e emocionantes experiências com o SOS VIDA, com a Associação Oficina de Jesus que cuida de dependentes de álcool e drogas, nas casas de acolhimen-to dos irmãos de rua, Padre Quinha trans-mitiu aos participan-tes uma verdadeira espiritualidade de reintegração concre-ta em sua própria vida e na vida de diversas pessoas que através dessas iniciativas se “converteram-se à vida”.

Experiências de Reintegração

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A Doutora Kycia Maria Rodrigues do Ó, num segundo momento, trouxe aos participan-tes do curso uma exposição sobre a Hepatite, em especial a Hepatite C (HCV). Dra. Kycia possui especialização em Gastroenterologia e Hepatologia. É pesquisadora do Laboratório de Virologia Molecular da FIOCRUZ e presidente do grupo HEPATOSERRA há oito anos. Por meio de uma apresentação de slides, apresen-tou a Hepatite C, conhecida como hepatite viral, para qual, diferentemente das outras, não se possui vacina. E, na grande maioria dos casos, não apresenta sintomas na fase aguda. “80% dos contaminados pelo vírus da hepatite C de-senvolverão hepatite crônica e só descobrirão que tem a doença em exames por outros moti-vos.” Com esta explicação ela expôs a realida-de cruel e desumana do Sistema Único de Saú-de-SUS brasileiro em se tratando de doenças infectocontagiosas. A falta de apoio e o desca-so político levam ao óbito pessoas inocentes. O apoio a ONGs e a iniciativas parecidas deve ser incentivado pela sociedade pública e a apro-ximação entre o Sistema de Saúde Público e Privado deve ser efetivado, pois o Estado está de braços cruzados frente a uma realidade na-turalmente muito difícil e que se torna perversa pela vontade humana.

Depois de uma pequena pausa e lanche, o Dr. Antonio Luís continuou o terceiro momen-to da noite. Ele é professor da FMP/FASE e colaborador do Serviço de Doenças Infeccio-sas e Parasitárias (DIP) ligado ao Hospital dos Servidores do Estado. (O Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias – DIP – ao inaugurar novas instalações prestou homena-gem ao Dr. Antonio Luís rebatizando o pavilhão com seu nome | fonte: Tribuna de Petrópolis - 15/05/2011). Foi a partir desta realidade que

sua contribuição enriqueceu o painel. Ressal-tou o aprendizado que se obtém no acompa-nhamento de doentes terminais e, em especial, de portadores do vírus HIV. Ele ainda comparti-lhou algumas experiências pelas quais passou junto ao DIP. Segundo ele, muito já se avan-çou para superar essa doença, mas ainda falta muito a fazer, inclusive no tratamento moral que ela acarreta. A reintegração deve ser plena, ou seja, a pessoa na sua totalidade.

E, para encerrar a noite, o Dr. Frei Cel-so Márcio Teixeira, professor de Espiritualida-de Franciscana na Faculdade de Teologia do Instituto Teológico Franciscano, destacou que os três participantes da mesa apresentaram de modo inigualável a “espiritualidade prática e concreta” e era isto que se esperava desta noi-te de encerramento do Curso sobre a Saúde: Espiritualidade na Qualidade de Vida.

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Frei Antônio Everaldo Palubiack Marinho, um dos coordenadores do cur-so, ainda teceu algumas considerações acerca das apresentações da mesa re-donda e agradeceu aos participantes pela disposição em dar sua generosa contri-buição. Esta noite marca, em termos de programa, o fechamento do curso, pois, no próximo será feita uma avaliação. Mas, já se percebe entre os participantes o gratificante sucesso do Curso, também por sua proposta inovadora.

O ITF encerrou oficialmente o do Curso de Extensão Curso “Sua Saúde – espiritualidade na qualidade de vida”, no dia 21 de junho. À convite de Frei Everal-do, os alunos se reuniram para fazerem uma avaliação da programação e con-teúdos apresentados. Muitos revelaram sua satisfação em ver os dois assuntos - saúde e espiritualidade - unidos sob uma mesma abordagem, o que não é tão comum. Disseram ter aprendido pontos importantes que além de conhecimento, se tornaram lições para uma transfor-mação na própria forma de viver. “Este curso serviu como impulso para eu con-tinuar a buscar um sentido para a vida”, disse uma das alunas. De fato, este não

é um caminho já encerrado com o curso, mas, sim, apenas uma parada para vis-lumbrar novos horizontes desta jornada. Após esta revisão/avaliação, os alunos se reuniram para uma alegre confraterni-zação e breve despedida, já que alguns já se informavam sobre os novos cursos que a instituição irá promover no próximo semestre e demonstravam seu interesse a respeito.

“Este curso serviu como impulso para continuar buscando um sentido à vida.”

(Depoimento de um dos participantes do curso)

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vejA os PróxiMos cursos de extensão que AFAculdAde de teologiA - itF oFerece PArA você.

A Palavra de Deus naVida e na Missão da Igreja

Curso deExtensão

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Introdução à Sagrada Escritura

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16/08 - Terra Santa e Bíblia Sagrada Frei Antônio Everaldo P. Marinho (Prof. de Sagrada Escritura),Frei Rodrigo S. Santos (Bacharelando em Teologia).

23/08 - Bíblia Judaica e formação do Cânon Frei Ludovico Garmus (Prof. de Sagrada Escritura)

30/08 - A Bíblia Cristã – Antigo Testamento e formação do Cânon Frei Antônio Everaldo P. Marinho (Prof. de Sagrada Escritura),Frei Douglas P. Machado (Bacharelando em Teologia).

06/09 - Sagrada Escritura, inspiração e verdade Frei João F. Reinert (Prof. de Teologia),Frei Paulijacson P. Moura (Bacharelando em Teologia).

13/09 - A Bíblia Cristã – Novo Testamento e formação do Cânon Frei Antônio Everaldo P. Marinho (Prof. de Sagrada Escritura),Frei Marcel F. da Silva (Bacharelando em Teologia)

20/09 - A Palavra de Deus - Exortação Apostólica pós-Sinodal: Verbum DominiDom Filippo Santoro (Bispo de Petrópolis-RJ)

EcumEnismo 27/09 - Luteranos e a Bíblia

Pastor Elton Pothin (Igreja Luterana) Diálogo intEr-rEligioso

11/10 - Literatura Judaica pós-bíblica: Mishná e Talmude Dr. Saul Stuart Gefter (Diretor executivo da Sinagoga P’neiÓ),Semyramys Frossard G. Dias (Bacharelanda em Teologia).

18/10 - O Alcorão como Palavra de Deus Revelada Frei Volney J. Berkenbrok (Prof. de Teologia)

A Importância do Sagrado Alcorão para o Muçulmano Wassim Ahmad Zafar (Missionário da com. muçulmana - Ahmadia do Brasil)

a intErPrEtação Da BíBlia

25/10 - A Interpretação da Bíblia nos primeiros séculos do CristianismoPe. Ronaldo Fiuza Lima (Prof. de Patrística),Frei Leonardo P. dos Santos (Bacharelando em Teologia).

08/11 - A Interpretação da Bíblia na Igreja, hojeFrei Antônio Everaldo P. Marinho (Prof. de Sagrada Escritura),Frei Clauzemir Makximovitz (Bacharelando em Teologia).

A Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja

liturgia

22/11 - A Palavra de Deus na Sagrada Liturgia Frei Marcos Antônio Andrade (Prof. de Liturgia)

Palavra DE DEus E cultura

29/11 - Sagrada Escritura e Expressões Artísticas Frei Elói D.Piva (Prof. de História da Igreja),Frei Marcel F. da Silva (Bacharelando em Teologia)

Público alvo: Todos os que buscam aprofundar-se na Palavra de Deus.Objetivo: oferecer subsídios para uma introdução abrangente da Palavra de Deus. Coordenador: Frei Antônio Everaldo Palubiack Marinho, OFM. (Prof. de Sagrada Escritura)

Às terças-feiras, de 19h30 às 22h (de 16 agosto a 29 de novembro de 2011).Carga horária 33 horas(no final, o participante, com no mínimo 75% de frequência, poderá receber um certificado)Investimento: Inscrição - R$10,00; Mensalidade - R$ 45,00/mês

apoio:

EcumEnismo

a Palavra DE DEus E o livro

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